- Volto logo. – ele selou os seus lábios nos meus e logo saiu pela porta, carregando aquela linda criança que eu dei a luz há quase quatro anos atrás.
Antes de realmente lhe contar uma história – muito bela -, deixe-me apresentar. , mas se quiser, pode me chamar de . Aquele que me beijou há alguns instantes atrás era meu amado marido e pai do meu filho, que é aquela linda criança, Charles, ou o meu pequeno, como costumo chamá-lo.
Agora que as apresentações foram feitas e tudo está esclarecido, começarei escrevendo nessa simples folha de papel decorada...
“Tudo que começa bem, nem sempre acaba bem. Mas essa história começou ao contrário. Começou mal. Era aquela terça-feira chuvosa que me trazia maus pressentimentos em meu último dia de trabalho, já que no dia seguinte iniciavam-se minhas tão desejadas e esperadas férias. Lá estava eu onde sempre desejei estar. Milão na Itália, o país de onde eram meus avôs. Apesar da vida de apenas trabalho, ganhava bem. Bom estar em um país onde os salários são valorizados. O ano estava chegando ao final e eu iria voltar para meu país natal, Brasil. Porém não foi dessa vez que eu iria passar um natal e ano novo sem neve e, sim, com um sol de quase 30º graus, junto com minha família.
E culpa dele. , o homem que mudou a minha vida.
Ele não era da Itália, e sim da Inglaterra, Londres. Estava ali de férias, pelo menos foi o que me disse quando nos conhecemos naquela grandiosa festa da revista Stelle. Era comemoração de 10 anos da revista e os convites eram restritamente limitados, e mesmo que você conseguisse um, teria que conter seu nome na lista. O foi porque, como ele me disse, estava hospedado na casa do seu primo que é fotógrafo e trabalha pra revista, e conseguiu um convite para ele.
Eu acabei indo porque a Giulia, o braço direito do meu chefe, torceu o pé e teve que engessar, e ele, Pietro, acabou cedendo o convite dela para mim. Aceitei, assim poderia mostrar que sei me portar em festas e eventos e quem sabe, subir na empresa.
Quando estava indo pegar mais um pouco daquele maravilhoso suco de mandarino, ou como se diz no meu país, tangerina, acabei enroscando meu pé no tapete que tinha no local perto do bar e caí nos braços dele, derrubando sua cerveja em sua roupa. A cena não poderia ser mais clichê. Com direito até a fundo musical estilo Kenny G, olhos brilhando e sorrisos nos rostos.
- Me desculpe... – ia me levantando de seus fortes braços e procurando um guardanapo para tentar limpá-lo.
- Sem problemas. – ele deu um sorriso que me fez esquecer de qualquer coisa que eu estava pensando no momento. Hipnotizei-me naqueles lindos lábios bem posicionados em seu belo rosto branco, formando um desenho perfeito.
Ele não tinha cara de italiano. Era branco e não tinha aqueles braços e corpo tão definidos como os italianos. E ele tinha um corte de cabelo, não era igual a todos os italianos que sempre passam a ‘máquina dois’, ficando quase carecas.
“Ele definitivamente não era italiano.”, era o que eu pensava quando acordei do transe com ele passando a mão e estralando os dedos em frente do meu rosto.
- Desculpe, de novo... – corei, imediatamente.
- Sem problemas... De novo. – ele sorriu e eu quase me perdi, novamente. Ainda bem que ele começou a falar. - Você não teve culpa, eu estava aqui sozinho com o pensamento longe, quando me levantei você acabou me... Encontrando? – ele parecia procurar a palavra certa para o nosso esbarro. Deu uma risada exageradamente gostosa.
- Desculpe, acontece que eu estava vindo pegar mais suco e meu salto enroscou no tapete, e derrubei cerveja em você! – quase gritei e me xinguei mentalmente por só agora ter reparado nisso. Ele apenas sorriu.
- Tudo bem, de verdade. – ele disse segurando levemente em meus braços enquanto eu estava tentando – muito inutilmente - limpá-lo com o guardanapo a cerveja que já tinha penetrado no seu lindo smoking preto e gravata roxa.
“Pelo menos estilo ele tem.”, pensei.
Depois de tudo isso, nós sentamos juntos e apenas conversamos, conversamos, conversamos... Mas ele não queria só isso.
Estávamos entretidos com aquela conversa de filmes, mas – agora eu já sabia seu nome - me cortou enquanto eu falava.
- É verdade, eu não acho o filme tudo isso, . – risadas minhas. - Mas seria bom ter uma continu...
