Are you ready for this?

Escrita por Manddi Romero
Betada por Japeka


Será que você está preparada(o) para todas as conseqüências de um simples acidente de carro?


Capítulo 1

Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez.
contou as pastas pela terceira vez e entrou em sua Mercedes. Comprara aquele carro há poucos meses por acreditar que era um dos mais seguros que existia. Abriu o porta-luvas e conferiu se estava tudo certo. Colocou o cinto de segurança e o puxou três com força. Pegou um lencinho umedecido e o passou no volante.
tinha um ótimo emprego em uma empresa de reciclagem. Era bonita e tinha uma casa em Boston. Ouvindo apenas isso, poderiam dizer que ela tem uma vida maravilhosa. Mas não é exatamente assim. Por causa de certas coisas que aconteceram, havia desenvolvido TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo). E isso fez com que ela, praticamente perdesse a adorável filha Lily.
Lily acabara de se mudar para a casa de seu tio. Chinatown não era o melhor lugar para se morar, mas ela não agüentava mais morar com a sua mãe. Era óbvio que tinha TOC. A filha pesquisou sobre isso e tentou a todo custo ser paciente com sua mãe, mas chegou uma hora que não agüentava mais. , além de controlar os objetos da casa de uma maneira insuportável, tentava controlar a sua vida. E isso ela não conseguia suportar.

entrou no carro e bateu a porta com força. Seus espasmos tinham aumentado nos últimos dias, provavelmente por culpa de toda ansiedade que o julgamento causara. Ele tinha certeza que ganharia a custódia dos filhos. Ele merecia isso. Era um bom pai. Mas sua maldita síndrome tinha estragado tudo.
Ligou seu Ford Fiesta Sedan que já devia ter uns sete anos e começou a dirigir calmamente.

tinha acabado de parar em um semáforo. Aproveitou o tempo ‘livre’ para abrir o porta-luvas e contar seus itens. Ouviu uma buzina e notou que o sinal estava verde. Precisava andar, mas ainda não tinha terminado de contar suas coisas. Ela precisava contar.

dirigia como podia. Quanto mais lembrava dos seus filhos, mais freqüentemente os espasmos aconteciam.
- Caralho! – Gritou de repente. Ele não queria gritar. Nunca fora uma pessoa violenta, mas junto com a síndrome vinham os seus sintomas. E uma deles, e talvez o mais problemático, era a coprolalia. A coprolalia consiste, basicamente, em falar coisas agressivas inesperadamente.
Ao gritar, lembrou de como seus filhos reagiam quando ele tinha esses ataques. Medo. Era isso que eles sentiam. Eles eram muito novinhos, não entediam o que estava acontecendo e acima de tudo não precisavam passar por isso.
Tendo esse pensamento, um espasmo realmente forte aconteceu.

dirigia e contava seus itens. Faltava um. Não podia faltar um. Não podia. Ela se desesperou levemente e desviou toda a atenção do trânsito. Tudo que sentiu depois foi o seu airberg aberto a pressionando contra o banco.


Capítulo 2

tirou o cinto de segurança e saiu do carro rapidamente. Ela sabia que algo ia acontecer. Ela tinha contado errado. Era tudo culpa dela.
colocou a mão na cabeça e tentou abrir os olhos lentamente. Tudo rodava a sua volta. Sentiu a porta sendo aberta e alguém tocando o seu braço.
- Você está bem? – A voz suave de o ‘acordou’.
- To, relaxa.
- Ai meu Deus. Você está sangrando!
- Eu estou bem – olhou pela primeira vez para . Ela era linda.
- Você não está nada bem – Ela falou visivelmente preocupada. notou que mexia a cabeça às vezes para o lado do nada. “Eu quebrei ele!” , ela pensava desesperada.
Não a interprete errado. era uma mulher inteligentíssima. Mas por ser uma síndrome praticamente desconhecida e dada a situação, a única coisa que vinha a sua cabeça era esse pensamento ‘bobo’.
ajudou a sair do carro e o sentou no banco de passageiro da frente. A batida entre os carros havia acontecido em um lugar extremamente banal, pouco movimentado e que apresentava pouco perigo aos motoristas.
- O que você está fazendo? – perguntou.
- Eu vou te levar para o hospital – pegou álcool em gel e passou em suas mãos. - O que você está falando? Eu não posso deixar o meu carro ai...
- Aqui está a chave. Eu tranquei o seu carro. Ele está praticamente na calçada – colocou o cinto e olhou para – Agora nós vamos para o hospital.
- Eu... Não... Calma...
- Hospital.

