Capítulo I
era uma aluna do 1ºA da Escola Integral Sigmund Freud (lê-se : zoológico), bonita e estudiosa. Miss Brightside. Cabelos caindo aos ombros e olhos vivos, elétricos, doces. Astuta, atrevida, divertida. Melhor amiga de Dorcas Meadowes. Amiga próxima dos marotos. Aspirante a detetive.
Num dia qualquer de setembro, numa tarde chuvosa e sem sinais de divertimento possível, a Miss Brightside saiu a caminhar pela escola, os braços cruzados. Estava praticamente vazio. Domingo. Àquela hora da manhã, mais da metade da população de Sigmund estava dormindo.
Parou em frente a uma porta, que dava para uma sala vazia, ao ouvir leves barulhos. Como um apontador girando, e girando. Era um mistério.
Ah, sim, o grande defeito de : amar mistérios e querer desvendá-los como se sua vida dependesse daquilo. Estava se tornando uma rotina meio cansativa. Para os outros, quero dizer.
Sem pensar duas vezes, abriu a porta e se deparou com uma cena não-comum: um garoto do 1ºB, de olhos de um castanho extremamente brilhante, cabelos e despenteados, expressão misteriosa, sentado numa carteira, a escrever o que parecia ser uma longa redação, rodeado de livros.
A garota torceu o nariz. Ele sequer olhou.
- , - chamou ela, receosa. era a única coisa que sabia sobre o garoto – o que está fazendo aqui? Pensei que mesquinhos do 1ºB não estudavam sozinhos.
Havia uma grande rivalidade entre essas duas turmas. Grande mesmo.
Novamente, ele não fez movimento algum.
- ! – Insistiu , mexendo os dedos para tentar dissipar a tensão. – , eu estou falando com você!
Ele levantou os olhos repentinamente, as íris brilhando, diferentemente de seu rosto pálido, e sobressaltou . A garota pulou para trás, o coração acelerando.
- Que susto! – Murmurou ela, para si, colocando a mão no coração. – ! – Berrou já irritada, ao ver que novamente ele desviara os olhos para o papel. Ele definitivamente não queria conversa.
- Você é mudo? – ponderou a questão, acalmando-se repentinamente. Era a mania de mudar de humor. – , eu estou começando a ficar irritada.
E ela não poderia esperar a resposta dele.
- Não. – Ele respondeu, simplesmente.
A voz era dura e inflexível. Mas escondia algo.
- Não? – Ela repetiu, desarmada. – Não o quê?
- Não sou mudo. – novamente baixou o olhar para seu papel, afrouxando a gravata com uma mão. Piscou os olhos várias vezes e como um leve movimento o papel sumiu. Provavelmente havia o guardado rapidamente dentro do casaco.
Os olhos de estavam praticamente vidrados.
- Como você fez isso? – Indagou uma mão passeando distraidamente pelos cabelos.
- Magia? – Olhou para e levantou as sobrancelhas, quase fazendo a garota rir.
Havia algo na voz dele que denunciava que ele não era tão grosseiro como diziam. Ele não era estúpido como todos falavam. E isso instigou ainda mais a curiosidade dela.
- Você é tão... – Ela disse olhando para o distintivo verde e prata. –Estranho.
A sombra de uma risada perpassou os lábios dele, mas não chegou a ver a luz do dia.
- Por que você não anda com os outros da sua sala? Você é diferente deles. Não se sente sozinho? – Qualquer um que conhecesse bem saberia que o brilho nos olhos dela tinha algo a mais. Como um mistério, o maior de todos. – Sei que estou sendo mala, mas é que você é diferente dos outros. Sempre calado. Sempre desacompanhado.
Ele levou a sério as palavras de , embora não demonstrasse.
Um silêncio quase irreal encheu os momentos seguintes, no que aguardava pacientemente a resposta. Se houvesse resposta.
- Trauma de infância? Doença? Timidez? – Tentou ela, colocando as mãos nos bolsos. – Medo? Posso ao menos saber seu nome? – A garota fez uma última tentativa.
Lentamente, ele começou a colocar a mochila nas costas, parecendo calmo e soturno com seus olhos de cor incomum.
cantarolou alguma coisa, enquanto esperava que ele terminasse de guardar suas coisas.
Ele pareceu, ou fingiu não notar.
levantou-se calmamente, colocando a mochila nas costas e mantendo o olhar fixo no chão. Espreguiçou-se. Olhou as horas.
Então, a resposta de só veio quando ele saiu da sala, fingindo que a menina era parte da parede.
- Hnfn. – Pelo menos fora isso que ela entendera.
“Hnfn?” Ela se perguntou, curiosa, enquanto saia da sala e fechava a porta. “Que diabos ele quer dizer com ‘Hnfn’”?
Só alguns minutos depois, após ter pensado bastante, ela percebeu que na verdade o que ele dissera fora “”.
Capítulo II
- Equação de 3º grau com certeza te deixara mal. – Cantarolou Slughorn, para os alunos do 1ºA e 1ºB. – Podem errar se um pouco descuidar. Vocês terão uma hora e meia para fazer pelo menos o começo dela, seguindo a página dezenove do livro. Serão continuadas nas próximas aulas. Boa sorte!
Em algum ponto da sala, Oliver Phelps torceu o nariz.
- Eu odeio essa matéria imbecil. – Murmurou, tirando o livro da mochila e o batendo com força na mesa. – É horrível.
Caius Stifler forçou uma careta, apoiando o queixo displicentemente na mesa.
- E você, Caius? Vai ficar parado a aula toda? – Indagou Oliver, abrindo o livro.
Rony Black soltou uma risadinha zombeteira.
- Até quando você vai esfregar na minha cara que perdi meu livro? – Bradou o garoto irritado. – Até ficar grudado em minha testa?
- Onde você perdeu? – perguntou, do outro lado da mesa, parecendo alegre.
Caius bufou, levantando a cabeça e estalando o pescoço. Oliver bateu com o lápis na cabeça do amigo, que revirou os olhos e fez menção de se levantar. Mas Rony segurou seu braço.
- Ele está de TPM hoje. – Comentou, fazendo e os outros rirem.
- PROFESSOR! – Berrou Caius, saindo de perto da mesa. – Professor Slughorn!
Ele se aproximou de Caius lentamente, olhando mesa por mesa, e se espantou ao ver que Caius não tinha nada na sua. Apontou para a mesa que ele dividia com Oliver e ony.
- Cadê suas coisas, Sr. Stifler? – Perguntou a outra mão procurando algo no bolso. – Ah, sim. Aposto que as perdeu... De novo!
Atrás deles, Rony explodiu em gargalhadas.
- O que eu faço, então? – Resmungou Caius, mandando um olhar mortífero a Rony.
Slughorn olhou pela sala, até parar em um certo ponto.
- Você pode se sentar com o Sr. . – Sugeriu, vendo que ele rabiscava algo no caderno, sozinho como sempre. – Ele é um ótimo aluno, e tenho certeza de que não irá se incomodar.
Caius soltou um gemido de reprovação, olhando desolado para Oliver e Rony, que apenas riam cada vez mais ao ver a feição de desespero do maroto. Dorcas, que observava a cena de perto, começou a rir, recebendo um tapa de reprovação de .
- Algum problema? – O professor tornou a questionar, ao ver a cara de Caius.
Stifler olhou para os amigos.
- Não, professor. – Resmungou novamente, com uma expressão “resolvemos isso depois” para os amigos.
- Então, vamos falar com o Sr. .
Aluno e professor foram até o lado “1ºB” da sala, onde muitos alunos lançaram olhares malévolos a Caius, principalmente Tony. Caius os ignorou, já que sua paciência não estava em um dia muito bom, e apenas seguiu o professor até a carteira de .
Ele riscava sua própria carteira calmamente, os cabelos despenteados como sempre. E a única coisa que Caius sabia dele era que ele adorava despentear os cabelos com uma mão, numa espécie de tique.
- Sr. . – Chamou Slughorn, alegre.
levantou seus olhos para o professor lentamente, como se fosse um movimento difícil. Caius jurou ter visto um brilho esquisito perpassar aqueles olhos , mas esperou que fosse apenas o reflexo da luz.
- Se importa de dividir seu livro com o Sr. Stifler? Infelizmente não tenho nenhum caldeirão para emprestar. – assentiu rapidamente, desviando o olhar para Caius. – Então, pronto!
E saiu andando rapidamente, ansioso para ver o progresso de seus alunos.
Caius olhou de um jeito quase cômico para .
- Olha, mermão, eu não sei que tipo de cara 'cê é, mas nem pense em me tirar, ok? – Caius falou polidamente, como se esperasse um ataque surpresa.
O outro não fez nenhum movimento, mantendo os olhos no livro de matemática que era para ter números, mas por algum motivo era cheio de letras.
- E se você vai me ignorar, – continuou sentando-se na cadeira ao lado de . – fale logo, porque eu mudo de parceiro.
Ele levantou seus olhos para Caius.
- Eu não sou como eles. – respondeu, esticando o corpo. – Não se preocupe.
As palavras dele pareceram amenizar sua aparência sombria, e Caius relaxou um pouco mais.
- Que tipo de cara tu é? – Questionou arqueando a sobrancelha. – Alunos do 1ªA irritam os do 1ºB desde a época dos nossos avós. A maioria dos 1ºB são cretinos e sujos. 1ºB’s são Antony’s da vida.
levantou as sobrancelhas.
- Não importa onde, sempre vai haver uma ovelha negra. – respondeu, os lábios curvados num tipo de sorriso maligno.
- Mas mesmo assim... Por que anda sempre só? – Caius indagou inocentemente.
No mesmo instante, os olhos do outro pareceram escurecer e o meio sorriso saiu de seus lábios.
- Desculpe. – Pediu Caius rapidamente, sentindo que estava se intrometendo demais. fez um gesto com a mão. – Vamos tentar fazer esse cálculo logo?
A aula se passou normalmente, com vários alunos rebeldes jogando bolinhas uns nos outros e muitas risadas por parte dos dois marotos, Oliver e Rony, que pareciam zombar do “pobre” Caius. Até estava na brincadeira.
- Mas, sabe... – Gracejou ela, enxugando as lágrimas de risadas do rosto. – Ontem eu falei com ele.
Oli ficou sério imediatamente.
- Você falou com o tal do ? – Ele questionou rapidamente, olhando de um jeito estranho para a garota.
- Pouco, mas falei. – Um brilho estranho iluminou seus olhos. – Ele é fascinante.
Rony bateu o punho na mesa, incrédulo.
- Um otário do 1ºB é fascinante? – Rony bradou, franzindo a testa.
- Ronald! – censurou, piscando os olhos. – Não fale assim. O é uma pessoa tão legal quanto nós... E eu simplesmente preciso descobrir porque ele é tão só. - Os dois marotos se entreolharam, abrindo sorrisos sacanas, e logo tornaram a olhar para a menina.
- ? – Indagou Rony, levantando as sobrancelhas.
- É o nome dele! – respondeu, com um sorriso incrédulo. – O que tem de mal nisso? Querem que eu passe o tempo todo chamando o menino pelo sobrenome ou o quê?
Havia desconfiança nos olhos brilhantes de Rony que brincava com um esqueiro.
- Se eu não te conhecesse, ... – Ele acendia e apagava a pequena chama. – Diria que...
Antes que pudesse terminar a frase, porém, o esqueiro escorregou das mãos do garoto e caiu em uma pilha de bolas de papel e além do pequeno fogo uma densa fumaça tomava conta, e logo estava espalhada por toda a sala, causando vários ataques de tosse.
- Quem fez isso? – A voz animada de Slughorn preencheu a sala, ainda envolta na fumaça. – Oh, parece que temos o maior desastrado do nosso querido Sigmund nessa sala!
- E o troféu vai para Rony Black! –Caius zombou, do outro lado da sala, quando o lugar começou a ficar visível. – Obtuso como sempre, Ronald.
Ao lado do maroto, franziu o cenho.
- Mas isso pode ajudar a pregar uma peça. – O sorrisinho imperceptível no canto de seus lábios podia ser classificado como diabólico.
Caius tornou a olhar para o lado, incrédulo.
- Você está falando sério? – Indagou, completamente surpreso.
olhou para ele rapidamente, com uma das sobrancelhas levantada, como se dissesse “sim”. E guardava seus materiais na mochila escura.
- Bom, quem cala consente. – Sentenciou Caius, apoiando a cadeira nas pernas de trás. – Mas você está sugerindo que usemos isso para fugir dos professores após uma travessura?
- Troféu de lerdo pra você. – O outro respondeu, curvando os lábios num sorriso desdenhoso.
Caius sacudiu a cabeça, cruzando os braços.
- Troféu de aparência enganadora pra você, ...
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As horas passavam lentamente, e depois do que pareceram dias para Oli, Caius e Rony, a aula de filosofia, a última do dia, chegara.
- Hoje não vou mesmo me alegrar... – Murmurou Oliver, estalando o pescoço. – Nunca desejei tanto o fim de um dia.
- Nem os de ressaca? –Rony indagou, com um sorriso meio de lado.
Oliver deu-lhe um belo tapa na testa.
- Eu já falei pra você não comentar isso alto, Ronald.
Chegaram a sala de filosofia rapidamente, tanto que a porta da sala ainda estava fechada, e a voz severa de Minerva McGonagall chicoteava lá dentro. Os três trocaram uma careta desanimada, que já era a marca registrada das complicadas aulas de filosofia. Eram filósofos, filósofos de botequim, que faziam filosofias sem sentido algum, de qualquer maneira, nenhuma filosofia fazia sentido...
- Eu já falei pra você não bater na minha cabeça, Oliver! – Retrucou Black, irônico. – Que coisa mais chata!
- Se você não fosse tão obtuso assim, eu não precisaria te chamar a atenção, e nenhuma dessas coisas ia acontecer novamente...
- Ei, ei! – Interrompeu Caius, revirando os olhos. – Será que as duas velhotas reclamonas podem das um tempinho?
Seus olhares se encontraram, e logo começaram a gargalhar sonoramente, sem motivo algum.