- Posso fazer uma coisa? – me assustei e minhas risadas foram cessadas instantaneamente. Apenas balancei a cabeça afirmando e fiquei olhando todos seus movimentos. Ele virou-se de frente pra mim e sua mão percorreu dos meus cabelos até meu queixo. Pude sentir que ele estava tremendo. firmou sua mão no meu queixo e me puxou para perto, fazendo nossos narizes se encostarem e eu sentir sua respiração quente. Lentamente nossos lábios também se encontraram e ali me arrepiei e senti tudo mais que sentimos quando beijamos a pessoa amada. Amada? Não... Talvez aquela pessoa que você se sinta atraída. Ok, eu confesso. Já estava muito mais que atraída por ele. Foi mesmo tudo muito clichê e eu definitivamente não ligo.
O melhor de tudo, claro tirando conhecer o e o seu maravilhoso beijo, foi que ainda consegui subir na empresa, pegando o cargo de subchefe.
Ele ia ficar só mais um mês em Milão, e quando ele fosse para Londres – porque ele é inglês e não italiano, como eu já sabia -, na quarta-feira era o dia que eu também iria para o Brasil.
Voltando um pouco a história, estava eu no meu escritório apenas esperando exatos trinta e sete minutos para meu expediente acabar enquanto comia chocolate, quando o meu celular tocou. Olhei no visor e não reconheci o número.
- Alô?
- ... É... O ... – ele falava pausadamente e tossia muito entre as palavras. Achei estranho, pois há dois dias, quando havíamos nos encontrado, ele estava bem.
- O que aconteceu? Onde você está? – me preocupei no mesmo instante.
- Linda... Vem aqui... Pro Hospital Cuori... di Tutti. – E a chamada foi finalizada.
Desesperei e sem pensar duas vezes, corri para o hospital, que por sorte, ficava apenas a quatro quarteirões do prédio onde trabalho. O elevador nunca demorou tanto para descer sete andares. Quanto cheguei ao térreo, corri o máximo que pude, quase fui atropelada, mas cheguei a menos de 15 minutos.
- Por favor, - falei com a recepcionista. – procuro .
- Um minuto... – ela disse simpática digitando no computador. – Ele está em observação no quarto 428 no 4º and...
Antes mesmo dela terminar de falar, eu saí correndo atrás do elevador, mas demorou demais e subi as escadas. Cheguei à frente do quarto e não sabia se abria a porta. Já que estava ali mesmo, decidi abrir.
Me deparei com uma cena que eu jamais irei esquecer. estava deitado na cama com a luz do abajur acesa no seu lado direito o iluminando diretamente em seu perfeito rosto. Fui andando devagar, tentando não fazer barulho, mas pisei mais forte com meu scarpin preto que estava usando e o barulho ecoou pelo local.
- ... É você? – ele dizia pesada e lentamente, enquanto respirava fundo com ajuda de aparelhos ao seu redor. Logo apressei o passo e peguei em sua mão quente, tendo um choque térmico com a minha gelada.
- Sou eu. O que aconteceu, ? – lágrimas começaram a embaçar minha vista, mas eu tentava segurá-las. Ele virou o rosto quando escutou minha voz e abriu seus olhos , assim olhando diretamente para os meus. Quando isso aconteceu não consegui mais segurar minhas lágrimas e desmoronei a chorar. Tentava limpar o rosto com minha mão livre e fazê-las parar, mas era em vão.
Não conseguia entender o porquê daquilo tudo, qual o motivo de ele estar usando aquela máscara de oxigênio e todos os outros aparelhos ligados a ele. Enquanto chorava, eu vi apenas duas lágrimas descerem de seu olho esquerdo, mas logo as limpei com o meu dedão. Ele fechou os olhos quando sentiu meu toque, aparentava querer aproveitar aquilo, como se fosse uma droga que ele queria sentir seu efeito.
Fiquei olhando-o alguns minutos com uma mão minha em sua bochecha e a outra ainda segurando sua mão. O quarto estava em completo silêncio, exceto pelo meu choro agora já mais fraco. Não era um silêncio constrangedor, mas ali palavras não serviam. Apenas atos.
Perdi-me no tempo o olhando, acordei quando bateram na porta. Era um médico, Doutor Avanzo.
- Vejo que agora o senhor está bem acompanhado, Sr. . – nós três rimos. – E também vejo que você já está melhor depois desse seu mal estar... Agora que você está consciente, preciso lhe fazer algumas perguntas. Apenas afirme sim ou não, ou fale o mínimo possível, você não pode fazer tanto esforço. – balançou a cabeça afirmando. – Faz tempo que isso aconteceu da última vez? – afirmativo. – Quanto tempo?
