Can Wait Forever

Por: Laura Mai | Beta: Mari Morgon | Revisão: Thai Barcella


Eu observava o velho carpete imundo embaixo de meus pés. Engolia em seco, sentindo que uma bola definitivamente grande havia se formado em minha garganta. Eu me sentia assim, às vezes. Quando eu não estava afogando tudo na bebida, eu tinha meus momentos lúcidos. As cortinas da grande janela estavam abertas, revelando o céu nublado e claro, fazendo meus olhos doerem e fecharem-se sem que eu os permitisse. Alguns relâmpagos começavam a aparecer, sem nenhum som sequer, mas bastante claros. E eu não fazia nada. Apenas ficava observando, tentando afogar a dor, talvez.
Olhei em volta daquele quarto; estava de saco cheio daquele hotel velho e sujo. E o pior: eu tinha escolha. Eu poderia muito bem ter ido para um hotel 5 estrelas, e ter ficado lá até envelhecer. Mas eu não queria.
No mínimo, eu queria proporcionar a mesma dor que eu fazia as pessoas que eu amava sentirem, para mim. É, eu acho que era um exemplo de roleta que eu havia preparado para mim mesmo. E estava rezando para que a bala estivesse na câmara que apontava para minha própria cabeça.
Chutei a lixeira que estava ali perto, tentando distanciar minha raiva, mas ela apenas aumentou mais. Aquilo tudo era muito doentio. E, pensando em tudo que havia me levado para aquele hotel, sem amparo de ninguém, com várias chamadas não atendidas em meu celular de meus amigos preocupados, lágrimas formaram-se debaixo de meus olhos.
O que eu fazia ali?

You look so beautiful today
(Você está tão bonita hoje)
When you're sitting there
(Quando você está sentada ali)
It's hard for me to look away
(É tão difícil eu não olhar)
So I try to find the words that I could say
(Então, eu tento achar as palavras que eu poderia dizer)
I know distance doesn't matter but you feel so far away
(Eu sei que a distância não importa mas você parece tão longe)

Eu não iria chorar.
Tudo se concretizaria. Eu tinha certeza.
Mas que droga de certeza era aquela? Eu não tinha certeza de absolutamente nada na minha vida! E, agora, eu olhava pela janela do hotel, deixando que as lágrimas rolassem livremente. Sem que eu as limpasse, como sempre fazia, ou até mesmo prendesse. Percebi, pela primeira vez, como Londres era depressiva. Eu amava aquela cidade mais que tudo, e nunca me mudaria. Mas ela era depressiva. Não havia crianças correndo pela rua. Não que isso fosse tão feliz assim, mas, em alguns outros países que eu havia visitado, havia sempre um futebol de rua. Eu via apenas uma praça, da janela do hotel. Alguns ônibus vermelhos. Alguns sorrisos remotos. Mas costume era costume. E, então, como sempre, meus pensamentos voltavam para o mesmo princípio. Pensei em onde ela estaria. Com... Ele? Uma raiva incrível me abateu naquele exato segundo, mas eu a distanciei assim que lembrei. Tão rapidamente quanto. Eu me lembrei de seus olhos incrivelmente , cintilantes. Cabelos lindos, sempre cheirando a morango ou a chocolate. Suas unhas, quase sempre pintadas de cores escuras. Apenas quando eu a pedia para pintá-las de vermelho cereja, ela o fazia. E parecia não se importar. Parecia, até, gostar de quando eu o pedia. E eu fazia com bastante freqüência. Senti a minha respiração falhar, de repente.
Pensei também em quanto tudo aquilo havia se perdido. Os anos haviam afogado algumas de nossas lágrimas, mas não o sofrimento. Ainda podia sentir suas mãos afagarem meu cabelo, sua respiração bater em meu rosto conforme os ritmos de seu coração. Eu ainda podia senti-la. Bastante perto de mim. Como se fosse real. Como se fosse o agora, mesmo.

Flashback On - quatro anos atrás.

- ! - Ouvi a voz que eu mais queria ouvir na hora, no dia, no mundo, gritar bastante alto. Virei-me bruscamente e observei-a entrando pelos portões do colégio, correndo em minha direção. Seu cabelo mexia de acordo como ela corria, e, assim que foi se aproximando, começou a sorrir para mim. Seu sorriso aumentava cada vez mais. E eu fiz o mesmo. Sorri. - ! - Ela exclamou novamente, agora, em um tom um pouco mais baixo, jogando seus braços em meu pescoço e me abraçando forte.
- , você não acha que todo mundo vai comentar, não? - Olhei em volta, enquanto todos os pares de olhos da escola viravam-se para mim e para ela. Mas, mesmo com essa preocupação, não pude evitar passar meus braços em volta de sua cintura.
- É disso mesmo que eu quero falar. - falou, beijando minha bochecha e fazendo os murmúrios aumentarem. - Eu cansei!
- Cansou do quê? - Perguntei, arregalando meus olhos e pensando no pior, como sempre fazia. Mas logo distanciei os pensamentos ruins, assim que vi seu sorriso se intensificar.
- Cansei de esconder o que eu sinto por você de todos, o que me interessa o que vão falar?! - Ela deu uma espécie de berro, fazendo todos observarem a cena. E era aquilo que eu havia mais pedido para ela neste tempo todo. Que nós admitíssemos que estávamos juntos, e o mais importante: que nós nos gostávamos de verdade. Depois, ela dirigiu-se apenas a mim, sussurrando em meu ouvido. - Eu te amo, . E faço questão que todos saibam disso agora. Eu sou sua.
- Eu te amo. - Sussurrei.
- E você, não vai me dizer que é meu também? - Ela perguntou, fazendo bico.
- Você já sabe, não é? - O bico dela intensificou-se, e eu ri baixinho, beijando seus lábios. Ela voltou a sorrir. - Eu prometo pra você que não vou te magoar... Você é a minha garota.

