Por: Marina Swoboda | Beta: Isabel | Revisão: Thai Barcella


Capítulo 1

e se conheciam desde que eram muito crianças. morava na Austrália e quando sua mãe se divorciou, elas resolveram mudar-se para Londres. A menina tinha apenas oito anos. O bairro era muito aconchegante e a vizinhança bem tranqüila. Um ótimo lugar para quem deseja paz. Não podia reclamar de sua escola, Bumpschool, era a única do bairro e diziam que era a melhor da cidade. Logo havia feito amizade com . Os dois brincavam todos os dias e costumavam freqüentar o parque que ficava na esquina da casa deles, mas isso foi há tempos atrás...
Os tios de a convidaram para tomar conta da casa deles, pois iam viajar para a Califórnia. Ficariam fora por duas semanas e seu cãozinho, Billy, precisava de comida e atenção durante esse tempo. aceitou o convite, contanto que pudesse levar seu amigo, . Ela estivera naquela casa apenas uma vez quando ainda criança, pois ela localizava-se num lugar não muito agradável. Lá era assustador! Porém, muito mais assustador agora do que ela jamais podia imaginar!

sentiu seu celular vibrar no bolso de sua calça. Era uma mensagem de :
E aí, , já está pronto?
Ele devolveu outra: Já estou aqui embaixo,
Ela retornou: Ok, já desço.

pegou sua mala, ajeitou o cabelo, saiu do quarto e desceu as escadas.
- Mãe? O já está aqui. Eu to indo, ok? - Disse ela à sua mãe que estava lavando louça na cozinha.
- Tem certeza que quer ir, filha? - Perguntou a Senhora , enxugando as mãos no pano de prato.
- Querer mesmo acho que não, mas a tia Lu precisa de ajuda, né? Não posso deixar ela na mão.
- Se eu pudesse, iria com você, mas o trabalho me chama. Tudo bem, então, vá com Deus e não apronte nada com o , hein?
- Mãe! Você sabe que eu e o não temos nada.
- Mas bem que podiam ter, né? O é super gente boa. Você deveria aproveitar esse grande amigo que você tem.
- Está bom, mãe. Valeu pelo, caham, incentivo…
- Tchauzinho!
As duas se despediram e saiu de casa arrastando sua mala no chão.
- Credo, tem chumbo nessa mala? - Perguntou enquanto colocava a mala de no banco de trás.
- Não, só meu kit de primeiros socorros. Sabe como que é, né? Martelo, caso precise colocar um quadro na parede, relógio, para não perder a hora, garfo, faca, prato e copos, caso não tenha lá, minhas roupas, perfume, maquiagem, brincos, tênis, sandália, tamanco, meu notebook...
- Nossa! Está brincando comigo, né? Para que todas essas bobagens?
-... E meu livro preferido, “Como enganar o ”! - começou a rir, pois fez uma cara de quem não gostou de ter sido enrolado. Ele sempre caía nas gracinhas dela. - Precisa ver a sua cara, , ai, ai, como eu adoro fazer isso.
- , por essa você me paga!
soltou umas risadinhas, pois ela nunca caía nas pegadinhas de . Ele não sabia mentir.


Capítulo 2

- E, então, os seus tios já viajaram? - perguntou abrindo a janela do antigo carro que seu pai lhe deu.
- Eu acho que sim, se não me engano, o avião era às nove horas da manhã.
- E que horas são agora?
- Quase dez. - Disse ela olhando para seu relógio de pulso. - , você já foi para Silent Lake?
- Nunca nem tinha ouvido falar dessa cidade.
- Isso porque não é uma cidade… - falou coçando sua nuca.
- Não? Como assim?
- Pelo visto você não sabe de nada mesmo, hein?! E olha que eu te expliquei no telefone!
- Não me lembro de você ter me falado sobre isso...
- Mas eu disse! Eu tenho certeza disso. Você é que vive no mundo da lua!
- Mas o que é, afinal?
- Um pântano…
- Um o quê? PÂNTANO?
- É, eu só estive lá uma vez e lembro que não tinha gostado do lugar. Muito sombrio.
- Sombrio? Bom, eu não posso dizer nada porque nunca fui a um pântano, mas imagino que lá tenha muitos animais e que seja um lugar muito bonito.
- Hum... Não sei não, , esse lugar já me assustou de verdade. Eu não lembro direito o que aconteceu, acho que apaguei da minha memória. Lembro apenas de um quarto escuro e de um retrato pendurado na parede. Muito esquisito, não consigo descrever, e isso me dá medo.
- E por que você aceitou cuidar da casa, então?
- Ah... Eu só aceitei porque podia levar você junto. Eu cuido do Billy e você da casa.
- Billy? Quem é Billy?
- O cachorrinho da minha tia. Ela disse que ele é muito dócil. Você não precisa ter medo dele.
- Eu não estou com medo, mas por que EU que tenho que cuidar da casa? Eu prefiro cuidar do Billy! Além do mais, os tios nem são meus! VOCÊ cuida da casa! - Resmungou.
- Está bom, então a gente divide as tarefas. Cada dia a gente cuida de uma coisa diferente, só não se esqueça de cuidar de mim, ! Você está indo para me fazer companhia, não se esqueça disso.
corou e respondeu:
- , você sabe que eu não vou me esquecer de você nunca! - Ele exclamou e voltou sua atenção para o trânsito.
- É bom mesmo! - Disse .



- Já é meio dia, . Eu estou com fome! - falou esfregando a mão em seu estômago.
- Agüenta um pouco, . Onde que é esse lugar, afinal?
- Eu não sei... É nesse endereço aí. - Disse ela apontando para o papel que segurava.
- Eu sei que é aqui, mas não sei onde fica. Vem, a gente pára aqui, você pega alguma coisa para comer e assim eu peço informações. - Ele falou encostando o carro num pequeno posto de gasolina ali perto.
- Ótimo.



