Aos tropeços, null chegava ao seu quarto. Foi direto para a sua penteadeira, se sentando meio desajeitada. Iluminada, apenas pela luz fraca do abajur, viu sua imagem um pouco embaçada no espelho. A imagem de uma garota que, com 17 anos, já tinha passado por tudo. Uma garota que já tinha visto de tudo. Ela queria chorar, mas as lágrimas já haviam secado há anos. Queria fugir, mas não teria para onde. Era uma garota que já tinha agüentado por tempo demais. Estava na hora de desistir.

Abriu a gaveta a sua direita. Do fundo dela, tirou um pequeno pedaço de tecido dobrado. Dentro dele, uma pequena lâmina. Segurou-a com cuidado e a observou. Prometeu a si mesma que só usaria aquilo como ultima solução. O momento tinha chegado.


null estava em uma das muitas festas que sempre freqüentava. Rodeada pelos mesmos rostos que a induziram para aquele lugar. Bebidas, as mais variadas drogas, dando seu corpo a quem se interessasse. Fazia aquilo toda noite. Sua forma de apagar da mente, mesmo que por poucas horas, as dores de uma vida repleta de quedas. Quando as lembranças voltavam, ela começava tudo de novo. Era um círculo vicioso.

Sua noite estava apenas começando, quando sentiu alguém lhe puxando pelo braço. Gritou, pedindo que lhe soltasse, mas foi ignorada. Nem as pessoas a sua volta a ajudavam. Todas ocupadas demais em se manterem drogadas.
- Me larga! Você está me machucando!
Os dois já estavam do lado de fora da casa, parados no meio da rua, sendo observados por poucos.
- O que você está fazendo aqui? – null perguntou.
- Tentando me divertir.
- Tentando destruir ainda mais a sua vida! – Ele gritou. – É isso que você está tentando fazer!
- O que eu faço com a minha vida é problema meu. Me deixe em paz!
null começou a andar de novo em direção a festa, mas null puxou-lhe pelo braço novamente.
- Que inferno, null. O que você quer de mim?
- Me diga. É verdade o que eu ouvi? Você estava grávida?
- Onde você ouviu isso? – null perguntou, com a voz meio trêmula.
- É verdade? – Ele perguntou, ignorando-a.
- É.
- Por que você não me contou?
- Por que eu contaria?
- Nós estávamos juntos. Eu tinha o direito de saber.
- Estávamos, null? Você me trocou por aquela vadia da Laurie. Ou será que se esqueceu disso?
- Eu não te troquei. Eu nunca te traí e você sabe disso. Mas você prefere dar ouvido a esses viciados, que você chama de amigos e que só te deixam pra baixo, do que confiar em mim.
null não respondeu. Apenas fechou a mão em punho com força próximo ao corpo. null a olhava fixamente. Um olhar de raiva, e ao mesmo tempo de preocupação. Ele deu alguns passos até ela, mas não teve coragem de tocá-la, com medo de como ela reagiria.
- Por que você não me contou? – insistiu ele.
- Para quê? – Gritou ela, dando um passo para trás. – Para ver você virando a cara para mim? Para eu correr o risco de levar uma surra sua? Ah! – null levou a mão no rosto, fingindo estar pensando, e deu uma pequena risada irônica. – Já sei. Você pediria dinheiro emprestado dos seus pais ou seus amigos para pagar um aborto. Não é assim que você faz? Tenta resolver as coisas sempre da forma mais simples? Não se preocupe, null, querido. Eu já resolvi esse problema. Agora me esqueça. Você não precisa mais se preocupar com nada. Sua vida perfeita vai continuar do jeito que sempre foi. É só... Fingir que nunca me conheceu.


Ainda com a lâmina em sua mão, null balançou a cabeça para tirar a imagem de null, aquele que pensou ser a única coisa válida em sua vida miserável, da cabeça.

Ela foi até o pequeno banheiro ao lado de seu quarto, fechou a porta e ligou o chuveiro. Tirou o sapato dos pés, a corrente de seu pescoço e os anéis de prata que lhe envolviam os dedos. Sentou-se em baixo da água levemente morna, a lâmina ainda em sua mão. Pensou em tudo o que tinha passado até aquele dia. Foi abusada quando pequena; levou surra do seu pai; viu sua mãe morrer. Foi em sua mãe em que seus pensamentos pararam. Em todas as pessoas que diziam que ela conseguiria superar sua morte. Elas não se importavam realmente. Agora, null sorria ao perceber em como a vida era surpreendentemente irônica. Ela estava terminando exatamente como sua mãe. E estava satisfeita com isso.

Foi pensando em um paraíso - que ela sempre acreditou existir - que null fez o primeiro corte em seu pulso esquerdo. Um pequeno arrepio causado pela dor e depois um corte no pulso direito. “Venha me buscar, mamãe”. Ela disse baixinho, largando a lâmina no chão, os pulsos sangrando demasiadamente, a água levando o sangue pelo ralo. Finalmente, toda a dor desapareceria.

