História por Jéssyka | Revisão por Gabriella (até o capítulo 12) e Daniella (capítulos 13 e 14).
Capítulo 1 – All the memories.
– Cinco anos atrás.
- Eu pensei que você não viesse mais. Já são quase dez da noite. – Eu disse enquanto o abraçava. Meu coração estava batendo descontroladamente, como se fosse escapar do meu peito a qualquer momento. Era o meu aniversário de treze anos. Eu passei o dia todo esperando por um convidado, o mais importante e o último a chegar. Ele estava sorrindo pra mim agora, e todas as coisas ruins que eu havia pensado em dizer desapareceram como mágica.
- Desculpa o atraso. Acho que eu perdi o melhor da festa, não é?
- Depende. Se o melhor da festa era a minha companhia e um pedaço de bolo, acho que você não perdeu nada. Vem! Eu guardei tudo pra você lá na cozinha.
- O bolo está ótimo! Tia, a senhora é a melhor cozinheira do mundo todo! – Ele disse depois de comer o terceiro pedaço de bolo. Nós estávamos na cozinha com a minha mãe. Ela estava falando sobre a festa enquanto o entupia de mais e mais comida. Ela sempre fazia isso com nós dois.
- Que bom que você gostou! Eu vou separar um pedaço para o seu pai. Por que ele não veio? Aposto que deve ter ficado em casa vendo o jogo, não é?
- Acho que sim.
- Tudo bem, depois eu me entendo com ele. – Ela deixou o bolo embrulhado com papel toalha em cima da mesa e foi andando em direção a porta. – Filha, eu vou deitar um pouco. Não esquece de apagar a luz da varanda! Boa noite, crianças! – Eu ouvi os seus passos subindo as escadas e depois tudo estava em silêncio.
- Porque você demorou tanto. – As palavras escaparam sem o meu consentimento. Eu não me achava no direito de pedir explicações, mas eu não resisti.
- Eu estava terminando o seu presente. Eu não tive tempo de terminar antes porque estamos sempre juntos e eu queria que fosse uma surpresa. Meu pai me ajudou, por isso ele não veio.
- E você terminou? Me mostra! Eu quero ver!
- Terminei. Está aqui. – Ele tirou o meu presente do bolso da calça. Era um colar. O pingente era redondo, de madeira, com três penas penduradas, a do meio maior do que as outras duas. Ele me lembrava algum tipo de talismã oriental, algo que protegia ou que dava sorte.
- É lindo. Deve ter dado muito trabalho.
- Um pouco, mas se você gostou então tudo bem.
- Eu nunca mais vou tirar do pescoço. – Eu coloquei o colar e fui correndo até o espelho da sala ver como havia ficado.
- Meu pai disse que ia combinar com os seus olhos. – Ele estava bem atrás de mim olhando para o nosso reflexo no espelho.
- É. Acho que combinou. – Eu sorri para o nosso reflexo. – Vem! Vou te mostrar os presentes que eu ganhei. – Nós corremos de mãos dadas em direção ao meu quarto.
6 meses depois.
Eu chorava em silêncio enquanto suas mãos tentavam me consolar. Estávamos sentados na areia da praia e o som suave das ondas, combinado com o vento frio de fim de tarde, fazia daquela cena algo ainda mais triste. Era a hora de dizer adeus.
- Eu vou sentir sua falta. – Ele disse entre soluços. Eu não havia reparado que ele também estava chorando.
- Eu não quero ir.
- Dizem que o Brasil é um lugar muito bonito. Eu posso ir te visitar nas férias.
- Ou eu posso vir pra cá.
- Você pode ficar lá em casa. Aposto que meu pai deixa!
- Eu tenho que ir. Minha mãe disse que a gente viaja amanhã de manhã. – Eu levantei e limpei a areia do meu vestido. Estava quase escurecendo e eu ainda não havia terminado de fazer as malas. Mamãe devia estar reclamando, mas eu não me importava, eu precisava me despedir dele. – Toma. – Eu tirei o meu colar do pescoço e coloquei na palma de suas mãos.
- Você não quer mais?
- Promete que um dia você vai me devolver.
- Eu prometo. Quando você voltar pra mim, eu te devolvo. – Ele me abraçou por um tempo que pareceu infinito. Eu senti as lágrimas escapando dos meus olhos de novo. Nós nos olhamos pela última vez e nossos lábios se tocaram enquanto uma última lágrima rolava pelo meu rosto.
Início do outono. – Dias atuais.
- acorda! O avião já vai pousar. – Eu reconheci a voz da minha irmã me chamando. Estava tudo tão silencioso dentro do avião, quase todos estavam dormindo por conta do longo vôo sem escalas até Seattle.
- Ainda estou com sono... E com fome! – Eu disse enquanto esticava os braços e esfregava os olhos.
- A gente come qualquer coisa no aeroporto. Acorda a mamãe aí, . – balançou o braço da nossa irmã caçula que já estava acordada.
- Mamãe, mamãe! – sacudia o braço da mamãe de um lado para o outro até que ela abriu os olhos e resmungou alguma coisa.
- Isso é jeito de acordar os outros garota! Então? Já chegamos?
- Quase. – respondeu enquanto olhava pela janela do avião.
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Nós estávamos dentro do carro que minha mãe havia alugado enquanto não comprávamos um novo. A chuva fina e a neblina dificultavam nossa visão. Nós não estávamos mais acostumadas com aquele clima e nem com aquele frio. Ia ser difícil nos readaptarmos depois de tanto tempo.
- Isso é tão legal! Quatro mulheres e um destino! – disse entusiasmada.
- Eu diria quatro mulheres e um mapa de cabeça pra baixo! Mãe me dá esse mapa aqui! – Eu peguei o mapa com uma mão enquanto continuava dirigindo com a outra. Minha mãe além de ser um terror atrás do volante também era um terror para guiar o caminho. - , vê isso ai direito porque eu não quero parar no Alaska junto com os ursos polares! – Eu passei o mapa para trás.
- Garota estressada! Eu sabia que estava de cabeça pra baixo! Só estava te testando... – Ela deu de ombros.
- Segundo a placa pela qual nós acabamos de passar, estamos realmente indo em direção ao Alaska. , têm um retorno a 2 km. – analisava o mapa como se fosse uma especialista.
Finalmente, nós estávamos indo na direção certa desta vez. pegou no sono logo depois que desembarcamos e ainda estava dormindo no colo da . Para uma criança de cinco anos ela era muito comportada, apesar de ser irritantemente agitada.
- Nem cheguei e já estou com saudades do Brasil. Êita lugarzinho frio! Vou te contar. – reclamava enquanto olhava pela janela.
- Pois é! Há cinco anos, vocês ficaram chorando dizendo que não queriam ir embora daqui e agora que voltaram estão reclamando! – Minha mãe disse com um sorriso vitorioso.
- Eu só quero tomar um banho e dormir um pouco, não importa onde! E ai, ? Já estamos chegando? – Eu disse enquanto tentava enxergar algo no meio de toda aquela neblina.
- Estamos chegando a Port Angeles. Mais alguns quilômetros e chegamos à La Push.
- Então, eu acho melhor a gente dar uma parada para abastecer o carro e aproveitar para comer mais alguma coisa.
Enquanto a mamãe foi abastecer o carro, eu e as minhas irmãs fomos comer algo na lanchonete que ficava a uns seis metros do posto de gasolina. Quando nós entramos o sino que ficava no topo da porta tilintou. – Típico de cidade americana! – Eu pensei e sorri levemente.
- Eu acho que vou comer um hambúrguer. O que você quer comer, ?
- Sorvete! – Ela sorriu pra mim e pediu para sentar no banco.
- Sorvete nem pensar, está muito frio! Escolhe outra coisa! E você, ? Vai comer o quê?
- Estou sem fome. E aqui só tem comida calórica... – A tinha uma preocupação doentia com as calorias. Por mais magra que ela estivesse, sempre se achava gorda demais.
- Você que sabe. Vai pedindo as coisas ai que eu vou lá no posto ver o que aconteceu com a mãe.
Quando o sino tocou eu sorri de novo. Esse tipo de peculiaridade americana ainda estava bem vivo na minha mente. Apesar de agora me sentir cem por cento brasileira, tinha uma parte de mim que pertencia a este país. Eu estava indo em direção ao posto quando uma voz me chamou.
- Hey, , é você mesmo? O que está fazendo aqui?
- Hey, Quil! Pensava em te encontrar só em La Push! – Nós nos abraçamos por alguns instantes. O corpo dele estava quente demais. Provavelmente era febre, mas ele me parecia muito bem.
- Eu vim comprar umas coisas. Mas, e então? É só uma visita ou veio pra ficar?
- Viemos para ficar. Minha mãe estava muito preocupada com a violência no Rio de Janeiro, as coisas lá estão meio fora de controle, então nós voltamos! Ela arranjou um emprego numa escola aqui de Port Angeles e é isso!
- Então vocês estão morando aqui?
- Não. Minha mãe quis voltar para a nossa casa em La Push. Ficar perto da família e dos amigos.
- E a ? Ficou em casa?
- A gente acabou de chegar aqui. Só paramos pra reabastecer e seguir pra La Push. A está ali na lanchonete com a .
- ? E quem é ? – Eu havia esquecido que o Quil não conhecia a . Ninguém aqui conhecia. E ia ser um problema à parte explicar as origens dela.
- É a , minha irmã caçula. Assim que a gente chegou lá no Brasil minha mãe engravidou de um namorado, mas o relacionamento não deu muito certo. Mas vamos lá na lanchonete, a vai gostar de ver você.
Nós entramos na lanchonete e o barulho do sino me fez rir de novo. estava sentada bebendo uma água mineral e a estava devorando um pedaço de pizza.
- Há! Está brincando! – levantou assim que viu o Quil passar pela porta atrás de mim.
- E ai ? Bom te ver!
- E essa aqui deve ser a , certo? – Ele colocou a mão na cabeça da e ela retribuiu com um sorriso. – Nossa! Ela parece muito com você !
- É. É o que dizem. , e a mamãe? – encerrou o assusto e sentou-se na mesa de novo.
- Eu encontrei com o Quil pelo caminho e esqueci dela! Eu vou lá rapidinho! – Outra vez a porta, outra vez o sino, outra vez o sorriso. Mamãe estava parada do outro lado da rua conversando com um homem. Eu não o reconhecia, mas como o papo parecia estar animado, achei melhor não incomodar. Ela não demorou muito para aparecer e nós ficamos conversando na lanchonete por alguns minutos até que o Quil disse que precisava ir. Nós quatro ficamos um pouco mais por lá. Passamos quase a tarde toda em Port Angeles fazendo algumas compras e quando o cansaço começou a incomodar resolvemos ir para casa.
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- Finalmente! Lar doce lar! – Minha mãe colocou as malas no chão e levantou os braços para comemorar.
- Nossa! Esse lugar está que é só poeira! Vai levar a semana toda pra limpar isso tudo! – Eu ia de um lado para o outro examinando os estragos que podem causar cinco anos de abandono a uma casa.
- Está do jeitinho que a gente deixou... Bateu até a nostalgia agora. – passou a mão na mesa da cozinha e ficou admirando o acumulado de poeira em seus dedos.
- Mamãe, estou com sono. – disse depois de um bocejo.
- Está bem filha, agüenta só mais um pouquinho. – Mamãe passou a mão na cabeça da . - Meninas, acho melhor a gente dar uma limpezinha em um dos quartos pra podermos dormir, amanhã limpamos o resto. – Nós pegamos as vassouras e os outros objetos de limpeza que havíamos comprado e começamos a limpar o quarto da , já que ele era o menor. No final das contas a limpeza foi completa. O quarto estava impecável. Minha mãe colocou a para dormir e acabou caindo no sono também. Como a cama era de solteiro, eu e a tivemos que dormir no chão. Todo mundo já estava dormindo, menos eu. Nem vinte bilhões de carneirinhos me fariam dormir. Minha cabeça só pensava em uma coisa, nele. A pessoa que eu mais amei, a única pessoa que eu amei, estava tão perto de mim agora! Eu precisava de um plano, alguma coisa para poder me aproximar. Agora eu tinha que dormir, amanhã iria ser um grande dia.
Capítulo 2 - Ainda não decidi.
Eu acordei na manhã seguinte com o barulho da correndo pela casa. Uma luz fraca entrava pela janela e vinha em direção ao meu rosto. Eu queria me virar para o outro lado e continuar a dormir, mas eu sabia que teríamos um longo dia a começar pela faxina no resto da casa. Enquanto eu lutava contra os lençóis, a porta do quarto se abriu.
- Que bom que você acordou! Vai logo tomar seu café da manhã pra gente começar a faxina. – minha mãe estava vestindo um macacão velho e usava um lenço amarelo na cabeça.
Eu me vesti com umas roupas velhas e fui tomar meu café da manhã, depois nós nos separamos por cômodos para a faxina. Mamãe ficou com a cozinha, ficou com a sala e eu fiquei com o meu quarto. Antes do meio-dia já havíamos terminado tudo, inclusive o quarto da mamãe, o banheiro e a varanda, que limpamos por último.
- ? Lembra de quando eu bati de cara naquela árvore ali? – Eu e a estávamos sentadas nos degraus da varanda, olhando para a nossa rua.
- Claro que lembro! Papai estava te ensinando a andar de bicicleta... Mas eu acho que nem ele sabia andar de bicicleta! – nós rimos juntas com a minha observação.
- Pois é... E eu nunca aprendi a andar de bicicleta!
- Eu bem que tentei te ensinar, mas você morre de medo de chegar perto de uma bicicleta.
- Fazer o quê? Traumas de infância! Sorte sua que quem te ensinou a andar de bicicleta foi aquele seu namorado. Qual era o nome dele mesmo?
- Era... ! Desce já daí! – estava tentando subir a cerca que dava para a rua. Eu corri e tirei-a de lá antes que acontecesse algum acidente. – Ô MÃE! – eu gritava pela casa, enquanto procurava pela minha mãe. Ela estava na cozinha, preparando o almoço.
- Ai meu Deus! O que aconteceu agora?
- A tava tentando pular a cerca. – eu peguei uma maçã que estava no cesto de frutas e dei uma mordida.
- Ah! Não tem perigo! Quase não passa carro por aqui mesmo. – ela deu de ombros.
- Ela podia se machucar na cerca. Eu sempre me machucava nessa cerca.
- Criança é assim mesmo. Quando eu era criança todo dia aparecia com um machucado em casa. Sua avó só faltava ter um treco!
- Mudando de assunto. O que a gente vai fazer hoje? – eu já estava na minha segunda maçã.
- O que vocês quiserem... Porque que você não vai procurar seus amigos?
- É. Eu acho que vou na casa da . Assim eu mato as saudades dela e descubro o que aconteceu por aqui nos últimos cinco anos.
- E eu acho que vou a Port Angeles de novo, comprar mais algumas coisas pra casa enquanto eu ainda tenho tempo. Segunda-Feira eu já começo a dar aulas lá na escola.
- E ai? O almoço já está pronto? Eu tô com fome! – entrou e sentou do meu lado.
- Eu também tô com fome mamãe! – sentou no colo da .
- Já está tudo pronto, mas eu acho bom vocês lavarem essas mãozinhas primeiro! – mamãe disse, enquanto começava a trazer as coisas para a mesa.
Depois do almoço resolvi dar uma saída. A casa da ficava só a alguns quarteirões. Enquanto eu chegava mais perto, a porta da casa se abriu e, antes que eu tivesse certeza de quem era, ouvi gritarem meu nome.
- ! Eu não acredito! – nós nos abraçamos forte e começamos a nos balançar. – O Quil me disse, mas eu não acreditei! Amiga que saudades de você!
- Eu também tava morrendo de saudades! Você é a primeira pessoa que eu venho visitar viu!
- Aihh! Que bom! Então entra pra eu te contar as novidades! – nós entramos na casa dela e fomos direto para o seu quarto. Parecia que não havia ninguém lá além de nós duas.
- E então? Quem nasceu, quem morreu, quem casou, quem separou... – eu sentei na cama dela e fui logo fazendo as perguntas mais importantes.
- Nossa! Eu vou muito bem viu! Obrigado por perguntar! – ela se fez de ofendida e depois riu da minha careta.
- Desculpa! Como é que você está? E a sua família, seus irmãos, seus pais?
- Estamos todos bem. O meu irmão Johnny foi pra faculdade, minha irmã Cindy casou e foi morar em Atlanta e o meu pai vive em pé de guerra com a vovó, como sempre.
- E você? O que andou fazendo nos últimos anos?
- Com certeza não estive fazendo nada de fantástico, nem muito menos saí por aí vivendo mil e uma aventuras. Sei lá, às vezes eu tenho a impressão de que tô vivendo o mesmo dia todos os dias sabe.
- É. Eu também andava me sentindo assim, mas quando minha mãe falou da viajem eu me animei um pouco. A vida aqui é completamente diferente... Mais, sei lá, desacelerada.
- Desacelerada é? Pra mim tá mais pra mortificante... Odeio esse lugar.
- E a faculdade? Você devia ter ido, nem que fosse só pra sair daqui.
- Quando eu terminei o colegial, o meu pai bateu o martelo. Ou engenharia ou nada. Nem preciso dizer que eu escolhi o nada né!
- E que faculdade você escolheria?
- Artes Cênicas. Você pode imaginar a cara que meu pai fez quando eu disse isso pra ele né?
- Pelo menos você sabe o que quer. Eu não tenho a menor ideia do que vai ser da minha vida.
- Bate aqui.
- Nossa! Essa história me deixou até meio deprimida! Ainda existe aquela sorveteria a duas quadras daqui?
- Existe sim! Deixa só eu pegar um casaco.
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Nós estávamos na sorveteria há quase meia hora, conversando sobre todos os assuntos possíveis. A perguntou sobre o Brasil e sobre a minha mais nova irmã. Eu tive que fazer um pequeno resumo, senão ficaríamos naquela sorveteria até anoitecer. Nós rimos, brincamos, falamos mal de algumas pessoas. Eu achava incrível o fato da nossa amizade não ter enfraquecido nem um pouco nesses cinco anos de distância. No final das contas, nós éramos muito mais amigas do que imaginávamos. Eu estava falando sobre como era o meu colégio no Brasil quando me interrompeu.
- , eu não sei se você se lembra... – ela parecia cuidadosa. – mas você tinha um namorado aqui em La Push.
- Claro que eu lembro. E sabe? Eu ainda sou meio na dele. Nem todos os garotos do Brasil me fizeram esquecê-lo.
- Nossa! Que... Romântico.
- A propósito, você sabe dele? Quer dizer... Ele ainda mora por aqui? Ele tá muito mudado? Ele tá sozinho?
- Sim, sim, sim e sim. E só pra saber? Vocês já se viram?
- Ainda não. E eu nem sei o que eu vou fazer quando isso acontecer.
- Então eu acho bom você descobrir, porque ele está bem ali na calçada. – meu corpo congelou na cadeira. Eu tentava respirar, mas não havia oxigênio suficiente. Lentamente, virei meu rosto em direção à calçada. Ele estava parado na frente da sorveteria, conversando com mais duas pessoas que eu não conhecia. tinha razão, ele havia mudado muito. Estava alto e forte, e os cabelos estavam mais escuros e curtos. Não havia mais nada do garoto que eu conheci a não ser o sorriso, a única coisa que me fez reconhecê-lo de imediato.
- Ele está... Diferente.
- Claro né ! Faz cinco anos, não cinco dias! Que foi? Acabou o amor? Não vai me dizer que ele ficou feio, porque ele está super gato!
- É. Ele está gato sim, mas é que... Sei lá! Acho que eu me agarrei demais às minhas lembranças.
- Deixa de bobagem vai. É o mesmo mané de sempre, só que numa versão melhorada!
- Você ainda o odeia né?
- Não é que eu o odeie, só quero que ele morra, só isso.
- Generosidade sua querer tão pouco.
- É. Eu sou muito generosa. Xii... Ele está vindo pra cá! – ela desviou os olhos para o sorvete.
- Ai meu Deus! Como é que eu estou? Eu estou bem? E o meu cabelo?
- Você está ótima. Você está sempre ótima. É por isso que eu te odeio! – eu mandei um beijo pra ela e respirei fundo.
- Dona encrenca! A senhorita por aqui a essa hora da tarde! Bem que eu percebi os pássaros fugindo assustados! – Uma voz rouca, que vinha detrás de mim, cumprimentou a com uma ironia que não me parecia nem um pouco familiar.
- Mister La Push! É sempre um desprazer te encontrar! E a família como vai? Espero que tão bem quanto o seu ego. – retribuiu o cumprimento com a mesma ironia e um sorriso falso no rosto.
- Estamos todos muito bem. Pena que você não pode dizer o mesmo não é? Ouvi dizer que você deu outro vexame na semana passada... tsi tsi tsi! Você realmente devia parar de beber tanto.
- Pois fique sabendo que nem no mais alto grau de bebedeira eu conseguiria ser tão cretina quanto você!
- Não tem problema! Um dia você chega lá! – eu o senti indo em direção à . Exatamente de frente para mim. – Amiga nova? Uma gracinha! – Eu olhei dentro dos olhos castanhos dele esperando por algum reconhecimento. Nada. Ele simplesmente não me reconheceu.
- Tenta deixar de ser imbecil por um instante! Essa é a... – eu dei um pequeno chute nas pernas da e ela entendeu o recado. – Essa é a última garota que te daria alguma confiança, além de mim, claro.
- Você não devia ficar andando por ai com esse tipo de gente sabia, gatinha? Muito prazer, meu nome é Steve Carter. – ele me estendeu a mão.
- . Pra você só .
- Okay ! A gente se vê por aí... E pensa no que eu te disse. – Ele piscou pra mim e foi para o outro lado da sorveteria.
- Idiota! Ordinário! Como é que você pode gostar de um sujeitinho desses ainda hein? Ele nem lembrou de você! Nem do seu nome!
- É. Esse reencontro foi exatamente o inverso do que eu estava esperando. Ele não é mais o mesmo. – eu suspirei.
- Não meu bem! Ele continua o mesmo de sempre!
- Para ! Ele não te tratava assim antigamente.
- Não na sua frente! Ele sempre foi um grande fingido, isso sim! Quer apostar quanto que quando ele descobrir que você é você vai começar a me tratar com a maior das simpatias? É isso que ele faz, manipula as pessoas! Acredita em mim agora?
- Eu não sei. Eu tô... Muito decepcionada. – eu suspirei e cocei a cabeça.
- Acho bom te levar pra casa antes que você comece a chorar aqui no meio da sorveteria! E ainda mais na frente daquele rato vaidoso.
- Eu acho melhor nós irmos mesmo.
Nós estávamos andando bem devagar pela rua quando um carro passou em alta velocidade assustando todos os pedestres em volta.
- Filho da puta! Tomara que bata esse carro e morra! – Eu pude ver o ódio injetado nos olhos da . Definitivamente havia acontecido muito mais entre ela e o Steve do que eu estava sabendo.
- O que você tá me escondendo?
- Sobre?
- Você e o Steve?
- Nada. Eu só o odeio, só isso.
- Uhum, sei. Então me promete uma coisa?
- O quê?
- Que quando eu estiver no meu leito de morte, no fio da vida sabe, você vai me contar a verdade.
- É. Acho que sim. Puta que o pariu! O tempo passou e eu ainda não consigo mentir pra você!
- Eu sou uma pessoa observadora esqueceu?
- E pelo visto só melhorou com o tempo né?
Nós estávamos virando a esquina quando uma cena chamou toda a minha atenção. A turma do Steve estava encostada na lateral do carro, aparentemente discutindo com um grupo de garotos.
- Hahaha... Se ferrou! – se divertia observando a cena. Algo me dizia que não era a primeira vez que aquilo acontecia, agora eu só precisava saber o que era “aquilo”.
- , o quê que tá pegando? – Nós paramos de andar e encostamos em um carro que estava estacionado na calçada.
- O Sam tá dando uma dura no clubinho do Steve, de novo.
- Não entendi?
- É assim que funciona, flor. O Steve faz besteira pela reserva e o Sam repreende ele. Aliás, já está mais do que na hora do Sam parar de ameaçar e dar logo umas boas porradas no Steve. Sim, porque qualquer um dos garotos, incluindo o Sam, dá dois Steves brincando. Menos o meu irmão, mas ele chega lá... Do jeito que ele tá crescendo – suspirou só de pensar na possibilidade de ver o Steve levando uma surra.
- Mas, hei... aquele ali é o seu irmão? – eu estava tão ocupada tentando entender toda aquela confusão que nem reparei nos garotos que estavam junto do Sam.
- O próprio. Aliás... HEY QUIL! JOGA NO MAR... PROS PEIXINHOS! – deu um grito escandaloso para o irmão e depois caiu na gargalhada, igualmente escandalosa. De repente nós duas estávamos rindo escandalosamente.
- CALA A BOCA SUA BÊBADA ESTÚPIDA! – Steve gritou na nossa direção.
Eu não saberia dizer o que mais me assustou, o comportamento estúpido do Steve ou a reação que o Quil teve logo depois.
- NÃO FALA ASSIM COM A MINHA IRMÃ! – eu só ouvi o barulho do Steve sendo arremessado contra o carro e vi a mão direita do Quil o estrangulando. Foi uma ação rápida. De repente, o Quil estava sendo segurado de um lado e o Steve do outro.
- Isso não vai ficar assim! – Steve ameaçou.
- O que não vai ficar assim é o que você anda fazendo pela reserva. – Sam respondeu e começou a andar em nossa direção, logo os outros o estavam seguindo.
- Hey, ! O Quil nos contou que você estava de volta. Seja bem vinda! – Sam disse, com um sorriso.
- Obrigada pelas boas vindas, Sam. Legal encontrar com todo mundo de uma vez só! E com tanta ação! Eu pensei que iria rolar uma pancadaria sinistra agora!
- O imbecil do Carter tá abusando da sorte. Hey, ! Bom te ver! – eu me perdi em pensamentos. Quem é esse? E então ele sorriu pra mim. Esse sorriso... Jacob Black. O quê? Jacob Black? Não...
- Hey, Jake! Nossa, você tá alto! Tá mais alto que o Sam! – eu pedi a todos os santos que ninguém tivesse reparado na minha cara de espanto total. Mas que era incrível, isso era!
- Hey? Youhoo? Eu sei que não sou tão bonita, mas eu também estou aqui viu! – tinha sido totalmente deixada de lado por todos nós.
- Desculpa , mas é que você a gente vê todo dia! – Embry deu de ombros.
- Emocionante sua sinceridade. – balançou a cabeça e deixou pra lá.
- E vocês estavam indo pra onde, hein nanica? – Quil deu um empurrão de leve no ombro da irmã.
- A gente tava na sorveteria, mas aquela mula sem cabeça do Steve apareceu e acabou com o nosso apetite, aí a gente resolveu voltar pra casa.
