Uma canção natalina profundamente irritante e clichê ressoava alta de um aparelho de som posicionado exatamente ao lado do sofá em que estava sentada. Com o olhar fixo à taça de cristal que segurava delicadamente entre seus dedos, observava as bolhinhas de gás se movimentando ritmicamente pelo líquido dourado.
- Você quer que eu pegue um para você também? – a voz de timbre masculino soou distante para seus ouvidos, as palavras proferidas não fazendo sentindo algum para sua mente mais do que distraída.
- Uh? – foi tudo o que ela conseguiu dizer, olhando para o seu lado e encontrando os olhos acinzentados de Matthew a avaliando.
- Perguntei se você quer que eu pegue um para você também, amor... – ele repetiu pacientemente, um sorriso gentil repuxando seus lábios.
- Ah, sim, claro! – respondeu, mesmo sem ter a mínima idéia do que ele estava falando. Prendeu o lábio inferior entre os dentes ao que a culpa por não ter prestando atenção em sequer uma palavra que seu namorado estava lhe dizendo anteriormente tomou conta de si.
Aquilo estava acontecendo com mais freqüência do que gostaria de admitir. Tentava acreditar que sua falta de interesse nos assuntos de Matthew era algo passageiro – somente uma fase pela qual seu namoro de tantos anos estava passando. Afinal, não era possível que um relacionamento de mais de oito anos como o seu pudesse ser sempre repleto de momentos excitantes, certo?!
Afundou o rosto nas próprias mãos e bufou frustrada. Quem ela estava tentando enganar? Nos confins de sua consciência, a certeza de que seu romance com Matt havia chegado ao fim tentava, incansavelmente, fazer-se conhecida pelo resto de sua mente. Uma parcela cada vez maior de seu corpo também já indicava que ele não era mais suficiente para suprir suas expectativas – nem mesmo as sexuais.
Sempre sonhara com uma vida recheada de surpresas, desafios e viagens para lugares exóticos. Matthew, aos 21, parecia já ter certeza de como seu futuro seria dali a 30 anos. Com sua carreira futura mais do que garantida na firma de advocacia de sua família, a maior ambição do rapaz não passava daquela de comprar uma cobertura num prédio de classe alta. Não era difícil para o cenário de uma família vivendo num perfeito American Way of Life se formar na cabeça de : ela e Matthew, aos 40 anos, rodeados por seus cinco filhinhos loiros e impecavelmente vestidos, viajando numa van familiar para passar as férias na casa do lago. Inconscientemente rolou os olhos àquela imagem.Queria mais.
Sem que percebesse o que estava fazendo, seu olhar já se movia pelo mar de pessoas que habitavam a sala de estar dos Somerhalder, procurando a única com quem realmente teria vontade de conversar naquele momento.
A figura de Matthew, extremamente bem vestida num terno cinza, parou à sua frente, fazendo com que a menina pulasse de susto e olhasse para ele com a mão sobre o peito. Enquanto sentia o coração bater contra sua palma, lembrava a si mesma que não havia qualquer maneira do namorado saber o que ela estava pensando.
- Você ‘tá se sentindo bem, ? – ele perguntou com cenho franzido em preocupação, voltando a acomodar-se ao lado da garota.
- Desculpe, Matt, estou um pouco distraída hoje... – disse, inclinando seu corpo e selando seus lábios brevemente aos dele.
Mesmo que seu corpo e mente pedissem por mais, Matthew era tudo o que conhecia. Amá-lo era fácil, como algo que já fazia parte de si há muito tempo. Contrariamente aos seus profundos desejos pelo novo e excitante, a garota tinha muito medo de sair de sua zona de conforto, de perder o que já lhe estava mais do que garantido.
Pegou o prato de canapés da mão do namorado, finalmente descobrindo sobre o que ele estava falando há alguns minutos. Cutucou a massa do barquete de legumes, esfarelando-a com a ponta de sua unha. Comida era algo que estava bem longe de sua mente naquele momento.
- Matt, estou um pouco enjoada, vou lá fora tomar um pouco de ar, tudo bem? – falou, torcendo para que ele não insistisse em acompanhá-la.
- Quer que eu vá com você, amor? – o rapaz perguntou educada e previsivelmente.
- Não, está muito frio! – ela disse a primeira coisa que lhe veio à cabeça. – Eu já volto, ok?!
Colocou a porção de canapés intocada em cima da mesinha de centro e levantou-se, passando pelo armário de casacos e seguindo para entrada da casa. Exalou o ar que nem ao menos percebera estar segurando, observando uma densa fumaça branca se formar à sua frente ao fazê-lo.
Sentiu o nariz e as bochechas queimarem agradavelmente ao que uma lufada do gélido vento do Colorado varreu o lugar, apertando os braços contra o torço numa tentativa de manter-se aquecida logo em seguida. Deixou seu olhar se perder no horizonte extremamente escuro da chácara para qual seus sogros haviam se mudado depois que ela e Matt foram para Los Angeles estudar.
Mesmo que houvesse chegado ao Colorado no dia anterior, já sentia falta do clima ameno da Califórnia. Assim como Ian, ela não se dava muito bem com o frio extremo que fazia naquelas montanhas. Malandro do jeito que é, aquele bastardo deve ter ficado em L.A. e provavelmente ligará amanhã dizendo que pegou a nova gripe dos ornitorrincos mexicanos. - ela pensou, soltando uma risada ao perceber que Ian realmente colocaria algo como ornitorrincos mexicanos numa mesma frase.
Um nó formou-se em sua garganta quase que instantaneamente. Estava pensando nele de novo, e nem ao menos havia percebido que sua mente havia arrastado-a para esse caminho. Um caminho que vinha se tornando mais e mais perigoso com o passar dos dias.
