She’s Gone

Por: Ana Medina | beta reader: Anna Luiza Schmidt


Com a cabeça voando em pensamentos sobre a noite passada, acordei sem conseguir sentir meus braços, amassados pela minha estranha posição no sofá. Vestia somente uma boxer branca e o frio congelava toda e cada parte de meu corpo. Não que importasse. Abri os olhos que doíam junto da pressão na cabeça, e, para minha felicidade, estava sozinho em meu apartamento. A cortina voava com o vento forte que vinha da rua. Londres. Talvez eu realmente não gostasse de estar sozinho ou no meu apartamento, mas estar com uma vadia qualquer e em meu apartamento desconhecido, seria pior. O que eu mais almejava era estar com em sua cama quente, no apartamento com cheiro das suas plantinhas de menta, o que eu sabia ser impossível. Não, eu não tenho um amor platônico. E não, eu não quero uma pessoa que não existe! Mas minha amada, aquela que eu mais amei em toda vida... Ela me deixou.
Levantei com muito esforço e me arrastei até a cozinha. Abri a geladeira vazia, já que tudo que eu comprava levava para o apartamento de Sophie, onde eu passava a maior parte do tempo. Peguei a água e um copo no armário, o qual deixei aberto. Olhei para aquela coisa transparente e vazia de qualquer sentimento chamada água, e joguei na pia. Olhei para aquela coisa dourada e cheia de drama e tristeza chamada uísque, e bebi meia garrafa no gargalo em questão de segundos. De fato era um forte uísque. Senti o corpo falhar assim como há horas quando ela partiu e eu tomei mais vodca do que agüentava naquela festa. Alcoólico ridículo. Não podia deixar que ela estragasse com minha vida, pelo menos não com minha saúde e sanidade. Puxei o corpo até o banheiro, tirei a boxer e entrei de baixo da água fria do chuveiro velho. Eu também nunca me importei em trocá-lo, tomava banho sempre na casa dela. Fiquei ali por incontáveis minutos, até começar a sentir frio. Desliguei o chuveiro com pressa e procurei, em vão, uma toalha limpa. Todas estavam atiradas, porque eu também não me preocupava com a limpeza daquele apartamento, só com o dela. Deixei que o vento que vinha da janela do quarto, também aberta, me secasse enquanto escolhia entre as três camisas e duas calças que ainda tinham naquele armário. Precisa dizer que as outras estavam no apartamento dela? Uma camisa xadrez, uma calça jeans surrada e um all star branco, básico. Peguei as chaves atiradas na mesinha central e desci as escadas barulhentas do prédio com cheiro de umidade. Bem, se eu quase não passava tempo lá, pra que um prédio luxuoso? Na rua estava muito frio, mas não senti necessidade de um casaco ao entrar no carro com ar-condicionado. Crianças brincando, mães brigando com seus filhos ou mendigos, grande coisa. Mas ver casais felizes era insuportável para meus olhos, e parecia que, justo hoje, eles estavam espalhados pelas ruas que eu passava. Dirigi o mais rápido possível e quase atropelei dois adolescentes ao torno dos 14 anos de mãos dadas, que me olharam feio e riram. Que doce manhã de domingo.
Estacionei em um lugar vazio. O cheiro de eucalipto e o som harmonioso dos pássaros me traziam ótimas lembranças, o nosso esconderijo, nosso refúgio nas horas ruins. Não existia mais “nós”, mas eu ainda queria o meu refúgio. Sentei na grama molhada, pouco me importando que saísse de lá com a bunda molhada também. Aquele talvez fosse o único local de Londres que não lembrasse castelos e reinos, ou chuva e neblina. Lembrava vida, cores e sons agradáveis, lembrava o nosso amor. Horas. Passaram-se horas e já era tarde. Eu podia sentir o cheiro da chuva vindo com o pôr do sol. Respirei fundo e segurar as lágrimas de saudades e absoluta certeza de que ela não voltaria, era impossível. Funguei e apoiei a cabeça entre os joelhos. Voei para o dia em que disse que a amava. Seus olhos grandes e azuis encheram-se de lágrimas grossas, e eu senti sua mão quente tocar meu ombro. Enxugou as lágrimas e me olhou prudente dizendo: “Essas palavras são sérias meu amor, tem certeza disso?” Eu sabia que na realidade ela queria pular em meu pescoço e dizer “Eu te amo” milhares de vezes e depois disso me beijar e começar com um dos seus ataques de riso. Fiz feição pensativa e ela riu. Repeti. “Eu te amo, ” Senti sua mão quente em meu ombro novamente. Não, na realidade essa era a parte que ela me beijava. Fui trazido de volta pra vida real e me surpreendi com os mesmos olhos azuis molhados e a mesma mão quente e pequena em meu ombro. Desta vez, na realidade e não em meus pensamentos. Minha cara de surpreso foi certamente muito estranha, já que ela soltou um riso abafado. Sentou-se ao meu lado. Usava uma calça jeans, botas sem salto, um casaco verde escuro e cachecol vermelho. Parecia uma árvore de natal, como eu costumava dizer para aborrecê-la. Deitou a cabeça em meu ombro e eu ousei acariciar seus cabelos. Ela sorriu. O sorriso mais doce. Levantou a cabeça e olhou profundamente em meus olhos. Não sei e nunca vou saber dizer quanto tempo me perdi naqueles olhos. Mas sei como me encontrei. Seus lábios quentes tocaram os meus frios pela noite caindo. Meu corpo inteiro arrepiou. A sensação que nunca imaginei que sentiria novamente. Entreguei-me de corpo e alma ao momento e deixei que caíssemos completamente na grama úmida da geada que já caía com o sol. Senti uma gota na bochecha e afastei-me.
-Não chora
-Mas eu não to chorando bobão! – Sua voz caçoando de mim soou muito bem aos meus ouvidos, mas não tive tempo de falar nada mais. começou a rir da chuva que despencou sobre nós. Era uma chuva de fim de dia, muito comum em territórios tropicais, não em Londres. Mas tudo era possível em nosso esconderijo. Todo e qualquer milagre. Afinal, ela estava novamente comigo, não é? Minha risada espontânea envolveu-se com a histérica dela. Levantei-me e a dei a mão, cortejando-a como faziam antigamente para uma dança formal. Como dois péssimos dançarinos, nossa valsa transformou-se em uma bagunça cheia de lama, água e beijos. Muitos beijos. Abracei seu corpo leve o maior tempo que podia até ela começar a falar ou rir novamente. Respirei fundo seu perfume. Acariciei seus cabelos. Toquei levemente o dedo em seus lábios. Sorri e a beijei. Ela era minha novamente. Iríamos voltar para nossa vida feliz juntos. Voltar pro “nós”.

Nota da autora: Primeiro de tudo, leiam essa merda aqui [aa] rs Essa fic começou numa tarde que eu e a Julia Moura estávamos ouvindo Room on the 3d Floor e a cada música a gente descrevia um cenário que lembrava G_G Em She Left Me eu comecei a descrever esse draminha de segunda e TOTALMENTE SEM NEXO que vocês acabaram de ler :s Eu sei que ta uma bostinha *sai correndo * @_@ Mas eu queria uma experiência aqui no Obsession e achei que uma short era a melhor maneira (beeeem short por acaso né ç-ç) E a Julia até que gostou, hunf! Então, gostem também –NNNNNN Ok, agora vocês podem ir porque acho que não tem mais nada pra falar g.g Beijos e comentemmmm :) OBRIGADA, hehe

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