Flashback Off

Minha garota. Eu levei aquilo para sempre.
Agora, quatro anos haviam se passado. Do paraíso, eu enfrentei a pior espécie de lixo que poderia existir.
Mas eu nunca havia me esquecido dela. Todo seu carinho especial, sua conversa, sua compreensão. Seu rosto era vívido em minha mente cheia de saudade, assim como em meu coração apertado e incrivelmente doído, mas ele ia se apagando a cada dia que se passava. E essa ideia me deixava bastante enjoado só de pensar.

And I can't lie
(E não eu posso mentir)
Every time I leave my heart turns grey
(Toda vez que eu te deixo meu coração fica cinza)
And I want to come back home to see your face tonight
(E eu quero voltar pra casa para ver seu rosto esta noite)
‘Cause I just can't take it
(Porque eu não agüento isso)

Eu forçava minha memória para que não me lembrasse dela, tentando evitar a dor que me atingia facilmente. Mas era impossível não me lembrar do dia em que a pedi em namoro.
usava um vestido curto em estilo balonê, todo preto. Havíamos saído para jantar aquele dia. Eu cantei uma música que havia escrito para ela, na frente de todo mundo, em um restaurante. Foi uma das coisas mais românticas que eu já tinha feito por alguém, é claro. Só me lembro de seus olhos gentis e brilhantes, com as lágrimas prontas para rolarem livremente pelo seu rosto. Depois de um tempo de namoro, a ouvi comentar sobre como era bom que eu me lembrasse do dia em que nós fazíamos aniversário de namoro. E eu me dei conta em como era estranho eu lembrar uma data do tipo. Eu era esquecido, por mais que fosse responsável. Só que ela era especial. Como eu poderia esquecer o dia tão especial para uma pessoa mais especial ainda?
Mas, depois, as coisas começaram a dificultar bastante. Seus pais não estavam muito felizes pelo nosso namoro, e tampouco os meus. Ninguém acreditava que a gente se gostava de verdade. Eles, simplesmente, só conseguiam me lembrar da briga que havia acontecido aos nossos dez anos. Que havia reunido pais e professores, porque eu e não nos dávamos bem. E ninguém conseguia aceitar que isso havia mudado... Que nós éramos apenas duas crianças, que se odiavam como qualquer outro menino e menina daquela idade. Outra coisa que dificultou bastante foi em um mês que eu acabei esquecendo o nosso aniversário de namoro. Ela havia confiado em mim. Confiado que eu nunca esquecesse. E eu havia pisado na bola, definitivamente. Mas, de qualquer jeito, lembro que o terceiro ano do ensino médio foi o melhor de todos. Nós passamos juntos quase todos os dias.
cursava o primeiro ano, e ela era, de longe, uma namorada diferente. Diferente no bom sentido, óbvio. Não brigava por qualquer coisa, como quase todas fazem. Por mais que nós brigássemos alguns dias por ciúmes. Mas isso era bom. Eu me sentia amado por ela, na maioria das vezes. Tirando os dias que ela ficava extremamente irritada, o que era bem fácil também. era estouradinha... Mas eu amava ver a sua expressão irritada. E quando eu dizia isso para ela, sua feição relaxava e ela quase não conseguia mais brigar comigo. Até ela descobrir que isso estava se tornando uma grande arma para mim e fingir parar de ficar feliz com meus elogios do tipo. Por mais que, lá dentro, ela sentia grande felicidade com isso. Eu sabia, por mais que ela tentasse negar.

Another day without you with me
(Outro dia sem você comigo)
Is like a blade that cuts right through me
(É como uma lança que me corta no meio)
But I can wait, I can wait forever
(Eu posso esperar, eu posso esperar pra sempre)

When you call my heart stops beating
(Quando você liga meu coração pára de bater)
When you're gone it won't stop bleeding
(Quando você vai embora ele não para de sangrar)
But I can wait, I can wait forever
(Mas eu posso esperar, eu posso esperar pra sempre)

