Beta-Reader: Tamy | Revisão: Thai Barcella
Entrou no elevador e acomodou-se. Não havia nenhuma troca de olhares com ninguém, apenas o silêncio profundo que geralmente se estabelece em elevadores. olhava concentradamente para o monitor, vendo os números mudarem. Primeiro, segundo, terceiro, quarto andar. O vigésimo primeiro parecia não chegar nunca...
Ela respirou fundo, tentando manter a calma. Já estava atrasada mais de meia hora no primeiro dia no emprego como babá. Suas chances de ser demitida não podiam ser maiores... O mesmo sobre as chances de ser expulsa do apartamento por não pagar o aluguel. Nada mais podia dar errado mesmo. A não ser que...
As luzes do elevador se apagassem e ele parasse de repente.
sentiu o impacto do elevador parando e quase caiu para frente. Mal teve chance de pensar no que podia ter acontecido, pois um grito agudo invadiu seus ouvidos.
- Ah! – gritou uma garota grávida que não parecia ser muito mais velha que ela. Ela tampou a boca, ofegando muito e parecendo a ponto de chorar.
- Que foi? – perguntou .
- Eu... Eu acho que... EU TENHO CLAUSTROFOBIA! - disse a garota, realmente se irrompendo em lágrimas. Ela levou a mão ao peito e encostou-se na parede do elevador, ainda ofegando. - Por favor, senhor! – ela disse, olhando pra cima. – Se você tiver que me levar, espere pra que esse garoto tenha chance de viver! – a grávida, agora, tinha a mão sobre a barriga.
- Você não vai morrer. – falou um garoto que usava uma camisa azul. – Deve ter sido só falta de energia. Vão resolver logo.
- Falta de energia... Que maravilha! – outra garota falou, aplaudindo ironicamente. – Claro que nós não estaríamos presos aqui se o tivesse subido pelas escadas.
- Eram onze andares, amor! – reclamou o “tal do ”, fazendo cara de inocente.
- Onze andares que iam fazer você gastar suas calorias e ficar em forma!
- Onze andares que iam me matar de cansaço e fazer minhas pernas ficarem doendo! – rebateu com o mesmo jeito irônico.
- Não use esse tom comigo! – a garota apontou o indicador para o rapaz.
- Que tem eu? – perguntou outro garoto que segurava um copo de refrigerante, usava boné e parecia estar dormindo em pé.
- Você o que, menino? – disse a namorada de .
- Eu sou o Tom. – ele apontou para si mesmo. – E você estava falando de mim.
- Estava nada! Eu estava dizendo para o não usar tom de ironia comigo. – a garota ficou nervosa.
- Calma, . – colocou as mãos nos ombros da menina e massageou de leve.
- Calma? Mamãe está esperando para te conhecer há anos e logo hoje o elevador empaca! – gesticulou ao falar e acabou acertando a barriga da grávida!
- Oh! – ela fez drama e sentou-se no chão.
O elevador moveu-se lentamente para baixo, fazendo um rangido estridente. Todos se seguraram na parede.
- Chegou a nossa hora. – falou uma garota gótica de voz rouca e cabelos muito pretos. – Vamos todos descer pelos andares e cair no poço escuro e sombrio do elevador.
Os outros “passageiros” lhe encararam incrédulos.
- Cala a boca! – manifestou-se um garoto que usava o crachá com nome de “ ”, com um risco em cima e um rabiscado de caneta, dizendo “”. - Eu estou tentando pedir ajuda pelo celular! - o silêncio estabeleceu no elevador, todos olhando para . - Sem sinal... – ele disse, cabisbaixamente.
- Ah... – o murmúrio de decepção foi geral.
Os passageiros baixaram a cabeça e ficaram olhando pro chão em silêncio. O único barulho a ser ouvido era a respiração desesperada da grávida. De repente, Tom deu um longo gole no refrigerante e soltou um arroto.
- Eeeeca! – reclamaram e , afastando-se de Tom.
- Foi mal... – disse Tom. – Alguém tem alguma coisa pra comer aí?
Todos reviraram as bolsas, a procura de algo.
- Eu tenho um cigarro. – ofereceu a gótica.
- Não, obrigado. – falou Tom, balançando a cabeça e franzindo as sobrancelhas.
