- Mas que saco, diga pra ele que eu tenho certeza que deixei elas na caixa da porta dele na quinta-feira! - null alterou o tom de voz e completou a terceira volta na mesinha no centro da sala - Mas é claro que eu tenho certeza, pelo amor... Tá, tá, Jane, já entendi. Olha, tem uma cópia na minha gaveta no escritório, pegue e diga pra ele ver se tenta não perder dessa vez.
Ela desligou o celular sem nem ao menos esperar ou escutar uma resposta e se jogou no sofá ao lado de null, que desviou o olhar da televisão e lhe sorriu divertido.
- Você vai arranjar problemas pra sua secretária se continuar mandando ela falar essas coisas pra o seu chefe - ele riu e mordiscou a bochecha dela.
- Ele já tem problemas suficientes comigo por ser tão pé-no-saco!
- Quem é tão pé-no-saco? - null apareceu com Tom, descendo as escadas - Não me diga que você já tá arranjando problemas, null.
- Por que vocês sempre acham que eu tô metida em algum problema? - null fez uma cara indignada.
Tom sorriu, sentando do outro lado do sofá.
- Porque você sempre se mete em problemas - ele deu de ombros - Ou os arranja.
- Mentira - ela riu, ignorando o aperto em seu peito que não parava de lhe gritar que era verdade - Vem mais pra cá, Tommy! Eu não tenho AIDS.
null riu enquanto se aproximava com um pedaço de pizza e sentava no espaço entre a amiga e o namorado.
- Eu tenho minhas dúvidas. Você dorme com o null há três anos, não é algo muito seguro - Tom fez uma careta e puxou o pedaço de pizza da mão de null - Sem pizza pra você no café-da-manhã! Cadê aquele papo de gravidez saudável?
- Eu só podia tá louca quando falei algo assim - ela resmungou e voltou a se levantar, indo pra a geladeira.
null ainda ria sarcástica do que Tom havia lhe dito e sentia os braços de null apertando sua cintura, puxando-a para si. Ela sabia o que aquele abraço queria dizer. Ouvir o tempo em que eles têm estado juntos da boca de outra pessoa deixavam as coisas mais reais de uma forma extrema.
Às vezes, só porque as coisas são extremas, não quer dizer que sejam as melhores.
Um arrepio subiu por sua espinha e null virou-se, escondendo o rosto no pescoço de null.
- Tô com sono - sussurrou baixinho.
- Quer subir?
Ela concordou com um aceno de cabeça, mas antes que pudesse se levantar, o celular voltou a tocar. Bufando alto, claramente impaciente, null o pegou e leu o nome Frederick em sua bina. Merda.
Sentindo os olhares dos outros três sobre si, a garota apenas se levantou com o aparelho em mãos e saiu em direção ao quintal.
- Quê? - atendeu, rezando pra que a linha tivesse muda, indicando que tinham desistido de completar a ligação.
- PUTA QUE PARIU, BARBOSA, CADÊ VOCÊ? - a voz alterada de seu meio-irmão soou do aparelho e ela sentiu uma súbita vontade de rir.
- Me dê dois motivos que me obriguem a lhe dizer onde estou.
- Eu liguei pra sua casa de merda e ninguém atende. Ligava pra seu celular e só dava desligado! Até que eu liguei pra o seu trabalho e me disseram que você tá viajando! Eu sei que você nunca teve o lado são da família, irmãzinha, mas eu tenho a leve impressão de que essa não é a melhor hora pra se fazer uma viagem de última hora.
- Depois o null reclama de como eu trato a Jane... - ela suspirou - Não enche, Frederick.
- Você tá com null null? - merda, null pensou e o garoto voltou a falar lentamente - Onde diabos você está?
- Na Austrália - ela respondeu, mordendo o lábio inferior e escutou ele bufar do outro lado - Eu não fugi - se apressou em dizer. Sua voz estava cansada e null se lembrou do dia em que null a acusara de sempre fugir quando a coisa ficava séria - Eu volto daqui a sete dias.
- Você nos deixou loucos!
- Ele não... - seu lábio poderia sangrar a qualquer momento tamanha era a força qual ela estava o mordendo - Quero dizer... Ele está, hm, bem?
- Meio fulo da vida por três dias sem notícias.
- Mande ele experimentar se sentir assim por 13 anos.
- Porra, não comece com seus dramas.
null bufou e fechou os olhos sentindo que poderia jogar o celular na parede.
- Eu estou ok com tudo isso, Fred. Todos estão me perguntando por que eu tô mudando a minha vida por alguém que nunca fez nada por mim. Então, eu tenho o direito de falar o quanto e o quê eu quiser.
- Caramba, já pensou em escrever um livro? Ou ler um? Posso te indicar ótimos de auto-ajuda!
- Já terminou? Preciso voltar pra a minha vida - ela mexeu os pés inquieta e olhou para a porta, desejando voltar pra junto dos amigos.
- Aproveite.
- Morra - null falou depois que escutou ele desligar e tentou evitar o sentimento de culpa por ter dito isso, mesmo que ele não tenha escutado. Culpa é para os fracos, pensou. Não podia ser fraca, não agora.
null fechou os olhos com força e sentiu a pulsação em sua cabeça começar a incomodar. Pediu mil vezes que não fosse o que estava pensando, mas ao abrir os olhos e ter que picas mais de duas vezes para sua visão desembaçar, null xingou Frederick por ter lhe causado uma enxaqueca.
Colocou o celular no bolso e andou em passos rápidos até a porta, abriu-a e encontrou null e Tom ainda sentados no sofá, prestando atenção em qualquer bobagem que passava na televisão. null percorreu o cômodo com os olhos e não o achou. Voltou a atenção mais uma vez à cozinha e pensou ter visto algo se mexer atrás do balcão, quando sentiu que estava ofegante.
- Você tá bem? - escutou a voz de null.
null viu Tom desviar rapidamente o olhar da televisão e encará-la minuciosamente, como se buscasse uma falha. Ela deu o melhor sorriso possível e balançou a cabeça.
- Nada demais, uma enxaqueca surpresa. Vocês viram o null por ai?
- Ele foi no banheiro – Tom ainda a encarava – Tá tudo bem mesmo?
Ela concordou e apontou para o andar de cima, virando o corpo e saindo rapidamente em direção às escadas.
Estava tudo indo tão bem. Todos eles estavam tão bem e felizes... Por que céus Frederick tinha que ligar e fazer ela se lembrar de tudo aquilo que tinha deixado pra trás na Inglaterra? Deus, isso era tão não-justo com ela!
null entrou no quarto e se jogou na cama, falando repetidas vezes pra si mesma que eles não tinham direito algum de ficar a pressionando. Ela não poderia simplesmente ir embora assim, sem motivo algum! Nem ao menos tinha contado a Thomas e null...
Sua cabeça pulsou mais forte ao se lembrar disso e null abriu os olhos, correndo-os por toda a extensão do teto, analisando cada parte da madeira do forro e se obrigou a pensar em uma música. A primeira que viesse em sua mente. E então ela cantou.
- I remember it well... the first tiiime that I saw your heeead around the door...
- Cause mine stopped working - ela assustou-se e sentou rapidamente na cama, grudando seu olhar no de null e sentindo sua respiração falhar levemente – Eu voltei pra a sala e o Tom me disse que você tinha subido com uma cara meio estranha... – null começou a andar na direção de null e sorriu docemente, parando em sua frente – Eu fiquei preocupado.
null riu e fez um movimento com a mão o chamando. Ele sorriu de volta divertido e engatinhou pela cama, puxando-a consigo e fazendo-os deitar lado a lado. A garota fechou os olhos ao sentir as mãos dele por seus cabelos e mordeu os lábios tentando focar-se apenas naquele momento.
- Quem era no telefone? – null perguntou depois de um tempo.
- Não quero falar sobre isso – ela respondeu ainda de olhos fechados.
- Era o seu pai?
- null! – null abriu os olhos e o olhou rindo – Eu já disse que não quero falar sobre isso.
- Então sobre o que você quer falar? O pedido de casamento que você me negou ontem ou o fato de que você me enrolou a manhã inteira sobre ir comprar o maldito cachorro?
Ele parou de mexer no cabelo dela e fechou o rosto. null afastou seu corpo do dele e se apoiou nos cotovelos para que pudesse enxergá-lo melhor.
- Eu não acredito que você ainda ta com isso na cabeça, null!
- Não deveria?
- Não, não deveria! – null se afastou mais um pouco e sentou-se, encostando o corpo na cabeceira da cama sem desgrudar os olhos de null – Você parece uma criancinha birrenta, querendo sempre ter o que quer e que os outros façam o que você quer!
- Woah! Olha só, então agora você sabe como é ser a pessoa de fora? Porque eu me senti assim em relação à você durante todos esses anos!
Era só o que faltava, estava começando tudo de novo.
- Você não vai voltar a falar tudo isso, não é? Porque, de verdade, null, essa porra não tem mais nada a ver! Você só ta procurando mais um motivo pra brigar comigo.
- Por que raios eu iria querer um motivo pra brigar com você, null? Merda. null colocou as mãos no rosto e tentou parar de pensar, ou forçar-se a pensar demais e descobrir porque agira que nem uma idiota. Estava claro que não era null quem tinha motivos pra querer arranjar uma briga, e sim ela.
- Qual o seu problema, null?
Ela tirou as mãos do rosto e o encarou, sentindo as lágrimas encherem seus olhos e sua visão embaçar. Por que ela tinha sempre que ser tão estúpida?
- O meu problema é você, null. A porra do meu problema sempre foi você.
null suspirou, fechando os olhos e passando as mãos sobre as pálpebras. null mordeu os lábios e desejou não ter dito aquilo. Ela viu ele abrir os braços, a chamando para um abraço e não pensou duas vezes antes de atendê-lo.
- Eu deveria ser a solução, não o problema – ele sussurrou, passando as mãos sobre os cabelos da garota, que descansava o rosto em seu peito.
- Essa é a pior parte – null falou, ainda de olhos abertos – Você é os dois.
Um barulho de algo se movendo fez com que null abrisse os olhos. Ela piscou duas vezes antes de reconhecer o quarto em que estava deitada. Suspirou alto e tentou lembrar com o que estava sonhando, porque ligeiramente a idéia de voltar a dormir lhe pareceu extremamente interessante.
Algo voltou a se mexer e ela virou o rosto para olhar. null estava deitado ao seu lado. Ele tinha uma de suas mãos sobre o peito e a outra envolvia a cintura da garota de uma forma torta e engraçada, claramente numa posição nada confortável.
Tentando não despertá-lo, null tirou o braço dele do seu corpo e empurrou-o um pouco, fazendo com que ele deitasse as costas por inteiro, ficando de barriga pra cima. Depois do trabalho completo, ela sorriu satisfeita consigo mesma por ter conseguido tal façanha sem acordá-lo e apoiou a cabeça em um dos braços, olhando seu garoto enquanto o peito dele subia e descia de acordo com sua respiração e como ele mexia a boca de forma engraçada num curto intervalo de tempo.
- Eu sempre quis saber como é me ver dormindo – null abriu os olhos de repente e null arregalou os dela, assustada – Eu sou tão lindo assim que assusto?
- Você é mais engraçado que bonito, null – ela piscou, recuperando-se e fez menção de que iria se levantar – Tire suas conclusões.
- Naaah – ele jogou seu corpo contra o dela, a impedindo de sair e null deixou escapar uma gargalhada alta – Eu não gosto de tirar minhas próprias conclusões. Prefiro quando alguém faz isso por mim.
- Tinha esquecido que você gosta de tudo mastigado.
- Depende. É você quem vai mastigar? – null sorriu malicioso e null lhe deu um tapa, conseguindo sair de baixo de seu corpo e se levantando – Por quanto tempo a gente dormiu?
null andou até a porta do banheiro e ficou na ponta dos pés quando sentiu o piso com a temperatura ligeiramente mais baixa do que a do carpete que forrava o chão do quarto. Ela tirou a escova de dentes de dentro da necessaire que tinha colocado ali mais cedo e colocou um pouco de creme dental, abrindo a torneira em seguida.
- Não sei – respondeu simplesmente, abrindo um sorriso falso para sua própria imagem no espelho, à fim de examinar seus dentes – Algumas horas, acho. Eu nem percebi que tinha caído no sono.