Ian era o irmão mais velho de Matthew, e seu recente melhor amigo. e o rapaz – que de rapaz só tinha a aparência e a mentalidade, visto que já havia passado dos trinta – sempre tiveram um relacionamento amigável; ela sempre o vira como o irmão irreverente da família, sempre bem humorado e com uma piada recheada de ironia na ponta da língua. Ele, por sua vez, sempre a tratara como nada além da namoradinha de seu irmão caçula. Quando Matthew e se mudaram para Los Angeles, há dois anos, para começarem suas faculdades na UCLA, o relacionamento entre a garota e Ian não demorou muito tempo para começar a mudar.
Matthew, com seu jeito certinho e piegas de levar a vida, logo mergulhou de cabeça nos estudos e , mesmo que agora estivesse morando junto do namorado, viu-se sozinha naquela cidade que borbulhava oportunidades por todos os cantos. Resolveu trocar alguns emails com o cunhado, já que o mesmo morava lá há muito tempo, e em pouco tempo os dois já não passavam uma semana sem saírem juntos.
Ao contrário de Matt, Ian era revigorantemente fora dos trilhos. Como ele mesmo costumava dizer: não seguia planos, deixava que os ventos soprassem a direção para qual devia seguir. A diferença entre os dois era mais do que clara; enquanto seu irmão trabalhava duro para ser o melhor advogado criminalista de Los Angeles, Ian recentemente havia mergulhado de cabeça no papel de um vampiro sexy e malvado de um seriado teen.
soltou uma risada ao lembrar-se do rapaz na pele do vampiro sarcástico. Via claramente as influencias da personalidade do próprio Ian no personagem construído por ele.
Percebeu um pequeno ponto de luz brotar no horizonte, fazendo com que fosse trazida de volta da fantasia de ser mordida por um certo vampiro que começava a se desenrolar em sua mente. Deu alguns passos a frente e cerrou os olhos, tentando descobrir do que aquele ponto de luz se tratava. Logo concluiu que algum carro se aproximava da propriedade dos Somerhalder, já que o único ponto de luz logo se transformou em dois distintos, os quais pareciam crescer a cada segundo que se passava.
A princípio ficou com medo. Afinal, o que uma pessoa poderia estar fazendo numa estrada erma como aquela em plena véspera de natal? O absurdo da situação lhe levou para outra linha de pensamento, no entanto. Se havia uma pessoa que conseguia chegar atrasada para uma ceia de natal numa chácara no interior do Colorado, essa era Ian.
Sua teoria provou-se válida quando, pouco mais de cinco minutos depois, um carro extremamente antigo e enferrujado encostou em frente à entrada da varanda. Quando estava prestes a entrar gritando pela casa que estavam prestes a serem assaltados, um Ian completamente esbaforido enfiou-se pela janela do veículo, surpreendendo a menina ainda mais quando começou a tentar passar pelo buraco.
- Não sei se você sabe, mas sair pela porta é um pouquinho mais prático. – falou com ironia, assustando o rapaz, o qual ainda não havia percebido a presença dela ali.
- Será que você consegue manter essa sua boca espertinha fechada por alguns segundos e me ajudar a sair daqui? – disse Ian, sua expressão contorcida devido ao esforço que fazia para passar pela janela.
Ainda ligeiramente entorpecida diante do absurdo da situação, desceu os poucos degraus e, de forma completamente desajeitada, ajudou Ian a finalmente colocar os pés no chão. Observou-o pegar sua mala, ainda pela janela, e entregar alguns dólares para o motorista – sim, ele estava pagando por ter andado num ferro velho daqueles.
Ao que o barulhento motor do carro voltou à vida, finalmente concentrou-se no rapaz parado à sua frente.
A família Somerhalder era conhecida como uma de tradição, e todos os anos faziam festas de natal e ano novo condizentes com o alto status que tinham no mundo social americano. Isso significava, para , horas e mais horas gastas em lojas de grife e spas de beleza para ter sua aparência ao nível da confraternização que ofereciam.
Uma pontada de raiva apertou seu peito ao que analisou os trajes de Ian. Vestindo um blazer de linho preto ligeiramente amassado por cima de uma blusa social branca com os três primeiros botões desfeitos, e uma calça jeans mais do que usada, com a barra já cheia de pequenos rasgos, ele parecia ter acabado de pular diretamente de um catálogo da Calvin Klein. Toda a raiva que sentia foi embora no mesmo instante em que seus olhos encontraram o rosto dele.
Por mais que o conhecesse há mais de nove anos, nunca, nunca, passava ilesa quando defrontada por tamanha beleza. Sua pele extremamente alva e as bochechas sempre sustentando um leve rubor, a barba mal feita, os cabelos jogados num caos incrivelmente organizado e os olhos... Aqueles olhos do azul mais profundo que jamais havia visto, que pareciam capazes de desvendar seu maior segredo tamanha intensidade que carregavam, tiravam-lhe toda e qualquer chance de raciocinar claramente.
Com o que lhe restava de concentração, percebeu que o canto direito da boca do rapaz repuxou-se num meio-sorriso ordinário. O bastardo tinha plena consciência do efeito que tinha sobre as mulheres.
- Por que... Como você... – a menina tentava formar uma pergunta coerente, mas sua respiração acelerada e coração palpitante não possibilitavam que o fizesse.
- Sabe o que eu descobri hoje, ? – Ian perguntou, finalmente fazendo com que ela acordasse do estado de entorpecimento, o qual ele era o único e completo responsável, em que se encontrava.
Meneou a cabeça para frente, dando a entender que queria que ele prosseguisse.
- Não é exatamente fácil encontrar um taxi disponível na véspera de natal... – ele respondeu a própria pergunta com uma risadinha, levando uma das mãos aos cabelos e bagunçando-os mais ainda.
- Isso explica o ferro-velho ambulante... – não conseguiu evitar que uma risada escapasse de seus lábios.
