Capítulo 1
Era domingo de manhã. tinha acabado de saber que sua mãe havia falecido. Não era grande surpresa, já que nos últimos nove meses, 'sua guerreira', como costumava chamar, estava lutando para que a morte e o sofrimento da filha fossem adiados ao máximo. Quando fora descoberto que Wivian possuía um câncer no estômago, todos sabiam que as chances de sobrevivência seriam poucas. 'Posso morrer amanhã, mas você vai ter a certeza que não foi porque deixei de lutar'. Era guerreira, insistente, e isso fez com a vida de tomasse caminhos importantes e especiais, considerados por ela hoje. Quando terminou o colegial no Brasil, sua mãe decidiu começar uma vida nova no Canadá, porque sabia que seria importante para o futuro da filha começar o ensino superior fora do país. A maioria dos familiares morava lá, e isso facilitou que se concretizasse a mudança, com o apoio deles. Não fora nada fácil deixar amigos com quem conviveu desde sempre e ir para um país que se conhecia apenas por fotos. E foi devido a essa teimosia da mãe que conheceu , assim que entrou na faculdade. Os dois cursavam direito. pediu em namoro na formatura e hoje, moram juntos em um apartamento localizado no centro de Montreal. Namoram, mas não vêem a necessidade de casar. Não agora. Tinham outras prioridades e ambos estavam de acordo com isso. Assim que soube da notícia, o telefone escorregou vagarosamente pelos seus dedos o fazendo cair. Lágrimas brotaram pelos seus olhos, ela não podia acreditar...
- , está tudo bem? - abriu a porta rapidamente, e ao ver que a menina chorava, foi em sua direção. O barulho do telefone fez perceber que algo não estava certo. Ele sabia o que tinha acabado de acontecer. Sentou-se na cama e logo puxou para um abraço.
- Minha guerreira se foi, . Ela me deixou. - ainda chorava e seus soluços preenchiam todo o quarto. afastou a menina de seus braços e pegou em seu rosto.
- Você precisa ser forte, minha linda. - Falou olhando em seus olhos.
Mesmo sabendo que a morte da mãe seria inevitável, era um fato que vinha tentando se conformar. Mas ela simplesmente não conseguia se imaginar sem a mãe. Wivian sempre fora tudo na vida dela, e agora não estava mais ali.
- Porque logo hoje, ? - o olhou e deixou que uma lágrima escorresse pela sua bochecha. - Eu podia ter contado para ela assim que soube e... - O abraçou forte e chorou ainda mais.


Flashback;
aguardava impacientemente a entrega do resultado. O fato de não estar ali a deixava insegura. Ele não pôde comparecer já que naquele dia, teria uma reunião importante, mas pediu para ligar assim que soubesse o resultado. Quando ouviu seu nome sendo chamado na recepção, caminhou lentamente até lá.
- ? - A moça da recepção que se atendia pelo nome Christina perguntou. Assentiu. - Assine aqui, por favor. - A menina assinou o papel, e logo o envelope amarelo claro estava em suas mãos. Ela estava tremendo, o resultado que estava ali, poderia mudar a sua vida e a de . Mas e se ela não estivesse pronta? E se ela não desse conta de cuidar daquele filho? a ajudaria, não é? Se ele a abandonasse? Esses pensamentos estavam assustando . Iria acabar com aquela expectativa agora. Começou a tirar o adesivo que fechava o envelope. Assim que conseguiu, lembrou-se de . Independente do resultado, o compartilharia com ele. Não seria egoísta. Pensou em sua mãe; lembrou-se de quando estava conversando com ela sobre maternidade e a mesma declarou a vontade de ter um neto. era filha única e só ela poderia dar esse presente à mãe. - Você está bem? - Christina tocou em sua mão, a fazendo acordar do transe.
- E-estou sim. - assentiu.
- Boa sorte. - Sorriu simpática.
- Obrigada. - Colocou o resultado em sua bolsa, e saiu do Hospital, indo na direção de casa.
acordou com o barulho da porta sendo destrancada e se espreguiçou. Quando abriu os olhos, estava sentado na beirada do sofá, a observando.
- Bom dia. - falou dando um selinho na menina.
- Bom dia amor, quantas horas? - continuou a brincadeira.
- Quase oito da noite. - A menina fez careta, fazendo sorrir. - Porque não me ligou, hein? Esperei a tarde toda, ansioso pela sua ligação, e nada de me ligar.
- Não vi o resultado ainda, quero abrir ele junto com você. - O menino a analisou por alguns segundos e lhe deu um selinho demorado.
- Estamos esperando o quê? - estendeu a mão para ajudar se levantar, e foram para o quarto de mãos dadas.
- Eu quero que você saiba que, independente do que esteja escrito nesse envelope, vou continuar te amando da mesma forma. Se não for pra termos esse filho agora, teremos mais tarde. - falou com um brilho nos olhos. mordeu sua bochecha de leve. Como ele podia ser tão lindo desse jeito?
- Vai, agora abre. - A menina entregou o envelope que estava em suas mãos. pegou, e o abriu lentamente. o encarava atentamente. Quem sabe pela sua expressão facial, ela conseguiria adivinhar. a olhou, e voltou sua atenção para o papel. Fez isso mais uma vez, e pediu um segundo para a menina, saindo do quarto com o papel em mãos. Ela não estava entendendo nada. voltou com um 'positivo' pregado na testa, e um lindo buquê de rosas vermelhas. Ela estava grávida. Eles teriam um bebê. sorriu involuntariamente.
- Parabéns mamãe. - O menino lhe entregou o buquê e deu uma série de beijos por todo o rosto dela.
- Parabéns papai. - falou com os olhos marejados. - Eu te amo.
- Eu também te amo, minha linda. - colocou sua mão na barriga de e acariciou. - E você também. - A menina riu olhando para a barriga e depois para . Seus olhos azuis brilhavam. Eles queriam muito aquele filho, e sabiam o quanto isso fortaleceria a relação deles.
End Flashback;


- Não se culpe, . Nós não sabíamos o dia que isso ia acontecer. - limpou a lágrima que havia caído e encostou seu nariz no dela. - Você é uma mulher forte, vai superar isso.
- Eu não s... - O menino colocou o dedo em seus lábios.
- Claro que vai. Eu vou estar aqui do seu lado sempre, você sabe disso. Agora troque de roupa e venha tomar café para irmos para ao hospital. - beijou-lhe a testa e saiu do quarto.