- Então vamos, eu levo vocês.
- Eu também vou com vocês então. – Jacob disse e de repente os dois já estavam andando.
- Então, tchau pra vocês. – Sam e Embry se despediram e foram para o lado contrário.
Quil e Jacob foram andando na frente, bem na frente, enquanto eu e conversávamos sobre nossas formaturas. Ela ficou impressionada pelo fato de no Brasil não existir baile de formatura e nem baile de coisa nenhuma. Eu perguntei como foi o baile de formatura dela e quem foi o seu par.
- Josh? Que Josh? Aquele Josh?
- Uhum. Eu namorei com ele um tempo.
- Que legal amiga! Você gostava tanto dele.
- Pois é amiga. Mas é aquilo. De longe é um príncipe, mas de perto é um sapo! O garoto é um tremendo imbecil! Além de ser burro! Burro e infantil! Sei lá, acho que eu preciso de alguém mais maduro.
- Só não vai arranjar um velhote, pelo amor de Deus!
- Tudo bem. Sem velhotes. – nós demos mais alguns passos em silêncio até ela começar a falar de novo. – HEY, VOCÊS DOIS! DÁ PRA ANDAR MAIS DEVAGAR! SÃO DOIS PARES DE PERNAS CURTAS AQUI!
Os dois ficaram parados enquanto nós nos aproximávamos. De repente, eu voltei cinco anos atrás, na última vez em que eu vi a .
- Tá me levando pra onde, ? – Nós estávamos andando por entre a floresta em direção aos penhascos.
- O meu irmão e o Jacob também querem se despedir de você. – Ela respondeu sem se virar pra trás. Nós estávamos quase chegando, eu já podia sentir a brisa fria do mar soprando no meu rosto.
- Não seria mais fácil se eles se despedissem lá na sua casa? Eu fiquei lá a tarde toda!
- E estragar a beleza do momento!
- Que beleza? Que momento?
- Calma que você já vai entender.
Assim que nós chegamos lá, eu pude ver os dois garotos parados enquanto nos aproximávamos. Quil estava com uma cara de expectativa, já o Jacob estava com uma cara meio estranha que eu não consegui entender.
- Vamos sentir sua falta. – Quil me abraçou quando nós já estávamos bem perto.
- Eu também. Mas isso não é um adeus, okay?
- Claro que não!
- Er... Ops! Acho que eu esqueci o forno ligado! Quil, vem lá comigo, rapidinho? – nem esperou a resposta do irmão e já foi puxando-o para longe.
- Acho que somos só nós dois. – eu disse e fiquei esperando uma resposta.
- , er... Eu queria... Eu queria só dizer... – ele não conseguia terminar a frase, mas parecia ser algo importante, tão importante ao ponto da ter me levado até lá e depois ter ido embora com aquela desculpa esfarrapada.
- Então diz! Anda! Diz logo o que é!
- É... Aff! Boa viajem.
- Só isso? – ele ficou pensativo por alguns instantes, depois abaixou a cabeça e respondeu.
- É.
- Hey, ! Acorda! Não tá ouvindo a buzina não? – Eu voltei pra realidade quando a sacudiu os meus ombros.
- Desculpa, eu tava pensando numa coisa. Que buzina?
- Sua mãe tá ali buzinando! Anda logo, antes que ela desista de te esperar! – eu olhei em volta e minha mãe estava parada, fazendo sinal para que eu entrasse no carro.
- Então tá né! Tchau pessoas! Depois a gente se vê! – eu me virei depois de ouvir o tchau de cada um.
- Eu estava voltando pra casa e vi você parada ali... Que cara é essa? Dia ruim? – minha mãe disse assim que eu entrei no carro e coloquei o cinto.
- Eu não sei. Ainda não decidi. – eu fechei os olhos e afundei no banco.
Capítulo 3 – Party.
Eu estava sentada na janela do meu quarto, apreciando o pôr do sol e ouvindo música no meu Ipod. Ao invés de pensar em tudo o que tinha acontecido no meu dia, resolvi abstrair um pouco e relaxar. Só eu e minhas músicas preferidas, era tudo o que precisava.
- ! – o grito que a deu ao entrar no quarto quase fez o Ipod cair da minha mão.
- Qual é a sua, hein garota? Sabe que eu não gosto que entrem no meu quarto assim! O que você quer?
- Eu quero ver as meninas super poderosas!
- E...
- E eu quero que você coloque o DVD pra mim!
- Aff! Ninguém merece! Você tem mãe, sabia? – eu resmungava enquanto descia da janela para colocar o maldito DVD no aparelho. A sala estava vazia - isso significava que a havia saído, já que ela está sempre assistindo tevê. Não havia sinal da minha mãe também, então provavelmente as duas deviam ter saído juntas.
- Escuta, , onde a mamãe e a foram?
- A ia encontrar com umas amigas e a mamãe recebeu uma ligação e saiu. – me respondeu sem tirar os olhos da tevê.
- Ligação, é? Que estranho... Ela nem me falou nada! – eu fiquei meio desconfiada. Minha mãe não costumava guardar segredos de mim. E, além do mais, ela não tinha o costume de deixar a sozinha sem me mandar ficar de olho nela.
- , faz pipoca pra mim? – ela me olhou com aquele olhar de cachorro pidão que sempre me convencia.
- Tá! Mas para de fazer essa cara! E outra coisa. – eu cocei a cabeça. – Você sabe com quem a mamãe tava falando no telefone?
- Hum... Eu não lembro mais do nome. – ela fez biquinho.
- Homem ou mulher?
- Homem!
- Homem, é? Quem será? Ah! Esquece, eu vou fazer sua pipoca. – eu fui até a cozinha, abri o armário e peguei o pacote de pipoca. Alguns minutos depois o microondas apitou, eu coloquei a pipoca numa tigela e levei pra .
- Toma . Vê se não espalha pipoca pelo chão todo! Qualquer coisa eu tô lá no meu quarto... E se comporta!
Eu voltei a minha posição inicial na janela e peguei o Ipod de novo.
- Essa não, essa não... Essa aqui! – eu fechei os olhos e comecei a balançar a cabeça com as primeiras batidas da música. O vento soprava forte e bagunçava meu cabelo enquanto eu cantava e balançava as pernas, uma para dentro e uma para fora da janela.
When you're on a holiday
You can't find the words to say
All the things that come to you
And I wanna feel it too
On a island in the sun
We'll playing and having fun
And it makes me feel so fine I can't control my brain
Eu só queria curtir a música e cantar desafinadamente até que alguém viesse reclamar, ou não. Estava dando certo até o telefone começar a tocar. Primeiro eu pensei em ignorá-lo, mas como a mamãe e a estavam fora de casa, achei melhor atender.
- ! Abaixa o volume da tevê! – eu esperei até ela me obedecer e sentei no sofá, depois peguei o telefone e atendi.
- Alô?
- Oi, , é a !
- Oi, ! E aí? Já tá com saudades de mim? Só um minuto! , pode aumentar o volume! – eu levantei do sofá e fui caminhando de volta para o quarto. – Pronto, pode falar! – eu fechei a porta e me joguei na cama.
- Eu só queria saber como você estava depois de... Você sabe, aquela coisa toda com o Steve.
- Sei lá... Tô tentando não parar para pensar no que aconteceu. Eu tive tantos sonhos bobos de adolescente com o Steve. Que a gente iria se olhar nos olhos e sair correndo para os braços um do outro, tipo como nos comerciais românticos, sabe?
- Sei. E depois iria tocar aquela musiquinha de E o Vento Levou... – eu comecei a rir quando a fez questão de cantarolar a melodia, principalmente por me lembrar que essa era a música que sempre toca quando o Professor Girafáles encontra com a Dona Florinda.
- Steve, não gostaria de entrar para tomar uma xícara de café? – eu comecei a rir alto.
- Não entendi?
- É que tem um seriado lá no Brasil que... Ah! Deixa para lá!
- Mas, sério, você está bem? – ela fez um tom de voz sério desta vez.
- Não se preocupa, eu tô legal. E sabe? Até que essa decepção não foi tão decepcionante assim. Eu pensei que, se algo desse errado, me sentiria super mal e tals, mas na verdade é como se não houvesse nada pra ser sentido.
- Perfeito! Então eu já posso te contar!
- Contar o quê? – eu me lembrei do dejavú que tive de tarde.
- É festa, é festa, é festa, é festa!
- Festa? De quem?
- Minha, ué. Esqueceu que sábado é o meu aniversário?
- Se eu disser que sim, você fica brava?
- Hum... Não. Eu também não lembro do seu!
- Que amiga, hein? Valeu! Mas enfim... Quando, onde, que horas, com que roupa?
- Sábado, lá na praia, 19h. Pode ir com qualquer roupa, mas lembra, é uma festa na praia e não a entrega do Oscar!
- Poxa! Então vou ter que guardar meu Givenchy para outra ocasião...
- Por favor, faça isso! E não esquece de chamar a ! Agora eu preciso desligar, depois a gente se fala.
- Tá, mas eu preciso falar com você sobre um assunto que eu lembrei de tarde.
- Sábado você fala! Tchau!
- Tchau! Beijos!
Eu desliguei o telefone e depois de pensar um pouco nas possibilidades resolvi desligar a cabeça também. Peguei meu Ipod e deitei de costas, admirando o teto do quarto.
Sábado. Nunca vi um dia demorar tanto pra chegar! Os dois dias que separaram a ligação da do sábado foram os mais monótonos já registrados. ficou toda animada com o convite e não falava de outra coisa. Mamãe ficou toda misteriosa depois da tal ligação e a ... Bem, a continuava a .
- , o que você acha desse vestido? – estava na frente do espelho, experimentando a centésima combinação de roupa.
- Você não está mesmo pensando em usar o vestido que você usou na minha formatura pra ir numa festa na praia, está?
- É, né... E o que eu coloco então? Eu tô tão gorda... – ela se jogou em cima da cama.
- Se você está gorda, nem me atrevo a pensar como estou! Deixa de bobagem, vai! Coloca um short e uma camiseta e vamos logo, senão eu vou te deixar pra trás!
- Ih! Pra que a pressa? Marcou com alguém, é?
- Eu preciso perguntar uma coisa pra que já tá me deixando louca!
- Humm... E o que seria?
- Se eu vou perguntar é porque eu não sei, e se eu não sei, como é que eu vou te contar?
- Tá, mas... É a respeito de quê? – ela levantou e sentou, ainda em cima da cama.
- É que no nosso último dia aqui, a me levou pra encontrar com o Jacob e o Quil lá nos penhascos. Quando chegamos lá, ela e o irmão se mandaram e deixaram eu e o Jacob sozinhos de propósito.
- E o que você quer saber?
- Eu quero saber o que o Jacob ia me dizer, porque não acredito que eles iriam fazer tudo aquilo só pra que ele me desejasse boa viagem, né?
- Ah, ! Tá na cara, né! Ele ia dizer que gostava de você! Só que na hora H perdeu a coragem! – ela levantou da cama e voltou a abrir a porta do armário.
- Como é que é? – eu estava perplexa.
- Todo mundo sabia que o Jacob gostava de você! – ela pegou uma blusa rosa e colocou na frente do corpo.
- Espera aí! Vamos com calma! Você me joga essa bomba na cabeça e depois vai experimentar roupa? Senta agora aqui e me conta essa história! – eu a puxei pelo braço e nós nos sentamos na cama.
- Não tem mais nada pra contar! Ele era louco por você, mas a senhrita só tinha olhos para o chato do Steve! E como o Jacob é dois anos mais novo, ele pensava que não tinha chances.
- E por que você nunca me contou isso?
- Faria alguma diferença? Você só queria saber do Steve. – ela levantou-se da cama.
Eu fiquei sentada em silêncio, processando a informação. Então Jacob Black gostava de mim. E todo mundo sabia. Menos eu! Aff! Devia ser por isso que ele sempre sorria tanto quando me via. E o que é aquele sorriso? Lindo! Eu sempre fui meio apaixonada por aquele sorriso... Mas ele era tão criança! Se bem que agora ele tá uma coisa que... Uhow!
Quando dei por mim, estava sozinha. A havia saído do quarto e eu nem reparei.
- Anda, ! Vamos logo se não EU vou te deixar para trás! – ela entrou no quarto de novo, já pronta para a festa.
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Eu estava sentada na areia, conversando com algumas amigas da . Como havia feito sol pela manhã, a noite estava com uma temperatura agradável, apesar do vento frio que vinha do mar. A parecia muito feliz. Todo mundo parecia feliz.
- ! Mas como você cresceu! Está linda! – uma mulher gorda e baixa veio me cumprimentar, mas eu não fazia idéia de quem era.
- A senhora também está ótima. Do jeitinho que eu me lembro! – nessa hora a encostou do meu lado e a tal senhora foi se afastando. – ? Quem era essa?
- Adivinha? Você adorava ela há trinta quilos atrás! – deu um grande gole no copo que estava em suas mãos. – É a professora Amélie!
- Nossa! Ela era magrinha!
- Era. Depois que o marido morreu, acho que ela resolveu afogar as tristezas num balde de frango frito. – Ela começou a rir e deu outro gole.
- Tsi tsi tsi. Já tá calibrando, é? Manéra aí, que tem muita festa pela frente. – eu peguei o copo da mão dela e dei um gole.
- Ei? Devolve meu copo! – nós duas começamos a brigar pelo copo, de brincadeira, mas depois eu o soltei.
- Cadê seu irmão? – eu perguntei, olhando para os lados.
- Ele deve estar por aí com os amigos. Daqui a pouco eles aparecem. – ela deu outro gole. – E afinal de contas? O que você queria me perguntar?
- A já me contou tudo. E você me deve explicações! – eu cutuquei a cintura dela com o dedo.
- Xii... Se for alguma coisa que eu fiz, só quero te lembrar que eu nunca fui uma pessoa lá muito consciente das coisas... E ainda não sou!
- Vamos mais pra lá que eu te conto.
Eu contei tudo para . Primeiro ela tirou sarro de mim por nunca ter desconfiado de nada, depois me explicou tudo com riqueza de detalhes. A tinha acertado no palpite, naquele dia o Jacob ia mesmo dizer que gostava de mim, mas acabou achando que não serviria de nada, já que eu estava de partida, e acabou não dizendo a verdade.
- Nossa! Eu devo ter ficado a semana toda repetindo o quanto ele era burro de não ter dito nada! – estava sentada ao meu lado com o copo cheio outra vez.
- Mas ele tinha razão, não serviria de nada. – eu olhava para o horizonte.
- Sei lá, não achava justo você ir embora sem saber de nada. Fui eu que o convenci a ter contar tudo naquele dia.
- É. Eu imaginei que isso era coisa sua.
- Mas e agora? O “Steve-me-sentindo” não está mais no caminho e o Jacob está gato. Espera aí! Deixa eu refazer essa frase. O Jacob está MUITO gato. – ela deu ênfase ao muito.
- Olha... Já que estamos entre amigas e você tocou no assunto primeiro... O que é aquilo tudo? – eu fiz um gesto com as mãos que fez a começar a gargalhar.
- Amiga, eu não sei! De repente ele começou a ficar bom, bom, bom... É o que eu chamo de espetáculo do crescimento! – nós começamos a rir. – Se ele não fosse como um irmão para mim, eu pegava! Pegava sem culpa!
- Sorte minha que eu nunca tive irmãos... – eu fiz minha melhor cara de cínica.
- Se tu for pegar, eu dou meu maior apoio. Afinal de contas, é até pecado deixar aquilo tudo ao relento, né. – ela apontou a cabeça para um canto da festa. Ele tinha acabado de chegar com os amigos.
- Eu não sei o que esses garotos estão fazendo, mas essa receita precisa ser dividida com o mundo! – eu disse enquanto dava um gole no copo da .
- Vai lá falar com ele. Aproveita e trás um copo para mim. - disse quando eu devolvi o copo para ela, vazio.
Eu voltei para a parte movimentada da festa, procurando ao mesmo tempo pela minha irmã, pelo Jake e pelo copo da . Primeiro, eu encontrei a - ela ainda estava conversando com as mesmas amigas, só que agora perto da mesa de bebidas. Eu troquei duas palavras com ela e peguei a bebida da . Quando já estava voltando, senti uma mão segurar meu pulso esquerdo.
- Ah! Oi, Steve! O que você quer? – eu disse sem muita vontade.
- Eu já sei quem você é. Legal nós dois nos encontrarmos assim depois de tanto tempo... A gente pode conversar um pouco? – Ele me puxou por entre as pessoas e me levou para mais perto do mar.
- Já pode soltar meu braço. Tá machucando. – eu disse e ele imediatamente me soltou.
- Por que você não veio me procurar antes? Aposto que isso é coisa da cachacinha, né? – ele apontou com a cabeça na direção da , que estava de costas sendo cumprimentada por algumas pessoas.
- A minha amiga – eu dei ênfase ao nome dela – não tem nada a ver com isso. O tempo passou ,Steve. Não existe mais nenhuma ligação entre nós dois. – eu já estava me retirando quando ele puxou meu braço de novo.
- Sempre vai existir uma ligação entre duas pessoas que já se amaram. – Que clichê! Menos um ponto para você! Eu dei as costas pra ele e tentei me afastar, de novo em vão. Ele me virou de volta e começou a aproximar seu rosto do meu, mas, antes que nos beijássemos, uma voz fez ele se afastar de mim.
- QUAL É A SUA, HEIN, STEVE? O QUE VOCÊ QUER COM A MINHA AMIGA? – chegou falando alto. A voz dela estava nitidamente acima do barulho da música.
- Não é da sua conta! Por que você não vai encher a cara? É só isso que você sabe fazer mesmo!
- Steve, ofender a aniversariante já é dose, né! Tchau para você! – eu segurei o pulso da e já íamos embora quando o Steve segurou o meu braço com força.
- Espera! A nossa conversa não terminou.
- Solta ela! – De repente o Jacob estava lá, entre mim e o Steve.
- Olha, olha! Ainda de olho na minha namorada, Black? Ela nunca vai querer nada com você! É de mim que ela gosta! – ele soltou o meu braço e eu fui para o lado da .
- Ela não é mais sua namorada, e se você continuar a incomodar ela ou quem quer que seja, vou fazer uma coisa que já devia ter feito há muito tempo, porrar a sua cara. – ele disse a última frase bem devagar, mas com muito ódio. Suas mãos estavam tremendo e eu achei melhor fazer alguma coisa antes que a festa terminasse em pancadaria.
- Steve, se em algum momento da minha vida eu preferi você ao Jake, não prefiro mais. – eu sorri ironicamente e logo depois peguei a mão do Jake, puxando-o para longe dali. A estava nos seguindo logo atrás.
- Esse desgraçado sempre me tira do sério! Cadê a minha bebida? – disse, se colocando ao meu lado.
- Deixei cair. Desculpa. – eu cocei a cabeça, ainda meio nervosa.
- Eu vou pegar outra então. Maldito Steve. – ela saiu de perto, resmungando todo tipo de maldições contra o Steve.
- Você tá bem? Ele te machucou? – ele disse enquanto sentava numa pedra que estava perto de nós.
- Só o meu orgulho. Normalmente eu não deixo as pessoas me tratarem assim.
- Se ele fizer de novo, você...
- Não se preocupa, acho que ele não vai fazer de novo. Eu fui bem clara, não fui? – eu olhei pra ele e sorri. Ele retribuiu o sorriso.
- É. Foi sim.
Antes que qualquer um de nós pudesse falar mais alguma coisa, ouvimos alguém gritar algo e uma grande confusão se iniciar em um ponto da praia, perto da água. Ele se levantou rapidamente e foi em direção as pessoas, eu fiz o mesmo. Apesar da multidão que se aglomerava em volta eu pude ver o que era. havia bebido tanto que tropeçou nas próprias pernas e caiu de cara na água. De repente o Quil apareceu entre a multidão, colocou a irmã desacordada em seus braços e a levou para casa. A festa havia acabado.
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Eu e a estávamos sentadas no sofá da sala da . Do outro lado, perto da janela, estavam os amigos do Quil, entre eles o Jake. O silêncio era tanto que incomodava. O único som que se ouvia era o tic-tac do relógio de parede. De repente houve passos na escada. Era o Quil.
- Minha mãe disse que ela vai ficar bem. – ele estava com uma cara abatida, porém resignada.
- Ela já está acordada? Posso ir lá em cima? – eu disse já me levantando do sofá.
- Pode sim. Vai lá.
- Eu vou ficar aqui te esperando. Manda um beijo pra ela. – disse enquanto eu passava por ela.
Eu subi as escadas sem muita vontade. Não fazia idéia do que dizer, nem de como seria recebida, mas eu precisava que ela soubesse que podia contar comigo.
- Não demore minha querida, ela precisa dormir um pouco. – a mãe da disse enquanto saía do quarto da filha.
- Pode deixar. Boa noite, tia. – ela me respondeu e eu entrei no quarto. – E aí, ? Como se sente? – eu fechei a porta e sentei na beira da cama.
- Mal. Desculpa o vexame, é que eu “Steve-bebendo”. – nós rimos juntas. – Engraçado como as coisas são. Eu fiz essa festa pra tentar sair da rotina e fiz a mesma coisa que faço em todas as festas.
- Festa que não termina em confusão não é festa. – eu tentei ver o lado positivo das coisas, se é que havia um.
- É. – ela riu. – Mas bem que da próxima vez outra pessoa podia dar o vexame. Acho que já tô meio marcada. – nós rimos juntas dessa vez.
- Não bebe mais desse jeito não, tá? – eu praticamente implorei.
- Não vai acontecer de novo. Eu prometo.
- Então eu vou indo. Descansa um pouco tá. A te mandou um beijo. – eu dei um beijo na testa dela e sai. Quando eu cheguei na sala a não estava lá.
- E cadê a ?
- Está lá fora com o Jake, ele vai levar vocês para casa. – Quil estava sentado no sofá ao lado do Sam. Todos os outros já haviam ido embora. Eu me despedi e sai da casa, já procurando o carro do Jake.
Os dois já estavam dentro do carro. A estava no banco de trás, então eu fui me sentar no banco da frente. Ficamos em silêncio durante todo o trajeto. Ninguém perguntou sobre como a estava ou sobre como eu estava em vê-la daquele jeito. Acho que estavam com medo.
- Eu vou tomar um banho e cair na cama. Boa noite pra vocês! – assim que a gente chegou em casa a se despediu e foi pro quarto. Eu e o Jake ficamos sozinhos na varanda.
- Como se sente? – Ele me perguntou enquanto nós sentávamos nos degraus da pequena escada.
- Não sei. Eu andei sabendo por ai que a andava exagerando na bebida, mas eu pensei que estavam exagerando. – eu preferi não dizer que foi através do Steve que eu fiquei sabendo.
- É. Já faz um tempo que ela anda nessa. O Quil tá preocupado, e nós também.
- Ela prometeu que não ia mais acontecer.
- Ela sempre promete.
Eu fechei os olhos, abaixei a cabeça e suspirei pesado. Em seguida senti seu abraço e relaxei. Eu ainda estava de olhos fechados quando ouvi um uivo vindo de alguma parte da floresta.
- Eu tenho que ir. – ele me soltou e levantou rápido.
- Obrigado por nos trazer. A gente se vê por ai. – eu também levantei e fui andando em direção a porta.
- Okay. Até amanhã de manhã. Amanhã de manhã? - Eu demorei alguns segundos pra prestar atenção no que ele havia dito, mas quando me virei pra perguntar, não havia mais ninguém ali além de mim. Eu cocei a cabeça, entrei em casa e tranquei a porta.
Capítulo 4 – O que eu faço?
Eu acordei na manhã seguinte com uma leve ressaca, que passou logo após a ter me oferecido o chá que ela estava tomando na cozinha.
- Fazia tempo que a gente não ia numa festa quente dessas, né ? – estava com uma cara péssima. Olhos inchados, olheiras... Acho que ela só não bebeu mais que a .
- É. Essa história da me deixou preocupada. Beber um pouquinho aqui e ali tudo bem, mas, pelo que eu entendi, ela já perdeu a noção do que significa a palavra pouquinho há muito tempo.
- O Embry me contou que essa não foi a primeira vez. Coitada... A propósito, termina logo esse café da manhã e vai se arrumar. – ela levantou da cadeira e foi lavar a louça suja.
- E aonde a gente vai às 6:00 da manhã de um domingo? As únicas coisas abertas devem ser o hospital e a delegacia, e eu nem tenho certeza quanto à delegacia.
- Nós vamos pescar.
- Hã... E desde quando você sabe pescar? E desde quando EU sei pescar? – eu levantei e também fui lavar a minha louça.
- O Embry vai ensinar. – ela pegou o prato que eu havia acabado de lavar e começou a enxugá-lo.
- A idéia até que não é ruim, mas do jeito que eu estou grogue de ontem, sou capaz de cair do barco e parar no fundo do rio. – eu enxagüei o copo e os talheres e a secou-os.
- O Jacob também vai. – Okay. Eu finalmente consegui entender o que significava o “até amanhã de manhã” que ele havia me dito.
- Tá. E, só para saber... A que horas vocês andaram planejando isso?
- Ontem, enquanto você estava no quarto da .
- Okay. Então eu vou me arrumar. Que tipo de roupa a gente usa para ir pescar?
- Sei lá. Alguma que você não se incomode de estragar.
Quando eu e a já estávamos indo para o meu quarto, mamãe apareceu no corredor.
- UAU! Acordaram tão cedo! Algum motivo em especial?
- Vamos pescar! – disse, entusiasmada.
- E desde quando vocês gostam de pescar? Ah! Já sei! Tem homem envolvido!
- E você acha que eu ia pescar a troco de nada? – eu disse e entrei no meu quarto, seguida pela .
- Tsc, tsc, tsc... E essas são minhas filhas.
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Nós duas chegamos ao fim da estrada que dava para o rio antes das 7:00. O carro do Jacob já estava lá. Eu estacionei bem ao lado e seguimos o resto do caminho a pé. estava usando um macaquinho preto bem curto, porém razoavelmente largo. Ela também estava com um tomara-que-caia branco por baixo, all star preto e o cabelo preso num rabo de cavalo. Já eu estava com um short jeans, uma camiseta com uma estampa divertida, havaianas de zebrinha, rabo de cavalo e óculos escuros para esconder o resultado de uma noite mal dormida.
- Finalmente. – disse enquanto eu respirava um pouco. Os garotos estavam sentados na margem do rio, bem ao lado do barco e logo acenaram quando nos viram.
- Pensei que vocês iam demorar mais. - Embry disse após nós termos cumprimentado uns aos outros.
- Por quê? – quis saber.
- Porque é isso que as mulheres fazem, não é?
- Não às 6:00 da manhã de um domingo. A propósito, por que as pessoas pescam tão cedo? Peixes sonolentos são mais fáceis de serem fisgados? – eu disse e logo depois bocejei um pouco.