Naquele exato momento, a porta da sala se abriu e todos os alunos do 1ºB e 1ºE (n/a: existem diversos 1º ano) saíram da sala, apressados, como se estivessem loucos para deixar a tempestuosa presença da professora.
Caius imediatamente se empertigou, ao ver uma cabeleira cacheada passar.
- Oi, Mckinnon! – Berrou ele, a voz assumindo um tom maduro e descontraído. Oliver prendeu uma gargalhada.
Ela parou de andar, acompanhada de uma amiga que jogava no time da escola.
- Oi, Stifler. – Audrey arrumou os cabelos com uma mão, abrindo um sorrisinho tímido.
- Como foi seu dia? – Caius questionou, tentando não abrir seu sorriso mais galanteador.
A amiga de Mckinnon puxou o braço da garota, e Audrey soltou uma exclamação de impaciência. Caius sorriu de leve.
- Bem, obrigada! – Gracejou ela, antes de rodopiar suavemente, dar uma piscadela e sair andando.
Por um momento, Caius a observou, mas logo sua atenção se voltou para uma massa de cabelos espetados, que seguia no meio de uma aglomeração do 1ºB. Por um momento pensou ter visto cabelos estranhamente conhecidos, mas logo desviou sua atenção para os amigos, que ainda olhavam na direção de Audrey.
- Segure a baba, Caius. – Rony zombou, com um sorriso convencido.
Os outros do 1ºA começaram a rir.
- Não se preocupe. – Um sorriso maroto curvou seus lábios. – Eu vou agüentar.
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- Hey! – Exclamou , segurando o braço de e o impedindo de seguir com os “amigos”.
nem se virou; apenas parou de andar e levantou a cabeça, começando a achar o teto levemente interessante.
- Erm.. ? – Ela chamou carinhosamente, hesitando, esperando não levar outro gelo.
Ele virou para trás, encarando a doce menina, e imediatamente um choque perpassou o corpo de , arrepiando todos os seus pêlos da nuca. Como reflexo, ela soltou o braço dele, e recuou um passo. Os olhos tinham uma expressão serena, e pareciam quase... alegres.
- Hã... Eu achei que podia te dar um 'oizinho' antes de ir pra aula. – explicou, as bochechas delicadas adquirindo um tom rosado. – Então... Oi.
- Oi... – abriu um sorrisinho no canto dos lábios, quase imperceptível. – .
- . – Ela corrigiu, sorrindo abertamente. – De agora em diante, , ou se preferir . E eu queria te perguntar uma...
Antes que ela pudesse terminar a frase, virou-se e saiu andando calmamente, a mochila jogada nas costas lhe dando um ar displicente e ao mesmo tempo charmoso. A garota balançou a cabeça em sinal de reprovação.
- Coisa. – Terminou, sentindo vontade de correr atrás dele. – Mas você não perde por esperar, ...
Capítulo III
Sem que percebessem, setembro passara e dera lugar a outubro, que entrava com muita ventania e chuva, além de um tempo cada vez mais frio. As copas das árvores ao redor da escola faziam um estardalhaço distante, graças à chuva cada vez mais forte, e os ventos as castigava sem piedade. E foi numa dessas manhãs, no segundo dia do mês, que o primeiro jogo de futsal da temporada aconteceu.
Aquela manhã de sábado ainda começava, embora o céu acinzentado e coberto por nuvens aparentasse um horário tardio. Uma fina garoa invadia os vastos terrenos de Sigmund Freud e enlameava tudo, além de produzir um insistente barulho de água contra milhares de vidraças.
- Você vai ao jogo? – Rony indagou, enquanto tomavam café da manhã no salão principal, ao ver Caius jogar-se no banco com várias bandeirinhas azuis. – Com esse tempo?
- Claro. – Caius respondeu, simplesmente, sacudindo os ombros. – Não posso parar de zoar o 1ºB.
Oliver, que estava apenas chegando a mesa, ouviu o comentário de Caius e revirou os olhos, sentando-se ao lado do amigo. Rony deu um sorriso maroto.
- Oliver, você vai ficar aqui no castelo e ajudar o pobre Rony a bolar uma sacanagem para zombar dos 1ºB, não é? – Ele indagou casualmente, uma expressão presunçosa no rosto.
- Não! – O outro respondeu, com uma expressão cética. – Você não acha que eu vou ficar dentro da escola ao invés de ver o primeiro jogo da temporada, ou acha?
Caius soltou uma gargalhada de deboche, enquanto colocava uma torrada exageradamente grande na boca.
- Eu achava, até você pisar em minhas expectativas e jogá-las no chão do desprezo! – Rony rebateu numa voz extremamente dramática, colocando uma mão em cima do coração.
Naquele exato momento, o time do 1ºB chegou ao refeitório, recebendo muitos aplausos. Os três marotos torceram o nariz.
- Clark, Goyle, Gimford, Vutton, Howe, Gathier... – Contou Caius, estreitando os olhos. – Onde está nosso “amiguinho”?
Rony mudou a expressão para pensativa.
- O ? – Caius fez que sim. – Olhe você mesmo...
Caius virou para trás esperando ver já sentado no banco sozinho, mas surpreendeu-se ao ver que ele apenas entrou no refeitório com um tênis nike nos ombros, ainda com o uniforme. E estava logo atrás dele, aparentemente monologando, já que o rapaz parecia ignorá-la.
- está obcecada por esse cara! – Caius bradou, com uma expressão estranha, olhando desconfiado para os dois. – Não é estranho?
De algum modo, Caius estava certo.
- Olha, , ... , ou seja, lá como eu devo te chamar para que você pare de me deixar monologando aqui, POR FAVOR, você pode pelo menos falar “bom dia, sua insuportável”? – A garota insistiu, começando a dar pulinhos de irritação.
parou de andar e se virou para ela, sem antes desfazer a maligna expressão de divertimento no rosto.
- Bom dia. – Ele disse inflexível, parecendo impaciente.
- Bom dia! – A garota respondeu, alegre por finalmente ter arrancado algumas palavras dele após uma longa falação. – Olhe, eu sei que isso é estranho...
Ela deu um passo a frente, e ele levantou as sobrancelhas, destacando os olhos extremamente naquela manhã, por causa da claridade.
- Mas eu estou torcendo por você. – Revelou ela, juntando as pontas dos dedos e abaixando a cabeça, parecendo envergonhada. – Então, acabe com o 1ºE, ok?
Pelo canto do olho, ela viu que pareceu achar graça em seu comentário. Mas ele não disse nada.
- Ok, . – Ele respondeu finalmente, cruzando os braços e deixando o pescoço pender para o lado. – Até mais.
Fez menção de virar e sair andando, mas deu um largo passo à frente a fim de impedi-lo... Um passo tão largo que a fez perder o equilíbrio e cair para frente, segurando o braço do garoto.
Por sorte, ele conseguiu ficar em pé, mesmo sendo puxado para baixo.
- Desculpe. – Murmurou , constrangida, ainda agarrada à manga do moletom dele.
levantou o rosto, a fim de encarar . E ainda encontrou aquela expressão indecifrável.
- Hm... Se importa de largar minha manga? Sabe como é, eu preciso jogar. – A surpresa de ter ouvido uma frase completa vinda dele a fez arregalar os olhos e cair ainda mais para frente, ficando muito próxima dele.
Próxima demais.
- Ah... Ok. – Ela concordou, largando a manga do rapaz, no que ele apenas se virou e saiu andando em direção a ‘sua mesa’.
Se alguém olhasse para naquele instante, poderia ver a expressão estranhamente alegre que se formou em seu rosto de olhos e extraordinariamente felizes.
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- BEM VINDOS AO PRIMEIRO JOGO DE FUTSAL DA TEMPORADA, 1ºE VS 1ºB! – O narrador, Mike Locker, começou, ao receber um sinal de Madame Blowver, a professora de Educação Física e juíza dos jogos. – Agora, entrando no campo, o time vice-campeão do ano passado: Gimford, Vutton, Howe, o grandão Gathier, Goyle e , do capitão Clark! – Urros dos alunos do 1ºE foram ouvidos por todos os lados do campo, enquanto os sete jogadores adentravam o campo.
Em algum ponto da arquibancada, três rapazes apertaram os olhos, aparentemente tentando focalizar algum jogador em especial.
- E o time que parece vir com tudo neste ano: Ritter, Benson, Wheeler, Decarli, Bilheimer, Byram e o capitão, Gaylor! – Locker continuou, no mesmo instante em que a garoa cessou. – Agora é só esperar o apito da madame Blowver!
Alunos do 1ºA, 1ºE e 2ºC aplaudiram incessantemente o time do 1ºE, que seguia para o lado oposto do 1ºB, que já estavam em seus lugares. A expectativa parecia estar fincada no ar.
- Clark, Gaylor, apertem as mãos! – A madame ordenou, fazendo os dois relutantes jogadores apertarem as mãos um do outro com mais força que o necessário. – E que comece... O JOGO!
Ela apitou e a bola rolou.
Previsivelmente, a bola já estava nos pés bem treinados de , que atravessava o campo e driblava os adversários com facilidade.
- Primeiro lance do jogo, e já está procurando fazer o primeiro gol desta temporada! – Ele cortava o campo numa velocidade incrível, não dando chances para os artilheiros do outro time; chegou perto do goleiro do 1ºE.
Ele parou abruptamente e quase colidiu com Gaylor, que mantinha uma expressão séria, mas no último instante desviou para o lado e encontrou as traves livres, longe de qualquer outro jogador.
Como era de se esperar, ele jogou a bola pra cima e a chutou de costas, procurando fazer suas gracinhas mirabolantes. E acertou perfeitamente, arrancando um murmúrio de raiva dos alunos do 1ºE e de todos que torciam para eles.
- PONTO PARA O 1ºB! – Berrou Locker, que felizmente torcia pelo 1ºA. – Parece que os goleiros desta temporada vão ter muito trabalho com ! – Neste exato momento, ele praticamente dançava no ar, os braços cruzados e uma expressão de contentamento no rosto. – E O JOGO RECOMEÇA!
Howe e Wheeler estavam quase grudados, um seguindo o outro na disputa pela bola. Os outros quatro jogadores estavam completamente preocupados em não deixar a bola cair em mãos adversárias, ou seria pés.
- Ritter, do 1ºE, pega a bola de Gimford e corta o campo... Dribla Clark... E... Aaah! Belo carrinho de Gathier! – Locke narrava rapidamente, tentando identificar os vários borrões. – Vutton recupera a bola... Passa pra ... Passa para Vutton... ... WOW! ESSA DEVE TER DOÍDO!
Um chute bem posicionado de Decarli atingira em cheio a ‘área proibida’ de enquanto dava um carrinho, fazendo o garoto deixar de tentar pegar a bola e respirar fundo, tentando recuperar o ar. Ele sentia sua virilha rangendo pela força da pancada, e por um momento teve vontade de se jogar numa cama branca e fazer a dor parar.
- Maldito. – Murmurou ele, a voz trêmula, com dificuldade de respirar. Mas com um estupendo esforço, respirou fundo e saiu disparado em direção a Benson, que já ‘voava’ diretamente para a trave do 1ºB.
- E ‘voa’ atrás de Benson, parecendo decidido a vingar o chute, e a propósito cadê o cartão amarelo, madame Blowver?! – Locke exclamou, aumentando a voz para tentar abafar o canto dos 1ºE. – Gimford vai atrás para dar apoio ao artilheiro... Goyle joga a bola pra cima e... BOA TACADA, GATHIER!
- Que jogo eletrizante, pessoal! – McGonagall bocejou, arrancando risos do narrador.
- Calma, Tia Minnie, ainda vai ficar melhor... – Um coro de risos encheu o campo, no que McGonagall lançou um olhar feio a Locker e cruzou os braços, uma expressão severa. – O que é aquilo? GIMFORD NÃO LARGA A BOLA!
O grandão do 1ºB atravessava o campo rapidamente, desviando desajeitado dos artilheiros adversários, seguido apenas por . Mas um drible de Bilheimer o fez perder a posse da bola.
correu o mais rápido que pôde para conseguir pegar a maldita bola, ele estava definitivamente furioso. - Isso aí, ! – Locker comentou, empolgado. – Mas ainda não passamos do 1 a 0!
- POR ENQUANTO, LOCKER! – berrou da outra extremidade do campo, ignorando a forte dor na virilha e o esforço de puxar ar dos pulmões.
A cinco metros do goleiro do 1ºE, ele arremessou a bola com força para a esquerda, em direção a Vutton. Ele arremessou, sem chance de defesa para Gaylor. Na arquibancada, vibrava, mordendo a língua para não elogiar , apesar do segundo gol não ter sido dele.
- DOIS A ZERO PARA O 1ºB! – Berrou o narrador. – E VAMOS PARA O 2º TEMPO.
dominava novamente a bola e tentava se desviar de Ritter, dando passos cada vez mais complicados. O jogo já estava acabando.
- Parece que o 1ºB está a um metro de ganhar o primeiro jogo desta temporada! Mas o que é isso do outro lado do campo? está brincando com Ritter ou algo assim?
Mais risadas foram ouvidas, e o artilheiro quase sorriu. Mas preferiu ficar sério e ir rapidamente em direção as traves do 1ºB, rezando para que Gaylor continuasse olhando para cima.
- TRÊS A ZERO! – Locker gritou, mudando novamente o placar. – QUE FRANGO, GAYLOR!
despenteou os cabelos com uma mão lentamente. Ao ouvir o apito de fim de jogo.
Os alunos do 1ºB se uniram em um abraço coletivo, que não contava apenas com ; ele sentia que não sobreviveria a qualquer tipo de aperto, não importa onde fosse. Então, sentou calmamente no campo, indiferente ao canto dos companheiros de turma e aos lamentos dos outros.
Uma massa de alunos invadiu o campo, enquanto as outras pessoas apenas voltavam para dentro da escola. Entre um mar de uniformes impecáveis, havia um único sujo e suado, que começava a sentir uma séria dor na virilha decorrente da pancada do adversário. Certamente algum osso saíra do lugar e agora se pressionava contra o estômago. Ele parou para pensar se àquela região teria algum osso.
