Abri a porta ao ouvir a campainha e achei estranho ver parado ali.
- ? O que você está fazendo aqui?
- Oi, . O está ai?
- Na verdade, não, ele deu uma saída. Se você quiser esperar por ele...
- Quero sim - ele falou passando por mim e entrando na minha casa. Senti cheiro de bebida e bati a porta irritada, seguindo-o.
- ! Você andou bebendo?
- Andei sim, e daí? - ele respondeu me encarando.
- E daí que você tem 16 anos e está bêbado! - pelo menos parecia bêbado.
- Não se mete na minha vida, .
- - suspirei. Ele se aproximou e me abraçou, me deixando sem reação. Segundos depois correspondi ao seu abraço.
Ficamos um tempo parados, apenas nos abraçando. Sentia lágrimas escorrendo pelo rosto do menino e molhando minha blusa, podia senti-lo fazendo força para controlar os soluços. Eu não sabia o que estava acontecendo, mas não ia julgá-lo. Conhecia há anos, e nunca o havia visto assim, alguma coisa havia acontecido.
- Obrigado, - ele falou, se afastando e limpando as lágrimas. Sorri.
- Relaxa, eu sempre vou estar aqui - falei.
Ele me observou, fazendo minhas bochechas corarem. Desviei o olhar. Senti a mão de na minha cintura e olhei para cima. Sua boca colou na minha, me fazendo abrir a boca de surpresa. Com isso, ele começou a me beijar. O beijo foi aumentando a intensidade. Passei os braços pelo seu pescoço, e ele me colocou sentada na mesa da sala. Nos beijávamos com desejo, apesar de eu realmente não saber de onde vinha esse desejo todo.
Nos separamos ofegantes. O olhei e comecei a rir, ele me acompanhou. Ficamos assim, apenas rindo, abraçados, até eu ouvir o barulho da chave na fechadura. Desci da mesa e me afastei de , bem a tempo de e entrarem.
- ? Achei que você tinha saído com a Manu - falou, colocando a mochila no sofá.
- Ela me ligou cancelando, então resolvi ficar em casar. Vou subir, meninos, qualquer coisa, batam lá - subi correndo as escadas, fechando a porta e sentando no chão.
O que havia acontecido? tinha 16 anos, e eu, 18. Ele era o melhor amigo do meu irmão mais novo! Merda, merda, merda. Como eu o havia deixado me beijar daquela forma? De uma forma tão apaixonante, tão...
- Cala a boca, , é o - falei para mim mesma, me levantando e entrando no banheiro.
Fechei o jogo que eu jogava. Cem mil pontos eram suficientes para um dia. Espreguicei-me levantando da cadeira da minha escrivaninha e saí do quarto.
A casa estava silenciosa, então imaginei que os garotos já haviam ido embora. Fui até a cozinha e peguei um copo de água, ficando de costas para a porta.
- O que houve hoje, com o ? - ouvi uma voz, me dando um susto e fazendo o copo cair no chão, quebrando.
- ! Que susto, garoto.
- Desculpe.
- O que você quer dizer com isso? - perguntei pegando a vassoura e a pá para limpar os cacos.
- O rosto de estava inchado.
- Ele chegou bêbado aqui, dei um esporro nele e depois ele começou a chorar - eu não ia contar do beijo, não mesmo.
- Entendi. Mas é de se entender né, depois do que houve.
- O que aconteceu? - o olhei, seu olhar estava vago, como sempre ficava quando ele não queria contar algo que sabia que tinha que contar.
- Ele estava dirigindo o carro, a irmã mais velha, Melissa, estava no carona. O carro bateu, e Mel perdeu o bebê - falou baixo, me olhando em seguida. Paralisei.
- Coitado.
- Totalmente. O marido de Melissa, Bruno, quer matá-lo. está totalmente frustrado - respondeu, saindo da cozinha. Coloquei a vassoura e a pá de lado e o segui.
- Como o carro bateu?
- O carro da frente perdeu a direção, desviou e acabou batendo num poste – sussurrou, sentando no sofá. Sentei ao seu lado.
- A culpa não foi dele, ele estava apenas no lugar errado na hora errada.
- Pode ser, mas Bruno não vê dessa forma - terminou. Dei o assunto por encerrado também.
Ficamos em silêncio, apenas nos encarando. Puxei para um abraço, ele encostou a cabeça no meu colo e fechou os olhos. Fiquei mexendo nos seus cabelos.
- , quer ouvir a música que eu compus? – perguntou, se levantando com os olhinhos brilhando. Ri, porém concordei.
Ele levantou e eu o segui. Entramos no seu quarto e ele pegou o violão, sentando na cama.
- Parecia estar, numa nova era, na hora em que você me falou em parar.
