n/a: as partes em itálico são analepses (flash-backs), especialmente porque faço uso de termos no passado.
"O dia mais importante não é o dia em que conhecemos uma pessoa e sim quando ela passa a existir dentro de nós."
Anônimo
Minhas botas chapinhavam ao longo da avenida movimentada. Balancei a cabeça, precisava pensar, precisava de ar, precisava de uma vida nova, precisava de tantas coisas! As pessoas passavam por mim, mas elas eram apenas figurões desempenhando o papel de não ouvir, nem tão pouco, ver. Nada sabiam sobre o que se passavam comigo e não havia quem quisesse saber. Não sabia para onde os meus pés me levavam, e só por hoje, também não procurei saber. Desde quando a vida se tornara tão complicada? Era difícil fazer as contas, pareciam anos, mas devia ser questão de meses.
Era inútil lutar por algo que nem eu mesma acreditava que podia ser real. Mas eu simplesmente guardaria aquele sentimento para mim? Ou teria a coragem de falar para ele tudo o que se passava comigo?
“-Me deixe mandar, ! – Minha amiga dizia, sua voz ainda estava nítida em minha memória. Eu estava mexendo na Webcam quando lhe lançara um sorriso, dando de ombros.
-Ah, tudo bem, faz o que você quiser, deixa eu só ajeitar aqui.
Depois que estava tudo pronto para nossa transmissão especial na Twitcam contra o tédio fatal que era estar num sábado à noite trancada em casa, começou a mandar para vários amigos o nosso link.
-Não acredito! – Exclamou baixinho. – Ele está online.
-Quem?
- . – Disse, a voz desfiava mil fios de malicia. Hm, ... Quem seria este ser que fazia a voz da minha amiga parecer tão pervertida só pelo fato de falar seu nome?”
Eu havia me questionado naquela época, sem nem desconfiar no que ele viria a se tornar para mim. Claro, fiquei intrigada pelo cara. Tanto que na manhã seguinte nem me lembrava mais do que havia conversado com .
Um vento frio cortou meu rosto, me trazendo de volta ao presente e me fazendo encolher instintivamente os ombros. Estava frio.
Suspirei. Não podia continuar vagando feito uma louca por ruas que estavam parcialmente vazias por causa do horário, e sujeita ao clima frio. Mas não voltaria para casa de jeito nenhum, não agora.
Mais à frente virei, indo parar em uma esquina deserta. Apenas uma pequena lanchonete jazia a poucos passos de onde estava. Hesitei na calçada, mas acabei por ceder ao frio que mordia os meus calcanhares dentro das botas. As luzes machucaram momentaneamente os meus olhos, a pupila se ajustando à claridade do lugar. Havia, assim como nas ruas, poucas pessoas ali, mas igualmente preocupadas com a própria vida.
Elas nem perceberam quando cambaleei para o balcão, sentando-me em uma das cadeiras de pernas longas e de assento com bolinhas vermelhas.
“-Quem será esse ‘. Poll’? – Perguntara a mim mesma, insegura. Será que eu deveria aceitar uma pessoa desconhecida em meu circulo de contatos? Mas depois que eu lera a mensagem vinculada com o seu pedido, citando o nome do meu ex-namorado, achei que talvez devesse aceitá-lo. Afinal, não me custaria nada, não é mesmo?”
Ri sombriamente. Realmente, naquele tempo parecia que não custaria nada, mas, no presente, o preço me parecia demasiado alto.
Uma mulher cheia de maquiagem perguntou o que eu gostaria de comer. Pedi apenas um café, só para mantê-la ocupada o bastante para que meus pensamentos voltassem a funcionar de acordo com meu principal objetivo: não perder o causador de toda aquela confusão que estava acontecendo dentro de mim. Não perder a pessoa mais difícil de descrever que eu já conhecera.
“Estávamos todos em uma roda, conversávamos e bebíamos animadamente. Mas meus olhos não conseguiam se manter atentos aos meus amigos. Eles percorriam a multidão mas não encontravam nada do que eu realmente procurava. Vez ou outra pensara tê-lo vislumbrado, mas estava escuro demais dentro daquela boate para que tivesse certeza de que era mesmo ele. ria descontroladamente, enquanto eu me perdia na imensidão do seu olhar. Eu correra feito louca para os seus braços abertos. Como passaram a estar depois daquela noite em que ele tentara roubar minha bebida no mínimo, mil vezes."
