- ? ? PORRA, ABRA ESSA PORTA! - abri os olhos com certa dificuldade por causa da puta ressaca que eu estava, demorei um pouco pra me situar, mas graças aos céus eu estava no meu quarto. Aliás, eu não estava sozinho, tinha duas garotas na minha cama. Peladas. - ? SE VOCÊ NÃO...
- JÁ VOU! - me levantei desesperado quando reconheci que a voz que me gritava era da . Minha namorada.
Olhei para as duas garotas deitadas na minha cama e só uma palavra rondava minha mente. FUDEU. Uma delas abriu o olho me encarando confusa. Fiz sinal de silêncio, colocando o dedo indicador na frente dos lábios.
- O que está acontecendo? - ela sussurrou.
- Se esconde no banheiro, por favor - sussurrei em resposta e ela concordou, acordando a amiga e indo em seguida pro banheiro.
Eu podia ouvir os pés de batendo no chão, típico sinal de quando ela está nervosa. Droga, eu havia feito merda de novo. Passei a mão pelos cabelos tentando inutilmente ajeitá-los e abri a porta com meu melhor sorriso possível.
- Bom dia, amor! - saudei e ela se esquivou da minha tentativa de abraço entrando no quarto, olhando debaixo da cama, dentro do armário, na sacada, até que parou e olhou de canto de olho para a porta do banheiro da suíte. Sorriu sem humor para mim.
- , vem cá! O que aconteceu? - tentei acariciar seu rosto, mas ela estapeou minha mão e respirou fundo. Seu rosto estava vermelho e ela ia chorar a qualquer momento, mas estava lutando com todas suas forças para não fazer aquilo na minha frente. Era sempre assim.
- O te viu ontem com duas garotas. - ela cuspiu as palavras e o sangue sumiu do meu rosto. Claro, tinha que ter sido o , aquele playboy idiota que ela insiste em chamar de melhor amigo. Melhor amigo é o meu cu. - Onde elas estão?
- Não tem ninguém aqui - dei de ombros - é intriga da oposição.
- Vamos ver, então - ela colocou uma mão na maçaneta da porta do banheiro e eu a segurei pelos ombros, a forçando a me encarar.
- Você não está confiando em mim.
- Você só me dá motivos para desconfiar, . - indo contra seus princípios ela deixou uma lágrima rolar pela face corada. Nesse momento eu perdi todas as forças que eu tinha, meu estômago congelou e... Quem eu era, afinal? Que direito eu tinha de fazer a minha sofrer? Nunca fui exemplo de bom namorado, aliás, nem de namorado sequer eu fui. Sou um belo de um filho da puta que não merecia nem a amizade da , quanto mais seu amor.
- Eu sei - respondi derrotado.
- Última vez, as garotas estão aí? - que mais que eu podia fazer? confirmei com a cabeça e a vi soltar o ar, frustrada. - Adeus, , desculpa por eu ter acreditado que o amor era capaz de mudar alguém.
Ela me deu as costas indo embora, não antes de enxugar as lágrimas que eu tinha derrubado, mais uma vez. Mais uma vez. Era a primeira vez que ela tinha chorado na minha frente, as outras eu só ficava sabendo depois, ela nunca me daria o gostinho de vê-la chorando, como ela mesma dizia. Mas agora tinha sido diferente e eu podia sentir que um pedido de desculpas com meia dúzia de flores ou um ursinho não iriam trazê-la de volta.
- , desculpa se causamos problemas - uma das garotas falou quando saíram do banheiro.
- Tudo bem, só vão embora agora.
Fui tomar banho, pensando no que eu faria. Eu não ia perder minha garota assim, sem nem ao menos lutar. Eu tinha que ir atrás dela. morava com a amiga , namorada do . Eu dividia a casa com ele e com o . é solteiro, sempre foi. Assim evitava problemas, certo ele.
Me enrolei na toalha encarando meu reflexo deprimido no espelho embaçado do banheiro. Eu estava com uma cara péssima e... Bem, eu sentia vontade de chorar. Chorar, cara, tem noção do que é isso? Eu não choro desde... Desde que eu tinha uns 8 anos, quando meu pai morreu. Dez anos depois eu sinto vontade de chorar de novo, isso está acabando comigo, que merda.
- ? Morreu ai dentro? - bateu na porta do banheiro e saí, dando de cara com ele. Ele deu um sorriso forçado para mim, típico de quem não sabe o que dizer pro amigo que acabou de levar um fora.
- Pára de me olhar assim - resmunguei pegando uma roupa e me vestindo.
- Posso saber o que se passa nessa sua cabeça agora? Que plano vai rolar dessa vez?
- Eu vou falar com ela.
- Eu ouvi o falando com a pelo telefone. Pelo que eu entendi ela não conseguia fazer a parar de chorar, e o estava lá.
Claro que estava. Vai aproveitar para dizer 'eu disse que aquele moleque do não prestava'.
- é um porra! - soquei a toalha de qualquer jeito dentro do banheiro.
- Melhor você se acalmar, ok?
- ! - berrei e ele apareceu em menos de dois minutos no meu quarto, também com cara de não-sei-o-que-fazer - Vamos na casa das meninas?
- Só se o vier junto.
- Gay? - ri nervosamente.
- Reforço. Se você se descontrolar eu não vou conseguir te segurar sozinho.
- Então vamos lá.
[Flashback]
Tudo estava bem calmo naquele pub londrino, no centro da cidade. Estava calmo porque tinha acabado de abrir e eu era o único cliente ali.
- Cerveja - pedi ao garçom no balcão. Ele assentiu e me entregou uma garrafa logo em seguida. Bebi de vez, sentindo minha garganta reclamar e o resto do meu corpo festejar. Álcool era a minha felicidade, anotem isso. Meu pré-night começando bem, com cerveja e tranquilidade, aquela noite prometia no mínimo duas rapidinhas no banheiro de qualquer festa.
Acordando dos meus pensamentos nada puritanos para a noite que se aproximava, a porta do pub se abriu e ela entrou. Uma calça jeans colada, o scarpin preto e a blusa simples branca davam-na um ar despojado e superior ao mesmo tempo. Passou as mãos pelo rosto ajeitando os cabelos bagunçados pelo vento forte que devia estar fazendo na rua.
Sentou ao meu lado no balcão, porém ignorando minha presença completamente.
- Um suco de laranja, por favor - a ouvir pedir ao mesmo garçom que me atendia. A olhei incrédulo.
- Que tipo de pessoa vem num pub e pede suco?
- Meu tipo de pessoa, .
- Prazer, - estiquei a mão e ela a apertou sem muita força, evitando contato comigo. Aquilo me incomodou.
Sua boca formava uma linha rígida, seus olhos estavam fixos no copo de suco a sua frente até se cansarem e fixarem-se nos meus, certamente incomodada com minha nada discreta análise.
- Qual o problema, ? - essa é a hora que o galã aqui entra em cena?
- Você é linda. - abri o sorriso que fazia todas as garotas se jogarem aos meus pés, o que a fez sorrir de lado. Pegou a bolsa e abriu, estufei o peito sentindo que ela anotaria o número do telefone e me daria, mas ela pegou algum dinheiro e jogou no balcão, se levantando.
- Seu problema, , é que fala as mesmas coisas para todas as garotas - ela riu. Da minha cara. ELA RIU DA MINHA CARA - Mulheres gostam de ouvir o que ainda não foi dito para nenhuma outra. Eu gostaria.
Acompanhei com o olhar sua bunda rebolar enquanto ela andava na direção da porta do pub. Levantei na cadeira num pulo, passando a mão pelo cabelo.
- Quero te ver de novo, .
- Tchau, .
. Foi a PRIMEIRA mulher que tinha me recusado. Foi a PRIMEIRA E ÚNICA mulher que eu senti vontade de chamar de minha.
[Fim do Flashback]
- Tem certeza? - a voz do (irritante) cortou o ar e logo em seguida a porta da casa das meninas abriu.
saiu pela porta carregando uma caixa razoavelmente grande, e estava tão concentrada em se equilibrar e não cair carregando aquilo que não nos viu parados lá.
- Claro que tenho - jogou a caixa no lixo e se virou para o - Não quero nada que tenha vindo do na minha casa.
Doeu. Primeiramente por motivos óbvios, todos os presentes que eu a havia dado estavam no lixo, ela realmente me queria longe dali. Segundo porque ela tinha me chamado de . Ela não fazia isso há... Muito tempo.
notou minha cara de cu e deu dois tapinhas no meu ombro, , ao contrário, alisou minha cabeça, como fazem com cachorros.
- ! - chamei seu nome e ela se virou para mim com uma expressão que quase me fez recuar. Quase, eu não ia desistir por causa da cara de psicopata dela, ia?
- Oi, . Tchau . - virou as costas, empurrando o pra dentro da casa. Mas eu a segurei pelo braço antes de concluir o pensamento.
- Eu quero conversar contigo, .
- Eu não tenho nada pra te falar.
- Mas eu tenho.
- EU NÃO ME IMPORTO! - ela gritou, quase avançando em mim, mas se controlou. estava no meio da rua e odiava escândalos. É isso, já sei o que fazer.
- , estamos no meio da rua, vamos entrar e conversar? Você mesma me disse um dia que assuntos particulares devem ser resolvidos em casa. - usei suas palavras contra ela mesma. Eu sabia que aquela batalha estava ganha, tinha princípios.
- Entra, porra.
e se abraçaram assim que entramos na casa, sentou no sofá e o sentou ao seu lado, puxando algum assunto. Aquele playboy quer roubar meus amigos também? Foda-se.
- Vamos, , não tenho o dia todo. - me puxou pelo braço escada acima e nós entramos no seu quarto. Agora ele estava meio vazio, sem algumas coisas que faziam parte da decoração, tipo fotos minha com ela, ursinhos e outras coisinhas que eu tinha dado.
- Estamos a sós, você pode falar o que quer que seja.
- Me desculpa?
- Ah, não! Tudo menos isso, pelo amo de Deus. - ela sentou na cama, cobrindo o rosto com as duas mãos. - Você não pode simplesmente ter coragem de me pedir desculpas, não dessa vez.
- Eu sei que errei, mas eu queria te pedir uma chance.
- Outra chance, cara? Eu já perdi a conta de quantas chances eu te dei, e não adiantou de nada porque você acaba fazendo as mesmas merdas ou até piores.
- ...
- Eu não vou voltar atrás. Tomei minha decisão, . - sentei ao seu lado na cama e suspirei jogando a cabeça pra trás. Sabe aquela vontade de chorar? Tinha voltado e com muito mais força que antes. Ainda receoso passei o braço por cima do ombro dela, sentindo seu corpo estremecer ao soluçar. Droga, ela estava chorando de novo. Doía muito em mim vê-la assim, talvez se ela tivesse chorado na minha frente na primeira vez que eu fiz merda eu não a havia repetido. Ela deixou ser envolvida por meu braço, mas não retribuiu, permaneceu quieta, só chorando. Quando eu menos esperava senti um gosto salgado nos meus lábios e... Era uma lágrima? Eu estava chorando, chorando feito um bebê. percebeu isso, então se afastou do meu abraço e me encarando sem saber o que fazer.
- ? Você está bem? - ela perguntou com a voz tremida, limpando minhas lágrimas.
- Não, não estou me sentindo bem, de verdade - fui sincero. Eu não sabia o que estava acontecendo comigo, aquilo não era normal para mim.
- Por favor, , não fica assim - ela me abraçou, sussurrando em meu ouvido. Ela tinha me chamado de de novo. - Eu não aguento te ver mal, ok?
- Você devia estar feliz, . Quantas vezes eu te fiz sofrer mais que isso? Você está retribuindo toda a dor que te causei.
- Eu não quero fazer isso! Te fazer sofrer nunca passou pela minha cabeça. Eu só quero parar de sofrer, entende?
- Claro, eu entendo - funguei, limpando minhas lágrimas com as costas das mãos e saindo do abraço dela.
- Eu gosto de você, , e você sabe. Gosto muito. Mas eu também tenho que gostar de mim. - ela limpou suas lágrimas também, ficando com o rosto vermelho.
- Eu queria você.
- Eu gosto de segurança, mas como eu vou ter isso com você? Eu nunca sei onde você está, com quem você está, fazendo o quê... - levantou da cama, caminhando até a janela. Ficou algum tempo olhando o imenso jardim da sua casa e então voltou a olhar para mim - Odeio a insegurança que você me trás.
- Se eu jurar que dessa vez eu mudo? - perguntei, já sabendo que dessa vez eu não ia ter segunda chance, mas eu tinha que tentar.
- Desculpa, vai ser preciso muito mais que promessas pra reconquistar minha confiança, .
CAPÍTULO 02
- Acorda, muleque! - a inconfundível voz do me fez girar na cama, ficando de barriga pra cima e abrindo os olhos para encará-lo - Duas palavras: faculdade, vagabundo.
- Mas que porra é essa? - resmunguei com a voz enrolada. Sono + álcool.
- Esqueceu da aula, ?- bateu na minha testa e eu notei que ele já estava arrumado. Droga! Eu fui afogar minhas mágoas na tequila ontem e acabei esquecendo a faculdade. Faculdade que eu nem sei por que faço, a carreira que vou seguir não precisa de diploma, CAFETÃO. - E tem mais: não sou sua babá, não te acordo mais.
- CHEGA! Eu já tô indo, ok?
- É um mala mesmo - entrou no quarto rindo - Manera na bebida, cara.
- Não foi você que levou um pé na bunda - reclamei, entrando no banheiro.
- Não fui eu que traí minha namorada com duas - Filho.Da.Puta. Ele sabia como usar as palavras contra mim, palmas pra ele.
gargalhou quando percebeu que eu tinha ficado sem resposta e o acompanhou, dizendo que eu estava constrangido. Eu estava mesmo, talvez.
- LOSER! - gritaram por fim.
Fomos pra faculdade no carro do . Eu só gostava de sair com o meu a noite e não tinha carro, porque sempre bebia demais e preferia carona ou táxi. Se eu fosse analisar por esse lado também não deveria ter carro. Mas eu gosto de adrenalina.
- Vou jantar fora com a hoje. - comentou quando entrávamos na faculdade.
- Você está dizendo isso porque sabe que eu vou ficar mal por não ter a pra sair com vocês, como a gente sempre saía?
- Claro, gosto de te ver sofrer - ele rolou os olhos - Eu falei pra você saber que a vai estar sozinha em casa hoje. Mas nem indireta você entende.
Sorri abobalhado e nem liguei pro insulto dele. Talvez eu devesse ir hoje lá.
- Não vai lá hoje, cara - contrapôs meu pensamento - Tá muito recente, deixa a poeira baixar.
- Eu prefiro correr o risco de ser expulso de lá, do que ficar em casa pensando que eu poderia ter ido.
Fui pra minha sala, sentei na última cadeira, como sempre, porém dessa vez eu ignorei as risadinhas que as meninas da primeira fila mandaram pra mim. Eu não estava afim hoje, o que estava acontecendo comigo mesmo? Encostei a cabeça na parede e fechei os olhos.
Lembrei que mesmo contra a vontade da o destino fez a gente se encontrar outras vezes. Não sabíamos, mas nosso círculo de amizades era bem parecido. E era onde eu me perguntava: como a gente não se conheceu antes? Ela tinha ido morar alguns anos com o pai, na Itália, e tinha voltado há pouco tempo. Eu consegui convencê-la a sair comigo algumas vezes, mas nunca tinha rolado nada, nos tornamos amigos e só. Eu não estava acostumado a sair com as garotas e não levá-las pra cama, então sair com a e nem sequer beijá-la era... Foda. Mas foi bom porque nós nos conhecemos melhor, eu pude entender que o jeito como ela me tratou no pub era uma armadura pra se proteger dos caras... Caras do meu tipo. era uma garota especial, me dava atenção quando saíamos, mas sempre mantendo uma distância segura. Eu sabia que me envolver com ela seria bom pra mim, mas talvez não fosse bom pra ela, eu poderia magoá-la. Um cara com bom-senso se afastaria, deixaria ela em paz para não a fazer mal. Mas eu não tinha bom-senso e nem queria me afastar dela. Eu estava me sentindo de um jeito novo, estranho. Porém legal de sentir. Quando ela sorria pra mim era como se eu... Se eu pudesse voar, eu me sentia invencível ao lado dela, era como se eu fosse gay. Pronto, falei. Eu precisava dela, e eu sabia que estava sendo egoísta.
[Flashback]
- Correr no parque foi a melhor idéia que você já teve, - ela comentou, enquanto bancávamos os saudáveis.
- Eu já tive muitas idéias boas, ok? - apertei o nariz dela.
- Claro, várias - ela rolou os olhos, só de implicância.
- Pára! - parei de andar, segurando ela pela mão - Acabei de ter outra idéia muito boa!
- Cara, ! Que susto! - ela riu - Qual foi a sua magnífica idéia?
- Vamos correr! - anunciei já correndo e a puxando pela mão que segurava.
, pega de surpresa, começou a rir descontroladamente, não conseguindo mais correr e caindo na grama. Me joguei ao seu lado, de barriga pra cima, também rindo. Ficamos esperando a nossa crise de riso passar e nossas respirações voltarem ao normal. Fiquei olhando pro céu, mas pude perceber que me olhava de canto de olho.
- Ótima idéia - ela comentou rindo fracamente.
- Você está mesmo precisando perder uns quilinhos, ok? Me agradeça - ela socou meu ombro, gargalhando.
- Que apaixonante você - ironizou.
- Sabe, , um dia você me disse que queria ouvir algo que eu nunca tivesse dito a nenhuma outra garota - respirei fundo, buscando a coragem, e ela permaneceu calada - Hoje eu me sinto muito preparado para te dizer algo assim.
- ? - a voz dela falhou.
- Quer namorar comigo?
Na sequência senti o seu corpo em cima do meu, e seus lábios nos meus, vorazmente. Sorri entre o beijo colocando a mão delicadamente na sua cintura e a outra acariciando seu rosto.
- Eu posso estar fazendo a maior merda da minha vida aceitando isso, mas eu realmente gosto de você - ela sussurrou e voltou a beijar meus lábios.
[Fim do Flashback]
- Vamos pra casa, não aguento mais isso daqui - resmunguei, entrando no carro e colocando o cinto. entrou no lado do motorista e se jogou no banco de trás.
- Por que eu sempre tenho que vir atrás? - rolou os olhos e nós rimos.
- Por que você não cala a boca? - , educadamente, pediu.
- Hoje à noite eu vou sair pra pegar mulher - ele anunciou, fazendo uma dancinha bem estranha.
- Hoje à noite eu vou sair com a minha namorada - o imitou, dançando.
- Hoje à noite eu vou na casa da - resmunguei, quase perdendo a coragem.
- E esse desânimo todo? Qual é, ? Não estou te reconhecendo.
- Eu não sei o que dizer pra ela, .
- A verdade, tudo que você tá sentindo.
- CALA A BOCA, QUE PAPO MAIS GAY! VAI ME CONTAMINAR! - saiu do carro assim que o estacionou. Rimos dele correndo para dentro, com as mãos tampando os ouvidos.
- É sério, se você gosta dela como diz que gosta, luta.
CAPÍTULO 03
Eu era um merda mesmo. Estava em casa, assistindo televisão, porém sem realmente prestar atenção ao que passava. Meus amigos tinham saído e eu estava lá, na fossa. Não me reconhecia, eu nunca fui assim, nunca me deixei abalar por nada, e de repente lá estava eu, parecendo uma garotinha.
O motivo por eu estar daquele jeito tem nome e sobrenome: . E não, eu não tinha ido à casa dela como eu tinha prometido a mim mesmo. Eu estava inseguro. Insegurança é coisa de garotas. Cada dia que passa eu fico mais parecido ao , gay. Bufei, me esticando no sofá. O telefone tocou e eu me estiquei mais um pouco para alcançá-lo.
- Alô?
- Eu sabia que você era um fraco! - foi só falar no diabo - Você não foi atrás da , não é?
- Eu já estou péssimo, não preciso da sua ajuda, - resmunguei irritado.
- Cara! - berrou - Eu só quero te ver bem. Você acha que não dói em mim te ver sofrendo? Logo você!
Fechei os olhos, sabendo que ele tinha toda razão.
- Não tive coragem de ir, ok?
- Ok, cara, está muito recente mesmo.
- O tinha dito isso e você discordou - eu ri fraco.
- Talvez ele tenha razão. Outro dia você faz isso. Vou desligar agora, a tá me chamando. Tchau, cara.
Coloquei o telefone no gancho.
[Flashback]
entrou no meu quarto meio envergonhada, olhando tudo com interesse, desde os pôsteres até os porta-retratos de família que estavam espalhados por lá. Sentou na beira da minha cama, com as mãos sobre o colo e fitou os próprios pés.
- O que foi? - sentei ao seu lado, passando meu braço por cima dos seus ombros.
- Só uma vergonha básica - ela sorriu tímida e eu beijei sua bochecha.
- Vergonha de mim? Do seu namorado lindo e sexy? - ela bateu de leve no meu braço.
- Não é vergonha de você, é vergonha do que eu estou pensando.
E ao contrário do que eu imaginava, ao acabar essa frase ela deu um sorriso malicioso. Ok, cadê a sua vergonha, ? Não pude deixar de retribuí-lo, jogando seus cabelos para o lado e beijando a parte descoberta do seu pescoço.
- Acho que sua vergonha já passou - continuei os beijos, sentindo ela virar o corpo para mim e passar os braços pelo meu pescoço. Nossas bocas se encontraram, começando um beijo ansioso pelo o que estava por vir. Nada de beijinhos calmos agora, o desejo acumulado em mim gritava mais alto.
Escorreguei uma mão pela sua cintura, dando alguns apertões por ali, de vez em quando a ouvindo prender a respiração por alguns segundos. Suas unhas se enrolaram pelo meu cabelo, arranhando minha nuca mais forte quando eu a puxava mais contra mim.
Deitei na cama, tentando ao máximo ser delicado, mas na situação que eu me encontrava estava meio difícil. Fui deitando por cima dela, enquanto distribuía beijos pelo seu colo e pescoço, até chegar aos seus lábios novamente. As mãos trêmulas dela voltaram a me arranhar, porém descendo para a minha barriga e entrando por baixo da minha blusa, até chegar ao cós da minha calça jeans. Gemi baixinho contra os lábios dela ao sentir suas unhas naquela região. Ela riu baixinho, parecendo se divertir com aquilo. Levei minhas mãos por dentro da sua camisa, retirando-a sem nem pensar. Ao ver deitada em baixo de mim, de sutiã, muitas coisas passaram pela minha cabeça, mas a primeira e mais forte foi: eu era um puta de um sortudo. Desci meus beijos para aquela região, me livrando também do seu sutiã rosinha, massageando um de seus seios, enquanto sugava o outro. arqueava o tronco, dando leves gemidos, tentando também tirar minha camisa. Ajudei-a nessa parte porque ela realmente não conseguia se concentrar. Ela sorriu maliciosamente olhando meu abdômen descoberto e passando novamente as unhas por ali, deixando marcas vermelhas bem definidas. Voltei minha concentração para o zíper da sua calça, e foi a vez dela me ajudar com aquilo ali. Em poucos segundos sua calça não estava mais cobrindo seu corpo e eu podia ter uma visão privilegiada. Voltamos a nos beijar com mais vontade do que antes, chegando a ser violento, tamanho era o nosso desejo. Eu mesmo tirei minha calça, ficando impaciente com o nosso joguinho. levou as mãos para o já parente volume na minha boxer, massageando meu membro por cima do tecido. Não pude conter um gemido mais alto quando ela colocou a mão por dentro da boxer, envolvendo meu membro com sua mão quente e começando a acelerar os movimentos. Deslizei meus dedos por sua cintura, até chegar à barra da sua calcinha e a puxar de uma vez para baixo. continuava a aumentar os movimentos prazerosos em meu pênis. Carinhosamente levei o meu dedo indicador até seu clitóris, fazendo movimentos fracos e circulares no local. deixou escapar um '' baixinho no meu ouvido, servindo pra me deixar mais excitado ainda. Vagarosamente comecei a intensificar os movimentos do meu dedo, ao mesmo tempo em que ela aumentava seus gemidos no meu ouvido, que me arrepiavam por completo. Penetrei um dedo em sua intimidade, sentindo-a contrair o corpo todo.
- Te machuquei? - perguntei, preocupado.
- Não - ela sorriu - Continue, amor.
Após retribuir seu sorriso, continuei a mexer meu dedo dentro dela, sentindo sua respiração pesada bater contra meu ouvido. Sem aviso prévio penetrei o segundo dedo, fazendo-a gemer mais alto. Eu não estava mais aguentando, precisava tê-la agora, e pelo visto ela lia meus pensamentos.
- Por favor, . Você dentro de mim, agora!
Estiquei o braço para a mesinha de cabeceira, pegando um preservativo e abrindo com o dente, logo em seguida cobrindo meu membro pulsante com ele. Me posicionei entre as pernas de , beijando sua testa antes de começar a penetrá-la devagar. Soltei um longo suspiro, sentindo meu membro todo dentro dela, enquanto ela fincava as unhas com força nas minhas costas. Era uma sensação boa, uma dor prazerosa. Comecei a mexer meus quadris em direção aos dela, porém com delicadeza, agora sim eu estava com medo de machucar minha bonequinha.
- , vai mais rápido - ela arfou, mordendo minha orelha.
Obedecendo as ordens dela, aumentei o ritmo e a força das investidas, a ouvindo gemer loucamente meu nome, e deixando escapar de vez em quando o nome dela. O suor já escorria pelas minhas costas e os cabelos dela já grudavam em sua testa. Deslizei minhas mãos pela lateral do seu corpo, apertando sua cintura contra a minha, tentando não por muita força nos apertões para não machucar ou deixar marcas, sentindo sua mão agarrar meu cabelo com força e seu corpo relaxar em baixo do meu, chegando ao orgasmo. Investi mais duas vezes com força brutal e também cheguei ao orgasmo, deitando meu peso sobre ela, enterrando meu rosto na curva do seu pescoço.
- ?
- Oi - ela respondeu, acariciando meus cabelos.
- Te machuquei, ou fiz algo errado? - era a primeira vez que eu me preocupava se uma garota tinha gostado ou não, se eu tinha feito certo ou tinha sido um merda. Normalmente era só o meu prazer que contava.
- Você foi ótimo, muito melhor do que eu imaginava - ela sorriu e eu rolei o corpo até ficar deitado ao seu lado. - Geralmente os garotos do seu tipo, que falam de mais e se acham demais, são horríveis. Você é minha exceção.
[End Flashback]
- Acorda, moleque - estou sentindo um dejávu. Me virei e acabei caindo no chão. Ótimo, eu tinha dormido no sofá e agora estava com as costas doloridas. - Por que você dormiu no sofá?
- Sei lá, - respondi me levantando com as mãos nas costas. Droga, estava doendo mesmo. Olhei pra ele que sorria pra mim. Seu cabelo estava bagunçado, sua camisa amassada e tinha duas marcas roxas no seu pescoço. Quem sabe há uns dias atrás eu estaria assim? Eu podia voltar a minha vida normal, não podia? Afinal a que tinha me dispensado.
- Noite boa? - sorri maliciosamente. Ele confirmou com a cabeça, sentando no sofá. Sentei ao seu lado.
- E pelo visto você não foi à casa da - minha vez de confirmar com a cabeça - seguiu meus conselhos de esperar um tempo?
- Faltou coragem - admiti baixinho.
- Talvez sobre coragem pra outra pessoa chegar nela.
- O que você tá querendo dizer? - realmente não tinha entendido.
- , sabe? Ele deve estar lá consolando a amiga.
Ah, pára né? Por um momento eu tinha esquecido daquele abutre que rondava minha na...ex-namorada. Senti o sangue ferver dentro das minhas veias. Mas ele estava consolando a , então isso era bom, por um lado. A precisava de alguém do lado dela quando eu fazia besteiras, e ele sempre a apoiou. Eu devia ficar grato. Ou não. Droga de antíteses! Minha cabeça rodava tentando entrar em algum acordo com ela mesma, mas nada estava fazendo sentido.
- Vou dar um volta.
- São três e meia da manhã, - bêbado tinha mais noção do que eu.
- Só vou aqui no jardim, cara - abanei o ar, indo de encontro com vento gélido da madrugada londrina.
Enfiei a mão no bolso da bermuda e puxei uma caixa de cigarro. Fazia algum tempo que eu não fumava, talvez três dias, mas aquilo era um grande avanço pra mim. Jogar fora esses três dias de sucesso por uma revolta de momento? Coloquei a outra mão no outro bolso e puxei o isqueiro. Fui caminhando até o banquinho embaixo da árvore e sentei, ainda com isqueiro e cigarro em mãos. Joguei a cabeça pra trás respirando o ar frio pra ver se esfriava minha cabeça.
Acendi um cigarro e com a mão trêmula levei até os lábios dando uma tragada profunda. Eu sentia falta daquilo, da nicotina fudendo com meu pulmão e da sensação de liberdade. Meu pai morreu de câncer de pulmão, e eu comecei a fumar só para irritar minha mãe. Ela nunca foi exemplo de amor materno, então tudo que eu podia fazer para deixá-la louca, eu fazia. Com 16 anos eu saí de casa, ela até tentou me impedir, mas não porque tinha algum sentimento materno e sim porque todo o dinheiro que meu pai deixou estava no meu nome, incluindo casas e apartamentos que eu alugava para me sustentar. Todo mês eu mando uma espécie de pensão para ela, não sou nenhum tipo de monstro e por mais que ela não mereça, ainda é minha mãe.
Minha vida vinha sendo uma bosta e foi quem me ajudou, mas agora nem ela eu tinha.
Joguei o cotoco do cigarro fora, logo acendendo outro e o tragando numa velocidade incrível.
Palmas para mim que estava me afundando cada vez mais.
Acordei cedo no dia seguinte, não estava afim de ouvir sermão do , muito menos do . E também não queria dar mais trabalho a eles, eu estava sendo um saco nos últimos dias.
Tomei um banho morno, torcendo para que a água levasse embora as dores que eu sentia. Dores psicológicas, vale salientar. Vale salientar também que era a segunda vez em dezoito anos que eu sentia isso.
Fui tomar meu café-da-manhã e assim que sentei à mesa, os dois apareceram e fizeram simultaneamente expressões surpresas.
- Quem diria, hein? acordado!
- Eu tenho que viver, certo? - Encarei o , tentando mostrar uma imagem melhor do que a que eu vinha mostrando nos últimos dias.
- Esse é meu garoto. - alisou meu cabelo.
Comemos tranquilamente, rindo de alguma besteira que algum de nós falava de vez em quando, mas nada fora do normal.
Na faculdade o dia foi tranquilo também, mas eu ainda estava me sentindo mal por tudo. Pensava na de cinco em cinco minutos, em como, onde e com quem ela estava. Essa última era bem mais fácil de responder, e bem mais difícil de aceitar. .
As pessoas devem achar estranho todo esse... Essa raiva que eu sinto dele, mas eu não sou nenhum tipo de doente que não ia gostar do cara sem motivos. Na verdade ele nunca fez nada pra mim, diretamente. Só falava pra coisas como 'você merece algo melhor' ou 'o não é alguém confiável'. Não que eu discorde dele, mas ela era minha namorada e... E é isso, fudeu.
[Flashback]
Eu estava indo conhecer a família de . Claro, eu estava nervoso. Era a primeira vez que eu conhecia os pais de uma garota com quem eu saía, por motivos óbvios. Nenhuma garota vai levar um ficante pra conhecer pai, mãe, irmão, papagaio, periquito, cachorro...
apertava minha mão firmemente enquanto subíamos o elevador do apartamento que ela morava com os pais, na época.
- Cadê sua autoconfiança, ? - ela riu baixinho da minha cara antes de abrir a porta. Seus pais estavam sentados no sofá, provavelmente aguardando nossa chegada triunfal.
- Boa noite. - mantive minha voz firme, voltando a ser . Os dois se levantaram e me cumprimentaram muito gentilmente.
- A falou muito de você, . - a mãe dela me analisou de cima a baixo, sem nenhuma expressão no rosto. O pai dela me encarava de um jeito mais discreto.
- Ela gosta de você, espero que não a decepcione. - a voz grave dele me intimidou.
- Não vou. - murmurei.
- Papai, está deixando ele tenso. - gargalhou, fazendo todos nós rimos ao som de sua risada. - Vem, , vamos buscar algo para comer!
Me puxou pela mão para o que eu identifiquei com a cozinha.
- Não gostaram de mim.
- Claro que gostaram. - ela mexia na geladeira em busca de algo doce, tenho certeza - Quem não gostaria de você?
Qualquer pessoa normal que se importe com o bem estar da sua filha. Da sua única filha.
- Fica aí que eu vou lá em cima buscar meu casaco, tô ficando com frio. - ela passou as mãos pelos braços para esquentar e correu na direção da escada.
Encostei na parede fria, deixando minha cabeça pender pra trás. Eu não era nenhum tipo de marginal, eu me vestia bem, sabia ser educado quando queria e tinha boa aparência, tinha por que os pais dela não gostarem de mim, assim só por olhar? Não tinha. Mas pais possuem um sentido mais apurado para essas coisas, será? Ou eu estava ficando paranóico?
- E então? - a voz da mãe de pode ser ouvida e eu, por um momento, pensei que fosse comigo, mas não. Ela ainda estava na sala, com seu marido. Ouvir a conversa dos outros é feio, e eu queria me convencer disso, mas eu estava curioso. Deixei minha cabeça cair um pouco mais pro lado, de modo que eu pudesse ouvir melhor.
- Ele não é mau, mas eu achei um tanto...
- Arrogante? Metido? Eu também. - senhora alfinetou acidamente.
- Embora ele saiba disfarçar bem. - senhor saiu em minha defesa. - Mas não precisa ficar preocupada, bem, você sabe que não vai durar.
