Monólogo -
O suicídio tem sua beleza. Nele está a benevolência da morte. O fim da dor que aflige nosso ser, nossa alma. Não é pelo meu ex-namorado que estou fazendo isso. Não é por orgulho partido, nem ignorância. Só não tenho mais nada a perder. Mas a vida se tornou vazia sem seu amor. Sem seus braços ao meu redor que transformavam tudo de ruim em bondade. Seus olhos ferventes nos meus, eles enxergavam minha alma. Este deve ter sido um dos motivos para ele não me quisesse mais: minha alma. Se é que eu tenho uma. Sempre dizem que a morte é mais fácil, mais aceitável do que a vida sempre tão impetuosa. A vida não perdoa aqueles que erram, punindo-os a sua maneira. Descobri isso da forma mais dolorosa possível. Agora, saudarei minha divida com ela. Talvez até consiga ser absolvida. Pouco provável, já não me restaram muitos resquícios de fé. Afinal, o que mais poderia haver para alguém como eu?
There's gonna be one less lonely girl
One less lonely girl
O vento batia com força em meu rosto projetando meu cabelo para trás, definitivamente eu não me sentia assim há meses. Ou foram anos? O sol acariciava meu rosto, me trazendo um bem-estar até então desconhecido por mim. A felicidade me invadiu depois de muito tempo ausente. Dopei-me dela. Desse jeito era mais fácil encarar o que estava por vim. Meus pés tocaram a beirada de concreto deixando pequenos fragmentos caírem. Olhei para baixo com um sorriso enrugando meus lábios já secos pelo vento que batia furiosamente em minha face. Deveria haver, daquele ponto em que eu me encontrava, mais de trezentos metros. Batendo furiosamente no grande paredão de concreto estava o lago Brittiland. Suas águas azul turquesa eram inegavelmente atraentes, e o jeito como elas se moviam eram peculiarmente excitantes.
Tudo na minha vida conspirara para este momento, eu podia sentir que sim. Aquele seria meu epitáfio, o fim que eu pensei estar longe. Meu estomago revirou-se, furioso em minha barriga, mais de fome do que pelo suicídio. Não pude deixar de rir daquilo. Era patético me preocupar com um dia e meio de jejum mais do que com a minha morte, mas ela parecia tão pacifica. Tão doce. Seria incrível pular daquela altura; quando o vento tentasse me puxar para cima, seria contrariado pela lei da gravidade e então eu estaria flutuando no ar. Havia forma melhor de morrer?
Fechei os olhos levantando minha cabeça para respirar pela última vez deleitando-me com a sensação do oxigênio em meus pulmões. Já estava na hora. Apertei meus lábios um no outro com força deixando que todas as memórias boas que já tive me invadissem, elas trouxeram paz para meu espírito. De repente meu coração começou a bombear com mais força e rapidez o sangue. Seu martelar produzia uma sinfonia que me enchia de vida. Uma vida que seria tirada por mim mesma e que não tinha mais sentido. Estiquei minha perna à minha frente sentindo o ar bater nela em uma tentativa frustrada de me pôr medo. Claro, não existia tal sentimento em mim, assim como a auto-piedade que eu tanto desprezava. Ninguém mais sentiria pena de mim. Eu seria livre. Tudo seria mais fácil.
- Hey! Você ai! – Uma voz masculina gritou ao longe. Ignorei-o.
Olhei para o céu, aquela era a última imagem que eu guardaria. O céu azul claro manchado com várias nuvens, brancas e fofas, seria cravado em mim. Eu nunca os esqueceria, e ainda assim, também jamais lembraria.
- Moça! É perigoso ficar aí! – Dessa vez, a mesma voz de antes estava mais perto.
Ele não chegaria a tempo e isso me consolou. Não sei se conseguiria continuar com esta existência inútil que me fora imposta. Logo eu também não precisaria mais sofrer.
Ouvi passos, ele estava chegando perto. Reduzindo os poucos segundos que eu ainda tinha. Meu tempo havia acabado. Tudo acabou. Inclinei meu corpo para frente resignada. Dei um último suspiro, sentiria falta de suspirar. Mas eu sobreviveria, ou quase. Eu podia sentir que estava perdendo o equilíbrio. Eu cairia.
How many promises?
Be honest, girl.
How many tears you let hit the floor?
How many bags you packed Just to take 'em back?
Senti o ar ser arrancado abruptamente de meus pulmões enquanto braços de ferro me envolviam. Gritei, tentando me desvencilhar deles. Debati-me e esmurrei os braços que agora me seguravam; eles continuaram firmes ao meu redor.
Não, isso não podia estar acontecendo! Não estava nos planos! Simplesmente era impossível. Como alguém me veria da auto-estrada que circulava a quinze metros daqui?
- Me solte seu estúpido! – Berrei com raiva. – Eu estou te avisando, se não me soltar, você vem junto!
- É? Como? – Ele perguntou em meu ouvido enquanto eu dava uma cotovelada nas suas costelas. Argh, nem assim ele me solta?
Se pelo menos eu conseguisse alcançar a virilha daquele desgraçado! Quanto mais eu me jogava para frente mais para trás ele me arrastava. Tentei mais uma vez com toda força que eu ainda tinha, mas meu corpo estava vulnerável, fraco demais. Aquele um dia e meio pesou amargamente. Além do mais, o cara parecia ser dez vezes mais forte que eu.
Eu mal conseguia ver agora a água que batia furiosamente na parede da barragem, e o vento já não lançava meu cabelo para trás, lançava-o para frente fazendo-o chicotear meu rosto. Dei vários gritos desesperados tentando deixar o infeliz que estava me segurando completamente surdo.
- Seu filho da mãe! Me solta, agora! Desgraçado, inútil, porco imundo! – Xinguei-o de tudo o que vinha à minha mente, mas ele parecia não se importar, o que só me deixou mais ainda frustrada com toda aquela história. – Você não entende inglês, seu energúmeno? Eu já disse para me soltar, merda!
Nada saiu de sua boca enquanto ele me rebocava para um lugar que julgava mais seguro. Continuei a xingá-lo com todo o meu vocabulário de filmes sobre mafiosos que já assisti e outros que aprendi em músicas de hip-hop do Eminem. Só que o idiota parecia surdo, ou ele podia estar muito bem me ignorando. Grunhi, desistindo. O máximo que eu conseguiria afligir aquele homem não estava dando certo, então para quê lutar?
Nós já não estávamos mais na área do paredão, pude sentir perfeitamente quando ele passou minhas pernas por cima do murinho que eu havia pulado há minutos atrás. Aquela era a área aconselhável para visitantes. Bufei, irritada. Aquilo estava se tornando cada vez mais patético.
- Eu sei andar, sabe? Aprendi quando tinha um ano e pouco.
- É mesmo? – Ele finalmente falou, sua voz ainda em meu ouvido continha um humor perverso. – Não parecia; há dez minutos você estava andando para a borda de uma barragem.
- Você não entende. – Ofeguei, definitivamente, tomada pelo desespero.
Acho que aquela foi a gota d’água, o ápice da paciência para aquele estranho. Em um só movimento –forte e preciso - ele me virou de frente. No início foi um choque encontrar seus olhos azuis gélidos e duros. Especialmente porque eles pareciam querer ver por atrás da armadura que eu havia construído, perfurando a minha alma para achar respostas mudas, sobre o porquê de meu comportamento e o que havia me levado a apelar para o suicídio.
- Não entendo mesmo. O que pode levar uma mulher jovem a querer pular de uma barragem?
Trinquei os dentes para ele.
- Não é da sua conta! – Gritei tentando avançar para cima dele, mas o cara conseguiu me conter com facilidade.
Ele soltou o ar pesadamente enquanto olhava para baixo. Calculei a melhor forma de incapacitá-lo e quantos segundos eu tinha para tentar pular novamente - as chances estavam contra mim. Abaixei a cabeça deixando que a melancolia que eu havia adquirido nos últimos dias se aproximasse novamente; ela me prendeu, fazendo meus olhos marejarem. Por que ele não me deixou morrer? O que aquele estranho podia querer comigo? Pude sentir seus olhos em mim, vendo a dor que transparecia em meu rosto. Tentei abaixar mais a cabeça para que ele não visse o quão fraca eu era.
- O que você quer de mim? – Perguntei, minha voz falhando no final.
- Te ajudar. – Falou ele, a voz melodiosa e sincera perfurando meu coração. Balancei a cabeça incapaz de achar a minha voz no meio daquela apatia que se tornara minha mente, tudo menos pena... Por favor...
- Não preciso da sua preciosa compaixão! – Cuspi, praticamente rosnando de raiva na cara dele. Por mais incrível que pareça ele não se abalou com a violência que aquele ato trouxe consigo. Bem pelo contrário, sua expressão era cruelmente neutra. Foi a vez dele de balançar a cabeça, o vento levantando os curtos fios de seu cabelo que brilhavam ao serem tocados pelo sol.
