Eu abri os olhos, mas em seguida, fechei-os novamente. Queria poder ficar daquele jeito para sempre, abraçando sua cintura, podendo escutar sua respiração calma e baixa entre o silêncio confortável e minhas ter pernas entrelaçadas às dela, enquanto os raios alaranjados do pôr-do-sol que entravam pela janela atrás de nós meio que ainda conseguiam aquecer minhas costas nuas. Eu sentia uma coisa tão boa que queria gritar, mas não quis estragar tamanha perfeição, então adormeci novamente.
Acordei de novo após um tempo que não soube definir e pude notar que o céu já estava mais escuro. Tínhamos dormido o dia todo.
Era tão indescritível acordar e vê-la antes de qualquer coisa. Era demais mesmo, sabe? E era melhor ainda saber que ela era só minha ali, tão serena. Aquilo era tão... nosso!
Minha cabeça tinha um peso incômodo de ressaca por causa do caminhão de cerveja e talvez mais alguns colegas com gosto de álcool que eu havia consumido em uma festa de despedida para a garota nua ao meu lado na noite passada e, naquele momento, estaria dentro dos padrões eu ficar com cara de acabado e indisposto até para deixar um dedo meu sair da cama. Mas apesar da boca seca e da larica anormal quase normal que começava a me acometer, eu não me sentia um morto-vivo.
Fiquei a encarando por mais algum tempo e então mordi a ponta de seu nariz levemente e comecei a acariciar seu rosto.
- Ai... – ela resmungou e fez uma careta digna de bebê, que me fez sorrir enviesadamente. Ela abriu os olhos e piscou. – Buenos dias, Timmy Turner*.
- Estou mais para Gah do que para Timmy, vai – eu sugeri, lembrando-me de um episódio de “Os Padrinhos Mágicos” ** que havia assistido com ela naquela mesma semana.
- Não, não gosto de homens no estilo Gah; bombadinhos e derivados não estão com nada. Você vai ser pra sempre o meu ‘franguete’ com dentes de Timmy Turner. – Ela sorriu com os olhos fechados, e eu lhe dei um selinho que ela respondeu com outro. E ficamos assim, naquele lenga-lenga de beijinhos incessantes, até que eu aprofundei o beijo e pude senti-la subindo em cima de mim.
Uou.
E se você estiver se perguntando algo sobre o nosso suposto mal-hálito pós-sono, eu te digo que depois de algum tempo, você começa a não se importar com nenhuma dessas besteiras.
Encarei-a e ela fez o mesmo comigo. Aquela podia ser a última vez que ficávamos daquele jeito em muito tempo e isso não fazia com que eu me sentisse muito confortável, apesar de aquele ser um momento extremamente confortável. Eu percebi que os olhos dela ficaram um pouco marejados enquanto ela comprimia os lábios e fazia nossas testas se tocarem, então eu soube que ela estava pensando o mesmo que eu e fechei os olhos para dividirmos o sentimento através das nossas vibrações de cabeça para cabeça, se é que isso era possível.
Ela expirou calmamente e se demorou beijando um dos meus olhos, enquanto eu sorria e sentia um frêmito percorrer todo o meu corpo. Adorava que beijassem meus olhos, mas parecia ainda melhor quando ela o fazia. Ela rolou para o lado e se levantou da cama, levando o edredom consigo e o enrolando de qualquer jeito em seu corpo.
- E eu fico pelado e com frio aqui? – perguntei, enquanto me sentava, fingindo estar realmente indignado.
Ela me analisou de cima a baixo e mordeu o lábio inferior. Senti uma fisgada adoravelmente forte em meu estômago. Eu realmente sentiria falta daquele sorriso pervertido que tinha sido moldado para mim.
- Eu gosto assim. Tudo isso aí é meu mesmo. – Eu ri.
Bom, era dela mesmo, depois que deixou de pertencer à minha mãe. E às minhas ex-namoradas. A verdade é que nunca pertenceu a elas, somente as fiz pensar que sim. Mas realmente me tinha daquela maneira.
Quando ela passou por mim em direção ao banheiro da minha suíte, eu puxei o edredom que a envolvia, o que fez com que ela fosse puxada, junto já que ela o segurou pela frente, e ficasse em pé entre as minhas pernas. Ela passou as suas por cada lado da minha cintura e a beijei quase que desesperadamente, o que era um pouco diferente para nós, mas era bom do mesmo jeito.
- Just don’t leave me alone here… – eu comecei a sussurrar uma música, lembrando da primeira vez que tinha a escutado com ela, em um domingo congelante em que ela loucamente havia decidido ficar do lado de fora, no telhado de seu prédio, para realmente sentir o frio. Parecíamos dois marshmallows gordos, coloridos e risonhos naquela tarde, de tão agasalhados que estávamos. Tá, só ela parecia um marshmallow, com suas roupas coloridas e que não combinavam. Se uma criança a visse ali, iria achar que ela era realmente feita de doce e iria querer mordê-la. Já eu, parecia mais um marshmallow xadrez, ou talvez defumado, porque estava com umas roupas meio sem cor.
- It’s cold, baby... – ela continuou, pendendo a cabeça para o lado, e eu senti as pontas do cabelo dela roçarem a pele do meu ombro.
- Come back to bed – eu completei e deitei-a na cama.
- Danny, Danny... – ela murmurou, enquanto eu beijava seu pescoço. – Eu não sei o que você faz comigo, mas você faz muito bem.
Eu sorri.
- Você não sabe como isso soa bem na sua voz – eu disse entre os beijos e pude senti-la sorrir também, abertamente e só para mim. Só-para-mim, rá!
Ela deixou que eu seguisse meu curso, porque ela sabia mais do que eu que naquele dia nada seria demais entre nós dois. Desenrolei totalmente o edredom do corpo dela e voltei a beijar sua boca calmamente, mas com uma eloqüência que eu nunca havia colocado em um beijo antes. Tive a impressão de que ela pôde perceber isto. Enquanto a beijava, eu acariciava e apertava suas coxas - às vezes exagerava um pouco, porque eu estava ficando animadinho demais e a desejava demais - arrancando-lhe murmúrios e silvos que me estimulavam a continuar.
Desci meus lábios para os seios dela e passei a mordê-los levemente, deixando sua pele vermelha e irritada. Prendi a pele de um deles entre meus dentes e puxei propositalmente, um pouco mais forte do que ela esperava, o que provocou um gemido breve da parte dela e fez também alguma coisa muito gostosa subir pela minha espinha.
- A marca que vai ficar, , é pra você olhar e se lembrar de mim enquanto ela durar .E depois que ela sumir, é pra você sentir falta dela aí – eu expliquei a ela, e depois mordi uma de suas bochechas. Aquele mimimi todo era mais gostoso com ela do que eu me lembrava de ter sido alguma vez com outra mulher.
- Eu vou me lembrar, Danny. Está do lado esquerdo – ela apontou um detalhe no qual eu não havia reparado antes porque, bom, você não fica pensando qual lado vai... Okay, esquece. Ela era sempre tão observadora que eu, às vezes, sentia receio de tomar alguma atitude, ou medo de estar fazendo algo errado perto dela.
Ela era , e era a minha namorada. E a verdade é que ela era boa demais para mim. Eu podia ser um rockstar, ser um ótimo guitarrista e ter milhões de meninas frenéticas aos meus pés, mas nada daquilo valeria enquanto ela existisse ao meu lado, nada seria equivalente. Aquela garota reduzia minhas qualidades a pó, e o mais impressionante é que eu não me sentia nem um pouco incomodado com isto. Eu me sentia o filho da puta mais abençoado do planeta, porque eu era lesado demais para tê-la e eu, inacreditavelmente, a tinha.
...
- Vai logo com essa mala, Daniel, antes que a gente se atrase! – gritou para mim.
