Caught In A Bad Romance II
Autora: May Lioncourt
Beta-Reader: Amy Moore


CAPÍTULO UM.
I did it, but i'm sorry/Eu fiz isso, mas lamento.

Há meses me via nessa condição de subvida; não vivia, tampouco estava morta, e ainda precisa da vitalidade de outras pessoas para conseguir sobreviver. Damon se mostrava cada dia mais hostil e eu estava ficando puta com aquilo. Achei que tínhamos uma espécie de ligação e tudo que ele mostrava era que estava extremamente arrependido de ter me transformado. Ao contrário de Stefan, que me tratava muito bem e tinha paciência para explicar as coisas que eu notoriamente precisava saber se quisesse continuar naquela existência sem prós, com apenas contras.
Sentei na calçada naquela noite, girei no braço a pulseira de verbana que ganhara de Stefan alguns meses atrás por meio de Elena; o escuro era o meu momento.
- Bem que eu podia ganhar um daqueles anéis divinos que os Salvatore usam - sussurrei para mim mesma, enquanto afastava alguns insetos do rosto.
Estava ali naquele negrume, apenas iluminada por uma única lâmpada, quando ouvi barulhos eufóricos que vinham da floresta majestosa que se estendia por trás da casa de Damon e Stefan. Levantei-me com uma rapidez sobrenatural e quase me desequilibrei. Era fato que ainda não estava acostumada aos meus novos poderes. Foquei a visão para as árvores e nada aconteceu. Talvez minha super audição estivesse me pregando peças. Limpei a calça e estava pronta para voltar para dentro da casa, quando senti uma brisa passar por mim. Olhei para trás e lá estava ela. Parada. Sua roupa suja de sangue prendeu minha atenção.
- Damon e Stefan Salvatore estão em casa? - perguntou-me a garota com sua voz doce; ainda assim pude sentir uma nota de hostilidade, digna do vampirismo.
- Su-suas rou-roupas! - disse, me afastando dela e tentando visualizar seu rosto. Eu ainda não controlava o assassino dentro de mim.
- O que tem elas, não são da moda? - ela desdenhou. Seu vestido com certeza não era da moda; parecia que ela acabara de sair de um filme do século XIX.
- Pode entrar, , eu cuido dela - disse Stefan, que surgira na porta da residência.
- Você não pode deixá-la entrar, Stefan, a roupa dela... Sangue - tentei explicar e ainda assim não conseguia tirar os olhos daquele fluído vermelho que me cheirava tão bem.
- , quando Damon te trouxe até esta casa, ele não perguntou minha opinião - ele finalizou, me lançando aquele olhar azul que nem de longe me parecia encantador como o do seu irmão.
Entrei meio ofendida com a reação de Stefan; geralmente ele tendia a ser amável e nunca dizia qualquer coisa que magoasse meus sentimentos. Eu estava morta, mas ainda podia sentir alguma coisa.
Com os Salvatore aprendi que todas o misticismo por trás dos vampiros era mera criação humana e não remetia a realidade. Com eles aprendi que água benta é apenas água, estacas de madeira imobilizam, balas de prata só deixam marcas e sangue não é apenas necessário. É vital. É de uma importância superior a qualquer coisa que você considere suprema que os vampiros mantenham-se alimentados.
Subi aquelas escadas a passos pesados e tórridos; estava irritada por ter sido destratada pelo irmão mais novo também, e se tivesse escolha, estaria bem longe daqueles dois. Elena que tinha razão: eu havia feito a escolha errada.
A pessoa que menos desejava encontrar naquele momento surgiu no alto de toda aquela subida, olhou-me irritado, e logo desviou seus belos olhos para a porta. Percebi que ele sentia o cheiro da intrusa e não estava nenhum pouco a fim de salvar aquela garota da ira que se desencadeava dentro dele naquele momento. Apenas continuei a subir.
- Quem está aí? - ele perguntou, sem nem ao menos me olhar.
- Não sei, mas seu irmão parece conhecê-la.
Quando tentei passar, ele bloqueou meu caminho com seu corpo - e que corpo. Eu apenas tentei trocar de lugar e continuar a ida para meu quarto, mas Damon parecia bem empenhado em me irritar naquela noite.
- Onde você pensa que vai, ? - ele me disse e eu podia jurar que vi o desejo de alguns meses atrás em seus olhos.
- Se você me deixasse passar, eu iria para meu quarto! - argumentei.
- É uma boa escolha! - Sorriu e eu derreti-me. , foco! - Acho que ir para o quarto agora é muito bom.
- Damon, eu vou para meu quarto, você fica aqui ou vai para o inferno, se quiser. - Empurrei seu corpo para trás e segui adiante. Senti a mão dele segurar meu braço com uma força enorme e olhei-o com a cara mais assustadora que pude fazer, mas pareceu que não foi o suficiente, porque logo depois aquele maldito desatou a gargalhar.
- Não seja estraga prazeres. Por que não me beija logo e acabamos com isso bem rapidinho? - ele falou, e antes que eu pudesse dar a resposta que estava na ponta da língua, fiquei ocupada demais tentando livrar a mesma dos lábios sedentos daquele homem.
Senti o arrepio costumeiro subir pela minha espinha como água gelada. À esta altura meus órgãos já deviam ter derretido, porque nós dois parecíamos quentes (mesmo mortos), e se eu fosse feita de porcelana, estaria totalmente espatifada, tamanha a força que ele usava contra meu corpo. Sem a mínima vontade de pôr fim àquele momento, eu coloquei as mãos no peitoral dele, tentando em vão empurrá-lo, e ainda me beijando, ele sorria. Eu segurava um gemido de prazer, mas meus esforços foram poucos, porque ele ouviu quando o soltei mostrando assim que estava gostando de toda aquela pressão. Quando eu enfim ia ceder, ele me soltou como uma jaca podre e disse:
- Agora sai daqui!
Indignada com aquilo, apenas levantei a mão para lhe dar um tapa, e ele mais do rápido segurou-a com uma destreza de impressionar.
- Você realmente não quer fazer isso, quer? - Seus olhos azuis penetraram fundo em minha cabeça e eu apenas desvencilhei minha mão de seus dedos e segui emburrada para onde devia ter ido.

Aquele quarto fedia. Sério, fedia a Damon Salvatore. Você deve estar me chamando de louca porque todas sabemos que ele tem o cheiro mais incrível da face da terra, mas naquele momento aquele perfume para mim era o pior odor que eu podia sentir. Desde que eu havia sido transformada não havia uma noite sequer que ele não me visitasse no quarto e deixasse naquelas cobertas o seu cheiro inebriante. Pode haver coisa pior do que você querer se livrar de um cara que tem o cheiro grudado no seu corpo 24 horas, podia? Não, não tem.
Abri a janela de vidro, olhei triste para a lua prateada que estava à pino e sequei uma lágrima. Opa! Eu não posso mais chorar, então o que era aquela gota no meu rosto? Passei a mão no rosto confusa e quando olhei-a, quase gritei. Vi sangue entre meus dedos magros e pálidos. Minha visão se turvou imediatamente, senti meu rosto se contraindo e meus olhos ardendo, querendo mudar de forma e soltar a fúria vampira de dentro de mim. Joguei-me no chão, tentando controlar aquela vontade insana de sangue, comecei a tremer e meus olhos não obedeciam a minha súplica silenciosa de não olhar para o teto.
A imagem que vi foi no mínimo macabra, e incrivelmente perturbadora. Um corpo enforcado pendia no lustre de cristal, o sangue gotejava do seu pulso cortado para aquele fim. Perguntei-me quem seria capaz de tal atrocidade e ainda por cima largar aquilo ali, no meu leito. Sufocando o desejo de arrancar aquele defunto dali e sugar o sangue do seu pulso, fui até a porta e gritei por Stefan, mas para minha tristeza Damon, foi quem apareceu.
- Por que toda essa gritaria na minha casa? - ele perguntou, monótono.
- Ah, não! - suspirei baixinho. - É que eu preciso de uma ajudinha aqui - falei.
Sem esperar o convite, ele entrou no quarto e logo deu de cara com a poça de sangue que estava se formando no carpete acinzentado.
- Uh! Você parece estar pegando o jeito da coisa. - Damon sorriu, olhando a vítima no teto.
- Eu não fiz isso! - bradei, com os braços cruzados, como se isso fosse segurar minha vontade de sangue.
- Ah, por favor... - Ele não pôde terminar a frase, porque Stefan entrou no quarto neste exato momento. Ele olhou a cena e ficou estático, a boca parcialmente aberta e seus olhos viajando entre nós três: eu, Damon e o morto pendurado no lustre.
- Não é nada disso... - dessa vez Damon se aproximou de mim e passou seu braço em minha cintura.
- Poupe meu irmão desses clichês de filme, . O que vemos aqui tem mais do que explicação, tem fundamento. Você sentiu fome e resolveu se alimentar.
Eu me afastei dele como se tivesse levado um choque. Ele não acreditava em mim e eu não tinha prova nenhuma de que não havia matado aquele homem no teto. Ergui os olhos mais um vez para a cena macabra acima de nossas cabeças.
- Eu senti cheiro de sangue. - Uma voz completamente nova invadiu meus ouvidos. A garota que estivera na porta minutos surgiu atrás de Stefan, segurando em seus ombros para olhar dentro do quarto. - Ah! - Ela soltou uma exclamação só que realmente não me pareceu nem um pouco surpresa.
- Por favor, Cassi, volte para a sala! - Ouvi Stefan pedir à menina que me deu uma última olhada e saiu. - Não acredito que você fez isso, .
- EU NÃO FIZ ISSO! - protestei com um grito e Damon soltou uma risada.
- Deixe-a, Stefan, você mesmo já fez muito pior. Vá cuidar de sua menina. - Não sei se foi impressão, mas as últimas palavras pareceram-me carregadas de hostilidade.
- O que ela veio nos contar é tanto do meu interesse quanto do seu, Damon - balbuciou Stefan.
- Posso apostar que sim. - Ele pegou o pé do homem pendurado e empurrou. A corda que prendia seu pescoço se enrolou e ele começou a rodar como um pião, ou aquelas mulheres de circo que se prendem pelos cabelos por cabo de aço. O cheiro de sangue tomou conta de todo o aposento.
- Podíamos dividir, mas eu não me alimento de homens. Não faz bem para meu ego. - Ele sorriu com todo aquele rosto e seus olhos azuis me pareceram incrivelmente claros.
- Você pode ao menos tirar esse... homem daí? - perguntei fechando os olhos e visualizando em meus pensamentos qualquer outra coisa que não remetesse sangue.
- Tudo bem! - ele disse e eu, ao ouvir o baque do corpo, estremeci, ainda de olhos fechados. Não podia controlar aquela ânsia, o sangue tinha um cheiro realmente convidativo e eu ainda não controlava aquela vontade e nenhum dos meus poderes. Quando vi toda aquela suculência ao meu alcance, não pude deixar de me transformar. Olhei para Damon, pedindo permissão, e ele apenas se afastou, escondendo seu esbelto corpo na escuridão do meu quarto. Avancei para o homem deitado todo torto no meu chão e com o dedo indicador toquei seu pulso inundado de sangue, chupei os resquícios que ficara no meu dedo e tornei a colocar a mão no ferimento onde o sangue já coagulava.
- Ah, por favor, deixe-me ensiná-la como faz! - Damon avançou até mim com os olhos vermelhos, labaredas de fogo.
Ele pegou o pescoço do cara e mordeu com vontade. O coração do homem não batia mais, por isso estava difícil extrair nosso alimento. A boca de Damon estava suja de um vermelho vivo intenso e, hipnotizada por aquela cor, eu fui chegando mais perto dele, que puxou minha cabeça com força, fazendo nossos rostos se chocarem em um beijo agressivo e violento. Senti todo aquele gosto na minha boca e não tive como não desejar mais. Eu realmente estava com fome.
Quando não tinha mais o que sugar, Damon me jogou com toda sua força contra a cama que rangeu um pouco, mas não quebrou. Me arrastei até o canto do móvel e fiquei esperando que ele viesse, antes de pôr seu peso contra mim, ele tirou seu casaco e olhou-me de forma sensual. Mordi meu lábio inferior, não para provocá-lo, e sim porque eu estava nervosa. Sempre saía machucada daquelas nossas noites. Nada que não se curasse em alguns minutos.
- Damon, o Stefan está... - A voz da garota foi morrendo conforme ela ia assimilando o que tinha visto naquele quarto. - Querendo ver você na sala! - terminou ela, de forma rude e deu as costas para nós.
Era engraçado de ver a intimidade que ela tinha com a casa e os Salvatore. Eu não a conhecia, mas Stefan a tratava como se fosse da família. Damon se afastou de mim e vestiu a camisa. Fiquei calada, olhando ele carregar o corpo que estivera largado no meio do meu quarto, sem nenhuma dificuldade e jogar pela janela. Ouvi o barulho de ossos quebrando lá embaixo e franzi a testa.
- , acho bom você colocar sua blusa. - Fiquei olhando-o, curiosa. Quando ele tinha tirado minha blusa?


CAPÍTULO DOIS.
What do I do with a boy like you?/O que eu faço com um garoto como você?

