‘, para com isso! Você tá sendo ridículo! Isso é... Você nem sabe o que tá falando!’ gritava com o namorado, enquanto ele a observava andar de um lado para o outro da sala do apartamento. ‘Eu simplesmente não posso abandonar uma coisa que eu amo, porque você quer assim. Por que você não larga a empresa, então?!’
a encarou, indignado.
‘LARGAR A EMPRESA?! Você acha que eu vou largar a empresa?! É uma coisa importante, ! São os negócios do meu pai, eu não posso LARGAR’.
‘E o que o faz pensar que eu posso largar o hospital?! , aquelas crianças precisam de mim! É um hospital público, quase ninguém trabalha lá! Eu não posso fazer isso! Você...’ ela disse, apontando para o garoto. ‘Julga o meu trabalho uma coisa inútil, mas eu não acho que seja!’
‘Eu nunca disse que era inútil!’ gritou, se levantando do sofá. ‘É só que eu e você não temos mais tempo, porque toda hora que a gente tenta ficar junto a liga do hospital e...’ Foi cortado pelo toque do celular de . ‘VIU?!’ A menina fez sinal para que ele fizesse silêncio e atendeu.
‘Alô?’
‘Alô, ?! Vem pra cá! A gente precisa de ajuda! Tem uma criança aqui... E ela não tá bem’.
‘Ok, já tô indo’.
‘Vem rápido, por favor’.
desligou o celular e olhou para , que ainda a encarava. O garoto deu uma risada sarcástica.
‘Vai lá, pediatra do século!’ A menina o fitou, boquiaberta, antes de dar um grande suspiro e sair do apartamento, enxugando as lágrimas.
‘DROGA!’ gritou, se jogando na cadeira de seu consultório.
‘Ele ainda não ligou né?’ perguntou, sentando-se em frente a amiga, que negou com a cabeça.
‘Ai, ... Já faz dois meses e nada. Eu acho que dessa vez é pra valer’ a garota soltou, chorando.
‘Ah, amiga, não fica assim! Ele vai ligar... Todo mundo sabe que o te ama’.
‘Você fala isso por que o ainda vem te buscar aqui todos os dias’ a encarou, triste.
‘Ele vai ligar, ele sempre liga. Confia em mim, ok?’ Disse, antes de ouvir o celular tocando. Olhou rapidamente o visor, virando-se novamente para . ‘É o . Eu já tô indo, ok?’ Deu um leve beijo na bochecha da garota e a deixou sozinha na sala.
A menina ainda ficou um tempo no mesmo lugar, pensando em tudo. Ela e haviam se desentendido por uma bobagem: ele dizia que ela não tinha tempo para ele por causa do hospital; ela dizia que era mentira e que ele devia largar a empresa do pai, já que o sonho dele era constituir uma banda com os melhores amigos, , e . Enfim se levantou com um suspiro, apagou as luzes e trancou a sala. Casa seria o melhor lugar naquele momento.
estava no computador fazendo uma pesquisa pedida pelo hospital. Já eram 1:30 da manhã e a menina estava cansada demais para continuar, então se deitou na cama. Se perguntava se aquilo continuaria para sempre. Olhou em direção à bancada onde havia vários porta-retratos. Levantou-se então da cama, e caminhou até os pequenos quadros. Viu uma foto dela com . As duas sorriam e estavam sujas de sorvete, de pijama. A menina sorriu sozinha, agradecendo pela amiga que tinha. Então seguiu para a outra foto, que fez seu sorriso se desmanchar. Era uma foto dela com . Os dois estavam abraçados no parque do centro da cidade. Era inverno e eles vestiam casacos que os deixavam parecidos com verdadeiras bolas de neve. ‘Ele é um egoísta’. Ela sussurrou para si antes de pegar o porta-retratos e tirar a foto dele. Olhou mais uma vez para a imagem, refletindo sobre como tudo era diferente. Fechou fortemente os olhos e rasgou a foto. Quando os abriu, viu o papel dividido em 4 partes. ‘É isso que eu fiz com você, ’ ela pensou antes de se jogar novamente na cama. Lembrou-se, então, daquele dia.
Flashback
‘ , retire o que disse. JÁ!’ gritava enquanto fazia cócegas no namorado. ‘JÁ!’