Eu estava caminhando em direção ao meu carro, segurando um elefante (porque aquilo não tinha o peso uma mala normal, mas, bem, a não era lá muito normal também).
- Não sabia que você estava com tanta pressa assim pra dar no pé daqui! - provoquei-a e um olhar reprovador seu foi suficiente para me convencer a mudar de assunto. - Porra, vocês garotas são muito exageradas! Já disse que ia mandar o resto das suas roupas e tranqueiras junto com tudo que vou enviar pelo transporte de cargas! – eu reclamei, jogando a mala no bagageiro do meu carro. Aquela era a terceira, última, enorme e mais pesada mala. Suponho que havia metade do mundo lá dentro. – Há pessoas que ganham pra fazer isso, sabia? Mas, nããão, você tem que ser cheia de frescurite e...
- Não me critique, você é homem, e homens não sabem coisa alguma sobre “crises-de-eu-não-tenho-o-que-vestir-cacete” – retrucou, e eu ri com a definição dela.
- Mas que diabos é isso? – perguntei, curioso.
- Noite de sábado, aniversário da Cattie, nove e meia da noite, você tocando meu interfone e ligando no meu celular incessantemente.
- Aaah, certo. Aquilo. Eu deveria ter filmado – Eu revirei os olhos, lembrando-me da noite que ela citara, e ela mirou-me cheia de desdém.
...
Nós estávamos uma hora atrasados para a festa de aniversário da melhor amiga dela (que ela chamava de Cattie não sei por quê; o nome da menina não tinha uma sílaba a ver com aquele apelido), que aconteceria no duplex desta. E, bom, como melhor amiga, àquela hora, já devia ter chegado lá há muito tempo para ajudar Cattie a receber os convidados. Mas, em vez disso, ela preferia ter crises ridiculamente histéricas e não me deixar subir para o seu apartamento.
- , por favor, isso já está chegando longe demais, sabe? Tá frio aqui fora, porra, me deixa subir! – eu pedi, começando a ficar realmente irritado com seus chiliques.
- Não, nós não vamos a lugar algum. Eu, pelo menos, não vou. Liga pra Cattie, peça desculpas, explique a situação e ela irá entender – choramingou, com a voz chuviscada por causa do interfone.
- Que porcaria, ! Eu estou subindo – avisei, enfurecido. – Vou acabar com essa palhaçada agora!
- Você não vai subir, eu não vou abrir a porta! Vá embora, porque eu estou parecendo a bruxa velha do filme da Branca de Neve!
Então ela desligou na minha cara, a filha-da-mãe. Mas como ela era extremamente exagerada, eu já até conseguia imaginar a definição de bruxa velha dela, que com certeza estava deturpada, no caso.
Eu tinha que dar um jeito de tirá-la de lá e acabar com todo o drama, mas eu não tinha a chave de sua porta. O prédio dela não tinha porteiro, o que acho que vocês já sacaram. Eu não podia pular o muro porque não havia muro para ser pulado, e também não podia arrombar a porta principal sem acabar na delegacia.
Enquanto eu pensava em alguma coisa para driblar uma entrada conveniente e educada, e esperava inocentemente que ela atendesse o celular, um cara meio parrudo, vestindo uma camiseta estampada, com a frase ‘eu odeio a minha sogra’ (que eu sabia que era o vizinho de baixo da , porque ele sempre reclamava do som no último volume dela e dos escândalos que a gente às vezes fazia com nossas retardadices e seduções em horários inapropriados para barulho), foi caminhando em direção à porta e eu dei espaço para que ele passasse e a abrisse. Ele me lançou um olhar do tipo ‘ah-é-você-seu-babaca’ e entrou. Mas antes que a porta travasse, eu, o esperto, segurei-a e por um vão fiquei espiando, esperando o parrudão subir as escadas, porque eu, com certeza, não queria acompanhá-lo e ter uma discussão sobre o tempo, o que não era um assunto muito amplo na Inglaterra. Todo mundo sabe disso.
Eu entrei e comecei a subir as mesmas escadas quando achei que ele estava consideravelmente distante de mim, e, ao alcançar o terceiro andar, bati à porta do apartamento de , a Miss Faniquito do Ano. Escutei o barulho dos saltos dela contra o assoalho de madeira, depois uma pancada mais forte, e pude ouvi-la resmungando um pouco alto do outro lado. Ri, supondo que ela devia ter tropeçado em cima de algum sapato, já que ela tinha mania de não guardá-los e deixá-los espalhados pelo chão. Ouvi o barulho da chave girando na fechadura e, segundos depois, ela apareceu, soltando uma exclamação. Eu nem pude olhá-la direito, porque ela saiu correndo diretamente para o banheiro, entrou e trancou a porta. Pelo menos conseguira entrar no apartamento, já era um começo. Fui atrás dela e pareceu que eu arrebentaria a porta com a força que a bati, mas, bom, como mesma dizia, eu era um ‘franguete’ e era mais fácil a porta arrebentar minha mão do que minha mão arrebentar a porta. Tá bom que minhas mãos eram gigantes e ela adorava tê-las deslizando sobre si. E tá certo que eu era um ‘franguete’ - com uns braços bons, pelo menos, e ela sabia disso, eu tenho certeza. Mas isso não mudava o fato de ela adorar me encher o saco.
- , já chega do seu show por hoje! – eu berrei. Estava me sentindo quente, provavelmente estava vermelho também. – Vou contar até três! – Parecia até que estava falando com uma criança. Que merda, se eu quisesse lidar com essas coisas, seria babá, não guitarrista. – Se você não abrir essa porta, eu...
- Você o quê? – ela me interrompeu, abrindo a porta, e, enquanto segurava a maçaneta, me olhou de um jeito desafiador, com uma sobrancelha arqueada, tentando se manter firme enquanto seus olhos marejados e sua maquiagem um pouco borrada denunciavam seu descontrole.
- Agora nada, porque você abriu - eu forcei um sorriso aberto.
- Argh, Danny! - ela resmungou e quase fechou a porta na minha cara, mas eu a impedi.
Caracas, eu nunca havia visto uma garota chorar mesmo por causa de roupas (embora soubesse que isso ocorria mais do que o normal); ela estava descontrolada de verdade. Aposto que era aquela tal de PTM, MTP, eu sei lá, atacando novamente. A medicina precisa encontrar uma cura definitiva para isso com urgência, sem brincadeira.
E então eu pude encará-la de cima a baixo, finalmente, e pude concluir que ela só podia ter algum tipo de distúrbio visual ou algo muito parecido. Nota mental: recomendar um oftalmologista para a minha namorada.
- ...! – eu prolonguei o nome dela, que eu realmente adorava. – Você é doente ou o quê?
Meu olhar sobre ela era perplexo.
- Doente, Danny? Mas que desaforo seu fa...
-!
- O que foi? – Ela fez uma expressão atônita e tão preocupadamente convincente que eu fiz questão de arquivá-la em minha mente. – Eu estou horrível, não estou? Estou parecendo doente também? É isso? - eu ri pelo nariz. - Ai, não! Eu sabia! Quero sumir! – E, mais uma vez, o prêmio de Drama-Queen-Exagerada-Mor ia para ela naquela noite.
- Venha até aqui, gata. – Eu a segurei pelos ombros e a guiei até a frente de um espelho comprido que havia em seu quarto. Posicionei-a de modo que ela conseguisse enxergar-se inteiramente, enquanto eu me via atrás dela. – O que você vê aí?
- Me vejo vestindo uma roupa que não chega ao ponto, aliás, nem perto do ponto que eu queria que chegasse pra essa festa – ela respondeu, secando duas lágrimas, que teimaram em sair, com os dedos indicadores. - E minha maquiagem está toda estragada, mas eu sou feia, então não adiantaria nada se ela estivesse correta também!
- Nada bom – eu concluí. – Que ingenuidade sua. Me pergunte o que eu vejo agora.