- Não tenho pena de você. – Discordou ele. – Só não acho que suicídio seja a melhor solução.
- No meu caso é. – Falei vacilante. – É o único jeito...
- De não sofrer? De não encarar a vida? – Seu rosto se tornou feroz por um momento, desnorteando-me. – Ótimo, vá em frente. – Ele me soltou calmamente, me pegando de surpresa. Não pensei que depois de me salvar ele estaria me chutando novamente para a minha idéia inicial. – Aproveite e faça o serviço completo. – Sua mão foi para o bolso de sua calça jeans escura, sacando de lá um aparelho de celular prateado. – Ligue para os seus pais e diga que vai pular. É o único jeito de te deixar ir cometer essa idiotice.
Olhei torturada para o pequeno aparelho que brilhava ao refletir o sol a pino. Eu não podia fazer aquilo. Minha mãe morrera há quase um ano e meu pai, nunca conheci. As únicas pessoas que eu considerava como minha família eram meus avós por parte de mãe. Seria doloroso dar-lhes essa notícia. Porque assim como este estranho que estava em minha frente, eles não entenderiam meus reais motivos. Mas se não pegasse o celular e ligasse para alguém que corresponderia aos meus pais – que eu já não tinha- ele não me deixaria pular. Aquilo que se chamava impasse?
- Por que está fazendo isso comigo? – Gritei enquanto as lágrimas escorriam descontroladamente por meu rosto, elas eram a prova viva de que aquilo me fazia sangrar por dentro.
- Eles vão saber de qualquer forma. – Disse firmemente. – Você não poderá poupá-los dessa dor. Não se preocupe, você vai morrer mesmo, não é?
- Droga! Eles morreram, está feliz agora? – Explodi de forma suplicante para ele. – Me deixe pular, por favor.
- Não. Ligue para os seus tios ou avós.
- Você é sempre assim? – Perguntei com um repentino sarcasmo na voz, um súbito momento de humor negro.
- Assim como? – Ele enrugou o cenho confuso com minha pergunta. – Se sempre salvo mulheres antes que elas cometam o suicídio?
- Não, tão cruel. Irritante. E tão desagradável!
Ele riu secamente, acho que minha piada mórbida não o agradou.
- No seu caso preciso ser.
- Vai. Se. Ferrar! – Falei entre dentes, lhe dando as costas e voltando a caminhar para a borda da barragem. Sua mão máscula e firme segurou meu braço, impedindo-me de continuar. Girei para ele, pronta para dar-lhe um belo tapa no rosto por ele ter posto a mão em mim de novo, quando sua outra mão voou com agilidade para segurar juntamente com meu pulso, seu celular.
- Me deixe te levar para casa, por favor. – Seu pedido terno fez meus olhos arderem. - Você não está nada bem.
- Não tenho mais casa. – Confessei, deixando que outra rodada de lágrimas caísse. Era assustador a quantidade de água que ainda havia em meus olhos, pronta para ser posta para fora. – Eu não tenho mais ninguém.
- Tem certeza? – Perguntou intensamente, ele estava empenhado a não me deixar morrer. Podia até ficar lisonjeada com isso, mas a tristeza era o único sentimento que reinava em meu ser naquele momento. – Nenhum amigo ou amiga? Nenhum namorado?
Me encolhi automaticamente ao que aquela palavra fora arremessada para mim. Namorado. Estremeci convulsivamente. Olhei para seu rosto vendo a compreensão iluminá-lo. Merda.
- Então é isso? Você vai se jogar de uma barragem a mais de trezentos metros, por um cara?
- Não é por causa dele. Uma pessoa não pode mais querer morrer? – Guinchei na defensiva.
- O que aconteceu? – Dessa vez sua voz soou baixa e reconfortante.
- Não quero falar sobre isso. – Mais lágrimas rolaram.
- Ok, ok... Você não precisa falar, ta? Só... – O vi hesitar por um momento tentando encontrar as palavras certas para me persuadir, e então ele suspirou parecendo desistir de encontrá-las e falar o que queria falar desde o início da frase. – Só me deixe ajudá-la.
Continuei a fitar ser rosto, intrigada com o que ele acabara de dizer. Como pele podia ser tão... Amável e, ainda assim, irreal? Meus joelhos tremeram sob seu olhar sincero enquanto eu tentava desesperadamente encontrar mais ofensas para que ele não fosse tão agradável e gentil comigo. Abri minha boca algumas vezes para argumentar sobre sua proposta, mas som algum saiu. Ele me deixara sem palavras com seus gestos nobres. Com aqueles olhos azuis claros.
Acho que foi aí que as coisas só pioraram.
Tudo girou o meu redor, me desorientando. Minhas pernas falharam, esperei que o concreto viesse de encontro a minha cabeça, mas eu não senti dor alguma. Bem pelo contrário, eu me sentia confortável, segura.
But no more
If you let me inside of your world
There'll be one less lonely girl
Seria conveniente demais se as coisas voltassem a ser o que eram quando eu abrisse novamente os olhos. Ver minha vida regressando há algumas semanas atrás em que nada poderia me atingir talvez fosse pedir demais. Aqueles dias superficialmente felizes não voltariam mais. A convicção nessas palavras era quase inconcebível, dolorosa. Saber que agora eu não o teria mais, porque ele simplesmente já não me queria, era demasiado terrível. Terrível o bastante para que a morte viesse, contundo, por mais que eu almejasse que ela viesse, ela não veio.
Sorte ou azar meu?
Na realidade, tudo era uma grande sacanagem. Porque eu queria morrer. Era tudo o que eu queria. Porém, um grande babaca veio cheio de boas intenções – só que de boas intenções o inferno está cheio -, sendo que eu nem precisava delas. O cara era surdo ou maníaco? Talvez um pouco dos dois. Ou ele só fosse um grande filho da mãe, que queria terminar o serviço de destruir toda a sanidade que ainda me restava.
- Para onde você pensa que está me levando? – Rosnei olhando pelo vidro do carro dele, controlando o instinto louco de voar para cima dele e colocar minhas mãos naquele pescoçinho irritante, que tem uma cabeça irritante em cima, que agora continha um sorriso satisfeito e irritante nos lábios irritantes.
- Qual é o seu nome? – Ele aparentemente ignorou minha pergunta. Lancei-lhe um olhar fulminante, que deixava claro que eu não estava para brincadeiras. – Tudo bem, Tudo bem. Não precisa me olhar como se fosse me mutilar. – Disse ele, levantando os dedos do volante, – mas sem deixar de apoiá-lo com as palmas das mãos - como se estivesse se rendendo. – Pensei em te levar para comer alguma coisa e depois te levar ao médico.
- Ouviu o que acabou de dizer, seu idiota? Levar-me ao médico? Você bateu a cabeça quando eu desmaiei ou o quê?
- Não, quando você desmaiou, eu te peguei. – Falou prontamente. – E é sempre bom ir ao médico nessas horas, certo?
Não olhei para ver o sorriso idiota que com toda a certeza impregnava seus lábios idiotas. Apenas levantei meu dedo do meio para ele.
- Você não é a única que conhece esse gesto, baby. – Provavelmente ele também levantou o dedo do meio para mim, dei de ombros. De qualquer forma, eu ainda estava ignorando-o.
Fechei os olhos, soltando um suspiro. Ele não iria me deixar em paz se eu não fosse mais gentil.
-. – Ele disse. Abri os olhos e o fitei, confusa. – Meu nome, .
Tive de me controlar para não perguntar: quem se importa se seu nome é ?!
- . – Falei de má vontade, enquanto voltava meus olhos para a estrada à nossa frente.
- Prazer. – Ao ouvir o sorriso em sua voz, fiz uma careta. Não devia ser um prazer o fato de nós nos apresentarmos. Pelo menos não para ele que já havia sido bastante xingado por mim, momentos atrás.
Respirei fundo, precisava ter em mente que ofendê-lo não iria melhorar a minha situação e que talvez ele me deixasse ir se me portasse como uma boa menina.
- Olha, , você tem toda a razão. – Falei usando o meu melhor tom de arrependimento e abusando da minha boa vontade. – Bom, foi realmente idiotice querer pular de uma barragem.
- Absolutamente. – Concordou.
Achei melhor ignorá-lo novamente. Eu ainda estava tentando escapar de uma viagem de ida ao médico.
- Eu agora estou bem, sério. – Não sei mentir muito bem, mas dessa vez estava me surpreendendo com a facilidade com que as palavras fluíam da minha boca. O som da minha voz era macio e incentivava confiança. –As coisas não vão se resolver com a minha morte. –Parte disso era verdade, o que só deixou o meu tom mais afável. – E agora vejo que você estava de fato certo. Então, será que poderia, por favor, parar o carro para que eu descesse?