Capítulo 2
- Então, , não vai mesmo me dar seu número? - Miguel perguntou mais uma vez, me fazendo bufar.
- Não! Para de insistir, ok? - entrei no banheiro feminino.
Fiquei cinco minutos ali fazendo hora. Saí e Miguel não estava à vista. Fui para o estacionamento.
Entrei na minha BMW prata e conversível e dirigi até a escola de . Parei na porta e o esperei, colocando meu wayfarer laranja e ajeitando meu cabelo no retrovisor.
Ouvi o sinal tocando na escola e esperei. Logo pude ver saindo abraçado com uma garota ruiva. A avaliei. Minissaia rosa, salto alto preto, top preto. Puta.
se despediu dela com um beijo desentupidor de pia e entrou no carro.
- Escolhe melhor, - falei assim que ele entrou, dando partida.
- Fica quieta. Espera, ! - falou quando fiz menção de mudar a marcha para sair da vaga.
- O que foi?
- O vai lá pra casa, ele já ta saindo, só deu uma passada na diretoria - bufei e desliguei o carro.
Porém, logo depois, , e apareceram e entraram no banco traseiro.
- Sem bagunça no meu carro! - gritei, fazendo com que eles ficassem em silêncio.
O caminho foi em silêncio, graças a Deus. Chegando, estacionei e eles saíram correndo. Menos .
- , desculpe por ontem, eu estava mal…
- , o me contou o que houve. A culpa não foi sua, não fique assim, ok? - falei me aproximando e passando o dedo pelo seu rosto, vendo-o fechar os olhos.
- Queria que Bruno e Melissa, e todo mundo, pensasse do mesmo jeito.
- Uma hora eles vão ter que perceber que a culpa não foi sua - lhe dei um beijo na bochecha e entrei na casa.
Na sala, e riam de , que segurava um papel que parecia uma prova.
- O que houve? – perguntei, indo para a cozinha preparar o almoço.
- O tirou zero na prova de matemática! - meu irmão respondeu. Rolei os olhos.
- Esqueceu, , que você tirou zero em história ano passado? E você em inglês, ? - falei alto. Logo depois ouvi apenas a risada de , sorri.
Quando todos acabaram de almoçar, coloquei os quatro para lavarem a louça. Olhei pela janela e vi um carro preto parado na frente da casa. Estranhei. A campainha tocou e eu fui atender. Era um homem de cabelos pretos e grandalhão, bem arrumado.
- Sim?
- está?
- Quem deseja?
- Bruno Marrone - reconheci o nome.
- Desculpe, senhor, ele não está.
- Se ele aparecer por aqui, diga para ele nunca mais pisar na casa de Melissa - o homem se virou e entrou no carro, dando partida e saindo da vaga. Entrei na casa e vi os quatro garotos parados me olhando.
- Eu imaginei que ele fosse me procurar - sussurrou.
- Sabe o que eu acho? - eles me olharam. - Eu acho que vocês têm que começar a ensaiar. Já ouviram a nova música do ? - negaram. - Irmão, mostre pra eles. , quero conversar contigo, me espera no meu quarto.
Guardei a louça lavada e subi para o quarto. estava sentado na minha cama, de cabeça baixa. Ao me ver entrando, levantou e trancou a porta, me colocando contra a parede. Beijou-me, da mesma forma que havia me beijado no dia anterior. Porém, dessa vez, o empurrei.
- , você é o amigo do meu irmão mais novo. Eu estou na faculdade e você no Ensino Médio. Pare com isso, temos princípios diferentes.
- É? Você realmente acha que eu não transava com a Caroline? E o que você acha que eu e fazemos na minha casa com ela e Mariana? - senti meu estômago revirar.
- Eu não quero saber da vida sexual de ! - falei. - Eu o chamei aqui para dizer que eu acho que você tem que enfrentar Bruno de frente...
- Você diz isso por que nunca passou pelo o que eu passo! Minha irmã perdeu o filho por minha causa! - ele gritou.
- Cala a boca - falei, puxando-o pela gola da camisa. Nossas bocas se chocaram, e ele logo pediu passagem com a língua. O beijo era mais agitado. Minhas mãos desceram pelo seu peito até seu cinto, o retirando. Abri o zíper e empurrei sua calça para baixo. Ele abriu o zíper da minha calça e também a abaixou.
me colocou contra o armário, passei as pernas pela sua cintura. Ele parou de me beijar e me olhou, sorrindo. Abaixou sua boxer e minha calcinha, voltando a me beijar.
Capítulo 3
Abri os olhos, dolorida. Olhei em volta e vi que estava deitada no chão, ao meu lado e uma camisinha jogada ali perto. Me levantei e ajeitei minha roupa. Acordei e esperei ele se arrumar. Nos encaramos.