- O que você vê agora? – ela me obedeceu em um murmúrio que, por pouco, não escutei.
- Eu vejo uma garota absurdamente deslumbrante, que fez um escarcéu por absolutamente nada e está... – Eu chequei meu relógio de pulso – quase uma hora e meia atrasada pra uma festa na qual devia ter chegado com a tradicional pontualidade britânica, - Que exemplo eu queria dar? Eu também estava sempre atrasado, mesmo sempre usando um relógio no pulso – mas sairá daqui e irá comigo para a mesma em, no máximo, dez minutos!
Ela sorriu torto e se virou para mim, com os olhos brilhando.
- E eu também acho um absurdo você ficar falando que é feia, vou fingir que não ouvi isso.
- É verdade mesmo? Quero dizer, você acha que eu tô deslumbrante e tudo mais?
- Mas como você é insegura! Meu Deus, é claro que sim! Você é deslumbrante, , não saio com garotas que não sejam deslumbrantes.
Quando eu disse isso, ela virou o rosto para o lado e deu uma gargalhada muda, que eu ignorei, porque sabia que se referira à minha ex e eu não queria tocar naquele assunto polêmico novamente, já havíamos discutido duas vezes por causa do meu passado. E qual era a dela também? Eu estava a mimando como uma sei lá o quê!
– Esse seu vestido... Que tipo de vestido é esse?
- Balonê – ela respondeu prontamente.
Às vezes, eu gostaria de entender mais sobre roupas femininas além das calcinhas e sutiãs. Percebi que poderia me ser útil.
- Isso, esse seu vestido balonê é maravilhoso. Agora dá pra se apressar, por favor?
- Você espera mesmo? – Mas que pergunta estúpida.
- Claro que espero! Não esperei até agora, naquele frio do caramba? – eu retorqui, com um tom indignado na voz. - Desborra essa maquiagem e vamos logo.
Ela sorriu fantasticamente, como só ela sabia fazer, e pressionou minhas bochechas contra suas mãos pequeninas e quentes.
- Meu gatíssimo! – ela disse e correu novamente para o banheiro.
Eu a esperei na sala, ao som de John Mayer, que ela tanto amava, e, quando ele cantou a frase “girls like that don’t sleep alone”, eu imediatamente pensei nela, que, no mesmo segundo, surgiu na minha frente, no mesmo vestido balonê púrpura, mais apertado na cintura, o que, uau, tenho que acrescentar, deixava o contorno do busto dela ainda mais admirável; o contorno que acabaria em minhas mãos no... Tá, eu sei, ninguém perguntou, ninguém quer saber dos detalhes sórdidos. Ela também usava meias finas pretas, sapatos de salto alto com bicos redondos, a maquiagem havia sido retocada e tinha um rabo de cavalo alto, com a franja jogada para o lado. Ela havia ultrapassado três minutos do prazo que eu havia lhe dado, mas pelo resultado, eu relevei absolutamente tudo. E aquilo também era um recorde, porque ela sempre passava meia hora do prazo. Eu teria trabalho com ela naquela noite...
- Vamos logo! – eu disse, desligando o iPod e já saindo do apartamento. Ela pegou sua bolsa, vestiu um sobretudo, saiu depois de mim e trancou a porta.
Quando estávamos do lado de fora, eu peguei a mão dela e entrelacei seus dedos nos meus. Enquanto esperávamos alguns carros passarem para atravessarmos a rua e entrarmos no meu, do outro lado, eu disse:
- Você é a gata mais gata de todas as gatas. – Fiz referência a um outro desenho animado que eu sabia que ela adorava e vivia repetindo as falas. Talvez nunca tivesse assistido esses desenhos doidos se ela não aparecesse em minha vida. – Quando todos aqueles babacas sem neurônios...
– Olha quem fala! - ela me interrompeu e eu a olhei de esguelha, ameaçadoramente, fazendo-a sorrir e piscar os olhos como se fossem duas borboletas.
– Quando todos aqueles babacas sem neurônios - repeti - começarem a derramar rios de baba ao te verem dançar, eu vou ter a maior satisfação do planeta em acabar com a festa de todos eles, informando-os que você é minha essa noite.
Ela inclinou a cabeça para trás e gargalhou, fazendo com que o ar quente recém saído de sua boca se chocasse contra o frio ambiente, formando uma fumacinha.
- Esta e muitas outras pela frente, eu espero.
Então, ela entrelaçou seu braço no meu e eu fiz uma careta quando ela beijou a curva entre meu pescoço e meu rosto, causando-me um arrepio.
Eu havia tirado a dama de casa. Missão cumprida!
...
-É, aquilo - ela imitou minha entonação.
- Achei tão desnecessário, ... – eu disse, entrando no carro pelo lado direito.
- Do you know what it feels like for a girl? – ela cantarolou, entrando pelo outro lado.
- Aonde você quer chegar? – eu repliquei.
- Music, Madonna, faixa oito – ela explicou, plugando seu iPod no dispositivo de som do meu carro, dando o play na música sobre a qual acabara de comentar e me deixando com cara de nada. Pensei que obteria uma resposta mais profunda.
- Qual é, o que aconteceu com o John e Stereophonics? – reclamei, enquanto pisava no acelerador e manobrava o carro.
- Cala a boca! – Ela me mostrou a língua.
- Mas isso é Simple Plan! – eu, o melhor piadista do planeta, brinquei, e ela deu um tapa um tanto forte na minha cabeça, que se inclinou para frente, quase batendo no volante. – Você quer morrer? Assim eu bato o carro!
- Desde quando você sabe o que é Simple Plan? - retorquiu.
- , chega - eu pus um ponto final naquela discussão sem pé nem cabeça e ela somente deu de ombros antes de dizer algo que eu ignorei:
- Chato.
Ela abriu a janela, colocou os pés sobre o painel. Durante todo o caminho ficou cantando mais alto do que a música que escolhia para tocar, como sempre fazia, e eu nunca me importava, porque sempre me juntava a ela também. Mas dessa vez, estava fazendo diferente. Eu era somente a audiência. Não sabia por quê, mas decidira ficar quieto e gravar cada gesto dela naqueles nossos últimos momentos juntos. Mesmo que eu não pudesse olhá-la fixamente porque estava dirigindo, eu o fazia nos sinais vermelhos. Fiquei observando suas caras e caretas enquanto ela interpretava algumas músicas de uma forma cômica, solava em alguma air guitar ou se identificava realmente com alguma letra.
- O que é que há com você? Não está cantando comigo hoje – ela estranhou. Que saco, estávamos em sintonia. Ela realmente me conhecia, porque percebera que eu estava mais quieto do que o habitual. Era tão pouco tempo para tudo aquilo...
- Eu não sei o que é... – eu respondi vagamente.
Uma melancolia repentina me atingiu e eu comecei a sentir sua falta, mesmo que ela ainda estivesse sentada ao meu lado. Tive o ímpeto de fazer uma curva irregular, completamente maluca, e retornar para a minha cama, levando-a junto, e não soltá-la nunca mais. Porém, sabia que não podia atrapalhar e parar sua vida, muito menos a minha, para mantê-la por perto o tempo todo. Eu estava me sentindo estranho, aquele sentimento era meio... agressivo, possessivo, novo e triste simultaneamente. Assustador, e bem psicopata, sim, eu diria.
- Ah, canta comigo, a gente não sabe quando vai poder fazer isso de novo, não é? – ela entortou os lábios e eu suspirei, começando a acompanhá-la, cantando “ABC” do Jackson Five. Tão velho que cheirava a mofo, mas bem a cara dela. E totalmente a minha também.
Minutos depois, a música já era outra e eu havia involuntariamente parado de cantar, deixando somente a voz dela e dos intérpretes ecoarem pelo carro entoando a melodia, ao mesmo tempo em que ela fazia movimentos doidos com as mãos e a cabeça, seguindo o ritmo da música.