Ri fracamente daquela lembrança. Será que no final só isso que me restaria? Lembranças?
A moça que me atendeu, voltou com o meu café. Deitei minha cabeça no balcão de madeira, fitando a xícara branca como se a qualquer momento a resposta para os meus problemas apareceria escrita na porcelana nua. Não aconteceu, contudo, mas não desistiria assim tão fácil de achar uma solução que não arrancasse o chão dos meus pés.
Não tomei o café. Levantei e coloquei uma quantia qualquer em cima do balcão. Precisava agir rápido. Precisava de uma resposta rápida.
Meus pés me levaram para o seu prédio, só parando quando subiram alguns degraus até a porta. Pensei em interfonar, pensei em desistir daquela idéia absurda, pensei em tantas coisas em um prazo tão curto de tempo que meus olhos quase saltaram de órbita quando viram a porta do elevador do hall se abrir, revelando e a sua namorada de mãos dadas e totalmente sorridentes. Ah, certo. Esqueci de mencionar este pequenino detalhe: já tinha alguém.
Trabalhando agora com mais lucidez e menos euforia, o meu cérebro mandou sinais diretos e bastante explícitos para as minhas pernas. Pulei os degraus que eu acabara de subir e corri com todas as forças para o mais longe dali.
“ ’Palavras não descrevem o bem que você me faz.’ Eu lera em frente à tela do computador. ‘Posso pensar em algumas que talvez te descrevessem.’ Foi o que eu respondera. Eram comuns esses deslizes que me custavam boas horas de bochechas rosadas em frente àquela máquina estúpida que só fazia os meus sentimentos por aumentarem gradativamente de tamanho. ‘Eu e a , terminamos.’ Suspirara ao vê-lo acrescentar com uma carinha chorosa, mas sorrira quando o real significado daquelas palavras pesaram. Eles não estavam mais juntos. E com alguma sorte dessa vez, continuariam assim por mais algum tempo.”
Como estivera enganada.
Lágrimas, malditas lágrimas! Amor traiçoeiro e maldito!
De que adianta amar alguém com todo o seu corpo, com todos os defeitos que essa pessoa possui, se ela não poderá ser nossa? Se não nos ama da mesma forma? Que sentindo tem lutar por algo desse tipo, tão imprevisível e traiçoeiro?
Um soluço estúpido irrompeu de meu peito, sacudindo o meu corpo já bastante atormentando. A luz debilitada do metrô em que eu estava me ajudava a esconder aquela fraqueza humilhante que escorria por minha bochecha acompanhando a linha do meu queixo.
Sempre era a mesma coisa! Eles terminavam, a idiota aqui tomava as dores dele e eles voltavam. Simples assim.
Porém por que o meu coração não poderia seguir o mesmo exemplo? Parar de amá-lo, depois resgatar aquele sentimento quando eles já não estivessem mais juntos?
Talvez porque o amor é uma palavra invariável, ela não sofre flexões ao que queremos nem é substituída com tanta facilidade. Não é algo que podemos modificar para acompanhar com perfeição a definição que aquela pessoa tinha para nós. Não podemos usar dela em função de nós mesmos. Eu devia dar um sorriso ao vê-lo rindo, abraçado com a garota que ele ama, não? Então por que estou aqui, sozinha, afogada em um mar de perdas?
O túnel escuro do metrô passava inabalado, cumprindo sua obrigação de me levar para a segurança do meu lar.
*****
Os dias passaram. Meu tempo não era mais consumido da mesma forma que antes em meu computador e, consequentemente, deixava de ter as conversas tão emocionalmente perigosas com quem não queria saber de mim. Eu ia à faculdade, saia para almoçar com os meus colegas, fazia compras sempre que podia, mas nunca passava horas esperando-o ficar online para cumprir minha cota de humilhação.