Ela escutou null murmurar algo, mas não deu importância, voltando a se concentrar em sua escova de dentes e a tarefa que tinha em suas mãos. null colocou o objeto na boca e esfregou-o em seus dentes com força, sentindo a refrescância da pasta de dentes preencher sua boca aos poucos. null adorava sentir o gosto de menta com o qual ficava depois de escovar os dentes. Lembrava-lhe vagamente à null e o gosto que ele parecia carregar consigo todo o tempo.
O barulho de passos fez com que sua atenção fosse tirada do espelho e null viu null andar lentamente até o banheiro. Ele tinha uma das mãos nos cabelos, bagunçando-os de forma displicente e esfregava os olhos com a outra, claramente sonolento.
- Ainda são 10 horas! – reclamou com a voz arrastada, enquanto atravessava a porta e passava pela garota, beijando sua nuca rapidamente, antes de fechar a tampa do vaso sanitário e sentar-se ali – Você me escutou? São 10 horas! É praticamente de madrugada!
null riu e cuspiu a espuma de sua boca.
- Nós geralmente costumamos chamar esse período do dia de manhã, se você preferir. E além do mais, eu não mandei você acordar 7 horas da manhã e insistir que precisava comer ou teria uma ataque e acabaria devorando o colchão, pelo qual – à propósito – eu nutro um enorme sentimento de afeição.
- Claramente não maior do que a afeição que você sente por mim – null sorriu satisfeito e null voltou a colocar a escova na boca, fazendo um barulho de negação. Ele fez uma careta – Eu não sei como raios acordei cedo. De verdade. A gente foi dormir que horas ontem?
Ela deu de ombros, ainda com a boca ocupada e desejando fervorosamente que ele começasse a se tocar que carregava um relógio em seu pulso, portanto poderia muito bem deduzir que horas eram, no lugar de ficar enchendo o saco dela, como se ela fosse perder o tempo anotando a que horas eles fizeram tal coisa.
Depois de cuspir mais uma vez e encher a boca com água, null fez uma careta para si mesma no espelho. Deus, ela tinha mesmo acordado de mau humor, não tinha?
Ou talvez tivesse sido a maldita ligação que recebera mais cedo.
- Então, que horas você vai se arrumar? – ela virou-se, depois de ter completado sua missão de higiene bucal e encarou null, que continuava sentado e parecia perdido em pensamentos – null! Que horas você vai se arrumar?
Ele pareceu despertar de seu transe e a encarou com as sobrancelhas franzidas, como se não soubesse do que null estava falando. Então como se tivesse tido um estalo em sua mente, null sorriu e se levantou num pulo.
- Quando você for se arrumar!
- Hm – null o encarou confusa – Por que eu iria me arrumar, null?
- Por que a gente vai sair? – ele a perguntou, voltando a franzir as sobrancelhas – Do que diabos você está falando se não for isso? Nós não iríamos sair hoje pra comprar o cachorro?
Merda.
Puta merda.
- Er... Não – null mordeu o lábio e deu as costas à ele, começando a andar de volta para o quarto – Eu quis dizer que horas você vai se arrumar para ir pra o estúdio.
- O que você quer dizer com isso? – null a olhou, suas sobrancelhas franzidas parecendo terrivelmente permanentes em sua testa – O que porra você quer dizer com isso?
- Que a gente não vai comprar cachorro nenhum – ela falou, sua voz ecoando pelo quarto e entrando no banheiro, fraca e tremida. Fraca e... hesitante.
null deu alguns passos pra sair de onde estava e viu a garota sem camisa de frente à uma mala vermelha enorme e aberta no chão. Ela estava hesitando. Ela estava hesitando. Mas qual era a porra do problema naquilo tudo?
- Você... Você me disse ontem que-
- Que eu criaria um cachorro com você, null. Isso não quer dizer necessariamente que eu realmente vá.
- Por que você não vai, então? – ele andou até ficar apenas a alguns passos de distância de null – Por que você não vai comigo e compra esse caralho, então?
- Por que eu teria que ir? – null puxou uma blusa verde sem mangas e fechou os olhos enquanto a vestia, tentando concentrar-se para que não acabasse falando demais – Por Deus, null, é só um cachorro.
- Droga, você nunca entende, não é?
Ela virou-se, ficando de frente à ele e o olhou sem expressão. Ou pelo menos tentou. Ser neutra e completamente sem expressão e sentimentos como era algum tempo atrás estava começando a se tornar cada vez mais difícil. Ela havia prometido à null que tentaria parar com isso, que mudaria. Pela primeira vez null prometeu que seria ela mesma, mas não era disso que ela precisava agora.
A boa e velha null sem sentimentos. Era disso que precisava nesse momento, mas parecia que aquela maldita promessa pesava sobre todo o seu corpo sempre que tentava lutar contra isso. Mesmo quando era estritamente necessário e... Só Deus sabe como ela precisava disso agora.
- O que eu nunca entendo, null? Essa sua necessidade de sempre ter alguma desculpa? Essa sua mania de... Não sei, de sempre dar valor demais ás coisas? De se importar demais? De... De tentar mudar tudo quando não-é-possível? – null passou as duas mãos no rosto buscando se acalmar e puxou o ar lentamente – Não, null, eu não consigo entender. É só a porra de um cachorro.
- Deus, não é a porra de um cachorro, null! Você não entende, você nunca entende! Parece que tem uma barreira na sua mente que te impede de ver as coisas da forma certa. Sempre vendo da forma que você quer, da qual lhe parece conveniente! “Ah, ok, eu me sinto melhor se pensar nas coisas assim, então tudo bem, elas vão ser assim” – ele fez uma voz fina numa tentativa de animação e null tirou as mãos do rosto, encarando a expressão raivosa que null carregava em seus olhos – Não, null, não tem nada a ver com o cachorro. Totalmente nada.
Céus, ela sabia que não tinha nada a ver com o cachorro! É claro que ela sabia, mas será que ele não conseguia ver que ela não podia ter nada a ver com isso? Não agora. Não quando...
- Eu me recuso a ficar aqui escutando você tendo a cara de pau de me dizer que eu estou agindo de forma hipócrita! – null apontou um dedo na cara dele e deu as costas, voltando em passos largos ao banheiro, sentindo todo o seu corpo tremer e com a ligeira vontade de bater sua própria cabeça na pia e sangrar até morrer.
Malditas mentiras.
- Oh, ok, então você vai me dizer que você não tá sendo hipócrita? Que eu quem to imaginando? Você acha que eu não percebi a forma estranha qual você vem agindo desde que chegou aqui? Evitando certos assuntos, mudando de humor constantemente, voltando a ser uma-
- Vaca? – uma risada divertida soou de dentro do banheiro e null sentiu seu peito apertar ligeiramente enquanto ele andava de volta a onde ela estava – Voltando a ser uma vaca, não é?
- Mais ou menos – ele disse num suspiro, já encostado na porta do banheiro, observando enquanto null passava um creme no rosto.
- Bom – ela deixou o pote em cima da pia e virou-se para olhá-lo, os olhos ainda meio marejados, mas claramente mais calmos e até mesmo divertidos – Velhos hábitos nunca mudam.
Ele sorriu e se aproximou, puxando-a pela cintura e fazendo com que seus corpos ficassem frente à frente. null encostou sua testa na dela e a viu fechar os olhos, soltando um longo suspiro.
- Eu que o diga.
null sorriu e aproximou sua boca da dele, inspirando o ar que ele expirava e sentindo seus pêlos se arrepiarem. null mordiscou o lábio inferior dela e fechou seus próprios olhos, apertando levemente a cintura dela contra a sua e puxou os lábios dela pra si. null sentiu o rosto dele invadir sua boca juntamente com sua língua e sorriu em meio ao beijo, pensando como nenhum creme dental no mundo poderia ser melhor que isso.
null andava de um lado pra o outro com uma jarra de suco de laranja assim que os dois chegaram no andar inferior. Ela sorria e parecia estar se divertindo com o fato de que null não parava de pedir para que ela crescesse e passasse logo o suco pra ele.
- Eu pensei que você já tivesse passado dos 5 anos uns 18 anos atrás, null – ele reclamou impaciente e levantou os braços, numa tentativa de agarrá-la assim que ela passou ao seu lado.
- Velhos hábitos nunca mudam – null disse enquanto se aproximava de mãos dadas com null, fazendo-a sorrir e balançar a cabeça – Não seja um pé no saco, null, dê o suco pro null.
- Eu não vejo razão alguma pra que eu deva dar o suco pra ele – null disse com as sobrancelhas levantadas e andou até o sofá onde null, null e Tom estava sentados assistindo televisão – Oi, vocês querem suco?
- Eu não vejo razão alguma pra que você não queira me dar esse suco além de que eu to morrendo de sede! – null praticamente gritou, batendo as mãos na mesa e assustando null, que ainda parecia meio adormecida, sentada ao seu lado, fazendo-a olhar feio pra ele.
- Por que você não bebe água, então? – null perguntou, puxando uma cadeira e sentando-se de frente ao rapaz.
- Por que eu beberia água?
- Porque você disse que tá com sede – ela respondeu rolando os olhos e escutou null rir baixinho enquanto sentava ao seu lado.
- Mas eu quero tomar suco!
- Ah, null, vá arranjar uma coisa melhor pra fazer, você só tá fazendo essa ceninha porque não quer perder a oportunidade de encher o saco da null. Mas olha só, ela está se divertindo mais que você nisso tudo e eu quem estou começando a ficar realmente irritada! – null disse, claramente pertubada com aquilo, levantando-se de forma espalhafatosa e pegando o prato do qual estava comendo, saindo, em seguida, em direção à pia.
- Parece que alguém acordou de mau humor-or – null se aproximou sorridente e null a fuzilou com os olhos – Ok, já perdeu a graça, você deixou null irritada, sabe o que isso significa?
- Só me dê a porra do suco, dá pra ser, null?
null deu de ombros e entregou a jarra pra null, indo atrás de null, que estava na pia, parecendo travar uma luta consigo mesma entre lavar o prato ou quebrá-lo.
Tenso.
- Acho melhor eu ir lá ajudar – null falou e null concordou com um aceno de cabeça, lhe oferecendo um copo de suco assim que ela levantou – Obrigada, fofo – ela o beijou na bochecha e saiu na direção à qual as duas amigas tinham ido – Hey – cumprimentou-as assim que parou do outro lado de null – Que é que tá pegando pra todo esse mau humor, amiga?
- Nada demais – null respondeu simplesmente e abriu a torneira, tirando a espuma do prato que lavava.
- Oh, claro, e você tá tremendo e quase jogando o prato dentro da pia por nada – null fez um joinha com a mão e null bufou.
- Eu já disse, nada demais, só saí do sério um pouco.
- Brigou com a null? – null perguntou, com as sobrancelhas franzidas.
- Brigou com o Tom? – foi a vez de null perguntar e null quase deu um pulo quando escutou o estalo em sua mente.
- Oh, Deus. Você e o null discutiram, não foi?
- Eu já disse que não foi nada demais – null balançou a cabeça de um lado pra o outro e fechou a torneira – A gente só teve uma briguinha ontem depois do luau, não é por causa dele que eu to assim.
- Então tem um motivo por você estar assim – null falou triunfante e null a lançou um olhar ameaçador – Oh, certo, eu deveria estar triste por isso, entendi.
- Por que você tá assim, então? – null perguntou à null, ignorando completamente a falta de sutileza da outra amiga.
- Mal dia! Todos temos um dia assim, certo? – null virou-se para as amigas e as duas concordaram – Ok, então, agora vocês podem parar de pegar no meu saco que eu pretendo tomar um banho de piscina.
Sem ao menos esperar uma resposta, ela saiu à passos largos, passando pela bancada, mesa e sofá sem nem ao menos olhar para qualquer uma das pessoas ali e desapareceu pela porta que dava ao quintal.
- Louca – null suspirou e virou-se para null – E você, algum problema?
- No momento não – ela sorriu amarelo – Mas eu te aviso quando tiver.
- Ah, não precisa se incomodar, amiga.
As duas riram e andaram de volta para onde os amigos estavam. null retomou seu lugar na mesa ao lado de null e null sentou onde antes null estava.
- A gente poderia sair hoje de novo, uh? – null perguntou depois de um tempo, onde ninguém falava, apenas comiam – Ontem foi um dia caseiro demais. Não me levem à mal, eu gosto de dias caseiros, mas bem que a gente poderia sair hoje.