- Você foi demais. – Uma voz doce exclamou atrás dele, fazendo-o levantar. – Adorei o seu último gol!
se virou e mirou os olhos da garota.
- Aquilo doeu? – indagou, preocupada, parecendo completamente à vontade. – Se fosse em mim, acho que teria desmaiado.
Novamente, não houve resposta.
- Bom, acho que você deveria ir à enfermaria. – Ela murmurou, aceitando o gelo dele. – Até mais... .
E saiu andando, o rosto completamente corado numa expressão constrangida.
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Salão Comunal do 1ºB. (N/a: Local que cada turma possui um e serve para festejar ou relaxar)
Festa para comemorar o belo jogo.
descansava calmamente numa poltrona mais afastada da aglomeração que congratulava seis dos sete jogadores. Estava cansado demais para festa, e, de qualquer modo, ainda estava com o uniforme suado. Um banho cairia tão bem naquela hora...
Ele, que estava com a cabeça jogada para trás, apoiada no encosto da poltrona, voltou o pescoço à posição normal e abriu os olhos, que estavam extremamente vermelhos. Precisava começar a cuidar mais de si.
- Hey, . – Exclamou Scarlett Fusett, uma colega da mesma série. – Bom jogo.
agradeceu com a cabeça, piscando os olhos, e, depois de respirar fundo, ficou de pé, esticando os braços e passando uma mão pelos cabelos e assanhados. Scarlett notou o gesto.
- Sabe, você nunca fala nada... É tão calado, ao contrário de... – Seu olhar foi para Clark e sua turma. – Ao contrário deles.
- Eu não tenho nada a falar contigo. – Ele respondeu finalmente, a mão direita passeando pela nuca, enregelada. – E é .
Vagarosamente, o rapaz subiu para o dormitório masculino e rumou diretamente para o banheiro, parando apenas para pegar uma roupa mais confortável.
Enquanto isso, uma bela morena tentava entendê-lo.
Capítulo IV
- ! – Berrou , correndo atrás do garoto, que parecia desaparecer a cada segundo. – , volte aqui, eu quero falar com você!
A morena correu até o rapaz, e segurou seu ombro, sem coragem, porém, de olhar em seus olhos. Por causa dos acontecimentos anteriores.
[FLASHBACK-ON]
Um homem velho da secretária ‘invadiu’ o refeitório no meio do almoço, e seguiu em direção a mesa de . Que rapidamente assumira um olhar de entendimento.
Ele entregou algo que parecia um bilhete ou uma carta pelo tamanho. Colocou nas mãos de e sem dizer nada saiu rapidamente.
Palavra por palavra, linha por linha, parágrafo por parágrafo; as palavras vazias e fúteis, que não faziam jus ao acontecimento citado, pareciam apenas letras confusas na cabeça de . Ele lia, lia de novo e de novo, mas não parecia entender.
Não queria entender.
E acabou notando que quase todo os alunos no refeitório o olhavam, curiosos.
Saiu andando calmamente do salão, como se estivesse caminhando numa manhã de sol, e não deixou ninguém notar a nuvem cinzenta que encobriu seus olhos. [FLASHBACK-OFF]
- O que aconteceu com você? Você deixou o refeitório feito um louco! – Ela exclamou, baixinho.
O dia estava escuro e cinzento, como sempre, mas o corredor nunca pareceu tão escuro como naquela hora.
- . Por favor. É melhor desabafar com alguém, mesmo que esse alguém seja uma pessoa que te persegue, como você mesmo diz.
- Eu não sei por que raios você se importa. – respondeu, numa voz estranhamente calma e arrastada.
Ela suspirou, e jogou uma mecha dos cabelos para trás.
- Você é diferente dos outros, e sabe disso. Isso me fascina. – abriu um sorriso de soslaio. – Mas, vamos. O que aconteceu com você?
Não houve nenhuma resposta.
- E, ah, se não for pedir muito, vire-se. Suas costas não expressam muita coisa.
Ele se virou para , arrancando uma exclamação de surpresa da moça. Seu rosto pálido e fino estava muito vermelho nas bochechas, e a área em volta dos olhos parecia inchada. Mas o que mais a assustou foram seus olhos.
Estavam escuros, cinza. Não havia nenhum vestígio dos olhos que ela adorava.
- A carta era um convite para o enterro. Dos meus pais. – Ele revelou, passando uma mão pelo cabelo. – Já esperava.
levou uma das mãos a boca, e sentiu seus olhos se marejarem.
- Mas seus pais não eram considerados os melhores Civis do governo todo? Todo mundo já ouviu falar dos !
abriu a boca para responder, mas pareceu mudar de idéia. E, num gesto surpreendente, segurou a mão de com seus dedos frios e a guiou corredor adentro.
- Onde você... – Ela começou, arregalando os olhos. – , você está bem?
Ele não respondeu; apenas continuou puxando a garota, enquanto procurava uma sala vazia.
- Você está conversando comigo, e segurando minha mão! – gracejou, abobalhada. – Céus. Você deve estar abalado.
- Cale a boca.
não precisou falar de novo. Ela entendeu.
- Fui chegado aos meus pais por muito tempo. Éramos uma família muito feliz, morando em Genebra. Só que, por acaso, tivemos que nos mudar de país, e eu... – Ele contorceu o rosto numa careta.
- Isso é horrível. Deve ser bem ruim mudar de país...
reparou a baixa luz da sala, e depois o jeito displicente como levava a situação, jogado no chão e encostado num grande armário, com seus cabelos em desalinho e seus olhos frios. Uma estranha e nova sensação perpassou o corpo da garota.
Ele desviou o olhar para ela, mas não falou nada.
- Mas e a morte deles? Não te abalou? – indagou, abaixando a cabeça para não ter “impulsos”.
- Quando você se acostuma com a ausência, a dor não é nada. – respondeu, misterioso. – De um tempo pra cá, eles não ligaram mais pra mim. E nem eu pra eles.
- E você não sente falta?
puxou um isqueiro do seu bolso o acendeu enquanto iluminava a sala rapidamente, e começou a passar o indicador nas chamas.
apertou a mão e pensou o motivo de todos os garotos dessa escola andarem com isqueiros no bolso, acomodando-se melhor na mesa onde estava sentada.
- Você sente falta da dor, ? – A sombra de um sorriso arrogante curvou seus lábios perigosamente convidativos.
Ela sentiu seu estômago se revirar. Toda aquela distância até ele parecia torturante.
- Quem sente? – Concordou, vaga.
Não houve resposta da parte dele, como sempre.
A garota se atreveu a lançar um olhar de esguelha para , e acabou notando que ele era mais bonito do que qualquer um que ela já tinha visto. Era único. Original.
O que mais a fascinava e não a deixava desistir de descobrir tudo sobre era aquela personalidade que ele tinha, aquele ar arrogante de mistério que não pode ser revelado. Não conseguia explicar. Se estava longe dele, sentia que precisava descobrir mais alguma coisa, mesmo que fosse uma cicatriz ou um diferente tipo de “meio sorriso” que ele tinha... Se estava perto, não sabia o que fazer. Ficava completamente sem reação.
E o fato de que, na maioria das vezes, era ignorada, apenas acabava com qualquer esboço de reação.
- Já perdemos a primeira aula de hoje. – comentou, ao olhar o relógio. – Acho que... Não podemos perder o resto.
se levantou rapidamente, e, apagou o isqueiro deixando a sala no escuro.
- Ou podemos? – Ela indagou assustada.
Ele abriu a porta e saiu por ela.
não soube se ria ou se chorava.
Mais um dia útil da semana passara lentamente, arrastando-se sobre o ânimo de todos os alunos do 1º ano. As aulas pareciam pedras muito pesadas que caiam sobre eles e não saiam de jeito nenhum... Principalmente quando essas pedras eram chamadas de “Geometria”.
- Se vocês não se esforçarem, - Albert Cruickshank, o professor, bradou, com seu olhar severo e talvez um pouco maligno. – Não vão ter emprego algum. Esse é um dos últimos anos, seus exames estão vindo! – Ele bateu com a mão na mesa, sobressaltando os alunos mais distraídos. – E eu não quero ouvir ninguém aqui dizendo que não é capaz. Inclusive você, Longbottom.
Frank Longobottom, deu um pulo na carteira, arrancando algumas risadas dos outros alunos. Arregalou os olhos para o professor.
- E-eu? – Gaguejou, surpreso, já que nunca recebia muita atenção do professor.
- Você, Longbottom. Você tem que acreditar no seu potencial. Todos vocês – ele fez um gesto para abranger toda a classe – têm que acreditar no que cada um tem de especial. A vida não é uma massa de modelar. É uma pedra que você tem que modelar. E, se não conseguir...
Ele olhou para uma teia de aranha e pegou o isqueiro de seu bolso. Esse fato estava irritando .
- Ela se estraga na sua frente. – Albert tacou fogo na pobre teia. – É a realidade, meus caros. A realidade.
E é claro que Caius Stifler tinha que fazer um comentário irônico sobre as comparações do professor.
- É bem mais fácil sentar sobre a pedra ao invés de moldá-la. – Resmungou, para Rony e Oliver. – Pelo amor de Deus, de onde esse cara tira essas comparações malucas?
- Caius. Pela primeira vez em nossa pedra, digo, vida, - Oliver soltou uma gargalhada abafada. – PENSE antes de falar. Você tem neurônios para isso.
- Se é que tem. – completou, divertida.
Caius olhou para trás, onde a garota estava sentada, e abriu um sorriso irônico.
- Se não é a Srtª ‘adoro o santinho do 1ºB’! – Exclamou ele, com um falso olhar divertido. – A senhorita que mais tem neurônios nessa classe!
Alguns passos foram se aproximando lenta e perigosamente de Caius, mas ele não percebeu.
- Caius – chamou Oliver, com um falso sorriso. – Ô idiota...
- Olhe pra frente, Caius. – Alertou , desfazendo a expressão divertida. – Olhe pra frente.
- Você não pode me dizer o que fazer! – Teimou o maroto, incrédulo. – Quem você pensa que é, sua tampinha atrevida?!
Os passos ficaram cada vez mais próximos, e logo pararam.
- Eu... Ãhn... – Ela contorceu o rosto. – Oi, professor!
Caius virou para frente tão rápido que pareceu ter deslocado todas as costelas.
- Professor, meu caro! – Exclamou ele, com a voz estrangulada, sentindo que toda a classe o olhava. – Como vai?
- Parece que ofender a srta. é mais importante que a minha aula, não acha, sr. Black? – Trovejou Albert, cruzando os braços.
Rony engoliu em seco, e pareceu se encolher.
- Para o Caius, senhor. Só para ele. – Respondeu, receoso.
- E o que você acha que eu devo fazer com o Stifler, sr. Black?
Uma tensão momentânea preencheu a classe, e parecia tão forte a ponto de ser sólida.
- Uma detenção.
- TRAIDOR! – Berrou Caius, levantando-se e esquecendo que estava levando uma bela bronca. – Você! Sangue do meu sangue maroto! Amigo de fé e irmão camarada! UMA DETENÇÃO? HOJE?
Rony se lembrou do compromisso de Caius naquela noite, e coçou a cabeça, com um sorrisinho tímido.
- Foi mal.
- Foi PÉSSIMO. – Caius voltou a se sentar na cadeira. – Oi, tudo bem?
Cruickshank apontou a porta com seu indicador ameaçador.
- Fora da classe, Sr. Stifler. E esteja aqui na minha sala às oito.
- Eu não posso! – Reclamou Caius, com uma expressão digna de pena. – Eu realmente não posso justamente HOJE, professor. Eu tenho uma coisa realmente importante a fazer. Eu TENHO que fazer essa coisa, senão...
Ele manteve o dedo no ar.
- Fora! Ás oito, Sr. Stifler.
Caius bufou, mas acabou saindo da classe. Dorcas, que estava ao lado de , olhou e deu uma piscadinha cúmplice.
saiu apressada da sala, lembrando que a próxima sala a entrar na aula era o 1ºB.
Puxando Rony pela mão (sob muitos protestos), ela cortou quase todos os alunos e começou a procurar cabelos document.write(loiros) e bagunçados.
- Vem, Rony! – Exclamou, impaciente.
- Eu estou sendo ESMAGADO! – Berrou ele, ao ter o pé pisado. – Ai!
- Cale a boca. – cortou, quase sorrindo.
Por fim, depois de alguns segundos, pensou ter visto dois olhos conhecidos encontrando os seus.
Foi naquela direção, mas então percebeu que era só ilusão.
Capítulo V
Caius Stifler bufou, irado, enquanto atravessava os frios corredores de Sigmund Freud à noite. Estava completamente enrolado num casaco azul-marinho sobre o uniforme, que não o protegia totalmente do frio repentino que penetrara as paredes da escola. Por que tivera de arrumar uma detenção no mesmo dia e horário de seu primeiro encontro com Audrey, que fora conseguido com tanto esforço? Não havia nenhuma justiça no mundo, para ele. Se houvesse, a detenção seria marcada para o próximo dia, no mínimo. Mas não. Tinha que ser naquele dia. Quase como se estivesse marcado...
Sacudiu a cabeça. Estava pensando demais em destino e futuro. Talvez fosse o efeito da detenção.
- Entre, Sr. Stifler. – Soou a voz do professor, quando ele chegou à porta. – Boa noite.
Ele não precisou falar duas vezes. Caius não queria se meter em mais uma confusão.
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Numa confortável cama, dormia profundamente, afundada nos mais diversos sonhos. Fora um dia muito cansativo, então apenas jantara e seguira logo para a cama; seu corpo cansado parecia chamar por um colchão fofo e um travesseiro quente. E sua mente precisava de um belo descanso.
Estava apaixonada, afinal? Obcecada? Iludida? Que tipo de sentimento era aquele que preenchia seu coração de um modo tão exato e firme que ela não sabia mais se controlava o sentimento ou era controlada por ele?
Dúvidas, dúvidas e mais dúvidas. Ultimamente, era só o que tinha na cabeça. Não conseguia pensar em mais nada; as lições de casa lembravam o olhar dele, as explicações dos professores lembravam o jeito como ele segurara sua mão naquele dia e até as nuvens pareciam refletir sua voz dura e fria. Era uma completa e boba apaixonada.
