Bitter Sweet Symphony
Autora: Mary'ann
Beta-Reader: Abby


Passou ambas as mãos por toda a extensão de seus longos cabelos, o toque suave e acetinado fazendo com que um sorriso brincasse em seus lábios. Após passar horas a fio trancafiada em seu quarto, finalmente o reflexo de sua imagem no espelho a satisfez. Os cabelos caíam sobre seus ombros e colo em largos cachos, brilhantes e viçosos, a maquiagem suave fazia parecer que seu rosto pertencia a uma boneca de porcelana, e as roupas assinadas por famosos estilistas completava o visual que ela julgava perfeito. Simplesmente perfeito.
sempre gostou do perfeito. Defeitos são para fracos, ela pensava. E ser fraca não era uma qualidade aceita em seu mundo. Para ser aceito em sua família, uma das mais tradicionais e bem-vistas do Reino Unido, era preciso ser perfeito. E ela era.
Um arrepio frio arrebatou violentamente seu corpo quando a imagem dele se esquivou para dentro de sua mente sem pedir permissão. Era somente perto dele que sentia-se fraca, indefesa. Ele era seu pecado. Sua perdição. era sua imperfeição.

, se demorar mais um minuto te arrasto para fora desse quarto pelos cabelos! – a voz firme e autoritária de sua mãe gritou do outro lado da porta, despertando-a de seu breve devaneio.
– Não dê chilique, mamãe! Eu já estou pronta... – a garota respondeu enquanto saía do quarto, ainda atordoada com as memórias da última noite que passara com vagando em sua mente. "Não se iluda, , no final você sempre vai ser minha.” ele disse durante mais uma das típicas brigas entre os dois. argumentou contra, obviamente, mas no fundo temia que aquilo fosse verdade.
– O que você tem, hein? – a mulher a perguntou enquanto as duas desciam rapidamente as longas escadas de mármore da casa. – Está pálida! Acho bom que a senhorita não esteja vomitando por aí. Já te disse que lhe pago uma lipoaspiração se quiser. Simplesmente não posso lidar com a imagem de uma filha bulímica ou anoréxica.
bufou e revirou os olhos à declaração absurda da mãe. – Estou perfeitamente bem, mãe. Devo ter errado a tonalidade do blush, conserto quando estivermos no carro. – disse com a voz carregada de indignação, aliviada que já haviam chegado ao salão de entrada e em poucos segundos sua mãe já estava longe, tagarelando alguma provável futilidade no ouvido de seu pai.
Sentou-se com cuidado para não amassar as roupas no banco de trás do Rolls-Royce de seu pai, suspirando profundamente ao recordar-se do destino que a esperava. Uma quermesse. Que diabos estava indo fazer numa quermesse? Somente aquela palavra já lhe soava burguesa demais. Estava acostumada com brunchs em Veneza e festas em Paris, não com quermesses. Mas sua mãe lhe ensinara uma coisa: todas as pessoas ricas precisam fazer caridade. Não é justo ter tanto dinheiro para si e não dar sequer uma parte dele para os que tiveram menos sorte na vida. E que faltar à essas festas era uma das maiores gafes possíveis. Comparecer às festas sempre fora um enorme prazer, o único problema da tal de quermesse era o seu ofício nela.
Querendo inovar, talvez sair do ciclo vicioso de leilões e bailes de caridade, Anna Riddel, uma das mulheres mais influentes da Alta Sociedade, resolveu que dessa vez, além de ajudar os menos afortunados, traria um costume deles para uma festa dos digamos... Bem mais afortunados. O que no caso, era a quermesse. Até aí estava ótimo para , por mais excêntrico que fosse o tema, ainda era uma festa. O seu problema surgiu exatamente aonde ela imaginara ser impossível, na sua perfeição. é a candidata perfeita para a barraca do beijo! Com um rosto daquele não haverá homem algum na festa que não irá querer pagar para beijá-la!, e assim ela tornou-se a beijadora oficial da festa. Este fora o pior título que ganhara em toda a sua vida. Mas simplesmente não podia reclamar, então com um sorriso forçado esculpido no rosto, ela aceitou a proposta.
Teria que beijar diversas bocas. Homens novos, velhos, bonitos e feios. Mas pelo menos ele não estaria lá. Não precisaria beijar a boca dele. Aquilo talvez tornasse as coisas melhores. Ou talvez não.