- Você quer dizer à noite? – null perguntou de boca cheia, virando-se para olhá-la e ela lhe fez uma careta de nojo. O garoto rolou os olhos e engoliu a comida que tinha na boca – Eu não to muito afim de gravar hoje, se vocês querem saber. A gente poderia ir num parque, sei lá...
null tirou sua atenção da tigela de cereal e levantou a cabeça no mesmo momento, não notando a cadeira que foi puxada ao seu lado e null se sentando.
- Parque? Aqui tem parques?
- Fofa, você tá em Sydney, não no Afeganistão – null disse sorrindo, passando a mão levemente pelo queixo e levantando as sobrancelhas – Têm parques no Afeganistão?
- Não sei, mas na Itália tem – null falou de repente e null sentiu um frio subir pela sua espinha, a obrigando a abaixar o olhar, fixando-se na mesa.
- Mas é claro que na Itália tem – null gargalhou e pegou o prato vazio, se levantando da mesa – Qual é a da Itália de repente?
- Nada – null respondeu, lançando um olhar rápido pra null – Um país ao acaso.
null sorriu e deu de ombros, enquanto andava até a pia. null levantou o olhar que ainda estava na mesa para espiar null e notou que ele a encarava claramente irritado. Calma, é só a mágoa, só a mágoa. Vai passar, ela pensou consigo mesma, lembrando do que o amigo tinha lhe dito dois dias atrás.
- A gente deveria ir pra Itália da próxima vez – a voz de null soou do interior da cozinha.
null começou a tossir, aparentemente engasgado com algo e null se virou para dar-lhe tapinhas nas costas. null soltou uma risadinha amarga e null sentiu todos os pêlos de seu corpo se arrepiarem e um frio inconfundível subir pela sua espinha.
- Será que a gente pode se concentrar no nosso passeio pra o parque agora? – ela perguntou, pigarreando quando percebeu que sua voz saíra fraca – Nós estamos na Austrália no momento.
- Grande Austrália – null disse, com a voz fraca, e null riu, ainda lhe dando tapinhas – Maravilhosa, maravilhosa.
- null! – null o olhou feio, pedindo-o para parar.
Ele se calou e a garota voltou sua atenção para a última colher de cereal em seu prato, colocando-a na boca e levantando em seguida, ainda mastigando. null andou até onde null estava e assim que parou ao seu lado ele virou-se e a olhou sorrindo.
- Quer que eu lave ou você dá conta desse?
null riu e o empurrou com os quadris, ficando em frente à pia e pegando a esponja.
- Eu sei como lavar um prato, muito obrigada.
- Tudo bem – ele deu de ombros, se afastando – Vou checar a null.
null desgrudou os olhos do que fazia e os direcionou a null, sorrindo. Se tinha algum problema com null naquele momento, null era aquele que podia resolver, ela sabia disso. Então, depois de dar-lhe seu melhor sorriso, null voltou sua atenção à louça e tentou pensar apenas nos cantos que precisavam ser esfregados com mais força, ignorando completamente a pontada em seu coração.
Porque o null de null lhe lembrava o seu Tom. O Tom que não tinha a menor idéia do que estava acontecendo. O Tom que também poderia ir até ela na sua varanda e tornar tudo mais fácil e suportável.
O sol já estava fraco quando os oito conseguiram sair de casa sem problemas e chegar ao Hyde Park de Sydney. null tinha perdido a cabeça enquanto tentava entender o caminho pelo GPS, o que acabou provocando gritos e mais uma discussão entre ele e null, olhares de medo dos meninos e alguns resmungos de repreensão das meninas.
- Você poderia estacionar do lado daquele carro amarelo ali – null falou, colocando a cabeça entre os bancos da frente e apontando para um carro a alguns metros de onde eles estavam.
- Não tem espaço – null respondeu seco, acelerando um pouco mais o carro e saindo de frente do café onde eles iriam parar.
- Claro que tem espaço, null, dá ré e coloca lá! As meninas vão encher o saco pra andar, se você for estacionar no outro trecho.
- Quem tá dirigindo, eu ou você?
- Você.
- Então cale a boca e me deixe dirigir.
null bufou, irritado e voltou a encostar as costas no bando da mini van. null, que estava expremido entre o garoto e Tom, resmungou algo baixinho e os três começaram a rir.
null olhou para null e null ao seu lado no último lance de bancos e deu de ombros, desistindo de entender o humor maluco dos garotos e virando-se para olhar o Hyde Park Café se afastar cada vez mais à medida que null rodava à procura de uma vaga que lhe agradasse.
Com certeza que ela não andaria aquilo tudo.
Eles já estavam de volta à Elizabeth Street quando Tom perdeu a paciência e esmurrou o banco de null à sua frente.
- Pare de ser cuzão, pegue um retorno e estacione na vaga do lado do carro amarelo na área do Café, null.
Ninguém falou nada enquanto null pegava o próximo retorno e fazia o caminho de volta ao Café. Ninguém falou nada quando null se inclinou entre os bancos e beijou o namorado, ou quando null deixou uma risada alta e estridente percorrer pelo automóvel, completa e claramente satisfeita. Eles apenas permaneceram quietos e esperaram o carro ser finalmente estacionado para que pudessem pisar no asfalto e aproveitar o resto da tarde.
- Eu quero um suco! – null falou, assim que conseguiu sair de dentro do carro e parou ao lado de null – De laranja, por obséquio.
- Com quem você anda aprendendo essas palavras difíceis? – null perguntou, virando-se pra a namorada, que apenas sorriu com malícia.
- Com você que não foi, lindinho.
null gargalhou, sentindo null puxá-la pela mão, a arrastando até a mesa onde os outros quatro já estavam sentados. Ela não deixou de notar que mesmo de cara feia, null estava sentada prontamente ao lado de null com um cardápio aberto em mãos. Os dois mantinham as cabeças baixas e conversavam aos sussurros. null olhou rapidamente pra null, que apenas sorriu e indicou a cadeira ao lado de onde ele estava, fazendo-a dar de ombros e sentar.
- Já decidiram o que vão querer? – ela perguntou, passando as mãos pela barra dos shorts que vestia – Quero um Milk Shake!
- Um quê? – Tom a olhou com um sorriso no canto dos lábios.
- Um Milk Shake, imbecil. É aquilo que a gente faz com sorvete e-
- Eu sei o que é, null – ele continuou sorrindo e a garota levantou as sobrancelhas como numa pergunta subentendida – É só que é engraçado escutar o seu sotaque quando você fala o “Shake”.
- Eu não tenho sotaque – null revirou os olhos, puxando o cardápio das mãos de null.
- Claro que você tem, você é escocesa.
- Sua namorada também tem!
Tom riu e passou os braços envolta de null.
- Eu não disse que ela não tinha.
null cerrou os olhos pra ele e passou os braços envolta de null.
- Diz pra ele que eu não tenho sotaque, amor – null sorriu desafiadora e sentiu os olhares dos outros sobre si.
O sorriso se desfez no mesmo instante em que suas palavras fizeram eco em sua mente. Amor. Ela tinha chamado null de amor! Qual a última vez que fizera isso? Deus, tinha tanto tempo!
Ela sentiu os braços do garoto se apertarem mais envolta de seu corpo e tentou fazer com que o sorriso voltasse ao seus lábios. Tom ainda ostentava o mesmo olhar divertido e null parecia prestes a apertar suas bochechas a qualquer momento. Ela não se atreveu a olhar para null e null, sabia que de todos os outros, as expressões deles seriam as mais embaraçosas.
- Você não tem sotaque – null disse simplesmente e, mesmo sem olhar, null soube que ele sorria.
Sua mente gritou milhares de palavras em agradecimento quando a garçonete se aproximou e perguntou se eles já queriam fazer um pedido. De repente, um suco de morango lhe pareceu muito mais interessante do que o antes desejado Milk Shake.
Maldito Milk Shake.
null tirou os braços que tinha colocado envolta de null e os cruzou em frente ao peito, escorregando um pouco na cadeira e fixando o olhar na borda da mesa, começando a pensar no que seu pai estaria fazendo no momento. Uma vontade súbita de ligar para ele a invadiu e null mordeu os lábios, buscando se controlar. Talvez mais tarde, agora não era o melhor momento.
- Ei – ela escutou a voz baixa de null a chamar e sentiu a respiração dele bater em sua orelha. Virou um pouco o rosto e deparou-se com o dele apenas a centímetros do seu, a encarando com uma ruga de preocupação – Tá tudo bem?
- Uhum – null sorriu e depositou um beijinho em seu queixo – Só pensando.
- Sobre?
A garota deu de ombros, voltando a olhar pra frente.
- Nada demais, pensando que eu só tenho mais alguns dias aqui – null fez um barulho com a boca e ela riu – Não seja criança, null. Foi só uma semana.
- Uma semana é tão pouco. Não dá pra fazer nada! – ele resmungou baixinho e colocou um dos braços nos ombros dela, puxando-a para mais perto.
null nem cogitou a possibilidade de relutar.
- Nós já fizemos muitas coisas e a semana ainda nem completou! – ela lançou-o um olhar divertido e o garoto gargalhou.
- Imagina só o que poderíamos fazer com mais tempo que isso...
- Nós já sabemos muito bem o que, null. A gente já teve bons anos de prática, não se esqueça – null fechou os olhos quando sentiu a boca dele encostar em sua cabeça, beijando-a carinhosamente.
- Nem se eu quisesse – ele falou ainda com a boca contra seus cabelos e ela encostou a cabeça em seu ombro, voltando sua atenção para a moça que voltava com parte dos pedidos.
- Então, crianças – null começou, chamando a atenção de todos.
null tinha, assim como null, um dos braços sobre os ombros de null e os dois mantinham uma expressão tranqüila, mostrando claramente que já estavam nas boas graças mais uma vez. null estava e null tiveram que revirar a cadeira de volta à mesa, uma vez que estavam de frente à rua, comentando o lugar.
- O que a gente vai fazer? – null terminou a pergunta.
- Quanto tempo a gente tem até escurecer? Parques à noite me assustam – null fez uma careta e null concordou com a cabeça, fazendo todos rirem.
- Acho que dá tempo de a gente sentar um pouco na grama e fazer uma fotossíntese – null deu de ombros e pegou o suco que a garçonete colocava em sua frente – Obrigada – agradeceu, tomando um gole rápido antes de voltar a falar – A gente poderia ver o memorial.
- Memorial? – null levantou as sobrancelhas, parecendo ligeiramente interessado – Como você sabe que tem um memorial no parque? Você nem sabia que tinha um parque!
A garota lhe mostrou a língua e null lhe deu um tapa de leve.
- Eu liguei pra o Fletch enquanto vocês estavam se arrumando e ele me deu umas dicas.
- O Fletch não conhece nada daqui, ele mentiu pra você – null disse, encostando-se no acento e puxando a cadeira de null pra mais perto da sua – Aposto 20 libras como não tem memorial nenhum aí.
null e null sorriram uma para a outra, antes da primeira voltar seu olhar para o amigo.
- Prepare-se para perder algum dinheiro, null.
- Não acredito! – null pôs as mãos na barriga, rindo, e parou ao lado de null que já se contorcia de tanto rir – E não é que tem um memorial mesmo?!
- Pode ir passando a grana, null null – null virou-se para o amigo, sorrindo – Vai abrindo a carteira aí.
- Eu não tenho 20 libras agora, null – ele a olhou irritado e bateu as mãos nos bolsos – Eu só tenho... Qual a moeda da Austrália?
- Você é um péssimo perdedor, null – null falou, dando tapinhas de consolo em seu ombro. Ele a olhou com os olhos cerrados e ela logo recolheu o braço – Nossa, ninguém nem pode mais ser solidária nesse mundo, vou te contar.
null resmungou mais algumas coisas e andou até onde null estava, ela passou os braços pelos ombros da recém-chegada e continuou a encarar uma null sorridente, uma null imparcial – que parecia estar se divertindo bastante, só pra constar – e um null extremamente carrancudo.
Eles se dispersaram aos poucos. Os garotos começaram a alegar que estavam cansados demais para explorar um parque qualquer e null começou um discurso sobre como deveria ficar sentada num toalha no gramado esperando as amigas voltarem, uma vez que exercício demais prejudicariam a rotina que ela tentava seguir.
null e null não foram muito longe. Parando no primeiro banco que avistaram e deixando null seguir sozinha, voltando em seguida para seus namorados.
null estava deitado na toalha azul claro que null tinha colocado dentro de sua bolsa. Ele tinha os óculos escuros no rosto e os braços cruzados atrás da cabeça. Ela sorriu enquanto se aproximava.
