O vento frio cortava a colina, levando as folhas mais claras das árvores. Observei o movimento de seus galhos que pendiam com a força do vento. Suas raízes se esforçavam para mantê-la fixa ao solo. Estava sentado ali, encostado em seu tronco, esperando a pessoa de sempre. Acabou virando um ritual a nossa ida à colina a cada final de semana.
Fiquei brincando com a caneca vermelha que trouxera, esperando surgir no meu campo visual. Estava ventando mais do que o comum, e mesmo assim, não quis quebrar o nosso ritual. Fiquei feliz ao ouvir isso dela, pois estava com saudades. Desde que mudamos, não tem sido a mesma coisa. Estávamos a 40 quilômetros de distancia um do outro, e a solução que encontráramos era aquela colina que ficava exatamente entre as duas cidades.
Continuei encostado na árvore, mudando os passatempos. Agora empilhava as folhas secas caídas no solo em uma pequena torre que logo era levada pelo vento. Não desisti e continuei fazendo as torres de folhas, tentando ocupar minha mente. Estava contando os minutos para que ela aparecesse no cume, sorrindo como sempre fazia.
Meu desejo foi atendido algumas torres depois. Ela chegou, meio ofegante devido a subida, trazendo uma garrafa térmica e sua caneca. Levantei rapidamente indo a sua direção. Assim que ela percebeu que eu já a sua espera – como sempre - recobrou suas forças, e andou cada vez mais rápido. Senti seus braços me envolvendo e não pude evitar ficar calado.
- Senti sua falta. Você está ótima – sussurrei, ainda a abraçando.
- Não seja tão sentimental, . - ela zombou, passando a garrafa térmica. – Também senti sua falta.
Ganhei um beijo suave no rosto, e ela já estava me puxando em direção a árvore. Sentamos e ela já estava contando sobre tudo que havia acontecido em sua semana. Tentei prestar atenção, ignorando o fato de que nossos corpos estavam muito próximos. Ela falava rapidamente, sempre gesticulando ou puxando as mangas do casaco roxo favorito.
- Isso realmente me irrita, sabia? – ela disse, batendo no meu braço.
- O que? – murmurei, como se estivesse acordando agora.
- Você me irrita! Fiquei falando aqui e você não abriu a boca pra dizer uma palavra. – ela dizia, tentando parecer séria, mas seus olhos não eram capazes de esconder seu tom de brincadeira.
- O que mais eu posso fazer? Sua vida parece ser bem mais interessante do que a minha. – disse, entretido com uma pequena folha que havia caído.
- Sem essa! Quero escutar o que você tem a dizer, . Pode falar. – ordenou ela, entre risos, se apoiando no tronco. Ela puxou o cabelo para frente, evitando com as cascas da árvore.
- Posso falar mesmo? – disse, sentindo a insegurança tomar meu corpo. Por um momento, não sabia onde colocar as mãos que parecia tremulas devido à presença dela. Acabei por enfiá-las dentro do casaco.
- Por favor. Você anda muito quieto de umas semanas para cá. – ela disse, olhando para mim. Pelo menos, era o que eu sentia, já que meus olhos estavam voltados para o horizonte. – Aconteceu alguma coisa? Na escola? Ou é alguém?
Fiquei em silêncio, observando agora um sorriso menos contagiante aparecendo em seu rosto. Com a cabeça apoiada no tronco, seus olhos agora me evitavam.
- Fala, . – ela insistiu.
Não tinha muito que perder. Talvez nada que eu não pudesse recuperar depois. Sei que isso soa de maneira convencida e arrogante, mas não é minha intenção. Às vezes posso ser um pouco mais confiante do que deveria ser.
- Certo. Eu só estou confuso. Nada demais. – parecia o jeito mais fácil e clichê para se começar. O desespero sempre me fazia esquecer o que eu tinha treinado tantas vezes antes do dia D. Mas na ausência de palavras, minha percepção ficou mais aguçada. Eu era capaz de reparar nos pequenos detalhes que vinham com ela. Tanto no visual quanto no emocional. Cada mudança, cada nuance ficava óbvio para mim. Sua angústia era perceptível a partir do momento que eu fiquei em silencio. Algo a perturbava. Podia ser apenas meu silencio. Ou eu deixei transparecer algum sentimento maior. Tinha sido cuidadoso quanto a isso.
- Confuso como? –ela disse, com uma voz firme, abandonando a arvore como apoio. Cheguei mais perto – uma atitude impulsiva e improvisada – deixando com que ela se apoiasse sobre meu corpo. O vento ainda varria as folhas do chão, sem deixar rastros.
- Confuso por alguém. – arrisquei.
Ela murmurou algo. Apertei meu braço em volta de seu corpo. Ela não parecia ter entendido ainda, mas eu não sabia com ser mais explicito. O silêncio dominou a colina mais uma vez, com exceção do uivo dos ventos entre as arvores. Nesse meio tempo, busquei uma abordagem mais direta mais nenhuma me pareceu boa o bastante para .
