Andava arrastando os pés pelo aeroporto e as lágrimas teimavam em encher meus olhos. Não queria chorar. Certamente não estava merecendo. Mas eu não sei o que dá em mim quando me aproximo dele: meus pés querem me fazer andar até fazer nossos corpos se encontrarem, minhas mãos buscam sua nuca, meu coração dispara e meus olhos se prendem ao dele. Mas isso não é mais o certo a fazer. Pra falar a verdade, eu nunca deveria ter me rendido e feito isso. Eu e ele tínhamos a amizade mais bonita, mais pura. Desde o dia em que o colocaram para ser minha dupla no laboratório de química, vimos que nos completávamos.
Tínhamos tantas coisas em comum, mas bilhões de outras diferentes e em nós dois cresceu a curiosidade sobre o mundo do outro, entramos de cabeça nessa amizade. Ele tinha uma namorada, uma banda e ainda arranjava tempo pra mim, para ser meu melhor amigo.
Certo dia, ele se aproximou para se despedir e, como sempre, beijar minha testa. Não sei o que deu em mim, mas meu corpo reagiu de uma forma diferente. Segui meus instintos e o beijei. Ele correspondeu fervorosamente como se também sempre quisesse isso. Suas mãos alisavam minhas costas e nossas línguas dançavam juntas em plena sintonia. Nunca me esquecerei desse beijo! Ele foi o início dos melhores dias de minha vida que teve o fim mais doloroso.
Nós namoramos por dois anos e meio e não sei ao certo onde a mágica acabou, mas sei que ela teve fim. Para ele, não para mim. Meu amor seguia vital, doentio. Ainda precisava dele pra sorrir e me sentir bem, mas ele tinha outras preocupações. Reclamou do meu jeito que antes tanto diversificava nossa amizade, mas que agora havia se tornado insuportável; gritei pra ele algumas verdades mentirosas sobre ele não me fazer feliz e eu não precisar dele, e, assim, terminamos.
Depois desse dia, ele continuou sendo meu melhor amigo e eu me tornei um nada pra ele. A cada lugar dessa pequena cidade que passava, lembrava de algum momento que passei com ele e isso me deixava feliz por alguns segundos. Bastava chegar em casa e então tornava a chorar, como no dia anterior, no anterior, no anterior...
E agora eu estava lá, andando pelo único lugar que não tinha lembranças dele, até agora: o aeroporto da cidade. Ele e seus três únicos – porém melhores – amigos estavam indo para a capital. O McFly (a banda que acompanhei nascer) havia tomado dimensões maiores e eles precisavam se mudar para a capital pra ficar mais perto da gravadora e dos eventos.
Andei vagarosamente até o portão de embarque, onde já era possível ver os quatro conversando descontraídos juntamente com algumas senhoras, que deduzi por suas mães.
- Você vai conseguir. – sussurrou para mim, soltando minha mão. Ouvir a voz dela fez tudo parecer fácil e eu até sorri. Ela era minha melhor amiga, como uma irmã para mim. Mostrei para ela meu sorriso e ela permaneceu com seu rosto sereno.
Continuei o caminho até o portão. Parei. O assunto animado que estavam tendo foi interrompido pela minha presença. aproximou-se lentamente de mim sob os olhares confusos de seus amigos. Passou por mim, esbarrando levemente em meu ombro, como se pedisse que eu o seguisse. Andamos lado a lado até tomarmos uma distancia considerável de todos.
- Não esperava que você viesse se despedir. – disse sincero.
- Se quer saber, nem eu. – Sussurrei, o fazendo sorrir. – Não vai voltar mesmo? –
- Não. – Ele respondeu simplesmente. Soltou o ar pela boca, aliviando seu peito. Ele devia estar imaginando o quão doloroso estava sendo pra mim.
- Sorte! – Minha voz saiu falha e baixa. Odiei-me por isso. Ele estava indo seguir seu sonho e o mínimo que poderia fazer era sorrir para ele, mas as lágrimas que estavam presas em meus olhos há alguns minutos rolaram pelo meu rosto descontroladamente. tentou um sorriso.
- Prometo te dar notícias. – Ele me olhava fixamente.
- Oh, talvez não precise. Ficarei atenta aos canais de música, eles poderão me informar melhor que você. – Tentei descontrair e pareceu funcionar pelo riso gostoso que saiu da garganta dele.