- E aí? O que você pegou? - Perguntou abrindo a porta do carro.
- Um misto quente e batatas fritas. Quer? - Ela perguntou entrando no carro.
- As batatas eu aceito.
- Ok, só não come tudo.
- Tudo bem, eu deixo uma para você. Vem cá, alguém já te disse que você é egoísta, ?
- Já, você! - Respondeu ela dando mais uma mordida em seu misto quente.
Uma das coisas favoritas que os dois adoravam fazer é se provocarem, mas eram apenas brincadeiras que eles faziam. Eles se divertiam com isso.

- Descobriu onde é o pântano? - perguntou limpando a boca com o guardanapo.
- Não, eles nunca ouviram falar de Silent Lake. Acho que eu vou ter de descobrir sozinho.
- Hum... Boa sorte. - Desejou .


Capítulo 3

- , ô , acorda! Ô, songa monga! Ow! - Gritava .
- Hã? Hum, oi, . A gente já chegou? - Perguntou ela, sonolenta. Nem tinha percebido que caíra no sono.
- Dá uma olhada. Eu acho que sim.
desencostou do banco, abriu a porta do carro. Olhou para a enorme placa de madeira e a ponte que havia logo em seguida. A placa era suja e velha. Estava escrito:
“S LE T L KE”. Faltavam o I, o N e o A da placa. Estavam apagados, certamente por serem antigos.
- É, deve ser aqui. - Disse coçando os olhos de sono. - Eu não me lembro de Silent Lake, tinha uns nove anos só. Mas deve ser aqui, sim. Que horas são, hein? - Perguntou percebendo somente agora que já havia escurecido.
- Sete e vinte da noite. Vem, entra no carro, vamos atravessar a ponte.

Eles entraram no carro e começaram a passar pela ponte. Ela era daquelas de madeira que parecia que iria cair a qualquer momento. começou a passar pelas velhas tábuas de madeira que rangeram e estalaram com o peso do carro. prendeu a respiração enquanto passavam bem devagar. Ela pensava: “Essa ponte não vai agüentar, de jeito nenhum”. Estava realmente assustada.
passava dirigindo devagar, bem devagar. Parecia que ia levar horas para chegar do outro lado.
Quando finalmente chegaram do outro lado, soltou um forte suspiro de alívio.
- Ih, estava com medo, é? Você está com a cara de quem acaba ver um fantasma! - Disse , rindo de sua cara.
- Estava sim, e não ouse rir assim de mim! Isso não se faz, ! - Respondeu ela, cruzando os braços e desviando o olhar para fora da janela do carro.
Logo em seguida, abafou um grito assustado… Quando uma explosão ensurdecedora balançou o carro.
- Nããão! - Os dois gritaram.
- Nós vamos cair! - Exclamou .


Capítulo 4

Por sorte o carro agüentou firme e não caiu. Mas a roda traseira ficou suspensa no ar. O carro estava atolado. tentou de todas as maneiras, mas não conseguiu tirar o carro do lugar.
- É, , acho que vamos ter de seguir a pé. Amanhã eu saio para procurar um mecânico.
Ele abriu a porta de trás do carro e retirou as malas de lá.
- Toma, carregue a minha que está mais leve. Eu levo a sua... Ainda acho que você trouxe chumbo aqui dentro.
- Ah, já falei que é apenas meu kit de primeiros socorros, ! - Falou ela fazendo voz de criança.
Eles seguiram por mais meia hora a pé até que encontraram um portão alto e preto que reconhecera puxando de sua memória. Ele estava aberto e Billy veio correndo recebê-los quando entraram no jardim. Este, por sua vez, era muito extenso e feio, precisava de alguns reparos na grama. Mesmo com Billy agarrado nas pernas de , ele não hesitou em parar de andar até que chegasse à porta da casa.
A casa realmente era muito velha, fora construída há mais ou menos dez décadas. Era inteira de madeira, pintada de cinza. Porém esta pintura precisava ser refeita.
e pararam no capacho que estava escrito “Bem-vindos”. Eles soltaram as malas no chão e ela pegou o chaveiro que continha as chaves da casa. Detalhe: eram 12. Isso fez com que ela demorasse um bocado a encontrar a chave certa para abrir a porta da frente. Enquanto isso, Billy pulava em , tentando brincar com ele. Ele era um cachorro de tamanho médio, com pêlos macios e dourados. Tratava-se de um Golden Retrivier.
- Vai demorar muito ou posso montar uma barraca aqui fora? Está esfriando, sabe? Eu não estou a fim de congelar hoje não. - Resmungou .
- Calma, doçura, não me apresse senão eu fico nervosa e daí que eu não acho a chave, chefe! - Retrucou tentando ser engraçada.
Quando finalmente conseguiu abrir a porta, já tinha feito amizade com Billy, o qual mais tarde chamaria de coelho amarelo. Este estava muito feliz com a chegada de visitantes e saltitava a todo o momento.
A porta rangeu ao abrir, assim como o assoalho que estava podre, além de mal cuidado. A casa era muito grande e diferente. Possuía três andares, o que não era comum para uma velha casa e para apenas dois moradores. Fora isso, ela parecia normal. Continha todos os cômodos de que qualquer pessoa precisava: sala, cozinha, quartos, banheiros e lavanderia. Só que nessa casa tudo era em maior quantidade. Havia duas salas já logo na entrada. Uma à direita e outra à esquerda. A da direita tinha um tapete roxo quadrangular; em cima dele havia três sofás vermelhos escuros e uma mesinha circular de madeira entre eles. Na parede tinha dois quadros embolorados e empoeirados. Mal dava para ver a pintura. A outra sala era maior e praticamente vazia. Tinha uma televisão de 14 polegadas apoiada em um balcão pequeno e velho; duas poltronas viradas para a televisão e mais duas janelas grandes que davam vista para o jardim. As cortinas eram escuras e sujas. Uma típica casa de pântano.
- Opa, pelo menos tem uma televisão! – Entusiasmou-se .
- Ah, , eu já falei para não esquecer de cuidar de mim, então pare de olhar para a televisão com esses olhos tão brilhantes! Ela não é grande coisa. - Falou fechando a porta da casa após eles e, inclusive Billy, entrarem.
não respondeu. virou-se para a sala da televisão e não achou o amigo, olhou para o outro lado e também não o encontrou.
- ? ! Onde você se meteu?
- Que foi? Achou que eu fui devorado pelo monstro do pântano, é? – Disse ele, surgindo do final do corredor.
- Não, né, cabeção?! Mas, vem cá, me ajuda a guardar as coisas. Eu quero ir dormir logo, estou muito cansada. Amanhã a gente sai para passear por aí, pode ser? – Disse ela bocejando.
- Claro, também estou acabado. Vem, amigão, me ajuda a levar as coisas para cima. - Disse chamando Billy.
- E a gente vai dormir onde, exatamente? – Gritou , pois já devia estar no terceiro andar.
- Por aí... - Respondeu ele.
- Ah, eu não te trouxe para você me abandonar nessa casa esquisita. Morro de medo de casa grande. - Gritou ela novamente.
- Calma, doçura. E fala mais baixo que eu já estou aqui embaixo. - virou-se para a escada com a mão cheia de roupa que ia levar para cima e deu de cara com olhando-a.
- Ai, que susto, . Você desceu muito rápido, não esperava você aqui embaixo.
- Vem, tem um quarto que tem vista para o lago no último andar. Lá é perfeito.