- Tá legal... Tá legal... – disse o cara de blusa azul. – Nada de fumar, arrotar ou soltar pum aqui dentro. Já está ficando crítico aqui. – ele puxou a gola da camisa e se abanou, como quisesse se refrescar.
- Pelo menos alguém tem bom senso aqui. – sorriu.
- Estou acostumado com situações difíceis. – ele sorriu de volta.
- Ah, que lindo! – ironizou . – Posso saber a quanto tempo a gente está aqui? Acabou a bateria do meu celular.
- Nós já estamos aqui há tempo suficiente para sermos considerados desaparecidos, esquecidos e mortos. – falou a garota gótica.
- Caralho... Ela está me dando medo. – Tom apontou para ela e arregalou os olhos.
- Eu concordo com ela. – a grávida manifestou-se, entre um ofego e outro. – Vamos ficar presos aqui para sempre!
- Vamos nada. – disse o rapaz da camisa azul. – Eu moro no prédio. O elevador pára toda semana. Meu irmãozinho sempre fica preso aqui e volta rapidinho.
- E cadê seu irmãozinho agora? – falou , voltando a ficar nervosa. – Ele podia ensinar a gente a sair daqui.
- Meu irmãozinho está em casa, esperando a babá. – o garoto assumiu uma pose desafiadora.
- Que coincidência! – os olhos de se iluminaram. – Eu também vou trabalhar aqui como babá.
- Sério? Aonde?
- Apartamento dois mil cento e onze. – sorriu.
- É lá que eu moro! – o garoto da camisa azul também sorriu.
- Da família ?
- . – ele estendeu a mão. – Prazer em conhecê-la.
- . – ela segurou a mão do rapaz com suas duas mãos e sacudiu com força. – O prazer é todo meu. – como ela podia trabalhar na casa de um cara tão gato e não estar sabendo? Não estava escrito nada sobre ele no anúncio de emprego.
- Legal... – falou Tom, desinteressadamente. – Acho que eu já sei o nome de todo mundo aqui, menos das duas maluquinhas. – Tom apontou pra gótica e pra grávida.
- Eu sou , mas o mundo não se importa com isso. – falou a gótica. – Nossos nomes são apenas selos e nós somos apenas produtos para serem usados e descartados.
Tom arregalou os olhos.
- Ma-nei-ro. – falou cada sílaba lentamente.
- Eu sou . – ofegou a grávida. – Mas não por muito tempo... Ah! – ela gritou quando o elevador deu outra sacudida.
- Cadê o pai do seu filho? – perguntou , pensando que uma conversa pudesse acalmar .
- Eu não sei quem é.
arregalou os olhos. Que tipo de vadia ela era para não saber quem era o pai do próprio filho?
- Faz teste de DNA. – sugeriu . – Se não o pirralhinho vai nascer traumatizado.
- Eu vou doar ele para uma família que não pode ter filhos. – sorriu. – Ele nem precisa saber quem é o pai biológico.
- Ai! Você assistiu Juno, não foi? – os olhos de brilharam.
- Foi de lá que eu tirei essa idéia.
- Que lindo!
- Amor, ela podia doar o bebê para nós. – sugeriu .
- DEUS QUE ME LIVRE E GUARDE! – gritou e fez o sinal da cruz. – Eu tenho dezoito anos, menino. Para que eu ia querer um filho?
- Sei lá. – deu ombros.
- Minha mãe me expulsou de casa porque minha ex-namorada disse que eu não era potente. – intrometeu-se . - Ela acha que eu nunca vou dar netos para ela, coitada.
- E você é potente? – perguntou .
- Essa não é uma pergunta muito educada. – reclamou , cruzando os braços.
- Eu sou potente! – Tom levantou a mão. – Quer transar comigo?
- Não! – fez uma careta.
- Poxa vida! – se revoltou. – A conversa baixou o nível!
- Pelo menos a parou de fazer drama. – disse .
- E o elevador parou de sacudir. – completou
com um sorriso no rosto.
- Eu ainda acho que vamos todos morrer aqui. – falou , escorregando pela parede até ficar sentada no chão.
- Ô garotinha do capeta! – xingou Tom. – Cala a boca, sua maluca.
soluçou engasgadamente e se pôs a chorar. Ela abraçou as pernas e escondeu a cabeça.
