CAPÍTULOS: [Prólogo] [1] [2] [3] [4]









Prólogo




Não importa o quão longas as estações sejam, o outono sempre chega e as folhas secas caem, levando com elas tudo de ruim para dar lugar às novas.


1 - Broken-hearted girl.


As gotas de chuva corriam pela janela como se fosse uma corrida, uma mais rápida que a outra, formando desenhos inanimados. A água cobria o vidro inteiro formando uma imagem opaca que me impedia de ver a paisagem do lado de fora. Eu tentava me concentrar nas pequenas gotas que batiam cada vez mais contra a janela e no barulho que a chuva fazia. Isso sempre me acalmava desde que eu tinha seis anos e meu pai saiu de casa, em uma tarde chuvosa, onde a água me impedia de ver a imagem do homem que eu mais admirei saindo pela porta e me deixando para trás como se eu fosse um fardo. Como se a chuva protegesse minha alma do desgosto de saber que eu não signifiquei nada para ele. Meu rosto estava apoiado nos meus joelhos enquanto eu observava as gotas. Ouvi uma chave girar na fechadura e a porta se abrir. Não me dei ao trabalho de olhar, sabia que era Kate, afinal, a única pessoa que tinha a chave além dela havia passado por aquela porta para não voltar nunca mais, assim como meu pai.
- , sacode a poeira, menina! Levanta daí! Sai de casa! – Kate falou em um tom autoritário, aproximando-se de mim. – Vai! Você acha que ele também passa os dias trancado, perguntando-se o por que da vida ser injusta? – ela perguntou. A lembrança me fez apertar meus dedos na minha calça, mas essa era Kate, sincera até demais. Eu dei um longo suspiro.
- Eu sei, Kate, mas é difícil, você sabe como eu sou. – tentei me explicar.
- Sim! Eu sei como você é! Você é forte, linda e independente, que não precisa de homem nenhum pra ser feliz! Vamos, ! Quando você colocar um pé para fora de casa, vai haver milhões de caras esperando. Abra os seus olhos pra vida, ! – ela continuou pulando pela casa extravagantemente. – Vai, vou ligar pra Vicky e nós vamos sair agora mesmo! Vai vestir uma roupa! Agora! Vai! ‘To mandando! – ela disse me dando tapas, fazendo-me descer do parapeito da janela.
- Com essa chuva? – perguntei, rindo.
- Minha filha, para Katherine Brewser, não há tempo ruim! – ela disse, fazendo gestos exagerados com a mão.
- Ok. – eu fui para o meu quarto, rindo. Quando eu entrei , analisei-o ao redor; todo arrumado, impecável. ‘Tudo tem que estar sempre no lugar, tão arrumadinho... Você é tão paranóica!’. Essa lembrança fez minha cabeça arder em chamas e como em um impulso, comecei a arremessar minhas coisas pelo quarto. Caixas, roupas, livros, tudo que encontrava pela frente. Abri meu armário e comecei a jogar as roupas no chão. Sapatos, bolsas, jóias, nada fugia da minha ira. Eu sentei frustrada na cama e lágrimas desesperadas desceram pelo meu rosto. – É o suficiente para você? – gritei como se ele estivesse ali para ouvir. Kate entrou rapidamente do quarto e sentou ao meu lado na cama.
- ... Não fique assim. - ela me abraçou de lado. – Esqueça isso, por favor! Não deixe as palavras dele te afetarem! Ele não sabe o que fala! Foi ele quem errou! Você não fez nada de errado. – ela dizia, tentando me reconfortar. Aos poucos, as lágrimas iam cessando e eu ia recuperando a calma. Eu olhei em volta, meu quarto destruído. Ah meu Deus! Eu realmente estou maluca.
- Desculpe. – sussurrei para Kate que deu um sorriso amigável.
- Não precisa se desculpar, eu só quero que você se anime um pouco, vista uma roupa e fique linda para provar para o mundo que nenhum veadinho egocêntrico deixa você para baixo! – eu ri do comentário de Kate, que abriu um sorriso satisfeito e se levantou. Ela remexeu minhas roupas jogadas no chão e tirou uma calça jeans justa e uma blusa de linho preta com um laço que percorria sua cintura. – Aqui, vista isso. – ela jogou as peças em mim – E eu espero que você esteja pronta em 10 minutos! – ela apontou o dedo indicador na minha direção. Eu apenas sorri e confirmei com a cabeça, assistindo-a sair e fechar a porta do quarto. Encarei as roupas no meu colo antes de tomar coragem para vesti-las. Kate tinha razão, eu não posso e não quero sofrer para sempre. Eu preciso seguir em frente, certo?
- ‘Ta proooooooonta, corazón? – Kate perguntou, escancarando a porta do meu quarto. Eu estava encarando meu rosto no espelho.
- Eu acho que um lado ‘ta diferente do outro. – falei, virando para Kate e apontando meus olhos com sombra preta, que pareciam desiguais para mim.
- Não! ‘Ta perfeito! – ela disse, puxando-me pelo braço. Eu me estiquei para pegar minha pequena carteira preta em cima da cama enquanto ela me puxava para fora do quarto.
- ! – Vicky me recebeu com um abraço quando eu cheguei à sala. – Como você ‘ta? Ai, eu ‘to tão feliz que você não é mais emo, amiga! – ela falou animada, balançando-me de um lado para o outro no abraço.
- Eu também, Vick. – falei, rindo. Era muito bom saber que eu podia contar com as minhas duas melhores amigas. Independente de qual fase depressiva da minha vida eu esteja passando, elas são melhores que qualquer namorado. Nós três saímos de casa e chamamos o elevador, descendo até a garagem para pegar o carro de Kate. Vicky morava no andar de baixo do nosso prédio , o que facilitava bastante a minha vida para ser sincera.
Nós ríamos e cantávamos Spice Girls no carro, como fazíamos quando fizemos dezessete anos e rodando parte da Inglaterra de carro entre gorros e óculos de sol. Tirando milhares de fotos e sorrindo para qualquer mínimo detalhe sem problemas ou preocupações, só o estado do cabelo com a mudança do clima.