Em um dia desses, quando checava minha caixa de e-mails, recebi um com o remetente que tanto fugi. Hesitei, estava sem titulo e eu não tinha certeza se queria mesmo ler aquilo, saber o quanto estava feliz com a namorada dele. Por isso, e pelo amor próprio que nos últimos dias resgatei, exclui o e-mail, certa de que estava fazendo a coisa correta.
Mas a verdade é que o certo e o errado já deixaram de fazer qualquer sentido para mim. Como seria certo algo que doía tanto o peito?
O afastamento brutal que tivemos só serviu para abrir-me mais uma ferida.
*****
Caminhando pelas ruas vazias de minha pequena cidade, dei-me conta de que nunca mais havia voltado a Londres. Talvez estivesse evitando a cidade de propósito, ou quem sabe só por esquecimento mesmo. Mordendo o meu lábio inferior, pensei em como as boates de lá eram boas. Já fazia anos que eu não me entregava à agitação de uma boa festa.
Quem sabe essa não seja uma ótima ocasião para reviver antigos hábitos inofensivos?
Naquela noite coloquei minha saia cintura-alta preta, uma blusa branca transparente que deixava à mostra outra blusa mais simples e ligeiramente decotada, caprichei nos detalhes e na maquiagem acreditando piamente que aquela seria a melhor noite da minha vida.
Minha mãe se dispôs a me levar, pedindo apenas para que eu tivesse juízo. Ok, mamãe.
Assim que entrei, peguei a primeira bebida alcoólica que achei, virando-a rapidamente em minha garganta. Ô, juízo bom. Ela ardeu, mas logo me senti bem o bastante para começar a me misturar com os corpos anônimos que se agitavam na pista de dança. A voz ritmada do 3OH!3 embalava os meus movimentos juntamente com as minhas ações.
Vários caras me chamaram para dançar, mas nenhum era quem eu realmente queria que fosse. A cada lugar para o qual me virava, seu rosto me assaltava, acedendo o meu coração com uma falsa chama da esperança. Apesar de tudo era impossível não ceder ao impulso de procurá-lo, de estar com ele por mais que ele não quisesse estar comigo e sim com outra pessoa.
Desvencilhei-me de meu par, um garoto qualquer que havia me puxado para dançar, e fui procurar uma bebida. Estava sóbria demais. Até demais em uma festa como essa. Cambaleei para o balcão, apoiando-me nele para falar com o garçom.
-A bebida mais forte que você tiver.
-É para já, moça. –Disse o barman em prontidão. Obviamente ele não estava interessado se eu tinha ou não idade para beber, agradeci mentalmente por isso.
Deitei minha cabeça na madeira lustrosa reconhecendo a derrota; do que adianta fingir que está tudo bem? Que um dia ele se tornará apenas uma parte turbulenta em minhas memórias?
-Aqui está.
-Obrigada. –Agradeci, forçando um sorriso. Virei a bendita bebida para que ela escorresse direto para a minha garganta. Tossi, o corpo estremecendo pelo frio.
Voltei-me para a pista de dança, meus olhos se fixando em um homem alto de ombros largos que aparentemente dançava sozinho. Estava me sentindo ousada agora que o álcool corria solto por todo o meu corpo. Estava pronta para caminhar até ele, propondo uma dança nem um pouco puritana, quando uma voz baixa e rouca soou perto do meu ouvido.
-Já está bêbada ou ainda sóbria demais?
Sorri.
-Sóbria demais. –Sussurrei de volta. Meus pés certamente não concordavam com isso, eu os sentia levemente entorpecidos, um passo impensado e logo estaria estabacada no chão.
O ouvi pedindo mais uma bebida, para mim e para ele, mas não me virei para vê-lo.
-Está sozinha? –Uma nova pergunta.
-Por que o interesse? –Retruquei.
-Está ou não?
-Depende.
-De que? –Havia um sorriso em sua voz por minhas respostas rápidas e provocativas.
O barman trouxe nossas bebidas e antes de responder dei um gole na minha.
-Da circunstância e da pessoa que pergunta.
