O barman colocou a garrafa verde de Heineken na minha frente e eu sorri agradecido antes de dar um generoso gole na cerveja. O líquido gelado desceu pela minha garganta, me dando uma extrema sensação de prazer e me fazendo relaxar o corpo. Já não sentia mais frio, o aquecedor do Pub deixara a temperatura do ambiente extremamente agradável. Observei pela vidraça a neve cair do lado de fora e imaginei o quão frio devia estar.
Algumas risadas vindas de uma mesa logo atrás de onde eu estava, chamaram minha atenção. Me virei e observei por alguns segundos a família sorridente e despreocupada. O que poderia levar uma família a passar o Natal em um Pub?
Percorri meu olhar pelo Pub vazio e notei um casal em uma mesa afastada, conversando baixo e entre sorrisos. Suspirei, tentando não deixar que algumas memórias desagradáveis invadissem minha mente e voltei a olhar a garrafa verde no balcão à minha frente. Antes que eu conseguisse ler o rótulo pela décima vez, meus olhos se prenderam em uma garota, que até então eu não havia notado.
Observei discretamente enquanto ela parecia desenhar alguma coisa em um bloco, de uma forma muito concentrada. Tomei mais um gole da minha cerveja e soltei um suspiro pesado, olhando novamente a garota. Analisei brevemente minhas opções e percebi que passar o Natal com alguém era menos deprimente do que passar sozinho com uma garrafa de Heineken.
Depois de considerar mudar de direção algumas vezes e me achar um completo fracassado por isso, acabei parando um pouco atrás do banco onde ela estava e observei o desenho que ela fazia na página do bloco. Parecia um sapato feminino com um salto incrivelmente alto, me perguntei se alguém conseguiria se equilibrar em cima daquilo, mas lembrei da enorme capacidade feminina de conseguir andar até em cima de uma agulha.
- Talvez se você botar essa parte um pouco mais pra cima, fique melhor. – Falei, apontando o que parecia ser a parte de trás do sapato.
Ela me olhou em dúvida e depois sorriu.
- Você entende sobre o assunto? – Levantou a sobrancelha, desconfiada.
- Nah. – Ri. – Mas na minha leiga opinião, parece bonito. – Sentei no banco ao lado dela e estendi minha mão. – .
- . – Ela apertou minha mão. – E obrigada pela leiga opinião. Mesmo sendo leiga, ainda vale muito.
- Então, você é tipo... Designer de sapatos femininos? – Perguntei, enquanto ela voltava a desenhar. Observei suas mãos habilidosas fazerem alguns rabiscos. Levou alguns segundos para que ela respondesse.
- Desculpe, eu entro em uma espécie de transe enquanto desenho. – Riu. – Não sou designer de sapatos femininos. Não ainda. – Piscou. – É um trabalho do meu curso de Design.
- Desculpe, não queria atrapalhar. Vou deixar você fazer seu trabalho em paz. – Me levantei, já preparado pra definitivamente passar a noite com uma, ou várias garrafas de cerveja.
- Não precisa. – segurou meu braço e sorriu. – Sério, é um pouco mais deprimente do que eu previa passar o Natal sozinha.
- Hm... Nesse caso, acho que pensamos igual. – Sentei novamente e reparei na garrafa vazia de cerveja em frente a ela. – Posso te pagar outra bebida?
- Só se você não estiver tentando me embebedar e me levar pra cama. – Ela riu.
- Nah, você não é tão gostosa assim. – Pisquei, mas acabei rindo logo em seguida, quando ela me deu um soquinho no braço. – Stu, mais duas cervejas. – Pedi ao barman.
Fiquei em silêncio, observando fazer alguns ajustes no desenho e reparei na leveza da mão dela ao fazer os traçados no papel. Ela conseguia rapidamente transformar algumas simples linhas em um desenho absurdamente complexo.
- Você realmente tem talento. – Comentei baixo, vendo um pequeno sorriso surgir no canto de seus lábios.
Depois de quase cinco minutos, ela finalmente deixou o lápis no balcão e deu um gole na cerveja. Observou o desenho por alguns breves segundos e depois me olhou.
- O que acha? Diga com sinceridade. – Pediu, segurando o papel em suas mãos e me dando um melhor ângulo do desenho.
