null estava sentada sozinha em um pufe próximo à discoteca. Lá ela podia observar as pessoas se divertindo e tomar seu drinque sem que ninguém a incomodasse, mas sem que passasse em branco. De repente, alguém muito conhecido passou por ela abraçado a uma garota que ela nunca havia visto na vida. null sentiu seu coração apertado e xingou-se por estar sozinha ali, completamente patética. Ela levantou-se para pegar outro drinque, mas seu caminho foi interrompido:
- Alguém já disse como você está bonita hoje? – perguntou null, um conhecido qualquer. Ela não sabia ao certo como eles haviam sido apresentados, provavelmente era algum amigo de null, melhor amigo de null. Desde a época que ela namorava Mark, null dava em cima dela direto, o que gerou algumas brigas.
- Obrigada – disse ela sorrindo – Olá, null.
- Oi, vi você ali sozinha, mas logo quando fui te encontrar você levantou... Tem noção da luta que é pra atravessar a sala com o tanto de gente?
- Oh, coitadinho – eles riram e null puxou null para ir andando com ela em direção ao bar – Então, tá curtindo a festa?
- É, pode-se dizer que sim. E você?
- Não muito – Ela sentiu lágrimas surgirem em seu rosto e se amaldiçoou por tocar no assunto.
- null, você precisa esquecer esse idiota... Que tal dançar? – null afastou a mão de null do drinque e a puxou para a pista de dança.
- Hey, nem tive tempo de contestar! – disse ela rindo.
- Ah, eu sabia que você não iria... – null deu de ombros e eles riram novamente. Ele era um cara legal, apesar de se achar um pouquinho, e tudo o que null precisava no momento era de alguém legal.
Um tempo depois, aquele velho conhecido casal esbarrou neles. Mark estava com as mãos na cintura da garota e eles pareciam não se importar de estar esbarrando nos outros.
- Que otário... – sussurrou null, mais para si do que para null – Como é que ele consegue ser tão cara de pau?
- null, esquece ele...
- Não dá, simplesmente. Já tentei, sério.
- Talvez você não tenha se empenhado de verdade em esquecê-lo – null encarou null furiosa, mas no fundo sabia que era verdade. Quanto mais ela tentava esquecer Mark, mais ela lembrava dele, mais sentia saudades, mais queria voltar com ele, mais achava que era capaz de se humilhar para tê-lo de volta.
- Tenho uma sugestão para você. Para você esquecê-lo de vez.
- Pode falar, aceito qualquer coisa.
- É o seguinte: você vai ter que parar de falar no Mark. Parar de falar, parar de olhar até você conseguir parar de pensar. Mas se você o fizer, vai ter que me beijar. É quase como uma aposta para ver se você consegue ou não se divertir sem ele – disse null e null riu, ele não podia estar falando sério.
- Ah, null. Não é simples assim...
- É sim. Hoje você vai se divertir sem ele, ok? Então, aceita ou não?
- Aceito – respondeu null e null sorriu.
A noite passou tranqüila, null de fato se divertiu e não pensou muito no ex. Cada vez que o via e sentia vontade de falar algo, a vontade de não beijar null era maior e a impedia de comentar, assim ela pensava cada vez menos nele. E também, não que null fosse uma má pessoa, tão ruim ao ponto de ser “imbeijável”, é só que ela não estava preparada para um relacionamento.
- Então, daí ele falou: Sr. null, eu disse que era pra você ir para a diretoria, o que você tá fazendo aqui na biblioteca? E eu respondi: Você me mandou sair de sala, não ir para a diretoria! E aí eu voltei para a sala normalmente... – Eles conversavam animadamente no jardim. null contava um episódio que ocorrera na sala de aula e null ria como nunca.
- null, você é doente ou coisa assim? – null riu quando null fez cara de ofendido – Aposto que se pudesse, ele te matava! Aquele homem não é normal, sério.