- Ainda me acha novo demais? – perguntou, arqueando as sobrancelhas.
- Babaca. - bati no seu braço e abri a porta. - O que houve hoje fica entre a gente, ok? Se perguntarem, nossa conversa demorou. - ele assentiu e saiu do quarto, me dando um selinho. Joguei a camisinha na lixeira do banheiro e me encarei. Eu havia transado mesmo com um garoto de 16 anos que eu havia cuidado quando criança?
Saí do quarto, penteando meu cabelo com os dedos, e pude ouvir me chamando. Fui até seu quarto e o vi sentado na cama, de cabeça baixa. Me aproximei.
- O que houve, ? - coloquei a mão nos seus cabelos, mas ele se afastou.
- Por que você fez isso, ?
- Isso o que?
- Não se faça de idiota. Eu sei que você transou com . - engoli em seco. - , ele é meu melhor amigo! E tem 16 anos, você tem 18!
- Desculpa.
- Pedir desculpa não vai consertar isso. - falou e saiu do quarto. Naquele momento, eu me senti um lixo.
Liguei para . Desligado. De novo. Joguei o celular na cama e me sentei na mesma. Ele estava me evitando, mas eu precisava falar com ele. Iria embora dali a duas horas, queria me despedir. Peguei o celular e olhei a agenda.
- , nem pensar. , é uma boa. - disquei. Desligado. Tentei o de , desligado. Por último, tentei o de . Desligado. - Que porra!
Levantei e comecei a andar pelo quarto. Meu celular tocou e eu atendi sem olhar.
- , eu já estou chegando, se quiser, pode ir indo para frente da sua casa. - Julia falou. Resmunguei um ok e desliguei. Peguei meu casaco e minha mala vermelha e saí.
- Pronta, ? - Julia perguntou quando entrei no banco da frente depois de colocar a mala no banco traseiro.
- Floripa, lá vamos nós. - falei, fazendo-a rir. Liguei o rádio e me deixei dormir com a voz de Billie Joe nos meus ouvidos, cantando 21 Guns.
narrado em terceira pessoa
chegou em casa e estava tudo silencioso. Estranhou.
- ? - subiu as escadas e entrou no quarto da irmã. Seu notebook não estava lá, nem a maior parte de seus objetos pessoais.
Abriu o armário e metade das roupas não estavam. Pegou o celular e discou o numero de . Fora de área. Discou o número de .
- Fala, .
- , minha irmã sumiu! Eu estou desesperado, ela não está em casa, as coisas dela sumiram, ela não atende o celular, e e-eu...
- ! Calma! Liga para o e manda ele ir para sua casa, eu vou com o na faculdade dela.
- Ok. - desligou e ligou para , que foi imediatamente para a casa do amigo.
Ambos sentaram-se no sofá, em silêncio.
- , o que eu vou fazer sem a ? - perguntou, em desespero.
e entraram no prédio da diretoria da faculdade de .
- Boa tarde, senhores. Posso ajudar? - a secretária perguntou. foi até ela.
- Boa tarde, senhora. Eu gostaria de saber se veio hoje.
- Curso e período? - ela perguntou digitando no computador.
- Segundo período, Jornalismo.
A senhora digitou e, certo tempo depois, voltou a dirigir a palavra aos dois garotos.
- Ela pediu transferência ontem.
- Para onde?
- Florianópolis.
Eles agradeceram e saíram indo em direção ao metrô.
- Como vamos contar isso para ? - perguntou, mas o ignorou.
Quando saíram do metrô, ele ligou para .
Os cabelos de voavam com o vento da estrada no conversível prata. Ela ria das piadas que Julia contava. Passavam agora por Curitiba e chamavam a atenção das pessoas na rua.
O celular de tocou e ela atendeu sem olhar o visor.
- Alô.
- ? É o !
- Ah, oi, . - ela fez careta e Julia riu.
- Onde você está? está desesperado! É verdade que você pediu trans...?
- Eu estou em Curitiba, e sim, vou para Floripa. À noite ligo para . Tchau. - desligou e suspirou. Aquilo seria difícil.
abriu a porta e e entraram. se uniu aos três na sala.
- , não tenho boas notícias. - começou e ele assentiu. - Fomos na faculdade de e a secretária disse que ela pediu transferência para Floripa.
- O quê? - perguntou incrédulo, sentando no sofá.
- Sinto muito, . - falou, cabisbaixa.
- , , saiam, por favor. - pediu.
Os dois saíram e sentou-se ao lado do amigo.
- Vou precisar da sua ajuda para trazer de volta, .
Capítulo 4
Uma semana havia se passado. sentia falta de , dos pais, dos amigos… De . Ela não podia negar o sentimento que sempre existira.