Paixão? Não seria, melhor dizendo, amor?
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- Vamos, . Deixe de ser molenga. Tenha atitude. – Murmurou Jean, perigosamente, tentando se aproximar do garoto no sofá confortável do salão comunal.
Os olhos de expressavam um seco “deixe-me em paz”, mas ela não parecia notar. Estava grudada no rapaz desde que ele pisara no salão, e não o deixava em paz, com longos monólogos sobre seus antigos namorados e coisas mais fúteis ainda. Talvez não estivesse acostumada a saber o que fazer orientada por um par de olhos.
- Não sei que atitude. – Ele rosnou impaciente, mantendo o olhar fixo na lareira que estava em sua frente.
- Você não é tão bobo assim.
abriu um sorriso irônico, que não chegou até seus olhos .
- Te juro que sou bobo ‘assim’. Agora me deixe em paz. – Ele respondeu, trincando os dentes para não falar algo pior.
- E se eu não te deixar em paz, bonitão? – Ela sibilou, apoiando-se sobre as mãos perigosamente próximas de James.
Pela primeira vez, abriu um sorriso sincero.
- Ah, bonitona, então eu vou ter que... Improvisar.
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sentou-se em sua cama, de sobressalto.
- Eu preciso parar de ter esses sonhos. – Murmurou febrilmente, colocando uma mão na testa e deixando o suor frio escorrer livremente.
Notou que arfava, e suas roupas pareciam coladas e pregadas em seu corpo. Então se levantou, pegou uma roupa qualquer e foi em direção ao banheiro.
- Merda, merda, merda... – Resmungou, batendo a porta e abrindo a torneira rapidamente, enquanto as roupas escorregavam de suas mãos e caiam levemente sobre o chão de pedra.
Tampou o ralo e deixou a pia se encher até a metade. Então, pegou um punhado de água nas mãos trêmulas e pálidas e molhou o rosto e boa parte do cabelo, sentindo um leve choque por causa da temperatura fria. E ficou assim por algum tempo, até se acalmar. Fechou a torneira e tirou a tampa do ralo, deixando a água escorrer, e então começou a se despir, pronta para um belo e relaxante banho quente. Nada como água bem morna para organizar as idéias.
Sendo assim, entrou no boxe e deixou a água escorrer livremente por seus cabelos , já molhados pelo suor frio. Bom, se aquele banho não fosse lhe ajudar a melhorar, pelo menos não pioraria.
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colocou as mãos nos bolsos do moletom velho que vestia e começou a andar pelos corredores de Sigmund Freud, envolvido em seus pensamentos confusos. Lembranças de um passado sombrio teimavam em se apertar contra sua cabeça, fazendo-a girar e girar.
Não estava se sentindo muito bem. Um estranho formigamento dançava por entre suas mãos, e ele não sabia como fazê-los parar. Estavam cada vez mais freqüentes. Mas, bom, não devia ser nada... Estava acostumado a sentir sensações estranhas no corpo... Provavelmente um tipo de doença herdada do pai, que quase sempre estava no hospital.
Qualquer um que olhasse para o garoto naquele momento notaria que seus olhos pareciam estranhamente parados, como numa fotografia em preto e branco. Falariam que o motivo era um tipo de meditação, que ele fazia sempre, mas estariam completamente errados. Naquele dia, especialmente naquele dia, o motivo era completamente diferente.
Era um motivo que nem mesmo ele conhecia.
andou e andou por muito tempo, enquanto as horas pareciam se arrastar pelas frias paredes de pedra de Sigmund. Suas pernas já estavam ficando extremamente doloridas nos joelhos, porque estava subindo as escadas do terceiro andar pela segunda vez. Subir e descer todas as escadas da escola não era uma tarefa muito fácil.
E, justamente quando ele pisou no último degrau, outra pessoa surgiu no outro lado do corredor. Desnecessário dizer quem era.
- ?! – Exclamou , andando rapidamente até ele. – Que surpresa! Eu sempre pensei que você ficava só nas masmorras...
O rapaz não respondeu. Estava mais ocupado em observar os sapatos.
- Você está bem? – Ela indagou, cruzando os braços, arrepiados por estarem descobertos, e avançando alguns passos. – Não parece muito legal.
Demorou algum tempo até que ele levantasse a cabeça e deixasse à mostra seus olhos escurecidos pela baixa luz do corredor.
- Você está com frio. – Comentou ele, numa voz casual, como se não tivesse ouvido nenhuma pergunta. Geralmente era assim. Não gostava de falar muito de seu humor.
- Eu sei. – assentiu levemente. – Esqueci de pegar um casaco depois do banho.
- Você... – começou, ainda naquela voz anormal para seus... Padrões... – tem hábitos bem esquisitos.
- Esquisitos? - A garota coçou a cabeça, confusa. - Ué... Por que diz isso? – Perguntou, franzindo a testa e voltando a cruzar os braços.
- Porque você é diferente. Só por isso. – manteve a feição séria, não sabendo se era um elogio ou uma ofensa. – Mas deve colocar um casaco. Hoje a temperatura deve estar quase negativa.
levantou totalmente a cabeça, e começou a movimentar as mãos dentro dos bolsos. Estavam formigando cada vez mais.
- Você está... Se preocupando... Comigo?
Pela primeira vez, ele pareceu desconcertado.
- Que diabos...?
- Não, não fale nada! – abriu um sorriso estranho. – Pela primeira vez, eu não quero que você fale. E isso é uma coisa bem rara.
Ele apenas assentiu, batendo os pés no chão frio.
Por alguns minutos, ficaram apenas se olhando, como se não houvesse nada mais a fazer. parecia desafiá-lo a sorrir, com os lábios curvados num sorriso maroto, e apenas a encarava com a cabeça meio inclinada para a direita. Poderiam jurar que estavam vendo quem piscava primeiro.
- Que coisa mais idiota de se fazer. – Riu ela, soltando uma gargalhada alta. – Olhar um para o outro como duas crianças!
- É uma brincadeira boa. – Ele se inclinou para frente, já que ela era mais baixa que ele. – Não acho que seja só de criança.
- Wow. Você está realmente se revelando hoje.
- É a primeira e última vez.
arqueou as sobrancelhas.
- Você já pensou em ser mais gentil comigo? Sabe, eu estou passando frio por sua causa.
O gesto que fez foi o mais próximo de uma gargalhada que já vira. Agora, pensou ela, só preciso fazê-lo sorrir de verdade.
- Está livre para ir embora. – Ele declarou, em voz baixa. – Eu não te pedi para ficar aqui.
- E é justamente por isso que eu estou aqui.
recuou alguns passos, resignado, e aproveitou para fechar bem os olhos, que já estavam começando a arder.
- Você é bem difícil de entender, sabia? – Argumentou, voltando a olhar para ela.
- Você é mais! Nunca fala uma frase grande. É sempre uma frase pequena, que na maioria das vezes tem alguma alfinetada! – exclamou, com uma voz estranha. – Oh, vamos. Eu já posso ser considerada sua amiga, não posso?
Ele considerou a questão.
- Eu não tenho amigos, . Eu não preciso deles.
suspirou; aquela “aproximação” estava sendo mais difícil do que ela imaginara que seria, desde o primeiro dia em que o viu.
- Diga: você é um robô ou um humano?
- Ah, isso eu não posso te responder. Você tem que descobrir sozinha.
Ela quase se engasgou com a própria saliva; ele tinha falado duas frases completas? E estava a desafiando? Não, não era possível.
- Você está me desafiando? – Resmungou ela, incrédula.
se virou para voltar para onde ficava seu dormitório.
- Você pergunta demais.
Então, ele saiu andando calmamente, começando a sentir-se levemente nervoso pelo fato de que o formigamento nas mãos continuava.
já estava preparada para aquilo, mas não para o que viria a seguir. Pois , num gesto ágil, tirou o moletom e se virou novamente, com a sombra de um sorriso estampada no rosto.
- Ia me esquecendo. – Ele jogou o moletom para a garota, que o segurou, estupefata. – Não fique passando frio à toa. Se você morrer congelada, vai deixar de aproveitar muita coisa.
Ele pareceu dar uma piscadela, e logo desapareceu pelas escadas longas e frias. E não precisava falar duas vezes. não queria deixar de aproveitar certas coisas...
Capítulo VI
colocou o moletom que acabara de receber de . Imediatamente, uma estranha sensação de calor perpassou seu corpo, esquentando desde o pé até a testa, e ela se sentiu estranhamente feliz. Talvez pelo fato de que estava cada vez mais próxima de . Mas, comparado ao fato de que ela podia sentir o perfume dele sem estar perto do próprio, aquilo não era absolutamente nada.
- ? – Uma voz masculina chamou, atrás dela.
Ela virou para trás rapidamente, para encontrar o olhar digno de pena de Caius.
- Caius! O que aconteceu contigo? – Indagou, ao ver que ele parecia extremamente abatido.
- Fiquei a noite toda na sala do Cruickshank. O cara é um monstro. – Ele resmungou em resposta. – Veja só minhas mãos...
Ele estendeu as mãos brancas e longas feito as de um fantasma, que agora estavam vermelhas, inchadas e apresentavam vários calos em diversos lugares. Deveria estar doendo.
- Nossa! – Exclamou a ruiva, horrorizada. – O que ele te fez fazer?
Caius soltou um suspiro.
- Tive que pegar todos os livros da sala dele, escrever “Professor Albert C, Sigmund Freud” em cada capa e contracapa e espanar a estante de animais mortos. – Ele respondeu, estremecendo só de lembrar do castigo. – Depois disso, nunca mais falo na aula dele.
soltou uma gargalhada curta, e começou a andar com Caius pelo corredor, com um sorriso bem estampado no rosto levemente rosado.
- Duvido que você mantenha sua palavra depois de duas aulas. Você não tem jeito, criança.
- Criança? – Engasgou-se o maroto, arregalando os olhos. - Ele é criança de me castigar deste jeito! Quero dizer, eu tenho dezesseis anos, não é justo que...
Passos foram ouvidos, não muito distantes.
- O que os dois alunos fazem fora da cama à essa hora? – Minerva McGonagall trovoou, surgindo por trás dos dois. – Têm idéia de que já se passou uma hora do limite máximo de permanência fora da cama?
Os dois amigos se entreolharam, com um tremor.
- Eu sou monitora, professora. Tenho permissão. – Arriscou-se , não parecendo tão confiante.
Surpreendentemente, McGonagall baixou a voz, virou as costas resmungando algo inaudível.
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O mês de outubro estava quase chegando a seu fim, e, com ele, chegavam mais tempestades. O sol nunca mais aparecera, dando lugar a nuvens cinzentas e carregadas e ventos que rugiam ao bater nas vidraças da escola.
Sexta-feira era um dia tedioso para todos os alunos do primeiro ano. Em sua maioria, as aulas eram teóricas, dando sempre o mesmo destaque no que pode cair nos provões mistos, e eram de 1ºA com 1ºB. Não que não estivesse gostando, é claro.
- Ei. Ei, . – Cochichou ela, tomando cuidado para não ser ouvida pela professora de Aritmética. – !
O garoto deu uma leve virada para trás, arqueando as sobrancelhas.
- Seu moletom está aqui. – sibilou, apontando para sua mochila. – Não esqueça de esperar um pouco depois da aula, ok?
assentiu, e tornou a se virar para frente. Mas aquela pequena conversa entre ele e a insistente menina jogara sua concentração para longe, de modo que ele se forçou a pegar um pedaço de papel, procurar uma caneta e escrever, em uma letra perfeita: “Terceira sala depois da sala de Filosofia. À meia-noite. Não se atrase. E não é um encontro. É só que não posso demorar depois da aula – ”
Pegou o bilhetinho e, discretamente, tomando cuidado para não fazer barulho, passou para a carteira de trás. Mas, antes que pudesse pegar o papel, as unhas mal feitas de Josephine Hilton se enrolaram nele, amassando-o por completo.
- Passando bilhetinhos na aula, ? – Indagou ela, em voz baixa, com um irritante sorriso.
rosnou. Não gostava daquela garota. E não era só por sua aparência medonha.
- Devolve isso, tá? – Exclamou a garota, mordendo a língua para não falar outra coisa. – Vamos, Hilton. Você não precisa de mais uma confusão.
A garota do 1ºB cheia de espinhas e irritantemente histérica abriu um sorriso maldoso, e ameaçou ler o bilhetinho. estreitou perigosamente os olhos.
- O que eu ganho com isso, ? – Josephine perguntou, tentando não chamar a atenção da professora, que agora estava absorta em alguns papeis. – Hein?
- Você não perde nada, só isso. Devolve esse papel, agora. – Murmurou , fechando os punhos. - Agora.
- Será que a perfeitinha do 1ºA anda fazendo coisas ilegais? Será?
- Hilton...
- Se eu ler o bilhetinho da miss Brightside, será que ela vai chamar seu papaizinho para me bater? – Implicou a garota espinhenta, com uma falsa voz infantil.
- Agora.
- Eu não vou...
se virou para trás, com as sobrancelhas levemente levantadas.
- Algum problema, Hilton? – Sua voz era decididamente calma, mas seus olhos expressavam claramente que ela deveria largar o bilhete. Um dos tipos de influências que tinha sobre pessoas mais fracas.
A contragosto, ela soltou o pequeno papel com desprezo, sobre a parte da carteira que dividia com .
A garota leu o bilhete, vitoriosa, e logo depois o rasgou, só por precaução.
Não. Definitivamente não havia nenhum problema.
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esperava do lado de dentro da sala, um de seus lugares preferidos na escola. Era uma sala praticamente como as outras, mas tinha uma pequena diferença: a janela era maior, e batia exatamente de frente para a lua.
Ah, a lua. Naquela noite, estava cheia como nunca, resplandecente sob a luz das estrelas espalhadas por todo o céu. Parecia magnífica vista tão de perto.
- ? – Chamou uma voz doce, baixa e sonolenta.
Ele se virou para trás imediatamente, com um brilho astuto estampado nos olhos.