Assim que chegaram ao hospital, encontraram o médico que havia cuidado da mãe de na recepção entregando alguns papéis para a jovem atendente.
- Doutor... - falou assim que chegaram perto suficiente.
- Oi . - Cumprimentaram-se com um aperto de mão - Olá . Eu sinto muito. - Juan abraçou . Desde o começo, eles haviam criado carinho um pelo outro. A menina o considerava da família.
- Eu vou poder vê-la, né Doutor? - perguntou. - Eu preciso e... - apertou a mão da menina. suspirou.
- Sim, eu vou checar se está tudo certo. Venho chamar vocês. - Acenou e saiu indo em direção ao corredor, sumindo assim que virou à direita. abraçou a menina e colocou a cabeça dela encostada em seu peito.
- Sabe o que eu fico pensando? - falou perto do ouvido de .
- Não, o quê? - Falou baixinho e fungou.
- Quando você estiver com aquela barriga enorme, não vou conseguir te abraçar como agora. - levantou a cabeça e olhou para ele. viu que seus olhos estavam vermelhos e meio fundos. Ela esboçou um sorriso leve.
- Eu não vou ficar tão gorda assim. Você vai conseguir abraçar nós dois e ainda vai sobrar.
- Mas não vai ser a mesma coisa. - deu de ombros, e voltou a encostar a cabeça. Viram o médico se aproximar.
- Quer que eu os acompanhe? - negou.
- Não precisa, Doutor.
- Ela está no mesmo quarto.
- Obrigado. - Segurou a mão de . Assim que começaram a andar no corredor, a menina lembrou-se de quando ia visitar a mãe, ela sempre sorria quando via a filha entrar pela porta. Como uma pessoa conseguia sorrir tão sincera estando em uma cama de hospital? Eram lembranças como essa que queria levar de sua mãe. Sempre sorrindo. Pararam em frente à porta branca de número 209. olhou para a menina.
- Você está bem? - o encarou e sentiu lágrimas brotarem dos seus olhos. Ela não estava bem.
- Você não precisa fazer isso. - passou a mão pela bochecha de dela.
- Mas eu quero, . - Limpou os olhos. Não foi ele quem disse que ela precisava ser forte? Ela tentaria, mesmo que para isso precisasse sofrer um pouco mais. colocou a mão na maçaneta e a girou. Olhou para que lhe passava segurança e em seguida abriu a porta. Aos poucos a imagem de sua mãe deitava na cama, entrava em seu campo de visão. Ela estava pálida e parecia em paz. se aproximou sutilmente e uma imensa vontade de chorar lhe pareceu a coisa mais certa a ser feita. A menina ficou observando a mãe por algum tempo, até que pegou em sua mão que estava fria e a segurou. - Lembra quando a gente tava conversando e você me disse que sempre quis ter um neto? - Segundos depois colocou a mão dela em sua barriga.
- Estou grávida, minha guerreira. Você vai ser avó. - apertou a mão da mãe em sua barriga. - Promete me ajudar a cuidar dele? - Silêncio. deixou uma grossa lágrima escorrer pela sua bochecha e lhe abraçou pelos ombros. A menina foi afrouxando a força que fazia sobre a mão da mãe em sua barriga, e a mesma caiu levemente na cama. Virou-se e abraçou o namorado rapidamente, começando a chorar alto. Mesmo que estivesse sempre ao lado de quando precisasse, ele sabia parte das feridas só seriam cicatrizadas com o tempo.


Capítulo 2
- Você não quer que eu te dê comida na boca, quer? - olhou receoso para , que riu fraco e negou. - Então agilize e coma isso. - A menina desviou a atenção da televisão e olhou para o prato estendido. Fez uma cara de nojo e saiu correndo para o banheiro com a mão na boca. O menino colocou o prato na frente da mesa do sofá e foi até o banheiro.
- Tá vendo, ? Você só vomita água. Precisa se alimentar. - segurou o cabelo dela. A menina deu descarga e foi em direção à pia sem falar nada. Bochechou algum produto e olhou para o namorado.
- Você quer que eu vomite comida? Vai ser bem mais desgastante, acredite. E além do mais, nada pára aqui, então não vai fazer diferença. - Limpou a boca e saiu do banheiro com o menino em seu encalço.
- Pára de ser cabeça dura e me escuta. - A menina parou emburrada e virou-se para , com a mão na cintura.
- Primeiro, se fosse poucas as vezes que você ficasse sem comer no dia, tudo bem, eu até entenderia, mas está passando dos limites. Tem quase três dias que você está a base de suco e olhe lá. - Ia interromper, mas desistiu quando o menino levantou o dedo indicador alegando que não tinha terminado. - Segundo, sim, vai fazer a diferença. É pelo bem desse feijão que está aí. - Riu com o termo que havia usado, mas voltou a ficar sério.
- Eu sinto fome e tenho vontade de comer. Mas estou evitando isso para não vomitar. Eu odeio vomitar, amor. - Falou dengosa.
- E quem gosta? Você sabe mais do que qualquer outra pessoa que não tem se esforçado nos últimos dias para comer bem... - cruzou os braços e a menina encolheu os ombros, fazendo bico.
- ...
- Promete para mim que, a partir de AGORA, vai se alimentar direito? - olhou para o prato e voltou sua atenção para ele.
- Prometo tentar, mas convenhamos que aquilo ali acaba com o apetite de qualquer um. - fez cara de indignado.
- É o que você mais gosta. - O menino a olhou, desconfiado. - Você não vai me enganar mais uma vez. - Guiou a menina pelos ombros até o sofá. - Agora vamos, estou esperando. - colocou uma almofada no colo de e lhe entregou o prato.

Ultimamente, uma palavra que definia para era manha. Não comia direito, estava manhosa e às vezes era bem chata. Ele sabia que isso estava associado à gravidez e acumulava com a saudade da mãe mesmo depois de quase um mês, virando uma grande bola de neve. Precisava do dobro de paciência, já que a menina equilibrada que costumava ter em casa nos últimos dias não existia mais. Isso gerava algumas discussões, mas no final um deles sempre cedia e voltava ao normal. Não conseguiam ficar brigados por muito tempo. Os enjôos de ainda eram constantes e, segundo o médico, só cessaria quando estivesse próximo ao quarto mês, quando o organismo já estivesse adaptado totalmente à gravidez. O casal assistia à televisão quando tocaram o interfone.
- Pode deixar que eu atendo. - se levantou cuidadosamente, já que a cabeça da menina estava em seu colo, e foi até o interfone.
- Fala, Yan! Ok, manda subir.
- Quem chegou, ? - perguntou, se levantando. Prendeu o cabelo em um rabo de cavalo e ajeitou a roupa. Sentou-se novamente no sofá.
- Um beijo se você adivinhar. - O menino piscou, maroto. A menina sorriu e a campainha tocou em seguida. abriu a porta.
- Certo , não vim para falar com você. - passou direto e correu para abraçar . - QUEM É A MAIS NOVA MAMÃE AQUI? - Falou com voz de bebê, fazendo todos rirem. Logo, todos abraçaram a menina coletivamente.
- Ei! E eu? - fez bico e todos olharam para ele.
- Não vai me dizer que você também está grávido, cara. - se aproximou, segurando o riso. lhe deu um tapa na nuca.
- Claro que não, mas eu também vou ser o mais novo papai. - Todos correram para abraçá-lo.