-Então me deixe ver... –Alguma coisa nele não me era estranha. Talvez o humor implícito naquelas palavras e a malicia que as embalava. Forcei o meu cérebro a pensar mais sobre o timbre de sua voz, o leve cheiro de homem que emanava dele, mas esta se mostrava uma tarefa quase que impossível, já que meus pensamentos trabalhavam sob uma lógica distorcida, vaga. – Estamos aqui. Em uma boate. Nós dois, parcialmente sóbrios e sozinhos, olhando para a pista de dança... E sozinhos. –Repetiu, como se quisesse frisar esta palavra, destacá-la para que o verdadeiro significado dela se fixasse em mim.
Suspirei, não era isso o que eu realmente queria. Devia ter previsto o que minhas palavras provocariam nele. Mas é sempre assim não é? “Será que eu deveria”, “será que eu poderia”? Fechei os meus olhos com força, impotente, me sentindo um lixo. Mas não pelas esperanças inúteis que havia plantando no inicio daquela conversa, mas sim por não ter coragem de pôr tudo o que eu segurara em meu coração, por não ter tido da decência de lutar pelo o que eu queria, e não ficar fazendo suposições do que poderia ou não ter sido.
.
Um nome simples, e até pequeno comparado a outros, mas que preenchia de forma exorbitante a minha mente. Arrepiava a minha pele.
Dedos frios e masculinos traçaram linhas abstratas em meu braço, subindo para o meu ombro e parando ao atingirem meu pescoço. Meu primeiro instinto foi me encolher e rapidamente achar uma rota de escape, mas a reação que tive ao sentir o seu toque carinhoso foi completamente oposta. Havia algo na ponta daqueles dedos, um leve teor de desconhecido e anseio. Não abri meus olhos. Não queria acabar com aquela sensação, não queria impedi-lo.
O calor incidiu a principio em minha nuca, onde seus dedos se entrelaçavam em meu cabelo, mas rapidamente mudando de curso, quando uma lufada fria caiu diretamente em meus lábios. A lufada proferindo promessas mudas, de carinho e abandono com alguns minutos.
.
Esse nome girava em minha cabeça, tentei me agarrar a ele, me manter firme sobre essas sensações fragilizastes. Espiei por entre as pestanas, a boate parecia mais escura, mas só então quando luzes dançaram a minha volta, foi que percebi sua real presença, a presença de seu corpo bem próximo ao meu. Suas mãos desceram por meu cabelo, os dedos precisos não querendo abandonar os fios , por fim atingiram seu ponto desejado, enlaçando a minha cintura, capturando-me na armadilha quente de seus braços.
Meus olhos se focalizaram nos seus, e mesmo estando escuro demais para ver suas íris isso não as refreou de queimarem nas minhas, de arrepiar até a minha alma e me empurrar para um transe poderoso. Eu me sentia indefesa, frágil. Uma presa fácil.
O tempo parecia ter parado. Nada mais importou. Não quando a luz tremulou em seu rosto clareando parte dele.
. Ali estava ele, comigo em seus braços, me olhando profusamente nos olhos. De forma tão íntima que pareceria uma enorme sandice se não o fizesse. Achei que deveria estar sonhando. Ou se não, que a razão tivesse me faltado por completo. A segunda opção explicaria muita coisa, mas me agarrei aos pequenos detalhes que a loucura não poderia forjar, deglutindo e saboreando cada um deles. O calor do seu corpo, o intensidade anônima de seus olhos, sua respiração irregular que escorria por entre os seus lábios, separando-os luxuriosamente um do outro, o cheiro forte da bebida em seu hálito, o contato generoso de nossos corpos comprimidos fortemente um no outro.
O efeito do álcool ainda pairava sobre mim, mas nem ele conseguia ilusionar tantas pequenas peças de um mesmo quebra-cabeça, sendo ele tão complexo como este.
Estiquei mais o pescoço, roçando o nariz no dele e fazendo com que sua respiração falhasse. Percebendo algo de errado com aquele som.
-O que foi? –Sussurrei bêbada, de fato mais pela sua presença do que pela bebida digerida há poucos minutos atrás.
-Nada.
Seus lábios roçaram nos meus e, como se fosse atingido por um choque elétrico, se afastou. Tudo pareceu voltar em jorro, a verdade doeu mais que o som alto da boate martelando em meus tímpanos. Sem me fitar novamente, ele mergulhou dentro da multidão. Se perdendo nela, se perdendo de mim.