Quando decidi que seria melhor falar de vez, e uma coisa me vez parar.
- Ai! – ela reclamou – O que foi isso? perguntou, procurando o que havia lhe atingido da cabeça. Baixei os olhos para o solo, e apanhei uma pequena noz dentro da caneca dela.
- Acho que foi isso. – ela pegou a noz da minha mão, e olhou para cima. Um ruído estranho parecia competir com o uivo dos ventos naquela hora. O que fazia acertado foi uma noz, vinda de dois esquilos que pareciam brigar por mais uma.
- Rá, era o que me faltava. – ela se levantou, saindo dos meus braços, mas me puxando junto. – Olha isso !
- Hum, parece que não estão se entendendo muito bem. – observei, vendo os esquilos soltaram grunidos baixos e agudos.
- Eles me lembram aqueles esquilos do desenho animado. Tico e Teco. – ela riu, observando, com seu sorriso de volta, um dos esquilos correndo atrás do outro que tinha roubado sua noz. Os dois corriam pelos galhos, rolando entre eles, e disputando a noz como se fossem a ultima que existisse por ali. E creio que esse era o problema.
Busquei a noz caída da grama, sob o olhar curioso de .
- Me ajuda? Vou resolver esse problema antes que esses esquilos bestas se matem – passei a noz para ela, e comecei a subir pela árvore.
- Desde quando você se importa com os animais, ? – ela perguntou, com uma pitada de sarcasmo na voz.
Eu tinha a resposta certa dessa vez. E improvisada.
- Desde sempre, mas você aumentou meu interesse na aula de biologia há dois anos. – sorri para ela, ainda subindo a arvore devagar para não assustar os esquilos. – Quando nos conhecemos.
Não sabia se era a luz do sol que estava indo embora, ou seu rosto realmente ficou mais corado. Sentei em um tronco, e ela me passou a noz. Os esquilos olhavam intrigados para mim, tentando descobri o que aquele ser estranho estaria fazendo na árvore deles. Coloquei a noz num galho próximo, e comecei a descer da árvore. Por fim, parecia mais fácil subir do que descer de lá. Acabei escorregando e caindo de costas sobre grama gelada.
- Ai – gemi, sentindo a garrafa de chocolate quente na minha cabeça – esquilos ingratos.
- Tudo bem, ? – , disse com uma voz preocupada, ajoelhada ao meu lado. Bem próxima, devo ressaltar.
- Sim. – é tudo que um idiota apaixonado pode dizer para a garota que ela ama ao seu lado. Mais uma atitude levada e improvisada. Levantei a cabeça, até certa altura, perdendo a nitidez de seus olhos com a proximidade. Ela avançou o resto de espaço que estava entre nós. O momento até me deu uma fraqueza, fazendo minhas costas voltarem ao solo. Ela se abaixou e me beijou mais uma vez.
- Uou – exclamei, idiota – Você ...
- É, eu sim – ela se deitou ao meu lado, deixando que eu a beijasse de novo. Pouco depois, ela me afastou rindo.
- O que foi? – perguntei
- Olha só! – ela apontou para arvore, rindo – Você subiu lá à toa. Parece que o Tico decidiu ficar com as duas nozes para ele. Um dos esquilos corria com as duas nozes pela arvore, com Teco no seu encalço.
Ri também.
- Bom, eles se entendem depois. Valeu à pena ter tentando ajudar os esquilos. A queda da árvore foi bastante satisfatória.
Ela riu mais uma vez, sentando e apanhando a garrafa térmica e as canecas.
- Muito engraçado. – ela me passou uma caneca para mim, a enchendo com o chocolate quente.
- Sempre fui. – diz, antes de provar um pouco do chocolate. – AAII!
Não, o chocolate não estava quente demais. Tinha sido atingido por uma noz. Olhei para a árvore, e Tico e Teco parecia rir – como esquilos bestas – correndo até o interior do tronco.
Ignorei os esquilos, puxando para junto de mim. Ela continuava a rir do incidente, mas eu não ia matar os esquilos por si.
Na verdade, eu ia comprar algumas nozes para eles amanhã. Criaturas insanas, inacreditavelmente úteis.
Tico e Teco. Irritantes, mas marcaram aquele momento.
n/a: Tcharam Agora vocês estão pro dentro das aventuras mágicas de Tico e Teco ;) Só para constar, eu sou o Teco e a pat, o Tico *-* Ela roubou minhas nozes ¬¬ Mas, tudo bem, Eu perdôo. PARABEEEEEEEEEEEEEEEEEENS BESTA *--------* VOCÊ NÃO É TÃO TIA QUANTO EU, MAS AINDA É VELHA – q Te odeio, besta tico :* l)