- Como está a gravidez? Se alimentando direito? - perguntou, preocupada.
- Estou enjoando por qualquer coisa, mas estou bem. Quanto à alimentação, se não fosse o , eu já estava em um hospital. Melhorei, graças a ele. - olhou para o namorado, que estava conversando com os meninos no outro sofá. - Agradeço muito por tê-lo do meu lado. - apertou sua bochecha.
- E o nome? Já escolheram? - perguntou.
- Nem pensamos nisso ainda, do jeito que somos, só vamos escolher no dia que nascer. - Riram.
- Se quiser adiantar o processo, sem pressões psicológicas... - começou. - seria um belo nome. - Recebeu uma almofadada de .
- Eu sabia que a ia começar com essa de colocar o nome dela nos bebês. Quando eu estava grávida, foi a mesma coisa. - engravidou-se de assim que se casaram, mas o perdeu quando estava perto de completar cinco meses. Aborto espontâneo. Desde então, acharam melhor esperar um pouco mais para tentarem o segundo.
- , eu amo seu nome. Mas não acho que meu filho vá tê-lo. E se for menino?
- VAI SER MENINO! - entrou na conversa, sorridente.
- Quanta certeza, hein, ? - falou, irônica.
- Intuição de pai. - piscou para ela, que deu língua.
- Achei que essas coisas só a mãe pressentia. - falou e tomou um gole da cerveja.
- E desde quando você sabe de alguma coisa? - sacaneou e ele mandou dedo.
- Sei de muita coisa, cara. Você não faz ideia. - Olhou maroto para , que corou, tampando o rosto nas costas de . Todos riram.
- Ele só me faz passar vergonha. - falou meio abafado para , que riu.
- Quando sai o casamento, ? Se você estiver enrolando a , vai ter problemas. - mudou de assunto para diminuir o constrangimento de .
- Jamais. - falou, olhando carinhoso para a noiva. - Estávamos olhando isso essa semana, mas a igreja que queremos só tem data para o ano que vem. - assentiu.
- Dependendo da data, eu vou estar parecendo uma baleia. - inchou as bochechas e abriu os braços, fazendo todos rirem.
- Pára com isso, você é linda de qualquer jeito. - se levantou e sentou-se no braço do sofá, abraçando a menina desajeitadamente. Todos fizeram um coro achando lindo o que ele tinha dito.
- Com quantos meses você está, Muri? - perguntou, sentando-se no tapete.
- Faço três amanhã. - A menina sorriu fraco.
- Enjoando muito? - Perguntou novamente.
- Nem fale. - falou e fez careta.
- Pense pelo lado positivo, é sinal que você está realmente grávida e teremos uma criança para alegrar a casa. - entrou na conversa.
- E eu espero que esses enjôos acabem logo, porque eu não aguento mais.
- Nem eu. - falou e o olhou, indignada.
- Não sei o que você está achando ruim, . Não é você que vive colocando comida para fora.
- E você não acha que sofro junto? - pareceu convencida com a resposta dele e voltou a encostar a cabeça em seu peito.

A presença dos amigos naquela tarde fora algo extremamente bom para o casal. Era sempre bom tê-los perto, deixava a casa mais feliz e sabia o quão bom isso era para , que realmente precisava deles nessa fase de recuperação 'pós-perda'. Obviamente o menino não reclamou, precisava mesmo de uma diversão, já que a maioria das obrigações se voltava para ele. Não era por falta da ajuda dela, pelo contrário. A menina sempre se mostrava disposta, porém procurava poupá-la de coisas que ele podia fazer sozinho. Isso o sobrecarregava de certa forma, mas achava melhor continuar do jeito que estava. Podia ser considerado o jeito que a tratava meio exagerado, mas enquanto estivesse sem fazer grandes esforços e sem ameaçar a saúde do filho, ele estava bem.


Capítulo 3
- Viu o quanto sua barriga já está mais visível? - perguntou. Estava sentado na cama, comendo uma maçã, e observava a menina na sua frente apenas de roupas íntimas. Tinha terminado de tomar banho, e estava há alguns minutos olhando a barriga através do espelho.
- Talvez, só quem realmente sabe que estou grávida percebe minha barriga. Ela nem está tão grande assim. Ainda. - mudou a posição, ficando agora de lado.
- É claro que dá pra perceber, amor. Você está com três meses e alguma coisa, é normal a barriga começar a crescer. - O menino deixou a maçã na boca e se levantou, abraçando-a por trás, envolvendo seus braços em torno de sua cintura e segurando a barriga dela, que já era perceptível. colocou suas mãos em cima das dele.
- É claro que é normal a barriga crescer, mas não acha que já está grande demais? - pareceu pensar por alguns segundos e fez cara de assustado. Virou para ele. A mesma pegou a maçã na boca dele e mordiscou.
- Não é que esteja muito grande, mas já pensou na possibilidade de ter... - pigarreou - Dois bebês aí dentro? - fez a mesma cara de segundos atrás e engoliu seco, fazendo o pedaço da maçã descer machucando pela sua garganta.
- Não pensei, e sinceramente espero que não tenha dois. Criar um filho exige muita responsabilidade, mas dois? De uma vez? - entregou de volta a maçã para , e voltou a olhar no espelho, dessa vez com o menino do seu lado.
- Amor, agora tudo faz sentido. Você estava enjoando demais, lembra? - O menino possuía um sorriso radiante e um brilho nos olhos assustador.
- Eu prefiro continuar acreditando que você tem me alimentado demais nos últimos dias.
- Quando é o próximo ultrassom? - ignorou totalmente o que a namorada tinha dito e lhe jogou outra pergunta.
- Você sabe que é todo final do mês. - foi até a cama e pegou seu vestidinho leve, começando a vesti-lo.
- Eu sempre quis ter filhos, você sabe. Mas a ideia de vir dois assim é realmente incrível. Superou minhas expectativas. - a viu sair do quarto e foi atrás, sem entender o motivo de deixá-lo falando sozinho.
- , por que me deixou falando para as paredes? - Chegou até a cozinha e a viu enchendo um copo com água, de costas. Viu a menina olhar para cima. fechou os olhos fortemente. Como tinha sido idiota! Se aproximou e se pôs de frente para ela. Como o esperado, tentava fazer com que as lágrimas não caíssem. Pegou o copo que estava em sua mão e o colocou em cima do balcão, abraçando-a em seguida. - Desculpa, desculpa, desculpa. - Falou rápido. - Desculpa por pensar só em mim. - Ouviu a menina fungar.
- A ideia dos gêmeos me assusta, amor. Muito. - deixou que algumas lágrimas caíssem na blusa dele. A apertou um pouco em seus braços. - O cuidado é maior, os riscos são maiores.
- Você vai ficar maior. - A menina riu com o comentário de e afundou seu rosto no pescoço dele. Sabia que não tinha falado aquilo por mal. - Seja o que for, nós não temos a certeza ainda. Vamos esperar o próximo ultrassom.
- Acha que vai dar para ver alguma coisa? - deu um beijo no pescoço de , o fazendo recuar um pouco, rindo. A menina sabia que o ponto fraco dele era ali.
- Espero ansiosamente que sim. Sabia que toda vez que você me abraça, eu sinto sua barriga mexendo? - arqueou a sobrancelha. Não fazia sentido, estava cedo ainda.
- Bom, se toda vez que eu respiro ou sinto fome pode ser considerado um movimento. - Deu ombros.
- Não, . Eu sinto mesmo. - Colocou a mão na barriga dela e concentrou-se em conseguir capturar algum movimento.
- Estranho isso, não acha? Se começar a mexer, eu vou ser a primeira a sentir...
- E por que eu não poderia sentir? Pode ser uma conexão muito forte entre pai e filho. - Não satisfeito, ajoelhou-se, colando o ouvido perto do umbigo dela e colocou as mãos nas laterais da barriga. começou a rir.
- Amor, isso é coisa do seu psicológico. Você sabe que seu filho está aqui, deve ser isso. - A menina o viu pedir silêncio e cruzou os braços. - Se você está tentando fazer algum contato com seu filho, pode desistir.
- Sentiu isso? - falou, animado, e gargalhou. – Por que está rindo?
- Acho que foi uma maneira de ele dizer que está com fome. - levantou rapidamente com uma expressão entediada.
- Por que não me disse que estava com fome? Eu estou aqui igual um palhaço achando que meu filho está dando sinal de vida e você tirando uma com a minha cara. - gargalhou mais ainda, apertando seus braços nos pescoço dele.
- Eu tentei dizer, mas você parecia tão empolgado que não me deu ouvidos. - abraçou a menina novamente e colou sua boca na dela, puxando de leve seu lábio inferior. Lhe deu um selinho.
- O que quer comer? - pegou a mão na menina e a levou até a geladeira.
- Estou com desejo. - falou, tímida, e o menino a olhou, surpreso. Aquele era o primeiro desejo desde o começo da gravidez.
- Sempre quis realizar um desejo seu, só não me peça para comer cimento ou algo do gênero. - fez careta e abriu a geladeira.
- Eu quero morango com brigadeiro. O morando já temos aqui. - Pegou a vasilhinha com vários e entregou a . - Me ajuda com o brigadeiro? - O menino assentiu mesmo sem saber o que era. Lembrou-se que havia lhe explicado há alguns meses, mas já havia esquecido.
- Pega os ingredientes para mim, que eu vou dando um jeito nesses morangos aqui.
- Quais são mesmo? - olhou pra trás e o viu olhando para o armário sem saber o que pegar.
- Achocolatado, leite condensado... Faz o seguinte, vem lavar esses morangos que eu vou fazer o brigadeiro. - agradeceu mentalmente. Se ele estava enrolando para pegar os ingredientes, só Deus sabia como aquele brigadeiro sairia.

