Laços de Sangue
Autora:Flávia C. | Beta-reader: Kath



Capítulo Um.


Uma pequena criança se remexia na cama, era inverno e fazia muito frio. Não conseguia dormir, tinha tido pesadelos. Pensou em acordar o irmão, apenas um ano mais velho, mas Matthew ficava irritado quando acordado de madrugada. apenas se encolheu em sua cama, tentando voltar ao sono. Mas não conseguiu, pois ao fechar os olhos ele escutou um barulho, provavelmente tinha acordado todos da casa.
- Você escutou isso? – sussurrou para o irmão, que acordou assustado. Nenhum dos dois tinha coragem de se levantar para ver o que tinha acontecido, tinha apenas sete anos, e Matthew oito, não poderiam evitar o que estava acontecendo.
- Talvez nós devêssemos ir lá embaixo ver. Talvez mamãe e papai não tenham acordado – Matthew falou pensativo, fingia ser corajoso para o irmão, queria passar-lhe segurança, mas no fundo estava morrendo de medo.
A casa em que moravam era afastada da cidade, moravam em uma fazenda em Fairfield, Nebraska, uma cidade pouco habitada, e a propriedade ficava ainda mais isolada do resto do mundo.
- Sim, é melhor irmos ver – concordou e os dois se levantaram da cama.
A casa era grande, e não sabiam de onde tinha vindo o barulho. Os dois passavam pelo corredor assustados, o quarto de William e Lillian, seus pais, era do outro lado do corredor, eles queriam ir correndo para o quarto dos pais, mas a curiosidade os dominava, queriam ver o que estava acontecendo. Estava escuro, não tinham acendido uma só luz, o que tornava tudo ainda mais assustador.
gritou ao esbarrar em alguém, não sabia se era um ladrão, uma criatura fantasiosa, ou o que quer que fosse, assustou .
- Shh – A pessoa disse e se abaixou para abraçar – O que vocês estão fazendo acordados? – A voz conhecida acalmou os meninos, era Lillian, sua mãe.
Lillian era uma ótima mãe, era dona de casa e passava a maior parte do tempo com os filhos, os amava mais do que sua própria vida, eles eram sua vida. Ao ouvir o barulho e acordar, ela sabia que os meninos iriam acordar, por isso sua primeira reação foi andar até o quarto deles.
- É melhor vocês irem para o quarto de vocês, têm que voltar a dormir, amanhã vocês têm aula – A primeira aula depois do recesso de natal seria no dia seguinte, e Matt teriam que voltar a escola.
- O que foi aquele barulho, mamãe? – perguntou curioso, ainda queria conferir o que estava acontecendo, Matt também estava ansioso para saber o que tinha acontecido.
- Não deve ter sido nada, seu pai já foi lá embaixo conferir – Lillian os prometeu, e os direcionou de volta ao quarto.
Não tinha luz no corredor, a única luz vinha da sala, no andar de baixo, e ela era apenas o suficiente para que Lillian soubesse onde era o quarto de seus filhos. Porém o quarto era para o outro lado do corredor, e sendo assim, ela não podia ver o que vinha a sua frente, muito menos o que vinha atrás.
Portanto Lillian não pôde ver quando alguém colocou um pano sobre seu nariz e a mão sobre sua boca. Não conseguiu gritar, mas queria. Ela era esperta, esperta o bastante para saber que estava em perigo, que quem quer que estivesse a asfixiando, era perigoso. Então queria gritar para que e Matt fugissem, queria que eles não se machucassem, queria salvá-los.
- Mãe! – Matt gritou ao ver a mãe sendo arrastada pelo corredor, Lillian pôde ouvir o chamado, mas não poderia responder, não poderia estar ali para acalmá-lo com promessas maternas, foi a última coisa que ouviu.
Nesse momento começou a chorar, o que não ajudava muito, precisavam salvar a mãe, que estava sendo seqüestrada, ou qualquer coisa do gênero. Matt não tinha tempo de ajudar o irmão, apenas saiu correndo atrás do homem que arrastava sua mãe, , naturalmente, o seguiu. Por serem ainda pequenas crianças, não eram rápidos e estavam em desvantagem, mas logo alcançaram o sequestrador, que se encontrava no andar de baixo.
Os meninos se assustaram com a cena. Seu pai estava jogado no chão, inconsciente, já sua mãe, eles não tinham certeza se ela estava acordada ou não, seus olhos estavam meio abertos, mas ela era facilmente arrastada. e Matt pararam da escada para observar, o invasor amarrava Lillian na cadeira, ainda não tinha percebido os meninos ali. Estava nervoso demais para isso.
Jack Brooks não era um assassino, ou pelo menos era isso que ele vinha repetindo para si mesmo. Era um ladrão, sim. Mas não um assassino, nunca tinha matado uma pessoa, nem chegado perto disso, na verdade. Estava fugindo da polícia, e ouviu falar de uma família muito rica que morava afastada da cidade, os s, Jack pensou que era uma oportunidade perfeita, não tinham vizinhos, era uma casa grande e provavelmente os quartos ficavam longe, ninguém o ouviria, ele apenas invadiria a casa e roubaria algumas coisas de valor. Não pretendia nada mais que isso.
Mas acabou se desesperando ao deixar cair um baú pesado no chão e ter causado um grande barulho pela casa, quando viu um homem chegando perto dele, acabou acertando-o com um objeto de madeira que segurava. A partir daí se desesperou, se fosse descoberto, seria acusado de agressão também, ou até mesmo tentativa de homicídio. Jack começou a desesperar, viu uma silhueta passando pela escada, ela provavelmente ligaria para a polícia e logo ele seria preso, não poderia deixar aquilo acontecer.
Subiu correndo as escadas, e cuidadosamente colocou um pano no nariz de Lillian, não tinha planejado usá-lo, mas seu amigo tinha o falado para levar, apenas por precaução. Não pensava mais, estava se deixando levar pelos instintos. Começava a formar planos em sua cabeça, teria que matar os dois, era inevitável, os esconderia depois, no porão talvez, e então fugiria para bem longe, onde ninguém desconfiaria dele, talvez saísse do país.
Até aquele momento não tinha percebido a presença dos dois garotos o observando, estava preocupado demais para isso. William e Lillian estavam inconscientes, mas isso não era o suficiente, o coração deles ainda batia, e, logo, acordariam. Mas ele não tinha com o que matar, nervoso como estava correu em busca de uma cozinha, podia ser rápido o suficiente para achar alguma faca, antes que os dois acordassem.
Certamente era rápido o suficiente para isso, mas não para chegar antes dos meninos aos corpos.
e Matt estavam parados em frente aos pais, os olhavam com estranheza, já tinham visto filmes em que as pessoas ficavam inconscientes, mas eram apenas meninos, não sabiam de nada. Matt se abaixou ao lado da mãe e colocou a mão em seu coração, ainda batia, enquanto isso apenas chacoalhava o pai, sem resposta. Os dois estavam se debulhando em lágrimas, mas precisavam ser fortes, precisavam fazer seus pais acordarem.
Jack chegou com uma faca na mão à sala, mas não se deparou com a imagem que queria. Não viu dois corpos largados no chão, e sim duas crianças abaixadas chorando ao lado dos pais inconscientes. Ele seria tão cruel ao ponto de deixar duas crianças órfãs, ou até mesmo de matá-las?
Matt virou o rosto em direção a Jack, a primeira coisa que pôde notar era a faca em sua mão, o que fez as lágrimas de Matt aumentarem ainda mais, sabia que era apenas uma criança, não tinha como impedir o homem de matar seus pais. Ele iria matá-los, talvez o matasse também. estava com a visão ocupada demais, lotada de lágrimas para reparar no estranho parado à porta.
Jack foi calmamente se aproximando, queria que e Matt fossem embora. Não queria ter que matar as crianças, definitivamente não queria. Todos se assustaram ao ouvir um barulho, William colocou a mão na cabeça, com dor obviamente, tinha sido atingido. Não entendeu nada ao ver os dois filhos parados o olhando com lágrimas nos olhos. Mas logo percebeu o que estava acontecendo, ao ver sua mulher deitada no chão e um homem segurando uma faca.
- Vão para o quarto de vocês. – William só teve força para murmurar aquilo.
Nenhum dos meninos se moveu e William tentava alcançar alguma coisa para bater em Jack, William empurrou para o lado, e logo Matt o puxou para longe. Deviam ficar longe, não poderiam ajudar nada naquela luta.
Os minutos que se seguiram provavelmente foram os piores da vida de todos presentes naquela sala. Minutos de horror, de ódio, de briga, de sangue.
Passou tudo muito rápido. William ameaçou tacar um objeto em Jack, que em defesa pegou Lillian como refém apontando a faca diretamente para seu coração, logo William e Jack estavam rolando pelo chão. William estava com o rosto cortado, sangrando, atingiu Jack com um soco que caiu perto de Lillian, estava com raiva, ódio, nervoso, não sabia mais o que fazer, apenas cravou a faca no coração de Lillian.
Ninguém falou no segundo seguinte, Matt e olhavam tudo de um pequeno canto, seus olhos agora estavam mais encharcados do que nunca, William estava parado, sem reação, olhando para o corpo de sua mulher que parecia estar empalidecendo cada vez mais, Jack não tinha reação. Ele tinha a matado. Lillian estava morta. E Jack Brooks era seu assassino.
Em um piscar de olhos a porta da frente da casa estava aberta, Jack saía correndo por ela, estava ajoelhado olhando sua mãe, e Matt apenas encarava a porta com ódio. Ódio era o que sentia naquele momento, ódio daquele homem que matara sua mãe, ódio por não ter salvado-a, ódio de que só ficava chorando, de seu pai que não pôde ter matado Jack antes. Estava com tanta raiva que não conseguia ficar triste, não conseguia derramar lágrimas de tristeza. A felicidade tinha acabado para ele naquele momento, tudo o que sentia era vontade de sair, de fazer alguma coisa.

*****


Algumas coisas são difíceis de se esquecer, ou até mesmo impossíveis, eu diria. Existem coisas que irão sempre nos atormentar, não importa o quanto tentamos apagá-las de nossa memória, elas vão aparecer, estarão em nossos pesadelos quando dormirmos, e na nossa cabeça quando estivermos acordados. Elas estão ali, não deixarão ser esquecidas, jamais.

Tinham se passado quase 10 anos, mas os pesadelos continuavam, eles sempre continuariam, tinha certeza disso. Não era a primeira vez que acordava de madrugada com eles, desde que se lembrava fora assim. Eles sempre eram iguais, mas isso não fazia com que deixasse de sentir medo, porque por mais que fossem apenas pesadelos, eles eram reais. Eram o retrato do passado, a imagem que ele tinha daquela cena. Aquela cena que o traumatizou para sempre, a morte de sua mãe.
Não conseguia tirar a imagem de sua cabeça, via a mãe estendida no chão com a faca cravada no peito, era dolorosa a imagem. sofria ao lembrar, tentava se esquecer, mas ao dormir elas sempre voltavam, todas as noites. Talvez ele realmente devesse procurar um psiquiatra, afinal Matt não demonstrava ter toda essa dificuldade, apesar de guardar muito ódio, Matt parecia ignorar a morte da mãe, assim como todos ao seu redor.
se levantou para colocar uma roupa, precisaria ir para o colégio. Ele nem lembrava mais que dia era, nos últimos nove anos ele não sorria, não tinha amigos, era excluído, ia ao colégio porque tinha que ir, mas nada o animava. Era certamente infeliz.
desceu as escadas com pressa, não estava atrasado para aula, ao contrário, estava até adiantado, mas gostava de chegar antes. Ao chegar à cozinha, se deparou com Julie já de pé, cozinhando.
Julie era a ‘nova’ esposa de William, se é que se pode chamar de nova. William e Julie haviam se casado apenas dois anos após a morte de Lillian, mesmo sendo consideravelmente cedo, eles se amavam e era a coisa certa a fazer. Os dois tiveram um filho pouco tempo depois, David, que já estava com 7 anos. gostava de Julie, ela era uma boa mãe para David e uma boa esposa para William, cuidava de e Matt, mas nunca seria capaz de substituir Lillian, apesar de se esforçar, sabia que eles nunca a olhariam como mãe. Com era até fácil lidar, mas Matt não gostava de Julie, ele tinha mais receio da morte da mãe, apesar de não demonstrar, Julie já havia percebido isso, portanto não tentava se aproximar muito, já havia passado muito tempo e sabia que Matt nunca iria superar a perda da mãe.
Julie chegava a achar que Matt a culpava pela morte da mãe, tinha raiva do pai por ter se casado novamente, isso era certo. Mas não gostava de demonstrar isso, guardava seus sentimentos para si mesmo.
- ! – Julie exclamou feliz ao ver parado na porta da cozinha, ela era sempre sorridente, mas hoje parecia brilhar. Ela tinha um largo sorriso, seu cabelo era loiro bem curto, na altura das orelhas, e deveria ter por volta de 40 anos. – Parabéns! – Ela disse feliz e franziu a testa, porque ele ganhara parabéns? – Não acredito que já está fazendo 17 anos! – Ela disse feliz e se aproximou de para abraçá-lo. O amava, ela sabia disso, o amava como uma mãe amava o próprio filho, queria que ele a visse como uma mãe, mas era pedir demais, ela entendia.
- Obrigado – murmurou, nem lembrava que era seu aniversário. Já estavam em outubro? Aquele ano passara mais rápido que o anterior, ele pensara – Matt já saiu? – O irmão se afastara dele nos últimos anos, porém de vez em quando iam juntos para o colégio, não que chegassem a conversar alguma coisa.
- Ele não chegou – Julie disse cabisbaixa.
Não era a primeira vez que Matt não voltava para casa. Ele costumava passar a noite fora sem avisar, e William e Julie não perguntavam, nem queriam saber aonde ele ia. Já não questionavam mais, Matt tinha 18 anos, já podia tomar suas próprias decisões, se queria passar a noite fora, não eram eles quem iriam impedi-lo.
David estudava à tarde, portanto só iria para aula de tarde, teria que ir sozinho dessa vez. Julie chegou a se oferecer para levar até a escola, que ficava um pouco afastada da casa, já que eles moravam fora da cidade, mas se recusou. Iria andando até o ponto de ônibus mais próximo, já que Matt havia levado o carro consigo.

*****

desceu do ônibus, sua aula logo iria começar. O colégio não era bonito, era o único colégio de uma pequena cidade de menos de 500 habitantes. Era todo pintado de azul, mas a tinta já estava descascando, portanto ele tinha uma aparência de suja, a grama já era quase terra, de tanto os alunos pisarem nela e não repararem-na. Não era grande, tinha apenas dois andares e poucas salas em cada andar.
A cidade em que estavam era bem pequena, muito rural, na verdade. Mas era agradável, boa para quem não gosta de ser incomodado, e gostava de conhecer todos da cidade.
Matt estava parado na frente do colégio, estava encostado em uma parede junto com alguns amigos de sua gangue, ou algo do gênero, Matt fumava alguma coisa, e definitivamente não queria saber o que era. Passou direto pelo irmão, às vezes tinha nojo de ser irmão de Matt, não gostava do que Matt fazia, de seu jeito de lidar com a dor. Matt era um drogado alcoolatra maluco.
Matt sorriu para quando ele passou pela entrada do colégio. No quesito da aparência, os dois eram muito parecidos, eram muito bonitos e fortes, sua única diferença praticamente eram os olhos, que os de Matt eram verdes e os de azuis, no resto eram muito parecidos, talvez até iguais em alguns aspectos. Mas a aparência pouco importava, por dentro eram pessoas muito diferentes, diferentes um do outro e diferentes até mesmo de quem aparentavam ser.

saiu do colégio com um livro na mão, já estava escuro e estrelas brilhavam no céu, ele concluiu que tinha demorado demais na biblioteca fazendo o trabalho para o dia seguinte, mas pouco se importava, não tinha nada de muito interessante para fazer em casa. Ele sabia que era deprimente passar o aniversário na biblioteca estudando, mas ele não tinha nenhum amigo com quem pudesse comemorar, e não era mais o próximo de sua família. ficou irritado ao concluir esse pensamento, estava perdendo sua vida.
Por um segundo cogitou a possibilidade de começar a andar com Matt e seus amigos, não poderia ser tão ruim assim, certo?
Ele não teve a oportunidade de terminar o pensamento, pois ao pisar fora do colégio, ele viu Matt o esperando ali. Raramente Matt e saíam juntos do colégio, Matt costumava sair com os amigos, e nem ao menos esperava para avisar, então quando o viu ali, pensou que talvez ele estivesse esperando algum amigo. Nunca iria imaginar o que Matt estava pensando.
- Mas que demora, hein, – Matt reclamou, como se estivesse esperando sair há horas – Já são quase 19h, que espécie de aniversariante você é, que passa o aniversário na biblioteca do colégio? – Sim, aparentemente Matt tinha se lembrado do aniversário de . Talvez Matt não fosse um irmão tão ruim assim, como todos pensavam – Vamos sair para comemorar – Aquilo realmente não havia sido uma pergunta, muito menos um convite.
- Não é uma boa ideia – E não era mesmo, sabia o que Matt chamava de “se divertir”, e realmente não concordava com a opinião dele.
- Não estou dizendo para fazermos uma festa nem nada – Ainda bem que não, pois ambos sabiam que ninguém iria à uma festa para – Vamos para um bar, beber alguma coisa – Matt definitivamente não era uma boa influência, mas ninguém disse que não tinha boas intenções, apesar de estar convicto disto.
- Você sabe que a idade legal para beber aqui é de 21 anos, certo? E eu estou fazendo 17 – Pôde-se ouvir um tom um pouco sarcástico em sua voz.
- Hm, É. Tanto faz. Isso não fará diferença aonde iremos. Preciso debater uma ideia com você – Aquilo não convenceu – Você prefere passar seu aniversário sozinho?

*****


Os dois estavam sentados no balcão de algum bar. Matt estava certo, eles realmente não perguntaram a idade deles, entregaram as bebidas direto. O relógio já marcava mais de 21h, o que significava que fazia mais que duas horas que e Matt estavam por ali.
Matt ainda não tinha dito sua ideia, e talvez isso fosse a única coisa que mantinha naquele bar. Não que ele realmente estivesse pensando nessa ideia ainda, já que a essa altura já tinha bebido o suficiente para se esquecer completamente. Tanto quanto Matt tinham bebido a mesma quantidade de bebida, mas não estava acostumado a beber, na realidade nunca tinha tomado algo alcoolizado antes, portanto Matt estava mais acostumado àquilo. estava totalmente bêbado, dizia alguma coisa e Matt fingia que entendia algo. Matt estava se divertindo vendo bêbado, na verdade realmente tinha uma coisa para falar com , uma idéia a ser discutida, mas não imaginava que fosse aceitar ir com ele à um bar, e agora não se lembrava mais qual seria o plano.
Depois de algum tempo bebendo, Matt finalmente percebeu que já estavam há muito tempo por ali, e seus pais ficariam bem irritados ao chegar em casa, e ver bêbado. Esse pensamento o fez lembrar-se de sua ideia, bom, não era uma ideia realmente, mas Matt queria compartilhar seus pensamentos com .
- Hey, – Matt falou, sua voz parecia um pouco afetada pela bebida – Não acha que Julie anda meio estranha? Sabe, nos últimos meses.
Aquilo realmente tinha sido uma surpresa para , claro que qualquer coisa que Matt falasse seria uma surpresa, já que há quase dez anos que eles não conversavam, mas não esperava que Matt fosse falar de Julie. Matt não gostava de Julie, sempre deixou isso óbvio, desde que ela começara a namorar com William, ele achava que ela estava querendo substituir Lillian.
De certa forma, sempre fora verdade isso, mas Matt a pré-julgara, e nunca refez o conceito. não amava Julie, não tinha criado nenhum afeto verdadeiro por ela, mas não chegava a odiá-la, pelo menos era isso que ele achava, quando estava consciente.
- Julie sempre foi estranha – falou com sua voz bêbada. Surpreendente ele ainda conseguir falar alguma coisa. Bebeu mais um copo de alguma bebida indeterminada, com certeza ficaria com uma tremenda dor de cabeça no dia seguinte – Hoje ela me abraçou. Ridícula. Quer parecer amável, quando só quer roubar o papel da nossa mãe, não me surpreenderia se descobrisse que ela só está há todos esses anos com William por causa do dinheiro – começou a falar, as palavras saiam sem ele nem ao menos perceber, se surpreendeu ao dar conta de que estava falando coisas que nunca nem ao menos tinha pensado antes. Às vezes a bebida tem o poder de fazer as pessoas falarem coisas que não deviam, ou que nem ao menos sabiam. bufou e continuou bebendo, Matt apenas ergueu as sobrancelhas e deu um meio sorriso.
- Concordo, ela é uma interesseira – Não que Matt acreditasse nisso, sabia muito bem da bondade de Julie, aprendera a observar bem as pessoas, mas continuava a pré-julgá-las, acho que isso estaria sempre com ele – Vamos embora, – Matt disse levantando-se da cadeira. Teve que ajudar a andar até a porta.
- Olha o que eu tenho – Matt disse com um sorriso maléfico tirano um saquinho do bolso. Eram drogas, obviamente, entregou-as a – Prove-as – Matt disse, ainda com o sorriso maléfico no rosto. Ninguém sabia o que se passava pela cabeça de Matt.
Para a sorte de Matt, ou talvez azar, estava bêbado o suficiente para não ligar em se drogar, e logo estava completamente drogado. Era capaz de ter um overdose em qualquer minuto. Matt sabia disso muito bem, lembrava-se da vez que tinha ido parar no hospital. É claro que isso não o fez parar, fazia parte de sua vida, gostava daquela sensação, vício, não achava que era uma coisa ruim.
- Já volto – Matt disse e andou até algum beco, não fazia ideia do que Matt estava fazendo, começava a suar, e estava passando mal já. Queria ir embora, mas não sabia como sair dali, começara a se desesperar. Matt não voltava, talvez tivesse o abandonado, e ele iria morrer ali mesmo, precisava ser levado para um pronto-socorro, ou no mínimo para casa, estava muito mal. deixou seus olhos se fecharem por um segundo, e logo não conseguiu mais abri-los depois disso, sentia dor. Mas não havia nada que podia fazer, já estava completamente inconsciente.

*****


Um dos problemas de beber e se drogar até chegar ao ponto de ter uma overdose é que, além do sofrimento, você provavelmente não se lembrará de coisas que aconteceram no dia anterior.
Bom, mas não teve uma overdose, mas com certeza tinha ficado bêbado o suficiente para não se lembrar das coisas que tinha feito na noite anterior. Mas ele iria descobrir de qualquer forma ao acordar, afinal Matt vira tudo, e sem dúvida ele se lembrara do que tinha acontecido.
Apenas uma fraca luz iluminava aquela sala, mas foi o suficiente para que atormentasse a visão de ao abrir os olhos, que, como o esperado, estava com um terrível dor de cabeça, mas, além disso, também estava com dor nas costas. No início não conseguia saber por quê, mas logo percebeu que estava sentado de mal jeito no chão, provavelmente havia dormido ali, isso definitivamente explicava a dor corporal, mas a cabeça foi incapaz de se lembrar.
Resolveu olhar a sua volta, foi um erro certamente, já que levou um susto logo de cara ao perceber que se encontrava no porão. Como tinha ido parar lá? Ele se perguntava. Mas ao passear o olhar pelo resto do cômodo, sua pergunta foi um pouco mais efusiva. O que ele tinha feito no dia anterior, meu Deus? O que tinha acontecido?
Acho que posso dizer que teve medo, mas aquilo não era nada comparado com a mistura de sentimentos que o invadiam na hora, tinha surpresa, desapontamento, raiva, confusão, tristeza. Não o culpo, a cena que ele via era realmente horrível, ele provavelmente achara que não existia cena pior do que a que ele assistira há aproximadamente dez anos atrás, mas ele acabara de descobrir que existia sim, e ele estava a vendo naquele exato momento.
Não tinha se passado mais do que cinco segundos desde que ele recobrara a consciência, foi tudo muito rápido, mas uma lágrima já se permitia rolar por seu rosto, ele logo limpou-a com a mão. Mais um erro. Sua mão estava suja, suja de sangue, mais precisamente. E podemos dizer que não foi preciso ser muito inteligente para ligar os fatos.
olhou mais uma vez o resto do porão, cada um deles estava em um lado jogado, primeiro tinha visto seu pai, ele estava perto de Julie, e sua cabeça parecia estar toda envolta de sangue, estava caído no chão. Há apenas um pouco mais que um metro de distância se encontrava Julie, parecia ter sido enforcada até a morte, estava muito pálida, não existia mais vida por ali. Seus olhos continuaram o caminho e logo se encontraram com o pequeno David, não se permitiu ver o que tinha acontecido com ele.
Levantou e, sem pressa, andou até David. Poderia não entender muita coisa de medicina, mas sabia que o coração de David ainda batia, estava vivo, mas quem poderia dizer por quanto tempo? Andou até William e Julie, e chorou, sem batimentos cardíacos, não respiravam, sabia que estavam mortos. Então finalmente percebeu que faltava alguém no cômodo, e virou-se, Matt estava ali também, estava sentado ao chão, seus olhos estavam meio abertos e seu rosto sujo de sangue, sua respiração era desacelerada, sua mão tremia, estava visivelmente vivo. E com raiva.
estremeceu ao ver Matt se levantando com dificuldade e andando vagarosamente até ele. Não poderia prever o que Matt falaria para ele, poderia esclarecê-lo o que tinha acontecido ali, porém não tinha certeza se queria realmente saber. Pois no fundo já sabia. As evidencias estavam ali, claras para quem quisesse ver.
- O que aconteceu aqui? – perguntou amedrontado ao irmão.
- Não consegue se lembrar? – Matt perguntou de volta com raiva na voz – Acho que estava bêbado demais para conseguir se lembrar que matou a própria família – Matt disse com raiva e socou . não reagiu, caiu no chão, mas logo se levantou.
Ele havia feito aquilo. Soubera disso quando vira o sangue em sua mão e a família morta, mas ouvir as palavras em voz alta tornava tudo mais realista. Estava com nojo de si mesmo, podia ver o nojo na voz do irmão, como foi capaz de fazer algo assim? Teve coragem de fazer aquilo? As perguntas o atormentavam, mas não adiantava de nada, lamentar-se não os traria de volta, não faria aquilo sumir.
- Eu fiz isso? – murmurou, era uma pergunta retórica, mas Matt grunhiu em resposta. Não conseguia se lembrar de nada, tinha ido ao bar com Matt, bebido, mas não se lembrara de mais nada. Tinha ficado drogado ao ponto de fazer uma coisa dessas?
Sim, ele tinha. Matt sabia disso, sabia que era sua culpa, mas não admitiria isso nunca. sabia o que vira, era culpa dele, somente dele, bebeu e se drogou porque quis, agora teria que viver com isso.
- Entregue-me à polícia – disse, devia ser a coisa certa. Não, ele merecia coisa pior, merecia morrer também.
- Não vou fazer isso – Matt disse – Você é meu irmão.
- Eu matei meu próprio pai. Meu irmão. Minha madrasta – disse repugnando aquelas palavras – Eu mereço, no mínimo, ser preso.
- Você é minha única família que resta, eu não quero vê-la se destruindo novamente. Estou com raiva agora, mas sei que por parte foi culpa minha isso tudo. Quero te ajudar.
- Ajudar como? Vai revivê-los? – perguntou ironicamente.
- Ninguém precisa saber que foi você. Fuja, eu arranjarei uma desculpa. Apenas fique bem, e se daqui alguns anos tudo melhorar, volte, mande notícias, assim saberei que ainda terei um irmão.
- Fugir? – disse, estava se culpando por aquilo, mas não queria ser preso, talvez não merecesse isso, seu irmão não o culpava, portanto deveria apenas se esquecer disso.
Os dois ficaram em silêncio por um tempo, a polícia não chegaria até lá, mas era melhor serem rápidos.
- É melhor eu ir – disse essas simples palavras e correu até o quarto para pegar algumas roupas e se foi.

E ele foi. Não queria saber da desculpa que Matt arranjara, só queria ir embora. Fugir, para nunca mais voltar. Não voltaria, poderiam se passar anos, podia ninguém jamais desconfiar dele, mas ele não aguentaria voltar àquele lugar, ver o irmão novamente o acusando-o por dentro. Precisava ir para um lugar onde ninguém o conhecesse, onde poderia viver uma vida normal. Os s eram influentes, mas ele não pretendia mudar de nome, no seu interior ele sabia que sempre seria , o assassino. E teria que conviver com isso, seria pior do que ser preso, pior do que ser morto, ele teria que lembrar-se disso para sempre. Imaginar a imagem de suas mãos sufocando Julie até a morte, batendo no seu pai até ele cair morto no chão, poderia não se lembrar realmente, mas a imagem não sairia tão fácil assim de sua mente.
Alguns dias depois, ele chegou a ver a notícia em um jornal, já estava em outra cidade, mas o jornal anunciava a morte mesmo assim.

s são assassinados


William foi encontrado morto em sua casa há cinco dias, sua esposa, Julie, também fora assassinada, o filho do casal, David, foi encontrado ainda vivo e levado para o hospital mais próximo, se encontra em estado de coma, com poucas chances de recobrar a consciência. A polícia da cidade ainda não conseguiu encontrar o assassino, o filho mais velho de William, Matthew, que sobreviveu informou a polícia “Não pude reconhecer o assassino, nunca tinha o visto antes. Ele invadiu nossa casa de noite e ameaçou nos sequestrar, ao reagirmos ele nos agrediu.”, o outro filho, , estava fora de casa no momento, e depois de ficar sabendo do assassinato resolveu ir morar com uma tia em outra cidade, por ser menor de idade. Ainda não temos mais notícias do assassinato, provavelmente o assassino nunca será descoberto. Assim como o assassino de Lillian , antiga esposa de William, que há dez anos, depois de assassiná-la, nunca foi descoberto. Seria o mesmo assassino? Será que os s tinham algum inimigo?

amassou o jornal a ler aquilo, não quis continuar a ler a reportagem, já sabia o que Matt tinha informado à polícia, e o que a imprensa achava. Não precisava de mais informação.
E não teve, nunca mais. Saiu do estado e foi para bem longe, viveu sua própria vida, sem notícias do irmão, do assassinato. Nada. Assim como queria.

*****



Capítulo Dois.



Risos e conversas ecoavam pelo salão da festa. Matthew realmente queria impressionar neste aniversário da empresa. Ninguém poderia discordar que o evento estava brilhante, provavelmente sairia no jornal no dia seguinte, suas festas sempre foram famosas, mas essa fora surpreendente. Provavelmente mais de 3 mil pessoas se encontravam lá, pessoas influentes, famílias ricas, políticos, empresários, todos estavam ali. Matthew passava por todos cumprimentando-os, ficava feliz em saber o resultado de seu esforço. Realmente tinha conseguido criar uma empresa de sucesso, e ela era sua. A ’s Company tinha crescido muito nos últimos anos, tinha se tornado uma das empresas mais confiáveis e mais famosas, já era reconhecida internacionalmente e tinha sedes espalhadas por todo mundo. Era o orgulho de Matt.
Matt tinha a criado logo que completara 21 anos, há sete anos, tinha feito alguns cursos de administração e outros, já sabia comandar uma empresa, tinha vendido a fazenda de sua família, e investiu tudo que tinha na empresa. Sem dúvida foi o melhor, a empresa cresceu rapidamente e logo Matt estava multimilionário. Tinha apenas 28 anos, o que pode ser considerado novo, em termos de negócios, mas já exercia um grande poder.
Matt subiu no palco, estava na hora de seu discurso anual. Todos se calaram para ouvi-lo, ele começou falando as coisas de sempre, de como a empresa crescera e ele devia tudo a sua equipe.
Pode parecer estranho que Matt, que vivia praticamente para beber e se drogar e era mau caráter, tenha uma empresa. Mas convenhamos que a empresa não era totalmente limpa, apesar de ser também boa no que fazia legalmente, continha muitos produtos ilegais. E Matt não havia ficado rico apenas com a empresa. Podemos dizer que o narcotráfico ajudou bastante. Mas isso não o importava agora, ele tinha que dar uma boa impressão.
Matt rolava os olhos pelo salão enquanto discursava, queria ver todas as pessoas que tinham aparecido, mas seu olhar parou na entrada. Um homem entrava no salão, o segurança tentou o barrar, mas ele mostrou um documento e passou direto. Não estava de smoking assim como todos por ali, usava uma camiseta branca velha com uma jaqueta preta por cima, fazia um tempo que não se barbeava e seu cabelo estava bagunçado, tinha fortes músculos, e levava um cigarro à boca ao mesmo tempo que dava um meio sorriso para Matt.
Certamente estava muito diferente, mas isso não impediu Matt de reconhecê-lo. Afinal era praticamente sua única família, já que David provavelmente nunca acordaria. estava de volta, quem diria. Matt com certeza não, depois de dez anos sem dar sinais de vida, Matt esperava que tivesse virado um serial killer e nunca mais fosse voltar para vê-lo, mas aparentemente tinha se enganado, pois estava parado bem a sua frente.
Matt rapidamente terminou seu discurso e desceu do palco, precisava falar com . Poderia ter pedido para fugir, mas ainda lembrava-se de que era um assassino, ainda tinha visto toda a cena, e realmente não conseguia tirar aquilo de sua cabeça. Talvez tivesse matado outras pessoas depois, Matt nem queria pensar naquilo, era perigoso ter por lá, nunca se sabe o que ele poderia causar.
Ele tentava ser o mais rápido possível, mas sempre era parado por alguém para cumprimentá-lo, aquilo o irritava, será que ninguém percebia que ele estava com pressa? Aparentemente não.
- Seu discurso estava lindo, Matt! – Uma mulher dizia animada, Matt praticamente a ignorou e passou direto por ela, que estava o seguindo.
Matt bufou ao perceber que ela estava o seguindo, não que não a quisesse por perto, mas agora precisava falar com . A mulher segurou no braço de Matt o fazendo parar e olhar para ela. Tinha os cabelos castanhos escuros descendo em ondas até abaixo do peito, sua pele era morena, contrastando com o vestido cor de creme que usava, ela era jovem e uma das mulheres mais bonitas da cidade. Era , namorada de Matt.
e Matt já estavam juntos há quase quatro anos, portanto ela o conhecia o suficiente para saber que ele estava agindo estranho, porém aquilo o irritava. Não que Matt fosse o tipo de cara que estava com a mulher só porque ela era bonita, ou que fosse fútil e irritante, ambos realmente se amavam, por isso Matt não queria que ela viesse falar com ele, e ela o irritava o seguindo.
- O que aconteceu, Matt? – perguntou quando percebeu que Matt tinha parado de andar e agora a encarava.
- Não aconteceu nada, . Eu só preciso resolver uns negócios. – Ele disse – Eu falo com você em casa – Ele murmurou e então a beijou. Matt continuou andando na direção de e ficou para trás. Nunca vira Matt tão abatido assim, não gostava disso.
estava parado, bebendo alguma coisa, todos os convidados o olhavam estranhamente, mas ele não se incomodava, via Matt se aproximando, o irmão tinha mudado bastante.
- O que você está fazendo aqui, ? – Matt falou irritado. O que mais o irritava era o sorriso malicioso estampado nos lábios de , ele parecia diferente, parecia mau. E ele não gostava nem um pouco disso.
- Bom, ouvi dizer que Matthew daria uma grande festa para celebrar o aniversário da empresa, e achei que festas como essa sempre tinham bons salgadinhos, portanto resolvi passar para conferir. – disse sem mudar a feição.
- Não estou brincando, . – Matt avisou pacientemente – Por que resolveu voltar?
- Queria visitar meu irmão... Sabe como é. – Realmente ele não sabia, mas sem dúvida sabia que aquela era apenas uma desculpa, das mais esfarrapadas possíveis. - Eu estava passando pela cidade, então lembrei que tinha um irmão vivo. Sempre fiquei curioso para saber como David tinha ficado, e quando soube que você estava rico achei que seria interessante conversarmos novamente, não concorda? – disse um pouco cínico.
- Não, não concordo. É melhor você ir embora, , esse não é seu lugar.
- Como sabe que não é? Não nos falamos há quase dez anos! Não é possível que você nunca tenha se perguntado sobre o que eu andei fazendo – Ele não tinha certeza sobre isso, mas achou que Matt não seria tão insensível ao ponto de nunca sequer lembrar do irmão.
- Ah, claro, minhas únicas dúvidas eram se você voltaria ou não. Já foram respondidas.
- Ora, Matt, não estrague as coisas, só quero conversar um pouco com você.
- Sinto muito, não converso com assassinos como você, ou será que esqueceu quem você é? – Matt praticamente cuspiu as palavras.
Elas doeram em , mais do que ele achava que doeriam. Ele não havia se esquecido, muito pelo contrário, viera se culpando todos os dias nos últimos dez anos. achara que poderia voltar a falar com Matt, não esperava que o irmão se esquecesse, muito menos que o perdoasse, mas queria uma chance para voltar a ter uma família, voltar a ter uma vida normal.
- Não, não me esqueci – respondeu tentando ser o mais seco possível – Mas repito, parece que não me entende, só quero uma chance para conversar com você, Matt. É pedir demais querer que seu irmão perca dez minutos com você? Não vou ficar aqui por muito tempo, só passei para ver como as coisas andavam.
- Ok, , você terá seus 10 minutos. Mas agora não é a hora ou o lugar, depois nós nos falamos.
estava prestes a continuar com a discussão, mas foi interrompido por uma bela morena. Era , e obviamente estava atrás de Matt.
- Matt! – Ela exclamou e beijou a bochecha do namorado.
- , eu estou ocupado agora, eu já disse que depois falo com você – Ele a repreendeu assim que viu que ela começaria a falar.
- Mas, Matt... – tentou continuar a falar.
- Agora não.
- Oh, Matthew, deixe de ser mal-educado – repreendeu-o – Só porque virou milionário resolveu perder a educação? A moça está tentando lhe falar, e tenho certeza que nossa pequena discussão não é mais importante do que ela tem a lhe dizer.
- , não se meta nisso, ainda temos que conversar.
- Desculpe o mal entendido, achei que você tinha dito que nós nos falaríamos apenas depois – falou fingindo estar confuso e Matt o enviou um olhar invocado – Acho que ainda não fomos apresentados, senhorita – disse sorrindo para – Sou – Disse cumprimentando com um aperto de mãos.
- . É parente de Matt? – Ela perguntou, observando o sobrenome.
- Sim, sou seu irmão – explicou.
olhou assustada para Matt, ela, assim como todas as outras pessoas, sabia da família de Matt, e também sabia que tinha um irmão sumido, mas nunca mais ouvira falar de , às vezes chegara até a desconfiar de que ele não existia.
- Oh, prazer, , eu sou a namorada de Matt – disse sorrindo, um sorriso que desestabilizou . Um desperdício ela ficar com Matt, ele pensou.
- Ah, não sabia que Matt estava namorando – disse – Bom, não é muita surpresa, já que não tenho notícias dele há quase dez anos.
- Vai se mudar para a cidade? – perguntou curiosa, parecia um caso a ser estudado, queria poder conversar com ele mais vezes.
- Acho que não, na verdade. Devo ir embora no máximo em duas semanas – Ele explicou, não tinha nada planejado na verdade.
- Ah, você ficará hospedado na casa de Matt? Poderemos nos encontrar então, ir jantar fora... – falou, mas foi cortada por Matt, que já estava quase explodindo de raiva com essa conversa.
- Não, tenho certeza que já deve ter um lugar para ficar e coisas para fazer, ...
- Bom, acho que ficarei em um hotel, não tenho nada organizado aqui, mas seria uma honra poder jantar com você e meu irmão, eu apreciaria ser atualizado.
- Em um hotel? Por que gastar dinheiro com isso podendo ficar na casa de seu irmão? A casa de Matt tem muitos quartos, com certeza ele não se importará se você utilizar um deles – disse sorrindo. Se Matt não a amasse, provavelmente teria dado um soco em , ela estava oferecendo sua casa para . Certo que ela passava mais tempo lá que ele, mas não era desculpa!
- Agradeço, mas acho que Matt não gostará da minha companhia – falou sabendo que era verdade e mandou um olhar intimidador para Matt.
- Você pode ficar, , não incomodará – Matt disse – O que você tinha para me dizer quando chegou, ? – Matt perguntou querendo sair o mais rapidamente possível dali.
- Ah, sim – falou lembrando-se de seu verdadeiro propósito – Meus pais estão aqui, Matt. Eles querem te ver – Ela disse sorrindo.
- Claro, estou ansioso para rever Joel e Ruby, parece que faz anos que não os vejo – Matt respondeu alegre por sair daquele ambiente, e logo saiu puxando pelo salão, deixando a moça se despedir de apenas com um aceno.

se deixou ser arrastada pelo namorado, aquilo não estava importando para ela. Sem dúvida alguma estava hipnotizada, quem era aquele tal de ? estava estupefata. Bom, ela podia amar Matt, mas definitivamente não era cega. Ela sabia que Matt era bonito, ele era um dos homens mais bonitos que ela vira, quando eles se conheceram pela primeira vez ela ficou perplexa em como ele era lindo, seus olhos verdes reluziam de uma forma que fez se apaixonar logo de cara. Porém ela tinha que admitir que fazia Matt parecer horrível, aqueles olhos azuis, aquele cabelo castanho claro todo desarrumado mas ao mesmo tempo com um certo charme, ele era o sinônimo de perfeição! E ainda tinha a maneira com que ele a tratou, tão educado, deixaria qualquer mulher encantada; praticamente derreteu ao seus pés.
Mas ainda não tinha perdido o juízo, sabia muito bem que tinha um namorado e que o amava, não o trairia, muito menos com seu irmão. Se realmente fosse ficar na casa de Matt, era melhor ela passar um tempinho a mais em seu próprio apartamento antes que cometesse um deslize. E ela não estava disposta a desperdiçar uma relação amorosa de quatro anos apenas por uma noite de diversão com o irmão de seu namorado.
Preferiu concentrar-se em seus pais, se ela terminasse com Matt eles provavelmente ficariam muito desapontados, odiava desapontar alguém. Lembrou a si mesma que ficar com Matt era o melhor para todos. Não que estivesse com Matt apenas por causa de seus pais, certo que no início isso tinha muito influência, afinal Joel estava de olho em algumas ações na ’s Company há algum tempo, porém nunca houve uma oportunidade, é claro que quando Matthew demonstrou certo interesse em sua filha não havia nada de errado em estimulá-la.
não se sentiu muito confortável quando Joel disse a ela que ela deveria sair com um tal de Matthew para ajudar o pai, mas ela sabia que o restaurante que sua mãe tinha e algumas ações que seu pai investiam não eram o suficiente para manter o nível de vida em que eles estavam. tinha recém completado 21 anos e não estava compromissada com ninguém, sabia que aquilo era o melhor a ser feito.
E aquele encontro saiu melhor do que ela esperava, o tal de Matthew, que insistia ser chamado apenas de Matt, era um cavalheiro, a levou para um restaurante chique, a elogiou, tinha uma boa conversa, contou sobre sua família, sobre como tinha apenas 24 anos e já tinha uma empresa que estava caminhando para o sucesso, e realmente se encantou com ele. Não foram precisos mais que alguns encontros para que eles assumissem um compromisso mais sério, e nem se importava mais com a causa que a levara a jantar com Matt naquela primeira vez.
Mas certamente sabia que os pais estavam extremamente felizes por causa do relacionamento, e esperavam que eles se casassem logo, e não apenas por causa da felicidade da filha, e sim pela felicidade de seus bolsos. E não era quem iria terminar com Matt e ser repudiada pela família depois.
- Olá, Sr. e Sra. – Matt cumprimentou-os assim que chegaram em sua mesa.
- Ora, Matthew, já disse para me chamar apenas de Ruby – Ruby, mãe de , insistiu, tentando criar um clima de familiaridade.
- Certo, Ruby, eu sempre me esqueço. – Ele respondeu sorrindo – Como foram de viagem da Irlanda? Soube que é um lindo lugar.
- Oh, é maravilhoso, Matthew. Você deveria ir lá – Ela alegou. Joel e Ruby tinham acabado de voltar de uma segunda lua-de-mel, pareciam totalmente renovados.
- Irei anotar isso. Como vai, senhor? – Ele perguntou se dirigindo a Joel.
- Estou ótimo, Matthew. Cuidou bem de minha filhinha enquanto eu estava fora?
- Claro, pode o senhor mesmo conferir – Matt falou abraçando pelo lado, a mulher ainda estava perdida em seus pensamentos com seu irmão. Ele provavelmente não gostaria nem um pouco se soubesse dos pensamentos de sua namorada.
- Você está bem, ? – Ruby perguntou observando o estado de sua filha que parecia estar em outro mundo.
- Estou ótima, mamãe – Ela certificou sorrindo. Era melhor esquecer aqueles pensamentos de vez antes que enlouquecesse.