Capítulo 5

acordou com um barulho distante que parecia vir do andar debaixo.
- ? - Chamou ela.
- Ah, já acordou? - Disse ele, entrando com uma bandeja na mão. - Er, devo ter te acordado, desculpa, tropecei no Billy lá em baixo e quase derrubei seu café da manhã.
- Ah, que lindo isso. Obrigada. - Disse pegando a bandeja de sua mão e tomando um gole do suco de laranja. - Mas você realmente me assustou com o barulho.
- É, o cachorro chorou.
- Coitadinho do Billy. Titio pisou em você, é? - Falou olhando para Billy. Este, em reposta, soltou um grunhido.
- Ah, nem foi nada. Ele é que entrou na minha frente. - Desculpou-se .
- Nossa! Esse suco está tão bom. Não é de pacotinho. Tem plantação de laranja aqui?
- Não que eu saiba. Achei três laranjas na fruteira e resolvi fazer o suco.
- Ah, sim. Então, você não vai comer?
- Já comi. - Disse ele com um sorriso estampado no rosto. - E, cá entre nós, eu só fiz esse cardápio de rosquinhas e suco para depois você não falar que eu não cuido e não penso em você. - Cruzou os braços.
- Ah, obrigada doçura. Te amo, . - Ela deu uma risadinha.
Ele deu um beijo em sua testa e disse:
- Ah, antes que eu me esqueça, você está fedendo, precisa de um banho urgentemente.
- Ah, mas que coisa mais feia a se dizer a uma “lady” como eu. FEIOSO! - Retrucou. - Tudo bem, eu já vou para o banho.
- Ótimo. O que acha em depois a gente passear por aí? A televisão nem funciona e isso é uma pena, porque hoje ia ter o concurso de Miss Universo... - Sentiu ele.
- Haha, coitadinho do , está bem então, depois a gente sai. - Ela piscou para ele e colocou mais uma rosquinha na boca.



- ? ? Eu já estou pronta! - Ela gritou do quarto.
- Eu estou aqui em baixo! - Respondeu ele.
- Aqui em baixo, onde?
- Aqui fora!
abriu a janela do quarto e pôs sua cabeça para fora. Lá estava dando um banho no Billy, ou melhor, levando um banho do Billy.
- Você está encharcado! - Zoou ela. - Já estou descendo!
- Tá! - Respondeu ao ser atropelado por Billy tentando fugir do banho.
fechou a janela e só então prestou atenção ao quarto em que havia dormido. Ele era muito pequeno e tinha uma cama de casal, um armário minúsculo, um bidê e duas janelas (uma que dava vista para o lago e a outra para a lateral do jardim, onde estava). Aquele quarto lhe dava calafrios, sentia algo estranho em relação a ele. Além de que esse terceiro andar só tinha um banheiro que ficava no fim de um extenso corredor e um quarto que era o qual ela estava e que ficava bem próximo à escada. Ela pegou a jaqueta e saiu do quarto.
Começou a descer as escadas. Degrau por degrau. Ia se segurando no corrimão. Aqueles degraus rangiam. Davam medo.
Medo.
Após descer pelo menos uns quinze degraus, ela havia chegado ao segundo andar. Resolveu conhecer o local, ontem ela havia passado direto por esse andar para ir dormir, podia esperar. Só um pouquinho, ela não ia demorar. Claro que não.
Acendeu a luz do corredor. Porém ela era muito fraca, ia quase se apagando. concluiu que logo que ela saísse dali ia procurar uma lâmpada para trocar. SE ela saísse.
Foi andando pelo corredor, este também era extenso. Pelo que conseguiu ver, havia seis quartos, o que a fez pensar novamente: “por que dois idosos que moram sozinhos ainda não se mudaram daqui? É tão simples! Essa casa é muito grande e além do mais as escadas representam perigo para aqueles dois.” Abriu a primeira porta, vazio. Nada, absolutamente nada. Abriu a segunda: um baú e uma cama. Abriu a terceira: dois espelhos virados para ela. Isso a fez soltar um grito, pois se assustou quando viu sua imagem refletida. À primeira vista parecia ser outra pessoa.
Escutou passos. Cochichos. Achou estranho. Estava sozinha em casa. estava lá fora junto com Billy e mesmo que estivessem entrado, não fariam esses barulhos. Escutou vozes. Não eram vozes comuns. Começou a sentir medo. Náuseas. Pensou que ia vomitar. Foi abrir a quarta porta. Pegou no trinco. Aqueles barulhos pareciam vim de lá.
- Abra-a! - Disse uma voz. Uma voz de criança.
virou-se. Uma pequena menina de vestido branco estava encarando-a.
- Quem é você? O que faz aqui? - Indagou. A menina correu escada abaixo. - Espera! - Implorou .
Os passos haviam parado. As vozes também. Silêncio. Medo.
- ? - estava olhando-a da escada. - O que você tem? Está branca. Vamos logo.
pegou na mão de e quando saiu daquela casa começou a correr em direção ao portão.
- Calma, , o que aconteceu? Espere aí! - começou a correr atrás dela.
- Essa casa. Está me dando arrepios! Onde foi a menina?
- Que menina?
- De vestido branco! Tinha uma menina lá dentro.
- Ih, você está vendo coisas, não tinha ninguém lá. Só você e eu.
- Mas eu vi! Eu juro que vi!
- , não comece a dar chiliques! Você está estressada, vem, vamos caminhar. Você sabe o que a mente pode inventar quando uma pessoa está estressada...