***


– Eu não vou à festa alguma. Eu vim aqui te visitar, não fazer parte desse mundo de gente estúpida, fútil e falsa que vocês tanto veneram! – deu seu ultimato, virando-se na direção contrária e caminhando a largas passadas na direção da porta principal.
– VOLTE AQUI MOLEQUE! – seu pai esbravejou, agarrando fortemente o braço do rapaz e puxando-o para o lado de fora da casa, longe dos ouvidos da esposa. – Você vai à essa festa, queira ou não. – sibilou entre dentes, as orbes escurecidas diante da raiva que transbordava de seu corpo. – Já não basta o desgosto e a vergonha que causou à nossa família quando decidiu entrar para aquela banda estúpida, agora também vai querer privar sua mãe de ter pelo menos alguns instantes de alegria? Ela acabou de perder um filho e descobrir que ficou estéril, a esperança que algum dia teria um herdeiro digno foi esmigalhada em mil pedacinhos. Mostre a ela que você pode ser pelo menos decente!
Por mais que tais argumentos lhe soassem vazios, sentiu que daquela vez não haveria escapatória. Sua mãe havia acabado de perder o bebê que esperava há quatro meses. Ela podia não ser a melhor pessoa do mundo, mas não merecia aquela dor. Ninguém merecia a dor de perder um filho. E por mais que ele discordasse de todas as convicções dela, naquele momento concluiu que não deveria causar-lhe mais problemas além dos que ela estava tendo de enfrentar.
– Eu encontro vocês lá. – deu-se por vencido, e após desvencilhar-se do aperto que seu pai ainda exercia sobre seu braço, foi até seu carro e deu a partida no mesmo após ligar o som num volume praticamente ensurdecedor.
Para sua surpresa, Suite Bergamasque começou a ressoar pelo ambiente interno do veículo, a imagem de instantaneamente tomando conta de sua mente. Lembrou-se exatamente do dia em que ela lhe dera aquele iPod somente com músicas clássicas dentro. “Para ver se você consegue adquirir pelo menos um pouco de cultura musical e atenuar esse seu lado sujo Rock n’ Roll” ela falou com seu típico tom de voz arrogante, embora ele soubesse que no fundo aquilo era uma brincadeira. De todas aquelas músicas, apenas Suite Bergamasque o agradou. Aquela peça refletia perfeitamente; era em momentos calma, tranqüila, e em outros excitante, explosiva. Diante de tal lembrança um sorriso involuntariamente surgiu sobre seus lábios.
Somente tinha aquele brilho, que ao mesmo tempo era malicioso e gentil, no olhar. Por mais que houvesse procurado, nunca o encontrara no olhar de outra garota além dela. E ele conhecia muitas garotas. Ela era tudo o que mais repugnava, mas ao mesmo tempo tinha tudo o que mais desejava. Ela era seu remédio. Era sua cocaína. era sua contradição.
Estava sendo obrigado a aturar uma festa abarrotada de pessoas que odiava com todas as suas forças, mas não havia dúvidas de que ela estaria lá. Aquilo definitivamente tornava as coisas melhores. Bem melhores.

– Palhaços com perna de pau e crianças correndo de um lado ao outro com as caras pintadas...– arqueou uma de suas sobrancelhas e tentou reprimir uma risada. – Quando cheguei pensei que estava no lugar errado, mas acho que esse pessoal de nariz em pé pirou mesmo de vez, né!? – cutucou as costelas do pai através do balcão, jogando uma mãozada cheia de pipoca na boca em seguida. Estava lá, não estava!? Agora tinha o direito de pelo menos irritar seu pai. O que seria muito mais divertido se sua mente e olhos parassem de trabalhar somente em função de encontrar a figura esguia e intimidadora de pela festa.
– Tente ser pelo menos gentil com os outros, não dê vexame, por favor! – aparentemente ele tentara ignorar a provocação do filho, mas não deixou de notar que o mesmo comia a pipoca propositalmente sem educação alguma. Bufou frustrado e arrancou o pacote da mão do rapaz. – Comporte-se. – Sentiu necessidade de frisar o aviso mais uma vez, e ao dizer isso saiu de perto da barraca.
suspirou fundo e deixou que seus olhos percorressem mais uma vez a extensão da festa. Entre todas aquelas mulheres vestidas com roupas caríssimas e adornadas de diversos tipos de jóias, nenhuma lhe chamou a atenção. não havia chegado, ou então estava trabalhando em um das barracas assim como ele. Sorriu ao pensamento das palavras e trabalho na mesma frase, mas foi despertado de seus devaneios quando um homem chamou sua atenção ao pedir uma arminha para participar das atividades da barraca.