Todos já tinham ido embora praticamente, eram poucos os que ficavam. estava sentada em uma cadeira esperando para ir embora, ela pensou que talvez pudesse se despedir e ir para seu próprio apartamento. Riu ao pensar nessa possibilidade. Ela dividia o apartamento com sua melhor amiga, Natalie, porém não dormia em sua própria casa há tanto tempo que ela mal se lembrava de seu apartamento, Natalie provavelmente estava com algum cara em seu apartamento, definitivamente ela não iria até lá atrapalhar.
Olhou para a direção do namorado que conversava com algumas pessoas, negócios provavelmente. Ela odiava quando ele a deixava sozinha para discutir sobre trabalho. Quando era menor, jurara que nunca ficaria com um homem que a trocasse pelo trabalho, é claro que se esqueceu disso quando se apaixonou por Matt.
Rodou os olhos mais uma vez e parou em , sorriu ao ver que ele continuava ali. Não sabia o porquê exatamente, mas simpatizava muito com ele, só de olhá-lo já sentia vontade de sorrir, isso era estranho. Ao perceber que ele também se encontrava sozinho resolveu se aproximar dele, seria bom ter alguém para conversar. sentou-se na cadeira ao lado de , que se virou sorrindo para ela.
Aquilo era ainda mais estranho para ele do que pra ela, ele não costumava sorrir, não tinha motivos para isso ultimamente. O sorriso parecia tão natural quando estava perto dela.
- Olá, – Ela disse, quebrando o silêncio – Desculpe ter saído do nada naquela hora, não sei o que deu em Matt – Ela se desculpava.
- Não tem problemas, Matt tem um pouco de raiva de mim.
- Oh, por quê? Vocês são irmãos... – Ela perguntou sem entender, o que podia ter feito para Matt não gostar dele? Aquilo parecia impossível.
- Não gosto muito de falar nisso, já faz muito tempo – É claro que o tempo não justifica nada, ele completou em sua mente.
- Entendo. Mas você já conversou com ele sobre ficar em sua casa? – Ela perguntou, querendo ter certeza que podia encontrar mais algumas vezes.
- Ah, ainda não. Mas tenho certeza que ele não irá deixar – Ele falou sincero, era a mais pura verdade – Não me importa, dormirei em um hotel esta noite e partirei pela manhã.
- ! Você não pode fazer isso, eu insisto que você fique na casa de Matt – Ela disse e logo percebeu que estava oferecendo a casa de outra pessoa – Você tem que ficar pelo menos uma semana, por favor – Ela insistiu.
Alguma coisa fez estremecer, já era para ter saído da cidade, não havia mais necessidade em ficar ali, mas quando via a garota o pedir assim, era impossível negar. Ela era encantadora, admirou-se ao pensar em como Matt podia deixá-la sozinha, trocando-a pelos amigos. Sorriu para , como quem afirmava que podia tentar, ela retribuiu o sorriso, sabendo que conseguiria o que queria.
- Então, , o que te traz à cidade? – Ela perguntou.
- Vim a negócios – Ele respondeu, ficou triste com a resposta, sem saber porquê, não achou que fosse o tipo de homem de negócios como Matt.
- Tem uma empresa? – Ela estava curiosa.
- Não, ainda não... Eu revendo objetos – Ele respondeu de forma simples.
estava tentando reconstruir sua vida, revendia objetos por enquanto para acumular um pouco de dinheiro e então montar uma loja, não era seu plano de vida ideal, mas era a única coisa que pensava em fazer. Tinha cursado administração por um tempo, mas não teve dinheiro suficiente para continuar cursando e teve que passar a trabalhar.
Era uma época de sua vida que ele não gostava de lembrar, tinha prometido a si mesmo que não lembraria mais daquele tempo, apagaria de sua memória. Era isso que vinha fazendo já há um tempo, concentrava-se em trabalhar e apenas isso, não tinha amigos, não falava com sua família, não precisava dar explicações a ninguém.
Maldita hora que resolveu ir à festa de Matt, agora estava encurralado. Persuadido pela namorada de seu irmão a contar coisas sobre ele, o que estava acontecendo? Bom, ele não fazia ideia, mas apenas não conseguia sair de perto de , não conseguia parar de contar coisas. Eles conversaram por muito tempo, ainda estava surpreso com o fato de conseguir conversar direito com alguém, pois estava convencido que tinha perdido essa capacidade.

Pela primeira vez naquele dia, sentiu um alivio ao ver que Matt estava se aproximando, isso significaria que ele não teria mais que ser torturado por aquela mulher encantadora. Sim, só podia ser uma tortura vê-la falar tão docemente e nem poder se aproximar direito. , todavia, não parecia satisfeita ao ver o namorado, nem ela sabia explicar aquilo na verdade, mas gostou de conversar com e não queria ser interrompida.
- , vejo que não foi embora! – Ele sorriu falsamente enquanto olhava irritado para , você pode ir pedindo para pegarem o carro, por favor, nós já iremos para casa.
- Ah, certo – Ela falou ainda raciocinando lentamente – Até logo, , espero que voltemos a nos ver – respondeu com simpatia e beijou a face de se despedindo, nem reparando na cara furiosa de Matt ao perceber seu gesto.
- Hm, até – respondeu ainda enfeitiçado apenas pelo toque de seus rostos – Achei que iríamos conversar depois – Ele avisou a Matt assim que despertou de seu hipnotismo.
- Agora – Ele disse – Será breve. Não quero você aqui, , não gosto que você se aproxime de , não sei o que andou fazendo nos últimos anos, mas para mim ainda é apenas um psicopata assassino, e não quero que as pessoas próximas a mim corram riscos, então exijo que você já embora – Encarou irritado, estava falando sério, aquilo era realmente o que achava, porém só recebeu um meio sorriso sarcástico de .
- Quer saber? Acho que gostei daqui – Ele respondeu, não queria ficar ali, mas sabia muito bem que seria incapaz de machucar ou qualquer outra pessoa agora, ele treinou muito nos últimos 10 anos para se tratar e controlar sua raiva, ele não se drogou nunca mais e praticamente nunca bebia, tentava sempre estar o mais consciente possível. E mais, ele queria implicar com Matt.
- Problema seu. Não me importo que fique na cidade desde que não chegue perto de mim novamente.
- Oh, eu adoraria isso, mas não tenho onde ficar, e me ofereceu abrigo, acho que irei aceitar, seria falta de educação dizer que não queria. E você não quer que ela saiba de nada, não é? – sabia que tinha razão, Matt engoliu em seco.
- O carro já chegou, Matt! – apareceu reclamando de repente, fazendo Matt e saírem de sua discussão – Ei, , vai vir com a gente? – Ela perguntou animada.
- Acho que sim, não vão se importar se eu passar uns dias na casa de vocês não é? – Ele perguntou sabendo que apenas responderia.
- Mas é claro que não! Pode ficar quanto tempo quiser – sorriu mais uma vez.
Se aquilo continuasse, Matt provavelmente acabaria socando .


- Então, , ali é o quarto que você poderá ficar. O nosso quarto é bem ali na frente, basta seguir o corredor – dava as instruções para , que apenas a seguia calado, se divertindo com a irritação de Matt ao guiá-lo.
Ao entrar no quarto, ficou abismado ao reparar no tamanho. E aquele era apenas um quarto de hóspedes! Era óbvio que Matt tinha conseguido muito dinheiro com a empresa, mas não desconfiou que tivesse ganhado o suficiente para construir um castelo. Pois era obviamente um castelo aquela casa. Só a casa era quase maior do que toda a propriedade que tinha a fazenda de seu pai em Fairfield. E com certeza só aquele quarto era maior que todas as casas que havia morado nos últimos anos.
Era certo que as casas nas quais ele tinha morado eram bem pequenas, já que saiu quase sem levar nenhum bem e teve que recuperar tudo. Pois ele era um fugitivo, não adiantava de nada seu pai ter lhe deixado uma grande herança. Porém, definitivamente aquela era a maior casa que já tinha visto, parecia algo de filme, sem dúvida.
se aproximou das grandes janelas, que mais pareciam vitrais, e observou o grande jardim que estava à frente de seu quarto. Quantos quilômetros tinha aquilo? Ao longe pôde ver um heliporto, Deus, quem tinha um heliporto em sua casa?
Não que achasse que Matt trabalhava naquela cidade, quer dizer, eles estavam em Brooksville, na Flórida, a cidade não chegava a ter nem 8 mil habitantes, como o dono da ’s Company poderia trabalhar ali? Matt tinha uma vida muito boa, pensava, quem diria isso há dez anos que , o filho estudioso que mal saía de casa, ficaria passando de cidade em cidade revendendo coisas, depois de ter assassinado sua própria família, sem um emprego fixo, enquanto Matt, que estava sempre fora das regras e era problemático, seria um empresário milionário agora, que ia trabalhar de helicóptero, ou até avião.

logo se viu perdido em seus pensamentos, como pôde ter estragado tanto sua própria vida? Como pôde ter cometido um crime desses e ainda ter fugido depois? Ele deveria ter se entregado, estar na cadeia ou até mesmo morrer pelo o que tinha feito, era aquilo que realmente merecia. Mas não havia feito aquilo, era um covarde, fugira da verdade e foi embora da cidade. Levou dez anos para poder tomar coragem de visitar seu irmão! Ele não merecia estar ali naquela casa, ele deveria estar dormindo em uma cela de prisão.
se viu com vontade de se jogar por aquela janela, aquilo não era novidade para ele, volta e meia pensava em se matar, assim que pensava no que tinha feito. Não gostava desse sentimento, sentia-se repugnante, tinha ódio de si mesmo. Era incrível como com o passar dos anos aquilo só aumentava. Ele já tinha suas próprias teorias sobre o que acontecia com ele, achava que tinha um distúrbio de personalidades, que poderia se tornar aquele assassino à qualquer hora, por isso evitava manter contatos contínuos com as pessoas. Não tinha amigos, não tinha namorada, não tinha família, ele não poderia conviver com as pessoas, sempre corria o risco de acabar enlouquecendo. E ele não queria que isso acontecesse.
Ao pensar nisso, imediatamente pensou em . O sorriso dela ao chamá-lo para ficar, não tinha como dizer não, mesmo depois de ver o olhar de ódio nos olhos de Matt, ele não pôde resistir. Era inexplicável, mas ele já sentia como se conhecesse , mesmo que só tivessem se conhecido há algumas horas. E ele queria protegê-la, por isso não podia ficar por ali, antes que ele não conseguisse mais ir embora, ela era encantadora, se quisesse podia fazê-lo ficar ali para sempre, sem saber o quão perigoso isso seria.
Mas ele sabia, por isso teria que sair dali no dia seguinte, talvez nem ao menos se despedisse, sairia pela manhã. Ele tentou colocar aquilo em sua cabeça, enquanto tentava dormir. Mas já era tarde demais, já havia o enfeitiçado por completo, não saía de sua cabeça.

- Matt, isso é completamente idiota! – ria dos comentários ciumentos do namorado – Eu não estava dando em cima do , ou qualquer coisa do tipo, eu sou sua namorada! Eu só estava sendo simpática com ele. – Ela tentava convencer o namorado, enquanto tentava convencer a si mesma isso.
- Ah, sim, então quer dizer que quando você está sendo simpática com alguém você chama-a para ficar na sua casa? – Ele perguntou furioso.
- Matt! Ele é seu irmão! – Ela exclamou abismada, como Matt poderia tratar o próprio irmão assim?
- , você não o conhece direito, e nem mesmo eu o conheço direito, faz dez anos que eu não o vejo. E tem muita coisa que você não sabe, eu não o quero perto de você – Ele decidiu.
- Eu não vou te trair com , se é isso que está pensando – Ela tentou acalmá-lo.
- Não é apenas isso que estou dizendo.
- não vai me machucar, Matt – Ela disse entre risadas, pensando em como poderia machucá-la, ele era adorável, o jeito como ele ria, oh, era impossível ele ter feito algo horrível, ou fosse lá o que Matt queria dizer com aquilo.
- Repito, , tem muitas coisas que você não sabe.
- Bom, não me importa, se ele fez alguma coisa de ruim, ele já deve ter mudado. Dê uma chance para ele, Matt! E vamos dormir, pois este assunto está me irritando – Ela falou e deitou-se na cama.
Era ridículo o que Matt estava dizendo, não era perigoso! Era óbvio que ela não o conhecia, mas ela nem precisava conhecê-lo para saber disso, era apenas olhar para ele e dava para saber, Matt só estava tendo uma crise de insegurança. Como aquilo a irritava!


não conseguiu dormir naquela noite, não conseguia tirar da cabeça. Queria saber as “muitas coisas que ela não sabia”, não queria acreditar em Matt, não era um mau-caráter. Não podia ser!
Ao mesmo tempo em que tentava se convencer de que sua opinião sobre estava certa, ela pensava no porquê daquilo, ela não costumava sair defendendo as pessoas, muito menos sentir que as conhecia. Tudo aquilo era muito estranho para ela, não conseguia identificar como podia sentir esse sentimento estranho por só o conhecendo há algumas horas? Levou semanas para que sentisse que conhecia Matt, porque com tudo parecia ser tão mais fácil?
Se fosse alguns anos mais nova, provavelmente teria abandonado Matt convicta de que estava apaixonada por , apenas por esses sinais bobos. riu ao pensar de que fora capaz de fazer isso uma vez, há alguns anos, quando tinha 17 anos, e achou que estava apaixonada por outro garoto, que não era seu namorado. Mas era óbvio que ela não faria isso, já tinha 25 anos e pensava com mais clareza agora. Ela amava Matt, não era apenas porque achava atraente e sentia que já o conhecia há muito tempo, que ela estaria apaixonada por ele. Aquilo era idiotice. E afinal de contas, iria embora em poucos dias, ela podia aguentar isso. Ou talvez não.

Capítulo Três.


O que ela tinha na cabeça quando convidou para morar ali? se perguntava, enquanto tomava café da manhã. estava sentado em sua frente, e ela estava praticamente morrendo ali, como alguém podia ser tão irresistível? Ela praticamente não se lembrava de que seu namorado estava bem ali ao seu lado, e também estava quase matando o próprio irmão.
se levantou da mesa, começando a sentir que não aguentaria ficar no mesmo ambiente que ele por tanto tempo e ainda continuar lúcida. O que ele ainda estava fazendo ali? Ele disse que ficaria por apenas alguns dias, porém duas semanas já haviam se passado e nada. Não que ela não gostasse de sua presença, adorava conversar com , mas o perigo é que ela gostaria de fazer muito mais coisas além de simplesmente conversar. E ela não poderia deixar-se cometer um erro desses. Era bom que Matt estivesse bastante em casa durante essa semana, pois se não, nem ela mesma sabia o que já poderia ter feito.
Mas ao mesmo tempo em que sentia medo do que podia vir a acontecer, temia que logo fosse embora, ela gostava de sua presença ali. Ela quase nunca tinha alguém para conversar, Matt era muito voltado para os negócios, e praticamente não tinha visto mais suas antigas amigas, era bom ter ali, eles passavam horas conversando como velhos amigos, mesmo que se conhecessem há pouco, já possuíam uma amizade verdadeira.
Sim, uma amizade! Pensou, . Era por isso que gostava tanto de estar com , eles já eram bons amigos, talvez agora fosse até seu melhor amigo depois de Natalie, era só por isso que ela sentiria falta de quando ele fosse embora... Ou era isso que estava constantemente tentando se convencer.

Deus, o que aquela mulher estava fazendo com ele? Não era possível que estivesse em seu estado normal, não mesmo. o estava enlouquecendo. Ele não podia acreditar que estava mesmo ali por duas semanas, como tinha se desfeito tão rapidamente do plano de “partir pela manhã sem se despedir”?
ainda tinha suas dúvidas de como ainda aguentava ficar conversando por horas e horas com ela, sua sanidade mental estava em sérios problemas, ele constatou. Provavelmente fazia isso com qualquer um, ele observou; já que, aparentemente, Matt ainda não tinha matado nenhum dos dois, o que realmente parecia que ele faria quando olhava para ele. Com certeza Matt deveria amar mesmo , para ainda aguentá-lo ali.
Pelo menos esse parecia o único motivo plausível pelo qual ele continuava vivo, já que estava, obviamente, vivendo na casa de seu irmão, o qual o odiava, além de praticamente morrer cada vez que via .
Ao observar levantar-se para colocar o prato que tinha usado na pia, teve certeza que agora sim estava perdido. Estava se apaixonando por ela, e não precisava ser nenhum gênio para constatar isso. Se conheciam há duas semanas, o que era praticamente nada, mas era como se ela estivesse ali durante sua vida inteira. Quando estava ao seu lado sentia que podia ser outra pessoa, sentia que poderia deixar seu passado para trás e continuar sua vida. Era capaz de sorrir quando estava com ela, não era forçado, não era proposital, era apenas uma demonstração inconsciente e que ele estava feliz por ela estar ao seu lado. Nos últimos dias, tinha, inclusive, conseguido sonhar, coisa que ele julgara impossível de acontecer, já que faziam mais de 20 anos desde que ele vinha tendo apenas pesadelos e insônias de noites, em que não sonhar com nada era uma dádiva. Mas agora que ele tinha sonhado, com , é claro, ele sentia-se outra pessoa. Ao seu lado, ele sentia-se completo.
riu consigo mesmo ao concluir os pensamentos, apaixonara-se pela única pessoa que não podia. Ela era namorada de Matt! E não demonstrava nenhum interesse em , estava claramente apaixonada pelo namorado, ele podia ver o jeito que sorria para Matt, e quando ouvia os dois conversando, sentia-se enojado com o jeito que eles se amavam.
Mas ele não podia controlar seus sentimentos, queria ter saído de lá antes. Antes que se tornasse essencial para ele. E ela era, já não conseguia mais imaginar sua vida como era antes, acima de tudo ela era sua amiga, talvez sua única amiga, e ele não queria perdê-la.
Acordando para a realidade e vendo Matt o encarar com raiva, tomou uma decisão repentina. Não sabia o que estava fazendo, mas queria ficar perto de , e para isso não poderia voltar para Kentucky, onde estava morando, precisava ficar pelo menos na Flórida. Talvez não precisasse ficar necessariamente em Brooksville, mas quem sabe em sua redondeza.

Viu que se retirava da cozinha e caminhava para seu quarto, provavelmente indo se preparar para trabalhar no restaurante de sua mãe. Matt olhou aborrecido para o irmão, agradecendo que finalmente tivesse um tempo para poder falar com , e assim lhe expulsar de sua casa.
- Está achando que minha casa é um hospício para psicopatas? – Matt perguntou, furioso com a situação. tentou não transparecer o que sentia e pareceu-lhe indiferente. Não disse nada, mas ao mesmo tempo foi como se dissesse que a situação estava cômoda para ele, e não pretendia mudá-la – Só deixei-lhe ficar porque parece gostar de sua companhia e achei que perceberia que não é bem recebido por aqui.
- Ah, desculpa, achei que gostava de minha companhia também – riu, pretendendo irritar o irmão. Se divertia com a postura profissional que Matthew tinha adquirido, não conseguia mais ver o garoto inconsequente que Matt costumava ser.
- Enganou-se – Respondeu, sem paciência para ironias.
- Que pena... – falou divertido, e então vestiu uma postura séria – Vou procurar um apartamento aqui pela Flórida. Gostei daqui, o clima, as pessoas, a paisagem. Parecem mais acolhedoras do que em Kentucky, e até mesmo do que em Nebraska, mas não se preocupe, Matt, que logo estarei fora de sua casa. – Só não posso garantir-lhe que estarei tanto assim fora de sua vida, acrescentou mentalmente e Matt sorriu vitorioso, vendo-se livre de .

- Vai se mudar para Brooksville, ? – perguntou mais tarde naquele mesmo dia.
- Vou sim, estou procurando uma casa para comprar, mas não tenho muito dinheiro economizado – Ele se lamentou enquanto folheava os classificados de algum jornal.
Precisava voltar para Kentucky para vender seu pequeno apartamento, pelo menos quem sabe assim não conseguiria um pouco mais de dinheiro?
Brooksville era uma cidade pequena, composta basicamente por casas, assim como a maioria das cidades americanas, era um local para famílias, com casas grandes e bonitas. imaginava que não teria dinheiro para comprar nenhuma delas.
- Se precisar de ajuda, é só falar – tentou reconfortar o amigo – Se quiser, posso ajudar você a encontrar um emprego por aqui também – Ela sorriu para ele – Olhe, essa casa parece ter um bom preço, o que acha? – Ela disse olhando o anúncio de uma casa.
- Bom, não sei. Tenho que ir até Kentucky vender meu apartamento e ver o que posso comprar – Ele disse, sem se animar muito, a casa que estava vendo não tinha um preço nem um pouco bom.
- Você vai viajar? – Ela perguntou confusa, a ideia de ficar algum tempo longe de já a atordoava.
- Sim. Preciso resolver minhas coisas lá.
- Ah, não! Vou sentir sua falta, não fique lá por muito tempo – Ela disse sorrindo, e, por impulso, abraçou .

sorriu ao sentir o toque de , ela não tinha noção do perigo. Ela não deveria ficar tão perto dele, ele tinha inúmeros motivos para manter-se afastado. Se já tinha antes, agora que sabia que tinha se apaixonado por ela, era ainda mais perigoso, pois sabia que não conseguia se afastar. Porém, concluíra que, enquanto eles fossem só amigos, o perigo era ameno, e ele não devia se preocupar em machucar .
Ao ouvir a porta bater, se separou rapidamente de , sabendo que Matt tinha terminado seu trabalho e saído do escritório, onde passava o dia. Sorriu para e continuou vendo os classificados ao lado dele.
- , não sabia que já tinha chegado do trabalho – Matt comentou, ao entrar na sala.
- Ah, já faz algumas horas desde que cheguei, na verdade. Não quis te atrapalhar, e estava ajudando a encontrar uma casa – Ela falou sorridente, estranhava o comportamento de Matt nas últimas semanas, ele não costumava ser tão ciumento antes, mas agora, quando não estava trabalhando, praticamente não deixava ela só.
- Ótimo, deve estar querendo algum lugar só para ele, não? – Matt falou, como se realmente ele não quisesse que fosse embora. E se sentou ao lado de no sofá.
- Claro. – fingiu concordar – Amanhã mesmo irei pegar um ônibus para Kentucky, vender meu apartamento e, quando voltar, falarei com o dono da casa – Ele afirmou e se retirou da sala, não querendo ficar na companhia do irmão.

No dia seguinte, ao contrário do previsto, não pegou um ônibus com destino à Kentucky, pois insistira que ele não merecia passar horas, ou até mesmo dias, dentro de um desconfortável automóvel, e pagou-o uma passagem de avião, levando-o até o aeroporto.
Quem não ficou nem um pouco satisfeito com isso foi Matt, pois ir de avião significaria passar menos tempo fora, o que era claramente o objetivo de Matt. Ele estava muito satisfeito com a viagem de , que estaria à milhas de distâncias, deixando-o sozinho com , o que era tudo que ele pedia.
Já estava cansado de ser trocado por , e aquilo estava subindo à sua cabeça. Não aguentava mais ouvir risos vindos da sala de e enquanto trabalhava e ao chegar ao cômodo, encontrar os dois se divertindo; não aguentava mais o jeito que olhava para sua namorada, muito menos o jeito que não percebia e se sentia à vontade com seu irmão.
Matt queria ter tido mais tempo para , mas ele precisava fazer seu trabalho, que o ocupava muito tempo. Não havia nada o que podia fazer, amava muito sua namorada, mas também amava seu trabalho, sua empresa para ele era como se fosse sua filha. Além do quê, ele pretendia levar uma boa vida, e ainda tinha medo que, se ficasse pobre, o abandonasse. Ele sabia muito bem de seu amor por , mas era inseguro e tinha medo de não ser totalmente correspondido.
Ao dar partida no carro, saindo do aeroporto, Matt decidiu-se a não deixar ir embora, ela teria que ficar com ele, para sempre. Ele nem podia imaginar sua vida sem ela ali, ela era a peça que o completava, que fazia cada coisa estar em seu devido lugar. Se tirassem ela dali, tudo iria desabar e tudo o que ele tinha construído nos últimos anos não faria mais sentido algum. Mas ela não iria à lugar algum, ele pensou, ele não deixaria.

teve até medo do comportamento de Matt nas semanas que se seguiam. Ele não parecia mais ciumento, pois não havia nem ao menos mais motivos para ciúmes agora que estava longe, mas ele parecia possessivo. Insinuou para ela coisas sobre como ela poderia parar de trabalhar. estranhou aquilo, gostava de trabalhar no restaurante, gerenciava-o muito bem, e era amiga da maioria dos funcionários, além de tudo, passava esse tempo com sua mãe, com quem ela gostava muito de conversar.
Durante aquela semana, Matt também não quis que saísse muito de casa, dizia que a queria perto dele. já não aguentava mais aquilo. Como ela sentia falta de conversar com alguém, mais especificamente com . Estava cansada de Matt, cansada de suas crises de ciúmes, de sua possessão, de tudo. Queria falar com seus amigos, queria sair, queria voltar a ter sua vida. Tinha apenas 25 anos, mas sentia como se tivesse mais de 40, estava cansada, não tinha mais vida social, vivendo à disposição do marido.
Se Matt já era assim agora, não queria nem imaginar como seria quando eles se casassem. Casamento, isso lhe parecia tão distante agora, franziu a testa ao constatar que não conseguia mais se imaginar casando com Matt, imagem que até pouco tempo atrás ela tinha intacta em sua mente.
Mas o que tinha mudado? balançou a cabeça ao pensar que tudo parecia ter mudado desde que chegara. Matt estava mais ciumento, mais possessivo; e ela também havia mudado, ela já não se sentia a mesma, sentia-se diferente. Era estranho, mas ela sentia uma liberdade anteriormente desconhecida.
E seus sentimentos? Eles tinham mudado? Será que ela não amava mais Matt? Isso era impossível, só tinha algumas semanas que ela havia conhecido , aquilo não era o suficiente para acabar com um sentimento de quatro anos, pelo menos era assim que ela pensava. Ela ainda amava Matt, concluiu, só estava um pouco confusa.

Em duas semanas estava de volta, tinha vendido seu apartamento para uma corretora de imóveis, e tinha pego um dinheiro e ajeitado as coisas com seu chefe. Logo embarcava no avião para Brooksville.
Durante o voo, várias vezes se pegou pensando sobre o que faria. Tinha resolvido não pensar em durante sua estadia em Loisville, Ky, mas certas vezes isso se tornara impossível. Tinha absoluta certeza que se apaixonara por ela, e estava até se mudando de cidade apenas para ficar junto à ela, mas estava feliz com Matt, aparentemente, e apaixonada, e não era ninguém para mudar isso, pelo o que pensara.
pensou no que faria para reverter a situação, como faria que se apaixonasse por ele e esquecesse Matt. Ele tentou buscar uma solução, mas não encontrou nada, pensou em como estava feliz com o namorado, ele não iria estragar sua felicidade. Não podia.
Nessas últimas semanas, tinha se esquecido de quem era, mas agora começava a recuperar sua sensatez, lembrando que não devia mesmo procurar . Ele era perigoso, e quanto mais se aproximasse dela, mais perigo ela corria. Ele deveria ter se afastado, como deveria. Mas já era tarde demais, ele já estava voltando lá, e sabia que ao encontrar com seus olhos, ele já não lembraria mais de nada, apenas desejaria que ela estivesse com ele.

Ao ver se aproximando, imediatamente soltou a mão de Matt e correu para abraçá-lo. Não fazia ideia de como sentia a falta de antes dele viajar, mas depois de ficar duas semanas longe dele, ela percebeu que definitivamente sua vida já tinha mudado, ela não poderia mais viver sem seu melhor amigo, o que ele, sem dúvida, era para .
- Senti sua falta! – Ela murmurou para , ainda abraçada nele.
- Também senti a sua – Ele respondeu sem graça, como ele tinha sentido a falta dela!
estava certo em seus pensamentos anteriores, pois agora não lembrava mais de seu passado, tampouco lembrava de que tinha um namorado, e que este estava apenas o olhando furiosamente a alguns metros de distancia. Ele queria apenas estar com , queria ficar abraçado à ela para sempre, para que não a deixasse ir embora, a queria com ele, mas ainda sabia que isso seria impossível.
- Venha, , Matt está nos esperando – falou sorrindo, feliz pela volta de – Espero que agora vocês dois possam se dar um pouco melhor. Afinal, são irmãos.
- Não acho muito provável – murmurou mais para si mesmo do que para , tinha se esquecido de Matt.
- Então, quando se mudará para sua nova casa? – Matt perguntou ao entrarem no carro, torcendo para que dissesse “hoje mesmo”.
- Acho que semana que vem, falei com o proprietário por telefone, mas vou amanhã mesmo me encontrar com ele, para decidirmos os acordos finais.
- Mais uma semana? – Matt resmungou e o olhou irritada.


definitivamente não entendia o que tinha acontecido entre Matt e no passado. Matt tinha ódio do irmão e isso era totalmente visível, enquanto parecia culpar-se por isso. No dia da festa, quando conheceu , ela achou que essa rivalidade fosse algo antigo, talvez uma briga por uma garota, mas após passar tanto tempo junto aos dois, ela tinha certeza que tinha algo a mais. E ela queria saber o quê.
Eles eram irmãos! Como poderiam se odiar? Isso não fazia o mínimo sentido para . Ela tinha apenas uma irmã de 10 anos, a pequena Stella, certo que a diferença de idade entre elas era enorme, mas a amava, e não conseguia pensar em como não amá-la.
Realmente deve ter sido algo muito grave, pensou consigo mesma. Tentando imaginar o que podia ter sido, ela lembrou-se da morte de William e Julie. Teria algo a ver?
sabia que já fazia 10 anos desde que saíra da cidade e também sabia que esse era o mesmo tempo desde a tragédia. Ela tentou ligar os dois fatos, mas tudo aquilo parecia improvável demais, nenhum dos dois machucaria os pais, ela sabia disso!
Talvez eles tenham se desentendido após a morte da família, discutido gravemente, até mesmo brigado fisicamente, quem sabe. não conseguia pensar nessa possibilidade. Nas últimas semanas, tinha presenciado uma pequena agressão verbal, um estava sendo rude e/ou ignorando a presença do outro, mas nada mais do que isso.
Balançou a cabeça, tentando se livrar daqueles pensamentos e tentou puxar algum assunto ali dentro do carro, para acabar com aquele clima ruim.

- Então, está se mudando para a cidade agora? – Uma velhinha gentil perguntava à .
- Ah, sim – Ele respondeu monossilabicamente.
Estava vendo a casa que iria comprar, tinha ido apenas fechar o contrato, mas o filho da senhora que morava na casa estava atrasado já há uma hora e, enquanto não chegava, ela lhe mostrava a casa enquanto lhe fazia o máximo de perguntas possíveis, e , que não estava com a mínima vontade de respondê-las, praticamente a ignorava.
- É, eu percebi por seu sotaque – Ela sorriu – Esta é uma bela casa, gosto dela, mas é um pouco pequena. Seu rosto me é familiar – Ela disse mudando de assunto sem aviso prévio – Eu já não te vi antes? Ah, sim. É dono de uma empresa, certo? Achei que fosse milionário – Ela falava consigo mesma confusa.
- Deve estar me confundindo com meu irmão – respondeu irritado, não queria que lhe confundissem com Matt.
- Verdade, - Ela respondeu o analisando – Vocês se parecem fisicamente - Ela observou.
Ouviram um barulho de porta batendo, e logo um homem de aproximadamente 40 anos entrou na sala. Provavelmente o filho da senhora, que era quem cuidaria dos papeis da compra da casa.
Enquanto assinava os formulários, pensava no que estava fazendo. O que ele achava que conseguiria se mudando para Brooksville? Ele nem ao menos tinha um carro e a mansão de Matt ficava longe demais da casa que ele tinha comprado. Além do que, Matt deixara bem claro anteriormente que mesmo se se mudasse para a cidade, ele não o queria perto de . Óbvio que não, ele não era burro.

- Você comprou a casa? - Matt perguntou ao ver chegando à sua casa.
- Sim – murmurou e foi em direção ao quarto em que estava hospedado.
- Que bom – O irmão resmungou em resposta – Ei, – Falou fazendo virar-se – Não me importa se mora na cidade agora, não me interessa se é sua amiga, muito menos se você é meu irmão. Não se aproxime mais dela – Ele falou pausadamente e suas palavras saíam com ódio.
- Isso é uma ameaça? – perguntou erguendo as sobrancelhas.
- Interprete do jeito que quiser. Por enquanto, prefiro ver como um aviso.
- Certo, verei o que posso fazer – Sorriu cinicamente, sabendo que não iria conseguir afastar-se de .
Continuou caminhando em direção ao quarto. Sabia que Matt estava certo, na verdade, uma parte de si torcia para que Matt o matasse se ele se aproximasse de novamente. Ela não o merecia, ele poderia colocá-la em risco à qualquer momento.
Ela merecia alguém como Matt, que tentava protegê-la, o que era obviamente o que ele tentava fazer, já que sabia do passado de . Matt era um bom namorado para , refletiu , se ele realmente a amasse, gostaria que ela fosse feliz, e essa felicidade obviamente seria impossível com ele. Matt iria fazê-la feliz, portanto deveria ficar com ele.
só precisava ficar repetindo isso para si mesmo milhares de vezes, e quem sabe assim ele se conformaria.

abriu a porta e se deparou com Matt sentado à mesa de jantar, encarando a porta. Assustou-se, pois Matt normalmente ficava até tarde trabalhando, e ainda eram apenas 18h.
- Matt, não está trabalhando? – Ela perguntou intrigada.
- Não – Ele respondeu o óbvio – Quero conversar com você, .
- Ah, sim – Ela disse confusa, largando sua bolsa em cima do sofá – está em casa?
- Acho que está arrumando suas coisas para ir embora – Matt respondeu indiferente – Vamos para o quarto conversar – Ele ordenou, puxando até o quarto pelo braço.
- Aconteceu alguma coisa? – Ela perguntou ao entrar no quarto – É sobre ?
- Bom, é. Venho observando que você está muito próxima dele. Não gosto disso, não quero isso. Quero que se afaste de – Matt foi direto.
- O quê? Está louco, Matt? – Ela perguntou, rindo sem humor – Não vou me afastar de ! Ele é meu amigo. O que aconteceu com você, Matt? Não confia mais em mim?
- Confio em você, não confio nele. , ele é perigoso.
- não é perigoso, Matt. Você deveria dar uma segunda chance para ele.
De novo ele vinha com essa história de que era perigoso, como ele poderia ser? ainda tentava compreender isso. Essa história parecia-lhe muito mal contada, porém ela não tinha certeza se queria saber tudo.
- Pessoas como ele não merecem uma segunda chance.
- Todos merecem uma segunda chance.
- Você não falaria isso se soubesse o que ele fez – Matt murmurou, sabendo onde queria chegar.
ficou parada por alguns segundos, esperando que seu cérebro absorvesse essa informação. É claro que ela não sabia, ninguém tinha lhe contado. devia ter realmente feito alguma coisa muito ruim, ela gostaria mesmo de saber o quê? Mordeu o lábio indecisa, sua curiosidade estava a matando.
- Então por que você não me diz? – Ela perguntou nervosa.
- Quer mesmo saber? – Não, ela não queria. Mas não disse nada, esperado que lhe dissesse – Ele é um assassino.
- Eu não acredito nisso – Ela respondeu imediatamente tentando sair dali.
- Há dez anos, ele matou minha família. Eu vi tudo o que aconteceu, matou com suas próprias mãos. Ele é um psicopata! – Matt se exaltou, estava praticamente gritando – Enforcou Julie até a morte! Ele é um louco, não duvido nada que tenha matado outros depois. Na época cometi o engano de mandá-lo fugir, eu deveria ter matado-o também! Ele praticamente matou David, na verdade, o matou, já que David provavelmente nunca acordará. Provavelmente teria me matado! Sorte minha que consegui nocauteá-lo na hora, senão, eu estaria morto à uma hora dessas! – Ele desabafava contando tudo para .
Os dois ficaram em silêncio após a revelação de Matt. Ela não queria acreditar nisso, mas fazia sentido. Os dois não se viam há 10 anos, o próprio disse isso, o mesmo tempo havia passado desde a morte de William e Julie. Os fatos apontavam para isso, e por qual outro motivo Matt mentiria para ela?
Porém ela não podia acreditar que havia feito uma coisa dessas. Ele não era uma pessoa má. Certo, muitas vezes os psicopatas podem apresentar-se de formas diferentes, enganar as pessoas, mas não !
- Se não acredita em mim, por que não pergunta para ele? – Matt perguntou irritado por não acreditar nele.
- Não... – Ela murmurou – Eu preciso ir embora – Ela respondeu confusa e saiu do quarto, praticamente correndo.

Não sabia o porquê, mas ao entrar no carro, percebeu que estava chorando. Ela não sabia o que sentia, estava realmente confusa e, principalmente, não queria acreditar nas coisas que Matt tinha dito. Porém, ela não perguntaria para , não mesmo! Ela não o acusaria de assassinato, sem nem ao menos saber ao certo se isto era verdade, e se fosse, ela não iria querer falar com ele.
Mas será mesmo que Matt teria mentido para ela, só para afastá-la de ? E se fosse isso, por qual motivo ele odiaria ? Apenas ciúmes? Matt não era assim, pensava. Ele não mentiria para ela...
Ela precisava conversar com , ou com alguém. Precisava esclarecer suas ideias e saber a verdade. Porém, ela já sabia a verdade, só precisava aceitar.
E se Matt tivesse mentido apenas para afastá-la de ? Ela não iria mais aguentar ficar com ele, afinal, era seu melhor amigo, ela achava, e Matt teria que aceitar isso se quisesse ficar com ela realmente. não aguentava tanta posse. Queria ser livre para ter os amigos que quisesse, e Matt não tinha nada a ver com isso. É claro que era totalmente normal que ele se preocupasse com ela, mas inventar que o próprio irmão era um assassino? Isso já tinha passado dos limites de compreensão de há muito.

abriu a porta de sua casa, torcendo para que Natalie não estivesse em casa, assim poderia evitar perguntas inconvenientes, que ela provavelmente nem saberia a resposta. Agradeceu quando confirmou que a amiga não estava em casa, deveria estar trabalhando ainda.
Deixou sua bolsa jogada no sofá da sala e se dirigiu até seu quarto. Estranhava sua própria casa ao caminhar por ela, fazia tanto tempo que não ia até lá. Lembrou-se que também não via Natalie há quase dois meses. Meu Deus, ela definitivamente era uma péssima melhor amiga.
Pensando nos problemas que estava tendo, e em como estava confusa, decidiu-se que passaria a voltar a morar em sua casa, e percebeu como essa frase soava extremamente estranha para qualquer pessoa normal, e passaria mais tempo com Natalie. Esquecer-se-ia de e Matt por algum tempo e apenas depois voltaria a pensar nisso. Ou talvez nunca voltasse a pensar, pois achava extremamente desnecessário, talvez ela devesse esquecer completamente de sua conversa com Matt de alguns minutos antes, e continuar tratando da mesma maneira. Porém ela não sabia se conseguiria, não poderia agir como nada tivesse acontecido. E se realmente fosse um assassino?
tentou se concentrar no plano de esquecer isto, e ligou a televisão de seu quarto, tentando ao máximo mudar o rumo de seus pensamentos enquanto Natalie não chegasse.

- ? – Natalie perguntou a chacoalhando – , acorda!
A morena abriu os olhos vagarosamente, tentando entender que havia dormido enquanto assistia à algum programa estúpido na televisão, e Natalie já havia chegado.
- Você está bem? – Natalie perguntou, colocando a mão na testa da amiga, verificando se ela estava quente.
- Só estava um pouco cansada – respondeu, fingindo um sorriso e observando a amiga.
Natalie tinha o cabelo castanho claro liso, a pele branca, e era muito magra. Ela era mais velha que três anos, e as duas se conheciam há quase dez anos agora. Tinham se conhecido quando Natalie trabalhava como garçonete no restaurante de Ruby, para pagar sua faculdade de enfermagem, e gostava de passar seu tempo lá. Agora Natalie já estava formada, e trabalhava como enfermeira em um hospital de Spring Hill.
- Aham. – Ela revirou os olhos – Me conte, , o que aconteceu para você lembrar que tem uma casa? – Perguntou, sentando ao lado da amiga na cama.
- E eu tenho que ter algum motivo? – replicou, querendo desviar do assunto, recebendo apenas um olhar curioso de Natalie como resposta. – Problemas, Natalie, problemas. Mas nada demais, só vou passar um tempo aqui em casa agora.
- Brigou com Matt?
- Mais ou menos. Só preciso de um tempo para pensar, e não quero falar sobre isso, Nat – Respondeu, sentando-se na cama – E você, como vai?
- Estou bem. Estou namorando, e você saberia disso, se não tivesse sumido por dois meses. – Natalie disse em tom crítico.
- Dois meses? Uau, isso é algum tipo de recorde? – riu ao pensar que Natalie não tinha um relacionamento estável há quase 5 anos – Quem é o sortudo?
- Lucas! Ele já tinha vindo aqui em casa algumas vezes antes de começarmos a namorar. Estou realmente muito feliz com ele.
- Que bom – respondeu pensando em seu próprio relacionamento desastroso.


Capítulo Quatro.