- Eu não faço idéia, mas gostei da teoria. – Jacob entrou no barco e me deu a mão para que eu entrasse também. Embry e já estavam lá.
Nós nos afastávamos mais e mais da margem do rio. Todo o sono que havia me abandonado na noite anterior de repente resolveu voltar de braços abertos. Eu encostei a cabeça no ombro da , mas não fechei os olhos. A paisagem era tão bonita e tranqüila que senti pena de não ter levado a câmera. Os galhos de algumas árvores baixas invadiam os limites do rio e tocavam a água, formando um grande labirinto de folhagens. O tempo estava inacreditavelmente bom, tão bom que até os animais resolveram aproveitar o dia de sol na beira d’água. Havia esquilos por todos os lados e as borboletas pousavam graciosamente nas folhas ainda cheias de orvalho.
- Nós tiramos a sorte grande ou a natureza é sempre mais bonita antes das 9:00? – eu disse, ainda admirando a paisagem.
- Na verdade, os dois. Tivemos sorte de o sol sair hoje. – Jacob disse, olhando na mesma direção que eu.
- Engraçado. Eu sempre achei essa floresta horrível, mas, depois de morar tantos anos dentro de um apartamento no 12º andar, agora eu acho essa floresta mágica. Dá uma sensação de liberdade. Você pode correr por aí à vontade sem se preocupar em incomodar o vizinho do andar de baixo. – eu me lembrei da vida monótona que eu levava no Rio. Tudo se resumia a escola-casa-internet-cama. E o máximo de mudança eram alguns finais de semana na praia.
- E você conhece alguma coisa mais fantástica do que a liberdade? – Ele me perguntou.
- Eu conheço! Sorvete napolitano de casquinha! É o meu favorito! Pena que é tão calórico. – respondeu por mim.
- Tsc, tsc, tsc... Lá vem você com as suas calorias... ! Fica quieta! – eu disse e resolvi abrir a revista de moda que eu havia trazido comigo.
- Acho que aqui já está bom. – Embry disse e os dois começaram preparar tudo. Eu continuei a ler minha revista e a foi para a beira do barco, brincar com a água.
- Terminamos. E então? Qual das duas quer ser a primeira a tentar? – Embry disse, olhando pra nós duas.
- Com certeza não sou eu. Só vim dar meu apoio moral. – Eu disse e voltei minha atenção para a revista.
- Fala sério, ! – Jacob sentou-se do meu lado.
- Estou falando sério. Deixo a diversão para os mais jovens.
- Se você não tentar, eu te jogo na água. – ele ameaçou.
- Você não tem coragem!
- Deixa ela para lá! Eu tento! – se prontificou. Eles explicaram o básico e ela foi tentar lançar o anzol. Eu não faço idéia de como ela conseguiu, mas de repente a revista voou da minha mão e foi parar na água. Eu tentei segurar a risada para mostrar um pouco de raiva, mas não consegui.
- Quê isso? É pra pescar peixe fashionista?
- Desculpa, . Foi mal... – ela disse com voz de choro e se sentou de frente para mim.
- Qual é? Vai desistir? Levanta logo daí e vai tentar de novo! Se não for por você, pelo menos que seja pela minha revista!
- Sua irmã tem razão. Até que, para uma primeira vez, não foi tão ruim! Você nem machucou ninguém! – Embry disse.
- E nem caiu do barco! – Jacob completou.
- Já que vocês insistem... – ela levantou e foi tentar de novo.
- Tá! Mas espera aí! Deixa eu sair da reta! – eu me levantei e fui sentar ao lado do Jake.
Depois de prender o anzol no fundo do barco, no galho da árvore e na própria roupa, finalmente havia pego o jeito da coisa. Ela até pegou alguns peixes! Eu olhei no relógio e já havia passado das 9:30, mas infelizmente o sol já estava sendo encoberto pelas nuvens. Eu e o Jake conversávamos sobre coisas banais como escola, amigos, férias... Às vezes ele me perguntava coisas mais pessoais, como se eu havia namorado alguém no Brasil ou se eu ainda gostava do Steve. Eu disse não para as duas perguntas. A primeira porque era verdade. Eu nunca namorei com ninguém depois do Steve, embora tivesse existido alguns garotos na minha vida lá no Brasil. E a segunda porque eu achei que era isso que ele queria ouvir. Eu ainda estava muito confusa, não tinha certeza de nada, nem mesmo do que eu queria com ele.
- Okay. Mas ele pareceu interessado em você, de novo. – nós estávamos conversando sobre a festa de ontem e ele estava tentando me convencer das más intenções do Steve.
- Eu acho que não. Aquilo foi só para mostrar presença. Ele se tornou um cara muito vaidoso.
- Ele sempre foi assim.
- E eu era a única que não via isso. Eu sei, já fui informada. – eu ri de mim mesma. Nós ficamos em silêncio alguns instantes.
- Eu odiava o jeito como ele falava de você. Como se fosse um objeto, um troféu. Um dia ele passou dos limites e eu dei uma surra nele.
- Foi um dia em que levaram ele da escola para o hospital com o nariz quebrado? – eu me lembrava daquele dia com perfeição. Steve me disse que um grupo de garotos bateu nele por inveja.
- Foi. – ele riu. – Depois ele ficou dias fugindo de mim na escola... Quando estava sozinho, claro.
- E você bateu nele sozinho? Quer dizer, alguém te ajudou?
- Eu brigo as minhas brigas sozinho. - Mentiroso, babaca. Eu queria dizer isso ao Steve pessoalmente algum dia. Agora, conhecendo ele “realmente”, não era de se admirar a mentira. Admitir que apanhou de um garoto dois anos mais novo? Ele nunca faria isso.
- Sei. Er... Você disse que ele falava de mim como se eu fosse um troféu. Qual era disputa, afinal? – ele abaixou a cabeça e sorriu, nervoso.
- Ué! Saber qual de nós dois ficava com você! – eu fiquei meio consternada, apesar de já saber a resposta. Eu já estive a prêmio e só fui saber disso anos depois. – Desculpa, não foi legal o que a gente fez.
- Tudo bem, quer dizer... Se eu já fui disputada, significa que, no mínimo, sei lá... Eu valia a pena.
- E ainda vale. É por isso que a disputa recomeçou. – ele virou o rosto na minha direção e deu sorriu o sorriso mais lindo que eu já vi na vida.
- Sabia que você tem o sorriso mais lindo do mundo todo? Pára de sorrir, está me deixando mais confusa do que eu já estou. – ele sorriu e eu também. – Aff! O quê que eu faço? – eu disse, mais para mim mesma do que para ele.
- Que tal isso... – quando eu olhei em sua direção, ele me surpreendeu com um beijo. Que beijo!
- Eu te odeio, sabia? – eu disse, sorrindo. – Não, espera ai! Você tem um corpo perfeito, um sorriso perfeito, e agora também tem um beijo perfeito? O que eu faço com você? Te seqüestro e te tranco no meu porão? – nós dois rimos das minhas bobagens. - Você pode começar me dando uma chance. – quando eu ia lhe dar uma resposta, nos interrompeu.
- Desculpa atrapalhar os cochichos de vocês, mas pegamos sua revista de volta. – ela deu um sorriso vitorioso.
- Deixa eu adivinhar, você pescou ela?
- Quase. – ela sentou-se do meu lado. O final da minha conversa com o Jake ia ter que esperar.
- E então? Vamos voltar? – Embry disse, se sentado de frente para nós três.
- Acho que sim. Não! Espera! Faltou uma coisa. – Jacob disse e se levantou. Eu estava novamente entretida com a minha revista e não prestei atenção no que ele estava fazendo. – , levanta um pouquinho?
- Uhum. – eu devia ter imaginado no que ele estava pensando quando vi aquele sorriso brincalhão em seus lábios.
- Lembra o que eu disse que ia fazer se você não tentasse pescar? – quando dei por mim, já era tarde, ele já tinha me jogado... Ele já tinha “nos” jogado.
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- Atchim! – Eu espirrei e passei o antebraço no nariz. – Me resfriei. Culpa sua, Jacob Black!
- Você devia ter tentado pescar. – ele passou a mão em seus cabelos molhados.
- Que tal a gente levar esses peixes para a praia e fazer uma fogueira? – Embry deu a ideia.
- À essa hora? Não é melhor a gente fazer isso de noite? – estava certa. Estava muito cedo para se fazer esse tipo de coisa. Não era nem meio-dia ainda.
- A tem razão, vamos deixar isso para a noite. – eu me levantei e torci meu cabelo de novo. Nós estávamos sentados na margem do rio, conversando um pouco e passando o tempo. Bem, para falar a verdade, eu estava ali mais era para me secar.
- Então está marcado. O que vocês querem fazer agora? – Embry disse, olhando para . Impressão minha ou ele passou o dia todo olhando pra ?
- Eu não sei vocês, crianças, mas eu vou para casa trocar de roupa. – eu disse pegando minhas sandálias do chão.
- Eu também vou. Esse negócio de pescar cansa! – levantou-se, pegando seu all star do chão em seguida.
- Okay. A gente vai ficar aqui mais um pouco. Nos vemos à noite então? – Jacob disse.
- A gente aparece por volta das 19:00. Tchau, guys! – eu disse, já me virando para ir embora. também se despediu e veio bem atrás de mim.
Nós caminhamos em silêncio até o carro. Uma das coisas que eu mais admirava na minha irmã era essa capacidade de saber quando o silêncio era necessário. Quando eu estava com a , isso não acontecia. é o tipo de pessoa que, de tanto falar o que pensa, acaba falando demais. Mas, apesar de tudo, ela era sincera, e eu também admirava isso. Eu gostaria de ser um pouco mais sincera.
- Até que foi uma boa manhã, você não acha? – assim que nós entramos no carro, resolveu iniciar uma conversa. Ela parecia mais interessada em contar algo do que em saber.
- É. Foi sim. Principalmente na parte em que você jogou minha revista para os peixes.
- É. Essa parte foi legal. Mas teve uma coisa mais legal ainda. – ela sorriu.
- Hum... Fiquei curiosa agora. O quê? Conta?
- O Embry me beijou. – eu fiquei pasma enquanto ela sorria sem parar.
- O quê? Sério? Tem certeza? Quer dizer... Pelo que eu bem te conheço, ia ser mais fácil se VOCÊ tivesse beijado ele. – eu dei ênfase ao você.
- Tá! Fui eu que o beijei! Faz alguma diferença?
- Dependendo do contexto, toda. Mas, mudando de assunto... Quando que isso aconteceu que eu não vi!
- Foi enquanto você e o Jake estavam cochichando assim bem baixinho. – eu ria enquanto ela cochichava o final da frase bem baixinho. – E, a propósito, você e o Jake, tudo certo?
- É. Acho que a gente se acertou.
- Como assim acha? Ou você tem certeza ou não tem!
- Digamos que só falta sacramentar.
- Hã, entendi. E você está pensando em sacramentar hoje à noite. – ela deu um risinho.
- Mas não do jeito que você está pensando, sua pervertida. Eu não sou você.
- Eu não estava pensando em nada. Aff! Até que enfim chegamos!
Nós chegamos em casa e a foi direto tomar banho. Eu fui para o meu quarto pegar roupas secas e, assim que ela saiu, entrei no banheiro. Quando terminei o banho, fui direto procurar minha mãe. Ela estava na cozinha, almoçando com a .
- Demoraram vocês, hein! Cadê sua irmã?
- Sei lá. Acho que está no quarto. – assim que eu sentei na cadeira e comecei a colocar meu prato, a apareceu.
- Oi, mãezinha! – ela disse, feliz da vida, e sentou-se ao meu lado.
- Hum! Quanta felicidade! Estou de genro novo? – minha mãe disse enquanto dava um gole no suco de laranja.
- Você quer dizer “genros novos”, né, mãezinha. Finalmente resolveu acordar para a vida. – na mesma hora eu me engasguei com o suco e tive uma crise de tosse.
- zita, você é tão discreta que me dá até tosse de emoção!
- Eu só tenho uma coisa a dizer: – minha mãe deu um mais um gole do suco. – Camisinha sempre!
- Pode deixar, Dona Mãe. – eu ri e dei uma garfada nas batatas.
- Mamãe? O que é camisinha? – perguntou enquanto eu e a caímos na gargalhada só de imaginar como a mãe iria se safar dessa.
- É uma coisa que a gente usa pra fazer uma outra coisa que eu espero que você só faça daqui a uns quinze anos.
- Parabéns! Se saiu bem! – eu bati palmas para a minha mãe e a me acompanhou.
- Agora eu só espero que ela siga esse conselho, ao contrário das irmãs...
Depois do almoço todo mundo resolveu cair no sono. Eu acordei por volta de umas três da tarde e fui para a sala assistir um pouco de tevê. não demorou a acordar e nós ficamos no sofá vendo alguns clipes na MTV. Logo depois, foi a vez da mamãe e da . Ficamos a tarde toda juntas.
Às 18:00, mamãe resolveu ir visitar uma amiga e levou a com ela. Eu tomei meu banho primeiro, já que a estava demorando demais para se decidir sobre a melhor roupa e, assim que saí do banheiro, já vestida e penteada, entrou, e pelo jeito não sairia de lá tão cedo. Resolvi ir até a cozinha comer alguma coisa enquanto esperava. No meio do caminho, enquanto passava pela sala, liguei o rádio, que já estava na minha estação favorita.
Hands down Mãos abaixadas I'm too proud, for love Eu sou muito orgulhosa, para o amor For, with eyes shut Pois, com os olhos fechados It's you i'm thinking of É em você que estou pensando
Eu abri a porta da geladeira e peguei um iogurte. Procurei por uma colher pequena na gaveta e depois sentei em cima da mesa, como eu costumo fazer quando minha mãe não está em casa para reclamar.
I think I’m a little bit Acho que estou um pouco Little bit Um pouco A little bit in love with you Um pouco apaixonada por você But only if you're a little bit Mas apenas se você estiver um pouco Little bit Um pouco Little bit Um pouco In love with me Apaixonado por mim
Eu cantava e balançava as pernas entre uma colherada e outra. De repente, reparei que havia duas sombras no chão, e aquela alta e forte definitivamente não era minha.
- Como você entrou? – eu disse assim que me virei e dei de cara com ele um pouco atrás de mim.
- A porta dos fundos estava aberta. – ele chegou mais perto e ficou do meu lado, olhando para mim.
- Está fazendo o que aqui? Ficou com medo que eu te desse o bolo e veio me buscar?
- Acertou. Queria ter certeza que você não ia escapar para outro lugar. – ele ficou de frente pra mim, entre as minhas pernas, e segurou meus braços com força enquanto me olhava nos olhos. Eu fiquei hipnotizada por alguns instantes, mas logo depois recobrei a consciência.
- Se você continuar me segurando assim, não vou mais a lugar nenhum. Para o hospital talvez... – ele sabia que era brincadeira, mas imediatamente soltou meus braços e colocou suas mãos na mesa, uma de cada lado do meu corpo.
- Uma pergunta.
- Manda. – eu terminei meu iogurte e coloquei o potinho com a colher um pouco atrás de mim.
- Você ia dizer que sim, não ia?
- Ia. Eu acho. Mas preciso fazer uma coisa primeiro.
- Que coisa? – eu sorri enquanto colocava minhas mãos em volta do seu pescoço e puxava seu rosto para mais perto do meu. Foi um beijo tão suave, cheio de carinho. Depois suas mãos seguraram minha cintura com força, diminuindo a distância entre nossos corpos, e o beijo foi ficando mais intenso, urgente.
- Na cozinha, gente? Pô! Eu como em cima dessa mesa! – nós interrompemos o beijo assim que ouvimos a voz da ecoando pela cozinha.
- Vai embora, . – eu disse, olhando para ela, mas ainda com as mãos na nuca dele.
- Eu vou mesmo! Pouca vergonha na minha cozinha... Tsc, tsc, tsc. – na mesma hora em que ela disse isso, a campainha da porta da frente tocou. Enquanto foi até lá atender, eu desci da mesa e ajeitei minhas roupas e meu cabelo. Olhei para o Jake e tentei tirar o batom da boca dele, mas acabamos nos beijando de novo, um beijo rápido dessa vez. Enquanto nós saíamos da cozinha de mãos dadas, perguntei pra quem era.
- Sou eu.
- Steve?
Capítulo 5 – Olá, estranho!
- O que você veio fazer aqui? – eu automaticamente soltei a mão de Jacob e me aproximei da porta.
- Eu vim te ver. Conversar. Mas pelo visto cheguei atrasado – Ele olhou pro Jake com cara de despeitado.
- Dá licencinha pra zinha que ela vai beber uma aguinha. – saiu da zona de guerra na primeira oportunidade.
- Será que dá pra ser outro dia? É que eu estou de saída...
- Okay. É melhor mesmo, até porque o que eu tenho a dizer é particular. – eu concordei com a cabeça e abri a porta para que ele saísse. – Ah! É pra você! – ele me entregou um buquê de rosas vermelhas, minhas favoritas.
- Obrigada. – antes de sair ele se inclinou e beijou o meu rosto, perigosamente perto da boca. Eu fiquei imóvel como uma pedra, depois suspirei bem fundo e fechei a porta, ainda com medo da cara zangada que iria ver quando me virasse.
- Não olha assim pra mim. Eu preciso esclarecer as coisas com o Steve de uma vez por todas. É ou não é?
- Eu sei. – ele suspirou e descruzou os braços. – Mas pára de segurar essas rosas! – Ele foi se acalmando aos poucos, mas suas mãos ainda tremiam.
- Tudo bem, tudo bem. Eu... Nem gosto de rosas vermelhas mesmo! – eu coloquei o buquê em cima da mesa e levantei as mãos em sinal de paz, pedindo perdão a Deus pela mentira.
- Então vem aqui. – ele esticou os braços e eu fui de encontro ao seu corpo. – Não vamos brigar por causa disso. – eu sorri e dei alguns selinhos nele.
- Concordo. Agora eu vou lá na cozinha tirar a de debaixo da mesa. – eu o deixei na sala e fui até a cozinha buscar a .
- E ai? Já se livraram das provas? – ela arregalou os olhos assim que eu entrei e colocou o copo de água na mesa.
- Do que você tá falando?
- Das provas do crime!
- Que crime?
- O Jake não matou o Steve?
- Ainda não. – eu suspirei e sentei a mesa.
- Por que não? Droga! – ela deu um soquinho no ar.
- Porque ia fazer muita sujeira e a mamãe ficaria uma fera. Agora vamos logo que o Embry deve estar nos esperando, quer dizer, te esperando.
- Ih! É mesmo! Tinha até me esquecido que a gente ia sair! – nós levantamos da mesa e fomos para a sala. O Jake estava no mesmo lugar onde eu o havia deixado, completamente calmo. Nós já estávamos dentro do carro quando eu lembrei que tinha esquecido o celular e voltei para pegá-lo. Fui até o meu quarto e peguei o aparelho, na volta uma coisa me chamou a atenção. Algumas pétalas estavam espalhadas pelo chão e o buquê de rosas do Steve estava completamente estraçalhado dentro da lixeira. Antes o buquê do que o meu pescoço. Eu pensei antes de sair.
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- Pois é! Foi isso que aconteceu antes da gente sair. – eu estava no telefone com a contando com detalhes tudo o que tinha acontecido no rio, em casa e depois na praia.
- Não acredito que o ‘Steve-irritando’ teve cara de pau suficiente pra isso! Se bem que é do Steve que nós estamos falando... É! É bem acreditável.
- Eu só fiquei com pena das flores.
- E você perguntou por que ele fez isso?
- E precisava? Se é assim que ele costuma controlar a raiva eu é que não vou me meter... E além do mais, rolou tudo tão perfeito lá na praia que compensou qualquer buquê!
- Perfeito é... tsi, tsi, tsi. Sua promiscua! No primeiro dia de namoro. Depois falam de mim!
- Pois é, amiga. Ele me levou pra trás de uma rocha, rasgou a minha roupa, me jogou na areia e enf...
- DEUS DO CÉU! – me interrompeu com um grito.
- Eu tô brincando, sua maluca. Não aconteceu nada! – eu disse depois de uma gargalhada. Nenhuma de nós duas conseguia parar de rir.
- JESUS! Deixa eu recuperar o fôlego! – ela suspirou bem alto. – Mas então não foi perfeito, foi quase perfeito.
- Se você olhar por essa perspectiva...
- Deixando sua vida sexual um pouco de lado, que tal a gente sair amanhã?
- Boa. Mas pra onde? Seattle?
- Pode ser. Quem sabe eu encontro alguém pra me jogar na areia e enf...
- Tá, eu já entendi!
- Que bom, agora me deixa dormir que já são 02:15 da madrugada! Êita gente com assunto hein? Vô te contar...
- Okay, okay. Amanhã eu te ligo, digo, hoje.
- Então tchau. Beijo, beijo.
- Tchau.
Eu desliguei o telefone e me espreguicei. Sono acumulado tira qualquer um do sistema.
- Edredom azul de bolinhas coloridas, sabia que eu te amo? – Eu disse imbecilmente enquanto me acomodava nos lençóis.
Pela primeira vez, desde que eu voltei pra La Push, tive um sonho. Eu estava numa parte da floresta que nunca havia visto antes e o Jacob estava bem na minha frente. – Há muitas mentiras entre nós. – ele disse e então me deu as costas, me abandonou. Eu acordei e esfreguei os olhos. Eu hein? Sonho estranho! E logo em seguida o sono veio de novo, sem sonhos dessa vez.
- Bom dia, família! – chegou toda animada na cozinha.
- Bom dia! – Eu, mamãe e respondemos quase juntas.
- Que foi, ? Que cara é essa de picolé fora da geladeira? – ela se sentou do meu lado e já foi devorando uns cokkies.
- É que eu tive um sonho ruim, mas esquece. Eu e a vamos a Seattle, tá afim?
- Claro! E eu ainda aproveito e compro um presente pro Embry, é aniversário dele semana que vem.
- Então enquanto você termina aí, eu vou ligar pra e marcar o horário.
- Poxa! Ninguém nunca me convida pra ir a Seattle... Magoei. – minha mãe fez cara de ofendida.
- Mami’s querida, a senhora gostaria de ir a Seattle com a gente?
- Infelizmente não vai dar. Esqueceu que hoje eu começo a dar aulas em Port Angeles?
- Ih! É mesmo! E você já sabe se vai dar aulas pra turma da ? Vê se não vai deixar a coitada envergonhada, viu!?
- Envergonhada por quê? O que tem de mal ter a mãe como professora? – ela fez cara de desentendida.
- Nem vou responder que é pra não ofender.
- Ainda bem que as minhas aulas só começarão semana que vem. Eu vou ficar na sala do Embry. – deu um suspiro apaixonado.
- e Embry debaixo de uma árvore se beijando, se beijando... – começou a cantar enquanto eu e a mamãe nos acabávamos de rir.
- Tira essa garota da minha frente! – disse brincando.
- Vem, ! Tchau meninas! Até de tarde! – mamãe pegou a no colo e foi embora.
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Mr. Winter, did you miss her?
For three months you were gone
Had her waiting all night long
Mr. Winter, don't forget her
She'll be waiting all alone
Please just say you'll come back
Nós três cantávamos desafinadamente dentro do carro da . Estávamos quase chegando a Seattle, e entre uma cantoria e outra conversávamos sobre nossos assuntos preferidos: Roupas, garotos, sapatos, garotos, música, garotos...
- Já que estamos em missão de busca, você bem que podia especificar que tipo de homem a gente está buscando, hein . – eu disse olhando pela janela.
- Tem que ser alto, mas não muito senão eu vou precisar de um banquinho!
- E o que mais?
- E forte, mas não muito! Ah! E moreno porque eu não gosto de loiros. E inteligente que de burra já basta eu!
- Não quer que ele seja rico e famoso não? – eu perguntei irônica.
- Ou que tenha um palácio na lua. O céu é o limite! – completou.
- Verdade. Só não esqueça que se o céu é o limite o chão também é!
- Vocês duas hein? Vô te contar... Não é a toa que são irmãs! Já que eu vou escolher, que seja algo do meu agrado!
- Só não me lembrava que você era tão difícil de ser agradada!
- Ah ! Você só fala isso porque o Jake é gostoso! E ‘boa praça’ ainda por cima! Se você puder arranjar um desses pra mim, fico feliz!
estacionou o carro e nós fomos direto a uma loja de sapatos.
- Não sabia que o Embry usava scarpin. – falou debochada.
- E não usa. O presente dele vai ser ter a namorada mais linda do mundo! E com um scarpin novo!
- Acho que ele preferiria um carro. – respondeu.
- Ou um dia naquele clube com as massagistas tailandesas. – eu completei.
- Porque eu mandaria meu namorado pra um clube de massagens?
- Porque você não é tailandesa. E muito menos sabe fazer massagens... – eu respondi.
- O que eu faço é muito melhor do que uma massagem. – ela disse com um sorriso malicioso.
- Ho, ho! Sou uma garota muito inocente pra ouvir essas coisas! – colocou as mãos nos ouvidos.
Roupas, sapatos, maquiagem, livros, CD’s... Compramos tudo que os nossos corações desejavam. Já eram quase 04:00 da tarde e meus pés doíam, então resolvemos voltar pra casa.
- , segura minha bolsa aqui! Eu vou guardar logo esse cartão de crédito na carteira antes que ele quebre no meio dessa bagunça toda. – eu estendi as mãos e a colocou a bolsa em cima delas.
- Caramba ! Sua bolsa é mais bagunçada do que a minha! – Okay. Não era não. Mas era quase tão bagunçada!
- Merda! Minha folha da sorte voou! – saiu correndo atrás de uma folha de árvore velha que tinha escapado da sua carteira.
- Que porra de folha é essa? Volta aqui! CUIDADO COM O CARR...
Eu estava em choque, mal conseguia piscar os olhos, mal conseguia fazer qualquer coisa. A ? Bem, a estava ótima, mais do que ótima, estava em estado de graça enquanto era envolvida pelos braços perfeitos daquele homem ainda mais perfeito.
- Hey! Olha nos meus olhos! Você está bem? – ele disse enquanto segurava a cintura da com uma mão e com a outra acariciava sua bochecha.
- Eu... tô... eu... tô... eu tô bem. – gaguejava vergonhosamente enquanto se perdia naqueles olhos azuis como o céu.
- Então me diz, porque você se jogou na frente do meu carro? Os preços da loja eram de matar ou o quê? – ele fez a gente rir com essa.
- Eu não me joguei. É que a minha folhinha da sor... Ah! Esquece... – ela levantou segurando em seus ombros.
- Prazer, Paollo Belunni.
- Que é belo ninguém discorda. – sussurrou no meu ouvido e eu fiz uma careta pra segurar a risada.