Capítulo VII
- Oi. – Respondeu, fazendo um sinal para que ela entrasse.
A garota estava vestida com o moletom de , e uma calça também de moletom, que estava muito larga em seu corpo fino. Pela cara de sono e pelos cabelos levemente amassados, provavelmente estava dormindo. Mas, mesmo acabando de acordar, ela era... Magnífica, e pela primeira vez notara isso. Seus cabelos , tão intensos e tão inocentes ao mesmo tempo lhe davam um ar de atrevida, descontraída. A pele macia, levemente avermelhada, parecia feita de algodão; suave ao toque, frágil ao vento. E, por fim, seus olhos muito formavam o conjunto perfeito de uma boneca de porcelana. Frágil, inocente, pura. Como seu nome.
descobrira que ela o fascinava de um modo bem estranho e desconhecido. Como se ela fosse a mais doce das lembranças, daquelas guardadas no fundo de caixas aveludadas. Como se ela fosse... Sua. Total e completamente sua...
Ela esfregou os olhos e se aproximou dele em passos lentos.
- Você tinha que escolher um horário tão tardio? – Indagou , parando a menos de um metro de . – Eu estou morrendo de sono!
- Amanhã é sábado. – Argumentou ele, puxando os braços para trás. – Além do mais, você que queria falar comigo.
- Eu só queria te devolver o moletom. Não gosto muito de ficar com as coisas das pessoas, sabe?
O garoto arqueou as sobrancelhas levemente.
- Mas parece que serviu bem, não é? – Indagou, piscando várias vezes.
- Muito bem. É melhor que meus casacos, que não protegem de frio nenhum. – sorriu. – Mas, e você? Não sente frio? Essa sua blusa não parece ser muito grossa... Dá até pra ver... - Ela corou bruscamente no meio da frase.
De fato, a blusa, apesar de ter mangas compridas, era fina, e deixava aparecer os contornos de uma barriga perfeita e um tórax definido e musculoso pelos anos de futsal... E, além disso, o que parecia ser o começo de uma fina cicatriz sob o pescoço, sobre a gola remendada.
- Você tem uma cicatriz sob o pescoço? – Perguntou ela, tentando mudar de assunto, mas começando a se sentir levemente curiosa.
inconscientemente levou a mão até o lugar apontado por .
- Não é... – Seus olhos pareceram escurecer – nada.
- Ah, é sim! – Teimou a garota. – Que tipo de cicatriz é? Parece bem profunda...
- Já disse que não é nada. – respondeu, com a voz levemente alterada. – Não vamos falar disso, certo?
deu de ombros, abaixando a cabeça e deixando os cabelos cobrirem o rosto marcado por profundas olheiras.
- Como quiser. – Ela chutou um pedaço de papel no chão. – Sabe... Você tem sido bem mais legal comigo esses dias...
franziu a testa.
- Tenho? – Ele coçou a cabeça, distraído.
- Tem sim. – afirmou, avançando mais um ou dois passos. – Algum motivo em especial?
O garoto virou-se de costas, pensando na pergunta. Andou até a janela, então. A lua brilhava ainda mais do que uns minutos atrás, ofuscando as estrelas, de modo que parecia estar sozinha no céu. Exatamente como...
- É lindo, não é? – Murmurou , numa voz muito baixa, colocando a mão no ombro de e depois andando até seu lado.
Por algum motivo, o toque da mão dela em seu ombro gelado o fez respirar mais rápido.
- Sim. – Respondeu no mesmo tom de voz que ela. – Mas você vê? A lua tira todo o brilho das estrelas. Elas estão completamente apagadas hoje.
- Vai ver ela é egoísta e não gosta de dividir o brilho com as estrelas. – argumentou. – Também há muitas pessoas assim.
afastou a mão de de seu ombro, num movimento leve. Não precisava de uma lição de moral naquele momento.
- Eu não quis dizer... – Tentou explicar a garota, numa voz mais alta.
- Ei. – Interrompeu , apoiando-se no parapeito da janela. – Só devolva o moletom. Já estou te prendendo demais aqui. Geralmente não divido minhas noites observando a lua com alguém.
tirou o moletom, revelando uma camisa branca e grossa de algodão.
- Você não está me prendendo aqui... – Ela estendeu o moletom para e, quando ele o pegou, acidentalmente tocou na mão de . Como um imã atraindo o outro.
Ambos prenderam a respiração, sem reação. Mas ainda assim foi o primeiro a se afastar, recuando apenas um passo.
- Obrigado. Por tudo. – Murmurou, começando a recuar mais e mais em direção a porta.
E, depois, não disse mais nada.
Capítulo VIII
Se arrependimento matasse... - Vamos, . Deixe de ser molenga. Tenha atitude. – Murmurou Scarlett, perigosamente, tentando se aproximar do garoto no sofá confortável
Os olhos de expressavam um seco “deixe-me em paz”, mas ela não parecia notar. Estava grudada no rapaz desde que ele pisara no salão, e não o deixava em paz, com longos monólogos sobre seus antigos namorados e coisas mais fúteis ainda. Talvez não estivesse acostumada a saber o que fazer orientada por um par de olhos.
- Não sei que atitude. – Ele rosnou, impaciente, mantendo o olhar fixo na lareira que estava em sua frente.
- Você não é tão bobo assim.
abriu um sorriso irônico, que não chegou até seus olhos cinzentos.
- Te juro que sou bobo ‘assim’. Agora me deixe em paz. – respondeu, trincando os dentes para não falar algo pior.
- E se eu não te deixar em paz, bonitão? – Ela sibilou, apoiando-se sobre as mãos perigosamente próximas de .
Pela primeira vez, ele abriu um sorriso sincero.
- Ah, bonitona, então eu vou ter que... improvisar.
se levantou e se preparou para sair do salão, mas Scarlett fora mais rápida e apertara firmemente seu braço esquerdo, ficando de pé também.
- E você é capaz? – Scarlett indagou, dando um sorriso falso.
- Mais do que você pensa.
- Prove.
O garoto arqueou as sobrancelhas tão alto que elas quase desapareceram nos cabelos e despenteados que caíam em sua testa.
- Scarlett, não brinque comigo. – Ele tentou gentilmente afastar a mão de Scarlett de seu braço.
- Não é brincadeira!
Como se um choque perpassasse o corpo de Scarlett, ela soltou o braço de e recuou um passo. Bom, era uma garota estúpida; não era muito boa em transmitir confiança. Mas se havia algo que fazia bem, era o ‘dom’ de ler olhares.
E o olhar dela não poderia ser mais sincero.
Bom, já estaria morto.
Desde o dia em que tivera aquela conversa com sua adorável colega de casa, ela não o deixava mais em paz. Sempre dava um jeito de falar com ele, puxar conversa, dizer “como seus olhos são adoráveis”. Seus sentimentos não poderiam estar mais explícitos.
Explícitos, porém, não correspondidos.
Jogou seu moletom no malão ao lado de sua cama, e, com uma só mão, fechou os cortinados. Não queria alguém bisbilhotando o garoto que fazia Scarlett Fusett esperar por ele e acabar adormecendo no salão comunal. Ele fazia o que queria de sua vida. Mesmo que isso incluísse corações despedaçados.
O fato, nu e cru, era que fazia isso com aquela garota porque havia outra coisa tomando conta de suas preocupações.
De suas preocupações e outras coisas, digamos assim...
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- You better shape up, 'cause I need a man and my heart is set on you… You better shape up; you better understand! To my heart I must be true… - Cantarolava , enquanto escrevia uma redação, sobre a peste negra na Europa do século XIV, no caderno à sua frente, com base em sua mão direita. Estava tão distraída que nem ligava para o que escrevia, já que a matéria estava mais do que gravada.
- Você devia seguir com a carreira de cantora. – Brincou uma voz alegre e fina, seguida do barulho de uma cadeira sendo arrastada. – Popstar fica super a sua cara.
abriu um sorriso e virou-se para a amiga.
- Não é tão simples, Dorcas. – Respondeu, mordendo o canto dos lábios. – Ei. Você viu Caius por aí?
A amiga de cabelos castanhos, lançou a ela um olhar desconfiado.
- O Caius, ? – Perguntou, fazendo uma cara espantada. – Eu não sabia que...
rapidamente negou, assustada só com a possibilidade de um dia gostar de Caius Stifler.
- Não, não, Dorcas. Não ele. – Ela sacudiu a cabeça. – Eu gosto sim do Caius, mas não passa de uma grande amizade. Não mesmo.
Dorcas soltou uma gargalhada e pegou uma mecha do cabelo escuro, enrolando-a por entre os dedos longos e finos de pianista que tinha.
- Ele é um bom partido, coisa que não encontramos mais por aqu... – Ao ver a expressão sonhadora que tomara conta do rosto de , ela estreitou os olhos. – Ei, ei, ei! Tem algo aqui que você ainda não me disse?
Bom, muitas coisas. Primeiro o fato de que havia sim outro bom partido em Sigmund Freud; meio calado demais, talvez, mais ainda assim um rapaz que tinha respeito e, claro, beleza. O único defeito que faria alguém torcer o nariz em relação a ele era o fato de ele ser do 1º... B.
- Bem. Ele é do 1ªB. – Falou , em voz baixa, largando sua pena.
Dorcas soltou um gritinho de surpresa.
- NÃO ACREDITO, ! – Berrou, empolgada, saltando da cadeira e fazendo uma cômica cara de desentendimento. – E onde foi parar o negócio de orgulho? Eu pensei que...
- NÃO! – Gritou , colocando a mão sobre a boca da amiga e olhando em volta, preocupada com os alunos que poderiam ter prestado atenção no grito de Dorcas. Ela puxou a amiga para cadeira e só a soltou quando ela fez um sinal de que ia falar baixo. – Ficou louca de berrar isso? – Sussurrou, fechando os olhos. – Já pensou o escândalo que vai ser?
A cabeça de Dorcas maquinava; quem seria o misterioso garoto por quem estava apaixonada? Ele seria tão ruim a ponto de sentir vergonha de falar de seus sentimentos por ele? Bom... Então só podia ser...
- Oh-meu-Deus! – Exclamou ela, num fôlego só. – EU SEI!
arqueou uma sobrancelha.
- Sabe?
- SEI! – Ela se levantou da cadeira, jogando-a no chão novamente, e colocou as mãos na cabeça, arregalando os olhos. – VOCÊ ESTÁ COM VERGONHA DE DIZER DE QUEM GOSTA PORQUE ESSA PESSOA É O GAYLOR!
arregalou os olhos com tanta força que achou que eles saltariam a qualquer minuto.
- NÃO! – A garota gritou, horrorizada, quando os alunos que estavam no salão começaram a murmurar. – DORCAS, NÃO!
Mas era tarde demais, porque a idéia já estava consolidada na cabeça de Dorcas.
- Oh meu Deus, oh meu Deus! Eu nunca pensei que viveria o suficiente pra presenciar minha amiga gostando do nojento do Gaylor! Como se alguém tivesse a capacidade de ficar com aquele ogro nojento de dois metros! , você é louca, eu acho que só pode ser isso... Imagine só beijar aquela boca nojenta! Imagine só o hálito que ele deve ter! Além do mais, e se ele quiser passar a mão no seu corpo? Credo! Eu fico enjoada só de imaginar! Oh, meu Deus! , por que logo ele? – Dorcas dizia, em uma respiração só, respirando febrilmente e andando pela sala cheia de pessoas atentas a conversa.
Desnecessário falar que todos os alunos presentes apontavam para e soltavam risadinhas desdenhosas; e Gaylor?
- Cale a boca! – Berrou , ficando mais vermelha a cada segundo. – Isso não é verdade! EU NÃO GOSTO DO GAYLOR!
- Imagine o casamento de vocês! A lua de mel, o desastre que vai ser. TER RELAÇÕES COM AQUELA... AQUELA COISA! Como você é capaz, amiga? Você está bem? Na perfeita saúde mental? Não está sob o efeito de drogas? – Dorcas virou-se e segurou os ombros da amiga, que pisoteava o chão, furiosa, até ela. Então, a sacudiu. – Quer um remédio ou algo assim? Um repouso, quem sabe? Um...
- EU JÁ FALEI QUE NÃO GOSTO DO GAYLOR! – Gritou , batendo na parede. – EU GOSTO DE OUTRA PESSOA!
Dorcas sacudiu a cabeça.
- De quem, então?
vacilou, e abaixou a cabeça.
- Dorcas...
- EU SABIA! – Berrou a amiga, vitoriosa. – e Gaylor, há! Não negue!
O povo todo começou a gritar coisas maldosas sobre os dois, então se deixou recolher os materiais e subir correndo para seu dormitório, onde finalmente teria um pouco de paz.
E poderia pensar em um modo de acabar com essa grande confusão.
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Novembro chegara e, com ele, os dias cada vez mais cinzentos e frios. O inverno daquele ano prometia ser forte e realmente bem frio, então os alunos de Sigmund Freud adoravam cada vez mais ficar nos salões, aninhados perto do calor da lareira, que já não era suficiente para tanta gente.
Na hora do café da manhã e da janta, muitos alunos preferiam comer suas próprias comidas nos salões, porque o refeitório estava mais frio que o habitual, de modo que ficava cada dia mais vazio.
Exatamente do jeito que gostava.
Naquela sexta-feira seca e fria, estava largado no banco frio e duro que ficava de frente para a parede. Apenas alguns outros alunos sentavam-se à mesa, um pouco mais afastados, conversando em voz baixa. Estava com um moletom diferente, cinza e preto, uma calça de moletom preta e tênis largados e frouxos. Suas mãos estavam extremamente geladas e pálidas, mas estava acostumado. Sua própria casa era bem mais fria que aquilo.
E, naquele frio, pouquíssimas coisas conseguiam causar algum calor. Entre elas, lareiras, casacos, e as vozes de certas pessoas.
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Aquela não era a melhor época da vida de . Todos os dias, por onde passava, as pessoas apontavam para ela e faziam algum comentário sobre sua suposta relação com Gaylor. A história que Dorcas inventara vazara pela escola toda, e, depois daquilo, ela nunca mais tivera um momento de paz.