Aquela garotinha tinha um olhar assustador. Assim que cheguei na sala, ela fixou seus olhos em mim, e eu parei na escada, sendo empurrada logo em seguida por Damon, que tinha em seu rosto uma expressão de incômodo. Ele sentou esparramado no sofá, enquanto Stefan e garota estavam na mesa conversando baixinho.
Fiquei imóvel na escada olhando aquela cena, e pensei sinceramente em voltar para meu quarto, mas o pensamento foi cortado pela metade.
- , você pode descer. Precisamos conversar! - Stefan estava ao pé da escada, sorrindo timidamente.
- Ah, sim! Eu estava pensando em fazer isso mesmo - disse, balançando as mãos euforicamente.
O ar estava totalmente pesado na sala e eu extremamente desconfortável com toda aquela situação, e mesmo eu estando a mais tempo naquele lugar sentia que agora eu era a intrusa.
- Precisamos contar a ela, Damon! - sussurrou Stefan, enquanto me ocupava em manter distância da estranha visitante.
- Contar o quê? - perguntei.
- É, contar o quê, Stefan! - desdenhou Damon, com um sorriso torto.
- , preciso que você acredite em nós. Não é uma historia fácil de compreender. - O irmão mais novo se dirigiu a mim com os olhos suplicantes.
Eu me inclinei para frente com as mãos nos joelhos e sussurrei para ele:
- Oi, acho que você não me conhece. Sou e sou uma vampira. Prazer! - brinquei, mas ele pareceu não achar graça.
- Por favor, , é sério.
- Vamos logo com isso, tem várias meninas esperando por mim no Boliche de Mystic Falls. - Damon nem se importou de esconder suas traições de mim. Éramos mesmo um casal apaixonado?
- Vocês poderiam adiantar o assunto, acho que a amiga de vocês não está se aguentando em si de curiosidade! - exclamou a garota que estava sentada como uma donzela na poltrona, ainda que seu vestido tivesse uma manche enorme de sangue, ela parecia doce e encantadora.
- , esta garota é a nossa irmã. Cassidy Salvatore! - eu me assustei e endireitei-me no sofá.
- Como assim? - sussurrei, com a cabeça baixa.
- É ela é Cassidy! Será que estou liberado agora? - Damon continuava impaciente.
- Fica quieto, D. estamos tentando resolver um problema. Importa-se de colaborar em silêncio? - balbuciou Cassidy, calmamente. - Por favor, Stef continue.
D e Stef? Que tipo de apelidos eram esses? Fiquei em transe por alguns minutos, imaginado quando eu iria acordar daquilo tudo no meu apartamento em Nova Iorque e continuar minha carreira de policial. Levantei desnorteada com as mãos na cintura, andando de um lado para o outro pela sala. Ninguém parecia estar à vontade com aquilo, com exceção de Damon, que fazia questão de demonstrar impaciência.
- Nós mentimos quanto a situação dela - sussurrou Stefan, ele parecia envergonhado.
- Isso eu já percebi! - respondi, arrogante e dei-lhe as costas.
- Me desculpe ,, só que não podíamos confiar nossa historia assim. - Damon bufou e voltar a se encostar ao sofá. - Podia ser perigoso; a nossa família é tradicional de Mystic Falls.
- Mas por que não confiaram em mim? Eu dei motivos para isso? - perguntei, muito zangada. - Vocês me fizeram acreditar que essa garota estava morta e que eu podia ser a reencarnação dela. - Sorri com ideia que agora me parecia absurda.
- Por favor, me poupe de suas crises de TPM. - De repente, Damon se levantou e saiu da casa, batendo a porta com força.
- Não foi por isso, mas as pessoas que são transformadas têm diferentes personalidades, . Você estava nos caçando quando viva. O que me garantia que não continuaria quando...
- MORTA! - gritei com toda a raiva que consegui acumular.
Ele não conseguiu conter a vergonha e eu estava muito satisfeita em saber que era assim que ele se sentia. Não suportava mentiras e agora estava vivendo em uma. Quer dizer que eu tinha dado minha vida por um blefe. Estava realmente muito irritada e precisava de solidão.
- Preciso sair! - disse.
- Não! - Stefan se levantou rápido e segurando meu pulso com força.
- Como é? Você não manda em mim. Aliás, nenhum de vocês. E eu quiser sair, vou sair. - Flexionei meu ombro e desci rápido, puxando meu braço de sua mão.
Stefan me olhou, triste, e deu as costas, vencido. Saiu do meu caminho e sumiu pela entrada da cozinha. Triunfante, subi as escadas, a fim de pegar minha bolsa e documentos. No meu quarto, fiquei sentada na cama alguns minutos, remoendo minha infantilidade. Havia ficado brava por besteiras. Talvez Damon tivesse razão; as minhas crises de TPM estavam para me matar, talvez estivesse em uma crise de negação tardia. Estava morta, isso era fato! Meu corpo apenas não estava acostumado com essa novidade.
Suspirei e arranquei minha Gucci de cima da cadeira de balanço disposta a ir o mais longe possível daquela família. Somente por essa noite, pensei.
- Não pode julgá-los por quererem se proteger! - A voz meiga de Cassi soou atrás de mim e eu estremeci com um susto discreto.
- É mal da família surpreender as pessoas dessa forma? - respondi, mau educada.
- Você é bem mal educada para uma garota! - retrucou Cassi, invadindo meu quarto.
- Ei! - protestei. Tarde demais, porém. Ela se fazia em casa.
- Você nem deixou que ele se defendesse, que tipo de pessoa é você? - eu me perguntava a mesma coisa. - Stefan é um rapaz muito responsável que assumiu muitas responsabilidades desde que Katherine surgiu em nossas vidas! - Ela fez uma breve pausa e eu aproveitei para perguntar.
- Katherine... Quem é ela?
- Um monstro! - ela se limitou nessa frase e seu olhar se perdeu, obviamente, nas lembranças do passado. - Ele era tão jovem e vívido. Ela destruiu o meu irmão. - Seu olhar tão azul quanto dos outros dois se encontrou com o meu. - Damon não, sempre foi o cafajeste que é hoje, só que, claro, que mais honrado. Sabia que ele serviu o exército e recebeu medalhas de condecoração? Os destinos estavam traçados: Damon seria a força física da família e Stefan a alma! Papai nos moldara para que o nome Salvatore perdurasse por séculos. - Ela sorriu. - Mal sabia o coitado que nós duraríamos por séculos.
- Desculpe, Cassidy, não estou entendendo o que quer dizer! - exclamei, realmente confusa.
- O que quero dizer, Srtª. , é... - Ela levantou-se e veio na minha direção. - Você tem muita sorte por ter os dois apaixonados por você. - Eu arregalei os olhos. - Ah, sim! Stefan e Damon a amam, acredite em mim. Eu os conheço há mais de 150 anos. - Ela tocou meu ombro gentilmente.
- Espera! - Eu ofegava as palavras. - Eles me disseram que você estava morta! Damon me disse que casaria com você, mas... Você é irmã dele. - Ela segurou o vestido, levantando-o e voltou a se sentar na cadeira de balanço. Seu sorriso dessa vez nostálgico.
- É estranho pra você, não é? Como vocês chamam isso hoje em dia... Ah, sim! Incesto. Mas posso garantir a você que era totalmente normal há um século e meio atrás. E lamento ser eu a te dar essa notícia, mas não estamos todos mortos? Eu, você, Stefan e Damon? - Bom, ela tinha senso de humor. Negro, mas tinha. - Eu nasci somente para ser sua esposa, papai estava prestes a morrer e via seus dois filhos às voltas com uma mulher que ele sabia que não se encaixaria na família, então ele simplesmente decidiu que eu seria a esposa de Damon, mesmo que isso significasse a união entre irmãos.
Eu senti a cabeça rodar e procurei um apoio. Sentei na cama e respirei fundo, tentando assimilar cada palavra que saía daquela boca pequena e rosada.
- Qual sua idade? - perguntei, por fim.
- Eu tenho 157 anos, mas morri com 17! - Ela riu, dessa vez divertida. - Engraçado, não?
Eu não respondi e ela parecia não esperar mesmo uma resposta, apenas se levantou e saiu do quarto. Eu fiquei ali, remoendo aquelas novas informações. Na verdade, eu não havia sido enganada. A idade sim era uma mentira, mas quanto à morte de Cassidy, Damon jamais entrara em detalhes. Fiquei ali por um tempo, e resolvi de súbito que devia desculpas à um certo rapaz. Tirando coragem de onde não mais havia, fui até a cozinha vagarosamente e vi que Stefan estava na bancada com um copo do que eu reconheci como sendo o coquetel do qual ele se alimentava: sangue animal. Ainda nem tinha me movido e ele se virou, lançando o azul brilhante dos seus olhos sobre a minha pessoa. Por um segundo esqueci o que tinha ido fazer ali.
- AH! - foi tudo que consegui balbuciar, feito uma primata. Fiquei ali parada na porta perdida naquele azul.
- O que você quer? - a pergunta não me pareceu rude, mas percebi que ele estava chateado.
- Sua irmã me esclareceu a situação - falei, assim que consegui recuperar a voz.
- Cassidy... - ele murmurou para si mesmo, mas eu ouvi.
- Você é muito bom, Stefan. Eu não quis fazer com que se sentisse mal. Eu fiquei chateada pela falta de confiança, mas sei que só estava tentando proteger sua família. Desculpe-me! - disse, por fim.
- Não importa mais, estamos expostos agora. - Ele bebeu o último gole de sua bebida e puxou-me pela mão.
- Aonde você está...
- Shi! Vem comigo.
Saímos jardim afora e quando me dei por mim, ambos corríamos em uma velocidade sobrenatural, o vento batia em meu rosto, meus cabelos esvoaçavam atrás de minha cabeça e o cheiro da floresta me parecia muito mais forte do que antes. Em todos os lados, podia ouvir o barulho dos pequenos animais que ali viviam e caçavam sua comida.
Chegamos então à um lugar muito bonito. Havia as ruínas de uma construção que devia ser majestosa há anos atrás.
- Havia uma igreja aqui! - disse ele. - E... - Incapaz de terminar a frase, ele me olhou suplicante.
- Eu entendo. Não peço que desvende todos os mistérios dos Salvatore de uma vez - falei, me aproximando dele. - Quero apenas que confie e mim.
- Eu confio.
Suas palavras foram seguidas por seus atos. Em um minuto estávamos a um metro de distância, e no outro ele me segurava firme em seus braços, que não deixavam nada a desejar se comparados com os do irmão. Fiquei estupefata com a atitude dele, mas confesso que não tinha vontade de pará-lo, mesmo que uma voz insistente gritasse dentro de mim, alertando contra minha imprudência. Olhei naquele mar azul, disposta a dizer a ele o quanto aquilo era embaraçoso, mas seus olhos se limitaram a devolver um brilho incomum e apaixonante.
Ele tomou-me em seus braços, pressionando sua mão contra minhas costas, tinha cuidado comigo, ao contrário de Damon. Beijou-me e entendi finalmente os filmes românticos, as descrições de que o chão sumia embaixo de nossos pés. Senti-me pisando em nuvens de algodão e correspondi ao seu beijo na mesma intensidade. Sua língua ansiava por mais e desbravava cada canto de minha boca. Deixei-me ser levada por aquele impulso insano e agradável. Em seguida, suavemente, ele me puxou para mais perto de si e parou um pouco o beijo.
Perguntei-me se estaria arrependido e logo constatei que não. Ele apenas deixou que eu procurasse sua boca sequiosamente, enquanto uma de suas mãos acariciava minhas costas a outra seguia a curva das minhas coxas ainda por cima do tecido da calça.
As preliminares não foram muito longas; perdi completamente a noção de que aquilo era errado. Apenas me deixei levar pela louca vontade de ter Stefan, e ele parecia compartilhar desse mesmo sentimento.
Sua boca tocou a pele fina de meu pescoço e joguei a cabeça para trás, soltando um gemido estrangulado de prazer, entregue as carícias dele. Naquele momento, a roupa em meu corpo pareceu pesar toneladas. Ela apenas atrapalhava. Afastei meu corpo do dele e retirei sua camisa, e ele fez o mesmo comigo. Stefan era muito mais gentil e carinhoso; era uma nova experiência para mim. Quando seus lábios atingiram meu seio, senti um formigamento lá embaixo, e uma enorme vontade de gritar de prazer. Estremeci com sua mão, que abria o zíper da minha calça.
Em segundos, estávamos seminus e abraçados. Se suar ainda fosse possível, naquele momento estaríamos literalmente molhados de prazer. Quando senti que Stefan estava quase tirando sua calça, recuperei um pouco da sanidade e reuni toda a força de vontade que ainda tinha para balbuciar.
- O que você está fazendo? - perguntei. Realmente achei que ele não chegaria a tanto. Afinal, tinha namorada.
Ele não respondeu; apenas me olhou, curioso, com um meio sorriso nos lábios. Ele se parecia muito com Damon agora.
- Não, não quero! - exclamei, depois de pensar no que fazíamos.
- , depois do que acabou de acontecer, esta é uma declaração completamente sem sentido. - Seus olhos me deixavam louca, não podia encará-lo. Virei o rosto, na esperança de que assim fosse mais fácil resistir.
- Não, não posso... Não podemos! - Separei-me dele e peguei minha blusa. Vesti-a rapidamente e prendi os cabelos em um rabo de cavalo desajeitado.
- Desculpe se te forcei a alguma coisa. - Ele também vestiu a camisa e passou a mão nos cabelos já bagunçados, com um ar desapontado.
- Foi para isso que me trouxe aqui? - perguntei, petulante.
- Não! - Ele parecia à beira de um ataque de nervos. - Queria te contar o porque Cassidy apareceu. Mas acho que devo fazer isso na presença de outras pessoas, já que parece que somos incapazes de ficar sozinhos sem cometer deslizes.
Não entendi o que ele quis dizer com isso, apenas assenti, e na mesma velocidade que viemos, voltamos para a residência Salvatore.


CAPÍTULO TRÊS
Follow me down/Siga-me para baixo

Para mim, a luz do sol não era realmente benvinda. Tinha que me trancar naquela casa sozinha enquanto os dois bonitões usavam aquele anel maravilhoso e exibiam suas belezas na rua. Era totalmente entediante zapear aqueles canais bobos o dia inteiro. Quando ficava ociosa em casa, ainda viva, tomava potes de sorvete em frente à TV, vendo filmes de terror. Mas naquela condição, não sabia se era uma boa ideia.
- Droga! O que eu não daria para tomar um sorvete - balbuciei, tocando na tecla CH do controle remoto freneticamente.
- Tecnicamente, você pode. - Cassi sorriu ao meu lado. Usava hoje um vestidinho de verão branco com flores vermelhas.
- O quê? - perguntei, olhando-a curiosa.
- Nossos órgãos funcionam como de os de um humano vivo, apesar de estarmos...
- Mortos, entendi. Continue! - Ordenei, me arrumando no sofá para ouvi-la mais confortável.
- Sim, mortos. Enquanto você estiver alimentada, seu organismo estará trabalhando perfeitamente. Nós usamos café para ajudar a circulação sanguínea; a cafeína é ótima se vista sob este aspecto. Nosso coração não bate, então se você não se mantiver em movimento constante, o fluído que corre dentro de você pode coagular. - Com certeza, Cassi Salvatore era a garota mais inteligente que eu havia conhecido.
- Muito bem, então! Que tal um sorvete? - perguntei, animada, para a garota que sorriu tristemente.
- Você não pode sair à luz do sol, esqueceu? E acho que meus irmãos não tomam sorvete de sobremesa depois da refeição. - Então ela abaixou a cabeça e fitou as mãos.
Pela primeira vez percebi que a garota tinha um anel igual ao de Damon e Stefan. Ela retirou-o do dedo e me entregou.
- Tome, isto vai te ajudar. Acho que não precisarei dele tão cedo. Podemos dividir. - Ela me parecia muito mais amável agora que já convivíamos juntos por quase duas semanas.
- Obrigada, Cassi. - Se pudesse chorar... Bom você já sabe.
Em meses, era a primeira vez que eu ia sair à luz do sol. Estava apreensiva e eufórica para ver novamente aquela bola amarela de fogo queimando infinitamente no céu. O dia estava realmente muito bonito, ou talvez eu somente estivesse com saudade daquela luz. Tremi quando a brisa suave tocou minha pele, varrendo meu rosto com um cheiro suave de flores do campo. Desci as escadarias da varanda em silêncio e tentei ser discreta. Se alguém me observasse, com certeza imaginaria que eu era uma visitante na casa Salvatore. Olhei de relance pela janela de vidro colossal da entrada e vi o rosto de Cassi me fitando. Não sei bem dizer o que ela pensava, pois a poeira embaçava o vidro, impedindo a leitura total de sua expressão. Tinha certeza que seu olhar se fixava em mim, mas apenas segui adiante.
Por um momento imaginei se Cassi não tinha usado o pretexto do sorvete para me dar aquele anel. Apesar de meiga, aquela menina me parecia fria e calculista. Dignei-me então a pensar em baunilha ou flocos, e segui adiante. Mas espera! Eu não tinha carro... Como ia chegar até a cidade? Lembrei da minha velocidade e por um átimo achei que ela seria o suficiente. Ledo engano! Eu não possuía controle sobre ela, e sempre que tentava acelerar o passo acabava tropeçando nos pés e caindo. Quando me dei conta, estava completamente perdida no meio da floresta.
Com uma vertigem de pânico, comecei a rodar em um movimento de rotação, buscando uma árvore conhecida, um sinal que me desse a direção correta de volta para a civilização, mas meu corpo parecia cansado demais. Difícil acreditar, que eu , uma imortal, estava tendo esses tipos de crise e com o um arroubo que encheu meu pulmão de ar, acabei por perder os sentidos.