- Isso me consola. - suspirou - Você sabe muito bem quem eu queria que a namorasse.
- , eu sei - meu coração freou - Mas você sabe que eles são amigos demais pra isso.
- é linda, é lindo. Um dia eles vão notar que foram feitos um pro outro e esse aí, vai sobrar.
Que adorável, não? chegou totalmente alheia ao que tinha acabo de acontecer.
- Peguei o casaco, podemos ir?
- Claro. - passei o braço pelo ombro dela, beijando sua cabeça.
[End Flashback]
CAPÍTULO 4
- O que você vai fazer hoje à noite, ? - Perguntei assim que entramos no carro, de volta para casa. Afinal, era sexta-feira, quem iria ficar em casa?
- Tem uma festa na casa do Charlie, devo ir.
- E você, ?
- Cara, eu devo ir também, já que a foi passar o fim de semana na casa dos pais.
- E vocês não iam me chamar? - Arqueei as sobrancelhas.
- Não achamos que você estivesse afim, entende? - sorriu, sem graça.
- Eu vou, vai ser bom para mim. - Disse convicto. Pelo menos eu ia tentar me divertir, ao invés de ficar em casa me martirizando por ter perdido a .
Álcool. Era a única coisa que eu conseguia pensar em meio a tanta gente e a tanto barulho. As luzes dignas de uma boate de verdade piscavam loucamente na sala da casa do Charlie, enquanto a aparelhagem de som era capaz de deixar qualquer pessoa surda. Já tinha perdido o para a primeira peituda que passou, mas o ainda estava do meu lado, tentando se manter sóbrio no meio daquele inferno. A única coisa que eu não queria era ficar sóbrio.
- Vou buscar outro desse. - Apontei meu copo com um líquido verde cintilante quase acabando. - Vem comigo?
- Vou! - berrou de volta para poder ser ouvido e caminhamos até a cozinha. Um open bar tinha sido improvisado ali.
De onde surgiu, eu não sei, mas tinha um ser loiro chupando meu pescoço descontroladamente. Busquei o com os olhos, mas minha vista já estava embaçada pela quantidade de álcool ingerida ali.
- Er, oi? - Tentei afastar a criatura que agora enfiava a mão por dentro da minha camisa.
- Oi! - Sorriu para mim, mostrando uma fileira de dentes perfeitos. Seus cabelos loiros estavam bagunçados, mas mesmo assim ela era linda - Lilá, prazer.
- , prazer! - Sorri e ela juntou nossos lábios sem nenhum aviso prévio. Eu até gostava de mulher com atitude, embora achasse que ela estava tendo atitudes demais. Mas no estado em que eu me encontrava, só me deixei levar pela situação. Passei os braços pela cintura dela, trazendo ela para mais perto enquanto intensificava o beijo.
Um corpo se chocou contra o nosso, nos fazendo trombar e separar o beijo. Olhei meio irritado para a figura a minha frente. Desgraça pouco é bobagem.
- ! - deu uma tentativa de sorriso para mim.
- Oi! - Afastei a garota pelos ombros e pedi para me acompanhar para fora da casa. Ele assentiu depois de pensar um pouco, talvez avaliando as chances de eu querer socar-lhe a cara.
- Eu sei que você não gosta de mim, mas... Cara, você está bem? - Ele perguntou, encostando-se a um muro fora da casa.
- Não, eu não estou! - Me encostei ao muro, ao seu lado, deixando minha cabeça bater na parede fria. - Mas o que importa é se a está bem, e ela deve estar bem melhor sem mim.
Ele deu um sorriso debochado.
- Não, ela não está. Ela não abre a porta da casa nem para mim. teve que ir passar o fim de semana com os pais e ela está sozinha em casa.
- COMO ASSIM? - Alterei um pouco a voz, sabe como é, era a minha e eu estava preocupado. E claro que o álcool no meu sangue fervia.
- Foi por isso que eu vim aqui hoje, mas não esperava te ver. - O olhei sem entender. - Você não tem aparecido nas festas, então eu pretendia encontrar o e pedir para ele te avisar isso.
Eu fazia uma imagem muito errada dele, não é? Outra hora eu pedia desculpas, agora eu só queria ver minha pequena.
- Eu preciso ir até a casa dela, .
- Eu queria que você fizesse isso, mas ... - Ele segurou meu braço. - Não bêbado, você sabe o quanto ela odeia te ver desse jeito.
Droga, ele estava certo. Para variar. Rolei os olhos, pensando em uma solução, mas você já experimentou pensar bêbado? Não tente, dói a cabeça.
Ficamos alguns segundos, ou minutos, em silêncio, só sentindo o vento frio, o muro frio e a frieza geral. Eu queria ter algo legal para falar, odiava me sentir inferior ao , ele sempre sabia o que falar e falava as coisas certas.
Comecei a fitar minhas mãos, sentindo aquela sensação de inferioridade tomar conta de mim, ao mesmo tempo que eu já cogitava a idéia de socar aquele rosto bonitinho do cara ao meu lado. Era sempre assim, ataques de fúria contra ele vinham do nada. Mas eu tinha uma pequena noção do perigo, eu estava alcoolizado e ele ganharia a briga fácil, além do que, a me odiaria para sempre se soubesse que eu ousei tocar um dedo no seu melhor amigo.
- TE ACHEI! - berrou, me segurando pelos ombros. - Nunca mais suma assim.
Espera aí, está ficando gay. Tirei as mãos dele de mim e ri, negando com a cabeça.
- Eu só vim conversar com o ! - E se você não tivesse chegado, socar ele. - Nada demais.
afirmou com a cabeça quando o encarou.
- Temos que ir, o começou a vomitar tudo. – Anunciou, já andando em direção a um corpo sentado no chão, perto do nosso carro, julguei aquele corpo sendo do .
- Eu juro que amanhã vou até a casa dela! - Dei minha palavra, apertando a mão do e indo para o carro, ajudar com o inconsciente .
Sábado de manhã e eu estava em pé. Já tinha tomado banho e comido qualquer besteira, ignorando a dor de cabeça que tentava me enlouquecer. Já comentei em algum momento o quanto eu odeio ressaca?
Peguei a aspirina e engoli sem água e sem nada, estava com pressa, queria chegar logo na casa da e ter certeza de que ela estava bem. Mas antes deixei um bilhetinho pregado na geladeira, avisando aos caras onde eu estava indo. Estranho, mas a gente era uma família e a preocupação que tínhamos um com o outro era de irmão, às vezes chegava a ser algo paternal.
Vesti um casaco verde da Hurley e peguei a chave do meu carro, saindo apressadamente.
Enquanto dirigia o curto caminho até a casa da minha pequena, tentava pensar no que falar para ela. Pedir desculpas mais uma vez não me parecia tão apropriado. Mas era a única coisa que passava pela minha cabeça.
Parei o carro em frente aquela casa bem cuidada, que não parecia abrigar duas adolescentes loucas, e inspirei buscando coragem.
Toquei a campainha e alguns segundos depois a porta se abriu, revelando uma sonolenta, de pijamas, com o cabelo bagunçado e altamente surpresa por me ver ali.
- Bom dia! - Fui entrando antes que ela desse algum piti e me mandasse embora. - Como você está?
- Bom dia, ! - Custava alguma coisa ela me chamar de ? Vou relevar porque ela estava com uma voz arrastada de sono e eu devia ter acordado ela. - Estou assim, como você pode ver.
- O que está acontecendo, ? - A puxei para sentar ao meu lado no sofá. - Nunca te vi tão abatida assim.
- Eu estou bem! - Murmurou, tentando me convencer sem sucesso. - Só quero passar um tempo sozinha, longe de tudo que me faz mal.
- Tipo, eu?
- Tipo você.
Ficamos algum tempo nos encarando, enquanto eu deixava que a dor tomasse conta de mim. Sabe quando você sente que o jogo acabou e você perdeu? Não tem mais jeito de ganhar e toda sua esperança míngua?
encostou a cabeça no meu ombro e fechou os olhos. Levantei minha mão para acariciar seu rosto e, assim que o toquei, notei o quão quente ele estava. Instantaneamente levei minha mão ao seu pescoço e comprovei o óbvio: ela estava com febre.
- Onde tem termômetro aqui? - Perguntei, levantando meio desajeitado para que a cabeça dela não caísse, deitando-a no sofá.
- Está em cima da mesa, eu acabei de usar! - Sua voz era tão fraquinha que chegava a ser um sussurro.
- Há quanto tempo você está doente, ? - Coloquei o termômetro embaixo de seu braço e acariciando seu cabelo.
- Eu não estou doente! - Resmungou e eu soltei o ar, irritado.
- Claro que não, logo se vê como está cheia de saúde! - Procurei não gritar, mas sentia muita vontade. O que ela estava querendo? Se matar e me matar por osmose? Ela não respondeu, continuou de olhos fechados. Tirei o termômetro e quase surtei ao ver 38,4 ali. - Vamos ao hospital, o que mais você está sentindo?
- Não vou a lugar algum!
- Me responda pelo menos o que você está sentindo, droga! - Perdi a paciência, ficando em pé e passando a mão pelo rosto, em uma tentativa de me acalmar.
- Dor de cabeça, dor no estômago e vontade de bater em você!
Peguei-a no colo, encontrando de início uma resistência, mas ela não estava com forças para lutar. Levei-a escada acima, até seu quarto e a deitei na cama.
- Vou buscar um remédio para o seu estômago! - Fui andando. - Isso é o que dá por não tratar essa gastrite.
- Você sabe que eu não posso viver sem Coca-Cola! - Ela riu fraco.
- Você sabe que não pode viver COM Coca-Cola! - Ri também.
estava deitada com a cabeça no meu colo, enquanto eu brincava com alguns fios do seu cabelo. Ela tinha tomado o remédio da gastrite e o contra febre, e estávamos conversando sobre coisas alheias, como fazíamos antes de namorar.
- E se a gente conversasse um pouco, sobre... Nós? - Pela cara que ela fez, eu tinha estragado nosso momento de paz.
- Talvez não seja uma boa idéia, até porque não existe 'nós'.
Por que as pessoas sabem exatamente o que dizer para machucar as outras? Isso devia ser proibido.
- Mas já existiu e, dentro de mim, existe ainda! - Ela sentou, me encarando meio irritada. No mesmo momento me arrependi, ela ainda estava fraca, não devia se estressar. - Desculpa, você tem que descansar.
- Você realmente quer conversar sobre a gente? Está disposto a ouvir tudo que eu penso? Acho que não.
- Estranho, mas eu quero.
- Você nunca quis, por que mudou de opinião agora? - Ela apontou o indicador na minha cara.
- Por que eu perdi você? - Respondi como se fosse óbvio e senti um impulso transpassar pelo rosto de , chegando até sua mão, pronta para me bater. Mas ela só fechou os olhos e respirou fundo. Eu conseguia tirar ela do sério, mas não estava querendo isso naquele momento.
- Parabéns, você me perdeu e notou isso. - Se jogou para trás, deitando na cama. - Eu não quero chorar na sua frente, de novo.
Sua voz saiu baixinha, talvez lutando contra a bolha de ar que se formava na sua garganta, pronta para explodir em choro.
- Eu não quero que você chore! - Sussurrei, deitando ao seu lado. - Eu só queria poder resolver isso.
Ela virou o rosto para mim e me abraçou, enterrando a cabeça na curva do meu pescoço. colocou uma mão atrás da minha nuca, arranhando lentamente com suas unhas. Senti ela depositar um beijinho no meu pescoço e me arrepiei. Receoso, coloquei uma mão na sua cintura, a abraçando forte. Sua outra mão acariciou meu rosto e ela finalmente tirou a cara da curva do meu pescoço e me encarou, parecendo meio confusa. Beijei a ponta do seu nariz e ela riu baixinho.
- Eu não quero te iludir, . - Ela baixou os olhos, fitando meio peito. - Não vou voltar para você, entende?
Não, eu não entendia nada, eu só precisava do corpo dela junto ao meu.
Segurei seu rosto entre as mãos e a beijei nos lábios, da forma mais doce que pude e ela relaxou o corpo, dando passagem para que eu aprofundasse o beijo.
Desci minha mão para sua cintura novamente, apertando com um pouco mais de intensidade, sentindo ela soltar o ar com força. Rolei para cima dela, ficando entre suas pernas e interrompi o beijo, olhando-a nos olhos. Sorri de lado e ela voltou a fechar os olhos, juntando nossos lábios com força. Suas mãos puxavam loucamente minha camisa para cima e eu levantei os braços para ajudá-la em seu trabalho, retirando a blusa dela sem nenhum contratempo em seguida. arranhou minha barriga, descendo seus dedos frios até a barra da minha calça, permanecendo ali tempo demais para o bem da minha sanidade. Desci os beijos para seu pescoço, deixando minha marca ali, enquanto ela arfava e arranhava mais ainda minha barriga. Fui beijando seu colo até chegar ao seu sutiã, deslizando minhas mãos para suas costas e o abrindo, sem nenhuma dificuldade. Que bom ter experiência, não? Quando toquei com os lábios seus mamilos, ela arqueou as costas, arfando meu nome. Suguei um de seus seios enquanto apertava o outro com a mão vaga.
- Se quer fazer isso, é melhor andar logo, antes que eu desista! - Ela reclamou, embora sua expressão fosse totalmente o contrário de uma pessoa que pensava em desistir.
- Vou fazer como você quiser! - Sussurrei ao pé do ouvido e ela voltou a colar nossos lábios.
Retirei seu short, com um pouco de dificuldade, confesso. Primeiro porque minha situação estava bem, er, avançada e segundo porque o botão era difícil, ok?
Puxei sua calcinha com delicadeza, observando-a escorregar pelas pernas bem, hm, interessantes da e, ao passar pelos pés, voar longe. Ela estava inteiramente nua em baixo de mim, mas eu ainda estava de bermuda, fato logo notado por ela que se prontificou em arrancá-la sem nem pensar duas vezes. Passou a mão por cima da boxer, no meu notável membro e sugou meu lábio inferior. Gemi baixinho contra os lábios dela, que sorriu satisfeita. Sem mais provocações, retirou minha cueca, começando a movimentar suas mãos no meu pênis lentamente.
- Você disse que era para ser rápido! - Sussurrei, controlando um gemido quando ela aumentou a intensidade dos movimentos.
- Cala a boca, ! - Ela riu e me beijou de leve. - É com você, agora.
Me posicionei direito em cima dela, levantando uma de suas pernas em minha direção e comecei a penetrar devagar. jogou o corpo para trás, arfando meu nome. Eu adorava ouvir '' naquelas condições. Forcei mais o corpo contra o dela, deixando escapar um gemido mais alto quando ela fincou suas unhas nas minhas costas e voltei a mexer meu corpo, mantendo um ritmo nem lento, nem rápido. O suor escorria por minha barriga e pela testa da , fazendo seus cabelos grudar por ali. Vez ou outra nós tentávamos nos beijar, mas não passava de um encontro de bocas e línguas em meio aquele movimento todo. Fui sentindo o orgasmo chegar, então apertei forte a cintura dela contra a minha, sussurrando em seu ouvido. - Estou quase lá.
- Eu também, só mais um pouco. - Sussurrou de volta, acelerei os movimentos até sentir o corpo dela relaxar embaixo do meu, gozando também e deitando ao seu lado.
Fiquei brincando com algumas mexas do seu cabelo, sem saber o que falar. Eu nunca falava nada depois de transar com alguma garota, eu simplesmente virava para o lado e dormia. Ok, não com todas as garotas, com a eu conversava depois. Mas agora não estava tudo bem entre a gente e eu tinha medo de falar alguma merda e ela se irritar comigo e me mandar embora. não falou nada, levantou e começou a se vestir. Eu queria ter coragem para abrir a boca, mas com meu lado gay aflorado, eu sentia medo de tudo quando estava perto dela. Sem olhar para mim, ela entrou no banheiro e fechou a porta. Mentalmente repassei todos os palavrões que eu sabia antes de começar a me vestir também.
Sentei na cama e enterrei a cabeça entre as mãos. Passei um bom tempo assim, querendo pôr as idéias em ordem.
CAPÍTULO 5
Fui para casa sem ter mais o que fazer.
- VOCÊ É UM MERDA! - me abraçou forte, me sufocando por alguns segundos. - Como você sai cedo sem avisar, deixando aquele bilhetinho duvidoso e voltando apenas depois do almoço, dude?
- Eu estou aqui, eu estou bem! - Apontei meu próprio corpo, rindo um pouco.
- Claro que está! - Rolou os olhos. - Não sei por que me preocupo com você.
estava sentado de braços cruzados no sofá.
- Como foi lá? - Perguntou.
- Foi bem - Respondi baixo. Não queria comentar sobre isso, não agora. - Vou tomar banho e descansar. Depois a gente conversa.
Subi as escadas correndo, antes que um deles me puxasse de volta.
Não estava pronto para ter aquela conversa e, na verdade, nem sabia o que falar. O que eu ia falar para os caras? Transei com a e ela levantou depois e se trancou no banheiro? Não, simplesmente não dava para falar coisas desse tipo.
Tomei um banho demorado, pouco me fodendo se meus netos conheceriam água potável. Saí enrolado na toalha, pegando qualquer roupa para vestir, sem me importar com nada.
Peguei o celular e disquei o número da casa das meninas. Chamou três vezes e uma voz atendeu. Soltei o ar frustrado.
- Alô?
- Oi ! - Respondi contra a vontade. - A está aí?
- Hum, está. AI! - Gemeu um pouco e eu ouvi dizer algo como 'puta merda, eu disse que não'. - Mas ela não quer falar com ninguém.
- Eu ouvi, eu sei que ela não quer falar COMIGO. - Joguei o celular no chão, fazendo a bateria voar para o lado oposto.
Xinguei alto e me amaldiçoei por isso assim que ouvi os passos se aproximando. Agora eu ia ter que explicar o que aconteceu para os caras.
- , o que aconteceu?
- Nada, .
- Tudo bem, você não confia mais na gente. - dramatizou e eu me joguei de costas na cama, encarando o teto.
- Acho melhor os dois sentarem, a história é longa.
['s POV]
- Qual o seu problema? - Perdi a conta de quantas vezes o tinha me perguntado isso. Estava deitada na rede da varanda, olhando para o teto e tentando ignorar o sermão que ele me passava. - , qualquer dia eu perco a paciência e te deixo sozinha.
- Não é como se eu fosse a errada! - Resolvi me pronunciar. - O aprontou a vida toda dele, era a minha vez de dar o troco. Eu quero que ele se sinta usado.
revirou os olhos, se jogando na cadeira ao lado da rede, e fitou minha cara.
- E você pretende o que, agora?
Seria muito estranho responder 'sei lá'? Eu quis fazer o se sentir um merda, como ele sempre fazia com que eu me sentisse, nem ao menos sabia se meu plano tinha funcionado e agora estava lá, sem saber o que querer do futuro. A chuva começou a cair fraquinha do lado de fora, mas algumas gotas respingavam para a varanda, conseqüentemente me molhando um pouco. Mas a sensação era boa, um friozinho aconchegante. ainda me encarava, talvez esperando uma resposta, talvez lendo meus pensamentos, como ele costumava fazer. Estranho como ele podia me conhecer tão bem, era até assustador.
- Preciso de tempo. Talvez conhecer outros caras.
- Boa idéia, aliás, ótima idéia! - Ele ironizou, gesticulando as mãos. - Envolver mais um ser inocente nessa história.
Bufei irritada, fechando os olhos. Droga, o estava certo, eu não podia usar um ser humano como se fossem minhas botas. Mentira, eu nem uso botas.
- Ok, péssima idéia. - Assumi meu erro e continuei bem baixinho. - Mas vai doer quando eu ver o com outra.
- Você tem que superar.
['s POV]
Meus amigos me encaravam perplexos. sentou-se ao meu lado, mas ficou fitando os próprios pés. caminhou até a janela sem falar nada e abriu as cortinas.
Alguns minutos se passaram e o silêncio estava ficando irritante.
- Não sei o que fazer agora.
- Provavelmente a está confusa, dê um tempo para ela pensar. E você mesmo poderia pensar um pouco na sua vida.
- Que tal passar uns dias com sua mãe? - deu a idéia e eu quase mandei ele se foder. Passar uns dias com minha mãe? Ah, tive que me controlar para não rir alto.
- , aquela mulher não é minha mãe! - Respondi simplesmente.
- Olha todo esse rancor, . - veio até mim e bateu nos meus ombros. - Vai passar um final de semana com tua mãe, para viverem em paz.
Mano, era complô contra mim, qual foi? Eles estavam querendo me tirar da casa? Me mandar para a casa de minha mãe era tortura.
- Vou descansar ok? Depois eu resolvo isso.
Os meninos saíram do quarto, me deixando sozinho. Tomei um banho e me joguei na cama, fitando longamente o teto branco.
Se eu fosse passar uns dias na casa de minha mãe, que ficava na cidade próxima a Londres, poderia ser bom. Não pelo fato de estar com minha mãe, mas pelo fato de parar de pensar na um pouco. E eu poderia ser amigável com minha genitora também. Peguei o telefone, não acreditando que eu estava discando aqueles números.
- Alô? - A voz da minha mãe soou no telefone. Gelei, pensei em desligar.
- Ma... Mãe?
- ? - A voz dela beirava a perplexidade. - É você mesmo?
- So... Sou, mãe. Tudo bem? - Que idiota que eu era.
- Lembrou que tem uma mãe, afinal.
- Eu estou querendo passar uns dias com a senhora. - Falei logo, tentando por um fim naquela conversa.
- Hum... - Pausa dramática. - Venha, essa é a sua casa.
Eu sabia que ela não estava falando aquilo de uma forma carinhosa, porque aquela era REALMENTE a minha casa, meu pai havia deixado ela para mim e minha mãe não se conformava.
- Então, eu... Er... Sexta-feira eu chego aí. Beijos, tchau.
[Flash Back]
- O que é isso? - perguntou, puxando uma caixa de cima do meu guarda-roupa. Fechei os olhos, encostando-me na parede, não tinha nada mais para fazer, ela já estava abrindo a caixa. - Quem é, ?
Ela me estendeu uma foto antiga, uma mulher carregava um garotinho de, mais ou menos, cinco anos no colo e ao lado deles um homem sorria amigavelmente.
- Minha mãe, meu pai e eu... - Respondi simplesmente, indo sentar na minha cama. veio em seguida, com a caixa nas mãos.
- Você nunca me falou da sua família, não acha que está na hora? – Perguntou, alisando meus cabelos.
- Meu pai... - Apontei para o homem da foto. - Morreu quando eu tinha oito anos. Foram os piores dias da minha vida. Ele morreu de câncer de pulmão, fumava muito.
- Sinto muito, . Se você não quiser continuar, eu entendo.
- Está tudo bem, amor! - Sorri para ela. - Minha mãe não tinha muita paciência, sabe? Nunca foi mãe de verdade, me deixava com as empregadas. Quando eu tive idade para entender isso, comecei a tratá-la como uma mulher, e não como minha mãe. Não merecia meu carinho, e nem eu o dela, eu sei. Aos dezesseis anos eu saí de casa, e vim morar com os garotos. Mas meu pai deixou o dinheiro e os imóveis para mim, e é com o aluguel deles que me sustento. E mando dinheiro para a minha mãe também.
- Com que freqüência você a vê?
Como é? Fazia meses que eu não a via.
- Hum, não sei. Faz algum tempo que não a vejo.
- Que tal fazer uma visitinha para ela?
- , não é uma boa idéia. Ela não vai com a minha cara.
- , que mãe é capaz de não ir com a cara do filho? - Ela apertou minhas bochechas, selando nossas bocas rapidamente. - Ainda mais um filho lindo como você.
- Sua mãe que tem sorte de ter uma filha como você, sua besta! - Abracei-a, me sentindo tão forte por tê-la comigo. Era minha, minha garota. No fim, quem tinha sorte era eu de estar com ela.
- Será que eu vou ser uma mãe boa?
- Do jeito que você cuida de mim, claro. - Beijei a pontinha do nariz dela, que ficou vermelha.
- Eu te sufoco às vezes, não é? - Riu abafada e eu neguei com a cabeça, jogando a cabeça para trás para rir alto. - É que eu quero cuidar de você direitinho, tenho muito medo que algo de ruim te aconteça e eu te perca.
Meu coração deu uma acelerada e eu a apertei mais contra meu corpo. Era incrível o poder que ela tinha sobre mim, apenar com palavras.
- E aposto que nossos filhos vão idolatrar a mãe.
- Nossos filhos? - Ela corou mais ainda, sentando na cama. - Já estamos evoluindo assim, Senhor ?
- Claro... - Sentei também, fazendo pose. - Imagina um pequeno correndo pela casa?
[End's Flash Back]
CAPÍTULO 06
O plano era: ir passar o final de semana na casa da minha mãe para esquecer a . Bom, eu estava traindo meu próprio plano, dirigindo e discando o número do celular dela.
Eu não conseguia, por mais que eu quisesse, não ver os olhos da minha garota cheios de lágrimas toda vez que eu fechava os olhos. Doía nela, doía em mim. Era isso, do jeito que eu estava conectado a ela, tudo que ela sentia passava para mim. Ridículo, e se fosse há um tempo, eu diria que era bem gay se sentir assim. As coisas mudam, cara, a gente tem que mudar com elas.
- Alô? - A atendeu ao telefone e meu coração quase parou de bater. Segurando o volante com uma mão só, continuei dirigindo lentamente pela estrada quase deserta.
- . – Sorri. - É o , tudo bom?
- Eu sei que é você! - Se indiferença matasse, eu estava enterrado. - Me ligou por algum motivo, ou só queria acabar com meu dia mesmo?
Não sei se fiquei mudo por um segundo, um minuto ou uma hora digerindo aquelas (facadas) palavras.
- Só queria saber se você estava bem! – Falei, por fim.
- Ok, , desculpa. - Respirou fundo. - Estou meio estressada, descontei em você. Não que você não mereça, mas enfim. Estou bem, e você?
Se eu disser 'melhor agora' vai soar tão gay e ridículo quanto eu imagino? É, vai.
- Estou bem. Estou indo passar o fim de semana com a... Minha mãe.
- Que... Ótimo, ! - A voz dela mudou de tom, agora ela parecia realmente contente. - Vocês merecem uma segunda chance.
- E a gente não?
- , cala a boca. - Ela riu baixinho. - Não estraga a magia do momento.
Ficamos em silêncio por alguns segundos, eu apenas ouvindo a respiração da minha . Era tão bom conversar com ela assim, sem xingamentos e agressões. Eu podia até me sentir completo de novo. Eu podia até sorrir.
- Eu queria poder te pedir uma coisa, ... - Mordi o lábio inferior, me sentindo inseguro feito uma virgem.
- Você pode! - Ela respondeu baixinho. - Só não sei qual será minha resposta para isso.
- Eu não vou conseguir lidar com minha mãe por dois dias sozinho! - Outra mordidinha gay e insegura no lábio. - Você poderia vir pelo menos no domingo, me dar um apoio?
- Awn, ... - Respirou fundo. - Não é uma boa ideia, sabe? Vocês merecem esse tempo a sós.
- Tudo bem então! - Eu não ia ficar forçando nada, ela não queria? Pronto, por mais que eu a quisesse aqui do meu lado, sabia que insistir não era o melhor caminho. Não com a - Estou chegando aqui já, qualquer coisa me liga.
- O mesmo! - Respondeu sorrindo. - Seja forte.
Estacionei o carro na vaga da garagem, ao lado do carro da minha mãe. Deitei minha cabeça no volante, respirando e inspirando antes de pensar em levantar e deixar a segurança do meu carro.
Fechei os olhos e imaginei a ali do meu lado, no banco do passageiro. Ela, com toda certeza, teria algo para me dizer naquele momento, uma palavra de incentivo, uma citação de algum daqueles livros que ela ama ler, ou, quem sabe, apenas um abraço apertado que me passaria confiança. Se eu ligasse para a de novo, ela ia me xingar, então peguei meu celular e liguei para o . Cara, amigos são para essas coisas.
- ? - Ele atendeu depois de dois toques.
- ! Eu acho que vou voltar para casa, eu não tenho coragem de entrar nessa casa, , não tenho! Me ajuda!
- PÁRA COM ISSO, CARA! - Ele meio que berrou. - Você é um homem ou uma donzela?
- Donzela! – Respondi, sem nem precisar pensar. Na situação que eu estava, queria muito que um príncipe me salvasse no cavalo branco. Lies.
- Cala a boca! - Ele respirou fundo. - Ela é sua mãe, qual medo você tem disso?
- Medo de tudo! - Bati minha cabeça com um pouco mais de força no volante. - Vem pra cá?
- Você está ficando muito gay ultimamente. - Ele riu e me fez rir junto, percebendo o quanto minha frase tinha sido gay mesmo. - Quer saber?! Desliga esse telefone, cria vergonha nessa cara branquela e entra lá. Agora.
- Seu apoio é comovente! - Rolei os olhos, mesmo sabendo que ele não podia me ver. - Vou entrar agora, me deseje sorte.
- Sorte, cara! - Ele gargalhou. - E paciência.
Finalmente saí do carro, puxando minha mochila relativamente pequena comigo. Toquei a campainha da casa que por dezesseis anos eu chamei de lar e encostei-me na parede, esperando alguém ter a bondade de abrir logo aquela porta, antes que lembranças do ocorrido a anos atrás viessem à tona.
Dulce, uma senhora baixinha e de aparência latina, abriu a porta com um imenso sorriso nos lábios.
- ! – Exclamou, me dando um abraço apertado. - Sinto falta do meu garotinho. Você devia aparecer mais vezes.
- Ah, Dulce... - Cocei a cabeça. Ela quem tinha me criado desde guri. - A senhora sabe que não é tão fácil. E então, ela está aí?
Dulce sabia que 'ela' era a minha mãe.
- Sim, sim! - Me puxou pelo braço para dentro de casa, fechando a porta em seguida. Puxou a gola da minha camisa para baixo até que eu ficasse na altura dela e cochichou. - Ela está na cozinha! Fazendo panquecas para você. Hoje quando acordou, lembrou que você adorava panquecas e foi para a cozinha. Menino , você nem imagina há quanto tempo ela não pisava naquela cozinha! E hoje está fazendo panquecas, veja só...
Enquanto Dulce tagarelava em meu ouvido, eu estava chocado. Como assim a minha mãe cozinhando para mim?
- Dulce... - A interrompi. - Por quê? Tipo, por que ela está fazendo panquecas para mim?
- Menino ... - Abriu aquele sorriso sapeca que só as latinas tem. - Ela quer fazer dar certo dessa vez.
Não perguntei mais nada, só segui Dulce até a cozinha. Minha mãe virou ao ouvir os passos e a expressão de surpresa em sua face me deixou aliviado. Saber que eu não era o único nervoso com aquele encontro me reconfortava. Não muito, mas já era alguma coisa.
- Já chegou? - Minha mãe enxugou as mãos em um pano de prato e caminhou na minha direção. Tocou minha bochecha delicadamente e sorriu para mim. Não um sorriso normal, mas um sorriso que ela nunca havia dado para mim antes.
- Cheguei! - Sorri sem graça e senti uma vontade enorme de abraçá-la. Vontade que eu não demonstrei, claro.
- Você está lindo! - Então, não sei como, estávamos abraçados. Nunca vou descobrir quem começou aquele abraço.
- Senti saudades! - Me peguei dizendo baixinho, naquele momento de emoção.
- Você nem imagine o quanto eu senti sua falta! - Soltou o abraço e abanou as mãos rapidamente. - As panquecas! Venha comer!
- E a , como está? - Minha mãe perguntou, quando estávamos assistindo televisão. Fitei sua expressão curiosa, e senti uma dorzinha começar a me incomodar.
- Ela terminou comigo, não faz muito tempo. Uma semana, talvez... - Soltei o ar. - Eu não fui bom o bastante.
- Sei que não! - Ela deu um sorriso baixo. O que ela disse? Claro, ela sempre esperava o pior de mim. E eu achando que a gente podia ser uma família. - Não pense que eu falei isso por mal, . Eu só quero seu bem, mas você tem que fazer sua parte.
- Eu sei que fui nunca fui bom em nada que fiz. - Deixei minha cabeça pender para trás. - E eu estava disposto a mudar por ela.
Conversar com minha mãe sobre o término do meu namoro era estranho. Aliás, conversar com minha mãe era estranho.
- Gosto muito da , ela tem um coração bom e te ama, te fez feliz. - Minha mãe tocou minha mão. - Gostaria que ela viesse me ver.
- Eu a chamei para vir aqui, mas ela não está confortável comigo, sabe?
O silêncio na sala só era quebrado pelo som da televisão, mas eu não estava realmente prestando atenção no que estava passando. Inevitavelmente minha mente foi vagar ao lado da .
Ela tinha tentado fazer uma reaproximação minha com a minha mãe, que não foi muito bem sucedida. Acabei perdendo a paciência com as duas mulheres mais importantes da minha vida, depois de uma conversa onde elas falavam que eu precisava mudar meu jeito. Surtei, saí batendo a porta e foi uma das vezes que a acabou o namoro comigo. Me arrependi, pedi desculpas e acabou que voltamos. Quanto a minha mãe, nunca me desculpei por aquele showzinho que dei. Afinal, eu quase nunca falava com ela, mesmo.
Desviei o olhar para a mulher que me deu a vida, e ela me encarava de um jeito estranho. Ela tem me olhado estranho desde que cheguei aqui.
- Você é um bom garoto, filho. Não entendo esse seu medo de demonstrar isso às pessoas.
- Mãe... - Fechei os olhos e disse baixinho. - Será que eu posso reconquistar a ?
- Só seguir teu coração, você vai saber o que fazer. - Ela se levantou. - Vou dormir, boa noite, querido.