Ian levou alguns segundos para entender sobre o que a garota estava falando. – Ah, sim! – ele riu. – Acho que o senhor Brown não iria gostar muito se ouvisse alguém chamando seu carro de ferro-velho, sabe. Um ótimo cara... Acredita que me trouxe até aqui por apenas cinqüenta dólares e uma garrafa de rum? – levantou a sobrancelha para frisar sua surpresa.
- Você é louco... – foi tudo o que a garota conseguiu dizer, balançando a cabeça negativamente enquanto o observava sem acreditar no que ouvia.
- É o que dizem por aí! – ele respondeu-a com mais um daqueles sorrisinhos. – E você também não pode falar muito, de pé nessa varanda tendo que aturar esse frio do inferno! – ao que disse isso, passou o braço que não estava ocupado com a mala pelos ombros de .
- Só tomando um ar... – a voz da garota soou desanimada, todas as questões que haviam abandonado sua mente com a chegada inesperada de Ian voltando à tona.
- Você tá bem? – ele perguntou, abaixando a cabeça e enterrando o nariz nos cabelos da garota.
precisou suspirar fundo para reaver sua concentração ao que Ian apertou seus braços contra ela e inspirou a fragrância de seus cabelos.
- Você sabe que não gosto desse tipo de festa. – seu tom ainda retratava como estava se sentindo naquela festa.
Quando alcançaram o topo das escadas, Ian parou de andar, apoiando sua mala no chão e envolvendo o pequeno rosto de com suas mãos geladas.
- Então por que continua a se submeter a isso, ? – ele perguntou, delicadamente acariciando as bochechas dela com os polegares. A única pessoa com que dividia suas expectativas de vida era ele, e, por isso, o rapaz tinha plena consciência de que aquele não era o lugar certo para ela ser feliz.
- Você sabe que faço isso pelo Matt... – ela sussurrou, a incerteza mais do que evidente em sua voz.
À simples menção do nome do irmão, Ian abaixou suas mãos, colocando-as no bolso do pesado sobretudo que vestia por cima do blazer. não entendia exatamente o porquê, mas toda vez que mencionava Matthew perto do rapaz, ele tinha esse tipo de atitude.
Da mesma maneira que tinha medo de admitir a real situação de seu relacionamento com o namorado, também não se permitia enxergar o que vinha acontecendo entre ela e Ian. Era mais do que evidente que os dois ficavam cada vez mais próximos, se tornavam cada vez mais dependentes um do outro. Repetidamente dizia a si mesma que o sentimento que dividiam era do tipo fraternal. Ian era praticamente um homem, tinha uma carreira de sucesso, sempre rodeado pelas mulheres mais maravilhosas do mundo. Ele nunca olharia para como nada além de uma irmã, como a namoradinha de seu irmão que cresceu junto de sua família. E ela tinha Matt, seu amor de infância e adolescência, não era admissível que estivesse desenvolvendo sentimentos justamente pelo irmão dele. Amava Matt, e ele seria o homem da sua vida. Era assim que tinha que ser.
- Acho melhor nós entrarmos. – falou após alguns segundos de silêncio desconfortável.
Ian, resignado, apenas assentiu com a cabeça, abrindo a porta de entrada e segurando-a para que a menina entrasse primeiro.
Com sua aura divertida e amigável, em pouco tempo Ian já estava rodeado de parentes e amigos, os quais distribuíam abraços e palavras de carinho para o rapaz. sorriu àquela cena, voltando para sala onde seu namorado a esperava.
- Oi, querida! – ele interrompeu a conversa que estava tendo com um dos tios para cumprimentá-la. – Está melhor? – entrelaçou seus dedos aos dela e depositou um beijo nas costas de sua mão.
- Estou sim! – ela abriu um sorriso sem graça, repousando a cabeça sobre o ombro dele e escutando os dois voltarem a falar de algo extremamente desinteressante como o tempo de cadeia para os acusados de homicídio no estado do Mississipi.
Alguns longos e tediosos minutos depois, o Sr. Somerhalder entrou na sala, avisando a todos que o jantar estava na mesa.
Assim que adentrou a suntuosa sala de jantar, sentiu as narinas serem invadidas pelo cheiro do enorme banquete posto à mesa. Passeou com os olhos pela superfície lotada de todos os tipos de pratos natalinos e percebeu que não estava com nem um pouco de fome. Enquanto acomodava-se no lugar indicado como o seu por uma delicada plaquinha de papel, viu através de sua visão periférica Ian e Matthew se cumprimentando num daqueles desengonçados abraços masculinos. A cena fez com que seu estômago revirasse e sua vontade de comer passasse de pouca para nula.
O barulho de diversas vozes falando ao mesmo tempo e do tilintar dos talheres de prata contra a louça era preponderante na sala. cortava sua fatia de peru em pedaços mínimos e mexia em sua salada mais do que o normal. Notou que não era a única a estar indisposta, no entanto.
Ao seu lado, Matthew sacudia a perna direita ininterruptamente e, pelo que podia perceber, não havia comido nem metade de seu prato. Engoliu a seco, o medo infundado de que ele pudesse ter descoberto alguma coisa – a qual não havia sequer saído de seus pensamentos – invadindo seu corpo.
- O que houve, Matt? – colocou a mão sobre o joelho do rapaz, fazendo com que ele parasse de balançar a perna.
- Não houve nada, meu amor! – Matthew abriu um sorriso amarelo, inclinando seu rosto para dar um selinho na namorada.
Não querendo levar o assunto adiante, já que ele pareceu não estar disposto a dizer o que de fato estava o incomodando, descansou as costas na cadeira, deixando com que seu olhar percorresse distraidamente a extensão da mesa.