- , acorde! - ouvi o sussurro calmo e abri os olhos devagar.
Eu não estava em um lugar conhecido. Era frio e o silêncio feria meus tímpanos acostumados ao barulho. Olhei para cima e vi um estranho que se movia com delicadeza sobre meu corpo, quando a minha visão se acostumou com todo aquele verde, reconheci Stefan, que tinha a testa franzida em preocupação.
- O que aconteceu? - perguntei, apesar de ter uma vaga ideia.
- Você estava desmaiada na floresta. - Sua voz me pareceu no mínimo curiosa, e podia imaginar por que. Uma vampira desmaiada não é coisa que se vê todo dia.
- Ah! - exclamei, tocando minha nuca, que parecia estar machucada e de novo lembrei: não posso mais ser machucada. Estou morta.
- Cheguei em casa e Cassi me disse que você saiu para comprar sorvete! - Ele não pareceu satisfeito. - Não devia se arriscar por aí, sabe que ainda não domina sua força e seu instinto.
- Aonde estamos? - perguntei, me dando conta que ainda não tínhamos saído da floresta.
Ele não respondeu; continuou com sua explicação, parecia que derramava as palavras para me esconder alguma coisa.
- Stefan! - Segurei seus ombros e o fiz olhar para mim. - O que aconteceu? De verdade, sem rodeios!
- Você atacou uma pessoa! - ele disse de um suspiro e se levantando, pôs as mãos na cabeça.
Eu não conseguia me lembrar de quando isso tinha acontecido. A última coisa da qual tinha lembrança era de ter visto a floresta rodar antes de cair. Sentei mais confortável e assimilei devagar suas palavras, repetindo-as mentalmente, como se isso fosse torná-las mais reais.
- Eu ataquei? Não, não é possível, Stefan. Eu estava correndo e... desmaiei. - expliquei a ele.
- , encontrei você ao lado do corpo de um homem. Olhe para si mesma, veja as provas. - Stefan me pareceu descontrolado.
Olhei para minhas roupas e minha blusa azul marinho estava manchada na altura do pescoço e busto de um roxo escuro e grudento. Passei o dedo pela enorme mancha e olhei o vermelho vivo na minha pele pálida. Arregalei os olhos e quando pus as mãos no rosto, elas ficaram grudentas da mesma substância que estava em minha roupa. Stefan mantinha distância, talvez achando que se ficasse muito perto eu o atacaria. Concentrei-me em sorrir amarelo e me fazer acreditar que aquilo tudo era uma ilusão de ótica, mas as provas gritavam em cima de mim. Eu havia matado alguém.
- Acho que você deveria ficar em casa, e vou ter que pedir que devolva este anel à Cassi, e se ela não o mantiver guardado terei que tomá-lo. - As últimas palavras ele sussurrou para si mesmo.
Levantei, limpando minha calça com cuidado para que também se sujasse de sangue e respirei fundo. Não foi uma boa ideia. O cheiro de cobre e ferrugem que invadiu meus pulmões sem atividade foi extremamente convidativo, e juro por tudo que é sagrado para mim, precisei de toda a força de vontade do mundo para me livrar do desejo desesperador de sugar sangue naquela hora.
- Vamos! - Nem tinha percebido que Stefan estendia sua mão para mim, em um gesto que eu considerei afetuoso.
E de mãos dadas, seguimos juntos de volta para casa.


CAPÍTULO QUATRO
Take a bite of my bad girl meat/Experimente um pouco da minha carne de menina má

Eu me considerava uma ameaça para qualquer um que se aproximasse, então meu netbook e eu ficamos trancados por vários dias naquele quarto que fazia questão de manter escuro. A noite não me era tão monótona, já que Damon se fazia presente para sua diversãozinha noturna. Confesso que me sentia suja com ele, mas como resistir a um homem cujo caráter sempre te chamou a atenção e te seduz com um olhar?
Começava a acreditar que havia algo errado comigo, ou com minha transformação. Por que aqueles vácuos em minha cabeça? Por que eu era tão vulnerável ao poder de Damon? Por que eu não consegui negar-lhe o sexo? Por que, por que, por quê... Eles invadiam minha cabeça rodando por meus pensamentos e forçando meus neurônios.
- Sabia que agora você me parece morta? - Damon disse, certa noite, enrolado em meus lençóis.
- Sabia que essa não é a forma correta de elogiar uma mulher? - disse eu, soltando-me de seu abraço e sentando na cama.
- Desculpe, - ele tocou a pele de minhas costas causando o leve arrepio -, mas eu não estava elogiando!
Olhei para ele, incrédula. Não sabia se virava a mão em seu rosto ou sorria de sua petulância; escolhi a segunda opção.
- Você é realmente um cavalheiro, Damon Salvatore! - exclamei, me levantando, totalmente consciente de minha nudez.
Andei pelo quarto daquele jeito provocante até encontrar minhas roupas que como sempre estavam espalhados pelos quatro cantos do cômodo. Sorri ao vestir minha saia de cintura alta, lembrando de como ele a tirara. Ainda assim ele não me satisfazia mais como antes. Talvez o encanto estivesse se quebrando.
- Bom, acho que está na hora da refeição! - Damon disse, também se levantando e vestindo-se, ao contrário de mim com muito mais agilidade.
- Quando vou consegui fazer essas coisas? - perguntei.
Damon virou para mim; seus olhos azuis dizendo que ele não havia entendido minha pergunta.
- Correr com rapidez sobre-humana e ter essa agilidade e equilíbrio... Há meses estou nessa condição de semi-vida e ainda não sei nem me alimentar sem deixar resquícios.
- Leva tempo para se acostumar. - Ele fechou o zíper da calça e sua voz me pareceu sombria.
Em alguns minutos, estávamos na sala. Ele seguiu para a porta e a abriu com rapidez, saindo sem dizer uma palavra. Cassi, que não desgrudava da TV, virou-se para mim e, com sua sinceridade mortal, afirmou:
- Você o deixou zangado! - E sem esperar réplica ela continuou tomando seu coquetel de sangue e vendo "Os Simpsons".
Sentei na mesa com a cabeça dando mil voltas e sorri para Stefan quando ele depositou uma xícara de café na minha frente. O azul daqueles olhos me pareceu opaco, cansado e triste. Não queria ser intrometida, mas viver naquela casa devia me dar a liberdade de perguntar por que ele estava tão desanimado. Passei o dedo indicador pela borda da xícara até conseguir coragem para levantar a questão.
- O que há com você, Stefan? Está me parecendo cansado hoje! Isso é natural? - Tentei parecer displicente e tomei um gole do café.
- Não é nada, . - Ele não foi grosso; apenas pareceu que o assunto não era agradável.
Por experiência própria sabia que guardar mágoas e problemas sozinho era muito complicado e se insistíssemos nisso uma hora tudo ia explodir da pior forma possível.
- Sei que não quer falar, mas já sabe que pode confiar em mim. Estarei sempre aqui, não é mesmo? - Achei que a nota de humor o fizesse relaxar.
Ele sentou com sua caneca acinzentada na mão e suspirou, passando a mão nos cabelos castanhos e desalinhados.
- Elena! Isso foi o que aconteceu - falou ele.
- Vocês brigaram? - fiquei curiosa, eles pareciam tão em sintonia!
- Ela acha que eu estou deixando Damon fazer o que quer na cidade. Mas não posso detê-lo, pois sem sangue humano não forte o suficiente para isso. - Naquele momento pude compartilhar da angústia dele.
Cassidy havia me dito que Stefan havia assumido muitas responsabilidades, e agora eu percebia que era sempre ele quem estava à frente de todos os problemas, resolvendo tudo da melhor maneira possível. Tentando proteger todos nós das garras dos caçadores da cidade e sempre fazendo de tudo para que os humanos de Mystic Falls tivessem uma vida tranquila e longa.
- Não é só isso, é? - falei e engoli em seco com a lembrança que veio em minha mente. - Naquele dia... nas ruínas da igreja, você ia me contar alguma coisa. O que era, Stefan? - Pulei a parte que ele avançou em mim e eu correspondi do mesmo modo.
- É complexo! - ele respondeu, ainda sem tomar um gole do conteúdo de sua caneca. - Cassidy não está aqui por acaso; ela veio nos alertar de algo muito perigoso. Eu esperava que ao ver nossa irmã, Damon se mostrasse mais interessado na família, mas tudo que ele pensa é mulheres, sangue, poder e Katherine. - A raiva era perceptível na voz outrora calma e paciente de Stefan.
Katherine... Novamente aquele nome. Por que todos daquela família estavam envolvidos com essa mulher ou garota? Eu não entendia, mas queria pode compreender e se eu não perguntasse nunca iria obter algumas respostas.
- Quem é Katherine? - Dessa vez fiz questão de mostrar interesse.
Ele se aprumou na cadeira e olhou fundo em meus olhos, abriu a boca para falar, mas parece que desistiu. Toquei sua mão queria encorajá-lo se fosse um dos assuntos difíceis Salvatore, queria que ele soubesse que eu estaria com eles, seja o que fosse.
- Katherine foi um monstro que surgiu em nossa vidas. Ela é responsável pelo que somos. - Isso eu já sabia, cortesia da Salvatore mais nova. - Ela envolveu a mim e a Damon com sua beleza. Acredito que ele se apaixonou de verdade, mas para mim ela era apenas uma paixão induzida. Nunca a amei! - Seus lábios se tornaram uma linha ao continuar. - Quando ela chegou, achei-a a criatura mais adorável. Era frágil ao sol e muito delicada. Passava o dia trancada no quarto, mas à noite ela se tornava uma mulher poderosa, e sabia como enfeitiçar um homem. Ela nos contou seu segredo e só fui perceber o quanto era perigosa quando, certa noite, me disse que faria de mim e do meu irmão seus eternos escravos. Meu pai era um dos caçadores da época e notou que Katherine não era uma garota normal, então ele armou uma emboscada com verbana e ela caiu direitinho. Eles a prenderam junto com outros 26 vampiros naquela igreja e atearam fogo na construção.
- Oh! - exclamei, perplexa. - Ela morreu? - Para minha surpresa, ele balançou a cabeça negativamente.
- Damon a salvou de um modo que eu jamais acreditaria. A garota que cuidava dela era uma bruxa e prendeu a alma de Katherine em um cristal, cristal esse que Damon procura incessantemente a fim de trazer esse monstro de volta à vida. E sinceramente, já perdi as esperanças de detê-lo.
- E Cassi, como ela... Você sabe! - Desejei de todo o coração que aquela dor de Stefan sumisse, mas agora que ele resolvera se abrir precisava ir até o fim.
- Minha irmã ficou muito doente assim que papai morreu. Antes de falecer, ele disse que eu devia fazer o que estivesse ao meu alcance para protegê-la de qualquer mal.
Eu jurei pela minha mãe... - ele hesitou antes de prosseguir. - Eu estava cuidando dos negócios quando soube que ela agonizava em casa por culpa de um gripe que se abateu por toda essa região. Não havia cura! Eu já era um vampiro - ele sorriu, sarcástico -, presente de Katherine em nossa última noite juntos, e não tive saída quando a vi gritar de dor e sua febre só aumentar. Pedi aos criados que me deixassem a sós com ela e prometi que faria tudo melhorar!
- Então foi você! - sussurrei.
- Sim! - foi tudo que ele disse e percebi que o assunto estava encerrado.
Levantei lentamente e dei-lhe um beijo na bochecha, afaguei seus cabelos com carinho e sorri.
- Você é um rapaz incrível, Stefan!
- Você ainda não sabe do pior! - Seu sorriso era melancólico e arrastado. O que seria pior do que carregar a morte da irmã?


CAPÍTULO CINCO
The truth is sexy/A verdade é sensual

- Ah Meu Deus! - eu quase gritei, então pus as mãos sob a boca para abafar. - Então não podemos ficar aqui!
- Levantaria muitas suspeitas se do nada fôssemos embora, . - É, ele tinha razão, make sense.
- Mas... mas eles estão nos caçando! - Eu me senti um animal qualquer na mira de espingarda.
- É, mas temos que manter a calma.
Stefan havia me contado que Cassi estivera escondida durante muito tempo em uma casa no meio da floresta, onde quase ninguém conseguia chegar. Apenas ele e Damon conheciam o lugar exato, mas por algum motivo alguns caçadores encontraram a pequena casa e mataram a mulher (vampira), que cuidava dela. Para se defender a garota teve que atacar alguns deles, e isso explicava o vestido ensaguentado, ela então correu até a casa dos irmãos e contou tudo a Stefan, que tentou compartilhar (e eu era testemunha "viva"), por diversas vezes o problema com Damon, que ignorava tudo. O risco de sermos descobertos era enorme agora ele fazia de tudo para esconder qualquer corpo encontrado, para que não houvesse pistas de vampiro algum.
- Mas Stefan, nós somos inocentes sobre tudo isso não é? - perguntei.
- Eu acredito que sim. - ele me olhou e ficou assim por alguns segundo até baixar a cabeça.
- Então há outros vampiros em Mystic Falls; não é perigoso para nós?
- , estou preocupado que Damon tenha encontrado uma forma de libertar Katherine.
Sem motivo aparente, um frio percorreu pela minha espinha e algo dentro de mim ficou inquieto e nervoso. Respirei fundo, tentando controlar aquela sensação nova dentro de mim. Perguntei a mim mesma porque eu estaria tão preocupada com Katherine se segundos atrás nem sabia quem era ela, e por mais estranho que possa parecer, eu tinha medo que algo de ruim pudesse acontecer com ela.
Fiquei confusa, mas não podia trair Stefan porque seria deslealdade e se tem uma coisa que aprendi quando viva em minha breve passagem pelo F.B.I. é que devemos ser leais aos nossos parceiros, e era assim que eu o via. Stefan Salvatore era meu parceiro na busca pela sobrevivência.

Fiquei sem dormir por dias, mas isso não iria influenciar em nada pela manhã, já que eu não precisava mesmo dormir. Acabei descobrindo mecanismos que funcionam em mim apenas para que eu ficasse mais parecida com um humano, mas não adiantava nada tê-los nesse momento, porque eu não saía de casa há semanas desde o incidente na floresta.
Porém, uma situação ainda me intrigava. Há alguns dias eu vinha acordando ao lado de Damon sem lembrar do que acontecia ou de como ele tinha parado lá. Aqueles vácuos mentais estavam se tornando constantes, e a minha cabeça parecia pesar quilos quando eu finalmente dava por mim. Quando forçava os acontecimentos esquecidos ou apagados, ela doía mais ainda, me fazendo desistir de lembrar.