o levou ao hospital que ficava no centro da cidade. Era o único em que ela confiava completamente.
Tentou entrar no primeiro estacionamento, mas havia uma grande placa escrito “Não há vagas” . Ela se dirigiu a segunda e a mesma placa estava lá. Ela começou a ficar mais ansiosa e sua respiração começou a ficar mais rápida. notou isso.
- Ali tem uma vaga.
- Onde?
- Na frente do carro vermelho.
- Na rua?
- Qual é o problema?
- Não acho que seja uma boa idéia – disse rapidamente. bufou e ela olhou para ele. Ele estava machucado e a culpa era dela. Ela se sentia totalmente culpada. Ela nunca parava na rua, mas aquilo era uma emergência. Certo?

Os médicos daquele hospital conheciam e sabiam do seu problema. Ao entrar ali, ela logo foi atendida por um dos melhores médicos. Tanto quanto fizeram exames. saíra do acidente sem nenhum arranhão. , porém, havia batido a cabeça.
- O ideal mesmo – O médico conversava com os dois – seria que você ficasse em observação por algum tempo. Uma semana pelo menos.
- Aqui no hospital?
- Seria ótimo se isso pudesse acontecer. Mas se o senhor preferir voltar para casa...
- Eu prefiro – disse antes que o médico pudesse terminar de falar.
- Ok, eu posso te dar alta. Mas tem que ficar na companhia de alguém. Traumas na cabeça podem se tornar grandes problemas do dia para a noite.
- Eu vou ligar para minha esposa.
O médico e saíram do quarto para dar privacidade para falar ao telefone.
- Doutor – o chamou. Ela sabia o nome dele e ele sabia o dela, mas ela nunca o chamava pelo nome. Não achava certo e ele respeitava isso – Quando ele vai melhorar mesmo?
- Ele já está bem. Eu recomendei a...
- Não. Desculpe, eu não quis te interromper.
- Tudo bem, diga.
- Bem, você sabe. Os tiques.
- Isso, infelizmente ou felizmente, não foi causado pelo trauma do acidente. Ele possui Síndrome de Tourette .
- Síndrome de Tourette?
- Sim. Essa síndrome consiste, bem basicamente, a esses espasmos e reações agressivas. Isso tudo é involuntário, obviamente.
Nessa hora saiu de seu quarto.
- Tudo resolvido.
- Então vamos – disse – Até mais Doutor. Obrigada.
- Não há o que agradecer.