- E você acha que eu não sei?! Eu achei que ele fosse enfiar minha cara na privada ou algo assim, ainda bem que eu... – null parou de falar quando notou que null não ria mais, nem ao menos o observava. null olhava atentamente o outro lado do jardim e apertava os olhos, como se isso lhe garantisse uma visão melhor. Então null pode constatar que o que null tanto observava era Mark prestes a beijar sua acompanhante.
- null, se lembre da nossa apos... – Nesse momento, Mark agarrou sua acompanhante e deu um beijo daqueles nela, com direito a passar a mão em todos os lugares possíveis, e até os impossíveis.
null encarou null, abismada, com lágrimas nos olhos e tudo que ele pôde pensar foi dar um abraço amigável na garota. Toda a aposta foi apenas para que ela se divertisse, ele não teria coragem de aproveitar esse momento frágil da garota.
- null... Você quer sair daqui? – perguntou null pegando na mão da garota.
- Nã-não. null, a gente fez uma aposta, lembra?
- Quê? Eu só tava brincando, eu posso me aproveitar da sua tristeza.
- Sério – Ela disse com os olhos cheios d’água – Eu fiz uma promessa e agora eu tenho que cumprir.
null deu de ombros, afinal, era o que ele queria desde o início, e curvou-se para se aproximar da garota. null fechou os olhos, queria fazer de tudo para impedir as lágrimas caírem, e esperou. null colocou uma mão no rosto da garota e vagarosamente encostou seus lábios no dela. Eram macios e quentes como ele sempre imaginou. Então null abriu a boca, para dar passagem à língua dele, e se impressionou com como aquilo a deixou tranqüila.
O beijo de null era sereno, doce, a confortava. Eles ficaram se beijando calmamente por um tempo, até que null decidiu que era hora de intensificar. Guiou a mão livre de null até a própria cintura e colocou as mãos na nuca do garoto. null acariciava a cintura de null, descia e subia a mão pelas costas da garota. Ela, por sua vez, brincava com os cabelos de null, notando assim que eram bem mais macios que os de Mark.
Eles ouviram um barulho próximo ali e partiram o beijo para observar. Mark havia esbarrado em algo, caindo em cima do bar, ele olhava assustado para o local onde null e null se encontravam. null encarou null alarmada e ele deu um sorriso triste. Estava claro que Mark ainda se importava com null, apesar de tudo.
- null! – gritou Mark vindo correndo ao encontro dela – Precisamos conversar.
- Eu não tenho nada pra conversar com você – disse ela sem encarar Mark.
- Claro que temos, você tava aí beijando esse idiota na frente de todo mundo!
- Como é que é? – null levantou controlando o impulso de não socar o cara – Você sai desfilando com uma qualquer aí, fazendo null sofrer e ela deve fazer o que? Ficar se humilhando e correndo atrás de você?
- É o que uma boa namorada faria! – gritou Mark. E o que houve a seguir foi complicado até pra null explicar. Só o que era possível ver eram os rostos de Mark e null sangrando e os dois rolando no chão.
- Parem, por favor! – null gritava e chorava descontroladamente, só o que pôde fazer foi correr para dentro da festa e procurar um conhecido.
- null! – Ele estava próximo à cozinha, de onde saía com garrafas de cerveja.
- Meu Deus, o que...
- null, Mark e null tão brigando! Me ajuda, por favor! – Eles voltaram ao jardim correndo e null segurou null, enquanto null ajudava Mark a levantar.
- O que tá acontecendo aqui? – gritou null enquanto null se esforçava para se soltar.
- ESSE IDIOTA FICA TRATANDO A null MAL E SE ACHA NO DIREITO DE CONTROLAR A VIDA DELA!
- Pára, null! – gritou null aos prantos.
- CARAMBA, null, ELE TE FAZ DE CAPACHO E VOCÊ VAI DEFENDÊ-LO?