Abrindo os olhos, a primeira coisa que null viu não foi o paraíso esperado, nem mesmo sua mãe. Ainda com a visão um pouco embaçada, ela viu que estava em um quarto com paredes azul clara. Fechou os olhos, apertando-os e ao abrir, viu a máquina que insistia em fazer um “beep” irritante. Ao lado, uma bolsa de soro que descia até seu braço por um tubo fino. Levantou o braço esquerdo levemente e viu o pulso enfaixado. Virou-se para olhar o outro, mas a imagem de null dormindo sentado em uma cadeira próxima com a cabeça apoiada na cama, a impediu.
Ela não sabia quanto tempo estava naquele quarto de hospital. Pela janela, viu que era noite. Ainda seria a mesma noite? Ou ela teria passado dias ali, dormindo. E null? O que ele fazia ali? Fora ele quem a levou para aquele lugar? Lógico. Quem mais teria feito?! Era null quem sempre interferia em sua vida.
Ela ficou a observá-lo, até que ele, depois de suspirar fortemente, levantou a cabeça. Pareceu desnorteado por alguns segundos, até perceber que null já havia acordado.
Sem dizer nada, null se levantou e foi até a porta do quarto. Gritou para uma das enfermeiras, pedindo para ela chamar um médico. Deu olhadas rápidas para null, mas não saiu da porta até o médico aparecer.
O doutor foi até a cama de null. A primeira coisa que fez foi verificar o curativo em seus pulsos.
- Como está se sentindo? – Perguntou ele.
- Fraca.
- Você perdeu muito sangue. Por sorte, o rapaz ali – disse ele, se referindo a null – te trouxe rapidamente para o hospital. Mais alguns minutos e nós a teríamos perdido.
Essa era a intenção, doutor, pensou null.
Depois de examiná-la, o médico deixou o quarto, sendo seguido por null. Não demorou muito para ele voltar e sentar na cadeira onde estava antes. Com uma postura firme, ficou a observar a garota sem dizer uma palavra.
- Acabe logo com esse silêncio – disse ela.
null bufou, balançou a cabeça, e deu um sorriso de raiva rápido.
- Eu não credito que você teve coragem de fazer isso. Tentar se matar... – ele balançou a cabeça novamente, como se não acreditasse ou aceitasse que isso tinha acontecido, e tentou manter o tom da voz baixo. – E ainda teve coragem de dizer que eu que procuro as formas mais fáceis de me livrar das coisas...
- Foi para isso que você me trouxe ao hospital? Para brigar comigo? Antes tivesse me deixado morrer. Seria menos trabalhoso para você, e muito mais confortável para mim.
null baixou a cabeça nas mãos. Ficou assim por alguns segundos até se levantar. Deu uns passos pela sala e voltou-se para cama, se sentando ao lado esquerdo de null.
- Por quê? Por que você fez isso?
- Eu... – novamente, null gaguejava. – Eu desisti. Cansei de sentir dor. Cansei de tudo aquilo... – ela então balançou a cabeça e olhou para null com raiva. – Eu não tive uma vida fácil como você. Por que você não me deixou partir, null? Era isso que eu queria.
Ignorando a fúria repentina de null, delicadamente, null encostou sua mão no braço dela e olhou em seus olhos, de uma forma que ele nunca tinha feito antes.
- Porque eu não desisti de você. E eu nunca vou desistir. Aceite isso ou não, eu vou cuidar de você agora.
null falava com uma firmeza que null nunca tinha visto nele antes. Sem saber o que dizer ou como reagir, confusa com o que pensar e com o que estava sentindo, ela virou o seu rosto para o lado. Como se entendesse a reação de null, null sentou de volta na cadeira. O silêncio tomava conta da sala.
Alguns minutos depois, uma enfermeira entrou. Ela trocaria os curativos de null, que estavam levemente manchados de sangue. Ao primeiro gemido de dor que ela soltou, null se levantou e sentou-se ao lado dela na cama, o mais próximo o possível. Passou o braço por trás da cabeça null, fazendo carinho em seus cabelos.
- Você fez isso consigo mesma, querida – disse a enfermeira. – Agora, agüente as conseqüências.
- O seu trabalho é cuidar dos pacientes, e não julgá-los ou dar opiniões – reclamou null.
A enfermeira fechou a cara e terminou o resto do curativo. Depois, injetou algo no tubo que levava soro ao braço de null.
- Isso vai fazer você dormir em breve.
Depois de uma olhada rápida em null, a enfermeira saiu, e null voltou para a sua cadeira, mantendo os braços cruzados próximo ao peito, olhando para a garota por quem ele estava apaixonado. Os dois permaneceram calados até null dormir novamente.
Na manhã seguinte, a primeira coisa que ela avistou foi null, dormindo na mesma cadeira, vestindo as mesmas roupas. Ele passara a noite com ela. null arrancou a intravenosa de seu braço e tentou se levantar. Depois dos três primeiros passos, sentiu a cabeça girar e as pernas fraquejarem. Teria parado com o rosto no chão, se não fosse pelo braço de null, que a segurou.
- Pensando em fugir? – null disse com a voz ainda meio fraca pelo cansaço e sono.
- Pensando em ir ao banheiro – ela respondeu.
- Eu levo você.
null deixou null no banheiro e encostou a porta, não a fechando totalmente, e esperou do lado de fora.
Parada em frente a pia, null se olhou no pequeno espelho oval preso na parede. Completamente pálida. A única coisa em sua face que ainda possuía um pouco de cor eram seus olhos marejados. Suspirou. O que eu farei agora?, pensou. Toda sua vida tinha sido um fracasso. Até na tentativa de se matar, ela tinha falhado. Por culpa de null. Tentou sentir raiva dele, mas seus sentimentos e pensamentos estavam abalados e confusos demais para isso.
null carregou todo o peso de null de volta até a cama. Com os braços dela em volta de seu pescoço, segurou em sua cintura e a levantou, sentando-a na cama, e ajudando-a a se sentar. Ela observou os olhos do rapaz. Estavam cansados. Ele tinha passado a maior parte da noite a vigiando.
- Quando precisar de algo – ele disse, voltando a sua cadeira – fale comigo.
null não respondeu. O silêncio se manteve durante todo o dia, sendo interrompido apenas quando null pedia ajuda de null para se sentar na cama, ir ao banheiro, ou quando null perguntava-lhe como ela estava se sentindo. Quando trouxeram o café da manhã de null, null sentou-se na cama e prestava atenção em cada detalhe, como se estivesse com medo de que null deixasse tudo cair a qualquer segundo. O mesmo aconteceu quando o almoço lhe foi servido.