‘Eu preciso... De ar... Imploro...’ O garoto falou entre pausas.
‘NÃÃÃÃO! RETIRE O QUE DISSE!’ A menina se divertia com a situação.
‘Ok, ok... Eu... Não acho... A Avril gata...’
‘AAAACHO MUITO BOM, HEIN!’ se levantou enquanto ela ainda ria.
‘Agora vem a vingança, !’ Gritou o menino, pulando em .
‘NÃÃÃÃÃÃÃÃÃO!’ Ela dizia tentando se desvencilhar dos ataques dele.
‘Então promete uma coisa’.
‘O quê?’
‘Você vai sempre estar comigo?’ perguntou, agora olhando dentro dos olhos da garota. Ela se levantou, aproximando-se do rosto dele. Deu um leve beijo em seus lábios.
‘Sempre’ sussurrou no ouvido de . ‘Sempre’.
Eles ficaram um tempo se observando, curtindo o momento. Era um momento deles, era único. Até que ele segurou na mão da garota. ‘Vamos passear!’
Eles andavam pelo parque. Sentiam aquele inverno londrino que rasgava a pele. Riam, gritavam, corriam, brincavam, sorriam. Por mais frio que estivesse o dia, havia pássaros e esquilos por todo o lado. Pessoas se divertiam como eles no parque.
‘Vem cá!’ Ela gritou, puxando-o para uma pequena casa de chá que havia no meio do parque.
‘Chá, ?!’ perguntou, meio desacreditado.
‘Chá em Londres, no inverno. É lindo, tão romântico!’
‘Eu não acho’ ele respondeu emburrado. ‘Eu não gosto de chá’.
‘Mas como sou eu quem manda na relação...’ Ela afirmou, levando-o para dentro. ‘Duas xícaras de chá de morango’.
‘Leite?’ A garçonete, que parecia ter uns 17 anos, perguntou, mastigando seu chiclete decididamente.
‘Sim, obrigada’ respondeu.
‘Você nem sabe se eu quero!’ exclamou enquanto a garçonete ia embora.
‘Claaaaaro que sei. Já disse que eu mando na relação’.
Ele a olhou rindo. Os dois continuaram conversando, até que o chá chegou.
‘Obrigada’ a garota agradeceu à garçonete do chiclete, que respondeu assentindo com a cabeça. a abraçou pela cintura, apoiando a xícara no ombro da menina.
‘AAAAAI TÁ QUENTE!’ Ela gritou, dando um pulo, fazendo-o rir e todos olharem para eles. ‘, você quer o quê?! Que eu vire um frango frito?!’ O menino gargalhou. Desviou rapidamente os olhos para a janela e viu um casal brincando com o que seria o filho deles.
‘Olha, amor’ o garoto apontou. ‘Nós no futuro. Com nossos filhos’.
‘Sim...’ respondeu imersa em seus sonhos. ‘Quantos filhos você quer ter?’
‘3’.
‘3?! NÃÃÃÃO! Eu não quero. Me recuso a parir três seres carecas, desdentados e nus. No máximo, dois’. Ela falava, com as mãos na cintura.
‘Ok. Mas na segunda vez vão ser gêmeos mesmo. Vai dar três do mesmo jeito’.
‘Então vai ser uma vez só, pra evitar’.
‘Aí vem quadrigêmeos’.
‘Shiu aí, ’ disse, colocando o dedo na boca do garoto e beijando-o logo em seguida.
Tinha sido a melhor tarde da vida deles. Dos dois.
End Flashback
‘Quem liga pra ele?!’ Ela se perguntou antes de fechar os olhos e adormecer.
acordou e percebeu o quão cedo ainda era. ‘Hoje é sábado. Que saco!’ Ele gritou, levantando-se da cama. Tinha perdido o sono mais uma vez. Já devia ser o quinquagésimo sonho com . ‘Ela me persegue...’ Foi até o banheiro. Ficou um tempo observando sua imagem no espelho e relembrando os momentos em que ela deixava recadinhos de batom ali. Riu sozinho antes de balançar a cabeça, espantando tal pensamento. Entrou no banho e olhou pela primeira vez pela janela. Ainda estava escuro! Ele xingou alguma coisa que nem ele mesmo entendeu e entrou em baixo do chuveiro, se lembrando dos momentos que havia vivido com . Por que tudo que ele fazia lembrava aquela garota? Todo sorriso, todo olhar, toda risada, todo segundo o fazia pensar nela. ‘Isso tudo é tão idiota’. Ele pensou, antes de ir até o quarto, ainda enrolado na toalha e pegar o celular. Fitou um tempo a telinha do aparelho. Será que era certo aquilo? Por que ELA não ligava para ele?! Fechou os olhos a fim de espantar o orgulho e discou o número de .