Cansada de ouvir murmúrios por onde passava, ela se retirou ao canto mais vazio da mesa gelada, comendo um delicioso caldo quente. Naquele frio, a única alternativa para se esquentar era correr atrás do calor de comidas e do fogo.
levantou a cabeça. Pouquíssimas pessoas estavam no salão; até a mesa dos professores estava praticamente vazia. Desanimada, levantou-se e começou a tomar o rumo para o teceiro andar, mas parou assim que viu um garoto tamborilando com os dedos na mesa enquanto comia uma maçã.
Andou até ele, incerta do que fazer, e tocou seu ombro. E, quando ele se virou, sua surpresa não poderia ser maior.
- ! – Exclamou, a voz saindo rouca por falta de uso.
- Olá. – Ela deu um sorrisinho. – Posso me sentar aqui com você?
Meio desconfiado, franziu o cenho.
- Claro. – Disse ele, acenando para o lugar ao seu lado no banco.
A garota agradeceu com um aceno de cabeça, e colocou os cabelos para trás com uma das mãos frias.
- O que faz aqui sozinho? – Indagou, vendo que ele estava afastado de todo mundo.
- O que faz aqui sozinha? – retrucou, sem emoção, voltando a tamborilar na mesa.
- Eu perguntei primeiro. – respondeu, abrindo um sorrisinho que era adoravelmente irritante, na opinião de . Ele levantou as sobrancelhas.
- Olha... Eu sempre fui sozinho... Entendeu? – Explicou, ainda sem olhar para ela. – Agora me diga você.
suspirou.
- Fugindo das pessoas. Você chegou a ouvir os rumores, não chegou?
Ele assentiu, levemente.
- Então, é insuportável. As pessoas ficam apontando pra mim como se eu fosse um animal num zoológico, ou algo assim. E eu só... – Tentou achar as palavras, mas não conseguiu. – Só...
Então, fez algo que nunca ao menos pensara em ouvir dele.
- Eu te entendo.
Levantou a cabeça e olhou bem fundo nos olhos de , de um modo que nunca tinha feito antes.
- Você... Você me entende? – Ela perguntou, esticando o corpo.
Acidentalmente, ao se alongar, deixou sua mão cair em cima da de , que repousava no banco. Aquilo foi como um choque; não porque as duas mãos estavam geladas, mas, sim, pela sensação que as mãos juntas causavam nele e nela.
ficara sem reação. O olhar de estava meio assustado e meio surpreso, como se não tivesse feito aquilo de propósito. Então, sem pensar nas conseqüências, sem nem ao menos pensar no que estava fazendo, ele virou sua mão para poder segurar a mão de e o fez, seus dedos pálidos e fortes passando pela mão dela.
Para , aquele gesto fora como um gole de chocolate quente. Seu corpo experimentou uma sensação totalmente nova, extremamente boa. E, incrédula, ela olhou para as mãos unidas e depois para .
- Sim, eu te entendo. – Meio encabulado, passou a outra mão nos cabelos, os deixando mais despenteados do que o normal.
sorriu. E, assim que fez isso, Gaylor, Benson e Goyle entraram no salão, com Scarlett Fusett trotando furiosa atrás deles.
Capítulo IX
já tivera vários momentos de alegria profunda, onde achara que seu coração explodiria a qualquer instante. Momentos onde seu sorriso não era o suficiente. Momentos onde as lágrimas insistiam em marcar presença. Mas, definitivamente, aquele momento no refeitório era o mais feliz de todos.
Ela estava segurando a mão de – ela! – no meio das pessoas! Ele tivera coragem de fazer algum gesto carinhoso! Era motivo pra festa, não era?
Sim, era. E o fato de que uma certa tropa estava andando em direção a eles não acabaria com a festa de jeito nenhum.
- Só ignore o que eles vão falar. – Resmungou , quase sem mexer a boca.
Gaylor, Malfoy, Vutton e Fusett pararam de andar, apenas a um metro de onde os dois estavam sentados. E o desprezo em cada olhar sombrio não poderia estar mais estampado.
- Nosso mais novo casal. – Scarlett rosnou, um sorriso falso estampado na cara. – Estão se divertindo?
- Scarlett, Scarlett, não é assim que fazemos com traidores. – Gaylor disse, agitando levemente um punho. – É bem pior. – Ele apontou para . – Então, ?
tinha o rosto inexpressivo, e não respondeu.
- Por que estamos perdendo tempo com esse cara? Vamos bater logo! – Vutton resmungou, cutucando Malfoy.
Este, por sua vez, apenas sacudiu o braço.
- Quieto, Vutton. – Exclamou, cruzando os braços.
levantou as sobrancelhas.
- Acho que vocês são tão covardes que, quando estão juntos, essa covardia se multiplica. – Declarou, sorrindo de um jeito maroto.
Gaylor levantou o punho para ela, e seus olhos se transformaram em fendas.
- , não se meta no que não tem a ver com você, sua nerd estúpida! – Exclamou, lentamente, como se não pudesse entender o que ele dizia. – Isso é só com o seu namoradinh...
Scarlett fungou.
- Vai logo com isso, Gaylor! Ou vai amarelar? – Malfoy berrou, irritado, o canto da boca tremendo. – Se você não tem coragem de fazer isso, deixe para quem tem!
Gaylor sorriu de um jeito irritante.
- Não. Deixe comigo. Vou dar um belo trato no nosso órfão... Coitadinho do ! Sente falta do papai e da mamãe, seu filh...
levantou do banco rapidamente, com o rosto ainda sem expressão, e fez o que mais tinha vontade de fazer; jogou todo o peso de seu corpo no braço e acertou um soco bem no nariz horroroso de Gaylor, causando um barulho surdo que, felizmente, não chegou ao outro lado do salão.
Sangue escorria pelo chão, enquanto olhava estupefata para , que, sendo pálido como era, não parecia ser tão forte.
- Gaylor! – Guinchou Scarlett, abaixando-se para ajudar o amigo. – , seu imbecil!
massageava o punho, que estava ligeiramente vermelho. Então levantou seus olhos perversamente brilhantes para os outros colegas de classe.
- Eu não hesitaria em dar outro. – Declarou, numa voz baixa, mas suficientemente letal para fazer a gangue sair lentamente do refeitório.
Jogou-se no banco novamente, esfregando a mão na calça. Puxa, fora um soco realmente forte.
- Meu Deus, ! – exclamou, sem fôlego, olhando-o admirada e assustada. – Eu não tinha a menor idéia de que você adorava uma briga!
A sombra de um sorriso iluminou o rosto de .
- Há muitas coisas que você não sabe sobre mim.
- E algum dia vou descobrir essas coisas?
sacudiu o braço, num gesto de descaso, e saiu andando. Não dera nenhuma resposta fria, portanto, era sinal de que poderia o seguir.
- Eu morro de vontade de dar um soco em alguém, mas nunca consegui... – Ela exclamou, olhando para a mão vermelha de . – Acho que vou arrumar uma briga com a tal da Scarlett Fusett.
Estavam passando pelo corredor do segundo andar. Mas ao ouvir o que disse, parou de andar e virou-se para ela, que mantinha uma expressão estranhamente divertida no rosto levemente corado.
- , você não quer arrumar briga com esse pessoal.
- Por que não?
- Eles mexem com coisa pesada. Acho que ninguém nem imagina o que eles fazem. Você não duraria um segundo. – Ele declarou sério.
arqueou uma sobrancelha.
- Não é questão de coragem. O que conta contra eles não é a coragem, ou a garra. Aprenda isso. – Disse ele, rispidamente.
A garota de cabelos correu até ele e segurou seu ombro. Por um momento pareceu que ele se viraria para encará-la... E não pôde deixar de imaginar como seria beijar . Não era o melhor pensamento naquele momento, mas era inevitável. Seu beijo seria tão frio quando seu exterior? Ou revelaria um calor nunca visto antes?
Mas ele não se virou. Sacudiu os ombros, afastando as mãos dela, e continuou a andar.
- O que há de errado com você? – Explodiu , frustrada. – Você não pode ser normal pelo menos uma vez?
- Não, não posso.
A voz dele era dura, fria. Chegava a ser insensível, ligeiramente grossa. Mas a fúria de estava em chamas. Ela teria de ir até o fim.
- Por que você faz questão de ser diferente? – Questionou, pisando duro. – Por que, ?
- Eu não devo explicações a você. – Ele respondeu, andando cada vez mais rápido.
- ...
Ele a ignorou.
- , me escuta!
correu para acompanhá-lo. Seu rosto estava levemente vermelho.
- Por favor, ao menos uma vez, escute o que eu tenho a dizer!
parou de andar abruptamente, abaixou os ombros e se virou para ela. Um brilho escuro passeava por seus olhos.
- Agora escute o que eu tenho a dizer. – Ele murmurou, apontando para ela, que recuou. – No começo desse sétimo ano, você começou a vir atrás de mim. Conseguiu se aproximar de mim, e você sabe o que isso significa?
- Eu...
- Isso significa que eu falhei na tentativa de não ficar próximo de ninguém! E, tudo bem, estava começando a aceitar o fato de que você chegou realmente perto de mim, mas você não entende! Você é criança demais, imatura demais...
- E-eu... – Gaguejou , um nó, um aperto horrível fechando sua garganta.
Ele estava a centímetros de distância de . Seus olhos, sempre tão frios e astutos, não traziam expressão alguma. Opacos - estavam completamente opacos.
- ...distante demais... – Ele sacudiu a cabeça, e encontrou o olhar assustado dela.
não conseguia se mexer.
- Eu estou perto de você. – Declarou, os ouvidos apurados e a boca seca. – Eu sempre estive.
sacudiu a cabeça, pela primeira vez parecendo magoado.
A garota de cabelos capturou a expressão facial de , que lhe parecia extremamente familiar. Ele estava perto. Perto demais. As linhas escuras nos olhos nunca pareceram tão chamativas...
Então recuou, as pontas dos dedos esquentando rapidamente. Ele sentiu o calor invadir todo seu corpo, seu olhar, seu coração... E levantou a cabeça. Ela estava lá. Como sempre. O olhar divertido e travesso, os cabelos chamativos, a expressão corajosa. Mas aquilo não estava certo. Na verdade, nunca estivera tão errado...
- Por que você não fica longe de mim? – Indagou , esfregando a manga do blusão em sua boca. - - Por que você não me esquece?
Ela sacudiu a cabeça, e fechou os olhos.
- Cale a boca. – Disse, numa voz curta e fria. – Eu estou tentando...
- Isso é novidade pra mim. – se virou para sair andando, porém, mais uma vez, segurou seu ombro. – Me solta!
Foi a primeira vez que ela o ouviu usar um tom de voz mais alto. O susto foi tanto que ela o largou, atônita, e arregalou levemente os olhos.
percebeu o olhar assustado dela.
- Nós não temos nada a ver um com o outro. Encare isso como um fato, não como uma suposição. – Ele cruzou os braços. – E tem mais: pela primeira vez na sua vida, me escute e não procure confusões com aquele pessoal. Pelo seu próprio bem.
- Por que você quer que eu fique bem se não me quer perto? Você se importa comigo ou me odeia? Que merda! – Ela gritava. Fechou os punhos, e seu rosto começou a ficar vermelho. – Você não se decide! Fica fazendo pose de misterioso, de inatingível, quando tudo que você é não passa de mentiras!
- Você não sabe nada sobre mim! – Urrou , perdendo todo o controle. – Você não tem a mínima idéia de quem eu sou!
- Eu tenho sim! E sabe por que você me afasta com esse papo? Porque eu sei tudo sobre você, e você tem medo disso! – Ela continuava gritando.
- Cale a boca! – Inconscientemente, deu um soco no velho armário de madeira, e o armário próximo dos dois balançou perigosamente.
O barulho da madeira rangendo perigosamente contra a parede fez os dois se calarem. Então eles se olharam novamente, os rostos afogueados e as mãos trêmulas.
- Você não vai poder se esconder pra sempre, . – disse, quase sem mexer os lábios.
Ele pareceu meio perturbado, e abaixou a cabeça.
- Não fale do futuro, ...
- Eu falo. Eu falo porque eu sei. É um fato, não uma suposição. – Um sorriso maroto brincou nas pontas de seus lábios.
fechou os olhos, atordoado.
- Você não vai conseguir fugir de mim... – Ela avançou alguns passos. Ele recuou, o sangue de todo o seu corpo parecendo desaparecer de repente.
Estava frio. Frio lá fora. Frio lá dentro...
- Eu não quero mais ouvir... – Sussurrou, evitando olhar para cima. Aquilo tudo era como um peso jogado de repente em seu ombro, quando ele já estava pra cair.
- E quando você reconhecer isso... – tinha a voz lenta e clara, além de um brilho decidido nos olhos. – Eu estarei aqui. Em todo lugar.
A garota de cabelos com uma piscadela e dando um soquinho no ombro esquerdo de , saiu sem fazer barulho.
Capítulo X “Você não vai conseguir fugir de mim...”
“E quando você reconhecer isso, eu estarei aqui, em todo lugar, pra sempre...”
“Por que você faz questão de ser diferente?”
“Você é tão... Estranho...”
“Pela primeira vez, eu não quero que você fale. E isso é uma coisa bem rara.”
“Eu sei tudo sobre você, e você tem medo disso!”.
- Pare com isso!
se sentou na cama abruptamente, a respiração acelerada, o corpo frio e insensível, os olhos molhados e apertados. Alguns garotos do mesmo quarto reclamaram, mas não ligou. Ele jogou o cobertor para longe e saltou da cama, ignorando o frio que perfurava seu peitoral nu. Pegou a toalha felpuda sobre a mesa de cabeceira e rumou para o banheiro, batendo e trancando a porta ao entrar.
Despiu-se e entrou no banho. A água quente projetava uma leve fumaça ao bater na brisa gélida que vinha da janela aberta. , com frio, abriu mais o chuveiro e fechou a janela com uma pancada. Suas costas doíam, as pontas de seus dedos estavam brancas, e suas unhas estavam roxas. Ele se sentia desconfortável, fraco, como naquele dia...