À tarde, uma psicóloga entrou no quarto, fazendo com que null saísse. Centenas de perguntas foram feitas, todas em vão. null se matinha muda e nada que a psicóloga a dissesse a faria mudar. Manteve-se o tempo todo olhando para frente, presa no vazio de seus pensamentos. Ela nunca tinha falado sobre a sua vida para alguém. O único que tinha conseguido tal feito era null, devido a grandes insistências. Mas, diferente de null, a psicóloga era apenas uma pessoa qualquer para null. Ela não se abriria a uma estranha.
Uma hora depois a psicóloga se deu por vencida e saiu do quarto. Minutos depois, uma nova enfermeira entrou no quarto de null. Diferente da anterior, essa tinha traços jovens, e um rosto amigável. Trazia consigo roupas. As botou em cima da cama e fechou a porta.
- Como está se sentindo, pequena? – perguntou a enfermeira, com voz amável.
- Bem.
A enfermeira deu uma olhada nos curativos nos pulsos de null e depois sorriu.
- Vamos tirar essa roupa feia de hospital.
Ela ajudou null a levantar da cama, deixando-a de pé. Começou a tirar a camisola hospitalar que null usava e puxou as roupas que estavam sobre a cama para perto.
- Seu namorado trouxe essas roupas para você – a enfermeira falava, enquanto ajudava null a vestir a calça jeans e a camiseta. – Ele está lá fora, conversando com o médico. Você vai receber alta daqui a pouco e vai poder ir para casa.
Casa?, null pensou, Eu não tenho casa.
- Qual é mesmo o nome do rapaz?
- null.
- null – a enfermeira repetiu. – Um belo nome. Combina com ele. É um rapaz de ouro. Não saiu de perto de você desde que te trouxe ao hospital. Ele vai cuidar muito bem de você.

Não demorou muito para null e null abandonarem o hospital. Ele, segurando-a pela cintura, a guiou até um dos táxis parados próximos a entrada do hospital. Assim que o carro começou a se mexer, null disse ao motorista o endereço de destino, deixando null surpresa.
- Esse é o...
- Endereço da minha casa – null a interrompeu. – Eu disse que ia tomar conta de você e eu não estava mentindo.
null deu uma olhada rápida na expressão séria de null e depois, relaxando no banco de trás do carro, virou o rosto para baixo, fixando o olhar nos pulsos cobertos pelas mangas do casaco.
- E seus pais? – ela perguntou, depois de alguns segundos.
- Eles concordaram. Eles vão me ajudar a cuidar de você. O médico falou para não te deixar sozinha em nenhum momento. Então você vai ficar com a minha mãe enquanto eu estiver na escola. Já meu pai... Ele mal para em casa. Mas isso não importa. Eu vou estar perto o tempo todo. E uma psicóloga vai até minha casa duas vezes por semana pra conversar com você.
- Já me sinto sufocada – null resmungou.
- É isso ou você é internada em uma clínica psiquiátrica – null respondeu, com a voz levemente alterada.
Ele respirou fundo e deslizou sua mão até a de null, e continuou a segurá-la até chegarem a casa, mesmo que null não respondesse da mesma forma.