- DÁ UM TEMPO, CARA! ELA NÃO TE QUER! VOCÊ QUE É O IDIOTA AQUI! – gritou Mark se desvencilhando dos braços de null.
- null, EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊ VAI FICAR DO LADO DELE! – null se soltou dos braços de null e encarou null irritado.
- Pára, null, por favor! – null chorava e null foi abraçá-la.
- Dá um tempo pra ela, null – aconselhou null soltando null e puxando null pra fora.
- É, dá um tempo... – Mark ocupou o lugar de null abraçando null, que não o impediu.
- Tá! Não precisa me tirar daqui, eu vou sozinho! É, o idiota mesmo fui eu aqui, por acreditar que podia te ajudar, por acreditar que você confiava em mim para isso... ME LARGA, null, EU TÔ SAINDO! – null saiu furioso pela porta do jardim e em seguida só foi possível ouvir a arrancada que o carro dele deu.
- null, eu sabia que você ia me perdoar – disse Mark apertando a garota contra ele – Você me ama, eu sei.
- Eu não te perdoei – respondeu null afastando-se de Mark.
- Mas...
- Eu não te amo, Mark – disse ela saindo de perto dele. – Você devia perceber que o grande idiota aqui é você, por fantasiar ser alguém que na verdade não é. Você é um otário que acha que todos estão à sua disposição quando você quiser, mas eu não estou. Sai da minha vida, Mark. Não quero nunca mais te ver.
Dito isso, null correu até null e pediu que ele a levasse à procura de null. Achava que ele não ia entender por que ela havia ficado ao lado de Mark, mas não custava nada tentar. Sem muita demora, avistaram o carro de null mal estacionado próximo a um parque ali perto.
Eles desceram do carro e andaram pelo parque até ver um vulto próximo a uma árvore. A luz da lua não permitia ver o rosto da pessoa, mas eles sabiam que era null.
- Quer que eu fique aqui?
- Não, pode ir.
- Tem certeza?
- Tenho, eu me entendo com ele – null saiu com um pouco de receio, ainda a observar null se aproximar de null.
- Hey... – disse ela abaixando-se em frente a ele – Você tá bem?
null murmurou um “sim”, mas null observou sua mão suja de sangue.
- Sua mão tá sangrando... – ela pegou a mão de null, mas ele a puxou de volta.
- Esse sangue não é da minha mão.
- E é de quem então? – perguntou ela pegando a mão dele novamente, só que dessa vez ele não a puxou de volta, só respondeu achando um pouco de graça:
- Do Mark.
- Meu Deus! – disse null abismada e null a encarou, receoso.
- Que foi?
- Sua mão deve tá doendo pra caralho – respondeu ela e null riu.
- Pior que a minha mão só o rosto do Mark.
- E deveria ser assim, não é? – afirmou ela e eles riram.
- Achei que você tinha ficado do lado dele.
- Não... Eu só tava com medo. Por você – null se aproximou de null, abraçando-o.
null levantou o rosto de null, deixando-o na direção do seu e disse:
- Eu faria tudo por você, sou completamente bobo por você – Ele a beijou levemente e sorriu – E até parece que aquele estúpido ia conseguir fazer alguma coisa comigo, eu ia quebrar ele todo!
null riu e encarou null por uns minutos. Parecia impossível ela ter ignorado null por tanto tempo, ter sofrido por Mark quando null estava bem ali e ele ter lhe aceitado de volta quando ela ficou ao lado de outro. Parecia impossível ela não o ter amado logo de cara.
- Será que dá pra me beijar ou eu vou ter que me ferrar mais ainda para fazer isso? – perguntou ele colocando uma mão na barriga com uma falsa expressão de dor.
- Só se você prometer nunca mais falar algo assim na sua vida – disse ela rindo e se inclinando para beijá-lo. Alguma coisa lhe dizia que já era hora de começar um novo relacionamento, só que com alguém melhor dessa vez.