Tudo começou de um modo estranho, tudo bem eu admito, nada nessa história é normal, acredite. Mas não é sempre que você tem um amor inesquecível que não existe, antes que vocês pensem que eu estou escrevendo isso de um hospício eu vou começar a falar sobre como tudo começou.
Estava eu e os garotos em mais um show, mas desta vez na praia, tudo estava dando perfeitamente certo, eu acreditava nisso pelo menos, a multidão vendo o nosso show, cantando com a gente, até que eu ouvi uma risada, e isso fez com que eu quase perdesse a noção do que eu estava fazendo, digo quase porque os outros me olharam.
Se passou mais algum tempo e a risada voltara, mas não era uma risada normal, ela era alta, espectral, parecia estar longe, ao mesmo tempo que devia estar perto, enquanto tocava tentei achar de quem era aquela risada. Quando demos uma pausa para falar com o público eu a vi, e o que mais me deixou atordoado fora, além da sua beleza, a distância em que ela estava de nós, estava na praia, mas perto de uma colina e não perto do nosso palco,e eu não entendia como aquela risada podia ser ouvida dali.
Decidi deixar esses pensamentos de lado e me dediquei totalmente ao show.
Quando ele terminou, o pior aconteceu, um temporal, voltamos correndo para o hotel, não queríamos pegar chuva, o bom é que o show já havia terminado a algum tempo. A garota da praia? Não estava mais lá, então não teria com o que me preocupar.
Ao chegarmos ao hotel cada um foi para o quarto com a sua respectiva namorada, foi tomar um banho, pois estava toda molhada, nosso esforço de chegar rápido do carro pro hotel foi em vão. Enquanto ela tomava o banho dela, decidi ver TV, até que a risada voltou a brotar em meus ouvidos, era impossível, o hotel não era tão longe da praia, mas mesmo assim era longe o bastante para não consegui-la ouvir, só tinha uma forma de ouvi-la, se ela estivesse me seguindo. Sem pensar duas vezes me levantei da cama fui à direção da janela e gritei com todas as forças.
-PARE DE ME SEGUIR – Confesso que depois que eu fiz isso eu me senti um idiota, várias pessoas pensariam que eu era um louco, saíra assustada do banho, além de que e também apareceram por lá, porque o quarto deles era o do lado, agora como explicar a história não sei.
Tentei, juro que tentei explicar, mas a única coisa que aconteceu foram risadas de ambas as partes, me abraçou em consolo, acho que depois dessa ela ia me internar, mas dei de ombros, pelo menos as risadas da garota pararam. Após algum tempo eu dormi, e sonhei com a bendita garota, isso estava virando perseguição, disse que eu falei no meio da noite, falei é pouco, ela disse que eu gritei, ela até pensou que eu estava acordado.
-O que eu gritava? – perguntei curioso.
-Um nome! Não me lembro muito bem – disse passando a mão no cabelo, ainda com sono.
-Devia ser um pesadelo – Eu realmente estava achando aquilo um pesadelo, o que me reconfortava é que voltaríamos para casa logo. Nos levantamos para tomar café com os outros, e ao chegarmos na mesa me olhava com um sorriso enorme.
-O que foi, dude? – Sinceramente aquele sorriso me assusta, sempre que ele abre a boca é algo que eu não gosto e que preferia não fazer.
-Sabe aquela casa na colina? – disse e eu assenti – Sabe quem comprou?
-Quem? – perguntei por idiotice, tava estampado na cara dele.
-O – Juro que quando ele me respondeu me surpreendi.
-E o que eu tenho a ver com isso? – Eu disse olhando para , depois voltei meu olhar a – Bela casa.
-Nós vamos ficar lá o resto da viagem – disse e eu quase gargalhei, eu disse que tudo que sai da boca desse garoto quando ele está com o sorriso do coringa me assusta, justo a colina perto da garota da risada espectral.
-Que legal – Eu menti – Mas porque o interesse todo por aquela casa ?
- acordou cedo hoje por causa dos seus gritos – Não sabia que tinha gritado tão alto – Ele acabou me acordando, então fomos eu, Olívia, ele e andar pelos arredores.
-E... – queria ver aonde aquela história chegaria.
-Aquela casa é linda, além de ser quase deserta sem nenhuma casa ao lado, estar em frente ao mar, não tem defeitos – disse e eu ri, por dentro eu dizia para mim mesmo: Ah tem! Eu tenho certeza que tem você vai acordar todos os dias com um despertador risadinha, !
-Não posso dizer que não? – Decidi nem olhar para o rosto de agora, este estava muito feliz com a compra de .
-Não – disse se pronunciando pela primeira vez.
-Então vamos – Eu sorri meio que contra vontade, olhei para para ter motivos para sorrir.
Eu estava tentando saber se meu aniversário estava chegando, se era meu inferno astral, nova pegadinha, mas não era nenhuma dessas alternativas, eu realmente estava naquela casa, chegamos de noite, e eu fui dormir logo, não queria lembrar daquele ser.
De manhã fui o primeiro a acordar, sai com cuidado da cama para não acordar , minha preguiça era grande o bastante para fazer o café, fui até a sala e de lá vi que tinha uma varanda nos fundos que dava para ver a praia direitinho, fui aproveitar a manhã ensolarada e sentei numa das cadeiras que havia lá, não sei porque mas todo meu sono começara a voltar, mas ele terminou rápido, por perceber uma sombra na minha frente, pensei ter visto , pelo menos era o que parecia, quando consegui distinguir as imagens a minha frente, vi uma garota, a mesma garota. O que eu fiz? Se você pensou em: Gritei. Sim você acertou, mas ela ria, pensei se essa garota era uma espécie rara de pessoa risonha.
-Você é bobo, – Eu me assustei como ela sabia o meu nome? Quase bati na minha cara nessa hora, eu era famoso.
-Eu não sou bobo... – Não sabia o nome dela.
- – Ela disse, passei minha mão para frente para cumprimentá-la, mas ela apenas riu e apontou para trás.