Cada canto do meu quarto tinha sido remexido por mim que, sem ter o que fazer, resolvi arrumá-lo. O resultado foi um desastre: tudo fora do lugar. Ainda não tinha caído a ficha de que eu estava correndo perigo, um perigo que podia estar rondando a minha janela. Olhei pela grande abertura fechada por vidro no meu quarto e lancei um olhar sorrateiro para fora, me escondendo na escuridão para que se realmente houvesse alguém, não me visse.
Quando deixei a paranóia e deitei de lado em minha confortável cama, ouvi passos que vinham para meu quarto; foi o tempo de sentar para ver Stefan bater na porta já aberta e sorrir tímido, pedindo para entrar.
Convidei-o a sentar na cadeira de balanço, mas ele recusou e preferiu ficar em pé. Por alguma expressão em seu rosto percebi que ele não estava à vontade e tentei deixá-lo confortável, me levantando também e sentando no batente da janela. Talvez me ver na cama pudesse ser constrangedor.
- Eu... vim te propor uma coisa, , e desculpe ser em cima da hora! - disse ele, ao longe, olhando para um quadro estranho na parede.
- Sim...
- Você já está há bastante tempo presa nessa casa, e acho que se não tiver a oportunidade de lidar com seus medos e insegurança nunca poderá sair daqui. - Ele me pareceu sincero.
- O que você quer me propor? - perguntei, ciente da roupa que ele usava: uma camisa roxa e por cima um paletó preto e a calça risca de giz também preta, que realçava sua pele pálida e os olhos azuis. Os cabelos pareciam cuidadosamente penteados para trás, mas teimavam em pender alguns fios que caíam em sua testa.
Ele me olhou por alguns instantes antes de responder e baixou a cabeça, sorrindo torto. Segui seu olhar e vi que nos pés ele usava um sapato social. Geralmente ele não andava assim em casa.
- Hoje seria aniversário de Cassidy, e acho que devo uma diversãozinha a ela. - Ele continuava de cabeça baixa e então olhou-me profundamente - Queria muito que viesse conosco, ! - completou.
- Stefan... - fiquei maravilhada com o convite e tudo que consegui fazer foi abraçá-lo.
Ele saiu e eu fiquei desesperada ao perceber que não tinha nenhuma roupa digna de festa. Mexi em todas as minhas gavetas, mas tudo que encontrei foi um jeans Calvin Klein bem antigo. Sentei na cama, segurando minha calça velha; tinha certeza que se pudesse chorar estaria em um berreiro só agora. Então batidas na porta me surpreenderam.
- ! - Damon me pareceu cordial, e também estava perfeito naquela noite, mas vou precisar olhar um pouco mais para descrevê-lo, aquela figura máscula ainda mexia muito com meus hormônios. - Achei que você talvez fosse precisar disso. - Ele depositou com cuidado nos meus braços um vestido lindo ainda com o saco da lavanderia, seu sorriso era límpido e livre de qualquer sarcasmo. - Acertei?
- Em cheio! - Sorri e ele tocou em meus ombros, fazendo uma massagem que não pude recusar.
- Desculpe se tenho sido rude com você. Sabe que gosto muito de estar contigo, não? - A voz meio rouca e sensual dele me deixou tonta e o perfume que ele usava também.
Fechei os olhos, focalizando todos os meus pensamentos nos dedos ágeis que agora desciam pelos meus braços. - Esta noite te apresentarei a todos como minha.
Eu não respondi; só abri os olhos quando ele se afastou de mim. Agora sim! Posso dizer com certeza que a roupa que ele usava era totalmente glam. A camisa azul claro estava coberta com um paletó de um só botão que se mantinha fechado. A calça skinny masculina acentuava os músculos de sua coxa, mesmo não sendo tão apertada. Sapatos sociais e, completando aquela visão do paraíso, uma echarpe roxa estava largada em volta do seu pescoço.
- Vou deixar que se arrume agora! - virou-se e saiu.
Fiquei pensando se eles tinham combinado sobre a cor roxa, porque o vestido que se encontrava em cima da minha cama agora era da mesma cor que a echarpe de Damon e a camisa de Stefan, e minha feminilidade se recusava a acreditar em coincidências. Terminei de me maquiar, calcei o sapato de camurça com salto 18 cm que havia ganhado da minha mãe (isto parecia ter acontecido há séculos) e fiz minha entrada triunfal, lá embaixo. Damon me esperava e pude ver que seus olhos ficaram maiores quando me viram naquela roupa, e qual não foi minha surpresa quando ele ofereceu-me seu braço e beijou meus lábios com um carinho que eu jurava não ser dele.
Stefan estava parado na sala com a costumeira pose: mãos nos bolsos. Cassi sentada de pernas cruzadas e mais moderna do que qualquer outra garota em sua saia tulipa de cintura alta e uma blusa branca, lisa e justa. No pescoço, um cordão comprido e nos pés um salto alto lhe deixava mais alta.
- Gostou, ? - ela perguntou, com um sorriso ao notar meu olhar.
- Você esta linda! - respondi.
- Damon quem escolheu! - ela olhou para o irmão amorosamente.
- Então ele tem bom gosto. - Brinquei.
- Claro que tenho, , escolhi você. - Ele apertou meu braço e eu sorri, envergonhada.
Stefan não olhou para nós continuou com a visão focada nos pés, e por sua falta de expressão julguei que não estivesse vendo-os de verdade.
- Ainda temos tempo? - perguntei para ele, tentando colocá-lo no assunto.
- Um pouco - quem respondeu foi Damon e Stefan me olhou pela primeira vez.
- Gostaria de dar meu presente para Cassi! Vem comigo. - Desvencilhei-me de Damon e estendi a mão para ela, que andou devagar até mim.
- O que é? - ela perguntou e eu pisquei, sem responder.
Subimos devagar por conta dos saltos, deixando os garotos sozinhos na sala. Sentei Cassi na minha cama e tirei todas as minhas maquiagens da bolsa, junto com o secador e a chapinha. O cabelo comprido e ondulado dela me daria menos trabalho.
Quando terminei, ela estava quase irreconhecível. Tinha uma maquiagem escura e esfumaçada em volta dos encantadores olhos azuis; as maçãs do rosto naturalmente rosadas foram realçadas com blush e o gloss incolor deu volume aos seus lábios. O cabelo liso estava preso em um rabo de cavalo que me deu muito trabalho fazer. Enfim, ela estava perfeita.
Tomei-a pela mão e lhe entreguei um pequeno espelho vi quando seus olhos brilharam e seu abraço me pagou todo o trabalho.
- Acho que já demoramos muito. - Brinquei e voltamos para a sala.
Damon e Stefan estavam parados do mesmo jeito que deixamos e pareceram gostar da imagem da irmã. Stefan ofereceu o braço para ela que agradeceu cruzando as pernas e se agachando um pouco, como faziam as moças da época deles. E então saímos os quatro rumo a algum lugar que já nem me importava mais, pois estava muito feliz com tudo aquilo.


CAPÍTULO SEIS
You want a piece of me?/Você quer um pedaço de mim?

O clima ameno do restaurante; era como um tranquilizante natural. As pessoas bem vestidas conversavam animadas e em tom educado. Quando chegamos um maitre nos levou até a mesa que o próprio Stefan reservara. Imaginei porque ele não tinha convidado Elena, será que a briga havia sido feia? Afastei aqueles pensamentos e segurei firme em Damon, que puxou a cadeira para mim e fiquei mais admirada do que já estava. Ele parecia um cavalheiro do século retrasado.
Eu ouvia cada ruído e juntei todo meu auto-controle para resistir ao barulho dos corações e do sangue correndo na veia de cada pessoa que ria ou comia naquele lugar.
- Cardápios? - perguntou o garçom, que se aproximara discretamente.
Todos nós aceitamos um e Cassi parecia confusa, ao que me pareceu, ela não sabia ler e segurava o cardápio de cabeça para baixo. Carinhosamente, o irmão mais novo ajudou a menina a escolher. Por fim, estávamos todos comendo educadamente, um programa de grego se considerássemos que não precisávamos daquilo. À certa altura, resolvi perguntar o que estávamos fazendo ali, já que a comida não era nosso atrativo principal.
- Porque é um dia importante, e os humanos vão a restaurantes caros em dias importantes - respondeu Cassi, como se tirasse uma conclusão óbvia.
- Cassi pediu para trazê-la a um restaurante! - Stefan deu de ombros e sorriu tímido.
- Sim, está tudo muito bem, mas onde vamos depois daqui? - Damon se manifestou pela primeira vez desde que chegamos ao restaurante.
Nenhum de nós havia tocado na comida a ponto de saboreá-la, por mais de meia hora ficamos sentados conversando coisas banais. O assunto principal eram as séries de TV que Cassi assistia o dia inteiro.
Quando deu dez horas, nós saímos. Eu e Damon fomos no carro dele enquanto Stefan e Cassi seguiram para casa no carro de Stefan.
- Aonde vamos? - perguntei me esticando na poltrona do passageiro.
- Boate - ele disse, sem tirar o olho da estrada. - Na cidade vizinha.
- Se é tão longe, por que está encostando o carro? - reparei que ele estava diminuindo a velocidade.
- Porque quero te ensinar um truque, ! - Ele abriu a porta do carro e me levou até a floresta, que estava escura e sombria. - Não precisa ter medo, você está comigo. - E depois de um pausa, ele acrescentou, olhando fundo em meus olhos. - Katherine!
Quando fiz menção de falar, sua mão tapou minha boca com força e balançou uma pedra amarelada na minha frente; aquele cristal brilhou intensamente e eu não sei o que aconteceu depois, porque quando acordei, estava deitada em uma cama de dorsel com o dia claro e vestida com muito pano.

- Oh! Que bom, senhorita, pensei que teria que chamar o Sr. Salvatore - disse-me uma mulher negra, que vestia roupas antigas.
- Onde eu estou? - perguntei, confusa, e passei as mãos no rosto para tentar acordar. Ao fazer isso, notei que usava um anel igual ao de Damon e Stefan.
- Como assim? Está na residência dos Salvatore! - Neste momento, batidas na porta assustaram à nós duas e eu levantei tonta para me olhar no espelho.
- Katherine! - eu reconheceria essa voz em qualquer lugar.
- Damon! - exclamei feliz, ele poderia me explicar o que acontecia.
Porém aquele Damon não era o que eu conhecia. Usava uma camisa branca e suspensórios, estava bronzeado e me pareceu suado, apenas um detalhe continuava o mesmo: seus brilhantes olhos azuis, mas estavam bem menos arrogantes e seu sorriso era franco e sincero.
- Vim convidar a Srtª. Katherine para dar um volta pelo jardim, Emily - ele disse olhando para a outra mulher.
- Me desculpe, senhor, mas é que a Srtª. Katherine estivera meio indisposta esta manhã. Se não se importa, ela prefere descansar.
Observei toda aquela cena calada e não pude conter um passo para trás quando ele avançou ligeiro até mim e beijou a costa da minha mão, deixando a minha pele quente e dormente onde ele tinha encostado os lábios.
- Minhas sinceras melhoras, Katherine - disse ele, sorrindo gentilmente. Por que ele me chamava de Katherine?
A resposta eu não cheguei a descobrir, porque simplesmente tudo se dissolveu ao meu redor, como cera quente, e a floresta escura ficou visível novamente. Esperei alguns momentos de olhos fechados para ter certeza que tudo voltara ao normal, e quando os abri, deparei-me com o rosto de Damon a centímetros do meu.
- Katherine? - ele perguntou, suavemente.
Eu dei me arrastei para trás, tropeçando em um galho que fez um estalo alto e olhei feroz para Damon.
- Não se aproxime mais de mim! Não sei o que você pretende, Damon, mas já cansei dessa tal brincadeira. Cansei! - E saí em disparada pela estrada, voltando para Mystic Falls.
Eu não sabia o quanto ia demorar para chegar em casa, então tirei meus saltos e sentei as plantas dos pés no asfalto morno da noite. Comecei a apressar o passo esperando que isso me mantivesse afastada de Damon. De vez em quando dava olhadas furtivas para trás, me certificando de que ele não estava me seguindo.
Peguei meu celular e levantei ele acima da cabeça, mas a operadora insistia em mostrar uma mensagem:

Somente Emergência

- Isso é uma emergência - sussurrei, cortante, para mim mesma.
Mas acho que vão concordar comigo de que não podia chamar a polícia, o que garantia que eles continuassem vivos depois de topar comigo totalmente fora de controle?
Continuei a andar pela estrada até que uma luz iluminou as minhas costas. Virei e percebi que o único farol que se aproximava dividiu-se em dois. Quanto mais perto ele chegava, mais certeza eu tinha de que era Damon, então como se eu sempre soubesse daquilo, respirei fundo e coloquei toda a minha força no diafragma e as coisas ao meu redor pareceram apenas borrões. Enfim eu tinha conseguido correr como sempre desejara. Corri a estrada inteira e em questão de minutos estava de volta a Mystic Falls, em casa, os pés em carne viva e se recuperando rapidamente. Sorri extasiada e entrei. Cassi, como sempre, estava sentada na frente da TV. Com rabo de olho ela me viu e voltou sua atenção total ao seriado que assistia. Procurei por Stefan para relatar o que tinha acontecido comigo, mas quando estava na cozinha, senti alguém atrás de mim.
Damon!
Virei de supetão com a mão erguida para lhe dar um tapa, mas a pequenina mão que me impediu docemente; não poderia ser dele. Cassi me olhou profundamente curiosa, seus olhos azuis fazendo um raio X da minha pessoa, afastei-me dela.
- Ele não está aqui, - ela falou humildemente. - Acredito que tenha ido até a casa de Elena. Seu celular tocou; ele mandou que eu ficasse e saiu em disparada.
Ela continuava com aquelas safiras brilhantes e eu desviei meu olhar do dela e sem lhe dirigir a palavra fui para meu quarto.
Eu não devia estar exausta, mas me sentia um lixo. Forcei os olhos como se derramasse lágrimas, mas tudo que consegui foi ficar com a cara enrugada; nem para isso eu servia mais. Sem poder conter qualquer sentimento de repulsa contra Damon, eu apenas deitei na cama macia e adormeci.

- Sua vadia! - Damon abriu a porta tão rápido que ela bateu com violência na parede e voltou-se contra ele, que a parou com a mão antes que tocasse seu corpo.
- Damon, por favor, deixe-a em paz! - guinchou. Cassi segurava o braço dele. - Por favor, por favor...
- O que é isso? - gritei, me levantando resoluta da cama. Estava disposta a enfrentar aquele homem.
Damon me olhou. Seus olhos vermelhos pareciam pegar fogo e eu estaria em pânico. Se eu não tivesse a mesma capacidade, mas não iria usar dela. Não neste momento.
- ! - O som da sua voz arrepiou todos os pelos do meu corpo e senti um baque onde deveria estar batendo meu coração.
- Damon, eu não sei o que quer de mim, mas por favor... Me deixa em paz! - exclamei, cerrando os punhos.
- Damon... - Cassi tentou intervir, mas ele a empurrou para fora do quarto e fechou a porta. Senti minhas pernas bambearem quando ele trancou-a na chave.
- Eu queria poder poupar você, , eu realmente gosto de você. - Ele sorriu. - Você é perfeita para mim! - Levaria suas palavras como elogios, mas a circunstância não me davam esse capricho.
Lentamente, Damon veio até mim, segurou meus ombros delicadamente e apertou-me contra seu tórax.
- Seu corpo... seu hálito...
Eu não sabia o que falar. Senti-me paralisada, como se dependesse daquele abraço para viver.
- Katherine! - O nome dela saiu como um sussurro em sua boca.
- Damon, por Deus, me explica o que tenho a ver com essa Katherine!
Eu estava prestes a descobrir o que me ligava àquela mulher, mas Stefan entrou rude e enraivecido dentro do quarto, seguido por uma Cassi mais pálida do que o normal, que segurava as mãos em forma de oração. Ela lançou um olhar envergonhado a mim e saiu correndo do quarto, deixando apenas um brilho prateado e sobrenatural para trás.
Damon me largou, como se meu corpo tivesse lhe dado um choque, e olhou para o irmão com aqueles olhos brilhantes e infantis.
- Oi, irmãozinho! - Sua voz marota estava um pouco trêmula.
- Damon, eu não acredito que você continua com essa loucura. - Stefan controlou ao máximo sua voz.
- O que está fazendo aqui? Pensei que tivesse ido atrás de sua namorada adolescente. - Ele sentou em minha cama, um sorriso bobo enfeitando seus lábios.
- Não interessa, Damon, você precisa parar! - continuou o irmão mais novo.
Aquela curiosidade foi dando um pulo e se tornou uma raiva incontrolável. A palpitação dentro da minha cabeça chegou ao auge e eu explodi.
- PAREM COM ESSA IDIOTICE! ESTÃO ME ENLOUQUECENDO.



CAPÍTULO SETE
I cut you off, but always take you back/Eu te dou um fora, mas sempre te aceito de volta