Um nó rígido instalou-se em meu peito e logo a raiva acendeu em mim. Aos tropeços fui na mesma direção em que ele sumira, as palmas da mão geladas, a roupa pesando em meu corpo, meu coração doendo e lutando para bombear sangue, para que eu fosse em frente. Para que eu não desistisse pela milésima vez.
Empurrando as pessoas e sendo igualmente empurrada cheguei à saída, na esperança de que pudesse vê-lo saindo de carro ou qualquer coisa. Só precisando vê-lo. Só precisando dos seus braços ao meu redor uma vez mais.
*****
Meses haviam se passado, e a coragem piedosamente se fora junto com eles.
Sonhos vazios e manhãs frustrantes se espreguiçavam, zombando da minha capacidade de superação. Mas eu não conseguia superar.
Era 31 de Dezembro, ano novo. A e eu tínhamos combinado de ir a Londres ver os fogos perto do rio. Ela me dissera que eram os fogos mais lindos de todo o Reino Unido e eu estava, em parte, curiosa para provar desta teoria.
nunca mais me mandara e-mail algum, nem ao menos dava qualquer tipo de noticia. Igual como eu fizera, ele me ignorava e pior, ignorava o incidente inexplicável na boate enquanto eu o revivia com freqüência.
Em parte também sentia falta de sua amizade, de quando as coisas não eram tão complicadas para ele. Até podia me sentir um tiquinho culpada, por ter criado toda essa situação, mas nada poderia ter valido mais a pena do que aqueles minutos em seus braços. Absolutamente nada.
Olhei para o relógio, faltava pouco menos de meia hora para as nove. chegaria logo, percebi aliviada. Precisava me distrair, mesmo com a perspectiva negativa para o ano novo me atormentando. Endireitei meu casaco pela décima vez naquela noite antes de entrar no Audi de . Nos cumprimentamos, mas não demorou muito para que o assunto morresse entre nós. Fiquei grata que ela não forçasse as coisas, já era bastante difícil sem as palavras.
Certamente toda Londres estava à beira do Thames River, o rio que cortava a cidade. No estacionamento pessoas corriam excitadas, em busca de um bom ponto para ver o show que logo clarearia o céu.
No entanto, as belíssimas cores não mudariam nada dentro de mim. Mas quem sabe pudessem me encher de esperança? Obviamente, quando abri a porta do carro e escorreguei para fora, não estava mais fazendo promessas vazias a mim mesma. Era inútil.
deu a volta no carro pulando, contagiada pela excitação das pessoas ao nosso redor. Sorri ao vê-la tão feliz, invejando-a um pouco. Seria bom estar feliz com o fim de um ano tão turbulento, no entanto adoraria também que alguns momentos nunca tivessem passado. Momentos que não haveriam de receber descrições que lhes fizesse jus, e que só poderiam ser transmitidos a outras pessoas por coisas simples: olhares, sorrisos, toques. O clichê de sempre, mas que ainda funcionavam com assustadora eficácia.
agarrou a minha mão, me puxando de qualquer preocupação e, só com uma gargalhada, ela menosprezava qualquer preocupação que eu tivesse. Fomos à procura de um bom lugar também.
-Por deus, como está frio! – Ela exclamou, mas sua expressão feliz negava sua preocupação com o frio.
-Eu que o diga. – Retruquei me fazendo de rabugenta. – Meu edredom deve estar chorando de saudades.
-Boba.
Seus olhos rolaram, gozando da minha cara de tacho. Bufei, a nuvem branca de calor que escapara da minha boca dissipando-se assim que entrara em contato com o frio cortante de Londres.
Na verdade nada daquilo realmente importava para mim, nem o frio. O que doía era o pensamento de que tudo havia sido culpa minha. Eu podia ter evitado que minha amizade com não passasse de nada mais do que uma convivência gostosa, que me aquecesse em dias como esse. Também precisava admitir que me sentir culpada por algo que passou não iria melhorar e nem mudar as coisas, mas então o quê? Todas as minhas opções se resumiam em seguir em frente e não olhar, jamais, para trás? Balancei a cabeça, em completa negação. Eu me recusava a acreditar que tudo havia sido um erro. Que todo aquele companheirismo adquirido por nós seria apenas mais uma página estupidamente amassada de um diário velho, escrito por mim, mas sem que me trouxesse perdas.