- Ah! Eu sou a , essa é a minha amiga e a irmã dela . – Ele beijou a mão de cada uma de nós. Okay, isso foi careta, careta, mas fofinho.
- Nossa! Sua não está gelada! – disse.
- Ar condicionado. – ele respondeu e deu um sorriso que fez a ficar babando como um bebê assistindo teletubies (e eu também). – E então , você quer que eu te leve ao hospital?
- Não! Não precisa, sério, eu estou bem.
- Então eu quero levar vocês pra comer alguma coisa. É o mínimo que eu posso fazer.
- Fala sério Paollo! O mínimo que você pode fazer você já fez! Se não fosse o seu ótimo reflexo a essas alturas minha cabeça estaria debaixo da roda do seu carro.
- Que isso. Aceita vai. – ele chegou mais perto da , que ficou com cara de bocó, e sorriu de lado. Quantos sorrisos hipnóticos esse cara tem? Eu já contei vários.
- É claro que a gente aceita! – se antecipou e a não teve como dizer não, e nem queria pelo visto.
foi andando na frente, babando na gola da blusa enquanto olhava para o Paollo que estava bem ao seu lado. Eu e a estávamos um pouco mais atrás.
- Nossa! Essa folhinha da sorte dá sorte mesmo! Acho que eu vou pegar ela pra mim! – bem que procurou pelo chão enquanto andava, mas nem sinal da tal folha mágica. Pena. Até estava cogitando a possibilidade de ficar com ela pra mim.
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- Então você é italiano?
- Acho que sim. – ele riu, se divertindo com a pergunta estúpida da . O cara se veste com roupas italianas, tem sotaque italiano, nome e sobrenome italianos. O que ele seria, ? Angolano? - Eu pensei.
- E o que um italiano dirigindo um porsche preto faz em Seattle? – eu perguntei.
- Dinheiro e tempo de sobra. Combinação perigosa, vocês não acham?
- Não tão perigoso quanto dirigir um porsche em Seattle! – Ele sorria o dobro com cada coisa que a dizia. Definitivamente eu e a estávamos sobrando ali.
- Não vai comer nada Paollo? – perguntou enquanto atacava os alimentos com uma ansiedade de dar inveja a uma onça magra perdida no deserto.
- Desculpe. É que eu faço uma dieta... Rigorosa.
- Isso explica vocês serem tão magrinhos, mesmo comendo pizza e macarronada o tempo todo. – eu disse.
- E você é casado, tem noiva, namorada... Tico-tico no fubá? – ele riu com mais uma bobajada da .
- Huum. Não.
- E o que um italiano dirigindo um porsche preto, com dinheiro e tempo de sobra, descompromissado faz em Seattle? Você podia estar em qualquer lugar. – na verdade eu queria dizer: ‘O que um cara lindo, lindo, lindo, lindo, lindo e mil vezes lindo faz em Seattle?’
- Você acredita em destino?
- Acho que sim.
- E você ? Acredita em destino? – ele encarou-a com um olhar penetrante e um sorriso irresistível, bem, pelo menos eu não resisti.
- Q-quem? Eu? Acho que sim, sei lá. – ele estava deixando a coitada doidinha. Eu ri.
" Stop there and let me correct it
I wanna live a life from a new perspective "…
- Opa! Meu celular! Desculpa gente. – eu me levantei pra atender. Era minha mãe.
- Filha vocês ainda estão em Seattle?
- Sim. Por quê? Aconteceu alguma coisa?
- Não. É que os meninos estão aqui procurando vocês. Espera, o Jake quer falar.
- Hey, e então? Vai demorar muito? – era estranho ouvir a voz do Jake depois de passar a tarde toda ouvindo a voz de veludo do Paollo.
- Não. A gente já está indo. Vai esperar?
- Não vai dar, mas quando você chegar me liga que eu venho.
- Então tá né. – eu fiz uma voz tristonha.
- Mas eu vou deixar seu presente aqui.
- Tem presente é? Que presente?
- Quando você chegar vai saber.
- Malvado. Tchau então!
- Tchau. Te amo. – aquilo me pegou de surpresa e eu fiquei meio emocionada. Depois de alguns segundos eu respondi.
- Eu também. – Desliguei o celular e voltei pra mesa.
- Gente, tenho que ir embora. Desculpa.
- Quem era? – quis saber.
- Era a mamãe. O Jake e o Embry estavam lá em casa.
- Estavam do verbo não estão mais?
- É.
- Então porque a pressa?
- É que o Jake me levou um presente e eu tô que não me agüento de curiosidade. Mas se vocês quiseram ficar tudo bem, eu pego um táxi. – olhou pra que olhou pro Paollo. Acho que nenhuma das duas queria dizer adeus pra ele.
- Podem ir se quiser. Não tem problema. – Ele disse e então as duas resolveram ir embora.
Paollo fez questão de levar a gente até o carro. Quando ele já tinha se virado, pegou um pedaço de papel e uma caneta no porta luvas e escreveu alguma coisa.
- Paollo, espera! – ela saiu do carro e foi ao encontro dele. – Me liga. – ela entregou o papel e ele deu mais um daqueles sorrisos de tirar o fôlego antes de concordar com a cabeça.
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- Gente, eu ainda não acredito no que aconteceu! Como é que um cara lindo daqueles aparece assim do nada? – disse enquanto manobrava o carro.
- Nem fala! Parecia até um sonho. – suspirou no banco de trás.
- Deixa seu namorado saber que você está suspirando pelo ‘Belindo’! – eu disse olhando pra trás.
- Belunni. – me corrigiu.
- Desculpa. Sra. Belunni. – ela empurrou minha cabeça contra o vidro.
- Ai! Doeu! Bruxa! Tomara que ele não te ligue! – eu fiz beicinho.
- E você acha que um cara perfeito daquele vai mesmo me ligar? Eu só entreguei aquele número por desencargo de consciência.
- Se um cara perfeito daquele passou quase a tarde toda dando em cima da dona do número, não vejo por que não!
- Ele não estava dando em cima de mim. É que ele era um cara simpático, só isso.
- E porque que ele foi mais simpático com você do que com a gente? E você ? Acredita em destino? – tentou imitar a voz charmosa do Paollo, mas nem de longe saiu igual.
- Porque fui eu quem ele quase atropelou! E agora parem de bobagens!
- Ela quer se fazer de desentendida, deixa pra lá .
O único som que houve pelo resto da viajem foi o que vinha do rádio. Às vezes a gente trocava uma ou duas palavras, mas nada sobre o Paollo. Chegamos em casa exatamente às 21:00. Eu fui direto à cozinha procurar minha mãe.
- Presente, presente! Cadê meu presente!
- Está em cima da mesa da sala. – mamãe estava cozinhando alguma coisa e nem se virou.
Um gemido baixo escapou da minha boca quando eu vi o meu presente. Um buquê de rosas brancas.
- Pena que você gosta de rosas vermelhas, né filha. – mamãe apareceu saindo da cozinha.
- Pelo amor de Deus mãe! Diz que você não falou isso pra ele!
- Claro que não né! – eu soltei o ar aliviada.
- Pois eu declaro que a partir de agora minhas flores preferidas são e sempre foram rosas brancas!
- Então tá. – minha mãe voltou pra cozinha.
Depois de tomar um banho bem relaxante eu resolvi ligar pro Jake. Ele chegou na minha casa em menos de cinco minutos.
- Buquê de rosas é?
- Para o caso de você ter ficado chateada com o que eu fiz com o outro buquê.
- Eu não fiquei. E o seu é um milhão de vezes melhor do que o dele. – ele me beijou. Nós estávamos na varanda de casa e minha mãe tinha acabado de convidá-lo para o jantar.
- E como foi o seu dia?
- O de sempre. E o seu?
- Legalzinho. – Falar do cara gato que eu conheci não era necessário. Não, nem um pouco necessário.
- Crianças, o jantar está pronto. – mamãe apareceu na porta e logo desapareceu. Nós nos levantamos sem pressa e entramos de mãos dadas em casa.
Capitulo 6 – Segredo
Já fazia pouco mais de um mês desde o nosso retorno e as coisas não podiam ser melhores. Eu e o Jake estávamos muito bem. Nos víamos todos os dias apesar de às vezes ele não poder ficar por muito tempo comigo. Eu nunca soube o que ele tanto fazia nesses dias, mas achei que não ia ser legal perguntar. A e o Embry também estavam indo muito bem, nós até fazíamos algumas saídas de casais, mas quase sempre era cada dupla pro seu lado. Até a estava progredindo satisfatoriamente nesse quesito. Não é que o tal do Paollo ligou mesmo?! Ela ficou igual a um beduíno do deserto que encontra uma Coca-Cola. Os dois se encontravam em Seattle várias vezes por semana e passavam a tarde toda juntos. A parte ruim era que a não queria contar nada para a família, afinal de contas quem é que chega para os pais e diz: ‘Mãe, pai, tô saindo com um cara que eu mal conheço, mas ele é lindo e é isso o que importa!’ Não, eles não iriam entender, ainda mais pelo fato dos dois nem estarem namorando, ainda. Então os fatos eram os seguintes: colocava uma roupa simples e dizia aos pais que estava indo pra minha casa. Ela até vinha aqui, mas era só pra trocar de roupa e se maquiar, depois saia pra se encontrar com o Paollo. No final da tarde ela voltava, tomava um banho, colocava a roupa simples, tirava a maquiagem e ia pra casa com a cara mais cínica. Era um plano perfeito. Eu e a tomávamos o cuidado de nunca estarmos no mesmo lugar ao mesmo tempo, então se alguém perguntasse pra mim sobre a eu dizia que estava com a e se alguém perguntasse a , ela dizia que a estava comigo. Sinceramente eu achava isso meio perigoso, nós não sabíamos nada sobre o Paollo, nem se o nome dele era mesmo esse! No começo o fato dele ser bonito e rico nos bastava, mas depois de um certo tempo isso já não era suficiente, pelo menos não pra mim.
- E então ? Algum avanço entre você e o Paollo? – eu perguntei assim que ela chegou de mais uma tarde com ele.
- Amiga, você vai cair pra trás quando eu te contar! Hoje ele me levou pra conhecer o apartamento dele! – ela se sentou na minha cama com um sorriso inexplicável.
- Ai meu Deus! Vocês transaram? E ai? O produto faz o que a embalagem promete?
- Não! A gente não fez nada! Ainda! Ele me levou até lá por outro motivo.
- Qual?
- Ele queria me dar isso. – ela estendeu a mão e o meu queixo rolou pra debaixo da cama. Um anel de diamante reluzia em um de seus dedos.
- Caraca! Deixa eu ver isso! – eu tirei o anel do dedo dela e examinei com cuidado. – É ouro branco amiga! E olha o tamanho dessa pedra! Isso deve ser caríssimo!
- Tanto faz amiga! O importante é que ele disse que me ama! E que eu me tornei a pessoa mais importante da vida dele! – ela deitou-se na cama e começou a rir e suspirar, tudo ao mesmo tempo.
- Péra ai! Tanto faz coisa nenhuma! Ninguém dá um anel desses pra outra pessoa a troco de nada! Ele te pediu em casamento ou alguma coisa do gênero?
- Nada disso. Ele disse que era uma maneira de estar sempre comigo. – ela se levantou. – Só que infelizmente isso não vai ser possível. Não posso levar esse anel pra casa de jeito nenhum, quem dirá andar com ele pra cima e pra baixo!
- E isso quer dizer o quê? Que esse anel caríssimo vai ficar aqui! Não gostei disso não...
- Ai amiga! É só por um tempo!
- Tá legal! Mas se a minha casa for assaltada, eu não me responsabilizo por esse anel!
- ! Essa reserva deve ser a mais segura do mundo! Nada acontece aqui. Nem roubos.
- Tá, mas, e se algum animal selvagem entrar aqui e engolir esse anel?
- A gente abre o bicho, pega o anel e ainda vai ter matéria-prima pra fazer um casaco de pele fabuloso! Agora me deixa ir tomar banho antes que sua mãe chegue e me veja assim toda arrumada. – ela me deu um beijo na testa e foi pro banheiro.
- Isso não vai prestar. – eu disse enquanto olhava para o anel na palma da minha mão.
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- Por quê?
- É que eu marquei uma coisa com os meus amigos. Desculpa. – Eu estava no telefone com o Jake e ele me explicava o porquê de não poder passar o dia seguinte comigo.
- Hum. E o que vocês vão fazer? Quer dizer, vocês não vão a nenhum bordel ou coisa do tipo, ou vão?
- Claro que não! – ele disse depois de uma gargalhada. – A gente vai estar na floresta sabe, fazendo coisas de garoto.
- Uhum. Tá. Sei.
- Você entende né?
- Não. E também não pretendo fazer nenhum esforço mental pra tentar entender como funciona a mente obscura de um garoto.
- Como se vocês mulheres fossem transparentes como cristal!
- E somos! Acontece que vocês homens estão com a mente sempre tão poluída que enxergam tudo turvo. Mas de qualquer forma, boa sorte amanhã lá na floresta enquanto vocês estiverem fazendo o que os garotos fazem na floresta, seja lá o que for.
- Okay. Boa noite então. Te amo.
- Hm... – eu disse como se estivesse pensando. – eu também te amo. Tchau. Boa noite. – eu desliguei o telefone e sentei na cama. Fiquei em silêncio por alguns instantes com a cabeça completamente vazia até tomar coragem de levantar e devolver o telefone ao seu suporte lá na sala. Voltei preguiçosamente para o meu quarto, parei na porta para apagar a luz, e me enfiei nas cobertas, já um pouco sonolenta.
Acordei no dia seguinte sentindo o cheiro da omelete da mamãe. Levantei ainda de olhos fechados tateando até encontrar a porta, abri os olhos assim que a encontrei e fui em direção ao banheiro. Quando já estava devidamente ajeitada fui direto para a cozinha com a barriga roncando.
- Ai filha, que bom que você acordou! Olha, não esquece se temperar o frango e de ir pagar as contas!
- Péra ai! Pra que a pressa?
- É que eu tenho que chegar mais cedo hoje! Vem ! Tchau meninas! – minha mãe disse enquanto puxava a pelo braço e ia embora.
- Então tá né, tchau. – eu disse, sabendo que ela já estava longe demais para ouvir.
- Eu também já estou indo. Tenho que fazer uma pesquisa na biblioteca. – disse e também se levantou da mesa.
Eu passei a manhã toda sozinha, como sempre, e fiz tudo como costumo fazer: arrumar a casa, lavar a roupa, varrer o quintal, ir comprar os ingredientes para o almoço, enfim, tudo que uma dona de casa resignada faz. Nessas horas eu realmente me odiava por não ter ido pra faculdade e me poupado dessa rotina medíocre. Não demorou muito para a voltar e me ajudar com o almoço. Nós almoçamos sozinhas, já que a mamãe trabalhava em dois turnos e a ficava na escola com ela.
- E então? O que vai fazer hoje? – eu disse distraidamente enquanto colocava a louça suja na pia.
- Nem sei. O Embry não vem hoje, disse que ia fazer...
- Coisas de garotos! – nós falamos praticamente juntas.
- O que devem ser essas tais ‘coisas de garotos’?
- Não sei , e sinceramente, tenho até medo de descobrir!
- Então nós vamos ter que arranjar ‘coisas de garotas’ pra fazer hoje. E só nós duas né, já que a vai encontrar o ‘ragazzo’ dela.
- Pois é. A anda tão feliz depois que encontrou esse cara. Parou até de beber!
- Não é a toa né! Até eu fico mais feliz quando encontro o Paollo. – nós terminamos de lavar a louça e fomos para o sofá.
- Eu também. O cara é lindo! Mas sei lá... É tudo tão perfeito! Tão impossivelmente perfeito! E pra piorar a gente não sabe quase nada sobre ele!
- Pra mim isso é paranóia sua ! Coisas impossíveis acontecem o tempo todo! Nunca viu aquele filme da Cinderela com a Whitney Houston de fada madrinha?
- The impossible is possible!
- É isso ai! – nós rimos juntas. – Mas de qualquer forma, acabei de ter uma idéia pra acabar com as nossas dúvidas.
- Qual?
- Lembra que o Paollo disse que a família dele era uma das mais tradicionais de Veneza?
- E daí?
- E daí que deve existir alguma coisa sobre eles na internet! É só a gente procurar!
- É uma ótima idéia ! Vou lá pegar o note. – eu fui até o meu quarto pegar o notebook e voltei o mais rápido possível.
- Talvez Belunni seja um sobrenome comum na Itália, então vamos procurar todos os Belunni’s de Veneza, okay? – cruzou as pernas e colocou o notebook em cima delas.
- Okay, e depois?
- Depois vamos ver quais são as mais tradicionais e por último, mas não menos importante, em qual delas há um Paollo de 25 anos.
- Valeu Sherlock!
- Cala a boca e me deixa prestar atenção aqui! Olha! Achei!
- Já? Nossa você é boa nisso mesmo! O que diz ai?
- Nós demos sorte. Só existe uma família Belunni em Veneza. E pelo que diz aqui era bastante tradicional e influente.
- Tá, mas e o Paollo?
- Calma né! – digitou alguma coisa e uma página toda em italiano abriu-se na tela. – E você dizia que aquelas aulas de italiano não iam me servir pra nada! Olha só, esse é o site do centro histórico, aqui eles contam as histórias das famílias mais ilustres de Veneza.
- E os Belunni estão ai né?
- Uhum. Aqui diz que era uma família de comerciantes que data do final do século XIV, com ascensão da burguesia. Eles eram possuidores de imensas terras no norte da cidade e dominaram a região até o inicio do século XIX quando ouve a unificação da Itália. Como eles eram a favor da unificação e até ajudaram financeiramente, continuaram extremamente influentes na região.
- Nossa! Que história! Mas anda! Continua! – quando eu olhei na direção da , ela estava com um olhar esquisito, incrédulo. Ficamos em silêncio alguns segundos até ela voltar a falar.
- , aqui diz que existiram dois Paollo’s nessa família. O pai e o filho.
- Então o nosso Paollo deve ser o filho! Ou será que não? Será que existe um Paollinho por ai e ele não disse nada?
- , você não entendeu. – ela se virou para mim. – Eu disse EXISTIRAM! Um morreu em 1879 e o outro morreu quinze anos antes!
- Então o Paollo morreu em 1879? – eu disse incrédula.
- Não. O Pai morreu em 1879 com 76 anos. O filho morreu primeiro. E adivinha com quantos anos?
- 25? – ela apenas assentiu com a cabeça.
- E sabe o que mais?
- E tem mais?
- Tem. O corpo do Paollo filho nunca foi encontrado. Na época dizia-se que ele provavelmente tinha sido jogado em um daqueles canais.
- Meu Deus! – foi tudo que eu consegui dizer por alguns segundos. – Se Paollo Belunni está morto a mais de 100 anos, quem é aquele cara que a gente conheceu?
- Não sei. Mas eu acho bom a gente descobrir. – mais alguns segundos de silêncio. – Meu Deus ! E se a estiver correndo perigo! A gente precisa contar pra ela!
- E você acha que essa não foi a primeira coisa que me passou pela cabeça! Mas eu conheço a , ela está envolvida demais, um simples texto num site não vai convencê-la! Primeiro a gente precisa investigar esse Paollo paraguaio e descobrir quem ele é de verdade.
- É. Você tá certa. Só espero que não seja tarde demais.
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- Será que isso vai dar certo ?
- A gente só vai saber quando chegar lá! Hey moço! Deixa a gente naquela esquina ali! – eu disse ao taxista e ele parou exatamente aonde eu pedi. e eu estávamos em Seattle, mais precisamente na rua do restaurante em que a e o Paollo costumavam se encontrar. O plano era simples. Nós esperaríamos os dois saírem do restaurante e os seguiríamos até descobrir o endereço do Paollo.
- E depois que a gente descobrir onde ele mora? Qual vai ser o próximo passo?
- A gente vai tentar descobrir o que ele faz quando não está com a , os lugares aonde ele vai, as pessoas que o visitam, tudo! A gente tem que descobrir tudo sobre esse cara!
- É, mas primeiro nós precisamos saber se eles estão mesmo lá dentro do restaurante!
- Claro que estão! Não tá vendo o porsche e o carro da parados ali? A gente só precisa esperar até eles saírem.
Nós ficamos paradas na esquina do restaurante por vinte minutos até que eles finalmente saíram. O Paollo estava mais lindo do que nunca, se é que era possível ele exceder os limites da própria perfeição. Já a , estava com cara de boba apaixonada que chegava até a ser engraçado.
- Ô ? Eu fico com essa cara de bocó quando tô com o Jake?
- Só um pouco. E eu com o Embry?
- Só um pouco.
- O pessoal que está passando na rua deve achar que nós somos malucas.
- Hm... – eu fiz como se estivesse pensando. – Só um pouco. – nós rimos atrás da parede que nos escondia.
- Olha! A tá entrando no carro!
- Finalmente né! Já até escureceu! – eu disse olhando para o céu.
- ? Uma pergunta? Como nós vamos seguir o Paollo se estamos a pé e ele de carro?
- Droga! Eu não tinha pensado nisso! – assim que eu terminei de falar, a ligou o carro e foi embora. O Paollo ficou na calçada até o carro dela desaparecer na esquina, e, quando nós pensávamos que ele ia entrar no porsche, ele atravessou a rua e foi andando para o lado inverso ao nosso.
- Pra onde ele tá indo?
- É o que a gente vai saber agora! – eu peguei a pelo pulso assim que ele virou a esquina e arrastei-a atrás de mim.
Nós o seguimos por várias ruas até chegarmos a um lugar que parecia mais um cenário de sexta-feira 13. Ele continuou andando pela rua escura e deserta como se fosse a coisa mais segura do mundo até virar mais uma esquina.
- Ai eu tô com medo!
- Eu também. Mas tenho que te confessar uma coisa.
- O quê?
- A não ser que você tenha marcado o caminho com migalhas de pão, eu não faço ideia de como voltar.
- Ai meu deus!
Nós viramos a última esquina que o Paollo havia virado e...
Nada.
Era um beco sem saída.
- Ué! Cadê ele?
- Não sei. Deve ter alguma porta por aqui em algum lugar! Anda! Procura! – eu disse e nós começamos a examinar as paredes com cuidado. Não havia absolutamente nenhum lugar por onde ele pudesse ter passado ou se escondido. Nós ficamos paradas sem saber o que dizer.
- Existem duas possibilidades aqui ! Ou ele é o astro da magia, ou nós estamos malucas!
- Ou existe uma terceira possibilidade que vocês não consideraram. – eu e a congelamos no mesmo instante em que ouvimos aquela voz ecoar por todo o beco. Ele estava calmamente parado na entrada da ruela com um dos ombros apoiado na parede, as pernas cruzadas e um sorriso irresistível no rosto.
- C-como... C-como você fez... – eu tentava dizer alguma coisa mais só se ouviam fragmentos.
- Olha, eu diria que estou impressionado, talvez até orgulhoso. – ele disse enquanto se aproximava de nós com o seu andar encantador e parava a menos de 30 cm de distância. – Eu pensei que vocês desistiriam a umas três quadras atrás, mas não, vocês continuaram me seguindo, mesmo apavoradas, a pergunta é, por quê?
- Primeiro me diz como você conseguiu sair do beco e depois voltar. – eu disse ainda atordoada com a sua presença.
- Eu estava aqui o tempo todo.
- Não estava não!
- Estava sim. E a propósito, da próxima vez que vocês me procurarem, não se esqueçam de olhar pra cima. – ele disse a última frase num sussurro a menos de um dedo do meu rosto. me segurou para que eu não desmaiasse e logo depois ela levantou a cabeça e olhou em volta. Eu fiz o mesmo. Não havia escadas, portas, janelas... nenhum lugar onde ele pudesse estar pendurado, a não ser as três paredes nuas.
- Agora é a minha vez de fazer perguntas, mas primeiro, vamos embora daqui. – ele se virou e começou a andar, mas logo parou quando viu que nós não nos mexemos. – Qual o problema senhoritas? Com medo?
- Nós não vamos a lugar nenhum com você Paollo. Ou seja lá qual é o seu nome. – eu disse enquanto sentia a mão da apertando a minha com força.
- Hum... Já entendi. – ele deu um sorriso esperto. – Mas de qualquer forma vocês não têm muitas alternativas, ou querem que eu as deixe sozinhas aqui? – ele estava certo, nós não tínhamos alternativas. Ele se virou de novo e voltou a andar, dessa vez nós o seguimos. Não demorou muito até voltarmos ao ponto de partida. Nós paramos ao lado do porsche e ele abriu a porta traseira. – Senhoritas?
- Porque nós entraríamos no seu carro? – eu perguntei.
- Porque só eu posso responder as suas perguntas.
- Você não vai apagar a gente, vai? – finalmente disse algo além de apertar minha mão, que, diga-se de passagem, já estava roxa e dormente.
- Já teria feito isso se quisesse.
- E pra onde nós vamos? – eu disse já dentro do carro.
- Pra minha casa. – ele fechou a porta assim que a sentou-se e foi andando calmamente para o lado do motorista.
xxx
- Então as senhoritas andaram investigando sobre mim, certo?
-Não pode nos culpar. Não sabíamos nada sobre você.
- E agora sabem?
Nós estávamos sentados numa mesa de jantar que mais parecia uma pista de boliche. Eu bem que tentava manter o foco no que era realmente importante, mas a curiosidade era mais forte do que eu. Aquele apartamento era simplesmente fabuloso. As paredes daquela sala eram forradas em papel branco com desenhos de extremidades circulares em cinza claro. A mobília era toda branca, com detalhes em dourado, e as luminárias e outras peças de decoração também eram douradas.
- Só que você está morto há mais de 100 anos.
- Na verdade eu estou desaparecido há mais de 100 anos. Não que isso faça diferença a essa altura.
- A gente só quer saber quem você é! Não vamos contar nada! Ninguém acreditaria mesmo! Seria a palavra de um milionário contra a de duas adolescentes.
- Você está certa. Há uma mentira aqui. Mas não está em quem eu sou.
- E onde está?
- Na hora certa vocês vão descobrir, por mim ou por conta própria, tanto faz.
- E quando será a hora certa?
- Quando eu provar minha confiabilidade a vocês.
- E a ? – finalmente disse alguma coisa. Desde que chegamos ao apartamento ela se desviou do foco enquanto admirava boquiaberta um aquário imenso que era usado de parede, indo do teto ao chão e dividindo a sala de jantar, onde nós estávamos, da sala de estar.
- A mentira também não está ai. Eu a amo.
- Mas vai continuar mentindo pra ela. – eu disse já me levantando da cadeira. – Ela não gosta de mentiras.