- Tem lugar aí pra mim? – perguntou displicente e viu o garoto negar com a cabeça – Oh, ok. Talvez o null tenha e-
Um puxão em seu braço fez com que seu corpo pendesse para baixo e caísse ao lado do garoto. null sorriu sapeca e null lhe deu um tapa de leve.
- Você poderia ter quebrado minha perna!
- Mas eu não quebrei – ele ainda sorria.
- Mas poderia!
- Vai começar, null?
null riu e balançou a cabeça, negando. Ela aproximou seu rosto do pescoço dele e depositou-o ali, deixando que o cheiro que emanava do corpo do garoto entrasse em seu sistema e fizesse todos os seus órgãos se contorcerem em agradecimento.
null passou um braço pela cintura da garota e aproximou a boca de seu ouvido.
- Estamos em um lugar público – ele disse divertido e sentiu ela rir com os lábios contra seu pescoço.
- Eu não estou fazendo nada demais – null respondeu e embolou suas pernas na dele, fazendo o garoto gargalhar alto – Fica quieto, null.
null parou de rir no mesmo instante e ela continuou com os lábios pressionados contra seu pescoço, sem ao menos se mover. Ele esperou por alguns segundos, imaginando o que diabos ela iria aprontar, mas o tempo foi passando e null continuava quieta, apenas com a boca em sua pele e os braços envolta de seu porto. Apenas o sentindo.
Ele sorriu com isso e, num movimento rápido, virou seu corpo contra o dela, deixando seu corpo sobre o da garota. null abriu os olhos quando sentiu suas costas encostarem na toalha e o olhou irritada.
- Eu disse pra você ficar quieto, null.
- Eu estava quieto – ele deu de ombros – Mas cansei. Não sei se você sabe, mas ficar parado só sentindo você se aproveitar de mim também cansa.
- Pensei que você gostasse quando eu me aproveitava.
null riu e aproximou seu rosto do dela, pretendendo beijá-la, mas null virou o rosto, prendendo um sorriso.
- Eu gosto – null respondeu bufando – Mas estamos num lugar público e não tem muita graça deixar você se aproveitar sem poder nem ao menos te beijar.
- Lide com isso, meu bem – a garota levantou as sobrancelhas o olhando de forma maliciosa e null bufou outra vez, saindo de cima dela e voltando a deitar-se do seu lado.
- Saco.
- Criança – ela bufou da mesma forma que ele e sentou-se – null null, você vai pagar minhas 20 libras ou quer que eu vá até aí atrapalhar o seu amasso e roube a sua carteira?
Os dois ouviram alguém bufar em algum lugar por aí e a voz de null soou.
- Você já atrapalhou, de qualquer forma.
null riu e sentiu algo a puxando de novo. null girou outra vez, voltando a ficar por cima dela e sorrindo numa mistura de malícia e diversão.
- Se o null pode aproveitar a null em local público então eu também posso te aproveitar.
- Nem pen-
Ele juntou seus lábios aos dela e null esqueceu o que pretendia falar, levando suas mãos aos cabelos dele e deixando que seus dedos passeassem pelo local, vez ou outra usando sua unha para arranhar a nuca dele e sentindo os pêlos do garoto se arrepiarem.
null afastou rapidamente e sorriu com os lábios um pouco vermelhos.
- Pra quem queria que eu ficasse quieto, você pareceu desfrutar bastante a minha agitação.
null gargalhou e puxou-o pela nuca.
- Você fica mais bonitinho calado – disse, antes de voltar a sentir suas bocas sendo pressionadas uma contra a outra.
Capítulo 45
Com um aceno de cabeça simples, null cumprimentou o porteiro e adentrou na porta aberta que null imaginava levar ao interior do Studio em que os garotos estavam gravando. Com medo de tropeçar nos próprios pés, ela seguiu o amigo pelo corredor e segurou com mais firmeza o papelão que continha os quatro copos tamanho grande da Starbucks.
- Já não bastava ter que ouvir um monte por termos dormido demais, a gente ainda tem dar uma de escravos! – null resmungou mais à frente e virou-se para olhar null – Por que eles não podiam pegar o carro do Fletch e ir comprar a porra dos cafés eles mesmos?
- null – null sorriu e andou até ele, parando ao seu lado e pegando o papelão moldado com mais quatro copos que ele segurava, ficando com um em cada mão – Acho melhor você ficar longe disso antes que aconteça um acidente e alguém saia queimado.
- Eu não vou derrubar café em mim, null – ele rolou os olhos e viu ela sorrir antes de voltar a andar.
- Não ligo se você derrubar café em você, fofo. O problema seria se você derrubasse em mim.
null sorriu sarcástico e a seguiu sem dizer mais nada.
null usou seus instintos e apenas deixou que seus pés a guiassem, chegando até uma porta alguns corredores depois. null não a impedira, então queria dizer que estava no caminho certo. Afastando o corpo e virando-se para olhar o amigo mais atrás, null levantou as duas sobrancelhas e indicou as bandejas que tinha em mãos, impedindo-a de abrir a porta.
Entendendo o que ela queria dizer, null se apressou e a abriu, entrando logo em seguida. null seguiu os passos dele e se viu dentro de uma sala de comando com um painel enorme e cheio de botões na frente de uma janela gigantesca de vidro. A garota andou até um balcão que havia por ali e colocou o que segurava em cima dele, virando-se para terminar de olhar o lugar.
null e null estava deitados num sofá mais atrás, parecendo cochilar levemente. null estava deitada no chão lendo alguma revista e não havia sinal algum de nenhum dos outros. null olhou tudo mais uma vez, procurando null e o achou sentado em uma cadeira em frente ao painel ao lado de outro homem que lhe parecia extremamente familiar...
- Jason! – null sorriu e andou até o homem, que virava em sua cadeira para olhá-la.
- Wow, como você tá diferente! – Jason riu e se levantou, dando um abraço forte e apertado na garota, ambos sorrindo – Seu cabelo tá um pouco mais claro.
null deu de ombros, ainda parecendo extremamente satisfeita por estar revendo-o.
- Vem ajudar a gente aqui, puxa uma cadeira – ele indicou uma cadeira ao lado do sofá em que null e null estavam e null foi pegá-la tentando não fazer muito barulho para não acordar os amigos – Oh, querida, não se preocupe com eles. Eles estão dormindo desde que chegaram! Eu agradeceria bastante se você os acordasse.
Sorrindo do que Jason havia dito, null continuou arrastando a cadeira sem fazer barulho, pois sabia perfeitamente que ela não iria querer ser acordada assim, mesmo que também soubesse que null seria a última pessoa que se negaria a acordá-la.
- E então? Em que eu vou ajudar vocês? – null parou a cadeira do outro lado de Jason e olhou para todos aqueles botões sorrindo.
Ela adorava botões. Botões eram tão fascinantes e eles meio que pediam para ser apertados.
- Você vai ficar paradinha e não vai tocar em nada – null disse e a garota desfez o sorriso no mesmo instante – Não me olhe dessa forma, null. Eu vi o brilho nos seus olhos quando você viu todos esses botões. Sem chances de eu deixar que você tope neles. Humpf, não queria mesmo, ela pensou consigo mesma e escorregou um pouco da cadeira, cruzando os braços em frente ao corpo de forma infantil.
- Eu deixo você apertar alguns botões quando nós terminarmos de repassar os sons, null – Jason piscou pra ela, que se animou no mesmo instante – Agora nós precisamos de sua opinião sobre alguns elementos.
- Adoro ser útil – ela comentou com um sorriso de orelha a orelha, fazendo os outros dois rirem.
- Na verdade você não vai ser tão útil assim – null começou, sorrindo de forma provocadora – Nós só queremos umas opiniões sobre elementos da música e queremos pedir a opinião de alguém de forma – ele deu de ombros, mas o sorriso continuava de pé – Não que você vá ajudar, já que nossas fãs têm cérebro e bem... Ter cérebro não é o seu forte.
- O que você está insinuando?
- Isso mesmo que você ouviu, null – null sorriu e Jason balançou a cabeça, chamando a atenção dos dois.
- Será que vocês podem parar um pouquinho e ajudar? Desculpe, null, mas se as coisas continuarem do jeito que estão nós só vamos terminar esse cd no ano que vem.
- Pois é, você está atrapalhando, null – null a olhou vitorioso e a garota se levantou, bufando.
- Ótimo, não queria ajudar mesmo.
- Mas, es-
- Deixa pra lá, Jason, vamos, quero escutar – null se virou para o homem e os dois deram as costas à null, voltando sua atenção ao painel.
A garota andou até onde null estava deitada e sentou ao lado dela. A amiga ao menos desgrudou os olhos da revista que lia.
- Eles ficam meio temperamentais quando tão aqui – disse somente, ainda sem olhar para a recém chegada – São mais divertidos quando tão jogando ping pong ou gravando. A edição é meio tensa.
null deu de ombros e deitou as costas no chão frio. Ficando de barriga para cima, o corpo no mesmo sentido que o de null.
- Onde tão os outros?
- null tinha desafiado o Tom pra uma partida e o null foi junto, mas eu aposto que eles já tão aprontando outra coisa por ai.
- Hm – null fez um barulho com a boca e virou-se para olhar a amiga – Acho que eu deveria ligar pro meu pai, né?
- Não sei, você quer falar com ele? – null perguntou, virando a folha da revista e passando o dedo sobre a primeira linha do texto da nova matéria – Essa revista tem coisas tão absurdas! Eu nem conheço esses atores e eles já parecem bem loucos pra mim.
- Acho que quero – ela deu de ombros – Sabia que The Veronicas é daqui?
- Sabia – a garota tirou os olhos da revista e encarou null – Sabia que a música que tava tocando no dia que a gente chegou e você se agarrou com o null era delas?
null riu e voltou a virar o corpo, ficando com o rosto voltado pra o teto.
- Sabia – disse simplesmente, voltando a pensar se deveria ligar para seu pai agora ou esperar que ele ligasse depois.
Talvez fosse melhor ligar agora, quem sabe ele não ligasse em uma má hora depois, então era melhor garantir a ligação diária logo agora e tirar ele de seus pensamentos pelo resto do dia.
- Acho que vou ligar pra ele – null se levantou e passou as mãos pelos shorts, procurando tirar qualquer sujeira que tenha pegado enquanto estava deitada – Vou ali fora e já volto, tá?
- Ok - null respondeu, com os olhos grudados no texto que lia – Diga a ele que eu mandei um beijo.
null gargalhou e andou até o balcão onde tinha deixado os cafés, pegando um pra si e sua bolsa, fazendo em seguida o caminho de volta à porta, passando por null de novo e a avisando que tinha café no balcão.
Ela seguiu o mesmo caminho que fizera para chegar até a sala onde estava, mas dessa vez, no lugar de seguir em frente para a saída, ela dobrou no penúltimo corredor e andou mais um pouco, chegando à uma área aberta.
Observando o lugar atentamente, null se sentou em uma mesa que tinha ali e abriu a bolsa, procurando o celular. Achou-o depois de alguns segundos e procurou o número de seu pai entre os contatos, apertando send.
Chamou três vezes antes da voz rouca conhecida soar do outro lado.
- Pai? – ela perguntou, mordendo o lábio inferior e encostando as costas na cadeira.
- null?
- Sou eu. Só liguei porque o Fred me disse que você tinha ficado preocupado e... Bem, é bom checar como as coisas estão, certo?
Por que essas palavras, a forma qual tinha dito tudo isso, o fato de ela estar ligando... Por que tudo isso lhe soava tão estranho e desconfortável?
- Oh, não se preocupe, querida, você sabe como Frederick tem o pavio extremamente curto. O importante é que você esteja se divertindo por aí com seus amigos.
As coisas seriam tão mais fáceis se ele fosse que nem todo pai que abandona os filhos e só volta pra dar o golpe e conseguir mais algum dinheiro. Um pai que nem Phillip Olwash só fazia com que sua mente ficasse cada vez mais confusa. Pais assim não deveriam ser bonzinhos e se importar com você. Eles não deveriam ter um motivo por trás de tudo aquilo, isso é simplesmente errado.
Como é possível os odiarmos se eles se desculpam no final? Como podemos não desculpá-los se eles são nossos pais?