FLASHBACK
tinha quinze anos e treze. Ele estava passando férias com ela e em Búzios. Os três viam Grease. já dormira e estava deitado no colo da menina.
Ela mexia nos cabelos dele, que tinha os olhos fechados.
- . - ele chamou. - Obrigado por me ajudar hoje.
- Vou te ajudar onde estiver, .
- Eu te amo, . - ele sussurrou.
Ela ficou quieta, olhando John Travolta cantando na enorme televisão.
- Eu também te amo, . - ela falou, mas ele já dormia.
END FLASHBACK
abriu os olhos cheios d'água. Ele estava sentado no parapeito da janela do seu quarto, vendo o por do sol.
- ? - Carolina chamou, colocando a mão no ombro dele. - Você está bem?
- Claro, caiu alguma coisa nos meus olhos. - ele falou esfregando os mesmos.
Ele desceu do parapeito e a abraçou pela cintura. Ela lhe deu um selinho e abraçou seu pescoço.
Ele nunca ouvira dizer 'eu te amo' para ele, não sabia nem se o sentimento era mútuo. Só sabia que sentia saudades dela.
fechou o notebook e deitou-se na cama. O plano para trazer de volta estava pronto, só faltava botar em ação. Mas precisava da ajuda da rádio MIX.
- ! - ele ouviu e abriu os olhos. estava parado ali, segurando um envelope branco. Ele levantou-se e pegou o envelope, rasgando-o e lendo a carta. Sorriu para .
segurava o celular na mão na pequena pousada em que estava com Julia. Estava tomando coragem para ligar para .
- Julia, eu não vou conseguir, - ela falou, jogando o celular na cama.
- Ah, então desliga esse abajur que eu quero dormir, - a amiga reclamou. obedeceu e deitou-se para tentar dormir.
Capítulo 5
Um mês que havia se mudado. Todos os dias eram difíceis, ela sentia muita falta de todos. Ainda não falara com , por falta de coragem. Nem com nenhum dos outros meninos. Ela se sentia mais covarde do que Coragem, o cão covarde.
- Julia, preciso da sua ajuda! - gritou ao não conseguir terminar pela quinta vez a redação que tinha que preparar para faculdade.
- Depois te ajudo, , hoje vai ter a apresentação de uma banda nova na MIX. - Julia falou, saindo do banheiro com a toalha enrolada no corpo. Ligou o rádio na hora em que o locutor falava. -… e agora, com vocês, uma banda que, de zero a dez, merece nota cem. Com vocês, STEVENS!
achou o nome estranhamente familiar, mas não ligou. Porém, arregalou os olhos ao reconhecer aquela voz.
Parecia estar
Numa nova era,
Na hora em que você me falou em parar
Sei que onde estou
Não é aonde espera
Mas o que eu tinha pra você ninguém supera
Lágrimas começaram a sair dos olhos de , enquanto ela ouvia.
E se eu pudesse assim mudar,
Jurei que iria até tentar
Se eu não consigo te olhar,
Não é por querer
E se às vezes exagero,
Olho pra cá e não te enxergo,
Não é porque
Não queira te ver
Eu não vou ficar
Tão perto de perder você,
Assim sem me mexer
Eu não acredito que o nosso amor acabou
Bateram na porta e Julia a abriu, pegando a carta que havia chegado.
- É pra você, - ela entregou, mas a amiga pegou a carta sem olhar.
Parecia entrar numa nova esfera
Andando em círculos,
Sempre com a mesma idéia,
Que não era má
E também nem séria
Mas me deixava do outro lado da rua dela
E se eu pudesse assim mudar,
Jurei que iria até tentar
Se eu não consigo te olhar,
Não é por querer
E se às vezes exagero,
Olho pra cá e não te enxergo,
Não é porque
Não queira te ver.
Eu não vou ficar
Tão perto de perder você,
Assim sem me mexer.
Eu não acredito que o nosso amor acabou.
Eu não acredito que o nosso amor acabou.
Eu não acredito que o nosso amor acabou.
A música acabou e o locutor voltou a falar. não escutava mais, só chorava. Eram os seus garotos, era o seu irmão, era o seu amor.
Ela então se lembrou da carta e abriu sem olhar o remetente. Uma folha branca apenas.
,
Não sabemos por que você fez isso. Por que nos deixou dessa forma, e sentimos muito a sua falta. Mas queríamos apenas te lembrar que você foi a razão da formação da banda. Você foi a razão que lutamos por reconhecimento, e se o obtivermos, será graças a você. Agradecemos hoje e agradeceremos pelo tempo em que a banda existir e mesmo depois por você ter nos ajudado a ter chegado a qualquer lugar em que chegarmos.
Nós quatro te amamos muito mesmo. Mais uma vez agradecemos.
Com amor, Stevens.