- Você fez ela chorar, seu besta! – deu um tapa no peito de Tom.
- Foi mal, foi mal! – Tom se afastou de e ajoelhou-se perto de . – Está tudo bem com você?
- Na verdade, eu tenho um segredo. – fungou .
- Não vai dizer que também está grávida! – arregalou os olhos.
- Não... – levantou-se lentamente. Colocou as mãos nos cabelos e tirou a peruca preta, revelando um cabelo cacheado e castanho. – Eu não sou gótica, não tenho cabelo preto e odeio maquiagem escura. – confessou. – eu só estava assim para conquistar um garoto e... E... E ele me dispensou! – irrompeu-se em lágrimas, encostando a cabeça no ombro de Tom.
- Pronto... Pronto... – Tom deu tapinhas nas costas da garota.
olhou a cena e revirou os olhos.
- E ainda tem gente que diz que eu sou maluco... – resmungou em voz baixa.
- Galera! Galera! – gritou , fazendo todos olharem pra ela. – O celular do está com sinal!
- Ah! – todos aplaudiram.
- Liga pra portaria depressa! – falou , jogando-se sobre .
- Qual é o número? – perguntou .
- Eu não sei. – disse .
- Eu também não. – falou , dando ombros.
olhou para .
- Eu sei menos ainda. – ela disse.
Todos trocaram olhares uns com os outros, a espera de uma resposta.
- Alguém? – perguntou , com cara de piedade. Os passageiros balançaram a cabeça negativamente. - Ah, droga! – jogou o celular no chão.
- Liga para a minha mãe e pergunta o número, seu estúpido! – sugeriu , pegando o celular e colocando na mão de .
- Sem sinal... – bufou .
gemeu dramaticamente.
- Calma, . – disse . – O sinal vai voltar daqui a pouco.
- Não é isso. – gemeu , com a mão sobre a barriga. – Eu acho que... Vai nascer! – gritou nas duas últimas palavras.
- Ah, meu Jesus Cristo, Ave Maria! – gritou , desesperando-se.- Alguém aqui sabe fazer trabalho de parto?
- Calma, gente! Calma! – tentou estabelecer a calma no lugar, pois todos tinham começado a gritar.
- CALEM A BOCA! – gritou, fazendo todos se calarem.
se contorcia dramaticamente.
- Deitem ela no chão! – sugeriu .
- Ai! Ai! – gritava e se debatia.
- , você tem que colaborar! – falou .
- Porcaria de elevador que não anda! – gritou com nervosismo, pulando a cada palavra que era dita.
E o elevador despencou. Começou a descer rapidamente, sem dar sinais de que ia parar. Os passageiros gritaram e se agarraram às paredes. e se abraçaram com força.
- Se eu morrer agora... – disse . – Foi muito bom conhecer vocês! - Todos fecharam os olhos e esperaram seu fim. Então, o elevador parou. As portas se abriram e todos se depararam de volta ao primeiro andar. - Estou viva! – disse , apalpando seu corpo.
- Estamos vivos! – os passageiros se abraçaram e começaram a pular.
- Calma, gente! A ! – correu até a garota que estava sentada no canto do elevador.
- Chamem um médico! – gritou .
- Não, pessoal. – disse , dando um sorriso. – Eu estou bem. Foi um alarme falso.
- Ufa! – Tom fez cara de alívio.
- Bom, gente, nós vamos indo. – se intrometeu na conversa.
- Pelas escadas. – completou .
- Eu também já vou. – Tom despediu-se com um aceno. – Tchau, galera!
- A gente se vê. – sorriu e saiu do elevador.
- Eu tenho que ir também. – apoiou-se em e se levantou. – Tenho uma consulta marcada no médico e já devo estar atrasada.
- Quer carona? – ofereceu . fez que sim e os dois saíram do elevador.
e trocaram um olhar suspeito.
- Vai subir pelo elevador? – perguntou .
- Não sei... Acha que é seguro?
- Acho que sim. – sorriu.
- Acha que eu vou perder o emprego por causa do meu atraso?
- Eu acho que não...
- Que bom. – também sorriu.
Então apertou o botão. As portas do elevador se fecharam e eles subiram...
Fim!