- Obrigada – ela disse simplesmente, com a garganta seca. Pigarreou um pouco e voltou a falar – Eu não vou demorar muito por aqui. Meu vôo de volta sai no domingo.
-Eu queria falar sobre isso com você também. Meu médico me ligou na terça e eu preciso estar de volta pra fazer uns exames de rotina e, bem, ele me proibiu de viajar sem aviso prévio mais uma vez.
- Oh – null encostou os cotovelos na mesa e franziu o cenho – Então o senhor vai precisar voltar antes? Digo, antes de mim?
- Aí é que está a coisa, querida... Nós vamos ter que voltar pra lá assim que você chegar na Inglaterra. Teremos tempo pra você recolher suas coisas e tudo o mais. Mas nada mais que uns dois dias. - ele fez uma pausa e null pôde escutá-lo suspirar. O som se misturou com o do seu coração, que batia fortemente em seu peito e ela pôde sentir sua própria respiração se descompassando - Me desculpe por isso.
Se desculpar por isso?
- Se desculpar por isso? – ela tentou sorrir – Você tá doente, eu entendo completamente, só... – null suspirou e sentiu seus olhos umedecerem – Tudo ficou meio real demais agora.
Os dois ficaram calados por um tempo. null escutava-o andar de um lado pro outro pelo quarto de hotel. Os passos dele ecoando pelo lugar e chegando ao aparelho telefônico, tornando capaz que ela o ouvisse. Se perguntou onde estaria Frederick, que não parecia estar com ele naquele momento. Perguntou-se por que ele estava deixando seu pai assim sozinho, perguntou-se...
Perguntou-se o que diabos estava fazendo com sua vida, e não obteve resposta alguma, além da que já sabia.
Teria que aproveitar tudo aquilo ao máximo. Teria que contar aos seus garotos e aproveitar ao máximo, porque não tinha mais volta. Deixaria de drama, deixaria de egoísmo... Nenhuma dessas coisas farão diferença nessa altura do campeonato!
- Eu preciso desligar – disse depois de mais alguns segundos – Os meninos estão gravando, e é uma coisa bem divertida de se ver.
Phillip pareceu sorrir. Ou chorar. Não era um barulho muito fácil de distinguir, mas sua voz parecia clara quando ele respondeu à filha.
- Tudo bem, querida. Se divirta. Nos vemos em breve. É, null pensou, desencostando o celular da orelha e fechando seu flip, nos vemos em breve.
- Você tem que balançar de um laaado pro oooutro – Tom esticou a mão com a raquete e mexeu os quadris de forma engraçada.
null riu e o olhou, maliciosa.
- Você bem sabe como balançar, não sabe, Fletcher?
Tom abriu a boca, inconformado, e null riu, do lado da garota.
- Vamos lá, eu quero jogar! Acaba logo com a raça do Fletcher, null – ele disse animado, pulando de um lado pra o outro.
- Olha só quem tá falando, o homem macaco – Thomas sorriu e irônico e null mostrou-lhe o dedo médio.
- Pelo menos eu sei jogar ping pong.
- Eu também sei jogar, null.
- Não como eu – null estufou o peito e bateu nele com os pulsos fechados. null voltou a rir – Vamos lá, null, é só jogar a bolinha e bater com a raquete!
Dando um rápido olhar sarcástico para o amigo, null pegou a bolinha branca e segurou com uma das mãos. Pegou a raquete pequena e redonda com a outra e olhou Tom no outro extremo da mesa, com uma expressão divertida. Se não der certo, pelo menos eu acerto na cara dele, a garota pensou consigo mesma e sorriu.
Ergueu a bola um pouco mais baixa que sua outra mão e jogou-a para o ar. Girou a mão que segurava a raquete na direção do objeto e...
- Você vai pagar por isso – foi o que null disse, ao mesmo tempo em que entrava com null no local.
null olhou para o vidro qual tinha quebrado. Não tinha quebrado, até porque o vidro de divisão entre o estúdio e a sala de controle era grosso o suficiente para que não fosse quebrado por uma bola de ping pong. Mas ele tinha definitivamente rachado.
- Ou eu vou pagar por isso – null deu de ombros, rindo e se aproximando da garota.
- Ou eu – Tom fez uma careta e null gargalhou alto.
- Ainda bem que eu não sou nem namorado, nem... – ele parou e olhou pra Tom – O que você é dela, Tom? Escravo/pai/irmão/pagador de contas/capacho...?
- ! – null gritou e tentou correr para bater nele, mas null a segurou – Só por causa disso, você quem vai pagar!
- Não mesmo, docinho. Eu não mandei você tentar jogar sem saber.
- Mas – null escancarou a boca e o olhou inconformada – Você me disse que era só bater com a raquete!
- Eu pensei que você ia acertar a cara do Tom ou coisa do tipo, não o vidro do estúdio! – ele riu outra vez e balançou a cabeça – Não seja maricas, null, o negócio não é tão caro assim!
- Não sou maricas - ela fez uma careta – E é claro que eu vou pagar.
- Gente, é só um vidro – null riu e sentou num sofá que tinha por ali, onde os meninos tocavam – Eu tava brincando. Se vocês quiserem, eu pago.
- Não, eu pago – null riu.
- Já disse que eu quem vou pagar, não disse? – null fechou a cara e tentou se livrar dos braços de null enquanto ele e Tom riam – Por que vocês tão rindo, idiotas?
- Porque vocês tavam brigando pra não pagar e agora brigam pra ver quem vai pagar!
- O negócio é sobre brigar - Tom começou e null rolou os olhos.
- Vai dar lição de moral, mamãe?
- Eu não acredito que vocês já tão brigando – null apareceu, acompanhada de null e null. Ela andou até null e o puxou pelo braço até um dos sofás/poltronas/cadeiras que tinham ali – Você deveria ficar de castigo pra aprender a se comportar!
Ele fez um bico e a puxou pela cintura, fazendo com que ela se sentasse em seu colo. null gritou, quase caindo e se segurou no pescoço dele, começando a xingar vários nomes desconhecidos, enquanto null tentava beijá-la.
- Já é quase meio dia – null comentou, sentada no chão com um copo em mãos – A gente tem que arranjar um lugar pra almoçar e ir levar logo vocês no lugar do show.
- Oh, é! – null colocou a mão na boca e se virou pra null – Vocês vão fazer um show hoje!
Ele sorriu a colocou as duas mãos que estavam nos ombros dela envolta de sua cintura, a puxando pra mais perto.
- Um hoje e um amanhã, vamos sacudir a Austrália, babe! – ele sorriu animado e tremeu o corpo todo, null riu.
- Ok, terremoto, pega leve aí.
null a puxou mais uma vez e subiu seus braços, a envolvendo num abraço extremamente forte. null resmungou e reclamou, mas ele continuou a apertando. Grudou suas pernas na dela e tremeu uma vez. null arregalou os olhos e escutou os outros rindo. null tremeu de novo, agora balançando todo o corpo dela e ela teve a impressão de que cairia.
- null null! – gritou, tentando empurrá-lo, mas null começou a andar, ainda a balançando – !
- Eu não vou te derrubar, sua louca, cala a boca – ele riu e a apertou mais ainda, levantando-a um pouco do chão e a levando até o sofá onde null e Tom estavam sentados – Satisfeita?
- Não – null o olhou feio – Minha cabeça tá tonta.
- Sua cabeça tá tonta? - Tom riu – Você anda falando umas coisas sem noção ultimamente.
- Pare de me amar tanto, Fletcher.
Tom bufou e null segurou o rosto dele.
- Ai meu Deus, vocês podem dar um tempo, por favor? Obrigada.
Então ela simplesmente se virou e começou a beijá-lo. Simplesmente virou o rosto e colou a própria boca na do namorado.
null e null se entreolharam, querendo rir. Ele levantou as sobrancelhas duas vezes e ela olhou envolta, percebendo que estavam todos... Se beijando.
- Isso não é estranho? – ela falou baixinho, com medo de atrapalhá-los. null a olhou confuso – Nós oito. Namorando, entre a gente! Eu nunca imaginaria isso, parece coisa de cinema.
- Você anda mesmo falando umas coisinhas estranhas, viu? – ele riu e null fez um careta, antes de null se aproximar e lhe dar um selinho carinhoso, passando a mão em seu rosto – Isso quer dizer que nós também estamos namorando?
- Hm, não sei – ela mordeu o lábio inferior e brincou com a gola da camisa dele, olhando para sua própria mão e logo depois o olhando nos olhos – Você não quer namorar comigo?
- Não seja boba – null riu – Eu to me sentindo meio estranho.
- Então você não quer namorar comigo! – null riu, tentando não parecer... nervosa.
- Não, fofa, é que parece que você tá me pedindo em namoro – ele fez uma careta e ela riu pra valer, escondendo o rosto no peito dele pra que não fizesse muito barulho – Você quer namorar comigo?
Ao mesmo tempo que sentia o coração de null começar a pulsar mais forte e mais rápido, com a cabeça encostada no peito dele, null sentiu seu próprio estômago dar um salto e seu coração gelar, parando alguns segundos.
Ela soltou a respiração e então ele voltou a funcionar a todo vapor, fazendo com que seus ouvidos parecessem um tambor, escutando o batimento de ambos.
Ela queria namorar com ele, mas... Ah, que se danasse! Se ela queria, ela iria! O propósito não era esse? Aproveitar o máximo? Foda-se se seriam por apenas quatro dias, ela iria aproveitar, e iria fazer o que mais queria.
Ainda na mesma posição e sentindo as mesmas coisas, null concordou com a cabeça e sentiu ele a abraçar de forma carinhosa. Levantou o rosto para olhá-lo e encontrou com aqueles olhos azuis hipnotizantes e terrivelmente brilhantes a encarando.
Como poderia resistir a isso? A ele? Em qualquer tipo de situação?
Retribuindo o sorriso que ele lhe direcionava, null aproximou os rostos e fechou os olhos, sentindo sua boca encostar na dele. Ficaram assim por alguns segundos, apenas sentindo um ao outro. null escorregou a mão que estava em seu rosto para seu cabelo e pressionou mais os lábios contra o dela.
null segurou o rosto dele com as duas mãos e mordeu-o levemente no lábio inferior, afastando-se em seguida, sorrindo sapeca.
- Obrigado por isso – null falou simplesmente.
- Por ser sua namorada pela décima quinta vez? – ela riu.
- Não – ele deu de ombros e fez uma cara cínica – Por me amar.
- Quem disse que eu te amo? – null sorriu e levantou as sobrancelhas, aproximando sua boca da dele mais uma vez, mas tomando cuidado para que elas não encostassem – Eu só to fazendo um joguinho pra te conseguir como escravo sexual – ela sussurrou, sentindo a respiração dele tocar em seu rosto e sorriu com a careta que null fez.
- Fico muito feliz em ser seu escravo, madame. Além do mais, posso servir pela eternidade?
null riu e deu um tapa de leve em seu ombro, encostando as costas no sofá e o puxando para que ele deitasse a cabeça em seu colo. Ela passou as mãos pelos cabelos macios dele e o viu fechar os olhos, recebendo o carinho.
- Obrigada também – falou simplesmente.
null abriu os olhos e a olhou, com aquele sorriso que parecia permanente e sabia adquirir várias formas.
- Por te amar?
- Não – ela balançou a cabeça e continuou mexendo nos cabelos dele – Por ser meu escravo sexual.
Um cara carregando uma das guitarras passou e null saiu de seu caminho, com medo de que ele pudesse a atropelar. Ela olhou em volta procurando algum dos meninos, mas não achou nenhum deles. O camarim estava vazio, exceto por ela jogada com uma garrafa de cerveja em um canto e null no telefone com alguém da TOTP no outro. Todos haviam sumido num piscar de olhos que ela nem ao menos notara.
A porta voltou a se abrir, mas ela não olhou, imaginando ser um outro cara pra pegar alguma coisa que os meninos teimaram em levar para o camarim, mas que deveria estar no palco. Foram as vozes de Tom e null que fez com que ela os olhasse. Eles entravam pela porta, conversando animadamente e gesticulando sobre algo, mais atrás vinham null, null e null, também conversando e por último null, que fechou a porta e se jogou na primeira cadeira que achou.
- Essa é a parte ruim de fazer show em outro país e ainda mais num lugar tão pequeno e sufocante – disse simplesmente, fechado os olhos e esticando o braço na direção onde null estava, a chamando com a mão – As pessoas simplesmente parecem mais perdidas do que em uma arena! E nós temos que ir lá e dizer “não, lembra que combinamos que isso seria assim, e assim e...”, eu não tenho mais saco!