Quando chegamos ao aeroporto de Heathrow, eu ajudei a pôr as malas no carrinho e empurrei-o para ela, como o bom cavalheiro que era. Está bem, só às vezes; como o cavalheiro que era às vezes. O local estava um pouco mais cheio do que o normal e repleto de crianças, porque estávamos em julho e era começo da temporada de férias de verão, então a fila do check-in demorou que foi um inferno.
- – eu a chamei, enquanto finalmente saíamos da fila após as malas terem sido despachadas.
- Sim? – ela respondeu, caminhando ao meu lado.
- Sobe aí. – Ela olhou para mim sem entender. – O carrinho. - Apontei. - Sobe no carrinho.
- Sério? – Eu revirei os olhos. – Acho que isso foi um sim – ela deduziu. – Tá bom, então!
É por isso que eu adorava a . Cara-de-pau maior ou igual a ela eu nunca havia encontrado. Enquanto qualquer outra teria simplesmente negado ou me achado um retardado imaturo, ela simplesmente subiu no carrinho de costas para mim, sem que eu precisasse insistir.
- Não, fica de frente pra mim – pedi.
- Por quê? – Mas que criança questionadora, cacilda!
- Porque vai ser mais divertido pra nós dois, oras! – Ela deu de ombros e fez o que eu pedi.
Comecei a empurrar o carrinho vagarosamente e, alguns segundos depois, eu já corria empolgado entre as pessoas, enquanto ela se segurava onde podia com toda força e berrava meu nome entre gargalhadas estridentes, bem no estilo . Algumas pessoas nos olhavam indignadas, outras sorriam, e as crianças queriam imitar. A verdade era que eu quase estava atropelando todo mundo, mas e daí?
- Danny, Danny! – Eu resolvi imitar sons de motor e ziguezaguear o carrinho, o que a fez oscilar entre expressões risonhas e medrosas. – Parecemos crianças... – Ela olhou para trás e fechou os olhos quando se virou novamente para mim. – Nós vamos nos arrebentar, você vai bater em alguém... Ai, por Deus, eu vou cair! – ela disse quando eu ziguezagueei com mais impulso.
- É claro que não vai, porque Deus está bem aqui na sua frente, olhando para você! – eu a assegurei, falando um pouco alto demais.
- Ah, então, Deus, o Senhor devia olhar pra onde tá indo e não pra... – ela ia começar a me zoar, mas foi interrompida por uma voz arrastada e assustadoramente grossa:
- E esse suposto Deus vai ver o sol que ele supostamente criou nascer quadrado rapidinho ao lado da Eva aí se ele não parar com essa balbúrdia no meio do aeroporto.
Eu fiquei sério e vi a expressão de ficar tão atordoada quanto a minha devia estar, provavelmente, enquanto eu diminuía a velocidade do carrinho ao ver um guarda parando a nossa frente para eminentemente acabar com a nossa graça.
Quando paramos totalmente, desceu tão rapidamente do carrinho e devia estar tão zonza que, ao tentar ficar parada ao meu lado e assumir uma postura relativamente digna para o momento, caiu de bunda no chão. A cena toda estava sendo tão cômica que eu olhei para cima, tentando segurar o riso, antes de encará-la com os olhos cheios de lágrimas e perceber que ela tentava parecer brava, mas queria se acabar de rir tanto quanto eu. Ajudei-a a ficar em pé novamente, ela ajeitou sua boina roxa com um pompom em cima e nos viramos para o guarda. Ela crispou os lábios e cruzou as mãos, e eu sorri amarelo para o cara roliço na nossa frente enquanto coçava a nuca.
- E aí, seu guarda? – Eu tentei iniciar uma conversa simpática e amistosa. Eu tinha que tentar ser legal ou sabe-se lá onde aquilo iria terminar. Mas pela cara dele, parecia que tentar ser simpático não adiantaria muito.
- Sigam-me, por gentileza. – Como assim segui-lo? Gentileza? Aquele cara só podia estar de brincadeira. Ele tinha que nos repreender e dar o fora, daí nós continuaríamos a infringir as regras "aeroportais", esse era o roteiro!
Eu e trocamos olhares tensos e eu até abri a boca para dizer alguma coisa e parecer que assumiria uma postura diante da situação, mas ela, que já me conhecia há tempo suficiente para saber do meu estilo Jones de ser, tapou minha boca antes que eu pudesse emitir qualquer som e sussurrou em meu ouvido:
- Cale a sua boquinha e siga o Guarda Imperial.
Quando ela chamou o sujeito de ‘Guarda Imperial’ usando aquele tom zombeteiro, ela pegou no meu ponto fraco. Ela sabia que eu morria de rir com coisas idiotas e, ao olhar para o policial, eu saquei na hora que ela havia o chamado daquele jeito por causa do seu jeito pomposo e ereto de andar, mais parecendo um aveztruz barrigudo - sem contar o quepe típico da polícia inglesa que sempre fora estranhíssimo para ela, embora comum para mim - e ri um pouco mais alto do que devia.
- Você pode deixar o carrinho por aqui, você não vai conseguir fugir com isso aí da prisão – o cara disse. escondeu o rosto nãos mãos. Eu pensei que fosse por desespero, mas ela estava abafando uma gargalhada.
Então eu percebi que se sabia lá o porquê eu continuava empurrando o maldito carrinho e o pessoal todo em volta assistia ao nosso programa. Bando de desocupados, adoravam um barraco. Eu e deveríamos receber um cachê por diverti-los. O que foi? Tudo é motivo pra ganhar dinheiro neste Século XXI!
Eu estava começando a ficar puto e quis pular em cima daquele gordo pomposo e socá-lo até ele parecer um leitão dilacerado na ceia de Natal. Só porque ele era a autoridade maior ali, ele achava que podia tirar várias com a minha cara? Na verdade, ele meio que podia, porque eu tinha que permanecer na minha e não tinha o direito de meter a mão na fuça dele, então ele saía ganhando de qualquer jeito.
Puta mundo injusto.
Tudo o que eu fiz, então, foi tirar uma mochila também roxa, que era a bagagem de mão de , do carrinho e largá-lo em um canto qualquer para depois voltar a seguir o guarda para onde quer que fosse que ele estivesse nos levando.
Foi aí que senti uma espécie de agulhada no ventre que quase me fez cair e pensei: ele ia nos prender mesmo? Não ,ele não ia, ele não podia arruinar nossas vidas naquele momento. Ele não tinha o direito de nos prender por aquilo. E eu ainda tinha que destruir metade do mundo com minhas atitudes Rock ‘n Roll para parar no xilindró por um motivo digno que não fosse aquela palhaçada. Qual é, correr com uma pessoa em um carrinho que serve para carregar malas não é lá um motivo hediondo. E a , poxa, a era puro osso, tão frágil, não agüentaria cinco minutos de porrada com as detentas se fôssemos transferidos.
Estávamos os dois no departamento policial do aeroporto segundos depois, esperando o guarda conversar com uma mulher-macho e super mal-encarada, igualzinha àquelas dos filmes americanos, para saber o que nos esperava. estava agarrada à minha cintura, com uma expressão um tanto desesperada, e me surpreendia o fato de que ela ainda não havia começado a gritar comigo, me dizendo que eu era imprudente e infantil entre surtos dramáticos nos quais choramingava “ai, meu Deus, minha vida está acabada! Meu pai vai me deserdar, serei a ovelha negra da família, é o fim!’’. Ela sempre topava as coisas, mas se acontecia algo, eu sempre tinha que ouvir depois. Provavelmente o ambiente hostilmente law & order havia me salvado daquilo, mas não por muito tempo, porque ela devia estar guardando isso para o grand finale do programa, quando saíssemos dali.
- Ahn... Senhor... – Eu tentava ler o nome desgraçado escrito no uniforme do leitão da ceia natalina. – Sr. Bacon... – tentei pronunciar o nome francês dele.