***


Afundou o rosto entre as mãos, passando seus dedos gelados por ele na tentativa de acalmar-se. Pensava em exigir que o orfanato de Leeds fizesse uma estátua em sua homenagem e colocasse-a bem na entrada da instituição, pois o que estava fazendo para arrecadar fundos para eles derterminantemente era a pior tortura que poderiam ter inventado para um evento de caridade. Levantou o rosto das mãos, os olhos cansados registrando que pelo menos naquele momento não havia mais nenhuma boca nojenta para beijar. Aliviou-se momentaneamente, mas ao mirar o relógio e constatar que só sairia dali a quarenta minutos sentiu o desanimo tomar conta de seu corpo mais uma vez.
Abaixou-se por trás do balcão a fim de pegar uma bala de menta em sua bolsa, talvez assim a sensação de que seus lábios estavam completamente sujos melhorasse. Voltou a ficar de pé, soltando um gemido de desagrado ao ver um rapaz parado de costas para o balcão .
Pigarreou na intenção de chamar sua atenção. Se fosse para beijá-lo, que se livrasse daquilo de uma vez por todas e pegasse logo o dinheiro. Assim que o rapaz virou-se para olhá-la, sentiu o coração saltar em seu peito, começando instantaneamente a bater num ritmo muito mais acelerado do que o normal. Observou-o por alguns segundos, ponderando se tava ficando louca ao ver aquele sorrisinho ordinário cintilar a apenas alguns centímetros de seu rosto. O que diabos ele estava fazendo lá? Ele nunca participava daquelas festas.
– O que você está fazendo aqui? – perguntou em tom de ultraje, embora por dentro suas entranhas borbulhassem diante daquela vontade quase insuportável de tocá-lo.
deixou de olhá-la apenas por um segundo, suas orbes parando em cima da placa que pendia da barraca. – Barraca do Beijo. – ele leu as palavras como se aquilo fosse uma novidade para a garota. – Acho que isso significa que eu estou aqui para te beijar! – seus lábios ergueram-se apenas no lado esquerdo, formando um meio-sorriso de tirar fôlego.
– Ah é!? – forjou entusiasmo, sabendo que o garoto perceberia seu sarcasmo. – E em qual barraca você está trabalhando, ?
– Tiro ao alvo... – ele respondeu hesitante, uma de suas sobrancelhas arqueadas. Não entendera o propósito da pergunta, mas tratando-se de , ele sabia que algo a mais vinha por ali.
– Então acho que isso significa que eu posso dar um tiro na sua testa! – ela disse, bufando de raiva e desviando o olhar dele. Aquilo simplesmente não podia estar acontecendo.
– Eu sei que você não teria coragem de fazer isso. – ele falou confiante. – Mas já no meu caso... – com uma das mãos levantou o queixo dela, inclinando o rosto vagarosamente na sua direção.
sentiu-se hipnotizada por aqueles olhos durante alguns segundos, mas com um suspiro trêmulo conseguiu afastar-se dele. não conseguiria lhe beijar, não daquela vez.
– Um beijo custa 30 libras. – ela disse, apontando para a plaquinha ao seu lado e usando a mesma entonação que usara há minutos atrás. – Mas no seu caso eu não poderei ser útil. Até onde eu saiba, não é certo primos se beijarem.
não pôde evitar que seus olhos revirassem àquelas palavras. Era sempre a mesma coisa. Exatamente a mesma coisa. Sentindo-se repentinamente impaciente com a prima, colocou a mão no bolso e após pegar sua carteira, jogou todo o dinheiro que tinha em cima do balcão.
– Isso paga mais beijos do que você daria em uma semana nessa barraca, vamos sair daqui. – ele disse sério, seu olhar intenso sobre a garota.
– Eu não vou a lugar algum com você, ! – proferiu as palavras que menos tinha vontade de dizer naquele instante.
– Ou você vem comigo ou eu arrebento a cara do próximo rico babão que vier te beijar. – rebateu com o mesmo tom de seriedade. Daquela vez ele determinantemente não estava brincando.