Capítulo 6

aceitou o fato de estar estressada. Aquilo foi apenas ilusão. Um sonho que veio à tona. Ou melhor, um pesadelo. Aliás, muito parecido com aquele dia, naquele quarto... Quando era criança. Um pesadelo real. Que havia acontecido. Que havia deletado da memória.

FLASHBACK

“Um quarto e um retrato, é tudo o que eu lembro. - Dizia ela ao Psicólogo.”

END FLASHBACK

- Ai, , está ficando frio. - Gemeu .
- É, vamos voltar, mal posso esperar para comer a sopinha da . - Disse ele esfregando as mãos.
- Ah, então quer dizer que eu vou fazer uma sopa, é isso?
- Sim, senhorita. E com tudo o que eu tenho direito. Deve-se tratar bem os convidados. - Disse dando uma risadinha.
- Sei... - Respondeu sarcasticamente. - Onde está o Billy, afinal?
- Ué, ele estava aqui ao meu lado agora mesmo...
- Billy? Biiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiilly! - Cadê você, hein, menino? - Gritou .
- Tsc, tsc, tsc, tsc, tsc. - Chamou .
Ouviu-se um barulho por entre as árvores que os cercavam.
Começou a ventar forte. arrepiou-se. Ouviu-se um uivo.
- Ei, Billy! - Gritou .
- Não é uivo do Billy, ! É lobo, só pode ser. Isso não é do Billy. - Disse ela tentando se proteger do vento. - , vamos voltar, rápido! Eu estou com frio e parece que vai cair uma tempestade daqui a pouco. Por favor!
- Mas e o Billy? Precisamos achá-lo! – Perguntou .
Então eles esperaram mais uns instantes e chamaram o cachorro mais algumas vezes, só que mais baixinho, para não chamar muita atenção do lobo, que estaria por ali em algum lugar.
- AIIII, chega. Eu não agüento mais ficar aqui fora. Olha, está vendo aquela cabana ali? - Apontou para uma cabana velha feita de madeira há alguns metros dali. - Eu vou entrar lá e esperar por você. Quando encontrar o Billy vai lá, pode ser?
- Ah, então vai lá que eu vou procurar o Billy mais um pouquinho. Se ele não aparecer em meia hora, eu vou para a cabana do mesmo jeito.
- Tá, cuidado. - Disse e foi andando rumo à cabana.

