I Know Your Pain

Autora: Giu | Beta: Cami / Leeh


Prólogo:

Eu corri os olhos pelo salão procurando por ela. Só ela. E, quando meus olhos encontraram os dela, nada mais chamou minha atenção. Fui ao seu encontro e prendi-a em meus braços. Ela se aproximou de meu ouvido e cochichou as palavras que eu esperei um bom tempo para escutar. Um sorriso bobo se formou em meu rosto e eu beijei o topo de sua cabeça. A música lenta nos dominou e a atenção de todos os alunos pausou em nós. Aquele realmente deveria ser o dia mais feliz da minha vida, se não fosse pelo que nos aguardava lá fora.


Capítulo 1 : An accident, and the change of life.

- VAMOS LOGO, FILHA! VAMOS NOS ATRASAR DESSE JEITO! – Minha mãe falou, ou melhor, berrou.
- ESTOU INDO!- Gritei de volta. Nessa casa, ninguém deixa a preguiça de lado e vem falar cara a cara. Terminei de arrumar minha mochila e desci as escadas em tempo recorde. Hoje é o meu aniversário de 15 anos, vamos comemorar no ringue de patinação.
- Pronto, mãe. Podemos ir agora. – Avisei-a enquanto recompunha meu fôlego. Ela só assentiu e começou a tagarelar com meu pai sobre suas lindas flores do seu lindo jardim. Revirei os olhos e os segui até o carro. O assunto continou o mesmo até que me desliguei de tudo e me concentrei na música que tocava no meu iPod. Acabei adormecendo pouco tempo depois.

(...)
Fui tirada de meu sono por uma forte brecada. Levanto o olhar, ainda sonolenta, e me deparo com uma linda árvore. Um pouco próxima. Tentei alertar meus pais:
- Pai? - Perguntei, manhosa.
- Está tudo bem, princesa. Só proteja sua cabeça.
Obedeci-o e, em questão de segundos, minha visão se restringiu a um clarão.

Acordei, desnorteada. Varri o vasto quarto com os olhos, não havia ninguém ali. Pouco tempo depois, entrou um médico, que puxou uma cadeira e sentou-se ao meu lado. Eu o encarei, desentendida, e ele apenas sorriu, compreensivo. Ele mexeu em alguns aparelhos ao lado de minha cama e começou a me explicar, lentamente... como se precisasse escolher as palavras cuidadosamente.
- Você está aqui porque sofreu um acidente de carro. Parece que um caminhão perdeu o controle e seu pai se desviou dele, mas acabou batendo numa árvore.
E, de repente, aquela cena veio em minha mente, como um flashback. Balancei a cabeça, tentando afastar aqueles pensamentos que persistiam em vir... Cadê a minha família? Por que esse médico está escolhendo tanto as palavras para falar comigo? Meus olhos já estavam marejados e eu nem prestava atenção ao que o médico me relatava. Limpei as lágrimas teimosas, e o interrompi.
- Cadê meus pais? Eles estão bem?
Ele se surpreendeu com minha pergunta repentina e baixou a cabeça. Ele fitava seus próprios pés. Mas que diabos! Diz logo onde estão meus pais!
- Eu sinto muito. Seus pais não sobreviveram.
Eu o encarei, com raiva. Fácil para ele. Ele deve ter uma família grande e feliz, que está à espera dele para o jantar.
- COMO VOCÊ PÔDE? VOCÊ É UM INCOMPETENTE! SAIA DAQUI! DEIXE-ME EM PAZ!
Ele me olhou com dó. Como se eu precisasse do dó dele. Maldito. Eu já estava aos prantos quando ele deixou o quarto. Ouvi uma leve batida na porta e me irritei.
- SERÁ QUE NINGUÉM MAIS PODE SOFRER EM PAZ?
Quem quer que fosse não ligou para o meu ataque e abriu levemente a porta. Entrou em silêncio, sentou-se ao meu lado e assim permaneceu por um tempo. Não aguentava mais aquela mulher me encarando.
- Quem é você? – Perguntei, seca.
- Sou sua tia. Meredith. Talvez você não se lembre de mim. A última vez que te vi, você era um bebezinho.
Não lembrava dela. Neguei com a cabeça e ela continuou.
- Bom, como você já sabe, agora que seus pais se foram ... – ela pausou e deixou uma lágrima escorrer – eu fiquei com a sua guarda. Eu sei que você vai dizer que sabe se virar sozinha, mas você ainda não é maior de idade. Não quero tornar isso mais difícil para você. Então, vamos resolver isso amigavelmente? – Ela sorriu. Um sorriso... sincero, de consolo. Retribui o gesto.
- Claro – foi só o que consegui pronunciar.
E acho que isso bastou para ela. Ela devia imaginar que eu ia me rebelar contra ela. Meredith sorriu, dessa vez tímida.
- Ótimo. Isso está sendo difícil para mim também. Eu amava muito os dois. E o único motivo de eu não vir visitar vocês frequentemente é pela razão de eu morar longe. E, bom, de não ter dinheiro suficiente para pagar uma viagem dessas – agora ela estava envergonhada. Eu sorri, incentivando-a a continuar.
- E isso é o que mais me incomoda. Você terá que deixar tudo aqui e ir morar comigo. Longe do comércio, dos shoppings, de tudo. – Ela realmente estava incomodada com tudo aquilo. Talvez eu sentisse saudade dos meus poucos e bons amigos que fiz aqui. Mas do quê adianta? Eu sou obrigada a ir morar com ela. E, bom, acho melhor resolver isso da melhor maneira.
- Meredith, eu realmente vou sentir saudades de tudo isso, mas o mais importante, minha família, eu já perdi. E eu realmente acho que, ficando longe daqui, vou pensar menos na morte dos meus pais. – Ela simplesmente começou a chorar e me abraçou, meio desajeitada.
- Obrigada por tornar isso mais fácil para mim, .
Eu apenas assenti. Pedi que ela me deixasse um pouco sozinha. Precisava pensar em tudo que aconteceu... tão rápido. Eu ainda estava tonta com tantos acontecimentos. E, acima de tudo isso, eu sentia uma vazio. Um vazio imenso. Só de pensar que, se eu não tivesse demorado tanto para me arrumar, aquele caminhão não estaria lá, e meus pais talvez ainda estivessem aqui. Comigo. Está tudo bem, princesa. Aquela última frase não saía de minha cabeça.
Fui tirada de meus pensamentos quando Meredith apareceu na porta, com uma aparência melhor do que antes.
- Trouxe comida para você. Você deve estar faminta – ela disse e me entregou uma bandeja. – Não deve ser nada boa. – Ela fez uma cara de nojo e eu ri. Comecei a mexer com a colher naquela papa. – Falei com os médicos. Hoje mesmo eles te darão alta. E, quando isso acontecer, vamos para sua casa – ela me olhou com um olhar de dúvida e eu assenti com a cabeça –, vamos pegar suas coisas. Roupas, objetos pessoais e tudo mais que você quiser levar. O seu quarto não é muito grande, então tente levar o mínimo de coisa. E, quando terminarmos tudo isso, vamos nos mudar. Ou melhor, você vai se mudar.
- Tudo bem – eu disse e coloquei uma colher daquela coisa na minha boca. – Desde que a sua comida seja melhor do que essa, vamos ser boas amigas. – Ela riu e beijou o topo de minha cabeça. No mesmo momento, entraram dois médicos. Um deles era o que eu chamei de incompetente. Senti-me mal por isso, afinal, ele não tem culpa de nada.
- Com licença, senhoritas, viemos avisar que já demos alta à . Recomendamos um pouco de repouso. Nada demais.
Eu encarei o médico que insultei e sussurrei um “desculpa por aquilo”. Acho que ele entendeu. Sussurrou de volta “Não foi nada. Está tudo bem”. Sorri, confortada. Não queria que ele ficasse se sentindo mal pelo que eu disse. Os dois se retiraram da sala e uma enfermeira entrou para me ajudar a levantar. Agradeci e fomos para o carro. Respirei fundo. Estava indo para casa, o lugar onde em qualquer cômodo a presença de meus pais permanecia.

Capítulo 2 : Keep holding on.

Meredith estacionou o carro na enfeitada garagem de minha mãe. Ela adorava decorar tudo o que via pela frente. Esse era um dos vários motivos das brigas inúteis das sextas à tarde. Meu pai dizia que ela ocupava todo o espaço da garagem com seus penduricalhos. Ela dizia que seus enfeites deixavam a garagem com um ar zen. Acho que vou sentir saudades dos gritinhos histéricos de minha mãe e dos gritos de felicidade do meu pai quando seu time ia bem no jogo. Desci do carro e abri a porta de casa. Inalei o cheiro de incenso que ainda permanecia no ar. Os incensos de minha mãe que eu tanto reclamava. Tentei não observar demais a sala, o que com certeza me traria boas e más lembranças. Subi para o meu quarto, arrombando a porta. Abri o armário e peguei todas as malas que encontrei. No total, eram cinco. A primeira eu fiz de roupas, e assim foi... livros, objetos, iPod e tudo o que pensei que gostaria de levar. Juntei todas as malas que, no final, deram três. Sobraram algumas coisas que, talvez, com o tempo, eu voltaria para buscar. Peguei minha mochila e nela guardei meu notebook. Coloquei-a nas minhas costas e peguei duas malas. Desci as escadas e vi que Meredith me esperava na cozinha.
- Meredith, terminei minhas malas. Vá carregando o carro enquanto vou buscar a última.
Ela sorriu, pegou minhas malas e seguiu para o carro. Subi novamente e, quando estava ao lado de minha cama, encontrei uma foto. Eu, meu pai e minha mãe juntos num parque aquático. Minha mãe sempre dizia que eu estava linda naquela foto e eu sempre discordava. Mas deixava no meu criado para fazer sua vontade. Guardei-a no bolso da minha jaqueta, peguei minha mala e fui para o quarto dos meus pais. Abri o armário e peguei uma estátua que minha mãe tinha. Ela dizia que, depois da família, aquilo era o que mais fazia ela feliz. Apoiei na mesa e fui para o armário do meu pai. Peguei sua bola de futebol, assinada pelo seu jogador preferido. Aquilo significava muito para ele. Guardei tudo na mala e ouvi Meredith me chamando. Fui ao seu encontro e ajudei-a a guardar o resto das coisas. Entrei no carro e me acomodei no desconfortável banco. Meredith veio logo depois e deu partida no carro.
- Pronta para a longa viagem?
- Não, mas fazer o quê – ela riu e triou o carro da garagem.
- Se importa se eu ouvir? – Perguntei, apontando meu iPod.
- Claro que não. Vai ser uma longa viagem e você precisa descansar.
Sorri, agradecendo mentalmente por isso. Não estava nem um pouco a fim de ficar naquele silêncio embaraçoso. Liguei a música e observei a vista que passava pelo vidro do carro (n/a: aconselho ouvirem Hear You Me - Jimmy Eat World). Eu estava deixando todos os momentos, todas as risadas, as festas, as brigas, tudo para trás. Eu estava começando uma vida nova, em um lugar novo, com novas pessoas. E eu realmente vou demorar para me adaptar a tudo isso.
A viagem seguiu por uns 3 dias. Meredith parava em algumas lanchonetes, tomava um café e descansava. Acabamos de chegar em Billings, Montana. Meu novo lar. Meredith tem uma fazenda aqui. A casa é pequena, mas o campo é enorme. Enquanto descarregava o carro junto de Meredith, observei a fazenda. Do lado direito, um imenso haras. Pelo menos uns 10 cavalos habitavam o lugar. Do outro lado, um pasto com vacas, bois e bezerros. Fiquei fascinada com tanto animal. Sempre quis ter um cachorro. E, bom, agora eu tenho até vacas.
Meredith me guiou até a casa e me levou até meu quarto. De fato, era pequeno, mas tinha uma ar rural que me agradava. Desfiz minhas malas e avisei à Meredith que ia dar uma volta na fazenda para conhecê-la melhor. Ela só pediu que eu voltasse para o jantar.
Saí de minha nova casa com as mãos nos bolsos, andando lentamente e chutando algumas folhas que atreviam a rolar com o vento. A fazenda era simplesmente... linda. Do lado do haras, havia uma árvore. Grande e linda. Ela me fez lembrar do acidente. Caminhei até ela, encostei minhas costas na mesma e fui escorregando até sentir o úmido chão em contato com minha pele. Abracei meus joelhos e deixei que as lágrimas escorressem pelas minhas bochechas rosadas. Estava anoitecendo e a temperatura começou a baixar. Encolhi-me por impulso. Fiquei mais um tempo até que, involuntariamente, comecei a tremer. Voltei a caminhar em direção à minha casa. Abri a porta e encontrei Meredith preparando o jantar.
- Meredith, acho que vou tomar um banho. Tudo bem?
- Claro. O seu banheiro já está com toalhas. Qualquer coisa, me chame.
Assenti e subi a estreita escada. Observei o andar de cima. Tão simples, mas, mesmo assim, tão charmoso. Caminhei até meu quarto e separei uma calça de moletom velha e uma blusa branca de manga comprida, afinal, já estava esfriando. Segui até o banheiro, entrei no box e liguei a água quente. Aquilo veio como um analgésico para mim. Deixei que a água levasse todo o meu desespero e angústia. Terminei o banho, vesti minha roupa e desci para jantar.
- Meredith, precisa de ajuda?
Ela se virou para mim e sorriu.
- Aqui eu já estou terminando. Você pode ir montando a mesa, enquanto isso.
- Claro – ela me entregou uma toalha e eu a estendi sobre a mesa. Vasculhei nos armários até achar os pratos, talheres, copos e guardanapo. Abri a geladeira e peguei um suco, aparentemente de abacaxi. Coloquei-o na mesa e me acomodei em uma cadeira de palha. Meredith veio com a panela e serviu os pratos. Logo depois, sentou-se à minha frente.
- Essa é minha especialidade – ela sorriu, convencida –, macarrão ao molho de vinho.
- Uau – sorri, inalando aquele delicioso cheiro –, que coisa chique.
Ela sorriu, satisfeita, e começou a comer. Fiz o mesmo. Estava divino. Não conversamos nada até terminarmos de comer.
- Muito bom, mesmo – eu disse enquanto limpava minha boca –, eu estava precisando de uma boa comida.
- Que bom que gostou – ela sorriu. – Bom, acho melhor você ir dormir. Amanhã cedinho vamos à escola. Sua matrícula já está feita.
- Tudo bem – eu disse enquanto recolhia os pratos –, deixe que eu lave a louça.
Ela me olhou, desentendida, mas acabou cedendo.
- Vou para o meu quarto. Boa noite e até amanhã.
- Até.
Terminei de tirar a mesa, lavei a louça e arrumei a cozinha. Deixei tudo num brilho. Sorri, orgulhosa de mim mesma. Já era tarde. Subi lentamente para não fazer barulho, o que não adiantou muito porque a escada rangia mais do que o motor da velha caminhonete de Meredith. Fui para o banheiro, escovei meus dentes e coloquei meu pijama. Fui me arrastando até a cama. Hoje foi um dia cansativo. Eu precisava de uma bela noite de sono. Acomodei-me na cama e logo adormeci.

Capítulo 3 : A new friend.

Acordei com o sol batendo no meu rosto. Levantei-me e fiz minha higiene matinal. Vesti uma calça jeans, uma blusinha branca e, por cima, um sobretudo preto. Prendi meu cabelo num rabo-de-cavalo e coloquei minha franja de lado. Desci até a cozinha e encontrei Meredith preparando o café.
- Que bom que acordou. Gosta de panquecas?
- Muito – disse enquanto puxava uma cadeira.
- Espero que goste da escola que escolhi. Falam muito bem dela e eu achei todos muito simpáticos.
- Obrigada, Meredith, por tudo que está fazendo por mim – eu sorri, envergonhada.
- Não tem que agradecer, querida. Você sabe que pode contar comigo para tudo. – Ela me olhou. Um olhar diferente... um olhar materno.
- Eu sei – eu respondi e ela me abraçou, desajeitada do jeito dela. Eu sorri. Eu realmente precisava de um abraço confortante. Ela se soltou do abraço e seguiu para o forno. Pegou a frigideira e passou a última panqueca para o prato. Jogou uma cobertura de chocolate por cima e colocou na mesa.
- Eu amo essa panqueca – ela disse enquanto pegava um garfo para servir. – Sirva-se.
Eu peguei duas panquecas e comecei a comer. Realmente, estava uma delícia. Lambuzei-me inteira, mas terminei sem sujar minha blusa. Palmas para mim.
- Nossa, onde você aprendeu a cozinhar tão bem?
Ela adora receber elogios pela comida. Isso dá para perceber rápido. Ela sorriu e respondeu enquanto tomava um gole de leite.
- Minha mãe me ensinou. Ela dava aula – assenti e ela olhou o relógio. – Nossa! Esqueci do tempo! Vamos, estamos atrasadas.
Corri pelas escadas e entrei no meu quarto. Apanhei minha mochila que Meredith já tinha colocado o material e escovei meus dentes. Desci e encontrei Meredith no carro, dando partida. Entrei apressada e ela seguiu para o colégio.
- Você está na sala 7. Sua aula termina às 12h. Venho te pegar para o almoço. Qualquer dúvida, pergunte na secretaria. Se acontecer alguma coisa, ligue-me. – Ela me entregou um pequeno pedaço de papel com seu número de celular. Guardei em minha mochila e ela estacionou.
- Te vejo mais tarde, .
- Tchau, Meredith – dei um beijo em sua bochecha e saí do carro, apressada.

(...)
Já estava caminhando pelo imenso corredor quanto ouvi gritos e risadas vindos, aparentemente, da minha sala. Abri a porta lentamente e me deparei com uma baderna. Os lugares eram marcados e a mesa era para uma dupla. Olhei no papel que a secretária me entregou que continha o número de minha carteira. Carteira 5. Corri o olho por todas as mesas e encontrei a minha. E, por coincidência, o núcleo de todo aquele mucuvuco. Pedi licença aos alunos e me acomodei na cadeira. Arrumei meu material e, quando levantei meu olhar, vi o que estava causando tudo aquilo. Um menino de cadeira de rodas, minha dupla de mesa, sendo ofendido por seus “colegas”. Idiotas. E aquilo continuou até que minha paciência esgotou.
- Afinal, qual é o problema? – Disse em um tom bem alto, devo dizer.
Todos pararam imediatamente e eu virei o centro da atenção. Aqueles olhares me metralhavam.
- O que disse, novata? – Uma garota de cabelos lisos e sedosos me perguntou, com uma cara de superioridade.
- Virou surda agora? Eu disse: QUAL É O PROBLEMA? – Eu repeti alto, clara e pausadamente. Sorri, cínica. Ela me olhou com ódio, mas não pôde responder. O professor entrou e todos correram para seus lugares. O garoto ao meu lado levantou seu olhar até mim e me olhou assustado. O professor me chamou lá na frente. Eu me levantei e segui até ele.
- Essa é uma aluna nova. Quero que deem as boas-vindas à ... – ele olhou num papel e continuou – . E então, quer nos contar alguma coisa sobre você?
A classe inteira estava em silêncio. A garota do episódio anterior me fuzilava com seus olhos verdes.
- Bom, eu morava em NY com meus pais e acabei de me mudar para cá. Agora estou morando com minha tia. – Estava torcendo para ninguém me perguntar porque eu me mudei para cá. Esforço jogado fora.
- Professor – a garota dos olhos verdes levantou a mão.
- Sim, Sally? – Ele respondeu.
- Por que você se mudou para uma cidade pequena dessas se você podia ficar na maravilhosa NY, hein, ?
Ela realmente não foi com a minha cara. Eu a olhei desafiadora.
- Motivos pessoais – virei-me para o professor e ele pediu que eu me sentasse. Sorri para ele e voltei para minha carteira. Ele continuou a aula. Eu anotava tudo o que ele escrevia na lousa. Percebi que o garoto ao lado não tirava os olhos de mim. Terminei de copiar, virei para ele e ele rapidamente desviou o olhar.
- Bom, meu nome você já sabe. Qual é o seu nome? – Perguntei simpática.
Ele me olhou tímido. Acho que ele realmente não gosta de socializar.
- Tudo bem. Não precisa conversar se não quiser – levantei meus braços me rendendo.
A aula continuou normalmente. O intervalo veio e todos saíram como animais da sala de aula. Levantei-me devagar e percebi que o garoto sem nome (n/a: HSIUAHSIAU, eu ri agora) estava com dificuldades de sair da mesa. Puxei sua cadeira de rodas e ele deslizou pela mesa. Virei sua cadeira e o soltei. Ele me olhou e sussurrou um “obrigado”.
Segui para o refeitório e observei o mesmo. Várias mesas ocupavam o local. Claro, como em todas as escolas, cada uma era ocupada por um grupo. Populares, nerds, excluídos. Suspirei. Não era o que eu espera de minha nova escola. Corri meus olhos pelo imenso salão e encontrei o menino sem nome sozinho em uma mesa. Segui até ele e percebi que ele cutucava a comida, como se estivesse preso em pensamentos.
- Pensando em quê? – Eu perguntei enquanto me sentava.
Ele levantou sua cabeça rapidamente. Deve ter se assustado.
- Posso me sentar aqui?
Ele só assentiu e continuou remexendo sua comida. Ficamos em silêncio até que ele quebrou o mesmo.
- Por que está sendo legal comigo? – Ele me perguntou, indiferente.
- Por que eu não deveria ser? – Eu respondi no mesmo tom.
Ele sorriu. E que sorriso lindo que ele tem.
- Uau. Você tem um sorriso lindo – comentei.
Ele corou e baixou a cabeça.
- Olha, eu realmente não sei qual é a dessas pessoas daqui. Nenhuma delas é melhor do que você. E nem vai ser. Estou tentando ser legal com você. Não é por dó ou algo do tipo. Não tenho dó de você. Minha vida não é mil maravilhas e não estou me queixando disso. – Eu ia continuar com meu discurso, mas ele me interrompeu.
- O que aconteceu na sua vida? O garoto que você gosta não gosta de você? Ou, deixa eu pensar... não tem a vida de seus sonhos? – Ele perguntou, raivoso.
- Você quer mesmo saber o que aconteceu? Eu perdi meus pais. Em um acidente de carro. Tive que deixar para trás toda a minha vida para vir morar aqui, com minha tia. – Respondi, grossa. Ele me olhou arrependido. Meus olhos já estavam marejados.
- Mas, quer saber, não preciso ficar com quem não gosta da minha presença e nem ao mesmo diz seu nome – disse enquanto levantava. Ele me olhou, suplicante.
- Desculpe.
Havia sinceridade em sua voz.
- . Meu nome é .
Eu o olhei divertida.
- Lindo nome. Posso te chamar de ?
Ele assentiu e eu sentei novamente na cadeira. Conversamos sobre mais algumas coisas até que Sally veio em nossa direção com seus seguidores e nos interrompeu.

Capítulo 4: Shut Up.
- Eu ouvi direito? A órfã virou amiguinha do aleijado? - Sally disse, debochada.
Eu a encarei, sem expressões. Levantei-me calmamente e me aproximei dela.
- É, Barbie, a órfã é amiguinha do aleijado. Corra pela escola e conte a novidade. Todos vão adorar saber que a novata e o deficiente físico não são idiotas como você. Agora, faça-me um favor, saia daqui e leve a sua cambada com você antes que eu me irrite.
- A órfã vai fazer o quê? Me bater?
- Não gosto de violência e muito menos de perder meu tempo batendo em pessoas inúteis como você, mas sempre abro minhas exceções – cerrei meus punhos e me aproximei dela. Sua cara transbordava medo. Ela se virou no mesmo momento e saiu correndo com sua cambada. Voltei a sentar com e ele me encarava assustado.
- O quê? Não acha que ela merecia ouvir umas? – Ele gargalhou e eu o acompanhei. Segundos depois, todo o refeitório nos encarava. Não ligava. O sinal bateu, eu me levantei e ajudei com sua cadeira de rodas. Para ser sincera, esse foi o melhor intervalo da minha vida. Entramos na sala e fomos para nossos lugares. A aula começou. Biologia. Érgh. Odeio. Arranquei um pedaço da folha em que eu anotava as observações do professor e escrevi:
Se não quiser falar disso, eu entendo. Mas eu realmente queria saber o que aconteceu para você ficar assim. Conte-me sua história.