- , é para você – Natalie avisou já irritada – E sim, é o Matt. E eu já disse que você estava em casa, então não vou inventar que você saiu, como nas últimas cinquenta vezes.
- Então diga que estou ocupada, não vou atendê-lo – Disse, sem desviar o olhar do livro que estava lendo.
- Matt, está muito ocupada agora, e não pode te atender – Natalie disse ao telefone – Sim, ela é uma pessoa muito ocupada. Quem sabe se você esperar mais algumas semanas ela não arranja um tempo livre? – Falou sem nenhuma paciência, e logo depois desligou o telefone. Virando-se para , falou: - Não sou sua secretária. Estou cansada de atender milhões de ligações suas por dia e ainda ter de inventar uma desculpa ridícula. Que tal resolver logo com Matt, seja lá o que vocês tem para resolver?
- Não é uma boa ideia – respondeu monossilábico, não querendo conversar com Natalie.
- Quando vai me contar o que aconteceu entre você e Matt? – Natalie insistiu, mesmo sabendo que não a responderia.
- Um dia, quem sabe. Você não ia sair?
- Você está me preocupando, , tem mais de duas semanas que você não fala com seu namorado. Não faça isso com ele, você sabe que são perfeitos um para o outro, deixe de infantilidade e ligue para Matt – Natalie ordenou e saiu do quarto de .

Seriam mesmo perfeitos um para o outro? pensava. Esta era uma das coisas que mais pensava nas últimas duas semanas. Por que tudo parecia tão diferente com a chegada de , se ela e Matt combinavam tanto assim, por que ao chegar perto de Matt, ela não sentia as mesmas perturbadoras, porém deliciosas, sensações que sentia apenas ao saber que estava por perto?
Por que seu coração acelerava ao pensar em , mas se sentia forçada e entediada quando pensava no próprio namorado? Por que sentia uma absurda falta de ter perto dela, e, porém, na maioria das vezes, mal se lembrava que tinha discutido com Matt?
Ela não se importava com ser um assassino, nem ao menos ligava por ele ter sido capaz de matar toda sua família, mas só de pensar que Matt poderia ter mentido para ela, já se irritava. Aquilo não era o que ela chamava de amor, não mais.
Foi só então que percebeu que não amava Matt, talvez tivesse chegado até mesmo a amá-lo um dia, mas tudo aquilo já lhe parecia forçado demais, já não tinham mais sintonia, liberdade, muito menos espontaneidade com o outro. Não se sentiu triste ao constatar isto, pareceu-lhe normal. Realmente, não conseguiria ficar com Matt após essa descoberta.
Precisaria terminar com ele, o mais rápido possível. Não era justo com Matt, se ele ainda a amava, ou achava que amava, ela não poderia continuar enganando-o, fazendo-o achar que um dia ela voltará, quando não era verdade. Ela nunca mais o amaria.

abriu a porta da casa de Matt com medo, pensando em como falaria que queria terminar um namoro de quase cinco anos assim. Ela nem ao menos tinha uma justificativa plausível, apenas não o amava mais, e não havia nada que pudesse fazer sobre isso. Tinha medo. Como Matt reagiria à isso? E se ele ainda a amasse? Ele ficaria mal? As perguntas se misturavam em sua cabeça.
Suspirou antes de colocar a chave na fechadura, teria que deixar a chave ali quando fosse embora. Quando saísse trancaria sua relação com Matt para sempre. Rodou a chave com uma parte de si torcendo para que ele não estivesse em casa.
- ! Você voltou! – Ouviu Matt gritar assim que abriu a porta.
Seus olhos brilhavam como de uma criança abrindo seu presente de natal, e seu sorriso se alargou dez vezes mais ao vê-la. Quando ela chegou, ele parecia ocupado escrevendo algo em um papel, haviam várias malas no chão, e ele parecia que ia viajar. Porém, pareceu esquecer tudo ao vê-la ali.
viu Matt caminhando até ela e ficou imobilizada. Nunca vira Matt tão feliz assim, ele parecia tão aliviado com sua volta. Mal conseguia pensar em terminar com ele agora. Ao sentir os braços de Matt a envolvendo, ela completamente esqueceu de seu propósito.
- Eu senti tanto a sua falta, meu amor. – Matt murmurou em seu ouvido – Estou tão feliz que tenha decidido voltar, não sabe como eu fiquei com medo de você não voltar mais, não atendia minhas ligações e ficava mandando Natalie inventar desculpas esfarrapadas. E você resolveu voltar logo hoje que estou viajando. Mas não se preocupe eu volto em algumas semanas – Ele disse e então a beijou. ficou parada, tentando lembrar-se de que tinha que manter o foco.
- Matt, eu.. – Começou a falar, mas perdeu a coragem ao ver o olhar feliz de seu namorado – Também senti sua falta. – Suspirou ao ouvir-se dizer isso. Ela não estava ajudando.
- Voltarei o mais rápido que puder – Prometeu – Eu te amo – Disse, beijando a namorada, e puxando as malas para fora de casa.

Assim que ouviu a porta bater, jogou sua chave na mesa de jantar e se sentou na cadeira. Escondeu seu rosto em suas próprias mãos e suspirou. Tinha conseguido piorar sua situação, quando achava que era impossível de piorar.
Era para ela ter terminado definitivamente com Matt, mas, ao invés disso, ela tinha voltado com ele. Ela definitivamente se odiava. O que faria agora? Não queria terminar o namoro por telefone, porém não se sentia bem fingindo que ainda o amava, quando não era verdade.
Pensou em correr atrás de Matt, e terminar agora mesmo, porém não conseguia se mexer e logo ele já estaria no helicóptero, indo para algum lugar que ela nem ao menos sabia aonde. Lembrou-se de como costumava ficar irritada quando Matt partia para viagens longas assim, sentia-se solitária, às vezes passava este tempo em sua própria casa, outras vezes continuava na casa de Matt, pois assim achava que sentiria menos saudades de Matt.
Saudades, ironizou em seus pensamentos, com certeza não sentiria falta de Matt desta vez, no máximo ficaria nervosa ao pensar que ele estava voltando logo. A única pessoa na qual ela se permitia sentir saudades era , ela notou. Sentia saudade de Natalie às vezes, quando ficava muito tempo sem vê-la, raramente sentia falta de seus pais agora; algumas vezes sentia falta de sua irmãzinha, porém logo se esquecia. Mas com as poucas semanas que estava longe de , ela sentia uma enorme saudades, tinha vontade apenas de ouvir sua voz, e considerando que eles se conheciam apenas há alguns meses, isto era muito peculiar.

Onde estaria agora? Ela se perguntava. Será que ele sentia sua falta também? Desejou saber para onde tinha se mudado, porém não conseguia se lembrar do endereço. Olhou no relógio e se perguntou se estaria trabalhando agora, ele já teria arranjado um emprego? Ela dissera que iria ajudá-lo a achar um emprego; de fato, prometeu que o arranjaria um emprego no restaurante até que ele encontrasse outro. Mas ela não tinha feito isso, apenas desaparecera do nada. Estava em falta com ele.
Queria recompensá-lo de algum modo. Mas como o faria? Não tinha seu endereço, tampouco seu telefone, não sabia onde ele trabalhava. Não possuía absolutamente nenhuma informação para que pudesse encontrá-lo.
Tentada a descobrir alguma coisa a mais sobre , ela se viu dentro do quarto em que costumava ficar. Nenhum rastro visível dele, procurou dentro dos armários, porém não encontrou nenhuma roupa. A cama estava arrumada, o quarto estava vazio e impessoal, assim como estava antes de aparecer. Porém nem tudo estava igual, notara, percebia as cortinas abertas, seu cheiro estava impregnado nas paredes do quarto e ela sentia sua presença ali.
Ela precisava de , suspirou ao completar o pensamento, e não era algo passageiro. A cada dia que passava sua necessidade só aumentava, seu desejo de tê-lo por perto nunca acabaria.
Antes que pudesse pensar qualquer coisa, já se via olhando para a cama e imaginando deitado ali. E por que em sua imaginação ela estava deitada bem ao lado de ? Bom, a atração que sentia por ele era inegável. Mas e quanto a confiança nele, a imensa saudade que sentia, a espontaneidade que tinha com ele, isso não era apenas atração. Era totalmente insano o que ela sentia por , mas era bom, concluiu.

- , por onde andou, minha filha? – ouviu sua mãe perguntar, ao chegar ao restaurante, que à essa hora funcionava como um café.
- Ah, mãe, estive com uns problemas. Precisava de um tempo para pensar, mas pode deixar que amanhã mesmo eu volto a trabalhar –Tentou tranqüilizar a mãe.
- Problemas? Hun – Ruby pensou por um segundo, franzindo o cenho – Com Matt? Mas está tudo resolvido, não é?
- Não sei, mãe. Ele foi viajar hoje, não sei quando volta, mas definitivamente não estamos bem.
- , veja lá o que vai fazer. Não estrague seu namoro de anos por algum motivo fútil, você sabe que Matt te ama, e você também o ama. Além do quê, ele é um ótimo rapaz, tem uma situação econômica estável, é respeitado, e eu e seu pai gostamos muito dele.
- Sim, quase tudo isto é verdade, mãe – Mas eu não me importo com elas, completou mentalmente – Mas acho que tudo vai ficar bem no final.
- Tenho certeza que vai, querida – Deu um beijo na testa da filha – Ah, apareceu um homem aqui dizendo ser seu amigo, ele estava procurando por um emprego então o admiti, mas caso você não o conheça eu o demito.
- Um homem? – Sua voz estremeceu – Quem?
- Um tal de . Está lá na cozinha. Conhece?
estava ali? estava trabalhando no mesmo lugar que ela? Seus pensamentos tinham sido realizados ou algo assim? Só podia ser isso! Ela estava estatizada. Ela precisava ver , queria conversar com ele, talvez contar-lhe o que estava acontecendo, afinal, ela precisava mesmo desabafar.
- , o que houve? Ah, não me diga que não o conhece. Ele parecia tão sincero... – Ruby resmungava, já planejando como demiti-lo.
- O conheço sim, mãe – Foi tudo o que conseguiu responder – Aliás, eu precisava falar com ele. Então, se me dá licença – Disse já caminhando em direção à cozinha.

entrou na cozinha procurando desesperadamente por . Os garçons e garçonetes passavam freneticamente por ela, sem nem ao menos notá-la, o chefe de cozinha ordenava alguma coisa sobre o prato do dia, ela notou. Mas antes que pudesse concentrar seu olhar em qualquer uma dessas coisas, já tinha encontrado o que procurava.
Wendy, uma amiga de do trabalho que coordenava os garçons, estava instruindo do que ele deveria fazer hoje. Ele a ouvia atenciosamente, enquanto tentava memorizar o que escutava, observou.
Por um segundo Wendy tocou o braço de , e sentiu seu sangue ferver ao lembrar-se de que Wendy costumava flertar com todos os homens que a conhecia. É claro que nunca se importou com isso, afinal, ela nem ao menos conhecia Matt, portanto não tinha motivos para irritar-se com tal comportamento. Porém, obviamente, agora que ela fazia isto com , sentia raiva e criticava o comportamento da amiga.
Wendy possuía o cabelo ruivo e ondulado, tinha a pele branca como neve e seus olhos pareciam esmeraldas. Ela era muito bonita, observou, se quisesse ficar com , sem dúvida conseguiria. sentiu uma súbita vontade de interromper a conversa dos dois.
- ! – Wendy sorriu feliz quando notou a presença de – Que bom que voltou a trabalhar. Isso aqui está uma zona – Ela disse, então virou-se para – Este aqui é , começou a trabalhar aqui há pouco tempo. – Wendy explicou.
- Ah, sim. Eu sei – Respondeu, olhando hipnotizada para – Nós já nos conhecemos.
- Que bom – Murmurou Wendy, saindo da cozinha.

- ... – sussurrou – Você sumiu.
- É, desculpe. Eu precisava de um tempo para pensar, sabe. – Respondeu nervosamente – Mas eu queria falar com você! Só que eu não tinha seu telefone, nem fazia ideia de onde você estava morando, se eu soubesse que você estava trabalhando no Gourmet Gallery, eu teria vindo até aqui – Desculpou-se, enrolando a fala.
- Não tem problema – Murmurou.
- Eu precisava falar com você, . – falou diretamente, precisava extremamente de conversar com ele.
- Ei, , o cliente está esperando! – Wendy reclamou voltando à cozinha – Eles não têm o dia todo!
- Certo, estou indo – Respondeu, sem nem ao menos desviar o olhar de por um segundo – Eu preciso trabalhar agora.
- É, eu também. Quando acabar o seu expediente, me procure, por favor – Pediu, saindo daquele ambiente.
O que afinal iria conversar com ? Ela não havia terminado com Matt ainda. E nem ao menos sabia o que sentia por , além do mais, estava confusa sobre toda aquela história de assassinato, que por sinal ela achava muito suspeita.

Ao começar a trabalhar novamente, sentia estar voltando a sua antiga rotina. Estava com Matt ainda, e sabia que, por mais que quisesse, não conseguiria terminar com ele tão cedo. Sabia também que o que sentia por era mais do que amizade, não sabia direito o que ainda, porém ficar perto dele era arriscado demais.
E se aquela história de Matt não fosse uma mentira completa? E se realmente fosse um assassino? Não, ele não pode ser, pensou rapidamente. Mas é claro que poderia! Onde ela estava com a cabeça? Eles mal se conheciam, para falar a verdade.
Obviamente ele a conhecia, eles sempre conversavam, ela já havia lhe contado praticamente sua vida inteira, mas o que ela sabia dele? Do pouco que sabia, a maioria sabia por Matt. Sabia que ele passara a infância em Nebraska, que tivera sua mãe assassinada quando tinha apenas 7 anos de idade, que ele morou em uma fazenda até os 17 anos. Que após William e Julie serem mortos, ele sumiu por 10 anos, e que nesse tempo ele havia trabalhado com várias coisas e, antes de se mudar para Brooksville, morava em alguma cidade de Kentucky, revendendo objetos para lojas de outras cidades. E pronto, não sabia mais nada do passado de .
Queria descobrir mais. Queria poder confiar em o suficiente para abandonar sua antiga vida e terminar com Matt definitivamente. Mas não tinha coragem de fazer isto, não por enquanto.

Ao final de seu expediente, estava sentada em uma mesa vazia bebendo um cappuccino, e pensando no que teria para falar com . Já passavam das sete horas da noite e algumas pessoas começavam a chegar para jantar. suspirou de alívio ao notar que atendia a última mesa que lanchava e já se dirigia para a sala de funcionários.
- Vai querer jantar alguma coisa, ? – Uma das garçonetes, conhecida de , perguntou.
- Não, Anna, obrigada. Estou apenas esperando por alguém – Respondeu sorrindo.
- Ah, sim – Disse, indo atender outra pessoa.
- – Ela ouviu a voz rouca de dizer atrás dela, e antes que pudesse perceber, estava virando-se com um sorriso já brotando em seu rosto.
- , olá! – Sentiu-se desconfortável.
Então, o que tinha mesmo para falar com ? Ao encontrar aqueles profundos olhos azuis, não fazia ideia do que pretendia conversar com ele.
- Eu deveria me sentar? – perguntou, erguendo uma das sobrancelhas.
- Não - Balbuciou, sem conseguir elaborar algo mais complexo – Podemos andar? – Perguntou, forjando um sorriso.

Ao saírem do restaurante, os dois se depararam com o clima de frio do final de novembro. Mesmo estando na Flórida, já estava de noite e dezembro estava quase lá, portanto, no momento, fazia um pouco mais do que 15ºC, o que era suficientemente frio para .
- Não está com frio? – Perguntou , ao observar usando apenas uma camiseta de malha.
- Não – Respondeu friamente.
- Então, eu queria conversar com você – Falou.
- Eu sei. – respondeu, sem mudar seu tom de voz. – Eu sei o que Matt te contou – disse, bufando.
Seguiram uns cinco minutos sem dizer nada, não sabia o que falar. O que achava que Matt tinha lhe contado? E como sabia?
- Eu não acredito no que ele disse – Suspirou – Eu confio em você, . Eu te conheço. Você nunca faria uma coisa dessas. Eu não faço ideia do que levou Matt a dizer uma coisa dessas. Quer dizer, não sei também o que aconteceu entre você dois, mas isto não justifica o fato de... – foi interrompida.
- É verdade – Parou de andar e encarou por um momento – É verdade tudo o que Matt falou. Eu matei William e Julie, . E eu posso te machucar a qualquer momento... – Desabafou – Matt só está tentando te proteger. Se eu fosse você, me afastaria agora mesmo.
- Você não é um assassino, .
- Sim, eu sou.
- Você não mataria sua própria família – Ela disse, enquanto, mesmo que inconsciente, dava um passo para trás – Eu te conheço.
- Não, você não me conhece. Não me procure novamente, , eu tentarei mudar de emprego o mais rápido possível, mas por enquanto terei que continuar ali. Apenas não fale comigo novamente, ok? Tente manter-se o mais longe que conseguir. Fique com Matthew e seja feliz, é isto o que deve fazer.
sentiu seus olhos arderem e abaixou a cabeça sentindo as lágrimas caírem. Ela estava ali oferecendo toda sua confiança, oferecendo sua vida, e ele a estava mandando embora? Estava a mandando ficar com Matt?
- Mas não é o que eu quero – Murmurou.
- É o que deve – Repetiu.
- Você é meu melhor amigo, . Eu gosto de passar meu tempo com você, gosto de conversar com você – Começou a explicar, sentando-se em um banco na rua – Você me faz feliz – Disse, tentando sorrir. Não queria fora de sua vida.
- Que pena – Respondeu irritado, saindo andando.
Por alguns instantes, se viu parada naquele banco, apenas vendo afastar-se. Ele parecia frio, duro consigo mesmo. Não era o mesmo quem ela costumava passar as tardes rindo, não era o a quem ela chamara de melhor amigo.
Era um obscuro, um cheio de raiva e rancor. Um completamente desconhecido, a quem ela devia temer, mas ao mesmo tempo ela sentia vontade de desvendar por completo.
Não iria ficar ali sentada o vendo ir embora. Ela não podia fazer isto, apesar de seu orgulho esmagado e as lágrimas nos olhos, se viu correndo para alcançá-lo. Ele não podia deixar sua vida de cabeça para baixo e sair assim.
- Então é isso? – gritou de alguns metros de distância de – A partir de agora quer que eu esqueça quem você é? Quer que eu passe a viver a minha antiga vida?
- Não existe uma “nova” vida, para existir uma antiga. Só continue vivendo-a.
- Você não entende que mudou completamente minha vida? Eu não vou conseguir viver como eu vivia antes. Eu mudei, . E eu não quero voltar a ser como eu era. Eu não quero deixar que você saia da minha vida.
- Eu não estou pedindo por isso. Eu faço o que eu quiser e eu não quero ficar perto de você.
- Por quê? Por que você está fazendo isto comigo?
- Acredite, você me agradecerá um dia.
- Por que eu agradeceria? Eu me importo com você, ; eu estou te pedindo para você deixar eu ser parte da sua vida. Estou pedindo que você me faça entender o que está acontecendo, o que aconteceu.
- Acontece, , que eu não sou o tipo de cara que anda com você. Eu sou um assassino, um louco psicopata que matou a própria família e vem fugindo do passado há dez anos, sou alguém que não pode se apegar as pessoas, que põe em risco qualquer um que se aproxima. Você tem a vida perfeita, cresceu nesta cidade, com pais com dinheiro, mas que estiveram perto de você durante toda sua vida, um namorado que te ama e está disposto a te dar tudo o que você necessita. Aonde é que eu me encaixo na sua vida?
- Eu não me importo com seu passado, , nem com o meu. Todos merecem uma segunda chance. Eu estou oferecendo a sua.
- É tarde demais para segundas chances. Vá para casa, – Ordenou.
limpou as lágrimas, sentindo seu rosto inchado. Nada do que havia dito adiantara, percebeu. E não iria adiantar. Talvez não fosse quem ela pensasse. Talvez aquele fosse o verdadeiro, talvez ela realmente devesse voltar para sua vida antiga. Virou-se pronta para andar de volta para casa.
- Só para saber, estou fazendo isto porque me importo com você – Ouviu murmurar e ouviu seus passos se afastando.
Um pequeno sorriso surgiu em seu rosto. Aquele era sim o que ela conhecia. Ele só estava um pouco escondido. E ela não se importaria em tirar esta capa de superficialidade dele. Aliás, estava disposta a fazer isto. Ela não iria desistir de .



Capítulo Cinco.


suspirou ao fechar a porta de casa. Levou as mãos à cabeça, bagunçando seu cabelo. Deus, o deixaria louco. Já seria suficientemente difícil para ele deixá-la seguir sua vida se ela realmente estivesse fazendo isto, agora então.
A única coisa que o fazia continuar com seu plano de sair da vida de era que isso a faria bem. Afinal, era um assassino e já estava próximo até demais de , e qualquer coisa poderia o fazer perder o controle a acabar machucando-a. Ele já tinha estragado sua vida e a de sua família, não aguentaria estragar a de também.
Ele estava irrevogavelmente apaixonado por ela e apenas queria seu bem. Por mais que a quisesse do seu lado. Por mais que a desejasse mais a cada segundo que se passasse. Por mais que ela o fizesse se sentir uma pessoa boa. Ele não era para ela. Ele não a faria feliz, só estragaria sua vida.
não tinha noção do fardo que seria ficar com . Ele era problemático, vivia se culpando, era instável e não conseguia se apegar às pessoas. Ela não aguentaria.
Mesmo com tudo o que já havia feito, mesmo com todas coisas horríveis que assombravam seu passado, nada fora tão ruim quanto ver a decepção estampada no rosto de ao mandá-la embora; nada o machucara tanto quanto observar as lágrimas de rolando desesperadamente por seu rosto. Por que ele não podia simplesmente ser o cara perfeito para ela e então ficarem juntos?
Agora mesmo ela deveria estar com Matt, já esquecendo dele. sentiu seu sangue ferver e teve uma súbita vontade de socar Matt. Pensou se tudo seria mais fácil se, de fato, tivesse matado Matt naquele dia.
Chutou o velho sofá que possuía ao ter este pensamento. Trancou-se em casa e pegou um cigarro, antes que começasse a ter novamente um surto psicótico.

Acordou no dia seguinte com a cabeça doendo, tinha fumado vários maços de cigarro e quando todos acabaram, começou a beber toda a bebida alcoolizada que possuía, além do que, não tinha dormido praticamente nada no dia anterior.
Ainda com dor de cabeça, notou alguns objetos quebrados no chão, e uma garrafa espatifada perto da parede. Havia se descontrolado na noite anterior. Não era nada demais, observou. Não havia sido a primeira vez que acontecera, e não seria a última.
Era sempre assim, há dez anos. De vez em quando surtava, ficava irritado, descontente com a vida, na maioria das vezes acabava bebendo o que acabava o deixando pior ainda. Controlava-se para não sair em público quando estava a ponto de surtar, não podia correr o risco de matar alguém novamente, o que ele tinha certeza que aconteceria.
Algumas vezes chegou a bater em pessoas, por sorte foram fortes o suficiente para se defenderem. Porém, ele notara, desde que chegara a Brooksville, mantinha-se estável. Nem ao menos fumara enquanto estava por ali. o fazia bem, é claro que fazia. Mas ele sempre seria quem era.
Podia culpar-se pelo o que havia feito há dez anos, poderia ser esta imagem que vinha em sua mente em seus pesadelos. Mas não era só por isto que se culpava, era por ser quem ele era. Era por ter se levado por seu lado maligno muitas vezes, por não poder confiar em si mesmo, por não poder confiar nos outros.
Ele queria ser aquele homem quem achava que ele era. Queria poder ter outra chance, queria poder ser outra pessoa. Mas não podia.

Sua segunda chance já havia sido dada há muitos anos por Matt. Teve a oportunidade de fugir e ser outra pessoa, mas ele apenas fugiu. Aliás, voltara agora. Não cumpriu o que prometeu a si mesmo: que deixaria o passado de lado e viveria como quisesse. Não merecia outra chance de jeito nenhum.
Onde estava com a cabeça quando resolveu se mudar para Brooksville? Ou quando resolveu pedir emprego no Gourmet Gallery? Estava pondo em risco todos daquela cidade, e, principalmente, colocando em risco e, automaticamente, ele mesmo.
Pensou em fazer suas malas e ir embora dali o mais rápido possível. Porém, havia gasto todo seu dinheiro na casa e a única maneira de conseguir mais era trabalhando.
Certo. Fez os planos de cabeça: ficaria em Brooksville por alguns meses, trabalharia no Gourmet Gallery até arranjar um emprego melhor, durante esse tempo, não falaria com novamente, se ela tentasse reaproximar-se, ele a ignoraria completamente. Não tinha como dar errado.
Ah, claro, tirando o fato de que ele estava completamente apaixonado por ela e, sendo assim, não conseguiria ignorá-la. Além de que haviam milhões de possibilidades em seu futuro em Brooksville, como ele poderia planejá-lo, uma vez que era completamente instável?

fazia planos distraído em sua mente, quando se deu conta de que já estava atrasado para o trabalho. Para falar a verdade, já estava muito atrasado. Torcia para que não fosse demitido, isso totalmente estragaria tudo o que havia planejado. Vestiu-se rapidamente, enquanto ligava para o restaurante, avisando que já estava chegando.
Por sorte, o movimento estava fraco naquele dia, portanto sua presença nem ao menos tinha sido requisitada. Wendy comentou que iria ligar para ele avisando que só precisaria vir para o turno da tarde, mas acabou se esquecendo. praguejou em sua mente por ter vindo correndo quando não era necessário.
Praguejou duplamente quando viu sentada no balcão, fazendo algumas contas na calculadora. Deus, como ela conseguia estar ainda mais bonita que no dia anterior? Claro que o rosto inchado pelo choro não tinha ajudado muito antes, mas naquele momento seu sorriso enigmático ao vê-lo o deixara ainda mais apaixonado. Como se fosse possível.
O cabelo de estava preso em um rabo-de-cavalo alto, com uma mecha de cabelo caindo, e seus olhos estavam especialmente brilhantes. O que mais queria no momento era poder ler sua mente, queria ver o que passava pela mente de no momento em que ela o olhara.
- Olá, – Ele ouviu alguém exclamar em seu lado e virou-se assustado.
Como havia chegado até ali tão rápido? Quer dizer, ele não ficara em transe por tanto tempo assim, ficara?
abriu a boca para responder alguma coisa, mas logo lembrou-se de que não podia mais arriscar falar com . Portanto, apenas passou reto por ela, indo em direção a sala dos funcionários. Estranhou quando o seguiu.
- Vai mesmo me ignorar a partir de agora? - Perguntou, o assustando. Não obteve resposta – É, eu já entendi.
Ao fechar a porta de seu armário, deu de cara com . Ela não iria desistir tão fácil de conversar com ele, percebeu. Por que não o deixava em paz logo e ficava com Matt? Afinal, o que ela queria dele?
- Vamos conversar! – Ela exclamou após alguns segundos de silêncio.
- Eu tenho que trabalhar.
- Eu sou sua chefe.
- Na verdade, sua mãe é minha chefe, não você.
- Tanto faz. Você não vai se encrencar por demorar um tempo a mais, eu tenho certeza – Resmungou, irritada. Talvez não fosse ser tão fácil quanto pensava.
- Eu já estou atrasado – Respondeu, talvez ignorá-la fosse mais difícil do que esperava.
- Estou falando sério, . Eu quero falar com você!
- Eu já falei tudo o que tinha para falar ontem. Desculpe se não era o que você queria ouvir.
- Você não estava sendo você mesmo ontem, e não era o que você queria dizer – Murmurou.
- Era exatamente o que eu queria dizer. Pelo amor de Deus, , por que não vai conversar com seu namorado ou algo assim?
- Eu não estou mais com Matt – Era uma mentira, eles tecnicamente não haviam terminado, mas era mesmo o que sentia – Nós terminamos ontem.
- Bom, eu não tenho nada a ver com isso – Disse, tentando chegar até a porta sem ser interrompido por .
Ela havia terminado com Matt por sua causa? Não, é óbvio que não, deveriam ter outros motivos. Ele deveria parar de ser tão egocêntrico e achar que tudo acontecia por sua causa. Aliás, tudo o que queria dele era sua amizade, não era? Coisa que ele nunca poderia lhe dar.
sentiu a mão de puxando seus braços e rolou os olhos. não o deixaria sair dali tão cedo.
- ... Por favor, eu só quero que as coisas voltem a ser como eram entre nós dois – Ela suspirou.
- Desculpe, , mas eu não posso mais ser seu amigo.
apenas abaixou a cabeça, pensando no que mais poderia fazer. Não queria ser amiga de também, percebeu, sentindo sua pele ruborizar levemente, não apenas sua amiga.
Certo que ainda estava com Matt, pois não havia tido coragem para terminar com ele, mas mesmo assim sempre soube que o que sentia por era mais do que amizade. Talvez estivesse começando a assimilar que apaixonara-se por .
Repentinamente abriram a porta, e, de susto, pulou para frente, ficando à apenas alguns centímetros de distância de . Olhou para a boca de e tentou controlar-se para não fazer o que tinha vontade. Ainda estava com Matt, e não iria traí-lo.
- Oh, desculpe – Um funcionário falou com um riso abafado, fechando a porta novamente.
Por um momento ficaram apenas se encarando, apesar dos comandos de seu cérebro, estava apenas se aproximando mais de , até que seus corpos se encontraram totalmente. Estavam tão próximos que podiam sentir a respiração um do outro.
- O que você quer de mim, ? – sussurrou.
Você, ela pensou, porém, não ousou dizer isto em voz alta. Apenas se afastou de , sentindo-se confusa. Desculpou-se e saiu daquela sala o mais rápido que podia.

estava tentando o deixar maluco, isso era fato. ficou um tempo na sala dos funcionários após sair, precisa pensar em como conseguiria ignorá-la. Obviamente ela não estava se importando nem um pouco com o que ele havia dito no dia anterior. Isso o irritava, o irritava extremamente.
Tentaria controlar sua fúria, não poderia se descontrolar novamente. Não podia deixar isso acontecer, de jeito nenhum. Enquanto estivesse em Brooksville, ele seria mais pacífico do que tinha sido em toda sua vida, precisava estar sob controle enquanto estivesse perto de . Precisava mantê-la segura.
Não que ele realmente fosse se irritar com , é claro que não. Como poderia? Ela era tão perfeita, era impossível manter-se irritado com ela por muito tempo. , porém, não queria correr esse risco, nem pensar.
Nunca brincara com a segurança de ninguém, sempre quis proteger os outros de si mesmo, portanto nunca se aproximou muito de alguém, sempre tentou evitar as pessoas. Mas ? Apenas tentar manter-se afastado não era suficiente quando se tratava dela. Já estava tentando fazer isto e, por sinal, não estava adiantando em nada, ela não se sentia rejeitada e se afastava, e ele hipnotizado tampouco conseguia fazer algo mais eficaz.
Se quisesse mesmo proteger , ele deveria encontrar outra estratégia e rápido.

Por mais que tentasse se distrair durante o dia, era inevitável que mais da metade de sua atenção fosse para . Ele tentara se concentrar, tentara mesmo. Mas qualquer esforço era completamente inútil, seus olhos já não o obedeciam, sem que quisesse, eles já iriam direto para , que coordenava os garçons de forma completamente irresistível.
Algumas vezes ela ainda ousou sorrir para ele, nesses momentos achou que não fosse capaz de ficar mais um sequer segundo longe dela. Por sorte, alguma parte de seu cérebro não tinha perdido totalmente a sensatez e ele conseguiu controlar-se.
Quando Wendy o avisou que seu horário de trabalho já havia acabado, suspirou de alívio. Dirigiu-se à sala de funcionários o mais rápido que pôde, pretendia ir embora do Gourmet Gallery antes que notasse que sua hora já tinha terminado.
Porém, não se surpreendeu ao notar lhe esperando na porta. Bufou irritado, era melhor que não estivesse pretendendo segui-lo, ou algo do gênero. Pois se ela resolvesse fazer isto, ele sabia muito bem o que iria acabar fazendo, e não podia deixar-se cometer este erro.
Passou direto por ela, fingindo não notar sua presença. não notou, ou pelo menos ignorou e continuou andando atrás dele.
- Não pode me ignorar para sempre. – Ela alegou ao saírem do restaurante.
- Na verdade, eu posso. – Respondeu rudemente.
- Bom, - Murmurou, sem saber mais o que dizer – mas não vai conseguir.
- Tem certeza disso? – Ergueu as sobrancelhas, duvidando.
Queria deixá-la irritada, se ignorar não estava adiantando, teria que partir para seu plano B, que, por sinal, havia sido elaborado naquele exato momento, faria com que não quisesse mais vê-lo. Ele faria de tudo para protegê-la, nem que para isso fosse preciso magoá-la um pouco.
Afinal, uma pequena mágoa não a faria mal, ela logo esqueceria isto, já se se envolvessem as consequências poderiam ser muito mais perturbadoras.

continuou andando em direção à sua casa, tentando ignorar que o seguia incansavelmente. Pensou que talvez pudesse enrolá-la, pegar um caminho mais longo e confuso, para que ela se perdesse ou ao menos se cansasse, porém, morava em Brooksville há poucos meses e havia morado ali desde que nascera, o mais provável era que ele acabasse se perdendo e não ela.
Quando já estavam quase na metade do caminho, reconheceu que era o lugar em que haviam discutido na noite anterior. Talvez aquele fosse um bom lugar para que alguma coisa fosse dita, porém, nenhum dos dois se preocupou em dizer algo. Na realidade, nem ao menos se olharam, era como se fossem dois desconhecidos, que, por coincidência, estavam indo para o mesmo local, mas sem trocarem uma sequer palavra pelo caminho.
Não que não quisesse falar com . É óbvio que queria, porém, se ignorá-la estava adiantando, ele não iria estragar seu próprio plano falando com ela.
Mesmo que, para continuar o plano, quisesse que continuasse quieta pelo resto do caminho, uma grande parte de si implorava para que ela dissesse alguma coisa. Sim, suas duas partes entravam novamente em conflito, ao mesmo tempo em que queria que se afastasse o mais rápido possível, para se proteger, desejava que ela não desistisse dele e continuasse insistindo, pois assim pelo menos continuaria tendo um mínimo de contato com ela.
Para sua sorte – ou azar – estava colaborando com o plano, pelo menos por enquanto. Talvez estivesse apenas esperando pelo momento certo e então fosse desatar falando. A parte de que o fazia continuar ignorando – e que por sinal o dominava – o fez apertar o passo, fazendo ficar levemente para trás.

Quando, depois de muito tempo andando, notou sua humilde casa no final da rua. Esperava que quando chegasse até lá, desistisse e fosse embora. Quer dizer, ele obviamente não iria convidá-la para entrar, e não era possível que ela fosse ficar ali do lado de fora da casa esperando, não é?
Ao chegarem em frente à casa, limitou-se a olhar para , mandando-a embora apenas com o olhar. Obviamente ignorando-o, subiu os cinco degraus que precediam a porta da casa, enquanto observava o exterior da casa.
Era uma casa velha, notou, estava pintada de verde claro, mas precisava claramente de ser repintada, a madeira do corrimão já estava velha e provavelmente apodreceria rapidamente, as tábuas no chão produziam um barulho extremamente irritante ao serem pisadas, a tinta da porta já estava descascando e jurou nunca ter visto uma casa tão arruinada como aquela.
parou na porta, indagando-se se não iria embora. Não era tão mal-educado ao ponto de deixá-la do lado de fora, sem menos perguntar se ela queria entrar. Também sentiu pena de ao imaginar que ela teria que voltar todo o caminho de volta, uma vez que ela tinha deixado seu carro no restaurante, estava ficando escuro e, por mais que Brooksville fosse uma cidade pequena e pacífica, a ideia de andando sozinha da rua de noite não agradava a , nem um pouco.
Bufando irritado, lamentou-se por ser tão educado à ponto de não conseguir deixar do lado de fora de sua casa. Colocou a chave na fechadura, ainda com esperanças de que fosse embora naquele momento, porém, a morena nem ao menos se moveu do lugar.
- Quer entrar? – Perguntou, punindo-se por dentro.
- Seria ótimo, obrigada – Respondeu, sorrindo ao ouvir a pergunta de – Meus pés estão doendo um pouco, não sabia que morava tão longe.
- Bom, não comprei essa casa com o objetivo de te agradar – Murmurou irritado, não era sua culpa se não tinha dinheiro para comprar uma casa na parte mais favorável da cidade.
- É claro que não – Grunhiu, surpresa com o tom rude de .

Ao adentrarem a casa, tentou esconder a vergonha que estava de sua casa. Ainda não tinha arrumado sua bagunça da noite anterior, algumas coisas ainda estavam quebradas e além do quê, ainda não tinha tido tempo para comprar móveis.
Sua casa era praticamente vazia, tinha apenas um sofá velho, um pouco rasgado, logo na entrada, com uma televisão antiga de frente, tinha uma geladeira e um fogão que o proprietário anterior não quisera mais e deixara para ele, e uma pequena cômoda, na outra parede, onde estavam guardados todos os seus pertences. Tinham também armários na cozinha, presos à parede, que estavam quebrados e não fechavam direito. Era muito pouco o que tinha, sua casa inteira deveria ser a metade do quarto em que tinha ficado na mansão de Matt, porém, era o que podia comprar, e não reclamaria disso.
Definitivamente não era ao que estava acostumada, ele notou pelo olhar de surpresa e nojo que ela fez ao entrar. Ela era de uma classe alta, podia não saber como era seu apartamento, mas sabia que a morena frequentava a casa de Matt há muito tempo, sabia também que Ruby e Joel possuíam uma boa quantidade de dinheiro, portanto, presumira que tinha sido criada em casas grandes, com empregadas e mordomias.
Lembrou-se por um momento que também havia sido criado assim, quer dizer, não tinha uma empregada, nem mordomias, sua mãe, e depois Julie, é quem cozinhava, limpava a casa e cuidava deles, mas mesmo assim morava em uma casa grande, tinham bastante pertences e dinheiro, tinham um carro – mesmo que ele próprio nunca usasse -, possuía uma vida boa até os 17 anos. E teve que acostumar-se a essa sua vida atual, não por vontade própria, mas por consequências de seus próprios atos.

Ao notar o olhar de indo em direção à garrafa ainda espatifada ao chão, pensou em como explicaria que tivera um surto psicótico – que era como ele chamava os dias em que descontrolava-se – na noite anterior, e era culpa dela, em parte.
- Desculpe, não tive tempo de limpar a casa. Não esperava visitas – Desculpou-se educadamente, tentando manter agora seu tom formal.
se aproximou da cozinha, sem nem ao menos pedir licença ou algo do tipo. Parecia em estado de choque, analisando cada centímetro quadrado da casa. Parou em frente à bancada, olhando intrigada para o pacote de cigarro vazio que tinha ali.
- Não sabia que você fumava – Observou – Se bem que agora estou lembrando de que você carregava um cigarro, no dia em que nos conhecemos, porém não o vi fumando após esse dia.
- Eu tinha parado – Limitou-se a falar. Não queria conversa com , quanto mais rápido ela fosse embora, melhor – Você não quer ligar para alguém lhe buscar aqui? Já está tarde.
- Ah, sim, irei ligar para Natalie me buscar. Ela deve sair do hospital daqui a pouco, imagino. Mas não irei ligar agora, se é que está esperando isso – Avisou – Com certeza não o segui até aqui para chegar e pedir para Nat vir me buscar. Vamos conversar direito desta vez, . E seja você mesmo desta vez.
suspirou, lamentando não ter deixado do lado de fora da casa.