- Eu não sou tão ruim com as palavras quanto era antes, ok? – Ele disse entre o riso. Sorri fraco. O olhar de voltou-se para outra direção. O segui com meus olhos e pude ver acenando montado nas costas de enquanto erguia uma de suas malas para o ar. Finalmente ri. Era impossível não rir quando se tratava daqueles três. Quatro, na verdade. também era um grande bobo da corte.
- Acho que essa viadagem toda é pra me avisar que provavelmente estamos atrasados para o vôo. – ria de leve dos amigos.
- Então é isso? Nosso fim definitivo? – Olhava fixamente nos olhos dele.
- Você quis dizer sobre... -
- Sobre tudo. Acaba mesmo por aqui, né? – sustentava meu olhar e eu permanecia firme. Estranhamente minhas lágrimas não estavam mais descontroladas e eu já conseguia prendê-las de novo em meus olhos.
- Eu disse que mandarei notícias. – Ele disse baixo.
- Tudo bem. – Suspirei. – Me contentarei com isso. –
Ele respirou fundo, cansado.
- Adeus, . – inesperadamente me puxou para um abraço. Senti meu corpo formigar ao tê-lo tão colado a mim. Ele apertava meu corpo de uma forma carinhosa, como se fosse eu quem estava partindo. As batidas de nossos corações se encontraram nesse abraço, desesperadas, rápidas, tristes.
- Eu te amo , por favor, não se esqueça disso. – Disse sem pensar. Fazia tantos meses desde que tudo acabou que eu praticamente vomitei as palavras, deixando que elas saíssem mais intensas.
- Muitãozão. – sussurrou em meu ouvido, logo após soltando um riso fraco. Ele estava mesmo querendo me fazer chorar feito criança, né? “Muitãozão” era só nosso. As pessoas amavam muito, nós nos amávamos mais. Amávamos de um jeito único, só nosso. Um amor doentio, um amor mais importante que ar. Era mais que demais, mais que muito. Era “muitãozão”.
Nos soltamos do abraço e eu já sentia que meu rosto não era a coisa mais agradável do mundo. tentou enxugar algumas lágrimas inutilmente, uma vez que elas caíam em litros por segundo.
- Adeus, . –
Ele soltou minha mão lentamente e foi se afastando de mim. Antes que ele se virasse, pude ver uma lágrima escorrendo de seu rosto. Não sei bem ao certo se foi imaginação ou realidade, mas devo admitir que ela me deu uma ponta de esperança. Como se me alertasse que algo maior estava guardado para nós.
Os três meninos acenaram para mim com seus belos sorrisos e desviaram a atenção para que chegava perto deles. Em questão de segundos todos já estavam no avião e eu estava pior do que todas as mães ali presentes.
- , me tira daqui. – Disse fraca à minha anja da guarda. Só ela mesma para me aturar!
Senti as mãos de me levantando e só nesse momento notei que estava sentada no chão. Andei dolorida até minha casa acompanhada de .
Capítulo 2
- Oh, . – mexia em meu cabelo vagarosamente. – Tem certeza que não quer sair pra distrair sua cabeça?
- Não quero ver nada que me lembre a ele. – Disse feito uma criança mau criada, admito.
- Espero que não esteja se condenando a ficar aqui pra sempre. – reagiu ao meu tom e disse parecendo uma mãe nervosa. Levantei minha cabeça de seu colo e a olhei fixamente. - , eu entendo que seja difícil, que é complicado e que hoje é bem normal que você esteja assim, mas meu amor, ele foi seguir a vida dele. Você deveria usar isso a favor de você e não contra você. Agora você não vai sair por aí correndo o risco de encontrá-lo, você pode se recuperar. Querendo ou não, ele está te dando a chance de superar o relacionamento de vocês. – respirou finalmente. Ela sempre ficava angustiada quando me via chorando e eu a entendo, não suporto ver uma lágrima descendo dos olhos dela.
- Eu sei. – Abaixei a cabeça. levou sua mão ao meu queixo me obrigando a olhar para ela.
- Olha, sei que você não está para essas coisas, assim como eu não estaria, mas amanhã é a festa de formatura do nosso terceiro ano... – Tentei reivindicar, mas tapou minha boca com sua mão antes que eu pudesse falar – E eu sei que já discutimos muito sobre isso... – Rolei os olhos e fingiu não notar, prosseguindo – Mas dane-se, o que você precisa é ver pessoas! Extravasar sua tristeza dançando, bebendo e curtindo sua adolescência!