Provavelmente minha conversinha fiada não o convenceu.
- Nop. – Respondeu fazendo um barulho estranho com a boca. – Me diz pra onde você quer ir que eu te deixo lá.
Trinquei os meus dentes para conter um gemido frustrado, será que aquele cara não cansava de ser bonzinho? Bufei, era impossível ser mais gentil com ele do que eu havia sido. O que mais ele podia querer comigo, meu deus?
- Vai me dizer para onde você quer ir? – perguntou em voz baixa, mas o bastante para ser ouvido por mim.
- Não. – Murmurei, me encolhendo.
Foi verdade o que eu havia dito, enquanto ele tentava me convencer a não morrer. Eu não tinha para onde ir. Meu antigo namorado –o cara por quem eu ainda era pateticamente apaixonada- havia me enxotado do apartamento em que compartilhávamos por quase dois anos, com a desculpa de que já não me conhecia mais. Para ele eu não era mais a mesma. Não era a garota que ele já amara no colegial. Ele só não entendia que o meu amor por ele não havia mudado, por mais clichê que isso pareça.
Pela janela do carro eu já conseguia ver as primeiras construções de Londres se aproximarem, inevitavelmente, cada vez mais perto. Retraí-me, abraçando meus ombros. Há algumas semanas eu havia prometido a mim mesma que jamais colocaria os meus pés naquela cidade novamente, e, no entanto, agora estava sendo praticamente arrastada para lá. Virei meu rosto para fuzilar o rosto de meu carcereiro, sua expressão era serena e pensativa. Naquele momento seu rosto parecia mais maduro do que realmente era. A intriga daquela nova observação me distraiu por uns momentos. Ele percebeu meu súbito interesse em seu rosto, e não deixou de sorrir. Mesmo que fosse discretamente.
- Está tentando encontrar mais adjetivos carinhosos para mim? – Perguntou ele, sua voz brincava entre o sarcasmo e o escárnio.
- Não. - Respondi, a abrupta calma que me envolveu conseguiu entorpecer a dor das lembranças que aquela cidade me trazia.
Percebi que seus lábios se entortaram um pouco com a minha resposta. Perguntei-me se o meu olhar o incomodava. Talvez sim.
- Já decidiu pra onde quer ir? – Suspirei.
- Quer despachar logo a louca aqui, não é? – Não hesitei em incrementar um tom mais acido e ríspido a aquela pergunta.
- Não, claro que não. – virou um pouco o rosto para lançar um sorriso pesaroso em minha direção. – Acho melhor reformular a minha pergunta para não acabar apanhando ao volante. Gostaria que eu a deixasse em algum lugar?
Seu tom terno repeliu minha a agressividade.
- Pode me deixar em qualquer lugar, . – Suspirei, afundando no banco de couro – Não vou ficar na cidade por muito tempo. – Aquele pensamento me escapou em voz alta.
Ele não respondeu. Recusei-me a olhar pela janela e dar passagem a depressão que fora, outrora, minha mais fiel companheira, apenas permaneci de cabeça baixa, brincando com meus dedos como se eles fossem a coisa mais fascinante do mundo. Esperei que ele parasse para que eu descesse em uma rua qualquer. Sozinha, como passei a ficar nos últimos tempos. Talvez eu voltasse para a barragem, foi idiotice demorar tanto tampo para pular de lá.
Foi uma fraqueza que me custou minha sanidade. Agora, com toda certeza, arranjaria uma nova forma de acabar com essa palhaçada intitulada vida. Estou cansada de suas reviravoltas, dessas coisas fúteis. Eu estava cansada de respirar, de tentar imaginar o que aconteceria no dia seguinte. Essa incerteza era tão traiçoeira! Para que prolongar algo que um dia vai acabar? O que afinal é a vida, se não, um ciclo em que tudo precisa ter um fim? Não fazia sentido esperar por algo inevitável. Eu não tinha vocação para ser masoquista.
Estava tão presa aos meus pensamentos que nem percebi para onde ele estava me levando.
Quando nos advertem que não devemos entrar em carros de desconhecidos, achamos que estão querendo gozar com a nossa cara, não é? Pois bem, eu digo que entrar em carros caros, com caras gentis que nos salvam de uma tentativa de quase suicídio, e que acima de tudo, tinham os olhos azuis mais irritantes que você já viu, -mas que fazem você viajar em puro êxtase facilmente- é morte na certa. Especialmente para quem quer morrer de parada cardíaca.
Que deus me proteja e me diga que ele não havia parado de frente para o portão da garagem de um loft. Olhei para a construção totalmente em pânico, aquele lugar devia ter uns vinte e sete andares! Além de ser praticamente inundado por coisas caras e luxuosas - que provavelmente deixavam aquela BMW em que estávamos, no chinelo. O lugar parecia ser extremamente seguro. Ironias e mais ironias, é capaz daquilo se tornar mais monótono? Acho difícil.
Grandes portões de ferro se abriram mostrando a enorme garagem, cada número de apartamento tinha um bom espaço para abrigar no mínimo mais três carros, bastante exagerado a meu ver. não precisou dirigir por muito tempo e surpreendentemente também havia um volvo naquela vaga, em que ele estava estacionando. Não demorou muito para que seu corpo se virasse em minha direção e ele me olhasse cuidadosamente.
- Como está se sentindo? Pode andar?
- Acho que estou bem. – Respondi confusa, por que raios ele havia me trazido para cá? – Que lugar é esse?
- Hm, minha casa. – Respondeu meio tenso.
- Sua... Sua casa? – Gritei, arregalando os meus olhos. – Como você me traz para a sua casa?! Eu mal te conheço!
- Eu sei, eu sei. – disse com a voz tranquila a fim de me acalmar, respirei fundo e fechei os olhos.
Aquilo não podia estar acontecendo. Não podia.
- Mas eu também não posso te deixar sozinha.
- Por que não? – Abri os olhos e encontrei os seus, o pânico deixando a minha voz fraca. – Eu quero ficar sozinha.
Ele balançou a cabeça.
- Eu sei o que você vai tentar fazer se eu te deixar sozinha e não vou compactuar para a sua morte. – Um sorriso malicioso se formou em seus lábios, arrepiando-me. – Por isso você vai ficar aqui, comigo. Pelo menos até que eu a convença de que é loucura tentar se matar.
- Plano brilhante, quer uma salva de palmas? – Perguntei com sarcasmo e depois emendei, minha voz molhada de escárnio e um leve teor de raiva. - Como suspeitei: você é um psicopata e um total lunático! Quando você menos esperar vai ter uma viatura da policia na frente desse prédio absurdamente luxuoso, pronta para te levar para o xadrez.
O que fez diante a minha ameaça? Simplesmente me ignorou e saiu do carro, para se pôr ao lado da porta em que eu me encontrava. Ele a abriu, estendendo amigavelmente a mão para mim. É nessa hora que você me pergunta o que eu fiz, certo? Porque, eu querendo ou não, aquele estranho parecia estar preocupado comigo, tecnicamente seria a minha deixa para abrir um sorrisinho tímido e pegar a sua mão, completamente e eternamente agradecida como rola nos filmes. Só que nem tudo é um mar de rosas, e eu estava mais para um mar de espinhos hoje. Por isso não toquei em sua mão estendida de forma tão cavalheiresca, em compensação, adivinha? Cruzei os meus braços em meu peito, olhei para frente e o ignorei totalmente. Estava até quase certa de que em meus lábios havia um biquinho infantil e teimoso, mas fazer o que? Essa sou eu, querido.
suspirou pacientemente, esperando que eu aceitasse o seu convite para sair do carro. Meus músculos não se moveram nem um milímetro sequer.
- Sua perseverança é inspiradora, . – Falou com sarcasmo, se inclinando ligeiramente na minha direção, sua mão o apoiava na parte de cima do carro. – Agora, que tal você ser boazinha e sair desse carro por bem?
- Ou... – Incitei, erguendo uma sobrancelha para o porta-luvas do carro.
- Ou sinto-lhe dizer, mas você não vai ficar ai dentro.
- Sério? – Perguntei, humor perverso na voz. – Obrigue-me.
- Como quiser. – Respondeu condescendente, o sorriso travesso que ele devia carregar nos lábios estava implícito em sua voz rouca e educada.
Algumas pessoas achariam que eu sabia perfeitamente o que a mente doentia daquele tal de estava planejando, mas em minha defesa digo que não fazia idéia do que se passava ali. Só para constar, eu não sabia ler mentes.
Com força, mas delicadeza, seus braços me ergueram para fora do carro e antes que minha mente pudesse registrar aquele novo fato, ele me jogou sobre seu ombro. Bufei tentando tirar os fios do meu cabelo que haviam entrados clandestinamente em minha boca, enquanto perguntava-me o que eu havia sido em minha vida passada. Provavelmente eu fora alguém bem desprezível e sacana, é única explicação plausível para eu estar sendo sequestrada por um psicopata que ao mesmo tempo é –estranhamente - politicamente correto.