Passei o papel para , que abriu no mesmo instante. Ele revirou seu estojo à procura de um lápis. Quando o achou, começou a responder. Eu o observava. Ele era um garoto muito bonito... seu sorriso, seu jeito. Só pensar que, se ele não fosse deficiente físico, todas as garotas caíram ao seus pés me fez ficar enojada. É como uma frase de Antoine de Saint-Exupéry que diz que o essencial é invisível aos olhos. Só se vê bem com o coração. Ele passou o papel para mim. Comecei a ler:
Não vejo problema nenhum em te contar minha história. Mas, se não se importa, prefiro que não seja por um pedaço de papel no meio da aula de Biologia.

Eu sorri e respondi.
Tudo bem. Conhece a fazenda ?

Passei a ele.
Conheço. É de algum parente seu?

Sim. Da minha tia .Pode passar lá? Perto das 14h? Eu podia te mostrar a fazenda e você, contar-me sua história :)

Claro. Vai ser divertido.

Eu sorri e ele retribuiu. O sinal bateu e todos correram, como no intervalo. Bufei e arrumei meu material. Ajudei com o dele e seguimos para o portão. Meredith já me aguardava.
- , minha tia chegou. Quer uma carona?
- Ah, obrigado, , mas meu avô vem me pegar.
- Tudo bem, então. Te vejo mais tarde – sorri e saí pelo portão.
- OK – ele respondeu quando entrei no carro. Nunca ninguém pronunciou meu apelido com tanto... carinho. realmente era um cara incrível. Estou curiosa para saber de sua história. Fechei a porta e Meredith acelerou.
- E então, como foi o primeiro dia de aula?
Eu sorri e deitei minha cabeça no banco.
- Foi ótima. Meredith, eu chamei um menino, , para vir conhecer a fazenda, tudo bem?
- ? O menino da cadeira de rodas?
- Sim, você o conhece?
- Ah, querida, conheço sim. A avó dele é minha amiga. Ele é um doce de garoto, não me importo de ter chamado ele, até que é uma boa ideia – ela sorriu meigamente.
- Obrigada, tia.
Ela abriu um imenso sorriso. Um sorriso igual ao de uma mãe quando seu filho pronuncia a primeira palavra. Acho que ela se sentiu... bem sendo chamada de tia. Tia Meredith estacionou sua velha caminhonete na fazenda e nós descemos. Ela destrancou a porta e eu entrei em disparada. Ela riu e avisou que ia preparar o almoço. Tomei um banho. Vesti um shorts jeans, uma camisa branca cheia de desenhos e uma blusa cinza bem leve. Desci até a cozinha e comi a deliciosa lasanha de Meredith. Elogiei-a, como sempre.
- Bom, tia, agora eu vou lá fora esperar – avisei-a enquanto me levantava.
- Tudo bem. Mas não volte para casa muito tarde. Convide para o jantar. Vou fazer macaxeira (n/a: essa sua tia é meio abrasileirada. SIAHSAUISHAIU) e eu sei que ele ama.
Eu ri e prometi fazer tudo o que ela disse. Saí de casa e fui até a linda árvore. De lá, eu tinha uma boa visão do portão. Fiquei um tempo, até que ouvi um carro entrando na propriedade. Levantei-me e corri ao encontro do mesmo. Era uma van. Um homem dirigia, seus cabelos encaracolados e bagunçados eram idênticos aos de . Tudo bem que aquele homem, aparentemente seu avô, tinha o cabelo grisalho, mas, mesmo assim, se parecia. Ele desceu e se apresentou.
- Boa tarde. Você deve ser – assenti e ele continuou. – Sou João, avô de . – Ele estendeu a mão e eu apertei-a.
- Muito prazer, Sr. João. – Ele soltou minha mão e sorriu simpático.
- Igualmente, , igualmente.
Ele seguiu para trás do carro e abriu. desceu por uma rampa. Logo que me viu, um sorriso se formou em seu rosto. Sorri imediatamente. O avô de se aproximou dele e sussurrou.
- Ela é realmente muito bonita, . Muito bom gosto o seu.
Mesmo sendo um sussurro, eu consegui ouvi-lo e percebeu. No mesmo instante, ele corou e eu sorri.
- Vamos nos divertir muito, Sr. João. Será que você pode deixá-lo aqui para o jantar?
- Claro, . Venho buscá-lo às 20h, combinado?
- Combinado – sorri e ele entrou no carro.
Tirei de trás do carro e seu avô tirou o mesmo dali. Acenou para mim e eu retribui.
- Meu avô gosta de você - ele comentou enquanto eu o guiava até a árvore. Sorri, envergonhada.
- Ele parece ser legal – foi só o que consegui pronunciar. Levei-o até a árvore.
- Então, quer começar por onde? – Perguntei enquanto ele fitou suas mãos, que estavam entrelaçadas uma na outra.
- Na verdade, eu já conheço a fazenda – ele sorriu culpado –, mas adoraria ver de novo o lago. Faz muito tempo que não venho aqui.
- Claro – sorri e o guiei. Conversamos pelo caminho até chegarmos no lago. Acomodei-me em um velho banco de madeira e acomodou sua cadeira de rodas bem do lado do banco. O lago realmente era lindo. apanhou algumas pedrinhas e me entregou-as. Ele jogou uma no lago, ela deu 3 pulos e mergulhou na água esverdeada. Um lindo arremesso. Fiz o mesmo, mas ela afundou no momento em que entrou em contato com a água. riu e eu cortei aquele silêncio.
- Mas então, não vai me contar sua história?
me encarou, pensativo. Ele pousou suas mãos nas rodas de sua cadeira e as girou, aproximando-se do rio, e parou. Levantei-me e sentei no chão, ao lado dele. Foi então que ele começou.
- Tudo começou ano passado...

Capítulo 5 : You’re not alone, I’m here with you.

“ Era véspera de natal. Pessoas felizes arrumando suas casas para a chegada de familiares; as crianças animadas em ganhar presentes do velho Noel. Minha mãe, desligada como sempre, esqueceu de comprar refrigerante para a ceia. Meu pai disse que iria sozinho na padaria, mas minha mãe queria escolher o refrigerante. Resolvi acompanhá-los, já que precisava de pilhas novas para minha câmera. Estava chovendo muito forte, devo dizer. Meus pais quase desistiram de ir, mas chegaram à conclusão de que a ceia tinha que estar completa. Saímos de casa em direção à padaria. O tempo estava horrível e a visão, pior ainda. Foi então que meu pai perdeu o controle do carro e bateu em um caminhão. Os dois morreram na hora. Eu sobrevivi, já que estava no banco de trás. Mas, bem, sobrevivi desse jeito. " – ele disse, apontando para seu estado. – Acordei no hospital. O médico me disse que eu estava paraplégico. Venho fazendo tratamentos desde então. Ele disse que tenho chances de voltar a andar, mas que talvez isso demore um pouco.
- E cá está minha história – ele disse, baixando a cabeça. Percebi que uma lágrima teimosa correu sobre seu rosto.
- Você não precisa ter vergonha de si mesmo. Você sabe disso. Poderia ter acontecido com qualquer um, poxa! Até mesmo com a Barbie da Sally – quando ele ouviu esse nome, sua expressão piorou mais ainda.
- Ah, meu Deus! – Eu disse assustada – você gosta da Sally!
Ele me olhou, meio cabisbaixo. Agora entendi o porquê dele não retrucar tudo o que a Sally fazia de mal para ele. Ele realmente gosta dela.
- Nunca contei isso para ninguém. Muito menos para ela. Eu me sinto um inútil e aleijado, que não pode fazer uma garota feliz. – Ele disse com raiva de si mesmo.
- Hey, . Você não pode fazer a Sally feliz porque ela não pode ser feliz. Você já viu o jeito que ela te trata? Não quero que você se sinta mal pelo que eu estou te dizendo. Mas poxa! Ela não te merece! Você é mil vezes melhor do que aquele loiro aguado que ela namora. Você não pode fazer ela feliz, mas pode fazer outras garotas felizes. Garotas que se importem com você, que gostem de você e que não liguem para isso – eu disse, apontando para sua cadeira de rodas. Ele já estava chorando, simplesmente chorando na minha frente. Levantei-me e o abracei, meio desajeitada. Ele não reagiu. Pelo contrário, apenas deitou sua cabeça em meu peito e desabou a chorar. – Um dia você vai encontrar a garota certa para você. Você vai ver – eu sussurrei em seu ouvido e isso pareceu acalmá-lo. Ficamos mais um tempo ali, apreciando a vista. Dei uma volta de cavalo enquanto colhia laranjas. Peguei um cavalo preto, lindo. Dei-lhe o nome de Paco. Não sei de onde tirei o nome. E assim as horas se passaram. Quando deram 17h, chamei , que estava brincando alegremente com uns pássaros. Seus cabelos encaracolados esvoaçavam com o vento e brilhavam à luz do pôr do sol. Seu sorriso parecia mais sincero e alegre do que nunca. Ele realmente me fazia sentir melhor. Ele veio em minha direção com um sorriso brincalhão nos lábios.
- Tia Meredith deve estar precisando de nossa ajuda – eu o alertei.
Comecei a andar em direção de casa e ele me seguiu. Entramos e Meredith recepcionou como um filho. Os dois saíram em direção à cozinha conversando. Fui logo atrás.
- E então, , como está sua avó? Estou com muitas saudades dela e do João! - Eles conversavam animadamente.
- Os dois estão muito bem. Vovó mandou lembranças.
- Mande um beijo para os dois.
Ele sorriu e começamos a ajudar tia Meredith. colocava a mesa enquanto eu pegava os pratos e talheres. Arrumamos tudo e nos acomodamos. Meredith ainda não havia terminado o jantar. Ficamos conversando sobre diversas coisas. E foi então que o mundo começou a acabar. O vento foi tão forte que derrubou o quadro da parede. Corri para fechar todas as janelas enquanto Meredith saiu de casa, para guardar os cavalos, vacas e bois. ficou parado, observando-me. Depois do vento, veio a chuva. Os pingos começaram a cair levemente sobre a fazenda e foram intensificando-se até virar um temporal. Meredith voltou encharcada e foi tomar um banho. Terminei o jantar por ela e servi a mim e a . Começamos a comer e Meredith se juntou a nós.
- Que chuva, não? – Ela disse enquanto se sentava na cadeira.
- Pois é. – Respondi e foi quando a luz acabou. Dei uma gritinho pelo susto e tia Meredith foi buscar umas velas com a ajuda da lanterna. Ajudei-a a acendê-las e colocamos quatro na mesa. O telefone tocou e minha tia foi atendê-lo. estava calado. Até demais.
- Ah, claro. Não, sem problemas. Então deixe que amanhã levo ele junto de . Claro, claro. Tudo bem, eu aviso. Ok, mande um beijo para Alda. – Meredith desligou o telefone e veio em nossa direção.
- , era seu avô. Ele disse que, como a luz acabou e a garagem é eletrônica, ele não consegue tirar o carro. Acho que você vai ter que dormir aqui – ela disse e sorriu. pareceu não gostar da ideia. Ele me encarou e voltou os olhos à Meredith.
- Meredith, eu preciso de alguns cuidados. Não consigo me deitar sozinho, muito menos tomar banho sozinho. Não é uma boa ideia. - Meredith encarou-o.
- , eu te conheço desde pequeno. Não há nada aí que eu não tenha visto – ela apontou o corpo de e ele corou. – Mas, se estiver com vergonha de mim, eu te ajudo a sair da cadeira e a se sentar na banheira. Você se lava sozinho e eu deixo a toalha ao seu alcance. Você enrola ela em sua cintura e depois eu e colocamos você de volta na cadeira. Tudo bem assim?
Ele a olhou aliviado e assentiu. Tia Meredith seguiu para o banheiro de baixo. Afinal, como subiria as escadas? Ajudei ela a tirá-lo da cadeira e colocá-lo na banheira. Ele tirou sua camisa sozinho e colocou em cima de sua cadeira de rodas, que estava do lado da banheira. Talvez vocês não acreditem em mim, mas ele tinha uma barriga, devo dizer, bem definida mesmo. Não sei como, mas também não perguntei.
- Ah, você ainda está aí? Desculpe não te vi – ele disse enquanto pegava sua blusa de volta. Engraçado, mas ele não estava envergonhado.
- Desculpe eu. Bom, eu, er, acho que, aaah, preciso ir – eu disse e me virei para sair dali. Acho que me enrolei um pouco com as palavras.
- Hey, espere, . Deixa eu te fazer uma pergunta. – Eu me virei e ele já havia colocado a blusa de volta. – Você acha que se eu não fosse assim – ele olhou para si mesmo e voltou seu olhar para mim – a Sally talvez tivesse olhos para mim?
- , ponha uma coisa na sua cabeça. Você é uma garoto lindo. Se você não andasse de cadeira de rodas, metade da escola cairia aos seus pés. Sem dizer que, hã ... – eu gaguejei, apontando para sua barriga. Ele entendeu e riu pelo nariz – só que você precisa entender também que todas as garotas que cairiam aos seus pés seriam as mesmas que te chamaram de aleijado - eu sorri, e ele retribuiu.
- Você já gostou de alguém que nunca teve olhos para você? – Ele me perguntou cabisbaixo.
- Já, , já. E era o mais popular do colégio, e eu... bom, eu era só mais uma que se arrastava aos seus pés. Mas uma hora você se toca que se aquela pessoa não tem olhos para você, você também não tem olhos para quem merece. Eu sei que não é fácil para você, mas você pode torná-lo. – Ele me olhou confortado.
- É, mas eu acho que eu já estou tendo olhos para outra pessoa. – Ele se envergonhou e raspou a garganta.
- Hum, ela é bonita?
- Muito - ele respondeu animado.
- E ela te dá olhos? – Perguntei novamente.
- Mais do que as outras. – Ele sorriu sapeca e eu corei.
- Er, bom, hum. Acho que eu vou tomar um banho também. Tchau. – Eu disse e saí dali rapidamente. Subi as escadas e me tranquei no banheiro. Aquilo foi uma indireta? Ah, , pare com isso. Você o conhece há um dia. Não se iluda. Deixei a água correr pelo meu corpo, anestesiando-me.

(...)

Já estava vestida quando desci em direção à sala de TV. Tia Meredith estava com uma cara de exausta arrumando o sofá para .
- Hey, tia, deixe que eu termine isso – ela me olhou totalmente agradecida e me entregou os lençóis.
- Vamos lá, ajude-me com – quando ela pronunciou aquele nome, eu abri um imenso sorriso.
- Claro – eu respondi e seguimos para o banheiro. Entramos e estava com uma toalha envolvendo sua cintura. Tentei não reparar em nada nele, e apenas ajudei Meredith a colocá-lo de volta na cadeira. Ele agradeceu e Meredith avisou que precisava dormir. Entreguei umas roupas a e fechei a porta do banheiro. Passaram uns 10 minutos. Estava ficando preocupada.
- ? Você está bem?- Eu disse enquanto batia na porta.
- Er, estou. Mas acho que preciso de uma mãozinha aqui. - Ele disse, e eu abri a porta lentamente. Surpreendi-me com o que vi. Ele estava de pé, vestido.
- , você está de pé! – Eu exclamei fascinada.
- Será que você pode me ajudar? Quero tentar andar um pouco – ele sorriu, brincalhão.
Aproximei-me dele e envolvi um braço em sua cintura e com o outro peguei sua mão. O calor de seu corpo fez com que eu me arrepiasse. Ele começou a movimentar sua perna enquanto fazia uma careta, provavelmente de dor.
- Está doendo? – Perguntei preocupada.
- Um pouco – ele respondeu enquanto firmava a perna no chão.
- Ah, ! Você está conseguindo!! Espere só até Meredith descobrir! – Eu disse animada.
- Não, , não conte nada a ela. Não quero dar falsas esperanças a ela e aos meus avós. Isso pode ficar só entre nós?
- Claro, como quiser. – Ele não conseguiu dar mais do que um passo e então eu o coloquei de volta na cadeira de rodas. – Uau, ! Você conseguiu! - Eu estava realmente feliz por ele.
- Você acha que agora a Sally vai me notar? – Ele me perguntou, esperançoso. Que merda! Sally, Sally e mais Sally!
- É claro, ela só pensa em beleza mesmo – eu respondi seca e o acomodei no sofá. – Bom, , eu vou dormir, melhor você fazer o mesmo – peguei suas pernas e coloquei no sofá, fazendo ele se deitar.
- O que foi? Por que você não gosta que eu fale da Sally? – Porque ela te insulta e você continua amando ela? Era isso o que eu queria dizer para ele. Mas não sou tão louca assim.
- Nada, , nada – respondi seca e subi as escadas, deixando-o com uma cara desentendida. Entrei no meu quarto, escovei meus dentes e deitei em minha cama. Deixei que o sono se apoderasse de mim.

Capítulo 6 : You can make me happy, and you know.


Acordei com o despertador miando pela vigésima vez. Levantei-me devagar e vesti uma roupa qualquer. Desci as escadas e encontrei acordado e deitado no sofá, encarando o teto. Fiquei observando-o, até que resolvi ajudá-lo.
- Está precisando de uma ajudinha aí? – Eu disse e sorri.
- Seria bom – ele respondeu carismático.
Aproximei-me dele e envolvi meus dois braços em sua cintura. Com os seus próprios braços, me ajudou. Fiz o máximo de força e consegui acomodá-lo em sua cadeira.
- Poxa, você não é leve – eu disse ofegante enquanto respirava todo o ar possível.
- Está me chamando de gordo? – Ele disse sério.
- Gordo é pouco – saí e segui para a cozinha.
Observei pelo canto do olho ele sorrindo. Sem querer me precipitar nem nada, mas ele realmente tinha um sorriso de deixar qualquer uma de queixo caído.
Comecei a preparar o café da manhã. Fiz uma omelete para mim e outra para . Percebi que Meredith já havia acordado e também preparei a dela. Coloquei tudo na mesa e sentei-me.
- Venha, preparei para você também – avisei e ele deslizou suavemente suas mãos sobre as rodas de sua cadeira.
- Huuuum, o cheiro está muito bom – ele disse enquanto inalava forte o ar da cozinha.
- Come logo – eu ri e mordisquei um pedaço da omelete.
Comemos e ele me elogiou. Chamei Meredith, ela tomou café e fomos para a escola. Ou para o inferno, como costumo chamar. Estacionou sua caminhonete umas 5 casas antes da escola. estava com vergonha de ser colocado na cadeira de rodas na frente de Sally. Eu e Meredith descemos do carro, pegamos no colo e o ajeitamos na cadeira. Despedimo-nos de Meredith e eu segui até a escola com ao meu lado. Quando chegamos na porta da escola, vários olhares desentendidos fixavam-nos. Que droga isso.
- Vou para o banheiro – eu avisei , que assentiu e seguiu para a sala.
Quando estava na porta do banheiro feminino, senti alguém puxando meu braço. Virei-me e me deparei com o loiro aguado, namorado da Sally. Ele me prensou contra a parede e aproximou seus lábios de meu ouvido.
- Olha aqui, gatinha – ele disse firme –, se eu souber que você anda humilhando a Sally novamente, acho que seu amiguinho aleijado vai sofrer algumas consequências.
Eu cerrei os punhos e encarei-o.
- Olha aqui, seu covarde – eu disse, com raiva –, foi a Barbie que veio me provocar. É só falar para ela ficar longe, que nada acontece – ele me olhou, nervoso. – E mais uma coisa, por que não me ameaça? Você não é homem o suficiente de meter medo nos outros e parte para os mais fracos? Então fique sabendo que, se você encostar um dedo no , eu não respondo pelos meus atos. Vai saber, né, talvez a Sally precise de alguns roxinhos naquela cara maquiada – ele me olhou apavorado. – Então, pense duas vezes antes de fazer qualquer coisa com o “aleijado” – fiz aspas com os dedos. – E lembre-se de ser homem e procurar alguém do seu tamanho. – Eu me soltei dele e desisti de usar o banheiro. Segui para a aula e encontrei adivinha quem? A Barbiezinha com .
- Ô, aleijado, eu estou precisando desse trabalho para terça-feira. – Ela disse, entregando um papel com anotações. - Entregue-me na segunda.
Passei por ela e me sentei ao lado de . Sally me encarou e saiu de perto.
- Vai mesmo deixar ela te manipular, só por um amor bobo? – Eu disse enquanto abria meu caderno.
- Você não entende – ele disse, e ia começar a explicar.
- – eu o interrompi –, você não me deve explicações. Se você se sente bem sendo marionete da Barbie, vá em frente, faça o seu trabalho. Não vou ficar te defendendo. Você tem a sua vida, faça o que quiser dela. Só lembre que eu estou tentando te ajudar – eu disse e o professor entrou na sala.
me encarou, tristonho, mas não falou nada. A aula seguiu com o silêncio entre nós. O sinal do recreio tocou e eu segui para o refeitório, deixando para trás. Peguei uma bandeja com uma torta de limão e sentei-me em uma mesa vazia. Comecei a comer a torta quando senti alguém sentando ao meu lado. Era uma garota, morena. Ela me encarou e sorriu simpática.
- Posso? – Ela apontou para a cadeira do meu lado. Eu assenti e ela relaxou.
- Meu nome é – ela disse baixo –, percebi que você estava sozinha e, bom, como eu também estava, gostaria muito de ter a sua companhia. – Ela sorriu envergonhada.
- Eu sou – disse, ainda encarando o prato –, mas pode me chamar de – sorri, tentando ser simpática.
- Se é assim, pode me chamar de – ela retribuiu o sorriso.
Começamos a conversar. Ela realmente era muito legal. E foi quando eu tive a visão do inferno. Sally se pegando com o seu namorado e logo depois seguindo para a nossa mesa.
- Não ouse ameaçar eu e meu namorado outra vez – ela disse com sua voz nojenta.
- , agora que eu lembrei! Tenho assuntos mais importantes do que ficar ouvindo a voz estridente de uma galinha! – Eu gritei, como se realmente estivesse me lembrando de algo. Puxei pelo braço e saí do refeitório, deixando os dois com cara de tacho.
- Meu Deus! Eu te amo, mesmo, ! – Ela disse entre gargalhadas. - Nunca tive coragem de falar umas poucas e boas para essa galinha! – Agora ela respirava fundo, tentando se recompor das risadas.
- Desde que cheguei aqui ela não larga do meu pé. – Disse, orgulhosa de mim mesma. E então apareceu, cabisbaixo.
- E aí, mano brother, qualé a parada – eu o encarei divertida, seguida pela risada de .
- Nada – ele respondeu seco e saiu do pátio, deixando-me com cara de tacho.
- Vai entender – deu um risinho e me puxou para a sala de aula. Meio segundo depois, o sinal bateu. – Olha, eu tenho uma amiga vidente – eu disse enquanto me acomodava em minha carteira. Por incrível que pareça, era minha “vizinha” de carteiras.
- Haha, pois é – ela também se sentou e no mesmo momento a cambada entrou na classe. Meus olhos rolaram à procura de . Sem sinal. Bufei e voltei minha atenção ao professor que acabara de entrar. A aula foi divertida, afinal o professor não era de se jogar fora. Ri dos meus pensamentos e continuei com meus olhos presos naquela beldade escolar. Fui tirada de meus devaneios quando o sinal, que indicava a troca de aulas, tocou. Levantei-me apressada e me aproximei do professor.
- Sr. Macfield – disse, educada.
- Sim, senhorita ? – Ele respondeu, simpático.
- Você saberia me dizer por que não voltou do intervalo?
- Ah, sim. Quase ia me esquecendo. Ele pediu que eu te entregasse este papel – ele falou e estendeu sua mão. Apenhei o papel e agradeci. Ele saiu da sala e eu fui para minha carteira. Abri o papel e me deparei com a caligrafia miúda de .