- Mãe? Estamos aqui.
O olhar de null, que estava a observar a casa onde ela nunca tinha estado antes, parou na mãe de null, que vinha de outro cômodo. Instantaneamente, ela notou a grande semelhança entre os dois. Um pouco receosa, a mãe de null se aproximou e deu um abraço em null, deixando-a sem reação. Quando a soltou, olhou para null, como se não soubesse o que dizer.
- Eu vou mostrar o quarto para null – null disse.
- Isso. Não demore muito, o jantar já está pronto. Eu vou começar a servi-lo.
Puxando null pela mão, null a levou para o andar de cima. Indicou onde era o banheiro, o quarto dos seus pais e o quarto de visitas.
- Esse é meu quarto – null disse, abrindo a porta de um dos cômodos. – Bem... Nosso agora.
null observou tudo que preenchia o quarto. Uma cama de solteiro encostada na parede direita. Uma escrivaninha de madeira na parede contrária, com um computador em sua superfície. Duas prateleiras, uma com alguns DVDs, outra com livros. Algumas fotos em porta-retratos, presos a parede, e um armário de mesmo tom de cor da cama e da escrivaninha. null abriu uma das portas e mostrou seu próprio banheiro.
Ainda cansada se sentindo meio fraca, null se sentou na cama e baixou a cabeça. Olhou para os pulsos enfaixados e suspirou. Ela ainda estava em um mar de incertezas. null jogou sua mochila na cadeira da escrivaninha e sentou ao lado dela.
- Vamos descer. Minha mãe fez um belo jantar para você.
- Não estou com fome.
- Você precisa comer, null. Precisa se recuperar rapidamente.
- Eu não...
As palavras se prenderam na garganta de null e se recusaram a sair. Ela se sentia estranha e não sabia como agir com aquele sentimento.
- Vamos – ele insistiu, com a voz suave. Novamente a guiando pela mão, os dois foram para a cozinha.
Sentados na pequena mesa para quatro, o clima era de desconforto para os três, embora null fosse o que parecia menos se importar. Ele sentou-se novamente ao lado da null, como se estivesse obrigando-a mentalmente a comer.
- Eu não sabia do que você gostava – disse a mãe de null. – Então eu preparei um pouco de massa. Sempre foi um dos pratos preferidos de null, então imaginei que você também gostasse.
Os pratos na mesa eram de plástico, assim como os copos e os talheres. null, envergonhada, mantinha a cabeça abaixada, e escondia os braços entre as pernas.
- Coma um pouco – null sussurrou. – Só um pouco.
null deu uma olhada rápida para null, e levantou o braço sobre a mesa. Pegou um garfo e ficou constrangida ao perceber que a mãe de null ficou paralisada ao ver seu pulso enfaixado.
- Está bom? – A mãe de null perguntou depois da terceira garfada.
- Ah... está – null respondeu, embora não sentisse de fato o gosto. – Obrigada, senhora null.
A mãe de null apenas respondeu com um sorriso e olhou para o filho, que também lhe deu um sorriso. Depois de mais duas garfadas, null percebeu que não a faria comer mais do que aquilo, e a levou de volta para o quarto, acompanhado da mãe.
Enquanto null se sentava novamente na cama, null encostou a porta pelo lado de fora, para falar com a mãe. Embora eles sussurrassem, null pode ouvir do que falavam.
- Você cuidou de tudo? – Ele perguntou.
- Sim. Escondi facas e qualquer outro objeto cortante que tivesse na casa.
- Obrigado, mãe. Eu acredito que isso não será por muito tempo. Ela vai se recuperar logo.
- Espero que esteja certo. Isso é tão estranho...
- Ela só está um pouco... abalada.
- É claro que está. Ela tentou se matar. Me arrepio só em pensar no que ela fez.
- Mãe, você vai conseguir ficar com ela amanhã de manhã? Eu posso faltar à escola...
- Não... Vai ficar tudo bem. A gente vai se dar bem.
- Obrigado de novo, mãe. Boa noite.
- Pra você também. Tem certeza que vocês vão ficar bem aí?
- Tenho.
null entrou no quarto, trancando a porta. Ele parou por uns segundos e observou null. Ela parecia completamente catatônica. Paralisada, ainda escondendo os braços entre as pernas, olhando para o nada. Ele foi até ela e se abaixou na sua frente. Botou a mão em seu queixo e levantou seu rosto, fazendo-a olhar para ele. Com um sorriso torto nos lábios, ele tirou o tênis e a meia dos pés de null e levantou-se, levantando ela consigo, e a levou até o banheiro.
- Acho que você precisa de um banho.
null concordou com a cabeça, mas não se mexeu. Ela se sentia incrivelmente fraca. Como null previu, ela não seria capaz de tomar banho sozinha. Como se cuidasse de uma criança, null tirou cuidadosamente o casaco dela, seu jeans, e sua camiseta. null se sentiu meio surpreso quando, ao terminar de tirar sua blusa, null baixou seus braços na direção do pescoço de null, o abraçando.
Imóvel por poucos segundos, ele a abraçou também. Deu dois beijos carinhosos em seu cabelo e ficou com ela daquele jeito sem ligar para o tempo que passava. O tempo ali simplesmente parou de existir. Afastou-se um pouco para tirar sua própria roupa. Abraçando-a novamente, foi andando com ela para dentro do chuveiro. Ligou a água quente. Com o rosto afundando no peito de null, ela simplesmente se sentiu incapaz de soltá-lo, embora não tivesse certeza do motivo que a fazia estar fazendo aquilo.
null lavou os cabelos de null e os penteou com os próprios dedos. Passava a esponja delicadamente por suas costas, pernas, barriga. Teve todo o cuidado para não encostar nas cicatrizes dos pulsos. Era difícil de fazer, já que null se recusava a soltar-se. Mas ele não se importava. Ficariam os dois ali a noite inteira se fosse preciso.
Depois de secar-se e secar null, vestir-se e vesti-la com um pijama confortável, null pegou o material para fazer um novo curativo. Sentados na cama, ele o fez com cuidado e dedicação. Dedicação essa que surpreendia null.
- Por que você está fazendo isso? – Ela perguntou.
Como resposta, null deu um sorriso acompanhado de um olhar afetuoso. Levantou-se para guardar o resto do material na escrivaninha. Apagou a luz, deixando o quarto iluminado apenas com a fraca luz que vinha da rua pela janela. Deitou-se na cama puxando null para si. Ajeitou a coberta em cima dos dois, abraçou null com um dos braços e segurou uma de suas mãos perto de seu rosto. Beijo-lhe a testa e ficou a olhar o nada, pensando se conseguiria dormir agora que sabia que null estava segura.