Olhei para a água negra do rio, ela seguia a correnteza. Algo a movia inexoravelmente para que ela se juntasse ao mar, onde era seu devido lugar. Não, não era a ingenuidade que me fazia crer que de fato algo maior que o vento ou a facilidade com poderia se mover, ou se não todos esses fatores juntos, poderiam ser a essência do percurso e do destino que a esperava. Havia algo mais, tinha de haver.
-Estou com sede. Vou comprar uma bebidinha para nós. – pestanejou para mim, enquanto falava. – Quer vir comigo?
-Não. – Balancei a cabeça. – Vou guardar nosso lugar, pode ir tranqüila.
-Ok, qualquer coisa me mande um sinal de fumaça ou...
-Ou faço algo mais contemporâneo como te mandar um sms.
-Ou isso. – Ela riu. – Boa menina.
Observei incrédula, saltitar para uma parede maciça de pessoas, e logo se perder nela. Catei meu celular no bolso, torcendo que faltasse menos de uma hora para os fogos, e consequentemente, para que toda aquela baboseira de ano novo terminasse logo.
Estava tão distraída antes, que nem pressentira o seu olhar sob mim, avaliando-me. Levantei o rosto, vasculhando entre tantos outros, com o coração martelando furiosamente no peito. Tentava ter em mente que haviam milhares e milhares de pessoas ali, reduzindo as probabilidades de encontrá-lo, a poucos metros de mim, praticamente nulas. Mas ele estava incontestavelmente ali. Sustentei seu olhar, maravilhada por mais aquela coincidência. Por fim ele sorriu, e começou a caminhar na minha direção. Quando, perto o bastante, me abraçou. Precisei de um enorme esforço para não quebrar-lhes as costelas de tão forte que o abracei.
-Feliz ano novo.
-Sabe, tecnicamente ainda não é ano novo. Faltam... – Chequei novamente pelo celular as horas. – Trinta minutos ainda. – Disse me afastando dele.
-Claro, tecnicamente. – Ele rolou os olhos para mim, zombando da minha pontualidade fajuta.
-Estava de passagem? – Perguntei, olhando para a mochila pendurada em suas costas.
-Não... Hã, mais ou menos. Na verdade acabei de voltar de uma viagem, fui passar alguns dias na casa de praia da .
Claro, eles voltaram, de novo.
-Vocês voltaram. – Não foi uma pergunta, e estava sendo bem petulante ao afirmar algo que não era da minha conta.
Mas as palavras simplesmente flutuaram da minha boca, como se fossem de extrema importância que saíssem. Muitas coisas haviam ficado sem explicações e agora que ele estava aqui, bem na minha frente, me fitando com aqueles lindos olhos cautelosos, era difícil não trazer o assunto à tona. E talvez, só por uma fração de segundo, me ocorreu que ele estivesse escondendo mais do que realmente deixava transparecer em seus atos. Seu olhar fugiu do meu, confirmando minha teoria.
-Naquela noite, na boate... Eu não estava com a . – Busquei seu olhar, precisava ter seus olhos nos meus de novo para saber que nenhuma daquelas palavras eram parte de alguma mentira ou explicação estúpida. E dessa vez, assim como desejei, ele não fugiu de mim. – Havíamos dado um tempo, fui para a boate para esquecer os problemas e encontrei você.
Um pequeno indício de sorriso começou a brotar de seus lábios e, de repente, quis que aquele sorriso não morresse, era de vital importância que não desaparecesse.
-Você foge dos problemas, mas encontra um maior ainda. Ótima forma de esquecer.
Ele riu, me provocando uma onda de calor e ternura, sabendo fui eu que o fizera sorrir e não a namoradinha idiota dele.
-Você nunca foi um problema, Anna. – O desbotamento do lindo sorriso dele me dizia o contrário. – Estávamos bêbados naquela noite.