Kate parou o carro em um estacionamento extenso com vários carros já estacionados.
- Aonde vocês me trouxeram, afinal? – perguntei confusa às duas que engancharam meus braços, uma de cada lado, puxando-me em direção a um tipo de pub.
- Para o céu , meu amor! – Kate falou, pulando e rindo alto, jogando a cabeça para trás.
- Chama-se 80’s. Abriu por aqui enquanto você estava na cama, chorando. – Vicky falou, rindo brevemente do delírio de Kate.
Havia um homem bem grande na entrada, onde a música alta já podia ser ouvida. Vicky puxou três pequenos papéis amarelo berrante da bolsa prata que combinava com o tubinho preto que ela vestia. Ela entregou ao gigante que os analisou e em seguida liberou nossa passagem.
Eu analisei o lugar. Era bem grande, havia mesas espalhadas em volta de uma enorme pista de dança, onde vários tipos de pessoas dançavam animadamente Just Dance. Um jogo de luzes fazia com que não fosse totalmente escuro, facilitando enquanto eu, Kate e Vicky caminhávamos entre as pessoas até achar uma mesa. Nós sentamos e eu dei mais uma olhada em volta. Havia um bar no canto esquerdo onde alguns homens jogavam a bebida para cima e para baixo. Pessoas se agarrando em pequenos sofás espalhados, pessoas bebendo no bar, pessoas se agarrando no bar, pessoas conversando nas mesas, pessoas se agarrando na mesa, pessoas pulando na pista de dança, pessoas se agarrando na pista de dança.
- Eu vou pegar alguma coisa pra beber. – Vicky falou em um tom mais alto devido ao barulho. – O que vocês querem? – ela perguntou. Eu apenas dei de ombros, não estava no clima de escolher bebidas.
- Qualquer coisa azul! – Kate gritou. Vicky logo se levantou e foi em direção ao bar, atraindo olhares por onde passava.
- Eu vou ao banheiro, ‘to apertada.– Kate falou perto do meu ouvido com uma risadinha curta. Eu sorri e assenti enquanto ela se levantava e rebolava até o banheiro, com seu vestido vermelho extremamente curto e um decote generoso na parte de trás, atraindo olhares assim como Vicky. Às vezes eu me sentia o patinho feio do grupo. Eu voltei meu olhar para frente, dando de cara com a única coisa que eu não queria ver. Seus olhos me encaravam com uma expressão indecifrável, sua boca em uma linha reta. Eu tentei, mas não consegui desviar meu olhar enquanto ele me encarava profundamente. Um turbilhão de lembranças veio à minha mente. Desde nossos beijos até o impacto da minha mão no seu rosto. Eu apertei minha bolsa, como se fazendo força, eu conseguisse expulsar esses pensamentos da minha mente. Eu não podia negar, ele ainda me atraía muito. Rapidamente, ele virou seu rosto para o outro lado e voltou a fazer o que estava fazendo: engolindo a loira peituda sentada ao seu lado no sofá. Como ele fazia milhares de vezes enquanto nós estávamos namorando. Eu abaixei meu olhar para minhas mãos e logo as memórias voltaram à minha cabeça, como se fosse ontem que tudo aconteceu... Kate voltou e se sentou no lugar em que estava.
- Vejo que o superou bem rápido. – ela comentou, olhando na direção dele.
- Ele não tinha o que superar, afinal, nunca significou nada para ele mesmo. –eu falei friamente, olhando brevemente para ela, depois para e novamente para as minhas mãos. Kate ficou calada e Vicky chegou com as bebidas.
- Porque essa cara de enterro? – ela disse, colocando três copos em cima da mesa. Kate apontou com a cabeça para a direção do sofá e Vicky logo viu o motivo.
- Ah. – ela disse simplesmente. – Filho da puta... – ela balançou a cabeça em forma de reprovação, fazendo-me rir.
- Ele superou, . Supera também. – Kate disse, dando um tapa na minha cabeça.
- Ai. – eu reclamei, colocando a mão no local atingido.
- É, sua otária. – Vicky concordou, dando outro tapa na minha cabeça. – Vem, vamos dançar. – ela puxou meu pulso, forçando-me a me levantar.
- O quê? Você ‘ta maluca? – perguntei, tentando me soltar.
- Na, na! Vamos mostrar pro que você não passa seus dias em depressão pensando nele. – Kate disse, empurrando-me pelas costas para ajudar Vicky a me levar para a pista de dança.
- Mas eu passo! – desesperei-me, tentando me soltar das minhas supostas amigas que tentavam me arrastar para uma humilhação publica.
- É só se mexer, , sinta o ritmo. – Vicky falou de uma forma meio hippie quando nós já estávamos no meio da pista. Kate e Vicky começaram a se movimentar de uma maneira sincronizada. As duas me empurravam de um lado para o outro, tentando me fazer dançar. Eu comecei a me movimentar, indo mais e mais rápido, sentindo a batida alta que tomava conta do lugar me cercar. Eu começava a acompanhar a música, meu cabelo ia voando de um lado para o outro e eu via a boate inteira pulando e se mexendo. A animação começou a tomar conta de mim e eu ia perdendo a vergonha, meus movimentos ficando mais rápidos e mais extrovertidos. Eu ria com Kate e Vicky, levantando meus braços, balançando de um lado para o outro. Eu não sabia se eu estava dançando bem, eu não sabia nem se eu estava dançando , eu apenas movia meu corpo de acordo com a batida, aliviando toda a tensão das últimas semanas. Eu rodava, tendo consciência dos olhares sobre mim, inclusive um em especial, com olhos vívidos que ainda me causam calafrios. Eu fui me afastando da pista de dança.
- Vou beber alguma coisa. - sibilei para Vicky que me olhou confusa. Ela fez um sinal positivo com a mão e voltou a dançar. Eu sentei em um banquinho de aço em frente ao bar.