Relaxei meu rosto e assim, livrou minha boca de sua mão. Respirei fundo.
- Vamos, , pode ser divertido! – sorria de um jeito animador.
- Não sei, eu...
- Qual foi, passamos o ano inteiro estudando que nem condenadas planejando a vinda de Johnny Depp e Brad Pitt para serem nossos pares para nada? Sem contar que ano que vem é faculdade, não teremos mais essas mordomias. – falava fazendo gestos espalhafatosos que me arrancaram risadas altas.
- Tudo bem, não posso deixar o Depp me esperando. – Tentei parecer esnobe ao falar essa frase e riu. Sorri.
- Como eu gosto do seu sorriso, irmã! – disse sincera, com a mão pousada na minha bochecha.
- Obrigada por tudo, . – Continuava sorrindo. Ela fez careta para meu agradecimento e nos abraçamos forte.
tinha me perguntando algumas milhões de vezes se não queria mesmo que ela dormisse lá comigo, mas mesmo que a companhia dela fosse agradável e me fizesse esquecer momentaneamente de tudo, eu ainda precisava de um tempo sozinha. Ela deixou minha casa quase que de madrugada. A observei entrar em casa – apenas duas casas separam as nossas – e entrei.
Eu demorei a dormir nessa noite. Obviamente estava mais que justificada essa insônia, mas eu tentava fingir que era por causa de algum filme de terror e não porque o grande amor de minha vida tinha ido embora. Finalmente peguei no sono.
Capítulo 3
-... E esse foi Blink 182 com “Girl at the rockshow”, galera! – A voz irritante do locutor da rádio da cidade tirou meu sono. Era meu rádio relógio.
Sentei na cama enquanto me espreguiçava. Olhar para a janela e observar um lindo dia de sol foi como um colírio para meus olhos. Até me fez sorrir. sempre admirava dias ensolarados, afinal, sua estação preferida era o verão. Quando estávamos no inverno e tinha algum dia assim, ele corria até minha casa. Gostava de me acordar esbanjando seu bom humor movido à energia solar.
- E para os desinformados, hoje é o grande baile do último ano do nosso High School! Aproveitem meninos! – A voz do locutor me tirou de meus pensamentos. Droga, hoje tinha a festa! Voei em cima de meu radio relógio e o desliguei finalmente. Eu precisava de um banho. com certeza viria para cá para a gente se arrumar juntas.
- Por favor, não vai travar aqui na porta, né? – cruzou os braços.
Não sei se foi porque acordei quase duas horas da tarde, mas eu tinha a sensação de que o dia tinha passado rápido e quando dei por mim, já estávamos em frente a quadra do colégio, de onde já era possível ouvir a música alta. Eu tinha me enfiado em um vestido azul bebê e estava no seu vestido tomara-que-caia de um rosa delicado.
- , você está atrapalhando a passagem. – Leonard disse debochado enquanto me empurrava de leve para poder entrar na quadra. – Nos vemos no final da festa aqui, ouviram meninas? Se não vocês vão ficar sem carona pra voltar. – Ele sorriu e entrou. Era meu primo de quadragésimo quinto grau e falava comigo com mais intimidade que meu pai. Isso porque a gente só se encontrava nos natais. Mas se não levasse ele, eu não poderia ir; se eu não fosse, surtaria.
- Vamos, . – sorriu, também ignorando meu “primo”.
- Estou com uma sensação estranha, Mari. – Fiz uma careta.
- Estranha boa ou estranha ruim?
- Não sei. – Cocei a cabeça, desviando o olhar da porta para os olhos de .
- Então vamos entrar e descobrir o que é. – Mari disse animadora e isso deu forças aos meus pés para desgrudarem do chão e entrarem.
Tudo estava incrivelmente decorado! Havia mesas espalhadas por todo o lugar, algumas mesonas colocadas estrategicamente perto da pista de dança com algumas bebidas e comidas, um palco pequeno no final em que tinha um DJ.
- Uau! – disse simplesmente. Ela estava tão atônita quanto eu com toda a decoração.
- Nem parece aquela quadra esquisita que a gente vinha quando tinha algum jogo de basquete. – Comentei fazendo sorrir.
- Vínhamos obrigadas, né? sempre... – Ela parou. Ficou estudando meu rosto.
- Relaxa, . – Sorri. era mesmo o bobão do grupo e gostava de nos arrastar aos jogos, para nos fazer sentar nas piores cadeiras e ouvi-lo narrando o jogo de forma absurdamente engraçada.