Enterrei minha cabeça entre minhas duas mãos, apoiando meus cotovelos nas pernas. Pensar nela me trazia agonia. Depois do tempo todo que havia passado, me trazia uma incrível alegria também. Eu diria que uma pequena chama de alegria em meu coração cinza e triste. Ele parecia explodir de felicidade em se lembrar dos seus cabelos aromatizados. Mas, acima de tudo, eu sentia agonia. Veio em minha mente o dia em que estava prestes a sair do terceiro ano. Dois anos já haviam se passado, e nós continuávamos juntos. Na mesma rotina. A rotina que eu tanto amava. Um pouco diferente, é claro. Ela quase saindo do terceiro ano, e nós dois planejando o que seria depois. E, também, ela ocupava bastante parte do seu tempo pensando em faculdades, vestibular, etc. Enquanto eu não ousava nem pensar nisso. Eu apenas a ouvia. Não tinha ideia de fazer nenhuma faculdade, pois o que eu amava eu estava fazendo. Minha banda já estava formada, fazendo um pouco a mais de sucesso a cada dia, o que já me proporcionava alguns fãs. Chamava-se McFly. E, de longe, era o que eu amava fazer. É claro, meus pais não concordavam muito com a ideia, pois achavam melhor eu garantir meu futuro primeiro. Mas eu tinha certeza que o McFly daria certo. Falávamos, quase todos os dias - quando ela não ocupava-se estudando, ou eu, treinando - se nós compraríamos uma casa na Austrália ou Brasil, quando fôssemos nos casar. Seu desejo, ou o meu. Falar em casamento soava meio gay, mas se ela queria, eu poderia passar falando sobre isso o resto de meus dias.
E, então, ela conseguiu vaga em uma das melhores universidades nos Estados Unidos. O que eu não havia conseguido, e nem pretendia. Eu queria ficar em Londres, porque Londres era a minha casa, e isso nunca mudaria. Seus pais queriam que ela fosse para os Estados Unidos, porque era a única oportunidade realmente boa da vida dela. Só que ela queria ficar comigo... Em Londres. Mas eu também percebia que era uma grande oportunidade. Eu percebia isso. E percebia isso em também, porque ela quase sempre hesitava quando o assunto era esse. Mas, de repente, tudo pareceu incrivelmente virar contra mim. Todos os meus planos, e os dela, talvez de desistir da melhor oportunidade apenas para estar comigo, foram facilmente por água abaixo, em alguns simples minutos.

Flashback On

Eu estava completamente bêbado, e sentia alguém em cima de mim, beijando todas as extremidades de meu corpo. Foda-se quem fosse, eu estava gostando. Tentei abrir os olhos para ver quem era, mas não consegui. Talvez fosse . Meu coração bateu mais forte. É, talvez fosse.
Consegui abrir os olhos por alguns segundos, percebendo uma garota completamente diferente da garota que eu esperava em si. No mesmo momento, ela grudou seus lábios nos meus, e eu não pude resistir. Começamos um beijo inteiramente selvagem, o que me fez agarrar seus cabelos com força, e nenhum de nós se importou com o barulho que vinha de alguém abrindo a porta. Provavelmente era , ou vindo me chamar para ir embora. Mas eu não iria. Eu estava louco naquele dia.
- ! - Ouvi um berro vindo da porta, um berro completamente agonizante para meus ouvidos. Separei meus lábios da garota estranha na mesma hora, olhando para o lugar da onde o grito havia vindo.
Senti meu estômago dar uma cambalhota super intensa.
Olhei para os olhos da minha garota, e percebi que as lágrimas escorriam intensamente por seus olhos.
- , eu... - Tentei falar, mas ela abandonou o lugar antes que eu dissesse qualquer outra palavra.

- ... - Falei, pela qüinquagésima vez ao dia, na caixa de mensagens de seu celular. Eu me sentia um lixo, um horror, uma aberração. E após ouvir o recado “Alô, é a , er, assim, deixa seu recado, que daqui a pouco eu atendo.” Desembestei a falar. - Eu tenho que te explicar o que aconteceu, mas você está me ignorando... Você sabe que eu não fiz aquilo por mal! Eu estava completamente bêbado, não teria feito aquilo se não estivesse! Você sabe que eu te amo, e que só existe você na minha vida... E deve saber também que eu não estou agüentando mais ficar sem você. Me liga, tá? Por favor...
Desliguei o telefone, ainda angustiado. Eu não dormia bem desde aquele episódio, o que já fazia duas semanas. Duas grandes olheiras depositavam-se logo abaixo de meus olhos, e minha cor nada saudável denunciava para qualquer pessoa que eu não comia. E eu também não agüentava mais. Levantei-me do sofá que havia sido meu grande amigo todos os dias que eu fiquei sem ela, e peguei o primeiro táxi que consegui. Toquei o grande interfone da casa de , assim que cheguei. A senhora atendeu, e eu vi o grande desgosto estampado em seu rosto ao me ver. Agora que ela me odiava mesmo, com certeza. Que droga, ela já estava até começando a gostar de mim... Quase.
- Hey, senhora . - Falei, sendo educado, mas querendo não ser. Pra falar a verdade, eu queria distanciar tudo e todos para chegar à ... Sentia tanta falta de seu cheiro e seu toque, de seu cabelo sempre solto, de suas curvas impecáveis. De tudo que era meu. - Eu preciso falar com a . - Dei ênfase ao “precisar”, e a senhora me olhou com um certo desprezo.
- , você deveria ir para a sua casa. - Ela falou, tentando fechar a porta, mas eu coloquei meu pé na frente. Isso me rendeu certa dor, que eu não liguei.
- Olha, eu sei que você deve estar completamente irritada pela minha presença aqui. - Comecei. - Mas, sabe o que é, foi tudo um mal entendido, e além do mais... Eu amo a sua filha. Amo como nunca amei ninguém, e...
- , eu acredito em você. - A mulher falou, e eu arregalei os olhos. - Só que ela não acredita. E nem vai acreditar, tão cedo. E, então, ela... Ela foi para os Estados Unidos.