- Vai querer alguma coisa? - um bar tender perguntou de uma maneira simpática para mim.
- Qualquer coisa que me deixe bêbada. - falei sincera, expondo meu incrível conhecimento sobre bebidas. O bar tender deu uma risada e se virou. Depois de alguns minutos, ele colocou uma taça com um líquido arroxeado e um guarda chuva em miniatura. Eu dei um gole na bebida; desceu como ácido na minha garganta. Eu fechei fortemente meus olhos, engolindo o líquido. Eu abri meus olhos rapidamente, tudo girou e eu senti uma tontura. Eu continuei a beber meu líquido roxo. Em cada gole, as coisas giravam mais e minha mente ficava mais e mais embaralhada.
- Ei, isso é bom? – uma voz fina e irritante soou. Eu olhei para o lado e me deparei com uma loira com seios maiores que a cabeça, uma blusa que é do mesmo tamanho da que eu usava quando tinha cinco anos, uma saia que parecia que estava pela metade e um piercing de argola no umbigo. A loira que estava engolindo alguns minutos atrás. Eu me imaginei com uma faca, furando os peitos avantajados dela e vendo o silicone pular para fora como em todo mundo em pânico quando me dei conta que ela estava na minha frente, sorrindo com aqueles dentes brancos perfeitos, esperando uma resposta para sua pergunta.
- Ótimo se você quer esquecer o ex namorado filho da puta. – falei sem pensar, dando outro gole na bebida.
- Hm, desses eu conheço. – ela disse simplesmente. – Como ele é? – perguntou, sentando em um banco ao lado do meu.
- Alto, atlético, olhos , um cabelo que dá vontade de puxar e uma voz incrível. – eu descrevi , sentindo um aperto no peito.
- É, parece bonito. – ela disse refletindo um pouco. – Ei... – franziu as sobrancelhas. – Espera aí... Oh! – ela fez uma cara surpresa segundos depois.
- Pois é. – falei, dando um sorriso sarcástico e levantando a taça, como se estivesse fazendo um brinde, levando-a a boca logo depois.
- Nossa, eu não sabia... Eu... Ai Deus. – a garota levou a mão à cabeça.
- Tudo bem, afinal nós nem estamos mais juntos mesmo. – falei, abaixando o olhar.
- Não, mas eu... – ela hesitou um pouco e me encarou. – Não é a primeira vez que eu fico com ele. – disse pesarosamente. Eu sei que ela editou um pouco essa frase para não me machucar tanto, afinal, ela não poderia dizer ‘não é a primeira vez que a gente se fode’. Fiquei calada por alguns segundos. Isso não devia me surpreender ou me deixar triste, afinal, agora eu tinha plena consciência do que fazia quando saia à noite, indo ‘resolver coisas da banda’. Mas ainda assim, foi como uma facada. Talvez, lá no fundo, eu ainda tivesse uma pontada ridícula de esperança de que ele não tivesse me traído. – Desculpe. – a garota falou baixo, abaixando a cabeça.
- Tudo bem, você não teve culpa. Só quem teve culpa fui eu. Eu que fui a idiota na história toda. – falei meio embolado. – Eu sou . – acrescentei, lembrando-me que nem o nome da garota eu sabia.
- Kristy. – ela disse sorrindo. Retribuí o sorriso. Eu e Kristy começamos a conversar. Descobri que ela cursa medicina, sua família é de Manchester, ela divide um apartamento com três amigas no centro e que trabalha meio período em uma livraria. Nós conversamos e rimos por um bom tempo. Kristy era uma pessoa realmente interessante e divertida, totalmente diferente do que eu havia imaginado. Talvez não gostasse apenas de vadias sem cérebro. Quando veio à minha mente, eu dei uma pequena e discreta olhada para trás, vendo-o em outro sofá, agarrando-se com uma loira de cabelos encaracolados e cheios. Retiro o que disse, deve ter uma queda por loiras sem cérebro, com algumas exceções, é claro, como Kristy. – não merecia você, . Acredite. – Kristy disse com um sorriso sincero. Eu apenas sorri e bebi minha quinta bebida roxa.
- Bem que ele podia se tocar disso. – eu disse.
- Kristy, vamos. – uma garota com o cabelo castanho todo cacheado avisou Kristy enquanto carregava uma outra garota loira que ria desesperadamente.
- Ok, já vou. – Kristy a respondeu. – Eu tenho que ir, você quer uma carona ou algo assim? – ela perguntou para mim.
- Não, obrigada. – respondi.
- Tem certeza? Você vai ficar bem mesmo? – ela perguntou atenciosa.
- Vou sim, obrigada.
- Aqui. – Kristy pegou um guardanapo e pediu uma caneta ao bar tender. Ela anotou algo em um papel e me entregou – Me liga. – disse e com um último sorriso, foi embora. Eu olhei o papel que tinha alguns números e ‘Kristy’ escrito embaixo, dobrei-o e guardei no bolso da minha calça. Eu continuei sentada no bar com as minhas sete bebidas roxas quando um cara sentou do meu lado.
- Oi gatinha, vejo que está sozinha... – ele falou com uma voz irritante de gangster forçado. – Se você estiver procurando companhia... – ele se aproximou mais.
- Eu... – as palavras não saíam. Tudo estava girando, eu não conseguia nem me movimentar direito. Eu estava realmente muito bêbada.
- Ei, sai de perto da minha namorada. – uma voz grossa falou. O cara que antes ocupava o banco ao lado do meu logo se afastou rapidamente e outro que aparentava ter uns vinte e um anos sentou no lugar dele. Ele tinha o cabelo castanho curto e olhos verdes.
- Obrigada. – falei ainda meio confusa.
- Tudo bem, eu acho que você estava com problemas. – ele disse rindo. – Eu sou Martin.
- . – falei enrolado.
- Então, tudo bem? – ele falou no típico ‘estou puxando assunto’.
- Tudo bem? – refiz a pergunta, encarando-o. – Se ‘ta tudo bem? Vou te responder... – falei, inclinando-me para frente e quase caindo se não fosse por Martin ter me segurado.