- Quantas vezes hoje eu disse que te odeio mesmo? – Perguntei com voz de tédio, riu enquanto andava.
- Essa seria a primeira vez que você falaria de forma concreta.
- Te odeio. – Falei como se fosse a coisa mais surpreendente do mundo, fazendo-o rir novamente.
- Sorte sua que eu não sou de guardar mágoas, se não você estaria em apuros, .
- Hey! – Exclamei enquanto ele parava, eu não conseguia ver para onde ele estava indo, mas pude ver que seus tênis não se encontravam mais no concreto irritantemente limpo da garagem. Eles estavam em um retângulo de mármore branco que conseguia ser tão irritante quanto, a luz que chegava a ele refletia ridiculamente. – Quem te deu o direito de me chamar de ? – Rosnei socando-lhe as costas.
se encolheu ligeiramente com os meus golpes, enquanto quase tinha uma síncope de tanto rir. Rosnei mais um pouco por ele estar se divertindo as minhas custas, balançando violentamente as minhas pernas para ver se eu conseguia chutar alguma parte da frente de seu corpo, e novamente sua virilha seria o meu principal objetivo. Infelizmente um de seus braços estava firme envolta da minha cintura enquanto o seu outro braço prendia como se fosse um tipo de barra a parte de trás das minhas pernas. Bufei desistindo de lutar, ele voltou a andar como se nada tivesse acontecido.
O clima tornara-se mais agradável quando entramos no elevador. Eu ainda estava em seu ombro quando seu corpo voltou-se para a porta e ele apertava um botão qualquer, também não me esforcei para saber qual era. não me deixaria em paz tão cedo, para a minha alegria interna. Olhei para a minha frente dando de cara com um espelho enorme, nele eu conseguia ver o reflexo de tudo no elevador, desde as costas de , delineadas pela camisa de malha grossa cinza, seus ombros fortes e largos, até a bunda aparentemente durinha – sem contar no cabelo displicente, todo bagunçado, que fazia parte do seu charme -, mas havia algo ali que minha mente não conseguia processar. Ou não queria fazê-lo. Bem próximo ao espelho havia um rosto cansado, pálido e cheio de pequenos hematomas. Um rosto que não podia ser o meu. Minhas bochechas sempre foram levemente coradas, e em meu rosto habitava uma cor bronzeada, saudável, bastante assídua.
Eu mal sentia o elevador se mexer, toda a minha atenção estava voltada para rosto mal-tratado e apático no reflexo do espelho, ele deveria pertencer a mim, já que só havia eu e no elevador, porém recusava-me a reconhecê-lo como sendo meu rosto. Mirei-o novamente, em busca de meus olhos brilhantes e sempre tão inundados de vida, outrora, eles foram a parte mais bela em mim, algo que todos costumavam elogiar. Mas minha busca fora inútil. Em minhas pupilas e íris não havia brilho algum. Não havia nada.
A cruel verdade fez meus olhos marejarem, mas nem assim eles ganharam vida. Eram duas bolas inanimadas em meu rosto. Cobri meu rosto com as mãos enquanto deixava aos poucos o choro ir ganhando proporção, agitando o meu peito com soluços afogados em mágoas. Mágoas estas que eram exclusivamente direcionadas a mim. Como tive a capacidade leviana de deixar me levar para tão fundo do poço como eu estava? O que havia de errado comigo?
Saw so many pretty faces
Before I say you
Now all I see is you
Don't need these other pretty faces
If you let me inside your world
There's gonna be one less lonely girl
- Hey… - Ele me depositou gentilmente em seu sofá. – Não precisa chorar, dói alguma coisa? Eu te machuquei sem querer?
Sua mão afastou as minhas para poder olhar em meu rosto, mas assim que seus olhos encontraram os meus, a dor só pareceu aumentar. Nem quando seu rosto apenas se tornou mais um borrão em minha visão turva, o choro cessou. Na verdade ele apenas tornava-se mais intenso, alfinetando meu coração já bastante machucado.
- Calma, . – As palmas de suas mãos tentavam secar as lágrimas que escorriam por minhas bochechas, enquanto seus dedos cuidavam de afastar as que jorravam de meus olhos. – Não se preocupe, eu vou te ajudar, ok? Agora, me diz aonde dói.
Fechei dolorosamente meus olhos, pressionando minha mão acima da parte esquerda de meu busto, o lugar onde só havia o apressado pulsar de meu coração. Seu suspiro baixo demonstrou que ele compreendera o que se passava. Senti o lugar ao meu lado afundar ao que ele sentou ali. Os mesmos braços que me envolveram na barragem, agora estavam confortavelmente ao meu redor, mas diferente de minha primeira reação, os meus também estavam envoltos em sua cintura, retendo-o ali. Bem pertinho de mim. Sua mão afagava vagarosamente o meu cabelo, passando-me um pouco de carinho. O mesmo que eu já não recebia há um bom tempo. Aos poucos, as lágrimas secaram, e tudo começou a se tornar mais fácil de aceitar.
Não havia como mudar o passado, tentar voltar no tempo era pura perda dele próprio. Mas então, o que eu faria? Como viveria sem as pessoas que eu amo ao meu lado? Por um momento, me apertou, como se quisesse mostrar que ele estava ali, apesar de não me conhecer direito e depois de tudo o que já fora chamado por mim, depois de ter levados murros, chutes... O choro voltou, e de forma mais tímida.
- Obrigada. – Murmurei, o arrependimento fez com que eu encolhesse os meus ombros. – Ainda mais depois de tudo o que te disse e de ter tentado te machucar de todas as formas... – A histeria começou a manipular o estúpido choro que saía de mim.
- Não... Calma. – Ele se afastou um pouco, apenas para segurar o meu rosto na altura do seu. – Não precisa se desculpar. – Disse sorrindo fraco e torto. Seus dedos espalharam as grossas lágrimas de meu rosto, no intuito de secá-las, de afastá-las de mim. – Só não chore mais, odeio ver uma mulher chorar. Ainda mais uma linda mulher.
- Não pode estar falando sério. – Balancei a cabeça enquanto mais algumas lágrimas despencavam de meus olhos. – Olha para o meu rosto. – Minha foz falhou quando olhei em seus olhos, vendo-me refletida neles. – Não sei nem como você consegue me olhar, é repugnante.
Novamente seus dedos secaram minhas lágrimas enquanto mais um sorriso torto era me dado.
- Estou falando sério, . E mesmo que ele esteja machucado, consigo ver a beleza por debaixo disso tudo. – Seu riso foi quase impossível de não ser acompanhado, era tão contagiante e otimista! Não sei como uma pessoa conseguia imanar uma aura tão bela como a dele. Era quase como se ele fizesse parte de uma grande fantasiada da minha mente. – Que tal fazermos o seguinte: você vai, toma um banho, eu te empresto uma camisa minha, você lava sua roupa íntima e coloca na secadora, enquanto isso eu peço um jantar para gente. O que acha?
Sua expressão era de pura empolgação, como se já fizesse anos que ele não pedisse comida em casa, e que impedisse que mulheres como eu, pulassem de uma barragem. Achei graça do seu jeito abruptamente infantil de agir. Homens! O que farei com eles? Uma hora ou outra eles sempre sentem necessidade de mostrar seu lado infantil, jamais esquecido.
me deu uma camisa social azul clara de listras que parecia nova, mas que continha inegavelmente o seu cheiro impregnado nela. Deu-me uma toalha limpa e depois me ensinou como mexer na secadora, por sorte ela era fácil de entender e bastante prática. Ela ficava no banheiro anexo ao seu quarto, no andar de cima. Lá também tinha outro quarto que ele dizia ser seu estúdio particular. Ele era músico e tocava com os amigos em uma banda.
Após se certificar que eu ficaria bem, saiu do banheiro deixando-me, pela primeira vez dez de que nos conhecemos, sozinha. Optei por uma ducha, a água morna obstruindo os pequeninos incômodos e me relaxando. Era bom tomar um banho, depois de tudo o que eu passara naquele dia. Era quase como se todos os problemas escorressem direto para o ralo. Lavei minha roupa íntima, colocando-a na secadora como me instruíra a fazer, e voltei para a água. Estava tão bom que resolvi lavar o cabelo. Eu já estava abusando muito da hospitalidade de , mas quando –e se- ele me abraçasse novamente naquela noite, queria estar o mais cheirosa possível. De certa forma para agradá-lo, afinal, ele estava sendo tão gentil... E, ok. Admito, ele é um gato, totalmente gostoso e carinhoso. E eu estava carente, mas simplesmente não podia ir chegando e agarrando ele. Que tipo de garota ele acharia que eu sou? Talvez uma que soubesse vários tipos de xingamentos e bem estressada, mas de qualquer forma não acho que ele vá vir a se interessar por mim. Na minha testa estava escrito com letras em neon bem grandes que eu era encrenca, então isso o manteria longe, certo?