Fiquei a seguindo com olhar até ela desaparecer escada acima, em direção ao seu quarto. Ela estava mais velha do que eu lembrava, e fraca. Eu podia notá-la fraca. Amanhã eu perguntaria algo a Dulce sobre isso.
[Flashback]
se olhava no espelho, alisando o vestido verde-água por cima do corpo.
- Está bom mesmo? - Perdi a conta de quantas vezes ela tinha me perguntado aquilo. Rolei os olhos, me aproximando e a abraçando por trás. Apoiei o queixo em seu ombro e suspirei.
- Você já não me perguntou e eu não já respondi que estava perfeita?
- Quero confirmar, estou nervosa com isso. - Mordeu o lábio de modo fofo e eu ri, a virando de frente para mim.
- , é só um jantar com meus amigos.
- Exatamente, quero causar boa impressão! - Beijou minha bochecha antes de continuar. - Os seus amigos podem não gostar de mim, e fazer sua cabeça.
- Sim, sou muito influenciável! - Rolei novamente os olhos, apertando sua cintura ainda mais contra meu corpo. - Quer parar de ser boba? Até a e o vão estar lá, então não surte. Ela saiu do meu abraço e foi pegar sua bolsa, colocando por cima do ombro. Caminhei até ela, segurando sua mão entre a minha e sorri, tentando encorajá-la. - Vamos?
Poucos minutos depois estávamos sentados na mesa de um restaurante arrumadinho na zona sul da cidade. estava sentada ao meu lado, com a mão entrelaçada na minha, em cima da sua coxa. Do lado dela estava , seguida por . Na nossa frente estava , um dos meus melhores amigos que dividia a casa comigo, conhecendo a , finalmente. E o James, outro grande amigo meu, meu parceiro das noitadas. Junto com o , claro.
- Quem diria, hein? - James piscou para o . - O nosso pequeno namorando. Agora sim eu acredito em milagres, fadas, papai noel e afins.
- ... - se referiu a minha namorada, fazendo ela olhar para ele. - Você deve ter algo muito especial para conseguir amarrar essa cara. Já sou teu fã.
Ela riu baixinho, ficando vermelha. riu mais escandalosamente.
- Sabe como é, eu sei esnobar quando é preciso! - falou, apertando minha mão. - Era disso que o precisava, um choque de realidade. Se não ele ia achar que era fodão e que conseguia todas as garotas que quisesse.
- Mas ele acabou conseguindo você! - James fez cara de esperto. - Isso faz dele um fodão.
- Eu sei, obrigado! - Ri, fazendo pose.
- Ele é foda, por isso eu namoro com ele! - fez pose também. - Mas ele ralou muito pra conseguir o que queria, ok?
- Eu sou prova! - levantou o braço.
- Eu também, e eu nem conhecia a antes. - gargalhou.
- Eu sei que vocês dois... - Ela apontou James e . - São as más influências do meu namorado.
Todos na mesa gargalharam.
- Sinto te desapontar, , mas ele é a má influência de todos aqui.
riu junto com todos, mas cravou as unhas com força na minha mão, eu sabia que ela estava ficando puta. E eu não ligava muito, eles tinham razão, eu era o cérebro do mal e da perdição do grupo. Não havia mudado nada depois do namoro, a não ser que agora era escondido.
Sim, eu amo a , mas eu sou um cachorro e nunca neguei isso. Amo a minha namorada, mas quando eu saio com meus amigos, passo o rodo em geral. Homem é assim, traí até quando ama. E sim, estou generalizando porque eu sou homem e sei das coisas.
Apesar de ter impulso de não trair a , eu acabo fazendo merda e me arrependendo um pouco depois. Um pouco.
[Fim do Flashback]
CAPÍTULO 07
Os raios de sol penetravam pela cortina entreaberta do meu quarto. Raios de sol? Socorro, cada dia que passa uma nova viadagem aflora em mim.
Rindo dos meus próprios pensamentos inúteis, levantei para fechar a cortina e, quem sabe, voltar a dormir. Mas assim que cheguei à janela, para poder puxar as cortinas de volta aos seus devidos lugares, olhei aquele sol extremamente raro na cidade e abri um sorriso como há tempos não abria. Não, não foi por causa do sol, e sim porque eu conhecia muito bem aquele carro no estacionamento, ao lado do meu. Ela tinha vindo, afinal. Ela não havia me deixado enfrentar isso sozinho, como ela nunca deixava.
Corri para o banheiro, tomando um banho na velocidade da luz, louco para descer e a encontrar logo. Coloquei uma bermuda azul e uma camisa branca, um pouco colada. Mostrar os músculos é uma arte.
Desci as escadas com o coração ligeiramente acelerado e sentindo a pele queimar superficialmente. Na sala, sentada no grande sofá branco de couro, estava a minha . Um sorriso leve surgiu em meu rosto, me fazendo parecer um bobo.
- Filho! - minha mãe, que estava sentada na poltrona branca, finalmente havia me notado ali. Quando os olhos espertos de se encontraram com os meus, percebi minha respiração ofegante e não, não era porque eu tinha descido a escada praticamente correndo.
- Mãe... – sorri. - , você veio.
- Vim! - ela jogou o cabelo por cima do ombro, me dando uma bela visão do seu pescoço, sorrindo timidamente. Sentei ao seu lado, me sentindo bobo com o pensamento que tomou conta de mim em seguida. 'As mulheres da minha vida'. Onde esteve todo esse amor que eu estava sentindo pela minha mãe? Era algo tão desconhecido por mim, sendo descoberto aos poucos. - Achei que seria bom para... Todos.
- A é um amor. - tirou as palavras da minha boca, mãezinha. - Vou preparar algo para lancharmos.
Dito isso, saiu com um sorriso enorme para a direção da cozinha. Fitei a garota ao meu lado, e segurei levemente a mão dela. me encarou um pouco confusa, mas não retirou a mão, para o meu alívio. Ficamos nos encarando por alguns segundos, até que eu sussurrei um 'obrigado por estar aqui'. Ela apertou minha mão em resposta.
- Como vocês estão lidando com isso?
- Bem, eu acho... - cocei a nuca com a mão livre. - Ela está diferente... Está sendo mãe de verdade?
Ri baixinho.
- E se você fosse 'filho de verdade', agora? - fez aspas com os dedos, tirando a mão da minha.
- Estou tentando ser, de verdade. - olhei meus próprios pés e ela colocou uma mão no meu ombro.
- Ela precisa que você seja! - porque estava todo mundo cheio de enigmas para cima de mim ultimamente? Primeiro a Dulce, agora a .
[FlashBack]
- Por que você está chorando, ? - perguntei desesperado, assim que abri a porta de casa e ela estava lá, com o rosto molhado e vermelho. Ela se jogou nos meus braços, me abraçando forte. Afaguei seus cabelos e a apertei contra mim, sentindo seu coração bater muito acelerado. Entrei com ela em casa e a sentei no sofá, indo pegar um copo d'água. estava no quarto, se arrumando para sair e eu realmente não sabia onde estava. Dei a água para a , que ainda chorava muito no sofá. Sentei ao seu lado, ficando preocupado com aquela situação. A não é exatamente a garota que chora na frente de todo mundo, de mim então, não mesmo. - Amor, o que aconteceu?
- Discuti com o - rolei os olhos, irritado por ver a minha namorada chorando porque brigou com outro cara. Mas ao vê-la tão frágil ali, a abracei de lado.
- Por quê? Quer eu vá bater nele? - ótima idéia.
- Não, . - ela fungou. - Brigamos por sua culpa, claro. Ele vive dizendo que você não é o cara certo para mim e essas coisas.
- Ele tem razão, eu não sou mesmo... - a abracei. - Mas quem disse que essas coisas que a gente sente tem que ter algum sentido?
- Eu tenho muito medo que você me machuque, .
- Não vou te machucar! - a primeira mentira que contei para ela.
[End's flash back]
- Esse sanduíche está uma delícia! - elogiou enquanto comíamos o que minha mãe e Dulce haviam preparado.
- Obrigada, menina ! - minha mãe sorriu, agradecida pelo elogio. - O adorava quando a Dulce fazia desses sanduíches, resolvi aprender.
Permaneci calado, só ouvindo a conversa das duas, que me envolvia. Aquilo estava cada vez mais bizarro, minha mãe fazendo coisas porque eu gostava? Ah, vá, pegadinha do malandro agora não.
- Posso deitar um pouco? Estou com dor de cabeça... - perguntou com a expressão cansada e minha mãe assentiu prontamente, me pedindo para ajudar a levar a mochila dela. Mochila? Ela ia dormir lá, então. Meu sorriso instantaneamente se alargou.
Peguei a mochila dela, colocando nas minhas costas e estendendo minha mão para ajudá-la a levantar do sofá. Depois de pensar um pouco, ela finalmente me deu a mão e me permitiu guiá-la escada acima.
Abri a porta do quarto de hóspedes, ou que pelo menos costumava a ser o quarto de hóspedes quando eu morava ali, e fiquei feliz ao ver que continuava do mesmo jeito. já tinha dormido ali algumas vezes, quando eu tentei reconciliação com minha mãe e ela veio junto. Ela chegou até a janela enorme e abriu as cortinas. Coloquei sua mochila ao lado da sua cama e caminhei até a janela, parando atrás da , estrategicamente, com as mãos apoiadas no murinho da janela, de modo a deixá-la entre meus braços.
Desci meu rosto, até deixar minha boca na altura do ouvido dela e soprei ali de leve, vendo ela se encolher um pouco e rir. Apoiei meu queixo em seu ombro, e fiquei olhando pela janela, assim como ela fazia.
- , pára já com isso! - falou firme, mas continuou parada no mesmo lugar. Beijei perto da sua orelha, assistindo os pelinhos dali se arrepiarem. Sorri satisfeito comigo mesmo. Ela virou de frente pra mim, com os olhos semicerrados e colocou as duas mãos no meu peito, tentando me empurrar. - Mandei parar.
- Desde quando você manda em mim? - levantei uma sobrancelha e ela soltou o ar, irritada.
- Eu venho aqui, com boa vontade para te ajudar com a sua mãe e é assim que você retribui? Sendo o mesmo idiota de sempre?
- Vamos lá, , eu estou com saudades... - ignorei o que ela falou e beijei seu pescoço delicadamente, subindo com meus lábios pela sua mandíbula, até mordiscar seu queixo. A respiração dela falhou e então ela me empurrou com um pouco mais de força, conseguindo com que eu caísse sentado na cama.
- Cala a boca, . - apontou o dedo indicador para o meu rosto e ficou séria. - Eu só não vou embora agora mesmo, por causa da sua mãe. Ela não pode ficar preocupada com tudo que ela está...
- Com o tudo o quê? - ela tinha levado as mãos a boca, e estava com os olhos arregalados na minha direção. Levantei da cama, tentando ficar calmo, e a segurei pelos ombros. - Fala, , o que minha mãe tem?
Ela balançou a cabeça negativamente e eu a empurrei contra a parede mais próxima, e talvez com um pouquinho mais de força do que deveria. Ela continuava com as mãos tampando a boca. Tirei uma das mãos que segurava seus ombros e levei as mãos que cobriam sua boca, puxando um pouco. não pareceu ceder e continuou com as mãos lá, firmes. Puxei com mais força, e consegui tirar as duas, prendendo-as as suas costas, de modo que uma mão minha as segurava e a outra, que antes estava em seu ombro, fosse para o seu rosto, a forçando a me encarar.
- Por favor, , eu não posso falar nada... - ela me encarou com súplica e eu a soltei. Machucar a minha garota estava fora de cogitação. Canalha, canalha, covardes a parte.
- Não vai me contar mesmo? - perguntei, olhando para os meus pés.
- Não posso.
- Vou deixar você a vontade, para descansar... - beijei sua bochecha a saí, antes que eu perdesse a cabeça e a jogasse na cama de qualquer jeito.
Aquele quarto nunca me pareceu tão pequeno quanto naquele momento. Estava ficando sufocado, irritado por estar ali dentro há mais de duas horas, desde que deixei a no quarto ao lado. Eu estava tenso, querendo saber o que minha mãe estava passando, afinal, ela era minha mãe e, caralho, eu estava preocupado. Mas eu não queria chegar nela com a cabeça quente, como eu estava, para não fazer nada de ruim. Continuei sentado na minha cama, com as pernas cruzadas e o rosto enterrado entre as mãos. Cansado de ficar naquela posição, estiquei meu braço e peguei meu celular em cima da mesinha, disquei o número da minha casa e três toques depois o atendeu.
- Alô!
- ! - falei animado, ao ouvir a voz dele. Não é viadagem, é saudade.
- , cara! Como estão as coisas aí?
- Estão bem, eu acho. - dei de ombros, mesmo ele não podendo me ver. - A está aqui.
- A está lá, ! - ele berrou e eu ouvi o gritando alguma coisa e os dois rindo loucamente. - Ele disse para você aproveitar.
- Como se ela me deixasse a tocar... - resmunguei baixo. - Enfim, só liguei para ouvir a voz de vocês e... Isso foi gay pra caralho.
- É a abstinência, é ? - deu sua famosa gargalhada e eu tive que rir junto. - Uns dias sem mulher e fica assim, é foda.
- Eu sinto falta disso, quero voltar logo pra casa... - suspirei.
- Não pensa nisso agora, pensa na sua mãe e na , que estão aí e aproveita, de verdade.
CAPÍTULO 08
O vento frio, tipicamente londrino, fazia com que se encolhesse na cadeira da varanda, enquanto tomávamos o tradicional chá das cinco. Minha mãe virava sua xícara lentamente, olhando para algum ponto fixo a sua frente, e eu já tinha acabado o meu, então ficava só nos biscoitinhos que a Dulce fazia. O silêncio entre nós já começava a me incomodar e não consegui evitar começar a bater insistentemente o pé no chão. me dava alguns olhares tensos, como que me pedindo um pouco de paciência, mas eu não estava entendendo nada, sabe? Bufei irritado pela centésima vez.
- Quer parar? - Ela riu nervosa. - Está deixando todo mundo tenso aqui.
- Não gosto de silêncio, todo mundo sabe. - Me estiquei na cadeira, comendo mais biscoito.
- Certo... - Minha mãe falou lentamente. - Chegou à hora da gente ter uma conversa.
Pude notar a prender a respiração por alguns segundos, antes de soltar o ar lentamente. Seja lá o que estava acontecendo, aparentemente eu ia descobrir agora. Endireitei-me na cadeira, pronto para ouvir tudo.
- Pode falar.
- Não sou muito de enrolar, nem sei fazer isso... - Mamãe começou a falar, olhando, agora, nos meus olhos. - Estou doente, filho. Câncer na mama, e cirurgia já não adiantaria, no meu caso.
Meu corpo todo esfriou e eu senti um buraco abrindo em meu estômago. Minha cabeça começou a latejar e piscar os olhos poderia ser muito perigoso, pois deixaria algumas lágrimas acumuladas ali escaparem. Chorar estava fora de cogitação, não ali na frente das duas. Eu tinha que ser forte, o homem, certo?
- Mãe... - Me ajoelhei em sua frente, tomando suas mãos entre as minhas. - Como pode deixar chegar a esse estágio tão avançado?
- Nunca me preocupei muito em fazer o auto-exame ou ir a médicos... - Ela lutava contra as próprias lágrimas e isso me matava. - Mas eu estou fazendo quimioterapia, comecei a pouco tempo, na verdade. Daqui a pouco meu cabelo começa a cair e...
Não podendo mais segurar, ela se entregou as lágrimas sofridas e eu não relutei em chorar com ela. A abracei fortemente, sentindo seu corpo balançar por causa dos soluços. Quando dei por mim, também nos abraçava, chorando copiosamente. Eu ainda a tinha ao meu lado, me apoiando.
Para minha mãe, uma mulher que sempre fora ligada na aparência, estar prestes a ficar careca devia ser uma parte realmente difícil do tratamento.
- Mãe, me desculpa por ter sido esse péssimo filho todo esse tempo. - Nas horas ruins a gente se arrepende de tudo, não é? A gente tem a mania incurável de só dar valor quando perde ou percebe que está perdendo algo que realmente nos importa. Foi assim com a , estava sendo assim com a minha mãe. A vida tinha resolvido virar o jogo para o meu lado, foder com a minha vida de modo a me fazer aprender alguma coisa, eu podia sentir isso.
- Deixa disso, filho, eu não fui um exemplo de mãe, também. - Fungou baixinho, limpando as lágrimas e saindo do meu abraço. - Estou cansada, vou deitar um pouco.
Levantou e eu fiz menção de ajudá-la a subir as escadas, mas ela resmungou algo como 'ainda não estou inválida' e me fez ficar por ali mesmo. levantou em seguida, limpando as próprias lágrimas e beijando minha cabeça, antes de entrar em casa, me deixando sozinho com meus pensamentos.
['s POV]
- Estou odiando te ver assim. - Antes que eu pudesse controlar, falei. Chutei-me mentalmente por restar demonstrando (bons) sentimentos para ele.
estava sentado em sua cama, com olhar vago, quando eu passava pelo corredor e o vi, através da porta entreaberta. Totalmente sem o controle dos meus atos, entrei lá e quando dei por mim, já estava falando aquela merda.
- Eu não sabia que eu tinha sentimentos, até tudo isso acontecer de uma só vez. - Respondeu, sem desviar o olhar do seu ponto fixo imaginário. Sua voz estava esmagada. - Primeiro te perdi e agora estou perdendo a minha mãe.
- Você não me... Não me perdeu... - Sentei ao seu lado, sentindo necessidade de fazer algo para ajudá-lo. Ele finalmente olhou nos meus olhos. - Estou aqui.
- Você entendeu, eu não queria você assim. Queria você minha outra vez. - Resmungou, baixando o olhar para a minha boca, me deixando desconfortável com isso. Um desconforto bom, admito. Droga, onde eu tinha perdido meu autocontrole mesmo?
- Não vamos entrar nesse assunto de novo, por favor. - Desviei os olhos e ele acariciou o meu rosto, se inclinando na minha direção até fazer seus lábios roçarem levemente na minha bochecha. Eu adorava sentir aquela boca macia contra minha pele, era tão bom, tão quente, tão confortável... Shit, lá ia minha mente me trair de novo, me deixar vulnerável aos toques daquele canalha.
- Sinto sua falta. - Sussurrou, ainda com os lábios contra a minha pele. Um calafrio percorreu minha espinha e eu tremi, fato que não deixou passar despercebido, se afastando apenas o suficiente para poder fitar meus olhos. - E você também sente a minha.
Meu suspiro baixo foi o suficiente para ele acabar com a distância entre nossas bocas. Eu não pensei que eu estava com tanta saudade daqueles beijos. Sua boca sugava a minha com vontade, segurando meu rosto com as duas mãos, como se não quisesse que eu fugisse dali por nada. Enfim, eu não ia fugir mesmo. Nossas línguas se cruzavam, ganhando ritmo e velocidade com o tempo, me fazendo soltar alguns suspiros entre um beijo e outro. Uma de suas mãos, talvez entendendo que eu não fugiria dali, desceu pelo meu ombro, passando delicadamente por cima de um dos meus seios, cobertos pela fina malha da blusa, e com o polegar ele descreveu círculos pelo bico, que já estava saliente com esses toques.
mordeu meu lábio inferior, o puxando com o um pouco de força para me fazer gemer seu nome baixinho, eu já conhecia aquele truque. E ainda assim caía nele, porque, quando dei por mim, um '' sofrido e excitado escapou num sussurro. Sua outra mão começou a descer lentamente pela lateral do meu corpo, parando na minha cintura e apertando-a. Seus cabelos já estavam bastante bagunçados pelos efeitos das minhas mãos nervosas e inquietas. continuava a descer os beijos pelo meu pescoço, parando às vezes para deixar alguma marquinha discreta na minha pele fina. Quando finalmente sua boca chegou na divisa da minha pele e da minha camiseta, ele parou, olhando para cima para poder me encarar. Tentado focalizar seu rosto, mirei para baixo e me amaldiçoei. Ver aqueles olhos brilhando de pura luxúria era o estopim para que eu não parasse mais. Fechei os olhos, me rendendo ao jogar a cabeça para trás. Entendo isso do jeito dele, começou a beijar o vão entre meus seios, ainda cobertos pela blusa. Para resolver esse problema ele levou os dedos ágeis até a barra dela e a puxou para cima de vez, enquanto eu levantava os braços para ajudá-lo. Senti-me tão indefesa quando ele parou para fitar meu colo, coberto apenas pelo sutiã de algodão branco e rosa, que me senti uma virgem. Ridículo, mas com ele eu sempre me sentia assim. Era sempre a primeira vez, porque era sempre inovador. me deitou na cama, se deitando por cima de mim, desajeitadamente, derrubando o telefone que estava na mesinha de cabeceira. O barulho me despertou para o que eu estava fazendo e onde eu estava fazendo. Arregalando os olhos, o empurrei pelo peito definido (foco, ) para longe, enquanto o mesmo parou, me encarando tão desesperadamente que eu quase deitei de novo. Quase.
- ! - Berrou quando me viu vestindo a blusa e correndo até a porta. Não resisti e virei para olhar para ele. estava com os braços abertos, querendo uma explicação, e o volume no meio das suas pernas me diziam que ele estava em uma situação precária e ia ficar muito puto comigo.
- Eu não posso mais fazer isso, .
- NÃO PODE? VOCÊ VEM NO MEU QUARTO, COLOCA FOGO E DEPOIS VAI SAIR ME DEIXANDO ASSIM?
Engoli a vontade de chorar, sabendo que ele tinha razão. Eu era uma vaca.
- Desculpa! - Saí correndo de volta para o quarto de hóspedes, onde eu estava dormindo.
['s POV]
Vadia. Desgraçada. Filha de uma puta mal comida.
Qual era a dela? Golpe extremamente sujo, coisa do tipo que eu não usaria nunca. Nem eu usaria, sinta o poder disso. Pisando forte, fui para o banheiro, liguei o chuveiro no frio e me enfiei embaixo daquelas jorradas de água, tentando acalmar não só meu corpo, como minha mente também. Ou principalmente minha mente.
Aos poucos o sangue foi esfriando em minhas veias, desembaraçando minha visão que estava turva de raiva e dando espaço para que eu começasse a pensar coisas com sentido. Maldita , ela estava achando que eu já não tinha problemas o suficiente? Ainda vinha atormentar o momento de paz que eu estava precisando, me deixar louco para fo... Ter alguma coisa com ela, e me deixa na mão. E só não foi literalmente porque eu fiquei puto o bastante para conseguir isso. Saí do banho, enrolado na toalha da cintura para baixo, procurando uma boxer limpa na mochila e vestindo sem resquícios de delicadeza. Eu podia matar alguém agora. Ou então eu podia sair para alguma festinha e descontar minha raiva na cama, com alguma garotinha ingênua. Ou nem tão ingênua.
Enquanto colocava uma roupa decente, uma luzinha de perigo piscava para mim, dizendo que tomar decisões de cabeça quente não era o melhor caminho. Quem disse que eu queria o melhor caminho mesmo? Termineis de calçar meu tênis preto e vermelho da Nike, de cano alto, e dei uma olhadinha no espelho. Não querendo me gabar, mas eu era muito gostoso, puta merda. Se eu fosse gay, me agarrava ali mesmo.
Desci as escadas, querendo e não querendo encontrar ninguém. Não queria, para não ter que dar explicações, mas queria encontrar a , para ela ver o que eu estava indo fazer. E por quê.
Mas só a Dulce estava lá embaixo, minha mãe já devia estar descansando e a devia estar no quarto dela, pensando na merda que tinha feito e em uma maneira de pedir desculpas. Pelo menos era isso que eu esperava que ela estivesse fazendo.
- Aonde vai, menino ?
- Sair, procurar algo com o que esfriar a cabeça.
- Juízo! - Ela beijou minha testa, abrindo a porta para mim. Juízo era a única coisa que eu queria perder naquela noite.
Domingo de manhã. Preciso deixar claro que domingo foi criado para me deixar depressivo, porque eu lembro que quando eu dormir e acordar, vai ser segunda-feira.
Minha cabeça girava e doía, doía e girava. Levantei da cama, me xingando por ter feito isso tão rápido, a ponto de acentuar mais ainda aquela dor tão conhecida minha. Maldita ressaca. Pelo menos eu estava no quarto, no quarto que um dia foi meu, na casa da minha mãe. Do jeito que eu estava ontem, aqui era o último lugar que eu achei que ia parar, principalmente depois de ter trombado com aquela moreninha de olho azul, como é mesmo o nome dela? Brit? Bridg? Qualquer coisa assim.
Tomei um leve susto ao encarar meu reflexo no espelho do banheiro, sim, eu estava péssimo.
- Você podia ter um pingo de vergonha na cara! - Minha mãe entrou no meu quarto, meio que berrando e me fazendo tomar um susto de verdade. Quando viu que eu estava no banheiro, com a porta aberta, veio andando nervosamente na minha direção.
- Do que a senhora está falando? - Falei baixo, com dor de cabeça, mas ela recomeçou a gritar.
- Você diz para mim que quer reconquistar a ! Desse jeito? Voltando bêbado às quatro horas da manhã para casa, cheio de marca de batom pelo pescoço! - Olhei no espelho inconscientemente procurando pelas marcar. Sim, estavam lá, mas não eram bem de batom.
- A senhora não sabe o que ela fez, não a defenda! - Continuei falando baixo, quem sabe ela notasse a minha dor e parasse de berrar também.
- Nada, ouviu bem? Nada justifica isso. A garota foi embora assim que acordou. - Minha mãe voltou para o meu quarto, sentando na cama e parecendo debilitada. Só então lembrei da fragilidade da sua saúde. Sentei ao lado dela, enterrando o rosto nas mãos.
- Desculpa, mãe. Não devia fazer a senhora passar por isso.
- Nem a . - Ela a defendeu de novo. - Preciso deitar.
- Prometa, sim? - Minha mãe acariciava meu rosto, com os olhinhos brilhando. Daquele jeito, parecia uma criança. Sorri para ela, beijando sua face.
- Prometo que vou tentar. - Ri e ela gargalhou.
- Você não tem jeito! - Balançou os cabelos ralos. - Prometer que vai tentar se comportar já é alguma coisa. Venha me ver mais vezes.
- Eu vou vim, sim. Isso eu prometo, com certeza. - Abracei-a forte e me virei para a Dulce. - Para ver a senhora também, Dulcinha.
A abracei antes de entrar no carro, pegando a conhecida estrada de volta para Londres. Ainda não estava cem por cento curado da maldita ressaca, mas precisava voltar para casa ainda hoje. Tinha prometido que só iria passar o fim de semana, e algumas promessas eu cumpro.
Minha raiva da estava passando, eu não tinha o direito de ficar com raiva. Ok, talvez eu tivesse, mas eu já estava tão acostumado de ser sempre o culpado, que carregar a culpa sozinho era hábito. Ela tinha jogado comigo, me deixado em um estado que não devia ser permitido deixar homem algum se não fosse chegar até o fim.
Eu tinha que parar de pensar sobre isso um pouco. E ajudava pensar em como ela tinha sido carinhosa comigo, momentos antes de fazer a besteira. O jeito como ela demonstrava estar preocupada comigo, mesmo não querendo demonstrar isso. A sempre foi muito engraçada. Sentimental ao extremo, mas sempre com vergonha de deixar as pessoas notarem isso, se escondendo atrás daquela barreira invisível que quase me manteve afastado de início.
Mas quando ela confiava em alguém, não tinha medo de expor tudo. E era isso, ela não tinha mais confiança em mim, por isso havia reconstruído aquele murinho particular.
Impressionante, eu não conseguia parar de pensar nela um minuto. , vinte e quatro horas por dia pensando em uma garota. Gargalhei alto, achando aquilo a coisa mais engraçada do mundo, e isso podia ser ainda o efeito do álcool. Mas, cara, eu me conheço melhor do que ninguém e eu nunca me imaginei assim.
Nesses dois anos de namoro, eu sempre gostei da , mas eu imaginava que quando acabasse eu nem ia ficar abalado, até porque, quem fica abalado em fim de relação são as mulheres e os homens dependentes das mulheres. Sinceramente, não sou nenhum dos dois. Ou não era dependente dela até notar que não a tinha mais.
Eu só precisava dela de volta, mas não via caminhos para isso.
CAPÍTULO 09
- CHEGOU O NOSSO GAROTINHO! - berrou quando me viu na porta de casa e correu para me abraçar. Larguei a mochila no chão, retribuindo fortemente o abraço. Poucos segundos depois, pude sentir o abraçar a gente, formando um famoso abraço coletivo.
- Como foi de viagem?
- Tranqüila, . Quer dizer... - cocei a cabeça. - O caminho foi tranqüilo, o difícil foi lá.
- Vou pedir uma pizza para a gente comer enquanto conversa, senta aí. - pegou o celular no bolso e discou o número da pizzaria sem precisar olhar em papel nenhum. Morar com os amigos dá nisso, saber decorado o número de entregas em domicílio.
Me joguei no sofá, colocando os pés sobre a mesinha de centro e os meninos já me encaravam preocupados. Pelas nossas conversas no telefone enquanto eu estava lá, eles tinha uma meia idéia do que tinha acontecido, mas precisavam ouvir a história toda.
- A fez isso? - arregalou os olhos, ao fim da minha história dramática. Me limitei a concordar com a cabeça. - E você saiu para a noite com idéia de revanche e ela foi embora?
- Vocês dois só fazem merda, cara. Deviam ganhar prêmios. - explanou.
- Eu estou mal, ok? Preciso que meus amigos me apóiem uma vez na vida.
- Não faz drama, , você sabe que a gente não costuma alisar. - o se esticou no sofá. - Vocês dois agiram de forma errada.
- Eu só fui me defender. Dizem que o ataque é a melhor defesa. - coloquei os braços para o alto.
- Vingança só gera vingança. Que vai gerar mais vingança. É um ciclo sem fim. - filosofia por .
Fitei meus próprios pés sem acreditar que nem o apoio dos meus amigos eu ia ter naquela hora. Maldita hora. Terminamos de comer a pizza e eu fui para o meu quarto, arrumar minhas roupas e minha cabeça, que estava uma bagunça ridícula.
['s POV]
- Preciso beber. - comuniquei, virando mais um copo de... De qualquer coisa que tava em cima do balcão daquele pub chato.
- Mais? Se você entrar em coma alcoólico, sua mãe vai colocar a culpa em mim. - fez gracinha e eu apenas o ignorei, sentindo o álcool queimar minha garganta. Odiava bebida, odiava o efeito da bebida, para falar a verdade. Ela era uma das principais culpadas pelas minhas brigas com o idiota do . Por que eu já estava pensando nele de novo? - , é sério! Pára de beber.
- Só preciso me desligar um pouco. Minha cabeça está tão confusa. - choraminguei e encostei a cabeça no peito dele. passou o braço em volta da minha cintura, me deixando ficar acomodada nele.
- Beber não vai ajudar muito, você já devia saber disso.
- Cala a boca. Preciso descansar.
A música alta já estava me irritando e me deixando com dor de cabeça, primeiro efeito do álcool no meu sangue. Sem falar nada para não piorar a dor, abri minha bolsa, peguei um dinheiro, deixei em cima do balcão e saí puxando meu amigo pela mão para fora daquele lugar. Caminhei segurando a mão dele até o estacionamento e parei quando chegamos ao carro. Me apoiei nele, sentindo minha cabeça girar e meu estômago reclamando da merda que eu tinha feito. Oi, gastrite, quase me esqueço de você.
- Tudo bem aí? - segurou meu cabelo, temendo que eu vomitasse. Respirei fundo, abaixando a cabeça. - Acho que você tem feito muita coisa errada na sua vida, ultimamente.
- Como? - perguntei confusa.
- Você achou que o melhor para você era mandar o embora da sua vida e você estava convicta disso. Não totalmente, eu sei que seu coração doía só de pensar nessa possibilidade, mas você estava pensando no seu bem. - colocou uma mecha do meu cabelo para trás da orelha. - Você não é a mesma, . Mudar é uma coisa legal, mas quando a gente muda para melhor. Mudar para pior, é ridículo. Você era a pessoa mais cheia de vida que eu já conheci, vivia sorrindo, se divertindo. Olha no que você se transformou.
O indicador dele estava apontado para minha testa e subitamente senti nojo de mim mesma. Eu estava acabando com minha vida por causa de um idiota feito . Eu devia ser mais traste que ele para estar fazendo isso.
- Eu não sei o que fazer.
- Caralho, . O nunca foi exemplo de bom namorado, mas você estava feliz com ele, salvo os momentos que brigavam. - rolou os olhos. - Mas ele sabia te fazer feliz, daquele jeito imbecil dele, mas sabia. Eu odeio te ver acabada assim.
Fechei os olhos, escorregando até o chão e sentado ali com as penas dobradas e o rosto enfiado nos joelhos. Meus olhos ardiam, mas eu me recusava a acreditar que eu queria chorar de novo, pelo mesmo motivo. Não, eu preferia acreditar que o álcool tinha subido por minhas veias e chegado até a corrente sanguínea do meu olho.
[’s POV off]
Já era a terceira vez que tocavam a campainha da porta. Os caras tinham saído para não sei onde e eu estava deitado no sofá, assistindo True Blood, tentando ignorar o ding-doing irritante. Sabe, talvez a pessoa desistisse e fosse embora, me deixando assistir a putaria vampiresca em paz. Sabe a lei da gravidade que diz que se uma coisa pode dar errada, ela vai dar, com certeza? Não, na verdade é a Lei de Murphy, mas foda-se. O que eu queria dizer é que a pessoa não ia desistir e me deixar em paz. Levantei do sofá, colocando o copo de cerveja em cima da mesinha de centro e caminhei a curtos passos até a porta.
- Você bebe 24 horas por dia? - entrou em casa como um furacão, já reclamando do cheiro de bebida.
- É. Beber ajuda, pelo menos a bebida não me deixa na mão quando eu preciso dela.