- Algumas mentiras são necessárias. – eu fiz a minha cara de ‘Hum, é mesmo?’ e ele pareceu entender o recado. – Entenda . Se ela souber a verdade agora, vai achar que só existe uma alternativa, se afastar. Nós podemos ficar juntos, por mais que a idéia vá parecer impossível, eu sei que nós podemos.
- Você gosta mesmo dela né? – eu disse depois de um suspiro e ele apenas assentiu. – É tão impossível assim?
- O impossível é possível. – respondeu por ele. Ótimo! Ele já havia conquistado-a de novo.
- Definitivamente não foi apenas o destino que fez com que vocês entrassem na minha vida, foi algo maior, mais intenso. Sorte talvez? – ele colocou a mão no bolso interno do paletó e tirou uma folha de árvore velha. A folha da sorte. Eu a peguei e a admirei antes de receber um sorriso irresistível. Ótimo! Ele já havia me conquistado de novo.
- ! Seu celular tá tocando! – me despertou da hipnose daquele sorriso e eu fui até a minha bolsa atender o telefone.
- Oi ! Desculpa, é que a gente teve que sair. Tem uma chave reserva debaixo do vaso de plantas vermelho. Isso! Entra e toma logo o seu banho. Já estamos voltando, se quiser esperar... Okay então, beijos! – eu desliguei o telefone e o coloquei de volta na bolsa. – Temos um segredo senhor Belunni, só espero que não seja por muito tempo.
- Obrigado. – ele se encaminhou em direção a porta e a abriu para nós. – Sabe , eu sinto que nós dois estamos nos ligando, de alguma forma.
- É, eu também. Só espero que isso não termine mal.
Capítulo 7 – Coming in our direction
- Preciso confessar-lhe uma coisa.
- Diga-me, meu amor.
- Eu estou grávida!
- Oh! Querida, isso é maravilhoso! Eu te amo tanto!
- Eu também, meu amor! E sabe qual será o nome do bebê?
- Qual?
- Evandro Sandro!
- Evandro Sandro? E isso lá é nome de bebê? – eu resmungava sozinha enquanto assistia a uma novela mexicana.
Quando finalmente desisti de assistir àquele lixo e resolvi procurar algo útil para fazer, alguém tocou a campainha.
- O que faz aqui?
- Nós temos uma conversa pendente, esqueceu?
Ele tinha razão. Fazia semanas que eu inconscientemente adiava esse encontro. Desde aquele dia na sala da minha casa, nunca mais vi Steve. Apesar da certeza de que esclarecer as coisas era essencial, outras preocupações mostraram-se mais importantes e eu acabei deixando tudo para depois. Pois bem, a hora da verdade chegou.
- Não esqueci, só tive que resolver uns assuntos mais importantes primeiro. – eu abri a porta para que ele entrasse.
- Algo que tenha a ver com seu namoradinho? – ele sentou de frente para mim, já com a sua recente, porém costumeira, ironia.
- Algo que não é da sua conta.
- Desculpe. Não queria ofender.
- Não ofendeu. Por que ofenderia? Ele é mesmo meu namoradinho. Aliás, meu namoradão! Mas esquece, não tô afim de dividir minhas intimidades com você. – a cara de ódio que Steve fez com certeza valeu o comentário.
- Caramba! O que aconteceu com você? Cadê a popular, queridinha da escola, que todo mundo invejava e queria imitar?
- Não sei. Acho que deve estar enterrada na mesma cova em que o Steve legal e agradável jaz em descanso eterno.
- Eu sou o mesmo Steve. – alguns segundos se passaram enquanto eu considerava o comentário.
- Sabe que ando ouvindo muito isso. Talvez tenha sido só eu a mudar, no fim das contas.
- As coisas podem voltar a ser como eram. Você pode voltar a ser como era.
- Não estamos mais no colegial. Nada vai voltar a ser como era. – eu me endireitei na poltrona, suspirei e resolvi terminar a conversa de uma vez. – Escuta. Sinceramente, eu te amei muito, muito mesmo, anos se passaram e eu continuei te amando. Mas quer saber o que eu descobri? Aquele amor todo não era por você, era pelo que você representava. Aquela foi a melhor época da minha vida. Eu era popular. A queridinha da escola, como você mesmo disse. Tinha o mundo em minhas mãos! Mas de repente eu me mudo de país e passo a ser simplesmente a garota estrangeira que nem sabe falar o idioma local! Eu me tornei o centro das atenções na escola, mas não pelos motivos de antes. Eu era a estranha. Uma aberração. E apesar de ter me adaptado com o tempo, continuei não sendo o que era. Por isso que eu sonhava em ter você de novo, porque queria ter tudo de novo. Mas quando te reencontrei naquela sorveteria, a ficha finalmente caiu. Ter tudo aquilo é impossível.
- Você pode me ter de novo.
- Sem o resto não faz sentido. – eu cheguei mais perto e acariciei o rosto dele. – Não estrague as boas lembranças que tenho de você, por favor.
- Ok. Ao contrário do que pensam, eu sei admitir uma derrota. – ele levantou-se e foi caminhando em direção à porta.
- Não é uma derrota. Não houve disputa. Não dessa vez. – ele considerou o que eu disse por alguns instantes.
- Toma. Não faz sentido eu continuar guardando isso. – ele tirou uma coisa do bolso da calça. Era um colar. Meu colar. O mesmo que ele me deu naquele aniversário de treze anos. Eu só pude sorrir, com nostalgia nos olhos.
- Adeus, Steve. – eu o abracei carinhosamente.
- Ainda não é hora de um adeus. – ele se soltou e deu um beijo na minha testa.
Depois que ele já havia ido, eu considerei a conversa. Que cara estranho havia se tornado o Steve. Não existiam dúvidas de que era um imbecil, mas mesmo assim havia algo de bom nele, algo que o salvava da perdição total. Bem, ou isso, ou eu estava me iludindo a respeito dele. Quem saberia?
Já eram quase 19h e Jake devia estar chegando. Eu penteava o cabelo da enquanto esperava a campainha tocar. Depois de terminar o serviço de irmã mais velha, fui pro meu quarto ver uns clipes.
20h. 21h. 22h. 23h. Nada.
- ! !
- Hum... Que foi? – eu acordava aos poucos enquanto me sacudia de um lado para o outro.
- Você sabe alguma coisa do Jacob?
- Jacob. Que Jacob?
- Tem mais de um? Jacob Black, seu namorado, que viria aqui às sete e até agora não chegou! – depois de alguns segundos de sonolência, as palavras da começaram a fazer sentido.
- Cara, peguei no sono! Que horas são?
- Meia-noite.
- Hum... O que será que aconteceu? E o Embry?
- Também, nada! Por isso vim ver se o Jake te ligou ou qualquer outra coisa!
- Será que o Billy vai ficar chateado se eu ligar a essa hora? Ah! Que se dane! Ele que resolva com o filho depois! –peguei meu celular em cima do criado-mudo e disquei os números que já sabia de cor.
- Alô? – uma voz sonolenta me atendeu.
- Oi Billy, é a . Desculpa ligar a essa hora, mas é que Jacob disse que vinha há umas cinco horas atrás e até agora nada. Eu tô preocupada. Ele está?
- Não, não está. Mas não se preocupe, houve uma emergência bem na hora em que estava saindo para te encontrar.
- É alguma coisa séria?
- Era, mas eles já devem ter resolvido.
- Então ta... Diz pra ele que eu liguei.
- Eu digo. E... Não fique brava.
- Eu nunca fico. Não por isso. Tchau, Billy.
- Tchau.
Eu fechei o celular e me espreguicei. Meus olhos já estavam fechando de sono, então eu me joguei de volta na cama e me esqueci que a estava lá.
- Ei, ei! O que ele disse?
- Eles não vem. Teve uma emergência.
- Outra? Mais puta que o pariu, o que são essas emergências?
- Não sei e não quero saber. Não a essa hora. – eu me enfiava dentro das cobertas e afofava o travesseiro.
- A gente devia fazer o mesmo que fizemos com Paollo!
- Você fala como se tivesse dado certo seguir o Paollo!
- Certo não deu, mas pelo menos a gente sabe onde ele mora, o que já é alguma coisa!
- Grande coisa. –me aconcheguei ainda mais na cama e fechei os olhos. – Vai dormir, !
- Como você consegue? Seu namorado vive cheio dos mistérios, emergências e coisas pra se fazer na floresta com os amigos, e você nem quer saber o que tem por trás de tudo! Cá pra nós, é claro que eles estão escondendo alguma coisa!
- Eu penso assim: se fosse da nossa conta, eles já teriam contado.
- E só por causa disso você não quer saber?
- Não.
- Mas eu quero! E você vai me ajudar, porque quando você quis investigar o Paollo, eu te ajudei!
- Tá bom! Tudo que você quiser, mas me deixa dormir! –joguei uma almofada nela, mas nem vi se acertou.
- Da próxima vez que acontecer, a gente vai atrás e descobre.
xxx
Pra felicidade da , a próxima vez não demorou nem dois dias para chegar. Estava fazendo sol, então eu não precisava me preocupar em encobrir os encontros da com o Paollo. Por algum motivo que eu não conseguia entender, eles nunca se encontravam em dias de sol.
Assim que o Jacob ligou dizendo que não ia poder me encontrar de novo, e eu saímos de casa. O plano era duvidoso, mas não nos ocorreu mais nada. Andaríamos pela floresta. Como eu nunca fui fã de trilhas, só pedia a Deus que aquela floresta não fosse tão sinistra por dentro como era por fora.
- Só você pra me fazer me embrenhar nessa floresta horrorosa! E se a gente se perder?
- Você não pensou nisso quando me fez seguir o Paollo naquele dia. – estava tão determinada que chegava a dar medo.
- Porque é muito mais fácil você ser encontrada na cidade do que na floresta! E pra piorar a situação, ninguém nem sabe que estamos aqui!
- Dá pra parar de reclamar, ? Nossos celulares tem GPS, não tem? Eu deixei o meu em casa, depois é só usarmos o seu para encontrarmos o meu.
- Espero que isso dê certo.
- Vai dar. Agora anda! Continua!
Eu nem tinha conhecimento do tempo que já tínhamos perdido naquela busca incansável rumo ao nada. A única coisa que eu conhecia, e muito bem, eram aquelas bolhas que se formavam nos meus pés. Droga! Eu devia ter posto um sapato mais confortável.
- Ai , vamos parar um pouquinho! Tô ficando velha pra isso!
- Também cansei. Toma! Bebe um pouco de água. – tirou uma garrafinha de água da bolsa e passou pra mim, eu bebi um pouco e devolvi. Nós ficamos em silêncio por alguns instantes só recuperando o fôlego quando um barulho estranho chamou minha atenção.
- ? Que barulho foi esse?
- Que barulho? – assim que ela disse isso, houve um novo barulho, dessa vez mais forte.
- Esse barulho! Acho que tem alguém se aproximando. – nós ficamos olhando em volta, tentando descobrir de onde vinha aquele som.
- Devíamos correr. – disse entre os dentes.
- Se você acha que corre mais rápido do que um urso, à vontade.
- Só se for um urso do tamanho do Godzilla! Olha! – eu e olhávamos sem expressão enquanto víamos uma árvore gigante tombar, a poucos quilômetros de onde estávamos.
- Vai ver é um lenhador. – respirei fundo e tentei encontrar uma boa explicação para aquilo.
- E o barulho que veio antes da árvore tombar? Com certeza não era uma serra elétrica! Parecia alguma coisa tipo... – antes que a conseguisse terminar a frase, houve outro estrondo, e outra árvore começou a tombar.
- Parece um trovão. – eu disse olhando a expressão de pavor que começava a se formar no rosto dela. – Ou duas coisas se chocando.
De repente, mais um estrondo, nitidamente mais perto do que os outros, e a força com a qual a árvore caiu, fez o chão debaixo de nossos pés tremer.
- Está se aproximando, ! Vamos embora! Rápido! – dessa vez, não fez questão de esconder o desespero e me arrastou para fora da floresta o mais rápido que pode.
Depois de já estarmos fora da floresta, em segurança, sentamos no chão para recuperar o fôlego.
- Caramba! Como é que a gente se mete nessas roubadas? – disse, inflando os pulmões o mais profundo possível e depois soltando o ar bem lentamente.
- Não sei, mas acho bom pararmos com isso. – tirou sua garrafinha de água da bolsa e deu um grande gole.
Já havia escurecido e nada da mamãe chegar. ainda estava trancada no quarto, conversando com as amigas pelo MSN, e eu estava na sala assistindo alguma coisa sem importância na TV. Por mais que tentasse prestar atenção no que assistia, as únicas coisas que me vinham à mente eram barulhos estranhos e árvores caindo. O que estava acontecendo? Essa pergunta não saía da minha cabeça por nada. De repente, o telefone me fez despertar.
- , preciso que venha aqui. É urgente.
- Paollo? O que você quer comigo? É alguma coisa com a ? Ela está bem?
- Não por muito tempo. Venha agora!
Já eram quase 21:15 quando cheguei a casa de Paollo. Eu estava nervosa e preocupada, esperando por algo nada bom. Quando ele abriu a porta e eu pude ver sua expressão, tive certeza de que as coisas eram ainda piores do que eu sequer poderia imaginar. Paollo estava abatido, torturado e, principalmente, desesperado.
- Entre, . Não temos tempo a perder.
Entrei no apartamento e fui em direção à mesa de jantar, sentando-me logo em seguida.
- Pelo amor de Deus. O que está acontecendo?
- Não coloque Deus em nossa conversa! Ele não tem nada a ver com os meus pecados. A culpa foi minha, mas não vou medir esforços enquanto não estiver segura. Escute! Normalmente eu não meteria você nisso, mas não existe mais ninguém para me ajudar a não ser você.
- Ok. Então conte-me absolutamente tudo.
Ele levantou e fez sinal para que eu o seguisse. Andamos pelo corredor esquerdo até chegar ao escritório, que era um cômodo muito aconchegante, com predominância na cor marrom, tanto nos móveis quanto nas paredes, e quadros pendurados.
- Gostou da decoração?
- Muito.
- E daquele quadro? – ele apontou para um quadro no fundo da sala e eu me aproximei para olhar melhor.
- É você vestindo uma roupa de época. E daí?
- Veja a data. – no canto direito do quadro havia o nome do pintor e a data: 1868.
Eu olhava para o quadro, depois para Paollo e voltava a olhar o quadro. Era provável que aquele quadro fosse uma fraude. Era impossível que fosse legítimo.
- Não me olhe assim. Você já sabia! Foi o que descobriu quando investigou-me, não foi?
- Eu descobri que você é um impostor.
- Não. Você descobriu que estou morto a mais de cem anos. Cento e quarenta, para ser mais preciso.
- E como você me explica estar aqui, de pé, conversando comigo?
- Sente-se. É uma longa história. – ele ofereceu uma cadeira para que me sentasse e logo depois pegou um enorme livro dentro de uma das gavetas da mesa.
- Vê este livro? – ele me perguntou.
- Claro. Parece bem antigo.
- E é! Está na minha família há quase mil anos. Eu gosto de chamá-lo de "guia prático dos caçadores".
- Dos caçadores? Como assim? – endireitei-me na cadeira e esperei pela resposta.
- Eu faço parte de uma antiga linhagem de caçadores de monstros. Não sei ao certo quando isso começou, mas provavelmente foi na mesma época em que esse livro foi escrito.
- Monstros? Que tipo de monstros? Tipo monstro do lago Ness?
- Não, nada tão fantasioso. Nós caçamos coisas realmente perigosas.
- Tipo?
- Você sabe... Bruxas, demônios, vampiros, lobisomens, mutantes, etc e etc.
Eu fiquei incrédula por alguns segundos, procurando por algo de irônico em seus olhos. Porém, tudo o que eu encontrei foi sinceridade. Ele realmente estava falando sério.
- Não vai dizer nada? – ele perguntou.
- Acho que não. Na verdade, eu nem sei bem o que dizer e na dúvida é melhor que eu não diga nada.
- Não vai nem me chamar de louco ou se apavorar e sair correndo? Pra ser sincero, essa não é nem de longe a reação que eu estava esperando.
- É. As minhas reações são meio retardatárias. Você acredita que quando o meu pai morreu, eu só fui chorar por ele três meses depois? Antes disso foi como se a notícia não tivesse me abalado.
- Eu percebi. Acabei de contar-te o maior segredo da minha vida e você não moveu um músculo.
- Não se preocupe, darei um grito de horror daqui a três meses. Agora me diz porque a está em perigo?
- Eu vim até a sua cidade porque soube que haviam vampiros morando por aqui.
- Vampiros? Na cidade? Tem certeza?
- Eu vim matá-los, mas descobri que eles não causam problemas. Alimentam-se de animais, trabalham, vão à escola. Enfim, levam uma vida humana.
- Okay, mas se os vampiros moram em Forks, porque você está em Seattle?
- Porque eu precisava ficar longe o suficiente para não ser rastreado, e também precisava saber mais a respeito dos lobos. É aí que vocês entram.
- O quê? Tem lobisomens também?
- Sim. No começo eu achei que vocês soubessem, mas depois do meu primeiro encontro com , eu percebi que vocês não sabiam de nada.
- E por que saberíamos?
- Porque você namora um deles e sua irmã também. é irmã de um.
Fiquei em silêncio por alguns instantes. Tudo começava a fazer sentido. Todas as histórias, lendas e coisas de garotos para fazer na floresta...
- Eu sei que isto não é da minha conta, mas você precisa saber de absolutamente tudo para poder ajudar-me. – ele olhava-me, esperando por alguma resposta minha. Porém, eu estava tão envolta nos meus próprios pensamentos, que levou um tempo para que pudesse dar atenção ao que ele dizia.
- Desculpa. É que...
- Eu sei. Não é uma notícia fácil de digerir. Ele é o seu namorado. Você o ama.
- É. E eu não devia ter ouvido isso da sua boca e sim, da dele.
- Não é fácil contar esse tipo de coisa a alguém, principalmente se for alguém que amamos. Como você acha que reagiria se eu dissesse que sou um caçador de monstros de cento e quarenta anos?
- Hum... Não muito bem. Porém, acho que não faz diferença, já que ela só era um peão do seu tabuleiro. – Eu não podia deixar passar o fato dele só ter usado a minha amiga, ter feito ela se apaixonar só pra colher algumas informações.
- Não vou negar, no começo sim. Porém, me apaixonei por ela e agora tudo se complicou.
- Agora está em perigo. Afinal, por que ela está em perigo?
- Um vampiro, que achei ter matado há alguns anos, veio até Seattle atrás de mim. Ele descobriu sobre a e agora quer matá-la.
- Okay, e você me fala isso com essa calma toda! Isso é muito sério, Paollo! A não tem a menor chance de defender-se de um vampiro. Ela não conseguiria defender-se nem de um filhote de morcego!
- Eu sei, e é por isso que você está aqui, . Você precisa arrumar um jeito de tirar da cidade o mais rápido possível! Leve-a para bem longe até eu conseguir pegar aquele desgraçado.
- Mas ele não viria atrás da gente?
- Vou mantê-lo ocupado no dia em que vocês viajarem. Depois disso ele não terá como encontrá-las.
- Tem certeza?
- Absoluta.
- Então vou precisar de uma boa desculpa para convencê-la e outra maior ainda para convencer seus pais.
- E eu vou precisar de uma boa isca para atrair Victor.
- Paollo, e se não der certo?
- Vai dar.
Não sei ao certo como foi a viagem de volta. Inconscientemente coloquei meu corpo no piloto automático para chegar em casa. Não consegui pensar em mais nada que não fosse vampiros, lobos e na encrenca que havia se metido.
Mesmo estando magoada com o Jacob, sabia que não era a melhor hora para colocar os pingos nos “is”. O problema de era muito mais importante. Era de vida ou morte.
Assim que coloquei os pés em casa, fui para o meu quarto fazer as malas. Não havia tempo a perder.
Minha mãe apareceu na porta do quarto e ficou assustada ao ver-me fazendo as malas.
- Filha, você não está fugindo de casa, está?
- Claro que não, mãe! precisa fazer uma viagem urgente e eu vou com ela.
- Mas filha, já são mais de dez horas!
- Fica tranquila, a gente não vai agora. Só estou fazendo as malas para ganhar tempo.
- Okay. Para onde vocês vão?
- Hum... Nova York. – Falei o primeiro nome que veio a minha cabeça.
- Nova York! Para que tão longe?
- Não posso dizer. É um segredo da .
- Vocês não estão fugindo de alguma coisa, estão?
- Mãe, é só uma viagem ok? Não é nada demais. – Tentei encerrar o assunto. Precisava ficar sozinha para pensar em um bom plano que fizesse vir comigo.
- Sei. vai junto?
- Não. Vamos só nós duas.
- Tudo bem, filha. Você sabe o que faz. Boa noite.
- Boa noite, mãe. – ela mandou-me um beijo e fechou a porta. Terminei a mala e deitei-me na cama para descansar um pouco. Quando o sono chegou, nem tentei resistir.
Quando acordei, sabia exatamente o que fazer. Se eu precisava tirar da cidade por uma questão de vida ou morte, então ela só aceitaria ir comigo se fosse questão de vida ou morte para ela também. Peguei o telefone e disquei os números que já sabia de cor.
- , preciso falar com você. É urgente!
- O que foi? Aconteceu alguma coisa com você?
- Não dá para falar por telefone. Por favor, vem até aqui!
- Tudo bem, já estou indo.
Assim que chegou, fomos para meu quarto conversar. Eu precisava de toda concentração possível para que minhas palavras soassem convincentes.
- Amiga, preciso te contar uma coisa muito séria.
- Eu já estou preocupada! Anda! Diz logo o que aconteceu!
- Primeiro promete que não vai contar a ninguém.
- Poxa, amiga! Claro que prometo! Conta logo o que está acontecendo, vai.
- É que é muito sério, amiga. Muito, muito, muito, muito, muito sério. É sério para valer e...
- , estou perdendo minha paciência com você! Me conta logo antes que eu te dê umas porradas!
- É que eu estou doente!
- O quê?
- É! Estou doente! Eu tenho... Tenho... – Tentei pensar numa doença bem ruim para impressionar. – Eu tenho leucemia!
- , isto não tem graça.
- Eu sei! Também não acreditei no início! Quer dizer... Eu estou tão bem, de repente vou ao médico e descubro que vou morrer! Estou assustada! Estou com medo!
- Então é sério isso?
- É amiga! Me abraça, por favor! – Quando ela abraçou-me eu senti que tinha finalmente conseguido convencê-la. Me senti mal por inventar uma mentira tão grande, mas era questão de vida ou morte, a morte dela.
- , se tiver alguma coisa que eu possa fazer, qualquer coisa, sei lá, uma doação de medula ou coisa do gênero, é só falar que eu faço, viu!
- Na verdade, foi por isso que eu te chamei aqui com tanta pressa. Eu preciso de um favor.
- O que você quiser amiga.
- Vem comigo pra Nova York hoje?
- Nova York! Por que Nova York? E por que hoje?
- Por quê? É que... Hum... Meu tratamento! Eu preciso começar meu tratamento o mais rápido possível!
- E não dá pra fazer este tratamento em algum lugar mais perto?
- O médico que diagnosticou a doença disse que eu só tenho chances de cura se fizer o tratamento em Nova York.
- Tem certeza?
- Por que ele mentiria para mim?
- Okay, okay. Mas porque você não vai com a sua mãe ou com a ?
- Elas não sabem de nada e nem podem saber!
- Mas isso é sério! Você precisa contar pra sua mãe!
- Eu sei. Eu vou contar. Mas primeiro preciso saber quais são as minhas chances reais de cura. E se forem poucas, quero pelo menos saber quanto tempo ainda me resta. Não quero contar nada a elas antes de descobrir essas coisas. Você entende, não é?
- Acho que sim. Não faz sentido sua família sofrer antes da hora.
- É isso o que eu penso. E então? Você vai comigo?
- Claro que sim amiga. Pode contar comigo sempre. – Nós nos abraçamos de novo e começamos a chorar. Cada uma por seu próprio motivo. por não querer que eu morra, e eu por não querer que ela morra. Tudo isso tinha que valer a pena. Eu tinha que conseguir afastá-la do perigo e ela teria que entender minha situação quando tudo se resolvesse. Eu estava fazendo aquilo por ela, não estava?
Duas horas depois da nossa conversa e da ter ido para casa fazer as malas, ela já estava de volta com tudo pronto para viajarmos. Antes disso, eu havia ligado para o Paollo e o avisado que estávamos indo para Nova York. Ele prometeu que deixaria o tal vampiro bem ocupado enquanto fugíamos.
Depois que chegamos ao aeroporto e compramos nossas passagens, tudo o que restava era esperar.
- , eu vou até ali ligar para Paollo e avisar da viagem, tudo bem?
- Claro, diz que eu mandei lembranças.
- E você? Já ligou para o Jacob? Ele está sabendo de alguma coisa a respeito da doença?
- Não liguei e nem vou ligar. Não quero saber do Jacob. Pelo menos não agora.
- Por causa da doença?
- Não. É por algo muito pior.
- Pior que leucemia? Então é bem sério.
- É sim, e eu acho que não tem volta.
- Espero que esteja enganada. De qualquer forma, você tem um longo vôo pela frente para mudar de idéia. Levanta daí que o embarque vai começar.
- Espero que isso valha a pena. – Inclinei-me e peguei rapidamente a mala do chão.
- Vai valer. E você ficará bem de novo.
- É. E você também.
Eu checava minha caixa de e-mails enquanto ouvia uma música boba no Iphone que a havia me emprestado. Vez ou outra o barulho do trânsito de Nova York me desconcentrava, mas logo em seguida aquela mensagem me prendia de novo, principalmente naquele ponto em que estava escrito “não deu certo”.
Aquele e-mail do Paollo era tudo o que eu não queria receber logo de manhã cedo. Tínhamos acabado que chegar e tudo de que precisava era uma boa noite de sono, dormir bastante e me preparar para a maratona de mentiras que enfrentaria no dia seguinte. Mas, para o meu total azar, decidi escrever um e-mail para a e contar tudo o que estava acontecendo. Além de já ser tarde demais para ela insistir em vir junto, minha irmã merecia saber a verdade, visto que sempre fomos cúmplices das loucuras uma da outra. Mais antes mesmo de terminar de digitar a minha mensagem, outra mensagem chegou à caixa de entrada. Era ela, a mensagem que não me deixaria dormir pelo resto da noite, e provavelmente pelo resto da semana também. ,
O meu plano não deu certo.
Ele não estava sozinho, havia outros.
Tentaram armar uma emboscada, mas eu consegui escapar,
Graças ao seu namorado e os outros lobos, eles apareceram na hora certa.
Não se preocupe, eles estão todos bem, mas nós temos um problema.
Não sei se vocês foram seguidas, e não posso me arriscar a ir até aí.
Mandarei uma pessoa ao seu encontro. É um grande amigo.
Protegerá vocês enquanto for necessário.