- Ficou bom? - perguntou após molhar o morango na panela e comer.
- Muito - O menino sorriu com o brigadeiro entre os dentes, fazendo a menina gargalhar.
- Posso fazer uma coisa? - Perguntou enquanto se concentrava em comer seu morango coberto de chocolate.
- Desde que não seja roubar esse meu morango. - ameaçou pegar e o colocou na boca rapidamente.
- Não é isso, sua gulosa. - O menino enfiou o dedo na panela e contornou seus lábios com o chocolate. Fez bico e se aproximou dela. se aproximou e lhe deu um selinho, ficando com a boca também suja.
- Gostoso. - Limpou sua própria boca com a língua e pegou outro morango.
- Eu sei que sou. - continuou com a boca suja, não tanto quanto antes e se aproximou de novamente.
- Não você, o brigadeiro. - virou o rosto para o lado oposto do dele e se segurou para não rir, sabia que o menino estava fazendo bico ou com uma expressão no mínimo engraçada.
- Você podia parar com esses comentários bobos, pra começarmos a fazer algo mais interessante. O que acha? - voltou à posição normal e olhou para a boca de , que estava realmente tentadora. o puxou pelo pescoço e lhe deu um beijo. Sentiu o menino pedir permissão com a língua fazendo-a conceder facilmente, permitindo que os gostos do chocolate se misturassem. Terminaram o beijo com um selinho e voltou a se sentar, já que havia sido praticamente puxado para cima de .
- Gostoso. - falou e pegou outro morango.
- Eu sei que meu beijo é gostoso. - tentou fazer uma cara de convencida, mas acabou rindo.
- Eu estava dizendo do chocolate. - O namorado retrucou e ela abriu a boca.
- Aé? Já que meu beijo não é bom... - colocou a panela no sofá que antes estava em seu colo, e se ajeitou no sofá com a mão na barriga. Estava satisfeita. Foi interrompida.
- Hey hey hey, eu não quis dizer isso - tratou de se explicar. - Não que seu beijo não seja gostoso, eu só quis continuar a brincadeira. Ah não, eu não acredito que você apelou, .
- Eu não apelei. - A menina se sentiu aquecida por dentro. - Só tome cuidado com as coisas que você fala, eu posso interpretá-las de um jeito diferente do seu e aí quem vai sofrer as consequências é você. - sorriu maroto e deitou a cabeça no colo da menina.
- Você está ficando mal, sabia? Eu não sei se gosto disso ou começo a me sentir ameaçado. - sorriu e começou a fazer carinho no cabelo de para cima.

Passaram a tarde toda conversando sobre como seria a vida dos dois depois que o bebê nascesse. Muita coisa mudaria. sempre demonstrava animado quanto a isso e achava lindo a maneira como ele tratava do assunto. Realmente não tinha do que reclamar. Enquanto estivesse o menino do seu lado, ela não precisaria de mais nada. sempre se lembrava do que ele havia falado, da possibilidade de estar esperando gêmeos, isso a assustava e muito. Era muita responsabilidade e não sabia como seria e como lidaria com essa nova experiência. sempre tentava acalmá-la, dizendo que estaria do lado dela para tudo e que não via mal nenhum nisso. Se Deus havia colocado anjinhos para que eles cuidassem, o que havia de errado ali? Aabsolutamente nada. Eles só estavam realizando o sonho de constituir uma família. Apenas isso. não sabia que o medo principal da namorada era na hora do parto. E se algo desse errado? Se algum deles não sobrevivesse? Ela não sabia lidar com mortes, isso estava mais do que comprovado. achou melhor não comentar isso para não gerar desentendimentos ou qualquer tipo de preocupação da parte dele, e o principal; não queria tirar a animação que o menino estava sentindo, porque isso à contagiava quando não se deixava levar pelo medo. Ela tinha que admitir, havia sim, grandes chances de estar grávida de gêmeos, enjoava demais e achou que engordou mais do que o esperado nos últimos meses. Mas nada ainda estava confirmado, e isso a tranqüilizava de certa forma. Por mais que quisesse mais de um filho, dois de uma vez era uma experiência que achou não fosse acontecer com ela. Se isso fosse realmente destinado a eles, torcia bastante para que a mãe de qualquer lugar que estivesse lhe desse forças, era a força que ela precisava e não sabia bem explicar, mas só a mãe poderia lhe oferecer.