2 - Friendships.


Minha cabeça parecia uma escola de samba. Eu preferia morrer a abrir meus olhos, mas fui forçada a abri-los quando eu percebi que não fazia a mínima idéia do que eu tinha feito ontem à noite. Levantei abruptamente, arrependendo-me mortalmente ao sentir dores por todo o meu corpo. Minha visão ficou embaçada e eu pisquei umas cem vezes para identificar o local onde eu estava. Olhei ao redor, deparando-me com um quarto com paredes , pôsteres de algumas bandas e móveis espalhados. Nada familiar. Mal. Eu levantei da cama, passando por um espelho e me encarei. Eu estava vestindo uma camiseta do Kiss uns cinco números maiores. Muito mal. Comecei a andar, cambaleando pelo quarto. Abri a porta e saí, passando por um pequeno corredor, seguindo o som de alguma música. Quando eu terminei o corredor, vi uma cozinha no estilo americano com uma bancada com o rádio em cima e um Martin com um avental branco fazendo panquecas.
- Ah, oi. – ele falou sorrindo para minha imagem congelada, parada no meio da sua sala. – Você acordou.
- É, eu acordei. – respondi simplesmente ainda parada.
- Imagino que você não se lembre do que aconteceu ontem, né? – ele falou. Eu apenas movimentei a cabeça negativamente. – Bom, a gente casou. – disse sério, encarando-me. Eu entrei em choque. COMO ASSIM? Caí sentada em um sofá. Logo, Martin começou a rir. – É brincadeira.
- Então o que aconteceu? – perguntei depois de suspirar aliviada.
- Bom, no bar você me contou a história da sua vida. Desde sua infância super sofrida – ele acrescentou um tom dramático – até suas desilusões amorosas. Depois, você começou a cair e me pediu pra te levar pra casa. Aí nós fomos para o carro e eu perguntei “onde é sua casa?”. Então você começou a cantar Hannah Montana e eu tive que te trazer pra cá. E a gente não transou, caso você esteja pensando nisso. Eu te trouxe pra cá e você parecia uma louca. Você ficava chamando o de filho da puta, veado, gordo. Ficava gritando. Eu me desesperei.
- Você se desesperou quando eu gritei? – eu perguntei com uma risada.
- Não. Quando você chorou. - Martin disse. Eu sorri achando aquilo a coisa mais fofa do mundo, algo que com certeza não faria. Mas aí, eu me lembrei de um pequeno detalhe.
- As minhas roupas... Ahn, você... que tirou? – perguntei sem jeito.
- Não. Você. – ele disse rindo. – Eu tive que te convencer a parar de se despir e vestir uma camisa. – disse ainda rindo. Eu não consegui evitar rir quando imaginei a cena também.
- Ok, obrigada, eu acho. – agradeci.
- Estou sempre à disposição. – ele levantou uma panela. – Quer panquecas?
- Com certeza, eu ‘to morrendo. – sentei no banco em frente à bancada da cozinha. Eu fiquei na casa do Martin umas três horas, saindo de lá às 13h da tarde. Nós conversamos e rimos muito. Martin era um cara incrível, um cara que eu sonhava em ter me apaixonado além do crápula por quem eu fui inventar de me amarrar. E o pior de tudo é que eu continuo o ligando a tudo que eu faço. Martin me deu o telefone dele e me disse que eu podia ligar a qualquer hora. Eu agradeci e saí da casa dele, pegando um taxi até minha casa. Ele se ofereceu para me levar, mas eu também não podia abusar da boa vontade de alguém, né?
Eu entrei no meu apartamento, deparando-me com uma Kate na mesa mexendo no laptop e com uma Vicky jogada no chão da sala, assistindo à reprise de Gossip Girl.
- Bom dia, Kate. Bom dia, garota que não tem casa. – cumprimentei as duas, jogando-me no sofá.
- Bom dia, gatinha. Hmmmm, vejo que a noite foi boa. – Kate disse sugestiva.
- Foi! – falei animada, arrependendo-me logo depois de ver o modo como as duas me encararam. – Não do jeito que vocês estão pensando! – consertei.
- Explique-se então. –Vicky falou, sentando-se no chão.
- Vocês nun-ca vão acreditar! – falei, rolando no sofá.