Paollo.
Então é isso. O plano não deu certo.
E agora eu estava sentada num Café esperando por alguém que supostamente salvaria nossas vidas, se é que alguém poderia nos salvar a essa altura. Ironicamente, bem na esquina de onde eu estava, havia um desses profetas urbanos com a sua placa apocalíptica anunciando que “o fim está próximo”.
O que poderia ser pior para uma pessoa que está sendo perseguida? Saber que seu perseguidor está por perto ou simplesmente não saber onde ela está?
Enquanto esperava pelo amigo do Paollo, achei melhor ligar para o hotel e avisar a que iria demorar um pouco mais do que o esperado. Ela ainda estava dormindo quando saí, caso contrário insistiria em me acompanhar até minha suposta consulta médica. Deixei um bilhete na cabeceira da cama e recomendei que ela não saísse do hotel antes do meu retorno.
Graças a Deus ela ainda estava no quarto. Acabara de acordar e estava se preparando para comer algo no restaurante do próprio hotel. Pedi que ela me esperasse lá mesmo para almoçarmos juntas. Dificilmente alguém tentaria atacá-la em um lugar público.
No mesmo instante em que desliguei o celular ouvi alguém dizer meu nome. Era o amigo do Paollo.
- ? Prazer em conhecê-la, eu sou o John.
- Igualmente. E então, você tem alguma notícia do Paollo?
- Nenhuma. Só o que ele disse quando ligou. Provavelmente as coisas não devem ter mudado muito.
- E você acha que eles podem mesmo ter nos seguido?
- É possível. Mas não se preocupe, nenhum vampiro vai nos surpreender enquanto você estiver com isso. – ele tirou do bolso dois colares com uma pedra vermelha tão brilhante quanto diamante.
- Como exatamente esses colares podem nos ajudar?
- Essa é uma pedra de fogo. Existe um feitiço muito forte aprisionado dentro dela que impede qualquer vampiro de se aproximar a menos de cinquenta metros, a não ser que ele queira entrar em combustão instantânea.
- Então ela só os mata se eles chegarem mais perto que cinquenta metros, certo?
- Certo.
- Mas eles vão continuar por perto, não vão?
- Tão perto quanto conseguirem.
- Desculpe, mas não me parece uma solução muito eficaz.
- E não é. Mas pelo menos vocês estarão seguras quando eu não estiver por perto.
- Acontece que eu não quero só estar segura! Eu quero que essa situação termine de uma vez! Eu quero voltar pra casa!
- Hey, hey! Não precisa ficar nervosinha não. Não se esqueça que a culpa disso tudo é do descuidado do Paollo. Eu só estou nessa pelo mesmo motivo que você, excesso de lealdade.
- Desculpa. Você não tem culpa de nada, só está tentando ajudar.
- E pode ter certeza que comigo aqui vocês vão estar seguras. Agora é melhor nós irmos para o hotel e convencermos sua amiga usar um dos colares.
Assim que chegamos ao restaurante do hotel avistamos em uma das mesas do canto direito. Eu apresentei o John como um velho amigo do Rio que eu coincidentemente encontrei na rua enquanto voltava. Enquanto conversávamos, ele inventou uma porção de histórias e situações que nunca aconteceram. Inventou viagens, lugares, pessoas, tudo para que não desconfiasse que na verdade nós dois éramos completos estranhos.
John realmente sabia o que estava fazendo. Não era à toa que Paollo e ele eram amigos, igualmente charmosos e fascinantes. Provavelmente ele me afetaria tanto quanto o Paollo se a situação não fosse tão desesperadora. Por um segundo perguntei a mim mesma se o que a sentia pelo Paollo era mesmo amor ou era só aquele poder magnético que ele exercia em toda criatura viva. Realmente ficaria muito frustrada se estivesse passando por todo esse drama e que nada daquilo fosse por amor.
Por volta das 16:00 o John decidiu ir embora, mas prometeu que no dia seguinte sairia do hotel em que estava hospedado e se instalaria no nosso. e eu voltamos para o quarto e sentamos um pouco para conversar. Eu queria saber o que ela realmente sentia pelo Paollo e se tudo aquilo valia a pena, mesmo sabendo que independentemente disso, nada mudaria o risco que ela estava correndo.
- E então amiga, gostou do John?
- Bastante. Vocês se conhecem há muito tempo?
- Não muito. Sabe que ele me lembra muito o Paollo.
- É verdade. O mesmo jeito de olhar pra gente, de falar. Você podia apresentá-lo ao Paollo, aposto que acabariam virando grandes amigos.
- Não duvido. – eu levantei da cama e fui sentar perto dela na mesa de jantar. – , você se apaixonaria pelo John como se apaixonou pelo Paollo?
- Se o John tivesse aparecido antes do Paollo, talvez. Mas provavelmente tudo mudaria assim que o Paollo cruzasse o meu caminho.
- Então você trocaria o John pelo Paollo, mas nunca trocaria o Paollo pelo John?
- Nunca.
- E por que nunca? Não acabou de dizer que os dois são iguais?
- Eles não são iguais, são só parecidos. Não existe ninguém igual ao Paollo, ele é único. Pelo menos pra mim. – ela se levantou e foi pegar algo na mala.
- Vê isso. – ela colocou em cima da mesa uma caixa de madeira, muito bonita por sinal, com milhões de cartas dentro.
- O que são todas essas cartas?
- O Paollo me entregou antes da gente viajar. Ele disse que sempre que sentia saudades e não podia me ver, escrevia uma carta com tudo o que queria dizer e fazer. Todos os abraços e os beijos não dados, está tudo aqui, em forma de palavra.
- Mas vocês só se conhecem há três meses. Tem mais de mil cartas aqui! – eu fiquei boquiaberta com o número de vezes que ele sentiu falta dela em tão pouco tempo.
- Na verdade são mil e trinta. – ela deu um sorrisinho de gente apaixonada.
- E você já leu todas?
- , ele me deu isso ontem! Nem se eu fosse mutante! Li algumas enquanto você estava na consulta. A propósito, você não me disse como foi lá com o médico?
- Ah, foi regular... Nada que eu não soubesse. – eu respondi sem interesse enquanto manuseava todas aquelas cartas. – Você também escreveria mil cartas de amor por ele?
- Mil e trinta!
- Tanto faz! Você escreveria mil e trinta cartas de amor para ele?
- Na verdade eu comecei hoje. Pelos meus cálculos são umas onze ou doze cartas por dia, mas como as cartas do Paollo têm mais de três páginas cada uma, acho que vou levar um pouquinho mais de tempo pra chegar até mil.
- Mil e trinta. – eu impliquei.
- Tanto faz. Nem com todas as cartas do mundo eu descreveria o que sinto por ele. Ainda mais agora que eu li o que ele sente por mim.
- Eu posso ler? – peguei uma das cartas aleatoriamente.
- Claro, sinta-se a vontade! Enquanto isso eu vou tomar banho porque hoje ainda quero conhecer um pouco de Nova York. – ela levantou, pegou algumas roupas na mala e foi para o banheiro.
Eu abri o envelope e tirei a carta com cuidado. Quando a saiu do banheiro, me encontrou soluçando e chorando feito um bebê.
- Amiga, o que aconteceu! – ela veio correndo em minha direção.
- Eu queria que alguém me amasse assim! – eu não resisti e abracei-a com força.
- Tá falando isso por causa do Jacob, não é?
- E de quem mais seria? Ele não me ama ! Ele não me ama!
- É claro que ele te ama amiga! Eu nunca entendi direito como funciona esse relacionamento de vocês, mas é claro que ele te ama! Ele sempre te amou!
- Então por que ele menti pra mim ? Por que ele nunca está por perto quando eu preciso? Por que ele não está aqui agora? – eu não conseguia parar de chorar pensando em quão ruim as coisas estavam.
- Primeiro, se ele não está aqui agora é porque você simplesmente viajou sem dar a mínima satisfação ao coitado. Segundo, se o seu namorado é ausente significa que você é uma frouxa! É assim que funciona, se você quer mais atenção, peça! Cobre! Exija!
- Eu sei disso. – aos poucos eu parava de chorar e soluçar.
- Sabe mesmo? Então por que toda vez que ele desmarca alguma coisa, você deixa pra lá? É uma das atitudes mais estúpidas que você poderia ter! Sabe o que eu acho, sinceramente? Que você confunde liberdade com descaso! Você passou três meses tratando o seu namoro com descaso! E olha só o ponto em que você chegou! Chorando de inveja por causa uma carta! A propósito, é melhor eu guardar as outras antes que você se jogue pela janela. – ela pegou a carta que estava na minha mão, colocou no envelope e jogou dentro da caixa de madeira, depois pegou a caixa e colocou no fundo da mala.
- Você tem razão. Eu quis ser uma boa namorada, dar liberdade pra ele fazer o que quisesse e olha o que aconteceu. Eu já nem sei mais o que eu sinto por ele.
- Você o ama. Fato. – ela voltou e sentou no mesmo lugar em que estava antes. – Afinal se você não o amasse, não teria chorado ridiculamente como chorou agora.
- Então por que a ausência dele já não me dói mais?
- Como assim? Eu sempre achei que você não se importasse.
- Mas eu me importava, e muito. Era horrível saber que eu era a última pessoa na lista de prioridades dele. Mas eu fingia que não estava nem aí. Bancava a compreensível pra ele não se sentir pressionado. No final eu acabei me vingando inconscientemente e o coloquei por último na minha lista de prioridades, só pra ele se sentir como eu me sentia, mas eu acho que ele nem percebeu.
- Pois é, mas ele percebeu sim. Algumas semanas atrás ele foi me procurar, tentar entender o que estava acontecendo. E se você tivesse me dito há mais tempo o que sentia, eu poderia ter dado um conselho muito melhor pra ele!
- E o que você disse pra ele?
- Eu disse que você devia estar se sentindo pressionada e que era melhor ele te dar um espaço.
- E agora existe uma cratera entre nós dois.
- Mas sempre dá pra se construir uma ponte. E se não der mais, é vida que segue okay? O importante agora é a sua saúde, até porque não dá pra reatar ninguém se você estiver morta.
- Tem razão. O importante agora é estar a salvo. – eu me lembrei do porquê de estarmos naquele lugar e a abracei bem forte. O que importava era salvar a , o resto podia esperar.
- A propósito, toma! Comprei pra você! – eu abri a bolsa e tirei o colar com a tal pedra do fogo.
- Nossa amiga! Que lindo! – ela pegou e logo foi colocando no pescoço.
- A vendedora disse que esse é o colar da amizade, enquanto nós formos amigas você nunca vai poder tirar esse colar, entendeu?
- Nem se ele não combinar com a minha roupa?
- Nem assim. Olha, minha roupa não combina com essa pedra vermelha, mas eu tô usando o meu! E vou usar até morrer. Na verdade vou deixar por escrito que quero ser enterrada com esse colar.
- Então eu também quero ser enterrada com o meu. Mas que seja só daqui a muitos anos okay?
- É o que eu mais quero amiga, é o que eu mais quero.
Dois dias após a nossa chegada, Paollo ainda não havia mandado nenhuma notícia, e pra piorar a situação, minha mãe ligou para dizer que o Steve tinha desaparecido e que ninguém na cidade sabia nada dele há uma semana. Apesar de tudo acabei ficando preocupada, esperava realmente que o encontrassem logo, e bem.
Contei para a sobre o desaparecimento do Steve e ela quase mandou fechar o salão do hotel pra fazer uma festa. O ódio que ela sentia era realmente fora do normal.
Já o John estava realmente empenhado em sua missão de nos proteger. Estava sempre presente, ora entretendo a durante nossos passeios de turistas pela cidade, ora vasculhando o perímetro para checar a segurança. Ele era meio irritante às vezes, mas na maior parte do tempo eu gostava de tê-lo por perto. Ele era exatamente como eu queria que o Jacob fosse algum dia.
Assim que voltamos de mais um passeio pela cidade com o John, meu celular começou a tocar insistentemente. Demorei um pouco para achá-lo dentro da minha bolsa, mas quando finalmente achei, fiquei confusa com o nome que aparecia no visor. Steve.
- Steve? É você?
- Sim, sou eu. – reconheci a voz de imediato e tive certeza de que era mesmo ele.
- Onde é que você está? A cidade inteira está te procurando!
- Aconteceu uma coisa comigo, uma coisa muito ruim. Eu preciso muito que você venha me encontrar.
- Desculpe, mas eu não posso. Se você quiser eu mando a ir te buscar ou a minha mãe.
- Por favor, tem que ser você!
- Eu não posso! Estou em Nova York!
- Com a ?
- Sim, como você sabe?
- Eu procurei por ela também. Mas isso não importa, me dê o endereço de onde vocês estão, eu vou até aí. Eu dei o endereço do hotel ao Steve e ele prometeu que viria o mais rápido possível. Assim que desliguei o telefone uma coisa me passou pela cabeça, se o Steve e a se odiavam, por que ele a procuraria antes de me procurar, aliás, por que ele se quer a procuraria? Aquela história estava muito mal contada, mas eu já havia dado o endereço e não tinha como voltar atrás. No mesmo instante me odiei por ter agido tão impulsivamente.
Algumas horas depois o telefone tocou de novo. me aconselhou a não atendê-lo porque com certeza o Steve estava metido em alguma confusão, mas eu não consegui virar-lhe as costas. Desta vez ele queria que eu o encontrasse no lugar onde ele estava hospedado, supostamente a casa de um amigo. Alguma coisa me dizia para não ir, mas mais uma vez o meu bom coração falou mais alto e eu me comprometi a ir ajudá-lo.
não gostou nada da história e resolveu ir junto comigo, só pra garantir que o Steve não iria tentar nada comigo.
Quando chegamos ao endereço, percebemos que se tratava de um bairro bem afastado do centro da cidade. A casa era bem simples, e o vizinho mais próximo ficava a uns cem metros de distância. Eu hesitei por alguns instantes, mas como a queria acabar com aquilo de uma vez, me puxou com ela para dentro da casa.
Já dentro, percebemos que não havia absolutamente nada. Nem móveis, nem pessoas, nem nada, apenas um aparelho eletrônico no chão que mais parecia um rádio-relógio. xingava o Steve de um zilhão de nomes enquanto andava pela casa pra se certificar de que não havia mesmo ninguém.
De repente o pequeno aparelho começou a fazer um pequeno ruído e logo uma voz tomou todo o vazio da sala.
- Olá minhas queridas convidadas! Espero que tenham gostado da casa, pois vocês vão ficar nela por um bom tempo.
Assim que nós ouvimos a mensagem corremos em direção a porta, mas foi inútil, nenhuma de nós conseguia passar.
Capítulo 10 – Fazendo o que é certo?
Anoitecia lá fora enquanto e eu permanecíamos naquela sala vazia tentando entender o que estava acontecendo. Era como se existisse um escudo invisível em cada porta e janela. Nós simplesmente não conseguíamos ultrapassá-los.
De repente o meu celular tocou. Era o John, com certeza preocupado com o nosso sumiço. Atendi e contei a ele tudo o que havia acontecido. Enquanto isso, continuava tentando inutilmente sair da casa por uma das janelas. Antes mesmo que eu terminasse a conversa com John, o pequeno aparelho no chão da sala voltou a reproduzir a voz de alguém.
- Desculpe a demora para fazer contato meninas, mas eu estava muito ocupado pensando no que fazer com vocês duas.
- Pode começar tirando a gente daqui, mas não antes de dizer quem você é. – chegou perto do aparelho e sentou-se ao seu lado.
- Sair daí de dentro só depende de vocês. Enquanto a quem sou, você devia perguntar isso ao Paollo, soube que vocês são muito próximos.
- E o Steve? O que você fez com ele? – eu me intrometi na conversa enquanto a se perguntava o que o Paollo tinha a ver com toda aquela situação.
- Seu amigo está ótimo, na verdade ele me serviu muito bem. Traria vocês aqui pessoalmente se não fossem esses malditos colares.
- Então ele nos atraiu até aqui de propósito?
- Sim. E ficou muito feliz em saber dos meus planos para sua amiga.
- Aquele filho da puta, onde ele está que não aparece aqui pra eu acabar com ele? – disse já levantando do chão e olhando pela janela.
- Acredite, ele faria muito gosto de ir até vocês, mas como disse antes, esses colares o impedem. De fato, aquele John foi muito esperto em fazer vocês usarem essa pedra. Se soubesse disso, teria transformado Steve em vampiro depois que ele as capturasse.
- Como é que é? Vampiro? – olhava pra mim como se tivesse ouvido a coisa mais absurda do mundo. – Então quer dizer que além de ter sido seqüestrada, ainda por cima o seqüestrador é um maluco? Belê, não dava pra ser melhor!
- Se não acredita em minhas palavras, peça explicações ao Paollo. Por hora, saibam que estão sendo vigiadas. Assim que tirarem os colares, nós as pegaremos. Se eu fosse vocês, pediria para o Paollo se entregar rápido. – Logo depois disso, os ruídos da ligação desapareceram e o aparelho desligou sozinho.
- , o que é isso? O que está acontecendo? Quem é esse maluco? – me olhava com um misto de confusão e medo. Não dava mais pra esperar, eu precisava dizer toda a verdade a ela.
- O nome dele é Victor. Ele é um vampiro.
- Tá brincando né! Isso tudo é uma brincadeira, não é?
- Bem que eu queria que fosse, mas é tudo verdade amiga. Senta aqui e eu te conto tudo que sei. – ela se sentou ao meu lado e eu me preparei para contar tudo o que ela precisava saber.
- Eu vou começar do começo okay? Quando você e o Paollo começaram a namorar, eu e a ficamos muito preocupadas por não sabermos nada a respeito dele, então resolvemos fazer uma busca na internet com o sobrenome Belunni.
- Não acredito que você fez isso e não me contou!
- Eu teria contado se não tivesse descoberto o que eu descobri.
- E o que você descobriu?
- Eu descobri que só existiram dois Paollos Belunni em Veneza. Pai e filho. E que os dois morreram a mais de cem anos. De primeira eu achei que ele era um impostor se fazendo passar por Paollo Belunni, mas depois ele mesmo me contou toda a verdade.
- Então ele não é um impostor?
- Não, ele é mesmo quem diz ser. E na verdade ele só foi dado como morto, mas o corpo nunca apareceu. Nunca apareceu porque ele estava vivo.
- Então se era ele mesmo, como ainda está vivo?
- Ele me disse que os Belunni são uma família de caçadores de monstros. O avô dele era caçador, o pai dele era caçador, e quando ele descobriu que também seria acabou pirando. Fugiu da cidade e todos o deram como morto. O Paollo só voltou à Veneza quando soube que o pai estava muito doente. Antes de morrer o senhor Belunni ensinou tudo que o filho precisava aprender, só o essencial, o resto estava no sangue.
- Meu Deus , como isso tudo é possível? Como eu posso ser namorada de um cara que caça monstros há mais de cem anos e nunca ter sequer desconfiado?
- Pois é, tudo isso é muito louco mesmo. Eu queria muito te contar, mas fiquei com medo da sua reação. Além do mais o Paollo queria contar ele mesmo quando chegasse a hora.
- Tá, mas, e porque estamos presas aqui? Quem é esse tal de Victor?
- Essa é a pior parte. Quando o Paollo me contou tudo isso sobre ele também me contou sobre o Victor. O Paollo caça todo tipo de monstros, demônios, bruxas, mutações genéticas, lobisomens e...?
- Vampiros?
- Exatamente. O Victor é um vampiro que o Paollo pensou que tinha matado, mas na verdade o sujeito escapou e agora quer se vingar. E que forma melhor ele teria de se vingar do Paollo do que pegando você, entendeu?
- Então quer dizer que... Tem um vampiro vingativo atrás de mim? E você sabia disso e não me contou? Por quê?
- O que você queria que eu fizesse? O que você queria que eu falasse? “Olha fecha a porta antes de dormir porque um vampiro quer te pegar!”
- A verdade! Eu queria que você me dissesse a verdade! Poxa é a minha vida!
- Eu sei! A gente só estava tentando te proteger! O Paollo disse que se eu te trouxesse pra cá, você iria...
- Espera aí! Então quer dizer que... Que você não está doente?
- Me desculpa. Eu precisava de uma boa desculpa pra te tirar da cidade.
- Não... Não fala mais comigo! Eu não quero mais te ouvir! Como você pôde esconder essas coisas de mim? E ainda mentir com uma coisa tão séria? Leucemia? O que mais você inventaria pra me fazer de boba?
- Eu não te fiz de boba! Só queria te tirar da cidade porque foi isso que o Paollo pediu!
- Dane-se o Paollo! Afinal de contas você é amiga de quem?
- Dos dois!
- Não, minha amiga você não é mais. E espero que você e o Paollo estejam satisfeitos, porque caso não tenha percebido, suas mentiras não serviram de nada, o Victor me pegou do mesmo jeito.
As palavras da me cortaram por dentro como navalha. Agora ela me odiava. E a troco de quê? Nada. O Victor nos tinha em suas mãos, e eu não sabia mais o que aconteceria daquele momento em diante.
Duas horas se passaram no mais absoluto silêncio. Eu até tentava iniciar uma conversa, mas tudo o que recebia de volta era desprezo. De repente um vulto apareceu na janela entre as folhagens.
- John? Porque demorou tanto? – eu levantei assim que o reconheci e fui imediatamente até a janela.
- Primeiro eu fui investigar o seu amigo, o que fez vocês virem até aqui. Queria saber se ele tinha alguma ligação com o Victor.
- Se você tivesse vindo há duas horas atrás, o próprio Victor podia te responder que sim. – disse sem nem se virar para o John.
- Como assim? Ele esteve aqui? Impossível!
- Não. Ele falou por aquele rádio ali. – eu apontei para o parelho no chão. – E ele disse que assim que tirássemos os colares, eles iriam nos pegar. Não entendi o que isso significa.
- É o colar que mantêm vocês aqui. Provavelmente Victor mandou seu amigo ir até o hotel para pegá-las, mas quando ele não conseguiu se aproximar ficou claro que se tratava da pedra de fogo.
- Ah é! A pedra da amizade. Mais uma grande mentira... – murmurava pra si, mas alto o suficiente para ser ouvida.
- E o que deu nela? – John perguntou.
- Eu contei a verdade. Como você pode ter notado, ela não aceitou muito bem.
- Ainda falando em mentiras contadas, vocês dois não são velhos amigos porcaria nenhuma, não é mesmo? – finalmente resolveu nos encarar.
- Não, nós nem nos conhecíamos. Na verdade eu sou amigo do Paollo, ele me mandou aqui para proteger vocês duas. E antes que você me pergunte, ele mesmo não está fazendo isso porque com certeza Victor o seguiria até aqui e descobriria vocês.
- Acontece que ele já descobriu!
- Eu sei. E o Paollo também. Ele está vindo pra cá, deve chegar amanhã bem cedo.
- E o que nós fazemos enquanto isso? – eu perguntei.
- Vocês duas não vão fazer nada. É o colar que mantêm vocês aqui, mas também é ele que mantêm os vampiros afastados. Foi por isso que o Victor montou essa armadilha, é um feitiço feito por algum bruxo, não são vocês que estão presas, são os colares. Se vocês os tirarem e os deixarem aqui dentro vão poder sair da casa sem problemas.
- Mas aí o Victor vai poder se aproximar. Certo?
- Exato. Por isso tenha paciência e não tire o colar, okay? Você também . – nós olhamos na direção dela, mas não houve nenhuma reação.
- E você? O que vai fazer até o Paollo chegar? – eu perguntei.
- Eu vou para casa pesquisar alguma forma de tirar vocês daí de dentro sem que seja preciso abandonar o colar.
- Você não pode ficar conosco? Não quero dormir aqui sozinha.
- Desculpe, mas não há tempo a perder. Quanto mais rápido vocês saírem de dentro dessa casa melhor.
- Mas e se eles conseguirem entrar?
- Não tem perigo, é só não tirar o colar.
- Tudo bem. Se é você que está dizendo eu acredito.
- Mas eu não. Não acredito em mais ninguém. – murmurou mais uma vez sem nem nos olhar.
- Não liga para ela. Você fez o que era certo. Quando a raiva passar ela vai perceber isso.
- Não sei não. – eu suspirei profundamente enquanto olhava a de costas para mim.
- Vai ficar tudo bem, eu prometo. – ele levantou a mão e acariciou meu rosto. De repente eu estava mergulhada no castanho dos seus olhos, indo cada vez mais fundo, mais fundo... até que senti os lábios dele tocarem os meus.
- Ótimo, era só o que faltava! Pobre Jake, mais um enganado! – quando ouvi dizer essas palavras tomei consciência do que estava fazendo e me afastei.
- Desculpe. – ele também se afastou, mas continuou com as mãos no meu rosto.
- Tudo bem, acho que estamos todos um pouco nervosos. – eu respirei fundo para tentar colocar os pensamentos no lugar.
- É verdade. Mas enquanto as coisas não se resolvem eu lhes trouxe isso. – ele tirou a mochila das costas e me entregou. – É um pouco de comida e água. Vocês devem estar com fome.
- Com isso tudo nem senti fome, mas obrigado por lembrar desse detalhe. – eu peguei a mochila e coloquei-a no chão.
- Então é isso. Tentem descansar um pouco. Amanhã de manhã Paollo e eu estaremos aqui.
- Tudo bem. Até amanhã.
Depois de John ir embora eu ainda fiz mais algumas tentativas inúteis de algum diálogo com a . Eu queria muito saber o que se passava na cabeça dela naquele momento. Apesar de toda aquela situação, ainda torcia por ela e Paollo, eles realmente se amavam, caso contrário nada disso estaria acontecendo. Ao mesmo tempo pensei em mim e no que eu tinha acabado de fazer. Por mais horrível que pudesse ser, eu não me sentia nem um pouco arrependida daquele beijo. Eu precisava daquilo, precisava de uma demonstração de afeto, mesmo sendo de alguém que mal havia conhecido. O John era um cara legal, e estar perto dele me dava segurança. Mas o Jake também me dava segurança, e um algo a mais que não senti com o John. Realmente era uma situação complicada e o melhor que eu podia fazer era dormir e esperar que o próximo nascer do sol trouxesse as soluções para os meus problemas.
Acordei na manhã seguinte com pequenas gotas de chuva molhando meu rosto. Queria fechar os olhos e voltar a dormir, mas sabia que teríamos mais um difícil dia pela frente. Imediatamente pensei em minha mãe e nas minhas irmãs. Será que eu as veria de novo? E o Jacob? Será que teríamos a oportunidade de simplesmente sentar e conversar? Ainda envolvida nesses pensamentos peguei a mochila que John havia me dado e procurei por um pacote de biscoitos e por algo para beber. Por coincidência encontrei um pacote com o biscoito preferido da , então levantei e resolvi ir levá-lo até ela no outro cômodo, já que ela não quis dormir no mesmo ambiente que eu.