Bacon? Bom, eu não estava tão errado ao compará-lo com um suíno, há-há!
- Besancon*** – ele me corrigiu, um tanto irritado com meu belíssimo erro de pronúncia.
Maldição. Eu era obrigado a pronunciar a porra do nome francês dele também? Eu era inglês! E o que ele estava fazendo com uma merda de sobrenome francês sendo policial na Inglaterra? Isso ia totalmente contra a história!
Ele é quem devia ser preso. Desde quando policiais podiam estar acima do peso? O problema não era estar acima do peso, esclareço. O problema era ser um policial com sobrenome francês membro da polícia inglesa em tal estado! Eu tinha que providenciar uma carta para o governo reclamando de tal desacato urgentemente.
- Será que o senhor poderia, assim, por favor, se apressar só um pouquinho? É que o vôo da minha namorada parte em... – Consultei o relógio em meu pulso, presente de Rod Stewart – cinqüenta minutos.
- Ah, é? Pois fique sabendo que o senhor e sua requintada namorada não estão em direito de pedir coisa alguma no momento e só sairão daqui quando eu achar que devem – ele respondeu rudemente e voltou ao que estava fazendo.
- Quem esse cara acha que é? Qual é a dele? – murmurei para , indignado e, tentando não gesticular, inverti as posições, passando meus braços em volta da cintura dela. – Acaba com a nossa brincadeira, acha que pode me humilhar, brincar com você e--
- Shh... – sibilou, silenciando-me, e beijou minha bochecha, enlaçando meu pescoço. – WE gotta be cool, relaxxxx – ela imitou meu jeito de cantar e eu dei um meio sorriso, sabendo que ela estava tão nervosa quanto eu.
Uns cinco minutos depois de pedir nossos documentos, o guarda veio até nós segurando um papel timbrado suntuosamente, cheio daquelas frescurites, e eu me desvencilhei gentilmente de , que olhava tudo aflita.
- Você vai nos prender? Isso é um mandato de prisão? – ela perguntou aterrorizada. Céus, coitadinha da minha ! Eu tinha que dar um jeito naquilo ou...
- Não, infelizmente e pra sua sorte, vocês voltam para casa, ou para qualquer lugar que seja, hoje, senhorita – o suíno interrompeu meus pensamentos e soltou os ombros, que antes retinham toda sua apreensão, suspirando. Eu tenho que confessar que também senti uma manada de javalis sendo tirada das minhas costas. Ia me morrer de remorso rapidamente se fosse presa por minha causa. – Mas vão ter que pagar uma multa.
Ah, uma multa, só uma multa, não era nada. Ele me entregou o papel e quando li a quantia que teria que desembolsar por uma besteira daquelas, quase infartei.
- DUZENTAS LIBRAS?! – eu quase berrei. Quase não, eu berrei, não acreditando no que acabara de ler. Eles estavam tirando uma manada de javalis para botar uma de hipopótamos no lugar! Bando de golpistas! – Mas, olha, sr. Bacon, nós não machucamos ninguém, nem quebramos nada... – Eu tentei argumentar e me acalmar enquanto tentava fazer o mesmo com ele também. No entanto, não me importei nem um pouquinho se pronunciara ou se deixara de pronunciar seu sobrenome corretamente, muito menos com o seu olhar fuzilador. – Nós podemos resolver isto de uma maneira muito mais civilizada, sem dores de cabeça.
Mas que saco, eu ainda continuava esperando que ele dissesse que ele estava totalmente de brincadeira com a nossa cara.
- Mais civilizada que essa? – ele indagou, como se aquilo fosse impossível e ele fosse o rei dos acordos civilizados. – O que uma pessoa não civilizada como você tem de civilizado para me sugerir?
Era só eu ou mais alguém podia sentir o cheiro da fumaça que saía das minhas ventas? Ele ao menos me conhecia para me chamar de “não civilizado”? Eu ia derrubar aquele babaca no chão se ele abrisse a porra da boca para insultar a mim ou a minha namorada novamente. Eu era um ‘franguete’, mas tinha que representar! Representar minha foto atrás das grades, depois. Socar a cara dele ia ser Rock ‘n Roll o suficiente, melhor que nocautear os paparazzi, o que, na minha opinião, já era ultrapassado.
- Eu não sei se o senhor já ouviu falar, - provavelmente não, porque devia se ocupar demais enchendo a barriga de comida para encher a cabeça de cultura, mas resolvi tentar – mas o senhor com certeza deve ter uma filha que sim. – Eu não estava sendo pretensioso demais. Não. – Eu sou de uma banda bem famosa por aqui, chamada McFly, e se o senhor quiser, eu posso dar ingressos para a sua família inteira, ou sua filha e as amigas dela, ou ambos os grupos, para assistirem a um show nosso, na primeira fila, de graça, com direito a credenciais para o backstage, refrigerante e cerveja grátis! – “E não é só isso! Você ainda leva um Kit do nosso Injeta Caráter, tudo incluído na promoção!”. Eu estava parecendo um tipo de vendedor de bugigangas da madrugada televisiva e aquela era a frase que faltava para completar a outra frase, mas não a disse.
O Guarda Imperial Bacon ficou me encarando como seu eu fosse algum tipo de verme por alguns segundos e depois se pronunciou:
- A sua fama de nada vale para a polícia inglesa. – Ah, e a sua? Você é francês, imbecil! – E eu não tenho filha alguma, só um filho de quinze anos. – Ah, cacete! – E, a propósito, ele acha que você e seus companheiros de banda não passam de umas bichinhas.
Eu juro que se , a Heroína, não tivesse me impedido ao entrar na minha frente, eu teria voado para cima daquele paspalho nojento. Ele esgotara meu estoque total de paciência e bom senso reservas armazenado por anos em vinte minutos. pisou no meu pé e eu gemi de dor, enquanto ela tagarelava para o guarda:
- Muito obrigada pela compreensão, – Compreensão? COMPREENSÃO? – Sr. Besancon. – Ela fez questão de enfatizar a pronúncia certa do sobrenome daquele desgraçado, só porque era poliglota e falava francês. Metida. – Nós não o incomodaremos mais esta noite e pagaremos a multa, assim como deve ser feito. Bom trabalho e passar bem, lembranças para o seu filho. – Eu tive que rir com essa última parte, enquanto ela abriu o sorriso mais forçado que pôde. – Vamos, Daniel. – Ela me pegou pela mão e saiu me puxando, mas eu não deixei o recinto sem antes tentar fritar o Bacon com o meu olhar.
- Daniel Jones, você queria mesmo ir pra detrás das grades hoje, eu aposto! – ela começou a me advertir se achando a minha mãe, enquanto caminhávamos no meio de toda aquela gente com espírito que cheirava a protetor solar. Bom, se antes eu tivesse acabado com aquele filho da puta, ser preso teria até algum sentido. – “Eu sou do McFly e blá,blá,blá...’’ – ela me imitou com uma voz aguda que com certeza não tinha nada a ver com a minha, eu sabia, obrigado. – Você acha mesmo que o Guarda Imperial estava se importando se você era famoso ou não? Francamente, você consegue ser tão infantil que às vezes eu ainda me impressiono! – O que eu havia dito mesmo sobre o discurso da maturidade?
- – eu comecei, para impedi-la de terminar. – Não seja chata, tá bom? Você se divertiu, está estampado na sua cara. E se tivéssemos sido presos, alguém com certeza pagaria nossa fiança. E é claro que não seríamos presos por brincarmos com o carrinho de bagagem – eu falei como se tivesse tido muita certeza daquilo antes da nossa quase prisão, multa ou qualquer coisa que fosse. Eu sabia quase nada sobre legislação inglesa, pela sede do planeta! – Além disso, poderíamos ter ficado um pouco mais de tempo juntos se fôssemos trancafiados no mesmo cubículo e, quem sabe, o que faríamos em uma suposta cela deste aeroporto... – Eu pisquei para ela, tentando amenizar a situação.