- Três... – respirava profundamente, eu segurava sua mão firmemente lhe passando forças, assim ele continuou. – Meses...
- Tudo bem. Continua tomando os remédios? – negativo. – Há quanto tempo?
A resposta demorou um pouco até que ele falou duas semanas. Estava ali sem entender nada, apenas apoiando um rolo meu, que no futuro seria meu namorado. Estava angustiada.
- Doutor desculpe, mas o que aconteceu exatamente? – perguntei com medo da resposta, porém eu precisava saber. Senti soltar da minha mão e o olhei, seus olhos apesar de estarem levemente lacrimejados, pude ver a presença de medo e nervosismo em sua face.
- Sua namorad... – o interrompi.
- Amiga. Sou amiga dele. – e peguei em sua mão novamente.
- Sua amiga não sabe, ? – ela balançou a cabeça negando. – Ele tem epilepsia e teve uma convulsão. – de acordo com que o doutor ia explicando ele ia apertando minha mão. - Está aqui para se tratar, porque íamos fazer uma cirurgia nele no mês que vem, mas como ele parou de tomar reméd...
Não escutei o doutor terminar de concluir sua frase e rapidamente senti meu mundo desabar e escurecer, literalmente.
Acordei deitada com uma moça examinando minha pressão. Pouco tempo depois minha mente começou a me lembrar de todos os últimos fatos que eu presenciei antes de desmaiar. Queria levantar, mas me sentia extremamente pesada. Corri os olhos pela parede e vi um relógio onde apontava onze horas e treze minutos. Fiquei esperando meu corpo voltar ao normal, mas logo adormeci. Quase uma hora depois, acordei. Já me sentia melhor e capaz de me levantar. Assim me sentei na cama. Uma enfermeira logo entrou, mediu novamente minha pressão e disse que já estava tudo bem comigo que eu poderia me levantar. Tentei e consegui. Logo fui em direção ao quarto de .
Abri novamente a porta e ele estava assistindo televisão. Quando a luz do corredor tocou em seu rosto ele virou o rosto pra porta e me viu, assim virando novamente para a tv.
Me aproximei e reparei que ele já estava sem a máscara de oxigênio. Desliguei a tv e ele virou o rosto para o lado oposto ao meu, peguei a poltrona que estava do lado de sua cama e coloquei mais junto a ela. Receosa, peguei em sua mão tentando tranqüilizá-lo, pois eu sentia que ele estava com vergonha e orgulho.
- Precisamos conversar. – ele me ignorou ainda olhando pro outro lado. – ... Por favor, olha pra mim. – falei com a voz embargada e logo as lágrimas apareceram em meus olhos novamente. Coloquei minha mão delicadamente em seu queixo com medo de machucá-lo em algo e puxei seu rosto. Vi seu rosto já molhado em lágrimas, não agüentando o olhar, minhas lágrimas por vontade própria desceram igualando meu rosto ao dele.
- Desculpa. – ele disse com a voz falha. – Eu não queria te contar... Você é tão linda, divertida, não queria te preocupar com meus problem... – Não agüentei o vendo falar aquilo e pousei minha mão que ainda segurava seu queixo em seus lábios, fazendo-o parar de falar essas besteiras.
- Não fale isso. Você poderia ter me contado. Eu iria te ajudar.
- Não... Se eu falasse você não iria ficar comigo, e eu iria me sentir ainda pior por não ter a pessoa que eu tanto gosto longe de mim. – me arrepiei quando ele disse isso.
- Você não ficaria pior porque essa pessoa não iria embora, já que ela também gosta muito de você. – deu um meio sorriso e eu tentei sorrir em meio das lágrimas que ainda saiam de meus olhos. Ele se sentou com certa dificuldade e pegou em minhas mãos, fazendo com que eu me levantasse da poltrona e sentasse na cama.
- Desculpe não ter te falado antes. Desculpe por ter feito você ter vindo até aqui. Desculpe por ter feito você desmaiar. Desculpe, mas estou totalmente apaixonado por você. – ele disse enquanto me puxava e finalizou com um simples beijo em meus lábios. Era doce, calmo e continha ali sentimentos. Os mais puros e sinceros. Terminamos e com as testas ainda juntas eu disse:
- Você está desculpado por tudo, menos por estar apaixonado por mim. Se não, você também tem que me desculpar, porque também estou apaixonada por você. - Ele me puxou e nos beijamos de novo.
Lá tinha ido minha terça-feira com maus pressentimentos.
Nossas passagens de volta para casa foram canceladas por mim, já que depois disso decidimos que adiantaríamos a operação do , para irmos embora logo e pudéssemos aproveitar minhas férias ao lado dele, cuidando dele, na casa dele.