Assisti ela rolar os olhos, sentar no sofá sem ser convidada e colocar os pés na mesinha, quase derrubando meu copo de cerveja. Sentei ao seu lado, tentando imaginar que porra ela estava pensando e fazendo na minha casa. pegou o controle remoto e desligou a televisão.
- Precisamos conversar.
- Agora você quer conversa? Magnífico. - quase bati palmas com minha ironia. Eu não ia facilitar para ela, mesmo estando me corroendo de curiosidade e expectativa.
- Você é um idiota, não sei como um dia me apaixonei por você. - soltou o ar, irritada.
- Veio até minha casa falar isso? Por favor, , não se dê ao trabalho.
- Cala a boca e me escuta, . - Arregalei os olhos, achando graça na atitude dela. Uma coisinha daquele tamanho e frágil botando moral em um cara como eu. Era por isso que eu a amava, cara. - Não dá para continuar assim, sabe? – começou. - Odeio ficar longe de você, porque de um jeito bizarro você me faz bem. Mas voltar a ser sua namorada nem se passa pela minha cabeça - cocei a nuca, tentando achar uma solução para aquilo, mas parecia impossível. - Cheguei a conclusão que podemos ser amigos.
- AMIGOS? , você usou drogas?
- Por quê? A gente era antes, não é?
- A gente era amigos porque eu queria você, , eu tinha esperanças de te conquistar. - desabafei, sentindo o olhar incrédulo dela sobre mim. - Mas e agora? Você deixou bem claro que não tenho nenhuma chance de voltar contigo. Você é uma garota incrível, cara, a melhor pessoa que eu já conheci, mas ficar sendo apenas seu amigo é foda para mim.
- A gente tem que superar isso, . - a voz dela soava baixa e lenta. - Sermos amigos ajudaria.
- A quem? Não a mim! - enterrei a cabeça nas mãos. - Chegamos a um ponto onde o meu melhor não é o melhor para você.
confirmou e se levantou. Levantei a cabeça para acompanhar seus movimentos. O nariz dela estava vermelho, e esse era o primeiro sinal de que ela poderia chorar a qualquer instante. Levantei do sofá e a abracei.
- Eu aceito ser seu amigo, se isso for te fazer bem.
Eu, e entrávamos na faculdade, atraindo naturalmente olhares femininos. Às vezes, quando andávamos assim em bando, eu me sentia em um filme americano idiota, onde eu era o playboy gato e burro.
Burro, achei um adjetivo perfeito para mim. Eu queria saber de onde eu tinha tirado a idéia de que ser amigo da poderia dar certo algum dia. Ah, tirei do rostinho triste dela. Não consegui ver minha garota triste e cedi ao pedido dela.
- , se eu tiver que repetir isso mais uma vez, vamos ter problemas. - parou de andar, cruzando os braços na frente do peito, parecendo realmente bravo comigo.
- O que foi?
- Estou falando há anos que aquela ruivinha ali está te olhando, cara. - apontou discretamente uma garota ruiva e alta, encostada na parede a poucos metros de nós.
- Bonitinha. - analisei, mas logo perdi o interesse. Minha cabeça estava doendo por problemas acumulados, e eu não queria ter que pensar em mais alguma coisa. Na verdade, só tinha vindo para essa merda de faculdade porque os caras me obrigaram, mas trancar ela é uma possibilidade muito analisada por mim.
- Bonitinha? Qual é, ? Está negando pra mulher agora? - arregalou os olhos, muito previsível.
- Estou deixando ela para você, cara. - bati nas costas dele. - Viu como eu sou um bom amigo?
- Você está virando gay, não é? Pode falar, somos seus amigos e vamos entender.
Cerrei os olhos para o e recomecei a andar, só parando quando já estava dentro da sala, para sentar no meu lugar ao fundo. Tirei o iPod do bolso e meti os fones de ouvido, me desligando dos comentários que os garotos faziam sobre a minha masculinidade. Ou falta dela.
Que idéia, eu gay? pode ser tudo, menos gay. Essa palavra nem consta no meu vocabulário, para começo de história. Eu gosto de mulher, ponto final. Então porque eu estava me importando tanto com isso. Ok, eu estava com medo de estar virando gay. Isso pode acontecer com qualquer pessoa, certo? Tipo, um cara bem pegador virar gay de uma hora pra outra, ou depois de um fora bem foda da garota que gostava. Certo, eu tinha muitas possibilidades de virar gay.
- NÃO! - berrei, atraindo a atenção de todos na sala para mim. Corei violentamente, não acreditando que eu realmente tinha feito aquilo por ter medo de virar gay. e me encaravam confusos, procurando alguma explicação plausível para meu ato. Abanei as mãos no vento, como quem dissesse que não era importante e abaixei a cabeça, voltando a concentração para a música que saía do iPod. Naquela hora eu não sabia nem quem a cantava, imagine o seu nome.
- , o que aconteceu na aula? - perguntou, enquanto entrávamos no carro para ir para casa.
- Acho que cochilei e sonhei com... Algum coisa ruim. - menti. Ou talvez não tivesse sido uma completa mentira, eu devia estar quase sonhando... Ou melhor, tendo um pesadelo com aquilo.
- Qual foi o sonho ruim? - se esticou pelo buraco entre o meu banco e o do , que dirigia.
- Não lembro. - ignorei, aumentando o volume do som do carro, tentando fazer com que eles esquecessem aquilo.
- , ele não quer contar, perceba! - deu um sorriso debochado e afirmou com a cabeça. Soltei o ar, irritado.
- É, não quero. - cruzei os braços, mimado.
CAPÍTULO 10
Sinceramente, o que estava acontecendo com o mundo? O calor na cidade era impressionante, algo totalmente fora do normal para Londres e eu já estava ficando irritado. Irritado e empolado, me coçando e transpirando. Porra, eu odeio calor.
- , vem pra cá! - chamou dengosa, sentada no sofá. Assistia a algum filme bobo na televisão e insistia para que eu lhe fizesse companhia, mas eu não conseguia parar de andar de um lado para o outro da casa, tentando me abanar.
- Não vou sentar aí, não.
- Acho que tive uma ideia! - Ela levantou e saltitou, me abraçando. Coloquei um braço em volta da sua cintura, de leve. Maldita hora que aceitei esse papo de amigos - Vamos lá no jardim, , vamos. - E antes que eu associasse as palavras, ela correu me puxando pela mão. Chegamos ao jardim e eu já ia berrar com ela, porque ali com certeza o calor era mais intenso, mas então eu a vi se afastar e entendi o que ela pretendia. Um sorriso divertido brincou em meus lábios, quando ela pegou a mangueira, encaixou na torneira e abriu. Mas ao contrário do que pensava, ela não me molhou. Não, ela levantou a mangueira e mirou a própria cabeça, deixando a água escorrer por seus cabelos e corpo. Pouco tempo depois, sua camiseta larga estava colada em seu corpo, me dando uma bela visão dos seus atributos. Um arrepio percorreu minha espinha, relembrando a textura daquela pele e abandei a cabeça, tentando afastar os pensamentos. Afinal, ela era minha amiga. Preciso dizer que minha tentativa de não olhar para o formato dos seios dela colados a blusa foi totalmente em vão. - Sua vez, ! - Ela olhou para mim, e me chamou com o indicador para perto. Comecei a gargalhar muito alto, achando graça daquela situação boba em que estávamos - Anda, !
Dei dois passos na direção dela, tentando segurar o riso e ela mirou a mangueira em minha barriga, deixando-a, em pouco tempo, encharcada. Contrai meu abdômen pelo choque térmico e fechei os olhos, só aproveitando a sensação boa. Senti o jato de água mudando de direção, se concentrando agora em molhar meu peito, pescoço e algumas gotas respingavam em meu rosto. A intensidade da água foi ficando maior, então abri os olhos para entender o que acontecia. havia chegado mais perto, e molhava meus cabelos, passando uma mão por eles, ajeitando-os para trás. Coloquei uma mão na cintura dela, sentindo sua blusa molhada entre meus dedos.
- Ótima idéia, .
- Minhas idéias sempre são boas! - Ela piscou para mim e jogou a mangueira no chão. - Mas eu estou ficando com frio.
E saiu correndo para fechar a torneira e entrar em casa. E eu jurando que estava rolando um clima entre nós, pura ilusão. Ela estava levando a sério nossa amizade, puf.
- Eu não trouxe outra roupa, sabe? - Assim que entrei em casa, ela me avisou com uma carinha de envergonhada.
- Eu te empresto uma minha, vem. - A puxei pela mão, escada acima até meu quarto. Ela estava meio travada, talvez por não estar se sentindo bem em entrar no meu quarto, depois de tudo. Mas que se dane, ela não queria ser minha amiga? Nós tínhamos intimidade o bastante e eu só ia pegar uma roupa. Remexi na gaveta e peguei uma camisa verde, com alguma coisinha escrita e uma boxer preta. Entreguei para ela, que ainda estava meio parada, num canto. - O que foi? Está com vergonha de mim, ?
- Não, é... Estranho. - Deu de ombros e desconversou. - Vou tomar um banho e trocar de roupa.
Assisti ela sair andando do quarto, e entrar no banheiro, se trancando lá.
Me joguei na minha cama de barriga para cima, encarando o teto branco do meu quarto. Minha roupa estava molhada e consequentemente minha cama estava ficando também, droga, tarde demais. Levantei tirando a camisa e jogando-a em um canto qualquer daquele cômodo e tratei de tirar a bermuda junto. A sensação de umidade no corpo era boa, para compensar o calor que fazia. Abri as janelas, esperando que um vento batesse, mas o mundo conspirava contra mim e nem as árvores do jardim balançavam. Aquecimento global, efeito estufa, ou qualquer fenômeno desses.
Fiquei ali, debruçado na janela por algum tempo, não sei quanto. Só sei que tempo bastante para acabar seu banho e chegar ao meu lado, se apoiando na janela também. Ela encarava meu corpo coberto apenas pela boxer de um jeito engraçado, misturava vergonha (bem notável pela cor de suas bochechas) e... Desejo? Qual é, a não podia ter esquecido tudo que vivemos, por causa da nossa suposta amizade, não é? Ela sabia muito bem quem eu era e do que era capaz. Modéstia parte.
- Agora eu estou muito mais refrescada. - Ela quebrou o contato visual e balançou os cabelos, me molhando um pouco.
- Preciso tomar um banho também, abaixar esse fogo... Digo, calor.
gargalhou alto, jogando a cabeça pra trás. Precisava falar de como ela ficava linda quando fazia isso, de como me fazia lembrar quando ela ria assim para mim. E não de mim.
Fui até a mesinha ao lado da minha cama e peguei meu celular que estava ali, ativando o modo câmera e mirando a garota a minha frente. corou mais ainda e colocou as mãos sobre o rosto, sem entender nada.
- O que você está fazendo?
- Gravando esse momento, ! - Sorri e ela retribuiu timidamente. - Você fica linda com a minha camisa.
Apesar de estar com vergonha, ela entrou na brincadeira e fez pose pra foto, caindo na risada após isso. Coloquei a foto como plano de fundo e deixei o celular em cima da mesinha, de volta.
- Vamos comer alguma coisa? - Você. - Vamos fazer pipoca! - Espantei meus pensamentos impuros e corremos pra cozinha.
entrou em casa, carregando algumas sacolas de compra. Fiz sinal para ele fazer silêncio e então ele notou que a estava dormindo, deitada no sofá e com a cabeça apoiada no meu colo. Tínhamos feito pipoca e assistido um filme romântico e bobo até ela não agüentar e cair no sono. balançou a cabeça e foi guardar as compras na cozinha, estando de volta à sala em pouco tempo.
- Que loucura é essa? A cozinha está toda bagunçada, o tapete da sala está molhado! - Não quero nem ver quando ele subir e ver o estado do banheiro. - Você pirou?
- Shiu, cara, fala baixo. - Fiz sinal de silêncio de novo. - A gente só se divertiu um pouco hoje, o que tem de mais?
- O problema é que você sabe que isso não vai dar certo. Essa história de amigos sem benefícios vai acabar machucando os dois.
- Não seja pessimista, hoje o dia foi bem legal... - Sussurrei de volta.
- Esquece, faz o que você quiser, . - Ele abanou as mãos no ar, subindo as escadas. - Minha parte eu fiz, eu avisei...
se remexeu no meu colo e abriu os olhos, me encarando confusa.
- Será que ele tem razão? - Perguntou, com uma carinha bem triste.
- Não, nós estamos nos dando bem, não é? - Apesar de acreditar muito no que o disse, eu não podia falar aquilo para ela. - Somos os melhores amigos que alguém poderia ter.
Ela se levantou, ficando sentada ao meu lado e beijou carinhosamente minha bochecha. Encostou a cabeça no meu ombro e ficou ali algum tempo, que eu acredito fosse para despertar inteiramente do sono. Quando achou que já estava boa, levantou.
- Vou embora, .
- Já é tarde, fofa. Eu vou te levar. - Levantei, arrumando minha roupa amassada no corpo. Por falar em roupa, ainda estava com a minha e, pelo jeito, ia com ela para casa. Eu não a culpava, a roupa dela ainda estava bastante molhada.
Já no carro, ela ligou o som, deixando uma música animadinha tocando, em uma estação de rádio qualquer. A casa dela não era longe da minha, então em poucos minutos eu estava estacionando meu carro na frente daquela casa bonita, branca e grande. As luzes do primeiro andar estavam acesas, mostrando que estava em casa. E, provavelmente, com o , já que na nossa casa ele não estava. pareceu ter o mesmo pensamento que o meu, porque soltou o ar, frustrada.
- Ficar no mesmo ambiente que esse casal é tenso... - Encostou a cabeça no vidro da janela do carro. Estava sem coragem de sair de lá.
- Posso ficar te fazendo companhia até o ir embora.
- Não, já ocupei seu tempo demais por hoje... - Dei um tapinha na testa dela, a fazendo resmungar alguma coisa.
- Você sabe que é um prazer passar meu tempo contigo.
abriu a boca algumas vezes, mas não emitiu som algum. Ficamos nos encarando, sentindo o clima no carro mudar um pouco. Eu sempre falava alguma merda para acabar com a tranqüilidade que tinha entre a gente, e às vezes eu falava sem nem notar, sem nem ser de propósito. Inocentemente. Certo que inocência é uma coisa que eu perdi há muito tempo, mas resquícios dela ainda estavam em mim.
- Eu gosto quando você fica calado, é inteligente. - Falou sério e depois gargalhou. Tinha como não acompanhar aquela risada tão contagiante? Quando dei por mim, já estava rindo com ela.
- Você é tão boba, , acho que é por isso que eu te amo.
- Não diz que me ama, . É estranho... - Fez bico e apertei suas bochechas.
- Nunca te disseram que a amizade é uma forma de amor? - Pisquei vitorioso para ela, que ficou vermelha. Ela bem sabia que o amor que eu estava falando não era de amigos.
CAPÍTULO 11
['s Point Of View]
Entramos em casa, nos deparando com uma cena tão... Fofa, eu diria em outra época, mas, no momento, eu chamo de nojenta, irritante, frustrante. Isso, frustrante!
e jantavam à luz de velas, um olhando nos olhos do outro, aquela coisa super apaixonada. E frustrante, para mim. , ao meu lado, nem pareceu notar meu desconforto e foi entrando, atraindo a atenção do casal para nós. sorriu, largando os talheres na mesa para falar com a gente.
- Chegaram na hora certa! – Não, , hora errada. - Venham jantar com a gente!
Não, , ideia errada. Olhei de canto de olho para o , esperando uma salvação, mas ele é muito idiota e confirmou com a cabeça, já me arrastando para sentar à mesa. Onde eu enfio essa faca mesmo?
- Hm, lasanha quatro queijos, minha preferida! - Ele fez um legal com a mão, se servindo.
- Estamos atrapalhando o casal, imbecil! - Chutei ele por baixo da mesa, que me olhou com um sorriso maléfico. Oh, ele tinha percebido meu desconforto e estava fazendo de propósito? Notal mental: matar ele.
- Que nada, . Nossos amigos nunca se importariam de dividir o jantar com a gente, não é? - confirmou com a cabeça. O que mais ele podia fazer? - Afinal, já jantamos juntos tantas vezes antes.
Cretino, ficar relembrando nosso passado, quando saíamos em dois casais, é golpe extremamente sujo e bem do estilo dele mesmo. tentava me dizer algo pelo olhar, mas eu estava tão concentrada em não voar no pescoço cheiroso do que não conseguia manter uma conexão de olhares no momento. Pescoço cheiroso? Eu realmente disse pescoço cheiroso? Claro que eu disse, eu estava sentindo o cheiro daquele perfume masculino desde que ele tinha saído do banho e tentava controlar meus hormônios ativados por aquela essência sensual. Tarefa difícil, ainda mais depois de ter visto aquele homem de cueca, mas eu sou , sou forte e o não exerce nenhum poder sobre mim.
- , o ligou mais cedo... - falou, e eu senti uma alegria por dentro. Claro, hora de retomar o jogo.
- Ah, que saudades do meu bebezão lindo! - Fiz uma cara exageradamente fofa, fazendo soltar o ar, irritado. Jogo empatado, hora de virar. - Preciso muito falar com ele, licença, pessoas.
Saí saltitando da mesa, como se estivesse indo fazer a coisa mais importante da minha vida. E espero que aquele ser sentado à mesa com cara de bunda tenha achado exatamente isso.
Na verdade, corri para o meu quarto e comecei a rir, esquecendo completamente do recado que havia me dado. Joguei-me na cama, sentindo a tal amada sensação de vitória. Eu podia ser amiga do , podia ter proposto essa ideia louca, mas eu ainda gostava dele, apesar de me odiar por isso, e era bom sentir que ele gostava e sentia ciúmes de mim. Toda mulher gosta disso, seria hipocrisia negar.
Ainda rindo, vi uma cena que eu não estava pronta para ver. Não mesmo.
estava em pé, na porta do meu quarto, olhando fixamente para mim. Aos poucos meu riso foi sumindo, até eu ficar séria, como ele estava.
- O que foi? - Consegui perguntar com a voz falha. Ele fechou a porta atrás do seu corpo e girou a chave, a guardando em seu bolso. Pensamento do momento: Fodeu.
Ignorando totalmente o que eu tinha perguntado, ele avançou alguns passos na minha direção, me fazendo recuar de costas na cama, até bater minhas costas na extremidade dela. Ele bateu os joelhos na cama e então parou, sem quebrar nosso contato visual por um segundo sequer.
- Não gosto do jeito como você trata o . - Então tudo era ciúmes? Não sei se gosto tanto de ciúmes quanto eu falei, eu estava ficando assustada.
- Você não tem que gostar disso.
- Você está enganada! - Ele cerrou os olhos e se inclinou um pouco sobre a cama, segurando meu braço e me puxando para perto dele. Para evitar o contato, eu levantei da cama, empurrando-o um pouco para trás.
- A gente não tem mais nada, , eu faço o que eu quiser. Com quem eu quiser.
- Como assim, 'a gente não tem mais nada'? - Ele voltou a segurar meu braço, e eu não pude evitar que nossos corpos se chocassem. sorriu maleficamente e sussurrou em meu ouvido. - E a nossa amizade?
- ... - Gemi baixinho, procurando forças para afastar ele dali, mas eu já comentei sobre o perfume dele?
- Tudo bem, por hoje vamos esquecer essa nossa amizade.
E eu só entendi o que ele quis dizer com isso, quando seus lábios grudaram nos meus, pedindo freneticamente passagem para a sua língua.
['s Point Of View]
Eu já tinha perdido o controle sobre minha mente quando a beijei, e desisti de resistir ao sentir que ela cedeu ao meu beijo numa facilidade que eu nunca imaginei que ela faria.
Entrelacei meus dedos pelos cabelos soltos dela, intensificando o beijo e sentindo a mão dela subir por meus braços até chegarem ao meu pescoço e deslizar suas unhas pela região. Soltei a mão que eu ainda segurava fortemente o braço dela e desci até sua cintura, apertando o corpo dela contra o meu e sentindo-a ofegar por conta disso. Desci mais a mão, espalmando ela na bunda da e a apertando nada delicadamente. partiu nosso beijo com um selinho e foi beijando meu queixo, chegando ao meu pescoço e demorando tempo demais ali para a minha sanidade. parecia estar realmente se divertindo naquela área do meu corpo, chupando, mordendo, beijando e recomeçando esse ciclo. Minha respiração já estava falhando quando eu subi minhas mãos por dentro da blusa dela, sentindo a pele macia e delicada se contrair com o meu toque. Subi as mãos levando a blusa comigo e parou de sugar meu pescoço para poder retirar a peça de uma vez e jogá-la em qualquer canto do quarto. Sem voltar a grudar o corpo ao meu, deu a volta, ficando por trás de mim e pondo as duas mãos nos meus ombros. Senti seu hálito quente bater na minha nuca e meu corpo se arrepiou em resposta, para, em seguida, sentir os dentes dela mordiscando minha orelha. Ofeguei, querendo virar para beijá-la, mas ela continuava segurando meus ombros, impedindo qualquer tentativa minha de sair do seu controle.
Ela escorregou as mãos por minhas costas, passando as unhas grandes por cima de minha camisa e já me dando uma ótima sensação. Quando chegou ao cós da calça, ela fez o caminho inverso com as unhas, subindo minha camisa junto e arranhando, agora sem tecido para atrapalhar, as minhas costas. Levantei os braços para ajudar a missão de tirar a peça de roupa mais fácil. Virei o corpo, ficando de frente para ela e a beijando com fúria, querendo senti-la sendo minha mais uma vez, mesmo que seja a última. Fui a empurrando para trás, até bater as costas na parede, e beijei seu pescoço com urgência, sentindo minha animação ficar mais evidente pelo suspiro que deu ao juntar mais nossos corpos. Tracei um caminho de beijos até o seu sutiã, descendo a alça dele junto com os dentes, e cheguei até seus seios, beijando-os ainda cobertos. Graças a minha experiência, tirei o sutiã do seu corpo sem mais problemas, podendo, enfim, apreciar sem barreiras seus seios a minha frente. Coloquei o direito na boca, enquanto apertava firmemente o esquerdo. Minha língua fazia movimentos circulares em seu bico rijo e jogava a cabeça pra trás, a batendo na parede algumas vezes e levou as mãos ao meu cabelo, puxando de um modo desesperado minha cabeça na direção da dela. Ela segurou meu rosto em frente ao seu e esfregou o nariz no meu, me olhando como numa súplica e depois uniu nossos lábios, puxando os cabelos da minha nuca, como se sua vida dependesse daquilo.
Quebrei o beijo, ouvindo resmungos da parte dela, e me ajoelhei em sua frente, levando as mãos até a minha boxer que ela vestia e ficava linda nela. Coloquei o indicador no elástico e puxei para baixo, revelando uma calcinha rosa tão delicada. levantou uma perna de cada vez para que eu pudesse passar a minha boxer e mandá-la para longe da gente. Segurei em um pé dela e beijei os dedinhos pequenos, subindo os beijos pela perna, chegando ao joelho e em seguida na coxa. Apertei a região, beijando e mordendo a parte interna da coxa dela, a ouvindo gemer baixinho o meu nome. Não existia melhor sensação, não podia existir. Ouvir a minha garota chamando meu nome, estando ali comigo, querendo ser minha outra vez. Finalmente meus lábios pararam na barra da sua calcinha e sem mais demora eu a puxei para fora do corpo da , a fazendo abrir um pouco as pernas. Passei o indicador pela intimidade dela, sentindo a umidade do lugar e me vangloriando pelo fato. Deslizei o dedo mais um pouco, a penetrando devagar e mantendo um ritmo agradável, enquanto meu polegar pressionava o clitóris dela, só para ouvi-la prender a respiração por dois segundos e depois soltar o ar com força.
- ... - Olhei para cima e ela tinha um sorriso divertido nos lábios. -... Você ainda está com a calça. Não gosto disso.
Sorri abertamente para ela, me levantando e tirando a calça e a boxer de uma vez só. sorriu e trocou de posição comigo, me encostando à parede e se ajoelhando na minha frente. Segurou no meu membro, mais que ereto, e começou a movimentar as mãos pausadamente, me fazendo contrair os músculos do abdômen e em seguida senti os seus lábios tocarem minimamente minha glande. Ofeguei mais e ela colocou-o todo na boca, sugando de uma forma incrível e lenta, enquanto suas mãos continuavam a me masturbar na base. Segurei seus cabelos, tentando controlar a velocidade dos movimentos, mas afastou minhas mãos, me olhando como que dizendo que ela estava mandando agora, era a controladora e eu o controlado. Eu não ligava. Encostei a cabeça na parede, com os lábios entreabertos, respirando com dificuldade e sentindo o prazer invadir todos os cantos do meu corpo. Sabendo que não ia aguentar por muito mais tempo, levantei pelos braços, a jogando na cama de qualquer jeito e deitando por cima dela. A cara sapeca dela era o combustível da minha empolgação e eu beijei a testa dela, me encaixando nela devagar, colocando o pênis lentamente dentro dela e sentindo suas unhas cravando em minhas costas. Essa era outra das minhas sensações favoritas.
- Você sentia falta disso tanto quanto eu, admita! - Sussurrei com a voz falha e ela abriu os olhos, me encarando.
- O suficiente para implorar para que você cale a boca e se mexa.
Abafei uma risada no pescoço dela e segurei sua cintura, começando a me movimentar dentro dela. ofegava, as vezes mordia os lábios para abafar um grito alto, e continuava e enterrar as unhas em minhas costas, arranhando toda a extensão dela e meu pescoço. O suor já escorria pela minha testa e o corpo de também estava úmido, mas não nos cansávamos, continuávamos a nos movimentar, agora num ritmo mais acelerado, fazendo a cama bater contra a parede. Subi uma mão até o peito dela e apertei forte, tentando canalizar tudo aquilo para outra coisa que não fossem gemidos. A gente não podia esquecer que e estavam em casa. resolveu marcar meu pescoço, abafando seus gritos e em pouco tempo cheguei ao meu limite, ao meu orgasmo. Ela também já estava perto, então estoquei mais três vezes, profundo, e ela relaxou o corpo, ofegando embaixo de mim.
Meu quarto estava bagunçado. Foi a conclusão que cheguei assim que coloquei meus pés lá. Na verdade, eu precisava de alguma coisa para ocupar meu tempo, e arrumar meu ninho foi a única coisa que eu achei pra fazer.
Tinha ficado lá até a dormir, e então vim para casa. Eu não sabia direito o que falar ou fazer quando ela acordasse, aquilo era estranho. Eu perdia totalmente o controle quando estava com ela e pensar nas consequências dos meus atos nem passava pela minha cabeça. Depois eu parava pra pensar e... Porra, a não vai mais olhar na minha cara, de novo. Ela já fez isso uma vez, custa nada fazer de novo. Eu tinha acabado com a única chance que eu tinha de reconquistar a minha garota. Eu era um idiota. Soquei a parede, e urrei de dor e raiva.
Abri a porta do guarda-roupa e comecei a jogar todas aquelas roupas nada organizadas no chão. Tinha meias entre as minhas calças jeans e eu nem vou contar o que achei na minha gaveta de cuecas. 'Se você quer organizar sua vida, comece pelo seu guarda-roupa', eu tinha visto essa frase em um daqueles programas matinais que acham que nos passam lições de vida. Ok, eu tinha gravado aquilo e estava levando como uma lição de vida, mas ninguém precisaria saber disso. Nunca.
Duas horas. Foi o tempo necessário para organizar meu armário e meu quarto. Quando acabei, estava exausto e me joguei na minha cama, de barriga para cima, dando uma bela olhada no meu trabalho. Tinha valido a pena, eu tinha que admitir. Estava bonito, eu nem sequer lembrava que tinha uma poltrona no meu quarto, tantas eram as coisas que a cobriam, e agora ela estava lá, bonitinha, encostada à parede.
- ! - Um grito vindo, provavelmente da sala, me fez fechar os olhos antes de levantar. Acho que eu estava traumatizado e não queria levar bronca de ninguém. Sabe aquele meu medo de virar gay? Pois bem, estava voltando.
Afastei as merdas dos pensamentos e fui para a sala. estava lá, com duas garotas extremamente loiras. Uma de cada lado, envolvendo-as com os braços.
- Oi, . - Sorri amarelo. – Oi, garotas.
- Olá! - Responderam as meninas em coro. sorria salientemente para mim, e então empurrou delicadamente a loira do lado esquerdo na minha direção.
- Essa é a Megan. - Falou, já indo com a outra loira para outro lugar. - Aproveitem.
CAPÍTULO 12
Olhei a garota loira que sorria para mim. Mas, sabe? Não era um sorriso pervertido, era meio que envergonhado. Eu achei aquilo fofo e engraçado. não costumava sair com garotas tímidas, ele gostava das atiradas, que não davam muito trabalho para levar para a cama. Coloquei uma mão espalmada nas costas dela e a fui guiando até sentarmos no sofá. A garota fitava as próprias mãos e eu já estava ficando nervoso.
- Desculpe...
- Megan. - ela olhou para mim e sorriu. Belo canalha eu sou, que já tinha esquecido o nome da loirinha.
- Quer me contar como veio parar aqui? - arrisquei, tentando deixar ela mais a vontade.
Eu poderia agarrá-la logo e terminar com aquilo de uma vez, como eu sempre fazia. Mas as memórias da noite com a ainda estavam bem vivas em mim, e isso era estranho.
- O seu amigo, , está afim da minha prima, a Brit... - ela começou, ainda tímida. -... E como os pais dela não a deixam sair sozinha, ela teve que me trazer. E bem... Estou aqui.
Tão a cara do meu amigo fazer essas coisas e o trabalho acabava sobrando para mim. Ok, eu não ia reclamar, não é mesmo? Tinha uma garota no meu sofá e eu não ia perder a oportunidade, qual é? Sou , não esqueçam. Passei um dos braços pelos ombros dela e aproximei meu rosto do dela, parando quando faltava um espaço mínimo para nossos lábios se tocarem. A regra de que o homem avança 95% e a mulher, os outros 5%. Ela sorriu de lado antes de grudar nossas bocas, e então sua timidez foi embora. Ela envolveu meus cabelos com suas mãos e me puxava mais para perto, enquanto eu fazia o mesmo, agora com as mãos na sua cintura. Nossas línguas se encontravam e se chocavam sem nenhuma pitada de delicadeza, se entrelaçando e me fazendo sentir o gosto dela. Não era das melhores, vou admitir, mas também estava longe de ser a pior. Eu não queria a comparar com ninguém, isso era ridículo, mas ela não chegava aos pés da minha . É difícil não fazer comparações quando a gente já provou do melhor, e, sim, eu já tive a melhor de todas. A tal da Megan desceu os beijos para o meu pescoço, permanecendo por aí tempo suficiente para deixar marcas no local. Suas pequenas mãozinhas desceram dos meus cabelos para o meu abdômen e entraram pela minha camisa, a levantando no trajeto de subida. Ok, eu devia estar controlando a situação, mas ela tinha atitude. Acho que eu gosto de mulheres controladoras, mas devo honrar minha fama de macho. Massageei os seios dela por cima da camisa, fazendo movimentos circulares com meus dedos em se bico, fazendo-a arfar e me beijar em seguida.
A companhia tocou, me fazendo dar um pulo de susto para trás. Afastei a garota de mim, que me olhava meio envergonhada agora. Essa Megan era bipolar, era santinha em alguns momentos e o capeta em outros. Levantei, tentando disfarçar o volume nas minhas calças e fui abrir a porta. Ca-ra-lho.
- ? Eu... - ela estava com a boca entreaberta e o olhava da minha barriga para o meu pescoço, só então notei que estava sem camisa. Definitivamente devia ter marcas no meu pescoço. Fodeu. - , o que você está fazendo aqui?
- Nada.
Ela se virou e começou a andar para longe de mim, quase correndo, tamanha era a pressa. Olhei pra trás e vi Megan alguns passos atrás de mim. a devia ter visto também. Certo, tudo conspirando contra mim. Lancei um olhar de desculpas para a garota e saí correndo atrás da minha menina, que já estava no meio da rua e não parava de andar. Pouco tempo depois consegui alcançá-la e segurar seu braço, a fazendo me encarar. Péssima ideia, seus olhos estavam vermelhos.
- , me desculpa, eu...
- Te desculpar pelo quê? - ela me cortou. - Você não fez nada de errado, não é? Você é solteiro e está aproveitando sua vida. Você está certo.
- Não, , por favor! Não usa esse tom comigo, eu te conheço há tanto tempo para saber quando você está...
- Sendo uma completa idiota por ter ido atrás de você? - ela me cortou de novo e respirou fundo. - , eu prometo que nunca mais vou te atrapalhar, de jeito nenhum. Me desculpa.
- , olhe para mim! - segurei seus ombros, a forçando olhar para mim. - Eu... Caramba, . Não faz isso com a gente, vamos recomeçar, vamos fazer tudo certo dessa vez...
- Eu estava tentando fazer isso! - ela chorou e se livrou das minhas mãos. - Mas não dá certo. Nunca deu e nunca vai dar.
- Eu estraguei tudo, de novo? - perguntei, sentindo um aperto tão forte no coração, que eu preferia a morte.
- Espero que você tenha chegado sozinho a essa conclusão.
fez merda. Para variar. Eu estava tão cansado de não fazer nada certo, que dava até angustia. Bendita cerveja que estava na geladeira e agora me fazia companhia, enquanto eu tentava afogar meus fantasmas nela. Se bem que eu não estava sozinho, não. A Megan continuava lá, sentadinha e bem comportada agora, no outro canto do sofá. e a prima dela que eu não lembro o nome, ainda estavam trancados no quarto dele, se divertindo. Eu também estava me divertindo, ok? Aquele programa de auditório que passava na televisão, minha cerveja espumante e a cara de tédio da loira no sofá eram bem divertidos. Mentira, quando estou bêbado fico irônico, é uma merda.
