Cap.1 – Working on a Dream
Liguei o rádio do meu carro, a estação local tocava uma música soul com uma batida contagiante, como eu gostava e que era perfeita para o momento. Estava anoitecendo, e, conforme a noite chegava, a minha empolgação também aumentava. Aquela seria a despedida, a última vez que eu veria aquelas pessoas e aquele ambiente tão conhecido por um bom tempo. Minhas mãos começaram a suar quando uma outra batida de hip hop se misturou com a que tocava no meu carro, que eu logo desliguei. Eu havia chegado. Virei a esquina, e vi um pouco a frente uma boa quantidade de gente, animados, alguns carros com os faróis ligados, e um com caixas de som no porta-malas, de onde saía a música. Estacionei no começo da rua, e fiquei parada ali por um tempo, somente observando, e logo vi dois olhares específicos em minha direção. Sai do carro, sorrindo, e fui até onde vinha a música, e lá estavam meus dois melhores amigos, encostados no capô de um carro: Camille e John. Cumprimentei com um sorriso algumas pessoas, até chegar neles, que me abraçaram forte.
- Que bom ver vocês. - Disse sorridente. - Nossa, isso tá bombando hoje. - Comentei olhando a quantidade de gente que conversava, ria e, principalmente, dançava.
- Tudo está cooperando para ser a melhor despedida, hein? - Camille comentou, apoiando em meu ombro. Sorri em resposta, sem deixar de ficar um pouco incomodada com a palavra despedida.
- Não achei que fosse chegar tão rápido. - Comentei, apoiando no carro, ao lado do John.
- Vai dar tudo certo, é o que você sempre quis! Ir para AAB, ser uma dançarina conhecida, porque ótima você já é! - Ele dizia tão naturalmente, que meu olhos começaram a marejar, primeiro pelos amigos maravilhosos que eu tinha, e segundo por ter que ficar longe dos mesmos. Eu tinha mandado uma carta para AAB - Academia Americana de Ballet - há uns meses, e eles me chamaram para uma audição, e lá estava eu, uma menina de uma cidade do interior, de malas prontas, indo para a cidade mais conhecida do mundo tentar a sorte.
- Não chora, essa noite tem que ser perfeita. - Camille me abraçou, e eu concordei me afastando com um sorriso, enchendo os pulmões com o máximo de ar que podia, e soltando-o em seguida, confiante. Vi John dar a volta em nós duas, e ir até o som de seu carro. Ele sorriu para nós duas enquanto nós já adivinhávamos o que isso significava. Soltei uma risada gostosa quando ouvi as batidas de uma das minhas músicas favoritas.
- Vai lá! - Ele cochichou no meu ouvido, e piscou. Não precisei pensar duas vezes para fazer o que eu mais gostava. Comecei a andar no ritmo da música até onde as pessoas dançavam, e comecei a abrir uma roda, seguida de gritos empolgados de todos. Camille vinha logo atrás de mim, e agitava o pessoal. Eu já tinha alguns passos preparados na cabeça, mas era uma noite especial e eu resolvi improvisar, colocando passos de ballet junto com o hip hop, o que acabou dando incrivelmente certo. Juntar o passado com o presente. A batida parecia, inexplicavelmente, mais pesada aquela noite para mim, e eu dançava sem me preocupar com nada. Logo, cada um pedia um pouco de espaço no meio da roda, e os passos eram incríveis. Cada um tinha seu próprio jeito de fazer freestyle, o que deixava as pessoas com mais vontade de dançar. Olhei de relance para John, que se movia no ritmo da música. Ele não dançava, mas eu também não sei onde o encontraria, se não ali. Camille era o contrário, era doida, não media muito as consequências do que fazia, só seguia seus instintos e suas emoções, e sempre estava comigo nas rodas de dança. A música continuava, até que todos se juntaram no meio da roda, só para curtir o final dela. Quase todos ali se conheciam, éramos de um bairro afastado do centro e da correria de Pittsburg. As casas não tinham cerca, todos pareciam ser simpáticos um com os outros, e a maioria dos jovens conheciam aquela rua sem saída que, numa cidade não muito movimentada, era a nossa - e, principalmente, minha - válvula de escape. Era o point da cidade. Sem violência e maldade, ali o que importava era a música e a companhia. Muitas pessoas vinham das cidadezinhas vizinhas, e sempre havia rostos novos, mas aquela noite estava realmente lotada e, algumas horas depois, eu procurei Camille e nós saímos para conversar.