Quando abri a porta do cômodo meu coração parou de bater por completo. Eu não conseguia acreditar naquilo. Ela simplesmente não estava lá! Fiquei desorientada por alguns minutos até entender o que havia acontecido, mas logo depois senti uma lágrima correndo pelo meu rosto, me ajoelhei e peguei de volta o colar que ela havia deixado no chão.
Capítulo 11 – Apenas mais uma surpresa
- Será que ela ainda está viva? – eu perguntava ao Paollo, enquanto o via segurando o colar que a havia deixado para trás.
- Tenho certeza que sim. Não faz sentido ela morrer antes que eu me entregue.
- Ainda acho que deve existir outra solução. Por que você não pede ajuda ao seu pai? – John tentava encontrar outra solução, que não fosse entregar a cabeça do amigo.
- Não quero meu pai envolvido nisso. Ele seria incapaz de fazer algo bom por mim.
- Pensei que seu pai já tinha morrido. – eu estava confusa.
- Meu pai não está morto, pelo menos não que eu saiba. Nós não morremos de causas naturais, como velhice ou doença.
- Então, por que acha que ele não seria útil? Nessas horas, qualquer ajuda é útil.
- Para ele, o amor nos deixa fracos e as mulheres desconcentram. No fim das contas, ele não estava tão errado. Se eu o tivesse escutado, não teria colocado todos vocês nessa situação.
- Se você o tivesse escutado, não seria a pessoa que você é. E, provavelmente, seríamos inimigos ao invés de amigos. – John colocou o braço ao redor do pescoço de Paollo.
- O John tem razão, Paollo. E além do mais, ninguém aqui está te culpando pelo que aconteceu. Às vezes, as coisas simplesmente saem do controle. Fato.
- Exatamente. Levanta esse ânimo, meu amigo. Viva hoje e lute amanhã, é o que eu sempre digo. – John tentava animar Paollo de alguma forma.
- Concordo. Sacode a poeira do corpo, limpa essas patinhas sujas de lama e bola pra frente. – eu levantei de onde estava sentada e me encaminhei até a porta.
- Agradeço suas palavras, , principalmente a parte das patinhas, mas agora é com a gente. – eles também se levantaram e foram pra mais perto de mim.
- Como assim?
- Você vai ficar mais segura em casa. Seu vôo sai daqui a duas horas. – ele colocou as mãos ao redor do meu pescoço e retirou o colar.
- Não! Não vou embora! A precisa de mim!
- E nós precisamos que você esteja segura. Entenda que a situação é grave. Não podemos nos concentrar em salvar a e proteger você ao mesmo tempo.
- Mas o que eu vou dizer pra família da quando voltar? Nós viajamos juntas, temos que voltar juntas!
- Eu já pensei nisso. Diga a eles que ela está comigo.
- Mas eles não sabem sobre você!
- Então, conte tudo a eles, pelo menos tudo que possa ser contado. Diga que nós fugimos para a Europa e lhes entregue isso. – ele me passou um envelope de carta.
- E o que é?
- É uma carta que eu escrevi como se fosse a . Acho que com isso eles não farão mais perguntas. – eu abri o envelope e li a carta. Fiquei espantada em como a caligrafia era exatamente igual a da .
- Okay. Então, vocês fugiram juntos para a Europa, mas voltam quando as coisas se acalmarem. E quanto à verdade? Como eu faço pra falar com vocês? Como vou saber das novidades?
- Isso pode deixar comigo. Toda noite, eu mesmo te mando um relatório detalhado de tudo o que acontecer, okay? – John se prontificou a me manter informada.
- Bem, se já está tudo resolvido, é hora de ir. John, você leva até o aeroporto. Enquanto isso, eu vou tentar descobrir onde a está.
- Senhorita, você ouviu o homem. Vamos logo, que o seu vôo sai daqui a pouco. – John abriu a porta e fez sinal para que eu passasse.
- Boa sorte, Paollo. – eu cheguei mais perto e o abracei.
- Eu vou trazê-la de volta. Eu te prometo. – ele sussurrou perto do meu ouvido, antes de se separar.
- Irmão, assim que eu colocá-la dentro do avião, te ligo, okay?
- Okay, mas não demora. – eles se despediram com um aperto de mão firme.
John e eu saímos da casa e entramos no carro. A viagem até o aeroporto foi estranhamente silenciosa. Por um lado, foi pela situação da , e por outro, foi pela nossa própria situação. Ainda era difícil encarar o fato de gostar de mais alguém além do Jacob. Os dois até eram parecidos em certos aspectos, mas as diferenças ainda eram bem maiores. Principalmente, no quesito confiabilidade. O John confia em mim e isso me faz confiar nele. Já com o Jacob, tudo é exatamente ao contrário.
Pena que, mais uma vez, os problemas dos outros são mais urgentes do que os meus.
- Enfim, chegamos. – John estacionou na porta do aeroporto e saiu do carro. Quando me dei conta, ele já estava em pé do lado de fora, abrindo a minha porta.
- Estava pensando em uma coisa. – eu disse.
- O quê?
- E a minha bagagem?
- Qual? Essa? – ele abriu o bagageiro do carro e todas as minhas malas estavam lá. – Eu as fiz hoje de manhã. As malas da ficaram na minha casa. Mando-as pra você assim que possível.
- Acho melhor ela mesma trazer as malas de volta.
- Tá brincando? Aposto que ela vai querer comprar roupas novas assim que isso tudo acabar. Financiadas com o cartão de crédito do Paollo, obviamente.
- É. Acho que isso a deixaria menos traumatizada. – eu sorri levemente só de pensar na com um cartão sem limites de crédito.
Nós entramos no aeroporto e fomos direto até o check-in. Depois de saber que o vôo atrasaria alguns minutos, resolvemos comer algo na lanchonete. Eu não estava com muita fome, mas quando vi uma pizza de calabresa no balcão, acabei não resistindo.
Ficamos por alguns minutos naquela lanchonete conversando casualidades, quando, de repente, o silêncio constrangedor voltou a atacar. Silêncio esse que certamente precedia uma conversa a respeito de nós dois.
- E então? O que você vai fazer depois que tudo se solucionar? – eu tentei iniciar uma conversa.
- Por quê? Tá com medo que eu vá atrás de você? – ele provocou.
- E por que eu teria medo disso?
- Porque eu te beijei. E você gostou. E agora está com medo do que está sentindo por mim.
- É um pouco mais complicado do que parece. – eu pensei no Jake.
- Por causa do lobo? O Paollo me falou a respeito.
- É. Não sei se eu vou saber lidar com isso.
- Isso seria um problema. Se você não consegue lidar com uma coisa tão simples como transformação, então não vai saber lidar com a minha humilde profissão.
- É tão ruim assim? Sabe, isso de ser caçador?
- Digamos que você precisa de um estômago forte. Bem forte.
- E você não se sente sozinho?
- Quase sempre. Mas quem sabe, quando você decidir o que fazer, esse meu problema não acabe? – ele sorriu de lado e segurou uma das minhas mãos, que estava em cima da mesa.
- Não posso te prometer nada.
- Não quero que você faça isso. Pode parecer clichê, mas o que tiver de ser, será. Quando você voltar pra casa, somente duas coisas podem acontecer: ou você vai sentir que ainda ama o lobo, ou você não vai sentir nada.
- Sabe que isso chega até a ser engraçado. Eu voltei para a cidade totalmente determinada a reatar meu namoro com o Steve e, em menos de um ano, tudo virou do avesso.
- Steve não é o novo brinquedinho do Victor? O que atraiu vocês para aquela casa?
- Ele mesmo.
- E Vocês namoraram?
- Faz muito tempo. Nós éramos crianças.
- E por acaso isso seria um motivo para ele ter se unido ao Victor?
- Creio que não. O Steve sempre gostou muito da palavra eu, mas nunca da palavra nós...
- Mas você pode estar enganada. E, se estiver, acho melhor você tomar muito cuidado. Não se esqueça que ele agora é um vampiro.
- O quê?
- O que você ouviu. Victor nunca usa brinquedinhos humanos.
- Isso explica o desaparecimento dele. Minha mãe disse que a cidade toda estava procurando-o.
- Pois que continuem procurando e não o achem nunca. De qualquer forma, é melhor você ficar com isso. - ele tirou do bolso da jaqueta o mesmo colar que havia me dado na noite anterior.
- Só espero que essa droga de colar não me prenda mais em lugar nenhum.
- Se você não entrar em lugares desconhecidos, nada vai acontecer. Agora vamos, já está quase na hora do embarque.
Levantamo-nos da mesa e nos encaminhamos até o saguão. A fila de embarque já havia sido feita e estava relativamente comprida. Eu deixei o John guardando lugar enquanto ia despachar as malas. Foi um pouco estressante minha rápida conversa com o funcionário da linha aérea, mas, enfim, consegui me livrar das malas e voltar para a fila bem a tempo.
E, antes que eu me desse conta de suas intenções, John me surpreendeu com um beijo.
- Caso a gente não se veja mais. – ele disse assim que nossos lábios se desgrudaram.
- É claro que ainda nos veremos. Eu posso não sentir nada, esqueceu?
- Talvez. Mas a preferência ainda é dele e eu vou respeitar isso. Agora, você tem que ir. A fila está parada por nossa causa. – foi só então que eu me dei conta de que estavam todos resmungando atrás de mim.
- Então, é melhor eu ir. Tchau. E não esquece o meu e-mail! – eu disse, já me afastando. Ele fez sinal de positivo e só então eu entrei no corredor de embarque.
xxx
Demoraram só algumas horas até o avião pousar. Tempo suficiente para que eu considerasse algumas decisões. Definitivamente, não iria ficar de braços cruzados, esperando as coisas se resolverem, até porque, a nunca faria isso, caso nossos papéis estivessem invertidos. Eu precisaria ser inteligente e cautelosa, senão acabaria pondo tudo a perder. Mas como agir numa situação dessas? Não são homens. São algo muito pior do que isso e algo com o qual eu nunca tinha lidado antes. E, pra piorar, eu estava sozinha.
O táxi, que eu pegara no aeroporto, já estava quase chegando a minha casa. De repente, eu senti no fundo do meu coração que deveria ir primeiro até a casa da , dar algumas explicações. Por mais que eu estivesse cansada, os pais dela mereciam algum tipo de notícia, mesmo que fosse uma notícia falsa. Então, eu pedi ao taxista que desse meia volta e me levasse até lá.
Não demorou muito, em menos de dez minutos, eu já estava tocando a campainha.
- ! Que bom que vocês voltaram! E por que não ligaram avisando? Eu teria buscado vocês no aeroporto. – a mãe da me recebeu como de costume, sempre muito carinhosa e simpática. – E cadê a ?
- Então, tia Rose... Acho melhor a senhora se sentar. – eu procurava as palavras certas para usar. Não sabia exatamente como começar aquela conversa, mas sabia que teria de ser o mais convincente possível. Eu esperei até que ela se sentasse e comecei a falar. – A não veio comigo.
- Como assim não veio com você? Mas ela saiu daqui dizendo que precisava te acompanhar numa viagem.
- Na verdade, eu é que estava acompanhando-a. Nós fomos até Nova York encontrar com uma pessoa e de lá, a viajou para a Europa.
- Como é que é? – a mãe da se levantou e foi até a minha direção. – Como assim a minha foi pra Europa? E com quem?
- Ela conheceu um rapaz, o nome dele é Paollo e ele é italiano. Os dois já estavam juntos há algum tempo e agora eles decidiram ficar juntos.
- Eu sabia! Eu sabia que ela estava me escondendo alguma coisa! Mas daí fugir? Por que ela fez isso? – eu tentava colocá-la de volta na poltrona, mas tudo o que a mãe da conseguia fazer era chorar.
- Tia Rose, não fica assim. Ela ficou com medo de que vocês não aprovassem o namoro. Os dois até tinham terminado, mas a se arrependeu e foi atrás dele em Nova York.
- Então, vocês foram atrás desse rapaz? Ele é uma boa pessoa? Ele vai tomar conta da minha filha direitinho?
- Não se preocupe, tia, eles se gostam muito. Na verdade, a só viajou assim tão de repente porque o Paollo precisava voltar para a Itália.
- E quando ela volta? Ela vai voltar, não é?
- Vai sim. E ela me pediu para lhe entregar isso. – eu abri minha bolsa e tirei a carta que o Paollo havia escrito como se fosse a . – É uma carta da , ela explica tudo o que vocês precisam saber.
- Você tem certeza que ela está bem? – a mãe da pegou a carta das minhas mãos e recomeçou a chorar.
- Está sim. – eu me odiei imensamente por mentir pra ela. – E agora eu preciso ir para casa, minha mãe nem sabe que eu voltei.
- Tudo bem. Mas se ela mandar alguma notícia...
- Eu venho correndo avisar. – fui até ela e a abracei. O mínimo que eu podia fazer, era tentar consolar aquela mulher depois de tantas mentiras que eu havia contado.
- Você quer uma carona? Eu te levo até em casa.
- Não precisa, tia, eu vou andando. – assim que eu disse isso, ouvimos o barulho de um carro estacionando.
- Devem ser os meninos, eles levam você.
- Já disse que não precisa, tia. – eu sabia exatamente que era o Jake lá fora. De repente, fiquei apavorada com a idéia de vê-lo. Eu precisava me preparar para esse encontro, ter alguma idéia do que iria dizer. – Sabe o que é, tia, eu e o Jacob não estamos muito bem, não quero falar com ele agora.
- Bem, já que é assim, você pode sair pela porta dos fundos. – ela foi andando em direção à cozinha e eu a segui. Depois que saí da casa, cogitei a possibilidade de voltar lá e resolver tudo de uma vez, mas eu sabia que não era só medo, o melhor era mesmo esperar.
Eu fui andando calmamente até a minha casa e, quando cheguei, encontrei minha mãe jantando na cozinha. O cheiro daquela comida foi a melhor recepção que eu poderia ter recebido. Ela me abraçou e foi logo perguntando sobre a viagem e de como era Nova York. Nós nunca tínhamos ido até lá, embora fosse um sonho antigo da mamãe e da .
- Foi tudo ótimo, mãe, mas agora eu realmente preciso tomar um banho e descansar um pouco. Amanhã a gente conversa melhor, tudo bem?
- Tudo bem, filha, vá descansar.
- E as meninas? Já estão dormindo? – eu perguntei enquanto subia a escada.
- Estão sim, você conversa com elas amanhã de manhã. Não vai comer nada?
- Estou sem fome. Tchau, mãezinha, boa noite.
Eu cheguei até o meu quarto e fui logo procurando um pijama no armário. Foi então que eu percebi que havia esquecido minhas malas no aeroporto. Ri da minha própria estupidez. Tentei pensar positivo, quem sabe, com um pouco de sorte, eles não as mandariam pra mim? Peguei uma toalha limpa e fui tomar o meu merecido banho.
Quando saí do banheiro, fui surpreendida por quem eu menos esperava.
- Jacob? Como você entrou aqui? – eu tentei manter a calma e não demonstrar a minha emoção.
- Quer que eu vá embora? Como você foi embora da casa da , só pra não me ver.
- Eu não quero que você vá embora. Preciso da sua ajuda.
Capítulo 12 – Um plano à parte
- É complicado. Na verdade, eu nem sei o que vou fazer, só sei que preciso fazer alguma coisa. De alguma forma, eu sinto que isso tudo também é culpa minha.
- Isso tudo o quê? Tá falando de nós dois?
- Sim e não. Acho que é tudo parte do mesmo problema, meu problema.
- O que está acontecendo, ? Primeiro você me evita, depois some e agora volta assim, meio... Sei lá!
- É tanta coisa, que eu não sei nem por onde começar.
- Pode começar me dizendo onde está a , porque, sinceramente, ninguém acreditou nisso de fuga pra Europa. Quem conhece a bem, sabe que ela nunca faria isso.
- É, eu sei. Foi uma péssima mentira. Eu não sou muito boa nisso.
- Não mesmo. Mas e então? Onde ela está?
- Eu até podia fazer um resumo da situação, mas acho melhor te contar a história toda, desde o começo. Assim, a gente evita mal-entendidos e conclusões precipitadas, que, diga-se de passagem, foi o que causou todo esse problema.
- Okay. Por onde eu começo? Bem, acho que tudo começou quando a conheceu o Paollo. Aquele dia foi meio estranho, havia alguma coisa misteriosa no ar, mas a gente nunca leva isso à sério, até que é pego de surpresa.
- E quem é esse Paollo? É o tal namorado da ?
- É, é ele sim. Mas antes de querer sair por aí socando a cara dele, vale dizer que o Paollo é um sujeito muito bacana.
- E por que eu iria querer fazer isso? Por algum acaso, ele te paquerou ou algo assim?
- Na verdade, é um pouco mais complicado. Eu estou dizendo isso porque, à primeira vista, parece tudo culpa dele, mas eu sinto que preciso defendê-lo porque, por mais que a mentira pareça cruel, às vezes ela é realmente necessária. E é nesse ponto que a história esbarra em nós. Como eu posso ficar brava com você por ter mentido, se o Paollo também mentiu e eu consigo entender o lado dele? Eu me sinto tão hipócrita e o pior é que não dá pra evitar!
- Eu não estou entendendo nada, .
- Você já vai entender, mas agora espera um pouco porque eu preciso desabafar. Tem noção de quanto tempo eu estou com isso entalado na garganta?
- Teria sido menos tempo, se você tivesse se aberto comigo.
- É o que eu estou fazendo agora, então cala a boca e escuta. Eu sei que o Paollo não devia ter mentido. Na verdade, não foi bem uma mentira, porque, se pararmos para pensar, ele não inventou nada, pelo contrário, só omitiu informações. Isso pode se caracterizado como mentira?
- Sei lá... Acho que não.
- Exatamente. É o que eu penso também! Então, como eu posso olhar pra você e pensar ‘ele mentiu pra mim’ se, quando eu olho para o Paollo, eu penso ‘ele fez o que era certo’. Qual a diferença entre o que você fez e o que ele fez? Eu respondo: nenhuma.
- Então, é por isso que você está agindo assim? Tá achando que eu menti pra você?
- Eu não estou achando nada, eu sei que você mentiu. Quer dizer... Omitiu. Toda essa história de lobos, vampiros, etc e tal.
- E como você... Foi a , não foi? Eu sabia que ela iria acabar contando.
- Como assim? A sabia?
- É muito difícil esconder essas coisas da família. O Quil até que tentou, mas a acabou descobrindo e ele resolveu contar tudo. Mas você ainda não me disse como descobriu.
- Tá vendo? É mentira... Melhor dizendo, é omissão pra todo lado! Dava até pra fazer uma ponte daqui até Paris só com as omissões! Mas quer saber? Deixa pra lá... Voltando ao assunto, quem me contou tudo não foi a , foi o Paollo.
- E como ele... Foi ela quem contou?
- Não, quer dizer, acho que não. Agora eu fiquei na dúvida, mas isso não importa.
- , eu sei que...
- Olha, Jake, deixa as explicações pra depois. O importante agora é ajudar a .
- Tudo bem, mas o que está acontecendo de verdade? Cadê a ?
- O Paollo é um caçador de monstros. Ele mata todas essas criaturas que fazem mal a humanidade.
- O quê? Como assim? Como a conheceu esse cara?
- Ele estava atrás de vocês. Queria saber se eram perigosos. Mas os dois acabaram se apaixonando e tudo se complicou.
- O que ele fez com a ?
- Ele não fez nada errado, pelo contrário. O Paollo está se esforçando pra trazer a de volta. E eu quero ajudar, só não sei como.
- Então, você não sabe onde ela está?
- Não, ninguém sabe, esse é o problema. – eu levantei da cadeira onde estava sentada e fui até a janela, pegar um pouco da brisa fresca que soprava.
- E você pelo menos sabe com quem ela está?
- Sei. E foi por isso que eu pedi a sua ajuda. Quem raptou a , foi um vampiro.
- O quê? – ele também se levantou e começou a andar de um lado para o outro com as mãos na cabeça. – Então, ela já tá morta.
- Não fala assim, Jake. Eles querem pegar o Paollo, enquanto isso não acontecer, a vai viver. – eu me aproximei dele e o abracei.
- Eles são monstros, . Você não conhece aquelas coisas.
- Mas você conhece. E isso pode salvar a .
No dia seguinte, eu acordei um pouco cansada. Depois de ter passado quase que a madrugada toda conversando com o Jacob, comecei a me sentir mais otimista. Tínhamos bolado um rascunho de plano e tudo o que faltava eram as notícias, que o John prometeu que enviaria. Então, a primeira coisa que fiz, assim que levantei, foi abrir o meu e-mail. Estava tudo lá, cuidadosamente detalhado. Eu imprimi tudo aquilo e escondi dentro a gaveta. Calcei minhas sandálias e fui rever as minhas irmãs.
- Ah, que saudade! – eu fui correndo abraçar a , assim que entrei na cozinha.
- E de mim? Não sentiu saudade não? – estava milagrosamente lavando a louça.
- Não... De você não. – ela se virou pra mim e fez uma careta. – Brincadeira. Claro que eu senti saudades da minha irmã linda e maravilhosa. – eu fui até ela e dei um abraço bem apertado.
- Também senti sua falta. E como foi lá em Nova York?
- Uma longa história, , depois te conto. E a mamãe? – eu fui até a prateleira pegar uma caixa de cereal e uma tigela. Depois, sentei ao lado da .
- Sei lá. Saiu toda misteriosa. Acho que ela arrumou um namoradinho por aí.
- Sério? Não brinca.
- Sem brincadeira. Pergunta só pra . A mãe anda toda contente, assobiando e tudo.
- É verdade. – a se adiantou, dando uma risadinha.
- E você já sabe quem é? – eu derramei um pouco do leite que estava com a no meu cereal e comecei a comer.
- Ainda não, mas estamos trabalhando nisso. Até porque, eu não vou deixar qualquer um namorar a nossa mãe, né?
- Isso é verdade. Mas, infelizmente, nisso eu não vou poder te ajudar. Tenho coisas muito mais urgentes pra resolver.
- Tipo Jacob? O coitado ficou destruído quando soube que você viajou sem dizer nada. Super falta de consideração da sua parte. Pronto, falei.
- Eu sei. 100% de infantilidade. Mas ontem a gente conversou a respeito.
- Então, está tudo bem com vocês?
- Não exatamente. Mas isso eu também te conto depois. Agora eu tenho que sair.
- Vai aonde?
- Vou até a casa do Jacob. A gente precisa acertar mais algumas coisas.
- Então, quando voltar, traz uma pizza porque a mamãe não estava com a menor cara de quem ia voltar pro almoço.
- Por que você mesma não cozinha?
- Não acha que tá querendo demais, não? Já lavei a louça, minha cota de boas ações está encerrada por hoje.
- Então, você terá que reabrir, porque eu vou viajar com o Jacob.
- Vai viajar de novo? Daqui a pouco, só vou te ver no natal.
- Dramática. Me deixa ir tomar banho. – eu levantei da cadeira e fui andando em direção à escada.
- Quando voltar, vai me contar o que aconteceu?
- Nos mínimos detalhes. – eu respondi antes de subir.
Eu já estava quase chegando à casa do Jake, quando resolvi dar mais uma olhada no e-mail. A minha amiga ainda estava viva. O próprio John havia falado com ela pelo telefone. A única coisa que eles sabiam, era que a estava presa em algum lugar perto do Mississipi. O vampiro que a sequestrara resolveu brincar um pouco com o emocional do Paollo e não quer devolvê-la de imediato. O lado bom da notícia era o tempo extra que Jacob e eu tínhamos para colocar nosso plano em prática.
Assim que estacionei, vi o Jake me esperando. Ele entrou no carro e nós fomos direto ao aeroporto. No caminho, cogitamos a idéia de pedir a ajuda dos outros garotos, mas fiquei com medo de acabar piorando a situação da .
- É, você tem razão. Não há tempo pra isso. – ele concordava comigo sobre pedir ajuda.
- Eu sei que deve ser difícil pra você, ter que esconder isso dos outros, mas eu morro de medo de colocar tudo a perder.
- Vai dar tudo certo, você vai ver.
- Tem que dar, Jake, tem que dar.
- Eu estou muito feliz por você ter me procurado pra pedir ajuda.
- E eu por você ter aceitado me ajudar. É bom poder contar com você. – eu estendi uma das mãos na direção dele.
- Você sempre pôde contar comigo. E sempre vai poder. – ele pegou a mão que eu havia estendido e entrelaçou com a sua. Por algum motivo estranho, esse gesto me causou um nó na garganta. De repente, as palavras já estavam lá.
- Eu preciso te confessar uma coisa.
- O quê.
- Eu conheci alguém durante a viagem. E nós nos beijamos. – ele ficou em silêncio por alguns instantes e, então, começou a falar.
- E o que você vai fazer agora?
- Eu... Eu não sei. O que rolou com o John foi tão forte, tão... Inesperado. Nunca me passou pela cabeça fazer isso com você. Não quero te magoar.
- Podia começar não me contando essa história. – ele soltou a minha mão e desviou os olhos para o trânsito.
- Me perdoa, Jake. Você pode até não querer mais ficar comigo, mas, por favor, me perdoa.
- Você gosta ele?
- Eu não sei. Sinceramente, eu não sei.
- E de mim? Você ainda gosta de mim?
- Ia ser tudo tão mais fácil se eu não gostasse.
- E do que você precisa agora? Quer que eu me afaste?
- Eu só preciso de tempo. Só isso.
- Não quero abrir mão de você, .
- E nem eu de você, mas não posso te prender a mim. Então, se você conhecer alguém e não quiser mais perder o seu tempo comigo e com as minhas indecisões...
- Você nunca é perda de tempo. Mas agora eu acho melhor a gente focar na . Tudo vai melhorar quando nós a trouxermos de volta.
- Tem razão. A precisa da gente, não podemos decepcioná-la.
- Pensando em quê? – eu questionei o motivo dos seus olhos ainda estarem abertos, mesmo já sendo quase manhã.
- Em tudo. Em como nossas vidas viraram de cabeça para baixo em tão pouco tempo. Eu fico aqui tentando imaginar o nosso futuro e a única coisa que eu consigo, é sentir medo.
- Nossa. Agora você falou igualzinho a mim! Não faz isso não, Jake, de desacreditada já basta eu. Vamos tentar pôr a cabeça no lugar e sermos inteligentes.
- Tô começando a achar que estamos fazendo uma grande besteira.
- Não dá pra trás, Jacob. Somos só nós dois, esqueceu? Se você desistir, como é que eu fico?
- Me sentiria melhor se você me deixasse dormir na cama, ao invés desse sofá minúsculo. Você é que devia estar aqui, já que é minúscula igual ao sofá. – ele insistia, pela milésima vez, em dormir na cama do quarto que nós alugamos em uma pequena pousada às margens do rio Mississipi. Mas a primeira coisa que eu fiz assim que entramos, foi despachá-lo para o sofá.