- Você está bem? - isso é pergunta que se faça para um cara no meu estado?! Soltei uma risada pelo nariz e virei o restinho de cerveja que tinha na latinha antes de olhar diretamente para a autora da pergunta.
- Nem um pouco.
- Você realmente gosta daquela garota, não é?
- Eu... Gosto sim. - ela sorriu para mim, como se eu tivesse dito a coisa mais linda do mundo. - É, eu gosto pra caralho. E estou sem ela, porque só faço merda.
- Me desculpa, tenho minha parcela de culpa nisto... - ela pediu meio envergonhada e eu abanei o ar com a mão, como se dissesse que não havia mais importância agora. - Há quanto tempo se conhecem?
- Quase quatro anos, eu acho. - cocei a nuca, sem saber ao certo. Prazer, sou péssimo com datas. - Foi tão difícil conquistar ela, sabe? E depois eu comecei a fazer uma burrada atrás da outra e ela não aguentou mais, claro. Ela merece algo melhor que eu, consigo entender isso, mas não aceitar. Eu queria ser bom para ela, queria que ela sentisse orgulho de dizer que eu sou o namorado dela. Mas nem isso eu sou mais.
- Você já pensou em dizer tudo isso para ela?
- A não me escuta, Megan... E talvez seja melhor mesmo a gente se afastar. Eu tenho que dar a chance de ela viver com um cara que realmente a possa fazer feliz.
- O mais importante para fazer a feliz você já tem, . Está dentro de você e é o seu amor.
Fechei os olhos e inspirei todo o ar que meu pulmão suportava. Amor. Era a primeira vez que eu estava lidando com aquele sentimento e era tão assustador para mim quanto é para uma criança ir para a primeira aula no jardim de infância. Se quanto mais eu amava a , mais eu me machucava, eu não estava gostando nem um pouco daquele sentimento. E eu podia sentir como ela se sentia quando me amava e eu a fazia sofrer. E isso era o que mais doía. Eu estava conhecendo a mesma dor que ela conheceu, e eu não podia aceitar a ideia de ter feito minha garotinha sofrer tantas vezes.
Talvez seja isso, a gente só aprende a amar quando põe a felicidade do outro na frente da nossa.
Três semanas haviam se passado, eu não estava nada bem. Eu saía todas as noites com o para festas, bares ou qualquer lugar que tivesse bebida e mulher. Cheguei à conclusão que eu não presto e que a estava certa em querer viver a vida dela longe de mim. achava loucura minha desistir, dizia que se era amor, valia a pena. me apoiou e disse que não tem porque homem se apaixonar
Eu estava exausto, faltava todos os dias as aulas da faculdade. Dormia tarde, acordava mais tarde ainda, já me arrumando para sair para qualquer lugar. Eu tinha perdido o ritmo das festas, então estava me reacostumando com tudo aquilo.
- Anda, , estamos atrasados! - cala a boca, . Eu queria gritar isso, mas com a dor de cabeça que eu estava, só me permitia fechar os olhos e esperar que ele sumisse da Terra. Dois minutos depois ele entrou no meu quarto, não fazendo uma cara nada boa ao me ver deitado e de boxer. - Por que você ainda não está pronto? - ele parou com as mãos na cintura, parecendo uma donzela.
- Eu não estou bem hoje, cara. - resmunguei e ele ficou incrédulo.
Minha cabeça doía demais, eu não estava brincando. E eu sentia minha garganta se fechando toda vez que eu tentava engolir algo, era assim até com a minha saliva. Meu corpo parecia estar quente, mas eu não tinha certeza sobre isso, eu nunca sei tirar minha própria temperatura sem a ajuda de um termômetro.
- Então você não vai? Vai ser uma big festa, .
- Não dá, estou com dor de garganta.
Ele me desejou melhoras, mas disse que tinha que ir para não chegar atrasado na festa, que segundo ele seria um marco histórico na cidade. Eu não estava interessado em nenhum marco histórico, obrigado.
[Flashback]
Eu estava jogando no sofá, com um pacote de batata frita no colo e um guaraná na mão, curtindo minha noite, sozinho. tinha saído com a e estava na casa dos pais, numa espécie de reunião familiar. Reunião familiar, eu até sentia falta dessas coisas, mas nunca ia admitir. ‘Os Simpsons’ passava na televisão e eu até estava me divertindo. A havia me ligado dizendo que chegaria à minha casa em pouco tempo, para eu ficar esperando por ela. Era o que eu estava fazendo, e então ela chegou. Ela tinha a chave da porta, então já foi logo entrando com um sorriso métrico no rosto. Tinha algo diferente, mas eu não sabia o quê. Sentou ao meu lado e beijou de leve meus lábios, sem tirar o sorriso do rosto. Ela era uma garota feliz, mas já estava ficando estranho aquilo. Segurei seu rosto com as mãos e a fiz me encarar.
- Posso saber o motivo desse sorriso bobo? - esfreguei meu nariz no dela, que riu baixinho.
- Tem algo a ver com o que eu estou escondendo aqui atrás! - ela levantou uma mão e eu vi uma caixinha azul marinho na sua mão. - Eu sei, você deveria me dar isso, mas eu vi e não resisti. - a felicidade dela pulava na sua voz e eu não ficando alheio àquilo, ri junto. Peguei a caixinha de suas mãos, mas antes que eu pudesse abrir, ela me segurou e disse que tinha algo para falar antes que eu abrisse. - Como hoje é um dia muito especial para nós dois, eu achei interessante selar desse jeito. - ela falou meigamente e juntou nossos lábios, começando um beijo intenso e lento, explorando todos os espaços da minha boca. Hoje er um dia especial para nós dois?
- , como assim?
- Como assim o quê? - ela levantou uma sobrancelha e eu senti minha pulsação acelerar.
- Nada, nada... Deixa eu ver logo meu presente! - mudei de assunto, ficando com medo do que eu tinha esquecido. Caralho, que dia é hoje?
Ela estava com a testa enrugada, mas mesmo assim entregou a caixinha e acabou abrindo de novo aquele sorriso lindo. Abri a caixinha e meu susto não poderia ser maior ao ver duas alianças prateadas lá dentro. Como assim, alianças? Eu era novo demais para qualquer tipo de relacionamento sério, nem sei como eu estava namorado e ela vinha com alianças? ALIANÇAS? Eu estava apavorado com essa ideia e minha cara deve ter sido bem explícita, porque o sorriso da se desfez e ela começou a encarar o chão.
- Desculpa, acho que você não quer usar um anel de compromisso, eu não sei onde eu estava com a cabeça quando comprei isso, eu só achei bonitinho e dentro tem escrito 'it's all about you', aí eu achei fofo e pensei que talvez você fosse gostar, mas claro que você não gostou e... - ela parou para tomar ar e suas bochechas estavam vermelhas. Não, , por favor, não chora.
- Eu também... Achei bonitinha! - peguei uma aliança na mão e li o que tinha dentro. Era realmente fofo, mas... Compromisso?
- Tudo bem, eu devolvo na loja e...
- Não, ... Mesmo que eu não use por enquanto... Ela é minha e vai ficar guardadinha, certo? - segurei uma mão dela e coloquei o anel no seu dedo. O meu, eu coloquei de volta na caixinha e guardei no bolso. - Só não estou totalmente pronto para andar com um anel por aí, desculpa.
Ela ficou olhando o anel no próprio dedo e aos poucos sua respiração foi voltando ao normal. Então ela sorriu de novo e me olhou com uma cara sapeca.
- E o que você comprou para mim?
Eu deveria ter comprado alguma coisa? Oh, fodeu. agora me olhava como quem tinha entendido tudo, ela entedia que eu não lembrava que dia é hoje, que eu não comprei presente nenhum, que eu sou um inútil.
- ...
- Eu entendi, você é um imbecil. E eu me sentindo culpada por ter sido uma fofa com você.
Ela se levantou e eu fiz o mesmo, a abraçando antes que ela pensasse em sair dali. Ela se debatia contra mim, mas eu a segurava cada vez com mais força, fazendo os tapas e murros irem diminuindo a cada segundo. Ela gritava alguma coisa que estava sendo abafada pelo meu peito. Sussurrei um 'fica calma que eu te solto', e então ela foi parando de tentar me bater e de gritar qualquer coisa. Respirei fundo antes de cumprir minha promessa e então soltei os braços deixando ela me olhar. Muito vermelho, muito vermelho estava o rosto dela.v
- Me desculpa, eu não lembrei.
- Eu notei, ! Notei que não é importante para você a gente estar fazendo UM ANO DE NAMORO!
Ela me empurrou e saiu correndo da minha casa. Passei o resto da noite encarando o tal anel de compromisso e me sentindo o ser mais nojento do mundo.
CAPÍTULO 13
Eu ardia de febre, minha cabeça estava a ponto de explodir e, bom, eu estava sozinho em casa. Tentei levantar da cama, mas fiquei tonto e caí sentado, de volta nela. Talvez eu devesse ter comido alguma coisa quando me chamou para tomar café, para almoçar e para jantar. Mas eu estava sem fome e me sentindo fraco demais para levantar, nada muito diferente de como eu estava agora.
Sentia minha barriga vazia e minha taxa de glicose devia estar bem baixa, porque eu sentia minha visão turva. Tateei a cabeceira da cama e alcancei meu celular, o primeiro número que veio à minha cabeça eu disquei e coloquei o celular no ouvido.
- Alô? - a voz da atendeu, cansada, do outro lado da linha. Depois de quase um mês, como era bom ouvir essa voz.
- , é o ... - minha voz saiu mais fraca do que eu esperava e aquilo me surpreendeu. E deve ter assustado ela, que mudou o tom da voz no mesmo instante.
- ? Que voz é essa? Está tudo bem?
- Não, eu estou me sentindo mal... , o está aí?
- Não, ele saiu com a e... - ela ficou em silêncio por alguns instantes e respirou fundo. - Fica deitado que eu estou indo aí.
Desligou o telefone antes que eu pudesse agradecer ou dizer qualquer coisa. Ela estava vindo para cá, eu já podia me sentir melhor, até. Ok, eu não estava me sentindo nada melhor, minha garganta estava toda fechada, tanto que engolir saliva era uma atividade dolorosa demais. Deitei de volta na cama, como a tinha me mandado fazer, e me cobri com a colcha até o pescoço, sentindo muito frio, mesmo.
Não sei quanto tempo ela demorou a chegar até a minha casa, só sei que cochilei eu acho. Sorte que ela ainda não me devolveu a chave de casa e nem acho que vá devolver um dia, eu não vou cobrar, vou?
Acordei com a mão pequena e fria da em contraste com minha testa quente, e abri os olhos devagar. Ela me encarava, confusa e assustada. Pegou um termômetro que estava na mesinha ao lado da minha cama e enfiou embaixo do meu braço, porém ela estava sendo delicada e aquilo era bom.
- O que você está sentindo, exatamente? - ela me perguntou, retirando o termômetro e balançando a cabeça negativamente. - 38,5ºC não é nada bom.
- Minha garganta está ferrada, eu estou tonto e, ah, eu não comi nada o dia todo.
- Você não comeu nada? Você tem noção de que horas são? - ela levantou, irritada, e abanou o ar com as mãos. - Não importa, eu vou fazer algo para você comer e, cala a boca, você vai comer sim. - Terminou a frase quando viu meu esboço de protesto e saiu pisando firme. Relembrei do dia em que estávamos com as posições trocadas, ela estava doente e eu cuidando dela. Um projeto de sorriso brilhou em meu rosto, mas um enjôo forte veio e eu me contorci na cama, reprimindo a vontade de vomitar. Se eu vomitasse agora, colocaria meu estômago para fora? Porque eu não tinha comido nada, então era bem provável. Alguns minutos depois, chegou ao meu quarto, carregando uma bandeja e colocou sobre meu colo, enquanto eu ficava meio sentado na cama, com as costas encostadas na cabeceira. Tinha uma jarra de suco de laranja, um sanduiche de queijo, torradas e um pote de geléia. - Não fiz nada elaborado, porque... Bom, ia demorar e você precisava comer logo. Depois faço uma sopa, ou algo do tipo.
- Está maravilhoso, , obrigado.
Ela sorriu de lado e caminhou até a janela, a abrindo e se debruçando para ver a rua. Continuei comendo, forçando minha garganta para que tudo aquilo atravessasse ela, mesmo me machucando. Eu estava fraco e comer me ajudaria a recuperar a força aos poucos. Só por minha garota estar ali comigo, mostrando que se preocupa ainda, era incrível. Uma sensação boa que invadia todo meu corpo.
- Se você não melhorar, vou te levar ao médico. - ela me disse, ainda olhando a rua pela janela. - Uma benzetacil deve resolver isso.
- Eu não vou a médico nenhum! - resmunguei e cruzei os braços. se virou de frente para mim e fez uma cara incrédula. - O que foi?
- Seu medo de agulha é depressivo, sabe? Olha seu tamanho, !
- Você não entende... Não é medo, é... - soltei o ar, irritado. Não gostava quando ela dizia que eu tinha medo de agulha, me sentia um covarde. Eu não tinha medo, eu... Tudo bem, eu tinha medo sim, mas ela não precisava ficar dizendo, não é? Cada pessoa tem seus medos, e eu tenho medo da dor que a merda da agulha me causa.
- Eu saí da minha casa para te ajudar, se você não melhorar, vamos ao hospital e fim! - sentou na poltrona do lado esquerdo do meu quarto e dobrou as pernas, colocando o queixo no joelho.
[’s Point Of View]
Dei um comprimido contra febre para o e esperei até ele dormir, sentada naquela poltrona. Quando notei que ele finalmente tinha pegado no sono, recolhi a bandeja e fui colocar as coisas na cozinha. Lavei os pratos que eu tinha sujado e outros que estavam ali também. Não sei como aqueles três garotos moram juntos, com tanta desorganização. Eu e , naquela casa, tínhamos surtos e mais surtos diários, porque nenhuma das duas é um poço de organização, mas também nenhuma das duas gosta de bagunça. Entende isso? Não queremos arrumar, mas queremos que esteja tudo arrumado. E esse é o motivo das nossas milenares brigas, o único motivo também.
Terminei de lavar e enxugar as louças e olhei meu relógio de pulso, já ia dar dez horas da noite. Eu estava ficando com sono, mas não podia ir para casa e deixar o ali, doente e sozinho. Onde se meteu o ? Minha mente não precisava vagar tão longe para saber que devia estar na cama de alguma vagabunda e que não voltaria tão cedo, ou mais provavelmente só amanhã. E havia saído com a , poderia ligar e perguntar se ele voltaria logo, mas não queria atrapalhar o momento dos dois. Subi as escadas em direção ao quarto do , tentando não fazer barulho para não acordá-lo. Em vão, ele já estava acordado quando cheguei lá e me olhou, surpreso.
- Pensei que já tivesse ido embora! - sua voz ainda estava fraca, e rouca.
- E te deixar nesse estado? - balancei a cabeça negativamente. Droga, por que eu não conseguia simplesmente sair por aquela porta sem me preocupar com o idiota do ? Por que eu não podia viver a minha vida e esquecer que um dia ele foi a peça mais importante dela? Ele deu um meio sorrido, com as minhas palavras, e tossiu em seguida. Aproximei-me mais da cama dele e coloquei a mão no seu pescoço. Maldita febre que não descia. - Desculpa, mas iremos ao médico agora.
Não dei ouvidos aos protestos do cara deitado na cama a minha frente e me virei, indo na direção do guarda-roupa dele. Abri a terceira porta e escolhi um casaco azul da Nike e joguei em cima dele. Voltei minha atenção para o armário e peguei a primeira calça jeans que vi lá dentro, jogando para ele também. Aquela roupa estava boa e quente para ele ir. Saí do quarto, lançando um 'cinco minutos para você estar pronto'.
Fiquei sentada no sofá da sala, esperando a donzela encantada descer. Quando eu já estava para perder a paciência e ir até lá socar a cara linda dele, o garoto apareceu. De bico, braços cruzados e evitando me olhar nos olhos, típico neném mimado. Ri da situação e o puxei na direção do carro.
[’s Point Of View]
Claro que eu não estava satisfeito por estar indo ao médico. agia como se fosse a minha mãe, me dando ordens e eu tinha que obedecer. Eu não gostava disso, nem um pouco, eu gostava de mandar e não de ser mandado! Ok, na cama isso poderia ser uma exceção, porque, sinceramente, a dominadora era instigante demais.
- Você pegou sua carteira do plano de saúde, não pegou? - ela cortou meus pensamentos obscenos, voltando para aquele assunto chato. Não poderíamos simplesmente fazer a volta e entrar em um motel? Ok, não. Eu não tinha forças nem para deixar meu amiguinho ereto.
- Aham. - resmunguei.
Depois te ter estacionado o carro em uma vaga qualquer, chegamos à recepção daquele hospital grande e com cheiro de hospital. É, eu odiava aquele cheiro de éter, me dava até tontura. Vou parar com a minha frescura assim que sairmos daqui, prometo.
tomou as rédeas da situação, conversou com a recepcionista, entregou meus documentos e só lembrou que eu ainda estava ali, porque eu precisava assinar alguma coisa.
- Podem sentar, chamaremos vocês em breve. - a recepcionista, mal-humorada, nos disse e obedecemos ela.
- Cadeira desconfortável... - reclamei, sentado, e a me olhou feio.
- Só sabe resmungar, menino chato! - me deu língua e eu sorri.
Ficamos assistindo televisão, mesmo sem prestar atenção no que acontecia. Ok, a gente fingia que estávamos assistindo televisão. Segurei uma mão da e fiquei brincando com seus dedos, e o anelar da mão direita vazio, aquilo doeu em mim. Normalmente, aquele dedo carregava a nossa aliança, que ela tinha comprado no aniversário de um ano de namoro... Aquela aliança que eu nunca usava, mas que ficava guardada na minha carteira, embora ela não soubesse disso. Continuei mexendo naqueles dedos pequenos, fingindo não ter notado nada de diferente, até que uma enfermeira chegou e chamou pelo meu nome. Seguimos até a sala do médio, em silêncio.v
Minutos depois veio a avaliação médica: infecção na garganta. Quase bati palmas para ele e perguntei se ele tinha descoberto sozinho ou tinha sido muitos anos de prática. Ok, eu não seria tão estúpido assim, na frente da . Rolei os olhos, o vendo anotar algo em uma folha de papel e em seguida estender para mim a maldita folha.
- Tome esse remédio de 12 em 12 horas, por uma semana. – falou, sem emoção na voz, e prosseguiu. – Agora, pode ir até a enfermaria, que irão te aplicar uma benzetacil.
me olhou vitoriosa e eu ri para não chorar. Caminhei lentamente para o matadouro, com sorrindo diabolicamente ao meu lado. Uma enfermeira gorda e com cara de mal-comida nos esperava, aprontando a seringa. Fiquei tonto com a imagem e a minha garota segurou no meu braço, me incentivando.
- Muito bem, , abaixe essa calça. - Abaixar a minha calça, isso estava ficando cada vez pior. fez charminho e virou de costas, como se nunca tivesse visto tudo aquilo que estava ali. Abaixei meus jeans, tentando descobrir apenas a parte traseira e deitei na maca, com a bunda pra cima. Humilhante. apareceu na minha frente e me estendeu uma mão, que eu hesitei um segundo antes de segurar firme. - Estou aqui, com você! - ela disse e em seguida senti uma agulha atravessando a minha pele e um líquido gelado entrando em meu corpo. Doía, mas nem tanto. Talvez pelo fato da estar segurando firmemente a minha mão e me dizendo palavras de apoio.
- Pronto, garotão. Talvez o local fique dolorido, mas só por dois dias. Pode subir as calças.
A enfermeira disse e saiu da sala. Eu e fizemos o mesmo em poucos segundos.
- Vai dormir aqui comigo?
me fitou, enquanto eu tirava o tênis e deitava na minha cama. Não pareceu muito satisfeita com a minha pergunta, mas também não foi estúpida ou sarcástica ao responder.
- Não vou deixar você sozinho, doente. Os garotos ainda não chegaram, então, se você não se importar, estarei deitada no sofá.
- Lá embaixo? - perguntei, antes que ela saísse do quarto. - O pode chegar bêbado e te agarrar, . - ela rolou os olhos, mas pareceu repensar no assunto. Ela conhecia o cara e sabia que eu não estava mentindo ou exagerando a respeito daquilo. Olhou minha cama de casal por algum tempo, mas balançou a cabeça negativamente, como se tivesse pensado no maior absurdo do mundo. Não era tão absurdo assim, para mim. - Pode deitar aqui. - tentei não dar nenhum sorrisinho malicioso e completei ao ver a cara de matadora dela. - Prometo me comportar.
se deu por vencida e tirou a sandália, jogando-a no canto do quarto. Abriu o zíper da calça jeans e, com alguma dificuldade, a tirou o corpo. Meu olhar acompanhava cada movimento como se eu fosse um garoto de treze anos assistindo cine privê. Ela fingiu não perceber isso e veio caminhando lentamente na direção da minha cama, deitando do lado esquerdo e puxando um pouco do cobertor para ela. Sua pele quente entrou em contato com a minha por alguns instantes e eu me arrependi mortalmente de não ter tirado a calça, para sentir a coxa dela em contato com a minha. Mas com o frio que eu estava sentindo, minha calça jeans era bem vinda. O calor da me aqueceria ainda mais. Ok, vou parar com a minha confusão!
- Se você sentir qualquer coisa, me chama. - ela sussurrou e eu a senti como uma mãe. Instantaneamente, me veio na cabeça imagens da com sua família, um marido, crianças e um cachorro, como ela sempre me dizia que queria ter. E eu não me vi naquela imagem, não era eu o cara casado com ela, o sortudo que a tinha para sempre. Meu coração ficou um pouco acelerado com isso e eu fechei os olhos, tentando tirar essa imagem de mim.
- Obrigado por estar sendo legal comigo. - sussurrei de volta. - Sei que não mereço.
- Você merece, sim! - ela procurou a minha mão, por debaixo do cobertor, e a apertou. - Você é um garoto incrível.
Só não fui incrível para você. Completei mentalmente e deixei o cansaço me vencer, ainda segurando na mão quente e pequena da .
[’s Point Of View]
Como eu era fraca, como eu era estúpida! Que merda eu estava fazendo, deitada na cama dele, COM ele do lado?
Eu não podia deixar o , doente daquele jeito, sozinho. Grande mentira, eu não QUERIA deixar ele e isso era bem diferente. Eu ainda me sentia responsável por ele, porque, querendo ou não (e acredite, eu não queria mesmo), eu ainda sentia algo muito forte por ele. Algo que eu não vou nomear, porque não é legal usar essa palavra maldita.
- Obrigado por estar sendo legal comigo. - ele sussurrou bem perto do meu ouvido e eu tremi. - Sei que não mereço.
Não, não merecia e mesmo assim eu estava lá. E estava mentindo. Só não decidi ainda se estava mentindo para mim, ou para ele.
- Você merece, sim! – automaticamente, segurei a mão dele entra a minha e a apertei. - Você é um garoto incrível.
não respondeu, talvez por não ter o que dizer mesmo e ficamos em silêncio então. Não acho que tenha demorado muito para ele pegar no sono, ao contrário de mim, que fiquei fitando o teto boa parte da noite.
Três semanas tinham se passado desde aquele horrível dia, em que eu encontrei o com outra na casa dele. As únicas coisas que lembro depois de ter saído da casa dele, praticamente correndo, foi que chorei até cansar e que o estava lá em casa, quando eu cheguei, e ficou me fazendo companhia. estava cansado daquela situação, ele era meu amigo e tinha o direito de ficar cansado.
Eu tinha passado a tarde anterior conversando com ele sobre o , e foi quando tomei a decisão de ir procurá-lo e resolver de uma vez aquela história. Obviamente, ele já tinha companhia e estava resolvendo outras histórias. O que eu não conseguia entender era, se ele andava por aí em todas as festas possíveis e imagináveis com o seu amigo galinha master, , e eu tinha fontes confiáveis de que ele estava realmente fazendo isso, por que então ele ficou tão desesperado quando me viu na porta da sua casa e ainda correu atrás de mim quando eu quis ir embora?
Era o tipo de coisa que não me parecia certa. Ele tinha outras garotas, mas não me deixava livre para seguir a minha vida, que droga era aquilo? 'Não te quero, mas também não quero que você queira mais ninguém!'?
', você é bonita e gente boa. Eu disse uma vez que você não devia envolver mais ninguém nessa história, mas estou mudando de opinião. Você devia procurar outro cara, dar uma chance a você mesma. Um cara que te entenda e esteja ao seu lado, disposto a te fazer feliz.'. Ficar relembrando essas palavras do , me faziam acreditar cada vez mais que ele tinha razão. Eu já não tinha mais medo de me machucar, eu tinha medo de quebrar o coração de outra pessoa, porque eu conhecia a dor de perto.
CAPÍTULO 14
['s Point Of View]
- E então ele tomou uma injeção, viemos para casa e dormimos. - A voz da foi me despertando aos poucos. Espreguicei-me na cama e abri os olhos, me acostumando à claridade do quarto.
e estavam conversando na porta do meu quarto, aparentemente sobre a minha saúde. Eu já estava cansado daquele assunto. Sentei de vez e senti o lardo esquerdo da minha bunda reclamar. “Talvez o local fique dolorido, mas só por dois dias”, pois é, estava mesmo. Soltei um gemido de reprovação e atraí, assim, a atenção dos dois na minha direção. A tinha profundas olheiras e o cabelo bagunçado, mas, mesmo assim, sorriu para mim. parecia bem, talvez um pouco preocupado, a julgar pela pequena ruga na sua testa.
- Bom dia, cara. Está se sentindo melhor?
- Minha bunda dói! - Eles riram e se entreolharam. Provavelmente a tinha contado do meu drama com a injeção para ele, ótimo. - Mas a minha garganta está um pouco melhor. Pelo menos eu consigo engolir a minha própria saliva.
Fiz um 'jóia' com a mão, como se aquilo fosse a coisa mais legal do mundo.
- Isso é ótimo! - disse e passou a mão pelos cabelos, tentando ajeitá-los. - Eu já vou indo, . , qualquer coisa que precisar, pode me ligar.
Não tive nem tempo de protestar, porque, no segundo seguinte, ela já tinha saído do meu quarto e também do meu campo de visão. perguntou se eu queria comer alguma e eu respondi que estava sem fome. Aí ele insistiu para que eu comesse qualquer besteira, só para não ficar com o estômago vazio e eu cedi, indo para o banheiro, fazer minha higiene matinal.
Algum tempo depois, eu estava sentado à mesa da cozinha, tomando um copo de chocolate quente. Qualquer coisa sólida ainda era meio proibida para minha garganta.
- E o , onde está?
- Não dormiu em casa. - respondeu simplesmente, aquilo não era um fato paranormal. Paranormal seria se ele tivesse dormido em casa depois de uma festa, que, segundo ele, seria um marco histórico. - Eu até quero conversar com vocês dois depois. É um assunto... Digamos que muito importante.
- Eu vou ficar curioso, cara! - Cerrei os olhos para ele, que fingia não me ver. - , me conta.
- Só vou contar para os dois juntos. E sóbrios! - Ele deu de ombros. - Se quiserem beber depois que eu contar a novidade, estão liberados.
Eu ia jogar uma colher na testa dele, por estar me deixando curioso, mas ouvimos a porta da sala batendo e passos vindo até a cozinha. tinha um sorriso mega no rosto e abriu os braços quando nos viu.
- Crianças, mamãe chegou! - Exclamou e se sentou na cadeira ao meu lado. - Noite insana, cara. Já comentei o quando adoro lésbicas? Oh, elas são tão sexy juntas, se beijando e pegando nos peitos e bunda... E, então, duas me chamaram para participar! Tem noção do que é isso? Um ménage com lésbicas? Meu sonho desde que eu comecei a puberdade.
- Adoráveis detalhes da sua noite, , realmente adoráveis! - Rolei os olhos e me fiz de vítima. - Se divertindo à noite enquanto seu amigo aqui ia parar no hospital e...
- LEVAVA UMA AGULHADA NA BUNDA! - berrou, e, junto com , começou a rir descaradamente de mim.
- OW, NA BUNDINHA? VOCÊ GOSTOU? - gritava no meu ouvido e eu o empurrei pelo peito.
- E eu ainda estou doente e com dor de cabeça, então, se as mocinhas não se incomodam... CALEM A BOCA.
Ouvi mais uns minutos de chacota até que eles foram se acalmando e parando de falar e rir, para respirarem. Melhores amigos perfeitos que fui arrumar. Lembrei dos tempos de colégio, nós três mais o James, éramos o grupo inseparável e incorrigível. Os pais deles ficavam loucos com tantas suspensões seguidas que levávamos, enquanto minha mãe se limitava a balançar a cabeça e dizer que eu nunca ia ser o filho que ele sempre sonhou. A diretora do colégio nos odiava, e, coitada, não lhe tiro a razão. Transei com a filha única dela e o colégio todo acabou sabendo, pela boca dos meus amigos, óbvio. Tirar a virgindade da garotinha dela, não a deixou nada feliz e ela tentou me expulsar do colégio, mas claro que aquilo não era um motivo legal. Então continuei lá. E aprontando.
- Vou aproveitar o momento... - esfregou uma mão na outra e pediu a nossa atenção. - Tenho algo para contar para vocês, caras.
- , pega o gravador lá na minha gaveta! - me cutucou. - Eu tenho quase certeza de que ele vai assumir que é gay.
Enquanto a gente ria, rolava os olhos e pegou duas tampas de panelas e as bateu, causando um barulho filho da puta. Qual a parte de “eu estou doente e com dor de cabeça” aquele puto não tinha entendido?
- Prestem atenção, é sério.
- Tudo bem, tudo bem! - levantou as mãos, se rendendo.
- Esse tempo todo que a gente se conhece, vocês foram os melhores amigos que alguém pode ter. E eu queria que o James estivesse aqui para ouvir também, mas ele seguiu o caminho dele... - A nostalgia acertou em cheio nós três, ao lembrarmos de que o nosso amigo tinha mudado de país há dois anos, para assumir os negócios da família. - Mas depois lhe ligarei e contarei tudo. Enfim, caras, eu cresci com vocês, tudo que eu aprendi sobre como ser homem, foi com vocês. Na verdade, eu sei que nós aprendemos juntos, com nossas experiências e erros e todas essas coisas. Mas eu não consigo olhar para trás e achar UM momento em que vocês não estão presente. Quando a minha vó ficou internada e eu tive que atravessar o estado para vê-la, vocês perderam uma semana de aula do último ano do colégio para irem comigo. E, quando ela morreu, vocês não me deixaram desistir em momento algum. Quando eu conheci a , vocês me deram forças para ir atrás dela e falar o que eu estava sentindo. Quando temos brigas de casal, vocês... Cada um do seu jeito, é verdade... - Ele olhou para a cara do e em seguida para a minha, e continuou. - Vocês me dizem coisas que podem até parecer um monte de merda, mas fazem diferença no final.
- , você quer fazer a gente chorar? - Perguntei, sentindo o nariz arder. - Nem é natal para você fazer seu discurso nostálgico...
- Não, eu... Na verdade, eu quero dizer que eu amo vocês, que morar com vocês foi a experiência mais louca que eu já tive e duvido que vou ter outra parecida. Mas é que eu e a conversamos e nós vamos morar juntos. Estamos procurando uma casa pequena, porque somos apenas nós dois, mas a gente quer tomar esse passo na nossa vida. A gente se ama, e, embora pessoas aqui presentes não acreditem no amor, ele existe. E ele é eterno. Por isso eu não tenho medo de dizer que quero passar o resto da minha vida com aquela garota, porque eu sei que ela é minha.
Sem ter o que falar, levantei e o abracei. estava fungando e aquilo me fez ter vontade de chorar também. Pouco tempo depois, outro par de braços nos envolveu e ouvi o dizer:
- Não importa no que eu acredito. O que realmente importa é você saber que é verdadeiro. Estou aqui para te apoiar em tudo, porque vocês são minha família.
['s Point Of View]
Tinha que começar a chover quando eu desci do carro? Claro que tinha, porque o mundo tinha uma grande conspiração contra mim! Ah, se tinha. Coloquei a bolsa na cabeça e saí correndo em disparada até a porta de casa, quando lembrei que, para abri-la, precisava de uma chave. Que estava na bolsa. Que estava na minha cabeça, me protegendo da água. Respirei fundo e tomei chuva na cabeça nos segundos seguintes, até conseguir entrar na minha confortável e quente casa. Joguei a bolsa molhada no chão e me joguei no sofá, querendo descansar e me esquentar um pouco. Chuvas de verão, não tinham piores. Peguei o controle e liguei a televisão, nos noticiários, fazia tempo que eu não me mantinha informada sobre o que acontecia na cidade.
Assaltos, assassinatos em série, tráfico de drogas... Ok, desliguei a televisão, porque se era para ver desgraça, eu tinha espelho no meu quarto.
Será que o estava bem? Talvez mais tarde eu passasse por lá, só para dar um oi. Talvez eu devesse deixar de ser idiota e seguir a minha vida, esquecendo qualquer resquício do meu ex no passado, que era onde devia ficar. Rolei os olhos para mim mesma e fiquei estalando meus dedos, no tédio, até a descer as escadas com um sorriso espetacular estampado na cara. Seus olhos brilhavam e eu senti medo do que estava por vir, porque ela era uma maníaca. Sério.
- , querida! - Ela se jogou ao meu lado, no sofá, sem deixar de sorrir em momento algum. - Tenho novidades.
- Boas ou ruins?
- Boas, maravilhosas, perfeitas! - Sério, eu estava com medo. Ela começou a rir de um jeito estranho, avassalador, e eu tive que rir junto.
- Então, , conte logo.