“Não estava me sentindo muito bem. Preciso conversar com você. Tia Meredith tem meu endereço. Te vejo mais tarde.


Sorri com o que li. Tão... fofo. O resto das aulas foi um saco. Não via a hora de chegar em casa. O sinal bateu e eu dei uma de animal e saí correndo. Mas logo voltei atrás, já que lembrei da . Voltei para a sala e ajudei-a com seu material. Seguimos para o portão e encontrei tia Meredith me esperando.
- , vou para minha casinha! Quer uma caroninha? – Eu perguntei, saltitante.
- Ah, valeu, , mas minha mãe já vai chegar. Toma - ela disse, entregando-me um papel rasgado, aparentemente, de um caderno. – Ligue-me quando puder.
Abri o papel e era seu telefone. Abracei ela e corri para o carro.
- Oi, , como foi a aula? – Meredith perguntou enquanto colocava sua velha caminhonete para andar.
- Foi boa – eu respondi alegre. – Tia, sabe onde é a casa de ?
- Sei sim, querida – ela respondeu com um sorriso no rosto. – Quer que eu te leve lá depois do almoço?
- Ah, não se preocupe, tia – eu disse simpática –, eu vou a pé.
- Tudo bem então – ela respondeu.
O caminho até em casa foi bem animado. Conversamos sobre muitas coisas. Meredith estacionou sua caminhonete e eu desci correndo. Entrei em casa e fui tomar um banho rápido. Meredith veio logo atrás de mim e parou na cozinha. Acho que ela ia terminar o almoço. Tomei uma bela ducha e vesti uma calça de moletom com uma blusa branca. Desci para a cozinha e sentei-me na mesa, que já estava posta. Meredith serviu o almoço e eu comi como uma condenada. Estava morrendo de fome. Quando terminei, escovei meus dentes (n/a: SORRISOOOO, AAAAAAAH !) e peguei minha mochila. Voltei para a cozinha e tia Meredith me entregou um pedaço de papel com o endereço de . Beijei seu rosto e avisei que voltava antes de anoitecer.
Caminhei pela fazenda observando o céu. Estava limpo e azul. Os pássaros voavam em direção ao sul. As folhas caíam lentamente pelo caminho. O dia estava fresco, o que me animava. Coloquei os fones do meu Ipod e continuei a caminhada. A redondeza era calma, praticamente deserta. O vento batia em meu rosto fazendo com que meus fios de cabelo se emaranhassem uns nos outros. Quando cheguei perto de uma chácara, um pouco menor do que a fazenda de Tia Meredith, peguei o papel em meu bolso e verifiquei o endereço. Eu havia chegado. Aproximei-me do portão e toquei a campainha.
- Pois não? – A voz de uma senhora perguntou.
- Oi. Meu nome é . Sou amiga do – respondi, educadamente. A senhora murmurou alguma coisa para outra pessoa e desligou o interfone. Alguns minutos se passaram, até que ouvi o portão abrir lentamente, possibilitando que os meus olhos corressem por dentro da chácara até encontrar com os de . Atrás dele havia uma senhora, imagino eu, sua avó.
Ela sorriu meigamente e eu retribui, aproximando-me dela. Beijei seu rosto. Apesar de já ter uma vida nos ombros, a avó de era realmente uma mulher linda. Seus olhos cor de mel se destacavam em seu rosto e seus cabelos claros lhe caíam o ombro com perfeição. A beleza era realmente o forte da família . Depois de beijá-la o rosto, ela me puxou para um abraço caloroso. Abracei-a também.
- Muito prazer em te conhecer, . Você é uma garota muito bonita. – Ela sorriu, um tanto cansada. – Meu nome é Alda.
- Obrigada, senhora – eu disse, envergonhada. – É um prazer imenso conhecê-la!
- Por favor, só Alda – ela respondeu. – Sei que sou velha, mas não gosto que me lembrem disso – ela disse com o mesmo carisma de .
- Tudo bem, Alda – respondi sorrindo. – Olá – disse, virando-me para ele e abaixando para beijar seu rosto, que estava quente.
- Oi, – ele respondeu, encabulado. – Que bom que veio – ele sorriu, agora tímido.
- Bom, crianças, eu vou entrar. Qualquer coisa, é só me chamarem. Estarei no meu quarto - ela sorriu.
- Foi um prazer, Alda – respondi e acrescentei. – Dê no Sr.João um abraço por mim.
- Igualmente, . Claro, querida, ele vai adorar saber que você veio – ela beijou meu rosto e a testa de . Virou-se lentamente e caminhou em direção à casa. me encarou fascinado por um tempo e depois quebrou aquele maldito silêncio.
- Uau, você realmente sabe como impressionar meus avós. – Eu senti minhas bochechas corarem.
- Eles são muito simpáticos. – Respondi enquanto tomava posse das alças da cadeira de . - Vamos para onde? –Perguntei, fugindo do assunto.
- Para lá – ele apontou para uma árvore grande com um banco de madeira ao lado. Guiei-o até lá e me sentei no banco.
- Então, queria falar comigo? – Fui direta.
- Desculpe ter ido embora sem te avisar. – Ele respondeu, culpado. – Queria me desculpar com você. Fui um grosso de manhã. – Ele não tirou os olhos de sua mão nem por um momento.
- Tudo bem – eu respondi, encarando o céu. – Foi a Barbie?
Ele levantou seu olhar e me encarou. Seus olhos expressavam dor. Dor por amor. Eu suspirei. Ele realmente estava apaixonado pela Sally e eu não podia culpá-lo por isso.
- Não precisa responder – ele baixou sua cabeça –, não vou mais te culpar por gostar dela. E, bom, desculpe por dizer que você era a marionete dela. Eu só não quero te ver sofrendo por ela desse jeito!
- Eu sei – ele sussurrou. – Estamos bem?
- Claro – sorri sincera.
Ele sorriu, aliviado, e pousou sua cabeça no encosto na cadeira de rodas. Fiz o mesmo no banco e ficamos encarando o céu.

Capítulo 7: Close your eyes, and believe me.

(...)
Estávamos presos em pensamentos quando a Sra. Alda nos chamou.
- Queridos! Entrem em casa! – Foi aí quando nos tocamos que estava chovendo. Levantei-me rapidamente e empurrei a cadeira de . Saí correndo em direção da casa, levando-o comigo.
- Desculpe, Alda. Nem percebi a chuva – ri com a minha insanidade.
- Tudo bem, querida. Vou pegar uma toalha. Vocês estão um pouco molhados. – Ela sorriu e caminhou para o banheiro.
- Nossa. Acho que eu preciso de um banho – disse carismático e riu pelo nariz.
- Somos dois então – sorri junto.
A Sra. Alda aproximou-se com duas toalhas, uma em cada mão. Entregou-me a primeira e com a outra ajudou a se enxugar. Enxuguei-me também e devolvi a toalha para a Sra. Alda.
- Obrigada, Alda – agradeci educadamente. – Será que seria algum incômodo eu tomar um banho? Estou com um pouco de frio – sorri tímida.
- Imagina, meu amor! Venha, vou te mostrar onde fica o banheiro – ela disse e caminhou em direção ao outro cômodo. Acompanhei-a. O banheiro era grande com um chuveiro e uma banheira. Alda me entregou outra toalha, afinal a outra já estava molhada.
- Prontinho, minha querida. Qualquer coisa, é só chamar – ela disse e entregou umas roupas, muito bonitas, devo dizer. – Essas roupas são de uma parenta minha que vem de vez em quando. Ela não irá se importar.
- Obrigada mesmo, Alda! – Eu disse e ela sorriu, satisfeita. Alda saiu do banheiro e eu fechei a porta. Entrei na banheira, liguei o chuveiro com água quente e deixei meu corpo relaxar. Tomei um belo banho, porém rápido. Enxuguei-me e vesti-me com as roupas que a Sra. Alda me entregou. Saí do banheiro e olhei em volta. não se encontrava mais na sala. Resolvi esperá-lo. Sentei no sofá e apoiei minha cabeça no encosto.

(...)
Acordei e, ainda sonolenta, rolei meus olhos pela sala. estava em sua cadeira, observando-me.
- Ai, meu Deus! – Eu disse me levantando rápido, o que me fez sentir um pouco de tontura. Sentei novamente e pausei minha mão na testa. – Que horas são?
- São oito horas – disse calmo.
- Por que você não me acordou? Droga! Estou atrasada! Meredith deve estar preocupada comigo! – Eu me levantei e andei de um lado para o outro.
- Calma – disse enquanto mexia em seus cachos. – Eu liguei para sua tia. Avisei-a que, por causa da chuva, você foi tomar um banho e acabou capotando – ele riu pelo nariz. – Ela disse que ia aproveitar que você estava aqui para ir fazer compras. Minha avó quer que você durma aqui. Hoje vai ser a noite da pizza. Acho que você não devia perder essa oportunidade.
- Isso mesmo! – Alda falou enquanto descia lentamente as escadas. – Sem querer me gabar, mas eu faço a melhor pizza da redondeza! Eu, e o João gostaríamos que você ficasse e passasse a noite conosco – ela sorriu e me olhou, pidona.
- Mas eu darei muito trabalho! Sem dizer que eu tenho aula amanhã e...
- Nada disso – João, que agora descia as escadas junto de Alda, interrompeu-me. – Seria um prestígio (n/a: isso me lembrou chocolate prestígio, HUUM *-*) que você ficasse! Amanhã te levamos, junto de , para a escola.
- É, , acho que você não tem como escapar – se manifestou, rindo.
- Tudo bem, eu me rendo – falei, levantando os braços.
Todos sorriram e seguiram para suas tarefas. Alda foi para a cozinha preparar as pizzas. Ofereci minha ajuda, mas ela disse para eu fazer companhia a . João foi pintar. Ele era um artista. Eu e ficamos na sala. Ele me olhou serelepe e disse:
- Vem, , quero te mostrar uma coisa – ele disse e deslizou sua cadeira para o cômodo que ficava ao lado do banheiro. Segui-o e descobri que ele me levara para o seu quarto. Abriu um armário que era da sua altura e remexeu-o à procura de algo.
- Achei – ele disse enquanto fechava o armário. - Tome – ele me entregou e eu percebi que era um embrulho.
- O que é isso? – Perguntei confusa.
- Uma lembrancinha para você – ele sorriu, orgulhoso.
Abri o pacote com delicadeza e me surpreendi. Era um livro, mas não um livro qualquer. Era a edição original de Romeu e Julieta, famosa história de Shakespeare, que eu tanto procurava.
- Como você conseguiu? E como sabia que eu estava à procura disso? – Eu disse enquanto encarava, fascinada, o livro em minhas mãos.
- Enquanto você dormia, eu liguei para Meredith para avisar que você estava dormindo. Aproveitei e perguntei que tipo de livro você gostava. Ela disse que outro dia encontrou seu notebook ligado com uma lista de “desejos”. E o primeiro item era a edição original de Romeu e Julieta. Agradeci-a e lembrei-me que meus avós têm um pequeno quarto, onde eles guardam uns livros antigos. Revirei o lugar e achei o que procurava. A sorte foi que minha avó tinha dois exemplares. Perguntei se eu podia pegar um e ela deixou. E cá estamos – ele riu e sorriu vitorioso.
Eu encarei novamente o livro em minhas mãos. Estava em ótimo estado. Passei meus dedos sobre a capa, ainda sem acreditar no que via.
- Nossa, – eu disse, hipnotizada –, não sei nem como agradecer! – Aproximei-me dele, abaixei-me e abracei-o com força. Dei vários beijos estalados em seu rosto e agradeci-o imensamente.
- Uau – ele disse, abanando seu rosto como se estivesse sem ar –, se eu soubesse que você iria ficar tão agradecida assim, eu teria perguntado antes!
- Bobo – disse e dei-lhe um leve tapa no ombro. olhou pela janela. A chuva já havia parado.
- Vem, quero que veja outra coisa – ele disse e saiu do quarto. Acompanhei-o e saímos de casa.
- Feche os olhos – ele disse.
- Eu não! – Respondi rindo.
- Feche os olhos e confie em mim – ele disse sorrindo brincalhão. – E não vale olhar!
Fechei os olhos com força. Ouvi sua cadeira se aproximando de mim. pegou em minha mão com delicadeza. Seu toque era delicado. Ele forçou um pouco mais a mão e começou a andar. Ele devia estar com dificuldade de guiar sua cadeira com uma só mão. Mas mesmo assim conseguiu. Segundos depois, senti ele parar.

Capítulo 8 : Just friends. Maybe.


- Tem um banco atrás de você. Continue com os olhos fechados e sente-se. – Ele soltou minha mão e eu apalpei o ar à procura do banco. Quando achei, segurei com as duas mãos e baixei meu corpo. O silêncio tomava conta do lugar. Senti aproximar sua cadeira do banco. Ele gemeu e logo depois o banco balançou. Ele havia sentado no banco, sem a ajuda de ninguém! Quase abri meus olhos, mas me segurei. Ele devia estar bem próximo, afinal sua respiração batia lentamente no meu rosto. Minha respiração falhou e senti passar suas duas mãos nos meus olhos, vendando-os com um pano. Quando terminou de me vendar, ele voltou a aproximar seu rosto do meu. Sua respiração estava descompassada. Foi então que seus lábios quentes e macios encostaram-se aos meus. Eu estava sem reação. Ele simplesmente me envolveu num beijo calmo e delicado. Suas mãos pousaram nas minhas bochechas. Eu envolvi os meus braços em seu pescoço e me aproximei. Mas, quando me dei conta do que estava acontecendo, pausei o beijo. Tirei com certa dificuldade a venda dos meus olhos. estava desentendido. Fuzilei-o com os olhos.
- Olha, você nunca mais faça isso! Entendeu? – O tom de minha voz aumentara – eu não sei que tipo de garota você acha que eu sou. Você não pode simplesmente me beijar num dia e no outro ficar caindo aos pés da Barbiezinha! Você para mim é um amigo, e um cara incrível. Mas não vou tolerar que você me use como um brinquedinho. Quer saber! Deixe para lá. Só não vou embora porque seus avós pediram que eu ficasse e eu aceitei. Não vou deixá-los na mão. – Disse mais calma a última frase e levantei-me do banco.
- Desculpe – ele disse e encarou seus pés – É só que... eu nunca estive tão próximo de uma garota como estou agora de você. Você também significa muito para mim. E eu realmente não queria perder a sua amizade. Acho que eu me empolguei com a ideia de uma garota dar atenção para mim. Por favor, perdoe-me? - Ele estava sendo sincero. E também, foi só um beijo, não havia motivo para eu acabar com a nossa amizade.
- Tudo bem, mas que isso não se repita – eu disse e voltei a me sentar no banco.
- Obrigado! – Ele disse e suspirou, aliviado.
Eu o observei mais uma vez e lembrei que ele havia sentado no banco, sem a ajuda de ninguém.
- ! – Eu gritei e ele se assustou – como você conseguiu?
- Consegui o que, criatura? – Ele falou com as suas mãos no peito, recuperando-se do susto.
- Sentar no banco, sozinho! – Eu falei e abri um sorriso de satisfação.
- Ah! Eu já faço isso há algum tempo, – ele disse sorrindo, orgulhoso.
- Nossa, acho que já que você é tão bom assim, você não precisa mais de uma amiga, certo? – Disse, fingindo aborrecimento.
Ele se aproximou com certa dificuldade.
- Sabe, deixe eu te contar um segredo – ele sussurrou. – Eu acho que mais uns meses e eu já consigo dar alguns passos.
- Que ótimo! – Eu sorri e, num impulso, abracei-o. – Mas você já foi no médico depois que conseguiu sentar sozinho?
- Ainda não – ele disse, soltando-se do abraço e encarando as mãos, tímido. – Queria falar com você sobre isso.
Eu o encarei e sorri, incentivando-o a continuar.
- Pelo que você viu, meus avós estão cansados de tanto cuidarem de mim – ele disse, ainda encarando suas mãos. – Eles não têm mais condição de me acompanhar no médico. E eu tenho dificuldade de ir sozinho, sabe. Por isso que eu queria ver se você toparia me acompanhar.
- Você acha mesmo que eu ia te acompanhar? Se toca, garoto – eu disse, superior.
Ele me encarou sério. Eu soltei um gargalhada e acomodei-me melhor no banco, segurando meus joelhos.
- É claro que eu te acompanho, seu bobo – eu sorri serelepe –, não precisava nem perguntar.
Ele sorriu, totalmente aliviado.
- Nem tenho como te agradecer, . Não sabe a força que você está me dando! – Ele disse e eu senti o rubor subir por minhas bochechas.
Encarei o chão. Não sei o que acontece comigo. Eu só não consigo controlar esse frio na barriga que me dá quando ele está perto de mim. Não sou de me apaixonar assim. Eu não nasci para uma história de romance. Nunca tive meu príncipe encantado, meu final feliz. E, de repente, toda aquela coisa clichê que eu li em livros está se apoderando de mim. As mãos suando frio, as conhecidas “borboletas” no estômago. O é incrível e isso eu não posso negar. Mas não vou me deixar levar por uma paixonite. O meu coração já está quebrado o suficiente. A minha vida já está arruinada o suficiente. Ele é só o meu amigo, e por um bom tempo permanecerá assim, ou pelo menos é o que eu espero.
- Melhor a gente entrar – disse e inalou com força –, já estou sentindo o cheiro de pizza.
- Só pensa em comer! – Levantei-me e ajudei-o a voltar para sua cadeira.
- Que eu me lembre, a senhorita ficou caidinha pelo meu corpo – ele retrucou, convencido.
- Eu fiquei impressionada com o tanto de gordura que o senhor tem aí, isso sim!
- Você não me engana, – ele riu pelo nariz e seguimos para casa.
Quando chegamos, entramos e o cheiro de pizza nos dominou.
- Ai. Acho que vou engordar uns quilinhos hoje – eu disse e passei minha mão em minha barriga.
- Que bom que chegaram, crianças – Alda disse animada.
- Posso ajudar, Alda? – Perguntei, gentilmente.
- Por favor, termine de colocar a mesa. Vou ao banheiro. Em um minuto estou de volta – ela disse, enquanto tirava o avental.
- Claro – coloquei os pratos, talheres, copos etc.
O Sr. João me ajudava com a mesa enquanto me olhava pelo canto do olho. Alda voltou do banheiro e serviu pizza a todos nós. Sentamos e começamos a comer.
- Nossa – eu disse depois de engolir o primeiro pedaço da pizza –, está M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-A! Meu São Chiquinho, hoje eu vou engordar!
Todos riram e Alda agradeceu o elogio. Conversamos sobre diversas coisas. Escola, tarefas, atividades etc. Estávamos como uma família unida. Parei por um instante e observei a mesa. ria, lindo como uma criança. O Sr. João tentava manter sua cara de sério, mas um esforço em vão. Alda observava aquilo, como eu, só que com um olhar maternal. Por um momento, eu me senti completa. Curta e brevemente. Até eu me lembrar que a realidade ainda existia, infelizmente. Eu havia perdido meus pais, e nada mudaria isso. Eu nunca me sentiria completa novamente. Isso doeu e uma lágrima teimosa rolou sobre minhas bochechas. Alda fora a única que percebeu. Ela me olhou como se perguntasse o que ocorreu. Balancei a cabeça em sinal negativo e ela sorriu, tristonha. Melhorei minha cara e continuamos com o jantar. Até soltei umas risadas, afinal, com do meu lado, não tinha como ficar séria. Terminamos de comer, e eu ajudei Alda a recolher a mesa. O Sr. João foi ajudar a tomar banho.
- Querida, o que aconteceu no jantar? – Alda me perguntou, preocupada.
- É uma longa história – eu disse enquanto enxugava o último prato. Seguimos para a sala e nos acomodamos.
- Eu tenho todo o tempo do mundo – ela sorriu, calma.
Contei tudo. Desde a perda dos meus pais, até a dor que eu senti na mesa de jantar, por vê-los como uma família feliz. Ela me ouviu atenciosamente, sem me interromper em nenhum momento. Eu chorei durante a história, e ela pegava minha mão e apertava. Senti-me um pouco melhor, desabafando.
- Eu te entendo, querida. Sei que não é fácil. Mas pense que seus pais não gostariam de ver você sofrendo por eles desse jeito. Você não tem culpa do que aconteceu – ela disse, por fim.
- Não consigo parar de pensar no que aconteceu. Sabe, eles eram tudo para mim – eu choraminguei.
Alda se aproximou e me abraçou. Foi então que eu desabei a chorar. Ela afagava meus cabelos, na tentativa de me acalmar. Depois de um tempo, consegui me acalmar e me separei de Alda.
- Minha cabeça está a mil! A morte de meus pais, a mudança radical de vida, pessoas novas e, bom, tia Meredith, , vocês. Tudo está acontecendo rápido demais. – Eu disse, limpando minhas lágrimas.
- Eu e o João sofremos demais na perda de nossa filha, a mãe de . Eu sei como você se sente. Sei também que às vezes as coisas acontecem com uma intensidade indesejável. Estamos aqui para tudo o que você precisar, ouviu, querida? Eu, João e amamos sua companhia. E eu sei que Meredith também.
- Obrigada, Alda – eu respondi, mais calma, e continuei. – O está sendo um garoto incrível. Não sabe a força que ele me dá, sabe, de continuar.
- , você também é muito importante para ele. Nesses poucos dias que vocês se conhecem, eu vi ele sorrindo, como não fazia há anos. Sei que isso pode parecer um pouco precipitado, mas acho que vocês dois já dependem um do outro. Já tive essa conversa com . Eu sei que ele é cabeça dura de vez em quando. Mas ele precisa de você.
- Nossa, eu nem imaginava. Mas, de qualquer jeito, quando eu estou com as coisas parecem melhores. Eu não penso tanto na minha perda quando estou brincando com ele, eu não sofro tanto quando eu vejo o seu sorriso. Clichê? Muito. Mas a pura verdade. É como se ele fosse, não sei, meu anjo, entende?
- Entendo. E acho que nós duas somos muito parecidas. Eu senti a mesma coisa quando conheci João. Eu tinha acabado de perder uma de minhas irmãs, e ele apareceu. Não foi amor à primeira vista. Muito menos atração física. Eu olhei para ele e senti uma afeição enorme. Ele me apoiou quando tudo parecia perdido. Ele aguentou as minhas crises, os meus pesadelos que se repetiam todas as noites. E foi quando eu percebi que nós éramos mais do que amigos, mais do que namorados. Ele era a pessoa que eu sempre sonhei em ter. Não pela beleza, fortuna, ou qualquer outra coisa do gênero. Foi simplesmente pelo apoio intensivo que ele me oferecera. E, claro, pelo amor incondicional que eu senti, sinto e ainda sentirei por muitos anos, por João.
Eu a encarei. Ela sorriu meigamente. Parte do que ela falou, eu já sinto. A outra parte, imagino eu, ainda sentirei. saiu do banheiro, seguido de João. Eles se juntaram a nós. Conversamos sobre outras coisas e resolvemos assistir um filme. Pediram para eu escolher um gênero. Comédia, eu respondi. Eu amo filmes de drama, mas acho que isso não me faria bem, não hoje. e João riram o filme inteiro. Eu fiquei no sofá, abraçada aos meus joelhos, encarando a tela. Alda estava preocupada comigo, eu acho. Ela me encarava durante o filme, com o olhar do tipo: Está melhor? Eu sorria tristonha e assentia. Por um momento, olhei para e o meu rosto se iluminou. Ele gargalhava com o filme enquanto comia pipoca. Minha seriedade resultou num sorriso sincero. Ele percebeu que eu o encarava e se virou na minha direção. Ofereceu-me pipoca e eu neguei. Ele sorriu e bateu com uma das mãos no colchão, que permanecia do lado do dele. Olhei para Alda e ela assentiu, como se aprovasse que eu me deitasse ao lado de . João só sorriu e voltou a atenção para o filme. Levantei-me delicadamente e me acomodei no colchão. Não no de . Ele me encarou tristonho e bateu novamente a mão no colchão, agora bem do lado dele. Revirei os olhos e fiz um sinal negativo com a cabeça. Ele fez bico e voltamos a assistir o filme. Pouco tempo depois, ele pegou minha mão cuidadosamente e me puxou na direção dele. Eu mal me movi de onde estava, mas resolvi ceder. Arrastei meu corpo até o colchão de e deitei do lado dele. Ainda existia uma distância entre nós. Ele não forçou a barra e ficamos daquele jeito. Estava tudo ótimo, até que apareceu uma família reunida no jantar, as crianças rindo da piada do pai e a mãe, orgulhosa de ver a família reunida. Meu corpo se contraiu e a dor novamente tomou o meu corpo. percebeu, envolveu seu braço esquerdo no meu corpo e me pressionou contra o dele. Afundei minha cara em seu peito e fechei meus olhos com força. Ele devia estar sentindo a mesma dor que eu. Alda e João perceberam e não sabiam o que fazer. Resolveram se fingir de sonolentos e dizer que iam dormir. Deram-nos boa noite. Eu ainda estava na mesma posição quando desligou a TV. Ele se virou com certa dificuldade e me abraçou, agora com os dois braços. Eu chorava, e a cada lágrima que caía ele me abraçava com mais firmeza, como se quisesse me proteger de algo. Abracei-o e ele beijou o topo de minha cabeça. Agora ele afagava meus cabelos enquanto a outra mão passeava lentamente pelas minhas costas. Acalmei-me depois de um tempo, e acho que adormeci nos braços de .