“Ufa, bem melhor aqui.” Pensou, fechando a porta. Olhou em volta. Tudo sujo. Uma mesa central, quatro cadeiras. Uma lareira sem lenha. Uma janela. Um quadro na parede. Um tapete empoeirado vermelho escuro e oito almofadas encapadas jogadas no chão. “Bom, acho que vou me deitar aqui. Nossa, acho que o tio e a tia não entravam aqui há um tempo.”
Escutava os gritos de chamando Billy lá fora, distantes.
“Sozinha. Aqui. Estou sozinha. Numa cabana. Está frio aqui. Aqui. Sozinha. Esperando por . Eu. Sozinha. Na cabana.”
adormeceu no chão, com a cabeça nas almofadas, encostadas na parede.
BUMP!
- AAAAAAAHHHHHHHHH! - Gritou .
- Calma! Sou eu! A porta bateu com o vento. Achei o Billy.
- Percebi. – Disse, sendo lambida pelo cachorro.
- Acho que vamos ter que ficar por aqui. - Disse sentando-se ao lado da amiga. - Começou a chover pra caramba lá fora. A gente andou o dia todo e eu estou sem pique para correr de volta para casa sem me molhar muito.
- É. - Disse ela olhando pela pequena janelinha. - E a casa fica um pouco longe daqui. É melhor esperar um pouco.
- Está escuro aqui. E não tem lâmpada, pelo que eu já notei. - Disse olhando para o teto. - Será que têm velas?
- Do que adianta se não temos fósforos?
ficou pensativo.
- , estou com fome. Que horas são, hein?
- 14h15min, de acordo com meu relógio.
- Eu quero comer aquela sopa que você prometeu.
- Eu não prometi nada.
- AH... – Fez birra.
- Ok, eu faço, mas, para isso, a gente precisar chegar a casa.
- Então vai demorar, saco mesmo.
e passaram algum tempo dentro da cabana. Até que se ouviu algum barulho.
- O que é isso, ?
- Devem ser os esquilos.
- Mas eles estão fazendo um barulho muito alto, eu não acredito que eles consigam fazer um barulho tão grande assim.
- Então são os lobos.
- Lobos?
- É, você não ouviu quando a gente estava lá fora, uivos?
- Ah, eu não acredito que você levou a sério quando eu disse aquilo.
- Você me enganou, ? Eu jurei que eram os lobos.
- Capaz mesmo. Aqui não tem lobos... Ou será que tem?
Eles escutaram um barulho diferente dessa vez. Como se fosse de alguém fazendo um buraco. Cavando. Billy estava deitado no tapete junto deles, descansando. Bem preguiçoso.
- , vai lá ver? Isso está começando a me assustar. - Implorou .
levantou-se e andou até a pequena janelinha. Mas não conseguiu uma resposta precisa. A janelinha dava de frente para o lago. Então ele andou até a porta, de onde vinham os barulhos. Abriu-a cuidadosamente. E deu um pulo para trás, fechando-a.
- O que foi?
- , a gente tem de dar um jeito de sair daqui.
- Por quê?
- Você não vai acreditar.
- O que foi, ? Não me assuste mais!
- Acho que eles estão com fome.
- Eles quem? Pelo amor de Deus!
- Os lobos. Realmente eles estão aqui.
- Tem certeza de que eram lobos? Será que você não confundiu... Sei lá... Com um urso?
- Urso? Você está brincando? Ainda bem que eu não confundi com um urso. Senão a gente estaria mais do que fritos! Estaríamos ferrados!
- É, acho que você tem razão. Não briga comigo, . Eu estou nervosa!
- Calma, , confia em mim que a gente vai sair daqui, nem que eu tenha que chamar o super homem. - Confortou .
- , agora não são horas para gracinhas, por favor, eu estou com medo. - Disse ela, agarrando os joelhos.
- , eu sei que você está com medo, eu também estou, mas a gente vai sair dessa, não se preocupe. Já, já os lobos desistem e a gente volta para casa. - Disse ele sentando ao lado de e colocando seus braços em volta dela.
Alguns instantes depois os ventos sopravam muito fortes e ouviam-se as árvores balançando os galhos. Nenhum barulho além desse e da cabana que ameaçava voar junto com o vento.
- Será que os lobos desistiram de nós? - Perguntou , esperançosa.
Os dois se olharam e foram até a porta da cabana. Devagar, encostaram seus ouvidos na madeira para tentar escutá-los. Nada. resolveu abrir a porta, o suficiente para ver se eles ainda continuavam lá. E nada. Não os viram mais.
Começou a chover muito forte. O barulho aumentava cada vez mais, era ensurdecedor. Um clarão fez iluminar a cabana. Foi quando notou uma espingarda encostada lá no fundo.
“Opa, uma espingarda, beleza, agora eu posso praticar tiro ao alvo, amanhã mesmo acho que vou à floresta para tentar caçar coelhos. Carne de coelho é tão bom...” Pensou ele. “E aí, depois...”
- , a gente podia se arriscar agora e tentar ir para casa, o que acha? - o interrompeu de seus pensamentos fúteis.
- Hum? Ah, sim, acho que sim, os lobos não estão aí, mas a gente vai se molhar, não tem problema?
- Claro que não, tudo o que eu quero é sair dessa cabana que me dá arrepios.
- Então tá, quem chegar por último tem de preparar o almoço! - Disse após abrir a porta da cabana e sair correndo em direção à casa.
também correu, seguida por Billy que logo conseguiu ultrapassar , que já estava lá na frente.


Capítulo 7

“Ai, cadê essa casa que não aparece nunca? Será que a gente se afastou tanto assim? Essa cabana parecia ser tão perto de casa. Espera aí. Cadê o ? ? Ele estava ali na frente. Bem na minha frente. Eu sei que estava. Eu conseguia vê-lo.” Perdia-se em seus pensamentos. Estava começando a ficar fraca. A chuva só aumentava, assim como os relâmpagos e trovões.
Parecia que acabara de se perder. Ela olhava para todos os lados procurando por . Só havia árvores. A estradinha de lama em que corria antes não estava mais ali. Ela, agora, pisava na grama. E estava perdida. Sim, ela estava perdida. Parou de correr. E agora estava com mais medo. Estava toda encharcada, não achava e também não sabia onde estava.
“Ai, pântano idiota!” Pensou ela. “Por que eu vim para cá? Eu bem que podia ter dito para tia que eu tinha que trabalhar... Mas não... Eu não sei dizer não, né. Ai, que raiva”
começou a correr sem destino, esperava que seus pés a levassem de volta para casa, mesmo sem saber o caminho.
- Cuidado! - Exclamou alguém. olhou para o lado e viu aquela menina de vestido branco a encarando. - Olhe aonde anda! - Exclamou a menina mais uma vez.
olhou para frente e bateu em uma árvore. Caiu no chão e lá ficou. Desacordada.