Flashback Off

You look so beautiful today
(Você está tão bonita hoje)
It's like every time I turn around, I see your face
(É como se toda vez que eu me viro, eu vejo seu rosto)
The thing I miss the most is waking up next you
(A coisa que eu mais sinto falta é acordar ao seu lado)
When I look into your eyes, man, I wish that I could stay
(Quando eu olho nos seus olhos, cara, eu queria poder ficar)
And I can't lie
(E não eu posso mentir)
Every time I leave my heart turns grey
(Toda vez que eu te deixo meu coração fica cinza)
And I want to come back home to see your face tonight
(E eu quero voltar pra casa para ver seu rosto esta noite)
‘Cause I just can't take it
(Porque eu não agüento isso)

Depois daquele dia, pode dizer-se que eu entrei em uma pequena depressão. Uma coisa que não combinava nem um pouco comigo, claro. Não me animava sair com os dudes como antes, não me animava tocar nenhum de meus instrumentos, ou fazer algo mais que eu sabia. Apenas ficava em meu quarto, escrevendo várias estrofes de músicas para uma única pessoa. Eu me via cada vez mais entrando em um declínio sem fim. Um declínio estranho. Eu não tinha nenhuma experiência naquilo, definitivamente. E me perguntava quando isso ia parar. Quando ela iria se render, onde quer que estivesse, e voltar para onde nós dois éramos felizes. Ao mesmo tempo, me perguntava se ela queria voltar. E, também, se ela sentia minha falta, assim como eu sentia a dela. Eu dormia escorado na escrivaninha, após escrever trechos de músicas contando apenas partes de meu sofrimento. E acordava no mesmo lugar, com olheiras grandes e roxas embaixo de meus olhos, como de costume. A cada dia que passava, algo dentro de mim gritava para que eu falasse com ela. Várias vezes, eu deixava mensagens em seu celular, dizendo partes de minhas músicas. Elas precisavam ser desabafadas, e algo, lá dentro de mim, me dizia que ela ouvia estas mensagens. Eu me sentia bem em mandar para ela. Por mais que eu só me sentisse extremamente mal nos últimos dias. O que não havia passado despercebido por , é claro. Ele me convidava para sair o tempo todo com os dudes, mas eu sempre recusava. Ficar sozinho e apenas sozinho me fazia sofrer. E eu queria sofrer. Por ter feito a minha garota sofrer. Eu queria sofrer, eu tinha que sofrer.
Passei mais de um mês naquela tentativa frustrada de falar com ela. Mas nunca dava certo. Só que eu havia prometido a ela que nunca iria magoá-la! Eu quebrei uma promessa séria... Eu quebrei a única promessa que nós tínhamos. Simplesmente porque não fui forte o suficiente para tirar uma mulher de cima de mim. Naquele mesmo dia, comprei uma passagem para Nova York. Ela não queria me ver? Dane-se. Só sabia que não poderia agüentar nem mais um dia daquilo tudo. Eu só queria vê-la. Nem que fosse de longe. Nem que fosse por apenas uma hora.

Flashback On

- Senhor? - Fui abrindo meus olhos devagar, percebendo que várias pessoas desciam do avião. Uma aeromoça tentava me acordar, e eu dei um mero sorriso para ela. Não me lembro da última vez que eu havia sorrido para alguém. - Senhor, já pode descer. Estamos em Nova York.
Meu sorriso alargou-se, cada vez mais, fazendo até a moça na minha frente sorrir também.
- Graças a Deus. - Falei, suspirando pesadamente de alívio e passando minhas mãos pelo rosto. - Você não sabe o quanto é bom estar aqui...
- Que bom, senhor, aproveite ao máximo, então, é um dos melhores lugares do mundo. - Ela falou, sorrindo timidamente, e caminhando para acordar os outros que permaneciam dormindo.
Meu coração dava fortes pulos no meu peito, enquanto eu descia do avião, recolhendo todas as minhas coisas. Ainda estava me achando um pouco estranho por ter conversado e sorrido para uma aeromoça que não tinha nada a ver com minha vida, mas... Tudo bem.
Eu sabia exatamente aonde ir. Antes de viajar, eu havia ligado para uma das amigas de , perguntando o endereço onde ela morava. E fui andando pelas ruas de Nova York, coloridas, apinhadas de gente. Quem sai de Londres para ir àquela cidade, encontra uma incrível diferença. Continuei me concentrando na rua que deveria ir, com meu coração mais acelerado que nunca. Não quis pegar táxi, porque estava mesmo a fim de ir andando, após aquela viagem extremamente cansativa. Depois de virar algumas esquinas, entrei numa rua que continha alguns apartamentos, e outras casas. Observei o prédio em que a amiga de falou que ela estava morando. Eu me aproximei mais um pouco, ainda observando atentamente. E, na mesma hora, a porta principal se abriu, e eu a vi.