Desci as escadas timidamente, sua camisa não era tão longa como pensei que seria. Ela deixava a calcinha da minha lingerie preta à mostra, juntamente com as minhas pernas. Agradeci mentalmente por ele estar de costas falando ao telefone – provavelmente pedindo o nosso jantar. Suspirei pulando o último degrau e fazendo um pouco de barulho ao pousar no assoalho de madeira lustroso. Apenas um leve baque surdo na madeira, mas que não passou por despercebido. Seu rosto virou-se para mim no momento em que ele estava se despedindo do atendente do outro lado da linha, não foi surpresa nenhuma quando seus olhos voaram para as minhas pernas nuas, mas fiquei um pouco intrigada por sua expressão beirar choque e desejo. Só que, como o cavalheiro que ele devia ser, reestruturou sua expressão para que ela ficasse neutra e tentou não olhar para a minha falta roupa e pelas partes que se aproveitavam disso para se sobressaírem.
- Hm, essa camisa ficou boa em você. – Comentou, colocando o telefone no gancho.
- É, ela é muito bonita, obrigada. – Sorri francamente para ele. O seu sorriso em resposta demonstrou o quanto satisfeito ele estava por eu estar me comportando e sendo boazinha.
- Pedi comida Chinesa, se não se importar.
- Não, tudo bem. Não me importo. – apesar das memórias que essa culinária estrangeira me traz, acrescentei mentalmente.
- Pelo visto está melhor, não é?
- Um pouco. – Confessei baixinho.
Sem pensarmos muito, nos abraçamos.
- Qualquer coisa... Sabe? Se quiser falar ou sei lá... Estou à disposição, ok?
- Ok. – Aninhei-me em seus braços, anestesiada pela calma que emanava dele, mais forte e mais eficaz quando os seus braços estavam ao meu redor. Ela parecia vir de tudo nele: seu cheiro, sua voz, seu jeito de falar... Em tudo. Ele parecia um grande frasco de morfina, no qual, eu podia ursufluir livremente. Há muito que em minha vida não existia um porto seguro, um lugar em que tudo fosse mais fácil, mas acho que forjara perfeitamente um para mim. E ele era bom a sua maneira, a maneira de ser.
- Está vendo? – Perguntou retoricamente, se afastando um pouco para olhar em meu rosto. – Um dos rostos mais belos que já vi.
- Qual foi o primeiro? – Desdenhei, fazendo uma careta.
- O do meu namorado. – Meu queixo caiu enquanto ele ria da minha cara. – Brincadeira, .
- Não sei se é mesmo brincadeira, vi umas coisas bem suspeitas no seu quarto.
me deu língua como uma criança birrenta, me fazendo rir. Sua influência já era tanta em mim que ele me fazia rir! Pode uma coisa dessas? Talvez seja por isso –por sua influência- que meus olhos focalizaram-se em sua boca levemente rosada e aparentemente macia. Quais segredos sua língua poderia confidenciar a minha?
How many dinner dates
Set dinner plates
And he didn't even touch his food?
How many torn photographs
Are you tapin' back?
Tell me that…
A nostalgia trouxe-me um dia chuvoso, dele a dispensa da nossa casa estava vazia, então saí para comprar comida Chinesa para mim e para o Drew, meu plano inicial era um jantar romântico a dois. Algo em que eu pudesse me redimir por nossa última briga. Cheguei em casa chamando-o, mas ele não estava. Na época, dei de ombros, e aproveitei para arrumar o nosso jantar romântico. Eu havia comprado algumas rosas para pôr suas pétalas vermelhas espalhadas pela mesa, elas constatavam com perfeição a madeira opaca daquele móvel que fora dos pais do Drew. Eu também comprara algumas velas brancas para deixar bastante explicito o clima de reconciliação e paz. Não podíamos continuar com aquela história de “você ta sempre errada e eu sempre certo”, eu nem ligava mais se tava errada ou certa. A coisa mais preciosa para mim naquele momento eram os sentimentos esvoaçantes que nutria por aquele cara.
Ele chegou em casa, alheio ao que eu havia feito para nós. Tive de mostrá-lo.
Seu rosto não mudou um centímetro sequer, a expressão ainda era fria, e até impaciente, como se ele estivesse desperdiçando preciosos minutos da sua vida com a coisa mais banal do mundo. Essa coisa era eu. Mas não deixei que aquilo me abalasse. Puxei-o para que ele se sentasse comigo, ao meu lado. Drew deixou que seu corpo repousasse na cadeira do mesmo material que a mesa.
Servi seu prato atenciosamente, enquanto ele permanecia afundado em seu silencio mórbido. Nem seus olhos se indignaram a observar meus movimentos, Drew não se importava. Não ligava se eu estava servindo o prato dele de sua comida favorita, ainda sim era pouco para ele. Insignificante. Lembro-me o quanto aquelas palavras pareciam querer fixar-se em minha mente, sendo repetidas até que lágrimas caíram de meus olhos, outro ato que ele fazia questão de desprezar, ignorar. Minha dor não importava. Só fez com que ele sentisse nojo de compartilhar o mesmo ar que eu. Drew se levantou deixando-me sozinha na mesa, estática.
Esperei ele voltar, mas não voltou.
Fechei os olhos tentando ignorar aquela imagem que minha memória fez questão de resgatar ao que o cheiro da comida invadiu meu nariz. Memórias olfativas eram um saco.
Suspirei vendo colocar a comida em meu prato com um sorriso nos lábios, observei o seu rosto deixando que a paz que ele trazia ao meu ser, criar mais dimensão do que aquelas recordações. O passado nada poderia fazer agora com o presente, nem com o futuro, pois em sua presença os dois evaporavam, sumiam. Sorri sozinha, vendo a empolgação cintilar em seus olhos quando ele deu sua primeira garfada.
Antes que saiam espalhando por aí que estou apaixonada, tenho algo a dizer em minha defesa: ao que uma pessoa nos salva –até de nós mesmo- automaticamente ela se torna especial, mas se essa pessoa for incrivelmente companheira, divertida e desejosa, aí, pode considerar-se oficialmente perdida.
Estar perdida nunca me pareceu tão adequado.
me olhou enquanto sugava o macarrão com um biquinho.
- Hm... Não vai comer? – Perguntou ainda de boca cheia, ri dando oi para a comida.
- Acho que não estou com muita fome.
Sem dizer nada, ele pegou meu garfo, enrolou cuidadosamente um pouco de macarrão para erguê-lo até os meus lábios.
- Olha o aviãozinho... – disse, fazendo uma voz anasalada, enquanto tentava não rir. Eu nem tentei, deixei que o riso saísse sem nenhum pudor.
- Se não parar de me tratar como criança, vai se arrepender. – Falei, deixando que ele colocasse a comida na minha boca.
Minha ameaça não o convenceu, acho que elas não eram tão convictas quanto antes. Ele espetou alguns legumes com o meu garfo com a intenção de fazer aviãozinho de novo para mim. Rolei os olhos com um sorriso, e peguei o garfo para tirá-lo de suas mãos, mas assim que os meus dedos tocaram nos seus, não tive forças para tomar-lhe o garfo. Uma corrente elétrica pareceu fluir de seus dedos pelos meus. Nossos olhos se encontraram no mesmo momento, deixando claro que ele também havia sentido. Meus pensamentos se tornaram incoerentes, meus olhos não se decidiam entre os seus e sua boca. Era quase inconcebível não escolher os dois.
soltou o garfo, desconcertado, e voltou a atenção para sua comida. Olhei também para baixo, sentindo minhas bochechas chamuscarem. Não ficaria surpresa se agora elas estivessem levemente avermelhadas. Mexi timidamente em minha comida, enquanto o meu cérebro trabalhava a mil para tentar desfazer o clima tenso que se instalara clandestinamente entre nós. Dei-me conta de que não sabia nada sobre ele, apenas que ele era músico e que seu nome era .
- Faz muito tempo que você mora nesse loft? – Perguntei, como se nada tivesse acontecido, apenas para puxar conversa.
- Faz um ano e meio que moro aqui. – Respondeu, dando de ombros e colocando uma garfada na boca.
- Hm, aqui é legal.
- É, os caras da banda adoram vir aqui para jogar guitar hero. – Ele riu fracamente.
- Esse é o principal motivo para eles virem aqui. – Supus.
- Exatamente. – Fiquei feliz, porque agora seu riso parecia sair de forma mais espontânea, mandando embora todo o desconforto que ainda podia existir.