Capítulo 9: He drives me crazy.


(...)
- , vamos, estamos atrasados – abri, com certa dificuldade, meus olhos e encarei . Ele estava extremamente lindo. Como sempre. Revirei-me e percebi que passei a noite no colchão em que adormeci noite passada.
- Tudo bem, vou me vestir – eu disse, levantando-me. Coloquei a roupa que tinha chegado na casa de . Tomei um café rápido e fomos para a escola. Quando chegamos, ajudei com sua cadeira e despedimo-nos dos seus avós. Entramos no colégio e, por milagre, ninguém nos deu atenção. Fomos para nossos respectivos armários.
- Te encontro na sala, – disse e beijei sua bochecha.
- Tudo bem, – ele respondeu e eu fui em direção ao meu armário. Peguei meus livros e aproveitei para olhar o relógio. Três minutos até a aula. Suspirei, cansada.

(...)
Entrei na sala e me acomodei ao lado de .
- E então, quanto tempo, não? – Eu ri, carismática.
Ele deu a língua para mim e eu retribuí.
- Bom dia, meus lindos e inteligentes alunos – o professor disse, animado, enquanto entrava na sala –, hoje separaremos trios para o trabalho que eu lhes pedirei.
- AAAAAAAAAH – a sala reclamou em coro.
- Nem A nem B – ele sorriu, vitorioso. Leve medo desse professor. - Vocês se dividirão em trios, mas se começar a dar confusão eu mesmo separo-os. Agora, podem levantar e montar seus trios. Depois quero que uma pessoa de cada trio levante-se e coloque o nome dos integrantes de seu grupo na lousa.
A sala suspirou um pouco mais aliviada. Todos levantaram e correram, desajeitados. Encarei e ele assentiu, virei para e fiz sinal para que se juntasse a nós. Ela se aproximou tímida.
- , que tal eu, você e o ? Acho que faríamos um belo trabalho.
Ela me encarou como se eu tivesse descoberto a cura da AIDS ou do câncer. Seus olhos ganharam um brilho de criança e um sorriso formou-se em seus lábios.
- Sim, sim, sim, sim, sim e mais um sim. Nesses trabalhos eu sempre ficava por último no grupo que ficava faltando alguém! Nem acredito, agora eu estou num grupo de verdade – ela saltitava e soltava alguns gritinhos.
Eu ria da situação e me acompanhava.
- Acho que vou escrever nossos nomes na lousa. Já volto.
Assentimos e ela foi toda feliz da vida em direção da bendita lousa. Outros alunos tomaram o rumo da lousa, mas a Sally tomou outro rumo. O rumo da nossa mesa. Suspirei. "Lá vem", pensei.
- – ela soltou sua voz esganiçada –, eu guardei um lugar no nosso grupo. Quer participar?
- Barbie, se você não percebeu, estávamos conversando. Não tem educação não? – Perguntei, ríspida.
- Shiu, órfã. O assunto não chegou em você – ela respondeu, cínica.
FALSA, METIDA, FÚTIL. Xinguei-a mentalmente. me encarou, duvidoso. Fuzilei-o com os olhos e em resposta lhe dei os ombros. Deixe que ele decida com quem ele quer fazer esse maldito trabalho. Ele ficou um breve momento calado e então abriu a boca para responder.
- O aleijado já está em um grupo, Sally. Procure outro – ele respondeu, firme. Os olhos de Sally transbordavam ódio. Ou, quem sabe, inveja. Ela saiu, batendo os pés no taco de madeira da sala de aula.
- Não precisa fazer isso por mim, . Eu sei que você está morrendo de vontade de entrar no grupo dela. – Eu falei, emburrada.
- Eu fiz isso mais por mim do que por você. Mas, de qualquer jeito, acho que estava te devendo essa, depois do que eu... hum... depois do que aconteceu na fazenda dos meus avós – ele falou, ruborizado. Obviamente, ele se referia ao beijo. Chacoalhei os ombros mais uma vez.
- Você que sabe então – fui grossa. Impressionante como a Sally consegue mudar o meu humor.
me encarou, calado. Voltou sua atenção para o caderno em sua frente. Começou a rabiscá-lo, freneticamente. As únicas coisas que consegui ler foi: "Desculpe-me se eu sempre te machuco, desculpe-me se eu não sou o cara ideal para você. Mas eu preciso de você do meu lado."
Sinceramente, não sei a quem ele se referia naquela frase. Esses últimos dias estão tão confusos que eu não sei de mais nada. já voltava para o seu lugar, como todos os outros alunos. O professor falava animadamente sobre seu trabalho, mas eu apenas via sua boca se mexendo. Bufei e me ajeitei na cadeira. Encarei o teto da sala de aula. O que mais eu quero para minha vida? Uma patricinha metida à besta, um cara incrível que não sabe se sofre por uma inútil ou se dedica a outras coisas mais importantes ou a morte de meus pais.
Impressionante como esse assunto sempre vinha à tona. Pisquei meus olhos rapidamente para evitar que as lágrimas viessem. Encolhi-me na cadeira. A dor, novamente, dominou-me. Eu me sentia fraca, inútil, desprotegida. Nada do que eu fizesse os traria de volta. Não importava o quanto eu rezasse, o quanto eu sonhasse em tê-los ao meu lado, isso nunca aconteceria. Não. Não. Não. Levei minhas mãos aos meus olhos e então não pude mais conter as lágrimas.
pegou minha mão e apertou-a levemente. O professor estava de costas, passando a matéria. Sally me encarava com um sorriso de satisfação. Comi-a com os olhos. aproximou-se devagar e me abraçou de lado. Aquilo foi totalmente fofo da parte dele, mas não o suficiente. Não seria isso que me curaria. Nem isso nem nada. Sorri como agradecimento para ele.
Ele girou sua cadeira e rolou suas mãos sobre as rodas até chegar ao lado do professor. Ele sussurrou algo. O professor apenas assentiu. aproximou-se de mim novamente e puxou meu braço delicadamente.
- Venha, vamos lavar seu rosto – ele disse por fim.
Não respondi. Apenas me levantei e segui . Eu me apoiava na sua cadeira de rodas. Sentia-me um pouco tonta. Respirei fundo e seguimos para o banheiro. Ele ficou do lado de fora, esperando-me.
Entrei no banheiro, liguei a torneira e deixei a água correr sobre meus pulsos. Que diabos estava acontecendo comigo? Lavei meu rosto e a tontura se intensificou, até que tudo se tornou preto e eu tentei gritar por ajuda, mas não encontrei minha voz.

Capítulo 10: You can’t hide from yourself.


(...)
Acordei com uma dor de cabeça delirante. Olhei para os lados, mas todo aquele branco do cômodo incomodava meus olhos. Fechei-os com força e massageei os cantos de minha testa. Minutos depois, escuto barulhos em minha direção. Barulho de roda. Barulho de cadeira de rodas. Instantaneamente, abri um sorriso. Aquela figura se aproximou mais e mais. Já estava do meu lado quando apanhou minha mão.
- Nunca mais faça isso comigo, ouviu? - soltou sua voz melodiosa e serena, mas que não escondia preocupação.
- Desculpe - eu disse, sentindo-me culpada.
Continuei de olhos fechados. agora acariciava com o polegar minha bochecha. Suspirei mais calma. O silêncio dominava o lugar. Ele se aproximou mais da cama em que eu estava e posicionou sua boca em meu ouvido. Ele sussurrou uma letra de música que me fez ter vontade de abraçá-lo e fugir daquele maldito quarto, daquela maldita realidade. Ele aumentava o tom de voz conforme a música saía de seus lábios.
- Ficando perto de mim, perto o suficiente para alcançar. A hora perfeita para dizer para ela, mas eu não consigo nem juntar as palavras. Olhos que conseguem penetrar no meu disfarce. Você não consegue ver que estou me escondendo? O que eu tenho medo de encontrar? Eu sei o que estou pensando, mas as palavras não saem.
A sua voz me trouxe uma paz espiritual. Respirei fundo e ele continuava com a música
- Se os olhos pudessem dizer, um olhar diria tudo. Sobre o jeito que você sorri, o jeito que você gargalha, o jeito que você se veste, sobre como sua beleza me deixa sem ar. Se os olhos pudessem falar, eu não precisaria conversar.
Agora ele não cantava mais a música. Ele apenas deixava que seu coração fizesse isso por ele. Seus olhos de cor intensa me encaravam suavemente. Suas mãos estavam nas minhas. Seus lábios se mexiam conforme a música. O seu coração gritava pelo o meu, e o meu batia, descompassado. Eu sentia que ele via mais do que apenas uma garota isolada no mundo doloroso. Ele via em mim algo mais. Algo que fizesse com que ele não saísse de perto de mim. Algo que fizesse com que ele dormisse pensando em mim e que se preocupasse comigo.
- Aqui vamos nós, tentado fingir que minha mão não está tremendo, o modo como ela está hoje à noite não ajuda. Minha visão está ficando turva, preciso acalmar meus nervos, é agora ou nunca. Só tem um jeito de conseguir a resposta. Eu sei o que dizer para ela, mas as palavras não saem.
A cada palavra, o meu coração disparava mais e mais. Como ele conseguia essa proeza? Ele sempre tem a palavra certa, para o momento certo. Criei coragem e encarei-o. Fiquei presa em seus olhos. E esse era o meu medo. Ficar tão presa a ele, que a minha dor viraria a dele também. Não quero fazê-lo sofrer. Ele tem seus próprios problemas e não precisa dos meus em seus ombros. Senti-me uma inútil e egoísta com isso. Só que o pior é que eu não conseguia me afastar dele. Por mais que eu soubesse que seria o melhor para ele, não para mim, é claro, eu não conseguia me desprender da sua companhia. Eu não tinha forças o suficiente.
- Talvez eu consiga finalmente fazer isso, finalmente entender a mente das pessoas nervosas. E lhe dizer as coisas que eu não consigo dizer. E, baby, eu olharia nos seus olhos e talvez você finalmente percebesse que palavras são apenas palavras de qualquer jeito.
A melodia era perfeita. Divina. Fechei novamente meus olhos e deixei que sua voz entrasse pelos meus ouvidos.
- Palavras são apenas palavras de qualquer jeito.
Ele sussurrou a última parte e beijou a minha testa.
Alguns minutos se passaram, até que observei uma silhueta de uma mulher passando pelas janelas de vidro. Ela entrou no quarto, receosa. Correu os olhos até encontrar os meus. Era Meredith. Ela se aproximou, preocupada.
- Você está bem, ? - Ela me perguntou enquanto acariciava os meus cabelos.
- Sim, tia. Não precisa se preocupar - respondi, calma. Ela suspirou, aliviada. Encarou e pediu que ele contasse a ela o que acontecera.
- Ela se sentiu um pouco mal durante a aula. Pedi ao professor permissão para acompanhá-la até o banheiro, para que ela lavasse o rosto. Ele concedeu e seguimos para o banheiro. Chegando lá, esperei-a do lado de fora. Ela começou a demorar e eu, a me preocupar. Até que ouvi um barulho e tive que entrar. Foi então que a encontrei caída no chão - ele contava com sua voz calma, mas eu já o conhecia o suficiente para saber que ele estava sofrendo. Como se a minha situação o afetasse. Senti-me mais uma vez culpada e egoísta por me tornar a preocupação de todos e, principalmente, dele.
- O que aconteceu, querida? - Meredith perguntou-me.
- Nada demais, tia. Senti-me um pouco tonta e achei que se eu me refrescasse um pouco com a água da pia, sentiria-me melhor - me encarou. Ele me viu chorando na aula, ele sabia que o que eu relatara a minha tia era mentira. Implorei mentalmente que ele não abrisse a boca para me contrariar. Ele nada fez. Somente demonstrou desapontamento, como se esperasse mais de mim. Eu apenas não era capaz de deixar mais uma pessoa preocupada com o meu estado, por isso menti a minha tia. Pelo seu próprio bem. Conversamos um pouco até que a enfermagem deixou que eu fosse para casa. me acompanhou, mesmo contra minha vontade.
- , você já fez demais por mim hoje! Já fez seu trabalho de anjo da guarda por uma semana - eu disse, sorridente.
- Se não se incomodar, prefiro te acompanhar até em casa - ele disse, sem qualquer humor.
Eu baixei minha cabeça. Ele estava ao meu lado, concentrado nos seus pés.
- Desculpe por hoje - sussurrei.
- A culpa não foi sua - ele respondeu, ainda seco.
- Então por que está assim comigo? - Perguntei, sem entender o motivo.
- Por que mentiu a sua tia? - Ele ignorou minha pergunta, lançando outra.
- Pelo seu próprio bem. Ela não merece sofrer pelos meus problemas - olhei para . Seus olhos estavam vagos, não tinham um destino específico. Suspirei.
- Ela é sua tia, ! - alterara sua voz.
- Por isso mesmo! Eu amo ela o suficiente para poupá-la! - Grunhi.
- Você não sabe o que está fazendo - não estava entendendo a atitude de . Ele estava nervoso.
- Olha, o problema é meu, certo? Então deixe que eu encontre a solução, sozinha.
- Se é isso que você quer - ele me encarou pela primeira vez na discussão. Seus olhos transbordavam sensações que eu não sabia definir. Preocupação, medo, tristeza, decepção. Tentei decifrá-lo, mas tudo em vão. Desisti de encarar seus olhos e me virei para o chão.
O caminho até casa foi silencioso. Chegando nela, entrei e ofereci para que ele entrasse.
- Hoje não, meus avós estão me esperando. Obrigado de qualquer jeito - ele respondeu.
- Obrigada por, hum, tudo o que você por mim hoje. De verdade - sorri
- Não foi nada - ele sorriu de lado e girou sua cadeira em direção à trilha. Só fechei a porta quando o perdi de vista.
Subi ao meu quarto e tomei um banho. Minha cabeça ainda latejava. Tia Meredith aproveitou para ficar na escola e pagar minha mensalidade. Deitei-me um pouco na cama. O tempo havia mudado. Estava frio e nublado. Enrolei-me num cobertor e liguei a televisão. Fiquei passeando pelos canais, mas nada chamou minha atenção. Resolvi dormir um pouco, já que o dia fora cansativo.

(...)
- , venha jantar, querida. - Tia Meredith me chamou cuidadosamente enquanto eu me levantava da cama. Desci as escadas lentamente.
- Bom dia, ops, boa noite, Bela Adormecida - ela disse, carinhosamente.
- Boa noite, tia. Por que não me acordou antes? - Perguntei e me acomodei na mesa.
- Achei que você merecia dormir um pouco. Foi um dia bem pesado. - Meredith me serviu de lasanha e logo em seguida sentou-se a minha frente. Apenas assenti e me deliciei com a lasanha. Conversamos sobre tudo e mais um pouco. Ajudei-a com a louça.
- Vou subir e arrumar meu quarto. Qualquer coisa, me chame - Meredith avisou.
- Ok - falei e dei-lhe um beijo na bochecha.
Fui ao meu quarto e abri minha mochila à procura de um pequeno papel. Apanhei-o, que continha um número. Disquei no meu celular, que deu dois toques e uma voz feminina atendeu.
- Alô? - A voz delicada perguntou.
- Oi, meu nome é , gostaria de falar com a - apresentei-me educadamente.
- Claro, vou chamá-la.
- Obrigada - ouvi a moça chamando e avisando que o telefonema era para ela. Segundos depois, ela atendeu.
- Alô? - Ela perguntou, confusa.
- Oi, , é a .
- Ah, oi! Desculpe, não sabia quem era - ela riu.
- Imagina, tudo bem. E então, onde você mora?
- Perto da escola, por quê? - Ela perguntou, ainda confusa.
- Você conhece a fazenda ?
- Claro - não estava entendendo nada.
- Tem como você vir para cá?
- Você mora aí?
- Sim, e então, tem como?
- Tem sim. Em dez minutos estou aí.
- Obrigada, .
- Imagina, amor. Até daqui a pouco. Beijo.
- Até, outro.
Desliguei o celular e me joguei na cama.

Alguns minutos se passaram até que eu ouvi barulhos de carro. Desci as escadas correndo. Abri a porta e me deparei com um Fusion preto. O carro parou e saiu dele. Ela veio correndo em minha direção e me abraçou forte. Eu afundei minha cara em seu ombro enquanto ela afagava meus cabelos. Eu parecia uma criança. Literalmente, um bebê chorão nos braços de uma mãe carinhosa. Ela deu um "tchau" para sua mãe, assim como eu. Entramos em casa. Fomos ao sofá e eu liguei a TV. Estava passando um filme de terror. Sorri, afinal, nada melhor do que ter pesadelos diferentes, certo? me encarou, desentendida, mas permaneceu calada. O filme era basicamente sangue. Mal prestei atenção. Ficamos um tempo assim até que, repentinamente, se levantou e desligou a TV. Ela me encarou, sem expressão. Veio até o meu lado, e eu admito que senti medo dela. Ela pegou meus braços e virou-me para ela.
- O que exatamente está acontecendo? - Ela perguntou, com a testa franzida.
- Nada, por quê? - Respondi, fingindo desentendimento.
- Você primeiro me liga, fria. Eu venho até sua casa e você me atende com os olhos inchados, e agora você liga a TV num filme de pura carnificina, e nada está acontecendo? Ou você precisa rever seus conceitos de "nada", ou você não me considera sua amiga o suficiente.
Eu a encarei. Eu não tenho esse dom de decifrar a outra pessoa. Se bem que eu não guardo minhas emoções bem o suficiente.
- É claro que eu te considero. É só que... eu não quero te preocupar com problemas que não são seus.
- , amigo serve para quê, afinal? Por favor, diga-me o que te aflige.
Eu encarei meus pés.
- Sabe, não sei o que eu fiz para merecer isso. Tudo bem que eu ganhei amigos verdadeiros, como você, o e minha tia. Mas, poxa, do que adianta tudo isso se vamos morrer um dia, certo?
- Não estou entendendo onde você quer chegar, .
- É simples. Tão simples, que você não enxerga! Por que criamos tantas expectativas para depois nos machucarmos? Por que estudamos, entramos na faculdade, arranjamos um emprego, ganhamos dinheiro se, no final, todos nós morreremos? Por que ter uma casa melhor, um emprego melhor, se quando morremos somos todos iguais? Afinal, Deus existe? E se ele existe, por que ele deixa-nos sofrer?
- ! A vida não é um jogo. A vida é um acontecimento. Você nasce e planeja o seu futuro. Cada um leva a vida do jeito que quer e que acha melhor. É claro que um dia tudo vai chegar ao final, mas espere um pouco. Para existir um fim, tem que existir um começo e um meio. Pense a vida como um livro. O autor é Deus. Ele é que está com o final da história nas mãos. Ele se coloca na pele da personagem. Se alguém morre, é porque tinha de ser assim. Não é Ele que escolhe quem sofrerá! As pessoas fazem isso por elas mesmas!
- Não! Não tinha de ser assim nada! Meus pais não deveriam ter morrido naquele acidente, EU DEVERIA! Eu nem ao menos merecia estar aqui, viva. Sabe quantas vezes eu já pensei em me suicidar? Não, você não sabe. Porque acordar todo dia com toda essa culpa sobre os meus ombros não é fácil. Presenciar, todo dia, uma família feliz faz com que eu me sinta a pior pessoa do mundo! Quantas vezes eu entrei no meu quarto, abri minha mochila e a minha tesoura me pareceu mais do que convidativa. Quantas vezes uma corda chamava mais a minha atenção do que qualquer outra coisa! Não sei como consegui aguentar até agora. Acho que talvez seja de pensar na dor que minha tia sentiria, ou talvez no , sozinho com todos aqueles brutamontes da escola! Já pensei até em você, isolada, sem quem conversar! Mas chega uma hora que eu não aguento mais. Talvez você não me entenda, e nem estou pedindo para que você se esforçe a me entender. Apenas... não sei - eu comecei a chorar e ela me abraçou forte.
- Ei, ei, calma. Eu estou aqui com você. Eu posso não entender o que você quer fazer com si mesma, mas eu entendo a sua dor. Sei como é perder alguém. Já perdi minha melhor amiga. É claro que não se compara à perda de uma mãe e um pai, mas dói na mesma intensidade. Eu presenciei a doença dela. E o mais duro foi vê-la morrer, na minha frente.
Nessas horas você nem sabe o que falar. Você pode treinar na frente do espelho, trilhões e trilhões de vezes seguidas, uma frase, uma palavra para apoiar uma pessoa nessa situação. Mas, no momento, parece que nenhuma palavra é o suficiente para amenizar a dor da pessoa.
- Sei também que a dor fica pior quando você não tem alguém ao seu lado para amenizá-la. As lágrimas ficam mais intensas quando você não tem alguém para secá-las. E o coração, o coração fica mais arruinado quando você não tem com quem preenchê-lo.
As palavras de ecoavam em minha cabeça. Talvez, em menos de um minuto, ela descrevera o que eu passei tanto tempo tentando entender. Eu encontrara alguém que me entendia e, o mais importante, que entendia a minha dor. Ela não me achava criança e imatura por às vezes chorar de desespero, achando que não aguentaria nem mais um dia. Pelo contrário, ela certamente já devia ter passado por isso. Fiquei quieta, afinal, qualquer palavra neste momento seria inútil. Olhei em seus olhos.
- Obrigada - foi a palavra mais adequada que achei. Embora não fosse suficiente.
- Não tem o que me agradecer. Estamos do mesmo lado, ok?
Assenti, como uma criança. era tão madura que me fazia sentir um bebê perto dela. Não que eu reclamasse disso. Eu realmente estava precisando de uma pessoa mais forte ao meu lado. Por fim, ela me abraçou e fomos fazer nossas lições. Combinamos de fazer o trabalho no dia seguinte. Ela avisaria .