Como se atraídos por uma espécie de ímã, seus olhos logo se dirigiram para a figura de Ian. Ele trocava palavras com sua tia Antonieta, fazendo a velhota soltar risadinhas de momentos em momentos. Ao que se virou para tomar a taça de vinho em mãos, o rapaz percebeu que o observava. Sem encontrar forças para lutar contra, ela se deixou ser sugada pelos olhos do rapaz, perder-se naquela imensidão azul, sua respiração tornando-se quase nula tamanha a intensidade que eles carregavam.
Para desgosto de ambos, tiveram de quebrar o contato visual quando alguém chocou um talher contra uma taça a fim de chamar a atenção de todos.
assustou-se ao perceber que quem estava querendo falar era Matthew. Ele era conhecido por todos como um garoto reservado, tímido. Para ter voluntariamente se colocado em evidência, com toda a certeza tinha algo de muito importante a dizer. A garota engoliu a seco e torceu as mãos por baixo da toalha de mesa, sentindo o coração palpitar com mais intensidade contra seu peito. Tentava a todo custo manter-se calma, dizendo a si mesma que o que quer que Matthew fosse dizer, não teria nada a ver com ela.
O rapaz, que sustentava uma expressão extremamente ansiosa, passou uma de suas mãos sobre os cabelos, tirando as mechas louras que caíam sobre a testa já úmida de suor, enquanto a outra permanecia enterrada no paletó de seu blazer. mordeu o lábio inferior e inspirou a maior quantidade de ar que pôde ao observar Matthew tomar fôlego para começar a falar.
- Boa noite! – ele disse com a voz claramente trêmula, recebendo a resposta de todos logo em seguida. – Bem, todos vocês sabem que não sou muito bom no quesito falar em público, mas vamos lá... – todos riram, e Matthew lançou uma olhadela furtiva para , a qual o respondeu com um sorrisinho nervoso.
- Todos sabem que eu e a namoramos há mais de oito anos... – ao escutar seu nome sair da boca do rapaz, sentiu o peito apertar em desespero. Sua primeira reação foi olhar para Ian, o qual tinha o cenho franzido e mantinha os olhos fixos na figura do irmão. – Acho que lá atrás, quando eu ainda tinha 13 anos e pedia aquela menina linda e divertida para ser minha namorada, eu já sabia que ela era a mulher da minha vida. – as palavras começavam a tomar direção para um lugar que ela definitivamente não queria ir. Não agora, Matt, por favor! Não agora!, repetia em sua mente na esperança de que seus pensamentos fossem fortes o suficiente para fazer com que Matthew mudasse de idéia.
- Não preciso recitar um poema ou fazer um discurso enorme para que você saiba o quanto eu te amo. – ele falou, alçando a mão da garota e puxando-a de modo que ela estivesse de pé também. Nesse instante, tinha a impressão de que seu coração fosse sair pela boca e um apito fino ressoava em seus ouvidos, fazendo com que a tarefa de se concentrar no que o namorado lhe dizia fosse praticamente impossível. – Procuro demonstrar isso toda vez que te abraço, que te beijo. Toda vez que deito sua cabeça em meu colo e acaricio seus cabelos até você dormir. – ele colocou uma das mãos no rosto dela, acariciando sua bochecha com o dedo polegar. A garota sentiu o estômago revirar violentamente no instante em que o desejo de que aquela fosse a mão de Ian tomou conta de seu corpo.
- Hoje tenho absoluta certeza que quero você para o resto da minha vida. – ele finalmente retirou a mão que permanecera no bolso o tempo todo. – Por isso, , eu quero que você se case comigo. – num movimento gracioso, abriu uma pequena caixa de veludo preto, revelando um anel prata com um diamante absurdamente grande cravejado no meio.
Se perguntassem à o que acontecera após aquele momento, ela certamente não saberia dizer com exatidão. Tudo que conseguia ouvir era um burburinho de alegria geral, todas as atenções focalizadas nela, esperando a resposta para a grande pergunta.
- Ah... Eu... Sim... – foi o máximo que sua mente, inebriada pelo desespero, conseguiu produzir. Casar-se com Matt. Era o que mais fazia sentido. Ele fora quem lhe dera seu primeiro beijo, o garoto com quem enfrentara todas as alegrias e dificuldades da adolescência, com que perdera a virgindade, com quem dividia uma casa para estudar na faculdade... Era um fato consumado para todos que eles um dia iriam se casar. somente não imaginava que o pedido fosse acontecer tão cedo. E a realidade do futuro que a aguardava abateu-se pesada sobre sua mente, deixando-a completamente tonta.
Depois de muitos cumprimentos, desejos de felicidades, abraços e lágrimas, a garota conseguiu um momento sozinha. Com a desculpa de pegar um copo de água, isolou-se na enorme cozinha da casa, finalmente conseguindo respirar.
Abriu a torneira da pia e observou a água se acumular na conchinha que fizera com suas duas mãos. Sem pensar duas vezes, jogou todo o conteúdo em seu rosto, na esperança de que a temperatura extremamente fria da água fosse ajudar a despertá-la do estado completamente entorpecido no qual toda aquela situação havia colocado-a.
Assim que levantou o rosto, com a água escorrendo por seu pescoço em direção ao seu vestido, sentiu uma mão agarrar seu braço com força. Assustada, olhou para trás, percebendo que era Ian quem a arrastava para algum lugar.
Não teve tempo de sequer pensar no que aquilo significava. Quando deu por si, já estava trancada num cômodo escuro, iluminado apenas por nesgas douradas de luz que esgueiravam-se por entre as venezianas da porta. Logo reconheceu aquele lugar como a dispensa.
- Seca o seu rosto. – a voz de Ian soou dura, autoritária.