Ele apertou os braços para impedir as lembranças, mas elas vieram, perigosas e doloridas como um caco de vidro rasgando a pele...
Summer Alexandra balançava-se numa cadeira velha da sala de estar, enquanto via a chuva bater na vidraça. Na Holanda chovia todo o tempo... Nunca era como Londres, como sua querida Londres. Seus pais estavam fora para jantar a sós. Só ela e o irmão mais velho, , estavam em casa. Mas estava ocupado em ler no seu quarto, e nem ligava para Summer. Quando os olhos dele encontravam com os azuis da caçula, tudo que ela via era um “não encha meu saco”. Até que...
A porta se abriu com violência. desceu as escadas, ligeiro, e parou no meio do corredor. Ele ouviu passos pesados. Uma exclamação, algo sobre pais...
Ele ofegava. Por mais que tentasse não se lembrar daquele dia, era impossível. “Quando você se acostuma com a ausência, a dor não é nada...”. Mentira. A dor que ele ainda sentia era cruel, pontiaguda. A dor da falta da coragem... Do desgosto dos pais...
- Summer! – Berrou , correndo até a sala, desesperado.
Tarde demais; dois homens encapuzados, com vestes pretas, roubavam tudo que tinha valor na sala. Um outro segurava Summer e uma arma estranhamente longa...
- Summer! – gritou novamente, tentando entrar. Mas um dos homens o empurrou, e ele caiu de costas, a cabeça batendo fortemente no assoalho limpo e brilhante.
Com lágrimas de dor nos olhos, ele viu Summer se negar a dizer onde os pais estavam... Os três homens falando alguma coisa sobre alarme... Charles entrando na casa de repente, os olhos arregalados.
Então tudo aconteceu rapidamente: um dos homens puxou os cabelos ruivos de Summer e ameaçou matar a menina se o mais velho dos não se afastasse... Ele se afastou, e olhou pro filho, pedindo socorro, uma chance, uma ação...
Agora as lágrimas se misturavam a água corrente, acompanhada de soluços silenciosos. O corpo dele se sacudia, se debatia de frio, mas sua mente estava longe. De novo ele estava pensando em algo que o assombraria pro resto da vida, o impedindo de fazer qualquer coisa que lhe lembrasse Summer...
O corpo já sem vida dela jazia sobre o tapete mexicano, encoberto pela sombra dos móveis de madeira. , ainda paralisado, tinha uma expressão vaga.
- Covarde! – Berrou Charles, puxando o garoto pela manga. –Você deixou sua irmã morrer! Covarde!
Seus pensamentos voaram para . Ela era tão parecida com sua irmã. Tão doce. Tão cativante. Só que ele não podia ficar com ela... E se fosse um covarde novamente na hora de protegê-la?
Ele faria o certo: a esqueceria. Nunca mais pensaria nela.
Nunca.
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sacudiu a cabeça e deixou um punhado da primeira neve do mês cair no chão. Lá fora estava frio e escuro, mas ela sabia que o melhor lugar para pensar era um lugar escuro e frio, para não haver distração. Ela precisava pensar em que caminho iria seguir, no que iria fazer, como trataria depois de tudo; estava tão apaixonada por ele que só conseguia pensar em como seus lábios ficavam quentes ao encostar-se aos dele. devia facilitar as coisas e deixá-la se aproximar, somente isso.
Por um minuto, ela desejou que ele fosse até ela naquele jardim. Mas ele não foi. Ele nunca ia. Ele nunca iria.
A verdade era dura como o tronco de árvore sob seus pés. O que não significava que ela tinha que aceitar, certo? Ela poderia lutar por ele, poderia derreter todo aquele gelo em volta de . Ela só precisava ser tão fria quanto ele...
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Os dias passavam devagar. não vira mais desde sua última discussão com ele. Por dias, ela chegou a pensar que ele estava a evitando, mas achou prepotência demais. Ele não se importava o suficiente com ela pra evitá-la. Era só o destino agindo. Mais nada.
Ficar pensando naquilo dava tanto sono...
- . , acorda! – a voz de Caius tirou-a de um transe no meio da aula de Joshua. Ela levantou a cabeça, alerta.
- Eu não estava dormindo, Caius, só pensando. – respondeu, dando um leve sorriso, que não chegou em seus olhos e cansados.
- Em quem?
A garota de cabelos sacudiu a cabeça.
- . – ela suspirou, chegando mais perto de Caius e aconchegando a cabeça em seu ombro. – O que eu faço, Caius?
- Quer que eu fale com ele? – Caius indagou, lentamente, passando uma mão pelos ombros da garota e acariciando seus cabelos.
- O que você falaria?
- Não tem graça se eu contar... Você confia em mim, não confia?
segurou a mão de Caius, e olhou fixamente em seus olhos azuis, que mostravam uma amizade inexplicável.
- Você é meu amigo, Caius. No melhor sentido da palavra. Nossa amizade é tão grande que a você eu confiaria até minha vida. É claro que eu confio em você.
- Então fique tranqüila. Caius Stifler sempre sabe o que faz.
Ela revirou os olhos, brincando, mas apertou-se ainda mais no abraço do amigo. Às vezes, em momentos como aquele, ela sentia vontade de gritar para o mundo como amava aquele garoto... Gritar que ela sabia o que era uma amizade verdadeira, e que aquele era um dos melhores sentimentos do mundo. Mas se contentou em sorrir abertamente, e tentar prestar atenção na teoria da relatividade.
- Saindo do momento amizade, , você tem visto a Audrey? – ele sussurrou, já que o professor agora passava bem perto dos dois.
- Não... Vocês não estavam saindo?
- Ela sumiu! – Caius bufou, remexendo-se na cadeira.
- Acho que conheço mais alguém que é assim...
- Vira essa boca pra lá. Se o homem é assim, imagine uma versão feminina...
tentou imaginar. Mas, bom, era simplesmente impossível.
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Caius caminhava apressadamente pelos corredores. O sinal anunciando o fim das aulas do dia acabara de soar, então o corredor estava apinhado de estudantes que falavam alto, fazendo o ambiente frio ficar meio quente. Stifler se desviou de várias pessoas, e, desastrado, bateu em outras, mas continuou andando até achar a pessoa com quem precisava falar: .
- ! – berrou, já irritado, fazendo o garoto parar e virar para olhá-lo.
- Oi. – respondeu. Caius jurou ter visto um sorrisinho no rosto dele.
- Preciso falar com você.
O garoto de cabelos sacudiu os ombros. Caius apontou para o final do corredor, onde havia menos gente, e foi até ele, com indo atrás, meio curioso.
- É sobre a .
- Imaginei. – Caius sacudiu a cabeça.
- , o que você sente por ela? E pode ser sincero. Sei que não sou seu melhor amigo, mas, sério, gosta de você. Quer dizer, não que ela GOSTE, mas... Ai, falei merda...
Uma expressão maligna surgiu no rosto de .
- Eu não posso ficar com ela, Stifler. É só isso. – disse, indiferente.
- Mas você quer?
- Mesmo que quisesse, não poderia.
Caius mordeu os lábios.
- Você não quer? – perguntou, esperançoso.
- Não.
- Tem certeza?
- Sim.
- Mas, ... E se você se aproximar dela? Pode ser que você comece a gostar, e...
olhou fixamente nos olhos de Caius, enquanto passava uma mão pelos cabelos desarrumados. Sua expressão misturava diversão, aflição e confusão.
- Você acha que eu sirvo pra ela, que eu combino com ela? – ele questionou, piscando os olhos lentamente. – Em meses, tudo que ela fez em mim foi me dar uma vontade de falar mais. Só isso. Acha que vale a pena?
- E se ela fizer alguma coisa pra mudar esse seu pensamento?
- Eu não sou fraco, Stifler. Mas se isso a fizer feliz, fale que sim.
Ele deu de ombros, acenou fracamente e desceu as escadas próximas, com a mochila balançando nos ombros. Caius coçou o queixo, pensativo, e rumou rapidamente para a sala. Era hora da ação.
Capítulo XI
- Eu simplesmente tenho que chegar no e dizer tudo que eu sinto. Ok.
jogou-se na poltrona do salão, quase em cima de Dora, que soltou um muxoxo. A garota de cabelos ignorou, como sempre fazia quando estava concentrada demais.
- Como eu vou fazer isso?!– gritou, fazendo uma cara de choro. Caius, Rony e Oliver, que estavam na sua frente, se entreolharam.
- A gente pode ajudar? – Oliver perguntou, com um misto de curiosidade e receio pela reação da garota.
- Ajudar? – Ela disse, até com um pouco de desdém. – Olha, sem querer ofender, mas depois de tudo o que eu fiz para tentar chegar perto do e ele ainda não dar a mínima pra mim, acho difícil que com alguma conversa, ou algo do gênero, você consiga arrancar dele outra coisa que não seja “me deixe em paz”!
Caius e Oliver se entreolharam. Nunca haviam visto tão nervosa antes. Ela geralmente era o tipo de pessoa que sempre tinha o controle de tudo, nunca se desesperava e sempre tinha a solução.
Agora, tudo o que eles viam era uma adolescente descontrolada. Capaz de fazer qualquer coisa para conseguir o que quer, sem medir conseqüências ou mesmo pensar no significado disso. realmente mudara .
- Desculpe. – Oliver murmurou, visivelmente ofendido.
- Ai, Oliver, eu não tenho tempo pra ficar me desculpando, é sério. Eu... Não estou normal, admito, mas preciso fazer isso, vocês não têm noção de como está me enlouquecendo essa história do . – Ela falou, rapidamente, batucando no braço do sofá.
- Então vai. – Caius falou. – Antes que espanque algum de seus amigos.
A garota murmurou alguma coisa para o nada e levantou-se, nervosa, pisando forte. Saiu do salão falando consigo mesma e empurrando um grupo perto da escada.
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andava rapidamente; os braços cruzados, com um deles elevado, a mão na boca, como se roesse a unha, a cabeça a mil, pensamentos de todos os tipos passando por sua cabeça, todos voltados a uma coisa: chegar em .
De algum jeito ela teria que falar tudo o que estava guardado em si. Aquela angústia cada vez que ficava longe dele por muito tempo, aquele frio na barriga todas as vezes que olhava para ele, aquele turbilhão de coisas que passavam por sua cabeça quando estava junto com , que a faziam ser qualquer coisa menos .
Onde estava aquela que não se preocupava por nada? Que sempre tinha as respostas na ponta da língua, para todas as situações possíveis? Agora ela era insegura, nervosa, grossa, imperativa. Seria um pouco do próprio ?
Não importava. Tudo o que importava agora era encontrá-lo.
Ela foi até o salão principal, procurou entre as grandes mesas com alguns alunos, foi até os jardins. Procurou em vários lugares em que um garoto de cabelos poderia estar.
Até que o encontrou.
Ele caminhava entre alguns grupos de terceiro-anistas, com a mesma expressão de sempre. A mesma frieza no olhar. Tinha alguns livros na mão, parecia ir rumo à biblioteca.
correu até ele, sem saber o que iria fazer, e gritou:
- !
Todos que estavam mais próximos olharam para ela, inclusive ele. parou um momento, fitando-a de cima a baixo. estava desarrumada, nervosa, parecia cansada e ofegava.
Ele virou para frente e continuou andando, ignorando-a. correu e chegou perto dele, virando-o de frente para ela com violência.
- Você não vai mais fudir de mim! – Gritou, sem se importar com os alunos a sua volta, que olhavam curiosos e davam risadas.
tentou se desvencilhar dela, mas a garota o agarrara. sentiu, mais uma vez, os grandes olhos de fitando-a, como se invadissem seus pensamentos, deixando-a entorpecida. Lentamente, com a maior calma do mundo, ele disse:
- Solta.
- Não vou te soltar. Você vai escutar tudo o que eu tenho pra falar com você. E vai ser agora. – falou, com firmeza, olhando em seus olhos.
- Eu não tenho mais nada para falar com você. – Ele respondeu, seco, soltando-se dela e voltando a andar.
- Você tem algum problema?! – Gritou novamente, ele virou-se, olhando para os lados, discretamente. – Você é algum tipo de retardado, sei lá?! , pare de ser ridículo e...
- Cale a boca! – Ele murmurou baixo, chegando mais perto dela e segurando em seu braço.
- Me solta! Eu não te dei permissão de fazer isso comig...
- Já disse para calar a boca. – Ele falou, arrastando-a pelo braço para um das salas próximas. Ele abriu uma porta e jogou-a para dentro, entrou e fechou.
olhou para ela. Era incrível como ele nunca perdia aquele brilho no olhar. Aquele brilho que só conseguia ver, que ia muito além da frieza, da repulsão ou grosseria. Era algo mágico, que a cativara desde o momento que ela o vira pela primeira vez.
- O que você quer? – Ele falou.
- Como o que eu quero?! – falou, soltando um muxoxo, que mais pareceu um riso de deboche. – Eu não te agüento mais, ! Era isso o que você queria? Ótimo, conseguiu! Eu não te agüento mais!
Ela empurrou uma mesa que estava do seu lado e avançou para ele, que se apoiava em outra, com os braços cruzados, os livros junto ao peito.
- Eu... – Ela suspirou, jogando os braços. – Eu estou saturada, sabe? De sempre fazer de tudo pra ficar perto de você, e você nunca dar a mínima pra mim! Eu falo tudo e você sempre fica exatamente desse jeito! – Ela gritou, com a voz rouca. – Me olhando como seu eu fosse um... nada! Um bicho ou algo parecido!
Ela parou por um momento. sentia vontade de... Falar. Mas não poderia, isso estragaria tudo. Ele tinha que se manter firme, não importa o que ela dissesse. Doesse o que fosse, ele não poderia se entregar a um sentimento.
- Dizem que a gente conhece uma pessoa falando com ela e olhando em seus olhos. – falou, fitando-o. – Quando eu falo com você, você não me responde. Quando eu te olho, vejo frieza, desprezo pra mim. Você me olha com superioridade, como se eu não fosse nem digna de falar com o poderoso . Mas isso pra mim não é força, não é ser superior.