null acordou com a luz do sol em seus olhos, graças a uma pequena falha na cortina. Estava deitada de bruços, abraçada ao travesseiro. Um pequeno substituto de null, que havia ido para a escola.
Levantou-se lentamente e esfregou os olhos. Levantou-se lentamente e foi ao banheiro. Ao se olhar no espelho, pensou em quão estranho era estar na casa de null, e o quão desconfortável seria estar sobre constante vigilância. Mas entre ser internada em uma clinica e ficar ali, null preferiu a segunda opção.
Desceu as escadas lentamente. Embora a casa tivesse um clima confortável, o silêncio lhe trazia lembranças de momentos assustadores. Escutando o leve barulho de água escorrendo, null se dirigiu para a cozinha. Lá estava a mãe de null, terminando de lavar uma pequena louça.
- Ah, que bom que acordou – a mãe de null disse, secando as mãos com um pano de prato. – Sente-se. Eu vou lhe servir seu café da manhã.
Sentindo-se novamente como uma intrusa em um mundo que não era seu, null sentou-se em frente à pequena bancada. A mãe de null serviu-lhe suco de laranja acompanhado de waffles, e morangos cortados em pequenas fatias. Novamente, o copo, prato e talheres eram de plástico. null ficou sentada, olhando para a comida em sua frente, mas não conseguia dar a primeira garfada.
- Algum problema?
null franziu o cenho.
- Eu sei que estou sendo uma intrusa. Sei que a senhora me acha uma total maluca que só está atrapalhando a vida de seu filho – null falava rapidamente, sua voz meio trêmula. – Eu não pedi para ele me trazer para cá. Eu acho melhor eu ir embora. Assim que null chegar eu direi que vou embora.
- Calma, calma – a mãe de null tentou manter uma voz tranqüila. – Você passou por problemas, ok? Agora é só tentar superá-los. E você não é nenhuma intrusa. É muito bem-vinda aqui. - A mãe de null se aproximou de null e botou a mão em seu ombro. - Meu filho gosta muito de você. Na verdade, sei que é mais do que gostar. Eu nunca o vi tão preocupado com algo ou alguém como ele ficou com você. Se você é importante para ele, também é importante para mim – ela deu um sorriso, e depois deu um beijo em sua testa. – Nós vamos ajudá-la em tudo. Somos sua família agora. Agora, tome seu café.
Aquilo atingiu null de uma forma estranha. Ela nunca tinha ouvido palavras tão sinceras e, de certa forma, aquilo a assustava. Ainda sendo observada pela mãe de null, ela deu um gole lento em seu suco e pegou o pequeno garfo.
- Bom – a mãe de null sorriu.
As duas passaram o dia na cozinha. null estava proibida de ficar sozinha e a mãe de null precisava fazer o almoço. Poucas palavras foram ditas durante esse pequeno período de tempo. A mãe de null ainda estava um pouco incerta sobre como tratar null, sobre as coisas que poderia falar e as que não poderia ser ditas. Então tentava dizer coisas suaves e sem grandes importâncias, como o clima e o cheiro da comida pré-pronta que estava sendo preparada.
Quando null chegou, a primeira coisa que fez foi dar um beijo no topo da cabeça de null e depois um na bochecha de sua mãe. Largou a mochila pesada e a pequena mala no chão e bebeu um copo de água.
- Fui até aquele prédio onde você morava e trouxe suas roupas – ele falou, sentando-se ao lado da garota. – Mas não consegui trazer tudo. Vou voltar amanhã e buscar o que falta.
- Talvez isso seja um erro, null – null falou, olhando para a bancada.
- O único erro seria você continuar lá. Aqui é a sua casa agora. Nós somos sua família, e é aqui que você vai ficar.