Ainda sem reação, estendeu o braço e pegou o pano de prato que ele segurava. Enterrou o rosto entre as mãos e esfregou a superfície atoalhada sobre sua pele, a situação na qual estava inserida finalmente registrando-se em seu cérebro. Sentindo os pêlos de sua nuca eriçarem-se e seu coração começar a bater mais rápido, ela apenas levantou os olhos da toalha, observando o rapaz com receio.
- O que houve? – ela perguntou, sua voz sendo abafada pela pano que ainda segurava contra a boca.
- O que houve? – Ian jogou as mãos para o alto, claramente exasperado. – Você acabou de aceitar se casar com o Matthew, ! O Matthew!
Por mais que gostasse de Ian, por mais que ele fizesse com que ela se sentisse completa, que entendesse todos seus pensamentos e perspectivas de vida, não pôde deixar de ficar com raiva ao escutar o que ele dizia.
- Sim, Ian! O Matthew! O seu irmão, o meu namorado! O cara que está comigo há mais de oito anos! – ela sibilou cada palavra, tentando controlar sua voz num tom aceitável.
Mesmo na penumbra, conseguiu perceber que Ian passava as mãos sem delicadeza alguma pelos cabelos.
- Você não vai ser feliz com o Matthew, ! – sua voz estava mais calma agora, carregava o carinho que ele sempre tinha quando se dirigia à menina.
- E por que não? – ela, por outro lado, não estava nem um pouco calma. Estava com raiva de Ian, com medo diante da perspectiva de estar noiva e cada vez mais frustrada por conta do sentimento estranho que sempre lhe invadia quando estava perto do rapaz.
- Ele não é o cara certo para você. – Ian falou com firmeza, seus olhos prendendo os de .
- Quem é então? – ela desafiou-o. No fundo, sabia que ele estava certo. Sabia que Matthew nunca seria capaz de fazê-la feliz. A conclusão de que sabia também a resposta para a pergunta que acabara de fazer fez com que uma onda de desespero a inundasse. Precisava, mais do que nunca, que Ian lhe respondesse.
O silêncio imediatamente tomou conta do cômodo apertado em que estavam presos. Tudo que se ouvia era a respiração pesada dos dois. Por sua visão periférica, já que seus olhos estavam completamente presos aos de Ian, percebeu o pomo-de-adão do rapaz subir e descer. Logo em seguida, ele suspirou profundamente, como se houvesse resolvido como responderia àquela pergunta.
- Ian? ? – a voz da Sra. Somerhalder ressoou pela cozinha, fazendo com que os dois pulassem de susto.
- Estamos aqui mãe. – Ian gritou da dispensa, lançando um olhar significativo para e abrindo a porta atrás de si.
- O que estão fazendo aí, meu Deus? – a mulher perguntou, espantada.
- Estava ajudando a a procurar mais castanhas. – como um bom ator, ele mentiu perfeitamente.
, por sua vez, estava paralisada ao lado do rapaz, sua mente ainda girando por conta dos eventos que tomaram lugar nos últimos trinta minutos de sua vida.
- O pote de castanhas está na sala! Vamos, crianças, todos já estão começando a distribuir os presentes! – ela disse animada, segurando a mão de e levando-a para a sala.
Sentada ao lado de Matt, com um dos braços do rapaz envolvendo sua cintura e mantendo-a seguramente ao lado dele, observava os Somerhalder e seus convidados trocando presentes como se não estivesse participando da confraternização. O barulho das pessoas conversando chegava aos seus ouvidos, mas não fazia sentido, e ela apenas sorria e agradecia ao receber um presente pois, no fundo de sua mente, sabia que era aquilo que tinha de fazer.
Naquele momento, sentia como se não tivesse mais forças para pensar, um estranho silêncio tomando conta de sua cabeça como resultado. Distraidamente, traçava o contorno da bolsa que ganhara de seus sogros, o olhar acompanhando o movimento que seu dedo fazia sobre o couro.
Assim que percebeu que alguém havia parado na sua frente, levantou os olhos já pronta para abrir um sorriso e dizer “obrigada”. Não conseguiu mexer um músculo sequer ao descobrir que era Ian quem lhe estendia um presente, no entanto.
- Feliz natal. . – ele abriu um sorriso que não atingiu seus olhos.
Com a mão levemente trêmula, pegou o pacote que Ian segurava na sua direção, observando o garoto se retirar sem ao menos agradecê-lo.
Matthew conversava com um primo sobre o laptop de última geração que ganhara de seus pais enquanto a garota tomava coragem para rasgar o papel pardo que cobria o que parecia ser um livro. Não conseguindo conter sua curiosidade, tentativamente puxou um dos cantos do papel, rasgando-o facilmente. Seus olhos arregalaram-se ao encontrar o título dourado ligeiramente gasto do primeiro volume da série de Tess of the D’Urbervilles.
Ansiosa abriu a capa, rapidamente lendo as informações da contracapa e sentindo um calafrio percorrer sua espinha ao encontrar o trecho que dizia: “London: James R. Osgood, McIlvaine and Co., 1891.”
- O Ian te deu um livro velho de presente? – Matthew perguntou com desdém.
- Isso não é um livro velho, Matt! – respondeu irritada, rolando os olhos para o namorado. – É a primeira edição de um dos livros que mais gosto... – acariciou a capa com reverencia, um sorriso bobo estampando seus lábios. Aquela era a maior diferença entre os dois irmãos: enquanto um lhe dava uma jóia caríssima, achando que seu valor financeiro equivalia ao sentimental, o outro sabia exatamente o que ela gostaria de ganhar, não importando o quanto custasse.
Passou os olhos pela sala e logo encontrou Ian esparramado numa poltrona. Ele a observava intensamente, continuando a fazê-lo mesmo quando percebeu que ela também o fitava. abriu um sorriso tímido, logo voltando a analisar a raridade em seu colo.