Ela só continuou caminhando ao meu lado em silêncio e de braços cruzados, mas depois cedeu, pulando na minha frente e me dando mil beijinhos estalados por todo rosto e pescoço, até chegar à minha boca.
- Está bem, me desculpe, eu fui sua cúmplice e, sim, foi muito divertido – ela admtiu.
- Estes guardas imperiais... Todos uns sem infância, cretinos.
- Danny, não fale assim, se não fosse por eles nós estaríamos mortos. E você também queria ser policial quando criança – ela me censurou, enquanto olhava uma vitrine de qualquer loja feminina.
- Você andou lendo algum desses sites de fã?
Como ela sabia daquilo?
- É claro que não, seu bobo, você mesmo me contou.
Ah, estava explicado. Ha,ha, que memória a minha!
- Eu não queria ser policial, só queria dirigir a viatura! – justifiquei-me e ela riu.
- Pior ainda! Um subemprego para um cara tão talentoso como você, eu diria.
- Talentoso...? – Eu a olhei, enchendo meus pulmões de soberba. – Talentoso como?
- Ah... – ela enrolou. – Você escreve boas músicas e é um dos melhores guitarristas que já vi, muito hábil com as mãos...
- Ui. – Eu a apertei mais forte contra mim. – E o que mais?
- Você não se cansa de ouvir elogios, não? – Eu neguei e ela me deu um soquinho no ombro. – Eu poderia falar um monte de coisas ruins sobre você.
- É, acho que sim. Mas agora quero saber só as boas, então, por favor, continue a me idolatrar. – Ela me lançou um olhar reprovador de esguelha, que eu senti cair sobre mim, mesmo sem ver diretamente.
- Hum, você... – recomeçou. – Realmente tem talento com a voz, uns beijos de arrasar que me deixam sempre querendo mais e na cama, caramba, você é... – Eu não a deixei terminar e ri alto, parando para beijá-la em seguida.
- Eu ia dizer que você era peculiar! - ela disse quando desgrudamos nossas bocas.
- E por que não "excepcional"? - fingi estar indignado.
- Ai, mas você é muito arrogante quando quer, né?
Ficamos esperando o vôo dela ser anunciado pela última vez pelos auto-falantes em uma das mesas da Starbucks dali. Eu fiz o social e dei alguns autógrafos para um monte de garotas que resolveram se revelar, escutei mais uns elogios de quebra, tirei fotos para algumas máquinas que pertenciam a fanáticas por McFly e, bom, quando pediram a , ela fez o mesmo também, foi bem simpática. Sinceramente, eu nunca entendi por que as fãs querem fotos das minhas e com as minhas namoradas. Eu quero dizer, elas são como concorrentes! Bom, a não ser que seja pelo fato de elas quererem fazer algum tipo de magia negra com a foto, nunca se sabe...
Quando as fãs resolveram dar sossego, sem querer parecer rude, agradeci mentalmente, porque eu realmente queria que fôssemos só eu e , o tempo todo, depois da festa de despedida cheia de gente para importunar nossos últimos momentos.
Então, de novo, éramos só eu e ela, agora com uma mesa redonda que nos fazia ficar um de frente para o outro, o meu Mocha e seu Frappuccino sabor morango que ela dizia lhe causar orgasmos a cada gole. E ainda tinha a pachorra de dizer que eu perdia para o Frappuccino!
Não falávamos muito, apenas nos encarávamos e sorríamos ocasionalmente enquanto nossas mãos se entrelaçavam por cima da tal mesa de madeira clara. Não precisávamos dizer uma só palavra, estava tudo implícito em nossos olhares. Eu estava triste porque ela ia ter que me deixar, mas ela também não estava muito feliz por ter que partir.
Os pais de eram divorciados e ela estava embarcando para a Califórnia para trabalhar na agência de publicidade de seu pai, que era americano, porque havia prometido para ele que o faria depois de sua temporada na Inglaterra. A mãe dela era brasileira e ela sempre comentava que morria de saudade do Brasil, já que a última vez que pisara lá fora há cinco anos e não via a maior parte da família e algumas amigas há o mesmo tanto de tempo. A mãe viera visitá-la pela última vez em terras inglesas há uns oito meses, eu ainda nem a conhecia nessa época. E eu podia ver os olhos dela brilharem quando eu falava que talvez estaria no Brasil em uns três meses e ela dizia que morreria para ir comigo, mas não podia porque estava numa fase muito importante para sua carreira e não podia abandoná-la no meio. Na verdade, ela dizia que só não morreria porque morta não chegaria a lugar algum.
- Passageiros do vôo 308 da American Airlines, embarque imediato pelo Terminal número cinco.
A moça repetiu a informação mais uma vez, e deu o último gole em sua bebida, olhando-me melancolicamente. Não dava para adiar mais.
- Acho melhor eu me apressar – ela disse, e eu pude perceber sua voz um pouco mais grave que o normal. Acho que ela queria chorar. , sempre tão suscetível...
Ela se levantou e eu fiz o mesmo. Seguimos até o portão de embarque, enquanto eu sentia um aperto um tanto quanto anormal no peito. Eu não era muito bom com despedidas e estava sentindo que era tão boa quanto eu.
Ela parou de frente para mim e eu segurei suas mãos.
Pela primeira vez em muito tempo eu queria chuva. E neve. Sim, eu estava pedindo uma nevasca ou uma tempestade enorme de gelo, ou um dilúvio, daqueles que ocorrem e a notícia se espalha mundo afora em um piscar de olhos, para que o avião de não pudesse partir e levá-la junto. Eu estava mesmo pedindo neve e chuva em Londres? Mas que porcaria de tempo londrino era aquele que não funcionava adequadamente?
Nós nos encaramos, ela umedeceu os lábios e sorriu tristemente.
- Danny...Eu não queria que tivéssemos que acabar assim, eu juro, e eu sei que você sabe disso. Mas eu não posso te impedir de nada, nós não podemos nos impedir... – Ela fechou os olhos e respirou fundo, tentando conter as lágrimas.
Eu já sabia onde aquela coisa toda ia chegar. E eu me culpava, mas agradecia aos céus por ela ser uma garota de atitude e me poupar de ter que fazer aquilo. Qual é, era reconfortante, sim!
- É claro que eu sei - garanti.
- Então eu acho que devíamos... pôr um ponto final, ou uma vírgula talvez, no que nós temos, aqui. – Ela finalmente deixou uma lágrima cair.
Eu estava tentando ser forte por ela, mas aquilo estava me afetando também, mais do que eu esperava.
- Você tem a sua banda, vocês estão no auge, e agora eu vou refazer minha vida em outro lugar – ela continuou. – Nós nem ao menos sabemos quando vamos poder nos ver! – Eu sequei as outras lágrimas que começaram a rolar pelo rosto dela com os meus polegares. – Você é Danny Jones, tem tantas garotas atrás de você e...
- , – eu a interrompi – tudo bem, não precisa falar mais. Eu entendo
Então, abracei-a forte, muito forte, afundando meus dedos em seus cabelos. Ela desabou nos meus ombros, começando a soluçar. Tenho que confessar que aquilo era meio desesperador e eu estava um pouco perdido.
Não queria terminar, mas não tinha como fazer o contrário, simplesmente porque ela tinha razão. E como poderíamos ter uma relação séria tão longe um do outro? Eu sei que muitos fazem isso, mas não é a mesma coisa. E você nem sempre sabe o que realmente está acontecendo do outro lado. Não que eu não confiasse na , mas ambos sabíamos que não seria muito legal. Seres humanos têm necessidades físicas demais para isso.