- AAAAAF, QUE SORTUDA, ARRUMA BOFE ATÉ BÊBADA. – Kate falou, pulando após eu terminar meu relato da noite passada pela sala.
- Que lindo, amiga! Finalmente alguém para te ajudar a esquecer o . – Vicky falou com um sorriso amável. Eu sentei no sofá. Será? Será que alguém me faria esquecer o ? – Liga pra ele. – ela falou, empurrando-me o papel com o número do Martin que eu havia mostrado para elas em um momento da conversa. Eu encarei o papel por alguns segundos.
- Não, eu acabei de sair de lá. – empurrei o papel de volta para Vicky.
- Você deu seu telefone para ele? – Kate perguntou. Eu balancei a cabeça afirmativamente.
- Então espere-o ligar. – Vicky impôs.
- E se ele não ligar? – perguntei ridiculamente.
- Aí você liga. – Kate falou, sentando-se ao meu lado no sofá.
- Não. – falei desesperadamente. – Eu não posso ligar, ele vai achar que eu sou louca.
- Então reze pra ele ligar, senão eu vou ligar fingindo que sou você! – Kate ameaçou, apontando o dedo indicador na minha cara.
- Você não faria isso. – falei, apertando os olhos.
- Pf, parece que não me conhece. – ela resmungou. Vicky riu e nesse exato momento, meu celular tocou. Nós três encaramos a bolsa jogada no sofá. Eu a peguei e abri como se ela pudesse explodir a qualquer momento. Peguei o celular e olhei o número.
- Não sei – Confessei. Vicky olhou o número e comparou com o do papel.
- É ele. – Ela disse, cutucando-me.
- Que eu faço? – perguntei confusa.
- Atende, jumenta. – Kate falou, apertando o botão do celular. Eu arregalei meus olhos para ela e levei rapidamente meu celular até o ouvido.
- Alô. – falei, tentando parecer normal. Kate e Vicky grudaram em mim como se fossem imãs para escutar a conversa.
- Alô, ? É o Martin. – ele falou do outro lado da linha.
- Ah, oi Martin. E aí, tudo bem? – falei a primeira coisa que me veio à cabeça enquanto tentava expulsar Kate e Vicky do meu lado.
- Tudo. Então, eu queria saber se você não quer sair hoje. – ele falou direto.
- Eu.. Ahn... Eu... – Vicky e Kate ficavam pulando na minha frente fazendo sinais positivos. – Claro.
- Que bom. Então, eu posso passar aí para te pegar às 19:00? A gente pode sair para jantar.
- Tudo bem, eu vou estar esperando. – bati na minha testa, pensando na besteira que eu falei.
- Ok, até lá então. – Martin falou e logo depois eu desliguei. Kate e Vicky ficavam me encarando. – Acho que eu tenho um encontro. – falei. Nós três começamos a pular pela sala e gritar uma em cima da outra.
- PAREM! – Vicky gritou, parando abruptamente levantando as mãos. – Nós não podemos agir como garotinhas de 14 anos.
- É! Temos que comprar uma roupa pra você! – Kate disse, balançando-me.
- Verdadeeee. – Vicky concordou, mexendo as mãos freneticamente. – Vamos! - ela disse, saindo de casa como um furacão. Eu e Kate ficamos paradas no mesmo lugar encarando a porta, por onde Vicky entrou segundos depois. – É nessa hora que vocês me seguem.


3 - Jealousy, turning saints into the sea.