‘Alô...’ A voz dele atendeu ainda sonolenta.
‘Alô, dude! Ainda dormindo’?!
‘, são 4:15 da manhã, me deixa em paz’ respondeu, desligando o telefone na cara do amigo, que riu. Sentou-se na cama, pensando em que fazer, até que decidiu ir até lá.
‘4:15 da manhã e a dondoca aqui não consegue dormir. Legal. Obrigada, , você é um anjo. Vai me deixar com o olho igual a uma berinjela frita’ dizia para si enquanto se levantava da cama e ia até a cozinha. ‘E gorda também’ ela completou, cortando o quinto pedaço de brownie da madrugada. Ela ainda estava mastigando quando sentiu algumas lágrimas escorrerem por seu rosto. Largou o prato e olhou para cima, tentando evitá-las. ‘Para de chorar à toa, sua fraca! Fraca, fraca, fraca. FRACA’! Ela falava passando a mão pelo rosto. ‘Ah, que droga, !’ Gritou, indo até o quarto. Londres estava fria naquele dia. Tirou seu pijama de flanela e vestiu seus jeans, uma blusa branca e um casaco marrom. Calçou um par do all star preto e saiu procurando o outro. Olhou em baixo da cama, dentro da gaveta e nada. Abriu o armário e lá estava o maldito tênis. Ao lado da camiseta preferida de . Era azul e amarela, e dizia ‘Kill me if it’s Monday’. ‘AAAAAAAAAAAAAAAAAH!’ Ela gritou, puxando o sapato e batendo forte a porta do armário.
‘Que frio, que frio’ repetia enquanto caminhava pelas trilhas do parque, com as mãos dentro dos bolsos. ‘Sabia que tinha que ter trago a droga da luva’ caminhava até o banco em que sempre se sentava com . Estava distraído demais chutando uma pedrinha no chão, quando levantou o rosto e a viu, ali, sentada. No mesmo lugar de sempre. Por um segundo ele pensou que tudo estava como antes, mas só por um segundo.
‘Erm... ?’ A garota ouviu a voz de dizer e gelou por dentro. O QUE ELE ESTAVA FAZENDO ALI?! ERAM 4:30 DA MANHÃ! NÃO HAVIA NINGUÉM NO PARQUE! Ela se virou, enxugando as lágrimas.
‘Ahn, oi’.
‘Oi’ ele respondeu.
Ficaram um tempo em silêncio, admirando as árvores. Mentira. Não dava para ver as árvores.
‘Frio né?’ Ele começou, tentando quebrar aquele clima.
‘Aham...’
Mais uma vez um silêncio frio e angustiante. virou-se para a menina. Era tão linda. Ele adorava o jeito como cruzava os pés e ajeitava o cabelo quando estava nervosa.
‘CHEGA!’ Ele gritou, se levantando e dando um susto em . ‘Eu não quero mais fazer isso, ! Eu amo você e todo mundo sabe disso. Eu não quero mais ter que fingir que não sinto sua falta, quando, na verdade, eu tô morrendo de saudades. Não quero ter que ser frio e dizer poucas palavras, quando dentro de mim, eu me sinto gritando. Não vou mais olhar 500 vezes o celular em um dia só e não discar seu número nenhuma vez. Não quero mais continuar longe de você, amor. Por favor, eu não aguento mais’ dizia enquanto sentia a mão da menina enxugando suas lágrimas. ‘Ah, ...’ Ele disse baixinho, fechando os olhos.
‘, eu não quero te ver competindo com o meu trabalho... E você sabe disso’.
‘Eu sei, me desculpa. E o que você me falou sobre largar a empresa e tudo mais... Eu meio que repensei isso e eu vi que você tava certa. Eu não posso deixar de seguir meu sonho por causa do sonho do meu pai’.