- Você também tem milhões aos seus pés, eu que o diga! E mesmo que eu seja Danny Jones, que não é nada tão extremo assim, – eu pude distinguir seus risos entre os soluços, provavelmente porque o que eu disse contrastava com minhas atitudes anteriores naquela noite. – eu também não posso impedi-la de seguir em frente. Você tem muito o que viver.
- Você também. – Ela soluçou em resposta.
- Menos do que você – eu a contrariei.
- Não seja besta – ela replicou, com o rosto molhado. Eu a soltei do abraço e segurei seu rosto em minhas mãos.
- Não há problema, . Não se preocupa, nós vamos ficar bem, tá bom? – Ela assentiu. Eu não sabia o porquê, mas não tinha tanta certeza daquilo. – Agora vá, antes que você perca o vôo.
Na verdade, eu queria ter dito: “não vai, não, , não dá pra adiar só mais um pouquinho-inho, bem ‘inho’?” Ou então aquele detector de metais podia não deixá-la passar, apitar até explodir e aí sairíamos correndo, ou melhor, pulando daquele aeroporto, saindo do meio da explosão barulhenta direto para a minha cama onde transaríamos a noite inteira. Bom, a conclusão era que, na verdade, eu não era Deus, mas naquela hora queria ser qualquer coisa com forças sobrenaturais do tipo.
- Se for para o Brasil, aproveite as brasileiras. – Ela piscou para mim e eu ri. Que boba, ela não sabia que seria a única brasileira realmente especial para mim?
- Quando aterrissar na Califórnia, toma cuidado com o choque térmico! – Ela sorriu e me abraçou novamente. Mesmo sendo verão aqui, estávamos na Inglaterra. – E toma cuidado com os surfistas bonitões, eles são tarados. Se eles te perturbarem, é só dar um toque no nosso Intercomunicador Intergaláctico e eu vou voando até lá no maior estilo Super-Homem. – Eu também não sabia de onde tinha tirado aquilo, mas enfim. Devia ser a convivência com o Tom, meu amigo geek.
- Se for assim, vou me rodear de surfistas tarados a todo minuto! – ela disse após dar uma gargalhada engraçada. – Vou sentir sua falta. De verdade.
- Eu também. Mesmo – imitei seu tom enfático.
Demos um selinho demorado com gosto de despedida e nos soltamos. Então, ela virou-se e começou a caminhar sem olhar para trás. Havia uma pequena fila para embarcar e uma moça furou a fila entrando na frente dela para fazer todo o processo requerido adentrar a aeronave. Eu acho que deixou que ela fizesse isso.
virou o rosto e me olhou. Eu acenei sorrindo complacentemente. Então ela voltou a olhar na direção oposta por um segundo e no outro ela estava correndo na minha direção e pulando em cima de mim, me dando um susto ao quase me derrubar. Encostamos nossos narizes um tanto gelados sabia-se lá o porquê e em seguida ela disse:
- Quem eu estou querendo enganar?
Aí, ela me beijou. Era um beijo intenso, afoito, cheio de sensações. Era doce e gelado de Frappuccino e quente e amargo de café, mas talvez também porque talvez fosse o último. Ou o pseudo-último, não sei. Ela pousou seus olhos nos meus pela última vez quando nos separamos e balbuciou confusamente:
- Eu acho que... Não, eu sei que... eu te amo, eu te amo de verdade.
E, sem esperar resposta, selou nossos lábios rapidamente e partiu, correndo em direção ao terminal de embarque e, após os procedimentos necessários, sumiu dentro dele. E tudo que eu pude fazer foi começar uma frase com o pronome ‘eu’, que ela não ouviu e eu também não. Havia a deixado ir, como primeiro achei que conseguiria fazer facilmente e depois passei a achar que não conseguiria mais. Consegui. Mas não estava sendo agradável, se você pensou isso por um acaso.
Ao sair para o estacionamento do aeroporto e adentrar meu carro, sintonizar qualquer estação de rádio, eu realmente achei que poderia explodir ali mesmo e causar um acidente de grandes proporções, só para refletir um outro acidente que havia sido causado dentro de mim.
...
Era setembro de 2008, já havia partido fazia quase dois meses e eu já havia me recuperado de tudo aquilo. Tudo bem, mentira, isso era o que eu estava tentando colocar na minha cabeça. Talvez um dia, se eu repetisse bastante, se tornaria verdade. A gente não se falava muito, mas tentava ouvir a voz um do outro pelo menos uma vez na semana. O fuso-horário era uma coisa maluca de oito horas de diferença e às vezes, quando eu ligava para ela às dez da noite aqui, ela estava em uma reunião de trabalho lá. Então, às vezes, eu ligava de madrugada para falar com ela, ou ela me ligava antes de sair para o trabalho, quando as conversas eram mais rápidas.
E a internet? Bem, tudo era tão confuso, vocês podem ver que ela não adiantava muito para nós.
Eu estava sentindo muita saudade dela. Mas o fato é que eu havia pensado que sentiria muito menos saudade do que estava sentindo. Eu estava pensando nela muito mais do que achei que fosse pensar, e eu estava muito mais afetado do que pensei que fosse ficar. Era estranho passar na frente do prédio dela e não parar. E o fato de saber que eu realmente estaria no Brasil em mais ou menos um mês não colaborava muito, porque me remetia a ela. Eu ia para o país dela e nem lá ela estaria!
Eu nunca traí a e o nosso lance foi sério de verdade, mas eu só a conhecia há uns sete meses e a gente só havia namorado três. Apesar de um tanto rápido, alguma coisa havia sido diferente, não só pelo fato de eu ter me aquietado seriamente com alguém, mas pelo fato de ter algo contrariando meus preceitos. Desde o começo da semana em que ela partira, eu já vinha percebendo isso, e depois de tudo que eu senti na noite em que ela foi embora, eu senti que algo comigo não estava acontecendo como de costume.
Eu era o tipo de cara que nunca se envolvia demais e demorava muito tempo para se apaixonar profundamente e mais tempo ainda para dizer um ‘eu te amo’ com a boca cheia de convicção. Mas por que quando eu pensava na tudo parecia muito mais intenso para definir como ‘paixão’? Paixão soava tão pobre, cara.
Eu havia composto uma música nova. E, bom, a música, eu não podia negar que era inteiramente baseada em nós dois. Eu até tinha a intitulado de Falling in Love. Acho que estava começando a admitir o que me assustava um pouco e antes estava tentando negar para mim mesmo: que a coisa havia me pegado de jeito, embora eu estivesse muito armado, ou somente tivesse achado isso.
Eu queria porque queria que Falling in Love estivesse no novo CD. Os caras meio que quiseram me matar, perguntaram se eu não queria deixar a música nova só para algum single, mas eu a queria no CD oficial e ponto. Confesso que foi uma correria para poder gravá-la entre tantos compromissos e incluí-la no CD antes do lançamento oficial, mas a gente conseguiu e o CD definitivo estava para ser lançado dali há dois dias. Mas eu havia enviado uma cópia ‘’surrupiada’’ para , junto com algumas surpresinhas adicionais que eu havia feito alguns dias antes para que ela pudesse receber tudo no dia do lançamento se o processo corresse bem certo.
A surpresa era um scrapbook cheio de fotos que havíamos tirado durante o tempo em que passamos juntos, desde quando não éramos nada mais que amigos até quando havíamos elevado o nível. Eram mais fotos do que eu pensei. Na capa, eu havia colocado o recorte de uma tirada por uma amiga dela, – quando nossa relação ainda era totalmente inocente – em que ela estava sentada nas escadas do chafariz da iluminada Picadilly Circus, à noite, em um dia de ser marshmallow, e ria de alguma imitação idiota que eu estava fazendo, mas não me lembro agora, e também havia escrito o nome da música que eu havia feito pensando nela. E na parte interna do scrapbook eu havia escrito versos desta espalhados entre as fotos.