Ambos me olharam da mesma forma; eu não soube distinguir o sentimento por trás daquele mar de safira, apenas retribuí o olhar e eu estava sinceramente muito irritada com aquela briga familiar idiota, por diversos motivos. Primeiro, o que tinha dado na minha cabeça para dar minha vida assim, de mão beijada a alguém que mal conhecia? Segundo, por que Damon me contou sobre Cassi? E o mais importante era porque ele mentiu sobre ela. Terceiro, Stefan e Damon eram irmãos, e com vida eterna. Se eu não fosse filha única com certeza não iria discutir com o meu irmão ou irmã constantemente, eles iam ter que se entender.
Mudando completamente de postura, Damon passou as mãos delicadamente por suas madeixas cor de ébano e sorriu, já seu irmão me pareceu mais infantil que nunca, porque fechou a porta depois que gritei e pude ouvir seus passos pela sala. Ele andava de um lado para o outro, inegavelmente nervoso.
- Me desculpe ter gritado! Eu não...
- Você precisa morrer, ! - disse Damon, displicente, como se fosse natural falar isso para alguém, mesmo esse alguém sendo o que eu era.
- Como assim? 'Tá enlouquecendo de vez seu maníaco? - O que eu estava dizendo? Derramando todo meu vocabulário adolescente em cima de um homem como Damon. Palmas para a rainha dos condenados.
- Você é mesmo burra, hein? - Ele sorriu abertamente e seus olhos se tornaram malignos. - Katherine ainda está viva, seu corpo definha a pele e ossos por culpa do imbecil do Stefan. Ele não a amava e ela precisou induzi-lo, mas a mim... Por mim Katherine tinha paixão, ela me amava de verdade e eu nunca precisei de nenhum de seus poderes para corresponder esse sentimento! - Sua voz rouca alternava-se entre graves e agudos. Hora de raiva e de tristeza. Eu ouvia calada esperando obter as minhas tão esperadas respostas. - O cristal daquela bruxa vai trazer de volta sua alma para mim, infelizmente seu corpo já não é mais tão atraente. - Virando-se de repente para mim, ele avançou e segurou meu queixo, quase me levantando do chão. - Você devia sentir-se honrada, vadia estúpida, por eu te achar devidamente capaz de ser minha Katherine!
Suas palavras entraram pelos meus ouvidos, invadiram meus tímpanos e se largaram em meus pensamentos. Então era isso! Ele nunca me amou de verdade. A mulher que Damon desejava estava debaixo das ruínas de uma igreja de 1864, definhando sua morte prematura. Eu era apenas a casca, que ele queria vazia o mais rápido possível, afim de colocar dentro a alma de sua tão adorada... Katherine. Sem me dar conta do que fazia, minhas unhas cravaram em seu pulso em desespero por liberdade, e nem assim ele me largou. Seus lábios amassaram os meus em mais um de seus beijos violentos, sua língua forçava entrada em minha boca totalmente cerrada que impedia que ele fosse adiante com seu plano. Suas mãos largaram meu pescoço e seguraram meus braços para trás, como uma algema faria, sem movimentos eu apenas tentei desviar meu rosto do seu, mas fui punida com um tapa doloroso que ardeu por meros segundos do lado direito do meu rosto.
A continuação do seu beijo foi mais lenta e menos vigorosa, agora apenas uma de suas mãos me prendia enquanto a outra seguia as curvas do meu corpo apertando cada parte dele dolorosamente. Eu ainda relutava ao beijo de olhos abertos, mas quando Damon passou sua língua quente e áspera pelo meu pescoço, analisando sua presa. Eu me deixei levar pelo calor que aquilo proporcionava. O homem à minha frente prendeu-me na parede e eu fiquei sem saída; àquela altura era eu quem não queria uma saída. Pressionei minhas mãos em seu peito musculoso, sentindo cada parte daquele corpo que me desejava tanto quanto eu o desejava. Deixei que seu beijo me invadisse por completo, e dessa vez e a mão em minhas costas abriu o grande zíper do meu vestido, fazendo-o cair por completo. A peça tomara-que-caia não me permitiu o uso de sutiã, e ali estava eu, vulnerável aos desejos sádicos de Damon.
Sem mais nem menos me vi presa ao dossel da cama, os olhos azuis me fitaram maliciosamente, e os dedos ágeis dele trataram de traçar caminhos em minha barriga descoberta, me fazendo estremecer de desejo e gemer de vontade de tê-lo mais uma vez.
- Viu como você gosta, ? Podia jurar que você espera por isso toda noite quando deita sua cabeça no travesseiro. - Ele sorriu para mim, seus dentes perfeitos aparecendo todos para zombar da minha submissão. - Vamos ver o que tem para mim.
Sua mão penetrou em minha calcinha de renda branca e tocou em meu clitoris, à esta altura minha vagina já dava sinais de estar completamente pronta para recebê-lo. Não sei por quanto tempo ele continuou naquela loucura, porque apaguei.
Quando acordei, ele estava deitado em cima de mim, em movimentos bruscos de vai-e-vem. Senti todo sua masculinidade me invadir e tocar a entrada do meu útero; ele não estava preocupado com o que fazia a mim, só queria prazer e mais prazer. Damon continuou seu ritual do sexo e minhas mãos, já livres, cravaram em suas costas largas, arranhando-as e fazendo-o soltar suspiros em meu pescoço. Eu gemia de prazer, até sentir todo o peso dele se largar em cima de mim. Ele tinha acabado.
Sem dizer uma palavra, ele levantou. Vestiu-se e me deixou sozinha no quarto, com meus medos e insegurança. Dessa vez percebi a burrada que tinha me metido, e como nunca havia acontecido antes, eu estava apavorada. A pergunta era: se Damon conseguisse me transformar em Katherine, eu continuaria sendo a ou iria regredir junto com aquela vampira e ser a Katherine? Meu lábio inferior tremeu e eu achei que sabia a resposta.
Era hora de dar o fora dali.


CAPÍTULO OITO
Don't let it rot and let be with no sun/Não deixei apodrecer e ficar sem sol

- Mas o Stefan vai brigar comigo, . Você não imagina o quanto ouvi quando o emprestei - disse Cassi, chorosa.
- Preciso de sua ajuda. Se não me emprestar o anel, Cassidy, seu irmão Damon vai trazer Katherine de volta e no meu corpo! - Não havia porque esconder.
- Não, ! - disse ela, acenando energicamente com a cabeça. - Você não entende... Vão matá-la de qualquer jeito! - Seus olhos se tornaram vagos e sem brilho.
- Do que você está falando, Cassi? Eu estou morta! Tudo bem? - perguntei quando vi seu corpo amolecer e seus olhos adquirirem um tom cadavérico e esbranquiçado.
- Sangue, têm muito sangue e também corpos. São vampiros... Há fogo e morte por todo lado. Não quero ficar aqui, me tira daqui... - Então Cassi caiu, desfalecida, no sofá. Sabia que ela estaria bem, afinal, estava morta e não podia morrer de novo. Peguei o anel de seu dedo e, olhando-a com ternura, balbuciei um pedido de desculpas e fui embora.
Tentei correr, mas ainda era um técnica difícil de dominar, então fui até a garagem. Ia fazer uma ligação direta (aprendida no curso intensivo da polícia secreta) e fugir para bem longe.
Encontrei o carro de Stefan. Parecia coisa de filme, mas a porta estava aberta e chave na ignição. Sentei cuidadosamente no banco do motorista e girei a chave no contato, e como que por mágica ouvi um barulho de algo arrastando. Olhei pra fora; Stefan se levantou e me tirou do carro com violência.
- O que pensa que está fazendo? - disse ele, com raiva, me segurando pela braço, sua testa levemente enrugada.
- Eu... Nada! - desconversei, mas a bolsa que eu carregava me denunciou.
- Você não pode fugir do problema! - ele suspirou, como se já soubesse que eu ia tentar fugir. - Damon vai te encontrar, não para trazer Katherine dessa vez; se você o trair ele te destrói.
A palavra 'destrói' ficou vagueando pelo meu ouvido, como eco. Não conseguia emitir nenhum som.
- Stefan, não quero ficar inconsciente dos meus atos. - desabafei. - Isso para mim é como... Morrer!
- Eu não vou deixar que nada te aconteça, , estou aqui para te proteger de Damon, nem que isso custe minha existência.
Segurei a vontade de abraçá-lo, dizer o quanto ele era especial para mim e como conquistou minha confiança, então a única coisa que consegui dizer foi:
- Obrigada!
Peguei minha bolsa e caminhei vagarosamente de volta para a casa. De repente, toda minha auto-confiança se dissipou. Estava na varanda quando Stefan gritou da garagem.
- Devolva o anel de Cassi! - Não era uma repreensão; seu sorriso se estendia de orelha a orelha e me contagiou com uma repentina alegria também.
Abri a porta e dei de cara com Cassi, que me olhava, envergonhada.
- Desculpe, , mas você foi a única que ouviu! - ela disse, com os dedos entrelaçados na altura da barriga.
- Ouvi o que, Cassidy?
- Quando eu fiquei em transe, não sei o que falei. Preciso saber para alertar Stefan.
Com um suspiro eu entendi que precisava enfim saber o que acontecia entre Stefan e Cassi, eles pareciam ter um segredo que não compartilhavam, mas aquele não era o momento, porque eu sinceramente precisava esvaziar minha cabeça de alguns pensamentos e reunir algumas informações mentais para afastar Damon de mim, coisa que era praticamente impossível, eu ainda tinha uma paixão avassaladora por ele.
- Desculpe, Cassi, mas pode me dar licença? - Dizendo, isso fui lhe empurrando de volta o anel, mas parei na escada para dizer. - Obrigada! - E segui adiante sentindo o olhar da garota pousado em minhas costas.
Antes porém de conseguir alcançar meu quarto, senti que ela avançou em mim e pela gola da minha blusa pólo puxou-me para trás com muita força. Eu voei e bati na porta dos fundos, Cassi parecia outra e estava com a feição muito zangada. Ela pulou em cima de mim e segurou meus cabelos, puxando minha cabeça para trás, sua respiração tão calma quanto a de um bebê, seus lábios tão finos quanto uma linha.
- Olha aqui, você pode ser queridinha do Stefan e do Damon; fazer deles o que bem entender, mas há uma coisa que precisa saber! Todo mundo aqui corre perigo e se não colaborar eu vou ter que arrancar a sua medula óssea, entendeu? - Sua voz era completamente estranha, rouca e parecia mais um sibilar de cobra.
- Você está machucando minha blusa! - balbuciei, reunindo forças para me levantar, e com a mão esquerda empurrei-a e tirei aquele corpo de 17 anos de cima de mim, mas Cassi foi ágil e com um pulo delicado ela ficou de pé e arrumou o cabelo.
- Assim seja! - disse ela. - Depois não diga que não avisei... .
Ouvi meu nome naquela boca delicada e pronunciado com tanto rancor me fez ter um leve susto; também arrumei minha roupa e abri a porta do último quarto à esquerda e entrei rápida, assustada.
- "Meu Deus, eu estou em Oz e esqueci meu sapatinhos de rubi" - sussurrei uma frase do livro Anjos e Demônios, que por ironia combinava perfeitamente com o que eu vivia.
Deitei exausta, ainda de dia. Senti fome, mas não podia fazer nada, não àquela hora. Então para me livrar daquele desejo sanguinário preferi dormir, um sono calmo, sem sonhos e sem pesadelos.

- Vamos lá, , a noite é uma criança. - A voz que me acordou era brincalhona. Não demorei em reconhecer Damon, como sempre de tons escuros e sensual.
- Para! - A minha voz saiu abafada por conta do travesseiro que coloquei sobre minha cabeça.
- O que há, garota? Vamos, sei que está com fome. - Ele puxou meu cobertor e me pôs de pé.
- Por que não me deixa em paz? Meu Deus, já cansei desses ataques bipolares - falei.
- Bipolar? Eu? - zombou ele. - Você que me dá um fora, e depois se derrete nos meus braços. - Sua voz sexy me fez ofegar.
- Que seja! - Levantei e peguei um casaco; eu sabia que não podia confiar nele, só que tinha algo que me prendia naquele homem.
Damon me tomou pela mão e levou-me para seu carro.
O carro era espaçoso e estava quente. Um cheiro de morango invadiu minhas narinas para passear em meus pulmões. Sentei calmamente, esperando Damon tomar seu lugar de motorista e respirei fundo quando ele girou a chave na ignição. Dei uma espiada na casa e vi que Stefan estacionava seu carro e da janela observava-nos, não muito satisfeito.
- Vou logo avisando; uma gracinha e eu te mato - falei, como se pudesse realmente fazer isso.
Ele sorriu e me olhou. Fiquei completamente perdida em suas brilhantes íris.
- Antes que você ache que quero matar você, vou te dar um presente, . Prova de confiança, hein! - ele encostou o carro e do porta-luvas tirou uma caixinha de veludo azul marinho. Eu ofeguei e olhei-o, assustada.
Damon me oferecia a caixinha que parecia ser de uma aliança de compromisso. Ainda sorrindo, ele me encorajou a abri-la e, com os olhos fechados, eu o fiz. Deparei-me então com um cordão, lindo, que tinha a mesma pedra que estava incrustada no anel de Damon. Eu retirei a delicada corrente de prata da proteção aveludada e manipulei-a entre os dedos trêmulos. Segui até o pingente com o dedo indicador e toquei nele, que pareceu vibrar com meu toque.
- Eu... - Suspirei. - Eu agradeço.
- Não é um presente qualquer, . - Ele tomou o colar da minha mão e prendeu-o no meu pescoço rapidamente, virou-me de frente para ele e encarou meus olhos. - É isso que vai te fazer andar de dia como nós. Agora você é livre. Viu? Nem Stefan confiou tanto em você, . Quando vai entender que não quero te magoar, hum? Gosto de te sentir - Ele passou as costas da mão em minha bochecha fria. - e você gosta de ser tocada. Por que não confia em mim?
- Porque você quer me transformar em Katherine! - respondi sem pensar. Ele se afastou de súbito e tomou o volante novamente.
- Eu não quero isso - ele disse, mas não me convenceu.
Paramos em uma lanchonete, mas não entramos para fazer pedidos. Ele me puxou pela mão e nós dois corremos rapidamente pela floresta, alcançando a mata virgem com uma rapidez sobrenatural. Ele passou por entre umas árvores e me chamou com um sorrisinho cínico.
- Olha ali! - ele sussurrou.
Eu olhei e vi duas garotas deitadas no capô de um carro grande. Nada demais até elas começarem a se agarrar e Damon soltou um barulho estranho de sucção ao meu lado. Eu virei meus olhos para ele, franzindo a testa.
- Não é uma coisa que se veja todo dia nesse fim de mundo - disse ele.
- Afinal, onde estamos? - perguntei.
- Onde casais apaixonados vêm olhar as estrelas. - Tinha sarcasmo na sua voz.
Eu só suspirei e continuei olhando. Se eu pudesse, iria vomitar. As garotas estavam se despindo agora e eu sabia que Damon estava adorando aquilo. De repente, ele saiu detrás das folhas e caminhou languidamente até as meninas, que de início não o viram, mas depois se assustaram e tentaram se cobrir. Uma delas falou para ele que não se aproximasse que ela tinha uma arma, mas sua voz trêmula denunciou a mentira.
- Podem continuar. Não se importem comigo, estou aqui com minha namorada para olhar as estrelas. - Dizendo isso, ele olhou para onde eu estava e estendeu a mão.
Andei até ele, ainda desnorteada pelo barulho que o coração da garota que falara com Damon fazia; podia ouvir o pulsar de seu sangue e aquilo para mim era tortura.
- Podemos até fazer parte dessa festinha. A aqui simplesmente adora, não é? - Ele olhou para mim e sorriu, malicioso.
Eu não respondi; apenas olhei-o confusa. Então ele me soltou e foi para cima das duas. Claro, calmamente. A essa altura, elas já tinham se vestido e procuravam a chave do carro.
- Procuram por isso? - perguntou Damon, balançando um chaveiro fofo e rosa em suas mãos.
Eu estava parada, sem poder me mexer ou respirar. Controlando-me para não atacar ninguém naquela noite – missão quase impossível.
- Achei jogada no chão. - Ele poderia ganhar um Oscar, por sua atuação medíocre e convincente.
- Por favor, não nos faça nada! - disse a garota morena, assustada.
- Eu não vou fazer nada - mentiu ele, como era de se esperar.
Em um movimento brusco e repentino, ele abriu a porta do carro e passou por dentro dele, prendeu uma das garotas no banco de trás e segurou a outra. Olhando para os olhos dela, que eram verdes e brilhavam de lágrimas. Ele começou a induzi-la.
- Quero que você amarre sua amiga lá dentro, com sua blusa, se precisar. Depois volte aqui e tire sua roupa. - A garota assentiu e entrou no carro.
Damon veio até mim e me abraçou pela cintura.
- Vamos nos divertir, .
Meu corpo desfaleceu e a única coisa que vi antes de apagar foi o cristal de Katherine