Capítulo 11 : I just want to be with you.

voltou à sua casa e eu acabei adormecendo no sofá mesmo. Acordei atrasada e perdi a primeira aula.
Acomodei-me em um dos bancos, esperando o sinal do fim da primeira aula bater. A escola estava silenciosa. Alguns inspetores passeavam com suas caras amarradas. A diretora passava de vez em quando, certificando-se de que todos os alunos estivessem em suas respectivas salas. Encarei a porta de minha sala, já que a maçaneta se movia. Segundos depois, Sally saiu da classe. Ela me encarou, com nojo.
- Mais essa para acabar meu dia - ela disse, em alto e bom tom.
Eu a encarei. Sorri, cínica. Não me rebaixaria ao nível de responder. Peguei um livro qualquer na minha mochila e fingi lê-lo.
- Como se um livro fosse te proteger - Sally disse, mais alto.
Encarei-a. O sangue fervia em minhas veias. Se irritar era o que ela queria, conseguiu.
- Eu não preciso me proteger. Não vejo nada que possa me machucar aqui - sorri.
- Pois é, pensando melhor, eu não preciso te machucar. Acho que as suas lembranças, principalmente as dos seus pais mortos, fazem isso por mim - ela riu, maleficamente.
Meus olhos arderam, avisando que as lágrimas estavam a caminho. Afinal, qual o problema dessa garota?
- Você pode dizer tudo, mas não meta meus pais nessa história, sua vadia! - Eu cerrei os dentes.
- Desculpe, queridinha, se eu sou o que você sonhava em ser. Eu tenho todos os garotos aos meus pés. Principalmente o seu queridinho aleijadinho. Você sabe o que eu sou capaz de fazer, não sabe?
- Você não ousaria! Não me importo, você pode dar para qualquer um, mas não chegue perto de !
- Suas palavras não vão me atingir, sinto muito.
Nesse momento, saiu da sala e encarou a situação, confuso.
- O que está acontecendo? - Ele perguntou, encarando-me.
- Nada não, . Vamos, essa órfã está cansando minha beleza - Sally disse e tomou posse das alças da cadeira de . Seus olhos me fitavam. E eu não acreditava no que via.
As lágrimas caíram de uma vez. E ele não fez nada além de deixar Sally afagar seus cabelos e sair de minha frente. Eu havia desabado. Ele não poderia ter feito isso comigo. Tentei secar as lágrimas em vão. Meus soluços aumentavam. Eu estava ficando sem ar. Corri para o banheiro e me tranquei em uma das cabines. Abri minha mochila com dificuldade, já que as lágrimas teimavam em embaçar minha vista. Apanhei meu estojo e, logo em seguida, a tesoura.
Aquilo me parecia errado, mas ao mesmo tempo tão certo. Peguei a tesoura e deslizei sobre meus pulsos. Tombei a cabeça para trás. Não que aquilo me trouxesse prazer. Não. Aquilo só me dava nojo de mim mesma. Nojo do que sentiria ao me ver nessa situação, logo depois de nossa conversa. Mas a dor que aquilo me proporcionava superava, momentaneamente, a minha dor interior. Suspirei e, dando conta de minha situação, guardei a tesoura. Saí da cabine e liguei a torneira. Deixei a água correr pelo meu pulso, fazendo minhas veias pulsarem mais forte. Aquilo doía, muito.
O sinal bateu, tirando-me do meu transe. Olhei-me no espelho e, sem coragem de encarar minha própria imagem, deixei o banheiro.
Segui pelo corredor de cabeça baixa. Meu pulso ainda latejava, assim como minha cabeça. Minha cara estava de choro, e meu coração, arruinado. Trombei em algumas pessoas, até que uma percebeu o meu estado.
- Você está bem? - Um garoto moreno, de sardas, perguntou-me, calmo.
- Defina bem - sussurrei.
Ele soltou uma risada aconchegante.
- Você parece triste.
- Arruinada - respondi, encarando-o melhor. Ele era lindo. Seus cabelos castanhos e encaracolados caíam sobre seus olhos, com a mesma cor, dando um lindo contraste. Sua altura era média e seu corpo, atlético. Eu o conhecia, provavelmente já havíamos ficado na mesma sala em alguma aula.
- Coração? - Ele perguntou, levantando uma sobrancelha.
Eu assenti.
- Se essa pessoa te merecesse, ela não te magoaria. Ela não merece suas lágrimas, e você sabe disso.
- É mais forte do que eu. Mas, afinal, por que está falando comigo? - Perguntei, rindo de mim mesma.
- Ah, não sei, me deu vontade - ele gargalhou e eu o acompanhei. - Meu nome é Thomas. Estamos na mesma sala este ano.
- Verdade - respondi. Sabia que conhecia aqueles olhos de algum lugar.
- , certo?
Assenti.
- Temos que ir para a aula agora - ele riu -, nos encontramos no intervalo?
- Está bem. Até depois.
Ele me deu um beijo na bochecha e caminhou entre a multidão de alunos eufóricos em direção à sala. Entrei logo atrás de Thomas e me acomodei em minha carteira. Essa aula seria junto de . Não sabia como reagiria, mas fiquei na minha. O professor entrou e logo depois , conduzido por Sally. Eles conversaram algo com o professor. Minutos depois, Sally foi para o seu lugar e , ao invés de ficar ao meu lado, sentou-se junto de Sally. Bufei, impaciente. Que diabos estava acontecendo?
- , presumo que terá de fazer os experimentos sozinha hoje - o professor me alertou.
Balancei os ombros, tentando demonstrar indiferença, mas não era isso o que meu coração gritava dentro de mim. O professor desviou o olhar para o fundo da classe, já que alguém havia o chamado.
- Minha dupla faltou hoje, posso me juntar a ? - Uma voz conhecida se pronunciou ao fundo.
- Ótimo. Venha, junte-se a ela.
E então o garoto, conhecido por Thomas, levantou-se junto com seu material e veio até minha mesa. Sentou-se ao meu lado e abriu o seu imenso e contagiante sorriso.
- Acho que você vai ter que me aturar hoje. - Ele riu
- Tentarei sobreviver - sorri, tímida.
A aula se passou rápido. Todas as próximas aulas seriam junto de Thomas. Não que isso fosse ruim, pelo contrário, ele era um cara incrível. Mas a curiosidade era mais forte. Durante as aulas, os meus olhos correram pela sala até encontrarem . Ele estava quieto e emburrado. Já Sally sorria cínica. Suspirei e voltei a atenção para os meus livros.
Thomas me contava piadas e, involuntariamente, eu gargalhava. Mas certo momento ele calou-se.
- O que foi? - Perguntei, confusa.
- Você está assim por causa da Sally? - Sua pergunta me pegou de surpresa. Ajeitei-me na cadeira e encarei-o.
- Mais ou menos, por quê?
- Porque toda a aula você encarou o cadeirante. , certo? - Eu assenti - e, sem querer te magoar, por mais que a cara dele esteja de tristeza, dá para ver que ele é apaixonado por ela - eu baixei minha cabeça, apoiando-a em meus braços - e eu sei como é se sentir assim. Por anos, eu fui apaixonado por ela. E eu tive uma melhor amiga que sempre me disse que ela não me merecia e que eu ia me machucar. Eu era muito novo, totalmente cego pela paixão, e não dei ouvidos a ela. E sofri todas as consequências possíveis. Hoje, arrependo-me, muito. Se eu pudesse voltar atrás no tempo, eu faria tudo diferente. Como resultado, minha amiga se mudou, já que não aguentava me ver na situação que eu fiquei, e Sally me usou de todas as formas. Sei como você está se sentindo agora. Mas não sofra por . Ele vai aprender quando se machucar, por pior que isso seja. Você provavelmente já o alertou, mas nós temos que aprender com nossos próprios defeitos. Uma hora ele abrirá os olhos.
Eu permaneci de cabeça baixa, sem palavras para tudo o que eu havia escutado. Meus olhos ardiam e eu segurava de todos os jeitos as lágrimas. Já estava cansada de chorar, de me rebaixar a tal nível. Respirei fundo.
- Obrigada, eu acho. Não sei o que deu nele, ele simplesmente se entregou a ela, de uma hora para outra.
- Não tem o que agradecer. Acho que um monte de gente já deve ter te dito isso, mas eu estou aqui se você precisar, ok?
Assenti e ele me abraçou de lado. Senti um certo arrepio quando sua pele quente tocou meu corpo frio. Pelo resto das aulas ele tentou me animar, e admito que não foi um total fracasso. Até que eu dei algumas risadas. O intervalo passou rápido também, conversei com e contei tudo o que aconteceu, menos a parte do banheiro. Apresentei a ela o Thomas e ficamos na mesma mesa. As outras aulas se passaram até que o sinal da última aula tocou. disse que faria uma parte do trabalho com e depois me mandaria, para que eu terminasse. Achei até melhor, não estava a fim de encarar . Peguei o telefone e o IM de Thomas. Cheguei em casa, almocei e tomei um banho. Entrei no computador e já adicionei Thomas. Naveguei em alguns sites até que uma janela subiu, fazendo-me sorrir.
"Thomas acaba de entrar."

Segundos depois, uma janela piscou.
Thomas diz: Quanto tempo, não?
diz: HUSHUAISHAUSH, pois é.
Thomas diz: E aí? Está melhor?
diz: Aham, e, mais uma vez, obrigada por hoje (:
Thomas diz: Imagine. Ow, tem alguma coisa no fim de semana?
diz: Não que eu lembre, por quê?
Thomas diz: Vai ter um churrasco aqui em casa. Quer vir? Não quero ser apressado nem nada, mas acho que talvez isso te faça bem. Meus pais são umas figuras.
Meu corpo gelou. "Meus pais". Dei graças a Deus que havia uma tela nos separando. Respirei fundo, seguidas vezes.
diz: Vou ver com minha tia. Amanhã na escola eu te dou uma resposta, ok?
Thomas diz: Claro. Bom, vou sair agora. Vê se melhora, hein? SHDUHSUDHSUD. Até amanhã <3
diz: Pode deixar. Até <33
"Thomas está offline."
Desliguei o notebook e resolvi tirar uma soneca.

(...)
Acordei com o meu celular tocando. Levantei-me calmamente e apanhei-o.
- Alô - minha voz saiu falha e sonolenta.
- Oi - um risinho se manifestou do outro lado da linha -, te acordei, é?
- Acordou. Quem é?
- Meu Deus, a próxima vez não te ligo. - A voz gargalhou. - É a , tonta.
- Ah, desculpe. Trocou de celular?
- Não, o meu foi para o conserto. Estou com o da minha mãe.
- Ah, tá.
- Liguei para avisar que fiz uma parte do trabalho com e te mandei por e-mail para terminar.
- Ah, ok, terminarei hoje mesmo. Obrigada, , quebrou um galhão.
- Imagina. Bom, tenho que desligar. Um beijo.
- Outro, tchau.
Eu desliguei e me joguei na cama, apanhando meu notebook. Abri meu e-mail e, logo em seguida, o arquivo que me mandara. O trabalho estava ótimo. Terminei-o e mandei novamente para .
Desci as escadas e esquentei uma lasanha congelada. Comi rapidamente e voltei ao meu quarto, pegando meu celular. Disquei o número de Thomas. O telefone deu três toques e ele atendeu.
- Olá, aqui é da loja de mostardas da rua 14. O senhor encomendou 1kg de mostarda, gostaria de saber o endereço de entrega.
- ? - Ele riu do outro lado da linha.
- Droga - sussurrei. - Como descobriu?
- Primeiro, porque você é horrível para passar trote, segundo, porque você me deu seu celular e eu já havia gravado no meu. - Ele gargalhou.
- Não é justo. Mas tudo bem, me aguarde.
- Morrendo de medo... Mas, então, por que me liga?
- Sabe, eu lembrei que você comentou comigo que sabia andar de skate... e, bom, eu estou um pouco entediada.
- Hum...
- E eu queria ver você andar de skate - falei, envergonhada.
- Ahá! Sabia que você era caidinha por skatistas! - Ele riu.
- Claro, você pegou no meu ponto fraco.
- Tudo bem. Eu te pego aí na sua casa em dez minutos, pode ser?
- Claro, só tem um problema.
- Qual?
- Você não sabe onde eu moro.
- Você que pensa.
- Ah, você sabe? - Perguntei, confusa.
- Não - ele riu descontroladamente.
- Fazenda . Conhece?
- Aham. Até daqui a pouco. Beijo.
- Tchau.
Desliguei o telefone e abri meu armário. Peguei meu shorts jeans, minha camiseta do All Time Low, meu All Star surrado e me vesti. Prendi meu cabelo num rabo-de-cavalo alto e deixei minha franja de lado. Desci as escadas e me joguei no sofá. Minutos depois, um carro buzinou.
- TIA! VOU SAIR, PROMETO QUE NÃO VOLTO TARDE - gritei enquanto abria a porta.
- TUDO BEM, LEVE SEU CELULAR! - Ela respondeu do andar de cima.
- OK - tranquei a porta e me virei. Assustei com o carro que permanecia em minha frente. Um Porsche preto e nele Thomas estava apoiado. Ele estava vestido devidamente como um skatista.
- Você está linda - ele disse e eu corei - Entre.
Entrei no carro e me acomodei no delicioso banco de couro.
- Você não me disse que era, hum... - estava envergonhada.
- Rico? - Ele complementou - faria alguma diferença?
Neguei com a cabeça. Ele deu partida no carro. Em poucos minutos, já estávamos na pista de skate. Ou seja lá como chamam aquilo.
- Vem - ele disse, abrindo minha porta e pegando em minha mão.
Acompanhei-o. Ele me fez sentar em uma mureta enquanto ele cumprimentava uns caras. Sorri para todos que Thomas fez questão de me apresentar.
- Não ouse piscar os olhos, mocinha. Preste atenção em todos os meus movimentos - ele alertou e eu ri.
Thomas pegou seu skate e seguiu para o meio da pista. Subiu nela e começou a fazer movimentos muito suaves, por sinal. Por mais que ele fizesse manobras radicais, seu corpo seguia o ritmo de uma música calma. Eu estava impressionada com a facilidade que ele se movimentava sobre aquele objeto.
- E aí, gatinha, esse lugar está vago? - Eu desviei minha atenção para o garoto ao meu lado.
- Está, e esse - eu disse apontando para onde eu estava sentada - também ficará se você se sentar aí.
Ele me olhou e sorriu.
- Gosto de garotas assim.
- Pena que não posso dizer o mesmo de você - sorri sem vontade.
Tentei voltar minha atenção ao Thomas, mas o garoto me impedia. Thomas percebeu que ele estava me incomodando e veio em minha direção.
- Ah, que tal você dar uma passadinha lá em casa e eu faço você mudar de ideia ao meu respeito? - Ele me olhou, pervertido.
- Ele está te incomodando, ? - Thomas perguntou, fuzilando-o com os olhos.
- Tudo bem, ele já estava de saída - falei seca e o garoto me encarou sorridente.
- Já estou indo. Mas quando você estiver sem esse seu amiguinho para te proteger, vamos ver quem vai se dar melhor - ele me olhou, malicioso.
- Claro, claro - Thomas se intrometeu - e eu acho melhor você ir logo antes que eu te deixe com um olho roxo, Jared.
- Calma, Thomas. Sua namoradinha é intocável, é? Que desperdício, porque ela é uma delicinha.
E em um rápido movimento, Thomas levou seu punho cerrado à cara de Jared, que caiu ao chão.
- THOMAS! - Jared berrou - VOCÊ ESTÁ FU-DI-DO.
Eu vi que os olhos de Thomas transbordavam ódio.

Thomas narrando on:
Minha mão doía. Eu massageava-a calmamente.
- THOMAS - aquele filho da mãe berrou - VOCÊ ESTÁ FU-DI-DO.
Eu encarei-o nervoso. me olhava assustada. Ela parecia tão... frágil. Como uma perfeita boneca de porcelana. Fechei meus olhos e respirei fundo. Eu era um completo idiota. Violência não leva a nada. Senti alguém me dar um abraço suave. Abri meus olhos e me deparei com o corpo de colado ao meu. Instantaneamente, uma paz me dominou. Meus braços relaxaram e todo aquele ódio, sentido um minuto atrás, não permanecia mais no meu coração. Jared cerrou os dentes como um animal.
- Vocês vão me pagar. Você, Thomas, por me dar um soco. E você, gatinha, por fazer meu amigo se virar contra mim.
contraiu seu corpo. Ela estava assustada, mas nada que a impedisse de se defender.
- Estaremos à espera. Agora, se nos dá licença, temos coisas mais importantes a fazer.
Eu ri, satisfeito. Ela podia ser frágil e de fácil quebra, mas sabia se defender como ninguém. Ela pegou na minha mão e saímos de lá. Entramos no carro e eu dirigi para um parque. Descemos do carro e nos sentamos embaixo de uma árvore.
- Sempre gostei de árvores - ela falou com toda a graciosidade do mundo.
Eu sorri e ela retribuiu.
- Obrigada por me defender - eu mal prestava atenção ao que ela me dizia. Sua beleza me entorpecia. Seus cabelos lhe caíam perfeitamente. Seus olhos eram tristes e intensos. Sua pele era branca e perfeita. Sentia-me um bobo ao seu lado.
- Hum, não ligue para o Jared, ele sempre foi ameaçador. Mas nada vai acontecer, ok?
Ela apenas assentiu. Ficamos um tempo, até que esfriou e eu resolvi levá-la para casa.
Thomas narrando off

Thomas acabara de me deixar em casa. Convidei-o para entrar, mas ele disse que era melhor voltar para casa, já que escurecia. Despedi-me dele e entrei em casa correndo. Fui para o banheiro e tomei um banho demorado. O tempo estava totalmente maluco. Sufoquei-me de casacos.
Deitei na cama, encarando o teto. Comecei a chorar e me senti infantil e irresponsável por isso. Eu estava com medo. Não do Jared, nem da Sally. Eu estava com medo de perder e de magoar Thomas. Porque eu costumo magoar as pessoas que eu mais amo. Costumo magoar quem eu deveria proteger. E, acima de tudo, estava com medo da escuridão. A escuridão da qual eu tentei fugir todos os dias, prendendo-me - ou pelo menos tentando - na realidade. Não adiantaria , Thomas, , nem ninguém ao meu lado naquele momento. Eu estava precisando de uma mãe, de uma família completa. Tentei respirar fundo, mas as lágrimas impediam. Pensei na tesoura, sempre tão convidativa. Não, não hoje. Faria isso pelo Thomas. Faria isso por mim.
Subi as escadas, com as pernas bambas. Entrei no meu quarto e revirei minha bolsa. Apanhei a foto que eu havia pegado antes de vir para esta casa. A foto em que eu estava com os meus pais. Abracei-a contra meu peito. Deixei que as lembranças invadissem minha mente. E - mais eficiente do que a tesoura - aquilo serviu como um analgésico. Meu coração por um instante se sentiu mais quente. Minha mente estava ocupada com coisas boas, ao invés da dor.

narrando on:
Eu não conseguia tirar meus pensamentos de . Eu havia sido um imbecil com ela. Mas seria um imbecil ainda maior se eu não tivesse acabado com nossa amizade. Eu fiz isso porque eu a amo mais do que qualquer outra coisa, e não aguentava vê-la presa a mim. Ela é uma garota tão linda e forte, e tem uma vida maravilhosa pela frente. não merecia perder tempo com um aleijado como eu. Suspirei. Aquilo me parecia certo, mas não era o que eu queria. Eu queria tê-la comigo, agora. Ouvir sua risada aconchegante, sua voz melodiosa. Hoje, vi Thomas junto dela. Senti ciúmes, mas acho que assim será melhor. Ele é um cara legal e pode fazer feliz de um jeito que eu não posso. Apanhei um papel e uma caneta que estavam do meu lado.

",
Você deve estar achando que eu sou um imbecil, repugnante. Pois bem, você está certa. Até certo ponto. Desculpe por te magoar. Mas eu não posso mais ver você presa a mim. Você tem que viver a sua vida com quem realmente possa te fazer feliz, como o Thomas, por exemplo. Eu não tenho condições - nem físicas, nem emocionais - de te fazer alegre. Você merece mais do que eu. Queria apenas que soubesse que tudo o que fiz foi para o seu bem. Eu ainda te amo e acho que esse sentimento vai demorar para passar. Mas quem sabe se cada um seguir seu caminho, tudo não será mais fácil? Não, eu não estou com a Sally. E me arrependi de ter deixado ela te tratar daquele jeito. Mas eu pensei que, se você me visse com ela, seria mais fácil de você me esquecer. Enfim, divirta-se com o Thomas. Ele é um cara legal.
Um abraço desajeitado, ."

Dobrei o papel e escrevi "" de um lado. Encarei o papel por um tempo, até que resolvi sair do meu momento autista e guardar em minha mochila.
narrando off

Eu acordei de madrugada. Para variar, havia dormido depois de tanto chorar. Fui até a cozinha cuidadosamente pegar um copo d'água. No caminho, ouvi tia Meredith falando no telefone. Encostei-me na parede, tentando ouvir o que ela falava.
- Ok, tudo bem - tia Meredith sussurrava -, pode deixar comigo, se depender de mim, tudo vai dar certo. Aham, ok. Vou desligar, um beijo.
Desconfiei de encontrá-la no telefone a uma hora dessas. Bebi água sem fazer barulho algum e voltei para o meu quarto. Voltar a dormir foi o mais difícil, já que a conversa de minha tia ainda martelava minha cabeça.