- O e eu vamos morar juntos! – Espera! O quê? Eu estava feliz por ela, juro que estava. Só não estava assimilando bem as palavras. Ela ia casar com o ? - Não é casar, sabe... Por enquanto.
Ela respondeu minha indagação muda e eu sorri abertamente para a garota apaixonada em minha frente e a abracei. Ela me abraçou forte e eu podia sentir a emoção dela. sempre foi muito sonhadora.
- É maravilhoso, . Estou realmente feliz por você.
- Estamos procurando uma casinha, ! - Os olhos pequenos estavam radiantes. - A gente ia esperar até nos formarmos, mas, por que esperar, não é mesmo? A gente se ama tanto e não queremos perder tempo.
E então ela começou a falar do amor. Dos sintomas do amor, de como ela se sentia quando o estava por perto e de como o coração dela parecia parar de bater quando ele a beijava. De como sua pele parecia queimar quando ele a acariciava e de como era bom dormir abraçadinha com ele, com o rosto enterrado em seu pescoço. Falou sobre, mais para frente, ter filhos. Ela queria ter um casal e o nome da menina já estava escolhido desde que tínhamos onze anos. Seria Louíse. E faria ballet na melhor escola de dança de Londres. Lembrei de como a gente planejava essas coisas, brincando na varanda da minha casa, com nossas bonecas. seguiu com seu plano, desde criança, e até o nome que ela dizia dar a sua filha, ela lembrava. Eu, sinceramente, não lembrava como eu chamava a minha boneca. Eu só lembro que eu queria casar e ter filhos. E um cachorro, e umas plantinhas para cuidar, no quintal.
Era uma realidade distante para mim, no momento, que nem pretendente tinha, e isso me fez ficar para baixo. Mas eu não podia estragar a alegria da minha melhor amiga, então só sorria e demonstrava interesse pelo que ela dizia.
Mais tarde, no meu quarto, eu peguei um álbum de fotografias. Eu tinha me traído no dia que peguei o com as duas garotas na cama, e joguei tudo que veio dele fora. Não tinha sido tudo, eu tinha guardado aquele álbum porque era o meu preferido. Não tinha só fotos nossas, tinha fotos da com o , tinha fotos minhas com o . Era onde as melhores fotos estavam.
Eu não ia passar o resto da tarde me sentindo isolada do mundo por não ter namorado, e, agora, não ter amiga para dividir a casa comigo. Eu não queria ser egoísta assim.
Joguei o celular dentro da bolsa, calcei uma sandália e saí andando, sem saber para onde.
['s Point Of View]
Tirei o termômetro do braço e forcei a vista para enxergar o número que estava no marcador digital, na escuridão que era o meu quarto. Não passava das quatro horas da tarde, mas eu tinha me recolhido e fechado bem as cortinas, para ficar longe de tudo que pudesse me irritar. Barulho e claridade. 36,4. Quase saí pulando e dançando Britney pelo quarto, tamanha era a minha felicidade por estar sem febre. Minha garganta também já estava quase 100% curada e minha bunda, bom, estava roxa. Mas isso era o de menos, no momento.
Levantei e fui para o banheiro tomar um banho. Precisava me sentir bem por completo e um banho ajudaria nisso. Liguei o chuveiro e fiquei esperando a água morna molhar o meu corpo inteiro, escorrendo dos meus cabelos, passando pelos meus ombros, barriga, pernas, até chegar aos pés. Era como se fosse lavando todas as mazelas do meu corpo e levando ralo abaixo.
Não sei quanto tempo passei no banho, mas, quando saí do banheiro, enrolado na toalha, da cintura para baixo, já tinha anoitecido. Coloquei um jeans surrado e uma camisa azul marinho, calcei um chinelo e penteei meu cabelo como sempre, saindo do quarto e descendo as escadas até a sala, onde e assistiam a algum filme de casal. Dei um oi rápido, e, antes que o quisesse dar uma de pai, peguei a chave do carro em cima da mesa e saí pela porta, em direção à garagem.
Eu ia passar em alguma loja para comprar um presente para a minha mãe, só para ela não achar que eu tinha me esquecido dela. Com tanta coisa acontecendo, tinha sido uma missão meio impossível lembrar-me de ligar para ela, uma coisa fundamental para qualquer filho. Então lhe compraria alguma coisa e mandaria pelo correio, junto com um cartão ou algo assim.
Guiava tranquilamente o carro pelas ruas da cidade, olhando as vitrines das lojas, imaginando se a minha mãe gostaria de algo daquilo que estava a mostra. Em troca, recebi buzinas e xingamentos.
Estacionei o carro, perto de um mini shopping e fui procurar alguma coisa no lugar. Encontrei a única coisa que eu não procurava no momento. Sentada em uma mesa, isolada, bebia vagarosamente algo na xícara impecavelmente branca do estabelecimento e tinha o olhar vago. Eu até arriscaria dizer, olhar triste.
Puxei uma cadeira de outra mesa e sentei ao seu lado, a fazendo voltar sua atenção para mim. Com um meio sorriso, me cumprimentou.
- Está melhor?
- Sim, eu tive a melhor enfermeira de todas! - Pisquei e ela voltou sua atenção para o que bebia. - O que está acontecendo? Por que esse rostinho triste?
- Ah, nada... - Sua voz saiu baixa e estrangulada, me deixando preocupado. Segurei em seu queixo, a fazendo olhar para mim. Seus olhos brilhavam pelo acúmulo de lágrimas e eu tirei alguns fios de cabelo que teimavam em querer esconder aquele rosto lindo.
- Para mim, ? Eu te conheço tão bem.
Ela me puxou pela gola da camisa para mais perto, e se aninhou em meu peito. Para seu conforto, passei um braço por cima dos seus ombros e fiquei mexendo nas pontas do seu cabelo.
- Eu odeio tanto a solidão e, agora... A e o vão morar juntos e eu vou ficar sozinha... - Sussurrou, como se fosse um segredo enorme e eu entendi o medo que ela estava sentindo. A apertei mais contra mim e pude sentir seu coração batendo fortemente contra o meu.
- Não fica assim, vai dar tudo certo, ! - Ela levou uma mão até o rosto, para limpar uma lágrima que devia ter fugido do seu controle. - Vai demorar para eles se mudarem, quem sabe, até lá... As coisas se acertam. - Eu ia dizer “quem sabe até lá, a gente volta e eu vou morar contigo”, mas isso me assustou, talvez tanto quanto assustaria ela se eu tivesse realmente pronunciado essas palavras. Morar junto era uma coisa , eu, sendo , não deveria pensar nisso. Jamais. E eu não queria acabar com o momento de trégua que estávamos tendo, deixando a chateada com alguma coisa que eu pudesse dizer. Perdi-me nos pensamentos sobre aquela frase não dita e senti meu coração acelerar, dessa vez. - Vamos para a minha casa. - Paguei a conta e a levei até o meu carro.
Fiz pipoca de microondas, peguei um refrigerante e roubei um chocolate do , enquanto a ficou responsável por escolher um filme e pegar um edredom.
Cheguei ao quarto, carregando nosso lanche e encontrei ela já deitada, com um sorriso engraçado no rosto.
- O que você estava aprontando aí? - Perguntei, indo deitar com ela e colocando as comidas por cima da gente.
- Você vai adorar o filme! - Ela bateu palminhas e depois começou a atacar as pipocas.
O castelo da Disney começou a surgir na tela e a garota ao meu lado deu um risinho. Claro, , filme infantil para completar o dia.
Certo, não era um filme infantil qualquer, era O Rei Leão 2, e só de ver os olhos dela brilharem de felicidade, eu me senti feliz também. Era gratificante ver ela se divertindo, esquecendo, pelo menos, por alguns momentos, os problemas e os medos que teria que enfrentar.
Será que eu estava mudando de verdade ou estava só agindo daquele jeito porque eu não queria perdê-la? Eu era tão pilantra que poderia estar fingindo até para mim mesmo, não é? Em outra época, eu nunca perderia meu tempo vendo filmes bobos com a só para fazê-la se sentir melhor. Eu ficava um pouco com ela, depois a deixava entregue à e fingia que ia para casa, quando na verdade ia para alguma festa.
E lá estava eu, assistindo clássicos da Disney.
Peguei uma barrinha do chocolate e passei na bochecha da , deixando meio suja. me olhou, incrédula, e encheu a mão de pipoca, jogando na minha direção. Sacudi a cabeça, rindo, fazendo cinco pipocas caírem dos meus cabelos.
- , você é um viado! - Ela cerrou os olhos.
- Nunca mais repita isso! - Tentei fazer cara de bravo, mas comecei a rir.
pegou mais pipoca no saco e ameaçou jogar na minha direção.
- Não repetir o quê? – Sorriu, sapeca. - Te chamar de viado ou te jogar pipoca?
Antes que ela fizesse qualquer uma das duas coisas, segurei sua mão, fazendo as pipocas caírem no chão. fez uma cara de estou-brava-e-estou-tentando-segurar-o-riso, e eu coloquei a outra mão na sua nuca, chegando seu rosto mais perto do meu.
- Ainda está sujo, sabe? - Passei a minha língua por toda a extensão da sua bochecha. Ela não esperou muito tempo até pegar outra barrinha e passar pelo meu queixo, lambendo e mordendo o local em seguida.
A mão dela desceu pelo meu abdômen, chegando até a barra da camisa e a levantando um pouco. Parou o movimento e me olhou nos olhos, com aquele brilho bem conhecido. Foi o suficiente para que eu acabasse com o pouco espaço entre as nossas bocas, e a invadisse com a minha língua, tocando a dela como se fosse a última coisa a fazer no mundo. Sua mão levantou mais a barra da minha camisa, dando espaço para que ela pudesse explorar o local com as unhas, me fazendo contrair os músculos da região. Desci a boca pelo seu pescoço, sugando o lugar com força, querendo mesmo deixar a minha marca ali. Era bom ela saber que me pertencia toda vez que se olhasse no espelho.
Eu não sabia o porquê da gente estar fazendo aquilo, mas eu sabia que era bom e que eu não ia parar. Por mais que uma parte de mim gritasse que seria muito pior depois que a gente transasse. Calei essa parte do meu cérebro, assim que a retirou completamente a minha camisa e girou no dedo indicador, jogando-a, depois, para fora da cama. Era sexy demais.
Mordi a parte inferior da sua orelha e ela arqueou as costas, me encarando profundamente. Deslizou uma mão pela lateral do meu rosto, até chegar a minha nuca, e puxou meus cabelos dali. Arfei com a boca entreaberta e ela me afastou, ficando em pé na cama.
deslizou as mãos pelas laterais do próprio corpo e parou no zíper da calça jeans, o abrindo lentamente, enquanto me olhava com um meio sorriso. Eu queria estar tirando aquelas roupas com minhas mãos, mas a cena era realmente excitante. Meu membro continuava a reclamar dentro da calça.
Ela retirou a calça, dando uma pequena rebolada para fazer o tecido colado a sua pele deslizar por suas pernas. Parou, ficando com a calcinha rosa com um desenho do ursinho Pooh na frente, e me chamou com o dedo indicador. Levantei na mesma hora, a carregando e a colocando no chão. Não acho que a minha cama ia aguentar com nós dois em pé em cima dela.
Ataquei o pescoço dela, puxando sua camisa para cima e tentando fazer com que ela deitasse na cama. A missão de conseguir tirar sua blusa foi cumprida, mas ela girou e me fez deitar na cama, sentando com uma perna de cada lado do meu corpo, por cima do meu, sofrido, amigo.
- Sua animação me contagiou! - Ela arranhou meu peito nu, dando uma pequena e torturante intensificada na pressão que fazia sobre a região onde estava sentada. - Por que você está com calça, mesmo?
E, antes que eu pudesse responder, ou pensar em responder, ela passou a mão sobre o volume bastante evidente, mesmo com a calça jeans, e abriu o zíper, se levantando para poder retirar completamente a peça de roupa do meu corpo. Sem voltar a sentar, ela puxou com força a minha cueca boxer e passou as unhas desde o meu pé, até a minha coxa. Envolveu meu pênis com as duas mãos e aplicou um beijo molhado na glande, começando a me masturbar com força.
O prazer era exalado por cada poro do meu corpo e sabia disso, e provocava ainda mais, intercalando entre movimentos fortes e extremamente devagar com as mãos. Olhou para o meu rosto e piscou, antes de colocar todo meu membro na boca e começar a chupar intensamente. Cada célula do meu corpo implorava por mais, e a minha pressão sanguínea aumentou demais, me deixando em ponto de explodir. Levei as mãos até o seu cabelo e a puxei para cima, colando nossos lábios e invertendo as posições. Por cima dela, desci os beijos até seu colo, envolvendo um de seus seios com a minha boca e pressionando seu mamilo com a minha língua, enquanto a minha mão descia pelo seu corpo, até chegar a sua intimidade já umedecida.
Brinquei com os dedos na sua entrada, sem a penetrar e ela resmungou “anda logo, ” em meio a um gemido, e eu deslizei um dedo para dentro dela. arranhava as minhas costas com força, me fazendo parar de beijar seus seios para arfar. Aproveitando a parada, desci a boca pela sua barriga, passando a língua por toda a extensão do seu corpo, até ficar de cara com o seu clitóris. Olhei para o rosto dela, que estava suado e tinha um olhar de desejo, que me fez queimar por dentro. Passei a língua bem lentamente por ali e gemeu meu nome, sofregamente. Repeti o movimento só para ouvi-la me chamar mais uma vez, e meu membro pulsou, querendo estar dentro dela. Eu não ia aguentar mais muito tempo e sabia que ela também não. Subi os beijos pela barriga, do mesmo modo que tinha decido e fiz nossas bocas se chocarem e nossas línguas se procurarem com tanta fúria que era difícil me concentrar na missão de entrar nela. Parei o beijo e fiquei encarando o rosto dela se contorcer de prazer enquanto eu encaixava o meu membro nela, e ela cravava as unhas nas minhas costas, fazendo a dor se misturar ao prazer, e, sem dúvidas, aquela era a melhor sensação do mundo. Comecei a me movimentar dentro dela, intercalando movimentos rápidos com lentos, como ela havia feito ao me masturbar.
Entre um gemido e outro, a gente colava os lábios e tentávamos fazer algo parecido com um beijo. Senti a pressão das unhas dela nas minhas costas aumentarem, e soube que em pouco tempo ela chegaria ao orgasmo e fiquei aliviado, porque eu estava na mesma situação e não queria terminar antes dela. Acelerei um pouco os movimentos e o corpo dela amoleceu em meus braços, para que pouco tempo depois eu gozasse dentro dela.
Rolei o corpo para o lado, ficando deitado ao lado dela, que se aninhou em meu peito.
- A gente combina em tudo... - Arrisquei falar, ainda com a respiração desregulada. - Por que não estamos juntos mesmo?
não respondeu, não me encarou, não xingou, não se levantou ou se arrumou para ir embora. Permaneceu do mesmo jeito que estava, abraçada a mim.
O cansaço estava me vencendo e eu fui fechando os olhos, entregando meu corpo à sensação de dormência, mas antes que eu pudesse estar totalmente dormindo, pude ouvir a choramingar para si mesma.
- Eu devia ter dito que não. Ele devia ter me dito que não.
CAPÍTULO 15
Quando eu acordei tinha um espaço vazio ao meu lado na cama e eu ia levantar e gritar com o espelho sobre como eu era burro e imbecil por ter caído naquele jogo da de novo, quando a vi sentada na poltrona, do outro lado do quarto.
Assim que percebeu que eu havia acordado, se endireitou no lugar, sentando-se direito e encarou os pés. Eu não sabia o que devia fazer, se eu sorria para ela, se eu ficava sério, se devia me aproximar. Eu só sentia no ar que tinha algo muito errado ali. Sua testa formava uma ruga de preocupação e sua perna balançava sem parar, por conta do seu nervosismo.
- Então. - arrisquei falar alguma coisa e ela me olhou. - Tudo bem?
Eu merecia ser aplaudido por palavras tão sábias para aquele momento, não é mesmo? Droga, eu só não sabia o que falar, tinha medo de tocar no assunto e estragar tudo, de novo.
- Não. - respondeu simplesmente e levantou, vindo sentar na beira da minha cama - Temos que resolver isso, . E resolver de verdade, sem deixar margens pra recaídas ou algo do tipo.
- Recaídas. - repeti pra mim mesmo. - Certo, , e você sugere o quê? Porque há algumas horas atrás você estava completamente entregue a mim, na sua... Recaída. Chamando meu nome e me apertando contra você como se fosse a coisa que você mais quisesse no momento - ela me olhou brava e eu forcei uma resposta. - Qual a sua sugestão mesmo?
- Nós não somos crianças, nós sabemos muito bem o que fizemos e isso não vai se repetir. - tirou uma mecha de cabelo que caia pelo seu rosto e continuou. - Isso é um ponto final de verdade, sem direito a recaídas, como eu disse.
Eu estava irritado, de verdade. Como ela dormia comigo, fazendo a minha noite ser perfeita, pra depois acordar dizendo que aquilo era um ponto final? Queria terminar a nossa história com grande estilo? Nossa, encantadora!
- Eu não sei se você chegou a perceber, - cheguei perto dela e segurei seu rosto entre as minhas mãos, mas ela evitava contato visual comigo. - Mas eu estou mudando por você, porque eu faria de tudo pra não te perder.
- Então agora você acredita que amor pode fazer milagres?
tom de deboche a essa altura não, por favor.
- Eu acredito que o amor pode fazer o que a gente quiser.
- É fácil falar...
- Então me ajude a por em prática! Escuta, eu não vou ficar aqui te explicando que eu te amo e que estou disposto a mudar por você, porque eu sei que você sabe disso. Só não quer acreditar, ou não consegue. - levantei da cama, colocando uma calça jeans e jogando uma camisa por cima do ombro. - Vou te dar um tempo pra pensar se você deve ou não acreditar em mim e então depois, quem sabe, a gente conversa.
Passei a mão pelo cabelo, tentando ajeitá-lo e saí do quarto, querendo realmente dar um tempo pra ela pensar sobre a gente. E tentando evitar mais brigas, mais desentendimentos e mais raiva. Cada vez que a gente brigava, era um tijolo sendo colocado entre nós dois pra nos separar e eu queria destruir aquele muro entre a gente.
Saí sem rumo e sem carro, só andando rápido pela rua e controlando a minha vontade de fazer o retorno, entrar em casa e segurar a pelos ombros até ela ouvir tudo que eu queria falar. Mas não era a melhor opção, não era o melhor momento. Não ia ser assim.
Ela ia pensar no que tinha feito, ela tinha que pensar e tinha que fazer isso sozinha.
Ventava forte e ameaçava chover a qualquer momento e eu bem que estava gostando daquele clima, fazia parecer que não era só o meu coração que estava de mau humor. Queria ficar distante de tudo, por um tempo. E foi ali, caminhando se rumo pelas ruas, que tomei uma decisão.
- Quando isso?
- Amanhã, . - respondi, tomando um gole de cerveja e colocando a garrafa em cima da mesa.
- E volta quando? - vez do perguntar.
- Uma, duas semanas no máximo.
Tinha resolvido passar um tempo com a minha mãe. Eu estava precisando disso e ela também devia estar querendo a companhia do filho mudado e amável.
Sairia de casa na manhã seguinte, bem cedo para não pegar estrada e ficaria o tempo que julgasse necessário. Poderia estar sendo uma atitude covarde da minha parte, fugir dos meus problemas, mas era o que estava ao meu alcance no momento para amenizar a situação.
- Bom, faça o que quiser - e vindo do sempre soava como 'melhor repensar isso, cara'.
Não tinha tempo para repensar, eu tinha que agir.
- Vou arrumar minhas coisas. - e subi as escadas indo para o meu quarto, pegando a mala preta em cima do armário e a jogando na cama. Abri o guarda-roupa e fui escolhendo algumas roupas para levar, tentando dobrá-las e jogando dentro da mala de um jeito que eu acreditava ser organizado. Depois fui pegar um tênis e um chinelo e os acessórios de higiene pessoal no banheiro.
Poucos minutos depois minha mala estava pronta e fechada, apesar da dificuldade.
Eu estava me controlando desde que tinha começado a arrumar as minhas coisas, mas agora que eu já não tinha mais nada para fazer, meus dedos coçavam em busca do meu celular. Cedi à tentação e o peguei no bolso.
xx Vou passar um tempo fora, espero que tempo suficiente para te fazer pensar xx
Digitei rapidamente e enviei para , antes que eu mudasse de ideia. Não queria ter feito aquilo, devia parecer que eu sumi sem me importar com o que ela achava ou não. Mas eu fazia tudo errado e eu precisava manter pelo menos aquela espécie de contato com ela.
Esperei até a hora de dormir com o celular do lado, mas ela não respondeu a minha mensagem.
- Boa viagem - os meninos me disseram assim que fechei a porta do carro. Dei um sorriso pra eles e acelerei, querendo chegar o mais rápido possível no meu destino. Ainda estava chateado com o fato da ter dado pouca importância pro fato de que eu ia ficar um tempo fora e tinha acordado de mau humor, pronto pra desistir da viagem. Mas juntei o pouco de masculinidade e coragem que me tinha, e coloquei as malas no carro.
Liguei o som do carro, e por ironia do destino tocava o refrão de Here Without You. Soquei o volante e aumentei o volume do som, deixando meu lado masoquista falar mais alto.
I'm here without you baby
But you're still on my lonely mind
I think about you baby
And I dream about you all the time
(Eu estou aqui sem você, querida. Mas você ainda está na minha mente solitária. Eu penso em você, querida. E eu sonho com você o tempo todo.)
Não queria, mas um filme começou a passar na minha cabeça. Eu deixando a em casa, depois de passar a tarde toda com ela e dizendo que ia estudar. Na verdade eu ia pra qualquer festa, aprontava muito e depois ia pra casa.
Depois alguém contava a ela, a gente discutia, brigava, gritava, xingava e ela ia embora, dizendo que nunca mais queria me ver. Eu comprava rosas e um ursinho e ia na casa dela, e a gente voltava.
Muitas vezes repetimos essas cenas, até que cansou. Pra nós dois.
Eu estava realmente disposto a ser um bom namorado, mas ela não acreditava.
I'm here without you baby
But you're still with me in my dreams
And tonight, it's only you and me
(Eu estou sem você, querida. Mas você ainda está comigo em meus sonhos. E essa noite, é só você e eu)
Eu não tirava a razão dela, eu não podia pedir um voto de confiança depois de tudo que tinha feito. Mas eu já tinha ido atrás dela muitas vezes, e isso deveria ser o bastante pra perceber que algo havia mudado. Havia, sim. Eu a tinha perdido. E, cara, isso doía.
Muito.
- ! - Minha mãe caminhou com dificuldade na minha direção, com um sorriso espantado no rosto. Ela estava com uma aparência péssima, eu não imaginava que em tão pouco tempo a doença ia afetá-la daquele jeito.
Deixei a mala no chão e corri a envolvendo num abraço, levantando-a do chão. Ela riu de um jeito divertido, me lembrando o sorriso escandaloso da .
- Gostou da surpresa? - perguntei e ela segurou meu rosto, beijando minha bochecha.
- Foi a melhor surpresa de todas.
Entrei em casa com ela e Dona Dulce foi logo dizendo que ia preparar um lanche para a gente. Sentamos na varanda e ficamos conversando sobre bobagens da vida, sobre o motivo pelo qual eu estava ali e sobre a doença que progredia visivelmente.
Seus cabelos estavam bem ralos e em algumas partes eles já não existiam mais, tinham profundas olheiras abaixo dos teus olhos azuis e suas pálpebras cansadas. A respiração era fraca e o jeito de falar, calmo.
- Foi bom você ter vindo, filho. - ela passou as mãos pelos poucos cabelos, fazendo um coque. - Não quero te deixar assustado, nem triste, mas acho que minha hora está chegando.
- MÃE...
- , me deixa falar. - ela repreendeu a minha tentativa de repreensão e continuou. - A gente sente isso, filho, de verdade. Mas como eu disse, não quero que você se sinta mal com isso. É a minha vida e eu já aceitei isso. Você não sabe o quão feliz estou por ter feito as pazes contigo e te ter aqui comigo, nesse momento. Errei muito na minha vida, mas Deus foi bom e meu deu tempo de consertar.
Fechei os olhos e senti vontade de chorar. Isso estava ficando cada vez mais rotineiro e me assustava, muito. Cadê o meu muro anti-sentimentos?
- Mãe, eu tô aqui. - levantei e me ajoelhei na sua frente a abraçando com força. O corpo dela balançou e eu sabia que ela estava chorando, então não pude mais segurar as minhas próprias lágrimas e me entreguei aquele choro de... Despedida.
- Vem comigo. - se levantou com dificuldade e segurou na minha mão, me levando pra dentro de casa, em direção ao seu quarto. Me fez sentar na cama e foi mexer no criado-mudo, tirando de lá um envelope branco. - Você vai guardar isso e só vai abrir quando sentir que é a hora. Promete?
Balancei a cabeça afirmativamente e ela me entregou o envelope, beijando a minha testa.
CAPÍTULO 16
Passei duas semanas tranquilas fazendo passeios ao ar livre com a minha mãe para que ela pudesse se exercitar um pouco. Cada dia que passava ela parecia mais fraca, mas nunca tirava o sorriso do rosto e sempre me agradecia por estar ali.
Dulce me chamou num canto um dia no fim da tarde e me revelou que tinha pegago a minha mãe chorando pelos cantos semanas atrás. Meu coração ficava apertado e eu estava com medo de perdê-la pra sempre e era naqueles momentos em que eu me odiava por ter sido um péssimo filho, por ter abandonado-a e por nunca ter nos dado a chance de termos tido algum tipo de relacionamento familiar. Eu sabia, no fundo, que eu não era o único culpado, mas no momento de desespero eu só me xingava e desejava que a doença fosse em mim e não nela.
Na segunda pela manhã, em que eu voltaria para casa, desci para tomar café-da-manhã e Dulce estava colocando a mesa, sempre muito farta. Uma torta de cenoura com chocolate estava posicionada no centro, pães, frios e chocolate quente completavam o banquete matinal.
- Bom dia, Dulce. - sentei do no meu lugar - E a minha mãe ainda não desceu?
- Não, querido, ela está indisposta.
Indisposta. Tentei não pensar muito nisso enquanto eu comia, mas foi em vão. Meu estômago embrulhou e eu não senti mais nenhuma vontade de tocar na comida. Empurrei o prato para longe e saí da mesa, indo lavar as minhas mãos e meu rosto na pia do banheiro. Sensação de mal estar maldita.
Subi as escadas me segurando no corrimão até o topo e procurei pela porta do quarto da minha mãe, entrando sem bater. Ela estava deitada e coberta por uma grossa manta de retalhos, assistindo à televisão que estava num volume realmente baixo. Deu um sorrisinho e então me aproximei passando a mão pelos seus ralos cabelos, descendo pela sua bochecha pálida.
- Como se sente?
- Fraca. - respondeu baixinho e segurou a minha mão - Você já se alimentou?
- Eu já, mas a senhora não. - repreendi carinhosamente - Quer que eu mande a Dulce fazer algo especial?
Ela balançou a cabeça negativamente e eu não a queria forçar nada, então concordei. Puxei a cadeira de balanço para perto da cama e me sentei, voltando a segurar sua pequena e enrugada mão. Fiquei mexendo em seus dedos até perceber que ela tinha pegado no sono.
Fechei a cortina, desliguei a televisão e liguei o aquecedor, deixando o ambiente bem confortável para que ela pudesse descansar bastante e acordar mais disposta. Beijei a sua testa antes de sair do quarto.
Foi a última vez em que a vi respirando. Não consigo me lembrar de detalhes daquele dia, só que havia desistido de voltar pra casa até que ela melhorasse e estava no quarto mandando um email pro quando Dulce abriu a porta aos gritos, desesperada e chorando, dizendo que a minha mãe não respondia e não tinha pulsação.
Não sei como consegui ligar para o médico dela e como fiquei em pé até ele chegar. Dr. Dowson me cedeu assim que viu meu estado e Dulce deve ter tomado todas as providências com o enterro.
- Estamos todos aqui, você não está sozinho. - me repreendeu, quando em meio a um soluço reclamei a Deus sobre não ter ninguém mais.
- Eu não estou pronto pra isso. - funguei, limpando as lágrimas na manga do casaco azul escuro que usava. Eu não queria ver o caixão da minha entrando num buraco e pessoas jogando terra em cima, de um modo que ela nunca mais iria voltar. Eu queria estar naquele caixão, eu queria muito.
- , antes de jogar a terra, gostaríamos que você falasse algumas coisas. - o padre tocou meu ombro - Sabe, uma tradição.
Confirmei com a cabeça, mesmo sem saber o que estava fazendo. Um discurso de morte? Que tipo de psicopatas queriam que eu fizesse um discurso de morte da minha própria mãe?
- Só umas palavras. - deu um microsorriso, me incentivando.
Depois que o caixão contendo a minha mãe já estava no buraco, sete palmos abaixo do chão, o padre me chamou para o lugar mais visível possível de toda aquela gente que eu não conhecia, exceto pelos meus amigos e pela Dulce, e pediu para que eu terminasse a oração com algumas considerações.
- Eu realmente não sou bom com isso. - resmunguei um pouco alto demais e então me recompus - Então, Deus, você está levando a minha mãe. Estou tentando não ficar bravo com Você, porque como algumas pessoas dizem, Você sabe o que faz. Obrigado, Senhor, por tê-la feito a minha mãe e por ela não ter desistido de mim nos últimos meses. Depois de uma relação cheia de brigas e rancor, o Senhor nos deu tempo para fazermos as pazes antes de nos separarmos para a eternidade. Sou grato por isso e sei que ela também é. Toda mãe é especial ao seu jeito e ela foi muito para mim. Eu posso ter feito um julgamento muito severo com ela várias vezes, cego pelo ódio, talvez ela não tenha sido má mãe na minha adolescência perturbada pela perda de um pai. - funguei novamente e senti meu rosto muito molhado - É isso, Deus, cuida da minha mãezinha porque quando eu chegar aí quero ela de volta pros meus braços.
Corri para dentro de casa assim que terminei a última frase, fugindo de ter que ver a cena da terra em cima dela. Me joguei no sofá e enterrei o rosto nas mãos, chorando mais. Eu era o homem da família, eu não devia estar chorando, eu devia ser forte. Eu era um fracasso. Eu não conseguia me manter em pé, tudo que eu pensava era que eu não tinha mais motivos para continuar vivo. Por que respirar? De que valeria a pena, afinal?
Como se fosse um sinal divino ou algo do tipo, meus amigos caíram sentados ao meu lado, me abraçando coletivamente.
- Eu sei que você é forte. - disse e ouvi murmúrios de concordância - E você tem a gente, cara, não esquece isso. Não pense em momento algum que estás sozinho, porque não é verdade e você sabe. Somos uma família ou não somos?
- Somos. - solucei.
Partimos naquela mesma noite. Eu não aguentaria ficar naquela casa, não com todas as lembranças dos últimos dias felizes que passei ali. Depois eu resolveria o que faria, se a venderia ou alugaria para me manter, como fiz com as outras. Eu só não queria me preocupar com nada, nada mesmo.
Cheguei em casa e fui direto pro meu quarto, dizendo aos meninos que precisava ficar sozinho e eles entenderam. Surpresa maior que ver a sentada na minha cama, com o rosto vermelho e a expressão de derrotada, não existia.
Levantou rápido quando me viu entrando e ficou indecisa quanto se aproximar mais ou não. Abri os braços e deixei que ela corresse até me abraçar. Eu tinha conseguido parar de chorar e não ia mais derramar lágrimas, eu havia me prometido isso. Afaguei os cabelos dela enquanto ela chorava contra meu peito e respirei fundo, olhando pro teto numa tentativa de mandar aquela água salgada pra qualquer outro lugar que não fossem meus olhos.
- Desculpa não ter ido ao enterro, eu estava com... alguns problemas.
- Tudo bem. - a afastei e alisei seus cabelos, colocando-os para trás da orelha - Eu vou ficar bem. Ou pelo menos foi o que todo mundo me disse hoje.
- Você vai sim. Você é o meu , o garoto valentão. - ela segurou meu queixo e eu quase sorri quando ela usou um pronome possessivo para me definir - E eu vou estar aqui ao seu lado sempre que precisar.
- Eu estou precisando. - entortei a boca e ela me abraçou mais uma vez, me apertando contra seu corpo como se pudesse curar a minha dor.
- Deita um pouco, vou trazer algo para você comer. - me colocou deitado na cama, me cobriu com meu manto verde e sorriu para mim antes de se afastar e sumir pela porta.
Tentei me manter acordado até ela voltar com a comida, mas meus olhos pesavam e ardiam, então me deixei levar pelo sono.
- Tudo bem, amor, eu já estou indo pra casa. - acordei com a voz da meio distante e esfreguei os olhos, enxergando-a debruçada sobre a janela e com o celular no ouvido, de costas para mim - Eu sei, mas era o e ele realmente precisava de mim.
Ela tinha chamado alguém de 'amor' no telefone? Como era isso? Meu estômago embrulhou e eu já não defini se era de fome, porque não havia comido nada no dia anterior, ou de raiva.
- , eu até entendo esse seu ciúmes do , mas ele acima de tudo foi o meu melhor amigo.
? era o AMOR da minha ?
Ela falou mais algumas coisas no telefone e parecia cansada, mas eu não prestei atenção. Eu ainda podia ouvir 'amor' e '' rondando na minha mente. Aquilo não era possível. Aliás, era, eu sempre soube que ia acabar daquele jeito, eu tinha razão de não gostar dele, afinal.
Podia até materializar os pais da batendo palmas e dizendo que era um sonho se realizando. Era o meu pior pesadelo.
- ? - me peguei falando em voz alta e ela virou pra mim, com as duas mãos sobre o peito.