- Isso quer dizer que não temos chances de ter filhos? – null perguntou, guardando o celular no bolso e sentando no colo dele. null fez uma careta e a ignorou.
null desviou o olhar para Tom, que sentava ao seu lado no sofá.
- Animada?
- O bastante – ela sorriu – E você, Sr. Sou-uma-estrela-e-tenho-fãs-do-outro-lado-do-mundo?
- Acho que minhas pernas tão tremendo – ele deu de ombros e a garota riu – Adorei o nome, à propósito.
Ela encostou a cabeça no ombro do amigo e sentiu ele começar a mexer em seu cabelo.
- null tava me contando umas coisas enquanto a gente se arrumava... – ela começou, olhando null e null tentarem ensinar as meninas a fazer um barulho esquisito com as axilas – Sobre vocês estarem negociando shows no Brasil.
- Demais, não é? A gente tá tão animado com isso! Nós lançamos um DVD lá tem um tempo, você sabe, e a gente teve um retorno incrível e todas as fãs fizeram uns abaixo assinados muito legais.
- Acho que vocês já comentaram comigo de ter fãs de lá aqui, mas nossa, Tom, isso é diferente! Vocês tão ficando famosos na América Latina! Eles nem ao menos falam inglês lá – null virou a cabeça, encostando o queixo no ombro dele e ficando com os rosto a centímetros de distância – Têm muitas meninas bonitas no Brasil.
Tom gargalhou e bateu sua testa na dela.
- Aw, isso doeu! – ela reclamou, sentando-se normalmente e passando a mão no local – Qual foi a da testada?
- Você falando idiotices, como sempre – Tom respondeu e a olhou de um jeito engraçado – Por falar em “null tava me contando”, soube que algumas pessoas decidiram voltar a namorar.
Oh, isso.
- Pff, por favor, Thomas – null balançou a mão no ar e tentou não sorrir demais – Até parece que isso é alguma novidade pra vocês pra que eu tenha que lembrar de contar.
- Sei que não – ele cruzou as pernas e encostou a cabeça no encosto do sofá – Eu só gosto de ver todo mundo se ajeitando.
- Você tem que parar de agir que nem uma velha, Tom.
- Eu gosto – ele deu de ombros e virou o rosto, a olhando – Às vezes.
- Hm – null fez um barulho com a boca e franziu o cenho – Como anda a gravidez?
- null quem anda com um guri no útero, null, pergunta pra ela.
- Ai, que otário – ela se inclinou e deu um tapa na testa dele – Tô perguntando como anda você em relação à isso!
- Ah, sim – Tom deu de ombros e voltou a olhar pra cima – Eu já não te falei tudo nas outras trezentas vezes que nós conversamos?
- É sempre bom ouvir de novo, você sabe como minha memória é uma merda.
Tom resmungou alguma coisa que ela não entendeu, mas que sabia que tinha algo a ver com null. Provavelmente algum tipo de piadinha. Ou ele poderia ter comparado ela ao null. Bem, mas continuava sendo uma piada, de qualquer forma.
- Você sabe, eu meio que fiquei surtado no começo. Não que eu não queira ter um filho. Quero dizer, pode ser uma menina, tanto faz, vai ser o máximo ensinar ele ou ela a tocar guitarra e abaixar as calças do null quando ele tiver de costas e tudo o mais... – Tom soltou uma risada, provavelmente imaginando a cena – Mas é meio assustador no começo. Tipo “será que a gente tá pronto pra isso?”, ou “será que eu vou conseguir ser um pai legal?”. A gente é jovem, mas null é uma mulher. Mulheres tão sempre prontas pra ter um filho. Elas têm instinto, sabe?
- Sei – null o olhou, sentindo uma pontada estranha em seu peito – Suas dúvidas foram só sobre isso? Tipo, você nunca se perguntou se você... Não sei – ela mordeu o lábio e também se encostou, ficando na mesma posição que o amigo – Não me leve a mal, você sabe que você é como um irmão pra mim e eu te conheço como a palma da minha mão, e eu também conheço muito bem a null, mas... Você nunca se perguntou se o amor de vocês era suficiente pra conseguir criar essa criança?
Eles ficaram calados depois dessa pergunta. A única coisa que era possível se escutar eram as risadas e as vozes altas dos outros, mas o silêncio havia se instalado entre os dois. null esperou alguns minutos, mas não obteve resposta alguma. Virou o rosto para olhar o amigo e ele a encarava com a expressão confusa.
- O que está acontecendo com você, null?
null sentiu seu coração pulsar tão forte que fez com que seus ouvidos chiassem. Ela segurou a respiração e sentiu um arrepio subir pela sua espinha.
Era agora. Era aquele tipo de momento que você não sabe como ou porque, só sabe que tem que ser naquele instante.
- Eu vou embora.
Era isso. Ela iria embora. null sabia muito bem que Tom tinha entendido o que ela quis dizer. Sabia que ele não brincaria e diria um “claro, você volta pra Londres no domingo!”. Ela também sabia que não era necessário que tivesse dito a ele isso, usado essas palavras, sido direto dessa maneira. Porque ele já sabia, Tom sempre soube. Antes dela mesma saber, ele já sabia onde isso tudo iria dar.
O verbo saber a fazia querer vomitar.
Eles continuaram se encarando e null sentiu os olhos marejarem. Foi quando ela passou a mão por eles pra evitar que chorasse que Tom a puxou pelos ombros a abraçou.
- Eu sei – disse simplesmente.
null mordeu o lábio e se segurou pra não chorar. Não podia, pelo menos não agora, seus meninos estavam prestes a entrar no palco! Era o dia deles! Já não bastava ela ser uma vaca o tempo inteiro também não tinha o direito de roubar a atenção que eles deveriam estar recebendo.
Ela se afastou aos poucos e o olhou, sorrindo fracamente.
- Vai ficar tudo bem, não vai?
- Sempre fica – Tom sorriu de volta e a puxou, beijando-a na testa.
- Opa, opa, que abuso com a namorada dos outros – eles sentiram uma mão entre a boca de Tom e a testa de null e viram null parado, rindo, ao lado deles.
- Ela está me desejando boa sorte, null – Tom sorriu – E dizendo o quão melhor que o namoradinho dela eu sou.
- Você sabe como ela sabe mentir bem – null piscou e pegou no braço da garota, fazendo-a ficar em pé – Vem comigo, quero te mostrar uma coisa.
- Mas vocês não têm que entrar no palco daqui a pouco? – ela perguntou, arregalando os olhos e tentando imaginar o que null tinha para lhe mostrar.
Ok. Deixa pra lá.
- Quanto tempo a gente tem, Tom? – ele perguntou ao amigo. Tom fez o número cinco com os dedos e se inclinou pra pegar uma barrinha de chocolate em cima da mesinha ao lado – Vê? Tempo suficiente, agora vem comigo.
null deixou que ele a arrastasse porta á fora, sem tentar imaginar o que diabos ele queria com ela. Qualquer tempo ao lado de null era aceitável. Mais que aceitável, era desejável. Então ela não estava numa posição que realmente quisesse reclamar nem nada do tipo.
- Aqui! – ele falou, mais pra si mesmo do que pra ela.
Ele abriu uma porta ao longo do corredor e null arregalou os olhos e teve uma vontade de rir quando viu que se tratava de um armário de vassouras e produtos de limpeza. Aquilo não era clichê ou algo do tipo?
- null! Você anda assistindo filmes de romance adolescente ou o quê? – ela riu e entrou no lugar, virando-se em seguida para vê-lo entrar e fechar a porta, deixando o lugar num breu total.
- Não seja estraga prazeres, você costumava adorar coisas clichês – ele riu e colocou as mãos na cintura dela. null se perguntou como ele conseguiu saber que ali era a sua cintura, uma vez que não era possível enxergar nada – A gente ainda deve ter uns três minutos pra aproveitar.
- Muito legal isso que você tinha pra me mostrar – null levantou as sobrancelhas, mas lembrou-se que ele não conseguia vê-la.
- Shiu.
null a puxou pra perto de si e voou em seus lábios. null sentiu ele explorar sua boca e colocou as mãos em sua nuca, virando levemente o rosto e procurando o jeito mais confortável de beijá-lo sem sentir uma vassoura lhe cutucar.
Ela sentiu ele rir com os lábios contra os dela e mordeu o lábio dele, provocando-o. null apertou mais a cintura dela contra seu corpo e null arfou, bagunçando os cabelos cuidadosamente arrumados por ela mesma minutos atrás e deixou que ele a beijasse com mais força, retribuindo na mesma intensidade.
null desceu os lábios pra o pescoço dela e null esqueceu de qualquer show que fosse ter em alguns minutos, puxou os cabelos dele quando sentiu as mãos quentes por dentro de sua blusa e afastou o rosto dele de seu corpo quando ele fez menção de tirá-la.
Foi aí que a porta se abriu.
Os dois viraram o rosto ao mesmo tempo e encontraram os outros seis parados, os encarando, completamente inexpressivos.
Foi aí que todos os oito começaram a rir. Escandalosamente. Espalhafatosamente. Riram.
- Meu Deus, vocês têm quantos anos? 18? Num armário, null? – null riu e tapou os olhos – Sou puro demais pra ver uma coisa dessas.
- Como vocês... – null olhou pra os amigos, agora com a respiração mais falha por causa do ataque de risos – Como acharam a gente?
- Depois de olhar em todas as salas de descanso, aonde mais null null teria levado minha amiga? – null riu – Amiga muito perversa, só pra constar.
- Salas de descanso? – null arregalou os olhos e olhou pra null – Aqui têm salas de descanso e você me trouxe pra um armário de vassouras? Deus, eu realmente não sei o que eu vejo em você.
Ela balançou a cabeça, segurando o riso e saiu dos braços dele, saindo em seguida do armário, passando a mão pela blusa, tentando desamassá-la.
- Eu poderia te deixar trancado aí, se você não estivesse atrasado pra tocar – ela disse, voltando a olhar pra ele e estendeu a mão – Vem, fofo.
null pegou a mão dela e saiu do armário. Os dois sorriram um pra o outro e escutaram a voz de null ao longe. Viram os amigos andando mais à frente, cada um de mão dada com seu par e null sentiu uma coisa engraçada crescer em seu peito.
De repente, tudo lhe pareceu incrivelmente certo.
Capítulo 46
A multidão gritava e null, por alguns segundos, pensou estar em um dos muitos shows em arenas que McFly tinha feito. Os gritos de “we don’t care” preenchiam o lugar. Ela olhou para o lado e viu null e null pulando e gritando, sentiu os braços de null envolvendo seus ombros e a olhou sorrindo.
- We don’t, we don’t care! – as duas seguiram o coro, também pulando.
A voz de Tom soou alta e o público aumentou o grito. null sentiu a garganta arder, gritando mais forte também. Seu corpo extasiou e ela reconheceu o sentimento como aquele de quando ria demais com os meninos ou quando ficava perto de null. Era felicidade.
- Aaai, Mon Dieu – null se aproximou rindo com null – Meu sangue tá queimando!
- Isso se chama álcool, amiga – null falou rindo.
- Idiotaaa! Eu to falando dos meninos. Não lembro do último show deles tão animado assim que eu fui!
- Eu não lembro do último show deles que eu fui – null tirou os braços dos ombros de null e colocou-os sobre a barriga – Ai, eu poderia ter o meu filho agora.
- Nem brinque!
- Não!
- Uoow!
As três falaram ao mesmo tempo e então começaram a rir.
- Muito obrigada por essa noite, Sydney, nos vemos em breve! – null falou e mais meninas gritaram.
Elas andaram até o canto do palco onde estavam, no backstage, e viram os meninos começarem a tocar os acordes de Five Colours, correndo como loucos por toda a extensão do palco. null e null tocavam lado a lado, sorrindo idiotamente e Tom pulava de formas estranhas, fazendo seu cabelo voar em todas as direções. No final da introdução ele andou até a frente, soltando a guitarra, segurando o microfone e começando a cantar, as quatro viram as meninas da primeira fila pularem e dançarem, extremamente suadas e vermelhas.
O que – pra constar – não deveria estar muito diferente pra elas.
- Everybody wants to know her na-a-a-a-me! – cantaram juntas e começaram a dançar de um lado para o outro a coreografia que tinham criado alguns anos atrás.