Folheou as páginas amareladas com cuidado, estranhando uma folha branca desalinhada com o resto do livro. Curiosa, puxou-a, descobrindo que se tratava de um envelope. Engoliu a seco ao que reconheceu a caligrafia sinuosa de Ian no bilhete que retirara de lá.
”O livro é apenas parte do seu presente. Esteja na varanda às três da manhã se quiser ganhar o resto. Xx Ian.”
O coração deu um salto em seu peito ao que aquelas palavras se registraram em seu cérebro. Por alguns segundos, duvidou se iria ou não encontrar-se com o rapaz. Mas, ao olhar de novo na sua direção e deparar-se com aqueles olhos ainda presos à sua figura, teve certeza de que não poderia evitar aquela proposta.
O relógio já marcava 02h55min e não conseguia conter sua ansiedade. Passou as mãos frias e úmidas de suor pelo rosto e olhou-se rapidamente no espelho. Encontrou ali uma menina amedrontada, mas que carregava um brilho nos olhos que raramente fazia parte de sua expressão. Mirou a mão em que seu anel de noivado estava e suspirou, tirando a jóia logo em seguida e depositando-a com cuidado sobre a penteadeira antiga. Alcançou a maçaneta de seu quarto decidida, girando-a vagarosamente, com cuidado para não fazer barulho. Abriu a porta e pisou silenciosamente no corredor. Estou realmente fazendo isso. – pensou. E o mais estranho, era que não se arrependia. A excitação do desafio, de estar quebrando a regras, inebriava qualquer sentimento de culpa que pudesse querer se manifestar.
Pela primeira vez desde que começara a dormir na casa de Matthew, ficou feliz por seus pais serem antiquados e obrigarem o casal a dormir em quartos separados – mesmo que os dois já morassem juntos. Sentindo aquele frio na barriga e o medo de ser pega que há muito tempo não tinham lugar em seu corpo, a menina cruzou todo o segundo andar sem fazer sequer um barulho.
Sua ansiedade crescia a cada degrau da escada que descia. Pela enésima vez, perguntou-se o que a aguardava. Sacudiu a cabeça como se para espantar os pensamentos negativos e resolveu, de uma vez por todas, parar de analisar todas suas atitudes. Parou de frente à porta de entrada e suspirou profundamente, tentando se preparar para o que quer que fosse acontecer.
Assim que empurrou a pesada porta de madeira, uma lufada de ar congelante jogou seus cabelos para trás e fez com que um arrepio percorresse toda a extensão do seu corpo. Pisando sobre a varanda, logo encontrou a figura de Ian.
O rapaz tinha o semblante tranqüilo; com os cotovelos apoiados no parapeito da cerca da varanda e os olhos fechados, ele parecia estar perdido em sua própria mente, o vento gelado jogando seus cabelos para trás e tingindo suas bochechas com um leve rubor. sentiu sua respiração travar no meio de sua garganta. Aquele era o homem mais bonito que havia visto em toda sua vida.
Com passos medidos e vagarosos, a garota foi se aproximando dele. Tentava ao máximo não assustá-lo, não causar um motivo para tirá-lo tão abruptamente do lugar que trazia tamanha serenidade a ele. Quando já estava próxima o suficiente, tentativamente levou uma de suas mãos à bochecha do rapaz, acariciando-a com as costas de seus dedos.
Assim que a pele gelada da menina tocou seu rosto, Ian voltou seu corpo para a direção dela. Seu olhar carregava uma emoção tão intensa que, por alguns segundos, esqueceu quem era, o que estava fazendo ali.
- Você veio... – ele disse num sussurro aliviado.
ainda não conseguira encontrar a ligação entre o cérebro e sua boca, então apenas assentiu positivamente com a cabeça, um sorriso bobo surgindo involuntariamente em seus lábios.
- Vamos? – Ian perguntou, a incerteza claramente tingindo seu tom de voz.
- O que? Nós vamos a algum lugar? – ela finalmente conseguiu se pronunciar e, naquele momento, uma onda de dúvida a invadiu. O que estou fazendo?
Assim que Ian abriu um sorriso em apena um dos cantos de seus lábios, as dúvidas de voltaram a desaparecer. Sabia que, não importa o que ele dissesse, no final acabaria seguindo qualquer que fosse seu plano.
- Você vai descobrir. – ele respondeu com um brilho malicioso nos olhos, fazendo com que o batimento já acelerado do coração de descompassasse por alguns segundos.
Antes que a menina pudesse se pronunciar, Ian já havia dado a volta por seu corpo. Delicadamente colocou os cabelos dela atrás de suas orelhas, amarrando algo parecido com uma tira de seda sobre os olhos dela.
- O que você ‘tá fazendo? – exclamou alarmada.
- Vendando seus olhos! – o rapaz disse com sarcasmo.
- Iaaaan! – ela reclamou numa espécie de miado fino. – Você sabe que não gosto de surpresas.
- Não me venha com essa fala de filmes clichês, . Vou te fazer uma surpresa sim, fim da discussão. – seu tom de voz era sério, mas, mesmo que não fosse capaz de vê-lo, sabia que ele estava sorrindo.
- E se você estiver me levando pra um canto escuro com intenção de me estuprar? – a garota tentou soar assustada. – Preciso saber para onde estou indo por questões de segurança!
- Não achei que você fosse descobrir minhas intenções tão cedo, mas agora que sabe o que quero, não faz mais sentido eu deixar você fugir. – assim que Ian terminou de falar, sentiu os braços dele envolverem suas pernas na altura dos joelhos, jogando seu corpo para trás de modo que ela ficasse com o rosto no nível das costas dele e as pernas balançando no ar.
Soltou um gritinho, mas logo se censurou. Tinha pela consciência de que o que estava fazendo era extremamente errado, e não tinha vontade alguma de enfrentar as conseqüências caso alguém acordasse e os visse naquela situação.