- Achei que eu já tinha deixado claro que eu não tinha mais o que conversar, falou, revirando os olhos.
- E eu achei que tinha deixado claro que não iria desistir – Ela disse, se aproximando de – Eu quero me aproximar de você novamente, .
Já está bem próxima, pensou, rindo mentalmente. Porém, não disse em voz alta, tampouco riu, apenas deu um passo para trás, se afastando de .
- Você ainda é meu melhor amigo, – Ela continuou, dando mais um passo para frente – Você é a pessoa em que eu mais confio no mundo, eu não quero perder o que existe entre nós – Aproximava-se de cada vez mais, o imprensando na parede – Olhe, eu não sei o que aconteceu. Por que você acha que as coisas tem que mudar só porque eu sei do que você pode ter feito no passado? – Perguntava confusa – Você ainda é mesma pessoa para mim, . Eu te conheço, agora só falta você mesmo se conhecer.
- Eu acho que já me conheço o suficientemente bem para saber que não devo me aproximar de você – Respondeu, tentando forçar-se a se afastar de , mas não conseguia, queria-a mais perto.
- Bom, mas eu não vou conseguir me afastar de você, – Murmurou – Já é tarde demais para isto agora – Falou, aproximando seu rosto do de .
Certo, o que era isso? se questionava. Ela não estava pensando em beijá-lo, estava? Quer dizer, ele poderia ter resistido à suas perguntas, à sua proximidade, e tudo mais, mas não tinha nenhuma dúvida de que não aguentaria tentando o beijar.
Antes que pudesse pensar em fazer qualquer coisa, sentiu as mãos de envolvendo seu pescoço e conseguia ouvir seu coração disparar. Também estava se aproximando, percebeu, maldito corpo que não o obedecia.
Quando seus lábios estavam prestes a se tocar, apenas ouviu a insuportável – e salvadora – música do toque de celular de . Salvo pelo gongo, pensara, mais um segundo e todo seu plano estaria totalmente perdido. demorou um tempo para se afastar em choque e atender ao telefone.
- Alô? – Atendeu – Matt?
O que Matt estava fazendo ligando para ela, se eles haviam terminado? Não acreditava que Matt fosse o tipo de homem que ficava correndo atrás da namorada depois, e porque pareceu tão nervosa de uma hora para a outra?
- Ah, sim – Murmurava, tentando fazer com que não a ouvisse – Sim, eu também. Não, eu estou no meu apartamento – Respondia, tentando ser o mais monossilábica que podia – Não estou lá agora. Onde estou? Ah, eu saí, com uns amigos, do restaurante – Bom, era quase verdade, afinal ela considerava seu amigo, e ele trabalhava no restaurante agora – Matt, eu tenho que desligar, aposto que você também tem muita coisa para fazer aí também – Ficou um tempo calada, apenas ouvindo do outro lado da linha – Também estou com saudades, te amo – Falou o mais baixo possível e então desligou, olhando para .
Ok, talvez ela não tivesse falado tão baixo assim. E além do que, ela e ainda estavam próximos o suficiente para ele ouvir o que ela tinha dito.
- Você é Matt terminaram, né? – Falou ironicamente, revirando os olhos.
apenas mordeu o lábio inferior, ótimo, agora sabia que ela havia mentido sobre ter terminado com Matt, mas como ela poderia explicar? Ela queria mesmo ter terminado com ele, só não tivera oportunidade, e não iria terminar com ele por telefone!
- Nós vamos terminar – Ela disse, e sentiu sua voz falhar – Estou só esperando ele voltar de viagem.
- Por que disse para mim que vocês tinham terminado?
- Porque esta era minha vontade! – Ela praticamente gritou – Eu ia terminar com ele! Mas ele não me deu tempo! E eu não achei justo terminar com ele por telefone – Justificava-se.
- Ah, claro. Decida o que você quer, , um segundo está tentando me beijar no outro está dizendo que sente a falta de seu namorado – Ele resmungou, não podia acreditar que tinha mentido para ele!
- Pelo amor, como se você pudesse dizer alguma coisa. Fica dizendo que eu devo me afastar, me manda embora, me ignora, porém iria me beijar também, não ia? – Reclamou – Como pode me culpar por isso então?
- Disse para você se afastar e te ignorei para te proteger, , não porque quis. Você está com Matt porque quer, esta é a diferença – revirou os olhos após ouvir isto. – Não tenho culpa de me sentir atraído por você, e não resistir.
- Então também não tenho culpa – Irritou-se – Eu já teria terminado com Matt antes, se você não insistisse em que eu deveria me afastar.
- Bom, se só for terminar com Matt quando eu me aproximar de você, desista, se casará com ele – avisou – Não sei onde estava com a cabeça quando deixei você entrar aqui – Disse se aproximando da porta e a abrindo, fazendo menção para sair.
- Isso é ridículo, nós dois sabemos que você não vai me machucar, se é isto que você está pensando.
Ao invés de sair, ignorou toda a educação que tinha recebido e sentou-se no velho sofá que tinha no meio da sala. Precisava arranjar um jeito de mudar de ideia, precisava convencê-lo de que ele não era perigoso.
- Eu sou perigoso, . E você está me provocando.
- Você não é perigoso, . Já disse que não acredito nisso.
- Não? Então se para você uma pessoa que matou o pai e a madrasta, que deixou o irmão mais novo em estado de coma, que tem surtos psicóticos e é mentalmente descontrolado não é perigoso, tudo bem. Mas para mim é, e, entenda, eu não vou me deixar te machucar. Não vou te colocar em perigo, por mais que você esteja tentando o contrário.
- Talvez você possa ter feito essas coisas, , mas convivi com você por tempo o suficiente para notar que você não terá coragem de me machucar. Aliás, que não terá coragem de machucar ninguém – Acrescentou.
- Não está esperando que eu lhe mostre o contrário, está? Porque não vou machucá-la só para mostrar o que sou capaz de fazer. Mas se continuar tentando se aproximar, é capaz de você mesma acabar descobrindo.
Ela suspirou, não iria desistir da ideia de que era perigoso tão rápido. Ele não era, ela tinha certeza, o que o perseguia era aquela porcaria de assassinato suspeito. Quer dizer, pelo o que ela sabia, ninguém tinha provas de que ele tinha realmente matado William e Julie. nem ao menos se lembrava daquela noite, como podia se culpar tanto assim? Como pôde acreditar tanto assim que havia feito uma coisa horrorosa dessas? Foi então que passou pela cabeça de que talvez não tivesse feito nada, talvez ele fosse inocente e estivesse vindo se culpando sem motivos nos últimos anos.
Obviamente, não iria acreditar nela, ele mal podia acreditar que era capaz de não machucá-la, imagina se acreditaria que tudo o que vinha passando era uma farsa. Uma farsa que Matt havia criado. Não fazia sentido, pensou; por qual motivo Matt teria feito uma coisa dessas? Ela só estava tentando achar algum motivo para continuar lutando por e convencê-lo.
- , vá embora! – gritou, irritado, fazendo sair de seu transe – Vá embora, por favor. Pelo seu bem.
- Não, , eu não vou embora até você admitir que não é perigoso.
- Deixe de ser teimosa, eu sei o que fiz e o que posso fazer.
- E se não souber? – Questionou.
a olhou confuso, o que estava tentando fazer agora? Queria confundi-lo, queria fazê-lo achar que não se conhecia bem o suficiente. Bom, ele não cairia em seu truque, não mesmo.
- E se você não for o assassino que pensa que é, ? – Perguntou, nervosa, convicta de suas teorias – E se você não tiver realmente matado William e Julie?



Capítulo Seis.


- ? – Ouviu a voz de Natalie perguntar, ao bater a porta de casa – Meu Deus, por onde esteve? Matt ligou várias vezes e sua mãe também estava a procurando – Foi reclamando até a porta – Fiquei preocupada com você, ninguém sabia onde você tinha ido – Exclamou, brigando com .
- Desculpe, Natalie, não foi meu objetivo. Apenas demorei um pouco mais para voltar para casa hoje.
- Um pouco mais? , já passou de onze horas da noite, seu horário de trabalho termina às seis hoje! – Continuava brigando, enquanto ia para a sala – Ah, Lucas está aqui. Estamos jantando, se quiser nos acompanhar.
- Eu não estou com fome – Passou direto pelo corredor, apenas acenando para Lucas quando passou pela sala de jantar.
- Desculpe, Luc, não sei o que deu nela, não costuma ser tão antipática – ouviu Natalie se desculpando com o namorado.
Porém não estava ligando para nada disso. Seu cérebro ainda estava a mil por hora, e a cada segundo que se passava, seus pensamentos iam se organizando e ela ficava ainda mais em choque com suas suspeitas.
Tudo parecia fazer tanto sentido em sua cabeça, porém ainda não tinha nenhuma prova. Precisava de provas para que conseguisse convencer de que suas teorias estavam absolutamente certas e que ele deveria confiar nela.

Não achou que fosse ficar tão estressado com sua acusação, quer dizer, fazia todo o sentido! Tudo bem, ela deveria mesmo ter escolhido um momento melhor do que aquele para contar-lhe sobre suas teorias, porém acabou simplesmente falando que achava que não era o assassino. Obviamente, não esperava que ele fosse concordar, mas se antes ele parecia irritado, depois desta afirmação até mesmo chegou a sentir um pouco de medo dele. Viu que as mãos de tremiam constantemente e que seus olhos fulminavam de raiva. Quando ordenou – ou implorou – que ela saísse, não hesitou ao praticamente correr até a porta e sair.
Preferiu não ligar para Natalie buscá-la, estava confusa e precisava de um tempo para pensar e não se importava de andar até o restaurante de volta, afinal, eles nem ao menos moravam em uma cidade perigosa e, por mais que seus pés estivessem doendo e seus olhos implorando para se fecharem, ela não demoraria tanto tempo para chegar até lá. De fato, levou praticamente duas horas para chegar até o restaurante, mas muitos minutos foram perdidos com ela parada pensando.
Pegou-se pensando no que faria agora. Ela teria que se encontrar novamente com no dia seguinte, e não fazia a mínima ideia de como ele se portaria. É claro que ele voltaria a ignorá-la, ela não duvidava nem um pouco disso, mas, por algum motivo, aquela ideia se tornara ainda mais desagradável ao seu ver.
Cansada demais para conseguir pensar em alguma solução para seus problemas, resolveu que o melhor que tinha a fazer era dormir. Talvez achasse todas as respostas que buscava em seus sonhos, por que não? Precisava apenas organizar seu pensamentos e bolar um plano.
Só isso.
Quando seus olhos já estavam fechados e seus cérebro já estava quase inteiramente levado pelo sono, ouviu o toque de seu celular disparando, e levantou-se sonambulamente para atender. Quem estaria ligando para ela à essa hora da noite? Certo que não era tão tarde assim, afinal, ainda nem dera meia-noite, mas continuava sendo falta de educação ligar para as pessoas após as 22 horas. Atendeu sonolentamente ao telefone e não se surpreendeu ao notar que era Matt no outro lado da linha.
Ótimo, ele não poderia deixá-la em paz por algumas horas, pelo menos? Quer dizer, ela estava super atordoada com todo o mistério do assassinato, misturados com o que tinha acontecido com apenas algumas horas antes, era demais pedir algumas horas longe do causador desses problemas?
- Olá, Matt. Eu estava indo dormir, não pode me ligar outra hora? Estou realmente muito cansada... – Murmurava, tentando despachá-lo.
- Se divertiu hoje, ? – notou o tom enciumado de Matt – Então, você resolveu sair com aqueles garçons? – Dizia com desprezo – Não quero te ver saindo com essa gente novamente.
- Eu saio com quem eu quiser, Matthew – Irritou-se.
- Enquanto namorar comigo, não – Ele impôs.
Certo, essa era a hora que ela deveria terminar com ele, não era? mordeu os lábios. Não, não podia terminar com ele agora. Pelo amor de Deus, ela namorara com Matt por tanto tempo, não podia terminar assim do nada, podia?
- Não vou discutir por telefone, Matt, mas você não manda em mim, ok? – Pôde ouvir Matt bufar do outro lado da linha – Eu falo com você amanhã. Boa noite.
- Eu te amo, .
- Também – Disse, desligando o telefone.

Passara a noite inteira revirando-se na cama. Ou pelo menos essa era a impressão que tinha quando seu despertador tocou às oito horas da manhã. Demorara muito tempo para finalmente conseguir pregar os olhos e dormir. Ficava recordando de vários momentos do dia anterior.
Ela quase tinha beijado na noite anterior! Como aquela cena estava vindo impertinentemente em sua mente. Não podia acreditar que quase havia feito uma coisa dessas, afinal, ela ainda estava com Matt, e mesmo que esta não fosse sua vontade, não iria traí-lo. Ela não era esse tipo de pessoa.
Tentava justificar sua ação dizendo que a culpa era de , afinal, ele havia se aproximado também. Porém, não conseguia enganar nem a si mesma. Como podia dizer a que as coisas continuavam sendo as mesmas, quando obviamente não continuavam? E ela não se referia ao assassinato, ou a discussão deles, e sim ao seus próprios sentimentos.
É certo que antes o que ela sentia por era realmente amizade, e também não havia mentido quanto a ele ainda ser seu melhor amigo. Mas, definitivamente, os seus sentimentos estavam mudados.
Como havia sido tola ao pensar que aquilo era só uma combinação de amizade e atração. Estava tão apaixonada por , cegamente apaixonada. Viu um sorriso se formando em seus lábios ao se dar conta de como era estranho estar apaixonada novamente, tudo parecia tão diferente ao se dar conta desse fato.
Seus sentimentos por Matt pareciam tão ridículos quando comparados aos de . Não se sentiu assim quando estava apaixonada por Matt, talvez nunca tivesse realmente sido apaixonada por ele. Besteira, pensou, é claro que tinha se apaixonado por Matt, eles namoraram por quatro anos! Então, talvez o que sentisse por fosse ainda maior, ainda maior do que qualquer coisa que ela pudesse explicar.
Com certeza era maior, ela sabia muito bem disso. E era por este motivo que sentia medo. Seu amor por poderia ser tão grande, de forma que ela estivesse se enganando este tempo todo sobre o assassinato, apenas para conservar a imagem de que havia em sua mente?
Não, não podia ser isto. Ela não estava se enganando, este era o papel de , não dela.

Sentiu uma súbita vontade de estar perto dele novamente, aquela proximidade entre os dois a fazia bem. Porém sabia que iria lhe evitar dali em diante. Portanto, precisava de algumas provas antes de tentar aproximar-se novamente. Deixá-lo-ia absorver tudo o que estava acontecendo por um tempo, enquanto isso, tentaria conseguir algum jeito de conseguir provar suas teorias. Talvez pudesse seduzir Matt, e o fazer contar o que realmente tinha acontecido, mas isto seria meio difícil de acontecer com Matt há quilômetros de distância.
Nunca havia sido uma boa investigadora, mas agora tinha certeza disso! Como ela iria conseguir provas? Ela não tinha ideia de por onde começar. As únicas pessoas vivas que assistiram ao acidente haviam sido Matt, que estava viajando, e , que com certeza não lhe diria nada. A tragédia havia sido em uma pequena cidade de Nebraska e ela estava na Flórida, com certeza nenhum policial dali saberia informá-la sobre algo.
Foi então que lembrou-se que Matt já havia lhe contado sobre um irmão mais novo, que não havia sido morto. David estava em estado de coma, ou pelo menos era o que Matt havia contado, não estava? lembrou-se de que uma vez Matt havia dito que David estava internado em Spring Hill, mas havia muita pouca chance dele se recuperar.
Talvez David não estivesse em coma, porque Matt teria deixado seus aparelhos ligados por 10 anos, se havia tão pouca probabilidade assim dele voltar? Curiosa, viu-se indo em direção ao quarto de Natalie. Esperava que Lucas já tivesse ido embora, senão, a situação seria um pouco constrangedora.
- Hey, – Natalie a cumprimentou, enquanto se arrumava para o trabalho – Já está pronta?
- Natalie, preciso de sua ajuda! – Disse, e percebeu que sua voz saiu mais trêmula do que planejara.
- O que foi, ? – Assustara-se com o pavor nos olhos da amiga – Está com algum problema?
- Não é nada. Só... Você pode pesquisar no hospital se algum David está internado? Por favor, é importante.
- ? Irmão de Matt? O que você está tramando, ? – Natalie arregalou os olhos – Não está duvidando que Matt tem um irmão internado, está? Ele é seu namorado, , confie nele!
- Pode fazer isto, Natalie?
- Posso tentar, mas não lhe garanto nada.
- Obrigada.
- E, quando eu voltar, quero saber o que está acontecendo, certo?
- Eu lhe contarei, só tente descobrir isto – Pediu, saindo do quarto de Natalie.

Enquanto dirigia até o Gourmet Gallery, não pôde deixar de notar a incansável taquicardia que estava tendo ou a tremedeira insistente de suas mãos, precisava parar para respirar. Iria acabar desmaiando se continuasse assim, não tinha razão para estar tão nervosa! Mas por mais que quisesse, não estava conseguindo se acalmar.
Ao chegar ao restaurante, foi direto pegar um copo de água gelada, estava quase se acalmando e recuperando o ritmo do coração, quando eis que aparece na cozinha. E podemos dizer que isto foi o suficiente para que sua arritmia cardíaca voltasse. suspirou ao ter sua previsão comprovada, totalmente fingiu que ela não existia.
Ela obviamente não iria se deixar abalar por isso. É melhor assim, repetia em sua cabeça, mas, por mais que tentasse concentrar-se nesta ideia, não conseguia tirar os olhos de e pensar em tomar a iniciativa de falar com ele.
Se David não estivesse realmente em estado de coma, sua pseudo-investigação andaria bastante, porém ela ainda tinha muito a descobrir. Ela conhecia Matt há 5 anos, porém naquele momento sentiu como se ele fosse um desconhecido. Se tudo o que ela estava pensando no momento fizesse algum sentido, ela definitivamente não fazia a mínima ideia de quem Matthew era realmente.
O dia inteiro se dividiu entre esperar uma ligação de Natalie, apesar de ter certeza que esta não iria lhe ligar, e observar . Viu-se aliviada quando ao final do dia chegou em casa.
Tudo parecia tão normal. Nada havia realmente mudado, ainda estava com Matt, que estava viajando a negócios; era como se não conhecesse , já que ele estava a ignorando; ela estava de volta em sua casa, trabalhando no restaurante de sua mãe, sua melhor amiga chegaria logo do hospital. Mas ela não podia deixar de perceber que tudo havia mudado. Um fato, acontecido há tanto tempo, esquecido por sua parte, podia de repente transformar tudo o que ela tinha certeza.

Não conseguiu dormir até ouvir o barulho de chave, estava ficando nervosa. Depois de ouvir o que Natalie tinha a dizer, ela teria que tomar alguma importante decisão, seja lá o que sua amiga dissesse.
Quando Nat bateu na porta de seu quarto, pálida como neve, levou um susto e naquele instante teve quase certeza que sua teoria havia sido confirmada. Não sabia qual deveria ser sua reação. Isso não realmente provava alguma coisa, ela precisava concordar, mas provava que Matt estava mentindo, esteve mentindo por muito tempo, para esconder algo ainda maior. Tudo o que ela precisava eram de provas concretas agora.
- Ele não está internado, – Natalie disse por fim – Mas não é só isso.
- O que tem? – instigou.
- Achei que ele pudesse estar em outro lugar, não está internado em nenhum hospital da região, nunca esteve. Lucas tem um amigo que está trabalhando em Nebraska, parece que perto do lugar onde os costumavam morar, pedi para que ele ligasse para este amigo, para verificar se o irmão de Matt estava internado lá.
- Ele está em Nebraska? Mas não tem sentido Matt ter dito para mim que estava aqui, se estava em outro estado...
- Ele está internado em Nebraska, , mas não em um hospital.
- Do que você está falando, Natalie?
- Dan, o amigo de Lucas, disse que David esteve internado no hospital por menos de um mês, ficou em coma por apenas duas semanas, e em observação por mais duas. Depois foi transferido para um hospital psiquiátrico, uma espécie de manicômio, pois estava com indícios de esquizofrenia, segundo sua ficha, estava delirando.
- Sobre o assassinato – Pensou – Ele não estava delirando, Natalie.
- Talvez ele realmente tenha ficado louco, , ele viu os pais serem assassinados.
- Ele tinha 7 anos, Natalie! E Matthew não escondeu isto de mim porque estava com vergonha de dizer que o irmão estava em um hospício, e sim porque ele não queria que ninguém soubesse que ele internou o próprio irmão caçula para esconder que ele é um assassino!
podia ver tudo em sua mente, era o plano perfeito. Matt era muito esperto, após matar os próprios pais, fez acreditar que era ele quem havia cometido os homicídios, e quanto ao irmão mais novo, ele fez com que todos achassem que estava louco, transtornado após a tragédia. É claro que ninguém iria desconfiar, não eram tão importantes para uma investigação tão detalhada na época e agora o caso já estava arquivado.
- Você não acha que pode estar exagerando muito nessa história, ? Talvez a família de Matthew tenha realmente sido assassinado por um desconhecido, o pequeno tenha enlouquecido e o outro irmão tenha ido embora para esquecer tudo. Faz muito mais sentido.
- Mas esta não é a história verdadeira, nem mesmo a falsa. acha que ele é o assassino, mas não é!
- O irmão do meio? Seu amigo? Meu Deus, ! Talvez ele seja um assassino, se ele mesmo diz, é porque é.
- Não é! Ele não se lembra direito da noite, só se lembra dos fatos que foram lhe contados, eu tenho certeza. não seria capaz de fazer uma coisa dessas.
- E Matt seria?
se manteve calada. Certo, talvez houvessem alguns furos em sua teoria, talvez ela mesma estivesse enlouquecendo com isso. Aliás, já tinha quase certeza que estava ficando louca. O que estava acontecendo com ela? Por que estava tentando criar uma versão própria de um assassinato de dez anos atrás, acusando o próprio namorado de homicídio, sem nenhum motivo?
Não estava somente apaixonada por ele, tentando achar um lado bom nele. Isso não era o suficiente para explicar o que se passava em sua cabeça. Estava agindo como uma psicopata, podia ver que Natalie concordava apenas olhando para a amiga. Levou as mãos à cabeça, em um gesto preocupado.
Não queria estar enlouquecendo, não queria que fosse um assassino. Não podia acreditar que ele fosse, só precisava se convencer disso. Matt não tinha matado ninguém, ela praticamente viveu com ele, sabia muito bem que ele era inofensivo, já ela não tinha tanta certeza.
- Não tem sentido Matt ter matado os próprios pais, tem, Natalie?
- Na verdade, não, não faz o mínimo sentido.
- Estou enlouquecendo.
- Provavelmente – Natalie respondia monossilabicamente, enquanto tentava dissolver o fato de que na verdade tinha matado os próprios pais.
- Sim, estou. Porque não ligo para nada disso, Nat – Concluiu. Simplesmente não ligava para esta história, queria mais era estar com e pronto.
De súbito, compreendeu que precisava descobrir a verdade. Não porque não iria ficar com se ele fosse um assassino, porque estava com raiva de Matt por ele ter mentido por tantos anos, ou mesmo porque achasse que era uma injustiça carregar este fardo por tantos anos. Sua razão era simplesmente porque ela sabia que antes que pudesse ficar com ela, ele precisava ter a consciência livre primeiro, precisava saber que nunca tinha cometido nenhum homicídio, precisava convencê-lo de que não havia perigo em se aproximar das pessoas.
- Eu preciso ir a Nebraska, Natalie. Em que cidade fica esse hospital?
- Está louca, ? Você não pode ir até lá!
- Sim, eu posso, eu tenho que falar com David, Nat! Eu preciso resolver isso tudo de uma vez por todas, estou cansada de não saber a verdade.
- Você só vai acabar se decepcionando, . Olhe, eu não gosto nem um pouco da ideia de você ser amiga desse , eu não o conheço, e ele provavelmente é um assassino. Você está se iludindo construindo essa possibilidade na sua mente, . Por que não deixa as coisas como estão? Você já tem o namorado perfeito, a vida perfeita, pare de remexer nas coisas do passado!
- Eu não posso, Natalie, eu simplesmente não posso. Você não entende, eu não aguento olhar nos olhos de e o ver se culpando por algo que possivelmente não foi sua culpa.
- Ele pode estar se culpando por algo que, de fato, fez. Você está indo longe demais com isso, amiga.
- E irei até onde eu preciso. Só estou te pedindo o nome da cidade, Natalie, eu sei que você sabe. O máximo que vai acontecer é eu descobrir que estou enganada, certo?
- Omaha. É esse o nome da cidade – Suspirou – Só espero que não achem que você está louca e resolvam te internar também.
- Obrigada, Natalie – Sorriu e abraçou a amiga.
Agora só precisava pegar o voo mais rápido para a cidade mais próxima de Omaha e procurar conversar com David. Não poderia ser tão complicado assim, logo ela saberia de toda a verdade, finalmente.

Ao sair do avião já pôde sentir-se diferente. Tinha tirado três dias de folga no restaurante para poder resolver “assuntos pessoais”, e era exatamente esse tempo que teria para poder ir até o Hospital Psiquiátrico de Omaha e interrogar David. Apenas torcia para que os médicos a deixassem falar com ele, e não achassem que ela estava provocando um regresso nele.
Por Nebraska ficar ao norte, estava bem mais frio do que na Flórida, e sentiu que fosse congelar. Bom para esfriar a cabeça, pensou, péssimo trocadilho. Ela sabia que a última coisa que faria ali era esfriar a cabeça, veio com problemas e provavelmente voltaria com outros.
Após algumas horas viajando de carro, finalmente chegou à pequena cidade de Omaha. Ficou hospedada no único hotel da cidade, e passou a noite inteira planejando o que faria quando encontrasse David. Tinha seus medos e suas dúvidas, talvez só estivesse se confundindo ainda mais.
Naquela noite sonhou com matando William e Julie. O sonho fora confuso, mas conseguiu ver exatamente a versão de Matt dos fatos, não sabia a história por inteira e nem ao menos se lembrava do sonho também, apenas lembrava-se de ver matando sua madrasta, o pai se aproximando e uma criança deitada ao chão. Não sabia onde ela se encaixava ali, procurava por Matt no sonho, mas não o encontrava no local, até que o viu nos olhos de , e então quando ela parou para observar mais não era quem assassinava a família e sim, Matt.
Conversou com Natalie pela manhã do dia seguinte, a amiga ainda tentava convencê-la de que estava apenas se enganando com isso, mas não iria desistir. Já tinha viajado até Nebraska para pelo menos se aproximar da verdade, não podia jogar tudo fora agora. Iria até aquele hospício e torceria para David não fosse verdadeiramente um louco.

- Com licença, eu gostaria de fazer uma visita a um paciente que está internado aqui – disse nervosa enquanto batucava com os dedos na mesa da secretária que apenas a encarou de cima para baixo.
- Certo – A secretária falou com sua voz extremamente fanha – Qual paciente?
- David .
- Qual o seu nome?
- – Falou.
A secretária digitava com cuidado para não quebrar suas unhas pintadas de rosa, e pro conta disso demorava mais do que necessário, o que estava deixando mais nervosa ainda.
- Desculpe, Srta. , Sr. não tem permissão para receber visitas – Disse esperando ir embora.
- O que? Não, não e não. Escute aqui, eu realmente preciso conversar com ele, como podem privá-lo de receber visitas? Isso é um direito dele.
- Apenas a família pode visitá-lo. Olhe, senhorita, eu apenas recebo ordens, certo. Sinto muito – Tentava convencê-la de ir embora – Acredite, você não quer entrar lá dentro.
- Você não tem idéia de como quero – Murmurou mais para si mesma do que para a mulher loira à sua frente. Ficou parada por um segundo, cogitando a opção de ir embora, porém continuou parada – Entendo que só possa deixar a família entrar – Disse abrindo sua bolsa e pegando sua carteira – Então diga que está indo visitar o irmão – Ordenou depositando alguns dólares em cima da mesa.
Apenas recebeu um sorriso de satisfação da secretária que em questão de segundos pegou o dinheiro e guardou no bolso.
- Claro, Srta. , seu irmão ficará feliz em recebê-la. Quarto 304, o elevador fica à direita.
Humanos, pff.
- Obrigada, fico feliz que tenhamos nos entendido.


Enquanto subia de elevador ia ficando cada vez mais nervosa. Nunca tinha estado em um hospício antes, parecia para ela como um hospital normal, não vira ninguém com cara de louco, ou algo do gênero. Porém tinha certeza que estava em um hospício, pois ela mesma já estava se sentindo enlouquecer.
O corredor era longo e branco, e mais parecia feito para as pessoas continuarem loucas para sempre. As paredes eram finas, portanto conseguia ouvir pessoas falando, cantando, gritando. Para sua sorte o quarto de David era um dos primeiros, a porta se encontrava fechada e hesitou por um momento antes de girar a maçaneta.
Ao entrar se assustou ao ver logo de cara pessoas. O quarto era pequeno, era pintado de cor creme, tinha apenas uma cama no lado direito, virada para a porta do banheiro, uma cômoda do lado e por fim uma poltrona verde encostada na parede do lado esquerdo.
pôde logo ver uma enfermeira parada na poltrona e um garoto encolhido na cama, a enfermeira observava o garoto até entrar.
- Olá, Você deve ser a irmã do Sr. – A enfermeira disse levantando-se para cumprimentar – Eu sou Marion, acompanhante de David. Não sabia que ele tinha uma irmã.
- É... Eu me afastei um pouco da família após o acidente – disse, mordendo o lábio inferior. Não era muito boa em mentir.
- Certo. David, você tem visita, é sua irmã, !
Nesse momento o menino de cabelo cacheados desgrenhados virou-se para , com o cenho franzido, revelando olhos quase tão azuis quanto os de . ficou com medo de que ele dissesse alguma coisa, porém o garoto apenas ficou a encarando com um olhar maníaco.
- Se você pudesse, eu gostaria de conversar com David a sós, Marion.
- Não podemos deixar os pacientes sozinhos, sinto muito.
- Por favor, só 15 minutos. Eu não o vejo há dez anos, só estou pedindo para conversar, não farei nada para prejudicá-lo.
- Não estamos com medo de que você faça alguma coisa, senhorita.
- Não tenho medo de David. Por favor.
- Certo, poderei deixar 15 minutos, mas a porta ficará aberta e estarei esperando ali do lado de fora qualquer coisa.
- Obrigada.

Após Marion deixar o quarto, sentou-se na poltrona pensando em como fazer David falar. Talvez ele estivesse mesmo maluco, quer dizer, ele parecia um maluco. Como ela saberia?
- Você não é minha irmã – escutou alguém dizer e ao levantar o rosto deparou-se com David a encarando – E não adianta tentar me convencer de que estou louco, tenho certeza de que não tenho nenhuma irmã.
- É, eu sei. Olhe, David, preciso conversar com você. Eu sou , e eu preciso que você me conte o que aconteceu na fatídica noite em que seus pais foram assassinados.
- O que? Para que você quer saber disso? Já faz dez anos – Falou virou-se para o lado – Além do que minha opinião não conta, estou em um hospício por conta disso, vai mesmo acreditar em mim?
- Você não me parece ter nenhum distúrbio mental – Respondeu com um sorriso – David, nós dois sabemos o que o mantém em um hospício e que, definitivamente, não é porque você está delirando.
- Como pode ter certeza?
- Eu apenas sei. Agora me conte logo, o que aconteceu. Quem matou seus pais, David? E eu sei que não foi um desconhecido, isso seu próprio irmão já me disse.
- Por que eu te contaria? Para você não acreditar em mim? Ou para eles me acharem ainda mais maluco depois disso, você não tem idéia de como é ficar aqui...
- Eu arrumarei um jeito de te tirar daqui se você me contar a verdade, David – já estava ficando irritada – Agora você pode, por favor, me contar quem matou William e Julie? – Ela não estava gritando, porém seu tom era forte e frio.
- Combinado. Contarei o que sei, e não me responsabilizo por algum erro, minha memória foi um pouco alterada, mas eu ainda me seguro bem ao que eu lembro.
- Certo, conte o que sabe – Ela disse quase batendo em David por tanta enrolação.
- Aquele dia era aniversário de . Ele e Matthew foram para a escola de manhã e eu fui de tarde, porém, quando eu cheguei em casa, nenhum dos dois havia chegado ainda. Matthew costumava sair de noite para beber e se drogar, costumava chegar em casa só de madrugada, eu era bem pequeno naquela época, mas eu sabia o que acontecia por lá. passava as tardes na biblioteca do colégio estudando ou enfurnado em seu quarto, nenhum dos dois costumava ficar com a família, não gostavam de minha mãe, nenhum dos dois, nem de mim.
“Porém, minha mãe sempre gostou muito dos dois, portanto naquele dia resolveu preparar um jantar especial para , fez um bolo e preparou o jantar. Mas nunca chegava, meu pai começou a ficar preocupado, pois a essa hora a escola já havia fechado. Quando deram 22h, minha mãe me mandou dormir, dizendo que provavelmente deveria ter saído para comemorar. Como eu também não gostava muito de nenhum dos meus irmãos, não me importei em não ter dado parabéns para , subi para meu quarto e fui dormir.
“Parecia que eu tinha acabado de fechar meus olhos quando acordei com alguém gritando. Olhei o relógio de meu despertador, que marcava por volta de meia-noite. Ao reconhecer os gritos ao meio de choros da minha mãe e berros do meu pai, assustado, resolvi levantar. Demorei mais tempo do que o necessário para chegar no primeiro andar, porém, quando cheguei não havia ninguém. A luz estava acesa e alguns objetos estavam no chão, manchados de alguma cor escura. Naquela hora, pensei em correr de volta para minha cama, pensando se tratar de um pesadelo, porém, alguma coisa não me deixava subir. Não sei como cheguei até lá, talvez fosse instinto, mas, de alguma forma, eu acabei indo até o porão. À essa hora, os gritos do meu pai haviam diminuído para apenas gemidos de dor e os gritos da minha mãe haviam sido substituído apenas por mais choro.
“Quando cheguei na porta do porão, pude ver uma parte do que acontecia. Apenas uma fraca luz iluminava o porão, o primeiro que eu lembro de ter visto foi , porque lembro de tê-lo achado muito engraçado. Ele parecia maluco, estava meio grogue, a primeira vista parecia estar dormindo, mas seus olhos estavam abertos apesar de eu ter certeza de que ele não estava realmente vendo. Ele parecia tentar se levantar, mas não conseguia, jogava a cabeça para frente e para trás e se balançava, mas não se conseguia se mexer muito. Depois de virar minha cabeça um pouco para o lado, eu parei de achar qualquer coisa engraçada.
Nessa hora, David parou de contar, foi invadido por uma série de lágrimas em seu rosto, mas sob o olhar nervoso de , ele tentou controlar a dor para continuar a contar.
- Minha mãe estava no chão, estava sangrando, toda arranhada, e sua perna parecia quebrada, seu rosto estava inchado, e não apenas por causa do choro. Meu pai também estava ao chão e Matthew o batia. Nesse ano, meu pai já estava ficando mais velho, estava com quase 60 anos, e nunca fora muito forte, Matthew, no auge de seus 18 anos, estava jovem e forte. Era o suficiente para que machucasse bastante meu pai.
“ Eu não tive coragem de sair dali. Me encostei no canto da parede e comecei a chorar baixo, fechei meus olhos para controlar minhas lágrimas, não quis ver o que eu inconscientemente já sabia o que iria acontecer. Ouvia apenas gritos de dores, xingamentos, palavras soltas, choro e mais choro. Meu pai foi o primeiro que eu parei de ouvir. Quando seus murmúrios pararam, eu já não conseguia controlar meu choro. Eu tinha certeza de que Matthew me ouvia, mas não tive coragem de fugir.
“ Quando percebi que minha mãe parara de chorar, não sei o que me deu, apenas corri em direção de Matthew e comecei a lhe bater. É claro que não adiantaria de nada, eu era pequeno, mas aquilo serviu para que Matthew largasse o pescoço de minha mãe, infelizmente, àquela hora, ela já havia sido asfixiada por tempo demais para poder voltar à vida.
“Matthew me pegou pelo pescoço e começou a bater minha cabeça na parede. Nessa hora, não estava muito consciente, eu tinha certeza de que eu ia morrer, mas não estava me importando com isso. Eu só queria que ele parasse, fosse para me matar ou para me deixar viver. Foi então que surgiu, estava meio tonto e não conseguia se sustentar direito, mas conseguiu empurrar Matthew para longe de mim. Matthew me jogou longe e após isso perdi a consciência.
“Acordei no hospital duas semanas depois. Lembrava-me de tudo, de cada mísero detalhe. Aquele infeliz nem para poder tirar minha memória e me livrar daquele trauma serviu. Quando os médicos me contaram a versão que sabiam, que um desconhecido havia matado minha família, eu quase ri. Depois Matthew veio falar comigo, como se nada houvesse acontecido, quando acusei-o ele riu, disse que eu estava enlouquecendo. Convenceu à todos que eu era o maluco ali, e por alguns anos eu mesmo cheguei a acreditar que estava louco. Mas eu sei que não estou, eu sei o que vi. Fiquei esperando que aparecesse para que concordasse com minha versão, mas ele nunca apareceu, e eu fiquei apodrecendo nesse inferno. Matthew aparecia de vezes em quando nos primeiros anos para continuar me fazendo acreditar em sua versão, mas depois parou, simplesmente sumiu.
David parou de falar e apenas ficou o encarando por alguns segundos. Sentia as lágrimas escorrendo por sua face, mas não tinha certeza de seu motivo. Eram tantas coisas para absorver, ela não sabia se algum dia conseguiria entender.
- Está dizendo então que Matthew matou William e Julie, e iria te matar se não fosse por ? – Balbuciou.
- Em um curto resumo, é isso mesmo.
- Ai, meu Deus. Mas você sabe por qual motivo ele fez isso?
- Ele era um psicopata. Desde que Lillian morreu, ele foi enlouquecendo aos poucos, achavam que era as drogas que o faziam ficar com aquele aspecto maníaco, mas era mais, era mental. Ele era doente, não aceitou a morte da mãe e precisava de alguém para se vingar disso, escolheu minha mãe. Meu pai ficou em seu caminho e ele estava pouco se importando se era seu próprio pai ou não.
- E , o que ele tinha feito com ? Você sabe?
- Srta. ! – Marion gritou, entrando no quarto – Deixei ficar um pouco mais de tempo, mas não deveria ter feito isso. Esse assunto só vai fazer piorar o estado de David. Por favor, peço que se retire do hospital.
- Desculpe. Eu vou sair, mas vou levar David comigo – Ela disse, puxando David – Ele não está louco, está sendo mantido aqui pelo irmão sem nenhuma necessidade. Ele já teve alta daqui, não teve, Marion?
- Não sei do que a senhorita está falando. Todos os nossos pacientes têm o atendimento necessário e recebem alta quando estão prontos para isso.
- Marion, eu sei que David só está aqui porque Matthew paga ao hospital uma certa quantia – Estava blefando, não fazia ideia se isso era verdade, mas Marion estava parecendo ficar abalada com isso – Quanto ele paga? Eu pago mais para tirá-lo daqui.
- Eu não quero seu dinheiro, senhorita, eu só não quero perder meu emprego.
- Eu cuidarei para que você não perca seu emprego, Marion – sorriu – David, pegue suas coisas. Nós vamos embora daqui, temos muita coisa para conversar.
O garoto rapidamente colocou os poucos pertences que tinha dentro de uma mala qualquer.
- Adeus, Marion – David disse sorrindo cinicamente. Mal podia acreditar que estava livre daquele lugar, finalmente.

Capítulo Sete.


- Natalie! – gritou ao entrar em casa – Natalie? – Falou um pouco mais baixo – Ela não está em casa, ótimo – Completou, sorrindo para o garoto ao seu lado – Pode entrar, David, não está muito arrumado, mas acho que é melhor do que onde você estava, não é? – Disse, nervosa.
- Ah, bem melhor – Respondeu, enquanto observava minimamente cada detalhe da casa. com certeza não tinha idéia de como era melhor.
- Você pode ficar no meu quarto, aqui. Não tem problema, posso ficar na casa de Matt enquanto ele está viajando, e até ele voltar encontraremos um lugar para você ficar, ok – disse, enquanto organizava algumas pequenas coisas em seu quarto.
Durante o outro dia em que ficara em Omaha e durante a viagem de volta, contara a David quem ela era e porque quis saber sobre o assassinato. preferia que por enquanto nem Matt nem soubessem que David estava ali, e talvez preferisse que Matt nunca soubesse, mas tinha certeza de que ele acabaria descobrindo, de qualquer forma.
Como sabia também que não acreditaria nela, teria que trazer David para conversar com e não sabia muito bem no que isso daria. Após saber que se culpava pelo assassinato, David passou a concentrar toda sua raiva em Matt. Sem dúvida agora que estava fora do hospício parecia muito mais maluco, estava com medo de que ele resolvesse vingar a morte dos pais e matar Matt, portanto, precisaria de tomar muito cuidado com ele.

- Tem certeza que não vou incomodar, ? – David perguntou, enquanto a morena servia o almoço que tinha acabado de preparar.
- Ah, não, David, de maneira alguma. Fique a vontade enquanto eu estiver no trabalho, eu só preciso conversar um pouco com antes de você aparecer, para prepará-lo, sabe. Natalie não deve chegar por agora, mas caso ela apareça, peça para que ela me ligue, e então eu a explicarei o que você está fazendo aqui, certo? – Ela disse, enquanto arrumava rapidamente a mesa para David – Agora eu vou indo logo, quanto mais rápido isso for resolvido, melhor.
Agora era só torcer para não ter arranjado outro emprego ou mudado de horário, conseguir fazê-lo parar de ignorá-la, e convencê-lo de que estava certo. E pronto, aí ela poderia ser feliz para sempre com ele. É, tirando a parte de que ela ainda namorava com Matt, o qual era um assassino e possivelmente um psicopata, e também que ela não tinha dúvida nenhuma de que David iria tentar alguma coisa contra Matt.
Ah, mas que os dois se matem, pensou, irritada, ela queria era ver livre de culpa e feliz ao seu lado, se David queria matar Matt, ótimo, ela não se importava mais com ele.
Certo, isso não era completamente verdade. Matt foi bastante importante para ela, afinal, eles namoraram por quatro anos, não importava o que ele tinha feito no passado, foi um erro, e ele deixou-se envolver demais nisso, acabando se envolvendo em uma teia de mentiras, mas no fundo ainda era uma boa pessoa. Ele tinha que ser uma boa pessoa, não podia ter sido enganada por tanto tempo assim.

- Achei que só voltasse amanhã, – Wendy observou ao ver entrando apressadamente no restaurante.
- Eu ia. está aqui, Wendy? – Perguntou, enquanto passava o olho pelo restaurante.
- Não, ele trocou de horário, agora trabalha no jantar. Isso é muito estranho, pois ouvi dizer que ele mora longe do restaurante e não possui carro, normalmente as pessoas preferem ir quando ainda está mais cedo... – Tagarelava mais consigo mesma do que com .
- Certo, obrigada.
Ótimo, então agora o horário de começava quando o dela acabava? Ela não gostava nem um pouco disso. Mas que droga, só estava atrapalhando seus planos, por que, por pelo menos uma vez, ele não poderia colaborar um pouco?
Mas isso não a impediria de falar com ele. Só não ia até a casa de agora porque não se lembrava direito de como chegar, então teria que esperar até que o turno da noite começasse, para que ela pudesse finalmente falar com ele. Graças a Deus todos pensavam que ela voltaria ao trabalho apenas no dia seguinte, então provavelmente ele seria pego de surpresa.
- , já voltou? – Foi surpreendida pela conhecida voz materna de Ruby – Matt ligou procurando por você algumas vezes, disse algo sobre Natalie estar escondendo algo.
- O quê? Matt ligou? O que você disse a ele, mãe? – Soltava várias perguntas, apreensiva.
- Disse que você tinha viajado para algum lugar no norte, mas que eu não sabia para o quê. Afinal, por que viajou? Achei que você tivesse ido encontrar Matt, mas aparentemente não foi isso. O que está acontecendo, ?
- Você não disse que eu estava em Nebraska, não, né?
- Não sei se eu disse, no que isso é importante?
- Em nada, mãe, em nada – Balançou a cabeça, torcendo para que ela não tivesse dito – Já que estou aqui, vou recompensar o tempo em que fiquei fora.

Após algumas horas trabalhando, notou que já eram 18 horas, quando deveria estar chegando. Levantou-se para ir até o exterior do restaurante, esperaria ali, onde poderiam conversar mais privadamente. Não demorou muito para que pudesse reconhecer a silueta de se aproximando.
- ! – Ela gritou, quando ele estava mais perto e correu até se aproximar dele.
- O que você quer, ?
- Quero conversar com você, não posso?
- Tem ideia de quantas vezes você já me disse isso, e quantas vezes eu já disse que não temos mais nada para conversar? – Ele falou grosseiramente, e continuou caminhando em direção aos fundos do restaurante.
Certo, talvez ela devesse ter trazido David direto, assim pelo menos pararia para escutá-la. Por impulso segurou o braço de , fazendo-o virar-se para ela. estava completamente sem paciência, ela pôde perceber, mas ela precisava falar para ele o mais rápido possível.
- , me escuta. É importante o que eu tenho para te falar, ok – Ela falou seriamente e sentiu sua voz tremer – Eu só quero que você me escute.
- Eu tenho que trabalhar.
- Seu turno começa às 19h, ainda falta meia hora, e isso não durará nem 15 minutos.
- Certo, fale, então – Revirou os olhos, sabendo que só tentaria convencê-lo de que não era perigoso.
- Mesmo? – Assustou-se ao perceber que ele realmente a ouviria – Então, estou com uma visita na minha casa e acho que vocês gostariam de conversar.
- O quê? – Ele franziu a testa – Eu não vou conhecer ninguém, .
- Vocês já se conhecem – Isso apenas fez com que ficasse mais confuso – Eu fui até Nebraska nesses dias que fiquei fora, . Em uma cidade perto da que você cresceu – se mantinha em silêncio, apenas tentando entender do que estava falando – Omaha, era o nome da cidade. Fui em um centro psiquiátrico de lá e conversei com seu irmão.
- O que Matthew estava fazendo em um centro psiquiátrico? – estava ficando louca, era a única explicação, não tinha o mínimo sentido as coisas que ela falava.
- Não estou falando de Matthew, – Ela suspirou – Fui conversar com David, consegui tirá-lo daquele lugar e o trouxe para cá. Ele está na minha casa agora, o esperando para conversar com ele. Acho que nele você acreditará.
- David está em coma – Falou após alguns segundos e virou-se de costas para .
- Ele esteve em coma por apenas duas semanas, , depois foi internado em um hospício, porque ninguém acreditou em sua versão sobre o que havia acontecido, mas você vai acreditar – Ela se aproximou de , tocando em seu braço novamente – Venha, , você poderá tirar tudo a limpo finalmente.
- Eu estou no meu horário de trabalho agora, – Disse, entrando no restaurante e deixando ali sozinha.
Estava enganado se achava que ela desistiria assim tão fácil. Definitivamente ela não tinha viajado até Omaha, subornado uma secretário e tirado David do hospício para virar de costas e ir trabalhar. Ele iria ouvir David, nem que fosse a última coisa que fosse fazer.
Determinada a fazer se encontrar com David, entrou dentro do restaurante, procurando por ele. Devia estar vestindo o uniforme. Uma perda de tempo, pois não trabalharia naquela noite, se dependesse de .
- Vamos, ! – Falou, entrando no vestiário dos funcionários.
- Que parte do “eu vou trabalhar” você parece não ter entendido, ? Vá para sua casa e mande David de volta para Omaha.
- Nem pensar, não vou fazer o pobre garoto voltar para aquele lugar. Era assustador e, no mínimo, de enlouquecer, literalmente.
- Então deixe-o na sua casa mesmo, eu não ligo.
- Por favor, , você deve estar curioso para ver como ele está. Ele já está com 17 anos agora, está parecido com você, seu cabelo é cacheado – Começou a falar características de David, em uma tentativa de comover – Ele quer te ver, , acha que você tem o direito de saber o que realmente aconteceu.
- Eu já sei o que aconteceu, , eu estava lá – Respondeu irritado, queria que fosse embora logo.
- Estava dopado - Explicou – Dê uma chance à si mesmo, , sei que está com medo de ver David, sei que se culpa, mas talvez seja melhor que vocês conversem – Falou implorando com os olhos para que a ouvisse.