Harry virou para olhá-las algumas vezes na bateria, fazendo umas caretas estranhas e provocando risadas. Sentiram o suor pingar, mas continuaram a dançar, sem se importar com a imagem que estariam passando se qualquer uma daquelas fãs as visse ali no canto, agindo que nem quatro fãs malucas.
- Muito obrigada, Sydney! – Tom berrou e se aproximou, jogando suas palhetas ao público.
Danny colocou uma toalha dentro das calças, pegou as palhetas que restaram no apoio do microfone e saiu distribuindo, tirando a toalha assim que elas acabaram e jogando pra uma garota de cabelos escuros mais à frente. Harry saiu da bateria pra dar suas baquetas e Dougie corria por todo o palco jogando suas palhetas pra todo lado.
- Eu não tenho uma palheta deles – null comentou consigo mesma, mas percebeu que as amigas a olharam. Virou-se para elas – Nem uma baqueta. Eu vou embora em alguns dias e não tenho nada disso como lembrança.
null franziu o cenho e null colocou os braços envolta de null. Ela tinha o cabelo todo assanhado, o rosto levemente vermelho e um sorriso que ia de um extremo do rosto ao outro.
- Não se preocupe, amiga, nós te daremos até uma cueca de cada um deles, se você quiser – null fez uma careta e null riu, a empurrando pro lado – Fresca.
Ela sorriu sarcástica de volta e sentiu duas mãos envolverem sua cintura. null virou o rosto e encontrou null sorrindo pra ela. Ele estava sem camisa e parecia ter cada parte de seu corpo coberta de suor. Os dois escutaram um grito de uma das meninas mais atrás e risadas, viram um flash de longe e null olhou nos olhos dele pela primeira vez na noite e sorriu outra vez.
- Senti sua falta na primeira fila – null falou, passando a mão pelo rosto dela.
null balançou a cabeça e aproximou seus rostos.
- Eu estava aqui o tempo todo.
Ele a olhou satisfeito e puxou-a em sua direção, juntando seus lábios.
null pôde sentir o gosto salgado do suor quando a língua dele encostou na sua e as cargas de energia percorreram toda a extensão de seu corpo. Sentiu as mãos dele apertarem delicadamente sua cintura e se afastou aos poucos, à medida que seu ar foi acabando.
- Você arrasou – null passou as mãos pelo pescoço dele e o garoto mordeu o lábio inferior dela.
- Eu sempre arraso.
Ela riu e eles voltaram suas atenções para os amigos, que pareciam estar ocupados demais numa briga de suor, água mineral e toalha.
Foi quando null reclamou que seu cabelo já tinha ficado feio o suficiente que eles desistiram de continuar com a briguinha. Os meninos seguiram para tomar um banho no camarim e as garotas tentaram se ajeitar o máximo possível. Aquele tinha sido o último show deles na Austrália e null e null iriam embora em dois dias. O combinado era sair e aproveitar a noite depois de um show de arrebentar.
- A gente poderia sair e perguntar pra uma das garotas que vieram pra cá um lugar legal – null deu de ombros, passando as mãos pelos cabelos e se olhando no espelho – Elas não podem ser todas nerds que só estudam e escutam McFly.
- Nossas fãs não são todas nerds que estudam e escutam McFly, null – Tom apareceu com uma roupa diferente e uma toalha envolta do pescoço – Elas têm vidas bastante agitadas.
- Claro que sim – null sorriu ironicamente – Como a sua, né?
- Eu toco na banda mais foda do mundo, quer coisa melhor que isso?
- Em que universo esse alien vive? – null perguntou pra null e elas riram, enquanto Tom cruzava os braços e se afastava.
Ele andou até o espelho onde null se olhava, tentando disfarçar o quão molhado e bagunçado seu cabelo se encontrava. Parando silenciosamente ao seu lado, Tom voltou a passar a toalha pelos próprios cabelos, deixando os fios loiros caírem sobre seus olhos.
- Tão grandes demais, né? – ele perguntou, tentando olhar para o próprio cabelo.
null riu.
- Não tanto, eu prefiro eles assim.
- Ai, então não vou cortar – eles riram e null viu ele passar os dedos entre os fios, tentando penteá-los.
- Eu tenho um pente, quer?
- Não, assim fica mais sexy. Você acha que a vida numa banda é fácil? A gente tem que estar sempre gostosos, fãs são vida.
- Claro, porque o que importa é a sua aparência, não a sua música.
- Quem te falou que era o contrário? – Tom a olhou fingindo estar assustado e os dois riram, voltando a ficar em silêncio.
null balançou a cabeça e a encostou no ombro suado de Thomas, olhando o reflexo dos dois no espelho. Ela sorriu e fez uma pose. Ele a imitou e logo depois a olhou.
- A gente tem que tirar fotos – falou enquanto a garota ainda fazia caras e bocas para sua imagem no espelho – Antes de você ir, a gente tem que tirar fotos.
- É... – null desviou o olhar para encará-lo e sorriu abertamente – Relaxa, Tom. Vai dar tudo certo, não vai?
Tom ponderou o que ela disse e concordou, mesmo sem ter certeza se tudo fosse realmente ficar tão bem quanto ela dissera.
- Vamos a la fiesta! – null chegou rindo e jogou os braços em volta dos dois, colocando a cabeça entre eles – Festa, baby! Temos que comemorar esses dois sucessos que foram nossos shows aqui.
- Eu tenho que admitir – null riu – Elas quase me deixaram surda.
- Não foi? Eu também achei – Tom riu – Definitivamente vai pra o CD.
- Quero muuuito escutar ele logo! – null se contraiu e deu um pulo, abraçando null pelo pescoço – Eu quero, eu quero.
- É só você me dar seu endereço novo que eu te mando uma cópia – o garoto respondeu.
null o largou e parou em sua frente, repreendendo-o com o olhar.
- null! Não fala essas coisas assim, o null ainda não sabe – ela cochichou e viu o amigo revirar os olhos.
- Vocês dois me cansam – null disse, dando as costas à null e Tom – E vamos logo, eu pretendo começar minha noite cedo.
- Frase com dupla interpretação – Tom falava enquanto seguia o garoto – Eu tenho que te ensinar umas frases com efeito, null. Sério, a coisa perde a graça quando a pessoa não consegue mais interpretar o que você fala.
- Claro, como se você falasse muitas coisas coerentes – null fez um joinha assim que os três chegaram os demais estavam, pegando o fragmento da conversa – O null tem que aprender com o mestre aqui, ninguém é obrigado a ouvir suas frases nerds, Thomas.
- Claro, como se você falasse as coisas mais interessantes – Tom revirou os olhos.
null e null trocaram olhares. Ia começar tudo de novo.
- Você está dizendo que eu não sou interessante, Fletcher?
- Se a carapuça serviu...
- Filho d’uma pu-
- Gente, não baixemos o nível – null riu e fez um movimento com a mão, pedindo para que os dois parassem – Nós já entendemos, cada um tem seu próprio jeito, ok... Agora será que da sairmos logo daqui? Tá começando a ficar quente e feder a suor.
- Ew – null deu um pulo, ficando mais perto de null, que passou o braço pela cintura dela, fazendo menção de andar, esquecendo da discussão com Tom.
Entendendo que era hora de ir embora, null e null saíram para pegar as bolsas dos meninos que estavam mais no canto enquanto os outros se dirigiam à porta do camarim.
- E se tiverem muitas fãs lá fora? – null perguntou, passando uma mão pelo cabelo e bagunçando-o.
- Já escureceu, é mais fácil a gente conseguir sair sem que elas vejam a gente – null deu de ombros e null o cutucou, com as sobrancelhas franzidas.
- Isso não vai parecer rude?
- Não é como se a gente não quisesse falar com elas. É só que se a gente decidir sair pra tirar fotos e dar autógrafos vai causar tumulto, se a gente causar tumulto, a coisa vai demorar, se a coisa demorar não vai dar tem-
- Já deu pra entender, companheiro – null deu dois tapinhas no ombro de null, o interrompendo – Oh, obrigada, duendezinha.
Ele sorriu pra null que arrastava a mochila cinza pesada em sua direção e tomou-a das mãos dela. A garota sorriu de volta e puxou a de null, andando até o garoto.
- Obrigado – null agradeceu quando ela parou ao seu lado, abaixando-se para pegar sua mochila e dando um selinho nos lábios dela – Agora podemos ir?
Todos confirmaram com a cabeça e null abriu a porta, saindo em seguida. null viu Tom levantar o braço e sorrir.
- Ao infinito e além!
- Eu – null apontou pra si mesma e se segurou no banco de null, quando pensou que iria cair do seu – Acho muito muito muito válido – com um movimento, ela deixou o copo vazio em cima do balcão e apontou o dedo, que antes estava virado para si, para a pista de dança em suas costas, onde null e null se encontravam no momento – Nós arrastarmos nossos homens e dançarmos! Muito muito válido.
null e null se entreolharam, divertidas.
- Não acho que você esteja bem pra dançar, amiga – null disse tentando soar animada, mas null fez uma careta.
- Que inválido, eu estou ótima! – ela fez um movimento exagerado com o braço e null abaixou um pouco a cabeça quando pensou que um deles fosse lhe atingir no rosto – Ops, foi mal.
- Sem problemas – null deu de ombros e olhou pra as pessoas que se acumulavam na boate onde estavam – Cadê esses meninos?
- Devem estar arranjando alguém pra dançar com eles já que VOCÊS SÃO MOLENGAS DEMAIS PRA ISSO! – null gritou e as duas a olharam assustadas. Ela fez um sinal pra o barman e sorriu – Me traz outro desse, por favor? Obrigada – então voltou sua atenção às amigas – null não. Ele não curte muito dançar, então ele só deve estar vagando por aí. Pensando em mim.
- Caracas – null balançou a cabeça de um lado pra o outro e levantou as sobrancelhas – Você tá mesmo bêbada, não está?
- Pra tá pensando uma coisa dessas... – null sorriu e bebeu o resto de sua cerveja – Absurdo.
- Loucura.
- Ridículo.
- null vagando sozinho? –null fez uma careta, imaginando a cena.
- Inimaginável.
- Não tenho palavras pra tamanha ilusão.
- Vocês podem parar de falar difícil? – null pegou o copo que o barman trouxera e se virou para null – Tem uma garota bêbada que não está entendendo nada bem aqui!
- Não tenho culpa se o seu vocabulário não é tão extenso, meu bem – null sorriu maldosa – Vocês não usam muitas palavras difíceis na sessão de moda, não é?
- Acho que as únicas palavras difíceis que ela sabe falar são as marcas francesas – null fez um biquinho – Louis Vuitton.
- Qual é a do biquinho? – Tom colocou as mãos nas costas da namorada, a assustando. Ele levantou as sobrancelhas – O que vocês estavam fazendo de errado?
- Tirando uma com a cara de null – null deu de ombros e null riu, sentando no banco ao lado dela – Cadê o null?
- No banheiro – null fez um sinal pro barman e virou-se para a namorada – E por que vocês tão tirando onda com a cara da coitada?
null fez um joinha pra null e voltou a beber, distraída. Tom e null riram e null respondeu.
- Ela tá bêbada.
- Você não me parece bêbada – null fez uma careta e null riu, vendo-o sentar-se ao seu lado – Eu prefiro você bêbada.
- Você anda preferindo coisas demais – ela disse e virou-se para olhar os outros dois amigos – O que fazemos com null?
Tom levantou as sobrancelhas e apontou para o banco vazio.
- null, ela acabou de sair pra ir atrás do null – null fez uma cara de assustada, fazendo os outros três rirem – Vai dizer que você não viu!
- Não! – null olhou para os lados – Por que vocês deixaram ela sair? Ela vai se perder, o null vai ficar muito, muito, muito puto comigo. Ai meu Deus, eu to tão ferrada.
null revirou os olhos.
- null, dê um tempo.
- É, o seu lado preocupado não é muito legal – Tom piscou.
- Você também, branquelo, sente aqui – null puxou o namorado para o banco onde null estava antes – Agora me diga onde estavam.
- Negócios – Tom fez um sinal para o garçom e as garotas se entreolharam com caretas – Vocês não sabem quantos caras importantes vocês podem encontrar num lugar como esse. Principalmente depois de um show como o nosso.
- Péssimo?
- Desanimado?
- Whoa! – null riu e olhou para o amigo – Onde estão os elogios de mais cedo?