- Me põe no chão, seu maluco! – tentava manter sua voz controlada enquanto distribuía socos pelas costas do rapaz.
- Fica quieta, menina insuportável! – Ian disse por entre uma risada, começando a andar na direção que planejara.
A garota estava tão concentrada na tarefa de tentar se soltar, que só percebeu que estava de fato seguindo para algum lugar quando o frio cortante do inverno deu lugar a um calor extremamente agradável.
Foi parando de se movimentar aos poucos, todos os seus sensos mais aguçados uma vez que estava privada de sua visão. Sentia o cheiro agradável de madeira e eucalipto, sua pele formigava de uma maneira gostosa por conta da mudança drástica de temperatura e, ao longe, conseguia ouvir o crepitar de uma fogueira. Quando estava pronta para começar a aporrinhar Ian novamente, o rapaz deslizou seu corpo pelo dele, colocando-a no chão delicadamente.
segurou nos braços dele para retomar seu equilíbrio, um estranho frio tomando conta de seu estômago ao sentir os músculos firmes do rapaz por baixo do suéter que o mesmo vestia.
- Chegamos... – ele sussurrou com aquela mesma incerteza em sua voz.
Escutou o barulho oco dos sapatos do rapaz chocando-se contra o chão de madeira ao que ele rodeava sua figura. Suspirou profundamente quando sentiu as mãos dele em seus cabelos, desfazendo o nó do pano que cobria seus olhos. Quando levantou suas pálpebras, sentiu todo o ar abandonar seus pulmões.
Estavam no porão da casa, e o cômodo era banhado apenas por uma fraca luz dourada. Na lareira, uma fogueira estava acesa, e velas aromatizadas estavam distribuídas por todas as superfícies possíveis. Notou que o sofá, que geralmente ficava posicionado em frente à lareira, havia sido arrastado até perto da mesa de sinuca, e, no lugar dele, estava um tapete branco e felpudo com diversas almofadas coloridas jogadas em sua superfície.
- O que é isso, Ian? – ela perguntou, seus olhos piscando rapidamente como se não acreditassem nas imagens que captavam.
- A outra parte do seu presente... –Ian sussurrou, seu hálito quente e mentolado batendo contra o rosto de . Foi só então que a menina notou o quanto ele havia se aproximado nos últimos segundos.
- Eu... Eu não entendo... – sua voz não tinha força alguma, e ela tentava se agarrar ao último fio de sanidade que ainda tinha preservado em si.
- Não se casa com ele, por favor. – por trás das palavras medidas de Ian um de anseio quase desesperado se escondia.
fechou os olhos, tentando fugir do poder que os olhos do rapaz, os quais pareciam estar em brasas tamanha paixão que carregavam, tinham sobre si.
- Você sabe que não é fácil assim... – ela falou com a voz carregada de dor, de arrependimento, ao mesmo tempo em que tudo o que mais queria era fazer exatamente o que o rapaz estava lhe dizendo.
Mesmo com os olhos fechados, podia sentir a presença de Ian cada vez mais próxima de si. Soltou um leve choramingo ao que os lábios dele roçaram quase imperceptivelmente contra os seus. Aquilo era mais do que conseguia agüentar, mais do que seu corpo e sua mente eram capazes de lutar contra. Precisava dele como nunca havia precisado de algo em sua vida.
- Eu te amo, ... – ele sussurrou próximo à boca dela, repousando a testa contra a da garota. – Estou completamente apaixonado por você e não posso te perder! – como se retratando o desespero que sentia, as mãos de Ian apertaram a cintura da garota com força, sua testa pressionando-se contra a dela com ainda mais intensidade. A convicção por trás de seus gestos e palavras era tamanha que não questionou os sentimentos dele por sequer um segundo.
Soltando um soluço estrangulado, a garota se rendeu. Sabia que aquele era um caminho sem volta, mas já havia o tomado no instante em que aquelas palavras se desprenderam da boca de Ian.
Levou uma de suas mãos trêmulas até a nuca dele, emaranhando-a por entre seus cabelos. Suspirou internamente ao sentir os fios sedosos em seus dedos. Há muito tempo imaginava como seria a textura dos cabelos deles, e determinantemente não fora decepcionada naquele momento.
Não conseguindo conter um sorriso, Ian espelhou o gesto da garota, repousando uma de suas mãos no delicado pescoço dela. Permaneceram parados por alguns segundos, suas respirações quentes e erráticas misturando-se e fazendo com que ambos fossem inebriados pela presença do outro. Num movimento delicado, o rapaz arrastou a ponta de seu nariz sobre o da menina, encostando seus lábios aos dela e voltando a se afastar logo em seguida. Repetiu o gesto algumas vezes, alargando seu sorriso ao escutar um bufo frustrado escapar pelos lábios de .
Já não agüentando mais toda aquela provocação, a garota subiu na ponta de seus pés, pressionando seus lábios contra os dele com mais força. Um suspiro trêmulo abandonou suas narinas ao que ela sentiu os lábios quentes e macios dele moldarem-se perfeitamente aos seus. Apertou a mão que estava nos cabelos de Ian num punho, puxando-os levemente enquanto forçava seu lábio inferior entre os dele.
Já não conseguindo controlar seu desejo pela garota, Ian envolveu sua cintura com um dos braços, trazendo-a para o mais perto possível de seu corpo. Beijou levemente o lábio inferior dela, sugando-o para dentro de sua boca instantes depois.
O gemido rouco que escapou de sua garganta surpreendeu a própria , que sentiu uma leve pontada de vergonha, a qual foi completamente esquecida no instante em que Ian arrastou os dentes pelo lábio que ainda estava preso na boca dele. Juntou sua boca à dele mais uma vez e, quando se afastou, tentativamente traçou o lábio inferior do rapaz com sua língua.