Capítulo 4
O dia em que saberiam o sexo do bebê havia chegado. Os dois estavam muito ansiosos, e até passou mal de manhã por causa disso. Era o dia que teria a certeza se sua intuição estava certa e se poderia ter um motivo a mais para se preocupar. Apesar de tudo, ambos estavam felizes. Chegaram ao hospital de tardezinha, no início do plantão de Henrique, o mesmo médico que havia cuidado da mãe de . Lembranças vieram à tona e a menina tentou não ficar triste a ponto de deixar perceber; ela, com certeza, choraria se fosse explicar. Talvez nem precisasse. Ele sabia que aquele hospital a deixava assim, inevitavelmente. Já haviam solicitado presença na recepção e logo o médico os levaria para a sala de ultrassom. Resolveram se sentar, pois não sabiam se demoraria muito. Logo viram uma moça sentada com a mão na barriga, parecia perto dos oito meses e bastante incomodada. apertou a mão de , logo entendendo o que ela queria dizer. Daqui alguns meses seria ela. O rapaz beijou-lhe o topo da cabeça carinhosamente. achava lindo essa preocupação maternal que a namorada tinha. A deixava mais... Mulher. Por mais insegura que fosse.
- Você está bem? - perguntou para a moça, que sorriu fraco e assentiu.
- Estou, o rapazinho está meio agitado hoje. Não se preocupe. - concordou e começou a brincar com a aliança de .
- Está com quantos meses? - A moça perguntou.
- Quatro e algumas semanas, e você?
- Perto de completar nove. - remexeu, desconfortável na cadeira, e apertou a mão de novamente. - Já sabem o sexo?
- Não, viemos saber hoje. - A moça sorriu e sentiu um frio na barriga.
- ? - Ouviu a voz de Henrique e se levantou junto com . - Podem me acompanhar, por favor.
- Boa sorte. - desejou.
- Obrigada, a você também.
Após conversarem um pouco sobre como a menina havia se sentido e outros questionamentos, Henrique concluiu que não havia nada em que o casal pudesse se preocupar. Suspiros foram ouvidos. deitou-se na cama, levantou a blusa para que o médico passasse aquele gel frio e começasse o exame. estava ao lado da cama, segurando a mão da namorada.
- Vejamos... - Henrique começou a movimentar o aparelho sobre a barriga de . - Aqui é o coração de bebê. Está bem saudável. - Foi a vez de apertar a mão da menina de leve, fazendo-a olhar e sorrir para ele. Henrique continuou movimentando o aparelho. Ajeitou-se na cadeira e colocou os óculos, analisando a imagem a sua frente atentamente. - Bom, se vocês observarem aqui, temos outro bebê. - deixou que uma lágrima escorresse e olhou para , que, apesar de olhar curioso para a tela que exibia os bebês, possuía o mesmo brilho nos olhos. - Parece estar prematuro. - Os olhos de se fecharam fortemente e apertou sua mão, na tentativa de acalmá-la. Alguém ali precisava ser forte. - Não há nada que possamos fazer no momento, só esperar. Irei aumentar o número das suas consultas por mês, para observar o desenvolvimento dele. Se você sentir alguma coisa de diferente, é importante que volte, mesmo que não tenha consulta marcada. Todo cuidado é pouco. - assentia. - Quanto ao sexo, a posição ainda não é favorável. Acredito que no próximo ultrassom já sairão daqui sabendo. - Henrique retirou o gel que estava na barriga de e ajeitou sua blusa.
- Esses casos são comuns, doutor? - perguntou.
- Não são comuns, mas também não chegam a ser raros.
- Me diga algo reconfortante, doutor. Eu não suporto mais sofrer. - falou, sentindo seus olhos ficarem marejados. apertou sua mão.
- Eu não posso dizer nada ainda por não ter certeza, mas acompanharei e assim que tiver alguma notícia vou te dizer. - Dr Henrique colocou a mão nos ombros de . - Se depender de mim, minha querida, você sairá daqui com os bebês mais lindos nos braços. Procure se acalmar, tudo bem? – assentiu e o abraçou forte. Ele lembrava muito seu pai - não chegou a conhecê-lo, mas, pelas fotos que sua mãe lhe mostrava, era bem parecido. Nunca soube o que é ter ciúmes paterno durante a adolescência e por muito tempo sentiu falta disso. - Fará bem aos bebês. - se despediu pelos dois, entrelaçou firmemente seus dedos nos dela e a guiou para fora do consultório. Assim que saíram do hospital, abraçou o namorado desesperadamente. Precisava do seu abraço, sentir seus braços em volta de seu corpo e o ouvir dizer que tudo ficaria bem. Aquilo causava uma sensação de proteção, um refúgio para ela. retribuiu o abraço e beijou o topo de sua cabeça.
- Vamos para casa, minha linda. Você precisa descansar. - A menina não se mexeu.
- Tudo vai ficar bem, não vai? - falou – abafado, por estar com o rosto colado no pescoço de .
- Sim. Nós vamos ficar bem. - O rapaz deixou com que uma lágrima solitária escorresse pelo seu rosto. Ele não tinha certeza de nada, mas queria muito que fosse verdade. Queria transformar a convicção de suas palavras em força para sua mulher, queria acima de tudo que eles ficassem bem.
- Amor... - levantou a cabeça e olhou para , meio assustada. Ele a olhou preocupado.
- , você está bem? O que está sentindo? - O menino pegou em seu rosto delicadamente e viu lágrimas preencherem os olhos de . - Fala, você está me deixando assustado. Onde dói?
- Aqui - apontou para a própria barriga. Viu os olhos do menino se arregalarem. Tentou acalmá-lo. - Não amor, é aqui... Mexeu. - falou, olhando para ele, que logo mudou a expressão de preocupação para surpresa. Vendo que ele não faria nada, pegou suas duas mãos e as colocou em sua barriga.
- Você não está com fome, né? - falou com a voz meio vaga enquanto concentrava-se em sentir os filhos. gargalhou e logo ficou séria novamente.
- Sentiu isso? - perguntou e assim que o menino levantou a cabeça para confirmar, viu que seus olhos transbordavam brilho. deixou que outra lágrima escorresse pela sua bochecha, parando no queixo e logo em seguida pingando no vestido leve da menina. encostou sua testa na de e se deixou levar pelo choro. Saber que teria DOIS filhos do homem da sua vida era algo realmente difícil de se explicar. Alegria, amor, preocupação... Alegria por ter um filho, amor pelo filho e preocupação com o filho. Aquilo era um misto de sentimentos, e em seu ponto de vista SER mãe. Com ao seu lado, ela estava preparada para isso. Ser mãe. Procuraria ser o mais estável possível, buscaria forças quando não as tivesse. Sabia que não seria fácil, mas ela seria uma boa mãe, e tinha certeza que se sairia bem como pai.