- Ahn? - se fez de desentendida e caminhou até minha cama - Está se sentindo melhor?
- Não muda de assunto. - sentei bravo e cruzei os braços - , ? Logo ele?
- Eu não quero falar sobre isso agora, naõ com tudo que aconteceu com você e...
- Desde quando? A gente ainda tava junto?
- Claro que não, ! Para de falar besteiras!
Levantei da cama se senti uma tontura misturada com o embrulho na barriga. Agora eu tinha que manter o foco e esquecer a dor um pouquinho.
- Vocês estão... Namorando?
Ela confirmou com a cabeça e saiu andando, pegando a bolsa em cima da mesa de vidro e colocando sobre o ombro.
- Depois eu ligo pra saber como você está.
- NÃO SE DÊ O TRABALHO, POR FAVOR! SÓ FIQUE LONGE DE MIM PRA SEMPRE.
A tontura voltou com mais força enquanto eu gritava e eu vi os olhos arregalados da enquanto eu ia ao chão.
CAPÍTULO 17
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- Caralho, , você não podia ter esperado mais um pouco? Você sabe como o está abalado!
Aos poucos os gritos do foram ficando mais perceptivos e eu abri os olhos, vindo toda aquela cena da no telefone com o novo namorado. .
Nossa, o estava gritando e isso era realmente muito difícil. Ele estava oficialmente puto.
- Não foi por querer, droga. - ouvi a voz da rebater, porém era fraca e nem de longe era um grito.
- Quer saber? Vai embora, não quero que ele te veja aqui quando acordar. - dois minutos depois e ele estava entrando no meu quarto - Ei, cara.
- Oi. - murmurei sentindo um aperto tão grande no peito que pensei que fosse sufocar.
- Não vou falar nada, eu só vim ver se você estava respirando. - ele deu de ombros - Pode voltar a dormir se quiser, ou então me peça que eu trago algo pra comer.
- Só quero ficar sozinho, obrigado, .
Ele assentiu com a cabeça e saiu do quarto sem dar mais nenhuma palavra. Eu gostava desse espaço que ele me dava pra eu curtir a minha dor sozinho, sabe? iria querer ficar comigo, tentando me animar e essas coisas que eram boas até, mas a minha dor era grande demais pra eu querer companhia.
Perdi a minha mãe. Talvez ninguém seja capaz de imaginar o tamanho da dor que isso causa, é como se tivesse enfiado uma mão de ferro no peito e arrancado meu coração. E como se eu tivesse assistido ele dar suas últimas batidas fora do meu corpo.
Suspirei ainda deitado e até pensei em levantar e tomar um banho pra ver se algo renovava dentro de mim, mas faltou coragem pra por o plano em prática. Fiquei olhando pro teto e pensando em como seria a minha vida daqui pra frente. Impossível.
Eu não sentia a mínima vontade de voltar pra faculdade, eu não tinha um emprego, eu não sabia fazer nada. Eu era um completo inútil e foi nesse momento que agradeci pela ter me abandonado e ter um novo namorado rico, trabalhador e que sempre foi o preferido de toda sua família. Ela estava em boas mãos. E não eram as minhas.
Droga, não eram as minhas mãos tocando nela, na minha garota.
- Reage, . - falei para mim mesmo - Você tem que levantar dessa cama, levantar essa porra dessa cabeça e seguir sua vida. Ninguém vai esperar por você. A vida não fica aí esperando essa sua dor passar.
Levantei da cama e me surpreendi por estar pisando tão firme no chão. Fui até o banheiro e lavei o meu rosto antes de encarar o meu reflexo no espelho, sentindo a água bem gelada me despertando. Me encarei no espelho e procurei algo familiar naquele rosto, algo que me trouxesse uma sensação de bem-estar, de lar. Eu precisava daquilo. Não encontrei, mas uma pontinha de felicidade se acendeu dentro de mim ao lembrar de uma coisa.
'Você vai guardar isso e só vai abrir quando sentir que é a hora. Promete?' Eu sentia que era a hora, eu tinha que abrir a carta da minha mãe e sentir um pouco de carinho, nem que fosse pelas letras redondinhas dela.
Corri de volta pro quarto e abri a primeira gaveta do criado-mudo, achando o envelope branco ali. Era como se ele estivesse me esperando.
Minhas mãos tremiam um pouco quando sentei na cama e abri a carta. 'Querido,
Eu não sei como você está agora, como está seu coração depois da minha partida. Mas eu quero, eu preciso que você fique bem.
Você é meu anjinho e se eu não fui a melhor mãe do mundo quando era viva, quero deixar algumas palavras de conforto agora, porque me disseram que nunca é tarde demais. E eu quero te dizer isso. Nunca é tarde, . Se você tem um sonho, siga-o não importa a direção. É seu coração quem deve mandar em você e acredite, a razão nem sempre é a melhor companhia.
Dizem que quando a gente percebe que o fim está perto vai repensando todos os atos e eu acho que é isso que está acontecendo comigo e chego a esboçar um sorrisinho. Se eu escutasse mais o que as pessoas me falavam, eu teria tido uma vida mais feliz. Não cometa os meus erros, querido. Não deixe de amar, não se tranque em um mundo de solidão para evitar a tristeza, não dará certo.
Quando não souber o que fazer e a situação parecer impossível, feche os olhos e respire fundo. Procure a resposta dentro de você e nunca aja por impulso.
Pense na sua mãe com carinho e trace uma vida que você saiba que irá me orgulhar. Eu te amo, anjo.
Da sua mamãe.'
Desci as escadas, tomado banho, arrumado e cheiroso. e assistiam uma partida de futebol na tv e arregalaram os olhos surpresos de me ver ali, demonstrando ter uma força que eu não tinha.
Sorri para eles, os encorajando a pararem de me lançar aquele olhar de pena e me sentei no sofá, entre os dois.
- Quem está ganhando?
- Não vai funcionar. - rolou os olhos - O que você tem?
- Vontade de viver, porque eu notei que a vida é imprevisível. - respondi tentando soar decidido.
- Estamos aqui pra te apoiar nisso. - lançou o olhar conversamos-depois pro e me encarou em seguida - O barcelona tá ganhando.
Voltamos nossas atenções para a televisão e para o clássico que passava nela. Só metade da minha mente estava ligada naquela partida de futebol, confesso, porque a outra trabalhava a todo vapor buscando uma solução, uma saída ou pelo menos uma entrada pra uma vida normal. Pela minha mãe eu ia viver.
- Ah, caras. - falou - Parece que eu e a achamos uma casa legal.
- Sério?
- Uhum, e é pertinho daqui. - ele sorriu e eu e o sorrimos junto - Tem dois quartos e um quintal até grande. Amanhã vamos lá acertar tudo de vez.
- Estou feliz por vocês, é um grande passo. - o abracei meio de lado.
- , ela tá grávida? - perguntou nos fazendo rir e negou rapidamente.
- Fala sério, se ela tivesse grávida a gente não ia gastar dinheiro numa casa, ia ser tudo pro bebê.
Aquela conversa tinha um tom sério e eu nos enxerguei como três adultos falando sobre o futuro. Quem diria isso há alguns meses atrás? Nós amadurecemos demais, era até emocionante perceber isso. Perceber o se tornando homem e indo fazer a sua vida ao lado da mulher da sua vida.
Uma pontinha de inveja bateu no meu peito, mas logo tratei de afastar aquele sentimento. Primeiro, ele era meu melhor amigo. Segundo, eu não podia deixar que nenhuma pensamento me levasse de volta à , não mais.
Ela tinha me magoado pela última vez e agora, quem sabe, ela estivesse fazendo planos de casar e ter filhos com o . O cara que sempre foi o certo pra ela, rico, de boa família e decente. Meu oposto, o certo para ela.
- Não é, ?
- O quê? - perguntei voando na conversa e o me lançou um olhar super bravo.
- Eu estava falando que o tem que ter gêmeos, caso contrário vamos sair no tapa pra saber quem vai ser o padrinho do moleque.
- Fala sério, não é preciso tapas. Eu sempre fui um melhor candidato a padrinho.
- E você vai ensinar o quê de bom pro garoto? - ralhou.
- Você só vai ensinar a ele como entrar em coma alcoólico, nem vem falar de mim.
Rimos, continuando com essa pequena discussão sobre o futuro.
['s POV]
Rabisquei folhas e mais folhas de papel tentando escrever como eu me sentia, para aliviar um pouco aquele aperto no peito. Mas quando eu acabava de escrever e ia ler, as palavras não faziam o mínimo sentido. E eu as tinha escrito.
A minha vida estava uma loucura, única conclusão que pude chegar.
Eu estava namorando o meu melhor amigo como um meio de tirar o de vez da minha vida e isso me fazia duplamente vadia. Primeiro por estar usando o , mesmo com o consentimento dele. E segundo porque não estava fazendo efeito nenhum, ocupava cada espaço da minha vida ainda.
Conversei com o por telefone assim que cheguei em casa sobre isso e ele apenas disse 'vai ficar tudo bem, eu te amo' e sério, aquilo não era o que eu queria ouvir. Eu queria que ele me amasse como amiga e me apoiasse, não que ele me amasse daquele jeito, me fazendo me sentir a pior pessoa do mundo.
- Posso entrar? - entreabriu a porta do quarto e eu assenti com a cabeça, fazendo ela entrar no cômodo de vez e sentar na minha cama, jogando bolinhas de papel amassadas no chão - Que cara é essa?
- . - entortei a boca - Não quero falar sobre algo que eu não entendo, desculpa.
Ela riu jogando a cabeça pra trás e colocou as duas mãos nos meus joelhos.
- Só vim pedir a sua ajuda. - seus olhinhos brilharam - Se eu e o fecharmos contrato com a casa nova amanhã, você pode ir comigo em algumas lojas? Quero comprar as coisas do meu cantinho.
- Claro, meu anjo. - sorri, colocando as mãos por cima das dela - Será que eu tô pronta pra te deixar ir?
- Eu sempre achei que ia ter que te deixar ir primeiro. - a voz dela falhou - Não sei o que é pior.
- Nada, nada. - abracei a minha melhor amiga, e Deus, como eu a amava – Porque não vamos nos separar, fala sério. A gente tá junta desde gurias, você só vai mudar de casa.
- Obrigada por estar comigo, .
['s POV]
Só mais uma vez, me prometi enquanto penteava meus cabelos na frente do espelho. Só mais uma tentativa e então eu ia seguir a minha vida, com ou sem .
Peguei o Malbec e borrifei boa quantidade no meu pescoço, porque esse era meu jogo sujo com ela. sempre dizia o quanto gostava desse perfume e o quanto eu ficava irresistível com ele. Usaria isso a meu favor.
Terminei de me arrumar, peguei meu violão que nunca mais tinha sido usado e o coloquei nas costas, descendo as escadas procurando não fazer barulho para não ter que dar explicações aos caras. Se desse errado, eu guardaria para mim e assim evitaria mais olhares de pena ainda. Olhar de pena era algo que já estava me irritando. Eu tava fodido na vida? Estava, mas odiava saber que as pessoas sentiam pena de mim.
Coloquei a mão no bolso da calça jeans e senti as chaves do carro, mas desisti. Eu iria andando, não era tão longe assim. E eu poderia usar o tempo da caminhada para pensar e receber um vento fresco no rosto. Certo, eu só ia andando pra poder pensar mesmo, a parte do vento fresco foi frescura minha. Uma desculpa esfarrapada pro meu medo.
Sentir aquele friozinho na barriga de ansiedade era algo... Era até legal, porque me mostrava que eu não era um monstro insensível e que dentro de mim tinha algo bom, algo capaz de sentir, mesmo que fosse sentir medo.
Eu sabia que eu sentia outra coisa e que essa outra coisa era amor, mas eu ainda tinha medo de admitir isso. E agora eu estava admitindo. E indo pra casa da .
Quem sou eu?
Parei em frente ao portão branco e joguei a cabeça pra trás. Não dava pra desistir, eu não podia desistir, eu não queria desistir. Entrei pelo caminho de pedras no meio do jardim e parei debaixo da janela do quarto da minha garota, tirando o violão das costas e rezando para ela estar em casa.
- . - chamei alto e comecei a dedilhar as primeiras notas no violão - Sitting here alone thinking it through trying to convince myself that I'm not losing you.
(Sentado aqui sozinho, pensando em como me convencer que eu não estou te perdendo)
Lutei contra o nó que se formava na minha garganta para continuar a cantar e pude ver a cortina branca do quarto dela se abrir um pouco.
- Or can't you just forget the things I said
I was angry at the time but now I cleared my head
It was so strong, where did it all go wrong?
(Por que você não consegue apenas esquecer as coisas que eu disse? Eu estava chateado no momento, mas agora eu estou com a mente limpa. Isso era tão forte, onde tudo deu errado?)
colocou o rosto no meio das cortinas apenas o suficiente para que eu a pudesse ver suspirando e passando as duas mãos nos cabelos. Eu queria que ela estivesse comigo.
- So tell me why, I'm swimming against the tide
And I'm praying for a lifeline, cos I'm
Losing you
So tell me why, you don't care enough to try.
(Me diga por que eu estou nadando contra a maré? E eu estou rezando por uma vida inteira, porque eu estou te perdendo. Então me diga por que você não se importa o bastante pra tentar?)
Ela abriu as cortinas de vez e balançou a cabeça negativamente pra mim. Uma lágrima rolou pelo seu rosto e eu a imitei, chorando também. Engoli outro nó na garganta pra poder cantar, mas a minha voz já estava ficando fraca.
- You don't have to say a word it’s in your eyes
What can I do to convince you we need more time
And I know I may have made a few mistakes
But losing you is just too much for me to take
It was so strong, where did it all go wrong?
(Você não precisa dizer uma palavra porque está nos seus olhos. O que eu posso fazer pra te convencer de que nós precisamos de mais tempo? E eu sei que talvez eu cometi alguns erros, mas te perder é muito para eu aguentar. Isso foi tão forte, onde tudo deu errado?)
Fechei os olhos, incapaz de ficar olhando minha garotinha chorando daquele jeito.
- So tell me what to say
Because I need a chance to change
And I won’t let you walk away.
(Então me diga o que dizer, porque eu preciso de uma chance pra mudar e eu não vou te deixar ir embora)
Terminei de cantar e coloquei o violão no chão. Limpei meu rosto antes de olhar pra cima e encontrar as cortinas brancas pesadamente fechadas contra o vidro.
Eu estava nervoso, minhas mãos suavam e tremiam de um modo absurdo. Minha respiração não estava mais no automático, sabe? Quando você fica tão nervoso que começa a controlar a entrada e saída de ar para ver se está fazendo a coisa certa?
Era o fim, ela não havia se importado nem um pouco? Ela simplesmente se fechou naquele mundinho e não havia mais espaço para mim. Derrotado, eu tive que pegar meu violão, por nas costas e começar o meu caminho de volta pra casa.
Atravessei o portão grande e imponente branco e tentei acalmar meu coração descontrolado.
- , volta aqui!
CAPÍTULO 18
['s POV]
Infelizmente, não fui capaz de controlar as lágrimas enquanto assistia da janela cantando aquelas palavras tão lindas para mim. E ele parecia tão sincero que até chorou também!
Não aguentando mais o aperto no coração, fechei a janela e em seguida as cortinas, criando coragem para virar para o sentado na minha cama, com a cabeça enterrada nas duas mãos. Não sabia o que fazer, eu queria uma luz, um sinal, qualquer coisa. Ele levantou a cabeça e me olhou com aqueles olhos grandes e vermelhos, apenas assentindo para mim. Sem pensar duas vezes, saí correndo pela porta do quarto e desci as escadas de dois em dois degraus para chegar mais rápido onde eu já deveria estar.
Abri a porta da sala e corri em direção ao jardim, vendo o com o violão nas costas, atravessando o portão branco.
- , volta aqui!
Gritei com toda a força que pude e então ele parou de andar. Parou de andar como se o tivessem dado um puxão para trás e, ainda de costas para mim, pude ver seu corpo se movimentar em um suspiro longo e dramático.
Ele virou para mim com o rosto molhado e um meio sorriso no meio das lágrimas e eu caminhei mais rapidamente na direção dele, até só restarem centímetros entre nós.
- ...
- Por que você está fazendo isso? - eu não tinha nada mais inteligente para falar e era a única coisa que eu queria saber. - Por que, ?
- Sério que com tanta coisa para perguntar, você pergunta o motivo? - ele tirou o violão das costas e o colocou no chão, antes de acabar com o espaço entre a gente, me envolvendo em um abraço. - Amor.
- Mas... - eu precisava negar e sair daquele abraço quente, mas meu corpo não obedecia a minha mente e dizia que ali sim era o meu lugar e que nunca mais eu sairia de lá. - Eu estou com o e ele está lá em cima me esperando.
- Se você quisesse estar com ele, não teria vindo atrás de mim. - ele separou nossos corpos e olhou nos meus olhos como se decifrasse a minha alma.
- E ela estaria, se você a deixasse em paz. - a voz de veio de trás de mim e arrepiou os pelos do meu braço.
- Por favor, vocês dois. - pedi com a voz fraca, quebrando o contato visual com o e indo mais para perto do . - Eu acho que quero ficar sozinha, se vocês não se impor...
- Me importo sim. - falou alto. - Eu quero dizer algumas coisas faz tempo e achei a oportunidade ideal.
Plano um era sair correndo e me trancar em casa para não ver o que viria a seguir.
Plano dois era fingir um desmaio, assim ninguém mais ia pensar em brigar.
Plano três era ficar ali parada, porque não tinha forças para botar nenhum dos planos anteriores em prática. Sim, isso sou eu.
- E eu quero quebrar seu nariz e achei a oportunidade ideal. - isso foi um completamente enfurecido. Nunca o tinha visto com tanta raiva nos olhos.
- Olha, cara, eu não quero brigar com você. - disse de um jeito... Maduro. Ele parecia um homem falando e não aquele garotinho mimado e irresponsável que eu conhecia. Ele tinha mudado mesmo. - Eu entendo que você ame a , estranho seria se não amasse, mas você é amigo dela, o melhor amigo dela, o cara que ela quer do lado sempre. Mas não do jeito que você acha, você está confundindo as coisas, porque esse papel de homem dela é meu. Completamente meu e eu não vou deixar ninguém roubar.
Pisquei os olhos duas vezes até aceitar o que estava acontecendo ali. sendo civilizado com o e inflando como um baiacu em perigo.
- Eu sou o melhor amigo dela e por isso posso dizer que sou perfeito para estar aqui nesse papel.
- Não, não. - abanou as mãos no ar. - Você pode ser rico, engomadinho e bonito. Você pode até se esforçar para ser o melhor para a , mas eu sou um tipo de encaixe perfeito.
- Não vou ficar ouvindo esse tipo de coisa de nenhum dos dois. - tive que me meter, incrédula das coisas que eu estava ouvindo. Estava com raiva por eles estarem conversando sobre mim como se eu não estivesse ali, por eles estarem dizendo o tipo de coisa que me deixava ainda mais confusa.
Os dois ficaram olhando para mim, esperando que eu dissesse mais alguma coisa e eu simplesmente comecei a me afastar, indo em direção à minha casa. Fiz sinal de 'não' quando os dois fizeram menção de que iriam me seguir.
['s POV]
Fiquei vendo a se afastar e inspirei profundamente, sabendo que a minha parte eu tinha feito, cabia a ela decidir o que fazer agora.
ainda estava parado ao meu lado e olhava para frente, pelo caminho que a minha garota tinha seguido. Eu poderia acabar com ele agora, meter um belo soco naquele nariz reto e deixá-lo sangrando na grama verde do jardim até a morte. Mas isso não seria uma atitude digna do cara que diz estar mudando, então dei de ombros e peguei o meu violão no chão, pronto para ir embora. Infelizmente, uma mão fechada atingiu em cheio o meu nariz e eu cambaleei para trás em busca de apoio. Recoloquei meu violão no chão, antes de passar a mão direita sobre o nariz e sentir um líquido quente e pegajoso escorrendo dele.
- Desculpa. - antes que eu pensasse sobre como reagir, o falou e eu fiquei tonto. Me batia e pedia desculpas logo em seguida?
- O quê? - perguntei enquanto olhava a minha mão manchada de sangue e sentia meu nariz latejar como nunca.
- Eu precisava te bater, sabe. - ele deu uma risada nervosa. - Por todos esses anos que você fez a sofrer, eu sempre me controlei para não te bater, mas hoje não deu.
- Eu poderia te bater de volta. - cogitei a ideia e ele veio andando para perto de mim, aparentemente sem medo algum, e colocou uma mão no meu ombro.
- , eu estou acompanhando de perto essa sua mudança para ter a de volta. - respirou fundo e continuou. - Eu queria ter certeza de que dessa vez era para valer, queria ver até onde você ia. E sim, eu amo a e poderia ser um bom namorado para ela, mas ela nunca seria uma boa namorada para mim, já que pensar em você é a única coisa que ela sabe fazer.
Ri baixinho, quase não acreditando no que eu estava ouvindo. estava me falando aquelas coisas mesmo?
Eu não sei o que aconteceu com o mundo, mas aquilo era estranho. E meu nariz continuava a latejar, apesar de que, no momento, eu até ficava feliz por isso.
- E eu realmente acho que você mudou e está pronto para ter uma garota tão incrível quanto a .
Senti vontade de abraçar o por aquelas sábias palavras. Nada mais gratificante do que ter seu trabalho reconhecido por um inimigo.
- Isso é bom, eu não sei o que dizer. - admiti por fim e nós dois rimos. - Acho melhor eu deixar a pensando sozinha um pouco, não quero correr o risco de ser agredido por ela e acabar com o encanto da música.
- Faça isso, eu também vou para casa. - ficamos nos encarando por um bom tempo, meio sem saber como agir, era uma situação embaraçosa. - Nós daríamos bons amigos.
Sem me dar chance de resposta, ele saiu andando, me deixando sozinho com o peso daquela frase. Amigos. Eu e o . Peguei meu violão e soltei uma gargalhada histérica e fiz meu caminho de volta para casa tentando colocar os pensamentos em ordem.
- Contrato fechado! - se jogou nos meus braços assim que pus os pés em casa. - Semana que vem eu e teremos nosso lar.
- Ele está gay assim desde que chegou, não tente entender. - cochichou para mim, enquanto eu tentava me livrar do abraço do e chegar inteiro na cozinha.
Peguei um copo de água na geladeira e virei de uma vez, sentindo minha garganta seca festejar. cortava umas frutas no prato e jogava cereal por cima e, em seguida, leite líquido, mexendo cuidadosamente com uma colher, antes de começar a comer como uma criança, ficando todo sujo.
falava sem parar sobre a casa, dando detalhes dos tamanhos da sala, quartos, cozinha, banheiros e da única vaga na garagem, que ele dizia ser ótima, já que eles só tinham um carro mesmo. Contava super animado do pequeno jardim atrás da casa, onde pretendia construir um balanço para o futuro filho brincar. Eu me sentia vivo e capaz de ter uma vida feliz como a do um dia, bastava a me aceitar e entender a minha mudança, como até o fez.
- Onde você esteve e de onde surgiu esse nariz sangrando? - cortou o nosso amigo no meio da narração sobre fraudas descartáveis e lançou um olhar curioso para mim.
Respirei fundo e contei tudo o que tinha acontecido. Ao acabar, os dois tinham as bocas abertas em perfeitos 'o' e olhos levemente arregalados.
- O não é tão mal, convenhamos. O que tinha implicância besta.
- Qual é, . - resmunguei, embora sentisse que aquilo tinha um pouco de verdade.
- Devias era estar muito agradecido a ele agora. – pausa. - Tirando a parte do nariz.
- O nariz foi bem merecido até. - ralhou e começamos uma discussão besta.
Aos poucos a minha vida ia voltando ao normal, aos poucos meu coração batia um pouco menos dolorido e eu sabia que a minha mãe - onde quer que ela estivesse - estaria sentindo um pouquinho de orgulho de mim, por eu estar vivendo como ela queria.
- Vou pegar um pouco de gelo para colocar aí. - se comoveu e resolveu me ajudar.
['s POV]
Não, era sério.
Eu não ia sair de casa com o rosto inchado daquele jeito. E o espelho do banheiro me dizia isso sem nenhuma delicadeza, enquanto eu tentava inutilmente me esconder atrás de alguma maquiagem. Cara de choro maquiagem nenhuma do mundo dá jeito, aprendizado do dia.
- Você prometeu, .
- Eu sei, mas você não pode ser tão ruim a ponto de querer que eu vá comprar as coisas da sua casa com essa cara de defunto!
Apontei dramaticamente meu reflexo no espelho e rolou os olhos e abanou as mãos no ar.
- Além do mais, ficar em casa não vai melhorar seu humor.
- Tudo bem. - fui vencida.
Ela deu um sorrido convencido, sabendo que tinha dito as palavras certas para me convencer. Ela sabia que sair e fingir que os problemas não existiam era a única coisa que eu sabia fazer quando os tinha. Não conseguia ser que nem a , que encarava os problemas de frente e por isso era bem mais feliz.
Não, eu era fraca e infeliz. Sorte triste a minha.
Depois de muita base, corretivo e pó, eu estava pronta. O cabelo preso em uma trança de lado e a franja solta terminavam o serviço.
- Você quer conversar?
Não. Neguei com a cabeça e ela assentiu, entrando no carro e dando a partida sem mais perguntas.
- Desculpa. - me pediu e eu não tive de perguntar o porquê daquilo. Quando eu a vi, já estava entrando na rua da casa dos meninos. Arregalei os olhos e meti a mão no volante, fazendo o carro virar para a esquerda e quase bater no poste mais próximo. Graças ao reflexo da minha amiga, estava tudo bem.
- !
- O me obrigou, está bem? - ela berrou de volta. - E eu quero, mais do que ninguém, que tudo dê certo para você.
- Eu não posso encarar o agora. - resmunguei, mas ela não me dava ouvidos. Já tinha começado a mover o carro novamente em direção à vaga da garagem da casa branca de portões pretos.
Enquanto eu saía do carro pensando em uma rota de fuga, a ouvi pegando o celular e dizendo 'chegamos', certamente para o namorado traidor que tinha armado aquilo para mim.
Uma vez na vida eu ia encarar meus medos, repeti para mim mesma. Eu ia fazer aquilo por mim, porque viver daquele jeito não adiantava mais.
['s POV]
Tinha acabado de sair do banho, quando o entrou no meu quarto como se fosse o furacão Katrina. E quando eu digo 'acabado de sair do banho' significa que eu estava pelado e que o deu de cara com a minha bunda branca.
- Ew, cobre isso. - ele fez cena de nojo. - Tem visita para você.
- Visita? - quem me visitava?
- Cara, a está chegando e ok. - ele me interrompeu quando eu ia perguntar se ele estava me tirando. - Depois você me agradece. Só coloca uma roupa!
E saiu do quarto batendo a porta.
A estava vindo para a minha casa, eu tinha que associar essas palavras antes de pensar em colocar uma roupa. Ela vinha para conversar comigo? Não, , ela vinha tomar um chá das cinco com o .
Abri a porta do guarda-roupa e nenhuma peça sobrou dentro dele enquanto eu as jogava em todas as direções na busca de uma roupa decente. No fim, usei uma calça jeans escura e uma camisa pólo verde escuro, com as barras da camisa e da gola em verde claro. Passei as mãos pelo cabelo, sem tempo de pentear direito, e ouvi a campainha da casa tocando. Minhas mãos suaram ridiculamente e eu desejei que Deus me desse força.
Devo ter contado até cem antes de abrir a porta do quarto e descer as escadas para encontrar uma corada, sentada no sofá da minha sala, encarando os próprios pés. Perguntei-me onde estariam e , mas entendi que eles queriam nos dar a privacidade do momento, apesar de estarem escondidos atrás de alguma porta para escutar o que viria a seguir.
- . - chamei e ela levantou a cabeça para me olhar nos olhos. Acompanhei o peito dela subindo e descendo lentamente enquanto ela respirava devagar e, então, bateu a mão no assento ao seu lado no sofá e eu sentei ali.
- Lembra quando você reclamava que eu passava mais de duas semanas com a mesma roupa de cama? - ela me perguntou com a voz falha. - Era porque quando você dormia comigo, seu cheiro ficava impregnado lá e, então, eu podia o sentir mesmo quando você não estava lá para mim. Mesmo quando você estava passando a noite com outras garotas, deixando o seu cheiro por aí. Lembra quando você reclamava de manhã sobre eu estar com olheiras tão profundas? - ela deu um sorriso sofrido. - Era porque eu passava a noite toda acordada só para poder ver você dormindo, porque era o momento que você parecia mais vulnerável e meu. Eu poderia ter me arrependido todos os dias de ter aberto meu coração para você, de ter deixado você entrar na minha vida e ter feito dela um inferno desde o princípio. Mas eu não conseguia, . Porque podia até ser o inferno, mas era com você do meu lado e nada superaria isso.
Tentei respirar fundo, mas meu pulmão me desobedeceu e o ar ficou travado na minha garganta, me dando aquela sensação de sufoco. Eu merecia ouvir tudo aquilo e entender o quão idiota eu havia sido, mas doía demais. Doía porque eu podia até mudar agora, mas eu não podia apagar o passado, eu não podia fazer a esquecer de todo aquele sofrimento que causei.
- Todas as noites que eu passei fora, - coragem, - eu não estava fugindo de você, . Eu estava fugindo de mim e do sentimento que eu tinha por você, porque ele estava me consumindo. E, Deus, como eu tinha medo dele. Eu procurava outras mulheres para provar para mim mesmo que eu não precisava de você, que eu ainda era o mesmo de sempre. E, bom, estamos aqui vendo que eu não sou. Desde o dia que te conheci.
- Eu estive pensando e eu quero você. - ela segurou as minhas mãos. - Mas eu estou com medo.
- Eu esperava que você dissesse isso, na verdade. - coloquei uma mão na lateral do rosto dela e alisei sua bochecha com o dedão, sentindo a pele macia e quente. - Mas não tenha medo, eu vou estar aqui para sempre. Só para você. E eu não vou quebrar essa promessa, porque eu já aceitei esse amor e já entendi que não posso lutar contra ele. Te magoar seria o mesmo que me magoar e eu estou cansado de sofrer.
piscou algumas vezes, deixando duas lágrimas escorrerem até seu pescoço e inclinou o corpo para frente, fazendo nossos lábios se roçarem de leve, para em seguida beijar minha bochecha do mesmo jeito e subir para meus olhos, minha testa, minha orelha, meu pescoço, meu queixo e voltar para a minha boca, me invadindo com a língua quente e sedenta. Aprofundei minha mão nos seus cabelos da nuca, trazendo-a para mais perto de mim enquanto ela me segurava pelo queixo com uma mão e a outra agarrava a gola da minha camisa. Deslizei a mão que não estava enrolada no cabelo dela pelos seus braços, até chegar aos ombros e desci novamente, levando a alça da blusinha de malha junto e, então, desci os beijos até aquele lugar, dando pequenos chupões na região.
- Odeio atrapalhar isso. - falou e a gente se separou no mesmo instante, indo parar cada um em um lado do sofá. Fuzilei a garota com os olhos e sorri satisfeito ao ver que a fazia a mesma coisa. - Não me olhem assim, ow.
- Não fiquem com essa cara de maníacos para a minha namorada. - se meteu, abraçando-a por trás. - A gente só queria dizer o quanto estamos felizes por ver vocês se acertando.
- Já disseram? Podem ir agora. - ralhei e eles gargalharam. - Quem topa sair para comemorar?
- Comemorar minha reconciliação com o no McDonald's, nossa! - ironizou quando sentamos à mesa depois de ter feito os pedidos. bateu na cabeça dela e disse que não havia melhor lugar para estar.
- Tá tudo bem, , é melhor você se alimentar bem agora. - pisquei pra ela - Porque quando a gente chegar em casa, nossa comemoração vai precisar de disposição.
inspirou fundo e sorriu pra mim, daquele jeito que só ela sabia fazer. Sabe, entortando a cabeça um pouco pro lado e apertando os olhinhos, passando uma imagem meiga de menina inocente, mas com os olhos faiscando de desejo. E desculpa, quem não estava com desejo? Afinal, já tinha um bom tempo desde que eu... Estive com uma garota. Ela teve o durante esse tempo e... A imagem mental que me veio depois disso me embrulhou o estômago e quase pedi pra cancelarem meu pedido.
colocou uma mão sobre a minha perna e eu a cobri com a minha, entrelaçando nossos dedos e tentando tirar a imagem do com a minha garota da cabeça. Sabe quando ele disse que nós daríamos bons amigos? Não é verdade, acabei de abolir essa ideia.
- , não fica falando essas coisas. - se inclinou um pouco para sussurrar no meu ouvido - Você não sabe como está a minha situação aqui e ainda fica atiçando fogo.
- Não está pior que a minha, acredite.
e tagarelavam sobre como nós somos um casal de idiotas que não conseguem fazer nada direito e que nascemos pra brigar e nos arrepender, mas depois do quinto suspiro impaciente da , eles entenderam que o melhor era calar a boca. Comemos nossos hambúrgueres em paz, vez ou outra tecendo algum comentário sobre a casa nova deles e quando eles iam se mudar, mas algo dentro de mim estava inquieto e eu podia sentir o mesmo na minha garota. Saudade era o nome dessa inquietação.
- Estava tudo muito bom, mas temos que ir. - levantou jogando dinheiro suficiente na mesa para pagar os nossos lanches e me estendeu a mão - Tchau, queridos.
Saímos de lá quase correndo de tanta pressa e como tínhamos ido no carro da , pegamos um ônibus para a minha casa. Quinze minutos depois e eu pegava a chave no bolso da calça, destrancando a porta e puxando pela cintura para dentro.