Continuamos andando até encontrarmos uma mesa. Demorou, mas finalmente encontramos. Era uma meio isolada, mas como só iria servir para deixar nossos sapatos e bolsas, nem ligamos muito. A música que tocava não era muito dançante e só alguns nerds estavam na pista.
- Vamos dançar! – quicava na cadeira.
- , eu já disse que vou dançar hoje, não disse? Pelo menos vamos esperar tocar música boa, né? – A fiz bufar.
- Prometi a mim mesma que dançaria a noite toda. – disse firme e eu ri.
- Não prometeu nada por mim. – Dei de ombros.
Ela rolou os olhos.
- Vou pegar alguma coisa pra beber, então. – Levantou-se bruscamente da mesa, mas segurava um riso. Ao passar por mim, me deu um peteleco e aumentou a rapidez de seus passos. Fiquei rindo enquanto observava ela sumir na multidão.
Me alarguei na cadeira. Não tinha dançado ainda, mas já havia tirado a sandália. Era nova, então ainda estava na fase de machucar o pé. Apoiei meu pé em uma das cinco cadeiras da mesa que estavam sobrando, coloquei minhas mãos em minha barriga e fitei o teto. Finalmente escutei a música que tocava.
Love of my life, you've hurt me Amor da minha vida, você me feriu
You've broken my heart and now you leave me Você quebrou meu coração e agora você me deixa
Love of my life, can't you see? Amor da minha vida, você não percebe?
Bring it back, bring it back, don't take it away from me Traga de volta, traga de volta, não tire isso de mim
because you don't know what it means to me... Porque você não sabe o que isso significa para mim.
Abri os olhos rapidamente ao digerir todas as palavras cantadas. Sentei direito na cadeira e continuei ouvindo, enquanto olhava para meus pés.
Love of my life don't leave me Amor da minha vida, não me deixe
You've taken my love and now desert me Você pegou meu amor e agora me abandona
Love of my life, can't you see? Amor da minha vida, você não percebe?
Bring it back, bring it back, don't take it away from me Traga de volta, traga de volta, não tire isso de mim
because you don't know what it means to me... Porque você não sabe o que isso significa para mim.
You'll remember when this is blown over, Você se lembrará quando isso acabar
and everything's all by the way E tudo ficar de qualquer jeito
When I grow older, I will be there at your side to remind you Quando eu envelhecer, eu estarei do seu lado para te lembrar
how I still love you, I still love you... Como ainda te amo, eu ainda te amo.
As lágrimas saíam dos meus olhos, tímidas. Ainda olhava para meus pés. Algo atrás de mim fez uma sombra nada nítida na mesa. Com certeza era .
- , isso é... –
- Queen? Sim. – A voz que respondeu não era de . Era aquela voz. Que eu precisava ouvir, da pessoa que eu queria ver. Ele não poderia estar ali, ele tinha pegado o avião, eu fui ao aeroporto! Fechei os olhos com força rezando para que se fosse alguma ilusão, que fosse embora rapidamente. Eu não agüentaria olhar para trás e ver que não era real.
- ! – A voz assustada de me alertou. Ouvi barulho de copos no chão e mais nenhum. Até a música havia parado. Continuei com meus olhos fechados com toda a minha força, sentindo as lágrimas ainda caindo de meus olhos. Um toque. A mão macia de estava tocando meu braço. Meu corpo reagiu se arrepiando, me fazendo sentir vontade de virar-me naquele momento e acabar com a distância entre nós dois, aproveitar todo esse momento.
- Por favor, , olhe para mim. Eu preciso falar com você, preciso olhar em seus olhos. – A voz era sussurrada em meu ouvido. Abri os olhos lentamente e ergui minha cabeça. A virei lentamente e me deparei com um arrumado. Ele estava lindo! Usava terno, como todos os meninos da festa. Estava com sua gravata um pouco afrouxada, o cabelo numa tentativa de arrumado e como sempre, seu all star preto. Me levantei rapidamente parando de frente para ele. Somente nesse momento notei que todos estavam parados, nos olhando. Havia uma roda formada e todos esperavam alguma reação nossa. Estávamos frente a frente.
- O que você está fazendo aqui? – Foi só o que consegui falar.
- Corrigindo meu erro. – Ele abaixou a cabeça.
- Mas você entrou no avião, você... Você tem seu sonho, sua banda. Só pode estar louco!