“Ai, minha cabeça... O que será? Hã? ? Como assim? Eu estou em casa?” Pensou , abrindo os olhos.
- AH, EU ESTOU EM CASA! - Gritou alto quando percebeu que realmente estava em casa.
, que estava sentado na mesma cama em que estava deitada, disse:
- , enfim você acordou, já estava na hora. – Sorriu.
- Eu acho que bati minha cabeça em alguma coisa. - Nesse momento lembrou-se de ter visto aquela menina. - E a menina? Cadê a menina?
- Que menina? - Perguntou . - Quando eu cheguei aqui, esperei um pouco e quando vi que você não aparecia resolvi te procurar. Que maluquice você fez? Como você foi parar lá longe? Eu, hein, estava querendo ser comida pelos lobos, é?
- Ah, não sei, , eu devo ter perdido a noção. Devia ser a fome. Mas e a menina?
- Não tinha ninguém lá, a não ser você e seus miolos.
- Mas eu vi! Ela que me avisou da árvore na minha frente.
- Acho que ela não te avisou a tempo, então, porque você bateu feio. Tem um calo enorme na sua testa. - Apontou para o calo e deu uma risadinha.
- Não tem graça, . - Resmungou ela.
- Bom, fiquei com pena de você e fiz o almoço, mas a janta é com você... Eu, hein... Eita mordomia essa sua... Fiz o seu café e agora o almoço, então é bem justo que a janta seja por sua conta. - Disse ele.
- Ah, chifrudo. Eu estou mal, você não está vendo? Bati minha cabeça. Vai que eu coloco pimenta, cabeça de galinha e intestino de pato junto à sua janta? Posso te assassinar!
- Ih, nem vem, , você está ótima, deixa de ser preguiçosa e capricha bem. Não se esquece de pôr sal porque eu odeio comida sem gosto.
- Ainda por cima é mandão. Mas ok, baby fofuxo, eu faço uma macarronada com orelha de boi bem caprichado para você. - Ela deu risada.
- Não achei graça. - Respondeu ele. - Come logo seu almoço que daqui a pouco já é hora da janta, você se enrolou demais para acordar.
-Calma, doçura, já vou.
- Enquanto você come, eu vou procurar um mecânico. A chuva já passou e a gente precisa do carro para ir comprar mais comida, porque, cá entre nós, seus tios deixaram a gente numa miséria aqui.
- Não vá, não me deixe aqui sozinha, por favor, me deixa ir com você, eu como bem rápido e vou junto.
- Não, benzinho, você demora a comer que eu sei, além de que você precisa descansar porque a batida que você deu foi muito grande, eu vou e volto num instante.
- , por favor, não me deixe aqui. - Implorou .
- O Billy te protege, eu já volto.
- Ah... - Resmungou ela. - Mas volte rápido, por favor.
- Pode deixar, xuxu. - Ele deu um beijo em sua testa e saiu de casa.
o fitou pela janela e o viu saindo pelo portão da frente.
“Pedaço de mau caminho... está tão ajeitado ultimamente... Ai, ai, que lindo” Pensou.


Capítulo 8

foi arrumar a cama que estava toda bagunçada, os lençóis e o cobertor estavam ao chão e os travesseiros espalhados pela cama. Ouviu um barulho no andar de baixo. Parecia um grito. achou muito estranho. Olhou para seu lado esquerdo e viu Billy deitado no tapete. O barulho não poderia ter vindo dele. Mas, então, de quem seria?
Ela saiu do quarto, desceu as escadas e viu uma das portas do segundo andar entreaberta. Resolveu ir verificar. Devagar, passo a passo, foi se aproximando do quarto. O corredor mal iluminado lhe dava calafrios. Em frente ao quarto, esticou seu braço em direção à porta, a fim de abri-la. Empurrou-a e, devagar, ela foi se abrindo. ficou esperando ela abrir até o fim. Nisso, a porta fechou-se com uma forte batida. caiu no chão de susto e se arrastou até a parede, do outro lado do corredor. Queria chamar por , mas lembrou-se que ele não estava em casa. Viu novamente a menina de vestido branco à sua frente. Ela abriu a porta do quarto enquanto continuava sentada no chão, assustada e respirando forte.
A menina desapareceu. tomou coragem e levantou-se do chão. Decidiu que seria a hora de descobrir o que estava acontecendo ali. Entrou no quarto. Observou um tapete marrom, uma janela sem cortinas, um retrato pendurado na parede e um armário embutido. Só. Não tinha cama, então não podia ser um quarto. Parecia um escritório. Sem livros, nem computador e nem mesa. Muito estranho. Talvez tivessem vendido algum móvel que pertencia a esse cômodo.
O clima dentro dele era estranho. Pesado. Diferente dos outros cômodos da casa. Definitivamente, algo havia acontecido ali. Algo ruim. Algo que , agora mais que nunca, queria desvendar. Não tinha certeza, mas podia imaginar que a menina de branco era um espírito, e ele estava querendo alguma coisa dela.
Cruzou os braços a fim de esquentá-los. Estava ofegante, saía fumaça de sua boca, de tanto frio que aquele quarto fazia. Andou até o armário, abriu a porta que fez um rangido agudo e um vento soprou dentro dele, esvoaçando os cabelos de que ficaram embaraçados. Após piscar várias vezes para retirar a poeira que entrou em seus olhos, ela viu uma alavanca na última prateleira do armário. Puxou-a. O armário deslizou para a direita e revelou uma passagem secreta. Com medo ela já estava. Sabia que havia algo de sobrenatural lá, mas agora ela já estava envolvida nisso e não tinha como escapar. Resolveu que seguiria em frente. Entraria na passagem. Após entrar, o armário deslizou para a esquerda, fechando a passagem.
- Ah, ótimo! - Falou cinicamente.
Foi descendo as escadas, elas formavam um caracol e pareciam que não iam acabar nunca. ia lutando contra o vento que a empurrava de volta para a entrada da passagem, e contra o frio que fazia. “Devia ter pegado meu casaco”, pensou. Estava muito escuro. Não se via luz alguma. Ela segurava no corrimão para evitar que tropeçasse e caísse. Quando finalmente chegou ao fim das escadas (devia ter percorrido 1 km de escadaria), esticou os braços à sua frente para evitar que batesse em alguma coisa e foi seguindo em frente. Sem rumo. Parecia ser um corredor. Não sabia quantos corredores aquilo tinha. Nem para onde eles iriam dar. Ela não enxergava nada. Aquilo era escuro como uma caverna. Ia caminhando lentamente, sem tirar as mãos de sua frente. Ela não estava gostando disso. Não mesmo. Chutou alguma coisa. Agachou-se, tateou o chão e incrivelmente achou um isqueiro.
“Hum, isso deve me ajudar”, pensou. Mas, o que um isqueiro estaria fazendo ali? “O espírito da menina! É, ela deve estar me ajudando, que bom, que bom.”
Após algumas tentativas sem sucesso, conseguiu acendê-lo. Viu a menina em sua frente. Encarando-a. Soltou um grito e deixou o isqueiro cair no chão. Abaixou-se e apanhou-o novamente. Acendeu-o. A menina continuava ali, encarando-a.
- Venha, siga-me. - Disse o espírito.
concordou com a cabeça.
“Meu Deus, isso é loucura! Eu? Seguindo um espírito? Sabe-se lá onde ela está me levando. Ai, preciso sair daqui, eu não estou bem, não posso fazer isso.” Pensou .
Parou de andar. A menina olhou em sua direção.
- O que foi? Venha! - Ordenou ela.
Ao invés disso, virou para o outro lado e começou a correr em direção às escadas.
“Preciso fugir, preciso fugir, sair daqui, rápido, eu estou louca, isso não está acontecendo, por favor, ai Jesus.”
Corria, corria, corria.
“Cadê? Cadê essas escadas, meu Deus? Onde estão? Eu não andei tanto assim pelo corredor. Será que eu passei reto? Será que entrei em outro corredor? Alguém me ajuda!” falava em seus pensamentos. “Ai, ai, ai, onde estão? Preciso voltar para cima, esse vento está soprando muito forte, eu estou congelando, preciso achar a saída, aquela menina me dá arrepios. A MENINA! Onde ela foi? Será que ela sumiu? Será que ela aceitou o fato de eu ter fugido dela? Será que ela é má? Ai Deus, me ajude!” Pensava enquanto corria pelo corredor. Bateu em alguma coisa e caiu. Uma parede. Notou um galo em sua cabeça. Levantou-se, tateou a parede, percebeu que não havia saída por esse lado. Teria que voltar. Virou-se e viu a menina à sua frente.