e foram até o carro. agora tinha um curativo na testa. Antes de ligar o carro, ela abriu o porta-luvas e fez o que sempre fazia. apenas olhou curioso.
- Onde você mora? – perguntou ligando o carro.
- Perto daqui.
- Quem vai cuidar de você?
- Ninguém.
- Como assim ninguém? – Dessa vez perguntou ligeiramente alterada – E a sua esposa?
- A minha ex-esposa foi viajar hoje com os meus filhos.
- Pensei que você fosse ligar para ela.
- Eu ia.
- E?
- Digamos que eles estão incomunicáveis.
- Hm.
O silêncio tomou conta do carro.
- Espera - falou de repente - Esse não é o caminho para a minha casa.
- E?
- Onde você está me levando?
- Para a minha casa – falou como se aquilo fosse a coisa mais óbvia.
- O quê? Por quê?
- Não posso te deixar sozinho – A culpa voltou. Ela não queria machucá-lo, mas ela precisava contar as pastas. Simplesmente precisava.
Ambos ficaram em silêncio. queria argumentar e convencê-la de que aquilo não era preciso. Ele tinha reparado nos olhares ‘curiosos’ dela. Fora assim sua vida inteira. Pessoas o olhavam torto. Ele já nem ligava mais.
ficou mais cinco minutos pensando no que dizer, mas as palavras simplesmente não vinham. Sua cabeça doía demais para pensar nisso. Resolveu esperar. Tinha certeza que após algumas horas, ela veria que ele estava bem e o deixaria voltar para casa.
- CARALHO! – gritou. Era a coprolalia agindo.
- Eu sei que você não gosta da idéia de ir pra minha casa, mas não precisa dizer grosserias – disse antes que pudesse se defender.
- Mas, eu...
- Chegamos.
saiu do carro rapidamente e abriu a porta do passageiro para . Ele saiu do carro e parou para observar melhor a casa. Era bem bonita. Azul marinho. Pequena. Mesmo por fora, ela era bem arrumada. Cada flor parecia ter sido milimetricamente feita para o local onde estava.
Ao entrarem, ficou abismado. Todos os cômodos pareciam ter saídos de uma revista de decoração. Tudo estava impecavelmente limpo e organizado. E havia vários itens azul-marinhos.
- Eu já jantei. Você jantou? – perguntou de repente.
- Já jantei.
ainda observava a casa. Não era muito grande, mas parecia ser extremamente confortável. Talvez essa sensação viesse por causa da arrumação.
Ele andou pela sala. Pegou um pequeno vaso da estante e deu uma olhada. Bonitinho. Colocou de volta no lugar. No mesmo instante, apareceu ao seu lado e mexeu no vaso alguns milímetros.
- Não precisa desarrumar as coisas.
- Mas eu não desarrumei!
- , eu vi você tirando o vaso do lugar.
- O que? Eu... Não...
- Passa isso na mão – colou um gel gelado na mão de antes que ele tivesse tempo de protestar. Ao ver a cara de espanto e dúvida dele, ela continuou – É álcool em gel.
espalhou o gel por suas mãos e continuou olhando ao seu redor. Ao lado da estante, havia uma mesinha com algumas coisas de escritório, como canetas, papéis, tesoura e grampeador. E, mais uma vez, tudo estava perfeitamente organizado. Ele viu um panfleto e pouco antes de pegá-lo, repensou a idéia. Não estava a fim de ouvir “não desarrume minha coisas, mimimi” de novo.
reparou que seus espasmos ainda estavam fortes e tinha medo que a coprolalia ‘voltasse a atacar’. “Eu preciso relaxar”, pensou. Ele olhou para . Ela estava contando algo no armário. Assim que acabou, passou para o próximo. E, assim, sucessivamente até o último.
- Venha, vou te trocar seu quarto – disse quando acabou de contar os itens da cozinha.
Ao saírem da sala, entraram em um pequeno corredor. Havia apenas duas portas nele, uma de frente para a outra. entrou em uma das portas e ele a seguiu. Era um quarto relativamente pequeno, com uma cama e um armário. Tinha também uma porta ao lado do armário que dava para um banheiro. Mais uma vez a decoração e os detalhes mais ‘importantes’ eram em azul marinho.
- Bem, eu já vou dormir – estava parada na porta – Se sentir fome, tem comida na cozinha. Se quiser assistir tevê, tem uma na sala. Qualquer coisa, eu estou no quarto da frente.
- Espera! Você realmente está falando sério?
- Por que não estaria? – perguntou. Ela realmente não entendia aonde ele queria chegar e começou a ficar desconsertado.
- Como assim? Você mal me conhece...
- Não importa. Eu bati no seu carro, causando o acidente. Isso é o mínimo que eu posso fazer por você.
- PORRA! – Coprolalia de novo – Me desculpe, a coprolalia...
- Desculpa te interromper, mas já são dez e dois e eu sempre vou dormir as dez. Tem algumas roupas masculinas no armário. Você vai ficar e ponto final. Boa noite.


Capítulo 3

e não se deram exatamente bem. Ela havia pesquisado mais sobre a síndrome dele, porém não sabia quando era a coprolalia ou ele que falava. Ele tentava agradá-la, mas sempre acabava mexendo em alguma coisa. não conseguia entender a obsessão de por limpeza, arrumação e contagem.
Era apenas o terceiro dia dele ali e ele já havia a chamado de louca. Ela o chamou de bagunceiro e ‘sujinho’, mas esses não são apelidos que realmente ofendem.
até pensou em fugir, mas achou que a ‘louca’ provavelmente iria procurá-lo e arrastá-lo de volta para lá.
O pior era que tudo era motivo de briga. Lugar onde sentavam. Tampa do vazo levantada. Copo na mesa sem porta copos. Coisas que pegava e não colocava no lugar certo. Coprolalia. Limpeza. Contagem.
Os piores arranca-rabos foram o do climatizador e o do ketchup. O primeiro aconteceu porque insistia que a temperatura não podia exceder 25ºC, porém não suportava o barulho da máquina. O segundo foi um espasmo dele que resultou em ketchup no sofá. insistia que ele tinha feito de propósito e ele se defendia dizendo que não fora intencional. Na verdade, foi um espasmo, mas bem que não ficou triste quando aquilo aconteceu.