Fui ver o que era, não tinha nada ao olhar pra frente ela não estava mais lá, bendita , devia ser do circo. Eu comecei a rir, isso devia ser contagioso, e por incrível que pareça eu ouvi sua risada de novo, estava virando rotina isso, eu? Comecei a gargalhar, há um dia eu deixaria me internar, acho que até hoje nesse momento eu deixo.
Por falar na garota.
- você está rindo do que? – disse com a cara amassada – Eu tentei achar você do meu lado, e só tateei a cama.
-De como o é sortudo de ter comprado essa casa primeiro – Me levantei num pulo, e assustei , murmurei desculpas ainda com um sorriso idiota no rosto.
Ela sorriu, eu falei que isso era contagioso, eu ainda não havia percebido o que de fato era pelo menos não até agora, e essa não fora a única vez que ela aparecera repentinamente, mas também não aparecia sempre.
Lembro que estava um dia na mesma varanda, todos tinham saído, ficara apenas eu e , e depois de alguns momentos bons ao lado dela, se é que você me entende, eu dormi, mas como sempre eu estava acordando muito rápido, por isso decidi voltar à varanda, e então tentei chegar perto da ponta da colina para ver a praia.
Eu a vi na praia, dançando como na primeira vez, ela murmurava uma música, impossível de distinguir qual era, mas era lenta e dava uma vontade enorme de dormir, fechei os olhos por dois segundos no máximo e ela não estava mais lá.
Tentei chegar mais perto da ponta da colina, e nessa parte eu quase cai.
-Cuidado – ela disse atrás de mim com um sorriso no rosto, eu cambaleei pra frente e quase cai, ela exercia algo sobre mim que era impossível de entender. Ela previa as coisas que iam acontecer comigo, vocês devem estar confusos, mas irão entender daqui a pouco.
De alguma forma consegui voltar pra trás.
-Porque não me ajudou? – Quem em plena consciência ia sorrir e apenas murmurar um cuidado para alguém que estava a abeira da morte agora, esse alguém era eu.
-Porque eu sabia que você não ia cair – Ela suspirou de alívio, e foi até a minha direção ficando de frente pra mim na ponta da colina.
-Eu já vi alguém cair dessa colina – disse ela e eu imaginei como ela não estava traumatizada – Não foi muito bom.
-E ela sobreviveu? – Eu tinha que perguntar, ela me olhou e dessa vez não sorria e negou.
-Foi realmente horrível – Ela sorriu e eu então fiquei aliviado, ela sem o sorriso não tinha o mesmo encanto – Nunca caia daqui, por favor, seu amigo eu duvido que sobreviva um dia perto da colina, do jeito que parece ser, não deixe ele chegar perto demais.
Ela estava falando ou de ou de , e eu ri, ela olhou para mim e voltou a caminhar para perto de mim.
-Quer saber a sensação? – Ela me perguntou e eu jurava não ter entendido.
-Que sensação? – Estava curioso, ela tinha algo na voz, além de um enorme eco quando falava, que me deixava sempre curioso sobre ela.
-Você verá, apenas não morra do coração – ela disse e depois chegou perto de mim sem encostar – Não grite, sua namorada vai acordar e eu vou ter que ir embora de novo, como sempre!
-Prometo – Eu disse, mas foi quase que uma promessa mais para saber o que ela ia fazer.
Bem o que ela fez? Não foi legal, eu realmente quase morri do coração, eu quase morri mesmo. Ela deu dois passos para trás e abriu os braços, caindo da colina, ela ria e eu jurava que ela era louca, eu gritei, meu coração acelerou e eu fui pra frente pra tentar segurá-la, mas era tarde demais, eu estava suando frio, minhas mãos tremiam, eu não acreditava que tinha presenciado a morte de uma pessoa.
-Para de ser bobo eu não morri – Ela disse atrás de mim, e depois acenou – Eu disse pra você não gritar, agora sua namorada acordou e eu vou ter que ir! Bobo como sempre .
Eu não abri a boca, tudo o que aconteceu foi mais assustador do que qualquer outra coisa, entendeu o porquê do que eu falei que ela sempre acertava o que ia acontecer comigo? Porque realmente acontecia, apareceu na porta com a minha camiseta, ainda bem que ela se lembrou de se vestir.
- , está virando rotina eu te encontrar aqui – ela disse com um pouco de impaciência na voz – Eu vou encontrar os outros lá no restaurante que eles estão, você vai?
-Não, eu vou ficar por aqui, amor. – fui até ela e beijei sua testa, ela sorriu e entrou no quarto pra se trocar.
terminou de se trocar e passou por mim, apenas se despediu e saiu, não deu nem três minutos, eu os contei assoviando uma música, e rapidamente apareceu deitando de ponta cabeça na outra cadeira da varanda.
-Que coisa feia trocar sua namorada por uma garota de risada espectral que você nem ao menos sabe da existência – disse e eu não pude deixar de sorrir, ela sabia o apelido que eu havia dado apenas em mente para ela.
-Não é esse o motivo, quer dizer, na verdade esse é o total motivo – eu disse e ela franziu o cenho.
-Eu não vou te contar... – Não percebi que ela tinha falado e desembestei a falar quase junto a ela.
-Eu quero saber o que você é? Como você me conhece? Da onde você veio? E mais algumas coisas que... – eu parei e me toquei do que ela havia falado – Porque não vai me contar?
-AH! VOCÊ ME OUVIU – Ela gritou e eu podia jura que só o grito dela ia fazer um furacão, não pensem que é exagero, vocês não escutaram o que eu escutei.
-Eu ouvi muito bem – Eu pela primeira vez depois de vários encontros naquela varanda vi a garota risadinha ficar ruborizada, e confesso que deu uma vontade enorme de apertá-la.
-Desculpa, infelizmente você já percebeu, eu queria que percebesse, mas agora eu não queria mais – Ela disse quase que num sussurro, mas eu ouvi.
-Porque não? – já que estava curioso ela tinha que estar preparada para todas as perguntas possíveis.
-Porque você vai ficar com medo de mim, e você não é o primeiro de muitos que passam por essa praia e me vêem.