Another day without you with me
(Outro dia sem você comigo)
Is like a blade that cuts right through me
(É como uma lança que me corta no meio)
But I can wait, I can wait forever
(Eu posso esperar, eu posso esperar pra sempre)

When you call my heart stops beating
(Quando você liga meu coração pára de bater)
When you're gone it won't stop bleeding
(Quando você vai embora ele não para de sangrar)
But I can wait, I can wait forever
(Mas eu posso esperar, eu posso esperar pra sempre)

Nunca senti aquilo.
Nem quando estávamos juntos, nem quando ficávamos alguns dias sem se ver. Era como se eu não a conhecesse mais depois daquele tempo que havíamos passado sem o outro. Mas, ao mesmo tempo, sentia uma saudade imensa, desconhecida. Meu coração quase saltou pela boca por ver seu corpo coberto por um lindo vestidinho vermelho - que eu não conhecia - e perceber que seus cabelos estavam igualmente como eu havia os visto pela última vez. Fiquei um pouco desanimado ao ver que suas unhas estavam pretas e não vermelhas. Poxa, eu gostava tanto! Mas não importava... Era só um detalhe.
Por alguns minutos, fiquei apenas olhando de longe. Eu sabia que continuava magoada comigo, mas eu não agüentava mais. Havia pensado que poderia simplesmente olhá-la, mas eu tinha que ouvir sua voz perto de mim... E foi reunindo toda essa coragem que eu me aproximei.
Cheguei em sua frente, e ela arregalou os olhos na mesma hora. Meu estômago parecia ter dado uma volta completa de nervosismo. Esperava que ela me batesse, ou que fizesse qualquer outra coisa do tipo, mas isso não aconteceu. me olhava nos olhos, e eu não ousava desviar. Mas seu olhar demonstrava dor. Muita dor. Como se rezasse para que aquilo não passasse de uma alucinação.
- ... - Ela começou, mas eu a interrompi.
- . - Falei, sentindo meu corpo inteiro reagir ao pronunciar seu nome. Era tão estranho voltar a falar normalmente... Aqueles meses pareceram tão silenciosos para mim. Respirei fundo, sentindo uma onda de alívio entrar pelas minhas narinas. Foi quase tão bom quanto sentir seu cheiro. Mas não tão bom assim. - . - Ela continuava a me observar, e o jeito que ela o fazia me incomodava. Era repleto de dor. - Eu senti tanto a sua falta. - Simplesmente falei. fez menção de falar algo, mas eu a interrompi. - Eu sei que você deve ainda estar brava comigo, , mas você sabe que eu nunca faria aquilo se estivesse em sã consciência! Você sabe, lá no fundo... E quando você me deixou... Porra, eu acho que devo ter escrito umas dez músicas completas pra você... - Os olhos de enchiam-se de lágrimas. - Eu quebrei minha promessa... Eu te magoei. Eu disse, pra todo mundo ouvir, que não ia te magoar, mas... Mas eu o fiz! Eu me sinto mal, tenho me agredido de todas as formas possíveis... - Exclamei, sentindo meus olhos queimarem igualmente.
- Você... V-ocê lembra. - Não foi uma pergunta, e sim uma afirmação. As lágrimas desciam rapidamente por seu rosto perfeitamente desenhado. - Você se lembra da nossa promessa...
- É claro... - Falei, olhando para baixo, sentindo uma falta de ar acometer meus pulmões. - Eu me lembro de cada minuto que passei com você. Você foi diferente de tudo que já aconteceu comigo, nunca pensei que pudesse gostar de alguém assim, porque você foi a primeira. E eu disse pra mim mesmo, todos esses dias, que eu vinha te buscar... Eu estou aqui pra te falar o que você cansou de ouvir, mas eu não cansei de dizer. Eu nunca vou cansar. Eu te amo.
Na mesma hora, percebi que, do mesmo lugar que havia saído, andava em nossa direção um menino mais ou menos da minha idade. Era tão alto quanto eu, mas seus cabelos eram dourados e com alguns cachinhos. No instante, pensei que ele passaria reto por nós, mas não. Ele parou logo atrás de , pousando sua mão no ombro da garota que chorava mais que nunca agora.
- O que está acontecendo aqui? - Ele perguntou, olhando de para mim. Na mesma hora, ela o abraçou pela cintura, me lançando um olhar agressivo.
E meu cérebro pareceu não trabalhar mais.
Parecia que tudo havia acabado.
Minha vida, o que ela significava?
Meus batimentos cardíacos estavam a mil por hora.
Simplesmente me virei, caminhando de um jeito que quase me fez cair, mas olhando para trás, apenas uma última vez. E a última coisa que eu vi, antes de pegar um avião de volta para Londres, foi o rosto da garota que eu mais amava transformado em desespero... E seus olhos profundamente . Que costumavam ser meus. Mas não eram mais.

Flashback Off

I know it feels like forever
(Sei que isto parece ser para sempre)
I guess that's just the price I've got to pay
(Eu acho que esse é o preço que eu tenho que pagar)
But when I come back home
(Quando eu volto pra casa)
To feel you touch makes it better
(Para sentir seu toque, sinto-me melhor)
Until that day, there's nothing else that I can do
(Até esse dia, não tem mais nada que eu possa fazer)
And I just can't take it
(E eu simplesmente não agüento)