Essa foi a vez de Ian gemer, apertando ainda mais o corpo da garota contra o dele e invadindo a boca dela com sua língua. sentiu o corpo ser consumido por um calor que jamais havia sentido, o sangue pulsando rápida e pesadamente por suas veias. Antes que pudessem se dar conta, os dois já estavam envoltos num beijo tão intenso que a idéia de fundir seus corpos num só já não parecia tão absurda.
Quando seus pulmões já ardiam por conta de falta de ar, relutantemente desgrudou sua boca da do rapaz. Respirava num ritmo rápido e desesperado, seus olhos rolando para trás de sua cabeça ao sentir a língua de Ian traçar um caminho pela pele sensível atrás de sua orelha. Tentava manter-se o mais composta possível enquanto o rapaz continuava a assaltar seu pescoço e colo com beijos e leves mordidas. Involuntariamente pousou uma das mãos sobre o peito dele, sentindo os músculos definidos se contraírem por baixo de seu toque.
Como se percebendo para onde tudo aquilo estava se direcionando, Ian deixou sua mão escorregar por baixo da camada grossa de blusas e casacos da menina, acariciando a pele nua das costas dela. Sentindo que o calor se tornava insuportável, tirou os dois casacos que vestia, ficando apenas com uma fina regata branca. Logo em seguida, levou suas mãos ao torço de Ian, livrando-o do suéter de lã que vestia.
Seu peito se expandia e se contraía rapidamente, seus olhos avidamente absorvendo a figura do rapaz parado a sua frente. Seus cabelos estavam incrivelmente mais bagunçados do que o usual, sua boca vermelha e levemente inchada por conta dos beijos que dividiram, e a camisa básica de malha que vestia abraçava seu corpo de uma maneira que fazia com que tivesse vontade de arrancá-la do caminho de uma vez por todas.
Já não medindo qualquer conseqüência de seus atos, voltou a se aproximar de Ian, segurando a barra da camisa do rapaz e puxando-a para cima da sua cabeça. Prendeu o próprio lábio inferior entre os dentes ao encontrar o peito e abdômen definidos do rapaz. Aproximou seu rosto do pescoço dele, beijando a região e dirigindo seus lábios para o sul. Escutou Ian soltar um palavrão sujo ao que passou a língua pelo mamilo dele e mordeu-o provocativamente em seguida. Levou seu tempo descobrindo cada centímetro do troço dele, nunca se cansando do gosto de sua pele.
Quando voltou a se levantar, Ian já arfava fortemente, suas pálpebras pesadas tamanha a intensidade de seu desejo. Ele agiu tão rápido que sentiu-se ligeiramente tonta. Num instante estava parada à sua frente, sentindo-se extremamente orgulhosa por ser a responsável de ter deixado-o naquele estado, e no outro estava deitada contra as almofadas do tapete, sua blusa e sutiã descartados no chão ao seu lado.
Emaranharam-se mais uma vez num beijo embebido de paixão e luxúria, as mãos percorrendo todos os centímetros de pele que conseguissem alcançar. Enterrando sua cabeça do pescoço de Ian, fincou os dentes na local, recebendo de troco um grunhido rouco do rapaz, o qual forçou sua cintura contra a dela, o volume em suas calças mostrando o quando a desejava.
O calor produzido pelo fogo da lareira era intenso, e a cada minuto que se passava os itens de roupa entre os dois tornavam-se cada vez mais esparsos. Sentindo que iria explodir a qualquer momento se não tivesse Ian dentro si, alcançou suas boxers, puxando-as para baixo e terminando de tirá-la com os pés.
Os olhos do rapaz capturaram os dela quando não havia mais nada entre eles, silenciosamente perguntando se ela tinha certeza do que estava fazendo. Respondendo sem palavras, levantou uma de suas mãos e acariciou o rosto dele, sorrindo docemente em seguida. Não havia mais dúvida. Tinha absoluta certeza de que dessa vez achara a pessoa certa para lhe fazer plenamente feliz. Sabia que teriam de enfrentar muitas dificuldades para ficarem juntos, mas tudo valeria a pena no final.
Ian abaixou a cabeça e selou seus lábios contra os dela, voltando a se levantar, como se fosse sair dali para pegar alguma coisa.
- Eu tomo remédio, não precisa se preocupar... – a voz da menina soou fraca e rouca.
Assentindo, Ian voltou a se aproximar dela, beijando-a novamente e posicionando seu membro contra o sexo da garota. Gemeram em uníssono ao que o corpo do rapaz invadiu o dela, ambos sentindo-se finalmente completos ao tornarem-se um só. Enquanto beijava toda extensão de pele que sua boca encontrava, Ian progressivamente aumentava o ritmo de seus movimentos.
Continuaram essa dança sensual até que não fosse mais possível adiar o fim daqueles momentos de puro êxtase. Alcançaram o clímax juntos, o nome de cada um sendo proferido pelo outro num último gemido apaixonado.
Com a respiração acelerada e o corpo coberto de uma fina camada de suor, Ian deixou seu corpo relaxar relativamente sobre o de . Sem que pudesse controlar, um sorriso de da mais pura felicidade tomou conta de seu rosto.
- Feliz Natal. – ele disse, soltando algumas risadas.
- O melhor presente de todos. – ela sussurrou, abrindo um sorriso antes de inclinar a cabeça e selar seus lábios aos dele mais uma vez.
N/A FELIZ NATAL, FAMÍLIA FFOBS!
Espero que todos estejam curtindo essa data linda que é o natal. Esse conto foi um presente meu para vocês, espero que tenham gostado! Nunca corri tanto pra escrever uma fic, então não tenho certeza se está boa ou não :S
Deixem seus comentários me dizendo o que acharam de ter o Ian Delicinha como presente de natal ;D hahahahaha
Beijinhos,
Mariana.