Eu estava sentada no sofá, respirando lentamente. Eu praticamente pulei para o outro lado da sala quando o interfone tocou.
- Pronto. – Kate atendeu. – Ah tudo bem, ela está descendo. – ela falou enquanto fazia um sinal positivo com a mão para mim. – É ele. – ela soltou logo depois de colocar o interfone no gancho. Eu me levantei rapidamente e encarei minha imagem no espelho. Eu estava usando um vestido roxo colado, com um cinto preto na cintura e uma meia calça preta. Passei a mão pela minha roupa pela última vez e fui em direção à porta.
- Boa sorte, fofinha. – Vicky desejou, abrindo a porta com os olhinhos brilhando como se eu fosse sua filha indo para o primeiro baile da escola.
- Pegue-o de jeito. – Kate gritou do corredor enquanto eu esperava o elevador. Eu ri e entrei no elevador.
Martin me esperava do lado de fora da prédio, encostado no seu carro incrivelmente lindo. Ele estava usando uma camisa pólo azul e uma calça social preta, com o cabelo castanho perfeitamente desarrumado.
- Você está linda. – ele falou, sorrindo quando eu me aproximei.
- Obrigada. – agradeci, entrando no carro. Ele dirigiu pelas ruas escuras de Londres, eu sem coragem de perguntar para onde nós íamos. Nós conversamos sobre qualquer assunto. Martin me fazia rir com qualquer bobagem, era fácil ficar confortável ao lado dele. Nós paramos em frente a um restaurante e ele estacionou o carro. Nós descemos e andamos até a entrada. Na frente havia um pequeno balcão onde Martin falou seu nome e a recepcionista pediu que nós a acompanhássemos. Eu sorri sozinha imaginando quando ele teria feito essas reservas. Nós sentamos em uma mesa e um garçom veio entregar o cardápio. Eu olhava para as palavras em alguma língua estranha tentando fazer uma cara intelectual para parecer que eu estava entendendo alguma coisa. Martin pediu por nós dois enquanto eu ficava vermelha como as paredes do restaurante.
- Então... – comecei – Quando você fez essa reserva? – perguntei curiosa.
- Hoje de manhã, antes de você acordar. – ele disse, sorrindo. Um sorriso maior que o meu rosto se abriu; Martin era a pessoa mais fofa do mundo, mas logo meu sorriso se desfez. Não era possível. Só podia ser brincadeira. Entrando pela porta do restaurante, acompanhado de um par de seios falsos com uma garota pendurada, estava . Ele e o par de seios se sentaram a umas duas mesas da nossa. Próximo demais. Eu virei minha cabeça antes que ele percebesse minha presença.
- Algo errado? – Martin perguntou preocupado. Eu refleti um pouco, por que não contar?
- Sabe aquele cara que acabou de sentar naquela mesa? – falei, indo um pouco mais para frente para abaixar meu tom. Martin deu uma pequena olhada.
- Sim. – ele disse, esquivando-se para frente também.
- Então, esse é o filho da puta, gordo, e tal. – exemplifiquei com meus apelidos carinhosos.
- Ah, então é ele? Nem é tão bonito. – Martin fez uma voz afeminada, fazendo-me rir. – Ele ‘ta olhando para cá. – Martin avisou.
- Sério? Ai, eu não acredito. Arg, eu tenho vontade de tacar os meus talheres nele e naquele par de seios do lado dele; aposto que ela sai voando como um balão de gás. – falei maldosa, imaginando a cena. – E ele ainda fica me encarando, que falta de vergonha na cara. – foi aí que Martin se esquivou mais ainda e me beijou. Não um beijo de língua nem nada, apenas um beijo normal. Como se fôssemos dois namorados nos cumprimentando. Eu fiquei paralisada enquanto ele voltava à posição normal.
- Agora ele está mesmo encarando. – ele falou, piscando para mim. Eu rapidamente me ajeitei na cadeira e peguei uma colher, tentando ver pelo reflexo. Martin começou a rir da minha tentativa de espionagem. Eu consegui ver através da colher os olhos de grudados na nossa mesa, como se fossem sair do seu rosto a qualquer segundo enquanto o par de seios falava algo inútil.
- Eu não ligo. – falei, fazendo uma cara superior, largando a colher na mesa. Martin riu novamente. – Mas ainda quero enfiar a faca naquele par de seios.
- Aquilo é uma garota? Achei que ela fosse um homem e aquilo em cima do pescoço, o pênis. – Martin falou chocado. Eu comecei a gargalhar, fazendo-o rir também. Eu fiquei uns cinco minutos rindo.
- Você tem uma risada bonita. – Martin comentou. – Parece de criança.
- Oh, obrigada. – falei sarcástica.
- Foi um elogio. – ele explicou. Nós dois rimos novamente com os olhos de ainda sobre nós.
- Sabe Martin, eu estou me divertindo muito. E acredite, faz um tempo que eu não me divirto. – fiz uma careta, lembrando o tempo que fazia que eu não me divertia. Dezessete dias. O tempo em que eu tive meu nada pacífico rompimento com . E parece que ele tem se divertido bastante.
- Que bom, . Eu fico realmente feliz em ver que eu consegui colocar um sorriso no seu rosto. – ele sorriu. Tinha um sorriso tão fofo, não um sorriso como o do , o sorriso do era sacana, como o dono, mas sempre conseguia fazer minhas pernas tremerem. Eu sorri também e a nossa comida chegou. Nós comíamos enquanto continuávamos comentando sobre qualquer coisa que viesse à nossa mente, rindo mais que falando.
- Eu vou ao banheiro. – falei, levantando-me. Martin apenas moveu a cabeça afirmativamente, assentindo.
Eu entrei no banheiro, que por sinal era bem grande, retoquei a maquiagem e fiquei me encarando no espelho. Comecei a fazer caretas, uma mania estranha que eu tinha sempre que eu via um espelho. Mudava minhas feições várias vezes em frente ao espelho, soltando algumas risadas às vezes. Eu parei e apenas encarei meu rosto. Há quanto tempo eu não sorria? Afastei meus pensamentos e saí do banheiro.
- Divertindo-se, ? – uma voz conhecida me atingiu assim que eu saí do banheiro. Eu dei um pulo e coloquei a mão no coração acelerado por causa do susto. O filho da puta deu uma risada. – Você toma sustos tão fácil. – ele disse ainda sorrindo, agora de frente pra mim.
- Você que aparece do nada sempre. – falei entre dentes. – E sim, divertindo-me muito.
- Você fala como se conseguisse se divertir com alguém que não seja eu. – ele se aproximava mais com aquela voz petulante. Eu dei uma risada sarcástica.
- Você, como sempre, muito modesto. Agora com licença. – falei, já me virando. Eu comecei a andar em direção à minha mesa e quando dei por mim, já sentia a respiração de em minha bochecha enquanto ele sussurrava próximo ao meu ouvido e de costas para mim.
- Eu sei que você sente minha falta. Encontre-me amanhã, às seis da manhã, no parque em frente ao seu prédio. – foi como se suas palavras surgissem em minha mente, como se ele não as tivesse pronunciado, pois tudo começou a girar quando eu senti seu perfume novamente. Ele se afastou calmamente e foi se sentar. Eu fiquei mais alguns segundos parada. Como ele conseguia ser tão contraditório? Como ele conseguir ser tão cínico?! Eu me sentei novamente e sorri para Martin. Nós continuamos o jantar. A conversa diminuiu depois daquilo. Eu estava completamente absorta em meus pensamentos, pensando no que fazer.
- Obrigada por tudo hoje, Martin, sério. – falei, sorrindo com a mão na porta do carro, pronta para descer.
- De nada, posso te ligar depois? – ele perguntou meio inseguro. Eu apenas sorri novamente e afirmei com a cabeça. Saí do carro apressada antes que ele tivesse a chance de dizer ou fazer qualquer coisa. Nem eu mesma entendi o por quê. Corri até o meu prédio e subi até meu apartamento, entrando e fechando a porta. Caminhei lentamente até meu quarto, aliviada por Kate estar dormindo. Não estava com paciência para descrever cada detalhe da minha noite. Eu estava preocupada demais com a minha manhã.