- E a sua namorada? – Não consegui conter a pergunta, mas pelo menos mantive minha voz neutra. – Ela não vai se irritar se me ver aqui?
se mexeu desconfortável na cadeira, tendo o cuidado de manter seus olhos em seu prato. Sua mão, repousada em cima da mesa se fechou em um punho, sobressaltando seus tendões, enquanto ele, provavelmente, sufocava uma reação mais enérgica.
-Não, ela... – Seu dar de ombros me pareceu calculado demais para ser despreocupado. – Não deu certo.
- Sinto muito... E-eu... Não sabia. – Debilmente gaguejei, constrangida por ter trazido novamente aquele clima tenso para cima de nós. Queria poder dar uns bons chutes em mim mesma. – Desculpa.
Acariciei levemente as costas de sua mão fechada em punho. Queria livrá-lo daquele desconforto que eu havia trazido. Com satisfação, percebi que sua mão foi relaxando aos poucos sob meu toque. Não era só ele que afastava as coisas ruins de mim, eu também conseguia realizar esta pequena proeza, e com sucesso.
- Desculpa mesmo. – Disse suavemente, esboçando um sorriso quando ele me fitou.
- Você não sabia.
- Mesmo assim, foi indelicadeza minha perguntar aquilo.
- Tudo bem. Mas você também não me falou do seu namorado.
- Não há o que falar. – Murmurei, suspirando no final. – Ele deixou claro que as coisas haviam mudado. – Uma risadinha de escárnio se desprendeu dos meus lábios enquanto as palavras dele voltaram a minha mente. – Mas quer saber? Para mim... Nada, nada mesmo, havia mudado.
Voltamos a comer, mas o silêncio já não reinava de forma desagradável. Falar no passado pareceu ter o efeito contrário, fez com que aquele momento permanecesse ameno, especial.
Did you see an open door?
But no more
If you let me inside of your world…
insistiu para que eu ficasse em seu quarto, tentei dissuadi-lo, mas ele estava me saindo um belo de um ditador. Argumentei dizendo que ele podia usar o banheiro, como faria se eu não estivesse aqui. hesitou, algo em sua expressão me lembrava cautela. Talvez pensasse que eu estava só sendo gentil em sugerir aquilo, e que na verdade estivera desde o primeiro momento, louca para ficar longe dele, mas ele não fazia a mínima idéia de como eu me sentia, de como a solidão –mesmo que por curtos intervalos de tempo- me aterrorizava.
No último mês eu fiquei vagando por aí, saí de Londres decidida a esquecer tudo, mas nada saíra como planejado. Noite por noite, dormi em uma cama vazia. O lugar frio ao meu lado, sempre me lembrava de como tudo havia acabado, de como cruel ele fora ao me mandar embora. “não quero te ver nunca mais”, “essa casa não é mais sua”, “você mudou, então eu também vou mudar”, a voz dele vivia repetindo em minha cabeça. Nas manhãs, o sol parecia só me acordar por obrigação, nem ele sentia-se bem a me ver. Tentei procurar emprego, mas desisti na primeira semana. Ainda me restava um dinheiro, e graças a ele tive um teto e comida, mas um dia o dinheiro acabou. Tive vergonha de mendigar aos meus avôs, eu podia perder tudo, menos o meu orgulho. Por fim pensei em dar um fim a minha existência patética, mas então me encontrou e eu não estava mais sozinha.
Por isso apresentei um argumento convincente, para que ele não me deixasse sozinha. não titubeou muito antes de assentir e separar sua roupa de dormir. Soltei um suspiro baixo quando a porta de madeira do banheiro bateu levemente. Para tentar me distrair, vaguei meus olhos pelo quarto. Os poucos móveis ali tinham sua sustentação de madeira, as paredes tinham uma cor neutra e havia uma moderada bagunça. Na poltrona que ficava ao lado da porta do banheiro, CDs de bandas –que eu desconhecia quais eram- se encontravam jogados de qualquer jeito, na parede leste havia uma porta de vidro que revelava uma pequena sacada. Ao lado da cama em que eu estava sentada, dois criados mudos mantinham guarda dos dois lados, e havia um closet na parede da esquerda.
Me encolhi, dobrando as pernas e as retendo em meu peito. Apesar de estar tão empenhado em me ajudar, senti-me um incômodo. Como um CD defeituoso, eu só conseguia tocar uma única música por mais arranhada e desafinada que ela estivesse. Era frustrante. Mas como arrancar aquele amor do meu peito sem arrancar um pedaço de mim também? Sem haver marcas... Ferimentos que provavelmente nunca viriam a ser curados. Tentei me enganar dizendo que talvez o tempo pudesse saturar aquelas feridas, era uma esperança vã.
Concentrei-me no abafado barulho do chuveiro, no som que a água fazia ao encontrar o seu corpo. Um corpo viril e definido. Minha pele se arrepiara automaticamente com a simples hipótese de minhas especulações serem verdadeiras, será que por debaixo da camisa de algodão, das calças largas e atitudes despreocupadas, se escondia um cara quente? Um cara confiável que não me enxotaria na manhã seguinte, ou pelo menos, eu achava que não o faria?
Porém como eu poderia conviver com isso? Sabendo que ao me envolver com outro homem, eu estaria traído meu coração. Afinal, o que poderia ser mais importante que isso? Que manter meu coração fiel àquele sentimento que, outrora, me fazia sorrir por nada, que me mantinha segura quando algo queria me ferir... Como? Simplesmente me esquecer de meus sentimentos só porque a pessoa, cujo eles foram endereçados, já não os correspondia? Colocando uma pedra permanente em cima do passado eu poderia resolver, de fato, todos os meus problemas? E por fim, será que eu seria capaz de usar a pessoa que me manteve viva e que parecia se importar mais comigo que qualquer outra?
Não, não para todas as perguntas. Eu não conseguiria. Era algo definitivamente fora de cogitação. Soava egoísta e mesquinho demais. Tudo bem continuar com a minha dor de cotovelo, mas envolver )? Magoá-lo mais do que já fora magoado? Mesmo que eu não tivesse nada haver com a primeira vez que aconteceu, será que isso justificaria uma segunda vez e consequentemente uma segunda ferida? Não seria justo, não depois de tudo o que ele fez por mim.
There'll be one less lonely girl
Saw so many pretty faces
Before I say you
Don't need these other pretty faces
Like I need you
‘Cause when you're mine
In the world…
O som do chuveiro cessou. Ainda sim, graças ao ininterrupto silêncio, eu conseguia ouvi-lo se secando. Me mexi inquieta na cama, meu corpo resistia de forma preocupante –com um certo pânico- a idéia de eu ficar sozinha por um longo período de tempo. Tentei frear os pequenos espasmos de medo que agitavam meu corpo insistentemente. Eu não podia me comportar como uma criança que tem medo do escuro. Chegava a ser ridículo e vergonhoso. Mas o medo é um sentimento agonizante para mim. Algo que me sufocava e me incapacitava de pensar racionalmente.
Esperei, pegando firmemente as rédeas de meus impulsos desenfreados que ameaçavam assumir o controle sobre os meus atos. Não, não seria eu a causadora de mais uma ferida em . Mesmo que isso me custasse uma noite de pânico silencioso. O mínimo que poderia fazer, seria sofrer sozinha. Sem dividir o peso com outra pessoa que não tinha nada a ver com o meu coração despedaçado, sem duplicar aquela dor. Ela era destinada a mim, e eu a colheria de bom grado se ela não afetasse também.
A porta rangeu ao ser aberta.
E lá estava , a luz atrás dele realçava os desenhos bem feitos de seu tronco, os traços retos e bem feitos de seu rosto. O pior foi ter extrema consciência de que eu só precisaria levantar e dar três passos para tocá-lo. Nós não precisaríamos de explicações depois, mas ainda havia aquela parte do meu coração, a parte altruísta e que reconhecia com veemência tudo o que ele fizera por mim, que sabia o quanto eu me arrependeria depois, por ter dado falsas esperanças para ele, por ter incentivado sentimentos mais profundos e que deixariam marcas permanentes. E estas marcas existiam, eu sabia disso por experiência própria.
Contudo, não consegui conter a pequena viagem que meus olhos fizeram por todo o seu físico. trajava apenas uma calça de tecido sintético, azul-escura – o elástico da boxer cinza e um pouco dela à mostra. Não julgava que de fato ele não perceberia, mesmo assim, quando a minha pequena “inspeção” parou em seu rosto seu sorriso malicioso me fez corar.
- Perdeu alguma coisa aqui, ? – Perguntou, claramente se divertindo ao ver-me corar mais quando uma de suas mãos gesticulou para o seu tronco nu.
- Eu? – Minha voz tremeu, soando fraca e constrangida. Obriguei-me a olhar para baixo, assim talvez, minha voz não falhasse. – Não. – Disse, tentando parecer indiferente.
Mas a quem eu estava querendo enganar?