Fazia exatamente quatro dias, cinco horas, trinta e três minutos e dez segundos que eu estava naquele apartamento de um hotel sujo. Onze segundos. Doze. O tempo passava. Eram seis horas da tarde. Uma hora apenas. No meu celular, várias ligações perdidas. Mas nenhuma da minha garota. 29 ligações perdidas. , , , meus pais e minha irmã. Talvez, tivesse contado a minha família para onde eu havia ido. Pros Estados Unidos, cinco dias atrás, procurar o que tornava o meu mundo diferente do normal. Eu o havia feito prometer que não contaria, mas eu sabia do que o meu amigo era capaz quando ficava preocupado. No chão do hotel, várias folhas de papel escritas a mesma coisa.
"Minha garota."
O que havia acontecido?
Nós havíamos nos perdido?
Eu me sentia em um grande labirinto, sem que, ao menos, soubesse para qual dos lados prosseguir. Eu não sabia para onde ir, de qualquer jeito. Mas o que mudaria isso? O que poderia sequer mudar um pouco isso? Construir uma nova vida, enquanto uma pessoa a levou inteira? Tentar prosseguir, enquanto seu coração diz que você tem que mesmo é se foder? Eu estava perdido. Sem nenhuma esperança. E a cada vez que eu pensava em que tipo de rumo que a minha vida seguiria, me faltava o ar. E eu afastava esse pensamento rapidamente. Mas pensei que não deveria mesmo é deixar as pessoas que se importavam comigo se perderem, assim como eu. Eu estava perdido, mas elas não precisavam. Não era essa a obrigação. Seria muito egoísmo de minha parte. Apanhei meu celular, discando o número que eu tanto conhecia.
- Alô? - Ouvi a voz de quem não dorme a quatro dias de minha querida mãe. Senti meu coração apertar. Como eu tive coragem de deixá-la daquele jeito?
- Mãe. - Suspirei, e ouvi um barulho de vidro se espatifando tomar o local. Com certeza, ela havia deixado algo cair no chão de susto.
- Ai, ! - Ela berrou. - !
- Mãe, desculpa... - Falei. - Mãe, sério, eu não podia avisar.
- Você nos deixou preocupados demais! - Gritou. - Nós pensamos o pior...
- Não se preocupe. Eu estou em Londres... Tudo está bem. O te contou onde eu fui, né?
- Claro que contou, e ele fez bem, ! está com você? - Senti meu coração apertar. Por mais que todas aquelas brigas tivessem acontecido aos nossos dez anos, minha mãe começava a gostar de , quando eu já a levava para minha casa. Mas isso, entrementes, parecia distante.
- N-não. - Gaguejei. - Ela não vai voltar.
Silêncio.
- Como assim?
- Acabou, mãe. - Suspirei. - Eu fui atrás dela... Eu falei que a amava. Só que... Ela estava com outro cara.
Mamãe suspirou, e eu quis muito abraçá-la naquele momento.
- Filho, volta pra casa. - Ela continuou, quase numa súplica. - Seus amigos estão morrendo de preocupação, e eu também... Sua irmã não dorme há dias. Volta pra casa, aqui você terá mais como se recuperar do que aí, onde quer que você esteja.
- Mãe, na hora certa, eu vou voltar. - Falei, suspirando. - Mas eu ainda tenho coisas a fazer... E tem que ser sozinho. Sem que ninguém me conheça aqui, sabe? Ou que me diga o que fazer.
- Ah! - Ela soltou um exemplo de "bufo de pânico".
- Será que a senhora pode ligar para os caras? - Perguntei, mudando de assunto rapidamente. - Eu não quero que eles fiquem... Sabe, preocupados comigo. Diga que está tudo bem. Diga que eu vou voltar, e peça pra que eles não me procurem também. Eu preciso ficar sozinho.
- Tudo bem. - Ela suspirou, desaprovando. - Sinto a sua falta.
- Eu também. Te amo. - Desliguei o celular, logo após.
Eu estava ciente do que eu havia feito aquela manhã. Eu havia deixado uma mensagem no celular dela. E eu sabia que ela viria.
, desculpe estar incomodando... É o , mais uma vez. Bom, eu estou feliz por estar pelo menos ligando para seu número. Mas eu tenho que te dizer... Eu não agüento mais viver sem você. Não adianta, a agonia está me consumindo a cada segundo... Simplesmente não estou conseguindo. Eu só preciso saber se você se importa com isso, ou sei lá. Às sete horas, eu estarei te esperando na praça aqui de Londres... E se você não aparecer, eu... Eu não sei o que eu vou fazer ainda, mas eu vou planejar. Você é a minha garota. Volte pra me ver.”
Tinha percebido que ainda existia amor nos seus olhos. Nenhum amor daquele jeito podia terminar assim...
Coloquei uma camiseta e uma calça jeans, com meus tênis habituais e me dirigia à praça, ficando melhor por sair daquele hotel infeliz. Eu odiava aquele lugar. Sentei no banco onde sempre costumava sentar quando freqüentava aquela praça. Era sempre o mesmo. Algumas coisas rotineiras nos fazem bem, por incrível que pareça. Por mais que outras nos sufoquem. Olhei para todos os lados, meu coração golpeando nas minhas costas. Havia pegado meu celular, para controlar a hora. Agora, faltava somente meia hora. Meia hora para vê-la. Meia hora para ela voltar a ser minha. Quando fechou sete horas, eu comecei a levantar minha cabeça muito freqüentemente para procurar algum sinal de que ela apareceria. Sete e dez. Sete e vinte. Onde estava? Meu coração apertava-se a cada minuto, e a angustia voltava toda novamente.
Sete e meia. Sete e quarenta. Oito horas.
Mas eu não levantava daquele banco. Eu ia ficar ali.
Nove horas. Meus olhos arderam. Ela não iria vir.
Tentei processar a informação. Ela não vai vir, . Ela não vai vir.
Levantei-me, de repente, do banco, aceitando a derrota. Depois eu pensava no que iria fazer. Agora, eu só precisava ir embora dali. Talvez beber? Tequila, vodka, ou qualquer outra coisa forte que fizesse a minha garganta doer.
Caminhei na direção do hotel, para recolher minhas coisas, até que eu ouvi:
- !