Capítulo 9

Subitamente, começou a correr mais uma vez, passou ao lado da menina e continuou correndo. Virou sua cabeça para trás e viu a menina correndo atrás dela.
“Ah, ótimo, agora estou a 10000 km abaixo da terra, perdida não sei onde, sem achar a saída e com um fantasma me perseguindo. Titia, eu te odeio. Por que eu tinha que vim cuidar do Billy?”
entrou em outro corredor. E depois viu uma abertura na parede. Procurou por um interruptor e acendeu a luz. Percebeu que era um cômodo. A luz era muito fraca, mas, pelo menos, dava para enxergar. Observou um baú. Grande e antigo. Era a única coisa que havia naquele quarto. Caminhou até ele e abriu-o. Sentiu um cheiro forte e podre. Deu um grito e colocou a mão em sua boca para abafá-lo. Ela acabara de ver um corpo. Ou melhor, o esqueleto dele. Este vestia um vestido branco. Estava sentado, com as mãos sobre os joelhos. percebeu que havia algo em sua mão. Com muito nojo e ânsia, agarrou a mão do esqueleto e abriu seus dedos. Puxou o objeto para si. Era um colar. Daqueles que tinham foto dentro. Abriu o medalhão. Havia uma foto de uma menina e um homem abraçados. Estava escrito:
“PAI E FILHA”
De repente a foto começou a mudar de perfil. O rosto do pai começou a transmitir ódio, segurava uma faca ensangüentada na mão e a apontava para a filha. Esta estava com a face pálida e expressava medo.
- 8 de abril de 1860... - Começou o espírito da menina que agora se encontrava ao lado de seu corpo, olhando para a foto que segurava. - Foi quando ele enlouqueceu; pegou uma faca, matou mamãe e depois me matou enquanto eu estava dormindo. Era noite. Fazia muito frio. Nevava e ventava muito. Após falecer, ele me trancou aqui nesse baú. – Lamentou. - Não sei porque ele fez isso. Ele vivia bem e feliz, teve uns casos com algumas mulheres e não sei de onde ele tirou tanto ódio. Sei que agora o espírito dele reencarnou. Ele, agora, é !
- O quê? ? Ai, Deus. – Seus olhos enchiam-se de lágrimas.
- Deus não irá te ajudar, . Eu planejei isso muito bem. Lembra quando você era criança? Eu te tranquei no quarto lá em cima. Por horas. Falei com seu subconsciente. Disse que um dia você traria seu amiguinho, , para cá. Dito e feito. Você o trouxe. Patético. – Ela riu. - Consegui fazer com que seus tios viajassem e tudo ocorreu perfeitamente. Brilhante!
- O que você pretende fazer com, ? - Perguntou .
- Ah, ele está lá em cima, amarrado numa cadeira. Logo, logo ele estará ardendo no inferno.
- O quê? Não, você está mentindo! foi buscar um mecânico, ele não está aqui. Eu o vi saindo pelo portão!
- Não estava. Mamãe está me ajudando. Ela o agarrou quando saiu da casa. E trancou-o lá em cima. Vamos esfaqueá-lo assim como ele fez conosco. Aquele ser não merece viver.
- Sua mãe? Como eu não a vi?
- Nós só aparecemos quando queremos ser vistos.
- Mas, eu não entendo, ele não é mais seu pai agora! Ele é o . E ele não fez nada disso, não deve pagar pelo erro que cometeu no passado. Por favor, você é uma menina, uma garotinha, não precisa matar ninguém. Pense bem, quer mesmo se tornar um monstro como seu pai se tornou? Quer mesmo ser como ele? - Implorou , levantando-se do chão e afastando-se da menina. Não sabia se seu papo convenceria a menina, mas seu instinto falava para correr e salvar o , e não podia esperar mais, seu amigo corria perigo e precisava de sua ajuda. O espírito abaixou a cabeça, uma lágrima caiu no chão e, em uma voz muito baixa e arrependida disse:
- Não. Não quero.
A menina desapareceu e correu para fora daquele quarto, correu pelo corredor e finalmente conseguiu alcançar as escadas. “A menina devia ter me confundido da última vez que eu estava tentando sair daqui, o caminho é fácil”, deduziu. Começou a subir a escadaria que era muito longa e cansativa. Não sabia da onde conseguiu tirar forças para enfrentar tudo aquilo, sua cabeça estava a mil, era a primeira vez que falava com um espírito e enfrentava uma situação como essa. Enquanto subia as escadas, ia pensando na mãe da menina. Como enfrentaria aquilo? Precisava salvar de um espírito vingador. Pelo menos ela já sabia que tinha conseguido convencer a menina. Menos isso para se preocupar. “Mas a mãe... E se... Quem matou a menina foi, na verdade, a mãe?”
- Bom, a menina não mencionou ter visto o pai matando-a. Ela estava dormindo quando isso aconteceu. Ela também não disse que viu sua mãe morrer. Mas disse que seu pai tinha casos com outras mulheres. É isso! O pai não matou ninguém. Sua mãe que enlouqueceu! Ela estava brava por ter descoberto que seu marido a estava traindo. Mas então... Por que matar a filha também? - Raciocinava baixinho.