‘Que bom, meu amor!’ A menina exclamou, abraçando-o forte.
‘Ah, que saudades disso... De sentir você perto de mim’. falou enquanto ela se aninhava em seu ombro. ‘Me perdoa?’
levantou a cabeça levemente e o encarou por uns segundos.
‘Sempre’. Ela sussurrou, antes de voltar a se encostar no garoto.
Os dois ficaram algum tempo ali, em silêncio, de mãos dadas. O frio já não era mais tão forte e podiam ver o sol surgindo atrás das árvores do parque. Ainda havia folhas secas no chão, como lembrança de um outono longo e frio e que abriam portas para um inverno mais frio ainda.
‘Psiu’. fez, baixinho, no ouvido de , que abriu os olhos lentamente, sorrindo.
‘Diga’.
‘Olha o sol’ ele falou, apontando para a direção de onde vinham alguns raios de luz. ‘Lindo né?’
‘Perfeito...’ Ela respondeu em um sussurro, mostrando-se sem palavras. As mãos deles ainda estavam entrelaçadas e ele brincava com os dedos dela.
‘’ ele recomeçou depois de mais um silêncio longo. ‘Eu tenho uma coisa que, bem... Eu comprei há dois meses, antes de a gente brigar. Eu ia te dar, mas depois de tudo... O que importa é que... Bem... Eu ainda guardo comigo e eu, erm, trouxe’.
A garota se levantou, sorrindo. ‘O quê?’
‘Isso’. falou, tirando uma pequena caixinha do bolso. A garota encarou o pequeno embrulho de veludo vermelho boquiaberta. ‘Erm... Não é nada de casamento, nem nada. Digo, a gente só tem 25 anos, mas é que você é a pessoa que eu mais amo. Quero te dar algo especial’ ele completou, corando.
Ela sorriu, com os olhos úmidos. ‘Eu já tenho você, e isso já é especial o bastante’.
riu tímido e a beijou. Eles estavam juntos novamente. Juntos.
Um ano depois...
‘, me ajuda com isso?’ pedia ao namorado, enquanto segurava algumas caixas da mudança.
‘Tô meio ocupado aqui, sabe? Chama o ’. O garoto respondeu enquanto tentava inutilmente instalar o ar-condicionado.
‘!’ gritou ao lado da amiga. ‘Ajuda a aqui! Isso tá pesado demais!’
O garoto correu até a namorada, deu um leve beijo em seus lábios, virando-se para ajudar .
‘Qual é o problema de vocês? Se mudarem em pleno verão! Eu podia estar em algum lugar ensolarado como a Califórnia, sei lá. Mas não, eu estou aqui, ajudando meus melhores amigos com a mudança. Fala sério’ resmungava enquanto levantava algumas caixas.
‘Cala a boca, ’ falou, fazendo-os rir.
‘Mas é verdade! Eu poderi...’
‘’ o interrompeu. ‘Cala a boca’.
‘Mas, gente! Eu só estou...’
‘’ foi a vez de . ‘Shiu aí’.
O garoto fechou a cara, voltando sua concentração para as caixas.
‘Gente, posso falar agora?’ Ele perguntou, depois de alguns segundos.
‘Faaaaaaaaaaaaaaaaaaala, insuportável!’ respondeu.
‘A gente tem que ligar pro e pro . Digo, o contrato, esqueceu? A gente assina hoje’.
‘AI MEU DEUS!’ O amigo gritou, fazendo e tomarem um susto. ‘O Fletch vai me esfolar!'
‘Relaxa, eu não deixo’ a namorada respondeu. ‘Quer dizer, o Jony te salva’ ela continuou, apontando para o yorkshire que entrava pela porta, correndo e latindo sem parar.
‘O que ele faz? Arranca uma perna do Fletch, sei lá?’ perguntou enquanto brincava com o cãozinho.
‘Mata engasgado!’ respondeu rindo.
e foram até a cozinha guardar os talheres.
‘Ei, psiu!’ chamou. A garota se virou sorrindo. ‘Amo você’.
Ela abriu mais ainda o enorme sorriso que havia em seu rosto. ‘Eu sei’.
Juntos.