Fechei a porta e a coloquei contra a parede, colando nossos lábios e ela gemeu baixinho quando nossas línguas se encontraram enfurecidas. Como eu sentia falta daquilo, como eu sentia falta daquela língua quente e molhada percorrendo todos os cantos da minha boca. E como eu sentia falta daquelas unhas grandes arranhando de leve a minha nuca, enquanto minhas mãos grandes apertavam aquela cintura fina contra meu corpo.
Eu poderia ficar daquele jeito pra sempre, só regravando cada detalhe daquele beijo em minha mente, mas a tinha outros planos que eu aprovei imediatamente. Ela partiu nosso beijo e puxou minha camisa pra cima e eu a ajudei a retirá-la e jogar em cima do sofá. Ela desceu a boca pelo meu pescoço, mordiscando o local e subindo os lábios até meu queixo para aplicar uma mordidinha mais forte por ali.
- Eu amo seu queixo. - sussurrou e eu sorri fraco, colocando uma das mãos entre os cabelos dela e puxando pra cima, pra poder brincar um pouco com seu pescoço perfumado, que era uma das áreas mais sensíveis da . Passei a língua da base do pescoço até o queixo e depois fiz o caminho inverso, sentindo-a arfar e empurrar a cabeça pra trás. Desceu as duas mãos pelas minhas costas nuas e chegou na barra da minha calça, a contornando até parar no meu zíper. Me encolhi um pouco quando ela arranhou a região e em seguida abriu meu botão e zíper, se abaixando à medida que descia a minha calça. Ajudei no final, empurrando o pano com os pés, tirando o tênis junto. estava ajoelhada na minha frente e segurou o conteúdo aparente da minha box com as duas mãos, olhou para mim sorrindo e eu retribuí. Em poucos segundos eu também não estava mais a vestindo e fazia movimentos lentos, porém prazerosos, com as mãos no meu pênis. Ela tinha um jeito todo especial de deslizar a mão da base à cabeça, colocando pressão nas horas certas e descendo a mão como se fosse um carinho.
A vi aproximar a boca do membro e joguei a cabeça pra trás, comprimindo os olhos fortemente. Queria sentir antes de ver, porque aquela era uma das melhores sensações que uma mulher poderia dar a um homem. Senti a textura da língua dela fazer um círculo ao redor da cabeça do meu pênis e em seguida percorrer toda a sua extensão até a base e fazer o caminho inverso para o colocar todo na boca e começar um movimento ritmado de pra-frente-pra-trás. Minha respiração já estava falha e eu levei a mão direita até a cabeça dela para acompanhar os movimentos. Não que ela precisasse disso, não. Ela sabia exatamente o que estava fazendo, mas faz parte do instinto masculino.
Sentindo que eu não aguentaria mais daquilo, a puxei pra cima e colei nossos lábios de novo, deslizando minha mão pela barriga dela até perceber que ela ainda estava de calça jeans. Com minha habilidade e um pouco de ajuda dela, a peça não permaneceu ali por muito tempo.
- Senti falta de cada curva. - a coloquei deitada no sofá e fiquei a encarando até ela ficar vermelha e retirar o próprio sutiã, ficando só de calcinha e me puxando pelo pescoço para deitar por cima dela. Minha mão esquerda segurou um de seus seios e o apertou, se moldando a ele. arfou e jogou o pescoço pra trás, me dando uma ótima chance de dar um chupão naquela região, que provavelmente ficaria roxo amanhã. Minha mão direita desceu pela lateral do corpo bem feito dela e meu indicador puxou a calcinha pelo elástico, até a metade das pernas da , quando o trabalho de retirá-la era de responsabilidade dela. Passei dois dedos pela intimidade úmida dela, sem a penetrar e parei no clitóris, começando a fazer movimentos circulares naquela região, quando ouvi a minha garota gemer meu nome. Os pelos da minha nuca se eriçaram e eu inspirei fundo, feliz por aquele incentivo. Continuei os movimentos circulares e colocava mais pressão vez ou outra só pra ouvi-la gemer um pouco mais alto e então a penetrei com um dedo, fazendo movimentos rápidos e precisos enquanto a se encolhia e respirava pesadamente. Meu membro já latejava, implorando para estar dentro dela, pra sentir a musculatura da intimidade dela o comprimindo daquele jeito incrível, quente e apertado. Retirei o dedo e me posicionei em cima dela, pronto pra invadi-la, mas ela espalmou as duas mãos no meu peito, me empurrando para trás. Ela tinha um sorriso de quem tinha outras ideias em mente e eu obedeci, ficando em pé. parou na minha frente, me puxou pela nuca e me beijou do jeito mais sujo que alguém é capaz de beijar, beijo de pura luxúria e desejo.
- Deita, . - pediu em meio a um sussurro e eu, cachorrinho dela, já estava deitado no sofá, olhando fixamente a garota à minha frente. Ela já tinha umas marcas vermelhas no pescoço e pela lateral do corpo, fonte dos meus chupões e apertos.
colocou as duas mãos nos meus peitos e com uma carinha de 'estou tímida mas quero fazer isso' passou uma perna por cada lado do meu corpo e eu segurei meu membro com uma mão, para que ela pudesse sentar em cima dele. Enquanto ela abaixava e sentava, eu a ia preenchendo e meu pênis ia latejando. jogou o pescoço pra trás até me sentir completamente dentro dela, então voltou a olhar nos meus olhos e começou a se movimentar pra cima de pra baixo, lentamente, tendo como apoio as mãos espalmadas no meu peito. Coloquei minhas duas mãos na cintura dela, a ajudando com os movimentos e pude sentir o suor escorrendo no meu rosto, assim como já escorria pelas costas dela. resolveu aumentar a velocidade dos movimentos e eu me permiti gemer junto com ela. Não era do tipo de homem que ficava gemendo enquanto transava, mas com aquela garota e daquele jeito, não tinha como ser diferente. Retirei a mão direta da cintura dela, já que ela estava lidando bem com isso de comandar os movimentos, e com o dedo indicador comecei a estimular novamente o clitóris dela. comprimiu os olhos com força e deixou a boca entreaberta para poder respirar com mais facilidade. Senti ela se contrair sobre meu membro e soube que o orgasmo dela estaria chegando e isso pareceu ativar ainda mais os prazeres que eu sentia, e eu gemi o nome dela, assim que senti o ápice do prazer me invadir e explodir nela.
- Só mais um pouco. - ela implorou quase sem voz e continuou a se movimentar sobre mim, até jogar a cabeça pra trás com força e deitar sobre mim.
- Sou melhor nisso que o ? - meu ciúme não foi controlado e eu tive que perguntar, mesmo tendo medo da resposta. Ela se apoiou no cotovelo para poder ver meu rosto e deu uma gargalhada extremamente gostosa.
- Não posso te dizer isso, já que nunca experimentei do .
Minha felicidade estava completa agora e eu dei um sorriso sincero, antes de juntar nossos lábios outra vez.
Depois de levantarmos do sofá, catar nossas roupas e corrermos para o banheiro antes que alguém chegasse em casa e nos pegasse naquela situação, fomos para o quarto e deitamos na cama abraçados. estava com a cabeça deitada no meu peito e eu descansava meu queixo no topo dos seus cabelos, sentindo aquele cheiro do meu shampoo. Nossas mãos estavam entrelaçadas e apoiadas na barriga dela que subia e descia de acordo com sua respiração tranquilo, me fazendo sentir tranquilo também. Estava tudo certo, ela estava ali comigo e nunca mais eu a deixaria sair.
- Senti tanta falta de estar com você. - ela falou de repente, como se lesse meus pensamentos - Eu tentava me convencer, toda noite, que eu não precisava de você, que eu não te amava, só sentia sua falta porque estava acostumada em te ter pra mim.
- Eu tentava te convencer, toda noite, de que você estava errada e que isso era amor mesmo. - rimos baixinho e ela se ajeitou na cama para poder olhar no meu rosto.
- Você sabe que me ganhou ao cantar aquela música, não é? - mordeu meu queixo e eu fechei os olhos - Nunca achei que você pudesse ser tão romântico.
- Nem eu. - assumi e ela gargalhou - Mas só sei ser assim com você, então não me deixe nunca mais pra que eu não perca essa qualidade.
- Pode ficar tranquilo quanto a isso, coisa linda.
segurou a lateral do meu rosto com as duas mãos e passou o nariz de leve no meu algumas vezes, antes de roçar nossos lábios e escorrer uma das mãos até a minha nuca, me puxando para mais perto e me invadindo com a sua língua. Eu sugava o lábio inferior dela e abria os olhos só pra poder ver a expressão de prazer e dor que ela fazia com essa minha atitude e então voltava a fechar os olhos para sentir as sensações todas que um beijo da poderia me proporcionar. Entranhei minhas mãos pelos cabelos dela, vez ou outra puxando para trás e a sentindo respirar mais pesadamente.
desceu a mão esquerda pelo meu pescoço, passou pelo meu peito e foi fincando as unhas até a barra da minha boxer e então tive que parar a mão dela com a minha própria.
- Desculpa, amor. - sorri e ela me olhou parecendo entender - Você me deixou sem fôlego da última vez, preciso descansar.
- O mal de ser homem. - ela rolou os olhos e voltou a deitar ao meu lado - , seria muito estranho pra você se eu viesse, hm, passar um tempo aqui contigo e com o quando e se mudarem?
- Droga, , você estraga tudo mesmo né? - respirei fundo - Eu ia te fazer essa proposta primeiro, mas você sempre tem que ser apressada.
Ela gargalhou e beijou minha bochecha, agradecendo.
- Eu não queria ficar sozinha naquela casa.
- E eu não deixaria minha namorada sozinha, de jeito nenhum. - cocei a nuca - Vou ter que pedir pro não sair andando só de cueca pela sala, pra não trazer meninas pra cá dia de semana e vamos ter que começar a comer coisas mais saudáveis do que congelados.
- Acho que isso pode dar certo.
[45 dias depois]
- !
correu até onde ele havia acabado de derrubar uma caixa cheia de coisas dela e os dois começaram a colocar tudo de volta na caixa, enquanto ele se desculpava e ela pedia pra ele ter mais cuidado. estava me ajudando a carregar o fogão para o quintal, porque agora que as meninas desocuparam a casa que alugavam, iam devolver pro dono e precisavam vender ou doar as coisas que não usariam mais. O fogão pesado e gordo era uma delas. E sim, eu disse que o estava me ajudando.
entrou numa de que nós dois deveríamos ser amigos, assim como o próprio tinha me proposto há um tempo atrás. Eu achava aquela ideia completamente insana, mas entrei no jogo porque ver a minha garota feliz era mais importante que as outras rixas e eu estava disposto a ser um novo cara por ela, porque não aceitar um novo amigo?
E o mais estranho, é que a gente se dava bem. Do nosso jeito cheio de alfinetadas e cortes, mas ele era um bom amigo.
- Porra, , a aguenta mais peso que você. - ele reclamou quando eu pedi um descanso, depois de colocar o fogão no quintal e ver que faltava ir buscar a geladeira. Apoiei minhas duas mãos nos joelhos e esperei minha respiração voltar ao normal pra levantar e mostrar o dedo do meio pra ele. A verdade é que eu estava muito sedentário, mas não gostava quando falavam isso. Não gostava quando o falava isso pra mim.
- Então chama ela e vão lá pegar a geladeira, palhaço.
Ele riu e se aproximou de mim, pondo uma mão no meu ombro e suspirando profundamente.
- Também estou cansado, vamos dar uma pausa. - assenti e fomos caminhando até os fundos da casa, entramos pela porta da cozinha e pegamos água na única jarra que tinha restado por ali, além da geladeira. Joguei a cabeça pra trás e levantei a garrafa, fazendo cair água na minha boca sem encostar no recipiente e depois passei pro que imitou meus movimentos - Você está fazendo um bom trabalho.
- Ahn?
- Com a , você está fazendo um bom trabalho. - ele sorriu amigavelmente e continuou - Eu queria que a voltasse contigo, porque ela não estava feliz longe de você. Eu fiz meu papel, tentei suprir sua falta de todos os jeitos, mas você sabe como as mulheres são. Quando estão amando alguém não tem espaço pra outra pessoa. Mas eu confesso que senti medo, eu não queria ver a passar por todo aquele sofrimento outra vez e então eu teria que te dar outro soco na cara.
- Eu ainda não te perdoei por isso. - passei a mão no nariz, relembrando a dor - Mas não se preocupa, cara. Ver a sofrer uma vez já foi demais pra mim, agora eu vou protegê-la de tudo. De mim, principalmente.
- Eu acredito em você, sei que sofreu também e aprendeu com isso. - colocou a jarra de água em cima da pia - Vamos parar com esse sentimentalismo agora, só estava dando um tempo pra você se recuperar, franguinho. Temos uma geladeira pra carregar.
CAPÍTULO 20
- É mais fácil do que eu imaginei. - falou quando deu o intervalo de CSI. se espreguiçou no meu colo e virou para ver sobre o que nosso amigo falava - Sabe, ter uma garota morando com a gente.
- Obrigada? - riu.
- É, é meio que legal ter uma opinião feminina sobre as coisas - ele continuou - E ter um pouco de organização. Esses dias descobri que tem uma mesa de centro na outra sala.
Gargalhamos juntos e eu tive que concordar.
Nunca achei que morar junto com uma garota fosse ser tão fácil, tão bom, tão confortável. Eu não sabia dizer ao certo se isso era morar com uma garota ou se era morar com a , a minha garota. E como a gente tinha o , não era uma vida de casal completa e eu meio que gostava disso, tirava um pouco o peso de morar juntos como se fossemos casados.
Claro que eu já tinha chegado a cogitar a ideia de morarmos só eu e a , de construir uma família, de casar mesmo. Mas eu ainda tinha um pé atrás com isso, e não por falta de amor. Por falta de coragem, não sei dizer. Medo de estragar o que estava bom demais. É como dizem “em time que está ganhando não se mexe”, então deixa estar assim.
- Até que não é tão ruim morar com dois monstrinhos, feito vocês. - ela sorriu e voltou a se encaixar no meu colo - Talvez a gente devesse comprar um cachorro.
- Por favor, , cala a boca. Eu já tenho que te aguentar, ainda quer por um quatro patas aqui? - ralhou.
- Acho que a lotação de animais da casa acabou, temos o que vale por uns cinco. - entrei a brincadeira, defendendo minha namorada e recebi uma almofada voadora na cara.
- Traidor! Vai ficar no lado das garotas agora?
Delicadamente tirei a do meu colo e revidei a almofadada que tinha recebido do , começando uma guerra sem fim. correu pra trás do sofá, fazendo sua base militar e se protegendo da gente.
Depois de algumas almofadas voando pela sala, ouvimos a porta abrir e paramos no mesmo lugar que estávamos pra assistir e entrarem na casa.
- Não sei o que há de errado com vocês. - fez cara de poucos amigos e cruzou os braços - Por que nunca fazem esse tipo de coisas quando eu estou presente?
- Olha para isso. - balançou a cabeça negativamente - Me substituem por uma garota e agora querem levar minha futura esposa para o lado infantil da força também. Só se eu for junto.
Rimos e voltamos a nossa guerra particular, com o casal jogando junto com a gente.
- E a vida de casados?
- Quase casados, . - corrigiu - Está uma maravilha, é ótimo acordar todo os dias e a primeira coisa a ser vista é a cara de sono do .
- E comer no café-da-manhã as panquecas da . -
continuou.
sorriu para eles de uma forma tão pura que eu quase podia sentir ela querendo ter uma vida daquelas. Todo dia ela acordava e via meu rosto, apesar da gente não dividir o mesmo quarto, vez ou outra a gente dormia juntos. E a gente tomava o desjejum juntos e todas aquelas coisas, então ela não devia sentir falta de nada. Talvez de um anel no dedo, tão grande quanto aquele que a usava e que em breve seria substituído por uma aliança na outra mão.
- , só falta você se apaixonar agora. - Sugeri para mudar o foco da conversa e levei um tapa no meio da testa.
- Quer parar com essas brincadeiras? - ele quase gritou - Sem ofensas, vocês formam casais realmente fofos e essas frescuras todas, mas eu não nasci pra isso. Não me culpe, é genética. Meu pai não ficou nem dois meses com a minha mãe, tá nos cromossomos.
- Um dia você vai achar uma garota que faça uma mutação nesse seu cromossomo. - fez a previsão e todos rimos da cara de incrédulo que o fez.
- Mudando de assunto drasticamente. - pediu silencio - E o Natal? Está próximo, o que faremos?
- Podemos fazer alguma coisa na casa nova de vocês, tipo o primeiro Natal em família. - sugeriu e todos concordamos.
- Mas poxa, eu adoro decoração natalina. - resmunguei um pouco e ela veio sentar no meu colo, beijando minha bochecha.
- A gente pode decorar a nossa casa também. - sorriu - Eu adoro aqueles pisca-piscas de noite.
Até pareceu se animar com a ideia, devia ser o espírito natalino contagiando ele. Marcamos de ir todos no dia seguinte ao centro da cidade para fazer as compras de enfeites de natal.
- Preciso comer algo doce, . - fez bico assim que colocamos os pés cansados em casa, depois do dia fazendo compras de enfeites natalinos e presentes para amigos e familiares.
- Vou ver o que temos na cozinha, enquanto isso - beijei os lábios dela de leve - leva essas sacolas para o nosso quarto.
assentiu, carregando as sacolas enquanto eu me direcionava para a cozinha em busca de algo doce para aquela mulher comer. E era bom que eu encontrasse logo, já que com níveis glicêmicos baixos era algo certamente perigoso.
Procurei nas prateleiras, nos armários, na geladeira. Nada doce o suficiente e eu já estava começando a entrar em pânico, mas então entrou na cozinha com um cupcake na mão, pronto para dar a primeira mordida.
- NÃO! - gritei e corri até ele, tentando tomar o cupcake da mão dele, enquanto ele se esquivava e me olhava com cara de quem me achava muito doido. - Quer quanto por esse cupcake?
- Tem uma loja na esquina, por quê não comprar o seu?
- , é pra . - sorri e abri os braços, tentando dar minha melhor explicação - Ela necessita de doces.
- Vinte libras. - ele sorriu.
- MAS O QUÊ? isso é roubo.
- Lei do mercado, eu tenho o que você quer e você não tem tempo de procurar outro que tenha. - ele sorriu outra vez e eu meti a mão na minha carteira, dando as -inválidas- vinte libras e recebendo o cupcake em troca - Obrigado pelo negócio.
- Imbecil. - resmunguei e dois minutos depois entrou pela cozinha, acenou para nós dois e disse que estava de saída, que não era pra esperá-lo pro jantar - Seu cupcake, linda.
Ela colocou os dois braços ao redor do meu pescoço e tocou nossos lábios, passando a língua no contorno do meu, para então me invadir com seus movimentos precisos.
Me encostei na bancada, trazendo comigo e colando nossos corpos. Minhas mãos seguravam firmemente a cintura dela, vez ou outra colocando mais pressão no lugar, a impulsionando para cima, para que ela sentisse os efeitos que estava começando a causar em mim e ela entrelaçava mais ainda a mão direita no meu cabelo, enquanto a esquerda estava apertando o meu ombro.
Ela prendeu meu lábio inferior entre os dentes e chegou a cabeça para trás, me dando um selinho em seguida e partindo nosso beijo.
- Você sabe, eu poderia ficar te beijando para sempre. - ela sorriu para mim e eu sorri em resposta - Mas eu deixei um cupcake realmente delicioso em cima da bancada me esperando, então...
- Entendi, me trocando pelo cupcake. - fiz um draminha básico e ela gargalhou.
- Depois de comer, serei inteiramente sua.
Aquilo me fez concordar rapidamente.
Fiquei encostado na bancada da cozinha assistindo à minha garota comer aquele bolinho de chocolate como se fosse um manjar dos deuses e no final ainda lamber os dedos, que eu não sei se foi em provocação, mas funcionou como se fosse.
- Ei, bonitinha, não fica flertando comigo desse jeito. - chamei e ela olhou para mim ainda com o dedo indicador na boca e, percebendo do que eu estava falando, o lambeu bem lentamente olhando fixamente em meus olhos. Um arrepio percorreu minha espinha e algo se manifestou logo abaixo do cós da minha calça.
veio andando calmamente até mim, balançando o quadril de um jeito provocante, parou a poucos centímetros do meu rosto e pôs uma mão de cada lado do meu corpo, sobre a bancada.
- Não posso flertar contigo? Eu acho esse um jogo tão - mordeu meu queixo - Interessante.
- Quando você fala desse jeito, sabe que pode fazer qualquer coisa comigo, não sabe?
continuou sua trilha de mordidas, descendo do meu queixo para o meu pescoço e demorando ali bastante tempo para me fazer perder o ar. Minhas duas mãos seguravam firmemente em sua frágil cintura contra minha já notável excitação e aquilo parecia estimular a minha garota a continuar dando aquelas mordidinhas nada puras no meu pescoço. Levei uma das minhas mãos até seus cabelos e os puxei para trás, fazendo me olhar nos olhos e dar um sorriso que faria qualquer homem cair aos seus pés. Colei sua boca na minha, passando minha língua ansiosa por aqueles lábios macios e então nossas línguas se encontraram, causando como sempre, aquela sensação de preenchimento, de complemento que sempre causava. Era como uma dança de línguas, onde cada uma sabia exatamente o que fazer para alegrar a outra e quando a gente menos percebeu, nossas posições estavam invertidas e sentou-se na bancada, abrindo as pernas para que eu me encaixasse em pé, entre elas. Ela passou as pernas ao redor da minha cintura me trazendo para perto e suspirando profundamente quando sentiu em sua intimidade a pressão da minha.
['s POV]
me carregou sem desgrudar nossas bocas e me levou até a sala, me fazendo deitar no sofá e ficando por cima do meu corpo, sem no entanto, soltar o peso sobre mim. Seus lábios nos meus com uma força incrível e a sua língua quente, explorando cada região da minha boca. Uma mão lhe dava apoio e a outra correu para a minha coxa, subindo juntamente com a camisola que eu vestia, até chegar na região da minha barriga. Encolhi a barriga pelo contato daqueles dedos gelados e deslizei minhas mãos por suas costas, puxando com toda a pressa a camisa dele pra cima e a retirando do seu corpo.
se afastou um pouco para dar caminho para a retirada da própria camisa e aproveitando o momento enfiou as duas mãos por baixo da minha roupa e a jogou em algum canto da sala também. Ficou analisando meu sutiã preto com rendinhas por alguns instantes e então voltou a juntar as nossas bocas, mordendo meu lábio inferior vez ou outra, me fazendo gemer baixinho de prazer e dor. Sua mão direita se concentrou em apertar a minha cintura contra seu corpo, me fazendo sentir como estavam as coisas ali por baixo e a sua mão esquerda correu para meus seios e os apertava por cima do tecido fino. Seus dedos correram para as minhas costas e rapidamente acharam o fecho do sutiã, o que me fez pensar na experiência que ele tinha. Essas coisas sempre me deixavam com a pulga atrás da orelha, pensando em como ele agia com as outras na minha ausência. Quando sua língua fez movimentos circulares no bico do meu peito, minhas dúvidas fugiram todas da minha cabeça e eu só conseguia pensar que ia explodir com aquela sensação. O havia mudado, não tinha razões para eu ter pensamentos daquele tipo. Enquanto chupava e mordiscava meu peito, ele colocou um dedo no elástico da minha calcinha, fazendo menção de tirá-la. Juntei toda a sanidade que me restava para impedi-lo de fazer aquilo. Pelo menos daquele jeito.
- Não, . Com a boca. - arfei e ele olhou nos meus olhos antes de dar um sorriso de lado e descer os beijos pela minha barriga, parando na barra da calcinha.
Mordeu o elástico da minha calcinha e foi se abaixando, levando a peça delicada entre os dentes. No meio do caminho parou e olhou pra cima, piscando para mim antes de continuar até chegar aos meus pés e jogar ela longe. Fiquei com vontade de dizer 'quando a gente acabar, você que vai procurar ela' mas me restringi a fechar os olhos com bastante força, esperando o que estava por vir.
Senti as duas mãos do chegarem até a minha virilha, separando um pouco as minhas pernas antes de passar o indicador pela minha intimidade vergonhosamente molhada e chegar ao meu clitóris, colocando um pouco de pressão ali. Levei a minha própria mão até a boca e a mordi, reprimindo um gemido alto. Não sabia se o estava ou não em casa, tinha que me controlar.
abaixou a cabeça e passou os lábios levemente pela minha vagina, quase como se fosse um beijo suave e então sem aviso, passou a língua por toda a extensão dela, me penetrando indefinidamente. Meu quadril começou a se movimentar involuntariamente na direção da boca do e as mãos dele, fincadas na minha bunda, ajudavam com esses movimentos ao mesmo tempo que ele me sugava com toda a vontade possível. Minhas costas arqueavam do sofá e eu ainda mantinha a minha mão na boca, me censurando cada vez que não conseguia controlar e gemia alto demais. Um formigamento diferente começou nos meus pés e explodiu na minha intimidade, amolecendo todo o meu corpo num anúncio do meu orgasmo. sentiu meu enfraquecimento e subiu os beijos para a minha boca, me dando para provar minha própria essência. Concentrando a força que me restava, troquei de posição com ele, o fazendo ficar deitado no sofá para que eu pudesse retirar a bermuda e boxer que ele ainda usava. Encarei seu pênis ereto antes de o segurar com as duas mãos e aplicar um beijo na glande, colocando-o em seguida dentro da minha boca. Eu não era realmente expert nesse assunto, mas sabia mais ou menos o que fazer. resolveu me ajudar, colocando uma mão no meu cabelo para guiar minha cabeça em movimentos de vai-e-vem na direção do seu membro. Coloquei um pouco mais de pressão nos movimentos que eu fazia com a língua e ele gemeu meu nome baixinho, me instigando a acelerar os movimentos. Senti seu membro pulsar na minha boca e então o puxou minha cabeça para cima, invadindo a minha boca com sua língua quente e insaciável, ao mesmo tempo que me deitava no sofá e se posicionava sobre mim, direcionando com a mão o próprio pênis na minha entrada.
Enterrou a cabeça na curva do meu pescoço e começou a me penetrar. Aquela sensação de dor inicial era algo do qual eu realmente gostava e se pudesse ficaria repetindo o tempo todo, mas também era bom me sentir completamente preenchida. Mordi minha boca na tentativa de abafar mais gemidos e o se pôs a chupar meu pescoço, se movimentando dentro de mim. Movimentos fracos, movimentos fortes. Extremamente devagar, rápidos que chegava a doer. Eu não sabia onde ele queria chegar com essas alternâncias, mas eu estava ficando louca. Cravei minhas unhas sem dó naquelas costas branquinhas e ele cravou os dentes no meu pescoço em resposta. Íamos ficar terrivelmente marcados, mas não era algo a se pensar no momento. Quando meu orgasmo chegou pela segunda vez na noite, desistiu de tentar se segurar e gozou soltando um gemido profundo e aliviado.
- Você fica cada vez mais difícil de agradar. - ele reclamou e eu ri sem forças.
- Você é otimo.
- Estou falando sério. - ele olhou para mim - Dei o melhor de mim, tô fraco, .
- Então teremos que treinar mais e te deixar bem em forma para mim.
- Adoro treinar. - riu e me deu um selinho.
['s POV]
Finalmente havia chegado a planejada noite de Natal e eu estava nervoso de verdade. Seria uma noite decisiva.
Além de todo aquele clima natalino que já tornava a noite especial, eu ainda faria uma coisa que poderia torná-la inesquecível. De um jeito bom ou extremamente ruim.
Eu e a faríamos nossa ceia a sós, já que o recebeu uma ligação da sua mãe, exigindo que pelo menos ele passasse lá para ver a família, e depois todos iríamos nos encontrar na casa do e da , como tinha sido o combinado inicial, para trocarmos os presentes.
- Peru de Natal. - cantarolou, atravessando a sala com uma bandeja de prata contendo o tal peru e o colocou no centro da mesa. Enquanto ela arrumava as comidas, eu tentava colocar os pisca-piscas da árvore para funcionar de novo, já que pareciam ter queimado - Vou tomar um banho e me arrumar, já tá quase na hora da ceia e eu estou com fome.
Ela se esticou por cima do sofá e selou nossos lábios antes de correr escada acima. Era tão bom estar ali, daquele jeito com a minha garota, era um sonho realizado.
Eu já estava pronto há algum tempo e quando fui ligar as luzes natalinas da decoração, notei que as da árvore não acendiam e até agora tentava consertar o estrago. Substituí algumas lâmpadas pelas reservas que vinham quando a gente comprou as luzinhas e quase bati palmas ao ver que tinha dado certo e agora uma iluminação natalina irradiava no ambiente. Desliguei o interruptor que ligava as luzes da sala, deixando tudo por conta das luzes coloridas.
- Bom trabalho. - falou e eu virei a cabeça para ver onde ela estava. Parada no alto da escada com um vestido que ia até acima dos joelhos, rodado e vermelho, com uma fita de cetim da mesma cor presa logo abaixo dos seios e uma sandália preta de salto finíssimo, ela me olhava com um sorriso aberto - Nosso natal será incrível.
Assisti a ela descer os degraus balançando o quadril de uma forma ingenuamente sensual e parar na minha frente, colocando as duas mãos atrás da minha nuca e me puxar pra perto, invadindo a minha boca com a sua língua quente e ansiosa por meu beijo. Envolvi a sua cintura com um braço, fazendo seu corpo manter mais contato com o meu, enquanto acariciava seu rosto com as costas da minha outra mão. Deslizei a mão que estava na sua cintura até sua costas e esfreguei meu polegar na região, sentindo mesmo com o tecido no meio, a textura macia da sua pele. Afastamos o beijo e nos encaramos, mantendo aquele abraço.
- Hoje eu sei que aqui, com você, é onde eu deveria estar desde sempre. - rocei meu nariz no dela, que me deu um selinho e se afastou.
- Eu quero abrir os presentes mais do que qualquer coisa. - fez uma pausa - Se eu puder fazer isso comendo aquele chocotonne, claro.
Sentamos no chão, embaixo da árvore de natal cheia de enfeites e presentes e meu coração acelerou dentro do peito. Estava chegando a hora de decidir o meu futuro e minha perna direita balançava freneticamente, incapaz de conter o nervosismo. estava sentada de frente para mim, com as pernas cruzadas no estilo índio, com o chocotonne entre as pernas. Terminou de mastigar um pedaço e sorriu para mim.
- Eu começo. - pegou um pacote de presente e esticou na minha direção, com aquele sorriso sapeca que eu tanto gostava - É seu.
Recebi o presente e rasguei o papel que o enrolava, sem nenhuma delicadeza e tirei de dentro uma camisa azul bebê, escrita na frente em letras garrafais 'I <3 MY GIRLFRIEND'. Gargalhamos juntos, mas eu fiz uma careta pra camisa.
- Não posso usar isso. - levantei do chão e a me olhava preocupada, enquanto eu ia até a mesinha do telefone e pegava um pilot preto que estava lá e voltava pra sentar no chão. Estiquei a camisa na superfície dura e risquei a palavra 'girlfriend' escrevendo embaixo 'wife' e virando a camisa para que a pudesse ver. Peguei uma pequena caixa escondida entre os outros presentes e ofereci para a minha garota. Ela ainda estava com os olhos arregalados para mim e pegou a caixa, com as mãos trêmulas. A observei abrir o presente e deixar algumas lágrimas borrarem a maquiagem, e ela ficava linda até daquele jeito.
- Eu tentei fazer as coisas certas dessa vez. - murmurei - Sabe, isso... É um pedido de casamento e eu quero saber... Você aceita?
No segundo seguinte ela estava sentada no meu colo, beijando todo o meu rosto, enquanto ainda se permitia chorar um pouco. Respirou fundo, limpou as lágrimas e foi engatinhando para o seu lugar, me deixando com cara de bobo.
- Eu aceito, , claro. - respirou fundo outra vez e sorriu - Ainda tem mais... Um presente.
Ela empurrou uma caixa amarela para mim e eu retirei a tampa dela, piscando algumas vezes só pra ter certeza de que eu estava enxergado direito. Um par de sapatinhos de bebê, branquinhos, reluziam lá de dentro. Olhei para a buscando uma explicação óbvia e ela sorria e chorava, com as duas mãos apoiadas na barriga.
- Você agora estará sempre comigo.
FIM
N/A: Então, né.
Acabou, não sei o que falar. Misconduct é minha bebê, o que farei sem ela?
Vou parar com minhas frescuras e começar a agradecer.
Agradecer às leitoras que sempre mandavam comentários, que me xingavam no twitter e me ameaçavam de morte quando eu dizia que não conseguia mais escrever.
Agradecer ao Dougie por ser um muso inspirador e não, tá. rs
Agradecer à Érika e à Nina que me aguentavam dizendo sempre 'não sei o que escrever, não consigo!' e por lerem e falarem o que achavam.
Obrigada mãe e pai, irmãos, cachorro, peixe...
Tá.
Enfim, espero que vocês tenham gostado do final, essa última cena é meu xodó, tive a ideia enquanto ouvia ho ho hopefully do The Maine, então amo mesmo.
Obrigada Mel, por me aguentar.
adeus, vejo vocês em outras fics.
@porRaissabrown
Nota da beta: Sou intrometida e decidi fazer uma nota também. Não acredito de Misconduct acabou! Okay, eu peguei ela no meio do caminho, mas mesmo assim me apaixonei por ela. Mas ok, eu supero. Tenho certeza que nos veremos em outras fics, Rai! E no worries, não tem porque me agradecer, não foi nenhum trabalho difícil te “aguentar”. Beijos!
Qualquer erro encontrado na fic é meu e se puderem, me avisem por e-mail. Nada de mandar e-mail pro site ou reclamar por comentário, ok? E deem uma passadinha na caixinha de comentários, não leva muito tempo e deixa a autora feliz, fikdik. Mel