No dia seguinte, o mesmo aconteceu. null acordou sozinha no quarto de null. Depois de se arrumar, desceu e ficou na cozinha com a mãe dele, observando-a preparar o almoço. Quando ela saia para arrumar algum cômodo da casa, null a seguia e ficava em algum canto em que não a atrapalhasse.
null chegou um pouco atrasado. Trazia uma mala um pouco mais pesada daquela vez. Depois do almoço, subiu com ela para seu quarto, acompanhado de null. Os dois abriram a mala e começaram a arrumar as coisas. Algumas roupas que ainda faltavam, sapatos e objetos pessoais como maquiagem, pulseiras e correntes.
- null, você pegou uma caixa que havia na gaveta da penteadeira?
- Essa aqui? – null entregou uma pequena caixa achatada de cor vinho nas mãos de null, que a segurou com força e alisou sua superfície. – O que há nela?
- Algumas coisas importantes.
- Vai me mostrar o que há nela?
- Ah...
Três batidas na porta. A mãe de null veio avisar que a psiquiatra esperava por null na sala. Botando a caixa dentro da gaveta da escrivaninha de null, null se levantou e os três desceram pela escada. Uma mulher vestida com roupas formais e claras, e um sorriso leve, observou null dos pés a cabeça enquanto se aproximava.
- Olá, null. Eu sou a Dra. Swanton.
- Oi.
- Vamos conversar um pouco, ok? Sente-se.
- Vocês vão ficar aqui mesmo na sala? – perguntou null.
- Se não tiver nenhum problema – disse a Dra.
- Não, está tudo bem. Vamos deixá-las a sós.
null e sua mãe voltaram para o andar de cima, deixando as duas na sala. null sentada no sofá maior, e a Dra Swanton sentada em uma das poltronas, com as pernas cruzadas e olhava para null.
- Então...null. Prefere que eu a chame por null ou algum outro apelido?
- Tanto faz.
- Como está se sentindo, morando com a família de seu namorado?
Era a segunda vez que null ouvia alguém dizer que null era seu namorado. A primeira vez foi com a simpática enfermeira do hospital. Namorado. Era isso que ele era de null? Ela não tinha certeza. Ela sentia que ele estava mais para uma espécie de guarda-costas. Um que lhe agradava, na verdade. Embora fosse difícil admitir, a presença de null lhe trazia uma espécie de paz e conforto que ela, mesmo não acostumada, adorava.
null não respondeu aquela pergunta da doutora, assim como não respondeu nenhuma outra. Uma hora e meia que as duas ficaram sentadas uma de frente para a outra, null se manteve completamente calada. Até mesmo esqueceu que estava na frente de uma médica, assim como esqueceu que estava na casa de null. Prendeu-se no vazio de seus pensamentos mais uma vez.
null observava tudo silenciosamente do topo da escada. Nervoso e preocupado, não gostava do que via.
Quando o horário acabou, null e sua mãe voltaram para a sala. Os dois acompanharam a doutora até a porta e pararam ali para conversar, enquanto null ainda estava sentada no sofá.
- Ela é catatônica.
A mãe de null arqueou a sobrancelha.
- Catatônica?
- Sim. Ela simplesmente se desliga do mundo. O olhar fica vazio, não se move, se perde em seus próprios pensamentos. Acredito que ela sempre foi assim, mas a tentativa de suicídio só agravou a situação. Ela sempre foi calada assim?
- Eu não sei... – disse a mãe de null. – Eu a conheci ontem.
- Sim, ela sempre foi meio calada – null disse, cruzando os braços. – Mas... Mas ela já falou comigo. Foi tudo meio vago, mas ela contou um pouco sobre o seu passado. Acredite, não foi nada agradável.
- Suponho que sim. Pessoas catatônicas, em sua maioria, sofreram um grande trauma em sua infância. Mas ela ter te falado algo a respeito é bom – continuou a doutora. – Quer dizer que uma parte dela confia em você. Talvez possamos usar isso na minha próxima visita.
- Como assim? – A mãe de null perguntou.
- Talvez seja uma boa idéia null participar da próxima sessão. Talvez ela se solte mais e comece a falar. Mas por enquanto, o que eu posso aconselhar a vocês é tentar trazer null de volta para o mundo. Interajam com ela. Façam atividades, todos juntos. Faça-a se sentir mesmo uma pessoa da família. E não a deixem o tempo todo dentro de casa, ou ela vai acabar enlouquecendo. null, eu acho uma ótima idéia você fazer passeios com ela. Comece com lugares calmos. Caminhadas, um final de tarde na praia... Isso vai ajudá-la.
- Pode deixar, doutora.
- Então... Até a próxima semana.

No sábado, a primeira “atividade em família” se passou durante à tarde. null finalmente tinha conhecido o Senhor null, pai de null. Ele a tratou da mesma forma carinhosa e cautelosa como a mãe de null fazia. Durante a tarde, todos eles foram a um supermercado. Não era a melhor atividade a se fazer, nem a mais interessante, mas estava de acordo com as recomendações da Dra Swanton.
A mãe de null aproveitou para tentar uma pequena aproximação. Enquanto os “homens da casa” compravam carnes, ela pediu a null ajuda para comprar xampus, cremes, e outros produtos de beleza. null começava a se soltar, mas ainda assim se sentia uma estranha.
Quando voltavam para casa, passaram em uma locadora e pegaram algumas comédias. Os quatro passaram o resto da noite em frente à televisão. null ficou feliz ao ver um leve sorriso aparecer no canto da boca de null pela primeira vez em dias.

No domingo, também durante a tarde, null levou null para um passeio em um dos parques próximos da casa dele. O sol estava escondido entre as nuvens e a leve brisa deixa o clima agradável. Os dois andaram de mãos dadas até chegarem perto de um lago. null sentou em baixo de uma árvore, puxando null para se sentar entre suas pernas. Abraçou-a pela cintura, fazendo-a recostar suas costas em seu peito. Deslizou a mão pelo seu braço até encontrar a mão dela, e entrelaçar os seus dedos.
- Sabe, eu realmente gosto de ficar assim com você – null falou. Sua voz era delicada e afetuosa.
- Eu também – null respondeu depois de um suspiro.
null sorriu e beijou-lhe o cabelo. Depois tirou as poucas mechas que caiam pelo ombro de null e ficou a lhe dar alguns beijos no pescoço, sem se preocupar com as pessoas que passavam. Os dois estavam em um momento só deles, e nada os distrairia.

Na terça-feira, durante a tarde, a Dra Swanton apareceu novamente. Vestida tão formal como na primeira visita, ela se sentou na mesma poltrona e null no mesmo sofá. Mas desta vez, null estava ao seu lado, segurando-lhe as mãos.
- Então, null. Vejo que já está melhor. Acredito que seus dias têm sido bem agradáveis.
null hesitou por alguns segundos antes de responder. Como a doutora imaginou, a presença de null a influenciava.
- Estão – ela responde simplesmente.
- Que bom. E que tal me contar o que você tem feito ultimamente?
Mais uma vez, null franziu o cenho e contraiu os lábios. Abaixou levemente a cabeça e começou a olhar o vazio em sua frente. A Dra Swanton olhou para null, como se o alertasse e ele, entendendo o que deveria fazer, se aproximou um pouco mais e apertou levemente a mão de null.
- Vamos, null – ele disse baixo em seu ouvido. – Conte a doutora o que fizemos esses dias.
null olhou para null rapidamente e voltou seu olhar para baixo novamente.
- Fizemos compras – ela disse finalmente, falando meio baixo – e passeamos pelo parque.
- Bom. Gostou de fazer essas coisas?
- Gostei.
Aquele foi o máximo que null falou. Ela ainda se perdia em seu mundo particular e demorava até voltar à realidade. Mas a Dra Swanton achava que aquele era um bom progresso e os dois deveriam continuar assim. O processo seria lento, mas daria certo.