- Eu acho que compraria para dar de presente para uma garota. – Observei o papel por mais alguns segundos. – É. Eu definitivamente daria de presente para uma garota. – Trocamos um sorriso sincero e ela fechou o bloco, soltando um suspiro aliviado.
- Pelo menos escapar da ceia de Natal teve alguma vantagem. – Deu de ombros.
Ficamos um tempo em silêncio, apenas ouvindo a música que saia das caixas de som e as risadas da família que parecia se divertir como nunca. apoiou os braços no balcão e mordeu o lábio inferior, demonstrando que estava desconfortável por causa do silêncio. Me ajeitei no banco, amaldiçoando mentalmente a perda quase total da minha capacidade de flertar com uma garota, especialmente no Natal.
- Então... – Falamos juntos e rimos. Ela me olhou e esperou que eu falasse alguma coisa.
- Vai me contar por que tá passando o Natal sozinha em um pub? – Perguntei, um pouco hesitante. deu de ombros e entortou a boca.
- Pra ser sincera, eu nunca fui muito fã de Natal. É até legal quando você é criança e acredita que o Papai Noel realmente te traz presentes e todas essas coisas, mas daí você cresce, descobre que o bom velhinho era na verdade seu tio disfarçado e toda a magia parece sumir. – Ela me olhou por alguns segundos e eu perdi a linha do raciocínio, só recuperando quando ela piscou e voltou o olhar para a garrafa de cerveja.
- Por quê? – Deixei que minha curiosidade falasse mais alto.
- Acho que eu comecei a perceber que o Natal se tornou um feriado sobre presentes. As crianças pedem vídeo games e bonecas, os adultos usam sempre a desculpa de que compram apenas lembrancinhas sem muito valor e, no final, todos vão pra casa insatisfeitos com o que ganharam. Quer dizer, quem se importa em reunir a família, celebrar o nascimento de Jesus, ou sei lá... Agradecer pelas coisas boas da vida?! – encolheu os ombros. – Acho que a magia do Natal, no final das contas, não é tão mágica assim.
- Já parou pra pensar que nem todos são assim? – Arqueei uma sobrancelha. – Lá em casa o Natal sempre foi o feriado preferido. Sabe como é, família grande, as reuniões são sempre engraçadas. Sei lá, acho que éramos contagiados com a tal magia natalina, a gente sempre acreditou nela. – Parei um instante e me olhou sorrindo. – Ei, você mudou de assunto. – Constatei, lembrando a pergunta que havia feito antes. – Quero saber o que de traz em um pub em plena noite de Natal.
- Bom, como eu disse antes, nunca fui muito fã de Natal. Há dois anos atrás eu saí de York e vim morar em Londres com uma amiga, que pra minha infelicidade, parece ser tão fã de Natal quanto a sua família. – Rimos. – Ano passado ela me fez ajudá-la com toda a ceia e comprar vários presentes para pessoas que eu nem ao menos conhecia. Esse ano eu resolvi abrir o jogo com ela e contar que Natal não é exatamente meu feriado favorito. E bom... aqui estou eu.
- Ela te expulsou do apartamento? – Perguntei, sem entender. gargalhou, balançando a cabeça em negação.
- Eu só resolvi vir pra um lugar onde o Natal praticamente não existe.
- Exceto por aquele enfeite ridículo na porta. – Acrescentei, vendo-a concordar.
Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, o celular dela começou a tocar. Desviei minha atenção para a cerveja e tomei alguns goles calmamente. Pela vidraça, pude perceber que já não nevava mais e a rua parecia mais movimentada do que antes.
Um grupo de cinco amigos, todos com gorrinhos vermelhos de Papai Noel, entrou no pub e sentou em uma das muitas mesas vagas. Uma das garotas me olhou e sorriu discretamente, cutucando a amiga ao lado e cochichando alguma coisa em seu ouvido. Antes que eu pudesse perceber se ela havia dito algo sobre mim, a voz alta de ao meu lado chamou minha atenção.
A olhei e percebi seu rosto um pouco vermelho, de raiva ao que parecia. Ela falou algumas coisas em outra língua, talvez alemão, e desligou o telefone, irritada. Esperei que ela respirasse fundo algumas vezes e depois cobrisse o rosto com as duas mãos, numa tentativa de se acalmar mais rápido. Acho.