- ! – Ouviu a voz estridente de Natalie gritar assim que abriu a porta de casa – , vamos conversar, agora! – Falou, enquanto caminhava até a sala.
- Olá, Natalie. A que se deve sua irritação? – Perguntou rindo, ainda parada na porta.
- Ah, ótimo, resolveu trazer mais um amiguinho para morar aqui em casa? – Praticamente exalava raiva – Olá – Virou-se para , que se encontrava ao lado de , tentando ser mais educada.
- Natalie, esse é . , essa é minha amiga, Natalie – Apresentou-os rapidamente – Onde está David?
- Mandei-o comprar um creme na farmácia, porque não estava mais aguentando sua presença – Bufou – Onde você estava com a cabeça quando deixou ele ficar aqui, ? Aquele garoto é muito estranho, tem uma cara absurda de maluco. Ele me dá medo – Falou fazendo cara de nervoso.
- Natalie! Olhe, ele ficará aqui por um tempo, ok. Você tem que entender que ele ficou muito tempo junto com pessoas mentalmente perturbadas, é normal que pareça um pouco maluco – Explicou, enquanto entrava na casa – Vá procurá-lo, Natalie.
- Ah, você coloca o maluco dentro de casa e eu tenho que sair para procurá-lo – Reclamou, já saindo de casa.
- Foi você quem o pôs para fora de casa, Natalie, se ele estivesse aqui não haveria necessidade em sair para procurá-lo – Respondeu e no segundo seguinte Natalie já estava do lado de fora da casa.

- Desculpe, , terá que esperar um pouco por David. Quer beber alguma coisa? – Perguntou, nervosa por estar sozinha com .
- Não, obrigado – Respondeu, monossilabicamente, sentando-se no sofá da entrada.
Mas que diabos ele estava fazendo ali? Como deixou-se convencer tão facilmente de ir até a casa de encontrar um suposto David-maluco. É obvio que nada que fosse dito ali o faria mudar de ideia. Ele sabia o que tinha feito e quem ele era, não era um desconhecido se passando por David que o faria mudar de ideia.
Por que estava fazendo tudo isso? Por que ela tinha ido até Nebraska procurar por seu irmão mais novo e tentava convencê-lo que não era o assassino? Por que ela fazia tanto esforço para livrar sua consciência? Não fazia o mínimo sentido. Pessoas normais se afastariam dele, sentiriam medo, correriam para o braço de seus namorados para se sentirem seguras. fez o contrário, não acreditara em Matt, nem mesmo nele, tentando achar um jeito de ser inocente.
Ela estava sendo idiota em continuar se aproximando dele, continuar se expondo em risco. E ele estava sendo completamente egoísta em deixá-la se aproximar, por mais que sempre tentasse ser grosso com ela, tentar evitar que ela viesse conversar com ele, não adiantava de nada, ele sempre acabava convencido. Se ela se machucasse, seria inteiramente sua culpa, por não ter sido forte o suficiente para se afastar. E dessa vez ele não hesitaria em se matar. Não podia deixar que nada acontecesse com ela.

- Pronto, ele já estava aqui na esquina – Natalie já chegou reclamando, em menos de dez minutos após deixar a casa.
virou-se automaticamente para ver a amiga e David que chegavam, porém observou que não se virou, apenas centrou seu olhar para o chão, evitando olhar para o meio-irmão.
Ao contrário, David não hesitou em olhar para , fora o primeiro para quem olhara. Fez-se silêncio no cômodo. Nenhum dos presentes se permitiu dizer alguma coisa, porque estava nervosa com o que aconteceria; David porque estava ocupado demais assemelhando esse com o de dez anos atrás; porque não quis olhar para David – e nem pretendia –, e Natalie porque não fazia muita ideia do que estava acontecendo.
- ? – David foi o primeiro a emitir algum som. Não obteve resposta.
Após mais alguns segundos em silêncio, finalmente se atreveu à olhar para frente, encarando o irmão. Levou um susto ao encarar um garoto alto de cabelos cacheados até abaixo da orelha, magro e com grandes olheiras, e não o pequeno menino de sete anos de idade que havia deixado inconsciente há dez anos. É claro que David crescera, assim como ele também, já tinha dezessete anos agora, obviamente não possuía mais o corpo de dez anos atrás. Mas era difícil para conciliar essas duas pessoas em apenas uma.
Porém, ele precisava reconhecer que era, obviamente, o mesmo garoto, seus olhos possuíam o mesmo tom de azul que o dele, herdados de William, podia reconhecer as feições de Julie em seu rosto também, era idêntico à mãe do nariz para baixo. Aquele era David, ele não tinha como negar.
Sem que permitisse um turbilhão de memórias o invadiram, lembranças que por tanto tempo ele tentou esquecer, tentou guardar no fundo de sua mente para que elas desaparecessem sozinhas. Agora elas voltavam com toda força lembrava-se de Julie o abraçando no dia de seu aniversário, lembrava-se dos jantares familiares, nos quais ele permanecia calado durante todo o tempo, lembrou-se do nascimento de David, do casamento de William e Julie; recordava-se de tudo calmamente e percebeu que não doía tanto quanto pensava que doeria. Pensou isto até que suas memórias foram ficando mais antigas, lembrou-se do enterro de sua mãe, das lágrimas que viu no rosto de seu pai, de sua própria imagem no espelho: um garoto perdido.
Tentou parar de lembrar ali, lembrar-se de sua própria dor era terrível, lembrar-se do passado era terrível. Sentiu uma lágrima escorrer pelo seu rosto ao aparecer a imagem de sua mãe em sua mente. Ela que havia feito tanto esforço para educá-lo bem, que estava sempre ali, sendo uma ótima pessoa, uma mãe perfeita. Talvez se não tivesse acordado naquela noite para convencer os filhos de voltarem para a cama e não irem ver o que acontecia, se tivesse ficado em seu quarto com medo, ainda estaria viva. De certa forma, morrera para proteger os filhos, uma atitude nobre. E em recompensa o que ele fez? Sujou a imagem da família, matou seu próprio pai, agindo muito pior do que o homem que assassinara Lillian naquela noite.
Sentia-se mais sujo do que nunca agora e a imagem que formara daquela fatídica noite se repetia em seu cérebro. Sentia vergonha de si mesmo, como pôde? Agora ele mesmo forçava-se a se lembrar de certas coisas.
Nunca pretendera fazer isto. Sim, sentira raiva de Julie, ficava irritado porque, enquanto ela estava feliz vendo seu filho crescer, sua própria mãe estava morta. Mas nunca pensara em matá-la. Nunca mataria seu próprio pai, ele era uma das únicas lembranças que tinha de seu passado feliz, e ainda por cima nunca tentaria matar David, por mais que não gostasse do irmão e tentasse fingir que ele não existia, era uma criança. Como chegou até aquilo?
Sentiu alguém tocar seu braço e percebeu que esteve em seu próprio mundo de lembranças por muito tempo. Olhou entre lágrimas para ao seu lado, seu olhar era preocupado, como se esperasse que ele falasse alguma coisa. Apenas limpou seus olhos, sentindo-se envergonhado de chorar em sua frente, era ridículo o que estava fazendo.
Mais uma vez seus olhos encontraram David, porém dessa vez franziu o cenho. Isso não se encaixava com nada do que ele pensava; se David não estava em coma até agora, isso significava que Matthew havia mentido para ele. E por que ele faria isso? Para deixá-lo pior talvez, porém ele começava a pensar no que há tanto tempo havia evitado, não fazia sentido.
- David... – Murmurou – Você não está em coma? – Perguntou, pausadamente, como se a resposta já não fosse óbvia.
- Natalie, David comprou o que você pediu? Não, né? Vamos lá comprar, então – falou, puxando a amiga pelo braço para fora de casa, deixando os dois sozinhos.
Ao ouvir a porta batendo, se afundou na poltrona em que estava sentado. Estava começando a entender porque insistia tanto nesse assunto, talvez fizesse mesmo sentido. Nem ele mesmo sabia, provavelmente nunca estivera tão confuso na sua vida.
- Então, como anda a vida? – David perguntou, quebrando o silêncio.
- O que aconteceu? – Perguntou – Por que você não está em coma? O que você está fazendo aqui, David? – Desabou em perguntas, não sabia se David seria capaz de responder tudo, mas sentia necessidade em receber estas respostas naquele momento
- Acalme-se, – Pediu – Não estou em coma já faz algum tempo. me contou que Matthew te fez acreditar que você... Que você era o assassino – Falou, com medo de pronunciar as palavras.
apenas o encarou, confirmando-o com os olhos de que pensava que isto era verdade, e, ao mesmo tempo, pedindo-lhe para explicar sobre o que estava falando e aonde queria chegar. David, percebendo o olhar do meio-irmão, começou a relatar o acontecido.
Dessa vez estava mais controlado do que quando contara para . Tomava cuidado com as palavras e não se envolvia mais tanto na cena, podendo observar atentamente às reações de . Tinha ensaiado minuciosamente com o que falaria. Obviamente não podia retirar partes da história, porém certos comentários e detalhes eram totalmente irrelevantes, e não precisaria tê-los em sua mente.
Enquanto ouvia, permaneceu calado durante todo o tempo, ainda tentava absorver o que David o contara, agora o garoto falava sobre o que Matt fizera com ele durante esses dez anos, sobre o hospício, e podia sentir a raiva estampada em sua fala, porém tinha mais coisas para pensar.
Em um segundo, tudo o que conhecia havia mudado. Sua história já não parecia a mesma, ele não se sentia o mesmo. Algumas horas antes era um assassino psicopata que fora capaz de matar sua própria família e não podia se aproximar de mais ninguém, agora já era alguém que fora enganado durante toda a vida, vítima de uma tentativa de homicídio, que tentara salvar o irmão mais novo e vinha se culpando por anos por um crime de outra pessoa.
Por um instante, tudo o pareceu extremamente ridículo. Como pôde acreditar em Matt assim? Como acreditou que tinha feito uma coisa dessas, era tão facilmente convencido assim? Parecia tão óbvio agora, podia lembrar de muitos detalhes que ao longo dos anos haviam se perdido em sua memória.
Em um segundo, estava em 2007* encarando o irmão de 17 anos, em outro se encontrava em outubro de 1997. Era o dia de seu aniversário, porém não se lembrava disso, só soube quando encontrou Julie, que já estava acordada. Sentiu-se desconfortável quando ela o abraçou, mas, no fundo, havia ficado feliz em ter sido lembrado. Fora para o colégio e encontrara Matt na porta, passou direto, não se importando com o que o irmão fazia. Deprimentemente, fora para a biblioteca após a aula, pois queria evitar ir para casa. Não queria conversar com sua família, não queria fingir-se de feliz quando, na realidade, não se sentia desta forma.
Encontrou Matt o esperando do lado de fora ao sair, ele dizia que queria conversar. não estava interessado nisto, porém a ideia de não passar o aniversário sozinho o agradava. Apenas por este motivo aceitou e, quando percebeu, já estava completamente bêbado. A partir desse momento, suas memórias já começavam a ficar bastante confusas, pensava que tinham falado alguma coisa sobre Julie, porém não conseguia ter certeza deste fato. Lembrou-se de ter se drogado com Matt, do lado de fora do bar, e então Matt desapareceu, começou a se sentir mal, logo depois veio a escuridão.
Uma escuridão que o acompanhou por muitos anos.
Afinal, as histórias se batiam. estivera realmente desacordado durante a maior parte do assassinato, então?

* Segundo o cronograma da fanfic, eles ainda estão no final de 2007. O fim seria situado por volta de Agosto/Setembro de 2009 (época em que eu terminei de escrevê-la)

Apesar de saber que ainda estava estatizado, sentia como se estivesse sorrindo. Por um momento, pensou que estivesse morto, pois estava definitivamente vendo uma luz. Tinham tirado a faca que estava cravada em seu peito há anos. Porém ainda não estava salvo, concluiu. A faca poderia ter sido retirada, porém ainda havia um grande corte aberto e infeccionado; a hemorragia poderia ter acabado, mas sangue demais já havia sido perdido e talvez nem mesmo uma transfusão pudesse salvá-lo no momento.
E ele mesmo tinha procurado por isso, lembrou-se. Podia não ter sido ele quem enfiou a faca no peito, porém fora ele quem não procurara um médico e deixara o sangue escorrer. Não ter assassinado William e Julie não fazia dele uma boa pessoa, havia passado tempo demais tentando convencer-se de que era um assassino, pensando como um. E quando você passa tempo demais mentalizando que você é uma pessoa, mesmo que inconscientemente, você acaba se tornando assim.
Ao perceber isso, sentiu seu sorriso interno desaparecer. Aquilo não mudava praticamente nada, ele continuava sendo do mesmo jeito. Sua personalidade ainda era perigosa.
- Você está bem? – David perguntou, depois de segundos em silêncio – É verdade o que eu disse, ! Você acha que estou maluco, não acha? Concorda com Matt! Pensa que eu estou alucinando... – Começava a tomar semblante psicopata – Mas estão errados, eu não estou inventando isso...
- Cale a boca, David – Ordenou – Isto não muda nada.
O garoto não falou nada diante da triste feição do irmão. Tentava entender o que queria dizer com aquilo, porém não conseguia. Ele não era um assassino! Como assim “isto não muda nada”? Aquilo mudava simplesmente tudo.
- O que você quis dizer com isso? – Questionou.
- Nada – Respondeu rapidamente – Eu não quis dizer nada – Acrescentou – Eu preciso ir agora, já perdi meu horário de trabalho – Resmungou, procurando por uma desculpa para fugir daquele lugar.
Não se surpreendeu ao encontrar e Natalie paradas em frente à casa ao sair. Passou reto por elas, ignorando a qualquer chamado de .
- Calma, , ele precisa de um tempo para diluir tudo – Pôde ouvir Natalie consolando a amiga, ao passar.
Concordou mentalmente com ela. Ele definitivamente precisava de um tempo sozinho para pensar, afinal, não é todo dia que seu mundo vira de cabeça para baixo.
Aquilo complicava tudo; ainda mais do que já estava complicado. Se já não se afastava dele quando ambos acreditavam que ele era um assassino, agora ela deveria estar convencida de que nada mais poderia impedi-la. Mas, como sempre, ela estava enganada; não era tão simples, nunca era.
Ele não sabia quem era, tinha sua vida abalada e não conseguia mais identificar sua própria personalidade. Havia feito e pensado coisas horríveis nos últimos anos culpando seu lado psicopata. Porém, se não tinha acontecido assassinato nenhum, todas aquelas ações foram frutos de sua própria maldade, que, mesmo que não fosse grande o suficiente para fazê-lo cometer um homicídio, existia. Mas pensamentos obscuros eram comuns à todos, não eram? Ele não podia mais ter certeza disso.
E não podia arriscar-se ficar com , enquanto não fosse completamente seguro. Não que deixá-la livre fosse adiantar algo à essa altura, afinal, se a história de David era verdadeira e Matt era o verdadeiro assassino, ficar com ele poderia ser ainda mortalmente perigoso.
Essa indecisão estava acabando com ele, poderia ficar com e, caso cometesse algum delito contra ela, se culpar para sempre ou deixá-la correndo o risco de ficar com Matt. Optou por apenas ignorá-la, talvez se fingisse que ela não existisse, parasse de se preocupar tanto assim.

Definitivamente era para o bem dos dois. Pelo menos era o que vinha repetindo a si mesmo há quase duas semanas. Por mais que quisesse, ainda não conseguira trocar de emprego. Ainda que agora estivesse trabalhando no turno da noite, frequentemente ele ainda se chocava com .
Nas primeiras vezes que se esbarraram, ela ainda tentara conversar; fazia perguntas e indagava. fingiu estar confuso e disse que precisava de tempo, e, finalmente, não insistiu. Nas últimas vezes, ela já apenas o cumprimentava; e ele dava graças a Deus por isso.
pensava que ela provavelmente já havia o esquecido. Talvez Matt já estivesse na cidade, e eles podiam estar juntos novamente. Essa probabilidade o irritou bastante, não queria Matt com ela, era ainda mais arriscado. Ele poderia ser perigoso, mas, mesmo que muito pouco, ele sabia se controlar, e ainda se conhecia levemente; sabendo quando parar, se afastar ou mandar embora.
Não sabia nada sobre Matt, não tinha ideia se ele se preocupava com a segurança de , era um psicopata, sabia se controlar ou qualquer coisa do tipo. Certamente ele não deveria ser tão perigoso, visto que passou mais de quatro anos com ele sem perceber nada, porém, quem poderia garantir que ele não era como uma bomba? Podendo explodir a qualquer momento, sem prévio aviso. Por que fazia questão de só querer se envolver com os homens errados?



Assustou-se quando, ao abrir os olhos, viu a sua frente. Estranhou, pois já fazia tempo desde que seu horário de trabalho acabara, afinal, já eram quase 21h. Olhou-a estranhamente, tentando descobrir o que se passava, porém apenas sorria para ele. Será que ele estava sonhando?
- ? Ainda está trabalhando? – Perguntou idiotamente, ela havia acabado de chegar, como estaria trabalhando?
- Não, tirei o dia de folga hoje. É meu aniversário – Ela explicou – Alguns amigos e familiares estão aqui para comemorar. Pensei que talvez você pudesse se juntar a nós – Disse nervosa, por falar com após tanto tempo – Eu sei que você precisava de um tempo para pensar, , mas seria importante para mim.
- Parabéns, mas é meu horário de trabalho – Arranjou uma desculpa.
- Minha mãe vai liberá-lo se eu pedir. Por favor, – Pediu.
- Matt está aí? – Perguntou, repentinamente.
- Não... Ele ficou preso na cidade por causa da neve, iria voltar a dois dias atrás. Não contei a ele que sabemos, . Para Matt, tudo continua exatamente igual a quando ele foi embora, mas ele voltará em menos de dez dias, para o Natal.
- Ótimo, quando ele voltar, poderemos conversar – Virou-se de costas para , afastando-se, porém, a morena o seguiu.
- Quanto tempo mais demorará, ? Esse silêncio está me matando – Perguntou, implorando em seu tom de voz – Eu só quero que você volte a falar comigo, .
- Não sei – Respondeu, monossilabicamente.
- Mas... Por que está demorando tanto? – Insistia – O que mais você tem para pensar, ? Já não está tudo resolvido?
- Não – Falou – Não está nada resolvido. Será que você entende que tudo continua igual, ? Por que você não para de intrometer na vida dos outros e cuida da sua própria? Vá ficar com seus amigos, , não tenho, nem nunca tive, nada para falar com você.
- Ok, . Eu entendi. Achei que, apesar de tudo, eu ainda pudesse considerar você um amigo, mas vejo que estava enganada. Desculpe por gastar seu tempo – Disse, já se dirigindo para a mesa.
Certo, ele não queria ter dito aquilo, mas o que podia fazer? era uma das pessoas mais irritantes e inconvenientes que ele conhecia. E ele a amava do mesmo jeito. Mesmo que no momento aquilo estivesse o irritando profundamente. Ele só queria o seu bem e algum tempo para pensar, ela não precisava ficar insistindo tanto assim. Além disso, ele não havia dito nada demais, não devia ter ficado tão chateada assim com as palavras. Bom, mas era seu aniversário, e as pessoas definitivamente ficam mais deprimidas em aniversários. Era melhor que ele pedisse desculpas.


Durante as quase três horas em que e seus amigos ficaram no restaurante, a observara. Algumas vezes ela o olhara, tornando possível que ele pudesse ver a mágoa em seus olhos.
Talvez tivesse exagerado, pensou, não deveria ter dito aquelas coisas, poderia muito bem ter aceitado jantar com , deixando-a mais feliz. Mas agora já era tarde demais, não poderia mais voltar ao tempo. Porém, ainda podia mudar o futuro. E era o que faria.
De repente, percebia que suas atitudes já não tinham mais nenhum fundamento. Não havia nada o impedindo de ficar com ... Nada além de si mesmo. Mas por que continua a se impedir de algo que queria mais do que qualquer coisa no mundo? já não conseguia mais encontrar uma resposta para esta pergunta.
Sabia se controlar, portanto, nunca mataria ninguém, muito menos , visto que a amava mais do que tudo. Além disso, provavelmente não existia nenhum surto psicológico, estava tudo dentro de sua mente. Ele só iria machucar , se pensasse que machucaria. E ele não mais pensava uma coisa destas. Finalmente tudo parecia fazer um sentido, finalmente para parecia haver uma saída. Finalmente existia um futuro, um possível futuro com . E isso era o suficiente para que ele resolvesse tentar dar uma chance a esse tão desejado futuro.
desligou-se por um momento, e, quando viu, todos já haviam ido embora, e já estava quase na porta. Não poderia deixá-la ir, só Deus sabia quando ele teria coragem para falar com ela novamente. Se não fosse agora, quando seria? Antes mesmo que pudesse perceber, já estava gritando o nome de . Ficou feliz quando a morena parou e virou-se para trás em resposta, ao invés de ignorá-lo.
- O que foi? – Perguntou, e pôde sentir o tom magoado de sua voz –O que você quer, ?
- Eu queria pedir desculpas. Eu só estava um pouco estressado com tudo isso...
- Tudo bem, , não tem problema. Você tinha razão – Forjou um sorriso, voltando a andar em direção à porta.
- , espera! – Falou, fazendo com que parasse mais uma vez – Eu preciso conversar com você – Disse, sorrindo com a feição de espanto de .
- Mesmo? Que irônico – Riu sem humor algum – O que você quer conversar?
Ele não sabia o que queria falar. Estava agindo por impulso, o que nos últimos anos havia se tornado algo extremamente raro para ele. Havia estragado tudo, agora estava magoada, e tudo o que ele queria era que ela voltasse a insistir para falar com ele.
- Eu não sei – Respondeu vagamente – Eu não devia ter dito aquilo, .
- Não, você estava certo.
- Mas eu não queria ter dito. Era mentira, tudo mudou – Disse – E eu estava obcecado demais com a mentira que rondava em minha cabeça para perceber a verdade – Aproximava-se de enquanto falava.
- E qual é a verdade, ? – Instigou, levantando as sobrancelhas.
- A verdade é que eu estou apaixonado por você, . Sempre estive. A diferença é que agora eu finalmente sei que não vou te machucar.
viu um sorriso se formar no rosto de , seus olhos brilhavam. Era tudo o que ela mais queria ouvir, e o que menos esperava. Não achava que fosse se entregar tão facilmente ao amor, pensara que ainda teria que lutar mais um pouco. Aquilo era melhor do que esperava, ver dizendo que estava apaixonado por ela a fazia morrer por dentro.
- Eu sei que você deve estar com raiva de mim, , mas eu sinto muito...
- Cala a boca, – Falou – Eu não poderia estar com raiva de você... Eu também estou apaixonada por você, – Sorriu.
Aos poucos, se aproximou de , entrelaçando os braços em volta de sua nuca. Deixou seus olhos se fecharem, antes que seus lábios encontrassem os de . E então ela estava no paraíso, era como beijar um anjo. a beijava suavemente, porém ainda transpassava todo seu amor e desejo, sem ser possessivo e a machucar, como Matt costumava fazer. Após algum tempo, eles lentamente se separaram.
- Eu te amo, murmurou em seu ouvido.
Um sorriso se formou na face de . Nunca esperara ser amado novamente, e agora a única pessoa com quem se importava dizia que o amava. não podia mais se lembrar da última vez que se sentira tão feliz.
- Também te amo, , mais do que você possa imaginar – Sussurrou.

Capítulo Oito.


Já fazia mais de uma semana que e estavam juntos e os dois não poderiam estar mais felizes. Tinham se descoberto juntos e finalmente despertara para a alegre pessoa que costumava ser. E quanto a , ele já não precisava mais forçar-se a sorrir, vinha espontaneamente a cada vez que se lembrava de .
Tudo parecia estar em seu devido lugar. Bom, tirando que tecnicamente nem ao menos havia terminado com Matt, vinha o evitando ao máximo possível. Um dos principais motivos era porque ele logo saberia que ela tinha retirado David do hospício, se é que ele já não sabia. Ela não duvidava que Matt só estivesse esperando a hora certa para voltar e acusá-la de traí-lo, subornar a secretária do hospital e seja lá o que mais ela tinha feito de errado.
Por mais que se esquecesse disso quando estava com , sempre que ele estava longe, Matt invadia seus pensamentos, e não de uma boa forma. Tentava enganar-se e se justificar, mas sabia que estava morrendo de medo. Matt havia matado os pais; tinha drogado , o nocauteado, o fez acreditar que era um assassino e poderia muito bem ter o matado também; além disso, ainda havia deixado o irmão mais novo em coma e depois o trancafiado em um manicômio, tentando fazê-lo achar que era louco. E ela havia ficado ao seu lado por quase cinco anos praticamente, sem saber o risco que corria. Teve sorte que não havia perturbado Matt durante esses anos, talvez esse fosse o único motivo pelo qual ela ainda se encontrava viva.
Agora já não sabia por quanto tempo viveria. E, pior ainda, não sabia por quanto tempo viveria. Ele tinha tido a oportunidade de matar há dez anos, não o fez porque poderia usá-lo em benefício próprio; agora a vida de não valia mais nada para Matt. Nada mais poderia mantê-lo ali. E aquilo causava calafrios em .
- O que houve? – perguntou, despertado de suas terríveis previsões – Por que está com esta cara de assustada?
Estavam em frente à casa de , ambos já haviam encerrado o expediente de trabalho e , como havia se acostumado a fazer nos últimos dias, a levara em casa para depois ir para sua própria residência. Não se importava com o fato de morar do outro lado da cidade e, por não possuir um carro, levar mais de duas horas andando. Gostava do agradável vento frio que batia de noite em Brooksville, mesmo muitas vezes estando congelante. Pelo menos ele tinha um tempo em que podia pensar e absorver todas as mudanças dos últimos dias.
Estava tão diferente, mas, provavelmente, nem notara. Talvez ela não tivesse notado porque a mudança havia sido exclusivamente interna, ou talvez porque, para ela, ele sempre tivesse sido desse jeito. Não poderia nem saber se essa mudança realmente acontecera, não era necessário. Ele apenas sabia que gostava disso, se sendo dessa forma ele poderia ter em seus braços. Sorriu para a mulher à sua frente, queria fazê-la feliz e agora sentira que poderia.
- Não estou com cara de assustada – Protestou , após alguns segundos – Só estava pensando.
- Em quê? – Perguntou curioso.
- Em Matt – Suspirou, sabendo que não adiantaria em nada mentir para . Estremeceu ao ver os punhos de se fechando.
- Por quê? Ele voltou?
- Não... Estava justamente pensando em quando ele voltaria. Não acho que vá ficar muito feliz com o fato de eu estar com você – Fez uma pequena pausa para suspirar – Estou com medo, .
- Não vou deixar que ele faça alguma coisa com você – Assegurou.
- Estou com medo do que ele pode fazer com você – Explicou.
- Ele não vai fazer nada comigo, - Disse, menosprezando a preocupação da mulher e revirando os olhos – não se preocupe com coisas desnecessárias – Passou a mão pelo cabelo de , colocando um cacho por trás de sua orelha. – Você é linda – Falou repentinamente, com um largo sorriso.
- Ah, sim, imagino que eu esteja maravilhosa após horas de trabalho – ironizou.
- Está sempre bonita – Completou, aproximando-se para beijá-la.
- Não quer entrar? – Perguntou – Natalie está dando plantão hoje e eu posso fazer um jantar para nós dois, o que acha? – Sugeriu, passando os braços em volta do pescoço de .
- Acho uma ótima ideia – Concordou, selando seus lábios com os de antes de entrar na casa.

- Então, eu acho que o espaguete ficou pronto – avisou, chegando à sala com uma panela na mão – Só não posso dizer se está bom – Fez uma cara de nojo ao olhar a comida, enquanto a servia.
- Aposto que está perfeito, meu amor.
sorriu ao notar o vocativo usado por . Ao olhar para o homem à sua frente, sabia que não precisava de mais nada nesse momento para ser feliz. Só precisava dele. Não importava o que fosse acontecer quando Matt voltasse, por enquanto eram apenas os dois e nada poderia tirar aquele momento dela.
- Sabe, não está tão ruim – disse, após fazer uma careta, enquanto comia uma garfada da massa.
o olhou estranhamente, sem nem ao menos ter tocado no espaguete. Não era uma cozinheira muito prendada. Quando não jantava no Gourmet Gallery, quem costumava fazer o jantar era Natalie. não parecia se importar com sua comida de baixa qualidade, ao contrário do irmão, que só queria jantar nos restaurantes mais caros da cidade. Tomando coragem, deu sua primeira garfada, fazendo rir com sua cara enojada enquanto mastigava a comida.
- Ok, isso está péssimo – Declarou, afastando o prato.
- Já comi coisas piores – Deu de ombros, continuando a comer – Ei, deixe aí – Protestou quando a morena fez menção em levar seu prato de volta para a cozinha.
- Sem chances! Você pode morrer intoxicado com isso – Alertou, rindo, enquanto puxava o prato de para seu lado.
– Estou só vendo a hora que esse espaguete vai pular para o chão – avisou – Melhor acabar logo com isso – Disse, puxando o prato com mais força, fazendo com que caísse em seu colo.
Os dois ficaram calados por alguns segundos, apenas se encarando.
- Bom, se quer tanto acho que pode ficar com o macarrão – murmurou, quebrando o silêncio.
- Acho que o jantar pode ficar para depois – falou, antes de trazer mais para perto e beijá-la.
Logo que o beijo começou a se aprofundar, levantou da cadeira, levando em seu colo até o quarto. Deitou a mulher na cama, beijou seu pescoço, enquanto esta desabotoava sua camisa. De repente, parou de beijá-la, para encará-la. Apenas ficou a olhando por alguns segundos, logo ela seria inteiramente sua.
- Você tem certeza que quer isso? – Perguntou à .
- Absoluta – Respondeu, trazendo para perto de si novamente.
Em pouco tempo, toda as roupas estavam ao chão, e eles finalmente estavam unidos por completo.

- O que você está fazendo? – perguntou, ao acordar e não encontrar ao seu lado.
A morena já estava em pé, quase na porta, vestindo apenas a camiseta de . Olhou-o surpresa por um momento, como se estivesse sido pega fugindo, porém sua feição logo fora predominada por um largo sorriso.
- Estava indo arrumar a sala e a cozinha – Explicou – Deixamos aquilo uma bagunça.
- Você pode fazer isso depois – Reclamou – Venha aqui, vou ter que ir embora daqui a pouco. David está sozinho desde hoje de manhã, e tenho medo do que este garoto pode fazer.
Nas últimas semanas, David havia se mudado para a casa de , onde dormia em um colchão no chão. Vinha procurando um trabalho, porém não conseguia ser aceito em lugar algum, pois, apesar de ter estudado no centro psiquiátrico, não possuía nenhum diploma comprovando que tinha completado tanto o 1º, quanto o 2º grau. De qualquer forma, o salário que recebia no restaurante mais uma pequena ajuda financeira de era o suficiente para manter os dois, por enquanto. O que realmente preocupava era que o irmão mais novo parecia, de fato, um psicopata; conseguiam conversar normalmente, ele sabia fazer de tudo, ajudava a arrumar a casa, procurava com cuidado um emprego; porém podia ver a raiva nos olhos do garoto e ele temia o que ele poderia fazer quando encontrasse Matt.
- David sabe se comportar – Ela murmurou – Fique aqui esta noite – Disse, se aproximando novamente da cama – Por favor? – Pediu deitando-se ao lado de . Sorriu ao ouvir a aceitação de – Ótimo. Vou encomendar alguma coisa agora. Estou com fome – Falou, saindo pela porta do quarto antes mesmo que ele pudesse protestar.


- Oh, essa roupa ficou linda em você – exclamou ao ver vestindo a blusa que ela tinha dado – Você deveria usar mais desse tipo – Concluiu, aproximando-se do amado para abraçá-lo.
Era noite do dia 25 de Dezembro, havia passado a véspera do Natal com sua família, e passaria o dia seguinte com , Natalie, Lucas e David. Eles haviam acabado de trocar presentes e Nat e Lucas tinham saído para jantar. Olhou para , feliz. Não conseguiria recordar de um melhor Natal. Apesar de ter tido de aguentar os irritantes comentários dos pais na noite anterior, já não se importava mais com eles. Não ligava se eles fossem ficar irritados quando ela anunciasse que terminara com Matt, tampouco ligava se eles a deserdassem. Com certeza a ameaçariam disso, mas duvidava que o fizessem, afinal, apesar de gananciosos, eles eram seus pais, e a amavam.
Seus pensamentos foram interrompidos pelo toque de telefone. Distraída, procurou o telefone pelo quarto, porém, este estava escondido debaixo de presentes em algum lugar. Não se preocupou em ter pressa, nada poderia tirá-la do estado de calmaria em que andava, nem mesmo o barulho insistente que disparava pelo ar. Parou de vagar o olhar quando a secretária eletrônica começou a falar, provavelmente não era importante, pensou, voltando a olhar para .
Mas seu olhar pacífico e tranquilo não durou muito tempo. Logo a pessoa quem ligava começou a deixar seu recado, e se sentiu quase desfalecendo. Percebera que a feição de também não estava muito feliz e lançou-o um olhar amedrontado, enquanto, do outro lado da linha, Matt anunciava que estava voltando em dois dias.

Ele eventualmente voltaria, ela sempre soube disso e, portanto, eles também teriam de se encontrar. Porém, não conseguia parar de tremer só em pensar na possibilidade de encontrar Matt, principalmente porque sabia que não conseguiria fugir por mais tanto tempo.
Já estavam no dia 31, e a meta de era virar o ano sem encontrá-lo. Matt havia chegado à cidade havia quatro dias, e durante esse tempo ele já tinha ligado para a namorada mais de vinte vezes, sem obter nenhuma resposta. Por sorte ainda não a procurara no trabalho ou em casa, mantendo sua procura a base do celular. Porém, enquanto colocava o vestido pérola e prendia os volumosos cabelos em um rabo-de-cavalo alto, concluíra que seria estupidez pensar que voltaria no dia seguinte sem falar com Matt.
Seus pais dariam a tradicional festa de ano-novo no único clube da cidade, e, como de costume, toda a classe alta e média-alta compareceria. Ela bem que queria não aparecer, mas ela tinha que cumprir seus deveres como filha, não poderia desapontar seus pais, fazendo essa desfeita. Assim como nos últimos anos, Matthew era o convidado mais especial da noite, tratado como um rei, passava a noite inteira conversando com a elite de Brooksville, fechando negócios. ponderava se nesse ano ele tiraria alguns minutos para ela, durante todo o tempo de namoro, ela se entristecera pela falta do namorado na festa de fim de ano; já agora, ficaria endividada com os interesseiros da cidade que ocupariam grande parte do tempo livre de Matt.
sorriu nervosamente, ao ouvir Natalie a chamando para sair. Lucas tinha vindo pegá-las, no caminho havia dado uma carona também a David e , que – sem Joel e Ruby saberem – a acompanharia na festa. Este sim seria um evento que daria o que falar, pensou , ainda temendo o que aconteceria.

Por já ter passado das onze, o pequeno clube estava cheio quando os cinco chegaram. pegara na mão de , passando rapidamente pela multidão sem parar para cumprimentar os conhecidos – que eram praticamente todos os convidados – e evitando ouvir os comentários dela e . Deixara Natalie, Lucas e David para trás, conversando com alguns amigos, e iniciara a busca por seus pais. Se estivesse em um dia sortudo, eles não estariam com Matt, e ela poderia encontrá-lo apenas depois de meia-noite.
Enquanto caminhava arrastando pelo salão, pensava no que faria. Não poderia aparecer com ele para seus pais, não antes de terminar com seu namorado, tampouco poderia deixá-lo sozinho, perdido no meio de estranhos e com a possibilidade de esbarrar em Matthew. Quando, de longe, avistou sua irmã sentada em uma mesa com cara de sono, correu para alcançá-la.
- Stella! – Abraçou a pequena.
- , – A garota de dez anos sorriu – você está atrasada – Avisou – Mamãe estava surtando, achando que você não ia vir, e Matthew estava muito nervoso – Atualizou a irmã dos acontecimentos. – Quem é esse? – Perguntou, só então reparando em .
- Esse é , um amigo. Ele vai ficar sentado aqui ao seu lado, ouviu, Stella? Eu vou procurar mamãe. E, preste atenção: Se vir Matt se aproximando, mande ir para o lado contrário, se ele vier perguntar se eu já cheguei diga que não me viu. Entendeu? – Deu as instruções.
- Entendi. Mas por que você está fugindo de Matt? Papai e Mamãe não vão gostar nada dessa ideia. – Reprovou a menina.
- É por isso que você não vai dizer nada a eles – Explicou – Depois eu te digo o que está acontecendo, por enquanto, sem perguntas, apenas faça o que eu pedi.
Dizendo isso, saiu em disparada à procura de Ruby, deixando conversando com sua irmã.

- Ei, , você está aí! – Ela ouviu a voz paternal de Joel exclamar atrás dela, antes de puxar a filha para um abraço – Como vai, menina? Por que não veio com Matthew, encontrei com ele há poucos minutos. Melhor que o ache antes de meia-noite – Avisou Joel, fazendo a filha observar que faltava pouco mais de cinco minutos para o ano acabar.
Tinha passado mais de meia hora conversando com sua mãe, que a alugara para falar da decoração da festa, da comida, dos empregados, fofocar dos convidados e perguntar e aconselhá-la sobre Matt. até tentara preparar a mãe para a notícia de que ia terminar com Matthew, mas a mãe se recusava a ouvir, querendo adivinhar o que estava acontecendo e tentando encontrar uma solução.
Vendo que vinha em sua direção seu coração disparou, provavelmente Matt estava perto dele e Stella o mandara andar. Certo, ela precisava achar um jeito de se esconder com por pelo menos mais cinco minutos. Vendo o olhar desesperado do rapaz, ela rapidamente deu um jeito de se despedir dos pais indo em sua direção.
- Matt está vindo? – Perguntou nervosa.
- Acho que sim, sua irmã praticamente me empurrou para fora da mesa e me mandou correr – Coçou a cabeça – Não era melhor você falar com ele, ? – Sugeriu – Ele não fará nada no meio de tanta gente, já disse que você não tem o que temer, meu amor – Assegurou, abraçando .
- Só quero virar o ano sem problemas – Explicou – E com você. – Sorriu, se aproximando de .
Todos começavam a contagem regressiva. Dez. abriu um grande sorriso para . Nove. Agora nada poderiam os impedir. Oito. Colocou seus braços ao redor de seu pescoço, sem se importar com os olhares. Sete. Aproximou-o mais para perto de si. Seis. Moveu seus lábios em direção aos de . Cinco. Perto de seu ouvindo sussurrou rapidamente três palavras. Quatro. Eu te amo. Três. As palavras sumiram no meio dos gritos da multidão. Dois. Assim como a resposta de . Um. E logo suas palavras foram substituídas por um longo e apaixonado beijo, em meio de gritos divertidos e fogos estourando o céu.
Ofegante, eles pararam o beijo, sorrindo. Olhavam um nos olhos do outro, como se não houvesse mais ninguém por ali, olhavam-se como se quisessem eternizar aquele momento, mesmo que soubesse que ele já estava eternizado.
- Feliz Ano Novo – Sussurrou , beijando a bochecha de .
- Para você também – Murmurou, antes de olhar a sua volta.
Poderia ter olhado para o céu e visto fogos coloridos rasgando o céu da cidade, poderia ter visto casais se beijando, amigos comemorando, rindo e gritando, pessoas bebendo, poderia ter visto de tudo. Mas não vira nada disso. O que viu foi um homem portador de um rosto de um Deus, com olhos verdes reluzentes, músculos tão fortes que quase podiam ser vistos através do lindo e caro terno que vestia; mais do que isso, viu também a raiva estampada em sua feição, os dentes trincados, os punhos fechados, o olhar decepcionado e, ao mesmo tempo, superior. Viu Matt parado a alguns metros.
Sentiu-se corar ao mesmo tempo em que lágrimas se formavam em seus olhos, sem saber o porquê. Não estava triste porque fora pega traindo, nem mesmo se sentia incomodada pelo olhar aparentemente triste que transparecia no rosto de Matthew, sabia que isso era devido ao medo. Ele estava irritado. Estava irritado por sua causa, iria descontar nela e em . Matthew iria matá-los, iria fazer o mesmo que fez com William e Julie há tantos anos, ele não havia mudado.
Sentiu os braços de envolverem sua cintura, assim que seu olhar havia refeito o seu e chegado a Matt. Ambos viram quando um pequeno e irônico sorriso surgiu no rosto de Matthew, e ele começou a andar em sua direção. A mão de apertara ainda mais , a colando em seu corpo de forma possessiva, mas ela não se importava, se sentia mais segura desse modo.
- Então, o que devo fazer primeiro: desejar feliz ano novo ou parabenizar o mais novo casal? – Ironizou irritado – Então era por isso que rejeitava falar comigo, ? Estava me traindo? Como se eu não fosse descobrir – Riu sem humor – E com meu próprio irmão, que clichê! Imagino o que fizeram dentro da minha própria casa – Dramatizou.
- Meu Deus, Matthew, cale a boca – disse, vendo que não estava em condições de falar nada.
- Oh, quer dizer que agora você tem direitos de falar? Se não fosse por mim, você estaria na prisão agora, você deveria me agradecer, e em vez disso você rouba minha namorada.
- “Se não fosse por mim você estaria na prisão”, como é que é? – Perguntou, partindo para cima de Matt, sendo impedido por .
- Aqui não, – Murmurou – Nós sabemos a verdade, Matt, não adianta mais vir com essa, não vamos mais acreditar.
- Que verdade, ?- Perguntou – A verdade que eu o salvei da prisão, mesmo depois de tudo o que ele fez a mim e a minha família? Que eu a amei por todos esses anos e você preferiu me trocar por um assassino? Essa verdade? – Gritou.
Nesse momento, Matt se aproximou de , a agarrando pelos braços e a chacoalhando.
- Ei, largue ela – disse, empurrando Matt para longe.
- , vá procurar Natalie. Eu e Matt temos que conversar – Murmurou , sabendo o que tinha que fazer.
- O quê? Eu não vou deixar ele sozinho com você.
- Por favor, – Insistiu e logo se afastou alguns metros, porém, ainda perto.
- Vai me explicar isso, ? – Matt a perguntou irritado, puxando-a pelo braço para um lugar mais afastado.
Estavam em um local mais vazio da festa, apenas algumas pessoas meio bêbadas se encontravam por ali e Matt a encarava com seu olhar psicopata. sentia sua mão tremendo e lágrimas escorrendo por sua face, ele a mataria ali.
- Não tenho nada o que explicar, Matt. Podemos ficar bem um com o outro, certo? Eu já retirei todos os meus pertences da sua casa. Não precisamos causar uma briga.
- Você está terminando comigo, ? – Perguntou, surpreso – Não, não, não, eu não estou irritado com você – Disse, fazendo franzir a testa – Eu te perdoo, , entendo que eu não tenha suprido suas necessidades, mas agora será diferente, para onde eu for você vai...
- Do que você está falando, Matthew? – Indagou – Acabou, nós não temos mais nada.
se surpreendeu ao notar lágrimas rolando pelo rosto de Matt. O que acontecia com ele? Uma hora ela tinha certeza que ele iria matá-la, na outra ele se comportava como uma criança.
- Por que isso, ? - Ele gritava – É por causa de ? Ele é perigoso, ... Ele matou a minha família...
- Pare com isso! não fez nada, Matthew – Ela falou com nojo – Você fez. Nós sabemos o que você fez, nós sabemos tudo. Você me dá nojo, não sei como pude me enganar por tanto tempo. Você é um assassino! – Explodiu – Um manipulador, um mentiroso, como pôde? Deixou uma criança de sete anos em um local para malucos, fez seu irmão acreditar que tinha matado os pais por dez anos, matou sua única família. Você é um psicopata – Cuspiu as palavras.
O olhar de Matt se escureceu, como se de repente tudo fizesse sentido, agarrou com força o braço de a imprensando na parede, sem se importar com as lágrimas que escorriam pelo rosto da mulher. Ela o havia o provocado, não deveria ter descoberto essas coisas, muito menos revelado.
- O que vai fazer, me matar também? – Falou, com uma falsa coragem, enquanto mantinha forças para continuar consciente.
Surpreendentemente para , Matthew a soltou, se afastando dela. Passava a mão pelo cabelo, com suor se confundindo com lágrimas. E então simplesmente deu meia-volta e foi embora, deixando-a sozinha ali. sentiu-se desmaiar, caiu no chão, pondo-se a chorar, sem saber o que aquilo significava.