Capítulo 10

Quando finalmente chegou ao topo da escada, respirou fundo, puxou uma pequena alavanca que estava ao chão e entrou no quarto. Deparou-se com amarrado na cadeira (assim como a menina disse) e um outro espírito ao seu lado. Ameaçando-o. Deveria ser a mãe. estava muito pálido, estava chorando, suas lágrimas escorriam pelo rosto, ele expressava terror e medo. Medo. Sim, ele estava morrendo de medo. sentiu um aperto no coração e não parava de se perguntar como que conseguiria salvá-lo. A mãe estava com a faca na mão e chamou pela filha. Ela apareceu em um canto do quarto. arregalou os olhos quando a viu, pois até então ainda não tinha visto outro espírito a não ser o da mãe.
resolveu arriscar. Falaria aquilo que havia pensado enquanto subia as escadas. Não sabia o que fazer, o jeito era tentar convencê-la de que estava errada.
- Ele não tem culpa! - Disse fazendo todos desviarem o olhar para ela, notando sua presença. - Ele não é mais seu marido. Se ele te traía antes, isso foi há ANOS atrás. As coisas mudaram, seu marido morreu e surgiu. Ele não é mais o mesmo. Não queira se vingar em uma pessoa inocente. Ele está aqui para corrigir seus erros, você já o matou antes e isso não aliviou sua dor. Para que matar novamente?
- Você o matou, mamãe? - Interferiu a menina.
- Foi preciso. Eu não agüentava mais tanta dor, precisava acabar com aquilo. - Disse com raiva em seus olhos e apontando a faca para .
- Mas, você estava com raiva só por que ele te traiu? Não foi por mais nenhum motivo, como por exemplo, ele ter me matado? - Perguntou.
- Esse motivo já era grande o bastante.
- Então quer dizer que quem me matou... Foi... VOCÊ? - Indagou a menina.
- Eu não poderia conviver com alguém que fosse parte dele, minha filha.
- Eu não acredito nisso. – Agora a menina estava visivelmente abalada. - E eu estava ajudando a matar meu próprio pai! Inocente. Ele era inocente. Ele não havia enlouquecido. Você tinha! Papai sempre vivia te traindo. Por que tão subitamente, você resolveu matá-lo? Você sabia que ele te traía, mas não era motivo para matá-lo! Nem a mim. Eu desisto disso, mamãe. Não quero ficar com você. Quero ir para o céu, eu já devia ter ido há muito tempo. Apesar de tudo, eu ainda a amo e tem meu perdão. Deixe-se ser perdoada também. Venha para o céu comigo, lá estaremos bem, por favor.
- Você me perdoa? - A mãe perguntou à . Ele que não estava entendendo muita coisa, disse:
- Sei que errei no passado, você também errou. Mas todos merecemos uma chance... Eu te perdôo. - Disse com uma voz cansada.
A mãe largou a faca no chão, aproximou-se de e beijou-o na boca. sentiu uma pitada de ciúmes, mas lembrou-se que ela era só um espírito. não poderia apaixonar-se por ela, poderia?
- Meu sofrimento era tão grande porque eu não agüentei saber que o grande amor da minha vida não gostava mais de mim. - Disse ela num último suspiro.
- Se eu não gostasse de você, eu teria saído de casa e ido morar com minhas amantes, acredite... Eu te amava.
A mãe e a menina deram as mãos e desapareceram. correu até e desamarrou-o. Os dois se abraçaram forte. Ouviram um latido. Billy estava na porta do quarto, balançando o rabo.
- Biiiiilly! Você não sabe a aventura que você perdeu, garoto! - Exclamou . Ele se aproximou dos dois que estavam abraçadinhos.
- Eu estava esperando até agora por esse momento. - disse olhando nos olhos de .
- Dos espíritos? Você sabia que elas iriam aparecer? - Impressionou-se .
- Não, , claro que eu não sabia. Estava esperando até agora por ESSE momento. - Então ele a beijou intensamente. - Só não pensei que ele pudesse acontecer nessas circunstâncias. - Continuou.
- Até que enfim você tomou uma atitude, ! Pensei que nunca teria coragem de me beijar, doçura. Te amo, .
Ele soltou uma risadinha e a pegou no colo.
- Também te amo. - E a beijou novamente.
- Mas, agora, eu quero voltar para casa, aqui eu não fico mais. Isso que dá confiar em casas antigas... Sabe-se lá que tipo de família morou nelas antes e quão loucas elas são a ponto de querer matar o meu .
- Concordo contigo, . Mas elas não iam me matar, eu sou forte, me defenderia.
- Ah é? Você brigaria com um espírito, ? Será que você ia conseguir matar UM ESPÍRITO? Faz-me rir. - Disse ela, gozando da cara dele.
- Ah, eu daria um jeito. Vem, Billy, vamos todos à minha casa. Lá não tem espíritos querendo me matar e nem a mãe da pegando no meu pé. Teremos mais privacidade, .
- Ah, é? E o que o garanhão pretende fazer comigo?
- Você verá. - Respondeu com um sorriso estampado no rosto.

Fim




comments powered by Disqus

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS AO SITE FANFIC OBSESSION.