- Hm, não sabia que uma garota podia ficar sexy brigando em outra língua. – Falei, numa tentativa de amenizar o clima. riu, tirando as mãos do rosto e me olhando.
- Desculpe por isso. Eu e meu irmão sempre brigamos em alemão, os palavrões soam mais legais. – Deu de ombros.
Tentei imaginar os palavrões que ela havia usado, mas o meu vocabulário alemão era muito limitado. Batuquei alguma musica aleatória no balcão, sem saber direito o que fazer ou falar e esperei terminar a cerveja dela.
- Ei, acho que parou de nevar. – Ela sorriu, olhando o lado de fora do pub. – Acho que preciso caminhar um pouco pra me distrair. – Comentou, com o olhar ainda perdido na rua cheia de neve. Pegou algumas notas na carteira e deixou no balcão, ao lado da garrafa.
me lançou um sorriso antes de colocar o casaco e as luvas e sair do pub. Eu quase podia ler a palavra fracassado em minha testa. Stu me olhou como se sentisse pena, e em um momento de impulso, tirei algumas notas da carteira e as deixei em cima das de , saindo do pub em seguida.
- Hei! – Gritei, sem necessidade, já que estava a alguns passos de distância. Ela olhou pra trás e sorriu, esperando eu me aproximar.
- Achei que fosse precisar ir lá dentro te chamar. – Falou, me pegando de surpresa. Eu sorri também e olhei em volta.
- Onde vamos? – Ela levantou os ombros e recomeçou a andar. A acompanhei, respirando com um pouco de dificuldade por causa do frio.
- A Terra do Nunca soa bem aos meus ouvidos. – Rimos.
Caminhamos pela rua um pouco estreita, até sairmos na principal que estava mais movimentada. As luzes natalinas estavam por toda a cidade, um clima diferente parecia se abater em todos os lugares, me fazendo acreditar que a magia do Natal era de fato real.
caminhava distraída ao meu lado, algumas vezes ela observava as pessoas, outras a neve que cobria uma parte das calçadas. Suas mãos estavam devidamente aquecidas dentro dos bolsos do casaco, assim como suas orelhas, escondidas pelo gorro. Percebi que a ponta do nariz dela estava rosada e sorri comigo mesmo.
- Então... – Ela começou, um pouco receosa. – Vai me contar o que uma pessoa que acredita tanto na magia do Natal estava fazendo sozinho em um pub no dia vinte e quatro de dezembro?
- Vou. – Falei, fazendo um movimento engraçado com a cabeça. riu. – Mas não agora. – Pisquei, pegando-a de surpresa.
- Você é sempre misterioso assim, ou só quando ta tentando impressionar uma garota? – Brincou.
- Hm, tem uma pista de gelo aqui perto. Sabe patinar? – Mudei de assunto.
- Que tipo de pessoa mora em Londres e não sabe patinar? – Ela me olhou, como se fosse uma pergunta óbvia. Sorri e dei de ombros.
No caminho até a pista de gelo, me contou sobre seus Natais passados com a família e a vida em Londres. Eu não entendia como já estávamos tão conectados, mesmo sem nos conhecermos direito. Não foi como naqueles filmes idiotas e clichês em que você conhece alguém e sente que já a conhecia. Eu nunca havia conhecido . Nunca havia sonhado com ela antes, nem nada estranho assim. Eu apenas me sentia conectado com ela, como se estivéssemos em sintonia.
O mais estranho era o fato de eu saber tanta coisa sobre ela, e ela não saber nada sobre mim. Eu não estava tentando ser misterioso como ela havia pensado, apenas não gostava de tocar no assunto, nem com meus amigos, nem com ninguém. O Natal de dois anos antes ainda era uma ferida aberta, ainda doía e machucava lembrar do que acontecera.
- Chegamos. – Apontei a pista um pouco a nossa frente.
- A ultima vez que eu patinei foi há uns cinco anos atrás em York, com meu irmão e meus primos.
- Prometo não rir das suas quedas. – Brinquei.
- Hm, não posso prometer o mesmo. Desculpe. – rebateu, me fazendo rir.