CAPÍTULO NOVE
No good girls ever go to heaven/Meninas ruins nunca vão para o céu

Quando acordei, estava presa dentro do carro de Damon. Tentei abrir a porta, mas ela estava travada. Pude observar ao longe a silhueta de Damon iluminada por baixo; uma luz forte e amarela vinha de baixo do morro, ao fundo as ondas quebravam na praia.
- Eu não aprendo! - gemi, tentando destravar o carro manualmente.
- Não mesmo! - Damon surgiu na minha janela, sorrindo. - Vamos para casa, então.
- O que aconteceu com as meninas? - perguntei.
- Queimei as duas.
- O quê? - alarmei. - Você as matou?
- Nós as matamos, você não lembra? - Ele pareceu animado com a possibilidade.
Eu baixei a cabeça, torturada por meus pensamentos.
Ele entrou no carro e deu partida. Meu cinto estava amarrado, de um modo que eu não podia soltar e apenas lacei-lhe um olhar fulminante.
- Desculpe se não está confortável, mas é que Katherine esteve meio... incontrolável. - Ele não me pareceu satisfeito ao falar o nome dela.
- Katherine? - sussurrei.
- É, Katherine. - Ele continuou com os olhos na estrada. - Você nunca se perguntou sobre esses seus lapsos de memória?
Fiquei muda. Claro que já tinha me perguntado por que eu fico sem memória, mas era um segredo que queria guardar somente para mim.
- Você é muito idiota, . Quer saber, quem cansou fui eu. - A velocidade do carro aumentou e eu esbugalhei os olhos; estávamos a 150 km/h.
- Damon... para! - gritei, tentando me soltar.
Ele acelerou na estrada e senti o carro dar um tranco, o grito ficou preso na minha garganta quando vi todo mundo olhando assustado para nós e a cara de psicopata de Damon ao meu lado. Com rapidez, girei meu corpo e coloquei a mão no volante a fim de virá-lo e tirá-lo do curso, mas foi em vão eu gritei e o vidro estraçalhou-se acima de nós.
Tinham cacos para todo lado, havia gritos e no capô tinha alguém que sangrava, meu corpo estremeceu quando o cheiro acre invadiu minhas narinas e se concentrou em meus pulmões. Damon não estava ao meu lado e eu deixei de respirar. No começou, minha cabeça rodou e eu fechei os olhos para não desmaiar, quando ouvi alguém bater no vidro em meio a balburdia que havia se formado.
- A senhora está bem? - perguntou-me um homem magro e eu só assenti. O cheiro de sangue era totalmente convidativo. - Vamos tirá-la daí, não seu preocupe.
- Onde está o motorista? - perguntei, baixinho.
- O quê? Eu não ouvi! Fique calma; os bombeiros já estão chegando. - Ele saiu, gritando.
Eu estava ali, com um braço quebrado que não doía e sem nenhuma vontade de fazer força para me levantar, mas se não o fizesse, seria achada e provavelmente morta pela "Liga da Justiça" que as famílias descendentes dos fundadores de Mystic Falls formavam, então com agilidade coloquei meu osso no lugar e me soltei de tudo que me prendia no carro. Olhei cuidadosamente para fora e as pessoas ainda arrulhavam em volta da garota que havia sido atingida. Ela nem estava tão mal; tinha um corte no rosto e isso a fazia gritar. Eu pude ouvir uma mulher suspirar entre a multidão e falar baixo demais para ser ouvida. "Por favor, não dêem um espelho à ela", usei dessa pequena distração e saí pela janela. Uma garotinha me viu e puxou a roupa da mãe, que estava absorta em olhar para a menina que ainda gritava. Eu pus meu dedo indicador sob os lábios, pedindo silêncio. Por um instante ela parou e ficou olhando, assustada. Aproveitei que a janela do motorista tinha sido quase prensada na parede e saí de fininho indo na direção da porta dos fundos.
Entrei sem querer na cozinha, e um homem que eu achei que fosse o cozinheiro – por causa do chapéu – parou e me olhando aturdido com o telefone na mão; devia estar ligando para a família. Eu fiquei imóvel, sem saber o que fazer. Então me adiantei até ele e olhei fundo em seus olhos, deixando meu corpo fazer o resto.
- Você não me viu aqui, você não viu. Entendeu? - eu balbuciei, devagar.
- Entendi - ele respondeu, vago, com os olhos ligeiramente desfocados.
Eu me voltei para a porta, que dava para os fundos, e saí correndo para a noite escura.
A velocidade do meu corpo era normal, eu estava cansada e isso me pareceu irônico devido ao que eu era. Não quis chamar a atenção de ninguém, então respirei fundo e voltei a andar. A rua estava escura, mas eu podia me proteger, e muito bem, por sinal. Cruzei os braços na frente da roupa para que ninguém que pudesse olhar-me reparasse no sangue. E segui meu rumo, desolada e sem entender o que tinha acabado de acontecer.

Elena estava presente quando cheguei. Eu ofegava porque decidira correr; mesmo não precisando respirar constantemente, aquilo me acalmava. Olhei para a garota de olhos arregalados. No seu semblante pude ler preocupação, Stefan se levantou do sofá onde estivera acariciando os cabelos da namorada e abriu a boca para falar.
- Ainda bem que você conseguiu, ! - Percebi a nota sarcástica. Quem falou não foi Stefan e sim Damon, que sorria debilmente próximo a escada.
Andei devagar até ele, uma voz surgiu em minha cabeça do nada quase gritando: "Não faça isso, , você não deve sujar suas mãos." Ignorei-a e continuei a andar, meu olhos grudados nas íris azul safira de Damon, que brilhavam completando o sorriso sexy.
Meus pés inconscientemente me levaram até bem próximo de seu corpo. Senti um leve ardor nos olhos quando me transformei - Elena ofegou e Stefan sussurrou meu nome.
- ...
Damon não se afastou, mas seu largo sorriso vacilou alguns segundos. Agarrei seu pescoço com toda a força que pude, tentando sufocá-lo – sem efeito; ele não respirava. Afastei-me um pouco, tomando impulso, então pulei em cima dele, enlacei minhas pernas na sua cintura, o pegando desprevenido, e ambos caímos. Imobilizei seus braços com meu peso e então ele gargalhou.
- , o que está fazendo? Foi lutadora de boxe e não contou para nós? - ele ironizou.
Eu rugi para ele, irritada e humilhada.
- O que está... - Cassidy surgira na porta da cozinha, segurando uma colher. - Ora, faça-me o favor. - Ela voltou para dentro.
Com um movimento rápido, Damon me pôs embaixo do seu corpo, pôs sua boca na minha orelha, fazendo os pêlos do meu corpo se arrepiarem com o estímulo humano.
- Você é patética, ! - ele sussurrou e se levantou, jogando a cabeça para trás em sua inconfundivelmente gargalhada e foi para seu quarto.
Elena relaxou no braço de Stefan.
Eu subi logo em seguida; sabia que se ainda corresse sangue nas minhas veias, eu estaria ruborizada de humilhação. Meneei a cabeça para fitar meus pés e passei pelo casal, que não tentou me impedir. Vaguei em silêncio até a porta do meu quarto e fechei-a devagar. Deitei a cabeça no travesseiro, alguma coisa me incomodou e eu passei a mão na nuca, de lá tirei um caco de vidro e fiquei tensa ao perceber a aberração em que tinha me transformado, e novamente senti pena de mim mesmo por amar Damon. Eu estava presa naquele romance ruim.
A porta se abriu devagar e eu me enfiei embaixo do edredom e dos travesseiros. O cheiro me avisou de ante-mão que era Stefan quem me visitava.
- Você está bem? - perguntou-me.
Não respondi.
- Damon é completamente insano! - ele disse. - Vou ter que sair agora e tentar consertar as coisas, mas não sou tão forte quanto ele; temo que as pessoas comecem a lembrar do que aconteceu.
Continuei calada, com o rosto enfiado no travesseiro. O ruim era que justamente no tecido macio o cheiro que estava impregnado era o de Damon.
- Quer conversar, ?
- Vá se ferrar! - sussurrei abafadamente e ouvi quando ele saiu.
Eu sei que não devia ter sido rude, mas queria um tempo só para mim. Era pedir demais? Não, não era. Tanto que logo depois a porta abriu-se estrondosamente e uma voz quase infantil e irritada bradou quarto adentro.
- Por sua causa, Elena não provou da receita de molho de macarronada caseira da mamãe; obrigada pelo show! Tive tanto trabalho para fazer tudo. - Ela saiu depois que desabou sua frustração sobre mim. Permaneci calada e imóvel. Cassi e suas receitas eram as últimas coisas com a qual eu me preocuparia naquele momento.
Não dormi; acho que fiquei letárgica por horas, até que outra pessoa veio me despertar do torpor.
- Anda, o dia está belo e a fauna pede nossos caninos sedentos.
Olhei para a janela, os raios de sol se moldando à minha pele. Um sorriso tranquilo tomou conta de mim.


CAPÍTULO DEZ – De 10 ao 13 revisados por Caah Souza.
So That Life Move Along/Para que a vida possa continuar.

- O que está fazendo aqui, Damon Salvatore? – sussurrei, enquanto levantava da cama.
- Como assim, ? - ele bufou. - Vim te levar para o café da manhã!
- Por que fez aquilo? – perguntei, ressentida.
Damon deu uma volta rápida pelo quarto mexendo nas minhas coisas; olhou meus cadernos antigos e remexeu na minha maquiagem. Eu o acompanhava com os olhos, totalmente ciente dos seus músculos em movimento pelo quarto inteiro, de longe observei suas costas largas e não havia nada no mundo que eu mais adorasse em um homem do que costas e ombros largos.
- Hum... Quer mesmo saber? - ele perguntou, de repente.
- Se eu não quisesse, teria ficado calada! - Dei um passo em sua direção e ele veio rapidamente para cima de mim.
Damon me segurou pelos braços, me imobilizando; não tentei fugir, apenas tentei pensar em outras coisas que não seu corpo rente ao meu. Eu poderia ter saído daquele abraço com facilidade agora que começava a dominar minha força, mas meu corpo inteiro desejava que ele continuasse e fizesse muito mais do que somente me prender.
- Apliquei o teste final - ele sussurrou ao pé do meu ouvido.
- Que tipo de teste? - lutei para manter minha voz calma e centrada, mas a respiração regular de Damon no meu pescoço era um motivo bem forte para perder o fio dos pensamentos.
- Quer saber o resultado, ? - murmurou em meu ouvido - Você passou!
Senti uma leve picada na altura da cintura e soube, no instante que minha cabeça rodou, que Damon havia me dado verbena, daí foi só... Escuridão.

Quando acordei, estava em uma sala repleta de verbena, todas elas em mudas criadas longe do sol. Respirei para me acalmar e prendi a respiração logo depois, o cheiro da erva era muito forte para meu olfato supersensível. Tentei me levantar, mas estava muito fraca e minha garganta estava seca demais para conseguir pensar em outra coisa a não ser me alimentar. Damon então surgiu nas grades da porta e me jogou uma garrafa, olhei para o líquido vermelho visível através do plástico transparente e a fome só aumentou, mas o orgulho me fez virar de costas para Damon e a comida.
- Não me obrigue a entrar aí, . Você não iria querer isso. Coma! Katherine não iria gostar de receber um corpo faminto - dizendo isso, ele foi embora.
Forcei todos os meus sentidos ao máximo para não entrar de vez em pânico, a verdade dançava na minha frente, zombando da minha ingenuidade. O cheiro do sangue na garrafa agora me era repugnante mesmo com o que restava do meu estômago gritando por ele, não sentia o mínimo impulso de pegar o recipiente e tomar seu conteúdo. Enrosquei-me detrás de uma mesa, onde estavam algumas mudas de verbena e fechei os olhos, tentando a todo custo entrar naquele estado letárgico, quase zen e dormir para eternidade, mas a única coisa que consegui foi sentir a fome com mais intensidade.
- Dane-se! - Apertei minha barriga tentando abafar a vontade. - Se Katherine estiver com fome, ela que se alimente - sussurrei, ainda sentada.
Alguns minutos depois, eu estava mais calma. Com certeza, Stefan iria dissuadir Damon daquela ideia estúpida a tempo, mas no fundo já estava aceitando a idéia de desaparecer para sempre, eu já estava morta mesmo.
- Cassi! - sussurrei, alarmada. - Se eu gritar, ela vai me ouvir.
Levantei, reunindo minhas últimas forças, chutei a garrafa e fui até a porta. Mas antes que eu pudesse abrir a boca, Damon apareceu na grade, como se tivesse se materializado ali.
- Não faria isso se fosse você! - foi apenas um aviso e ele fechou a portinhola atrás das grades, vedando-me totalmente da vida lá fora.
Virei irritada, mas ainda estava muito fraca para quebrar alguma coisa. Sentei, vencida, no chão, esperando enfim a morte.

Era noite; eu podia sentir. O chão gelado não fazia efeito nenhum sobre mim, apenas a fome estava anestesiando meus pensamentos. Minha cabeça mais de uma vez se voltara para a garrafa de sangue jogada do outro lado do cômodo, mas havia jurado para mim mesma que ia definhar naquele corpo; eu não ia deixar Katherine me vencer.
A portinhola se abriu e virei minha cabeça vagarosamente para ver quem me observava.
- Eu não acredito que você não comeu, . - Damon abriu a porta e entrou, seus cabelos negros quase líquidos brilhavam intensamente a pouca luz.
- Eu não vou deixar você fazer nada comigo, Damon. - Minha voz saiu embargada, eu não teria forças sequer para me levantar, quanto mais para me defender de Damon.
Ele sorriu alto e se abaixou para pegar a garrafa.
- Não é uma opção, sou eu quem decide agora. - Ele a destampou e o cheiro era tão bom. - Não quero ver você fraquinha, , é melhor beber tudo.
Ele encostou o gargalo da garrafa nos meus lábios ressecados e quebradiços; fechei os olhos em êxtase ao sentir o perfume que exalava daquele líquido viscoso. Ouvi Damon sorrir enquanto eu sorvia cada gota do meu drink. Sei que eu tinha jurado não comer, mas você não imaginava o quanto meu corpo doía com a abstinência.
- Pronto. Não foi difícil! Agora levanta, temos que sair daqui. - Ele me puxou pelo braço e meu corpo semi desperto cambaleou.
- Aonde vamos? - perguntei, cansada.
- Terminar com isso.
Damon me pôs em seus ombros e a coisa aconteceu rapidamente, em segundos estávamos do lado de fora. As luzes começaram a se acender pela cidade e as cores do crepúsculo se desfaziam no horizonte em um púrpura sombrio. Entramos na floresta, eu mal conseguia distinguir os vultos das árvores tamanha a rapidez que ele corria, o verde-musgo que cobria o local era quase hipnotizante. Então, paramos de repente.
Damon me largou no chão, fazendo meu corpo inteiro se chocar contra a dureza da terra coberta de folhas.
- Ela não pode demorar - sussurrou Damon para si mesmo.
- Quem não pode demorar? – perguntei, um pouco mais consciente.
- Cala a boca e fica quieta! - ele bradou pra mim.
Fiquei estática e me levantei. Então, notei que onde estávamos era exatamente onde Stefan tinha me levado alguns meses antes, as ruínas da igreja agora eram assustadoras.
Estava de pé, escorada em uma árvore e arfava pesadamente.
- Até que enfim, pensei que não viria! - resmungou Damon para alguém que eu não via.
- Sabe que não arriscaria a vida de quem amo. - A voz rouca e feminina veio do meio das árvores e então eu a vi.
A mulher era alta, bem mais alta que eu ou Damon, ela usava uma calça apertada e uma camisa colorida. Seus pés estavam protegidos por botas de couro marrom, os cabelos espessos e encaracolados combinavam com a pele negra e a boca volumosa pintada de escarlate.
- Você é bem esperta, Trish. Agora comece! - ordenou ele, aproximando-se dela.
- Não antes de jurar que vai me deixar em paz depois disso, vai esquecer que eu existo? - ela falou, afrontando Damon.
- Pode ter certeza! - Ele sorriu calmamente e eu vi a mulher estremecer.
- E ela? Está pronta? - perguntou a mulher, apontando com a cabeça para mim.
- Sim, e não precisa se preocupar com a . Agora faça o feitiço. - Ele estava quase gritando; parecia ansioso.
A mulher foi para o meio das ruínas e largou sua mochila, que parecia pesada, no chão. Damon se aproximou de mim e segurou meu braço com força, senti que ele estava eufórico, mas eu ainda estava desnorteada e incapaz de me defender. Ele me virou de frente para seu rosto e esmagou meus lábios com um beijo frio.
- Em breve seremos só você e eu - retrucou Damon, seus olhos brilhantes e extremamente maldosos. - Só eu e Katherine.
- Por que está fazendo isso? – perguntei, fechando os olhos e sentindo o cheiro bom que emanava dele.
- Porque... Preciso! - Essa foi sua única resposta.
Arrastada pelo braço, fui posta ajoelhada no símbolo que Trish traçara no chão com giz. Ergui meus olhos para ela, mas a mulher não me dava a mínima e eu não podia a culpar, pois como qualquer outra pessoa, ela estava protegendo a si e a quem amava.
Trish levantou os braços e olhou para Damon, seus olhos brilhavam mais do que o normal.
- Acho melhor você se afastar, não vai querer estar perto quando isso acontecer - ela balbuciou, decidida.
Antes de se afastar, Damon entregou o cristal cor de âmbar para Trish. A mulher o pegou, ergueu mais os braços ao lado do corpo e levantou a cabeça, podia jurar que ela havia fechado os olhos. Os lábios começaram a se mexer formando palavras ininteligíveis. Eu comecei a ofegar e alguma coisa pareceu despertar dentro de mim, meu corpo inteiro começou a tremer e uma neblina sobrenatural pairou por toda a floresta junto com uma ventania sem precedentes. As árvores balançavam tanto que eu as imaginei caindo por cima de mim. Meu corpo estremecia em espasmos de incômodo e agonia. Eu já não respirava para poupar forças, mas estava quase impossível me manter sóbria.
- Está funcionando? - perguntou Damon, mas Trish não respondeu.
- O que está acontecendo? – guinchei, aturdida.
- ESTÁ DANDO CERTO? - Damon bradou ao mesmo tempo em que alguma coisa bateu em Trish, fazendo-a voar nos ares e pairar em cima de uma das árvores.
Então, vi o que a tinha atingido. Cassidy a segurava nos braços finos e infantis, a mulher tinha desmaiado.
- Cassidy... - sussurrou Damon.
Vi Stefan se aproximando e fiquei apreensiva quando percebi o sorriso de Damon que iluminava seus belos olhos.
- Você acha mesmo que pode me vencer, irmãozinho? - ele perguntou, sem se virar, e então se transformou.
Stefan e Damon voaram no ar, ambos se chocaram e caíram com graciosidade no chão, lutando com as presas à mostra. Os olhos, agora de um vermelho-rubi, estavam maquiavélicos.
Cassi deitou Trish no chão e veio me amparar, eu arquejava no chão ainda sentindo dores enormes que se espalhavam da minha barriga até a ponta dos dedos.
- Você está bem? - ela perguntou, passando o braço em meu ombro para me ajudar a levantar.
- Sim! Eu acho, obrigada, Cassi - disse-lhe, recuperando um pouco do equilíbrio.
- Ainda bem que conseguimos chegar a tempo. - ela disse aliviada, o corpo magro carregando todo o meu peso.
- Como soube o que estava acontecendo, Cassi?
- Eu sempre soube o que Damon ia fazer, , ele não teve dúvidas em nenhum momento. - Ela virou o rosto para mim. - Foi por isso que voltei, foi por isso que vim de onde vivia, para te proteger, porque essa sempre foi minha missão. Não podia deixar que ele te machucasse e eu já falhei. - Andamos até a floresta e ela me sentou em uma pedra.
- Você não falhou, está aqui me ajudando. Mas ainda não entendi...
- Eu tenho visões. No dia em que desmaiei, vi os vampiros morrendo aqui em 1864, mas Katherine não estava nela! - Um grunhido alto veio de onde os irmãos lutavam. - Preciso ir ajudá-los; não vou aguentar ver meus irmãos se destruírem.
- Me desculpe! - pedi.
- Não se desculpe, tive inveja de você por estar monopolizando meus irmãos. Queria que Damon gostasse de mim e me desse atenção como a você. Mas, , você é especial e nunca subestime sua verdadeira força. Lute sempre, nunca desista. - Cassi me olhou triste e partiu para ajudar os irmãos.
Não sei quanto tempo fiquei ali, ouvindo o barulho do embate que calou todos os animais da floresta e fez com que a noite se tornasse macabra. Então, tudo se calou.
Fiquei uns minutos sentada, o efeito da verbena quase totalmente dissipado. Aprumei a audição, mas o silêncio era tão profundo que feria os tímpanos. Levantei e fui até as ruínas da igreja, elas não deviam estar muito longe. Fiquei imóvel quando vi o que tinha acontecido. Um choque percorreu meu corpo e senti como se fosse chorar, porque meus olhos arderam, a força que pus nos músculos faciais que me transformei sem nem perceber.
Damon estava ajoelhado no chão; Stefan sentou encolhido com o rosto entre as mãos; Trish jazia morta, com as roupas totalmente ensanguentadas e Cassi...
Cassi tinha uma estaca de madeira branca enfiada no peito e seu corpo outrora jovem estava acinzentado e retorcido.
- NÃO! - gritei, enquanto corria para abraçá-la.


