O Que a Trouxe Aqui
- Obrigada por me trazer, eu te vejo amanhã? – perguntou a Adam, com quem havia tido um encontro naquela noite.
- Claro. – O homem disse (com malícia devo acrescentar).
Então ela saiu do carro e se dirigiu à porta da pensão onde moraria por uns dias até que recebesse seu primeiro salário naquele novo emprego em uma lanchonete, aonde ela trabalhava durante o dia como garçonete. Antes de entrar, ela se virou a tempo de ver o carro virar a rua e desaparecer de seu campo de visão. Ser difícil no primeiro encontro sempre lhe garantiria um segundo. Depois de tantos encontros, ela havia aprendido isso.
A mulher então entrou no lugar, tudo estava escuro e não havia ninguém. Ela apenas ela pegou duas chaves arrumadas cuidadosamente em um balcão. Com uma ela traçaria a porta de entrada, o que havia sido pedido pela dona da pensão, que tinha uma idéia sobre quem seria a ultima pessoa a chegar. A outra chave era a de seu quarto, e foi para lá que ela se dirigiu.
Ao entrar naquele pequeno cômodo, ela ascendeu a luz e ficou-o encarando por um momento. Ela definitivamente não via a hora de sair dali. Havia apenas um pequeno fogão, uma geladeira, uma mesa e uma cama. Suas roupas estavam espalhadas pelo quarto e não havia qualquer tipo de decoração. Ela se dirigiu ao banheiro e encarou seu reflexo no espelho. A maquiagem pesada e o vestido preto e justo a deixavam com uma aparência indecente. Ela havia mudado muito com o tempo.
Então se lembrou de algo. Saiu do banheiro e foi até a sua cama, aonde se sentou. Depois de tirar os sapatos, ela dirigiu sua atenção a um relógio que estava no chão, ao lado da cama. Ele marcava 00h32min, já era seu aniversário. Não era a primeira vez em que ela olhava para o relógio em seu aniversario e via aqueles números.
vinte e nove anos ela havia completado, já havia chegado à hora de ter uma vida digna. Quase havia chegado lá anos antes.
Ela se abaixou ao lado da cama e tateou chão embaixo dela à procura de algo. Encontrou uma pequena caixa azul e ao voltar a se sentar na cama, abriu-a. Ali dentro ela encontrou, dentre outras coisas, uma foto. Foto esta, em que ela sorria, como há muito não fazia. Ao seu lado, havia um garoto. Na verdade um homem, mas para ela, ele sempre havia sido um garoto; o seu garoto.
Um barulho fez com que acordasse. Ela estava desorientada, procurando o objeto responsável pelo som. Depois de se concentrar e chegar à conclusão de que o barulho vinha do celular, ela acendeu o abajur ao lado de sua cama e antes de atender a ligação, olhou o relógio que ficava perto do abajur. 00h32min era o que o relógio marcava. Ela não precisou conferir pra saber quem estava ligando.
- , aconteceu alguma coisa? – perguntou ela, tentando achar o motivo daquela ligação àquela hora.
- Feliz aniversário! Você agora é uma mulher de 22 anos. – disse , ignorando a pergunta de . Ele tinha uma voz consideravelmente mais acessa e feliz que a dela.
- Obrigada, mas aconteceu alguma coisa? – ela insistiu na pergunta.
- Não.
- Então você me ligou só pra me desejar feliz aniversário? – perguntou ela, ainda não compreendendo.
- Eu só queria ser o primeiro a fazer isso. – ele disse, parecendo desapontado.
- Ah, isso foi bem legal, obrigada, – ela disse. – mas agora eu preciso dormir.
- Tudo bem, boa noite, meu anjo, eu te vejo amanha! – ele disse, voltando a mostrar certa alegria na voz.
Antes de se deitar, pensou e achou que havia sido um tanto rude com , mas logo esse pensamento se foi e ela já havia voltado a dormir.