-Mas não são muitos, os meus amigos não te viram nem te ouviam – Eu disse e ela riu, de alguma forma tinha algo escondido nessa história.
-Você... – ela me interrompeu.
-Começo pelas primeiras perguntas – ela não parava quieta na cadeira. -Quem você realmente é? – era pelo começo, então vamos partir para uma biografia completa.
- , tenho dezoito anos, isto é, tinha dezoito anos, já morei há muito tempo nesta casa, e tinha um cachorro que fugiu, ele era esperto e espero que ele esteja bem – Ela sorriu mais eu vi que não era bem o que ela queria passar.
-Há quanto tempo você está morta? – eu perguntei diretamente e ela sorriu, ao mesmo tempo surpresa, todos os outros não deviam ter sido tão diretos assim.
-Quando você percebeu isso? – ela perguntou e eu suspirei, ela estava me enrolando.
-Você aparece e desaparece do nada, se jogou da colina sem se preocupar e já estava aqui em menos de segundos, e adivinha coisas – eu disse enumerando cada coisa que dizia.
-Há três anos – ela disse e demorou um tempo até eu perceber que ela tinha respondido a minha pergunta.
-Você tinha quinze então? – eu perguntei e ela negou.
-Eu tinha dezoito – eu olhei para ela confuso.
-Então você tem... – demorei um pouco pra fazer as contas, e ela me olhou incrédula – Vinte e um. O que foi?
-Francamente , essa é a conta mais fácil de fazer – ela disse e eu ri.
-Não gosto de matemática – tentei arranjar uma desculpa, mas antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa sobre esse assunto voltei as minhas perguntas – Se você é um espírito eu não posso te tocar certo? E como você está...
-Sentada? – ela terminou minha frase eu assenti – De alguma forma eu consigo sentar, acho que posso levitar também – ela riu e fez uma posição de ioga.
Ficamos assim por um bom tempo, e que bom tempo, pois já estava escurecendo, não sei por que todo mundo ainda não havia voltado. Por horas eu fiquei fazendo perguntas bobas, só para ela ir se descontraindo, eu sei mexer com o psicológico de todo mundo, quando eu vi que ela estava confortável o bastante soltei a pergunta que eu queria fazer há tempos.
-Como você morreu? – ela não se manifestou por um tempo, depois ela soltou um sorriso de derrota, até para isso a garota sorria.
-Foi com tiros – eu vi que a voz dela era divertida mais eu me assustei no momento em que ela fez os barulhos de tiro, eram realmente muito parecidos com os de verdade, e ainda mais com a sua voz super alta fazendo eco na colina, piorou a situação.
-Fala – eu pedi pela primeira falando o seu nome, ela fixou o seu olhar em mim, o que me deu certo medo e depois ela sorriu.
-Eu digo, não vai ser nada legal, e vai ser como todos os outros, se você passar disso da sua próxima pergunta você não passa – fiquei com medo da resposta dela, ela já sabia minha próxima pergunta sem eu nem ao menos saber o que ia perguntar.
-Acredite, eu estarei contigo até o meu último dia aqui – eu sorri e ela retribuiu.
-Se você diz – ela suspirou e começou a falar, decidi esconder todos os tipos de cara que eu poderia fazer enquanto ela contava a história, senão ela poderia desistir de contar – Eu estava sentada no meu quarto, meu pai tinha saído e eu tinha discutido com a minha mãe, me tranquei no quarto, peguei o meu Ipod e aumentei até os meus ouvidos ficarem doendo, mas se minha mãe me chamasse eu não ia escutar pelo menos, e a TV também estava ligada para aumentar mais o nível de som em casa, eu queria escuro, pela primeira vez estava pensando em dormir mais cedo, tranquei a janela em caso da minha mãe passar pela varanda e tentar entrar pela janela, fechei a persiana e enfim barulhos e escuro fechei os olhos e fiquei me concentrando na música, até que eu ouvi um grito, e pensei ser do cantor, depois eu comecei a sentir um calor, retirei a coberta de cima de mim, estava acostumada com o calor mais ele ia aumentando, então ai...
-Ai... – tentei fazê-la prosseguir com a história, e ela voltou a falar.
-Então quando eu vi o claro tomar conta da minha porta eu percebi o que estava acontecendo – ela estava desesperada eu ia pedir para ela parar acho que ela sentiu isso, então como sinal de desabafo ela me olhou em desespero e eu permaneci calado – Eu tentei fugir, pela porta era impossível, eu sai correndo até o clarão ao tocar na maçaneta minha mão queimou, depois eu não conseguia mais raciocinar a fumaça estava entrando pelo vão da porta, eu não sabia o que fazer o medo tomou conta de mim, e eu desmaiei, eu sabia que a minha pressão baixa ia me fazer mal algum dia, então quando eu voltei a mim era tarde demais, tarde demais...
Ela ia chorar, eu já não gostava de pessoas tristes, espíritos então.
-Então porque você acha que está aqui ainda? – eu perguntei para ela voltar a falar e não chorar.
-Eu também não sei, eu sempre fui de mal com a vida, e tinha motivos, e não me pergunte quais, agora que morri aprendi a não levar tudo tão a sério – ela piscou e eu sorri.
Eu ouvi a maçaneta da casa sendo girada.
-Deu o tempo que eu queria – sorriu.
-Você... – eu parei de falar e ela então falou.
-Eu sei persuadir pessoas – ela sorriu e sumiu, e eu só pude ouvir a risada dela, mas hoje estava diferente, estava sem vida.
Eu sentei direito na cadeira agora olhando para o céu escuro.
-Não chamo mais o para vir aqui, senão ele não sai da minha varanda – disse entrando na casa eu ouvi e ri, meus olhos ainda fechados.
-A gente ia chegar antes, se não fosse aquela velhinha tentando vender de todas as formas produtos pra gente - disse se jogando no sofá, enquanto foi até a varanda me chamar.
Me levantei e entrei, ao ver um quadro, muito bonito por sinal, não era de ninguém famoso, mas mesmo assim estava feliz pela compra.