CAPÍTULO DOZE
I guess I don't know my own strength./Eu acho que não conhecia minha própria força.

Eu não quis acreditar, a pequena Cassi; seu corpo deitado como se estivesse se decompondo há anos e os olhos azuis agora esbranquiçados pela morte. Aproximei-me dela com a mão pairando sobre seu rosto, estiquei-me para tocá-lo, mas Damon me deu um tapa no braço.
- Não a toque! - disse ele. - A culpa é sua.
- Não a culpe, Damon, nós provocamos isso - Stefan disse, estranhamente, enquanto se arrastava até onde estávamos.
- Ela merece um funeral humano - balbuciei enquanto tocava a mão, agora cinza, de Cassi.
- Não fale como se você se importasse, ela não foi nada para você. Nada! - Damon despejava sua raiva em cima de mim. - E ainda por cima fico sem Trish, onde vou arrumar uma bruxa...
- Esquece isso, Damon! Será que nem perdendo sua irmã você consegue pensar direito? Katherine não retornará, nunca!
- Por favor, parem! - Minha voz embargada cortou a discussão.
- ... - Stefan passou seu braço em meus ombros.
Fiquei ajoelhada por alguns minutos, tentando absorver tudo ao mesmo tempo. Minha mente cansada não entendia as lacunas daquelas ações impensadas. Eu sabia que Damon amava Katherine, mas por que ele a queria tanto de volta? Se Stefan sabia que ela não iria retornar, por que expôs sua irmã àquele perigo? E a maior de todas as perguntas, o que eu tinha a ver?
Senti o celular de Stefan vibrar no bolso dele e percebi quando ele pôs a mão para atendê-lo; Damon levantou e passou a mão nos cabelos lisos, sua fisionomia sempre brincalhona agora estava enrugada e suas sobrancelhas grossas e perfeitas estavam juntas. Ele parecia preocupado.
- Temos que dar um fim nesses corpos - balbuciou para si mesmo, enquanto Stefan atendia ao telefone longe de nós.
Levantei também, procurei palavras que confortassem, mas eu não era boa nisso. Apesar dos pesares, eu ainda amava Damon e não havia apenas lhe entregado minha vida de mão beijada, eu tinha lhe vendido minha alma pela eternidade.
- Por favor, me desculpe – disse, sem saber pelo que me desculpava.
- Não é a mim que você matou, .
- Não matei ninguém, Damon, eu só... - As palavras simplesmente travaram e minha culpa pela morte de Cassi começou a pesar.
Nunca tinha percebido que a irmã era tão importante para Damon, ele parecia frio e às vezes alguém que tinha sentimentos, mas o que eu podia esperar de um vampiro que morreu há mais de uma centena de anos. Com certeza, não eram sentimentos concretos, isso já não pertencia mais a ele.
- Eu deixo, Damon! - disse sem pensar, mas convicta do que dizia.
Percebi que Stefan nos observava, mas não tinha certeza, eu estava de costas para ele.
- Não tenho mais nada a perder.
- Claro que tem! - interrompeu Stefan.
- O que? - gritei, descontrolada. - A vida? Amigos? Ah, não, minha família - ironizei. - Faça-me rir, Salvatore!
- , você não está levando em consideração...
- Será que alguém pode me explicar o que está acontecendo? - Damon perguntou, curioso, crispando os lábios em uma linha fina e tênue.
- Ela quer entregar seu corpo!
- Ótimo!
- Nada feito, Damon, eu não vou deixar!
- Stefan! É uma escolha minha - implorei.
Novamente me vi em uma dilema, minha escolha não estava feita. Stefan havia me confundido. Ao ver seus olhos me fitarem tristes, senti como se fosse morrer de desgosto, mas era a única saída para conseguir por um fim naquela batalha e talvez começar outra. E dessa vez eu não seria a culpada, porque eu nem estaria presente.
- Vamos para casa - disse Stefan.
Ele me puxou pela mão e nos fez correr da floresta até a casa, desviando de árvores com destreza. Não demorou e chegamos novamente à mansão dos irmãos Salvatore, a paisagem agora era desolada. Talvez pelo sentimento de luto que se abateu sobre nós ao olharmos o aparelho de TV moderno e contrastante com a sala antiga, desligado e controle largado de qualquer jeito no sofá de veludo cinza. A sensação de perda se intensificou cada vez mais, pelo menos para mim, parecia que tinham arrancado um dos meus membros e piorava ao lembrar as últimas palavras de Cassi para mim: “Foi por isso que voltei, foi por isso que vim de onde vivia, para te proteger.”
- Não, querida, você não falhou! - murmurei, baixinho, sentando no sofá e me encolhendo como uma bola. - Me perdoe.
- - sussurrou Stefan. - Preciso ir até Elena, ela está preocupada e... Não sei como ela reagirá à notícia.
- Não conte! - pedi, suplicante, ainda enroscada em meu próprio corpo.
- Preciso, ela não gostaria de ser enganada. Vai ficar bem?
- Se seu irmão me der uma folga, eu vou tentar! - A tentativa de fazer uma piada foi frustrada pela minha voz triste e embargada.
- Não brinque com isso - ordenou Stefan. - Se ele tentar alguma coisa, pegue isto. - Ele me ofereceu uma seringa de alumínio, estiquei meus dedos frios e peguei o objeto, hesitante. - Não precisa ter medo, é uma seringa de verbena, deixará ele imóvel tempo o suficiente para você fugir. Desculpe-me por não te tirar daqui, mas é que você ainda é muito jovem nessa existência e poderia machucar alguém. Terá que ficar conosco e encarar Damon de frente, eu sei que você é capaz! - dizendo isso, ele tomou a dianteira e partiu.
Fiquei deitada segurando a seringa na mão, a dor ainda estava presente e eu sentia a ponta dos meus dedos dormentes. A cor ia voltando aos poucos na minha visão que parecia ter ficado preta e branca durante horas, a casa parecia assombrosamente vazia. Fitei a escada por alguns segundos e então fui em direção a ela, subi cada degrau vagarosamente, ouvindo o rangido quase imperceptível que cada um fazia e então entrei em meu quarto!
Sentei na cama de dossel, fiquei olhando cada detalhe como se alguém tivesse mandado que eu os memorizasse.
- Nostalgia! - nomeei para mim mesma aquilo que sentia.
Tirei a roupa ali mesmo e me enfiei embaixo do chuveiro, largando a seringa de verbena na saboneteira de parede, onde eu pudesse facilmente pegá-la. Deixei a água lavar toda minha culpa, cada resquício dela. Não foi fácil, demorou até que eu me sentisse um mínimo aliviada. Enrolei-me na toalha - seringa na mão - vesti a roupa mais confortável que havia no meu guarda-roupa, o moletom que usava para fazer exercícios, o moletom do F.B.I. Só então parei para pensar no quanto tinha perdido, um homem e minha imprudência haviam destruído tudo de bom que eu tinha. Joguei-me na cama que rangeu sob meu peso e enrolei-me com edredom. Enfim a calma.

Sabia que eu havia ficado naquela mesma posição por horas, pois o sol já estava brilhando no céu quando resolvi que era hora de levantar. Saí do aconchego da cama e segui para a sala; deveria ter ficado no quarto, pois Damon estava sentado à mesa. Não parecia feliz e tampouco triste. Apenas conversava.
- Damon, não precisa fazer isso - era Elena.
- Não há motivos para eu estar aqui, Elena. Não tenho uma bruxa que me ajude com... Você sabe - com ela Damon parecia calmo, outra pessoa.
- Por favor - ela pediu e então vi que ele notou minha presença.
Contrariada, desci a escada por completo e me enrosquei de novo no sofá, não dei uma palavra nem a ele, nem a Elena, pois me senti traída por ela. Por quê? Por que Elena o acalmava daquela forma quando eu amava Damon com tudo que restava da minha alma e coração? Ela não havia sido capaz de dar sua vida pelo amor, nem mesmo por Stefan, então por quê?
- POR QUE VOCÊ ESCOLHEU ELA? - As palavras saíram como trovões, eu não pude segurá-las.
- !
Elena correu até mim e sentou no chão ao lado do sofá, onde eu escondia meu rosto entre as almofadas. Senti um carinho nos cabelos e soube na hora que a mão que os acariciava era a mão de Elena, só ela teria tamanho cuidado comigo.
- Desculpe - sussurrei, confusa.
- Tudo bem. Fique calma e tudo ficará bem - ela tentou me acalmar.
- Sinto tanto...
- Sei que sente, mas não adianta mais ficar nesse desespero. Cassidy teve uma vida longa e duradoura. Ela escolheu morrer para proteger a família.
- Não! Ela morreu por mim, ela disse isso com todas as letras. A culpa é minha!
Então, ouvi alguém se aproximar a passos pesados e compassados, deram-me a resposta de quem era. Damon!
- Não se culpe, eu vou embora!


CAPÍTULO TREZE
Becouse you are firework./Porque você é um fogo de artifício

Um zumbido invadiu minha cabeça de repente e eu levantei assustada com a mão na cabeça. Elena se sentou ao meu lado e passou os braços em torno do meu ombro.
- Ah! - eu arfava, o zumbido persistia e agora uma dor também consumia meu cérebro.
- O que foi, ? O que é que você está sentindo? - perguntou-me Elena alarmada e preocupada.
- Eu não sei, alguma coisa... - doía, era difícil pensar.
Continuei sentada segurando o crânio com as mãos e aos poucos a dor foi apaziguando, mas o zumbido persistia.
- Está melhor? - Elena continuava ao meu lado.
Então, eu levantei a cabeça apreensiva, procurei por Damon e o achei longe, encostado na parede com seu copo na mão. Desvencilhei-me do abraço de Elena, me sentindo um pouco culpada por lhe dar preocupação; sem olhar para trás continuei andando até onde estava Damon, um impulso repentino de abraçá-lo tomou conta de mim. Quando estava me aproximando, ele virou a cabeça na minha direção e ciente de que Elena estava de pé nos observando, eu ergui meus braços para ele e puxei seu corpo de encontro ao meu.
Não sei porque Damon deixou que eu continuasse o abraçando, talvez a surpresa de ter alguém que ele acabara de tentar matar lhe dando carinho o deixou um pouco vulnerável.
- O que pensa que está fazendo? - ele perguntou confuso.
- Não sei! - respondi.
Damon largou seu copo em cima da mesa e segurou meus ombros, descolando nossos corpos, ele me olhou com a testa enrugada os lábios semi-abertos e os olhos azuis completamente surpresos. Por um instante achei que ele ia me beijar, mas sua boca fez outra coisa.
- Katherine? - ele chamou com a testa ainda enrugada. Um deus.
De novo o zumbido surgiu em minha cabeça e dessa vez foi acompanhado com uma agitação na barriga. Levei as mãos à cabeça novamente e Elena correu em meu socorro.
- O que você fez Damon? - ela perguntou, alarmada, enquanto eu tentava parar a dor dentro de mim.
- Eu consegui? - surpreendeu-se Damon.
- Você conseguiu o quê? - continuou Elena.
- A alma de Katherine está dentro dela. - Ele sorriu alto e sumiu da nossa frente.