Não sabia o que estava acontecendo com ela, não sabia o que aconteceria. Já fazia alguns dias que o ano começara, mas não relaxara durante esse tempo. Matt não a procurara novamente, o que a deixara bastante confusa, ele simplesmente havia sumido da festa e se trancafiado em sua mansão sem dar satisfação a ninguém. Ela agradecia por isso, porém vivia em constante alerta, achando que Matthew poderia aparecer a qualquer momento.
Além disso, as coisas com não andavam lá as melhores. Não que ele houvesse feito algo, desta vez era ela quem o estava evitando. resolvera não aparecer no trabalho, evitando encontrar-se com a mãe que estava horrorizada com o “escândalo” da festa e tinha ligado várias vezes para a filha, ordenando que só viesse falar com ela quando tivesse tomado juízo e se ajeitado com Matt. Como não havia feito isso, optou por esperar a mãe se acalmar para voltar ao trabalho e então ter a chance de explicar com calma as coisas. Mas por causa desta desavença com Ruby, e só se viam fora do trabalho, quando ela era fria e mantinha-se distante.
não entendia o que tinha acontecido, perguntara o que tinha acontecido entre ela e Matt, porém ela dizia que eles apenas tinham brigado. Era verdade e acreditava, e o isso o deixava ainda mais confuso. tinha terminado com Matthew, e este não havia feito nada demais, os deixando livres; isso não era bom? Não era o que os dois queriam? Ele não tinha certeza se concordaria.
Mas também não era totalmente sua culpa, pensara, estava preocupada com seu futuro e bastante nervosa também, só precisava de um tempo para se recuperar mentalmente. E fisicamente também, completou, afinal o nervosismo era tanto que acabara ficando fraca nessa última semana, sentindo-se muito tonta e enjoada facilmente, o que acabou a ajudando, pois muitas vezes usava como desculpa para não falar com , sem saber o porquê.

Pensando em um motivo para estar evitando , sentiu seu estômago revirar e todo seu almoço voltar pela garganta, saindo correndo em direção ao banheiro. Meu Deus, não era possível que estivesse tão nervosa a esse ponto. Não era o tipo de pessoa que ficava doente facilmente, não lembrava-se da última vez que tinha adoecido. E nunca, em toda sua vida, havia vomitado por estresse, sua saúde física e mental sempre foram totalmente separadas. Então, provavelmente, seu mal-estar não era causado por sua preocupação.
Tentou rapidamente encontrar explicações para sua doença. Não estava gripada nem com nenhum tipo de doença da estação. Por um momento um lampejo da primeira vez dela com veio em sua cabeça.
- Não... - Murmurou, passando a mão pela cabeça.
Não era possível! Eles não deviam ter sido tão descuidados. Ela devia estar enganada, afinal, só estava alguns dias atrasada, e isso não era nada demais, era? Porém, ela já saía pela porta de casa em busca da farmácia mais próxima.
Praguejou contra em sua mente. Eles estavam juntos só há pouco mais de três semanas, trabalhava como garçom no restaurante de sua mãe, e só não havia sido demitido, pois ninguém que tinha o visto com ela o conhecia. Como eles criariam um filho? Com seus pais irritados com ela, era possível que sua mãe a demitisse também quando descobrisse que ela estava grávida. Não poderia ter sido em um pior momento?
Acalme-se, murmurou para si mesma, não surte antes mesmo de ter feito o teste.
Deu graças a Deus por Natalie ainda estar em Spring Hill trabalhando à essa hora e, portanto, não veria seu estado. também deveria estar no Gourmet Gallery e se viesse vê-la esta noite, o que ela duvidava, uma vez que ele já tinha ido na noite anterior e não tinha ligado avisando, ele viria só à noite.

Trêmula, fez o teste. Esperou, nervosa pelo resultado, alguns minutos. Não queria um filho, era verdade, porém, se estivesse mesmo esperando um, ela não abriria mão de tê-lo e cuidá-lo. Já tinha agora seus recém-completados vinte e seis anos, já era adulta, tinha uma casa, sabia como cuidar de uma criança. Tinha medo apenas de como os outros reagiriam, o que pensaria? Ele a ajudaria a cuidar? Matt se irritaria com a gravidez? Sua mãe demitira a ela e ? Não poderiam criar um filho os dois desempregados.
Desesperada e nervosa demais para esperar, resolveu ver o resultado logo que se passaram os minutos necessários para o teste. Sentiu sua respiração falhar ao ver dois traços, correndo para conferir na bula o que significava: positivo. De repente começava sentir as lágrimas escorrendo por sua face, todo seu nervosismo e estresse das semanas anteriores finalmente despejado em um longo choro.
Ela iria ser mãe! Definitivamente não fora esse o modo que esperara ter o primeiro filho, queria ter casado antes, comprado uma casa, feito tantas coisas. Agora ela estava grávida de , confusa e, provavelmente, sem emprego. Mas essa não era uma completa má notícia, ponderou, uma criança é sempre bem-vinda, não importa as condições. Podia não ser o melhor momento, mas era o filho dela com e seria perfeito.

Como o esperado, ele não aparecera à noite. Apenas ligara para , eles conversaram por alguns minutos e ela somente disse que continuava se sentindo mal e pediu para ele passar em sua casa após o trabalho no dia seguinte. Depois de falar com , fora dormir, nem ao menos esperando Natalie chegar. Portanto, ainda não tinha contado para melhor amiga sobre sua gravidêz, e nem sabia quando contaria.
Enquanto preparava alguma coisa para comer e ensaiava mentalmente o que diria para , ouviu a campainha bater. Olhou o relógio, que marcava uma hora da tarde, e se questionou quem poderia ser. estava no trabalho à essa hora, só apareceria pela noite, Natalie havia saído de manhã e só voltaria em algumas horas. Franzindo a testa, desligou o fogão e nem se deu o trabalho de tirar o avental, indo atender a porta, pensando que poderia ser algum vizinho querendo informações.
andou despreocupadamente até a porta da frente, enquanto a campainha tocava freneticamente. A pessoa deve estar mesmo com pressa, pensou, para insistir tanto assim. Abriu a porta, já começando a ficar irritada com a inquietação do vizinho.
- .
- O que você está fazendo aqui, Matthew? – Perguntou, estática em seu lugar.
- Eu estava com saudades, querida – Respondeu com naturalidade, beijando a face da morena e a empurrando levemente para entrar na casa.
não disse nada, continua imóvel olhando para a rua. O que ele estava fazendo ali? Matt estava louco? Teve uma súbita vontade de sair correndo enquanto havia tempo, mas seu corpo não a obedecia e portanto ela continua parada. Não tivera coragem de fazer alguma coisa com ela no ano novo, mas duvidava que ele fosse deixar barato. Como instinto, pôs a mão em cima do ventre, ele não poderia saber da gravidez, ela não tinha contado para ninguém.
- Vejo que nada mudou por aqui - Matt comentou, andando pela casa – Vai ficar parada aí, ?
- Não – Murmurou automaticamente – Eu não te convidei para entrar, Matt. O que você quer? – Percebeu que o tom da sua voz era instável, mas tentou manter sua aparência forte.
- Vim conversar com você – Ele explicou – Vamos, , me dê quinze minutos, se após isso você ainda quiser que eu vá embora, eu vou – Ele sorriu.
Matt aproximou-se lentamente de , fechou a porta e praticamente a arrastou até o sofá, onde ela sentou e ele, porém, continuou em pé.
- Fale logo o que quer, Matt, mas não acho que isso vá mudar alguma coisa. Não vou mais conseguir ficar com você – Ela avisou e Matthew sorriu como quem discordasse.
- Acho que você sabe de coisa demais, ... Descobriu certas coisas do meu passado que eu esperava ter encoberto suficientemente bem. Mas, acalme-se, não vou fazer nada com você, meu amor – Ele se ajoelhou em sua frente, passando as mãos nos cabelos de , percebendo que ela tremia de medo – Não quero que fique com medo de mim. Foi você quem se meteu em coisas que não deveria, você deve lembrar, não fique achando que sua pequena viagem a Nebraska passou despercebida. Você deveria ter pena da enfermeira, coitada, tinha filhos para criar e perdera seu único emprego – Colocou a mão no coração, fingindo comoção – Bom, mas não ligo que você tenha tirado David do hospício, certamente acabará indo parar lá novamente alguma hora – Refletiu.
- Aonde você quer chegar?
- Quero chegar ao ponto em que você sabe a verdade. Eu posso ter cometido alguns erros durante minha vida, . Mas acontece que eu realmente gosto do lugar em que ela se encontra hoje. Tenho minha própria empresa, o que me deu dinheiro suficiente para comprar de tudo e eu tenho você.
- Você não me tem – Começou a falar, mas logo foi interrompida.
- Tenho você. Eu te amo, , você é a única pessoa quem eu amei em toda minha vida. Meu Deus, , você não pode simplesmente ficar com porque descobriu essas coisas sobre mim! O que eu vou fazer sem você? – Ele começava a se agitar, andando e um lado para o outro da sala, tremendo – Escute, você é essencial para minha vida, eu preciso de você comigo, não pode me abandonar assim, – Agora segurava o rosto de , fazendo ela notar as lágrimas em seus olhos.
- Você está louco – Murmurou, afastando Matt de perto dela e tentando se levantar, porém ele a empurrara novamente para o sofá.
- Estou louco mesmo. Por você, – Ele gritou – Eu não sei o que vou fazer se você me deixar – Falou, com as lágrimas começando a escorrer pelo seu rosto – Você faz meus pensamentos ficarem em ordem, vou me perder sem você. Vou acabar matando alguém – Deixou implícita a ameaça.
congelou, como ele poderia dizer uma coisa dessas? A quem ele estava ameaçando matar? Ela? ? Tremeu, olhando incrédula para o homem a sua frente. Não o entedia, ele estava maluco, a queria por perto e faria o que fosse preciso para isso. logo percebeu que não conseguiria se livrar de Matt viva, ele era um psicopata e ela era sua obsessão.
- O que você quis dizer com isso? – Murmurou, e por um momento pensou que sua voz não tivesse saído.
- Eu quis dizer – Falou, aproximando-se do ouvido de – Que irá se juntar ao resto dos s se eu não conseguir você junto a mim – Ele sussurrou – Eu vou fazer qualquer coisa para te ter, . Qualquer coisa – Repetiu.
- Não faça isso – Pediu – Por favor. Deixe em paz, ele já sofreu demais.
- Eu vou – Matt prometeu – Apenas preciso que você escolha o caminho certo para isso, .
- O que você quer que eu faça? – Perguntou, já sem sentir as lágrimas escorrendo.
- Case-se comigo, . Eu vou te fazer feliz, eu prometo, você se esquecerá de ao meu lado, você se esquecerá de tudo – Falou, puxando uma pequena caixa do bolso – Você aceita se casar comigo?
pensou que tivesse morrido nesse momento. Não queria se casar com Matt, não podia passar o resto de sua vida com ele. Mas muito menos poderia ver morrer por sua culpa, não duvidava que Matt fosse cumprir sua ameaça se ela não fizesse o que ele queria. Poderia pedir para fugir, mas talvez aí ela fosse a prejudicada e agora ela tinha um bebê para cuidar não podia colocá-lo em risco em hipótese alguma.
- Eu aceito – Surpreendeu-se a sua voz não sair tão trêmula quando pensara que sairia.
- Eu sabia que você me escolheria – Sorriu.
Matthew abriu a caixa, pegando um brilhante anel de diamantes e colocando no dedo anelar de , em seguida a trouxe para perto, beijando seus lábios possessivamente. Em poucos minutos já havia despido a si mesmo e a mulher e a possuído ali mesmo, sem se importar com as lágrimas que rolavam por seu rosto. Queria e a teria, para sempre.



Capítulo Nove.


Não sabia há quanto tempo estava ali, nem quanto tempo fazia desde que Matt havia ido embora. A única coisa que tinha certeza era que se sentia suja e que sua cabeça parecia explodir de tanto chorar. Olhou em meio de lágrimas para o grande e chamativo anel que habitava sua mão direita, não pensava nada, apenas olhava vagamente, na esperança de achar algum vestígio que comprovava que estava sonhando. É somente um pesadelo, , mas desta vez você não irá acordar.
ou Natalie logo apareceriam, ela imaginou; era melhor se arrumar e começar a pensar no que diria, se é que conseguiria falar alguma palavra, pois no momento não se encontrava realmente em condições de se pronunciar. Teria que terminar com ; como explicaria a ele que estava se casando com Matt? Não era como se ela já não houvesse contado de seu medo e ódio pelo futuro marido, não achava que acreditaria nessa história. E parcialmente torcia para que ele não acreditasse mesmo e entendesse o porquê dela estar se casando, porém era improvável que ele adivinhasse. Completamente improvável.
Pensou em tirar a aliança de noivado do dedo, mas não conseguiu, só a encarava constantemente. Em outra época, teria saído pela cidade anunciando o noivado para todos, orgulhosa; veria a jóia com olhos brilhantes de felicidade ao invés de lamentação. Não faria diferença ficar com o anel, isso não a faria ficar melhor, não tornava possível ela omitir a verdade de .
Apesar de lastimar-se pelo acontecido, definitivamente não se arrependia. Estava fazendo o certo, convencia-se, pôs a vida de seu namorado e seu filho na frente se sua própria. Este era um ato admirável, mas infelizmente saber disso não a deixava melhor.
Ouviu a campainha tocar e após isto o silêncio fora tão grande, que conseguira ouvir em alto e bom som o palpitar acelerado de seu coração. Era , ela teria que terminar com ele. Sua respiração falhou por um momento e ela teve que se apoiar na mesa da sala de estar, porém apenas inspirou ar puro e continuou a andar até a porta. Tentou manter o controle de si mesma. Precisava convencer de que tinha decidido ficar com Matt, se não fizesse isto ele poderia ser morto.
Abriu a porta, deixando-o entrar. Tentou segurar as lágrimas quando sentiu a beijando, porém seus olhos já se encontravam marejados. Era a última vez que sentiria os lábios de sobre os seus, queria eternizar este momento, queria que o gosto dele ficasse para sempre guardado em sua memória.
Sorriu tristemente ao ver a feição feliz de seu parceiro. Seu choro estava reprimido dentro de si, e ela o reprimiria até ele ir embora, por enquanto precisava ser forte para que não prejudicasse aquele que mais amava.
- Hey, você parecia nervosa no telefone – comentou, entrando na casa – O que houve?
Sim, estava nervosa quando telefonou, porém seu nervosismo de outrora parecia completamente insignificante no momento. O que importava se estava grávida quando ela teria que enganar o pai de seu filho? Cansada, sentou no sofá, encarando o chão com medo de não achar as palavras certas para dizer o desejado.
- Aconteceu alguma coisa, ? – Perguntou apreensivo; o silêncio da morena estava o matando, ele podia ver em seus olhos que algo tinha acontecido.
- Eu te chamei aqui, – Fez uma pausa, assustada com o tremular de sua voz - Porque eu quero terminar. – Fechou os olhos ao pronunciar a frase.
Era uma piada? Uma brincadeira? Se fosse, era de muito mal gosto, pensou . Ele tentou fingir que entendera errado, mas não conseguia; apenas encarava indefinidamente para . Ela não estava mentindo, ele podia ver em seu olhar.
- Por quê? Pensei que estivesse feliz comigo...
- Eu estou fazendo o que é certo para mim, – E para todos, completou mentalmente – Eu voltei com Matt, ele me pediu em casamento e eu aceitei.
- Isso não faz sentido, você estava com medo de Matt outro dia mesmo e agora vai casar com ele? Ele te ameaçou, ? Ele fez alguma coisa com você? – Ergueu as sobrancelhas, levantando e se aproximando de , segurando seu rosto.
- Ele não me fez nada – Mentiu, se afastando – Algumas coisas simplesmente não têm que fazer sentido. – Murmurou.
- Então foi por que queria casar? Por isso? Ou por seus pais? – Perguntava, sabendo que não obteria respostas.
sentiu as lágrimas começarem a escorrer. Óbvio que não era por nenhum destes motivos, porque ele não meramente aceitava e ia embora?
- Eu só preciso disso, . Não tente entender, eu quero estar com Matt. Esqueça isso.
- Esquecer? Eu te amo, , como você pretende que eu esqueça isso?
- Desculpe, , mas não há nada que eu possa fazer. – Disse, virando-se para trás, tentando controlar as lágrimas antes que se desesperasse.
Por que ele insistia em dizer estas coisas? Pensou que fosse desmaiar, não agüentaria por muito mais tempo, acabaria falando a verdade para , então ele iria procurar Matt e iria morrer. viu a cena se passando em sua cabeça, não podia deixar que ele se machucasse por sua causa .
- É claro que há. Não se case com ele, . Você realmente quer isto? Eu não significo nada para você?
Como ele poderia não significar nada? Ela o amava mais do que qualquer coisa e era exatamente por isso que estava casando com Matt. Deus, por que ele não simplesmente adivinhava tudo e ficava calado em seu canto, deixando ela fazer o que estava destinada a fazer? Balançou a cabeça, sem saber o que responder, não sabia o que seria pior.
- Eu não vou deixar você casar com Matt, .
- Você não tem que deixar, eu já tomei minha decisão.
- Então diga que quer ficar com Matt, , diga que não me ama mais. – Desafiou, já sentindo seu coração falhar e os olhos ficarem molhados – Diga isso e eu vou embora daqui, não vou te perturbar mais.
Estaria mentindo se dissesse uma coisa destas, não achava que conseguia pronunciar tais palavras. Mas parecia ser o único jeito de fazer aceitar, mesmo que doesse, ela estaria evitando uma dor muito maior e irreversível no futuro.
- Eu não te amo, . Eu estava enganada antes, estava confusa. Agora eu percebi a verdade, eu estou destinada à ficar do lado de Matt, e não podemos lutar contra o destino. Se não se importa, eu gostaria que não me procurasse mais – Avisou.
Viu dando as costas para ela, batendo a porta e indo embora para que ela nunca mais o visse. Não acreditava que tinha conseguido, tinha sido mais forte do que havia sido em toda sua vida. Sentiu cair no chão e dominar-se pelo baixo choro. não iria voltar, ela iria se casar com Matt.
Ela seria infeliz pelo resto de sua vida, mas pelo menos saberia que tinha salvado a vida de alguém. Poderia ser pior, murmurou para si mesma, pelo menos todos ainda estão vivos, e logo ele continuaria a viver, reconstruiria ao poucos sua história sem ela; ele já havia feito isto uma vez, não é? Poderia fazer de novo. Ela também sobreviveria, apesar de tudo, ela ficaria bem.

- Meu Deus, o que aconteceu aqui? – Natalie perguntou ao encontrar a amiga encolhida em um canto da sala chorando – Ei, , levante-se.
Não obteve nenhuma resposta a não ser a leve diminuição do choro de . Não sabia o que tinha acontecido, e talvez nem quisesse saber, mas percebeu que precisava ajudar a amiga naquele momento. Agachou-se também, sentando-se ao lado de , abraçou-a tentando confortá-la.
- Por que não senta no sofá e me conta o que aconteceu, ? – Sugeriu, levando-a até o sofá.
Agora a morena já parava sensivelmente de choramingar. Natalie foi até a cozinha, voltando com um copo d’água, fazendo beber para se hidratar, afinal deveria ter se desidratado depois de chorar tanto. Nat encarou a amiga esperando que ela lhe contasse o acontecido, porém percebeu que se não perguntasse, continuaria calada para sempre.
- , me conte o que aconteceu – Insistiu.
nada disse, apenas levantou a mão direita para Natalie, tornando possível que a melhor amiga visse o anel em seu dedo anelar. Natalie arregalou os olhos chocada, sabia muito bem que não teria dinheiro para comprar uma aliança dessas, que apenas uma pessoa de Brooksville tinha estabilidade financeira o suficiente para obter algo desse gênero.
- Foi Matt quem lhe deu esse anel. – Afirmou.
- Nós vamos casar! – falou repentinamente, e sua voz saiu em um tom alto e fino, parecendo que ela tinha gritado – Não é maravilhoso? – Ironizou.
Pensou que fosse começar a chorar novamente, mas se segurou. Não deixaria mais nenhuma lágrima cair a partir daquele dia, seria forte o bastante para levar isto até o fim. Suspirou, reprimindo o choro para si mesma, começando a contar tudo para Natalie. A amiga não poderia ajudá-la naquele momento, porém desabafar a faria bem.

Reprimir as lágrimas, era o comando que enviava para si mesma todas as noites, mesmo que, normalmente, não adiantasse de nada; as lágrimas vinham involuntariamente. Tinha se passado apenas um pouco mais de uma semana que estava noiva, mas toda sua vida parecia ter mudado radicalmente.
Seus pais haviam a perdoado imediatamente depois de saber que casaria com Matt. tinha pedido à mãe que parasse de trabalhar, para poder organizar o casamento e Ruby, obviamente, concordou animada. Aquela era sua realização, ver a filha casando com um homem rico e influente que poderia dá-la tudo o que ela queria. Mal sabia ela que não estava nem um pouco entusiasmada com o casamento, passava a maior parte do tempo se lamentando e tinha se demitido para evitar se encontrar com e não para planejar uma grande cerimônia.
Não se importava com o que a mãe achava, nada iria mudar. Ela tinha um grande evento para preparar, o evento de sua vida. O casamento seria em um pouco mais de um mês, pois queria acabar com isto o mais rápido possível e Matt aceitara, ele não via a hora de estar casado com ela.
ainda morava com Natalie, com a afirmação que iria morar com Matt por muitos anos após o casamento. Era melhor, a amiga a ajudava aos poucos a superar este fardo. Natalie ainda tentara convencê-la de que havia outra saída, mas estava irredutível, tinha absoluta certeza de que não tinha mais jeito.
Aliás, ainda tinha uma esperança, pensou , colocando a mão na barriga. A criança que carregava do ventre provavelmente era a única coisa que a deixara viva até agora. Era o fruto de seu amor com , era quem a lembraria a todo momento o porquê dela ter feito tudo isso.

- O que acha de rosas brancas? – Ruby perguntou – Podemos misturar rosas lilases e rosas – Ponderou.
- Um bouquet de lírios também seria bonito, não acha, ? – Natalie comentou.
Ela nunca acreditaria que organizar um casamento poderia ser tão chato. Quem se importava se o bouquet de flores que carregaria na Igreja era composto por Lírios, Rosas, Tulipas ou Orquídeas? Ela definitivamente não, poderia entrar segurando mato e vestindo-se com um saco de lixo e não se importaria. Que sua mãe estava ansiosa pelo casamento ela entendia, que suas madrinhas colegas de trabalho e do colegial estavam felizes ela também entendia, só não fazia ideia de porque no mundo Natalie estava participando tão entusiasmada do planejamento! Afinal, ela sabia de todo sofrimento que estava passando.
- Acho que um bouquet de rosas está ótimo – Murmurou.
- Já volto, garotas – Ruby falou, levantando-se para atender algum cliente.
Estavam sentadas em uma grande mesa no meio do Gourmet Gallery, tinham uma lista de afazeres para o casamento e já perdera a noção de quantas horas passara ali decidindo sobre flores, vestidos, igreja e decoração. Por sorte – muita sorte – aquele era o dia de folga de ; se ela tivesse o encarado provavelmente teria se debulhado em lágrimas ali mesmo. A única coisa com que tinha de lidar era ver David a fulminando com os olhos o tempo todo. O garoto havia começado a trabalhar ali fazia alguns dias, havia dado um jeito da mãe aceitá-lo; ela precisava ajudar de alguma forma. Olhou para o garoto tristemente.
- Pare de encarar David – Natalie sussurrou para a amiga – E preste atenção no que estamos decidindo. O casamento é seu e querendo ou não será um dos dias mais importas da sua vida.
- Por que está fazendo isso, Natalie? – Murmurou – Pare de parecer tão feliz com a minha desgraça, você sabe que estou sofrendo com esse casamento. – Falou irritada, porém em voz baixa.
- Como eu disse, será um dos dias mais importantes da sua vida. Não quero que depois você se arrependa de pelo menos um casamento bonito não ter tido.
- Tenha certeza que disso eu não irei lamentar – Suspirou.
- O que estão sussurrando aí? – Stacy, uma antiga amiga de perguntou curiosa – Temos um casamento para organizar. Amanhã você irá ver os vestidos de noiva, não é?
apenas acenou com a cabeça. Estava morrendo de vontade de dar o fora dali, vendo aquele bando de mulheres com quem não conversava há anos; como conseguia ser amiga delas? Bom, ainda bem que tinha dinheiro e influência o bastante para conseguir um casamento em um mês e meio, enquanto a maior parte das noivas ficava um ano organizando. Ela iria morrer se perdesse um ano inteiro decidindo sobre bolos, meses e roupas!

- Você está linda, ! – Natalie comentou.
Já devia ser em torno do vigésimo vestido que experimentava e não sabia dizer o que achava desta veste. Todos pareciam horríveis aos seus olhos, na verdade ela tinha aversão a qualquer coisa que tinha a ver com Matt e matrimônio. Mas olhando-se no espelho agora, ela não tinha como negar que o vestido caia muito bem nela.
O vestido era perfeito, exatamente como sonhara desde pequena. O vestido branco era tomara-que-caia, era um clássico romântico que ficava um pouco rodado em baixo, possuía detalhes minuciosos feito a mão. Tinha bordados prateados na parte frontal inferior formando lindos desenhos; a parte de cima tinha o tecido indo na diagonal e com uma pequena linha de brilhantes passando bem embaixo do peito. Na parte de trás também possuía uma pequena calda bem trabalhada e deixava as costas nuas. prendeu seu cabelo com as mãos, tentando se imaginar entrando na Igreja assim.
Era seu casamento, a ficha finalmente havia caído. Ela iria se casar, fosse como fosse, era o dia com que ela sonhara por tantos anos. Por mais que estivesse infeliz no momento, ela tinha que aproveitar, afinal era improvável que se casasse novamente. Talvez ela conseguisse enxergar um lado bom em tudo. Mesmo que bem pequeno, era alguma coisa.
- Então, vai ser este? – A vendedora da loja perguntou, vendo finalmente alguma expressão na face daquela noiva intrigante.
- Sim, será este – Sorriu.
Não fora um grande sorriso, era tímido e inibido e seu olho não o acompanhou, porém Natalie pôde sentir que a amiga sorria verdadeiramente pela primeira vez em algumas semanas.

- Você tem certeza que o vestido ficará pronto em quatro semanas? – perguntava à vendedora ansiosa.
- Com certeza, Srta. . – Garantiu – Telefonaremos para você assim que ficar pronto!
- Obrigada. – Sorriu, saindo da loja.
Estavam em Orlando, pois não havia nenhuma loja de noivas em Brooksville – apesar de várias senhoras de cidade terem se prontificado a costurar para – e não haviam gostado de nenhum dos vestidos que viram em Spring Hill. A morena sentiu-se aliviada ao sair da loja e suspirou ao observar que o sol já se pusera. Tinha a sensação de que andara por toda a cidade de Orlando, além de ter feito sua lista de casamento e experimentado vários vestidos, ela ainda escolhera o que as madrinhas iriam usar, visitou floriculturas, visitara algumas companhias de eventos e comprara o sapato que iria usar. Estava exausta.
- Essa era a última coisa da lista? – Perguntou – Temos que voltar para casa, ainda vamos demorar mais duas horas para chegar à Brooksville – Reclamou.
- Pelo menos não vamos ter que voltar aqui outro dia.
Começaram a andar em direção a rua em que tinham estacionado. ouvia passos atrás dela, porém quando virava não via nada. Estava ficando louca, desde que chegaram à Orlando ela sentia que estava sendo perseguida, mas provavelmente era só um delírio mental. Percebeu que os passos estavam se aproximando e sentiu-se estremecer.
- Você está ouvindo isso? – Perguntou assustada – Acho que estamos sendo perseguidas, Natalie.
- Acalme-se, . Orlando é muito maior do que Brooksville, você está desacostumada.
Tentou se convencer disso, mas tinha certeza que ouvia passos. Havia alguém as perseguindo sim, mas preferiu ficar quieta; se ele quisesse fazer alguma coisa com elas já teria aparecido.
Ouviu um barulho e um xingamento logo que entraram na rua onde estava o carro. tremeu, virando-se para trás. Viu uma silueta levantando-se do chão e pressionou os olhos para ver se identificava quem era. Levou um susto quando percebeu quem era.
- David?! - Gritou e saiu correndo na direção do garoto.
Mas o que diabos David estava fazendo as seguindo? Além de ter que enfrentar Matt e , agora David a perseguia? O que tinha de errado com os ? questionava-se.
- O que você está fazendo em Orlando, David? – Perguntou, encarando-o – sabe que está aqui?
- Não preciso dar explicações a ele, hoje era meu dia de folga – Reclamou.
balançou a cabeça, passando a mão na testa tentando entender o que ele queria. De longe avistou Natalie a esperando confusa, acenou para a amiga mandando-a esperar.
- Por que veio até aqui, David? Você estava nos seguindo? – Questionou.
- Eu quero falar com você – Explicou.
- Como sabia onde eu estava? – Já não estava entendendo mais nada! O que ele poderia querer com ela? teria o mandado lá?
- Eu só queria saber o que você está fazendo com a sua vida, ! – Exclamou – Eu vi você e por semanas felizes um com o outro e então um dia simplesmente chega mal em casa e diz que vocês terminaram. Tudo bem, casais terminam, mas aí eu descubro que você vai se casar com Matthew! Mas que porra é essa, ? Você enlouqueceu? Qual o seu problema? – Segurava a morena pelo ombro, a chacoalhando.
sentia-se enjoada, porém não era forte o bastante para empurrar David. Ela merecia isso, merecia por não ter visto outra alternativa. Mas o que ela poderia fazer? Se ficasse com , ele provavelmente morreria. Se fugissem, Matt iria encontrá-los, ela tinha absoluta certeza que com seu dinheiro e influencia, com apenas algumas ligações ele descobriria seu paradeiro. Se ela mandasse apenas fugir, ele mataria seu bebê quando ele nascesse. A única coisa a ser feita era fazer o que Matthew queria e convencê-lo de que estava grávida dele.
- Não tenho nenhum problema, David. Eu faço da minha vida o que eu quero.
- E você quer casar-se com um psicopata? – Ele riu sem humor algum – Você é doente mental ou algo assim?
- Eu fiquei com mesmo quando eu achava que era ele quem havia cometido o assassinato, então que diferença faz se na verdade era Matt? Não me importo com isso – Mentiu.
- A diferença é que era inocente, e você sabia disso – Afirmou – Você por acaso tem algum desejo secreto por assassinos? Por isso trocou por Matt quando descobriu o verdadeiro psicopata? – Ponderou.
não pôde deixar de dar um pequeno riso. Quão absurda era aquela cena. Nunca imaginara passar por isso, ouvir verdades e teorias mirabolantes de um garoto de dezessete anos.
- É claro que não – Murmurou.
- Então por que está fazendo isso? Você é suicida?
- Eu tenho meus motivos – Justificou-se – Eu amo Matt.
David ficou encarando-a por um momento. Não conseguia entender como havia mudado tão repentinamente, outro dia mesmo exalava ódio por Matthew e parecia estar completamente apaixonada por , agora declarava seu amor pelo noivo. Teria ela bipolaridade? Estreitou os olhos, confuso com . Percebeu que Natalie continuava parada no mesmo local, apenas os observando.
- Bom, o que eu posso fazer? – Falou – Acho que está cometendo o pior erro de sua vida. Só espero que não seja tarde quando se arrepender – Avisou.
David nem se deu o trabalho de se despedir, apenas virou-se de costas e saiu andando, ou melhor, correndo. ficou parada apenas encarando a escuridão da noite, sentiu quando Natalie se aproximou dela e a abraçou.
- Já é tarde demais – Sussurrou e as palavras se perderam pelo ar.

- Você está bem? – Natalie perguntou assim que sentaram-se no carro – David disse alguma coisa que a deixou triste?
- Não tem como me deixar mais triste, Nat, já estou no estágio máximo – Respondeu calmamente, encarando a rua à sua frente.
- Estou falando sério, . Você disse a verdade para ele?
- É claro que não! – Exclamou – Não estou doida, no mínimo ele iria falar para e em hipótese alguma posso deixar que ele descubra.
- Acho que você deveria contar para ele, talvez ache alguma solução. – Sugeriu – Talvez alguma coisa esteja a impedindo.
- Não, Natalie. Talvez ele ache uma solução, talvez ele simplesmente vá correndo matar Matt e acabe morto. E eu não sou capaz de suportar a ideia de morto.
- Você sabe que nada impede Matt de matá-lo depois do casamento, não é? Ele não vai necessariamente cumprir a promessa, – Avisou a amiga, enquanto dava partida no carro.
- Eu o impeço, Natalie. Ele me quer, certo? E a única maneira de fazer isto é me ameaçando, se ele matar nada mais me prenderá a ele.
Talvez fosse muito egocentrismo pensar que apenas a vontade de tê-la o impediria, mas se essa era a única coisa que ainda mantinha disposta a se casar com Matt, ela manteria este pensamento.
- E o bebê? Ele pode matar e passar a ameaçá-lo. Você não vai deixar ele morrer também, .
- Matt não sabe da gravidez, então não tem este artifício para usar. Quando eu contar que eu estou grávida, arrumarei um jeito de ir para longe e proteger e meu filho, ok? Vai dar tudo certo – Murmurou.
- E quando pretende contar sobre a gravidez?
- Depois do casamento, talvez na lua-de-mel. Já daria tempo de eu ter descoberto. Estou grávida de mais de um mês já, poderia estar de duas semanas se fosse de Matt – Comentou – Mas vou deixar para falar quando estiver longe de Brooksville.
Não quis explicar o que queria dizer com isso, e Natalie ou não percebeu o que tinha dito ou não quis perguntar naquela hora. Apenas continuou a dirigir, não duvidava que fossem passar as próximas duas horas em completo silêncio.

Daria tudo certo, pensava insistentemente. Ela conseguiria completar seu plano e logo todos estariam a salvo. Talvez ela se casar com Matt fosse uma coisa boa, começava a achar, talvez. Suspirou ao ver o noivo se aproximando dela, segurando o telefone de celular. Forjou um sorriso para ele, durante as últimas semanas fingira tanto estar feliz que quase convencera a si mesma. Mas não conseguia se enganar, sabia que estava prestes a explodir a qualquer momento, porém era cuidadosa o bastante para esperar até estar longe de Matt quando isso acontecesse.
- Desculpe a demora, querida, negócios... – Explicou-se, sentando-se ao lado de .
Ela não se importava mais se ele resolvesse negócios durante seus encontros, não se importava nem um pouco. Aliás, agradecia aos céus por estes momentos que ficava sozinha. Ansiava pela próxima viagem a trabalho de Matthew, esperava que logo depois da lua-de-mel ele fosse viajar, para recuperar o tempo perdido, isto é, se é que ele iria parar de trabalhar depois do casamento. não iria se surpreender se ele parasse a cerimônia para atender algum telefonema.
- Tudo bem – Sussurrou – Matt, venho pensando em algumas coisas – Tomou coragem para falar.
- No que? – Perguntou.
Não achava que estivesse pensando em algo que o prejudicaria, estava certo de que ela já tinha quase se esquecido de , afinal ela sempre parecia feliz em sua frente, não tivera nenhum ataque até agora e vinha planejando o casamento como uma qualquer outra mulher. É claro que ele percebia que a morena ainda guardava um certo rancor por ele e estremecia ao ser tocada, mas não era nada que o tempo não curaria, concluiu.
- Estava pensando em sair de Brooksville depois do casamento – Falou – Talvez pudéssemos ir para Nova York, a maior parte de seus contatos fica lá, além de possuir a maior sede da ’s Company, e evitará você ter de ficar viajando o tempo todo.
Obviamente não era por isso que queria ir para o norte do país, só queria garantir que Matt ficasse mais afastado de . Talvez não fosse o suficiente, mas era melhor do que arriscar se ficasse.
- Bom, realmente é melhor para mim, até já pensei nessa possibilidade, mas pensei que não gostasse de cidades grandes.
- Eu me acostumarei. E podemos manter a casa aqui, para virmos nas férias – Sugeriu, com medo de Matt desconfiar alguma coisa.
- Se é sua vontade, iremos para Nova York, meu amor – Beijou os lábios da namorada.
Certamente sabia que era apenas uma tentativa de de se afastar de , mas não se importava com isso, era melhor que fossem para longe mesmo, assim não teria chance de perder de vista.


- Chegaram algumas correspondências para você, – David falou, logo após abrir a porta de casa.
- Deixe-as em cima da mesa, já vou vê-las.
não estava em seu melhor humor, notou David. Aliás não estivera bem-humorado desde que o deixara, e já fazia um mês. Observou seu meio-irmão deitado no sofá do único cômodo da casa, assistia a algum programa idiota da velha televisão que possuía, seu horário de trabalho começaria logo.
- Não vai trabalhar? – Instigou.
- É meu dia de folga, esqueceu? – Respondeu rudemente, sem desviar os olhos.
David deu de ombros, olhando as contas que tinham recebido. De súbito um envelope diferente o chamou a atenção, parecia mais chique, estava endereçado à .
- Ei, olhe isso aqui! – David exclamou – você recebeu uma carta.
- Deve ser apenas uma conta – Reclamou, porém pegou o envelope da mão do meio-irmão.
“O que era aquilo?”, indagou mentalmente enquanto abria. Sentiu seus punhos se fecharem e seus lábios se pressionarem ao abrir a carta. Não acreditava que tivesse tido a coragem de enviar-lhe aquilo, ela poderia ter terminado com ele, mas não achava que a ex-namorada tinha virado sádica repentinamente. Aquilo devia ser coisa de Matthew, pensou, se divertindo às suas custas.
- O que é?
- Nada – Disse rapidamente enquanto continuava a ler enraivecido.
Irritado, jogou o convite de casamento no sofá, enquanto “Matthew & convidam para a cerimônia religiosa de seu casamento a se realizar no dia 20 de fevereiro...” ecoava sem parar em sua cabeça. Então parecia que eles iriam casar em menos de duas semanas e ele estava convidado. Quis amassar o convite e jogar fora, mas ele ainda poderia ser útil, pensou.

Capítulo betado por: Mari Lima



Capítulo Dez.
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Sentiu seu coração acelerar ao se ver no espelho. Estava realmente bonita, admitia, o vestido combinara perfeitamente com seu penteado. A maquiagem simples em tons claros também lhe caíra perfeitamente. Olhou seu reflexo mais uma vez, ajeitando o véu em sua cabeça. Hoje iria completar seu destino, depois que saísse da Igreja, não teria mais volta.
- Vamos, , já está atrasada uma hora, já não foi o suficiente? – Joel reclamou do lado de fora do quarto.
- Matt deve estar nervoso já. – Natalie murmurou.
- Que fique, quem sabe assim não desista de última hora? – Sugeriu, torcendo para que isso acontecesse.
- Você sabe que não tem de fazer isto, . – Nat avisou – Deve ter alguma opção, talvez você devesse fugir agora, ir para algum lugar longe com e ser feliz. Não tente salvar todo mundo quando não consegue salvar nem a si mesma.
suspirou, tentando controlar-se para não chorar. Sim, ela tinha de fazer isto, por que Natalie insistia que não? Achava o que, que ela estava casando-se por que queria? Por que era burra? Talvez, mas burrice maior seria deixar Matt matar , assim fazendo com que ela perdesse o bebê e acabasse se matando. Deste modo, só estaria prejudicando a si mesma e a mais ninguém.
- Acha que eu já não pensei em todas as possibilidades? – Perguntou. – Matt vai acabar descobrindo onde eu estaria e pronto, estávamos todos mortos.
- Certo, eu não vou interferir no que deseja, , se quer dar uma de heroína e colocar os outros na sua frente, tudo bem. Eu não aprovo isso, mas o que posso fazer? Só saiba que estarei aqui para te ajudar a consertar as coisas, quando você perceber que está cometendo um grande erro. – Falou, abraçando a amiga. – Vou sentir sua falta.
- Eu também – Murmurou.
- Tem certeza que não quer ficar em Brooksville?
- Absoluta.
- Certo, qualquer coisa me ligue que eu vou correndo para Nova York!
Forjou um sorriso, observando pela última vez sua imagem como , logo possuiria em seu sobrenome e não do irmão que gostaria.