4 - Take a risk, take a chance.




Eu tentava respirar calmamente enquanto caminhava pela rua. Eu andava o mais devagar possível. Puxei a manga do meu casaco longo e preto e chequei no relógio. Seis horas em ponto. Respirei mais profundamente ainda. Havia poucas pessoas na rua, no máximo uma ou duas passando com sacos de pão. Quase nenhum carro, talvez pelo fato de ser domingo de manhã. O parque se aproximava aos poucos. O típico frio de Londres fazia as folhas das árvores se mexerem levemente, acompanhando o movimento do meu cabelo. Não estava na época da neve, ainda. Eu me aproximava cada vez mais no parque e começava a me perguntar se ele estaria mesmo lá ou se eu estava fazendo papel de boba novamente. Mas eu vi a imagem de sentado em um banco branco na grama, encarando o horizonte. Tentei conter um sorriso, eu sempre sorria quando o via, mas as coisas agora eram diferentes. Eu me sentei ao lado dele e olhei para frente.
- Achei que você não viria. – ele quebrou o silêncio, olhando para mim.
- Eu achei que você não viria. Achei que estivesse cansado por causa da noite de ontem com a Barbie Malibu. – ele deu uma risada. Nós continuamos em silêncio por um tempo, até que começou a me irritar. – Então... Você me chamou aqui pra quê? – se virou para mim e pregou aqueles olhos nos meus, sem desviar em nenhum momento. Eu também não desviei, não sei se foi pelo efeito que ele ainda causava em mim ou pelo simples fato de não querer ser a primeira a ceder. Ele levou sua mão ao meu rosto e colocou meu cabelo atrás da orelha, encostando a palma em minha bochecha. Eu instintivamente fechei os olhos.
- ... Você voltaria pra mim? – suas palavras me atravessaram e quebraram como se eu fosse uma parede de vidro. Eu abri os olhos abruptamente e virei meu rosto para frente, afastando sua mão de mim. Encarei o nada e minha mente funcionava a mil. Eu tinha tantas respostas guardadas em mim para aquela pergunta. Tantos sim, tantos não. Eu queria. Eu precisava.
- Não. – falei fria e dura, totalmente diferente do que eu estava por dentro.
- Por que não? – ele questionou. – Eu te fiz tanto mal assim? – eu o encarei.
- ... – comecei - Você era meu mundo. Quando eu descobri a piada que era o nosso relacionamento, foi como se meu mundo tivesse se despedaçado, eu não tinha mais chão. Mas eu acho que a verdade é que eu não posso culpar você, não é? Talvez eu nunca tenha sido o suficiente e eu deveria ter percebido isso. – dei uma risada fraca – Eu tenho tentado, tenho realmente tentado e me esforçado para conseguir seguir em frente, te esquecer. E é tão difícil , tão difícil. – por um momento, deixei que a dor escorresse pelas minhas palavras. – Mas eu sei que eu vou conseguir. Sim, você me fez muito mal. Talvez você não entenda o quanto, nem eu mesma entendo. Eu achava que o que você sentia por mim era amor.
- Era amor! – um resquício de desespero surgiu em sua voz.
- Não, ! Não podia ser amor! Amor não é feito de mentiras, o amor não te levava à cama com todas aquelas mulheres, o amor não te levou a falar todas aquelas coisas! E quer saber? Obrigada, ! Obrigada por tudo que você me disse, obrigada por ter me chamado de controladora, ciumenta, dramática, depressiva! Obrigada por jogar na minha cara que ninguém conseguiria conviver comigo, como você não conseguiu! Acho que era o que eu precisava, um choque de realidade; meu conto de fadas estava indo longe demais.
- Vamos tentar de novo, eu não quis dizer aquelas coisas... – uma leve expressão de dor surgia em sua face.
- Você se lembra? Lembra de todas as vezes que eu dizia isso pra você? Quando nós brigávamos por causa do meu temperamento e você saía; eu sempre me perguntava o que você fazia para se acalmar. Eu era realmente muito boba, pois a única alternativa verdadeira nunca nem se quer passou pela minha cabeça! Você se lembra de como era sempre eu que ia rastejando, pedindo desculpas? Sempre eu que me humilhava, sempre eu que pisava no meu orgulho. Como você sempre conseguia fazer parecer que a culpa de todas as brigas era minha e como eu acreditava, porque eu não conseguia viver sem você, não conseguia imaginar o que seria de mim se você não estivesse mais lá. Agora eu sei que seria bem melhor se você nunca tivesse estado. – as palavras que saíam da minha boca me machucavam, mas não tanto quanto as que saíram da boca dele quando nós brigamos – Você não me destruiu naquele dia que nós terminamos, , você começou a me destruir a partir do momento que você me jurou fidelidade. Você me destruiu pouco a pouco nesses dois anos. Cada vez que você saía, cada vez que você voltava, tirava um pedaço de mim em cada ‘eu te amo’. Cada vez que você me tocava, fazendo-me acreditar que eu era a única em que você tocava. Você achou que ia me fazer de trouxa pra sempre? Você acha que eu sou o quê? Você acha que eu não tenho sentimentos?! Você achou que eu ia correr para os seus braços implorando perdão novamente? Não, , eu não quero, não quero passar por isso novamente. – eu fiz uma pequena pausa. Ele ainda me encarava com os olhos repletos de dor – Você não sabe como é, não sabe como é ter que se lembrar de quando eu era feliz, tentar aceitar a mentira que eu vivia. Você não sabe como é achar que é amado por alguém, achar que finalmente não estava mais sozinha para depois descobrir que nada era verdade. Eu estou tão cansada, estou tão cansada de sofrer, tão cansada de lembrar. Eu sei que o meu coração está partido, mas eu vou fazer de tudo para reconstruí-lo pedacinho por pedacinho. Pode levar tempo, não sei. Mas eu vou conseguir, . Eu vou conseguir seguir em frente. Eu vou ser feliz. – terminei já quase sem fôlego. Ele ainda me encarava incapaz de emitir algum som. Eu olhei para os seus olhos. Flashes de tudo que nós vivemos apareceram na minha cabeça e por um milésimo de segundo, eu cogitei a possibilidade de retirar tudo o que eu disse e pedir desculpa, mas eu logo afastei esse pensamento. Eu me levantei e encarei o garoto à minha frente. - Adeus, . – falei antes de me virar e começar a caminhar pela calçada. Virei a esquina, observando as árvores que ainda dançavam com o vento. Eu fiz a coisa certa?