E os dias foram se passando assim, eles saiam e eu ficava, dificilmente eu saia, só quando ela falava que não viria, talvez ela não quisesse atrapalhar a minha vida, mas isto ela já tinha feito. E sobre persuadir as pessoas era totalmente mentira, ela brincou comigo, e eu acreditei, mas eu deixei passar.
Nossas conversas eram como de amigos muito próximos e de longa data, falei igual meu avô, e o que mais me encantava era como eu me sentia natural ao lado de um espírito.
Passavamos horas e horas rindo, era uma eternidade passar o tempo com ela, isso quando parecia que o mesmo não passava, as vezes o tempo parava, e era nesses momentos que eu esquecia completamente o que ela era.
Acima de tudo eu tinha certeza de que havia ganhado uma amiga, diferente, mas uma amiga.
Às vezes ela realmente me dava medo, ou às vezes ela realmente parecia ser de carne e osso, parecia estar viva, como no dia em que todos estavam admirando o quadro da no quarto de , enquanto eu fiquei sozinho na sala, e então ela apareceu.
-Quadro bonito, não é? – disse e eu assenti.
-Mas não tem o nome do autor – eu disse e ela riu.
-Porque faz tempo que ele foi pintado, eu conhecia o pintor, isto é, a pintora – disse e eu fiquei curioso, não era tão antigo assim então o quadro.
-Era famosa? – eu perguntei e ela negou – Quem era?
-Ângela , mais conhecida por mim como mãe – sorriu e eu também, então a mãe da garota era pintora, então de uma forma ou de outra eu sempre estaria ligado por ela, eu não, a , mas como esta é namorada do que é meu amigo, estou ligado por ela também. Esqueçam o que eu pensei.
-Qual o nome do quadro? – eu perguntei, eu sempre fazia perguntas para ela.
-Não posso falar – fez uma cara sapeca e eu comecei a rir alto – Eles estão vindo.
-Corre – foi o que eu disse, ela me olhou com uma expressão divertida, e fingiu correr, ao dar de cara com a TV, isto é, para mim foi de cara com a TV, para ela não, ela soltou um gemido de dor forte, e depois começou a rir.
-Bobo, eu não preciso correr e muito menos desviar das coisas – ela riu e em questão de segundos sumiu. Um dia todos queriam ir a um restaurante que havia sido inaugurado, eu mais uma vez disse que não, mas meus planos foram por água abaixo, quando...
-Vou ficar também, quero saber o que tanto o faz aqui em casa – disse , e o resto assentiu pelo que pareceu eles tinham feito um plano contra mim, não me deixariam sozinho.
-Excelente, – eu disse o abraçando e forjando um sorriso mais sincero possível, pelo menos para eles.
Todos se despediram e ao saírem fixou o olhar em mim, comecei a transitar pela casa, ia de cômodo em cômodo com o na minha cola.
Quando sentei no sofá, ele sorriu.
-Vai ver o seu filme agora? – disse e eu não entendi, eu realmente não entendi – Não se faça de trouxa, .
-Por quê? – juro que nesse momento gargalhava de algo que eu nem sabia o que era.
-Eu sei que você tem um filmo pornô escondido por ai, não é a toa que sempre que a gente chega ouvimos você rindo, ou então com aquela expressão de felicidade, de satisfação – ele disse isso e eu ouvi outra gargalhada, mas dessa vez não veio da boca de , ela estava ali ouvindo TUDO, eu? Fiquei roxo, vermelho, púrpura, letreiros da Time Square, como ele podia falar aquilo?
-Idiota, eu não vejo nada disso, eu não preciso, eu só fico porque não quero sair, eu gosto de ficar em casa – eu disse com a cara fechada, até que a vi passar para a cozinha, e como um impulso fui atrás dela, com ainda em meu encalço.
-Se não quer admitir, tudo bem, mas você podia me emprestar – disse e me olhou.
-Vou ser emprestada? – ela perguntou.
-Não você não vai ser emprestada – eu disse esquecendo completamente que estava ali.
-Tá falando com quem? – arqueou a sobrancelha e eu bati na minha testa.
-Tô falando com você , não vou te emprestar, é só minha, quer dizer, meu – eu disse e me olhou incrédula.
-EU SOU SUA? – Ela gritou, e como sempre aquele forte vento passava.
-Acho que vai chover – eu disse tentando fugir daquele lugar, indo para a sacada e fechando a porta de vidro.
- me responda – disse e eu engoli seco.
-VOCÊ NÃO É MINHA E NEM TEM COMO – explodi, e me olhou como se eu estivesse enlouquecendo, talvez estivesse e daí? O problema era comigo, e não com ele, porque ele tinha que ter ficado?
- você ta me assustando, com quem você ta falando? – deu dois passos pra trás, a primeira coisa que me veio em mente foi tentar assustá-lo, fingindo que estava possuído, ou coisa parecida, mas ficou na minha frente e negou com a cabeça.
-Eu to falando com... – eu olhei para ela para ver se eu podia contar, pelo menos para ele, a sua expressão fora serena, e eu fiquei em dúvida, decidi não falar – comigo mesmo!
-E precisa gritar para o seu subconsciente te ouvir? – perguntou e sorriu de lado, estava sendo torturado por ambas as partes, tinha medo de soltar algo pro , tinha medo de falar com e pedir desculpas, enfim eu gritei, e os dois ao mesmo tempo se assustaram.
PARA! EU NÃO TE DEIXO MAIS SOZINHO AQUI!
Essa fora a gota d’água, eu tinha prometido para que não a deixaria sozinha até acabar a nossa última semana aqui. Ela me olhou com uma expressão de calma, mas seus olhos demonstravam desespero, eu não sabia o que fazer.
-NÃO! Eu t-tava brincando , era só pra descontrair – Eu ri, mas não consegui convencê-lo - Vamos lá fora aproveitar a noite?
-Você virou gay? – ele perguntou e confirmou, como se ele a visse.
-Não, é que lá fora é bem melhor – finalmente concordou comigo e fomos para fora, lá se sentia mais livre, e assim poderia transitar por onde quisesse.
nunca chegava perto demais de , o que para mim era estranho, pois ele não ia a enxergar mesmo, era como se ele descobrisse que ela existia se ela ficasse a um metro de distância dele.