(...)
O despertador tocou. Levantei assustada. Nunca me acostumei direito a esses aparelhos. Esfreguei meus olhos e fui ao banheiro escovar meus dentes. Tomei um banho e vesti uma roupa qualquer. Tomei café e Meredith me levou à escola. Resolvi não perguntar sobre a conversa de algumas horas antes. Afinal, isso era assunto dela. Chegando à escola, desci do carro e entrei correndo na direção da minha sala.
Quando cheguei, acomodei-me em minha carteira e botei meus fones de ouvido, deixando que a música tomasse conta de mim, abafando todos os gritos dos alunos histéricos. Eu batucava na mesa no mesmo ritmo da música. Aquilo sempre me alegrava. Os alunos gritavam cada vez mais alto e eu aumentava cada vez mais a música.
- Ei - senti alguém tirando meus fones de ouvido -, desse jeito você vai ficar surda.
Olhei para cima e encontrei Thomas. Seus cabelos estavam bagunçados sob um boné azul escuro. Sua roupa estava amassada.
- Esqueceu de pentear o cabelo e de passar a roupa? - Ri.
Ele tirou o boné e entrelaçou seus dedos em seus leves cachos.
- A roupa está assim porque eu dormi no carro - ele riu, convencido -, e, bom, eu gosto do meu cabelo assim, dá um ar de marmanjo.
- Parece um mendigo - eu gargalhei -, mas tudo bem. E sua mão, está melhor?
- Está sim, apesar de o Jared ter uma cara dura - eu sorri. - Mas, e você, como está?
- Ah, poderia estar melhor.
Ele nada disse, apenas sentou-se e me abraçou de lado.
Alguns minutos se passaram até ele abrir a boca novamente.
- O professor mudou o mapa de sala. Agora eu sentarei ao seu lado até o fim do ano. Espero que seja uma garotinha muito boazinha - ele sorriu, entrelaçando suas mãos e passando-as por seu pescoço, deixando-as lá.
- Sim, senhor - o professor entrou e começou sua aula de um jeito bem animador, devo dizer. Thomas e eu conversávamos animadamente.
- Mas, então, o que te levou a andar de skate? - Eu perguntei curiosa.
- Ah, meus pais costumavam, antes de se separarem, brigar muito. Até um dia que eu não aguentei e tive que sair de casa. Não fugi de casa, apenas fui andar um pouco para colocar meus pensamentos no lugar. E aí eu passei pela pista de skate. Ainda tinham alguns meninos, apesar do horário. Um deles me chamou e me convidou para andar de skate. E, a partir daquele dia, eu passava no mesmo horário, todos os dias, na pista. Fui juntando dinheiro e comprei meu skate. Depois, nunca mais larguei. É um jeito de me deixar longe de casa.
- Ah, achei que você tinha descoberto seu talento e resolveu praticar - eu ri.
- Isso também - ele sorriu convencido.
- Acho que eu ainda não encontrei o meu talento - disse, remexendo meu lápis.
- Você quer ajuda com isso, ?
- Ah, não sei. Acho que sim. Mas como vai fazer isso?
- Bom, o que você gosta de fazer?
- Eu gosto de ouvir música.
- Já tentou tocar algum instrumento?
- Já - ri, lembrando da minha tentativa de tocar violão -, mas não é que me dei muito bem.
- Qual instrumento?
- Violão.
- Tente outro instrumento.
- Sabe, eu sempre tive vontade de tocar piano.
- Aí está, ! Piano.
- Mas não dará certo.
- Por quê?
- Porque eu não tenho dinheiro suficiente para pagar um professor - eu disse envergonhada.
- Você vai conseguir - ele sorriu meigamente.
- Obrigada pelo apoio, Thomas.
- Que é isso, não precisa agradecer. Me chame de Tom.
- Ok.
- Ei, mudando um pouco de assunto, que dia é seu aniversário?
- Daqui a exatamente um mês - eu fiz uma careta.
- Por que essa careta, não gosta de aniversários?
- Na verdade, eu não tenho boas lembranças do meu último aniversário.
- O que aconteceu?
- Meus pais... morreram no dia do meu aniversário.
- Ah, sinto muito.
- Ah, tudo bem, acho que estou lidando melhor com isso.
Ele apenas sorriu.
- Sr. Branditt e Srta. , querem compartilhar sua conversa animadora conosco? - O professor nos interrompeu.
- Desculpe-nos - eu e Thomas dissemos.
A aula seguiu entediante. Quando o sinal do recreio tocou, todos saíram correndo. Sally conversava animadamente com . Bufei e saí da sala. Fui em direção ao meu armário, guardar alguns livros. Thomas havia ficado para trás para conversar com alguns amigos. Girei o botão, inserindo minha senha. O armário deu um clique e abriu. Guardei meu material e peguei o livro de Sociologia. A próxima aula. Percebi um papel do lado direito que continha meu nome. Apanhei-o e tranquei meu armário. Segui pelo corredor até o gramado do colégio. Sentei embaixo de uma árvore. Por incrível que pareça, minha paixão por árvores não diminuiu depois do acidente dos meus pais. Abri lentamente a carta e comecei a lê-la.

",
Você deve estar achando que eu sou um imbecil, repugnante. Pois bem, você está certa. Até certo ponto. Desculpe por te magoar. Mas eu não posso mais ver você presa a mim. Você tem que viver a sua vida com quem realmente possa te fazer feliz, como o Thomas, por exemplo. Eu não tenho condições - nem físicas, nem emocionais - de te fazer alegre. Você merece mais do que eu. Queria apenas que soubesse que tudo o que fiz foi para o seu bem. Eu ainda te amo e acho que esse sentimento vai demorar para passar. Mas quem sabe se cada um seguir seu caminho, tudo não será mais fácil? Não, eu não estou com a Sally. E me arrependi de ter deixado ela te tratar daquele jeito. Mas eu pensei que, se você me visse com ela, seria mais fácil de você me esquecer. Enfim, divirta-se com o Thomas. Ele é um cara legal.
Um abraço desajeitado, ."

Não, não, não. Eu não derramaria lágrimas por aquilo. Respirei, para variar, seguidas vezes. Encarei o céu. Tão azul, tão imenso. Ao longe, vi . Ele estava sozinho e arrasado. Aquilo me fez perder as forças. Eu nunca fora forte o suficiente. Abracei meus joelhos e baixei minha cabeça. As lágrimas escorriam intensamente. Tudo que eu queria naquele momento era apertar um botão de "desligar" da minha vida. Eu não suportaria tudo isso, não sozinha.
Levantei-me, decidida. Fui em direção de . Ele me encarava triste. Mostrei-o a carta.
- Olha, eu não sei de onde você tirou a ideia de que tudo isso que você fez comigo, de algum jeito, me faria bem. Você não sabe o quanto estou sofrendo por te ver ao lado dessa... dessa vadia. E se você realmente estivesse arrependido de estar do lado dela, você a largaria. Você não fez isso por mim, você fez isso por ela. Pela Sally. Eu não estou te trocando pelo Thomas, pelo contrário. Ele é um cara incrível comigo, está me apoiando. Mas isso não significa que eu não queira mais você, que eu não queira mais a sua amizade. Poxa, , eu te amo - eu estava rouca. Ele estava de cabeça baixa. - Não fale nada. Só pense se é isso mesmo que você quer. Porque, se for, você não precisa escrever essa carta para mim. Eu mesma me distancio de você, se é isso que você quer - ele me encarou. Seus olhos lacrimejavam.
- Aff, garota, se toca - Sally apareceu por trás dele -, quem disse que ele quer ser sua amiga?
- Bom, , quando você se resolver você venha falar comigo - eu disse, ignorando-a e deixando os dois para trás. Corri pelo corredor, angustiada. Entrei na sala e sentei em minha mesa, apoiando minha cabeça nela. Thomas estava lá, copiando a matéria que estava na lousa.
- Ei, ei - ele me abraçou -, o que aconteceu?
Eu entreguei a carta a ele, que leu em silêncio.
- Ele vai mudar de ideia... assim como eu mudei - ele sussurrou em meu ouvido. - Você quer ir embora? Eu te levo.
- Aham - eu assenti, ainda chorando.
Ele se levantou e guardou o seu e o meu material. Coloquei minha mochila nas costas e ele me abraçou de lado, segurando-me firme. Ele sabia que a qualquer momento minhas pernas falhariam. Eu apoiei minha cabeça em seu ombro. Saímos de fininho da escola. Não ligaria para minha tia só para preocupá-la. Em casa, conversaria com ela. Thomas levou-me até um parque um pouco distante da escola. O parque era cheio de árvores, arbustos e pássaros. Ele me guiou até um tronco de árvore e me colocou sentada nele. Logo depois, sentou-se ao meu lado.
- Desculpe - falei, secando as lágrimas.
- Pare de ser tonta, você sabe que não tem culpa - ele disse calmo.
- É que eu sou um fardo para todo mundo. Um problema. Estou sempre chorando, reclamando. Nem eu aguento a mim mesma!
- Todos um dia choramos e reclamamos. Você não é um fardo por isso. Mas vamos esquecer tudo isso. Venha, quero te mostrar uma coisa.
Ele me puxou pela mão. Entramos na pequena mata do lado do parque. Andamos um pouco até que chegamos a uma grande árvore na qual situava-se uma escadinha.
- Venha, siga-me - ele disse, subindo a escada. Segui-o. Passamos por algumas folhas e foi aí que eu vi. Era uma casinha na árvore. Meu sonho desde pequenininha.
- Uau - eu estava maravilhada -, nem dá para ver de lá de baixo.
- Eu sei - ele disse convencido -, eu que construí. Junto de meu pai, quando eu era pequeno.
Era incrível. Simples, arrumada e bem interessante.
- Eu costumo vir aqui quando não estou a fim de encarar as pessoas.
- Nossa, eu estou sem palavras - eu ri.
- Vem, sente aqui.
Ele me puxou para um banco. Sentamos juntos.
- Olha, eu sei que isso pode ser um pouco precipitado - Thomas disse, tirando-me do meu transe - eu conheço você há muito pouco tempo, mas eu preciso te dizer isso. Se você não concordar, tudo bem.
- Você está me assustando, Tom - eu ri nervosa.
- Olha - ele disse, pegando minha mão -, eu te acho uma garota incrível. Sabe, você é magoada por muita gente e mesmo assim, apesar de chorar, tem um sorriso no rosto. Eu admiro você e o jeito que você fica feliz por coisas simples. Sabe... eu acho que eu estou me apaixonando por você - ele disse meio sem jeito.
- Olha, Tom - eu comecei, mas fui interrompida.
- Não, espere. Eu sei que você gosta do , está na cara isso. Mas, mesmo assim, eu acho que a gente podia tentar algo mais. Quem sabe dá certo?
- Tom, você também é um cara incrível. Poxa, você me ajuda, me apóia, mesmo a gente se conhecendo há pouco tempo. Mas eu acho que pode ser cedo demais para dar um passo a mais.
- Tudo bem, mas eu prometo que vou no seu ritmo. Me dê uma chance - ele implorou.
- Olha, eu não sou o tipo de garota que sai por aí beijando qualquer um. Aliás, eu me apaixonei por poucos garotos na minha vida - eu disse um pouco indignada.
- Eu sei, eu sei. É por isso que eu gosto tanto de você. Você é diferente, é especial - ele falou, mexendo na mecha de cabelo que caía sobre meus olhos. - E então, me dá uma chance?
- Eu te amo, sim. Você me conquistou em tão pouco tempo, sabe. Mas eu te amo como amigo. E acho maldade da minha parte te namorar sem ter outro sentimento por você.
- Mas eu sei disso. E estou disposto a terminar com você se não der certo. Vamos tentar, quem sabe.
Eu suspirei. Ele havia me convencido.
- Ok, mas nada de amassos, ficou claro?
- Sim - ele disse, colocando a mão na testa no sentido de general. Eu ri e ele me abraçou.
- Eu vou te conquistar, você vai ver - ele sussurrou no meu ouvido. Senti um arrepio. Eu não havia sido verdadeira com ele. Eu não gostava de Thomas só como amigo. Eu estava dividida entre e Thomas. Os dois mexiam comigo mais do que eu gostaria. Suspirei mais uma vez. Ele estava muito, mas muito perto de mim. Eu não sabia o que fazer e então fiquei imóvel. Ele se aproximou lentamente até tocar meus lábios. Ele me envolveu num beijo calmo. Thomas passava suas mãos por minhas bochechas em movimentos circulares. Passei meus braços por seu pescoço. O beijo foi se intensificando. Ele pediu passagem para língua e eu cedi. Ficamos um tempo nos beijando até que eu lembrei que eu precisava respirar.
- Obrigado por me dar uma chance - ele sorriu e terminou me dando um selinho.
Eu apenas assenti. Ele se levantou, puxou minha mão, levantando-me também, e me abraçou por trás. Um abraço carinhoso.
- Obrigada por me entender - sorri tímida.
- Vem, melhor voltarmos para a escola. Assim você não precisará dar explicações a sua tia.
- Ok.
Saímos da casa na árvore, caminhamos de mãos dadas pelo gramado do parque e chegamos no carro. Ele abriu a porta para mim e eu entrei. Um perfeito cavalheiro. Ele deu meia volta e se acomodou no carro. Deu partida nele. O caminho até a escola foi silencioso.
- Garota, onde você estava? - me perguntou assim que entrei na escola.
- Depois te explico. Vamos, já perdi uma aula, não quero perder outra.
, Thomas e eu seguimos até a sala. Sentamos em nossos respectivos lugares. Pela primeira vez, meus olhos não rolaram pela sala à procura de . Pela primeira vez, eu não estava desesperada em vê-lo. Eu sabia que ele tomaria sua decisão e falaria comigo.
O professor nem notou nossa presença. Começou a aula, entediante como sempre.
- E então, como está sendo a primeira aula junto com o namorado? - Thomas me perguntou sorrindo.
- Muito boa - eu ri constrangida.
- Você está vermelha - ele riu, passando suas mãos em minhas bochechas.
- Pare! - Eu ri - devo estar um pimentão.
Ele assentiu e voltamos a olhar para o professor antes que ele nos chamasse a atenção.
Depois de duas aulas longas, o sinal tocou, indicando o fim do dia. Arrumei meu material e vi vindo em minha direção.
- Oi - ele disse meio cabisbaixo.
Thomas me olhou e eu fiz um sinal para que nos deixasse sozinhos. Ele saiu e me encarou.
- Eu pensei um pouco no que você falou - ele entrelaçou a mão, como sempre fazia quando estava nervoso - e eu percebi que você está certa. Não tem por que eu me afastar de você só porque eu não presto.
- , você sabe que não é assim. Poxa, você é muito importante para mim.
- Mas isso não faz de mim uma pessoa boa. De qualquer jeito, eu quero voltar a ser seu amigo, seu confidente, seu companheiro. Porque esses dias que eu fiquei longe de você, foram os piores da minha vida - ele sorriu - e então, amigos?
- Sempre - sorri e demos nossos dedinhos, como duas crianças fazendo as pazes - já que somos amigos de novo, hoje eu estava pensando de assistir um filme lá em casa. Eu, você, e Thomas.
- Eu adoraria. Posso levar a pipoca? - Ele riu.
- Fique à vontade. Bom, te vejo mais tarde então?
- Vemo-nos mais tarde - eu abaixei, beijei sua bochecha e saí da classe.
Encontrei Thomas me esperando no portão. Sorri e corri ao seu encontro.
- E então, como foi? - Ele perguntou, abraçando-me por trás.
- Em público não, Tom, não ainda - eu disse, tirando delicadamente suas mãos de minha cintura. Ele resmungou alguma coisa e ficou emburrado.
- Não faz bico, não - eu disse, remexendo seus lábios - ah, foi bom. Ele percebeu que eu estava certa. Voltamos a ser amigos - dei um sorriso radiante - e chamei ele para ir em casa, assistir um filme, junto com você e a .
- Tudo bem - ele sorriu.
- Mas queria te pedir um favor - olhei calma para ele.
- Por você, tudo, minha princesa.
- Uau - eu ri -, queria pedir para não me abraçar, beijar ou dar qualquer outra demonstração de afeto na frente de . Tudo bem?
- Mas por quê?
- Porque acabamos de fazer as pazes. Cada coisa em seu tempo. Eu vou contar para ele quando eu achar que é a hora certa.
- O que eu não faço por você, né? - Ele sorriu e eu vi que Meredith havia chegado.
- Obrigada, Tom - beijei sua bochecha e segui para o carro.

Capítulo 12 : I’m here. Here with you.

Entrei no carro e Meredith me encarou sem nada dizer. Ela estava triste e acabada.
- Está tudo bem, tia? - Perguntei cautelosamente.
Ela negou com a cabeça.
- O que aconteceu?
- João.
- O avô do ?
Ela assentiu.
- O que foi? Estou ficando preocupada.
- Ele... ele está no hospital. Teve um derrame. Os médicos não sabem dizer se ele sobreviverá - lágrimas rolavam por suas bochechas rosadas.
- Calma, tia - eu abracei-a de lado -, vai ficar tudo bem. Você vai ver. E o , como está?
- Ele ainda não sabe. Alda contará a ele assim que ele chegar em casa.
- Aquele seu telefonema de madrugada teve alguma coisa a ver com isso?
- Não - ela me encarou assustada -, não sabia que você tinha me ouvido.
- Eu fui beber água e vi você no telefone.
- Alda me ligou para falar sobre você e . Ela disse que ele andava triste e que queria reatar vocês. Eu me dispus a ajudar.
- Hmmm.
- Mas isso não importa agora. Vamos almoçar e depois vou dar uma passada no hospital. Você vem comigo?
- Claro. Acho que preciso dar uma força a .
- Legal de sua parte.
Eu sorri. Quando tudo parecia ir bem, o destino sempre tinha que estragar. Suspirei. Quando chegamos em casa, corri para o banheiro e tomei uma ducha rápida. Desci as escadas, almocei e fomos para o hospital. Alda e estavam lá. Abracei Alda. Ela tremia muito.
- Vai ficar tudo certo, eu prometo. - Sorri para ela.
- Obrigada por vir, querida - ela sorriu cansada.
- Estou a disposição. Qualquer coisa que você precisar, é só me pedir.
- Obrigada.
Aproximei-me de . Seus olhos estavam inchados e vermelhos.
- Achei que você não viesse - ele suspirou.
- Acho que alguém está precisando de um ombro amigo - sorri.
- Muito - abaixei e abracei-o com certa dificuldade. Beijei sua bochecha e cochichei em seu ouvido - seja forte. Sua avó precisa de você mais do que nunca. E não esqueça que eu estou aqui para tudo. Ok?
Ele assentiu, respirando fundo.
- Não sei como te agradecer, .
- Não precisa. Acho que uns doces da sua avó podem recompensar - eu ri e ele me acompanhou.
Puxei uma cadeira e me sentei ao seu lado.
- E então - eu falava bem baixo -, você continua treinando?
- Hã?
- Treinando levantar da cadeira e andar um pouco.
- Ah, sim! - Ele disse orgulhoso - consigo dar uns passos. Você precisa ver. Vai ficar orgulhosa de mim.
- Tenho certeza disso. , eu preciso te contar uma coisa. Mas não acho que seja o momento ideal.
- Pode falar. Quero lidar com todos os problemas hoje. Nada amanhã.
- Bem, quando estávamos brigados, eu e Thomas ficamos mais íntimos. Ele me apoiou e me incentivou a falar com você. E, bem, acho que um sentimento nasceu dentro de mim. E estamos namorando.
Ele me olhou decepcionado.
- Eu sabia que isso aconteceria algum dia. Fico triste porque eu te amo e queria estar no lugar dele. Para poder te fazer feliz. Mas sei que ele pode fazer isso melhor do que eu. Espero que vocês sejam felizes, mesmo - ele sorriu.
- Obrigada, . Está sendo duro para mim. Eu também te amo. Mas te ver com a Sally, tratando-me daquele jeito, quebrou-me o coração. E quem estava do meu lado para juntar os cacos?
- Está certo. Desculpe-me por aquilo, de coração. Nunca deveria ter feito você passar por aquilo. Sou um idiota.
- Um grande idiota - eu sorri. - Tudo bem, , todos nós cometemos erros.
Alda conversava com Meredith. Ambas eram belas mulheres, mas destruídas pelo tempo e pelo cansaço. Rugas e olheiras tomavam conta das duas faces. Aquilo me fez pensar se todas as mulheres fortes e guerreiras ficariam assim algum dia.
ainda me encarava com os olhos vermelhos.
- Se um dia eu voltar a ser o que você conheceu no seu primeiro dia de aula, e os nossos sentimentos permanecerem os mesmos, será que eu teria uma chance com você?
- Quem sabe, , quem sabe.
Pouco tempo depois, um médico aproximou-se. Ele estava exausto e decepcionado. Senti um arrepio. A mesma cena do meu acidente. Um médico cabisbaixo sem boas expressões. Rezei para que fosse apenas viagem minha. Em vão.
- Vocês são os parentes do Sr. João?
- Sim - respondemos em coro.
- Melhor se sentarem - ele alertou calmamente.
Alda encarou-me nervosa. Cheguei perto dela, apertei sua mão e ajudei-a a sentar em uma cadeira. Sua respiração estava pesada.
- O Sr. João teve um derrame, como já havíamos informado. Levamo-lo à cirurgia para recuperar tudo que conseguíamos. Mas o sangue já afetara o cérebro. A área infectada foi uma área importante. O Sr.João não andará e nem falará mais. Porém, ele entende tudo e todos do mesmo jeito que antes. Preciso que todos permaneçam calmos e ajudem-no a superar tudo isso.
Alda tremia. Apertei mais sua mão, logo depois a abracei.
- Ele não deixou de ser seu anjo. Ele ainda está aqui, entre nós. Ele te ama. E talvez essa seja sua chance de retribuir tudo o que ele fez por você. Seja o anjo dele. Seja a pessoa que ele precisa neste momento. Seja forte.
Ela me abraçou com força. Ela me entendera e concordara comigo. Era sua chance de provar seu amor. Ela levantou-se com a minha ajuda. Meredith, Alda, e eu seguimos o médico até o quarto. João estava inconsciente numa maca.
- Ele ficará bem. Só precisará tomar alguns remédios para manter seu temperamento normal. Mandaremos uma enfermeira para acompanhar o progresso de João. - O médico explicou.
- Tudo bem. Quando é que ele vai acordar? - Eu perguntei no lugar de Alda.
- Em uma ou duas horas. Melhor deixar ele descansar. Vocês deviam fazer o mesmo - ele sorriu confortante.
- Alda, vá para casa com . Descansem um pouco. e eu ficamos aqui e qualquer coisa te ligamos - Meredith disse, afagando os cabelos de Alda.
- Eu gostaria de ficar. Não estou tão cansado. Vá você com minha vó, Meredith. Ela precisará de você - ele sorriu.
- Ok, então. Vamos, Alda. Qualquer coisa, liguem-nos, crianças.
- Pode deixar - respondemos juntos.
Alda e Meredith saíram da sala de espera e foram ao estacionamento. aproximou sua cadeira de mim.
- Você ainda está chateada comigo?
Eu encarei-o, sorrindo.
- Não, , não estou.
- Obrigado por tudo isso - ele sorriu sem graça.
- Conta comigo. Ei, vou pegar alguma coisa para beber. Quer também?
- Não, obrigado.
Levantei-me devagar e fui em direção da máquina de refrigerante. Inseri umas moedas e logo uma lata caiu. Apanhei-a e tomei com vontade. Voltei ao meu lugar e ofereci a . Ele não quis. Estava preocupado demais para comer ou beber algo. Estava preocupado demais para sorrir.
- Vai ficar tudo bem. Ele vai superar.
- Eu sei, . Mas eu também sei como é difícil ter uma vida assim. Limitada. Você não pode dar um passeio no bairro sozinho. Meu avô sempre foi muito ativo. Não sei como ele vai reagir a tudo isso.
- Ajude-o. Mostre que andar não é tudo. Muito menos falar. Podemos expressar o que sentimos de outro jeito. Podemos nos locomover nos sonhos. E por mais difícil que seja, ele entenderá que se você suporta essa vida, ele também suportará.
- É, quem sabe. Mas e se ele não quiser mais viver? No começo, eu não via motivo de viver. Sério mesmo. Eu acordava e para tudo eu precisava de ajuda. Eu aguentei porque pensava que um dia melhoraria. E eu estava certo. Melhorou porque você apareceu na minha vida. Sabe, quando tudo parecia perdido, você apareceu como um anjo. Você pode pensar que eu sou um idiota por ter te tratado daquele jeito. Mas é porque eu te amo. E eu não sei lidar com esse sentimento. Nunca precisei lidar com ele. E eu estou dando o meu máximo. Estou tentando mostrar o quanto você significa para mim. Mas parece que sempre que eu quero melhorar, eu pioro. Nada dá certo quando se trata de amor. Não para mim.
Ele me encarou e meus olhos se encheram de lágrimas.
- Não torne isso mais difícil para mim, . Você pode não entender o motivo de eu estar com Thomas. Mas eu realmente o amo. E você está mexendo comigo. Não faça isso.
- Você o ama tanto quanto a mim? - Sua pergunta fez meus sentimentos se confundirem mais ainda. Eu não tinha uma resposta. Não para aquela pergunta.
Eu abaixei a cabeça, envergonhada. Afinal, o que eu responderia a ele? "Não sei, eu não tenho certeza. Sou uma pessoa indecisa e inútil"? Não, eu não responderia uma idiotice dessas. Ele me encarou decepcionado.
- Eu sabia - ele sussurrou mais para si mesmo.
Rolou suas mãos sobre sua cadeira de roda e desapareceu pelo extenso corredor do hospital. Bufei e joguei minha cabeça, encostando-a na parede. Meu celular vibrou e o toque denunciou quem era. Thomas.
- Oi, Tom - minha voz saiu arrastada e baixa.
- Oi, , aconteceu alguma coisa?
- Mais ou menos - suspirei.
- Quer me contar o que aconteceu?
- Não. Pelo menos, não agora.
- Tudo bem. Só liguei para saber se o filme de hoje ainda vai rolar.
- Nossa - disse, colocando a mão em minha testa -, eu esqueci completamente. É que o avô do está no hospital e minha tia é muito amiga da família dele. Estou aqui dando uma força. Ou pelo menos tentando.
- Você e estão sozinhos?
- Eu, ele e todo o hospital - ri sem humor.
- Estou falando sério, .
- Por quê? Qual o problema de eu estar com um grande amigo meu dando uma força?
- Porque ele não é apenas um amigo para você.
- Não foi você mesmo que me incentivou a conversar com ele?
- Sim. Mas não imaginei que chegaria a esse ponto.
- Que ponto? Eu estou ajudando um amigo. Quer o quê? Que eu o largue aqui sem um ombro amigo?
- Não seria uma má ideia.
- Não acredito que você está me dizendo isso. Você não me largou sozinha quando eu mais precisei, largou?
- Não.
- Então, farei o mesmo que você.
- Mas eu te ajudei porque eu tinha segundas intenções.
- Eu estou ouvindo isso mesmo? Você me ajudou porque queria que eu te namorasse?
- Não foi isso que eu quis dizer.
- Foi o suficiente.
- Não, , você sabe que eu te amo.
- Eu pensava que sim. Olha eu tenho que desligar. O assunto acabou.
Desliguei o celular. Ele não me encheria mais. Não hoje. Impressionante como tudo deu errado. João, e Thomas. Tudo no mesmo dia. Minha sorte é demais.
Passei alguns minutos sentada, sozinha, em silêncio. Não sei quantas coisas passaram em minha cabeça. Comecei a sentir um vazio no peito. Por que as pessoas que eu sempre amo tendem a se afastar de mim? Olhei em volta. Aquele hospital, os barulhos de aparelhos começaram a invadir minha cabeça. Meus braços começaram a tremer, meus olhos, a lacrimejar, e meu coração, a pulsar rapidamente. Perdi o controle dos meus sentimentos. Tentei respirar fundo. Mas não fora suficiente. E então eu desabei em lágrimas. E dessa vez não havia , Thomas, nem Meredith para me segurar, apoiar-me. Eu estava só e era assim que deveria ser. Eu causei a morte dos meus pais e deveria morrer isolada, sozinha, rejeitada. Que diabos eu estava pensando quando tentei viver normalmente? Com um namorado, um melhor amigo, escola... Eu que deveria ter morrido, não meus pais. Eu queria ir embora, mas minhas pernas não me obedeciam. Afundei minha cabeça em meus joelhos. E aquela sensação só ficava pior. Até que comecei a ouvir vozes, culpando-me.
"Você não se contenta em acabar com a vida dos seus pais? Sempre quer mais, né? , Thomas, , e até mesmo a Sally. Já pensou que se você tivesse morrido no acidente, todos viveriam melhor? Sem um peso nos ombros? Sem ter que cuidar e apoiar a garotinha problemática?"
Balancei minha cabeça tentando afastar aquela voz. Mas ela ficava cada vez mais intensa, cada vez mais perto.
"Por que você não os deixa em paz? Por que você tem que estragar a vida de todos?"
Eu os amo. Mais do que minha própria vida.
"Então, se você os ama tanto assim, deixe que eles vivam. Sejam felizes. Porque com você do lado deles, isso anda meio impossível."
Eu não sei viver sem eles.
"Mas eles sabem viver sem você. Largue-os. Mostre que você os ama a ponto de deixá-los."
Eu assenti com a cabeça. Qualquer que fosse o objetivo daquela voz, ela me convencera. Ela estava certa. Eu não merecia amigos como eles. Eu ainda estava aos prantos quando apareceu. Lindo, como um anjo, em sua cadeira. Ele estava cansado e triste, tudo por minha causa.
- Eu vou embora - avisei-o e fui em direção à porta.
- E se eu te pedir para que fique? - Ele falou rouco.
- Não. Eu já estraguei sua vida o suficiente. - Anunciei enquanto as lágrimas ainda mantinham posse do meu rosto.
- Pelo contrário, você a melhor coisa que aconteceu na minha vida. E se há alguém aqui que anda errando, sou eu.
- Não, . Eu nunca deveria ter entrado na sua vida.
- Você se arrepende de ser minha amiga?
- Nunca. Eu me arrependo de machucar todos. Machucar as pessoas que eu mais amo.
- E você acha que indo embora você vai resolver alguma coisa?
- Se eu amo vocês, preciso deixá-los.
- Você acha que eu ficarei bem sem você? Que Thomas aceitará sua ida? Que deixará sua única amiga ir? E quanto a Meredith?
Eu assenti.
- Eu não sei viver sem vocês. Mas vocês sim. Vocês viverão bem melhor sem a garota problemática.
- De onde você tirou tanta bobagem?
- Do meu coração.
me encarou com seus olhos castanhos. Aproximou-se com sua cadeira.
- Nem sempre você precisa seguir seu coração.
- Vai ser melhor assim.
- Sabe, aquele dia que você me viu levantando da cadeira, lá na sua casa, eu realmente não sei o que me deu. Eu menti. Eu nunca havia feito aquilo. Porque eu tinha medo de não conseguir. E de me magoar com isso. Sempre fui tão covarde. Mas aí você apareceu e me mostrou que eu não era o único a sofrer. E isso me deu vontade de mostrar para o mundo que eu não era mais aquele covarde fracote. Eu queria mostrar para você que eu te amava.
- Você está enganando a si mesmo, .
- Eu? E o que você está fazendo? - Ele me encarou e passou a mão sobre os meus cabelos. - Eu só não vou te beijar nesse instante porque você tem um namorado. E eu não gostaria de receber um tapa na cara - ele sorriu brincalhão.
E então ele levantou, com certa dificuldade, da cadeira de rodas. Deu um passo e se jogou no banco ao lado do meu.
- Eu não seria capaz de fazer isso se você não estivesse aqui do meu lado.
Eu deitei minha cabeça em seu ombro. E ele começou a cochichar uma música lenta em meus ouvidos.
- Here's a song, for the nights I think too much, and here's a song for when I imagine us together. Here's a song for when we talk too much and I forget my words. Heaven can wait up high in the sky, it's you and I... I'm yours tonight. Lay your heart, next to mine, I fell so alive, tell me you want me to stay, forever, 'cause Heaven can wait. Here's a song for the one who stole my heart and ran so far, that cupid couldn't catch her... Here's a song for the nights I dream too much... Heaven can wait. (Aqui está uma canção para as noites que eu penso demais, e aqui está uma canção para quando eu nos imagino juntos. Aqui está uma canção para quando nós conversamos demais e eu esqueço minhas palavras. O Paraíso pode esperar lá em cima no céu, é você e eu... Eu sou seu essa noite. Deixe seu coração perto do meu, eu me sinto tão vivo, diga que você quer que eu fique para sempre, porque o Paraíso pode esperar. Aqui está uma canção para aquela que roubou meu coração e correu para tão longe que o cupido não pôde pegá-la... Aqui está uma canção para as noites que eu sonho demais... O Paraíso pode esperar.)
E então ele me abraçou forte. Como nunca antes. Ele queria que eu ficasse. Ele me queria.
- Não vá embora, por favor. Eu não sei viver sem você, não mais.
- Eu precisava ouvir isso. Eu também não sei, .
- Eu te amo, . Mais que tudo.
Eu não respondi. Ele não precisava da minha resposta. Ele sabia o que eu sentia por ele. E era o necessário para aquele momento.
- Obrigada.
Foi só o que consegui pronunciar. E pareceu ser o bastante.