Depois de calçarmos os patins e caminharmos desajeitadamente até a entrada da pista, nos entreolhamos e subimos no gelo com cuidado.
- O que acha de uma aposta? – Ela me olhou, sorrindo de uma forma engraçada. – Vamos dar a volta na pista e quem chegar por último, paga uma dose de tequila pro outro.
- Duas. – Pisquei, já começando a patinar e ouvindo-a protestar logo atrás de mim.
Quando já estávamos quase na metade da volta, meu patins bateu sem querer na beirada, me fazendo escorregar e cair no gelo. Ouvi a risada de e, quando a olhei, vi que ela fazia um L de loser na testa. Antes que ela conseguisse virar-se de frente, uma outra garota esbarrou nela e as duas caíram no gelo.
- Nunca te disseram que você deve olhar sempre pra frente enquanto patina? – Perguntei, chegando perto dela e me agachando um pouco. Fiz o mesmo L na testa que ela havia feito pra mim e me esquivei rapidamente de um tapa que ela ia dar em meu braço. Gargalhei e voltei a patinar, vendo-a se levantar rapidamente e seguir logo atrás de mim.
Consegui dar a volta primeiro, mas vinha com tanta velocidade que não conseguiu parar, nos fazendo cair embolados no gelo.
- , pára de rir! – Falei, gargalhando quase tanto quanto ela. As pessoas na pista nos olhavam e riam de nossa situação.
- Ai, desculpe, não consegui frear. – Ela respirou fundo e saiu de cima de mim.
Me levantei e estendi a mão para que ela fizesse o mesmo, mas outra crise de risadas a impediu. Ri também, achando engraçada a forma como ela se contorcia para tentar parar com as risadas.
- Vem logo, risadinha. – Brinquei, pegando suas mãos e finalmente a levantando.
- Sério, eu sempre tenho crises de riso em momentos impróprios, é clássico. – comentou enquanto esperávamos por nossas doses de tequila.
Depois de darmos mais algumas voltas pela pista de patinação, resolvemos ir procurar um pub para tomarmos alguma coisa. Falei pra que ela não precisava pagar realmente as doses de tequila, mas ela disse que se sentiria muito donzela se não pagasse. É, eu também não entendi o que ela quis dizer.
- Sabe que esse tá sendo o melhor Natal que eu já tive? – Comentou, sorrindo agradecida quando o barman serviu as doses de tequila. – Exceto os da minha infância, quando eu ainda acreditava em Papai Noel. – Riu.
- Um brinde ao melhor Natal de todos. – Levantei o copinho cheio de tequila, e ela fez o mesmo, brindando no meu.
- Ainda nem são meia noite. – Ela observou o relógio em seu pulso. – Parece que a gente tá conversando há horas. – Ela me olhou, intrigada.
- Há dois anos atrás... – Comecei a falar, me sentindo mais confortável e solto. – Eu ia pedir minha namorada em namoro. Já estávamos juntos há quase quatro anos, e eu tinha certeza que ela era a mulher da minha vida. – me observou com atenção, como se realmente se interessasse pelo que eu estava falando. – O Natal também era o feriado favorito dela. Sempre montávamos árvores, colocávamos luzes nas janelas de casa, era uma data especial pra nós. – Respirei fundo, deixando que algumas memórias invadissem minha mente e cutucassem a ferida ainda aberta.
- , você não precisa...
- Eu sabia que ela estava um pouco diferente naquele Natal. – Interrompi . Eu tinha começado a falar, não podia mais parar. – Já havia quase dois meses em que ela parecia distante, e eu não entendia a razão. Achei que fosse coisa de mulher, tpm ou sei lá. Então eu comprei as alianças, eu convenci a mim mesmo que aquela era a solução dos problemas. – Balancei a cabeça, sentindo a dor adormecida invadir meu peito. – Quando o relógio marcou meia noite, na virada do dia 24 para o dia 25, eu me ajoelhei em frente a ela e a pedi em casamento. Na frente de toda a família e alguns amigos. Eu achei que ela fosse sorrir e dizer que aceitava sem nem hesitar, mas pro meu desespero, ela começou a chorar e correu pro quarto. Eu podia sentir o olhar de pena que todos naquela sala me lançavam, podia quase tocar a tensão que havia se instalado ali.