Captei por minha visão periférica seus passos calculados, ciente de que eles estavam levando o seu corpo quente a cada vez mais perto do meu. Não foi surpresa nenhuma ver seus pés descalços e um pouco cobertos pelas bainhas da calça larga que ele vestia, mas devo dizer que fiquei surpresa quando seus dedos traçaram calmante a linha do meu queixo. Eu era fraca? Sim. Queria poder afastá-lo para o próprio bem dele? Claro! Mas quando fiz menção de levantar, suas mãos rapidamente se puseram em minha cintura. Movida por um ato reflexo, levei meu olhar ao seu cometendo o pior erro que poderia ser cometido naquela noite: eu cedi.
Não dava para controlar aquele desejo intenso, faminto por ele. Este mesmo desejo me paralisou, impedindo que eu me afastasse quando seu corpo passou a ficar perigosamente perto do meu. As íris azuis de seus olhos estavam cristalinas o bastante para que o desejo que ele também estava sentindo ficasse mais evidente. Com os dedos trêmulos, ergui minha mão para que assim, conseguisse entrelaçar algumas mechas de seu cabelo, senti a textura macia e natural dos fios , maravilhada, quando sua cabeça tombou um pouco para o lado. Sem minha permissão, meus olhos focaram-se em seus lábios úmidos e entreabertos, eles me incitavam a encurtar a diferença mínima que os separava dos meus.
Contudo, quem o fez foi, ele se curvou para mim capturando os meus lábios. Suspirei, para que fugir de algo inevitável?
Senti suas mãos quentes escorregarem, de minha cintura para o meu quadril, onde a barra da camisa que ele me dera para vestir estava, mas suas mãos desceram um pouco mais além, especificamente para as minhas coxas, as segurando firmemente.
Mais rápido que eu pudesse assimilar, estávamos deitados em sua cama.
There'll be one less lonely girl
one less lonely girl
I'm gonna put you first
I'll show you what you're worth
There'll be one less lonely girl
Por onde suas mãos passavam causavam uma devastação maior que o esperado.
- Não precisa sofrer por quem não merece, . – Seu sussurro em meu ouvido foi acompanhado por uma considerável rodada de arrepios.
Senti sua língua em contato direto com o lóbulo de minha orelha esquerda, mordiscando e dando leves sugadinhas. Chegava a ser uma tarefa impossível esconder dele o quanto aquilo estava me afetando, minha respiração me traía, sempre alta o bastante para que ele ouvisse. Finquei minhas unhas da mão direita em seu ombro rígido e as da esquerda em sua nuca, a fim de resgatar um pouco de autocontrole. Como se isso fosse o que eu realmente queria!
conseguiu me arrancar um fraco gemido ao que seus lábios desceram lentamente para a base de meu pescoço, torturando-me.
- E também não precisa morrer por alguém que não te quer. – Murmurou, subindo para o meu rosto. Seus olhos transmitiam a verdade naquelas palavras, o que só fez os meus se encherem das malditas lágrimas salgadas, as mesmas que eu julguei já estar livre. Ele sorriu carinhosamente para mim, roçando aqueles lábios deliciosos nos meus. – Abandone essas lágrimas, . Não há mais nada para chorar.
Sua boca se moldou a minha, iniciando um beijo que fez meus ossos parecerem gelatina por debaixo da minha pele. Talvez ele estivesse certo. Daqui em diante eu não precisaria mais chorar por quem não me queria por perto. Comecei uma pequena viagem tátil por seu peito definido, descendo aos poucos por seu abdômen plano, sentindo sua pele se arrepiar sobre os meus dedos. Aleluia, pensei que estivesse em desvantagem aqui, mas acho que não. Seus dentes prenderam o meu lábio inferior avidamente, enquanto eu levava aquela viagem mais a sério. Se iríamos mesmo continuar com aquilo, eu queria ter o prazer de ficar no comando por alguns minutos, então, astutamente, rolei para que o meu corpo ficasse em cima do seu, invertendo nossa inicial posição. O gemido que desprendeu de seus lábios foi o bastante para saber, que por aquilo, ele não esperava. Sorri maliciosamente, apertando de forma maldosa sua ereção já bastante evidente, gemeu novamente, fazendo uma cara cômica de sofrimento. Ri, gostando daquele som.
Só para torturá-lo mais, fui descendo bem devagar sua calça, levantando um pouco apenas para passá-la por debaixo de mim. me ajudou, chutando-a para longe. Soltei suas mãos de meu corpo as empurrando para ele, as impedindo antes que elas tentassem me puxar para colar nossos corpos. Fiquei de joelhos, me erguendo neles, meus dedos começaram a desabotoar vagarosamente os botões de sua camisa, que eu estava usando. Seus olhos ficaram presos aos movimentos de meus dedos, sua testa enrugada dava à sua expressão, o ar de tortura que eu tanto queria. Ao terminar com o último botão, deixei que passasse suas mãos para dentro dela, e a partir de meu ombro, a fizesse escorregar por meus braços. Corei levemente quando ele me observou de cima a baixo.
Aproximei-me um pouco mais acanhada que antes, havia levantado seu tronco, mantendo suas mãos em minha cintura, enquanto eu, por vontade própria e não porque ele poderia estar me puxando, envolvi sua cintura com as minhas pernas. Com carinho, passei os meus braços ao redor do seu pescoço, adorando quando um sorriso malicioso começou a se formar em seus lábios, os mesmo lábios que agora eu fitava com louvor.
Foi a minha vez de beijá-lo, e o fiz mostrando o quanto queria continuar beijando-o por toda a eternidade. Nós dois gememos baixinho quando nossas línguas começaram a travar uma épica batalha, com direito a explosões por todo o meu corpo, quase nu. Parecendo lembrar-se desse fato, os dedos de começaram a brincar com o elástico da minha calçinha. Olá arrepios, já estava sentindo a falta de vocês, hein?! Ri baixinho sobre seus lábios quando percebi que ele estava tendo dificuldade em terminar de me despir. Ouvi soltar um resmungo.
- Vamos facilitar a vida um do outro ok? – Perguntou sussurrando.
Entendo o que ele queria dizer com aquilo, me afastei para que eu mesma terminasse o trabalho dele. Escorreguei para a beira da cama, a fim de tirar com mais facilidade a única peça de roupa em mim que restava. Enquanto o fazia, senti a luta de sobre a cama contra sua boxer. O riso foi difícil demais de abafar!
- Hey... – De repente, sua voz estava perto demais do meu ouvido, me fazendo engolir em seco. – Não acho que haja muita graça nisso aqui, sabia?
Percebi que ele estava passando as pernas de cada lado da minha coxa, gemi um pouco alto quando sua ereção nua entrou em contato com a base de minha coluna vertebral. Por um momento o seu toque me distraiu, era tão carinhoso e ainda sim firme, habilidoso. Não havia desprezo quando seus lábios beijaram minha bochecha, nem quando suas mãos desceram novamente desenhando o meu quadril. Ele estava mesmo se envolvendo, e se eu fosse de fato uma pessoa digna, me afastaria de seu corpo quente e pediria para que me deixasse sozinha, assim como deveria ser. Senti seus dedos escorregarem cautelosamente pelas dobras de minhas pernas. Segurei a respiração agarrando com força os seus cabelos – pelo menos a parte que conseguia alcançar, por estar de costas para ele. Meu coração - já bem exercitado pela maratona de emoções de nosso curto amasso há alguns segundo atrás -, estava de novo correndo e batendo rápido o bastante para que se fizesse ouvi-lo. Este era um dos sons que impregnava meus ouvidos, os outros eram em sua maioria providos de e sua respiração pesada. Mordi meu lábio inferior para não gritar quando senti-lo me tocar intimamente. Com movimentos precisos e muito bem executados exauriu meu último sopro de sanidade daquele momento, colocando no lugar, um prazer viciante. Rebolei meu quadril estando ciente que estava roçando em seu membro, especialmente por causa de seus gemidos luxuriantes. Minha pele ardia como se estivesse encharcada de álcool e que simplesmente haviam tocado fogo nela, eu sabia de onde essas chamas vinham, e estava agradecida quando meu corpo relaxou, estremecendo pela sensação abruptamente entorpecedora.
I can fix up your broken heart
I can give you a brand new start
I can make you believe
I just wanna set one girl
Virei-me para encontrar seu olhar livre de tristezas e de conflitos.
- Viva um dia de cada vez. – Disse simplesmente, como se pudesse saber exatamente que conflitos me assolavam. – E espero poder viver alguns deles com você.
Neguei com a cabeça, aquele olhar intenso não podia ser para mim. Sua boca não poderia estar dando aquele sorriso lindo para mim. Antes que eu pudesse dizer algo, seus lábios se interpuseram.
- Chega de palavras. – Suspirou , encostando a testa franzida na minha. – Estou cansado de buscá-las para te fazer entender do meu ponto de vista. Hoje é hoje, . O amanhã pode esperar mais um pouco.