Capítulo 5
Haviam se passado cinco meses e a qualquer momento poderia dar a luz. Durante esse tempo, fez o acompanhamento com Dr. Henrique, e este disse que o bebê prematuro estava se saindo muito bem e que não teriam problemas na hora do parto. Isso fez noventa por centro das preocupações em relação aos bebês serem dispensadas. Eles estavam bem e muito próximos de nascerem. Depois de várias consultas, enfim descobriram o sexo dos bebês. Seria um casal; e os nomes já estavam escolhidos: Julie e Christopher. Não fora uma decisão difícil, ambos gostavam dos nomes e era um tipo de homenagem. Julie era nome da avó adotiva, que cuidou do pai de , e Christopher o nome do bisavô de . Os amigos visitavam o casal frequentemente e sempre se ofereciam, caso precisassem de algo. O quarto dos bebês ficou pronto quando completou oito meses. Roupas, fraudas, berços e vários ursos faziam a decoração do quarto. Na porta branca havia um quadro com os nomes bordados nas devidas cores e um "Sejam Bem-Vindos" logo abaixo. Defintivamente, só faltava os bebês para ficar tudo completo. Para ter a família formada. O mais difícil nisso tudo foi escolher os padrinhos. Para ninguém sair "no prejuízo", como dizia , resolveram sortear os dois casais que seriam padrinhos de cada bebê, e o casal que sobrasse seria padrinho de consagração. e serão padrinhos de Christopher; e padrinhos de Julie, e e padrinhos de consagração dos gêmeos. , que estava concluindo o mestrado fora dispensando por alguns meses para que pudesse ajudar em casa, e até conseguiu convencer o professor em mandar as matérias adiantadas para que não fosse prejudicado. , que iniciaria o mestrado, desistiu avisando que, a partir de então, sua prioridade era os bebês, e que, se fosse fazer, seria depois que as crianças já estivessem maiores.
- Tem certeza disso, ? - perguntou. Estavam na cozinha e o rapaz preparava algo para comerem no almoço.
- É importante para mim. Eu quero estar lá quando eles nascerem, quero estar do seu lado o tempo todo, te dando força, como sempre diz nos seus exames. - Estavam conversando sobre estar na sala do parto. Por mais que ficasse receosa com essa ideia, a presença dele era importante para . A menina tinha medo de que ele tivesse algum ataque de fortes emoções e pudesse dar trabalho para os médicos. Sabia que, se não deixasse ficar junto dela na hora do parto, ele ficaria agoniado na sala de espera e ela, com certeza, teria medo sem ele.
- Tudo bem. - sorriu e viu o namorado vindo em sua direção com aquele sorriso que tanto amava. colocou na mesa os pratos e sentou de frente para ela.
- Estou pensando em filmar também.
- Filmar? Acho que fotos são suficientes... - olhou para ele, que tinha o olhar fixo em sua barriga.
- Quero mostrar pra eles quando estiverem maiores. - Ele se ajeitou na cadeira. - "Essa filmagem foi o dia mais feliz da minha vida e de sua mãe, o dia que vocês chegaram e proporcionaram uma felicidade tão grande que não há palavras que expressem e..." - falava olhando para os lados e gesticulava exagerado. Quando olhou para a namorada, viu que a menina tinha os olhos marejados.
- Essa sua sensibilidade acaba comigo. - O menino se levantou e abaixou-se na frente dela, deitando sua cabeça em sua barriga. - Eu amo vocês, sabia? - A menina fungou e começou a fazer carinho no cabelo de .
- Nós também te amamos.

- Vamos dormir? Eu não dormi nada essa noite. - estendeu o braço para que pudesse ajudá-la a se levantar e foram em direção ao quarto.
- Você está bem? - O menino perguntou assim que se deitaram. Ela estava de costas para e este com o braço em torno da barriga dela.
- Estou, você está bem? - O menino murmurou em concordância.
- Descanse minha flor. Quando você acordar, quero te mostrar uma coisa. - A menina fez um barulho que ele deduziu estar concordando.
já estava dormindo, sua respiração era pesada e profunda. ainda estava acordado e fazia carinho na barriga dela; sentia os bebês mexerem constantemente na barriga da mãe, correspondendo aos seus carinhos. Ele era o cara mais sortudo do mundo e só tinha a agradecer por isso. Lembrou-se do que fora fazer no dia anterior e sorriu. ficaria feliz e, com certeza, choraria. Riu do seu próprio pensamento e a viu se mexer. Não iria se perdoar se a acordasse. Sua mente vagava lembrando-se de quando conheceu a menina e a vira a primeira vez na faculdade, de como se deram bem desde o começo... E agora eles estavam ali, morando juntos e ela carregando dois filhos seus. O rapaz logo dormiu, viajando nos próprios pensamentos.

Point Of View

Acordei com um mal estar muito grande, uma queimação, pior das azias que já tive. Fiquei de barriga para cima e tentei trabalhar a respiração. Puxei o ar o máximo que pude e soltei lentamente. Olhei para o lado e parecia um anjo dormindo. Não queria acordá-lo, mas, se as dores persistissem, eu precisaria. Demorei um pouco para conseguir me levantar e caminhei em direção ao banheiro. Antes de chegar lá, senti um líquido quente escorrer pelas minhas pernas. Levantei meu vestido rapidamente e olhei. A bolsa. A bolsa havia estourado. Apoiei minhas mãos no vão da porta.
- ! - Chamei e o vi remexer na cama preguiçosamente. - !

End Point Of View || Point Of View

segurava dois bebês lindos nos braços. Então eles já haviam nascido? Ela estava deitada na cama de hospital e...
- ! - Tudo estava ficando distorcido e abri meus olhos quando ouvi meu nome mais uma vez e mais nitidamente. Olhei para o lado e não a vi, olhei para o outro e ela estava com a mão apoiada no vão da porta, com a cabeça apoiada na mesma. Me levantei num pulo e corri em sua direção.
- O que foi? - A firmei em meus braços.
- A bolsa estourou, . - A guiei até a cama e corri para o interfone. Falei para Yan chamar um táxi rapidamente e subir para ajudá-la. Fui até o quarto dos bebês e peguei as malinhas. Joguei a máquina em uma delas e corri para portaria, onde já estava.