Quando pegou no sono, ela voltou para perto de mim.
-Seu amigo fala hein – disse e eu assenti.
-Porque você não chegava perto dele? – eu perguntei e ela negou – Não vai falar?
-Bom garoto, ta aprendendo – ela disse e eu fingi da uma risada, bem baixinho.
-Não sou um cachorro – eu disse e ela sorriu.
-Ainda bem – ela ficou ao meu lado, mas era como se estivesse longe.
- ... – ela disse e eu a olhei – Sobre o que você disse lá de não poder me ter...
-Não fale nada – eu pedi, não queria saber a opinião dela sobre isso.
-Não , eu preciso falar – ela ficou de frente para mim e me olhava nos olhos – Você não pode se apegar tanto assim por mim, você não pode gostar nem um pouco de mim, você não pode nem chegar a me amar.
-Mas... – era impossível agora não gostar dela, posso dizer que ainda não a amava, mas já tinha um sentimento muito forte para não conseguir viver sem a companhia daquela garota.
-Sem mais nem menos , quando eu for embora eu não quero que você sofra, e eu sinto , não vai demorar muito até eu ir embora, para sempre – ela enfatizou bem as palavras: ‘para sempre’. E o fato dela falar sobre ir embora me fez ficar angustiado, nervoso e acima de tudo estático.
-Você não pode ir – eu disse isso e ela puxou os cabelos dela mesma com força.
-NÃO PODE! EU SABIA QUE NÃO DEVIA TER ME ENVOLVIDO DEMAIS COM VOCÊ NESSA HISTÓRIA TODA, DEVIA TER FICADO QUIETA AQUELE DIA, MAS VOCÊ, SEUS OLHOS... – Ela gritou, como nunca havia gritado, ela demonstrava fúria por si mesma, ela realmente estava me assustando, e como sempre começou a ventar mais forte do que antes – PORQUE É SEMPRE ASSIM? EU ME ODEIO, EU NÃO DEVIA TER FEITO ISSO.
Por um momento eu desejei mais do que tudo poder tocá-la, fiz essa menção e ela me olhou, eu sorri, ela ainda estava com a respiração ofegante, ela não respirava, mas, de alguma forma ela estava cansada.
-Eu gosto de você e você não vai poder mudar isso, vai valer a pena todo esse tempo que eu puder permanecer com você, todo esse tempo que for possível ver o seu sorriso, ver o seu rosto, ver você.
-Não, – ela ia chorar, sua expressão mudara rapidamente.
-Não, , não chora – eu me levantei, fazendo com que a cadeira fizesse barulho e acordasse agora eu digo como esse garoto é estranho, estou falando há horas, o vento ficou forte e ele acorda com um barulho mínimo de uma cadeira.
-Está levantando por quê? – perguntou.
-Quero observar a paisagem – olhei para ela e pisquei. Esta ainda inconformada com a minha declaração repentina, não sorrira.
-Linda né? – se levantou, coloquei a mão na boca para não rir, afinal ele não sabia do que eu realmente estava dizendo, ia me bater eu senti, mas era impossível.
Após alguns segundos, eu ouvi a risada de , ia sumir eu sabia disso, olhei para ela e sussurrei, quase que num suplício.
-Fique – ela me olhou e assentiu, talvez fosse o medo de saber que alguém também a enxergava.
Do nada ao invés de vozes eu ouvi um latido, eu e ficamos com caras confusas, enquanto ficou estática, seus olhos marejados olhando para algo que eu ainda não vira. Então apareceu ali fora um cachorro com uma expressão bem velhinha, parecia ser um Boiadeiro Australiano, meio óbvio para quem mora na Austrália, correra para perto do cachorro, e eu a vi sussurrar o nome do mesmo.
-Charlie, meu anjo, você ainda está vivo, saudades de você – ela estava ao lado do cachorro, este parecia a ver, bem que dizem que cachorros vêem espíritos, e agora eu confirmei isso, com meus próprios olhos, ele ficara muito feliz, parecia ter reconhecido a dona.
-Parece que ele gostou de vocês – disse .
-É... – eu sabia de quem ele havia gostado, não cheguei perto do mesmo por respeito à . A deixei ficar perto dele o máximo possível.
Quando fez uma brincadeira indescritível com o cachorro este latiu alto, e balançava cada vez mais o rabo.
-Não fique com medo dele – disse – Ele está feliz, o achamos na rua, o pobre garoto estava passando fome.
Quando dei uma segunda olhada percebi como o tal Charlie estava magro, e via expressão de culpa de .
-Não foi sua culpa, lembre-se ele fugiu por si só e como você mesma disse, ele foi esperto – eu sussurrei para consolá-la e ela confirmou, agradeci por ninguém perceber que eu tinha falado.
-Ele teria morrido também se tivesse ficado – deu um sorriso amarelo -Queria tanto ver minha mãe, pelo menos saber se ela está bem.
-GENTE! VOCÊS NÃO SABEM – entrou toda feliz na sacada e todo mundo a olhou, pelo menos eu e , pois os outros já sabiam – Vou conhecer nada mais nada menos que, Ângela , a pintora do quadro que eu comprei, não é muita coincidência, ela estava no restaurante, ao que tudo parece ela é gerente de lá.
Olhei para esta teve muita felicidade num dia só, fiquei feliz por ela, mas algo me dava uma angústia por dentro.
-Quando você vai conhecer? – perguntei por mim e por .
-No penúltimo dia nosso aqui, conhecer já conheci, mas quero conversar com ela – disse – Podem ir todos, ela disse.
-Ótimo, vamos TODOS – Disse e eu entendi que esse: ‘todos’, me incluía, até lá eu ia fazer com que me deixassem aqui.
-Já jantaram? – perguntou e negou.
-Farei algo para vocês – disse entrando junto com os outros, eu ia ficar e sussurrou em meu ouvido.
-Vai lá, bom apetite – ela piscou e acenou para Charlie – Cuide bem dele, por mim.