exalou fortemente o ar que segurara em seus pulmões quando o primo começara a ameaça. – Ok, sem escândalos, eu vou! – deu-se por vencida, e após jogar o bolo de dinheiro dele dentro da caixa em que estava guardando as notas, saiu de trás do balcão.
Começou a andar pela festa sem esperar pelo rapaz, como se subitamente houvesse esquecido que ele estava lá. Mas, assim como esperava, segundos depois sentiu uma mão forte agarrar um de seus braços.
– Ei, aonde você pensa que vai? – perguntou assim que os olhos decididos da garota encontraram os seus. – Eu te dei toda a minha grana, tenho direitos sobre você pelo menos até o resto da noite! – disse, engolindo em seco quando o pensamento que a queria para sempre atingiu dolorosamente sua cabeça.
– Eu não sou uma puta que você pode comprar, ! – sua voz tremia de raiva diante da atitude do rapaz. Por que ele nunca desistia? Seria tão mais fácil se ele desistisse.
Puxou o braço da mão dele com força, livrando-se de seu aperto e voltando a andar em largas passadas pela festa. Precisava chegar até a barraca de Doces e Salgados, onde sua mãe estava “trabalhando”. Sabia que perto dela não a incomodaria. Não se surpreendeu ao perceber que ele vinha logo atrás si, a pouquíssimos passos de distancia, resolvendo então esgueirar-se por entre um grupo de garotas que gargalhavam histericamente, misturando-se entre elas com facilidade.
observava a prima fixamente, ponderando se valia ou não a pena ir até o grupo de garotas no qual agora ela fazia parte da conversa, e tirá-la de lá. Quando mais uma onda de gargalhadas finas e desafinadas irrompeu do tal grupinho, ele conclui que era melhor esperar até que a prima saísse de lá. Sair ileso de um grupo de garotas daquela espécie não era uma tarefa muito fácil. Continuou andando por mais alguns metros, até que estivesse numa área mais afastada da festa. Recostou o corpo casualmente numa das árvores ao seu redor e manteve o olhar fixo na figura esguia de .
Viu que ela olhou para os lados a sua procura, e não pôde controlar um sorriso ao perceber que ela caíra naquela tão facilmente. Achava que fosse mais esperta do que simplesmente concluir que ele iria desistir dela somenter por ter se misturado a um bando de hienas calçando sapatos Jimmy Choo por alguns minutos.
Seus olhos acompanharam a garota enquanto ela despedia-se das amigas e finalmente saia do meio daquela rodinha. Dali para frente uma sucessão de fatos aconteceram; duas daquelas criancinhas com as caras pintadas passaram correndo atrás de uma bola que era carregada pelo vento, a primeira alcançou a bola, a segunda tropeçou nas pernas de e caiu aos seus pés, fazendo com que a garota perdesse o equilíbrio e caísse em cima de um cara que passava por lá. Pensou em ir até lá ajudá-la, mas ver numa situação daquelas era realmente cômico.
A garota afastou-se do rapaz com quem havia trombado com uma expressão assustada em seu rosto, tampando a boca com as mãos quando percebeu que ele havia derramado o refrigerante que segurava em sua própria camisa. arqueou uma sobrancelha ao que ela pareceu pedir desculpas. pedindo desculpas não era uma coisa muito comum de se ver por aí. Foi simplesmente incapaz de controlar-se quando viu que a garota esfregar furtivamente um guardanapo sobre o abdômen do rapaz. só se preocupa com os outros quando tem algum interesse envolvido. Fato.
– Oh, Oliver! Eu sinto muito mesmo... O que posso fazer pra te recompensar pelo estrago? – ao ouvir aquelas palavras apertou o passo. Em questão de segundos já estava com em seu poder, arrastando-a pela festa por um dos braços.
– Mas que merda você pensa que está fazendo, !? – ela disse no instante em que conseguiu se recompor, seus olhos faiscando de raiva na direção do primo.