End Point Of View

Assim que chegaram ao hospital, foi colocada em uma cadeira de rodas e levada para uma sala.
- Oi, eu sou o e a minha mulher está tendo um filho. Um não, dois. Será que vocês podem agilizar o processo? - A atendente se assustou e discou para alguém. Doutor Henrique apareceu no corredor minutos depois.
- Oi, rapaz. Os enfermeiros já levaram para a sala de cirurgia. Você vai acompanhá-la durante o parto? - O rapaz assentiu. - Me acompanhe.
Após estar adequadamente vestido, entrou na sala e sentiu um alívio grande quando viu sua garota deitada tranquila na cama. Já estava ligada ao soro e uma máquina apitava, mostrando seus batimentos cardíacos.
- Estou aqui, amor. - deixou uma lágrima escapar quando viu segurar sua mão. Se sentia tão segura. - Já te deram anestesia? - A menina assentiu - Agora dê um sorrisinho para a câmera. - ligou a mesma e mirou a câmera em sua direção. A menina achou graça na maneira que ele falou e sorriu.
- , está tudo ok aí? - Viu Henrique aparecer na sala todo vestido, só com os olhos a mostra, e por um momento achou que, se ele não se manifestasse, não iria reconhecê-lo.
- Estou bem.
- Certo, em instantes começaremos. - Assentiu e olhou para , que a filmava o tempo todo.
- Se você não desviar essa câmera um pouco, vou começar a me sentir envergonhada. - O menino riu - Amor, o que você tinha para me mostrar?
- Não posso agora, não estou autorizado a tirar a roupa. - arregalou os olhos e olhou para os enfermeiros auxiliares, que soltaram risinhos. O rapaz a observou, pela câmera, ficar envergonhada e deu zoom.
- Você podia ser pelo menos mais discreto, . - O menino deu de ombros. - Me fala o que é.
- Se eu falar vai perder a graça, não seja tão curiosa para não estragar a surpresa. - A menina assentiu.
- Você avisou para os meninos que estou no hospital?
- Yan ficou encarregado disso, não tive tempo. - Silêncio.
- Eu não acredito que já estou aqui na sala de parto. - Falou em um sussurro desesperado. Ele sentiu a menina apertar sua mão.
- Logo os teremos aqui com a gente. - O menino beijou a mão da namorada.
- , vamos começar ok? - A menina assentiu e lançou um olhar assustado para . Viu o namorado sussurrar um "vai dar tudo certo" e respirou fundo.

A câmera ficou centrada em o tempo todo e sentia a menina, em intervalos, apertar sua mão. Queria tanto que acabasse logo. Queria ver os bebês. Queria levá-los para casa e começar uma nova etapa na vida. A menina fechou os olhos e logo os abriu novamente, olhando para o namorado. mandou-lhe um beijo, que não fora correspondido. fechou os olhos e respirou com dificuldade. Ele viu um dos enfermeiros falar algo com o médico, que olhou para os batimentos cardíacos dela e voltou sua atenção para a cirurgia.
- Amor, olha para mim. Você está bem? - sussurrou para a menina, que o olhou e concordou com a cabeça lentamente. Mas não, ela não estava bem. Algo estava acontecendo. Ele estava sentindo isso. O rapaz aproximou-se mais e beijou a testa suada da menina. A mão da menina que segurava firmemente a de não estava forte mais, o rapaz praticamente sustentava a sua mão. - Consegue apertar a minha mão? - Perguntou e ele logo sentiu a menina apertá-la levemente.
- ? - Desviou sua atenção de e olhou para o enfermeiro que o chamava. - Você vai precisar ser retirado da sala. - O rapaz olhou para a namorada e apertou sua mão como se pedisse forças a ela.
- Eu não posso sair daqui, é a minha mulher, meu filhos... - Ele sentiu os olhos arderem.
- Pelo bem deles e o seu. Me acompanhe, por favor. - O rapaz olhou nos olhos da namorada, mas não via desespero ali. Não sentia insegurança nela por deixá-la sozinha na sala. Aproximou lentamente e beijou os lábios ressecados da namorada. Viu-a fechar os olhos para sentir e se afastou.
- Eu te amo, vida. - falou, deixando lágrimas escaparem sem freio de seus olhos.
- Eu tam... - Viu a menina tentar responder, mas não tinha forças para isso. Respirava com dificuldade. Uma lágrima escorreu pelos olhos dela e a via cada vez mais distante. Estavam tirando ele da sala. Ele precisava ficar ali. Prometera a ela o tempo todo que não a abandonaria e agora estavam tirando ele dela. chorou o que há muito tempo não chorava. Todas as vezes que se passou de forte para e reprimiu o choro estavam sendo descarregadas ali. De uma vez só. O enfermeiro o guiou até a recepção e voltou a caminhar rapidamente para o corredor que dava para a sala de cirurgia. levantou o olhar lentamente e olhou para os amigos, que vinham todos em sua direção.
- Cara, o que está acontecendo? está bem? - Ele não sabia o que estava acontecendo. Ele não sabia se ela estava bem.
- Eu não sei, me tiraram de lá. - olhou para os outros e o abraçou forte.
- Calma, dude, vai ficar tudo bem. Vamos esperar. - falou.
- Eu queria ter essa certeza. - entregou a câmera, que estava ligada, para . Todos perceberam que o rapaz estava com um olhar distante e parecia perdido. Ele estava perdido. O que seria dele se sua família não sobrevivesse?
- , quer alguma coisa? Água? Suc... - perguntou.
- Eu quero a e os meus filhos. Só isso. - caminhou em direção ao corredor, mas pegou em seu braço.
- Dude, vamos esperar aqui.
- Eu preciso ver a ... - Lágrimas voltaram a cair de seus olhos e abraçou . estava chorando e tentava acalmá-la.
- Você vai vê-la, . Na hora certa. Vem. - ajudou a levá-lo de volta para a sala de espera.
Depois de alguns minutos, os meninos conseguiram acalmar e convencê-lo a esperar até que tivesse alguma notícia, sem tentar ir à sala onde estava. Viram Dr. Henrique se aproximar deles e se levantaram.
- Como ela está, Doutor? Meus filhos, eles estão bem? - perguntava desesperado. Henrique respirou fundo e olhou a prancheta que estava em sua mão.
- Houve uma complicação no parto, meu jovem. Fizemos o possível, mas os bebês não resistiram. - Henrique respirou fundo. - Nem . - O rapaz caiu no chão desesperado e conseguiu ouvir as meninas chorando.
- Isso não aconteceu, Doutor. Por favor, me diz que eles estão aqui ainda. - O rapaz chorava e puxava seus próprios cabelos.
- Eu sinto muito. - Henrique estendeu a mão para que se levantar, mas este se levantou sem ajuda.
- TÁ VENDO ISSO? - Arrancou a blusa e apontou para o próprio peito onde os nomes de , Julie e Christopher estavam escritos em letras bem desenhadas. - EU FIZ ISSO POR ELES! EU IRIA PEDI-LA EM CASAMENTO ASSIM QUE VOLTÁSSEMOS PARA CASA. EU IA MOSTRAR A DROGA DAQUELA FITA QUE GRAVEI DURANTE O PARTO PARA OS MEUS FILHOS... E AGORA? - abraçou pelos ombros e lhe entregou a blusa que havia caído no chão. Mas este não pegou. - E AGORA ELES ESTÃO BEM LONGE DE MIM. - respirou fundo e limpou as lágrimas violentamente, que insistiam em cair dos seus olhos já vermelhos. – Agora, Doutor, acabou tudo. Eu estou aqui sozinho sem a mulher da minha vida e sem meus filhos.
- Eu entendo você, rapaz. Passei pela mesma coisa que você há mais ou menos vinte anos. Perdi minha mulher da mesma forma e sei o que você está sentindo.
- Não doutor, você não sabe.
- Infelizmente sei, meu jovem. Me formei em Medicina para aprender a cuidar das pessoas e poupá-las do sofrimento, mas nem sempre é possível. Ela está bem. Ela e os dois anjinhos que carregava dentro de si. Estão em um lugar tranquilo agora e, acredite, eles estarão sempre com você.
- Isso não pode estar acontecendo, não pode. - Fechou seus olhos fortemente, desejando que, assim que os abrisse, tudo aquilo não se passara de um pesadelo. Mas quando o fez, a realidade era a mesma. Sem as pessoas mais importantes de sua vida. Ele não sabia se ia conseguir encarar isso sozinho; tinha seus amigos, mas não era deles que precisava naquele momento.