-Nunca o deixaria, após saber que é seu – eu sorri e entrei na casa, enquanto ela foi embora com um sorriso enorme no rosto.
Faltavam três dias para irmos embora, e então graças a e , nós íamos à praia nesses dois dias, como já se acostumara a aparecer quando eles também estavam, resolvi ir com eles, para o espanto de todos.
Todos se divertiam, principalmente o cachorro que após e terem levado ao veterinário, estava pelo menos com a aparência mais sadia.
O tempo estava ótimo, ficou comigo a maior parte do tempo, até que a vi perto do mar, ela olhou para mim e quando nossos olhares se encontraram percebi que ela quis fugir disso e virou seu rosto rapidamente, eu ri.
me olhou e eu disse que tinha lembrado uma piada, ela quis que eu contasse então eu disse que já tinha esquecido, às vezes é bom fingir que já está ficando meio louco, esquecido, velho.
Queria ir até ela, mas todos iam achar estranho e iam começar a pensar que eu era autista, enfim, quando olhou para os garotos brincando com Charlie eu acenei pra ela, e ela devolveu o aceno.
Foi nesse mesmo dia que bem, coisas foram reveladas. Como sempre só pra não perder o costume todos foram embora, eu disse todos, porém, não percebi que havia ficado. Estava animadamente conversando com do lado de fora da casa, quando ouvi um barulho vindo do lado de dentro da mesma, ao entrar vi deitado no sofá em seus devaneios, como é sempre bom zuar um amigo, sentei no braço do sofá e disse:
-Pensando numa ex-namorada? – Eu pisquei e sorriu de lado.
-Se eu disser que você acertou você nem acredita – Fiz uma cara de: ‘Que isso, é meu amigo mesmo?’
-Qual delas, alguma que eu tenha conhecido? – eu disse para , enquanto do lado de fora me olhava com uma cara de espanto.
-Você não conheceu porque foi algo meio escondido – disse enquanto segurava ainda uma foto, estava curioso, tentei pegar a foto umas cinco vezes, e ele conseguiu desviar em todas as tentativas.
-E o que ela te fez meu caro rapaz? – eu perguntei afinal daquela forma, nem nos meus sonhos, algo de grave ocorreu, bem secretamente, fiz um sinal para me esperar, esta ainda com a expressão de pavor congelada em seu rosto, não se moveu, eu agradeci, mas pelo que parecia ela não agradecia.
-Ah um bom tempo, eu ando sentindo a presença dela, e não é de agora, eu sabia que não devia ter me envolvido com ela, mas foi impossível, foi totalmente impossível, ela era viciante – eu pensei: ‘não caro , viciante é aquela garota ali fora’ – O cheiro da pele dela, a forma com que ela falava se vestia, me fazia amá-la, era incrível , e acabou de uma forma horrível.
-E como acabou? – perguntei, ela morreu ou o que? Olhei para fora e estava escorregando em direção ao solo, como se fosse desmaiar, desabar, e eu não estava entendo porque a garota estava assim.
-Ela morreu , e eu não consigo acreditar até agora nisso, foram três anos sufocantes e doloridos, eu estou com a , feliz, mas não dá, eu não paro de pensar nela, toda vez que fico nessa casa, eu preciso sair daqui, eu acho que vou vendê-la, não dá, por mais que essa casa parecia me puxar, agora eu sinto que devo me separar daqui – quando disse isso, meu coração parou, ou tudo a minha volta parara, então encaixei as peças, namorada desconhecida de , a três anos atrás, ligações estranhas com essa casa, sente a presença dela, e ela morreu, então eu tive que perguntar: - Qual era o nome dela?
- respondeu e me entregou a foto, ao ver, eu não conseguia acreditar ao olhar pra fora eu via que ela chorava, ou então aparentava chorar. Juro que não pensei, apenas toquei com a mão no ombro de e sai em passos firmes lá fora, daqui pra frente tudo fora falado sem pensar.
-COMO VOCÊ PÔDE ME ENGANAR? – eu gritei e ela mesmo sabendo que eu nunca iria tocá-la, ia para trás a cada passo meu.
-Eu... – ela não sabia o que falar.
-VOCÊ ME USOU PARA CHEGAR ATÉ ELE? VOCÊ O QUERIA DE VOLTA? OU VOCÊ SÓ GOSTA DE FAZER OS OUTROS SOFREREM, ACHOU LEGAL VER O SOFRENDO? – Eu gritava sem me importar, meu coração nesse momento não batia, pelo menos ele estava frio – QUEM VOCÊ PENSA QUE É ? VOCÊ NÃO É NADA, VOCÊ ME USOU ESSAS SEMANAS, E EU NÃO ACREDITO COMO EU POSSO TER CHEGADO A ME APAIXONAR POR VOCÊ, POR ALGO QUE NÃO EXISTE.
-Eu não... – ela tentava se explicar, mas naquele momento era impossível, eu não raciocinava, eu não entendia minhas próprias palavras, eu só a queria longe dali, por mais que meu corpo e meu coração gritassem por ela.
-SAI! EU NÃO QUERO TE VER AQUI – gritei pela última vez, ela chegou perto de mim, e não sei por que eu não me movi, a garota chegou com a sua mão perto do meu rosto, e falou suavemente com uma voz doce:
-Eu não queria machucar o , era a última pessoa que eu machucaria, porque ele foi o único que me fez feliz naquela época, e agradeço pela companhia dele , eu não te escolhi você me viu, porque o destino quis assim – não olhava em meus olhos, mais eu estava cara a cara com ela, era como se ela pudesse me atravessar com seu olhar, por mais vago que fosse – Eu tenho inveja de todas as mulheres que te tocam que podem te tocar, eu não quis que todos os homens que me viram, pudessem me ver, por mim eu não queria estar mais aqui, se é assim que você quer, não volto aqui, pelo seu bem , porque...
Ela ia terminar, eu percebi, mas então percebi que ela não ia conseguir, no momento em que ela sumiu de lá, minhas pernas vacilaram, meu coração apertou, e eu me senti um completo idiota.