- Louco eu ficaria com certeza se não viesse aqui falar contigo, . Eu fui um estúpido, um... Você devia me odiar! – Na voz dele era possível se notar nojo de si mesmo. Uma lágrima caiu de seus olhos.
Nesse momento, – sim, todos os outros estavam lá também – se manifestou.
- Vamos pessoal, circulando. Isso não é show para ter platéia. – Ele batia palmas e saiu de seu estado de choque para ajudá-lo. O DJ retomou com músicas finalmente dançantes e isso chamou todos para a pista. e também foram dançar após espantar todo mundo.
Levantei o rosto de , o fazendo olhar para mim. Como era bom me sentir novamente dentro de seus olhos. Estávamos nos olhando de um jeito que não fazíamos há tempos: como melhores amigos. Acima de qualquer amor, sabia que antes de tudo vinha nossa amizade.
Ele tocou meu rosto de forma carinhosa, como fazia quando namorávamos. Era como se em nosso olhar esbanjasse nosso companheirismo e fidelidade de amigos, mas nossos corações precisassem – e implorassem – para que fiquemos juntos com laços mais fortes.
- Me perdoa? – estava acariciando meu rosto. Fiquei sem reação. Olhava encantada para ele e comecei a acariciar seu rosto. colou sua testa na minha me fazendo fechar meus olhos. Não queria que esse momento acabasse.
- , por favor, me perdoa? – Ele sussurrou com nossas bocas a centímetros uma da outra. Abri os olhos lentamente e ele fez o mesmo. Respirei fundo, como se um peso saísse de mim junto com o ar.
- Eu te perdôo. – Sorri. Outra lágrima desceu dos olhos de acompanhada de seu sorriso iluminado. Ele aproximou mais nossos lábios. Minha boca latejava, pedindo para que se juntasse aos lábios dele. deslizou a mão por meu rosto e sorriu.
- Eu te amo muito, amor da minha vida. - disse em um sussurro e finalmente juntou nossos lábios. Nossas línguas estavam desesperadas por um toque e quando se encontraram, ao contrário de nós dois, que estávamos desesperados por esse beijo, elas foram calmas, carinhosas. Estávamos nos beijando carinhosamente, de uma forma nunca feita antes. Suas mãos não deslizavam mais por minhas costas, estavam paradas em minha cintura, me deixando presa a ele, eu o abraçava pela nuca. Nada me tiraria daquele beijo, mas uma voz feminina, que eu não faço idéia de quem seja, falou baixo ao fundo a alguém. Sua voz soou alto em meus ouvidos; ela disse “não sei bem quem são, mas reparem como ficam quando abraçados, parecem um só”. O beijo, após isso, foi se transformando em selinhos demorados aos poucos. Sorri e pude sentir que ele fez o mesmo. Comecei a abrir meus olhos lentamente procurando os olhos de e então, a voz do locutor do rádio se tornou mais alta em meus ouvidos. Finalmente abri rapidamente meus olhos, para ver se me libertava daquela voz e me deparei com o teto de meu quarto. Olhei em volta, não estava querendo acreditar. Meu travesseiro estava molhado e meus olhos inchados. Sentei-me em minha cama e desliguei meu rádio relógio de vez com um soco, abracei meus joelhos e chorei feito criança. Chorava alto, desesperada. Uma adentrou meu quarto, desesperada.
- , meu amor, pare, pare, pare! – Ela me abraçou forte enquanto eu permanecia com meu rosto apoiado em meus joelhos. – Seja lá o que houve, já passou, passou meu amorzinho. – Ela continuava a tentar me acalmar com sua voz serena.
- , foi tudo um sonho! Uma droga de sonho! Ele não voltou pra me ver, ele... Ele não vai voltar! Eu sou uma idiota, uma imbecil, uma... –
- Ei, ei, ei, pare de se xingar! – Ela falou um pouco mais alto. – Você não é nada disso, você é uma menina maravilhosa! foi um imaturo, acabou tudo e então ele parou de falar com você. Não jogue a culpa dele em cima de você. – Ela continuava me abraçando forte e balançava meu corpo para frente e para trás lentamente como se ninasse um bebê.
- Mas ele sabia que eu ainda o amava de uma forma que não cabia mais entre nós dois. Ele estava apenas me poupando, . – Já estava um pouco mais calma. Consegui pronunciar as palavras de forma mais lenta e sem berrar. O choro desesperado virou um choro tímido.