Capítulo 13 : One year, two lives, one decision.


João já havia saído do hospital e eu o visitava todos os dias à tarde. estava ajudando-o todos os dias. Estou dizendo essas coisas porque eu quero manter minha mente distraída. Hoje, completará um ano da morte de meus pais. Um ano do pior aniversário da minha vida. Avisei a Meredith que não queria presentes, festa e nem um "parabéns". Ela me entendeu e prometeu não me lembrar desta data. Na escola, ninguém veio me parabenizar. Agradeci mentalmente por isso. Voltei para casa, troquei-me, almocei e fui para casa de .
- Boa tarde, Alda - abracei-a.
- Boa tarde, - ela beijou meu rosto. - João e estão a sua espera.
- Ok.
Segui pelo gramado até o lago em que sempre encontrava os dois. e João estavam em suas cadeiras.
- Boa tarde, garotos da minha vida - sorri radiante ao vê-los.
guiou sua cadeira em minha direção.
- Hoje, tive uma sensação estranha, sabe. Achei que você não viesse.
- Seu bobo - sorri -, eu sempre venho e sempre virei.
Ele sorriu, confortado.
- Venha. O dia está lindo hoje.
Assenti e segui-o. Aproximei-me de João e dei um beijo em sua bochecha. Ele sorriu, alegre como uma criança. Eu adorava essa magia que via em seus olhos e em seu sorriso.
- Trouxe uma surpresa para você, João. - Disse, pegando um pote em minha mochila. - Mas você precisa prometer que não vai contar a Alda, certo? Vai ser um segredo nosso.
Ele assentiu rapidamente, com toda a graciosidade.
- Feche os olhos e abra a boca - eu disse e ele obedeceu. Abri o pote e, com uma colher, coloquei o manjar de coco, o preferido de João, em sua boca. Ele suspirou.
- Hummmm - ele gemeu e eu ri.
- Você acertou em cheio - comentou.
- Que bom - sorri radiante.
Ficamos em silêncio encarando o lago. E foi assim por vários outros dias, meses. O baile de formatura estava chegando. E eu estava animada por acabar logo com o ensino médio. Eu e Thomas havíamos terminado por ambas as partes. Continuamos amigos. Bons amigos. E eu acho que ele e estavam num clima bem romântico. Finalmente, tudo estava se ajeitando. Alda já aceitara a situação de João, estava sendo um neto e tanto e eu, bem, eu já decidira que viveria o resto da minha vida nesta cidade. Com as pessoas que amo. Não iria mais embora. Porque eu tenho medo de nunca mais ver essas pessoas. As que me fazem feliz.

- Ei - me chamou -, está brisando, é?
- Desculpe - eu sorri.
- Eu disse que tiramos 10 no trabalho que fizemos juntos.
- Parabéns para nós - levantei a latinha de refrigerante e todos nós fizemos um brinde.
- , eu preciso falar com você por um minuto - Thomas disse.
- Claro - respondi, levantando-me.
- Então - ele começou quando nos afastamos da mesa. - Eu gostaria de pedir a em namoro. E quero saber se tudo bem para você...
- Mas é claro, né, Tom. Você é um dos meus melhores amigos e ela também. Acho que vocês combinam - sorri.
- Obrigado, - ele me abraçou rapidamente e voltamos para a mesa.
- , venha. Vamos dar uma volta. Preciso tomar um ar - disse e pisquei para Thomas. Deixaria os dois sozinhos.
- Que foi? - perguntou desentendido quando estávamos do lado de fora do salão.
- O Tom vai pedir a em namoro - eu sorri, orgulhosa.
- Hum - seguimos para o gramado e sentei embaixo da árvore. já conseguia levantar da cadeira de rodas e dar vários passos.
Ele levantou-se da cadeira e deu uns três passos até sentar-se, desajeitado, ao meu lado.
- Estou orgulhosa de você - beijei sua bochecha.
- Eu também - ele sorriu. - Sabe, tudo está dando certo agora, né?
- Hum?
- Ah, Thomas e ... A Sally largou do nosso pé... Meu avô está com a saúde cada vez melhor... Meredith e Alda estão cada vez mais amigas.
- Onde quer chegar, ? - Brinquei com ele.
- Eu só estava pensando que nós dois podemos nos ajeitar também...
- Isso é um pedido de namoro? - Sorri e ele corou.
- Eu queria fazer isso há muito tempo. Mas tudo estava impedindo... e agora que tudo se resolveu, chegou a hora. Eu te amo mais que tudo, . - Ele tirou uma caixinha preta do bolso e abriu-a. Meu coração bateu mais forte. - Quer namorar comigo?
Seus olhos chocolates me encaravam, ansiosos. Seu coração batia descompassado, assim como o meu. Ele queria uma resposta. Como se ele já não soubesse.
- Sim - eu respondi e sua boca, que antes era uma linha reta de preocupação, transformou-se num sorriso radiante.
- Dê-me sua mão - obedeci e ele colocou o lindo anel em meu dedo. - Cuide bem dele. Minha avó se casou com ele.
- , eu não posso aceitar. Isso deve significar muito para ela.
- E significa. Mas você significa mais. Quando eu disse que queria te pedir em namoro, ela fez questão que eu te desse.
Eu sorri, envergonhada.
- Você fica linda coradinha - ele sorriu e passou as mãos por minha bochecha. Eu estava sonhando. Só podia ser. Mas sonhos sempre têm um fim. E esse fim foi quando Sally aproximou-se de nós.
- Ora, ora, ora - ela sorriu sarcástica.
Eu bufei e apoiei minha cabeça na árvore.
- Estou estragando o momento ternurinha dos dois, é?
- O que você quer? - perguntou ríspido.
- Nossa, para quem me amava e caía aos meus pés, você está bem mudado, zinho.
- Se era só isso que você tinha para falar, temos coisas mais importantes a fazer - disse e começou a se levantar com dificuldade. Sally empurrou-o para o chão.
- Não tão rápido, aleijadinho, não tão rápido.
- Olhe aqui. Você pode chegar e dizer quantas asneiras quiser. Mas não toque nele, entendeu? - Cuspi as palavras.
- Awn, que bonitinha. Mexi com seu tesouro, é? - Se metade da escola não estivesse observando a cena, eu com certeza daria um soco bem dado naquele nariz empinado. - Enfim, só vim aqui dizer que vocês dois ainda me pagam. Vocês me fizeram passar por muita coisa, e pode ser que demore, mas algum dia eu me vingarei.
- Você deveria se tratar. Você é doente - eu disse e me levantei.
- Como quiser. O recado está dado. - E então ela saiu do gramado com seu nariz empinado e suas seguidoras. Bufei e ajudei a se levantar e sentar na cadeira.
- Desculpe - ele sussurrou.
- Pelo quê?
- Esse devia ser um momento perfeito - ele sorriu meio constrangido.
- E foi, . Foi o momento mais perfeito da minha vida - eu abaixei e beijei o canto de sua boca. Ele suspirou.
- Obrigado por tornar tudo tão fácil, .
O sinal tocou e seguimos para a sala. Ignoramos Sally. voltara a sentar ao meu lado. Thomas e formavam a dupla em nossa frente.
- E então - sussurrei no ouvido de Thomas.
- Ela aceitou - ele sussurrou de volta, orgulhoso.
- Aê, garanhão - brinquei e ele riu.
- Ela aceitou? - me perguntou quando sentei-me corretamente.
- Aham - sorri vitoriosa.
Minha vida finalmente estava tomando um rumo certo. Eu encontrara o garoto mais perfeito do mundo, minha melhor amiga também. Tudo bem que recebemos mais algumas ameaças de morte de Sally, mas ela não estragaria a minha vida, não de novo.

- Minha linda - me chamou, sempre tão carinhoso. Estávamos em sua casa, junto de seu avô.
- Diga, amor - retribuí.
- Vou fazer esse pedido aqui para ter meu avô de testemunha - ele sorriu. - Sei lá, vai que você resolve me matar.
- Que horror, !
- Então. Você sabe, né... O baile de formatura está chegando... E queria saber se a rainha está sem par.
- Na verdade, eu já estou comprometida.
- Ah, é? - Ele pareceu decepcionado.
- É, com uma cara muito perfeito, sabe...
- Conte-me mais dele...
- Ah, ele ainda não me convidou oficialmente, porque ele é meio envergonhado. Mas ele sabe que, qualquer coisa que ele me peça, eu aceitarei.
- Ah, é? E qual o nome desse sortudo?
- Um tal de ...
- Boba - ele sorriu e levantou-se da cadeira.
- Nossa, você está ficando bom nisso. Daqui a pouco, vai andar melhor do que eu.
- É capaz, do jeito que você é desengonçadinha.
- Ei - reclamei e dei um tapinha em seu ombro.
- Como eu ia dizendo - ele se aproximou meio cambaleante e me abraçou pela cintura. Num sussurro, completou -, você quer ser meu par no baile, princesa?
- Claro que quero - sorri e ele beijou meu pescoço.
- E que tal um beijo agora? - Ele sorriu e fez biquinho.
- Ainda não - sorri, envergonhada.
- Por quê?
- Quero que o nosso beijo seja especial. Não como aquele que você me roubou - eu sorri e ele me acompanhou. - Quero ter certeza que você é o garoto da minha vida. Não quero mais me enganar.
- Tudo bem, princesa. Por você, tudo.
Sorri. Como ele podia ser tão perfeito?
- Mas pelo menos um na bochecha para mostrar que você está orgulhosa de mim.
- Só um, hein? - Sorri brincalhona e beijei sua bochecha.
- Bem melhor. Vô, vou dar uma volta. Alongar minhas pernas e ver se consigo dar mais do que 5 passos. Posso te deixar com a vó enquanto isso?
João negou com a cabeça. Ele queria ficar sozinho. Aproximei-me dele e beijei sua bochecha. Ele sorriu como uma criança, com toda aquela magia contagiante de sempre.
- Acho isso meio injusto - disse enquanto andávamos, ou melhor, cambaleávamos pelo gramado. Eu segurava seu braço esquerdo enquanto ele dava pequenos passos.
- O quê?
- Eu, que sou seu namorado, só recebo um beijo na bochecha. E meu avô, que não é nada seu, recebe o mesmo tratamento! - Ele fingiu estar decepcionado e eu ri. - Tem alguma coisa errada aí.
- Você será recompensado, . Só precisa esperar.
- Tudo bem, acho que sobrevivo.
- Melhor eu ir, já está escurecendo. Te vejo amanhã?
- Tudo bem, claro. - Ele se aproximou e beijou minha testa. - Vá com cuidado.
- Claro - Alda apareceu e me ajudou a levar para sua cadeira. Despedi-me de todos e fui embora.

O sol já se punha quando caminhava em direção a minha casa. Como de costume, meu coração estava confuso. Não, confuso não é a palavra certa. Não mais. Meu coração está... desgovernado e desorientado. Olho para o céu e observo a cor alaranjada tomar conta das nuvens. Como será depois da morte? Será que realmente vamos para o céu? Será que nós, humanos, que erramos tanto, magoamos mais do que deveríamos, vamos para esse lindo e sereno céu? Por mais que eu tentasse, eu não conseguia concordar com uma coisa dessas. Pessoas como eu não merecem ir para um lugar tão... perfeito? Chega de se lamentar, , chega. Você não é a única com problemas. E nunca será.
O caminho até em casa foi tranquilo. Meredith me recebeu com um ótimo jantar. Comi e subi ao meu quarto. Tomei um banho e me joguei na cama. Apalpei a escrivaninha até achar a foto. Eu, minha mãe e meu pai no parque aquático. Acariciava o rosto dos dois com meus polegares. Aquilo nunca fora fácil para mim e nunca será. Mas está na hora de encarar isso. E acho que o que me fez abrir os olhos foi João. Ele perdeu grande parte da vida cuidando de e agora está na mesma situação. E, por mais difícil que seja, sempre tem um sorriso no rosto. Invejo-o, invejo a força de viver, a força de vontade que ele tem. Invejo a família, embora incompleta, que ele tem. E me sinto um monstro por pensar essas coisas. Eu deveria me sentir orgulhosa por ele e não invejada. Acabei adormecendo com a foto em minhas mãos.