- Depois disso... Como eu ainda posso acreditar na magia do Natal? – Dei de ombros, jogando meu corpo pra trás, respirando fundo. me olhou em silêncio por alguns segundos. – Só quando todo mundo já havia indo embora, eu tive coragem de entrar no quarto. Dói ouvir a mulher que você ama dizer que está apaixonada por outro cara, sabe? – Passei as mãos pelo cabelo e engoli a vontade de chorar.
- Mais uma dose, por favor. – pediu ao barman. Sorri agradecido. – Quer apostar quem vira primeiro? – Brincou, arrancando uma risada minha.
- Só se estiver preparada pra perder de novo.
- Nem um pouco. Preparado? – Falou, pegando o copinho com tequila. Assenti com a cabeça e viramos os copos.
- Ei, como você consegue virar tão rápido? – Perguntei, inconformado. Eu sempre era o primeiro a virar a tequila quando estava com meus amigos.
- Anos e anos de prática. – Ela deu de ombros, fazendo uma cara nada modesta. – Eu acho que a gente deveria comemorar alguma coisa. – Falou, pensativa.
- Que não seja Natal, não envolva troca de presentes e nem construção de árvores. – Concordei. – Pode ser, hm... A libertação dos escravos! – Levantei o copo vazio e fiz uma pose heróica. gargalhou e abaixou meu braço, cortando todo o meu barato.
- , eu to falando sério. – Balançou a cabeça. – Já sei! Podemos comemorar o...
- Não-Natal! – Falamos juntos.
Nos entreolhamos surpresos por alguns segundos e depois caímos na risada. De alguma forma, havíamos lido o pensamento um do outro. Estávamos novamente em sintonia, como se nossas vidas estivessem exatamente na mesma página, do mesmo livro.
Paramos de rir e voltamos a nos olhar, deixando que um curto silêncio se instalasse.
- Feliz dia de Não-Natal. – Sorri.
- Feliz dia de Não-Natal. – Ela repetiu. – E vamos parar com esse clima melancólico. O dia de Não-Natal inclui falar besteiras, esquecer os problemas, beber bastante e sair fazendo loucuras pela rua. – Riu. Concordei vagamente e chamei o barman, pedindo outra dose de tequila.
- Vamos começar pelo beber bastante então, o resto é conseqüência!- Rimos.
Depois de cinco doses de tequila e mais duas garrafas de cervejas, já havíamos esquecido que era Natal e contado todos os motivos para não acreditarmos na magia dessa data. Não estávamos mais preocupados com as pessoas ao nosso redor, tão animadas e festivas, e nem escondíamos mais nossa aversão ao Natal. Cantávamos musicas natalinas, mudando as letras e fazendo trocadilhos idiotas. Era a verdadeira comemoração do Não-Natal.
- Não acredito que aquele barman idiota nos expulsou de lá! – riu, mesmo estando inconformada.
- Feliz Não-Natal pra vocês também, seus bundões! – Gritei, já do lado de fora e sabendo que ninguém dentro do pub nos ouviria. – Vamos, , vamos comemorar nosso Não-Natal sozinhos. Não precisamos deles mesmo. – Comecei a caminhar, mas parei ao perceber que não havia feito o mesmo.
Virei para entender o motivo e a vi olhar para uma casa a alguns metros de distancia. Luzes coloridas piscavam e muitas pessoas estavam do lado de fora, definitivamente não parecia ser uma festa natalina. me olhou sugestiva e eu sorri, já concordando antes mesmo que ela precisasse dizer alguma coisa.
- Feliz Natal. – Cantarolamos juntos, para ninguém e todo mundo ao mesmo tempo. Algumas pessoas nos olharam confusas e nós entramos rapidamente na casa.
O lado de dentro, assim como o lado de fora, estava cheio de pessoas conversando e bebendo champanhe. Atravessamos a sala, sorrindo para algumas pessoas que nos olhavam de uma forma estranha, e entramos na cozinha onde alguns garçons enchiam bandejas com comidas e bebidas.