- Ele disse que conseguiu Stefan, você acha que é verdade? - perguntou Elena a Stefan, depois que ele voltou e conseguiu parar com a dor na minha cabeça, deitando-me no meu quarto.
- Não sei! Jurava que tinha chegado a tempo, antes de Trish começar o feitiço - ele disse, preocupado. Eu fingia dormir, mas ouvia cada sílaba daquela conversa.
- Vai ver era um feitiço mudo. Bonnie já me falou desse tipo de feitiços - Elena falou em tom de segredo.
- Bonnie consegue fazer esse tipo de bruxaria? - perguntou Stefan a ela, sua voz mais próxima de mim.
- Stefan...
- Desculpe.
- Bonnie tem medo de tentar, ela não quer mexer com esse tipo de coisa.
- Receio que terei que pedir ajuda à ela.
Eles saíram do quarto e eu fiquei deitada de olhos abertos, assustada e congelada com a possibilidade de ter Katherine vivendo dentro de mim. Mas a minha paz não demorou muito tempo, ouvi alguém entrar no meu quarto e sentei na minha cama. Levantei com agilidade ainda procurando de onde viera o barulho que me chamara a atenção.
- Seus reflexos ainda são péssimos, não é mesmo? Acho que você não nasceu para isso. - Era a voz de Damon.
Voltei para minha cama e fiquei sentada sem lhe dizer nada.
- Então, o que você sente? - ele perguntou, apreensivo.
- Damon, eu não estou legal. Acho bom você não me provocar hoje! - ameacei.
- Ah, não me despreze assim. Magoa!
Voltei a me jogar nos lençóis completamente exausta mentalmente, o zumbido não me deixava em paz e eu esperava sinceramente que isso fosse passageiro. E que se Katherine estivesse realmente dentro de mim, que ela saísse logo e tomasse conta do meu corpo, ter que lidar com tudo aquilo estava se tornando insuportável. Ainda mais quando se tem Damon Salvatore lhe interrogando quando você quer mesmo é ficar sozinha.
- Então, ela fala com você? - ele me perguntou, sentando na beirada da cama de costas para mim.
- Não! - respondi, fria, com os olhos fixos na parede lateral do quarto.
Damon ficou alguns minutos em silêncio e eu já me perguntava se tinha acabado a sessão, mas então se deitou ao meu lado com as mãos servindo de apoio para a cabeça, o olhar no teto e um sorriso bobo de contentamento nos lábios perfeitos.
- O que ela sente quando estou assim tão próximo? - ele tocou meu braço, eu estava deitada de lado e sem olhar para ele.
- Ela não está aqui! Então, não sente nada, mas posso dizer a você o que eu sinto: repulsa! - afastei sua mão com raiva do meu braço e me sentei na cama.
Estiquei os braços à frente do corpo em um alongamento e quando ia fazer o mesmo para trás ele os segurou com força.
- Isso já não é mais excitante Damon, procure outra forma de me prender - rugi para ele e forcei o corpo em um pulo.
A sensação foi incrível, indescritível para ser mais exata, meu corpo quase alçou vôo e eu caí agachada com graciosidade em cima de uma cadeira, leve como uma pluma.
Damon ficou na cama. Tinha se surpreendido com minha repentina aprendizagem vampiresca. Ele logo se recuperou, porque sorriu torto e fechou os olhos em êxtase.
- , como você é mentirosa! - falou, delicadamente.
Eu arfava na cadeira. Então, entendi o porquê tinha sido xingada.
- Você mentiu para mim. Não faça isso, até parece que não confia em mim!
- Do que está falando? - Sentei-me normalmente na cadeira, arfando um pouco de nervosismo.
Damon não respondeu, só chegou perto de mim; ajoelhou-se e sorriu como eu tinha visto em meu devaneio. Seus olhos azuis perderam a arrogância e ele me pareceu ser o garoto que eu vira conversando com a tal Emily durante aquele sonho estranho na floresta. Damon de 1864 estava na minha frente, completamente submisso a mim.
Não havia nada que eu pudesse fazer para pará-lo, confesso que não queria fazer algo que pudesse fazer com que ele parasse. A mão direita dele veio em direção ao meu rosto e afagou minha bochecha, deixando um rastro de fogo pela minha pele fria. Seus dedos brincavam com meus lábios enquanto ele os acompanhava com os olhos.
- Esperei tanto por isso! - ele sussurrou, claramente envolvido pelo momento.
- Damon...
- Não fale, porque não é a sua voz que ouço, Katherine - ele disse.
Então era isso, ele via Katherine, por isso estava sendo tão amável. Ela devia ser uma mulher de muita sorte por ter conhecido um Damon cavalheiro. Daria tudo para ter vivido naquela época e daria mais ainda para ter sido Katherine.
- Então, é você aí dentro? - ele perguntou, ainda com a mão no meu rosto.
Então, uma coisa se aprumou dentro de mim, uma voz estranha se apossou dos meus pensamentos, e antes que eu me preparasse, os impulsos foram surgindo; um atrás do outro e eu já não controlava mais minha ações. Via tudo agora de ângulo estranho, distorcido, como se meus olhos fossem a grande tela de um cinema 3D, onde eu era a única telespectadora sem um óculos.
Tentei gritar, eu juro! Mas era impossível, ela havia tomado meu corpo. Katherine estava no comando.



CAPÍTULO QUATORZE

- Não! Agora sou eu quem está aqui fora, com você! - minha voz respondeu a pergunta de Damon, mas era Katherine quem a mantinha firme e não trêmula como estaria a minha naquela proximidade de corpos.
- Katherine! - Damon quase bradou, mas a minha mão afagou seus cabelos negros, fazendo-o fechar os olhos de exultação.
- Estou aqui, Damon, estou aqui - respondi.
A luta que eu travava para tomar de volta o que era meu, era totalmente em vão. A alma de Katherine se fazia forte e quase não sentia o desespero que eu irradiava.
- Eu soube assim que você pulou para longe de mim - ele disse, dessa vez, mais rude.
- Eu não fiz aquilo querido, foi a . - Katherine continuou amavelmente, com uma nota musical na voz; eu nunca falaria daquela forma.
- Ela não sabe, nunca teve poder o suficiente para fazer certas coisas.
Me senti pessoalmente ofendida, porque quando ele queria fazer certas coisas eu sempre estava lá, com poder suficiente para servi-lo.
- Ela é mais forte do que aparenta, Damon, e nossos minutos podem ser contados.
Minha mão afagou o rosto dele, fazendo-o me prender entre seus braços musculosos e o desejo dançava em seus olhos. Sempre que Damon fazia aquilo comigo meu corpo reagia de forma incontrolável, mas com Katherine no comando eu não senti nada. Ele encostou sua boca em meu pescoço fazendo suas presas arranharem minha pele fria, minhas mãos saíram de seu ombros e vagaram até a sua calça, abrindo o zíper e em meus lábios um sorriso cínico surgiu e Damon puxou minha roupa, tirando minha blusa e fazendo o mesmo com sua camiseta. Beijei seu pescoço descendo até o seu peitoral, passei a língua em seu mamilo e ouvi seu gemido abafado.
Katherine se apoiou nos ombros de Damon e prendeu as pernas em sua cintura; minha saia em segundos estava levantada e a calça de Damon abaixada. Ele investia com força contra mim, mas alguma coisa estava errada... Não estava sentindo prazer com aquilo. Parecia que eu não o amava, mas eu sabia que era apaixonada por Damon. E a resposta veio como uma bomba em minha cabeça: Katherine estava usando da obsessão de Damon para conseguir sua liberdade.
Eu tinha poder sobre meu corpo e ia dominá-lo de volta. Com base nessa constatação eu lutei mais bravamente pelo meu corpo. Com todas as minhas forças eu tentava soltar o lacre que ela tinha me imposto, a jaula invisível e barreira mental que me separavam dos impulsos.
- NÃO! - gritei.
Eu estava de volta. Sua alegria não durou muito tempo Katherine.
- Não o quê? - preocupou-se Damon.
Fechei os olhos bem apertados para que ele não notasse a diferença no olhar, soltei Damon e segurei minha cabeça entre as mãos. Que dor!
- Fale, Katherine! - disse ele e eu levantei rapidamente e ele repetiu meu gesto, ficamos nos encarando.
- Ela não está mais aqui - a diferença no tom de voz era reconhecível. Meu corpo é só meu vibrei em pensamento.
- O que...
Mas antes que ele pudesse terminar de frasear, eu corri pra fora do quarto, insanamente procurando alguma forma de me livrar daquilo e ter minha vida de volta. Sabia que era impossível a segunda parte, mas a primeira eu iria conseguir, não daria o gostinho à Katherine de morar nos meus 1,70m e 52kg de pura beleza interior.
Corri como uma maluca escada abaixo sabendo que poderia ser alcançada em segundos, mas ele não me seguiu.
- Stefan! Stefan! - eu gritava.
Então o Salvatore mais novo me amparou no fim da escada, eu me aconcheguei em seu peito como uma criança sonolenta. Fechei os olhos e seu cheiro bom penetrou em minhas narinas, junto com o cheiro de couro da sua jaqueta.
- Ela... Ela... - eu gaguejei de medo.
- O que foi? - ele perguntou segurando-me pelos ombros.
- Katherine! Está dentro de mim, por favor... - implorei.
Seus olhos de um tom azul escuro se abriram em descontentamento e raiva. Meu corpo tremia, mas meus impulsos estavam ótimos. Eu consegui sair a tempo de me livrar do choque.
Damon havia descido as escadas com sua rapidez incomum e chocou-se conta o irmão.
- Não vai tirá-la de mim outra vez! - ele bradou e uma sensação de deja vú varreu meus pensamentos.
- Damon, você enlouqueceu... - Stefan tentou dizer, mas Damon mostrava suas presas pronto para atacar.
- Não estou louco! O cristal continha um fragmento da alma de Katherine, não é ela ainda, mas em breve será, Stefan! E será totalmente minha.
- Não, Damon, não será a Katherine, não por completo, entenda. - Stefan lutava e segurava Damon que tentava alcançá-lo de qualquer forma.
- Eu sou mais poderoso - sussurrou Damon.
Ele empurrou Stefan, fazendo-o voar e cair do outro lado da sala. Soltei um grito e me escondi. Que coisa boba para se fazer, mas eu estava realmente assustada. Damon segurou Stefan pela gola da camisa e bateu nele, eu cobria a boca com as mãos para abafar meus gritos.
- Ela será minha outra vez. E não há ninguém que me impeça.
- Você sabe que a sempre estará lá, e Katherine nunca será ela inteiramente. - Stefan balbuciava.
Me veio então um lapso e eu corri até a mesa e quebrando uma de suas pernas com facilidade, as lascas da madeira ficaram exatamente do modo como eu precisava, fiquei temerosa de que eu só conseguisse me imobilizar, mas lembrei de que se atingisse o ângulo correto, seria fatal.
- PAREM! - gritei.
Todos os barulhos cessaram e os dois olharam para mim, havia sangue em Damon só que eu não sabia distinguir se era dele ou de Stefan.
- O que está fazendo, ? - perguntou-me Stefan se levantando e andando calmo com as mãos levantadas, na minha direção.
Eu mantinha a estaca improvisada contra meu peito, no local onde deveria estar batendo meu coração, agora parado e servindo de enfeite.
- Não faça isso! - ele pediu.
Eu apenas neguei com a cabeça e os olhos fechados, completamente angustiada.
- Fui eu, eu sempre soube o que Damon queria, Stefan! Mas eu o amo e não pensei nas consequências, eu matei aquele homem no meu quarto!
- Não, , você estava fora de si!
- Esqueça, Stefan, eu lembro de tudo agora! - sussurrei.
- Não ouse! - sibilou Damon de olhos fixos na estaca. - Você a mataria, sua vadia!
- Damon! - pediu Stefan. - Pense bem, não vale à pena, vai acabar só se machucando - ele completou virando-se para mim.
Eu abri os olhos e deparei-me com eles dois ali na minha frente. Havia sido muito bom o tempo em que passei com os Salvatore, apesar de toda a loucura eu não me arrependeria jamais, acredito que não teria uma aventura melhor trabalhando para o F.B.I. Sem pestanejar eu segurei melhor a estaca nas mãos e sorri para Stefan.
- Obrigada por ter sido tão bom comigo. Me ensinou que vida e morte andam entrelaçadas e que nosso destino depende somente de nossas escolhas! - então me dirigi a Damon. - Nunca amei ninguém como te amei, você foi a melhor coisa que me aconteceu, apesar de me odiar. Sei que nunca me amou de verdade e que me usou desde o começo. Mas sinceramente não me importo, porque quando eu ia dormir, sentia seu cheiro e somente isso fazia valer a pena cada palavra dolorida, cada sentimento ruim e todo o sofrimento. Vai entender o amor! - alarguei o sorriso, minha voz embargada, meio lacrimosa. - Diga para Elena que ela foi uma boa amiga, e com Cassi falarei pessoalmente.
Depois do choque momentâneo de minhas palavras Damon veio para cima de mim, mas era tarde demais enfiei a estaca no coração.

Fiquei paralisada, sem poder me mexer. Não havia conseguido o ângulo correto. Dentro de mim Katherine gritava de dor e eu de alívio.
- NÃO! Não, por favor... - Damon se jogou ao meu lado enquanto eu arregalava os olhos surpresa com sua testa enrugada e o azul sofrido de seus olhos.
- ... - sussurrou Stefan.
Ele pegou a estaca e eu arregalei ainda mais os olhos, não conseguia falar nem me mexer. Chegara minha hora, era melhor assim para todos. Eu teria deixado muitas lacunas sobre minha vida e existência, mas no momento final não vi nenhuma luz no fim do túnel; nenhuma mão me guiando para o paraíso. Era só eu e o negro da morte.
- Não! Eu faço - era Damon, ele derramava algumas lágrimas. Então vampiros podiam chorar?
Damon substituiu Stefan na tarefa, e segurou a perna da mesa que estava reta e parcialmente enfiada em meu peito. Então ele depositou um beijo em meu lábios o mais delicado que já me dera, tocou seus dedos frios em minhas bochechas e afagou meus cabelos como se faz a uma criança na hora de dormir. Queria sorrir, beijá-lo e trazê-lo comigo para onde que eu fosse, mas eu estava paralisada esperando apenas a morte.
- Podemos tirar a estaca, fazê-la se curar - dissera Stefan, mas eu arregalei os olhos, suplicando pelo descanso eterno. Já tivera demais disso.
Enquanto eu vivesse, estaria eternamente presa àquele romance que só me fazia mal, à alguém que me desprezava e não tinha um pingo de amor por mim. Não queria mais ser escrava de uma paixão tão doentia e avassaladora.
Damon compreendeu e se abaixou para me beijar de forma mais forte, segurou minha cabeça de encontro à sua e invadiu minha boca com sua língua. Ele quebrou o beijo repentinamente; ia me falar algo.
- Eu não posso dizer que nunca te amei, . Seria a maior mentira que já contei. Adeus! - Então, rapidamente ele deu fim a mim.
Fim






Nota da autora: Não! Eu matei você? Perdão amiguinha :)
Geralmente termino minhas histórias com o típico felizes para sempre, mas dessa vez dei a incrementada e tragediei o final. Espero que tinha sido melhor que a primeira parte, porque com esse final não há como continuar. E eu nem iria não é mesmo? Esticar a fic, deixa ela chata demais, por isso terminei no capítulo quatorze. Eu queria ter desenvolvido mais a fic, mas estou ocupada estudando bastante, terminando de escrever meu livro e ainda tenho que dar conta do curso de inglês, da casa e do meu filho (meu cachorro gente); Então complicou. Estou feliz por essa ter sido minha primeira fic do FFOBS, geralmente as pessoas não dão valor á fics de autoras menos conhecidas, mas eu conhecid muita gente legal que me incentivou. Quero agradecer muito mesmo à Izadora Ribeiro, Bruna, Bia Lunardelli, Sah Oliveira e todas as outras que estiveram sempre comigo, algumas me incentivando outras apenas me dizendo que não se deve desistir.
Devo acrescentar uma agradecimento mais que especial à Amy Moore, que teve a maior paciência do mundo comigo, ela é uma fofa e entende muito de português, não me arrependi um instante sequer de ter entrado naquele classificado e escolhido a Amy para betar minha fic. Eu serei muito grata à todas vocês. Estou triste por ter que terminar a saga dessa heróina sádica, mas enfim, tudo tem seu meio, seu começo e seu final. Até.

Caught in a Bad Romance (The Vampire Diaries//Finalizadas)
Bruised Heart (A Hospedeira//Em andamento)
Flying - Um sonho nunca diz aquilo que voce já sabe (McFLY//Em andamento)
O coral da avenida Bourbon (Especial de Natal/Finalizadas)

Nota da Beta: Damon ;_; por que fez isso comigo? PODIA TER ME AMADO SÓ MAIS UM POUQUINHO? *últimas palavras da moribunda aqui*
Parabéns pela fic, amor. É muito boa! Sei que muitas aqui concordam comigo!
E... TOMA, KATHE, TOMA! MORREU, BITCH!
Sempre quis dizer isso ;*




Nota da Beta: Comentem. Não demora, faz a autora feliz e evita possíveis sequestros - só um toque. Qualquer erro encontrado nesta fanfiction é meu. Por favor, me avise por email ou Twitter. Obrigada. Amy Moore xx

comments powered by Disqus

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS AO SITE FANFIC OBSESSION.