Uau, eu estava até fazendo presentinhos românticos. Isso não é de mim.
A verdade é que, em três meses namorando a , eu havia me deixado envolver mais do que eu pensei que seria possível em tão pouco tempo. E, bom, quando escrevi a música, ainda estava tentando negar um pouco as evidências, porque havia escrito que ‘poderia ter me apaixonado’. Mas, bem, confesso que agora eu já estava começando a sentir que esse tempo condicional já não funcionava tão bem para a situação.
Quando ela partiu, eu disse que nós ficaríamos bem. Eu não tinha certeza dos sentimentos dela, mas dos meus, eu tinha. E eu, bom...Eu não me sentia tão bem assim.
Na noite do dia do lançamento de Radio:ACTIVE, depois de alguns eventos próprios da data, eu, meus amigos da banda e mais alguns outros estávamos uma comemoração particular na casa de Tom e eu realmente senti que queria ali comigo ao ver os caras com suas garotas. A gente nem havia se falado ainda, naquela semana.
Confesso que beijei outras nesse tempo sem ela, mas nenhuma delas tinha sido boa o suficiente para me fazer sentir tudo o que conseguia me causar. Elas só haviam me ajudado a confirmar o que eu fingia que não sabia, e exatamente por isso nenhuma delas estava ali comigo agora.
Bom, já que eu não podia tê-la ali e a carência era tão grande, eu me afastei do burburinho da festa particular para o jardim da casa e apelei para os recursos tecnológicos do telefone celular, discando o número de . Eu estava me sentindo mais uma vez como em uma linha da minha música, que era toda dela.
- Nossa, telepatia quilométrica avançada! – ela atendeu ao telefone, aparentemente animada. – Eu ia ligar pra você agorinha quando você, pelo que estou constatando, resolveu fazer o mesmo. – Eu estava imensamente feliz por ouvi-la!
- Tudo bem com você? Onde você tá? – perguntei, quase atropelando minhas palavras, tamanha era minha euforia.
É um saco o fato dos caras desenvolverem celulares que se bobear até falam por você, mas não têm recursos para poder sentir o cheiro da pessoa no outro lado da linha. Bando de inúteis, eu queria sentir o cheiro da !
- Tá tudo ótimo! E, por incrível que pareça, estou sozinha com meus pés afundados na areia, vendo o sol desaparecer.
- Ah, que inveja! Queria poder tá aí com você! Mas, bom, a lua também tá sensacional por aqui, hoje – eu disse, enquanto observava a lua absolutamente imponente no céu. – E os surfistas tarados? Andam te importunando? Por isso que você ia me ligar?
- Aaaaah, não, não se preocupe com os surfistas, eles têm sido bonzinhos comigo – ela disse aquilo para me tranqüilizar, mas, bem, aquela frase tinha um duplo sentido que não me soava tão tranqüilizador assim. – Eu ia te ligar pra te dar os parabéns pelo lançamento do CD. Não foi em primeiro, mas eu sei o quão idiotas os britânicos podem ser às vezes, com todo o respeito. – Eu ri e agradeci. – E também porque estive em casa mais cedo e, bom, chegou um pacote da Inglaterra com um scrapbook podre de lindo, - como ela era delicada! - um CD verde e preto com o rosto de uns caras simpáticos enquadrados. Reconheci um tal Danny Jones entre eles, e veio junto um bilhete dizendo ‘a número cinco é sua’. Você sabe quem mandou? - Ri pelo nariz.
- Então você gostou? – perguntei, um pouco aflito.
- Tá brincando? Eu nunca achei que isso fosse realmente possível, sabe? Eu digo, nunca pensei que escreveriam uma música, que se tornará de tantas pessoas depois, baseada em mim.
- É o máximo saber que você gostou, ! - Eu caminhava de um lado para o outro, radiante. – Posso morrer feliz agora.
- Eu amei! E, uau, o seu solo de guitarra ficou tão... Tão meu que eu juro que até chorei!
- Mas isso não é novidade! – eu brinquei, e ela concordou do outro lado, supostamente sorrindo. - Sinto falta de poder te beijar na London Eye agora – E, nossa, ela NÃO sabia como eu sentia. Era tão divertido quando a gente fazia aquele passeio com roteiro de turista, como se já não conhecêssemos os lugares de cor e saltiado. – E de poder ficar do seu lado na fogueira, como quando a gente acampou daquela vez...
- Ah, Danny... Sabe, eu sou obrigada a reconhecer que não tem sido fácil pra mim. Mas antes de hoje, antes da música e do scrapbook, eu não imaginava que estava sendo tão difícil pra você – ela disse, preocupada. – Não sabia que era tão intenso assim pra você também porque, bom, eu conheço o suficiente do seu passado. Desculpa, Danny, me desculpa, eu não pensei que você...
- Não precisa se desculpar, , que besteira – eu a interrompi. – E eu também não imaginei que seria tão difícil. – Eu me deitei na grama e fechei os olhos, inalando todo o ar que eu podia comportar.
- Deveria ser mais fácil conseguir não se importar – ela disse pensativa. – Mas, bem, se realmente for pra acontecer, nós vamos ter nosso tempo pra isso, nossa vez. Mas aquela definitiva, onde a gente poderá realmente dar certo ou não.
- Eu não acho que aguentaria se desse errado, porque você conseguiu pra valer, ...
- Consegui? Como assim, consegui? Consegui o quê? – ela perguntou, não entendendo coisa alguma.
Eu me sentei, suspirei e fiquei alguns segundos em silêncio.
- Alô? Danny? Alô? Droga de sinal! – ela ralhou, provavelmente pensando que a ligação havia caído.
- , eu não sei se uma linha específica da sua música serve mais. Você tornou tudo tão mais difícil, mas tão fácil; tudo tão ruim, mas tão bom; tudo tão certo, mas tão errado e... – Eu fiquei mudo novamente.
- E...?
- Eu acho que... Não, eu sei que... , eu tenho certeza de que te amo, eu te amo de verdade.
Fim
Glossário ou qualquer coisa que isso seja:
* Timmy Turner é o personagem principal de Os Padrinhos Mágicos.
** Os Padrinhos Mágicos é um desenho animado exibido em alguns canais infantis da TV a cabo aqui no Brasil e pelo canal Globo na TV aberta.
*** Se pronuncia 'bisâncô', a vogal 'o' soa quase imperceptível.
____*
N/A: Hey, hey, hey, sweeties, como vão todas vocês? Bem, eu espero.
Essa é uma das poucas coisas que eu escrevi e realmente me orgulho. Eu gosto de verdade desta fic, sabe, eu até consegui lê-la mais de uma vez, o que é um recorde pra mim!
Escrevi-a com toda a dedicação pela escrita (falando assim até parece que sou profissional, haha) e amor pela desgraça dentuça de sobrenome Jones. Eu espero que vocês, leitoras, tenham podido sentir isso por meio de toda história aí acima, espero mesmo que vocês tenham conseguido se imaginar realmente ali, apesar de eu nunca me imaginar em nada, e gostem da fic de verdade,tanto quanto eu quero que vocês gostem. Dedico-a a Juh, Victoria, Fernanda (minha concorrente Jones), à Mari, minha companheira às 4 da manhã, ao Danny, é claaaaaro, por não sair da minha cabeça (e da minha parede) e por fazer a minha imaginação fluir melhor, todos os dias, de inúmeras maneiras (6)! E é claro, a você que teve a bondade de gastar minutos da sua preciosa vida a lendo.
Qualquer opinião que vocês tiverem escrevam na caixinha de comentários, por favor, comentários me fazem feliz de uma forma muito legal e prazerosa! E se por algum acaso do destino essa fic um dia se tornar popular e vocês quiserem conversar comigo ou algo do tipo, meu twitter é @devilishgrin.
Um beeeeeeijo e um super obrigada,
Annie Archer.
Outras fics:
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