Seu lábio tremia nervosamente e ela tentava disfarçar. Chegou perto dele, ficando cara a cara. O garoto continuava impassível.
- É fraqueza. Não ser capaz de amar. Não ser capaz de viver a vida, de sorrir. De ser uma pessoa de verdade. – Ele desviou o olhar. Um pequeno sorriso se formou nos lábios da garota de olhos .
- Já terminou? – Ele perguntou.
Isso pareceu ter quebrado a garota. O sorriso se desmanchou e ela se afastou dele, como se fosse fogo, incrédula do que ouvira.
- Você... nunca vai mudar, não é? – Murmurou. – É estupidez da minha parte achar que eu consigo ter algo de bom de você. Eu não te agüento mais, ... Não agüento mais olha para essa sua cara! – Ela explodiu novamente, colocando o dedo do rosto dele, que não se moveu. – Cansei de tentar te suportar! Você não vale à pena.
Ela falou, pegando suas coisas e saindo da sala. Bateu a porta atrás de si.
olhou para a porta fechada e depois para o chão. Não havia outra coisa a ser feita, ele pensou. Deveria ser assim.
Mas a porta abriu-se novamente.
- Esqueci de algo. – cerrou os olhos. – Desculpa por me intrometer na sua vida.
- . Eu...
Ele parecia querer dizer algo. Parecia mesmo. Mas não foi capaz de começar direito o que queria; seus olhos acinzentados tornaram a mirar o chão.
- Não é questão de querer, é questão de poder. Escuta... Eu não sou o garoto pra você. Entende? E se eu sei disso, por que te aproximar cada vez mais de mim? – falava tudo com simplicidade, com aquela frieza casual. – Você foi a pessoa que mais chegou perto de mim. Mas isso é perto demais pra eu me sentir confortável. Você está certa: eu não sei amar, não sei o que é gostar de alguém, não saberia dividir meu espaço.
bateu a porta atrás de si, e jogou o material de qualquer jeito numa mesa. Amuada, se aproximou de , que estava todo desajeitado.
- Você se importa comigo.
- Você entendeu errado, ! – , nervoso, começou a mexer no nó de sua gravata. – Eu não quero que você pense que eu gosto de você. Eu não gosto. Eu não sei gostar, ! É tão difícil de entender?
Era quase como se ele estivesse suplicando.
- Você é incrível. Sério. Mas desculpa, o problema sou eu.
- E se eu não ligar pra esse problema? E se eu conseguir te conquistar? – a garota questionou, sentindo uma inexplicável vontade de chorar.
Seus olhos se encontraram novamente. As sobrancelhas de se levantaram ao ver que abaixava e levantava os olhos todo momento, parando apenas para encará-la por alguns segundos. Ele era tão perfeito! Era tão incrível o jeito como seus cílios longos emolduravam olhos de um castanho acinzentado...
- Eu sou um fracasso... Eu nem sei o que te falar! Eu... – ele deu uma pequena risada amargurada. – Me esquece, ok?
- Não quero! Não quero desistir de você!
O contato foi inevitável; repousou uma mão quente sobre a bochecha fria de , que ficou ligeiramente vermelha. Era notável que ele estava com vergonha. Ali, de perto, ele mais parecia uma criança vulnerável. Um que ela nunca vira antes.
- Eu não sou bom, ... – tentou afastar a mão dela. – Eu não estou acostumado com isso. Sou sozinho, e isso é fato.
- Eu posso te ensinar.
- Não! – ele desviou o olhar pro teto. – , eu... Eu beijo mal!
Ela quase não acreditou no que ouviu; quando a ficha caiu, deu risada. estava tentando afastá-la de todo e qualquer jeito. Mas não teria o menor efeito; o tinha exatamente onde queria. Vulnerável e confuso.
- Nós podemos praticar. – ela deu um sorrisinho maroto. – Já é tarde demais, .
ficou na ponta dos pés; continuou com a mão na bochecha dele e passou a outra por seus ombros, pra não perder o equilíbrio. Ela podia contar os cílios dele, se quisesse, ela não queria. Mas não tinha tempo para admirar tudo aquilo. Encostou os lábios no dele e iniciou um beijo lento, não muito correspondido por parte de . Ela recuou o rosto, mas tornou a avançar, beijando-o com mais vontade. Era mágico. Era como colar na prova de gramática e não ser pega, ou até melhor.
- Pára. – resmungou , afastando-a bruscamente. sorriu, meio satisfeita, colocando a ponta do indicador sobre os lábios vermelhos.
- Ainda não te convenci?
- , presta bem atenção: nós não vamos ficar juntos ou seja lá o quê você quer! – ele foi ríspido. – Fique longe de mim! Por mais que você pense, eu não gosto de você! E é assim que vai acabar!
Não tinha o típico olhar frio, era um olhar que jamais tinha visto.
Capítulo XII
. Os cabelos caindo aos ombros e olhos , doces, naquele dia quase totalmente fechado pela claridade que vinha de uma janela escancarada no corredor do segundo andar. Ela caminhou até a janela e a fechou com um baque, protegendo os olhos com a mão livre. Ela odiava o sol, às vezes.
Enquanto amaldiçoava aquele dia iluminado, ouviu passos e parou imediatamente. Virou-se pra trás, deixando o cabelo voar pra trás, e encarou olhos muito que tinham um misto de frieza e simpatia.
- , - levantou as duas sobrancelhas – o que está fazendo aqui? Pensei que não saísse em dias de sol.
Ela não teve resposta. continuou a encarando, também com os olhos meio cerrados pela claridade do corredor.
- Estou falando com você. Dá pra responder?
- Nem sempre.
A garota quase abriu um sorriso, que na verdade virou uma careta.
- Acho incrível você agir como se estivesse tudo normal... – ela declarou, cruzando os braços.
- Está vendo algo anormal por aqui?
- Vejo que alguém ficou mais engraçado.
Continuaram se encarando por alguns instantes. Por mais que os olhos de lhe dissessem que nada mudara desde sua última conversa, ela sentia os lábios se contorcendo para sorrirem.
- Certas coisas não mudam. – bagunçou o cabelo com uma mão, e arqueou uma sobrancelha. – Não foi passar o natal em casa?
- Esqueci.
A própria deu uma risada incrédula.
- Mas tá tudo bem... Por mais que não pareça, eu gosto de Sigmund. As melhores coisas do mundo estão aqui. – Ela fingiu pensar. – Têm os amigos, a piscina, as festas...
- O Goyle...
Ela demorou uns segundos para entender que ele estava fazendo uma piadinha.
- Meu Deus, o que aconteceu com você? – conseguiu tirar o olhar da boca vermelhinha e sexy do garoto primeiro anista. – Duas piadinhas em menos de cinco minutos!
- Sei lá. – Ele deu de ombros, algo que acharia anormal até algumas semanas atrás. – Acho que estou evoluindo.
- Por...?
- Já parou pra pensar que daqui alguns anos não teremos mais a escola e teremos que conseguir uma faculdade, profissão ou algo assim? – passou uma mão pela bochecha, algo que achava extremamente fofo. – Acho que isso está me mudando. Eu finalmente vou poder construir algo novo pra mim.
- Claro. – confirmou com a cabeça. – Claro. – repetiu, meio incerta do que falar. Por mais que não parecesse, fazia uma semana e alguns dias desde a última “conversa” deles, e muita coisa parecia ter mudado. – Que estranho, estamos conversando sobre vida profissional...
- É.
Oh, a típica frieza.
O silêncio persistiu. pensava rapidamente em algo pra dizer antes que ele saísse dali, embora ele não parecesse muito tentado em mover os pés. Ele estava extremamente bonitinho com um moletom cinza largo, calça caqui e um tênis enorme amarelo, excentricamente bonitinho. Aliás, ele ficava bonitinho de qualquer jeito.
- Então... – ela encarou o chão. – O que vai ganhar de Natal?
- Minha prima distante da Suíça sempre manda bombons maravilhosos. Você?
- Dos meus pais não vou ganhar nada, eles estão meio bravos. Sei lá, vou ganhar maquiagem, livros, chocolates, essas coisas... – voltou a encará-lo. – Tem algo que eu possa te dar?
- Meias são legais. – desviou o olhar pra um fiapinho que soltava da meia esquerda. – Mas não precisa.
- Eu meio que gostaria de te dar um presente de natal.
- Acho que é a primeira pessoa.
Os segundos pareciam dar marteladas no ouvido de . Por que ele estava sendo tão legal com ela e ela não conseguia fazer nada além de conversar sobre presentes?
- Então...
- Estranho você não estar tagarelando hoje.
arregalou os olhos.
- Você gosta quando eu falo muito?
- Dá pra te ignorar mais vezes. – confessou, inclinando a cabeça pro lado e mirando um quadro velho do outro lado do corredor. – É legal.
- , você está bem?
Não, definitivamente não estava bem, se isso queria dizer em seu estado normal. A cara de era tão engraçada...
Lentamente, abriu um sorriso. parou de rir de tão atônita que ficou; ele tinha um sorriso largo, desenhado, que mostrava dentes branquinhos e retos, e dava aos seus olhos um formato mais fino. Era o sorriso mais bonito que já tinha visto, mais bonito que o de Rony Black e Caius Stifler juntos. Era perfeito.
- Não muito.
- Continue mal assim, por favor.
deu alguns passos, sustentando o sorriso, que parecia ainda mais bonito de tão perto. Abaixou-se alguns centímetros para seus olhos encontrarem os dela no mesmo nível, e piscou algumas vezes.
- Eu estou começando a gostar de você, .
Sua expressão ficou um pouco mais marota, até meio pervertida, e ele se levantou novamente e saiu andando parou por um instante, deu meia volta e piscou para . Voltou para o seu rumo, os tênis grandes e amarelos fazendo barulho ao bater no chão de pedra.
nem ligou para o repentino vento que despenteou todo seu cabelo. Seu coração batia rápido demais, e aquela sensação de enjôo também. Ela virou-se pra trás pra ter certeza de que não era um sonho. Sentou no chão frio e ficou por um instante olhando para o nada, se levantou rapidamente e decidiu que no próximo ano letivo mudaria de classe.
Fim.
N/A: O fim! Criei, re-criei, fiz, re-fiz e acabei por deixar assim, eu particularmente adorei este final, espero que vs gostem, minhas lindas. Fiz de coração e talvez quem sabe até uma segunda parte? Obrigada a Luh, diva-mor, a minha über beta Biia sensual seduction, ao McFLY, ao Willy Wonka por me fazer rir, a Helena Bonham Carter por ser a Helena, ao ForFun por ser o cd que tocava enquanto eu escrevia e a vs gatinhas que sempre comentam mas em especial a: Judy, vs esteve mais presente nessa fic do que eu mesma, vs é linda, obrigada. Gabs, sempre fico uber feliz com os seus coments. B.Borges, cacete, eu noa tenho o que dizer, tu é giga gracinha. Zumk ou emanuelle campos, é a msm pessoa, né? Espero que sim, HUAHUAHUA. Valeu manu /souintima. marip., guria tu é mto fofa, eu te adoro. Nanda J.Williams, biiicho eu morro com os seus comentários quilométricos, eu aaamo isso *-*. Bel Black Cullen, eu sinceramente noa sei o que dizer, vs é MARA, eu te adoro msm sem te conhecer direito *0*. nat, linda, fofa, gracinha, own. te adoro *-*. looly, aaah, outra fofura de pessoa, eu te adoro, minha flor. fee, preciso dizer que amo seus comentários? /ni, muuuutíssimo obrigada, vs me faz sentir super especial /qegay. mandy, linda, linda, linda, obrigada por sempre estar presente aqi. érica j, fofurinha da titia que vontade de morder *-*. daniela, sempre aqi na caixinha de comentários, eu fico uber feliz com isso, obrigada flor. E claaro as outras super gatas que eu vejo a maioria das vezes aqi na caixa de comentários tbm, eu sempre leio todos... noa vou dizer que lembro de tds eles porque seria mentira, mas eu tenho um cariinho uber especial por cada um, de verdade msm. Agradeço a: Jane, Carol, brunéty, Erica, lou, Ana, Fran, Juuh F., Daniela, nine, Kinha, Beel Judd, Luh, Isah, jeeh, Aly, Bella, Thais, Mari, Fairy, ana paula, Yasmiin T., nancí, Jess, Beti, mari, Camila, Bella, angie, Dayanne, Lara, Maymi, Sofia, Camila, Polly, anne, Fernanda', BAbi, mandy :), Bella, Brenda Judd, mari, Luciana, Carol, Karen, Jarske, maary, Rachel, Mari, Ketlyn, Amanda, ana paula, Lívia, Saah, Raiza, lonely girl, Joanna, nana, May Jones, Ana :D, Ju, Paola, Anna Luiza, Lah Freitas, Daniela, Alice, kah;;;, Malu, Bia, Cáàh, nine, Marcela, Luciana, Carol, Cah Jones, Tup Poynter, Bella Albuquerque, Bii, duds, Rô, Ana Poynter!!, nine, Mariana, Ana, - Raiza, Camila, e bom eu fiz terminei esse capítulo no dia 5/3 e caso mais alguma alma tenha comentado depois, mil beijos e agradecimentos, obrigado as lindinhas que me adicionaram no MSN e eu colocarei também o meu orkut lá no final e por favor se eu esquecer de alguém podem me bater, estuprar, e fazer o que quiser de mim (6)’ /todibrinks. Obrigada, obrigada e obrigada, vs me fazem feliz.
Quem quiser: msn, e o orkut.
Beijo pra quem vai, fica, virá ou já foi. Amo vocês.
N/B: eu super amei betar essa fic. e ela tem um gostinho especial porque é a minha primeira que foi finalizada, das tantas que eu tenho em andamento.
môh, obrigada por me escolher como beta, e digo que você não tem só uma beta, mas também uma leitora de carteirinha(?). parabéns, xuxu.
e pra vocês, leitoras, uma super dica: eu ficaria esperando, que em breve, pode surgir uma fic com o nome 'a garota do 1ºB', mas isso ainda é apenas uma hipótese.
nos vemos na próxima fic (; biia;