Pensar em lhe fazia se sentir arrependida, culpada e deprimida. Ele sempre havia sido uma boa pessoa, desde quando se conheceram, quando ambos tinham 17 anos, no último ano da escola. Sempre havia sido tímido e acanhado, não era do tipo que falava com todos, e havia sido a única pessoa a lhe estender a mão naquele lugar. Talvez essa tenha sido a única coisa legal feita por ela a ele.
não tinha uma grande família. Morava com seu tio, mas este faleceu e foi depois de sua morte que ficou sabendo sobre os problemas psicológicos de . Ele havia entrado em uma forte depressão aos 16 anos depois da morte de seus pais. A doença havia sido controlada depois de um tratamento, mas depois da morte de seu tio, ele havia tentado se matar, o que o levou a um tratamento. Essa foi uma época difícil para e também para , pois o namoro dos dois estava começando a se fortalecer. Ele havia dito a ela uma vez que o único motivo para que ele continuasse vivo era porque ela estava lá, ao lado dele.
novamente pegou a caixa e segurou um pequeno pingente de cristal em forma de estrela.
A campainha tocava e , que estava na cozinha, foi atendê-la. Ao abri-la, encontrou um sorridente. Ela muitas vezes ficava incomodada com por ele parecer ter uma obsessão por ela.
- Mais uma vez feliz aniversário! – ele disse alegre. Então entrou no apartamento da garota e a beijou delicadamente.
- Obrigada. – ela disse.
- Desculpe-me por ter ligado àquela hora, eu não achei que fosse ter algum problema. – ele dizia e a arrastou até a sala. – Sente-se, eu preciso te dar uma coisa. – E então, ela se sentou sem contestar.
De dentro do bolso traseiro da calça, ele tirou uma pequena caixinha. Então se sentou ao lado de e a entregou o que estava em suas mãos.
Ela segurou a caixinha, abriu-a e antes de olhar o que havia nela, olhou dos olhos daquele à sua frente e eles pareciam brilhar.
Uma pequena corrente de ouro branco estava ali e nela, um pequeno pingente de cristal em forma de estrela.
- Mas... Isso é lindo! – disse ela sendo sincera. Era realmente lindo.
- Gostou mesmo? – ele perguntou e ela apenas concordou com a cabeça. – Então me deixe colocar isso em você.
Então ela se virou de costas para ele que retirou com cuidado os cabelos dela do pescoço e colocou o que havia sido seu presente de aniversário a ela.
Quando ela se virou, ele a encarou por alguns instantes e a beijou novamente.
- Eu preciso ir agora. – disse ele depois de alguns minutos. – Posso te levar pra jantar hoje? – Perguntou.
- Claro, pegue-me às 20:00. – disse. Ele se levantou e ela fez o mesmo.
- Eu te amo. – disse , dando um rápido selinho em .
- Eu te amo também. – ela disse com a voz fraca.
E então ele se foi e ela se jogou no sofá. Ela podia ver que a amava, de verdade, mas será que aquele “Eu te amo também” havia sido verdadeiro? Ela não sabia, ela não sabia se amava tanto quanto ele a amava. Ele faria tudo por ela, mas ela faria tudo por ele? Ela não sabia. Talvez não fosse justo para ambas as partes.
Tão estúpida ela havia sido. Foi o que pensou enquanto estava ali, sentada na cama e encarando aquele pingente que estava em suas mãos.
Um mês havia se passado desde o aniversário de ,e as coisas com pareciam estar mais sérias que nunca. A cada dia, ela pensava mais sobre a situação e sobre o que iria fazer.
- Acordou faz tempo? – perguntou a que estava em sua cozinha preparando algo para o café da manhã. Ele havia passado a noite ali.
- Não muito. – ele disse.
Ela então virou de costas para ele, não conseguia encará-lo. Soltou um suspiro.
- Precisamos conversar. – ela disse, fechando os olhos.
- Sobre o quê? – disse , abraçando-a por trás.
- Eu não sei como dizer isso. – ela disse, desvencilhando-se dos braços dele.
- Você pode me dizer qualquer coisa. – ele disse com uma voz já preocupada.
- Eu... Eu não acho que devamos continuar com isso. – ela disse de uma vez.
- Como assim? Eu não estou entendendo. – disse ele ainda mais preocupado, aproximando-se da garota.