- Acontece que eu sou mulher. Reza a lenda, que nós, mulheres, precisamos de mais conforto do que vocês, homens.
- E o que te impede de dividir o seu conforto comigo?
Eu até podia inventar alguma desculpa esfarrapada, mas a verdade era, que no fundo, eu também não queria dormir sozinha. Então eu fiz um sinal e ele veio dormir ao meu lado. No começo foi um pouco estranho ter ele assim, tão perto. Fazia muito tempo desde a última vez e eu não sabia direito como reagir a isso. Mas depois de alguns minutos de estranheza, voltamos a ser só nós dois, dividindo uma cama.
Não sei se foi o cheiro ou o calor do seu corpo, mas, de repente, comecei a sentir os primeiros sinais do sono. Aquele sono profundo e revigorante que só quem se sente em segurança consegue ter. Enquanto eu via a brisa fraca mover silenciosamente a cortina branca e a claridade de alguma lâmpada criar figuras esquisitas no teto daquele quarto, fui me entregando pouco a pouco ao vazio da inconsciência, mas não antes de ouvir uma frase que faria de mim alguém muito mais forte daquele momento em diante.
- Eu amo você.
Na manhã seguinte, eu acordei sentindo o calor do sol queimar o meu rosto. Abri os olhos lentamente e olhei em volta, como fazia de costume. Levei alguns segundos para lembrar onde estava e com quem. Então levantei só um pouco e me pus sentada na cama. Logo ouvi um barulho vindo do banheiro e, instantaneamente, me acalmei. Parecia absurdo pensar no Jacob me abandonando naquele momento, mas foi exatamente o que me passou pela cabeça.
De repente, a porta se abriu e ele chamou o meu nome:
- ? Já acordou?
- Já. O que foi? Algum problema? – o tom da voz dele me preocupou, então eu já estava calçando os meus sapatos quando ele respondeu.
- Chegou um e-mail pra você. Eu ia dar uma olhada, mas podia ser pessoal e...
- Será que são notícias da ?
- Espero que sim. Foi o que eu pensei na hora.
Eu corri para a mesinha perto da janela e procurei pelo tal e-mail no notebook. Assim que li sobre o que se tratava, eu sentei e respirei fundo.
- E então? É sobre ela? – eu olhei e ele estava parado na porta do banheiro, com uma toalha entre os ombros e um rosto preocupado.
- É sim. Ela ainda está viva e muito perto da gente.
- Então, o que estamos esperando?
- Mais nada. Vamos buscar a , agora.
xxx
- É por aqui em algum lugar! – eu andava por entre as árvores e a lama, com o Jake vindo logo atrás de mim. Nós não sabíamos, exatamente, onde estávamos indo, só sabíamos que a estava em algum lugar do pântano. Segundo o e-mail do John, a troca seria feita hoje à noite. O Paollo se entregaria e eles devolviam a . Provavelmente os dois morreriam, mas não se eu e o Jake pudéssemos evitar.
- Ainda faltam horas para a troca, por que nós já estamos aqui? – ele perguntou enquanto me ajudava a pular um tronco de árvore enorme que estava atravessado no nosso caminho.
- Pra conhecer o lugar melhor. Além do mais, esse pântano é enorme, pode ter certeza que passaremos muito tempo aqui até encontrarmos o esconderijo onde a está.
- Nem tanto tempo assim. Dá só uma olhada lá pra baixo.
Eu olhei para onde os seus olhos apontavam e vi uma pequena cabana escondida entre a vegetação. Era muito simples. Perfeita para abrigar um cativeiro. Instintivamente, dei uns passos para frente em direção a casa. Foi quando senti uma das mãos do Jacob me agarrando pelo braço e me puxando para trás.
- O que você tá fazendo? Ficou maluca?
- Precisamos saber se é mesmo ali que eles estão!
- É ali, sim, o lugar só fede a vampiro. Mas, agora, vê se fala baixinho antes que eles nos escutem. – ele me puxou e nós nos sentamos sobre as folhas úmidas.
- E como saber se ela está mesmo lá? – eu perguntei enquanto me acomodava no chão.
- A trilha do cheiro dela também entra na casa. Têm cinco pessoas lá, ela e quatro vampiros.
- Quatro! E você dá conta de quatro?
- Depende de quão fortes eles sejam.
- Isso não é bom. Melhor repensarmos nosso plano com muito cuidado. Não quero que haja acidentes nem com a e nem com você.
- Se preocupe só com a . Eu me viro.
- Sei. É o que vocês, homens, sempre dizem, até o dia em que se machucam feio. Mas hoje não será esse dia, não, senhor.
- E o que nós faremos, então? Espero que você já tenha um bom plano B em mente. Porque, se não, vai ser do meu jeito.
- Pois fique sabendo que, para o dia de hoje, eu fiz até o plano Z! Então escuta, que vai ser assim: Nós ficamos aqui, vigiando, até o Paollo chegar. Eu não sei direito o que ele vai fazer, mas provavelmente não deve vir sozinho. Como o Paollo não é nenhum bobo, deve fazer a troca do lado de fora da casa; mas, antes disso, você aparece e ataca de surpresa o vampiro que estiver com a . Então eu coloco esse colar no pescoço dela e nós duas estaremos protegidas. – eu abri a mochila e mostrei pra ele os colares que o John havia nos dado. – Com nós duas em segurança, acho que a luta fica mais equilibrada, né?
- Com certeza. Mas e se vierem mais vampiros?
- Acho que não. Se não já estariam aqui, escondidos no meio das árvores.
- De qualquer forma, eu vou ficar atento. Se aparecer mais algum, eu o estraçalho em menos de um segundo.
- Então é isso. Agora o que nos resta é esperar... E torcer.
- Que horas são? – Jake me perguntava pela vigésima vez em menos de dez minutos. Nós já estávamos cansados de tanto esperar, mesmo assim, ficávamos bem atentos à qualquer barulhinho que, vez ou outra, resolvia quebrar o silêncio daquele pântano.
- São quase 20h. Agora falta pouco.
- É essa espera que mata. Saber que a está tão perto e, mesmo assim, correndo tanto perigo. O que eu queria mesmo era entrar lá agora e acabar com todos eles.
- Okay. E o que eu faço se eles machucarem você?
- Pelo menos vai ter sido por um bom motivo.
- Não, Jake! Não brinca com coisa séria. Você vai ficar bem aqui, esperando junto comigo!
- Tudo bem, vai! Não fica assim, eu não vou fazer nenhuma estupidez.
- Por favor.
- Espera. Estou ouvindo alguma coisa... Acho que vai começar.
- Têm mais vampiros por perto?
- Não, só os da cabana.
- Então, vem. Vamos chegar um pouco mais perto. – nós fomos andando bem devagarzinho até ficar numa distância segura, porém, com uma visão privilegiada.
- Aqui está bom, . Se chegarmos mais perto, eles podem sentir nossa presença.
Nós ficamos sentados lá, escondidos atrás dos arbustos esperando o momento certo de agir. Enquanto isso, eu já podia ver, ao longe, duas figuras se aproximando rápido. Tive certeza de que eram Paollo e John.
Assim que eles entraram com mais clareza no meu campo de visão, peguei o celular e mandei um sms. A mensagem era curta, talvez menos de cinco linhas. Ele só precisava saber que eu estava lá, e que, ao invés de se preocupar e me mandar embora, ele devia pensar em mim como um elemento surpresa para ajudar na missão.
Quando recebeu a mensagem, vi seus olhos me procurarem por entre as folhagens até me encontrar, ao lado do Jacob. Ele apenas fez sinal pra mim, mostrando que iria entrar na casa.
John também olhou, não pra mim, e sim para a pessoa que estava ao meu lado. Então ele, simplesmente, virou o rosto e passou a apreciar algum ponto perdido no meio das árvores.
Eles continuaram seu trajeto em direção à casa. Até que, com um rangido, a pequena porta velha se abriu e saiu de lá, na companhia dos quatro vampiros.
Capitulo 14 – O fim (ou não?)
Ela estava muito abatida. Suas roupas estavam sujas e o cabelo todo emaranhado. Mesmo assim, ela ainda mantinha a cabeça erguida e o olhar altivo, vez ou outra misturado com seu próprio desprezo por aquilo tudo. Vi o Paollo dar um passo para frente, mas o vampiro que estava à frente dos outros três se adiantou e puxou a para o seu lado.
- Paollo, meu velho amigo! Faz tanto tempo desde a última vez. Você se lembra da última vez, não lembra?
- É claro. Como eu poderia esquecer do dia em que eu destrui todo o seu clã.
- Pois é. E agora, olha só para nós dois. Como as coisas mudam. – ele puxou a para ainda mais perto e deu um beijo na sua bochecha. Ela apenas fechou os olhos e encolheu os ombros.
- Vamos acabar logo com esse papinho, camarada. Solta ela e vamos resolver isso, nós dois.
- Por que a pressa? Estamos todos nos divertindo tanto, não é, querida? – ele olhou para o lado e acariciou o rosto da .
- Vai pro inferno, Victor. E aproveita pra levar seus macaquinhos junto com você. – ela apontou para os outros três vampiros que estavam parados logo atrás, apenas assistindo a cena, como nós.
- Quanto senso de humor! Não é à toa que o Paollo arriscou tanto por você. Pena que ele perdeu.
- Exatamente. Então solta logo ela e acaba com isso.
- Ótimo. – ele soltou a , que andou a passos largos para junto do Paollo. Eles se abraçaram em silêncio e ficaram assim por um longo tempo.
- Muito romântico. Agora, cumpra a sua parte Paollo. – Victor disse, impaciente.
- Não se preocupe Victor, eu tenho palavra. – e, dizendo isso, ele desfez o abraço com a e foi para o lado inimigo, onde já o esperavam com uma algema e algumas correntes muito grossas.
- Muito bem, Trato é trato. Pode levar a garota.
E foi exatamente o que o John fez. Pegou a pelo braço e, com um último aceno ao amigo, começou a andar com ela pra longe dali.
Eu fiquei surpresa ao imaginar que o Victor realmente cumpriria o acordo. Mas antes que eu pudesse terminar o meu pensamento e antes que e John estivessem longe do nosso campo de visão, ele virou o rosto para o Paollo e falou o que mais temíamos.
- Eu poderia te matar agora e poupar-lhe do que virá em seguida. Mas isso não teria a menor graça. – e, então, dando mais alguns passos para frente, deu a ordem aos seus capangas: – Matem a garota, bem devagar.
- É agora! – eu disse ao Jake. E assim que os três vampiros estavam a menos de dez passos da ele se transformou num grande lobo avermelhado e avançou em cima do vampiro que estava mais perto.
Por não estarem esperando pelo ataque, Jacob não teve problemas em estraçalhar o primeiro. Mas ainda sobravam dois, que agora já estavam alerta.
Enquanto isso, eu já corria em direção a com o colar na mão. Mas antes que eu pudesse alcançá-la, senti um mal-estar muito grande e cai de joelhos no chão. Era como se algo estivesse queimando dentro de mim, e me consumindo de maneira veloz. Tentei me mover e nada. Eu estava paralisada, prendendo meus próprios movimentos.
E foi nesse momento que olhei ao redor. , graças a minha incapacidade de alcançá-la, estava de novo nas garras do Victor. Já o Jacob, parecia estar em vantagem, logo ganharia aquela batalha, transformando o vampiro ruivo em pedaços bem pequenos. Mas, e quanto aos outros? Paollo, John e o último vampiro? Eu não os via em lugar algum.
Estava tudo dando errado. Eu via o medo nos olhos da enquanto Victor a usava de escudo contra um possível ataque do Paollo.
- Não tente nenhum heroísmo, meu velho amigo, ou a sua princesinha aqui vai perder a cabeça. – Victor disse, apertando com violência o pescoço da .
- Não se preocupe, ele não vai fazer mais nada por hoje. – uma voz conhecida falava por entre as árvores. Era o John, arrastando o corpo inconsciente do Paollo pelo chão como se fosse um saco de lixo. – Bem, aqui está o que você me encomendou. Embora pareça, eu não o matei. Imaginei que você mesmo quisesse fazer isso. – ele disse, deixando o corpo do amigo aos pés do Victor.
Eu não entendi o que aquele diálogo significava. Seria algum plano B do qual não fui informada? Somente isso explicaria o John estar, aparentemente, traindo o Paollo daquela maneira. Enquanto isso, a pequena batalha do Jake chegava ao fim. E, embora tenha sido mais difícil do que imaginávamos, ele havia vencido. No segundo seguinte já estávamos um ao lado do outro. Eu me esforcei um pouco e consegui ficar em pé, segurando com força nos pêlos do seu pescoço.
- E o que nós fazemos com esses dois? Eles quase colocaram tudo a perder. – Victor nos olhava com ar de superioridade, enquanto ainda segurava os braços da com força.
- Faça o que você quiser. Só estou interessado naquilo que você me prometeu.
- Acalme-se, meu amigo. Primeiro diga: o que aconteceu com o Frank?
- Está morto. Serviu para distrair o Paollo. De outra forma, teria sido muito mais difícil golpeá-lo. Mas creio que isso não deva ser nenhum problema. Sei que você tem capangas de sobra.
- Sim, é verdade. E, em breve, terei você.
Eu continuava sem entender absolutamente nada. Meus olhos estavam conectados aos da . Ambas tentavam, desesperadamente, encontrar a lógica de tudo aquilo. E, de repente, eu entendi.
- Então foi você. Desde o começo, foi você! – eu disse, sentindo o ódio superar toda a dor que sentia naquele momento. – Por quê? Por que você traiu o seu melhor amigo? E por que nos envolveu nessa história, por quê?
- Simples. Eu sempre fui o melhor amigo do Paollo, mas o Paollo nunca foi o meu melhor amigo. – ele disse, se aproximando de onde nós estávamos. – Eu estava na África quando o Paollo me procurou e disse ter encontrado uma pequena cidade repleta de lobisomens. Isso não me interessou muito. Mas depois ele me confessou que havia conhecido uma garota. Meu velho amigo parecia apaixonado, bem apaixonado. Foi então que eu tive a ideia.
- Que ideia? – eu perguntei.
- A de ser imortal. Você, por acaso, sabia que nem todos os caçadores nascem com essa missão? O Paollo teve sorte, veio de uma longa linhagem de caçadores poderosíssimos. Já eu? Bem, eu sou só um humano com um pouco de treinamento e muita sorte. – ele disse enquanto andava em círculos, como se estivesse divagando. Por fim, terminou seu pensamento: – Sabe o que acontece quando você passa metade da sua vida enfrentado criaturas sobrenaturais poderosas e imortais? Você começa a querer ser como elas.
- Então, é isso. Você quer ser transformado em vampiro.
- Exatamente. E essa foi a proposta que eu fiz ao Victor: a imortalidade em troca do Paollo.
- E então ele usou todos vocês de isca para conseguir seus objetivos. – Victor complementou o discurso do John.
- Eu sei. Você deve estar se sentindo péssima por ter me beijado. Mas não fique sentida, são só negócios. A propósito, essa dor que está sentindo não é nada demais, é só o colar que eu te dei, evitando que você atrapalhe meus planos. – ele me mandou um beijo e virou as costas. – Precisa de mim para mais alguma coisa?
- Se está se referindo ao nosso amigo peludo, não se preocupe, ele não será nenhum problema. – Victor disse, e os dois olharam simultaneamente para o Jacob, que, prontamente, se pôs em posição de defesa e rosnou.
- Ótimo. Então, estou indo para a mansão. Encontre-me lá quando tiver acabado de se divertir. – Então ele, simplesmente, se virou e foi andando para longe de nós.
- Então, senhoritas e... Bicho, creio que essa é a hora do adeus. – ele, finalmente, soltou a , que veio correndo na nossa direção. – Qual de vocês eu vou matar primeiro? Acho melhor dar um jeito em você, primeiro. Ele olhou para o Jacob e, no segundo seguinte, os dois já estavam lutando. Era óbvio que não seria tão fácil para o Jake vencer o Victor como foi vencer os outros dois.
Meu coração estava se despedaçando e eu não sabia o que fazer. E nosso desespero só aumentava cada vez que ele gemia de dor pelos inúmeros ferimentos que o Victor lhe causava. Foi, então, que o inesperado aconteceu:
- Você não devia ter demorado tanto pra me matar. – era o Paollo, levantando mais rápido do que eu pude ver e investindo com violência contra o Victor. Num único movimento, ele perfurou o peito do vampiro e arrancou-lhe o coração. O corpo caiu, em seguida, com os olhos já sem expressão como se olhando para algo além de nós.
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- Bem, resumindo tudo, foi isso o que aconteceu. – eu estava em casa, contando um pouco da nossa aventura para a .
- Nossa, que história! E eu aqui, sem saber de nada... E, ainda por cima, tendo que controlar a mamãe louca atrás de você. – ela comia um pacotinho de biscoito enquanto conversava comigo.
- Sinceramente, com tudo o que aconteceu, até esqueci a mamãe. Não é à toa que ela me deixou de castigo pelos próximos 2000 anos. – eu me sentei no chão ao lado dela e roubei um biscoito.
- Pois é. Quando ela soube que a tinha fugido, que você tinha viajado de novo e dessa vez com o Jake, nem preciso dizer o que ela pensou, né?
- O importante é que tudo deu certo. A já está em casa e, de quebra, ainda se reconciliou com o Paollo. Quer saber de uma coisa, ? Aquilo é amor de verdade, daqueles que duram a vida toda.
- A vida toda dela, né? Esqueceu que ele é imortal?
- É verdade.
- E, a propósito, o que eles vão fazer em relação a isso?
- O mesmo que a gente. Esqueceu que nós também vamos envelhecer antes dos nossos namorados?
- Nem me lembre disso! Ainda estou tentando me acostumar com essa coisa toda de lobisomem. – ela levantou do chão e foi até a mesa de canto pegar alguma coisa.
- Sinceramente, depois de tudo o que eu passei, isso parece tão insignificante... Eu só quero saber de curtir a minha vida, meus amigos, meu namorado... E minha família, é claro! – eu me joguei em cima dela e a abracei bem forte.
- Eu estou feliz de te ver assim. Sem dúvidas, sem aquela carinha de infelicidade. – ela passou o braço pelos meus ombros – Pelo menos essa loucura toda serviu para alguma coisa. Agora você e o Jacob estão mais apaixonados do que nunca.
- Sim. Eu estou tentando compensar o Jake depois de quase ter feito a maior estupidez da minha vida.
- Tá falando do John?
- Claro que eu tô falando do John. Como é que aquele desgraçado conseguiu me enganar daquele jeito? E eu que sempre pensei que tinha o dom de não acreditar em mentirosos. Estou me sentindo uma completa idiota por ter acreditado nele.
- Pois não devia. Ele enganou o Paollo por anos! Aquele sujeito estava disposto a tudo pra virar vampiro.
- É. Mas quer saber de uma coisa?, que se dane! Não quero, nunca mais, ouvir falar desse sujeito! Eu vou cuidar da minha vida, que é o que importa. – falando isso, eu levantei e fui pegar meu celular. – Estou indo ver o Jake, Você vem?
- Eu vou mais tarde. Encontro vocês lá. – nós saímos juntas do quarto e descemos as escadas.
No caminho até a reserva, eu não via a hora de encontrar o Jacob. Desde a nossa aventura para salva a , as coisas não poderiam estar melhores. Nós nos reconciliamos e, agora, não passamos um único dia sem nos ver. Às vezes é estranho estar tão feliz, mas eu acho que mereço. Todos nós merecemos.
A , depois que voltou, está muito mudada, menos impulsiva, mais concentrada. Acho que ela resolveu dar um rumo novo pra sua vida. Na verdade, nós duas resolvemos. Semestre que vem vamos nos inscrever na seletiva de algumas universidades, as mais próximas daqui, é claro. Finalmente descobri minha vocação: vou fazer literatura. Quem sabe algum dia eu me torne uma escritora de sucesso? Estórias para contar não me faltam. vai fazer História. Tenho quase certeza absoluta que é por causa do Paollo, afinal, não consigo imaginar ninguém que saiba mais de História do que ele. Além do mais, deve ser difícil namorar um sujeito tão inteligente. Ela vai ter que estudar muito pra conseguir acompanhá-lo.
De repente, meu telefone tocou. Era o Steve.
- Não sei o que você tem pra me dizer, mas é bom que diga rápido porque eu nem devia ter me dado ao trabalho de atender essa ligação. – eu disse com muita raiva.
- Me encontre nas docas, eu quero falar com você.
- Por que? Vai me mandar pra outra armadilha?
- Eu só quero me despedir.
- Então, se despede pelo telefone mesmo, porque eu não vou a lugar nenhum!
- Por favor, pelo nosso passado juntos... venha. – ele disse antes de desligar.
Eu não devia ir. Sabia que não devia ir. Mas, então, me lembrei daquele primeiro dia após o meu retorno. Tudo o que eu queria era vê-lo, falar com ele... Voltar pra ele! Tanta coisa mudou, desde então. O que eu sentia por ele acabou em definitivo. Tudo, agora, não passava de uma doce lembrança. Duas crianças, sentadas na varanda de uma casa se despedindo e jurando amor eterno e um colar em forma de talismã que agora fica pendurado, por algum motivo que nem eu mesma sei, na parede do quarto. Talvez eu goste de olhar pra ele. Ou, talvez, eu só não queira me esquecer daqueles dias.
- Estou aqui. – eu disse enquanto me aproximava dele.
- Sabia que viria.
- Sabia? Como, se nem eu mesma sabia? – eu sentei ao lado dele e então me dei conta. A pele muito pálida, os olhos extremamente brilhantes, os de predador.
- Talvez não viesse por esse Steve, – ele apontou para si próprio – mas sabia que viria pelo Steve que eu fui um dia.
- Você está assustador, sabia disso? – não consegui evitar e declaração.
- Pra quem me conheceu antes, sim. É por isso que eu não posso voltar pra casa. – ele respirou fundo e olhou para algum ponto no horizonte. - Todos pensam que eu estou morto. É melhor que fique assim.
- E o seu pai? Não vai se despedir dele?
- Eu escrevi uma carta. Está escondida no meu quarto, num lugar de fácil acesso. Um dia ele vai encontrá-la e isso vai fazê-lo se sentir um pouco melhor. Vou deixar ele pensar que foi um suicídio. Afinal de contas, foi praticamente isso o que aconteceu.
- E pra onde você vai?
- Não faço ideia, mas eu vou me virar. – então ele segurou minha mão entre as suas e disse: – Eu só queria ter o seu perdão antes de partir. Por não ter me tornado a pessoa que você sonhava reencontrar. Por ter feito tanta estupidez. Por quase ter mandado você e a pra morte. Eu sei que as coisas que eu fiz foram horríveis e são muitas, mas, por favor, seja a pessoa maravilhosa que você sempre foi e me perdoe.
- Eu te pedôo, Steve. Do fundo do coração. Talvez não te perdoasse há duas semanas, mas agora que a raiva já passou, eu perdôo. Às vezes tomamos decisões erradas pelas quais sofreremos pelo resto de nossas vidas. Você perdeu tudo. Acho que esse foi um castigo muito maior do que você merecia.
- Não se esqueça de mim, por favor. E sabia que sempre teria alguém pensando em você, em algum lugar do mundo.
- Eu não vou me esquecer, nunca.
Então, depois de um último abraço, ele foi embora. Nuca mais nos veríamos de novo.
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- Sei que você não vai gostar de ouvir isso, mas fico feliz de saber que ele foi pra bem longe de nós.
- Tá com ciúmes? – eu e o Jacob estávamos sentados na areia da praia, conversando a respeito do meu encontro com o Steve.
- Não tô com ciúmes daquele idiota, só acho muito bom ter menos um vampiro por perto. – ele fazia carinho nos meus cabelos enquanto me abraçava.
- Isso é verdade. Esqueci que meu namorado é um super herói. Só falta a fantasia e a cueca por cima da calça.
- E se depender de mim, vai continuar faltando! Mas agora vamos falar sério e esquecer de vez o Steve. Como vão ser as coisas quando você for pra faculdade?
- Não sei. Podemos revezar. Uma semana eu venho pra cá, na outra você vai pra lá. Mas depois a gente resolve isso. Tudo o que eu quero agora é aproveitar o momento.
- Nosso momento.
- É. Nosso momento.
- Posso te confessar uma coisa? – quis saber.
- Claro. Sem mentiras, esqueceu?
- Não é uma mentira. É só que... sei lá.
- Sei lá o quê? Pode falar!
- Houve momentos em que eu pensei que não era pra ser, sabe, nós dois juntos. A primeira vez que pensei nisso, foi quando éramos crianças e você preferiu o Steve, depois acabou viajando... E a outra foi quando você sumiu com a e nem se despediu de mim.
- Eu sei. Já batemos na trave muitas vezes. Mas quer saber de uma coisa?
- O quê?
- Agora que estamos juntos pra valer, as coisas estão só começando. – dizendo isso, eu me virei de frente para ele e nós nos beijamos como se fosse a primeira vez. E nós nos beijaríamos assim muitas e muitas vezes. Porque aquele era o nosso amor de sempre, só que agora com uma nova perspectiva.
Inglaterra, 1 ano depois.
Os dois estavam a muitos metros um do outro. Mas depois de tanto tempo de busca, aquela distância parecia insignificante. O sentimento de vingança ainda estava lá, intacto, mesmo depois de tanto tempo. Paollo jurou que o encontraria, levasse o tempo que levasse. E agora ele estava lá, de passagem pela cidade onde os dois se conheceram anos atrás. ‘Ele devia ter se escondido melhor’ pensou. O amigo traidor que, por pouco, não destruiu tudo o que ele mais amara no mundo. A dívida, com certeza, era muito grande, mas finalmente havia chegado a hora do pagamento.
A distância foi encurtada, passo a passo, com o cuidado de não ser notado. Não havia ninguém ao lado de fora da catedral, graças à chuva fina e insistente que caia. Estavam a sós.
- John. – Paollo chamou o amigo, que ouviu o seu nome ser chamado e teve a súbita certeza de quem era.
- Paollo. – ele se virou e os dois ficaram frente a frente. O momento do encontro havia chegado.
- Espero que tenha aproveitado bem os últimos dias da sua vida, John, porque ela acaba hoje.
FIM
Nota da autora: Então meninas, finalmente consegui terminar a fanfic!
Tanta coisa aconteceu na minha vida desde que eu comecei a escrever essa história que eu até pensei em desistir dela, mas no fim não achei justo com vocês.
Garanto que fiz o meu melhor e espero que vocês tenham gostado do meu trabalho.
Enfim, nos vemos numa próxima história :)
E obrigado pela paciência!
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