Another day without you with me
(Outro dia sem você comigo)
Is like a blade that cuts right through me
(É como uma lança que me corta no meio)
But I can wait, I can wait forever
(Eu posso esperar, eu posso esperar pra sempre)

When you call my heart stops beating
(Quando você liga meu coração pára de bater)
When you're gone it won't stop bleeding
(Quando você vai embora ele não para de sangrar)
But I can wait, I can wait forever
(Mas eu posso esperar, eu posso esperar pra sempre)

Parei no lugar onde eu estava, de costas. Respirei profundamente, e olhei para trás em uma fração de segundos. Mas o que eu esperava que aparecesse, não apareceu. A minha garota correndo para mim, que nem no dia que admitimos o namoro para a escola inteira, não apareceu. Era apenas Marie, uma amiga do colégio. Ela vinha em minha direção, mas a cada vez mais que ela se aproximava, mais eu tinha vontade de estrangulá-la. É, talvez eu estivesse ficando louco mesmo.
- Há quanto tempo! - Ela gritou, e eu bufei. - Não nós vemos desde o terceiro ano! E aí, quer dar uma saidinha, !? - Sabe o que é, tenho que ir embora. - Falei, curta e grossamente, dando as costas para a garota. Entrei mais uma vez no hotel, sujo, terrível, e me senti como se nunca tivesse saído de lá. Deixei as lágrimas voltarem a rolar mais que tristemente. Era pior que agonia, mais aterrorizante que o próprio medo. Como o destino podia ser tão cruel de ter tirado o amor que a minha garota sentia por mim, e colocado em dobro para o meu coração? Senti que eu poderia me matar. A qualquer hora, em qualquer lugar. Não conseguia mais respirar, mais pensar. Deitei-me na cama, e não me lembro por quanto tempo apaguei. Só sei que sonhei com ela. E, nem ao dormir, eu conseguia escapar.

Cinco anos depois...

:

- ! - Johnny gritou do andar debaixo, mas minha dor de cabeça era tão intensa que eu nem ao menos consegui responder. Eu me virei para o outro lado da cama, mas ele insistiu. - !
Levantei da cama, esfregando meus olhos, e desci as caras vagarosamente, parando na frente de Johnny.
- O que é?
- Tem uma carta pra você, meu amor. - Ele falou, beijando a minha testa. - Mas, estranho, ela parece ter sido mandada alguns meses atrás.
Eu agradeci em voz baixa a ele. Meu estado estava um pouco deplorável, e isso tudo era por causa da maldita dor de cabeça. Eu usava um moletom cinza de Johnny, comprido, e uma calça de pijama, com os pés descalços. Assim que ele deixou o local, me sentei em um sofá, e abri o envelope, nem vendo quem havia escrito. Puxei a carta e a abri. Mas, assim que eu fiz, todo o ar do meu pulmão pareceu deixar meu corpo, assim como fazia antigamente.
Comecei a ler.

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Não sei porque estou te escrevendo. Faz tanto tempo, pra uma coisa que parece que você considera passado. Só que eu tenho que te falar... Eu tenho uma casa em Nova York, bem em frente a sua. Você pode achar que isso é perseguição, mas, quando você não apareceu naquele dia, às dezenove, minha vida ficou desolada. Eu pensei que tudo mudaria, mas nada mudou... Ainda fico angustiado. Devo ter desmaiado por algumas horas naquele apartamento, e fiquei triste em acordar. O sentimento não cessou, só ficou pior. Quase todos os meus sonhos são transformados em pesadelo, e o seu rosto sempre está lá. Tentando me salvar. E conseguindo, é claro. Mas apenas nos sonhos... Tentei, te juro, construir uma nova vida, talvez, mas nada me faz mais sentido. Sinto falta da nossa vida. Era uma vida linda, quando éramos adolescentes que simplesmente se amavam, sem nem se importar com o que podia ou não acontecer. Eu espero que você seja feliz. Minha vida depende disso. Nada importa, senão a sua felicidade. Se você não for feliz, eu não poderei estar em paz. Nunca. De qualquer jeito, eu sempre estarei ligado a você. Ligado aos nossos melhores momentos, todos vivos dentro de mim a cada dia que se passa. Como eu te falei, a minha casa fica em frente a sua. Todos os dias, quando você sai para trabalhar, eu observo como seu cabelo mexe ao vento, igual ao dia em que nós admitimos o namoro na frente de todo o mundo. Sempre que você briga com alguém, eu vejo em seus olhos a sua tristeza, igual ao dia em que eu fiz a maior bobagem da minha vida. A cada sorriso seu, eu me lembro da nossa felicidade no seu terceiro ano do ensino médio, a cada preocupação, de seus pensamentos sobre a faculdade. Suas unhas, pintadas de vermelho apenas quando está feliz - na maioria das vezes - me fazem acreditar que eu tive uma mínima importância na sua vida. Por menor que seja, ela é importante pra mim. Sua expressão irritada me lembra dos dias em que nós brigávamos. E que eu também amava te ver irritada. Depois de sentir o que eu senti, cara... Não tem como querer ir morar no Brasil, se você quer Austrália. Se você quer... É o melhor lugar do mundo. Só se você quer.
Bom, a esse ponto, eu acho que já me humilhei demais, não? Mas eu não consigo “bem” chamar isso de humilhação. Se eu tenho o mínimo de atenção sua... É o que eu sempre quero. E afinal... O seu filho é lindo... Como você. Tem todas as suas expressões... Todas as suas características. Enfim, espero que você tenha isso aqui como a nossa última recordação. Espero que, quando se sentir triste, você leia essa carta. Eu vou estar pensando em você. Quando você acordar, dormir... Eu vou estar pensando em você. Só não me apague da sua memória. Não faça isso com a gente. Eu posso esperar para sempre. Minha garota.
.