ficou revirando na cama por mais de uma hora, até resolver levantar e ir assistir um pouco de TV. Ficou zapeando por uma meia hora e desistiu da televisão. Começou a andar pela casa e parou em frente a estante. Ficou olhando os livros a procura de algo legal e acabou encontrando um álbum de fotografias.
Ele abriu e a primeira foto mostrava uma garotinha de aproximadamente três anos chorando perto de um palhaço no que parecia ser uma festinha. A outra foto tinha uma mulher muito bonita junto a uma menininha aparentemente de cinco anos que se lambuzava enquanto comia cachorro-quente. sorriu imaginando lambuzada daquele jeito. Em outra foto aparecia um homem brincando de basquete com uma menina de mais ou menos dez anos... Pareciam estar se divertindo bastante. Ele vestia um uniforme... Azul Marinho!
Na última foto havia uma menina muito parecida com a que estava jogando basquete, porém ela parecia um pouquinho mais velha. Talvez tivesse doze, treze anos. Ela estava sozinha, pousando para a foto. Ele olhou mais de perto e reconheceu o lugar. Era um parque não muito longe dali. Ele costumava passear com seus filhos lá.
terminou de ver as fotos e na última página estava escrito “Este álbum pertence à . Ele franziu a testa e voltou até a foto do cachorro-quente.
Olhou no relógio e viu que já era quase quatro horas da manhã. Deitou-se, mas algo o incomodava. Se aquela menininha das fotos era realmente , o que aconteceu pra ela ficar daquele jeito?


Capítulo 4

passou o quarto dia inteiro se esforçando ao máximo para não irritar . E ela percebeu isso. No jantar, era nítido como ambos estavam mais calmos e se aceitando mais.
- Posso te fazer uma pergunta? – perguntou de repente.
- Claro.
- Por que você tem tantas coisas da cor azul marinho?
- Porque... Bem, é uma cor calma, que transmite segurança e é aconchegante – falou dando ênfase a palavra ‘segurança’.
Segurança. Agora entendia. Aquela cor provavelmente a lembrava de seu pai. Ela de certa forma tinha se ‘mostrado’ para ele... Quanto mais ele conseguiria descobrir?
- Desculpa – falou mais uma vez – O que aconteceu... Na sua vida?
- Como assim?
- Bem, o que aconteceu para desencadear o TOC?
- Eu não... Vou pegar mais suco.
foi até a geladeira demorando mais do que o necessário para pegar o suco.
- Sabe – começou a falar. Ele decidiu que, para que ela se abrisse com ele, talvez fosse necessário que ele se abrisse com ela – Eu não nasci assim. Quer dizer, eu tinha a pré disposição genética para a Síndrome de Tourette, mas o que a desencadeou foi a morte do meu pai. Um ladrão o matou dentro de casa. Eu tinha cinco anos.
- Sinto muito.
- Tudo bem. Faz muito tempo.
- O que houve... Nada.
- Fala.
- O que aconteceu depois?
- Bem, minha mãe percebeu que logo depois meus olhos começaram a fazer movimentos involuntários, tremer, do nada. Logo depois vieram os espasmos. Não demorou muito para a coprolalia aparecer.
- Cropro... Copro o que?
- Coprolalia – falou calmamente. Ficou feliz por vê-la interessada por sua história e pelo seu problema – É o ato de falar coisa... Agressivas. É involuntário.
pensou nas vezes em que falou algo agressivo e ela o recriminou. Não era culpa dele, era involuntário.
- Me desculpa – disse após alguns segundos em silêncio.
- Pelo quê? – franziu a testa. Ela não tinha motivos para se desculpar. Ela era meio louca, mas estava cuidando dele.
- Eu não sabia sobre a coprolalia.
- Não tem problema – riu fraco – Ninguém sabe. Esse foi um dos motivos do meu divorcio.
- Como assim?
- Quando eu conheci minha ex-mulher os sintomas começaram a diminuir. Porém quando eu ficava ansioso ou nervoso, eles voltavam. E isso acabava sendo motivos de algumas brigas. Sem contar que é meio difícil de manter uma família sem um emprego.
- Sem um emprego...?
- É bem difícil ter uma carreira com a minha síndrome... Ainda mais ser músico!
- Você queria ser músico? – perguntou com um sorriso sincero. Afinal, quem não ama música?
- Na verdade, eu fui por um tempo... Esse macarrão está delicioso! – desconversou.
- Obrigada.
O silêncio voltou a reinar por mais um tempo. ficou feliz em poder compartilhar um pedaço da sua história com e ela ficou feliz por ele ter feito isso.
Ela achava que talvez pudesse contar sua história para ele. Não, isso seria loucura. Ela só o conhecia há três dias. Ele resolveu se abrir pra ela, ok. Mas isso não significava que ela necessariamente que ela iria se abrir para ele... Significava?