- Ufa, o que os s trouxeram pra beber hoje? - Perguntei, tirando o casaco, deixando a mostra uma regata preta.
- AH, você está toda suada, vai viajar assim? - Ela perguntou, horrorizada. Revirei os olhos, rindo.
- Você também está assim, louca, e até a rodoviária já estou seca. - Disse, e a cara de nojo dela piorou. Pura encenação, claro. - Para de frescura e me dá uma cerveja.
Ela pegou uma para mim e para ela e nos sentamos no capô do carro.
- Cheers! - Brindamos, como sempre fazíamos, e eu tomamos um gole.
- Você vai ter que parar com isso, quando entrar na AAB.
- Não quero pensar nisso ainda. Ter que aguentar aquelas bailarinas neuróticas com comida e peso.
- Arranjou um lugar para ficar por lá? - Camille perguntou.
- A escola oferece dormitórios para os alunos. - Disse, dando ombros e tomando mais um gole.
- Tá levando bastante dinheiro para se sustentar? Você não vai ter tempo pra um emprego. - Ela continuou preocupada.
- Todas minhas economias, mamãe. - Disse rindo, e ela mostrou a língua.
- Você sabe que eu me preocupo. - Ela fez bico.
- Eu sei, e é por isso você é minha melhor amiga. - A abracei de lado. John se juntou a nós, e logo estávamos em uma conversa animada.
- Que horas sai seu ônibus? - Camille perguntou, depois de um tempo, antes de mais um gole.
- Hm... - Olhei meu relógio e arregalei os olhos. - PORRA! Daqui 1 hora!
- ! - Os dois gritaram histéricos - Vai, vai... não enrola! - John disse, me apressando, e nós duas pulamos do capô do carro, correndo atrás dele. Eu nem vi em quem esbarrei no caminho, mas logo nós três estávamos no meu carro, dirigindo até a rodoviária da cidade. A passagem não me preocupava, mas o próximo ônibus só sairia no dia seguinte. O dia da minha audição! Meu plano era ir dormindo, e chegar lá logo pela manhã, uma hora antes, como dizia na ficha ser o ideal.
Eu batucava no volante insistentemente enquanto o farol não abria, e John a Camille discutindo atrás de mim, se daria tempo de chegar ou não, já estava me tirando a paciência. 5 minutos para as 23 horas! Cinco minutos pra eu chegar, e eu já conseguia ver as luzes da rodoviária. Estacionei de qualquer jeito na frente do lugar, já que aquela hora não havia muito movimento.
- Corre para verificar a passagem, que a gente pega suas malas! - John disse, pegando a chave da minha mão. Somente concordei e entrei em disparada, olhando para todos os lados. Eu andava apressada, pegando os documentos na bolsa e soltei um suspiro frustrado quando, depois de alguns minutos, não achei a portão que levava ao ônibus.
- Licença, ônibus das 23 horas, para NY. - Mostrei a passagem para o segurança do lugar.
- Ah sim, logo ali, no terceiro portão. Com sorte ele ainda não saiu, moça. - Ele disse simpático, e eu quase arranquei a mão dele, pegando a passagem e correndo para onde ele tinha indicado. Os bons modos que ficassem para depois!
- HEY! HEY! ESPERA! - Gritei para o cara que fechava o porta-malas do ônibus. - Eu preciso entrar nesse ônibus!
- Já estamos atrasados! Era pra esse ônibus ter saído há 15 minutos. - Ele disse, antipático. Eu bufei, enquanto ele resmungava alguma coisa pra si mesmo sobre como as pessoas deviam ser mais pontuais.
- Meu Deus, mas vocês ainda não foram, me deixa entrar, eu tô com a passagem! - Mostrei para ele, que ficou analisando por uns segundos. Fiz uma cara de "E aí?" e ele mexeu no molho de chaves para abrir o porta-malas.
- Onde estão suas malas?
- AS MALAS! - Gritei, passando as mãos pelo cabelo. Onde estavam Camille e o John? Será possível? Nem era tão grande aquela rodoviária. - Tem como esperar uns minutos, meus amigos estão chegando e...? - Eu comecei a me explicar.