- Er... duas taças de champanhe, por favor. – Pedi, fazendo uma voz séria. soltou uma risadinha baixa ao meu lado e eu lhe dei uma fraca cotovelada.
Saímos da cozinha com nossas bebidas e fomos para o jardim atrás da casa, onde parecia estar acontecendo a verdadeira festa. Muitas pessoas dançavam no gramado, ao som da musica alta e animada. Puxei pela mão e a levei até o meio das pessoas para que pudéssemos dançar também.
- Can you meet me halfway, right at the borderline. That's where I'm gonna wait, for yoou. – cantou, dançando animada e levantando a taça de champanhe.
- I'll be lookin' out, night and daaay. Took my heart to the limit, and this is where I'll staaay. – Completei, acompanhando a musica.
- Uh uh uuuuh I can't go any further than this. Uh uh uuuh I want you so bad, it's my only wish. – Praticamente gritamos, e caímos na risada depois.
- Err… Desculpa interromper a festa de vocês. – Uma mulher que aparentava uns 40 anos e estava bem arrumada nos olhou de cima abaixo. – Você são...?
- Nós somos... – me olhou como se pedisse ajuda.
- Nós somos os ajudantes do Papai Noel, olha ele chegando ali! – Apontei um cara fantasiado e puxei pela mão rapidamente. – HO HO HO Feliz Natal! – Gritei, abraçando o bom velhinho.
- Bem vindo, Papai Noel! – o abraçou também.
- Quem diabos são vocês? – O cara nos afastou e nos olhou sem entender.
Eu e nos entreolhamos e voltamos a rir, antes de sair correndo para longe da casa. Corremos por quase cinco minutos e toda hora olhávamos pra trás, como se estivéssemos fugindo de alguém. Em momento nenhum nós paramos de rir, cada vez que olhávamos pra trás, as risadas aumentavam. Só paramos quando deslizou no gelo e caiu deitada no chão.
- , tá tudo bem? – Perguntei preocupado, já que a queda pareceu doer. Ela me olhou com uma cara de dor, mas dois segundos depois começou a rir. – Porra, você me assustou. – Ri. – Achei que tivesse se machucado de verdade.
- Eu machuquei, droga. Mas não consigo parar de rir.
- Sério, eu nunca conheci ninguém que ri tanto quanto você. Vem, se levanta. – Estendi minha mão e, ao invés de levantar, ela me puxou pra baixo, me fazendo cair em cima de si mesma e começando mais uma crise de risos.
- Eu sempre quis fazer isso em alguém. – Confessou, passando a mãos pelos olhos para enxugar as lágrimas que começavam a cair, tamanha era a crise de risos.
- FELIZ NATAL!! – Ouvimos várias pessoas gritarem ao mesmo tempo e olhamos para algumas pessoas em um restaurante que se abraçavam animadas.
- Feliz Não-Natal, . – Falei, observando seu rosto de perto e vendo um sorriso sincero se formar.
- Feliz Não-Natal, . – Ela sussurrou de volta.
Então eu fiz a única coisa que eu queria fazer desde que a noite havia começado.
Guerra de neve!
Brincadeira, isso foi depois de eu beijar a .
fim.
n/a: FELIZ NATAAAL! HEHE
Nem acredito que finalmente terminei esse conto. Pra ser honesta, eu comecei a escreve-lo atrasado porque achei que nem fosse conseguir, mas daí surgiu uma idéia e eu me empolguei. Mas nossa, achei que nunca fosse terminar, ainda bem que ele é pequeno! Enfim, me contem como foi o Natal de vocês (a véspera de Natal na verdade). Ganharam muitos presentes? Comeram muito? Beberam pouco? rs HAHAHAHA! Espero que tenham se divertido.
Esperam que gostem do conto. Eu achei meio bobo e clichê, mas até fofinho.
Bom, divirtam-se nesse final de ano. Comemorem bastante, agradeçam pelas coisas boas que aconteceram e esqueçam as coisas ruins porque o tempo é o melhor remédio pra qualquer problema (ou a maioria deles rs). Beijos, amores. Até ano que vem! *-*
ps: Beijo espcial pra Vivi's. Obrigada por me ameaçar com um facão caso eu não terminasse esse conto. O sentimento é reciproco rs HAHAHAHAHAHAHA!