end.

Observava as paredes vazias. Até agradeceria se elas falassem algo. Queria alguém com quem pelo menos pudesse conversar. Soltei meu suspiro habitual, me mexendo de um jeito incomodado na cadeira. Eu estava há alguns dias sem comer, e sem ao menos me mexer. Ficava apenas sentado naquela poltrona, enquanto não bebia e nem comia nada, extremamente fraco, esperando a morte vir me buscar, talvez. Porque a agonia era incapaz de superar. Eu já havia tentado. Não por falta de tentativa. Mas, nesse mesmo dia, algo me dizia que o que eu mais queria estava próximo. Meu telefone tocava toda a hora, desesperado, mas eu não atendia. A única coisa que se era ouvida, ao não ser os telefones, eram meus suspiros. E minhas lágrimas, que caíam de vez em quando. E mais suspiros. Virei minha cabeça, fraco o bastante para quase não conseguir me mover, e observei os papéis espalhados por exatamente todo o chão daquela sala. “Eu posso esperar para sempre” e “minha garota”. Eu escrevia, quando me sentia muito sozinho. Eu sabia que morreria pensando em seus olhos, no cheiro de seu cabelo, mas ainda achava terrivelmente injusto uma coisa daquelas ter acontecido logo comigo. Eu tinha uma vida perfeita, uma banda perfeita, e a coisa mais perfeita de todas para mim, não estava nem perto da perfeição.
Mas isso não importava mais. Eu sentia minha vida me deixando aos poucos, cada vez mais, e eu não tinha pressa. Poderia esperar o tempo que fosse preciso, apenas encarando aqueles pedaços de papel rasgados, escritos com meu garrancho habitual. E meu pensamento, sempre voltando nela. Sempre nela.
Mais uns dois dias se passaram, e os toques de celulares ficavam cada vez mais contínuos. Naquele dia eu havia desmaiado algumas vezes. Eu me sentia extremamente mal todo o tempo, tanto física quanto psicologicamente. Até que, quando estava deitado no chão porque havia caído, ouvi uma grande batida em minha porta, como se alguém tivesse arrombado a casa. Não me mexi. Não tinha forças suficientes para fazer isso. Senti alguém me virando de barriga para cima, e gritos como: “Meu filho, ah, meu Deus...” e “Cara, o não!”... Todos me pareciam incrivelmente desesperados, mas eu não conseguia distinguir de quem era.
- Chama a ambulância, agora, ! - Ouvi isso, enquanto eu permanecia tentando decifrar quem era. Após alguns minutos, um barulho extremamente alto perpassou a casa inteira, e eu senti ter deixado o chão, sendo colocado em algum outro lugar.
- O que você foi fazer, ?! - Alguém falou em um modo completamente desesperado, se direcionando a mim. Mas eu sabia quem era esse alguém. Como eu podia não saber?! Tentei abrir os olhos, mas consegui apenas entreabrir. E consegui ver um par de olhos preocupados, me fitando. Uma das mãos estava encima de sua testa, de um jeito nervoso, mas a outra estava sobre a minha. As lágrimas escorriam intensamente pelo seu rosto, e eu senti meus olhos queimarem do mesmo modo. Eu sentia que seria a última coisa que eu ia ver. E era exatamente isso que eu queria.
- Eu... N-nunca consegui te falar isso, mas... Eu sou seu. - Foi a última coisa que eu consegui dizer, antes de apagar em um sono profundo, que eu sabia que duraria eternamente. Mas eu sabia que a sua mão havia ficado sobre a minha naquela hora. E eu sabia que era a melhor sensação do mundo. Aquela sensação havia viajado comigo para bem longe.

Ela era a minha garota...
Nada no mundo poderia mudar isso.
Fim





Nota da autora: Olá, meus chuchuzinhos! :D Olha, espero muito mesmo, de coração, que vocês gostem da fanfic. Eu escrevi em um momento definitivamente ruim da minha vida, que muitas coisas me magoaram e tal, então foi a melhor maneira que eu achei de desabafar tudo... De qualquer jeito, tenho muita consideração por essa fic, gostei muito mesmo dela, tanto que postei aqui! Ah, também queria aconselhar vocês todas a ouvirem I Can Wait Forever do Simple Plan, garanto que é uma ótima música! Acho que até fica mais emocionante ler a fic ouvindo a música :D Quem ler, por favor, comente o que achou, é importante pra mim saber tanto o que vocês gostaram, tanto o que não gostaram também! Críticas construtivas, beleza suas trutas 22kas? Bjones gatinhas!

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