Silence Of The City
Escrita
por: #Nanna
A visão na frente do casal era linda... O sol nascia por cima do mar, trazendo uma luz alaranjada, expulsando a negridão do céu. O casal estava sentado em uma toalha, apreciando a cena do nascer do dia. Ele sentado atrás dela, a encaixando em seu corpo, encostando as costas dela em sua barriga. Apoiando o queixo no ombro dela, ele percebeu que era ela, a única que ele queria, agora e para sempre.
'Casa comigo?' - Pediu ele em um sussurro. Ela o olhou, um tanto assustada, surpresa.
'Ca-caso.' - Eles se amavam, era óbvio. Um amor que muitos procuravam, mas apenas os mais sortudos e persistentes conseguiam achar, era puro, verdadeiro, era real.
Ele não tinha anel, não tinha nada, então apenas entrelaçou seus dedos nos dela e procurou os lábios dela com os seus, e ao achá-los, deu-se inicio a um beijo apaixonado.
(...)
'Amor, eu vou ter que viajar pelo fim de semana.' - Avisou ele após dar um gole em seu café.
'Ah, você pega o vôo amanhã?' - Perguntou ela manhosa.
'Eu vou amanhã e volto na Segunda.' - Respondeu ele se levantando da cadeira e pegando sua pasta.
'Ta. Quando você voltar vai ter uma surpresa.' - Avisou ela ajeitando a gola da blusa dele.
'Você vai estar amarrada da na cama?' - Perguntou ele esperançoso.
'Naah, outra surpresa. Agora vai, você ta atrasado.' - Ela o deu um rápido beijo e o viu ir embora porta a fora.
Era sexta, então seu trabalho começava mais tarde. Aproveitou para tomar um longo banho quente e um reforçado café da manhã. Saiu de casa sem pressa e chegou em seu local de trabalho na exata hora que seu turno começava.
Sem grandes novidades no decorrer do dia, ela voltou para casa. Ele ainda não havia chegado, o que era esperado. Esquentou o jantar, comeu e depois subiu para seu quarto. Abriu o lado dele do armário e começou a retirar as roupas, as dobrar e por dentro da mala. O vôo de seu noivo era logo de manhã, e se ela bem o conhecia, a mala arrumada para ele, seria as roupas enroladas e jogadas dentro da mesma.
Terminou de arrumar as roupas dele e jogou na cama, cansada e acabou pegando no sono.
Ele chegou em casa exausto, não era tão tarde, mas ele julgou que sua pequena estivesse dormindo. Provou sua teoria ao vê-la deitada, dormindo tranqüilamente na cama. Ele sorriu e deitou ao lado dela, apoiando a cabeça dela em seu peitoral, a abraçando. Deu um beijo no topo da cabeça dela e acabou dormindo.
Na manhã seguinte, ele acordou, com ela em seus braços. Sorriu e se levantou, com cuidado para não acordá-la. Tomou um banho, pôs sua roupa e ela ainda dormia. Escreveu um bilhete, pôs em cima do travesseiro, beijou a testa dela, pegou sua mala e saiu de casa.
Poucas horas depois, ela acordou. Achou um bilhete no travesseiro e o leu:
“Amor,
Você estava dormindo e eu não quis te acordar. Estou indo para o aeroporto, meu vôo é para Nova York. Assim que eu chegar, te ligo.
Te amo muito. 11.09.001”
Ela sorriu. Olhou no relógio... Eram onze da manhã. Levantou-se, tomou um banho quente e pôs seu roupão. Era o que ela gostava de fazer aos Sábados, ficar em casa com seu roupão, vendo TV.
Chegando perto da hora do almoço ela comeu. Ela não sabia por que, mas depois do almoço começou a pensar em seu noivo. Pensar demais, mas seus pensamentos foram cortados pelo barulho do telefone.
'Alôa?'
'Menina!! Já viu as notícias?' - Exclamou sua amiga pelo telefone.
'Não...'
'Então vê!' - Ela ligou a TV no canal de noticias. Foi como se uma faca tivesse sido cravada em seu coração.
'Eu te ligo depois.' - E sem esperar sua amiga responder, ela desligou. Foi como se o mundo se resumisse àquele momento, àquela notícia, àquela dor.
Ele estava naquele avião, no avião que batera nas nova iorquinas torres gêmeas. Parecia que o locutor queria frisar o fato de não haverem sobreviventes, todos da tripulação e os passageiros haviam morrido. Ela não conseguia imaginá-lo soterrado por pedaços de concreto e avião... Na verdade ela conseguia, só não queria.
Recusava-se a acreditar que aquilo, de fato, estava acontecendo... Há apenas uma semana ele estava a pedindo em casamento, a menos de quatro horas ele estava ali com ela, em seus braços. Eles tinham todo um futuro pela frente... Eles iam casar, viajar, ela o contaria a surpresa, que nem sequer passava em sua cabeça.
Ele prometera ser dela para sempre, mas ele não cumpriu. A única, porém mais importante promessa fora rompida. Ele não estaria ao seu lado... Não agora, não na Segunda, nem nunca... Ele a abandonara, não a deixando nenhuma outra escolha à não ser sofrer e chorar pelo que um dia foi real, e agora eram somente lembranças, boas lembranças de um passado tão próximo.
Agora ele não estaria lá para seguir seu caminho com ela, ali foi o fim. O fim da vida dele, o fim da linda história de amor que eles construíram, o fim do mais verdadeiro sentimento que ela já teve... Mas era o começo de outra vida... Uma vida dentro dela.
As lágrimas caíam ponderosamente sobre o trajeto de seu rosto. A princípio o choro era baixo, quieto em si, com apenas lágrimas. Depois, conforme os pensamentos dela foram evoluindo, seu choro aumentou... Fortes soluços, nós na garganta, as mãos, assim como o resto do corpo, tremendo, olhos inchados, rosto vermelho e a imensa e incontrolável vontade de gritar, que parecia se apossar do corpo dela cada segundo mais.
A imagem deles dois vinha em sua cabeça, a perturbando mais ainda, e parecia que nada a faria ir embora. Agora ela podia dizer que não tinha nada, uma vez que sem ele, nada mais fazia sentido. O calor que a aquecia por dentro cessara, dando espaço à uma interminável e torturante dor e um frio... Logo viraria vazio, nada.
Seus joelhos já não suportavam mais o peso de seu corpo, que parecia pesar mais e mais. Sentou-se no sofá, abraçando uma almofada, desejando que fosse ele ali, nem que fosse uma ultima vez em seus braços, para ela o dizer que o amava e o pedir para dizer o mesmo. Despedidas nunca foram o forte dela, muito menos uma despedida sem se despedir, sem um
"adeus" final. Lembrou-se do bilhete em cima do travesseiro... Da última frase:
"Te amo muito" - Ela não disse que o amava... Ele morreu sem o conforto dessas palavras com a doce voz dela, que ele ouvia todos os dias, todos menos... Hoje.
Daqui para frente ela seria sozinha, sem ele, sem seus beijos, sem seus abraços, sem nada. Olhar para frente e ver um futuro só era doloroso. Os caminhos que ela poderia fazer eram tortuosos e errados, uma vez que quem os fazia parecer tão certos era o único que não estava mais aqui.
E agora, ela estava sentada no sofá, onde, eternamente, ela esperaria pela Segunda em que ele entraria por aquela porta, a abraçaria como nunca, e ela finalmente o contaria a surpresa:
'Você vai ser pai.'
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