Agora eu entendi o poder que , tinha não só por mim, mas pelos homens, só acho que eles não chegaram a experimentar, o que eu sinto por ela: amor.
Fiquei algum tempo sozinho, apenas pensando e então a música que ela sempre cantara veio em minha mente, notei que a conhecia, claro, Imogen Heap, não sei como, mas já ouvi falar dessa banda. Cantei pelo menos a única música que eu conhecia:Missing You, e então notei que ela se encaixava comigo e com a garota da risada espectral, faz tempo que não a chamava assim.
Sorri! Aquela garotinha não saia do meu pensamento.
fora até onde eu estava, e ficou ao meu lado.
-Eu sei que ela está aqui em algum lugar – disse, eu realmente não queria ter aquela conversa – Mas ás vezes parece que não é algo que ela queira que eu perceba.
Então quando ele me disse lembrei, por isso ela não ficava perto dele, para ele não sentir sua presença no local, de alguma forma conseguia notar que estava ali.
-Você reconheceria o perfume dela de longe? –eu perguntei.
-Não tão de longe, faz tempo que não sinto aquele cheiro – sorriu de canto –Mas acho que de certa distância sim – eu sorri e passou a mão no cabelo em sinal de nervoso – Você deve estar me achando louco.
Eu sei o que é estar louco.
-Claro que não – cheguei perto dele e sorri – Mas o que você sente por ela?
-Saudades! E muito carinho e compaixão – sorriu – Ela era a coisa mais importante pra mim naquela época, ela me ajuda e vice-versa, eu era nada sem aquela garota.
-Entendi – eu sorri e olhei para – De alguma forma, ela quer o seu bem , e ela não queria ter ido daquela forma tão fria, e aterrorizante.
-Eu te contei como ela morreu? – me olhou confuso, e eu tive que dizer que sim, o bom de falar dessas coisas com ele, é que ele realmente acha que falou.
Fiquei conversando com até notar, que afinal, tinha me precipitado, quando todo mundo voltara, eu apenas acenei, antes de me direcionar para um banho quente e para uma bela cama aconchegante e quentinha.
Só não notei que naquela noite, alguém me observava.
Acordei não querendo acordar, era nosso penúltimo dia ali, e eu não tinha ao meu lado, posso dizer que acordei muito mal-humorado (mais do que normalmente), murmurei um bom dia, tomei um café rápido e sai. Sim vocês ouviram bem, eu sai! Peguei o Charlie e o levei para uma caminhada, curta, afinal ele já estava bem velhinho para aventuras.
Andamos pelos arredores do lugar, acabei conhecendo uma farmácia, uma padaria, um café, e então vi a praia, de imediato, soltei a coleira de Charlie, que fora correndo até um específico ponto da praia, fui atrás dele. É nessas horas que eu amo esse cachorro.
-Me desculpa – murmurei ainda meio cansado pela caminhada, a que estava olhando para o mar.
-Eu entendo – Ela disse bem baixinho, sem me olhar, sinto tê-la magoado, pode ser coisa da minha cabeça.
-Não , eu fui idiota a ponto de...
-Pensar que no final das contas íamos ficar juntos – terminou a frase sem me olhar.
- ME OLHE! PARE COM ISSO! – Quando ela me olhou, eu preferia que ela não tivesse feito tal ato.
-Eu estou sofrendo mais do que você imagina, – O rosto dela não era o mesmo que eu havia conhecido dias atrás, não havia aquela risada o tempo todo – Eu não devia ter me aproximado de você, foi um erro.
-Mas...
-Sem mas, você sabe! Se ainda tivesse sido quando eu tivesse viva...
-Eu ia estar igual o – ela me cortou, eu fiz o mesmo.
-E você não vai estar assim daqui uma hora, um dia, um ano? – ela disse séria.
-Eu sei – eu disse, e então após alguns segundos eu ouvi um suspiro de fracasso, e então ela se virou para mim com um sorriso, não como os outros, mas pelo menos ela estava voltando a ser a que eu conhecia.
-Trazer um cachorro pra praia, com esse tempo – Eu olhei para cima e vi que ia fazer um temporal.
-Um minuto levarei seu cachorro de volta para casa, e voltarei aqui, não mude de lugar, fique nessa mesma pedra – eu disse e ela bateu continência. Fui correndo para casa, confesso, fiquei com pena do cachorro, pelo menos fiz seu coração trabalhar mais rápido, espero que agora dê um bom calmante pro cachorro.
Ao voltar à praia, já chovia, e trovejava, a procurei depressa e não a vi no mesmo lugar, e então ouvi sua risada, pensei: ‘É só seguir’, e então a vi sentada numa pedra perto da colina.
Ao chegar lá, ela estava com um olhar vazio.
-O que foi? – perguntei, e ela me olhou com um sorriso apagado.
-É hoje – ela disse, demorou um tempo até eu notar que o que ela estava querendo dizer, era daquela pergunta que eu ia fazer sem nem ao menos saber o que era, e o mais assustador, é que eu tinha uma pergunta em mente.
-Não vou perguntar – eu disse, enquanto sentava ao seu lado, afinal aquela pedra estava fora da chuva, por causa das pedras acima.
-Você tem que perguntar , eu tenho que responder, você tem que ter uma reação, e eu vou entendê-la muito bem – ela disse calmamente, aquela calma dela as vezes me irritava.
-PRA QUE EU VOU PERGUNTAR SE VOCÊ SABE A RESPOSTA? – Eu gritei e ela nem se moveu, apenas respondeu:
-Porque eu tenho esperança de que pelo menos uma vez, eu erre – ela disse, e eu vi que ela queria acabar com aquilo de uma vez, por mais triste ou assustador que fosse eu não sabia o que era, mas teria que perguntar.
-Independente da minha expressão, , saiba que eu realmente te amo, eu sei que namoro, e que algo entre nós é impossível, mas todo esse tempo ao seu lado foi gratificante, e uma oportunidade imensa para mim, e que eu posso passar mais uma hora, um dia, uma década junto contigo, que eu vou aproveitar cada minuto ao máximo ao seu lado – ela ia dizer algo, mas eu não deixei – Vou perguntar, ta?