não respondeu-a até que tivessem alcançado a área das árvores aonde ele estava anteriormente. Era uma sorte que fazia tudo para não causar escândalos, então arrastá-la até lá não foi uma tarefa exatamente difícil. Embrenhou-se um pouco mais por entre as árvores, até um lugar fora da vista de todos.
– Você é minha. – ele disse, ignorando a exclamação de protesto dela. – E o que é meu não fica se esfregando com qualquer almofadinha que vê pela frente.
– Vá sonhando que algum dia eu serei sua! – a garota falou numa risada sarcástica, tentando se soltar do aperto dele como fizera anteriomente.
– Você é, e sempre será minha, . – disse, seus olhos parecendo querer perfurar os dela tamanha a instensidade que a encarava.
sentiu seu coração recomeçar a bater naquele ritmo frenético, e sua respiração ameaçar a ficar ofegante. Bastardo! Não deixaria acontecer. Não. Daquela vez não.
, me larga agora! – ela sibilou entre dentes, agarrando seus cabelos num gesto de raiva. – Saia ou... Ou eu vou acabar te machucando!
Ele soltou uma risada debochada ao absurdo daquela declaração. bufou, e num movimento rápido sua mão encontrou o rosto dele num tapa estalado. virou o rosto com a força da mão da garota, e quando voltou seu olhar para ela, sentiu um arrepio percorrer seu corpo.
– Me bata, vamos! Me bata, ! – disse com a voz trêmula, agarrando fortemente a cintura da garota e pressionando-a entre o caule da árvore e seu corpo.
Ela se contorcia de raiva. Odiava-o. Queria ser capaz de odiá-lo. Encarou mais uma vez aqueles olhos , que soltavam faíscas de raiva no momento. Desceu o olhar para os lábios entreabertos de no momento que respiração ofegante do rapaz tocou sua pele. Perto demais. Grudou os seus nos dele bruscamente. Um turbilhão de emoções se apossando dos dois. Uma urgência enorme, como se tivessem certeza de que aquela seria a última vez, bocas e mãos tentando alcançar todo e qualquer lugar que pudessem, sem pudor. Aquela luxúria incontrolável que tomava posse dos dois cada vez que se viam. Apenas mais um, dos tantos pecados que eles cometiam.
Pecados que tinham que acabar, pensava . Aquilo não podia continuar, ou então acabaria com sua vida. Mesmo que todos os seus sentidos quisessem mais de , mais de seu toque, mais de seu cheiro, de seus beijos, a garota empurrou-o pelo peito, fazendo com que suas bocas se desgrudassem.
– Eu não posso, ... – ela disse, tentando controlar a emoção que sentia no momento. – Isso precisa parar. Eu não posso continuar te vendo... Por favor, deixe que eu vá! – não conseguia manter o tom autoritário. Não ali, entre os braços dele, o lugar que mais amava estar em todo o mundo.
As palavras da garota apenas fizeram com que ele apertasse ainda mais seu enlaço sobre ela.
– Não faça isso, ... Não faça isso comigo...– ele sussurrou, levando uma de suas mãos ao rosto dela e acariciando sua bochecha. – Você não é que nem eles. No fundo, mesmo que seja bem no fundo, você é boa. Há algo de bom em você, tem que haver....
– Não existe nada de bom em mim, . – respondeu num murmúrio, seus olhos temerosos fugindo dos dele.
– Eu sei que existe. – ele falou, soltando sua cintura e segurando seu rosto com ambas as mãos. – Eu te amo, .
A garota sentiu o ar ser expulso de seus pulmões ao escutar aquelas três palavras. Num movimento rápido se desvencilhou das mãos de , ficando de costas para ele, a salvo de seu olhar.
– O amor é para os tolos, . – falou, engolindo em seco na intenção de controlar a queimação em seus olhos que anunciavam as lágrimas. – Ele joga toda a nossa vida pro ar, só por alguns momentos de felicidade.
– Eu quero ouvir você dizer que não me ama. – disse, encarando fixamente as costas da garota.
– Eu não te amo. – ela disse com a voz embargada.
– Diga isso olhando nos meus olhos. – foi até a frente dela, agarrando seu queixo e fazendo-a olhar em seus olhos. – Diga que não me ama olhando em meus olhos.