Capítulo 5

Eles estavam assistindo TV. Assim que deram dez horas, desejou boa noite para e se levantou para ir dormir.
Antes que ela chegasse ao corredor, falou:
- Você não parece que está com sono.
- Eu... Bem... Um pouco...
- Você sabe que não precisa ir dormir se não tem sono, né?
inicialmente o ignorou e continuou indo para o quarto. Quando estava fechando a porta, algo que disse começou a incomodá-la.
Ela não estava com sono. Mas dormir cedo e sempre em um mesmo horário era bom e podia evitar várias doenças.
Mas ela não tinha sono, não queria dormir... Não sabia como lidar com isso. Por mais idiota que isso pareça, nunca tinha pensado nisso. Dormir cedo era o certo, por que ela deveria fazer o que ela quer?

Após ficar virando na cama por quase uma hora, levantou determinada. Foi até a sala e viu que ainda estava lá.
- Eu não fui sempre assim, ok?
levou um susto. Levantou e a encarou.
- Sabe – continuou - Na minha adolescência eu me envolvi com um traficante – Ela riu tristemente – Você sabe como são os jovens, sempre acham que podem mudar tudo e todos... Mas isso infelizmente não foi como eu planejei. Minha vida virou de cabeça para baixo. Ele foi morto e eu acabei sozinha e grávida.
ouviu tudo atentamente.
- Desde então eu tento controlar tudo a minha volta para que coisas desse porte não aconteçam de novo. Na primeira semana de vida, minha filha pegou uma doença grave. Os médicos disseram que era porque o lugar em que ela vivia ‘pecava em limpeza’. Ela conseguiu se recuperar, mas desde então a minha relação com ela foi muito conturbada porque eu sempre quis controlar a vida dela, tudo isso por medo que a ela passasse por tudo que eu passei – agora tinha lágrimas nos olhos – E graças a isso, agora ela está morando com o meu irmão em Chinatown, dando a desculpa que era para ficar mais perto do colégio. Segundo ela, ela precisa de mais tempo para estudar pros SATs e entrar na tão sonhada faculdade de medicina.
- Sinto muito.
- Ta tudo bem.
Silêncio. Daqueles silêncios bem tensos.
- Por que você não senta e vê o finalzinho desse filme comigo? – tentou puxar assunto.
- Não sei se é uma boa idéia. Já está tarde e...
- Qualé. Já passou bastante das dez mesmo.
- Hm... – hesitou por alguns segundos – Que filme está passando?
- De volta para o futuro.
- Amo esse filme!
- Eu também – sorriu ao ver que ela tinha aceitado sua proposta – Quer beber alguma coisa?
- Um suco.
foi à cozinha e pegou um suco para eles. Voltou para a sala e colocou dois porta copos em cima da mesa e logo em seguida colocou os copos em cima. sorriu. Por dentro estava vibrando de felicidade. Ele tinha se lembrado do porta copos!

Era a primeira vez na semana que acordava atrasada. Na verdade, era a primeira vez na vida que acordava atrasada. Correu o máximo que pode para não se atrasar mais. Antes de sair, passou no quarto de para ver como ele estava. Ela sempre fazia isso. Sempre.

Pouco depois que saiu para trabalhar, acordou. Ele foi até a cozinha a procura de algo para o desjejum. Deu uma leve risada ao abrir um dos armários. Como ele não tinha reparado naquilo antes?
já se acostumara com a arrumação de , mas era a primeira vez que reparara que as gelatinas, ao serem guardadas no armário, estavam de acordo com as cores do arco-íris (gelatina de morango, depois laranja, depois abacaxi, depois melão, depois tutti-frutti). Aquela garota, de certa maneira, era fofa. Muito fofa.


Capítulo 6

Assim como o acidente entre eles fora inusitado, também foi a volta de para a casa dele.
Ele voltou para sua casa, mas, de repente, ela se tornara tão vazia!
Tão sem cor, sem vida, sem azul... Tão desorganizada!