Ela confirmou com a cabeça e eu pigarreei, o clima combinava perfeitamente com a pergunta. Raios e trovões, chuva e um espírito, essa pergunta era realmente naquela hora.
-Como você morreu queimada, sua aparência não ficou assim, como era sua aparência quando você morreu? – eu perguntei rapidamente e sem parar continuei a falar – Desculpe a invasão de privacidade, mas ninguém ficaria tão perfeito após morrer queimado.
-Você ta preparado pra isso? – ela perguntou me olhando, e eu confirmei.
E então em questão de segundos, minha expressão mudara, e não tinha como detê-la, era impossível, alguém tão lindo e perfeito ter ficado daquela forma, era horrível, era tenebroso, e ao mesmo tempo, inacreditável, eu olhava para ela, e não acreditava que era a mesma pessoa, quando ela percebeu que eu estava em choque, vi uma lágrimas cair de seu rosto, e então nesse momento, por mais que meu rosto permanece intacto com a expressão de espanto, eu notei que por mais horrível que fosse a aparência dela, ela continuava sendo ela mesma, a risonha, amiga, divertida, louca, que eu conheci, e não era a aparência que ia mudá-la, quando eu ia chegar a tocá-la, eu senti um puxão em meu braço, ao olhar para trás vi e me puxando, aquilo era o cúmulo, olhei para , esta agora com a aparência normal, sem machucados nem nada, me olhando aterrorizada. Eu não podia ir, eu tinha que falar que a aparência dela, não me importava, eu tinha que dizer tudo que estava entalado em minha garganta, então como os garotos não paravam de me puxar eu gritei.
-ME SOLTA, EU NÃO QUERO IR – eu parecia um louco, mas naquele momento, era impossível não estar.
-Vamos , você está ficando louco por esse lugar, e a gente prometeu a que íamos ver a Ângela disse para mim, e ao olhar para esta vinha em minha direção.
-Vá , por mim, veja como ela está, se está bem, se está boa de saúde, animada, alegre, se está a boa e velha Ângela de sempre – quase implorou, eu nunca deixaria de fazer algo por ela.
-Te vejo amanhã – Sussurrei e a garota confirmou o sorriso o mesmo sorriso, da primeira vez que a vi cara a cara, na minha frente, naquela sacada, brotara da menina, e eu pude ver que ela brilhava, estava feliz por ela.
-Eu vou, me soltem – me soltou e fomos até lá.
Por incrível que pareça, eu me diverti, aquela senhora ela muito legal, e fiz questão de saber como ela estava, meus amigos acharam estranho até, e o mais incrível ainda era que não conhecia ela, afinal era algo escondido, pelo que alegou.
O quadro? Eu tinha que perguntar o nome, ela disse que ele se chamava esconde-esconde, porque era a música do Imogen Heap que sua filha mais gostava, quando ela colocara a música para tocar, eu entendi, era essa a música que ela sempre cantarolava que eu nunca entendia a letra, então eu pedi o CD, para a mulher, emprestado, e ela me deu, porque disse que o original ela tinha guardado com muito carinho em lembrança a filha. Eu a abracei e depois de um tempo todos se despediram da senhora, de alguma forma nesse momento sabia que sua mãe estava bem.
Quando voltei para nossa casa, não a vi lá, e no outro dia, também não a encontrei, e então minha ficha caiu, ela tinha cumprido sua missão aqui, ela tinha conseguido saber o que havia ocorrido com seus familiares, as pessoas que ela amava que ainda estavam vivos, por um lado fiquei feliz por ela, por outro um vazio em meu coração nasceu, e eu percebi, aquela garota ia fazer falta em minha vida, o resto do dia fiquei do lado de fora olhando para aquela paisagem, com a esperança de que em algum momento ela pudesse voltar e falar comigo, como todos os dias, e então naquele dia, ao pôr-do-sol, todos os nossos momentos juntos se passaram em minha cabeça, todas as suas risadas, todos os seus ataques, aquela garota era única. E então, uma lágrima escorreu pelo me rosto, ao mesmo tempo em que eu sorria, sim eu sorria!
E aqui estou eu, agora de novo nesta mesma casa, escrevendo esta carta, apenas para ela, só para ela, saber o que ela me fez sentir dentre essas semanas que eu tinha passado com ela, já se passaram dois meses, e ela me ensinou a melhor coisa que eu podia ter aprendido com essa garota espetacular, ela me ensinou a sorrir, a dar valor à vida.

sorriu e selou a carta que poucos segundos depois queimou e jogou seus restos no mar, na mesma colina onde tudo começou.
Olhou para o horizonte, antes do sol de pôr, sabia que não ouviria aquela mesma risada de novo, sabia que seria impossível vê-la de novo, mas um dia, nem que fosse em outra vida, ele teria a oportunidade de conhecê-la de outra forma.
Ao sair da casa quase que num sussurro antes de fechar a porta ele ouviu. -Você me ensinou a amar , a amar de verdade – sorriu e ao olhar para o seu braço se viu arrepiado.
Essas foram as últimas palavras da menina, saiu da casa que agora estava a venda e a menina foi embora daquele lugar para sempre, com um amor guardado no coração de ambos.

’ Tell me how i'm missing you… … You see i thought i'd found the love i'd have forever...’

Fim.

N/a: Olha garotinhas de sorrisos espectrais, como estão? Não me matem, Vamos primeiro a algumas questões, hehe.
1) Se alguém espírita tem algum tipo de rejeição ao que eu disse, não me mate, se eu mudasse não teria nexo a história que eu planejei com tanto carinho
2) Imogen Heap virou minha banda diva, desde The OC (faz tempo!), logo aconselho terem essas músicas, principalmente Missing You.
3)Críticas, elogios, opiniões, reclamações, enfim, tudo que você ó grandes garotinhas, querem expressar, na caixinha abaixo, ok? *-*

Um beijão enorme a todos que fizeram essa autora feliz, lendo essa fic
Até a próxima,

Evelyn

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