Na sessão de quinta-feira a conversa começou do mesmo jeito, mas desta vez, a Dra Swanton tentou abordar o passado de null.
- A sua relação com a senhora null, como é?
- Agradável... Ela é... Boa comigo.
- E essa relação, eu imagino, te faz pensar em sua mãe. Era uma boa pessoa, tenho certeza.
null estremeceu um pouco.
- Minha mãe...
- Como era, null, com sua mãe? Como era a relação entre vocês duas?
null não respondeu. Ao invés disso, voou para o pescoço de null, o abraçando, como se fosse uma criança pedindo por proteção.
- Acho que por hoje chega, doutora – null falou, em tom de desagrado.
- Sim, por hoje chega.
A Dra Swanton se levantou e, antes de sair, cegou perto de null, e botou as mãos sobre sua cabeça, ignorando o olhar irritado de null.
- null, eu sei que isso pode lhe machucar. Mas se você não enfrentar os seus medos agora, eles nunca vão parar de te perseguir. Está na hora de descobrir a garota forte que existe dentro de você.
A Dra Swanton se levantou e saiu pela porta.
- null, você está bem?
null não respondeu. Apenas apertou-se mais em null, escondendo o rosto em seu pescoço. null então a levantou no colo e a carregou para seu quarto. Deitou-se de lado na cama com ela, acariciando seus cabelos. Quando percebeu que ela havia adormecido, imitou-a.

Quando acordou, poucas horas depois, null acordou e não viu null ao seu lado. Levantou-se rapidamente e viu que a luz do banheiro estava acesa. Com o coração apertado, em um pulo, ele já estava na porta. null estava sentada no chão. A caixinha que ela tinha guardado na escrivaninha estava ao seu lado, aberta. Algumas fotos estavam espalhadas pelo chão.
null foi andando lentamente até null, e se sentou ao seu lado. Ele pegou uma das fotos do chão. Uma mulher segurando uma criança.
- Minha mãe – null falou baixinho.
- Ela era linda. Assim como você é.
null não respondeu. Sua mãe era linda, realmente. Mas, como null poderia achá-la tão linda quanto sua mãe? Ela era apenas uma garota destruída. Sem vida. Como se fosse um fantasma perdido que procurava o caminho para se libertar.
null começou a pegar as outras fotos no chão. Algumas dela com null ainda bem pequena, outras, com ela um pouco maior. Mas em nenhuma delas, null parecia ter mais de oito anos de idade. Ele guardou as fotos dentro da caixa, inclusive a que null segurava. Novamente, ela estava entrando em estado catatônico. null, então, chegou um pouco mais perto, e pegou null no colo. Fez com que ela encostasse a cabeça em seu peito, e segurou suas mãos perto do coração.
- Por que... – null tentou falar, mas null a impediu.
- Não pense em nada agora. Eu estou aqui.

Sábado chegou coberto de chuva e com vento forte. null estava animado. Haveria um jogo de basquete em seu colégio e null tinha aceitado ir com ele. Mesmo sendo um pouco cedo, null não via problemas de os dois começarem a freqüentar lugares com mais pessoas. O jogo de basquete seria um bom começo.
Os dois foram de táxi até o colégio. Assim que saltaram, null sentiu-se insegura e apertou o braço de null.
- Ei, está tudo bem – ele disse. – Eu estou do seu lado e não vou sair de perto de você.
- Tudo bem.
Os dois foram andando em direção a quadra, cercado de vários alunos que faziam o mesmo. null conhecia a maioria daqueles rostos. Ela estudou naquele mesmo colégio até o dia em que foi expulsa por levar drogas para o colégio. null sentia alguns olhares virando-se para ela, mas ela tentou ignorar, embora não fosse fácil.
- Lembra de quando nos conhecemos? – Disse null, um pouco antes de entrarem na quadra.
null lembrava com clareza. Foi naquele mesmo local, há quase um ano. Estava tendo um jogo como o daquela noite. Ela, sem paciência com a partida, foi para fora fumar um cigarro. null, que já a tinha notado há algum tempo, achou uma ótima oportunidade para um contanto e a seguiu.

- Péssimo jogo – ele disse, parando ao lado dela, um pouco afastado.
null deu uma olhada rápida para ele e voltou a se concentrar em seu cigarro.
- Grande fã de esportes? – ele perguntou.
Ela deu um leve sorriso.
- Ah, sim. Esportes simplesmente me fascinam – ela disse irônica.
- Pensei que fosse. Sempre te vi nos jogos.
null arqueou a sobrancelha.
- Então, você tem me vigiado?
- Notado. Essa seria a palavra certa.
null deu de ombros. Deu mais um trago em seu cigarro e solto a fumaça lentamente, que se misturava com a fumaça que saia naturalmente da sua respiração, devido o frio daquela noite.
- null – ele disse, cortando o silêncio.
- null – ela disse, depois de uns segundos.
- Quer sair comigo um dia desses?
- Nossa. Foi mais rápido do que eu imaginava.
null sorriu, coçando a cabeça.
- Você não deveria sair com garotas como eu. Acabaria com a sua reputação.
- Isso é um não?
null analisou null. Ele era bonito. Tinha olhos encantadores e uma boca incrivelmente convidativa. Ele parecia ser apenas mais um dos garotos que a procuravam para uma noite de curtição.
Por que não?, pensou ela. Eles sairiam, se beijariam, acabariam na cama, e depois cada um voltaria a sua vida como se nunca tivessem se visto.