Avistou a igreja de longe, tinha algumas pessoas na porta, porém a maioria entrou quando viram o carro se aproximando. Olhou de soslaio para o pai, que carregava um sorriso no rosto, pelo menos alguém ficaria feliz com o casamento, pensou.
Joel ajudou-a a sair do veículo e ao ver sua mãe e seus padrinhos olharem para ela, sorriu, fingindo estar feliz. Percebeu que as madrinhas já começavam a entrar e conseguiu ouvir a marcha nupcial do lado de fora. Subiu os degraus que precediam a entrada da Paróquia St. Johns, olhando para baixo, enquanto concentrava-se para não tropeçar na barra no vestido. Levantou a vista, tentando controlar o impulso de sair correndo, fugir para algum lugar escondido e desconhecido. Mas não podia, simplesmente não podia abandonar seus planos.
- Vamos, , está quase na sua hora! – Ouviu Natalie apressá-la. – Você entra depois de Molly, que já está pronta. – Avisou, antes de correr para entrar.
suspirou, chegando à entrada da Igreja. Stella já estava caminhando para o altar e Molly, sua dama de honra, filha de uma prima, a seguiria dentro de alguns segundos. Voltou-se para a direita, dando uma última olhada para o exterior do local. Suspirou, tentando controlar as lágrimas que começavam a tentar escorrer.
- – Uma voz rouca sussurrou atrás dela, e a morena não teve que se virar para saber quem a chamava.
Sentiu o coração falhar e os olhos molharem e, sem se importar que deveria adentrar à Igreja, virou-se encontrando a imensidão de seus olhos que tanto sentira falta nas últimas semanas. Não disse nada, sabia o que ele queria e, naquele momento, esperava que ele também conseguisse ver através de sua alma. pedia para que ela não se casasse com Matt, que saísse com ele agora, fugisse. Mas ela não poderia responder, não podia fugir dali com , por mais que quisesse. Por isso apenas balançou a cabeça, pressionando o lábio inferior e limpou os olhos, seguindo a menina de quatro anos que saltitava sorridente pelo tapete vermelho que ligava ao altar.
Enquanto caminhava, sentia as lágrimas escorrendo por sua face e agradecia mentalmente por estar usando maquiagem à prova d’água . Porém, ao contrário do que todos deviam pensar, não chorava de felicidade, tampouco de emoção e sim de tristeza e desespero. Tudo aquilo era necessário, repetia para si mesma tentando convencer-se.
Sentiu a raiva a fulminar ao encontrar os olhos de Matt, que carregava um grande sorriso no rosto. “Cuide bem dela”, Joel Murmurou, mas nem ao menos se deu o trabalho de prestar atenção. O padre saudou-os e começou a rezar a cerimônia; fingiu prestar atenção, porém depois não se lembraria de uma sequer palavra dita.
Estava em outro mundo, onde a imagem da dor estampada no rosto de se repetia constantemente em sua cabeça. Talvez estivesse fazendo tudo errado, confiando cegamente em seus instintos; deveria ter contado a verdade, pensou. Tarde demais para descobrir isso.
Quando o sacerdote pulou a costumeira fala “Quem tiver alguma objeção contra este casamento, fale agora ou cale-se para sempre”, não estranhou. Devia ser apenas uma precaução de Matt, concluiu. Antes que pudesse notar, todos estavam a encarando, aguardando sua resposta. Teve que se controlar para não gritar “não” e sair correndo.
- Eu, , recebo você, Matthew , como meu legítimo esposo, para amá-lo e respeitá-lo, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na pobreza e na riqueza, até que a morte nos separe. – Murmurou alto apenas o suficiente para que o padre escutasse.
- Eu os declaro marido e mulher. Já pode beijar a noiva.
Matt se aproximou dela, beijando seus lábios. E logo depois se viu sendo puxada para fora da Igreja, enquanto jogavam arroz em sua cabeça. Teve sorte de seus olhos estarem marejados demais para que ela pudesse enxergar o homem parado no fundo da capela como uma sombra, com o rosto molhado e um buraco enorme se construindo em seu peito, que o causava uma grande dor, a qual ele pensava já ter desaparecido.

Cumprimentava os convidados com educação, não queria nem um pouco estar ali, mas já que estava tinha que se comportar bem. Observou todos se divertirem, em busca de alguém específico. Porém não o encontrou. Bom, talvez fosse melhor assim, pensou.
Em algumas horas ela e Matt iriam para a Suíça, passar por volta de um mês em lua-de-mel. Voltariam direto para o novo apartamento deles no Upper East Side de Nova York, e não sabia quando iria novamente para Brooksville. E tampouco sabia se quando voltasse ele ainda estaria por ali, ou como estaria.
Agora que já estava casada não tinha mais como voltar atrás, não poderia simplesmente fugir. Portanto queria apenas vê-lo pela última vez, queria ouvir a voz de . Desejou que ele aparecesse logo na festa, ele havia de aparecer. Não era possível que também não quisesse vê-la.
Bateu os pés, inquieta, olhando para todos os lados. não estava por ali, talvez nem ao menos viesse. Afinal, como ele tinha um convite? Ela não lembrara de ter posto seu nome na lista de convidados e Matt não mexera nos preparativos para o casamento.
- Procurando alguém, ? – Foi despertada pela reconfortante voz da amiga.
- Não, ele não está aqui. – Suspirou, sabendo que Natalie entenderia o que ela queria dizer. - Deve chegar daqui a pouco. – Avisou, enquanto se remoia por dentro, tão nervosa quanto . – Deveria ter vindo antes de você estar casada, para ver se te impedia; mas aparentemente ele conseguiu se atrasar mais do que a noiva. – Lamentou.
- Você planejou isso, Nat? – Arqueou as sobrancelhas, indagando.
Natalie abriu a boca para falar alguma coisa, porém nada saiu. Não importava se tinha planejado, seu plano tinha falhado, de qualquer forma. Havia sido sua última tentativa, pensava que se visse , ela desistiria de toda essa baboseira de casar. Mas ele não tinha aparecido, que ótimo.
- Talvez. Apenas enviei um convite a ele. – Confessou.
- Bom, eu estava mesmo me perguntando como ele tinha chegado até a Igreja.
- Espera, ele foi até lá? Você o viu? – Estava em choque, então quem estragara seu magnífico plano tinha sido sua melhor amiga.
- Sim. – Murmurou. – Você não tem idéia de como me doeu. Tive vontade de fugir dali, sair correndo, mas não fui capaz. Sou uma idiota, uma grande idiota. – Concluiu, esfregando os olhos com infelicidade.
- É, você é mesmo.

Terminara de cumprimentar todos. Dera graças a Deus, porém achava que agora vinha a pior parte: a dança. Tivera sorte que Matt se atrasara para resolver alguns acordos de última hora com alguns contatos, mas agora podia vê-lo se aproximando e logo a canção que havia cuidadosamente escolhido começaria a tocar.
Não que não gostasse de dançar, mas dançar com Matt era o problema. Desde que a cerimônia acabara, eles se mantiveram longe um dos outros e ela não queria acabar com esta distância. Não queria começar logo a vida de casada, não com Matthew.
- Hora da primeira dança. – Ruby sussurrou animada para .
Ela suspirou, forjando um sorriso para o marido e se aproximou dele. Torcia para que pisasse no vestido e assim conseguisse uma boa desculpa para se afastar. Olhou para baixo, notando que não teria coragem de fazer uma coisa destas. Continuava com o mesmo vestido da Igreja, apenas tirara o véu agora.
- Vamos dançar, Sra. ? – Matt perguntou, achando graça do novo sobrenome da esposa. Sorriu, com os olhos brilhantes. era sua.
Ela apenas sorriu, esticando a mão para o marido, que a levou para o centro da pista de dança. A música começou a ecoar pelo salão, ele a levou mais para perto enquanto se deslocavam lentamente ao ritmo da canção. Todos encaravam o casal, alguns com inveja, outros com admiração, afinal eles ficavam lindo juntos.
Perfeitos um para o outro, ouvira muito isso durante a festa. Quase soltou uma risada histérica ao pensar que há apenas alguns meses também compartilhara esse pensamento e sonhara com este momento. Tudo mudara em tão pouco tempo e mesmo assim acabara do mesmo jeito que ela inicialmente quisera.

Quase que pela primeira vez durante seu casamento, se permitiu rir enquanto o pai a conduzia em uma dança. Estava feliz por Matt ter a passado para Joel, trocando-a por alguns amigos. Ela gostava de ficar com o pai, principalmente quando ele estava de bom humor. E hoje ele estava radiante de tão feliz, estava se casando com o homem que ele queria e ainda por cima aparentava estar bem, poderia ter mais sorte que isso? Ele achava que não.
Enquanto dançava a segunda música com o pai, observava à sua volta. O salão da mansão de Matt havia sido muito bem decorado, principalmente considerando a pressa com que o casamento fora feito. As paredes e o chão escuros contrastavam com as toalhas e flores claras espalhadas. Estava tudo muito sofisticado, as mesas foram colocadas em espaços estratégicos, com um linda toalha de mesa bordada e rosas brancas em um vazo no meio. Os garçons passavam servindo diversos tipos de petiscos para alimentar os convidados e o Buffet continha várias especialidades dos chefes da cidade. A iluminação estava impecável, nem muito escura, nem muito clara, e por não estar mais de dia o sol já não entrava pelos vitrais, não deixando a casa colorida de vermelho e azul. Era o casamento perfeito, decidiu, mas não para ela. Se não fosse o noivo, com certeza este seria o melhor dia de sua vida. Pensando nisso, correu o olho novamente à procura de quem seria seu noivo perfeito. Desta vez, porém, não fora em vão.
De longe o vira entrando no salão, usando um terno aberto por cima de uma blusa social branca, sem usar nenhum gravata. Ele se destacava no meio da multidão. Parecia perdido, no lugar errado. Mas para ele estava exatamente no lugar em que deveria estar.
Não pôde evitar sorrir ao vê-lo se aproximando. Estava lindo, como da primeira vez que o vira, sua barba não estava feita e seus olhos azuis guardavam grandes mágoas, mas mesmo assim estava deslumbrante. Olhou rapidamente por sua volta, notando que vários casais dançavam perto de si, mas Matt estava longe, entretido em alguma conversa com um cliente. Era sua chance de falar com por uma última vez. E sentia que ele também compreendia isso.
Percebeu que a música já estava quase no fim, e se instalara perto dela, apenas a observando. Joel continuava a guiá-la, sem notar a repentina animação da filha, achando que todas as noivas ficavam assim.
Ela precisava pensar no que fazer, no que dizer. Não daria para fugir agora, havia milhares de pessoas presentes e ela tinha uma aliança no dedo. Tampouco poderia contar a verdade, sabia muito bem o que ele poderia fazer. Nada diria então, pensou, apenas dançaria.
Desviou os olhos mais uma vez para o local onde ele estava, porém não o encontrou no mesmo local. Ele havia desaparecido. sentiu os olhos se encherem de lágrimas ao pensar que essa fora a última vez que o vira. E nem ao menos tivera a oportunidade de ouvir sua voz novamente.
- Está bem, ? – Joel perguntou, observando os olhos marejados da filha.
- Estou sim, papai. Só estou emocionada – Deu uma desculpa esfarrapada.
- É, foi um lindo casamento.

[N/A : Coloquem a música para tocar!]

ouviu uma nova música começar e sentiu sua respiração falhar ao sentir uma mão pairar sobre seu ombro. Não precisava se virar para descobrir quem era, sabia, e sentiu um enorme sorriso se abrir ao perceber.
- Com licença, será que eu poderia...? – Uma voz rouca perguntou dirigindo-se a Joel, que apenas assentiu e se afastou.
Ele pegou a mão de , a abraçando. Não importava se ela tinha se casado há algumas horas, ele apenas queria sentir a textura de sua pele novamente, ouvir sua voz novamente. Precisava ver a certeza em seus olhos para continuar a viver. Talvez tivesse vindo em busca de uma explicação, mas naquele momento só conseguia vê-la parada em sua frente e sorrir. Queria imaginar que era com ele que ela estava casando, queria se iludir.
- ... – Ela murmurou. – Você veio.
- Eu precisava te ver, . Eu queria entender o que estava acontecendo. – Explicava, enquanto a conduzia pelo salão.
- Não, por favor, não vamos falar disso. Já está feito, não posso voltar a trás. – Disse, afundando sua cabeça no peito de .
Tinham tantas coisas para dizer um ao outro, porém não conseguia dizer nada. Apenas queria guardar aquele momento para sempre. Queria gritar para correr e fugir com ele. Queria explicá-lo tudo. Queria contar-lhe que esperava seu filho. Mas não tinha coragem, simplesmente não conseguia. Estava confusa e não sabia o que fazer.

Todas as coisas que quero dizer
Não estão saindo direito
Estou tropeçando nas palavras
Você deixou minha mente girando
Eu não sei pra onde ir daqui


- , eu preciso que você entenda o porquê de eu estar fazendo tudo isso. – Ela suspirou, sabendo que teria de ser rápida.
- Então me explique.
- Eu não sei se eu poderia.
Quais eram os riscos de contar? Grandes, ponderou, e não ajudaria em nada. Sem mais volta, ecoou em sua mente, até que a morte os separasse. É, não poderia contar-lhe a verdade, quem sabe um dia poderia voltar. Talvez ele a esperasse, mas ela não podia nem queria pedir uma coisa dessas. merecia mais, ele merecia uma vida boa e plena.
- Eu só quero ficar com você agora, somente isso – respondeu, simplesmente, trazendo-a mais para perto.
- Pela última vez. – Murmurou baixo, sem que pudesse escutar.
Dançaram juntos, enquanto lágrimas escorriam por seus rostos e a dor os esmigalhava. Nada importava agora, as pessoas que os encaravam não importavam. Eram apenas eles dois. olhou para , perdendo-se em seus olhos, ele era tudo o que ela queria naquele momento. Queria ficar ali abraçada à ele para sempre; as pessoas poderiam parar de dançar e ir embora, a música poderia parar de tocar, Matt poderia estar observando-a, mas agora tudo o que ela poderia sentir era .

Porque somos você e eu e todas as pessoas
Com nada para fazer
Nada a perder
E somos você e eu e todas as pessoas
E eu não sei por quê
Não consigo tirar meus olhos de você


- Eu te amo, . Não se esqueça disso nunca. Estarei te esperando, sempre. – Falou em seu ouvido, olhando sem seguida nos olhos da mulher.
Sentiu seu coração despedaçar quando beijou-lhe a testa e foi embora. Apenas se afastara, deixando-a ali em meio a lágrimas e pessoas felizes. Não o veria mais, concluiu, e deixou seus olhos percorrerem o caminho que ele fazia até a saída.
- Adeus, . – Sussurrou para o nad.a – Eu também te amo, mais do que você possa imaginar.

- Ai meu Deus, , você está bem? – Natalie correu para acudir a amiga que chorava. – O que aconteceu ali?
suspirou, tentando se recompor, limpou as lágrimas e olhou para o lados para ver se as pessoas estavam a encarando. Porém constatou que o único que a observava era seu novo marido. Desviou seu olhar para o teto, tentando encontrar uma resposta para a pergunta de Natalie. O que aconteceu ali? Nada havia acontecido, apenas tinha acabado de ter certeza que era a pessoa mais estúpida do mundo por ter deixado .
- Estávamos apenas nos despedindo. – Explicou vagamente. – Alguém notou?
- O que? Essa dança nada intensa em meio a lágrimas? Claro que não, por que notariam? – Natalie ironizou, nervosa - Eu diria que sim, principalmente o cara que acabou de casar com você.
- Droga, o que eu vou fazer com Matt, Natalie? Como vou ficar casada com ele, morando em Nova York? Vou virar uma socialite, ficar aparecendo em eventos beneficentes e passeando por shoppings para me distrair? Sabendo que toda vez que eu voltar para casa terá um psicopata me esperando? – Mordeu o lábio, tentando controlar o choro enquanto imaginava sua nova vida. – Não era isso o que eu queria para minha vida.
Natalie abraçou a amiga pelo lado, sem encontrar as palavras certas para dizer. Afinal, se não tem nada de agradável para dizer, melhor ficar calada. Pelo menos nesse caso, esta era a melhor opção, uma vez que não tinha nenhuma sugestão a dar. Sua vontade era aconselhar a matar Matt, envenená-lo ou qualquer coisa do tipo, mas sabia que a amiga nunca teria coragem de fazer algo do tipo, e não podia obrigá-la.
- Vai acabar tudo bem, você vai ver. – Confortou . - Acontece que não vai, Nat, isso nunca vai acabar.
- O que não vai acabar, querida? – Matt perguntou, armando um largo sorriso no rosto, aproximando-se das duas.
- Essa festa. – Mentiu rapidamente. – Estou cansada e meu pé está doendo. Quando nós vamos embora?
- O carro chegará em instantes para nos levar para o aeroporto, um avião estará nos esperando, você pode se trocar lá. – Avisou. – Enquanto isso, você pode esperar sentada ali. – Disse, sorrindo para Natalie e em seguida começou a puxar para alguma mesa que estava vazia.
Estava irritado com a esposa, não fora nem um pouco necessária aquela cena toda com enquanto dançava. Já era um absurdo ela tê-lo convidado, dançado com ele então, e ainda tiveram a ousadia de chorarem. Ele até pôde notar uma cara de espanto em certos convidados e teve de inventar uma desculpa qualquer de que era um amigo de e eles sentiriam saudades um do outro agora que ela se mudaria para Nova York. Não queria ter de bater em , ele a amava, mas ela tinha que entender que agora ela era dele e deveria obedecê-lo.
- Então... Despedida triste com ? – Ironizou, empurrando para uma cadeira.
- Sim. Estávamos mesmo só nos despedindo, Matt. Vamos para Nova York agora, eu nunca mais vou vê-lo.
- Espero que não. Afinal, ele é o único parente que me resta, não gostaria de ter que matá-lo.
Na verdade, adoraria matá-lo. Quem se importava em matar toda a família? Ele logo construiria sua própria com , ela seria sua leal esposa e lhe daria bons filhos que cuidariam da empresa quando ele se fosse embora. Ela o faria feliz. Tudo ficaria perfeito, desde que estivesse ao seu lado. E para isso ele não podia matar , pelo menos não durante os primeiros anos de casamento, enquanto ainda guardasse algum tipo de sentimento por ele.
- É claro que não gostaria. Não se preocupe, Matt, eu nunca faria algo para irritá-lo.
- Ótimo. Espero que tenha se despedido direito, não pretendo deixar que o veja novamente. E não se esqueça, , é melhor que cenas como esta não se repitam. – Sussurrou, olhando dentro de seus olhos. – Eu não gostei nem um pouco disso. Você é minha, , sempre foi. Não tente mudar as coisas.
- Não vou. Eu sou sua, Matt – Murmurou, cabisbaixa, enquanto tentava manter-se lúcida.
Não queria convencer-se das coisas que Matt lhe dizia. Ela não era dele, jamais seria. Mas seu coração já estava tão ferido e sua mente tão confusa, que quase queria acreditar. Queria acreditar que Matt a amava, que ela esqueceria , porque pertencia ao seu marido. Logo estaria convencida disso, talvez só bastasse alguns meses, talvez anos; mas ela se convenceria.

- Vamos, , o carro chegou. – Matt avisou, puxando pela cintura para perto de si. – Tchau, Joel e Ruby. Espero que vocês venham conhecer nosso apartamento em Nova York logo. – Despediu-se carismático com um sorriso no rosto.
- Façam um boa viagem! – Ruby falou antes de puxar a filha e o genro para um abraço. – Pode ter certeza que em alguns meses iremos aparecer lá. Vou sentir sua falta, querida. – Dirigiu-se a – Cuide bem da minha filhinha, Matthew.
Joel acenou com a cabeça, e deu um tchau com a mão logo após de abraçar apertadamente sua irmã. Iria sentir saudades da sua família, de sua cidade, seus amigos. Mas iria superar isto, disse para si mesma, iria superar tudo.
- Adeus, , venha nos visitar logo! – Stella falou sorridente, se separando do abraço da irmã - Ei, . – Chamou-a, sussurrando – E o ?
- O que tem ele? Ele era apenas um amigo, Stelly, não se preocupe, eu estou casada com Matt agora.
- Eu vi vocês dois dançando, eu não sou burra.
- Eu amo Matt, ok, Stella, isso é o que importa. – Murmurou, forjando um sorriso. – Se eu pudesse, eu te explicava tudo, mas eu não posso, desculpe. Eu te amo, irmãzinha, comporte-se. – Beijou a bochecha da irmã, afastando-se com Matt.

- Você demorou muito tempo com Stella. – Matthew reclamou.
- Bom, você provavelmente não entende que eu vou sentir saudades da minha irmã. – Respondeu irritada, enquanto entrava no carro que os levariam para o aeroporto.
- É, eu não entendo. – Seguiu , sentando-se ao seu lado. – Diga adeus a Brooksville.
olhou para trás, vendo vários de seus antigos amigos observando o carro partir. Sentiu uma lágrima escorrer por seu rosto, mas não se deu o trabalho de limpar. Observou sua família ali, quando os veria novamente? Eles alegaram visitar Nova York brevemente, mas quem garantia que ela estaria viva até lá? Talvez Matt a matasse da primeira vez que ficassem sozinhos, odiava admitir, mas seu futuro estava nas mãos de seu marido e estaria pelo resto de sua vida agora. Desviou o olhar para Natalie, ela estava envolvida pelos braços de Lucas. Talvez em alguns meses ou anos eles se casassem, tivessem filhos e fossem felizes. Nat realmente o amava. Sorriu ao pensar na amiga, sentiu um pouco de inveja fluindo pelo seu corpo, mas não se ressentia pela felicidade da amiga. Natalie merecia isso, só porque ela não tinha conseguido não era motivo para não desejar o melhor para quem amava.
Observou um homem parado ao lado de uma árvore, escondido. Passaria despercebido por qualquer um, mas não por ela; o notaria em qualquer lugar. Sentiu seu coração apertar ao encontrar os olhos de , podia sentir que estava sendo fulminada por aqueles lindos olhos azuis. Ele seria feliz, ele encontraria alguém que pudesse amá-lo e então a esqueceria, e poderia viver em paz. Era isso o que ela queria, não era? Ela pensava que sim, apenas não entendia porque doía tanto pensar em seguindo com a vida.
Fechou os olhos, virando-se para frente. Pressionou os olhos novamente, fazendo com que as últimas lágrimas escorressem e deu adeus à sua antiga vida.

Capítulo betado por: Mari Lima



Capítulo Onze.


Os carros passavam em alta velocidade na avenida lá embaixo, iluminados pelo céu aberto e o calor de setembro. Os nova-iorquinos passeavam com vestidos e roupas frescas típicas do verão, mas não considerava os 20°C que faziam muito quentes; sentia falta do clima subtropical da Flórida. Assim como estava saudosa pelo silêncio de Brooksville, mesmo Matt tendo colocado um vidro anti-ruído nas janelas, ela ainda se incomodava com o som dos carros passando.
- ? – Uma mulher morena de cabelos escuros e lisos escorrendo até um pouco abaixo do ombro perguntou, aproximando-se de , colocando a mão em seu ombro – Você está bem? Está há muito tempo observando a vista.
- Não se preocupe, Madison, estou apenas admirando o intenso tráfego de hoje – Explicou, forjando um sorriso.
- Ok, então. Olhe, vou ali levar o almoço para Noah, eu já volto. Você precisa de alguma coisa para agora? Gostaria de um suco?
- Não preciso de nada, Madison, mesmo – Assegurou-a, empurrando-a de leve na direção da porta.
Madison se retirou do cômodo rapidamente e suspirou logo que isso aconteceu. Madison se preocupava demais com ela, não a culpava, afinal, andava sempre com um ar triste desde que chegara a Nova York. Ela era a única amiga que tinha feito na cidade, por mais que Matthew sempre trouxesse amigos e clientes da elite do local, não conseguia simpatizar com ninguém. Ficara sozinha por várias semanas, até resolver ajudar na cozinha e conhecer a empregada que Matt tinha contratado, Madison.
Ela era a única coisa que fazia os meses que passara em Nova York um pouco mais suportáveis, se tivesse continuado solitária, não sabia o que teria acontecido. Provavelmente, teria surtado, não teria aguentado tanto tempo ao lado de Matt. Meses, pensou, já estavam em setembro agora e ela estava com nove meses de gravidez. Sua filhinha deveria nascer dentro de alguns dias e então poderia ser feliz novamente.
Acariciou sua barriga pensando no bebê que carregava. Alice Jane era o nome que escolhido cuidadosamente junto com Matthew. Odiava fingir que ele era o pai de Alice, era um absurdo. Ele não tinha a mínima conexão com ela, não queria nem pensar em Matt segurando seu bebê. Tinha medo do que ele poderia fazer com ela, mesmo que Matt tenha demonstrado ser até mesmo um pai atencioso, sempre comprava roupas e brinquedos para quando a filha nascesse e passou a ser muito mais cuidadoso com quando descobriu que ela estava esperando um bebê seu.
se lembrava muito bem de quando contou para Matt sobre a gravidez. Esperava falar com um clima mais romântico, para que Matt não desconfiasse de nada, porém, quando chegaram ao hotel, Matthew tentou bater nela, por ter feito ou dito algo que ele não gostou, disse para ele parar, pois estava grávida e, para sua sorte, Matt acreditara e parara.
Mas, de qualquer forma, não conseguia simplesmente parar de temer por sua filha, Matt tinha um humor instável e poderia machucar facilmente um bebê indefeso. Porém, Alice não seria indefesa, ela estaria ali para protegê-la sempre, Matt não machucaria sua filha, nunca.

Natalie passou pela porta como quem não queria nada. A loja havia sido inaugurada fazia alguns dias e ela ainda não tinha tido a oportunidade de visitar, antiguidades estavam à venda por um bom preço. Ela observou um lindo relógio de madeira para colocar na parede, uma relíquia. Sentiu vontade de comprar uma mesa de cabeceira e lamentou-se por não ter trazido seu cartão de crédito. Controle-se, pensou, você não está aqui para fazer compras para casa.
- Posso ajudá-la? – Uma voz conhecida perguntou, fazendo-a virar para trás – Natalie?
- Olá, – Cumprimentou sorrindo, um pouco nervosa – É uma linda loja, adorei os móveis, são realmente uma raridade, espero que faça muito sucesso.
- Ah, obrigado... – Falou, sem jeito – O que você quer aqui?
- Estou só visitando, não posso? Não acontecem muitas novidades em Brooksville, , a inauguração de uma loja é algo importante por aqui.
- Certo.
se afastou novamente para trás do balcão, enquanto observava Natalie olhar todos seus produtos. Viu-a se aproximando de mãos vazias assim que uma senhora saiu da loja, sabia que ela tinha algo para lhe falar. Natalie não costumava conversar com ele, depois que fora embora, eles se viram poucas vezes, e ele sempre sentia que ela queria avisá-lo de alguma coisa, porém nunca conseguira decifrar o que era e, então, eles apenas se encontravam pela cidade raras vezes, apenas se cumprimentando com um oi.
- Sabe, , a filha de nasceu há três dias – Comentou naturalmente, fazendo com que arregalasse os olhos em choque.
- Eu... Não sabia que ela estava grávida. Quer dizer, agora que você disse, acho que tinha ouvido algo assim, mas não prestei muita atenção – Passou a mão pelo cabelo, piscando várias vezes sem acreditar – Ela está bem?
- Sim, ela e Alice estão bem, acho que já até voltaram para casa. Eu vou visitá-la dentro de algumas semanas.
- Bom, diga que mandei parabéns, ou seja lá o que desejam nessa ocasião – Falou, encerrando o assunto – Por que me contou isso, Natalie?
- Achei que deveria saber. Afinal, ela é sua sobrinha.
- Ah, claro – Murmurou irritado – Vai comprar alguma coisa?
- Não, esqueci meu cartão, mas talvez eu volte aqui outro dia – Disse, virando-se para sair – Até logo, – Andou até a porta, e então virou-se – Ah, é, ela tem seus olhos.
ficou imóvel, apenas ouviu o barulho da porta se fechando, porém ainda se encontrava em choque. O que ela queria dizer com ela tem seus olhos? A filha era de Matthew, bom, ela devia estar apenas brincando com sua cara. Não era nada demais se a filha de com Matt tivesse olhos azuis, afinal, os dois avôs tinham olhos dessa cor, pelo que se lembrava, era apenas uma coincidência que, ao invés de ter puxado os olhos verdes do pai ou os castanhos da mãe, tivesse nascido azul. É somente uma cor, , não deixe se abalar por isto.

- , tem visita para você – Madison avisou sorrindo, ao entrar no quarto todo decorado de rosa de Alice.
- Quem é? – Perguntou, sem se alegrar. Milhões de amigos de Matt já haviam passado por lá no último mês com presentes caros.
- ? – Ela ouviu uma voz conhecida vir do corredor – Olhe só você! – Correu para abraçá-la.
Natalie estava cheia de sacolas de lojas de bebês na mão e carregava um sorriso radiante no rosto. Olhou para a amiga, apesar da cara de cansaço podia ver que ela estava ligeiramente mais feliz do que no dia do casamento. Desviou o olhar para o motivo desta alegria, Alice dormia profundamente no colo da mãe.
- Ai, meu Deus, eu senti tanto a sua falta – murmurou – Não sei onde eu estava com a cabeça quando resolvi me mudar.
- Eu sei onde estava sua cabeça – Natalie respondeu humorada, porém logo percebeu que ainda não estava pronta para este tipo de brincadeira – Então, como está lidando com essa coisa de ser mãe?
- Bem, eu acho. Ela chora metade da noite e dorme metade do dia, mas eu não me importo de acordar. Aliás, quando ela não acorda, quase que eu começo a chorar – Resmungou – Ela me salvou.
Literalmente, pensou em todas as vezes que Matt só não lhe bateu por causa da filha, porém, preferia não comentar nada disso com Natalie, ela surtaria.
- Ela é linda. Posso segurá-la? – Perguntou, já pegando a menina do colo da mãe.
Sentaram nas duas cadeiras que tinham no quarto e começaram a conversar. Falavam-se toda semana por telefone, mas não era a mesma coisa. Com Natalie e Alice ali, quase podia se sentir completa, só faltava o homem que ainda ocupava grande parte do seu coração.
- No que está pensando que ficou calada de repente? – Natalie perguntou, observando a quietude de .
- Estava pensando que nós podíamos sair um pouco, não é?

- Pronto, aqui podemos conversar em paz – murmurou, ao sentarem em uma mesa de dois lugares de uma pequena sorveteria
- Como assim? – Natalie estranhou, enquanto observava os nova-iorquinos a sua volta.
- Matt instalou câmeras com microfones em todos os cômodos da casa. Disse que era por segurança, é até bom, pois assim posso vigiar Alice do meu quarto – Comentou distraída, enquanto observava a filha no carrinho de bebê, ao seu lado – Porém não tenho a mínima privacidade assim, não posso falar de nada que eu não queira que Matthew saiba.
- Bom, pelo menos aqui posso conversar sobre o que eu quero com você.
- Eu vi que você estava se corroendo desde que chegou. O que houve, Nat?
- Olhe! – Exclamou, estendendo a mão direita, exibindo um lindo anel de brilhantes no dedo anelar – Lucas me pediu em casamento anteontem!
- Ai, meu Deus, Natalie! Isso é demais, por que você não me ligou para contar antes?
- Queria esperar para falar pessoalmente – Comentou, enquanto sorria abobalhadamente para a própria aliança – Estamos planejando nos casar em maio, em Spring Hill. Vamos comprar uma casa lá para morarmos após o casamento. É mais fácil para mim, mais perto do hospital – Explicou – Vou vender nossa casa, , você não se importa, não é? Não sei quando você vai voltar, pode demorar muito...
- Eu não vou voltar, Natalie, você sabe disso. Está tudo bem, não faz sentido mesmo manter a casa sem ninguém usar.
suspirou ao pensar na casa que tinha dividido com Natalie por quase oito anos. Tinha muitas memórias ali, sentiria saudades. Sentiu um impulso de vontade de voltar até lá, para se despedir do local, mas sabia que voltar só a deixaria pior. Lembrou-se dos últimos meses que passara com por ali. Como estaria ele? Já fazia dez meses que tinham terminado, ele provavelmente já havia a esquecido.
- No que está pensando? – Natalie indagou.
apenas balançou a cabeça, sem querer responder a pergunta. Não iria perguntar de para Natalie, deveria esquecê-lo, uma vez que nunca ficariam juntos novamente. Mordeu o lábio, tentando se controlar para falar de outra coisa. Olhou para Natalie, implorando com os olhos que ela entendesse seu silêncio.
- Ele está bem – Natalie respondeu, sorrindo.
- Quem? – Fingiu-se de desentendida.
- . Ele abriu uma loja de antiguidades, tem objetos realmente muito bonitos lá, queria ter comprado algo para te trazer, mas pensei na probabilidade de Matt ver.
- Foi bom não ter trazido – Avisou – Não quero nada que me lembre dele. Uma loja de antiguidades... Uau, queria ter visto isso – Sorriu, despreocupadamente – E David, como está?
- Ele trabalha na loja de pelas manhãs e no restaurante de tarde, e está estudando para fazer uma prova, para ver se consegue seu diploma. fica o dia inteiro na loja, mas às vezes sai da cidade para comprar mais.
- Bom, isso é ótimo... Como sabe de todas essas coisas, Natalie? Anda os vigiando?
- Não... Janto no Gourmet Gallery às vezes e me encontro com David, perguntei para ele, ok. E falei com algumas vezes também. Você bem que queria que eu estivesse vigiando-os.
- Não, eu não queria. Quero que me apague de sua memória completamente.
- É isso o que você está fazendo? – Natalie ergueu as sobrancelhas, desafiando a amiga.
- Estou tentando, é mais difícil para mim, Nat. Eu vou ter que ficar presa pelo resto da minha vida com Matt, pode ser feliz com alguém que o ame de verdade e que ele possa amar, além disso, eu tenho Alice para me lembrar dele todo dia. Mas com o tempo acabarei me esquecendo de quem ela é filha.
- Então, você não vai se importar se eu disser que ele está saindo com a Wendy?
- Não, não vou.
ficou calada por um segundo, enquanto a raiva fluía rapidamente por seu sangue. Então parece que já tinha a superado, saindo com suas próprias amigas. Bem que ela sempre notou que Wendy ficava atirada demais para cima dele. Sabia que não estava inventando coisas. Imaginou ao lado da ruiva e antes que pudesse se controlar, já tinha amassado o copo de sorvete que segurava.
- Ei, calma aí, – Natalie a alertou – Não falei isso para te irritar. Achei que deveria saber.
- Tudo bem, Nat. Ele está seguindo com a vida, era o que eu queria, não era? E o que mais eu podia esperar, que ele ficasse esperando até Matt morrer? Ele está certo.
- Mas isso não significa que ele te esqueceu, . Se você voltasse para Brooksville agora, tenho absoluta certeza que ele largaria Wendy na hora e iria correndo até você.
- Pelo menos ele está a um passo de esquecer e será melhor quando isto acontecer, nós dois poderemos continuar nossos cainhos, sem pensar que um dia, talvez, poderemos voltar a ficar juntos.
- Bom, se é assim que você quer – Natalie suspirou e continuou a comer seu sorvete silenciosamente, enquanto via encarar o pote amassado com um olhar tristonho.

não se surpreendeu ao acordar e não reconhecer onde estava. As paredes laranjas davam fome nele sempre que acordava e as via, mas já estava quase se acostumando. Ao olhar em volta, percebeu que os móveis coloridos de Wendy estavam completamente bagunçados, os perfumes e maquiagens estavam jogados sem o mínimo de cuidado em cima da penteadeira de metal. Notou também suas roupas jogadas ao pé da cama e teve de resistir ao impulso de levantar-se, vesti-las e ir embora, sabia que Wendy odiava quando ele fazia isto. Virou-se e encontrou os olhos de esmeralda o observando. Os cabelos ruivos estavam emaranhados e Wendy jogou-os para trás ao ver que havia voltado os olhos para ela, exibiu um de seus melhores sorrisos mostrando os dentes completamente brancos, contrastando com a boca rosada.
Ela era linda, sabia muito bem disso, tanto em rosto quanto em corpo. Acariciou o rosto da mulher, saboreando sua pele de neve incrivelmente macia. Mas ela não era , nunca seria. Às vezes gostava de fechar os olhos e fingir que a mulher ao seu lado era a mesma dos seus sonhos, mas bastava que Wendy o tocasse para que ele soubesse que estava à milhas dali, na cama de seu irmão.
Já tinha quase cinco meses que saía com ela e mais de um ano que havia casado. Wendy o fazia bem, quase o satisfazia, seria fácil continuar com ela. Ela parecia feliz ao seu lado, trabalhava junto com David e o fazia se esforçar para conseguir uma promoção no restaurante, em seu tempo livre sempre aparecia na loja para ajudar e frequentemente visitava sua casa, cozinhando para os dois . Além disso, ela não parecia se importar que não fosse muito carinhoso com ela, não esperava mais que ele retribuísse seus “eu te amo”, nem que a chamasse por apelidos.
- Olá, querido – Disse de bom-humor, dando um selinho em – Quer comer alguma coisa? – Sorriu maliciosamente e riu em seguida, levantando-se da cama e vestindo a camisa de – Acho que vou preparar panquecas ou algo assim.
- Eu tenho que trabalhar – Avisou, pondo as roupas que o restaram.
- Trabalhar? Hoje é domingo, , você prometeu que não iria mais trabalhar todos os dias – Reclamou, gritando da cozinha.
- Já disse que a loja ainda está no início, Wendy, se eu quiser ter dinheiro, preciso trabalhar.
- Você podia mandar David cuidar hoje – Sugeriu – Pensei que poderíamos sair, está passando um filme legal no cinema.
- David está estudando, a prova dele é em uma semana. Talvez de noite dê para fazer algo – Comentou, sentando-se a mesa da cozinha, enquanto admirava a namorada cozinhando.
Imaginou naquela situação, e lembrou-se de quando a morena tentou cozinhar para ele. Pensou que ela deveria cozinhar para Matt muitas vezes, enquanto cuidava da filha deles. A menina já deveria ter em torno dos seis meses agora, ponderou, pensava em como ela seria. Teria traços que ele pudesse reconhecer? Questionou-se se ela seria parecida com , já sabia que havia puxado os olhos azuis dos avôs, mas talvez tivesse o cabelo castanho ondulado da mãe. Teria ela alguma característica de Lillian? Lembrou-se da mãe com peso no coração, ela foi a primeira a ir embora. Talvez todos que ele conhecesse estivessem destinados a se afastar dele de alguma maneira. Primeiro a morte da mãe, depois o pai e a madrasta, então Matt e . Logo David iria conseguir entrar em alguma universidade, como queria, e iria embora; e, então, Wendy encontraria outra pessoa e o abandonaria.
Seu destino era solitário, não tinha como negar isto.


- Olá, meu amor – Puxou a mulher por trás para um beijo – Olá para você também – Sorriu para a criança nos braços de , pegando-a no colo.
- Hey, Matt. Já voltou? – forçou um sorriso.
- Já, nós vamos sair – Avisou – Tenho um cliente que valoriza muito essa coisa de família e blábláblá, podemos levar Alice, as filhas deles estarão lá, e terá uma babá que ficará cuidando dela.
- Não sei se é uma boa ideia, Matt, Alice vai estar com sono... Talvez nós devêssemos ficar aqui – Sugeriu.
- Vocês vão – Ordenou, encarando irritado e ela apenas concordou com a cabeça.
suspirou, pegando a filha de volta e indo para o quarto dela. Sua relação com Matt não andava muito melhor. Ele era um bom pai para Alice e dava graças a Deus por isso, ele não era muito presente, mas comprava brinquedos e roupas e levava a filha para passear, brincava com ela e algumas raras vezes até acordara de noite para ver o que ela queria e fizera reais funções de pais. Mas era um péssimo marido, chegava tarde do trabalho na maior parte dos dias e a acordava para que ela satisfizesse seus desejos. Não se importava com o que ela sentia e achava que ela tinha a obrigação de fazer o que ele queria, se ele quisesse sair para jantar, ela deveria ficar quieta e obedecer.
Ela não tinha certeza se Matt já havia se esquecido da promessa de matar , afinal, já fazia quase um ano e meio que tinham saído de Brooksville. Mas não era somente por isso que continuava com ele. Tinha ainda mais medo agora com o que ele podia fazer com sua filha, precisava protegê-la e abandonar Matt não era o melhor jeito de conseguir isso.
Sabia que não devia irritá-lo, por isso sempre o obedecia. Lembrava do que acontecera da última vez, estremeceu ao pensar naquele dia.
Tinha acabado de receber uma ligação quando Matt chegara em casa, há muito que o sol havia se posto e Alice já estava dormindo, ele dissera que ela deveria se vestir, pois iriam sair. estava com sono, porém cansada demais para discutir aceitou ir sem reclamar. Por sorte, Madison aceitou ficar na casa cuidando de Alice até eles voltarem.
Fora apenas um jantar monótono sobre negócios em que ficara discutindo sobre a última moda com a mulher do cliente de Matt. pensara que se tivesse comportado-se bem, Matt não iria ficar irritado se opor, portanto fora educada com a mulher, a qual nem mais lembrava-se o nome.
Ao chegarem à casa, tentou puxar assunto com Matt. Ele não parecia estar com paciência para isso, e lamentou, mas pensara que se não falasse agora não iria ter coragem depois e se arrependeria disso depois.
- O que você quer, ? – Matt perguntou irritado, percebendo que a esposa queria chegar em algum lugar.
- Falei com Natalie hoje – Admitiu – Lembra que eu comentei que ela iria se casar?
Ele não lembrava, mas achou desnecessário comentar sobre isso, uma vez que queria saber o que tanto enrolava para dizer.
- Bom, o casamento é em duas semanas em Spring Hill. E ela é minha melhor amiga, Matt, significaria muito para mim ir a seu casamento. Ela havia me convidado para ser madrinha e eu já rejeitei, pois não podia estar em Brooksville para ajudá-la com o casamento.
- Você quer ir para Brooksville? – Ele riu sem humor – Mal casou e já quer voltar para os braços do outro...
- Você sabe que não é isso, Matt, é o casamento da minha melhor amiga. Não precisamos nem ao menos ir para Brooksville, podemos ficar em Spring Hill ir para o casamento e voltar no mesmo dia.
- É tempo o suficiente para encontrá-lo e fugir, não é? Pretendia levar minha filha também? Assim poderiam fugir todos juntos. Nós não vamos sair daqui, querida.
- Por Favor, Matthew – Ela insistiu – Conheço Natalie há mais de dez anos, ela vai ficar chateada se eu não for.
- Ela vai entender que você é uma mulher casada agora e precisava cumprir suas obrigações.
- Eu não tenho obrigação nenhuma de ficar servindo você. Sou sua esposa não sua escrava – Reclamou, abrindo a porta do carro com ferocidade e batendo-a em seguida - Você não manda em mim, Matt, eu tenho o direito de ir aonde eu quiser, quando eu quiser e se eu quiser. Eu vou em todas as porcarias de jantar que você marca, me comporto bem, não reclamo de quando você dá festas lá em casa mesmo quando eu estou cansada. Você chega em casa tarde e me acorda. E depois você acha que pode me “proibir” de ir até o casamento da minha melhor amiga? Acorda!
tagarelava enraivecida, enquanto subia pelo elevador, Matt ouvia tudo calmamente de punhos fechados. Deu graças a Deus quando a porta do elevador abriu e eles entraram em casa.
- Alice está dormindo profundamente, eu já estou indo – Madison disse, ao ver os dois entrando na casa. Percebeu o clima ruim e saiu rapidamente, sem nem dar tempo de agradecer.
- Você já terminou seu discurso? – Matt perguntou, com uma pitada de ironia.
- Talvez. Eu vou para o casamento, Matt, você não vai me impedir – Avisou.
Matt sorriu ironicamente por um segundo, rindo internamente na insistência de . Aos poucos sua feição foi se transformando em irritada, encurvando as sobrancelhas e aproximando-se de . Pegou-a pelo braço, apertando-a.
- Isso machuca, Matthew – Ela murmurou, porém foi ignorada.
- Olhe aqui, , olhe bem para mim – Ele virou-a em sua direção – Eu não vou impedi-la? Não vou? Eu não preciso disso – Empurrou-a para o sofá, fazendo-a cair de mal jeito ali – Já te dei muitas chances de você se comportar. Você quer mesmo ficar se iludindo pensando que você ainda pode fazer o que quiser? Você não pode, .
- Eu posso – Ela murmurou.
Matt olhou para o teto sem paciência. estava o irritando, antes de pudesse controlar o que estava fazendo sua mão atingiu o rosto da mulher com brutalidade, fazendo-a jogar o rosto para o lado.
- Pode, ? – Sussurrou em seu ouvido.
Ela não respondeu. Ele passou a mão pelo seu pescoço, notou que estava tremendo, lágrimas de medo escorriam por seu rosto e Matt sentiu o humor o devorando, enquanto mentalmente comparava-a com um filhote prestes a ser devorado. Apertou o pescoço de , fazendo-a saltar e gemer de dor sem ar.
- Pode, ? – Ele repetiu, pressionando ainda mais a garganta da mulher, até ela começar a ficar mais pálida – Não, não pode.
Soltou vagarosamente seu pescoço, fazendo-a cair no chão fraca, respirando dificilmente. Abaixou-se até o chão, puxando para ela se levantar.
- Ligue amanhã para Natalie e avise que infelizmente você não poderá comparecer ao casamento – Murmurou em seu ouvido e em seguida jogou-a com força em direção a uma mesa.
Matt retirou-se da sala, deixando estirada no chão.