- De qualquer forma, ele não tinha o direito de fazer o que fez contigo. – levantou meu rosto e beijou minha testa. – Agora relaxa tá? Já passou. –
Respirei fundo.
- Vamos lá pra cozinha! Você toma uma água com açúcar, almoça e então ficamos juntas o dia inteiro! Esquece aquela droga de festa, vamos fazer alguma coisa só nós duas. – tentou um sorriso. Joguei-me em seus braços em um abraço de agradecimento.
- Eu te amo muito! Obrigada por estar aqui, . – Ela apenas correspondeu meu abraço. Eu sei que ela odeia quando eu agradeço.
- Eu também te amo muito! – me ajudava a levantar. – Vamos lá.
Capítulo 4
Com certa dificuldade, desci as escadas de minha casa. estava um pouco à frente. Agradeci por meus pais não estarem em casa. Provavelmente fariam um escândalo se me vissem no estado em que estava.
- Sente-se aí no sofá, vou preparar sua água com açúcar. – sorriu.
- Até parece que você é a dona da casa. – Tentei uma brincadeira e ela fez uma careta, seguida de uma risada de leve. Andou até a cozinha.
Joguei-me no sofá cansada de mim mesma. Passei o olho por toda a sala e só a mesa me chamou a atenção. Havia várias correspondências, como sempre. Mas alguma coisa me chamou atenção. Levantei-me lentamente e andei até a mesa. Em cima de todas as cartas havia uma especial, com uma letra familiar. A peguei e arregalei os olhos, assustada. Era de .
Caí novamente no sofá, com as pernas bambas. Abri rapidamente e peguei o papel dobrado que tinha dentro. Fiquei alguns longos segundos olhando para o papel e me beliscando. Não queria acordar novamente de um sonho, queria que fosse verdade. Depois que me certifiquei que era mesmo realidade, respirei fundo e desdobrei o papel.
“,
Estou contando que seus pais não mexam no correio antes do meu vôo. Está quase na hora de ir pro aeroporto, mas eu não consegui dormir essa noite pensando em você, em como você vai ficar, em como eu vou ficar sem você. Por isso te escrevi essa carta. Quer dizer, não só pra isso, mas principalmente para te pedir perdão, concertar meu erro. Eu fui um estúpido com você, um... Oh droga, você deveria me odiar! Mas você fez o contrário, me amou. Não tinha coragem de falar com você, não me achava merecedor disso. Mas acho que esse foi meu grande erro! Eu perdi tempo, poderia ter corrido atrás. Alguma coisa dentro de mim grita que há algo muito maior esperando por nós, em nosso futuro. Se essa carta tiver alguma resposta positiva, poderei encher a caixa que está na sua caixa do correio corretamente (com um aviso bem grande para que só você toque nela).
Agora eu só espero que você fique bem, você merece mais que tudo, mais que... Eu. E me desculpe pela minha droga de falta de coragem em não te dizer isso pessoalmente, mas me bateu um medo... E eu nem sei exatamente do que.
Eu te amo, . Você é o grande amor da minha vida!
Beijos,
”
Após ler, toquei meus lábios no papel e fechei os olhos, deixando apenas meu coração reagir. As lágrimas saíam milagrosamente calmas e minha respiração não estava falha, estava estável. Aquilo tinha me acalmado. Ali, abraçada àquela carta, me sentia tão perto de !
- , aqui está a sua... , não chore! – sentou ao meu lado. Tirei a carta de meus lábios e mostrei à meu sorriso. Uma ruga se formou em sua testa e seus olhos fixaram-se no papel em minha mão. A entreguei o papel e me levantei rapidamente.
- Aonde você vai? – me olhava, ainda assustada com minha reação.
- Na caixa do correio, ali fora. – Disse ao mesmo tempo em que corria desajeitada até a porta.
Bati a porta de qualquer jeito e fixei meus olhos na caixa de correio. Segui correndo de forma desesperada e abafada. Finalmente, quando a alcancei, parei para respirar. Fitei o céu e sorri deixando que mais uma lágrima caísse de meus olhos.
Abri a caixa de correio e bem no fundo, escondendo a tal caixa havia um aviso em letras gigantes que dizia “NÃO TOQUE SE VOCÊ NÃO FOR A ”. Ri do aviso. O tirei finalmente e avistei uma caixinha azul, pequenininha. A peguei e sorri. Era uma caixa de anéis de noivado. A abri, e lá havia mais um pequeno papel que dizia “juntos somos um só”. FIM
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