No mesmo dia que se fora, foi para o trabalho normalmente, porém ela não sentia necessidade de checar o celular, ou higienizar as mãos, ou arrumar a gaveta... Ela queria mesmo era chegar a sua casa!
Mas, quando chegou, estava tudo normal... Sem um fio de cabelo fora do lugar.
Exatamente como ela gostava, mas por que ainda não lhe dava satisfação? Por que não sentia que estava completo?
Inexplicavelmente, antes de dormir e assim que acordava, lhe dava uma vontade de ir ao quarto de hóspedes... O quarto de hospedes era tão cheiroso! Mas ela não se lembrava de ter passado aromatizantes lá! Aquele quarto agora tinha um cheiro característico, que lhe tranqüilizava.
A maior quantidade de perfume estava na cama. deitou e inspirou profundamente. Aquele cheiro era tão bom...
riu tristemente ao lembrar o quanto ela brigara com por causa daquele perfume. Ela insistia que ele não precisava passar tanto e que algum dia infestaria o quarto com aquele cheiro. Ela estava certa e, por alguma razão, estava feliz em estar certo sobre aquilo. Ainda bem que o cheiro ficou. Ainda bem que alguma coisa ficou.

Lá pelo segundo dia na casa dele, tentava bolar planos, desculpas para ir a casa dela. Tentava se lembrar de algo levado por engano que com certeza teria que ser devolvido naquele instante... Nada.
Resolveu então dar um passeio, a casa dele já o sufocava!

resolveu, pela primeira vez na vida, faltar ao trabalho. Decidiu ir ao parque, como fazia antes de conhecer o pai de sua filha, como fazia quando era apenas uma menininha.

No parque, parou ao perceber a presença de uma mulher, impecavelmente vestida, comendo um cachorro-quente (ou tentando!) e rindo da própria lambança. O sorriso mais lindo que ele já tinha visto. Ela tava sentada debaixo de uma árvore.
- Você sabe que o chão onde você está sentada não é germes-free, não sabe?
- Não faz mal entrar em contato com alguns germes às vezes – estranhou a própria fala.
- QUEM É VOCÊ E O QUE VOCÊ FEZ COM A ?
- Eu estou aqui, eu até poderia falar de corpo inteiro, mas sinto que parte do meu corpo acaba de se romper, essa parte se chama T-Í-M-P-A-N-O!
- Não exagera! Eu trabalhei com música e sei que é preciso muito mais que isso pra se romper um tímpano! Mas então, o que faz aqui nesse lugar aberto não esterilizado e, provavelmente, cheio de pulgas?
- Nada não. Eu só não estava a fim de trabalhar hoje. E aqui não tem pulgas!
- Isso não é exatamente do seu feitio – sentou ao lado dela.
- Me conhece há um pouco mais de uma semana e acha que sabe tudo de mim?
- Pelo contrário! Eu sei apenas o que você me mostrou, mas eu também sei que ainda tem muito mais sobre você para descobrir.
Passaram um tempo se encarando, sem falar nada.
- E sabe... – continuou como se não tivesse parado de falar – Eu adoraria descobrir mais sobre você.
- Eu não sou uma pessoa muito interessante – corou e foi se aproximando mais dela.
- Deixa que eu decido isso – sorriu de lado e a beijou. Um beijo calmo, doce, apaixonado.

“Tudo termina bem no final. Se não está tudo bem, é porque ainda não acabou”. Tanto a vida de quanto a vida de começaram de formas ruins. E continuaram, por um bom tempo, bem ruinzinhas. No entanto, terminaram de uma maneira maravilhosa. Após um ano, e se casaram. Lily entrou na sonhada faculdade de medicina e foi morar com eles. não precisou tentar conquistar a custódia de seus filhos, pois ele e sua ex-mulher entraram em um consenso e dividiam a guarda das crianças.
Dizem que uma semana é pouco tempo para conhecer e se apaixonar por uma pessoa. Mas foi o tempo suficiente para que e se apaixonassem. Acho que simplesmente não podemos subestimar o amor. :)


Fim



N/a: Oi gente! Escrevi essa fic pro segundo desafio, mas fui desclassificada porque mandei no arquivo errado ¬¬ Assumo que não gostei nem um pouco desse tema, mas o entusiasmo de uma amiga futura médica me fez querer escrever ;) Era para ter ficado um pouquinho maior, mas a minha viagem no carnaval fez com que a fic tivesse que diminuir razoavelmente de tamanho :/ Espero que tenham gostado dessa fic!

Comentem, por favor! :)

Dedico essa fic para: Marília, Brigite, Su, Isadora, Xu, Tami e Nicole. Aposto que vocês serão ótimas médicas :D



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