Os dois foram para a terceira fileira e se sentaram entre várias outras pessoas. A partida começou pouco tempo depois. Durante o segundo intervalo, null começou a sentir o abafado da quadra e tirou seu casaco, com a ajuda de null. Foi quando os comentários começaram. As pessoas que estavam ao seu lado e atrás dos dois perceberam as faixas em volta dos pulsos de null que teimavam em cicatrizar. Logo, parecia que todos os presentes sabiam o que havia lhe acontecido.
null começou a sentir nervosa. Era se como todos os olhares se voltassem para ela. Como se todos estivessem falando dela. Antes do incidente, ela não teria ligado para isso. Teria mandados todos para o inferno e sairia do lugar sorrindo. Mas ela já não era a mesma. Ela sentia-se fraca, indefesa, insegura.
Num ato de pequeno desespero, null levantou-se e saiu correndo para fora da quadra. null gritou seu nome, mas ela ignorou. Ela precisava fugir. Ele levantou-se rapidamente e começou a correr atrás dela, gritando seu nome.
- null, calma – ele disse, segurando-lhe o braço.
- Não. Pare, null. Me deixa.
- Você está nervosa, é só. Desculpe-me, eu não deveria ter trago você a esse jogo idiota.
- Não é o jogo. É tudo.
- Do quê está falando?
- De mim, null. Eu estou atrapalhando sua vida. Você não... Você não precisa cuidar de mim. Você tem que viver a sua vida. Eu preciso ir embora.
Ela tentou voltar a andar, mas null agarrou-lhe o outro braço, segurando-a.
- null, me escute. Não a nada que eu queira mais do que cuidar de você. E eu pretendo cuidar de você pelo resto da minha vida. Eu não quero e não posso te perder. Eu te amo.
Os dois se entreolharam por alguns segundos, até que null, segurando o rosto de null, a beijou. O primeiro beijo depois de meses. Um beijo forte e intenso, que fez com que todo o corpo de null estremecesse. null agarrou-a pela cintura, a levantando ligeiramente para poderem ficar o mais próximos possíveis. As mãos de null, que antes estavam tentando afastar null de forma inútil, agora estavam atrás do pescoço dele, acariciando levemente seu cabelo.
- Eu te amo – repetiu null, transformando o beijo em leves movimentos dos lábios, mas mantendo a mesma emoção. - Você está linda. Perfeita.

A mãe de null ajudava a terminar de prender o arco no cabelo de null, enquanto ela se admirava no espelho. Cinco anos tinham se passado. Cinco anos que levaram embora toda a magoa, as dores e sofrimentos. O seu passado praticamente não existia. A pobre garota tinha se tornado em uma mulher forte. E isso graças a null. Foi ele quem a salvou da morte naquela noite. Foi ele quem lutou por ela todos os dias. E ainda era ele quem cuidava para que ela não sofresse em nenhum momento. Era ele quem cuidava para que suas fraquezas não voltassem.
- Está pronta? - Perguntou a mãe de null.
- Estou – disse ela num sorriso um pouco nervoso.
A mãe de null, visivelmente emocionada, saiu da sala. null se olhou no espelho mais uma vez. Seu coração estava acelerado e, por mais que tentasse, não conseguia se acalmar. Pousou a mão sobre o peito e respirou fundo. O momento finalmente tinha chegado. O momento de dar o primeiro passo para a eternidade.
A música começou a ser tocada. Os poucos convidados se levantaram. null apertou as próprias mãos, aflito, e olhou para a grande entrada. A passos lentos, entrava null, com seu belo vestido branco que a tornava mais magnífica do que ele jamais a vira. Aos seus olhos, parecia-lhe um anjo. A barriga de cinco meses de gravidez só fazia com que ela parecesse mais graciosa. Aquela era a mulher que ele amava, e com quem ele seria feliz pelo resto da sua vida. Aquela era a mulher que ele ajudou a se tornar forte. A mulher com quem ele dividiria todas as coisas boas pelo resto de seus dias.
- Eu te amo – os dois sussurraram ao se encontrarem em frente ao altar.


Fim.


N/A: Essa fic começou a surgir na minha cabeça numa tarde, depois de escutar a música Every Burden Has A Version, do The Academy Is... Eu adoro essa música. Sempre a achei forte. Depois eu escrevi umas partes pensando em Lullaby, da Emmy Rossum e em I Will Be, da Avril Lavigne. Se quiserem, leiam a fic escutando essas musicas, exatamente nessa ordem. Ou então escutem depois de ler. Eu gosto muito delas.
A fic ficou algo meio resumido, mas espero que tenham gostado.
Outras fics minhas:
o que mais machuca;
these are the fast times;

N/B: eu tinha que deixar um recado aqui. o que falar dessa fic? FODA! como as suas outras. eu sou uma das únicas que não choro só porque estou betando! é injustiça comigo! parabéns, andie! continue assim sempre, e não se esqueça da sua beta (oficial) aqui. beijos, biia;