E, decididamente, teria que esperar. Porque eu agora também sorria, cheia de más intenções.
Massageei levemente sua nuca, dando beijinhos curtos em seus lábios. Ajeitei-me na cama, para que pudesse ficar de joelhos de novo, apenas buscando apoio para começar a pôr em pratica os meus planos maléficos. Iniciei uma serie de mordidas fervorosas em seus lábios – hora no de cima e outras no de baixo-, enquanto lentamente minhas unhas passavam na horizontal por todo o seu tronco nu, abençoado por músculos suculentos e quando eu chegava à baixo de seu umbigo, fazia o caminho contrário, de volta para o seu peito. O corpo dele se enrijeceu sob a ação de minhas torturas.
Coitado, mal sabia ele o que minha mente consegue arquitetar quando opera de acordo com a força das trevas.
Meus lábios já não mais satisfeitos por só estarem interagindo com os seus, foram para o seu pescoço, lambendo, mordendo e sugando aquela região. Percebi seu corpo se inclinar um pouco para trás, recorrendo ao apoio de seus braços. Sorri mordiscando seu lóbulo, eu se fosse ele, não teria feito aquilo.
Dessa vez minhas unhas desceram bem mais do que antes, finquei-as na base de seu membro, com mínimo de força exigido. não aguentou, jogando a cabeça para trás e grunhindo por entre os dentes cerrados. Não dei chance para que ele se recompusesse, envolvendo seu amiginho em minha mão e iniciando uma massagem bem mais intensa do que a que eu havia dado em sua nuca. Observei enquanto o seu rosto assumia uma fisionomia prazerosa. Mordisquei o bico de seu peito arrancando um ofegar sofrido dele, ri de sua desgraça que, na minha opinião, nem era tão grave assim. Inclinei-me para passar minha língua por seu abdômen, sentindo toda aquela área retesada, um de seus grunhidos falhou. Sem fazer mais cerimônia, levei meus lábios até a glande do little – que não era tão little assim - para sugá-la intensamente. Reparei que seus grunhidos foram substituídos por gemidos altos e bem mais lisonjeiros. Mordisquei aquele lugar também, não resistindo ao pensamento de fazê-lo sofrer mais um pouquinho. E eu, que há minutos atrás estava tentando fazer de tudo para poupá-lo de qualquer sofrimento...!
Abocanhei todo o seu membro sem aviso prévio, indo o mais fundo que consegui. urrou de contentamento. Não comecei devagar, eu já estava mais que cansada das preliminares, meus movimentos eram rápidos, esbanjando profissionalismo. O que eu poderia dizer em minha defesa? A prática leva a perfeição? E a humildade é uma das poucas coisas que pensamos em momentos como aquele?
Voltei a massagear seu membro, só na base dele, mas o bastante para arrancar mais alguns gemidos altos de . Dava para perceber que ele já estava chegando ao seu limite, especialmente quando ouvi a gaveta do seu criado mudo –o que estava, naturalmente, ao seu alcance- e quando o som cortante de algo plástico sendo rasgado ecoou. A sua mão encontrou a minha nuca, puxando-me urgentemente para cima. E de novo, antes que eu pudesse assimilar o que ele estava fazendo, me encontrei debaixo de seu corpo viril.
Free to fall
She's free to fall, fall in love.
With me, my hearts locked
And nowhere that I got the key
I'll take her and leave the world
With one less lonely girl
Não consegui segurar o gemido alto e constrangedor que dei em sequência. Senti-lo dentro de mim, quando eu menos esperava, me pegou de guarda baixa. Agarrei com força os seus ombros, fincando automaticamente minhas unhas ali com força. O que eu senti, ao estar diretamente conectada com ele, não havia definição. Não havia uma palavra que se encaixasse àquele contexto. Só havia aquele furacão de sensações em mim, eu me sentia inteiramente viva em seus braços: meu sangue disparando e distribuindo-se por todo o meu corpo, minha respiração entrecortada em seu ouvido, a pulsação acelerada do meu coração... A vida gritando de todas as formas possíveis em mim.
Nunca achei realmente que pudesse me fazer mudar de idéia. Era absurdo de mais cogitar uma existência tão patética quanto a minha.
No entanto, aqui estou eu, movendo-me de acordo com o seu corpo e os meus desejos, vivendo.
Encostei os meus lábios nos seus, sussurrando baixinho o seu nome a cada investida forte que ele dava em mim. Cada milésimo do meu corpo parecia estar queimando novamente, e não era só por fora, eu estava em chamas por dentro também. Segurei trêmula, sua nuca, tentando manter o seu rosto ali, há só alguns centímetros do meu. Sua bela face se encontrava inteiramente mergulhada em prazer e satisfação, causando-me arrepios. Fechei os meus olhos, absorvendo cada toque, cada estocada profunda vinda dele. Como se não houvesse um amanhã, como se não houvesse dor ou mágoa em mim. me ocupava por inteira, extraindo de mim tudo o que já lhe era destinado, desde o primeiro toque, agora eu sabia disso.
Suas mãos não estavam mais em minha cintura, uma estava fortemente fechada em minha coxa enquanto a outra se encarregava de bagunçar levemente o meu cabelo. Mas seus gemidos e grunhidos continuaram consistentes, bastante altivos em meu ouvido. Tentei beijá-lo para abafar os gemidos que arrancava de mim avidamente, não é necessário dizer que não obtive sucesso, não é?
Até que abruptamente nossos corpos úmidos relaxaram. Entorpecidos pela grande explosão de prazer que tivemos. se deixou cair ao meu lado, sua mão esquerda ainda em minha coxa, acariciando vagamente o local.
Quando o oxigênio que eu puxava para os meus pulmões começou a fazer efeito, a amarga culpa se apossou de mim. Como eu pudera fazer aquilo? Como pude ter cedido? Como agora eu encararia ? Minha garganta se fechou, as lágrimas se formando em meus globos oculares. O que eu havia feito?
Senti seu braço passar por de baixo da minha cintura, envolvendo-a carinhosamente.
- Vem cá. – Murmurou, puxando-me para mais perto, ele me abraçou, suspirando.
Não disse nada, nem me afastei. Minhas lágrimas não ganharam fundamento, e minha garganta foi facilmente obstruída por seus toques afáveis. Me aninhei em seus braços fortes, como se aquilo fosse realmente o certo a se fazer. A culpa acabou perdendo o seu posto para a calma que me envolveu ao que seu cheiro deliciosamente natural adentrou meu nariz. Deixei que o meu rosto se encaixasse com perfeição na curva de seu pescoço, e aproveitei para depositar um beijinho ali.
Acabei caindo em um sono profundo, nos braços do meu querido porto seguro.
There's gonna be one less lonely girl
One Less Lonely Girl...
Nota da autora: Hey apples *0* primeira shortfic, que emoção! É quase como um sonho realizado, acreditem. Acreditam que essa foi a primeira cena de sexo que escrevi? Nem eu. (espero que os meus pais nunca a leiam). Ela tem um significado muito lindo e ela é igualmente linda e especial para mim. É a historia que eu sempre quis escrever.
Fui convidada a fazer uma entrevista para o blog de uma amiga minha, nessa entrevista tem curiosidades legais sobre a fiction, para quem gostou e peço que vocês comentem lá também para deixar a minha amiga feliz kkkkkkk. http://nobodyneedstoknows.blogspot.com/
Agora chegou a hora dos agradecimentos não é? Muito obrigado primeiramente a minha McFamily, Alice, Lu, Joka e Dynee, amo vocês e agradeço pelo imenso apoio que me deram enquanto eu escrevia. Obrigada Mary’ann sem ela eu não teria postado o que vocês acabaram de ler em lugar algum, valeu pelo apoio. Também quero agradecer a alguém bastante especial, Anna Luiza, você mesmo mocinha, apesar de ter pensado que não fui eu a verdadeira autora dessa fiction, kkkkkkkkk.
Quero fazer uma dedicatória as musicas Silence is a scary sound e Falling In Love do McFLY, sem elas não haveriam cenas de sexo tão hots.
Ah, falando em musicas, quero deixar claro: essa fiction não é uma dedicatória a Justin Bieber, e nunca será. Ela só tem esse nome porque a musica em si, é belíssima e significa muito para mim.
Xoxo
Fá Judd.
N/B (Ana): Ai ai, nessas horas eu sinto um orgulho das minhas autoras, sabe? *lixa*
Depois de dar umas boas palmadas na Fá por que ela ter demorado um milhão de anos pra escrever a One Less Lonely Girl, eu vou enchê-la de beijos por ter sido o melhor trabalho dela! Como ela mesmo disse, um raio gigante caiu na cabeça dela e ela virou uma escritora nata! Hehe
=) Beijinhos
n/b (Nina): Se encontrar algum erro, favor enviar para ninapignatari@gmail.com