– Os não tem o direito de amar. – disse, sentindo um par de lágrimas saltarem de seus olhos e escorrerem por suas bochechas.
– Pro inferno com os seus tão adorados ! Eu nunca desejei ter nascido nessa família, nunca aceitei nada do que fazem, eu não mereço essa maldição. Não mereço! – falou retirando as mãos do rosto dela, a revolta tomando conta de si.
– Maldição? – ela soltou uma risada debochada, daquelas que fazia os nervos de tremerem. Mesmo chorando ela conseguia ter aquelas atitudes que ele tanto odiava. – Ter tudo que todos sonham ter é uma maldição?
– Você é a minha maldição, ! E tudo o que você sonha é isso aqui! – num movimento rápido tomou-a em seus braços novamente, seus lábios chocando-se fortemente contra os dela. Sentiu a garota contorcer-se, e segurou-a com mais força ainda, forçando um caminho com a língua para dentro da delicada boca dela. Quando sua língua encontrou a dela, ouviu um gemido baixo se despender da garganta da garota, e em menos de um segundo as mãos dela estavam emaranhadas em seu cabelo, puxando-o com força para mais perto de si.
Ele havia conseguido. Aquele bastardo sempre conseguia. concluiu que não havia escapatória, por mais que tentasse fugir, ele sempre conseguiria uma maneira de voltar a sua vida e trazer todos aqueles sentimentos que ela julgava serem desprezíveis para dentro dela. Amor, desejo e paixão. Sentia todas aquelas emoções tomarem conta de seu corpo durante aquele beijo, juntamente à raiva e ao ódio que sentia de por fazê-la fraca daquela maneira. Quando sentiu os lábios arderem, tamanha a intensidade do beijo, e sua respiração quase nula deixá-la levemente tonta, afastou-se vagarosamente dele.
– Eu odeio te amar tanto, ! – ela disse num soluço, aninhando-se ao peito dele e deixando que o choro de sua frustração finalmente tomasse conta de si.
envolveu o amor da sua vida em seus braços, apertando-a fortemente contra seu peito e acariciando seus cabelos enquanto ela soluçava violentamente. Seus olhos percorreram o local com melancolia. A música calma que vinha da festa ressoava baixa, distante. Acima deles a lua cheia brilhava, espalhando seu brilho prateado pela noite na companhia das estrelas. E como se aquilo não fosse suficiente, vaga-lumes zuniam à sua frente, acendendo e apagando como pequenas luzes de natal. Aquele cenário seria perfeito para um filme de romance, aonde o casal protagonista cairia num amor imensurável e sem defeitos. Mas o amor deles não era um amor de cinema. Não haviam carícias, nem cartas apaixonadas. Havia a luxuria, o pecado, o destino duas pessoas, ao mesmo tempo tão iguais e tão diferentes, entrelaçado, amaldiçoados a seguirem juntos. Não era um amor terno, sutil. Era um amor extremo, complexo. Era dor e felicidade. Era um amor agridoce.

'Cause it's a bittersweet symphony, this life
Try to make ends meet
You're a slave to money then you die
I'll take you down the only road I've ever been down
You know the one that takes you to the places
where all the veins meet yeah,

No change, I can change
I can change, I can change
But I'm here in my mold
I am here in my mold
But I'm a million different people
from one day to the next
I can't change my mold
No, no, no, no, no



N/A - Hello people /o/
Então, aqui estou eu participando do challenge de novo!
Acho que a minha história saiu um pouco do que se espera para um tema como "Quermesse", né!? Mas eu simplesmente não resisto a um bom drama x)
Pra quem se interessar, a música do título e desse último trechinho é a Bittersweet Symphony, do The Verve. Me inspirei um pouco na letra dela para escrever essa fic!
Bem, é isso! Espero que gostem!:D
xoxo
Mary

Minhas outras fics: Autumn Leaves e Give Me Novacaine
MSN: marypiragibe@hotmail.com


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