[coloquem essa música para tocar: Recomendo que escutem a música até o final, vale a pena.]

encarou o corredor à sua frente e correu em direção a ele, não dando tempo para que ninguém conseguisse impedi-lo. Abriu rapidamente a porta da sala de parto e entrou. Aproximou-se do corpo da namorada a abraçou o mais forte que pôde.
- Eu preciso de você aqui comigo. Não me abandone, por favor. - O menino soluçava e lembrava dela minutos atrás sorrindo e insegura, como sempre. Acariciou o cabelo da menina e passou a mão pelo seu rosto. Como sentiria falta daquele sorriso, de chamar a atenção dela. Não teria mais nada daquilo. Nada. Olhou para o lado e viu dois pequenos corpos juntos em um tipo de "encubadora", tampados. Respirou fundo e aproximou-se, meio indeciso. Era sofrimento demais. Destampou cuidadosamente e viu os rostos mais lindos que aguardou ansiosamente nove meses para conhecer. Os observou mais alguns segundos e tampou-os novamente. Não aguentaria olhar por muito tempo. Voltou para perto de .
- Promete cuidar bem dos nossos anjinhos? Eles são lindos. - Encostou a testa na dela. - Você deixou uma pessoa aqui que te ama demais. Você sabe disso, não sabe? - Beijou o topo da cabeça da menina e deixou que mais lágrimas caíssem, indo de encontro ao rosto dela. - Eu te amo muito. Muito.

O rapaz abriu a porta do apartamento e tudo estava do mesmo jeito que haviam deixado. Ainda era possível sentir o cheiro do perfume doce de emanando pela casa. Ele amava o cheiro dela. Foi para o quarto do casal e sentou-se na cama, passou a mão no espaço vazio onde a namorada costumava dormir. Saiu do quarto dando uma última olhada, e parou em frente à porta do quarto dos bebês, que era de frente para o seu, olhou os nomes bordados na porta e abriu. Passou os olhos pelo quarto e reparou que, na maioria dele, havia o gosto dela. Deu alguns palpites, mas deixou que a menina escolhesse tudo para não causar discussão. Sorriu tristemente. Tudo estava tão lindo. Ela tinha um bom gosto. Parou em frente a um porta-retrato e o pegou. Sentou-se em uma poltrona que tinha entre os dois berços e olhou para a foto. abraçava por trás e tinha as mãos repousadas na barriga da menina, na qual havia um coração torto desenhado por ele com baton vermelho. As mãos dela estavam em cima das de e ambos sorriam. Ele não sabia como seria sua vida a partir dali. Continuar vivendo, sabendo que sua outra metade estava morta, não fazia sentido nenhum. Por mais difícil que fosse, ele precisava se conformar, precisava aceitar que, por mais que ela não estivesse fisicamente ali ao seu lado, o ajudando a tomar decisões difíceis como sempre fizera, estava cuidando dele e dos seus anjos no lugar onde estivesse. Ela seria uma boa mãe, tinha certeza disso. tinha certeza que agora Wivian poderia ajudar a cuidar deles e matar a saudade da filha.
Todo final de tarde, o casal costumava sentar na poltrona e observar o quarto todo arrumado, imaginando as noites mal dormidas que teriam.
Aqueles planos agora eram apenas lembranças. Boas lembranças que um dia fizeram parte de sua vida e o fez a pessoa mais feliz do mundo.

And all I can taste is this moment
(E tudo que eu sinto é este momento)
And all I can breathe is your life
(E tudo que eu respiro é sua vida)
Cause sooner or later it's over
(Porque mais cedo ou mais tarde isso acabará)
I just don't want to miss you tonight
(E eu não quero sentir sua falta esta noite)




Fim.

nota da autora: (23/05 às 01:17) Limpe suas lágrimas e preste atenção em mim! Brinks total, ok? Pra ser bem sincera, vocês não fazem idéia do meu estado escrevendo esse último capítulo. Pra terem uma noção, quando minha mãe entrou no meu quarto, só o jeito dela me olhar ela quis perguntar: o que está fazendo pra estar desse estado deplorável? Pois é, mas deixemos isso de lado. O que acharam de LWY? Quis fazer um drama... Consegui? Fiz vocês chorarem ou não? ._. não que fosse essa a intenção, mas quis algo que mexesse bem com as pessoas. Bom, eu não sei como agradecer o carinho que recebi durante a fic, os comentários de vocês são LINDOS e fazem qualquer pessoa insegura tomar coragem, OBRIGADA!
Estou escrevendo uma outra fic, e não pretendo sumir do site. Não se livrarão de mim haha :x Quero agradecer também a Paah Souza, que se mostrou à disposição desde o começo e teve bastante paciência comigo. Valeu, Paah! Acho que é isso ): Não esqueçam dos comentários. A fic acabou, mas, os comentários continuarão me deixando feliz! XxX

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nota da beta: Heey, gente!
Ok, ok, eu confesso: chorei sim. MAS COMO NÃO? Ela meio que... Foi para um lugar melhor! Por que ela não podia continuar num lugar não tão melhor assim ao lado do bofe?
A vida é triste e cruel.
Mas enfim, momentos emos à parte, essa foi umas das melhores fics que já betei. História bonitinha e cativante. Tenho que dar parabéns à autora. E falando nela...
Por que você está me agradecendo, senhorita? Eu é devia te agradecer por ter aguentado os erros e tropeços ao longo da fic. Me desculpe novamente por tudo, ok? E, qualquer coisa, pode me procurar, terei o prazer em ajudar.
Enfim, alguém viu algum erro por aqui? Se sim, me avise por aqui e eu corrijo, ok?
No mais é isso, galerinha. Acabou. Então, continuem tomando cuidado ao correr com tesouras, andem pela sombra e usem protetor solar, pode ser? Beijinhos no coração, Paah Souza.

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