A operação era de risco, mas conseguiu superá-la e tudo saiu bem. Ele estava sem risco nenhum de vida.
Mais de dois anos depois disso tudo, eu não me encontrava mais na Itália, no meu trabalho, ou até mesmo naquele hospital. Estava em Londres me casando com o . Decidimos juntar nossas escovas de dente, como dizem. Nossa lua-de-mel foi no Brasil já que eu ainda não tinha voltado para lá depois de ter encontrado o homem da minha vida. Fiz tão bem de ter vindo para o Brasil, que se apaixonou por aqui e não quis mais voltar para a Europa. E isso tudo foi há quatro anos...”.
Escutei a porta de nossa humilde, porém linda casa abrir e logo risadas gostosas invadiram o ambiente. Era segundo sábado de agosto, um dia antes do domingo do Dia dos Pais.
- ! – me gritou. Fui descendo as escadas quando dei de cara com os dois maiores amores da minha vida.
- Oi amor! – dei um selinho nele. – Oi meu pequeno! – o peguei do chão, colocando em meu colo e o enchia de beijos pelo rosto enquanto ele ria. Depois o coloquei de volta no chão e ele correu para a sala para brincar com seus carrinhos que estavam espalhados no tapete da sala.
Senti me abraçar forte por trás e ficamos observando nosso lindo filho, míni cópia do pai, brincando.
- Como foi a apresentação da escola? O que vocês fizeram?
- Nada demais... Como todos os anos. Ele tenta cantar uma música e me dá um presente. Olha. – ele tirou do bolso um chaveiro que tinha a foto do Charles.
- Que lindo! Eu tenho um pra você também... – ele me virou fazendo-me ficar de frente pra ele.
- O que é? – fez uma cara de safado. Dei um tapa devagar em seu braço e rimos.
- Só amanhã! Afinal, amanhã é o Dia dos Pais. – me virei para frente observando novamente o meu pequeno. me abraçou de lado e encostei minha cabeça em seu ombro. – Ele está cada dia mais parecido com você.
- Fisicamente ele lembra, mas eu sempre vejo nele você. Os dois amores da minha vida.
Depois de jantarmos, tomei banho e dei banho em Charles e o fiz dormir. Cheguei ao meu quarto e já estava deitado de olhos fechados, mas sabia que ele não estava dormindo. Deitei-me de costas para ele e comecei a contar até dez. Antes de chegar ao número quatro ele se virou e me abraçou, sorri com tal ato e assim dormi, sentindo sua respiração em minha nuca e suas mãos me segurando firmemente pela cintura como se ele fosse me proteger. O que de fato, é verdade.
O dia logo chegou e ainda estava dormindo, peguei o seu presente e o cartão que havia lhe escrito, e acordei Charles.
- Pai! Acoida! – meu pequeno estava em cima da cama balançando , tentando acordá-lo. – Paaai! Paaai! – havia acordado e eu assistia tudo com lágrimas nos olhos. – ‘Eli dia du pai!’ – Charles tentou falar enquanto dava a blusa que eu havia comprado outro dia que ele tanto queria.
- Obrigado, campeão! – abraçou nosso filho e bagunçou seus cabelos enquanto ambos riam. As lágrimas já molhavam meu rosto todo, junto com um gigante sorriso estampado em meus lábios. Essa sensação é indescritível.
- ‘Quel desce!’ – pegou Charles no colo e o colocou no chão, pois ele tinha visto um carrinho e queria brincar com ele. Mania desse meu filho.
- Parabéns pelo seu dia! – entreguei o cartão pra ele.
- Não seria meu dia, se não fosse por você. Obrigado você! – ele disse me puxando para perto e me beijando calmamente. Quando nos separamos ele lia o cartão. De acordo com que ele lia, estampava um sorriso cada vez maior no rosto e as lágrimas também percorriam agora, livremente seu rosto.
“Fiz tão bem de ter vindo para o Brasil, que se apaixonou por aqui e não quis mais voltar para a Europa. E isso tudo foi há quatro anos...
Quatro anos que essa nossa criança existe. Quatro anos que significam muito para mim. Quatro anos que você me deu um presente mais que especial. Quatro anos que irão se multiplicar cada vez mais.
Só uma coisa não irá ter idade... O tempo que eu te quero ao meu lado e o nosso amor.
Te amo mais que tudo, minha vida.
Beijos, .”.
Fim.
N/A: Que emoção! Segunda fic por aqui. Espero que gostem *-*
E não dou muito boa para n/a.
Quem quiser msn e orkut;.
Beeijo ;*