Capítulo 14 : Don't say it's too late to try to make it right.

narrando on:
O baile se aproximava cada vez mais. Eu e estávamos cada vez mais unidos. E eu gostava daquilo. Eu gostava dela. Ela me acompanhava na fisioterapia, na qual eu estava progredindo rapidamente. O médico disse que até o fim do ano eu já conseguiria dançar. Meio desajeitado, mas quem liga. Eu estaria com ela, minha princesa. E era o que importava.
- Já disse que estou orgulhosa de você? - Ela falou e sorriu graciosamente, hipnotizando-me.
- Hoje, ainda não.
- Estou orgulhosa de você, . De verdade.
- Agora sim - sorri satisfeito.
Ela encarou o chão e logo depois para suas mãos entrelaçadas.
- Você está tensa. Está tudo bem?
- , eu preciso te contar uma coisa. Mas eu tenho medo da sua reação.
Eu encarei-a preocupado.
- Apenas prometa que dará o seu máximo para entender o meu lado - ela implorou. Seus olhos estavam cansados, sua pele pálida e seu corpo frágil.
- Tudo bem.
- Prometa - sua voz saiu num sussurro quase inaudível.
- Eu prometo.
Ela suspirou e encarou novamente as mãos. Queria abraçá-la e encorajá-la. Ela parecia tão frágil, tão quebrável. Mas ela precisava achar forças para me contar o que acontecera.
- Você sabe o quão difícil foi eu aceitar a perda de meus pais. Aceitar totalmente eu nunca aceitarei. Mas eu estou superando tudo isso porque eu tenho você, , Meredith e até mesmo o Thomas ao meu lado. Alda e João também me apoiam demais. Só que nem sempre foi assim...
Ela pausava como se tivesse medo do que viria a seguir.
- Eu fui fraca, . Fui estúpida, infantil. Eu poderia procurar ajuda, mas, ao invés disso, quis resolver por mim mesma.
Aquilo estava me deixando nervoso.
- Nunca fui disso, mas para tudo tem a sua primeira vez. E antes que eu conte qualquer coisa, quero que fique claro que eu estou arrependida do que eu fiz. E que de nenhum modo eu me orgulho do que fui capaz de fazer. Espero que me entenda.
- , eu estou aqui para tudo. Posso não entender as suas razões. Mas eu vou te apoiar sempre que precisar.
- Eu não sou merecedora de toda essa atenção, . Eu sou um monstro.
- Eu não te julgarei. Conte-me o que aconteceu, por favor.
Pela primeira vez na conversa, ela me encarou nos olhos. Seus olhos estavam vazios. Vazios como nunca tinha visto muito. Desviei meu olhar. Não suportei o peso da dor de seus olhos. Apertei sua mão, incentivando-a. E então ela falou. Posso ter me chocado um pouco ao ouvir aquelas palavras. Choquei-me por ser ela, minha princesa, passando por tudo isso e eu nunca desconfiei. Senti-me mal por não estar do seu lado quando ela precisou. Não ela era o monstro. Eu era.
"Eu... eu cortei meus pulsos, como uma masoquista. E não foi apenas uma vez. Foram muitas. Tantas, que até perdi a conta." Aquelas palavras pairavam em minha cabeça. Meu corpo pesava mais do que nunca. Eu voltei a encará-la, agora sem medo de seus olhos.
- Se existe algum monstro aqui, sou eu. Eu deveria estar do seu lado quando você mais precisou e eu não estava. Eu estava no meu mundinho preocupado demais com meus míseros problemas.
- Você não tem que fazer isso por mim. Eu não mereço alguém assim como você, .
- Você fala de mim como se eu fosse uma pessoa boa, até mesmo perfeita. Eu não sou assim, . Eu falho. Eu erro. E, às vezes, mais do que eu jamais gostaria.
- Você é melhor do que eu. Mais forte.
- Não sou, acredite.
Ela me encarava ainda vazia.
- Eu estou doente - ela falou com seus lábios trêmulos.
- Ok, cuidarei de você.
- Não, . Eu estou doente.
- Como assim?
- Eu vou morrer.
- Do que você está falando ?
- É TÃO DIFÍCIL DE ENTENDER? EU VOU MORRER - ela falou, alto e pausadamente.
- Não brinque comigo, , não com uma coisa dessas.
- Eu nunca brincaria com uma coisa dessas, . Não com você.
- Então, que merda é essa que você está dizendo?
- Eu tenho câncer.
- Câncer? Mas que merda, , explique direito isso!
- Acalme-se, .
- Você quer que eu me acalme? Minha namorada chega na maior calma, diz que tem câncer, vai morrer, E VOCÊ AINDA QUER QUE EU ME ACALME?
- Você não está ajudando.
- Desculpe.
- Quando eu estive no hospital, logo depois do acidente com meus pais, diagnosticaram-me com câncer. Mas já estava em um caso avançado e, pelo que eu entendi, nada poderia ser feito.
- E por que você nunca me disse?
- E por que eu diria? Para você ter dó de mim? Não, , eu queria uma vida normal. Ou pelo menos o resto dela.
- MAS QUE DIABOS! OLHE A MINHA SITUAÇÃO. VOCÊ POR UM ACASO TEVE DÓ DE MIM? TEVE DÓ DO MEU SOFRIMENTO?
- Não - ela fitava seus pés.
- E por que não?
- Porque eu conhecia a sua dor.
- E por que diabos você acha que seria diferente comigo? POR QUE DIABOS VOCÊ ACHAVA QUE EU TERIA DÓ DE VOCÊ AO INVÉS DE TE APOIAR?
- Você tem problemas demais. Minha tia tem problemas demais.
- Ela sabe?
- Quem? Meredith?
- É.
- Não. Pedi aos médicos que não contassem a ela. Foi uma decisão minha. E eles aceitaram, diferente de você.
- Mas é claro que aceitaram! Eles são médicos, eles veem tragédias todos os dias! Você queria o quê? Que você me desse a notícia de que iria morrer e eu aceitasse?
- Eu achei que você me apoiaria.
- Se você tivesse me contado antes, pelo menos.
- Por favor. Isso não está sendo fácil para mim.
- O que o médico disse?
- Ele disse que eu tinha um câncer no pulmão. E que era esse o motivo de às vezes eu sentir falta de ar. Ele não me deu uma estimativa de tempo de vida. Ele apenas disse que eu morreria, em outras palavras, é claro.
- Olha, eu prometo te apoiar se você prometer não me esconder mais nada, ok?
- Aham. - Ela assentiu e me encarou - desculpe - ela soltou uma lágrima. Mas ela não estava com medo de sua doença. Ela mal parecia se preocupar com isso.
narrando off

- Desculpe - soltei uma lágrima e me abraçou com certa dificuldade. Ele estava de pé ao meu lado, apoiado em sua cadeira.
Eu não estava com medo de morrer. Na verdade, eu nunca tive medo de morrer. Mas o que me preocupava era . Até mesmo Meredith. Tinha medo de deixá-los sozinhos. Medo de que eles me esquecessem e me substituíssem. Egoísmo de minha parte, eu sei.
- Apenas... prometa que não vai me esquecer. - Minha frase saiu como um sussurro.
- , não tem como te esquecer - e aquilo bastou. A Morte poderia vir me buscar porque eu sentira a verdade em suas palavras. Senti, pela primeira vez, que realmente me amava e que nunca me esqueceria. Eu não tenho medo de você, Morte. Quando minha hora chegar, eu estarei aqui, à sua espera.

Capítulo 15 – Tell me you need me and I will stay, you believe me and I will wait, that you'll come back for me, every time I fall.

A partir daqui betado por: Leeh.

narrando on:
O baile finalmente havia chegado. E eu, ah, eu finalmente conseguia andar. Ainda desengonçado, mas tanto faz. O tempo estava nublado e cinza. Como eu sempre gostei. Comecei a me arrumar umas 2h antes do baile. Afinal, me ameaçou de morte caso me atrasasse. Sorri, lembrando-me de sua imagem brava e emburrada.
- Eu procuro um amor, diferente de todos que amei. Nos seus olhos quero descobrir uma razão para viver. E as feridas dessa vida eu quero esquecer. Pode ser que eu a encontre numa fila de cinema, numa esquina, ou numa mesa de bar...
- ! – Alda me chamou.
- Sim?
- Pare de cantar, meu filho. Desse jeito vai se esquecer de se arrumar – ela riu.
- Haha, engraçadinha.
Coloquei meu terno e fui em direção à cozinha. Ainda sentia certa dificuldade de andar, mas hoje eu iria pro baile, nem que eu tivesse de me arrastar.
- Como estou? – perguntei dando uma voltinha.
- Muito elegante – Alda sorriu.
- Vovô está lá fora?
Ela assentiu e eu saí de casa cambaleando. Avistei João e sentei no banco. Ele me encarou.
- Estou nervoso – disse remexendo em minhas mãos. – Sabe, é muito importante pra mim. Eu acho que eu amo ela. E não é um amor de namoradinhos. Eu realmente amo ela. Como se minha vida dependesse dela.
João me encarou. Um sinal para que eu continuasse.
- E bem, ela tem câncer. E esse baile pode ser a última vez que eu... Bem, você entendeu. Eu quero chorar, quero olhar pro céu e perguntar o porquê de tanta maldade com a minha princesa. Mas eu não posso. Não posso porque prometi à mim mesmo ser forte. Ser forte e passar tal força para . Não posso deixá-la na mão, não agora. Mas sabe, eu sinto que eu não sou bom o suficiente pra ela. Sinto que não serei forte o suficiente pra ela, como ela tem sido pra mim.
Dei uma pausa e encarei o lago.
- Tenho medo de não fazer a coisa certa e, bem, ser tarde demais.
Ele esticou sua mão e colocou em meu ombro. Aproximei-me dele.
- Não quero perdê-la. Ela não pode fazer isso comigo – as lágrimas insistiam em cair. Eu me sentia um covarde chorando daquele jeito. Mas o que eu podia fazer, se mexia tanto comigo.
João encarou o lago. Como se o lago fosse a solução de tudo. Levantei-me com certa dificuldade, mas João me parou pelo braço. Ele tirou uma moeda de seu bolso e me entregou. Eu conhecia aquela moeda. A moeda da primeira vez que viu Alda. Com dificuldade pegou uma caneta e escreveu em um papel, que logo entregou a mim.
Essa moeda me faz lembrar que eu não sou ninguém sem Alda. Mas não quer dizer que eu precise dela para isso. Ela está no meu coração, e de lá ela não sai. também está no seu, e há muito tempo. Você ainda vai descobrir que ela é diferente das outras e que você não precisa provar isso pra ela nem pra ninguém.
- Obrigado – abracei-o e voltei para casa.
Peguei minhas coisas e me despedi de Alda e João.
O caminho até a fazenda de parecia infinito quando não tinha-a ao meu lado. Olhei para o céu, quando uma gotícula de água tocou meu rosto. Apertei meu passo. Uma imagem não muito legal de se ver. Um cara desengonçado correndo pela chuva. Enfim... Cheguei à fazenda e toquei a campainha.
- Pois não? – Meredith atendeu.
- É o – ela riu e abriu o portão. Veio ao meu encontro e me ajudou a sair da chuva. Entrei na casa, totalmente ensopado e resmungando.
- Essa chuva não poderia esperar? – bufei enquanto me enxugava com a toalha que Meredith me dera.
- Você fica lindo nervosinho e encharcado – aquelas palavras penetraram meus ouvidos como música. – Como estou? – ela se aproximou e deu uma voltinha.
- Você está... Fabulosa. – Gaguejei e pra disfarçar beijei sua testa. Mas que diabos, eu realmente estava apaixonado.
- Vou deixá-los a sós. Estarei lá em cima – Meredith anunciou e saiu rapidamente.
- Nossa, você se produziu assim só pra mim? – perguntei fitando seus olhos.
- Na verdade, eu estava pensando em outro alguém – ela riu e eu fiz bico. – Ah, qual é . Quando você vai perceber que você é o único pra mim?
- Não sei... É que eu não consigo imaginar o que uma garota como você viu em mim.
- Nem eu – ela gargalhou novamente. – Não acabe com sua autoestima. Você é um cara incrível, lindo e único. E bom, eu me apaixonei por você.
- Pare de ser tão perfeita – sorri e ela corou.
- Vamos, antes que nos atrasemos para o baile – ela disse e pegou sua bolsa.
- Mas está chovendo.
- Tudo bem, peço para Meredith nos levar – ela sorriu e pegou a chave do carro. – Tia! Você pode nos levar ao baile?
- Claro, querida, estou descendo – minutos depois já estávamos no carro em direção da escola.
Suspirei. Uma observação sobre aquele momento: Nunca pensei que um baile me atormentaria tanto.
- Cof cof cof cof cof cof – começou a ter um ataque de tosse.
- Você está bem, querida? – Meredith perguntou preocupada.
- Tudo bem tia, eu apenas engasguei – ela disse e me encarou. Aí que a ficha caiu. Ela não engasgara porcaria nenhuma. Ela estava... Ela estava morrendo.
- Vamos para o hospital – eu mexi meus lábios e leu os mesmos. Ela negou com a cabeça e encarou a paisagem. O carro parou e Meredith se despediu. Saímos e caminhamos até a escola.
- Eu preciso ir ao banheiro – avisei a ela. – Vá para o salão, pegue uma mesa, não sei. Eu já volto – beijei sua testa e corri pro banheiro. Fechei a porta do banheiro e fui em direção ao espelho. Encarei minha cara de covarde. estava morrendo e eu não podia fazer nada. Ela não queria que eu fizesse nada. Lavei meu rosto e saí do banheiro. Eu já estava no salão.
Eu corri os olhos pelo salão, procurando por ela. Só ela. E quando meus olhos encontraram os dela nada mais chamou minha atenção. Fui ao seu encontro e prendi-a em meus braços. Ela se aproximou de meu ouvido e cochichou as palavras que eu esperei um bom tempo pra escutar. Um sorriso bobo se formou em meu rosto e eu beijei o topo de sua cabeça. A música lenta nos dominou e a atenção de todos os alunos pausou em nós.
- Eu te amo – ela repetiu novamente aquelas três palavras. – Mais que tudo – ela completou.
- Eu também, princesa, mais do que você pode imaginar.
Puxei-a para mais perto. Encarei seus olhos pedindo permissão. Ela não desviou o olhar como sempre fazia. Pelo contrário, ela me encarou com firmeza. Aproximei meus lábios dos dela. Ela passou seus braços pelo meu pescoço e brincou com meu cabelo.
- Você está linda hoje. Na verdade, você sempre foi linda. Mas hoje você está incrível – me enrolei um pouco e ela sorriu encabulada.
- Cala a boca e me beija logo – ela brincou e sorri de lado.
- Já que você insiste tanto... – puxei seu pescoço com delicadeza e toquei seus lábios macios e quentes. O beijo não se intensificou. E também não precisava. Aquilo bastava pra arrepiar todo o meu corpo, e pelo que percebi o dela também.
- Desculpe por demorar tanto pra perceber – eu disse enquanto afagava seus cabelos.
- Desculpe por ser tão dura contigo. Eu me preocupo, só isso. – ela sorriu e eu retribuí.
- Vem – eu puxei-a delicadamente pra fora do salão. A noite estava incrível. A chuva havia parado e as estrelas, aparecido. A lua estava intensa.
- Se eu disser que você está mais linda que a lua, é muito careta? – perguntei, enquanto sentávamos no banco de madeira.
- Você pode tentar.
- Você está mais linda que a lua.
- É, você tinha razão. Muito careta – ela riu brincalhona.
- Sabe... Tá vendo aquela estrela? – apontei a menor e mais brilhante de todas.
- Aham.
- Vou chamá-la de .
- Por quê?
- Porque apesar de ser pequena, delicada e frágil, brilha mais do que todas as outras. Porque apesar de ser difícil enxergar, quando você encontra-a, seus olhos não saem mais dela.

Capítulo 16 – See you on next life


- Como você pode ser tão perfeito?
- Perfeito? Estou longe disso, .
- Não. Você é perfeito pra mim.
- Princesa, eu vou sentir a sua falta.
- Eu também. Apenas... Me promete que não vai fazer nem uma bobagem sem mim.
- Por quê? Com você pode? – eu sorri.
- Você entendeu o que eu quis dizer, seu bobo.
- , não posso te prometer nada. A não ser que eu não vou te esquecer, nunca. Mas não sei como as coisas serão sem você aqui, como será a minha vida?
- Pense que eu sou aquela estrela. Posso estar longe, mas você sempre me tem ao alcance de seus olhos.
- Mas não ao alcance de meus braços.
- Você não precisa me sentir pra saber que eu estou ali.
- Não é tão fácil assim.
- Pode ser, se você se permitir isso.
- Eu não vou aguentar sem você.
- Vai, . Eu confio em você.
- Desculpe, não sou tão forte assim – minhas mãos tremiam.
- Não estou pedindo isso de você, nunca pedi. Você não precisa aguentar tudo, , não precisa ser forte sempre. Mas você precisa tentar. Tente, e eu ficarei feliz.
- Eu sempre tento – eu sorri e ela me abraçou.
- Desculpe por ser tão egoísta e te largar aqui. Mas essa doença é mais forte do que eu.
- Você não tem culpa.
- Você me ama?
- Mais que tudo neste mundo.
- Obrigada por nunca me deixar na mão, ok?
- Obrigado por me fazer forte o suficiente pra nunca partir.
Aquilo era uma despedida. Qualquer um que visse essa cena, diria que algum de nós iria viajar, ou morar em outro país. Como eu queria que fosse apenas isso. iria embora, pra sempre, e eu não sabia o que faria sem ela.
- Você foi o único cara que eu amei, de verdade. Achei que gostaria de saber disso.
- Acertou – eu sorri orgulhoso e beijei sua testa. - Você foi a única garota que me fisgou direitinho – eu sorri.
- E quanto a Sally?
- Eu não gostava DELA. Eu gostava do sofrimento que ela me proporcionava. Acho que era o mais próximo de “amor” que eu tinha.
- Você era tão bobo.
- Obrigado pelo carinho.
- Haha. Sabe, não quero que quando eu vá embora, seja uma despedida cheia de lágrimas, ok? Quero que todos lembrem os bons momentos comigo. Você faz isso pra mim?
- Por você, qualquer coisa. Mas, por favor, vamos mudar de assunto?
- Claro, desculpe.
- Você está bem? Eu digo, você teve aquele ataque de tosse e tal.
- Tô com certa dificuldade de respirar.
- E tem alguma coisa que eu possa fazer pra melhorar?
- Não. Eu poderia ir ao hospital, mas não quero morrer toda entubada. Se for pra morrer, que seja com dignidade, e com a pessoa mais especial do mundo.
- Se é isso que você quer...
- E que tal mais um beijo, hein?
- Ah, não sei. Tô meio cansado.
- Ah, seu viado, tudo bem. Vou lá no salão procurar alguém que esteja disposto a me beijar.
E então aquele idiota apareceu. O namorado de Sally, que eu nem lembrava o nome.
- Hm, eu estou disposto a tudo o que você quiser – ele disse com sua voz nojenta.
me fitou, olhou pro loiro e sorriu sarcástica.
- HAHAHAHA, ok. Como se você fosse capaz.
- Quer que eu te prove? – ele se aproximou e minhas mãos se fecharam.
- Você e quem? Seu exército de anões? – e num movimento rápido o loiro tingido estava engolindo .
- Larga ela, seu filho da puta – eu disse e soquei-o nas costas. Ele abaixou e gemeu.
- Foi ela quem pediu.
- Não te perguntei nada. SAI DE PERTO DELA, SEU CORNO.
- Vem me obrigar, aleijado.
- Você não tem outra coisa pra fazer não? Do tipo, ir catar a sua Barbie nojenta? – estava fora de si. Seus olhos transbordavam ódio.
- , me faz um favor? Vá pro salão, e fique com a e o Thomas.
- Eu não vou sair daqui até eu matar esse ignorante.
- Princesa, me faz esse favor.
Ela encarou meus olhos e suspirou.
- Tudo bem – e saiu correndo pro salão.
- Qual é o seu problema?
- O meu problema? A sua namoradinha que é uma descontrolada.
- É um aviso. Eu não quero brigar, mas se você encostar um dedo se quer nela, você vai acordar mulher.
- Uh, o aleijadinho tá me ameaçando? Se é assim, leva uma serra elétrica, porque você vai ter trabalho pra cortar este amiguinho aqui – ele disse e bateu em seu membro.
- Uma faca de cozinha dá conta do trabalho.
- Você que pensa – o loiro nojento disse e saiu em direção ao salão. Fui atrás, em busca de .
Entrei no salão com dificuldade de caminhar entre todas aquelas pessoas dançando. Avistei ao longe sentada com e Thomas.
Suspirei aliviado. Fui ao seu encontro.
- Desculpe por aquilo – sussurrei em seu ouvido quando ela se levantou e me abraçou.
- Tudo bem – sorri e sentamos juntos dos outros dois pombinhos.
Conversamos, rimos e nos divertimos como nunca. Começaram a chamar os alunos lá na frente. , Thomas, Sally, e todos os outros integrantes do colégio. e eu estávamos na mesa, sozinhos.
- Sabe, te conhecer foi a melhor coisa que me aconteceu – eu sussurrei em seu ouvi. Ela riu tímida.
- Agora eu consigo encarar a morte dos meus pais de um jeito melhor. Porque se não fosse por eles, eu nunca te conheceria nem nada. Não que eu não sinta falta deles...
- É, posso dizer o mesmo – e então a diretora chamou nossos nomes. Fomos de mãos dadas. Todos os alunos nos encaravam surpresos por eu, o aleijado, estar andando. Ignorei todos eles e passei meu braço pela cintura de . Recebemos nossos diplomas e voltamos à mesa.
- Finalmente – gargalhou e tomou um gole de seu refrigerante.
- Pois é.
- Ei, espere. Tenho uma coisa pra você – ela sorriu e me entregou um colar. – Tem nossos nomes gravados. Achei que talvez você gostasse.
- Obrigado, princesa – beijei o topo de sua testa.
- Podemos sair daqui? – ela me olhou, pálida.
- Claro – respondi e caminhamos para o jardim. Sentamos na grama e observamos as estrelas, novamente.
- Eu acho que chegou a hora – ela sussurrou e deitou em minhas pernas.
- Por favor, não me deixa – eu implorei, soltando uma lágrima.
- Ei, não faz isso. Eu te amo demais pra te ver sofrer no meu último dia de vida – ela sorriu e eu afaguei seus cabelos.
- Vou sentir muito a sua falta.
- Ah, qual é. Agora você é o garanhão do colégio.
- Do que você está falando?
- Ah, vai dizer que não viu os olhares de desejo das garotas quando subimos no palco?
- Ah, nem percebi. Eu só tenho olhos pra você.
- E eu pra você.
- Eu te amo, , pra sempre.
- Cuidado com o que diz, . Pra sempre não pode ser um bom negócio – ela gargalhou e se virou, encarando meus olhos. – Eu te amo, e estou com medo de partir. Eu nunca quis isso pra minha vida sabe. Mas aí você apareceu e tornou tudo mais... Fácil. Às vezes eu me pego perguntando o que seria de mim sem você... Eu só queria agradecer por todos os momentos que você me proporcionou.
- Eu não sou nada sem você – eu sussurrei e tossiu bruscamente.
- Obrigada por me entender e... Agora é a hora. Eu te amo, e espero que você se lembre de mim. Você foi muito importante, na verdade, essencial. Eu encarei seus olhos avermelhados e uma lágrima escapou dos meus.
- Pensei que fosse mais forte...
- Ei, , me beija logo vai – eu ri e aproximei meus lábios do dela.
Seu corpo estava frio e frágil. Apertei-a contra meu corpo e ela suspirou.
- Adeus é uma palavra muito forte, não acha? Que tal, te vejo na próxima vida? – ela sorriu brincalhona.
- Te vejo na próxima vida então, princesa – sua cabeça pesou sobre minhas pernas e seus olhos se fecharam. Sua boca se formara numa linha reta. Eu não desabei em chorar, como pensei que fosse. Apenas... Beijei seus lábios frios e chamei uma ambulância depois de um tempo.
A ambulância a levou de meus braços e então senti um vazio. Um vazio imenso de não tê-la mais perto de mim. De não ter o seu calor, sua proteção. Desabei no chão, encarando as estrelas, que pareciam não brilhar mais. Fiquei um bom tempo assim até que resolvi voltar pra casa. Entrei rapidamente, beijei meu avô e disse que o amava. O mesmo fiz com Alda.
Subi pro quarto de meus avós e peguei um papel e uma caneta. Escrevi uma carta para e deixei-a sobre a cama. Fui para a sacada. Eu tinha completa consciência de que eu estava sendo fraco, covarde, e não estava cumprindo a promessa que fiz a . Mas eu não aguentaria sem ela, nem se tentasse. Olhei para baixo e analisei a altura. O suficiente pra tirar a vida de alguém. O suficiente pra tirar a minha vida. Ou o que restou dela. E então eu pulei. Pulei como se estivesse prestes a bater asas e voar pelo mundo. E, consequentemente, caí. A queda não foi tão intensa e dolorosa quanto gostaria que fosse. Encarei as estrelas, e aquela em particular piscou repetidas vezes, parecendo dizer “desculpe por não estar do seu lado”.
- Desculpe princesa, por ser tão covarde – e então a Morte se apoderou de mim. Do mesmo jeito frio que se apoderou de . Não lutei. Não resisti. Eu queria isso de um jeito ou de outro. E foi o que aconteceu.
narrando off

Para muitos, isso poderia ser o fim. Para outros, que acreditam em vida após a morte, em reencontrar sua alma gêmea, isso é só o fim de um capítulo. Essa não é uma história na qual todos morrem e sofrem. Pelo contrário. É uma história em que duas pessoas, ambas com uma vida difícil, encontram suporte uma nas outras. Eles se aprofundaram naquilo. Naquilo que eles chamam de amor, confiança e acima de tudo apoio. Morrer por amor não transforma a morte em uma coisa melhor. Muito menos em uma coisa boa. nunca viveu de verdade depois da morte de seus pais, até encontrar . O mesmo, pode se dizer de .
Eles não completaram os buracos no coração de cada um. Não, nem um milagre poderia fechá-los. Eles somente amenizaram a dor. E agora, a única coisa que nos resta é a lição de vida. Ou será que nem isso nós aprendemos?

“Você foi o meu anjo, foi a minha paz. E agora que não posso mais te ter em meus braços, não vejo motivos de continuar a viver. Vamos eternizar esse momento, não só nas nossas mentes, mas em nossos corações. Entrego-te a minha vida, pois o meu coração eu já te entreguei há muito tempo. O tempo é doloroso, mas a eternidade não. Pois então, eu te vejo na linha de chegada, meu amor.
Um beijo, da eternidade, para o meu anjo”.


Fim;
Ou quem sabe, apenas mais um recomeço.



N/a: Obrigada por lerem, mesmo. Significa demais pra mim!
N/b: Qualquer erro na fic mande para leeh.rodriigues@gmail.com :) Não utilizem a caixa de comentários, por favor. Agradeço desde já.


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