I'll spread my wings and I'll learn how to fly.

Um pequeno sorriso surgiu no meu rosto. Eu começei a ter mais confiança em tudo que eu havia dito. Era tudo verdade, mesmo improvisado, era tudo verdade. Eu finalmente consegui expressar tudo o que eu sentia. Eu me senti mais leve.

I'll do what it takes ‘till I touch the sky.

Um sentimento de liberdade tomou conta de mim. Como se eu tivesse me livrado de um peso. Eu conseguiria mesmo seguir em frente e ser feliz?

Make a wish, take a chance, make a change and breakaway.

Eu dei uma gargalhada. Claro que conseguiria! Tirei minhas mãos do bolso do casaco e as levantei. Olhei para o céu e começei a girar.

Out of the darkness and into the sun.

Eu tenho tanta vida pela frente! Continuei girando descordenada e rindo. Por que eu não conseguiria ser feliz? Eu tenho tantos motivos!

But I won't forget all the ones that I love.

Eu tenho duas irmãs incriveis! É, irmãs! Irmãs, mães, amigas, estepes, namoradas se fosse preciso! Elas me apoiam e sempre me apoiaram. Como eu era cega! Como eu pude pensar em desistir do amor quando ele estava bem na minha frente, sorrindo para mim?! Isso é amor, isso é um motivo de felicidade! Só com isso eu já posso ser feliz! Girei mais ainda, agora na grama coberta de folhas amarelas e verdes devido à chegada do outono.

I'll take a risk, take a chance, make a change.

Eu seria como as árvores e esse era o meu outono. Eu deixaria tudo de ruim cair, eu me livraria de tudo que me faz sofrer para dar espaço à todas as folhas novas. Quem sabe uma linda flor não crescesse? Eu pulei em direção ao meu prédio ainda rindo. Eu vou conseguir, eu sei que eu vou.

And breakaway.


Fim



Nota da autora: Curtindo minha fic baseada na musica do Calcinha Preta “Você Não Vale Nada Mais eu Gosto De Você”? Hehe Q. Queria manda um salve pra Carolxinhaw O’Callaghan lá da xurupita por ter me dado mó help e ter feito minha linda imagem. TIAMU, CACHORRA, VOCE É LINDA, PASSO NA SUA CASA MAIS TARDE, GRRRR BJS s2; e pra Mariana DH (aposto um beijo que você me quer!!!1111!) Poynter (< SE ELA LER ESSA FIC, O QUE EU ACHO DIFIÇU, NÉ) da pisaria pôr do sol. Mals aê por não ter te mostrado a fic, mas sabe, né? HEHEHEHEHEHE TI AOM D+++ SMP, É NÓIS, MANO PARCERIA ETERNA TJ. x*

Tchau. n_n

PS: BETA (ANA), VOCÊ É LINDA.





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