-Então essa é a sua explicação para o que quase aconteceu entre nós? – Perguntei. Era eu quem fugia de seus olhos agora. – Por que estávamos chapados?
O silêncio que se instalou entre nós respondia a minha pergunta. Não conseguia olhá-lo, nem desentalar uma desculpa qualquer e um adeus permanente. Mesmo sendo um momento perfeito para despedidas, não poderia proferi-las, mesmo que as quisesse com todas as forças ainda existentes em mim.
-Três. – As pessoas faziam a contagem regressiva, me empurrando para as palavras que colocariam um ponto final onde eu almejava, com todo o coração, que nunca houvesse um.
-Dois. – O tempo se condensava.
-Um. – Mais um ano se foi.
Estalos altos e clarões intensos preencheram o silêncio, enterrando-o. Nos informando da chegada de um novo ano. Ergui meu rosto para o céu, maravilhada com o show de cores que vi explodirem bem em cima de mim. As cores sumiam e outras recolocavam o brilho deslumbrante da festividade. O que haveria de festejar? Ao fim?
E então, seus dedos encontraram os meus de forma tão natural que não pude deixar de corar feito uma pateta. Senti sua aproximação mas, assim como na boate, não me movi, nem olhei para ele. A expectativa me deixava agitada e inquieta, com um friozinho gostoso na barriga. Dava para ouvir o sussurro de meus batimentos cardíacos, mesmo que desbotados diante do barulho dos fogos de artifício. Seus dedos se encaixavam com precisão entre os meus, e eu fiquei em júbilo por isso. Senti sua respiração quente e úmida na minha bochecha, arrepiando todo o meu corpo. Aquela era a melhor sensação que poderia existir. O medo de perdê-lo era enorme. Pode ser amor, mas também uma grande mentira.
Por mais que eu não soubesse dos sentimentos dele por mim, não podia mudar os meus sentimentos por ele.
Fim.
n/a: Olá pessoal, Fá Judd em missão especial dessa vez. Mas antes de explicar o que isso quer dizer quero surtar um tiquinho: SEGUNDA SHORTFIC \o/ palmas para mim. Kkkk.
Agora vou falar porque esta é uma missão especial, esta fic foi um pedido muito especial que recebi de uma amiga minha. Na época eu tinha acabado de lançar a OLLG e de fazer uma entrevista para o blog dela e o pedido dela foi totalmente inesperado. Fiquei extremamente honrada com o pedido. Mas também não posso chegar e dizer “Vou botar para fuder”, não, não foi bem assim kkkk. Foi MUITO difícil, acho que de todos desafios que tive, esse foi o maior, e fico muito feliz pelo todo. Porque é uma fic gostosa de ler, você fica na expectativa o tempo todo kkkk. Eu amo essa fic, mesmo com todos os perrengues que tive de passar com ela.
Vamos aos agradecimentos não é? Vejamos... Claro, agradeço imensamente a esta minha amiga. Quero agradecer toda a minha McFamily, Little Dynee, Lu e Alice, sem vocês eu não seria metade do que sou, fato. Quero agradecer horrores a Bells kkkk, obrigado por me apoiar amiga e por betar as minhas fics. Quero agradecer a Anna Luiza por me aguentar kkk e por fim quero mandar um mega beijão para a minha capista, só a Pat sabe quantas vezes eu confundi ela e inventei moda kkkkk, obrigado por não me matar, Pat.
Dedico a Drive Away do The All American Reject (de onde eu tirei o nome da fic), eles com a música It Ends Tonight também me ajudaram muito a escrever.
n/b: Nossa! Que fic! Foi ótimo betá-la. Adorei! Gostosa de ler, surpreendente.
Mas uso o N/B para pdir desculpas para a Fá pela demora pela betagem. Meu pulso esteve imobilizado e agora que eu posso mexê-lo livremente, estou tentando poupá-lo, por isso minha betagem demorou. Me desculpe.
Erros? Envie-me um e-mail com o nome da fic, o capítulo e o erro. Kah Chaves (@misty__ynyn|KahChaves|McGirlsLand|@McGirlsLand)