- Olha, nós marcamos um horário na passagem, e não é à toa! Isso é para ser cumprido e esse aqui já está no limite. A senhorita que deveria ter tratado de chegar antes, ou carregar as malas junto com você. Você pode pedir uma passagem para de manhã, eles te reembolsam. - A essa altura, ele já estava entrando no ônibus, me deixando boquiaberta com sua grosseria. Dei alguns passos para trás, quando ouvi o motor do ônibus ligar, ainda não acreditando. Olhei a passagem em minha mão. Eu bem que poderia pegar aquele ônibus, e ir sem minhas malas, mas não havia como. Sapatilhas, collant... não tinha como arranjar tudo de última hora.
- ! ! - Ouvi duas vozes me chamarem. Fechei os olhos, amaldiçoando o motorista por não ter esperado um pouco mais, mas que agora já virava a esquina.
- Cadê o ônibus? - Camille perguntou, enquanto John recuperava o fôlego, com as mãos nos joelhos.
- Acabou de sair. - Disse sem ânimo.
- O QUÊ? - Eles disseram juntos. - Ah, qual é? Todo mundo atrasa um pouco! - Camille dizia para onde o ônibus tinha ido, com os braços abertos.
- Eu vou lá dentro falar com o gerente, não é possível! - John dizia indignado, andando pra lá e pra cá. Logo, ambos se juntaram para falar mal do serviço da rodoviária e pensar em mil outros meios de chegar à NY. Eles não paravam de falar e a minha cabeça já estava cheia!
- Gente... GENTE! HEY! - Eles pararam de falar ao mesmo tempo, e me olharam. - Eu vou de carro, pronto.
- TÁ LOCA? Agora? De madrugada? Assim, do nada? - Eles começaram a falar um em cima do outro novamente, e eu fechei os olhos, contando até dez.
- É, qual o problema? Eu sigo as placas, tenho boca pra perguntar.
- É loucura, seus pais não aprovariam. - John disse.
- É só vocês não contarem. - Disse, sorrindo. Eles se olharam, ainda indecisos e eu tombei a cabeça. - Vamos lá gente, vocês disseram que iam me apoiar em tudo para conseguir isso, certo?
- Certo. - Eles renderam. – TÁ! Vamos logo, você tem muita estrada pela frente.
Colocamos tudo novamente no carro e eu me despedi dos meus amigos pelos próximos meses, e o sorriso de nós três não parecia acabar, já que, apesar de longe, aquela era uma chance única na minha vida.
- AAB, aí vou eu. - Disse para mim, logo depois de acenar para John e Camille, e pegar a estrada.
O caminho foi sossegado até uma boa parte. Eu me distraía com música, e cantava sem ter vergonha, já que estava sozinha no carro. Só que eu não lembrava que New York era tão longe de Pittsburg. Já estava cansada de dirigir sem parar, e meus olhos pesavam por conta da escuridão.
- Hum, Philadelphie, é? - Cerrei os olhos para enxergar a placa da entrada da cidade. Resolvi parar e tomar um café em algum bar, antes de seguir caminho, o que foi bom para não pegar no sono. Dirigi sem mais paradas depois disso, e o sol já tinha nascido quando eu finalmente passei, deslumbrada, pela Times Square. As lojas já abriam, mas ainda faltava tempo até o meu teste, então procurei por algum estacionamento ali por perto, para parar e descansar.
- Alô? Camille? - Perguntei quando ouvi o barulho no celular.
- ? Você já chegou? - Ela tinha a voz empolgada.
- Aham, acabei de chegar. Vou descansar um pouco e ir pra lá. - Disse, pulando para o banco de trás e me ajeitando por lá.
- Me liga para avisar que passou! Beijos! – Ela me dizia, passando a confiança que eu precisava.
- Ligo sim, beijos! - Fechei o flip, e peguei no sono logo depois.
N/A: AWE, fic nova! Estou empenhada nessa – falei a mesma coisa em todas as outras. rs Mas essa eu estou lançando sozinha, sem a minha parceira de fics – Fer :D Então vou precisar de muito mais empenho, né? Mandei esse primeiro capítulo curtinho para ver a resposta de vocês sobre a fic, mas já tenho bastante coisa preparada. Espero que vocês gostem, assim como eu AMO dança e música. Fiz várias pesquisas sobre o assunto, vi vídeos, tudo para deixar a fic mais realista – e pra se alguém que já dançou ballet ler isso, não me matar. rs É isso girls, esperem a próxima att ;) xoxo, Nanda.
N/B: Achou algum erro? Mande um e-mail para mayespadaro@gmail.com. Obrigada ;D