Sua cor voltara e os hematomas se curaram, mas continuava abalada. Ele não havia voltado a bater nela, mas ela também nunca mais o pedira nada. Não fora no casamento de Natalie, não contara o que houve para a amiga, mas sabia que Nat sabia que Matt não tinha deixado e esperava que não estivesse muito chateada com ela.
O medo a apoderava sempre que Matt chegava em casa, tinha medo do que ele poderia fazer. Sabia o que ele tinha feito com os pais e o que poderia fazer, tivera muita sorte dele ter resolvido não matá-la naquela noite. E mais sorte ainda de não desconfiar que Alice não era sua filha, tinha certeza que ele enlouqueceria se descobrisse. Mas isso nunca aconteceria, ela pensou. As únicas que sabiam que Alice era filha de era ela e Natalie, e nenhuma das duas contaria.

- Natalie e Lucas vão chegar aqui amanhã – avisou a Matt, enquanto organizava a casa.
- Vão? Eu disse que ela iria te perdoar por não ter aparecido no casamento, é apenas uma festa sem significado.
preferiu não comentar que só havia sido sem significado para eles dois. Aliás, só para Matt, pois para ela significou o fim de sua vida.
- É – Concordou – Meus pais e Stella também vão vir semana que vem para ficar para o aniversário de Alice.
Sua filha já faria um ano, pensou, o tempo até que passara rápido. Observou a menina de cabelos castanhos e olhos azuis que brincava no chão com uns brinquedos. A cada dia que passava ela ficava mais parecida com , sorriu ao constatar, ela era a cara dele. Olhou de soslaio para Matt, tinha muita sorte dele ser parecido com o irmão, se não estaria mais do que na cara de quem Alice era filha.
- Tem certeza de que não quer fazer uma festa? – Matt a questionou – Sei que não gosta muito dos nova-iorquinos, mas posso chamar meus contatos que tem filhos pequenos. Será divertido para Alice.
- Eu prefiro algo mais familiar. Só eu, você, Alice, meus pais e Stella – Justificou – Talvez ano que vem nós possamos fazer uma festa maior.
continuou a arrumar, deixando Matt trabalhar em seu laptop em paz. Veria sua amiga em breve e logo sua família também estaria aqui, talvez tudo ficasse bem, afinal.

- Eu não acredito que vocês já vão ter que voltar – lamentou, enquanto deixava Natalie e Lucas na frente do hotel – Vocês ficaram tão pouco.
- É que Lucas só conseguiu uma semana de férias agora – Explicou.
- Que horas vocês saem amanhã?
- Devemos sair umas duas horas da tarde. Mas ainda vamos ter que arrumar nossas malas, se não ainda me encontrava com você amanhã. Tchau, querida, cuide da sua mãe, hein – Natalie brincou com Alice, que estava em uma cadeirinha ao seu lado – Tchau, amiga. Cuide-se, hein – Natalie abraçou antes de sair do carro.
- Tchau, , até mais – Lucas dei dois beijinhos no rosto da morena e saiu atrás de Natalie.
Do carro, acenou para eles, suspirando ao dar partida no carro. Olhou no relógio carro, já passava de meia noite. Pelo espelho viu que no banco de trás, Alice já deveria estar no sétimo sono. Essa semana que Natalie havia passado aqui fora divertida, eles saíram juntos quase todos dias, mostrara a cidade para Lucas, que não conhecia ainda. E Matt só foi junto umas três vezes, o que fora melhor, pois dera mais tempo longe dele. E o marido não reclamava, pois havia sido opção dele ficar enfurnado no trabalho e não se sociabilizar com seus amigos.
- Então, Natalie foi embora? – Matt perguntou, ao entrar com Alice na casa.
levou um susto ao encontrar Matt a esperando, apenas sorriu para ele e confirmou com a cabeça. Fez gesto que Alice estava dormindo e a levou para o seu quarto, colocando-a no berço. Fechou a porta cuidadosamente e sorriu para Matt, voltando para a sala.
- Eles vão embora amanhã cedo, não vou encontrá-los – avisou, sentando-se ao lado do marido.
- Foi uma semana divertida, não foi, ? – Matt perguntou.
Por achar que a pergunta tinha um certo tom de sarcasmo, ela optou por não respondê-lo, olhou para Matt estranhamente, tentando entender o que ele queria dizer com isso, ele parecia irritado, mas não conseguiu captar o porquê.
- Chega tarde em casa, sai com os amigos, leva sua filha junto. Ah, a vida é uma festa, não é? – Matt agora andava em círculos por volta do sofá, balançando a mão, meio irrequieto.
- Você bebeu, Matt? – perguntou, observando a garrafa vazia em cima da mesa.
- Talvez, o que mais você queria que eu fizesse? Tive um longo e cansativo dia de trabalho, volto para casa e minha mulher saiu para se divertir com os amigos! – Exclamou – Você acha isso certo, , acha?
- Não, não está certo – Falou cabisbaixa – Sinto muito por ter te desapontado, Matt, isso não acontecerá novamente.
- Achei que tivesse te ensinado a lição na última vez, . Essa Natalie está sempre estragando tudo! – Gritou, derrubando a garrafa no chão – O lugar de uma mulher é ao lado do marido, coloque isso na sua cabeça.
- Já está na minha cabeça! – Ela gritou, já começando a tremer e a chorar.
- Tem que estar mais! – Ele insistiu pegando-a pelo braço – Crianças levadas devem levar palmadas, . Acho que seus pais não te ensinaram isso o suficiente quando você era pequena, não é? – Ele jogou-a contra a parede com força, fazendo com que ela caísse no chão.
Matt tirou o cinto que estava usando e viu arregalar os olhos. Ele sorriu diabolicamente, enquanto via ela se encolher como um animalzinho indefeso no canto da sala, tentando entrar pela parede ou desaparecer.
- Não tem para onde se esconder, – Ele sussurrou, mais para ele mesmo do que para a mulher.
- Por que está fazendo isso? – Perguntou, com as lágrimas escorrendo viciantemente – Achei que você me deixasse sair, achei que não quisesse andar com Natalie e Lucas.
- Eu não queria – Ele esclareceu – E seu dever era ter ficado ao meu lado. Não precisa de Natalie, só precisa de mim, . Repita comigo.
- Eu só preciso de você – Ela murmurou assustada.
- Isso mesmo. Você vai sair de novo?
- Não.
- Você vai ver Natalie mais alguma vez?
- Ela é minha melhor amiga... – Tentou falar alguma coisa, porém foi calada por um soco em seu rosto.
- Resposta errada, querida.
se encolheu ainda mais, enquanto Matt a batia com o cinto. A dor era grande e as lágrimas continuavam a surgir. Ela sabia que tinha que falar, porém não encontrava forças para sair alguma voz. Tentava dizer, mas sabia que não conseguiria, ela iria morrer, logo logo a dor pararia, pensou, e então só veria a escuridão. Sabia que Matt gritava alguma coisa, mas não conseguia mais identificar o que era, apenas barulho, muito barulho. Então, de longe, pareceu ouvir algo conhecido. Alice estava chorando em seu quarto, provavelmente havia acordado com os berros.
De repente alguma coisa foi ativada em , seu bebê estava chorando. Tinha um psicopata bêbado batendo nela, se ela morresse, Alice ficaria indefesa em seu quarto, sozinha, sem ninguém para defendê-la. Ela não poderia deixar a filha sozinha, ela não podia deixar que seu bebê se machucasse porque ela não tinha sido forte o suficiente para protegê-lo.
- Diga, , responda! – Matt gritava, enquanto continuava a bater na mulher e lágrimas rolavam por sua face.
- Eu não verei mais Natalie – Ela murmurou, em um tom quase inauditível – Eu só farei o que você quiser, irei aonde você quiser – Falou, fraca demais para continuar – Por favor, Matt. Eu já aprendi a lição.
- Ok... Ok. Que isso não se repita – Ele falou, passando a mão pelo cabelo, saiu da sala, indo para o quarto.
ficou parada, enquanto tentava raciocinar o que estava acontecendo. Tentou levantar-se, mas não conseguiu. Queria acalmar a filha que estava aos prantos, mas não conseguia mover-se. Começou a chorar, sem saber o que fazer, esperando que Matt logo voltasse para levá-la para a cama.

Acordou com o corpo todo latejando, a cortina estava fechada, portanto o quarto estava escuro. Matt já havia saído de casa, portanto, achou que deveriam ser por volta das nove da manhã. Tentou levantar-se e quase caiu no chão, doía muito, mas ela deveria levantar. Precisa ver como Alice estava.
Passou rapidamente pelo banheiro, notando que tinha um grande hematoma roxo nem volta do olho direito. Penteou o cabelo rapidamente e vestiu uma blusa de manga comprida e um óculos de sol para cobrir os machucados.
Entrou no quarto de Alice e levou um susto ao não encontrar a filha no berço. Sentiu-se desesperar e lágrimas começarem a se formar em seus olhos.
- ? - Madison apareceu na porta com Alice no colo – Alice estava chorando e você não acordou.
- Ah, meu Deus – correu para abraçar a filha – Não me mate de susto assim.
- O que houve? - Indagou – Por que está de óculos de sol dentro de casa?
- Porque eu pretendia sair – Sorriu, falsamente.
- Certo, vamos sair mesmo – Madison disse, puxando para fora do quarto.
não disse nada, precisava mesmo de ajuda. Saíram na rua ensolarada e logo Madison tratou de levar para dentro de uma loja.
- Ok, me conte – Madison ordenou.
- O que?
- Isso – Ela arrancou os óculos de , deixando a mostra o hematoma – Foi Matt quem fez isso? Há quanto tempo ele agride você, ?
- É a segunda vez – Ela murmurou – Ficou irritado porque saí com Natalie.
Madison suspirou, colocando a mão no rosto, desesperada pela amiga. , por sua vez, apertou Alice em seu colo.
- Por que não me contou? Você tem que ir embora, ! - Madison se desesperou.
- Não posso – Respondeu – Ele iria me achar. Ele iria me matar, ele iria matar Alice. Não posso deixá-lo tocar na minha filha, não posso abandoná-la.
- Ele não vai matar a própria filha, . Nem você, pode ficar na minha casa. Ou voltar para Brooksville...
- Ele vai descobrir – disse, sem ouvir uma palavra do que Madison falava – Não posso deixar que ele descubra, ele vai matá-la...
- Do que você está falando? O que Matt não pode descobrir?
- Que Alice é filha de .
Madison ficou em silêncio por alguns segundos, tentando lembrar quem era . não falava o nome dele na casa, ela lembrou-se, comentou apenas umas poucas vezes quando elas saíram juntas. Era o ex de , ela achava. Bem que sempre desconfiou de onde vinham os ternos olhos azuis da menina.
- Eu iria contar para que estava grávida quando Matt apareceu em minha casa – começou a contar – E me obrigou a casar com ele.
- Por que não vai para a casa de ? Conte a ele a verdade.
- Matt o mataria... Mataria todos nós – Ela murmurou apavorada – Não posso correr esse risco, Madison, eu poderia entregar Alice a , porém tenho certeza que seria o primeiro lugar que Matt procuraria. Tenho que ir, Madison, estou cansada – Saiu andando.

Natalie já estava quase terminando de arrumar sua mala quando alguém bateu na porta. Pensou que deveria ser Lucas, que havia saído de última hora para comprar alguma coisa eletrônica, e esquecera a chave do quarto. Surpreendeu-se ao encontrar Madison, a amiga de parada a sua frente.
- Precisamos conversar – Madison avisou entrando no quarto – está em perigo.
- O que aconteceu? Onde está ela? - Natalie perguntou desesperada, já presumindo o que poderia ter acontecido.
- Ela foi para casa com Alice. Matt a bateu ontem à noite, ela está cheia de hematomas. Tentei convencê-la a ir embora, mas ela se recusa, não quer por em risco a vida de sua filha.
- Ele o quê? - Indagou perplexa – Temos que fazer alguma coisa! é doida? Eu disse que ela não deveria ter se casado, ela devia ter contado tudo para ! Preciso convencê-la de que deve ir embora, não posso voltar hoje! Mas ela não vai aceitar ir tão fácil, está convencida de que está fazendo o melhor para sua família! Preciso de aqui, só ele pode convencê-la.
- Meu marido está na Flórida a trabalho. Está indo fazer uma entrega lá, posso pedir para ele passar por Brooksville e conversar com , enquanto isso, convencemos de ir embora – Pegou o celular no mesmo segundo, ligando para o marido.
Se não estava disposta a se salvar, teriam que elas mesmas a salvarem. Agora era só torcer para que ainda estivesse viva quando chegassem.

- Olá, poderia ajudá-lo? - perguntou, mal-humorado.
Já era quase uma hora da tarde e David estava trabalhando no restaurante à essa hora, assim, teria que fechar a loja para almoçar.
- Você é ? - O homem negro musculoso de cabelos cacheados perguntou encarando-o. assentiu, estranhando o reconhecimento – Sou Noah Jensen – Estendeu a mão para cumprimentá-lo – Tenho um recado para dar a você. Melhor trancar a loja.
não entendeu o que aquele homem estranho queria dizer com aquilo, porém fez o que ele pediu, levando-o para um escritório particular na parte de trás da loja. Tinha absoluta certeza que nunca tinha o visto pela cidade antes e quem mandaria dar um recado para ele. Seria Matt mandando matá-lo? Não faria sentido ter demorado quase dois anos para isso.
- Minha mulher, Madison, pediu que eu o avisasse que você deveria ir correndo para Nova York – Falou – Estou só repassando a mensagem, portanto, não sei muito bem o que está acontecendo. Ela apenas pediu que eu dissesse que está em perigo e ela e Natalie precisam de sua ajuda para convencê-la a ir embora.
- ? ? O que ela tem? O que Matthew fez com ela? – Perguntou, confuso, enquanto sentia-se enraivecer.
- Não sei. Mas ela está com medo dele machucar Alice – Explicou.
- A filha dele?
- Bom, melhor sentar, – Noah avisou, porém apenas franziu a testa – Alice não é filha de Matthew. já estava grávida quando se casou – Contou, já esperando a expressão de choque do outro.


Capítulo Doze.


- O quê? – perguntou, quase se engasgando com a própria saliva – Você quer dizer... Alice é minha filha? – Passou a mão pelo cabelo, colocando-o para trás e sentou-se no banco, enquanto pegava fôlego – Uau. Matt não sabe disso, não é?
- Acredito que não, por enquanto. Não sei se pretende contar ou o quê, mas pelo o que Madison me contou, a situação parece crítica.
- E o que eu vou fazer? não quer mais saber de mim, não acho que vou conseguir convencê-la de alguma coisa.
- Bom, tem uma passagem reservada para você para daqui uma hora, não posso responder sua pergunta, então, é melhor corrermos para chegar ao aeroporto a tempo de pegar o voo.
não disse nada, apenas saiu correndo da loja, trancando-a. Deixou um recado no celular de David, avisando que teria que viajar com urgência e dirigiu o carro alugado de Noah em alta velocidade até o aeroporto de Orlando.
Pelo menos teria por volta de três horas de vôo para poder absorver tudo o que estava acontecendo. Ele tinha uma filha e nem sabia! Meu Deus, estava grávida quando terminou com ele... O que isso significava? O que Matt havia feito com ela? Ela ainda o amava? Tantas perguntas se passavam por sua cabeça e ainda tinha o medo de chegar tarde demais. Não estava muito informado sobre o que estava acontecendo, portanto, não fazia ideia do que estava passando. Teria Matt a ameaçado? Ou ameaçado Alice?
Pensou na menina por um momento, como ela seria? Imaginara seus filhos com quando estavam juntos, mas depois que ela foi embora, não se permitiu mais sonhar tão alto assim.
Viu o aeroporto de Orlando e suspirou, daqui três horas estariam em território nova-iorquino.

- ! – Natalie gritou, ao encontrá-la na cozinha alimentando a filha – Ai, meu Deus, graças a deus você está bem – Abraçou-a apertado, empurrando logo após para encará-la – Meu Deus, isso está péssimo! Como você está? Doeu muito? Deveríamos denunciar esse filho da puta para a polícia! – Natalie começou a falar disparada.
- Ei, calma aí, Nat! O que você está fazendo aqui? Você não deveria ir viajar em, tipo... Duas horas? – Olhou o relógio e franziu a testa.
- Eu só saio de Nova York com você ao meu lado, ! – Avisou.
- Quem foi que te contou? – Perguntou sem entender – Madison? – Chamou, olhando para os lados, logo vendo que a amiga as espionava da porta – Por que fez isso?
- Preciso tirar você daqui, .
- Já disse que não posso – Insistiu – Tenho uma filha para cuidar, certo? – Voltou seu olhar para Alice, continuando a dar comida para ela.
- Vamos sair para almoçar, então, temos muitas coisas para conversar – Natalie ordenou.
apenas suspirou, sabendo que precisava fazer alguma coisa para que Madison e Natalie se afastassem dali. Se elas continuassem só conseguiriam deixar Matt irritado, e ela não estava animada com a possibilidade de levar mais uma surra. Limpou a boca de Alice e tirou-a da cadeirinha, pegando-a no colo para saírem. Talvez sair um pouco de casa a deixasse um pouco melhor.

Durante o almoço, deixara as duas a par dos detalhes. Contara para Madison sobre tudo o que acontecera, desde que conhecera Matt há seis anos e começaram a namorar, quando apareceu na cidade, até descobrir que estava grávida e Matt aparecer em seguida. Também atualizara Natalie sobre os meses que passara em Nova York, sobre como estava sendo ficar com Matt e sobre os medos que tinha.
Falara durante praticamente todo o tempo e, mais de uma vez, sentiu que iria se debulhar em lágrimas. Era difícil para ela conversar com alguém, já havia se acostumada a guardar segredos e esconder a tristeza de todos, e desabafar agora não parecia tão bom quanto pensara ser.
Na segunda metade do almoço, Madison e Natalie fizeram de tudo para convencê-la de que deveria ir embora, porém a morena parecia estar irredutível. Estava absolutamente convencida de que o que estava fazendo. Apenas começou a ficar ligeiramente mais vulnerável a ideia quando Natalie mostrou que ela poderia morrer se continuasse com isso, deixando Alice sozinha com Matt. A ideia conseguiu apavorar mais do que fugir. Contudo, só foi totalmente convencida a fugir quando Madison contou-lhe sobre o que realmente planejaram.
- Vocês o quê? – praticamente gritou, arregalando os olhos.
- Mandamos Noah falar com – Madison repetiu – Eles estão vindo para cá, . sabe que Alice é filha dele, deve estar chegando em Nova York daqui menos de uma hora.
- Não, não, não – murmurou, desesperada – Vocês não podiam ter feito isso! – Empalideceu de repente – É perigoso para ele! Matt vai vê-lo, ele vai machucá-lo! Têm que mandá-lo de volta!
- Acalme-se, . irá ao seu encontro se você não for ao dele, por isso é melhor que você vá para sua casa, arrume suas coisas e as de Alice e vá embora encontrar . Ele a levará para um lugar seguro – Natalie a assegurou.
- Não... Matt irá nos achar, irá nos matar. Não posso ver .
- Pode sim. Nós cuidaremos de Matthew, , não se preocupe.
- Vão cuidar de Matt? Ele é perigoso, ele vai matar todos vocês! Assim como matou William e Julie! Ai, meu Deus, por que diabos vocês fizeram isso? Estão colocando todos em risco!
- Confie em nós, . Vá para sua casa e arrume suas coisas. Eu vou para o aeroporto, pois Noah e já devem estar chegando. Vá com Natalie e nos encontre no aeroporto.

- Ok. Já fiz as malas de Alice – falou para Natalie – Preciso fazer as minhas agora – Deixou as duas pequenas bolsinhas de crianças no chão – O que acha de uma viagem inesperada, Alice? – Perguntou para a filha, que estava sentada em seu berço, brincando com um bichinho de pelúcia – O que será que vai achar dela? – indagou mais para si mesma do que para Natalie, ainda sorrindo para a filha.
- Bom, acho que ele deve ter ficado meio assustado ao descobrir que tinha uma filha – Natalie disse, com um certo humor – Agora vá arrumar suas coisas. Tenho que ligar para Lucas, ele deve estar desesperado, deixei um recado meio vago em sua caixa postal e não atendi nenhum de seus telefonemas.
Natalie saiu do quarto, indo para a varanda da casa para ver se conseguia entrar em contato com o marido. deu um último olhar para a filha e foi para seu quarto. Não sabia o que deveria levar e sentia que depois perceberia que só lembrou de colocar na mala as coisas mais inúteis. Colocava o máximo de roupas e objetos que conseguia na mala e os que ocupavam menos espaço também, não tinha tempo para arrumar tudo organizadamente, portanto teria menos espaço livre. Ainda deveria ter por volta de meia-hora para ir até o aeroporto, o que também deveria ser o tempo que Nat demoraria explicando o acontecido. Decidiu por arrumar a mala um pouco mais cuidadosamente.
Ao completar a segunda mala decidiu que já estava satisfeita, olhou no relógio conferindo que ainda estava no tempo certo. Arrastou as duas malas para o corredor e deixou-as ali, indo para o quarto de Alice. Pensou ter ouvido alguma coisa e logo reconheceu como um choro. Deixou-se levar por seu instinto materno e apertou o passo, praticamente correndo pela casa. Sentiu seu coração apertar ao perceber que o choro de sua filha só aumentava e ainda mais ao reconhecer o choro como anormal. Será que Alice tinha caído do berço? Desesperou-se só de pensar na possibilidade.
Virou bruscamente ao chegar ao quarto da filha. E sentiu empalidecer-se ao entrar no quarto. Estremeceu, dando um passo para trás, porém, logo seus olhos se voltaram para a pequena figura que berrava. Tinha que proteger Alice, não podia deixá-lo machucá-la. Os olhos verdes de Matt transpassavam ódio e sentia muito medo. Sua boca estava encurvada com raiva e ela não sabia se preferia isso ao seu típico sorriso sarcástico. Ele segurava a menina pela barriga, deixando suas pernas livres para balançar, e ela se chacoalhava toda em seu colo, pressentindo o perigo. voltou o olhar para a mão de Matt, ele segurava uma arma dessa vez, em vez de um cinto; muito mais perigoso.
- O que está fazendo, Matt? – Perguntou, se aproximando lentamente – Solte-a, Matthew, por favor. Não faça nada com ela – Suas mãos tremiam e ela tinha a sensação de que iria tropeçar a qualquer segundo – Ela é sua filha! Você não quer machucá-la!
- Minha filha? – Ele riu – Ela não é minha filha, sua vadia mentirosa. Cuidado com o que fala aqui, querida – Avisou, apontando a arma para a cabeça de Alice – Dormiu com , engravidou e depois entregou a criança para que eu cuidasse, “não bata em mim, Matt, estou grávida” – Fez uma voz fina, imitando – Ah, por favor, estava grávida dele. Não pode me enganar, não mais. Eu te avisei que você deveria me obedecer. Agora terá que sofrer as consequências...
- Sim, eu sofrerei as consequências, Matthew, mas deixe minha filha fora disso – Avisou – Por favor, eu te imploro. Deixe Alice no berço, vamos discutir isso em outro lugar...
- Cale a boca! – Gritou, aproximando-se de e batendo com a arma em sua cabeça, fazendo com que ela caísse no chão – Eu é que mando aqui! Eu digo onde vamos ficar e quem eu deixo fora ou não. Você não tem direito a falar nada aqui, ouviu? – Ordenou, imprensando na parede, enquanto ainda segurava Alice pela barriga.
ficou quieta, tentando achar um jeito de salvar a filha. Observou que Matt continuava a acusando de alguma coisa, enquanto Alice continuava a chorar de dor. Viu que Natalie estava sussurrando alguma coisa no telefone, torcia para que ela estivesse ligando para alguém que pudesse ajudá-la. Precisava salvar sua filha. Levantou-se com dificuldade, ainda com dor dos ferimentos da noite anterior, e andou até Matt.
- Por favor, pode me matar, mas não machuque Alice – Tentou tirar a filha do braço dele, porém parou quando percebeu que isso só o fazia machucá-la mais.
- Agora você dá sua vida, quer ser corajosa, ? Antes saiu correndo... Acho que é tarde demais para isso – Ameaçou, apertando mais o bebê.
tentou puxá-la com um movimento rápido, mas tudo o que conseguiu foi tropeçar em um brinquedo e bater com o cabeça na quina do berço. Percebeu quando Natalie entrou correndo ali, tentou tirar a arma de Matt, o que fora um ato um tanto quanto estúpido e fora nocauteada com a arma. Fora tão alto o choque da pistola com sua cabeça que fez até um barulho, abriu os olhos em choque, ao ver Natalie cair meio inconsciente ao chão.
- Fique parada aí, – Ele avisou quando ela fez menção de se levantar – Não se levante – Apontou a arma para ela – Eu não queria ter de te machucar, mas você pediu. Você foi desonesta, , feriu meus sentimentos. Pensei que pudesse confiar em você, mas vejo que me enganei.
- Sinto muito, Matt – Falou em meio a lágrimas desesperadas – Eu sou a culpada disso, pode me machucar, mas deixe Alice ali.
- Não. Ela não merece viver, não posso deixar no mundo um fruto de uma relação sua com , seria um erro. Pensei em apenas matá-la com um tiro, porque, acredite, eu te amo, , mesmo depois de tudo o que você fez a mim – balançou a cabeça, incrédula, ao ouvir essas palavras, porém continuou no mesmo lugar – Contudo, olhando para você novamente, não consigo controlar minha raiva. Você merece sofrer pelo o que fez! Vai ver sua querida filhinha morrer em meus braços, mas não se preocupe, em breve vocês estarão juntas de novo – Esboçou um sorriso para , fazendo com que ela tremesse – O pobre Matthew, seguido por tragédias, a mãe, o pai, a madrasta, a esposa, a filha, os irmãos. Realmente, sinto pena de mim mesmo – Riu e revirou os olhos em seguida – Talvez sua morte tenha alguma utilidade, afinal, as pessoas gostam de fazer contatos com sofredores.
- Por favor, Matthew, vão descobrir que foi você.
- Já disse para ficar calada – Gritou – Não me interrompa – Chutou na barriga, fazendo com que ela se encolhesse – Você queria que eu deixasse sua filha em paz e vou deixá-la. Veja só como sou legal, você ainda irá implorar para que ela morra no seu lugar – Matt não percebeu o olhar raivoso de , porém notou seu alivio quando ele deixou Alice na cadeira.
não se importava com a dor que Matt estava a causando. Sentia o corpo inteiro latejar e gritos de dor involuntários saírem por sua boca, mas não conseguia raciocinar, apenas mantinha os olhos em sua filha. Precisava protegê-la. Ela estava bem agora... Matthew iria demorar tentando matá-la. Viu que Natalie aos poucos ia recuperando a consciência, pedia mentalmente para que a amiga corresse levando Alice para fora, mas Nat continuava parada no mesmo lugar.
Por um momento pensou que deixar-se levar para a escuridão seria o caminho mais fácil, mas logo lembrou-se que só poderia partir quando Alice estivesse em segurança. Fez um esforço para abrir a boca e respirar e sentiu gosto de sangue. O mundo rodava a sua volta, tinha a sensação se que perdia e recuperava a consciência o tempo todo. Não tinha certeza se estava viva, nem se sentia alguma coisa.
Então a dor se afastou um pouco. fez força para abrir os olhos, mas não encontrou Matt com seu sádico sorriso no rosto, viu apenas um vulto. Tudo passava rápido demais, mas podia perceber que Matt estava sendo atacado por alguém. Demorou alguns segundos para identificar esse alguém como . Desesperou-se ao perceber que ele estava se machucando, tentou mover-se, mas não conseguia sair do lugar. Matt empurrou para a direção da cadeira, onde Alice estava, a menina chorou ao ser esmagada.
começou a notar a adrenalina se espalhando por seu corpo, precisa recuperar seus sentidos e chegar até sua filha. Quase desfaleceu ao, em um movimento brusco, Matt jogar Alice em direção ao chão. A garota caiu em choque, batendo de cabeça e rastejou até a menina com toda a força que lhe restava. Chegou a filha com alívio, tentou abraçá-la, porém não tinha força o suficiente para isso, consolou-se quando a menina abriu os olhos, voltando a chorar. O choro era um bom sinal, pensou, significava que estava viva.
Desviou o olhar para os dois homens brigando, agora imprensava Matthew na parede, quase o sufocando. tinha os olhos bem atentos quando a arma caiu no chão, não conseguiria mais ir até lá. Ficou parada, apenas observando, viu que Natalie tentava rastejar até perto da arma, porém a chutara para o outro lado da sala, onde se encontrava. Trêmula, segurou a pistola, pensando no que deveria fazer. Viu que as posições haviam se invertido agora e já começava a ficar roxo. não pensou duas vezes antes de apertar no gatilho. Matt cambaleou para trás, atingido no braço, afastando-se de e encarando . Apertou outra vez, desta vez mirando no coração e outra, até que a arma estivesse descarregada.
abriu os olhos em choque ao recuperar o fôlego e encontrar Matt ensanguentado no chão. continuava imóvel apontando para o nada, sua feição era ao mesmo tempo de surpresa e raiva.
A porta se abriu severamente, entrando vários policiais armados, acompanhados de Madison e Noah que pareciam desesperados. Um dos policiais foi até , desarmando-a, ela continuava sem se mover, olhando na mesma direção. Levaram-na no colo para a ambulância que aguardava no térreo. Natalie, com cuidado, levantara-se, ainda tonta com tudo o que tinha acontecido e , ainda um pouco sujo de sangue, fora levado para prestar depoimento na delegacia, logo após passar no pronto-socorro, para levar pontos.


- ? Está acordada?
A voz era conhecida, porém ao abrir os olhos não sabia onde estava. Fechou-os novamente, em reflexo à luz forte e a dor absurda que sentia. Abriu-os lentamente tentando entender que estava em um hospital. Virou-se para o homem que segurava sua mão e sorriu internamente ao ver ao seu lado. O que ele estava fazendo ali mesmo? Será que ela apenas tinha sofrido um acidente e na verdade nunca tinha se casado com Matt? Ou talvez ela estivesse morta... Aquele não poderia ser o céu, doía demais para ser. Aos poucos foi recuperando a memória, imprensou seus olhos e mordeu os lábios ao lembrar de tudo.
- Você está bem? Quer que eu chame um médico? Consegue falar? – Soltou várias perguntas.
- Estou bem – Murmurou, ainda fraca – O que aconteceu?
- Você se lembra até onde? – indagou.
- Eu atirei em Matt. Eu o matei – Ela falou chocada com suas próprias palavras – Eu o matei? – Perguntou dessa vez.
- Sim – Confirmou – A polícia vai justificar como autodefesa, você não será acusada de nada, mas terá que conversar com o detetive.
- Eu não me arrependo – Admitiu – Eu deveria me arrepender, mas não consigo. Não lamento por ter o matado – Falou, como se estivesse fazendo uma confissão.
- Não, não devia se arrepender, meu amor. Matt merecia morrer, ele a maltratava, ele iria matá-la se eu não chegasse a tempo. Eu deveria ter chegado antes, sinto muito, não sabia que batia em você, achei que você quisesse estar com ele.
sorriu com o “meu amor”, ainda a amava? Pensou repentinamente, fazia quase dois anos que não se viam, mas não se surpreendeu ao notar que o sentimento que tinha por ele não havia desaparecido por nem um segundo. Ela ainda o amava com todas suas forças. Sentiu vontade de beijá-lo naquele momento, mas logo lembrou-se de suas prioridades.
- Onde está Alice? – Questionou, olhando a sua volta em busca da filha.
- Ela está com Madison e Noah. Ela ficou em observação durante um dia, porém os médicos a liberaram para ir para casa, como Natalie estava no hospital ainda e está hospedada em um hotel e eu estava ficando aqui com você, Madison a levou para casa. Eles vêm te visitar todo dia, .
- Todo dia? Há quanto tempo tudo isso aconteceu?
- Você ficou quatro dias desacordada. Falava às vezes, mas não estava lúcida.
- Meus pais vinham para cá, eles estão aqui? – Desesperou-se com a ideia de seus pais saberem que ela havia matado Matt.
- Natalie conversou com eles e dera alguma desculpa para eles não virem.
Os dois ficaram em silêncio por um tempo, apenas se olhando. queria fechar os olhos e dormir, mas tinha medo de não acordar novamente. Olhou para , queria saber como eles ficariam agora. Tinha certeza que ainda o amava e não tinha mais Matt a impedindo agora, todavia, não sabia de como se sentia sobre ela. Já havia se passado muito tempo e a última vez que tivera notícias dele, estava namorando com Wendy.
- – Murmurou – E você? Como está?
- Estou bem, . Não se preocupe comigo. Você deveria descansar – Ele a aconselhou, acariciando seu cabelo.
- Você ainda vai estar aqui quando eu acordar? – Perguntou.
- É claro, não vou sair daqui – Sorriu para ela.
No segundo seguinte, já estava dormindo novamente. não tinha certeza se dessa vez ela acordara de verdade, não era a primeira vez que acordava e pergunta coisas como estas, porém, achara que ela parecia mais lúcida agora.

- Onde você quer ficar? – perguntou, enquanto levava em uma cadeira de rodas.
- No meu quarto – respondeu.
a deixou lá, colocando-a na cama, em seguida saiu, deixando-a sozinha com Natalie que os seguia segurando Alice. segurou a filha no colo e sorriu, observando-a brincar com seu cabelo. Ela havia conseguido protegê-la, apesar de tudo. Olhou para a amiga, que tinha tido uma concussão, Natalie também estava bem. Estaria voltando para Brooksville no dia seguinte, pois já havia ficado fora por muito mais tempo do que deveria. E pensava se ficaria sozinha novamente. Antes só, do que mal acompanhada, pensou lembrando-se de Matt.
- Então, eu deveria me despedir novamente, mas, por alguma razão, acho que você irá voltar para Brooksville – Natalie comentou, com tom humorado, olhando para a porta, indicando de quem ela estava falando.
- Irei voltar para Brooksville, sim. Essa casa me traz más lembranças e nunca gostei dessa cidade, de qualquer forma. Mas não sei quanto a – Suspirou.
Durante a semana em que ficara no hospital se recuperando, estava lá em todos os momentos. Contou-lhe tudo o que havia acontecido, ajudou-a a se recuperar, fazia-a rir. Porém, em momento algum, ele disse que queria voltar, nem a chamou novamente de “meu amor”, não tentou beijá-la, nem parecia querer alguma ligação romântica com ela. entendia, lamentava, todavia.
- Não sabe o quê? Ele te ama, você o ama, vocês já tem uma filha juntos, o que a impede?
- Não sei se ele me ama, Natalie. Tem muito tempo que ficamos juntos, Alice já tem um ano agora, não é a mesma coisa.
- Não estou dizendo que será a mesma coisa. Mas que ele te ama, eu tenho certeza. Se não o que ele estaria fazendo cuidando de você por todo esse tempo? Ou por que viria correndo ajudá-la quando Noah foi pedir sua ajuda? – Natalie indagou, fazendo suspirar.
- É, talvez.
- Vou deixar Alice no quarto dela e ir embora, então, vocês vão ficar a sós e você poderá descobrir – Sorriu para amiga e em seguida a abraçou – Te encontro em alguns dias em Brooksville – Falou, antes de sair do quarto, levando Alice.

ficou um tempo sozinha no quarto e pôde ouvir Natalie e sussurrando do lado de fora do cômodo. Não queria nem imaginar o que a amiga estava dizendo para ele. Fingiu naturalidade e sorriu quando a porta foi aberta, deitou-se ao seu lado na cama de casal e segurou sua mão.
- Ok, acho que precisamos conversar – tomou coragem de falar e olhou para que carregava um sorriso no rosto – Não quero mais me iludir, , preciso saber por que está cuidando de mim.
- Por que você acha? – Perguntou e ficou em dúvida se a pergunta era retórica ou não.
- Não sei, por isso quero que você me responda – Sorriu.
- Ok – Respondeu, porém continuou calado.
franziu as sobrancelhas ao não obter nenhuma resposta, continuou olhando para ver o que ele iria fazer. Sem saber porque sorriu abertamente. acariciou sua face lentamente, enquanto olhava dentro de seus olhos e aproximou-se lentamente de sua boca. Beijou-a ternamente e deixou-se fechar os olhos e aproveitar o beijo. Ficaram assim por alguns minutos, não aumentaram a intensidade do beijo, apenas aproveitaram a companhia um do outro. Após terminarem de se beijar, ficou com a testa encostada na dela.
- Eu te amo, . Nunca deixei de te amar, nem por um segundo nesse tempo. Não teria deixado você partir se soubesse que Matt havia te obrigado. Mas isso não importa mais, ele já está morto e eu não vou mais deixar você fugir de mim novamente – Puxou ela para outro beijo, porém rapidamente se separou.
- Eu também te amo – Deu um selinho nele sorrindo – Eu fiz tudo isso por você, , eu faria qualquer coisa por você.
Eles se beijaram novamente, intensificando o beijo dessa vez, porém, com cuidado, para não machucar que ainda estava debilitada, e se amaram novamente. Agora tudo ficaria bem
O sol se pôs em Nova York e nasceu um novo dia para . Quando arrumou suas malas no dia seguinte para ir para Brooksville, finalmente sentia que tinha se livrado de seus problemas. Talvez Natalie realmente estivesse certa, tudo ficaria bem no final. Ela sorriu para vista da cidade grande, antes de correr ao encontro de e Alice, que a esperavam na porta do elevador.
Tudo ficaria bem no final. E era exatamente esse o fim que queria.


Epílogo.


- Vamos, ! – gritou, já esperando do lado de fora da casa – Você vai demorar mais quantas horas?
- Calma, seu apressado – riu, dando um selinho no marido ao chegar na porta – Preciso caprichar na maquiagem para ninguém perceba como estou enorme – Reclamou.
- Eu acho que você está linda – Riu, abraçando a mulher por trás.
- Vamos logo, mamãe, a festa já deve ter começado há anos – A garota que já estava sentada do lado de trás do carro exclamou, segurando um presente.
sorriu ao sentar no banco da frente e observar Alice com seus recém completados quatro anos e a esposa grávida de oito meses da segunda filha. Todos os dias que passavam, eram os melhores de sua vida.
Tinham comprado uma casa branca e grande em Brooksville, com um jardim invejável que suas filhas poderiam brincar sempre que quisessem. Sua loja agora já se expandira por outras cidades e era até bem reconhecida.
ficara com a empresa e todo o dinheiro de Matt quando ele morrera, venderam todas as ações que tinham na ’s Company e investiram em sua família. Era o que parecia certo. E agora podia concluir que realmente fizera o que deveria.
Há alguns anos, nunca poderia se imaginar viajando até uma cidade vizinha para uma festa infantil da filha da melhor amiga de sua esposa. Tendo uma casa grande e um emprego fixo, recebendo visitas frequentes do irmão mais novo, que agora estava na universidade.
A vida tinha sido boa com ele, e abusaria disso até a morte agora, que, por sinal, milagrosamente, parecia longe. era sua escolha para o resto de sua vida e por ela, ele faria qualquer coisa.

Fim




N/A: Bom, esse é o fim :B
Eu queria agradecer todo mundo que leu até o fim e quem comentou. Se você não comentou, comente agora, eu realmente gostaria de saber sua opinião sobre a fic :)
Eu não ia escrever esse mini-epílogo não, mas achei que o fim em si estava um pouco vazio e resolvi explicar mais ou menos o que aconteceu depois. Espero de evrdade que vocês tenham gostado do fim e da história em si, mesmo que eu já tenha escrtio essa fic há quase dois anos atrás, na verdade, eu gosto bastante dela.
Obrigada por ler.
Beijos,
Flávia.

N/B¹: Awww, meninas. Tenho um carinho MUITO grande por essa fic, por ter a betado desde o início - truth be told, foi uma das primeiras fics que eu peguei - e, agora, o final. Estou simplesmente um pouco nostálgica, e nem a autora eu sou! haha
Enfim, qualquer erro que tenha aqui, envie diretamente a mim, seja por email ou tweet. Não envie à Flávia, ao site ou use a caixinha de comentários. Aproveitem a fic e comentem, ok? :D


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