- Eu não posso mais continuar com isso, eu não te amo como você me ama, não devia ter deixado que isso durasse tanto tempo. – aquilo havia sido como um choque e lágrimas escorriam por seu rosto. Havia sido mais difícil do que ela imaginava.
- Não! Por que você está dizendo isso? Eu fiz alguma coisa? – ele estava desesperado.
- Você não fez nada, você sempre foi muito bom comigo. – ela disse sendo sincera. – Mas vai chegar o dia em que você vai querer um compromisso mais sério e eu não vou querer o mesmo.
- Não, eu não quero nada mais sério, eu sou feliz assim, só não me deixe... – disse ele a abraçando. – Eu te amo. – ela havia se soltado do abraço.
Aquelas palavras foram duras de ouvir.
Ela então levantou suas mãos e abriu o fecho de sua corrente. Ela a tirou de seu pescoço, pegou a mão do garoto a sua frente e a colocou lá.
- Desculpe-me.
já chorava descontroladamente. Então ele ficou parado apenas olhando o que estava em sua mão. Os olhos estavam mais tristes do que jamais havia visto.
- Não se preocupe, eu não vou mais te perturbar. – então ele apenas se foi. Saiu pela porta do apartamento sem ao menos pegar suas coisas.
Ela ainda chorava agora sentada no chão frio da cozinha. Então viu que algo brilhava no chão, não muito distante dela.
O pingente estava ali. deveria ter deixado cair. Havia sido proposital ou não? Ela se perguntou, mas nunca chegaria a saber.
Ela fechou a caixa depois de colocar a foto e o pingente em seus lugares. Lágrimas escorriam por seu rosto. Lembrar daquilo não fazia bem a ela. Arrependia-se amargamente de ter dito aquelas palavras a . Ele era o homem que a amava. a amava de verdade e ela não conseguiu ver. Mas ela o amava também? Sim, ela amava, mas só descobriu isso mais tarde. Se não tivesse tomado a decisão errada, ela não estaria ali, sem um trabalho digno, saindo com homens que não a valorizava ou tendo uma vida sem felicidade. Talvez ela mesma tenha sido fraca? Mas quem conseguiria ser forte?
Depois de tirar aquela roupa e aquela maquiagem, ela se deitou em sua cama, pois precisava dormir. Teria que acordar cedo, pois seria sábado e aos sábados, ela tinha uma coisa a fazer antes de ir para o trabalho.
- Anda tendo muito trabalho por aqui? – Perguntava Gerald ao seu velho amigo Leonard.
- As coisas andam mais tranqüilas. – disse Leonard que era vigia de um cemitério.
Então os dois começaram uma conversa sobre a antiga malandragem que costumava existir no cemitério. A conversa só foi interrompida por Leonard que cumprimentara uma mulher que havia entrado do lugar e se dirigia para a parte leste.
- Conhece? – perguntou Gerald quando ela já estava distante.
- Sim, ela vem aqui praticamente toda semana.
- Visitar algum parente morto?
- Não, ele era namorado dela, morreu há um bom tempo; sete anos se não me engano. – disse Leonard com um olhar vago. – Não se lembra da história de um suicídio em que o corpo só foi encontrado cinco dias depois? – Leonard havia voltado a atenção para o amigo.
- Lembro-me vagamente. – Gerald tentava se lembrar.
- Dizem que o motivo para que ele tenha se matado seja ela, e ela se sente bastante mal com isso. Às vezes, ela vem e conversa comigo. Não consegue mais seguir em frente, é como se a vida dela estivesse acabada. – disse Leonard.
- Uma mulher tão nova.
- É.
E então eles voltaram ao assunto da malandragem.
- Eu achei aquela caixa nessa madrugada, aquela em que eu guardo suas coisas. – dizia para o nada ao lado da sepultura aonde se podia ler o nome “ ”.
Quem visse aquela cena, pensaria que ela era louca, mas para ela, aquela era a maneira de estar próxima de . Ele poderia não estar ali com ela, mas de certa forma, ela se sentia bem fazendo aquilo.
- Eu me senti mal me lembrando de tudo aquilo... – continuou ela.
Então aquilo durou por alguns minutos e ela voltou a caminhar em direção àentrada do cemitério. Ela precisava trabalhar, mas voltaria no próximo sábado.
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