- Desceram pelo ralo quando vocês começaram a se gabar – null deu de ombros – Nós temo que estabelecer limites.
- Exatamente! – null sorriu e levantou um dedo, cutucando o rosto de Tom – Limites são tudo.
- O sujo falando do mal lavado – null riu.
- Você tem tudo, menos limites – Tom segurou o dedo que o cutucava e mandou um beijo para ela.
null fez um som estranho com a boca e se levantou, deixando uma nota de 20 em cima do balcão.
- Isso deve dar – falou mais para si do que para os outros e olhou para null – Vamos dançar.
Ele balançou a cabeça para os dois lados, com o copo na boca e viu ela fazer um biquinho.
- Vamos, null! Por favooor! Por mim – null piscou os olhos várias vezes, mas ele continuou negando – Por que não?
- Porque eu não estou a fim de dançar agora, simples.
- Mas eu estou.
- Então vai dançar, ué – null apontou para a pista de dança e null lhe lançou o pior olhar que conseguiu.
- Agora eu não quero mais – null voltou a sentar na cadeira e null riu.
- Eu não te entendo – null balançou a cabeça para os lados e virou-se par ao balcão.
- Pior seria se entendesse – Tom riu e puxou as mãos da amiga – Olha só, nós queremos falar uma coisa com você.
- Não dá pra ser depois? Eu to tentando dançar aqui – null fez bico e Thomas apertou mais forte as mãos dela – Oh, ok, ok! Não precisa arrancar os meus dedos, sou toda ouvidos.
- Quer ser a madrinha da nossa filha?
null botou a mão na boca e arregalou os olhos, sentindo a vodca que estava bebendo descer rasgando pela sua garganta. Ela olhou do namorado para o amigo e não tirou a mão de onde estava.
Tinha escutado certo?
- Vai ser uma menina? – ela conseguiu perguntar depois de um tempo.
- Amiga, a gente te perguntou se você queria ser madrinha dela e você se importa com o fato de ser menino ou menina? – null a olhou sorrindo – A gente já tava cansado de guardar segredo – deu de ombros.
- Mas... – null olhou pra as mãos e depois pra Tom, com a testa levemente franzida – Eu não entendo...
- O quê? – null colocou um braço sobre os ombros dela – Eles te amam e você vai amar essa criança, ponto. Querem que você seja a madrinha dela, outro ponto.
A garota olhou para os amigos, completamente confusa. Por que eles a estavam escolhendo como madrinha do neném diante de todas essas coisas? Não conseguia entrar na cabeça dela o fato de que eles estavam escolhendo ela pra essa coisa importante. Por Deus, ela iria ser a madrinha daquela criança! Teria que estar presente pelo menos no aniversário de um ano, o que era justamente o menos provável de ela comparecer.
- Eu não posso – respondeu simplesmente, com um sorriso fraco – Vocês sabem que não seria certo.
- Por que não seria certo? – null a olhou confuso – Não to entendendo nada. Por que vocês dois tão com essas caras de cachorros abandonados?
null mordeu o lábio e olhou para Tom, que ainda encarava null. Ela deu um suspirou e mexeu os dedos das mãos, tirando-as do aperto de Thomas.
Respirou fundo e passou a língua pelos lábios, umedecendo-os. Respirou outra vez e levantou o olhar para null. Viu seu rosto refletido em seus olhos e soube que não poderia esconder isso um segundo mais.
- Precisamos conversar.
Ela sentiu o arrepio que percorria a espinha do garoto percorrer a sua também. Observou os traços do rosto dele mudarem de uma leve confusão para um medo tremendo. Não sabia dizer se ele tinha pressentido tudo isso ou se estava apenas imitando as feições do rosto dela.
- Acho melhor a gente ir-
- Não – null interrompeu Thomas e o olhou decidido – Vocês não vão a lugar algum – virou-se para olhar null e respirou fundo – O que você precisa me contar?
null fechou os olhos com força e pensou em como dizer aquilo, pensou em como deveria se sentir, em como faria ele se sentir e de repente tudo aquilo lhe pareceu injusto demais. Mas era um beco sem saída. Não havia mais como voltar atrás, era agora ou nunca. Era ir e deixar um null magoado e à par de toda a situação, ou deixar um null amargurado, a odiando e sem entender completamente nada.
A verdade é que nunca há o melhor caminho e sim o menos pior. Não depende se vão ou não haver pedras em sua jornada, e sim em quantas você vai tropeçar.
- Meu pai me procurou porque, alguns anos atrás ele descobriu que estava doente – ela começou, esfregando o dedo no balcão e olhando para todas as coisas que não fossem o rapaz em sua frente – Ele descobriu que tinha câncer de pele. O único problema era que... Não era um sinal ou uma mancha que ele podia retirar numa cirurgia, já tinha se espalhado por todo o corpo e a coisa ficou feia, eu digo, realmente feia, null.
null mordeu os lábios e olhou para null. Deus, como poderia fazer isso?
- Eles fizeram várias cirurgias e tiraram tudo o que foi preciso, fizeram quimioterapia e as coisas melhoraram quase em 100%. Esses tipos de casos que você começa a pensar que são um milagre – null não estava entendendo nada e null percebeu isso. Ela o olhou docemente e sorriu, deixando algumas lágrimas caírem – Mas não existem milagres.
- O câncer voltou? – null olhou de null para os amigos, exasperado – null, ele voltou?
Ela concordou com a cabeça e deixou mais lágrimas caírem.
- Ele tá morrendo, null. Ele me procurou pra dizer que não tem salvação – null o olhou e levantou a mão quando ele fez menção de abraçá-la – Ele quer me tirar de você.
null franziu o cenho e deixou a cabeça pender para um lado.
- Ele veio com aquele menino que diz ser meu irmão e... Me disse que vai bater as botas e deixar a porcaria da empresa dele pra mim.
- Certo. Você vai ganhar uma empresa – null sorriu.
- Você não entendeu, null! A empresa dele é na Itália! Eu vou ir embora com ele essa semana. Eu vou ter que... Deus! – null colocou as mãos nos olhos e se encostou no balcão.
Por um momento, todo o som sumiu.
null olhou para sua garota chorando e então pros amigos ao lado. Parados. Olhando. Ele os observou com cuidado, absorvendo tudo que tinha escutado e então ligou os pontos. Lembrou do mau humor repentino que null adquiria às vezes, das conversas em voz baixa de null com as meninas. De como ela ficava inquieta depois que desligava o telefone.
Com um longo suspiro ele deixou a idéia de perder null preencher seu organismo e sentiu seu estômago afundar.
Estreitou os olhos em direção à Tom e pensou duas vezes antes de se pronunciar, sem certeza se a voz sairia.
- Vocês sabiam? Desde o começo, vocês sabiam?
- Não... Ela me disse ontem – Thomas falou lentamente e apontou pra null – E contou pra as meninas no dia que comprou a passagem.
null concordou com a cabeça e voltou a olhar null, que ainda mantinha o rosto encostado no balcão, mas parecia ter parado de chorar.
Seu coração pareceu ser colocado no centro de uma mão e então ser apertado com a maior força possível. Sentiu suas entranhas se contraírem e os olhos queimarem com a vontade de chorar. Pouco a pouco foi entendendo que toda essa dor era o processo. Ele estava sentindo uma parte de si ser arrancada de seu ser. Essa era a dor de perder null.
- Eu acho que vou vomitar – null levantou de supetão e colocou as mãos na boca, deixando os olhos vermelhos e as bochechas molhadas à mostra.
null levantou-se no mesmo instante e a arrastou, guiando-a entre as pessoas na direção do banheiro feminino. null deixou que seus olhos as seguissem até que fossem engolidas pelas várias pessoas que estavam no caminho e então virou-se para Tom.
Sentiu a boca seca e o coração terrivelmente acelerado. Teve a leve sensação de que tinha esquecido como se falava. Parou alguns segundos pra respirar e tentou manter os olhos focados no amigo.
- Cara – suspirou e sentiu algumas lágrimas caírem de seus olhos – O que eu faço agora?
- O que diabos está acontecendo aqui? - null empurrou a porta do banheiro feminino com força, fazendo-a bater num estrondo contra a parede do lugar e assustando as duas garotas em frente à uma das pias. Ela deu uma boa olhada em uma delas, que tinha a cabeça levemente abaixada e o rosto pálido – Oh, meu Deus! O que diabos está acontecendo aqui?
- null teve um ataque nervoso – null disse e se virou rapidamente para segurar os cabelos da amiga que tinham escapado quando ela voltou a vomitar – Ah não, null! Não na pia, vamos pro vaso.
- Ela não consegue vomitar em vasos – null apareceu pela porta e olhou em volta, andando até o aparelho de secar mãos preso na parede e tirar uma chave escondida atrás dele – null me disse o que aconteceu quando eu vi a null voando pra cá – ela completou, andando até a porta e usando a chave para trancá-la – Acho que isso vai ser útil.
- Como você sabia? – null perguntou, erguendo as sobrancelhas – Da chave, quero dizer.
- Longa história, não é o momento – null deu de ombros e andou até null – Isso é psicológico.
- É, null. Vamos lá, pense em coisas boas! – null se aproximou também.
- Eu não acho que ela tenha coisas boas pra pensar, no momento.
- null! - as outras duas gritaram em uníssono.
null levantou um braço, fazendo as amigas se calarem e abriu a torneira, jogando um pouco de água na boca. As três continuaram paradas a olhando. null mordeu o lábio e aproveitou que a amiga parecia mais calma para prender o cabelo num elástico.
- Eu estou bem. Foi só um surto.
- Põe surto nisso, eu pensei que você ia desmaiar de tão branca que ficou – null colocou as mãos na cintura e a olhou duramente – Você sabe o tamanho do susto que me deu?
- Vai com calma, mamãe – null riu – Ela já está melhor, não ouviu?
- Posso fazer uma observação? – null levantou o braço e as outras concordaram – Eu ainda to meio que perdida por aqui. Será que dá pra alguém me dizer o que aconteceu?
- Ela contou pro null – null disse simplesmente.
null abriu a boca, assustada e correu até onde null estava, a abraçando por alguns segundos até que ela resmungasse, reclamando do aperto, então a garota se afastou e passou as mãos sobre os cabelos da amiga, a olhando cuidadosamente.
- Como foi isso?
null deu de ombros e olhou para cima, sentindo os olhos encherem de lágrimas mais uma vez.
- Ele precisava saber, certo? E eu precisava explicar porque não posso ser a madrinha da filha da null e do Tom.
- Vai ser menina?
- Eles te chamaram pra ser madrinha?
null e null olharam indignadas para null, que apenas gargalhou e deu de ombros.
- Nós podemos resolver isso depois, garotas. Temos um problema mais sério agora – ela apontou a cabeça para null, que levantou o polegar no ar – Também não sejamos dramáticas – null transformou o polegar de concordância em um dedo de xingamento e null riu alto, vendo a cara que null fez – Pelo menos não agora. Olha só, null, você ainda precisa ir lá e falar com ele calmamente, explicar tudo. Você não pode simplesmente deixar as coisas desse jeito. Ele vai querer saber tudo detalhe por detalhe e você não pode negar esse direito!
- Eu sei – null gemeu e colocou as mãos nos olhos.
- Depois que você falar com ele, a gente deixa você bancar a dramática – null piscou e null fez um bico.
- Preciso mesmo? Digo, mesmo? Se eu for, vou vomitar em cima dele dessa vez!
- Ok, de dramática para exagerada, estamos indo bem hoje – null riu de novo e viu as amigas a olharem feio – O quê? Eu só to tentando descontrair!
- Você precisa falar com ele, ok? – null voltou a olhar null e a viu concordar com a cabeça – Certo, ele está lá fora sentado num banco com os garotos.
- O quê? Vocês querem que eu vá agora?
- De quando você pensou que a gente tava falando? – null cruzou os braços.
- Uh, não sei... Amanhã, talvez? – null fez uma careta e fechou os olhos quando viu as expressões das amigas – Tudo bem, eu já estou indo, já estou indo. Mas se eu acabar vomitando naquelas calças jeans lindas dele, não digam que eu não avisei.
- null!
null esfregava os braços com as próprias mãos quando chegou no lado de fora da boate. O clima estava notoriamente mais frio do que pelo dia e a falta de pano em sua roupa deixava aquilo mais claro ainda. Ainda tentando aquecer a si mesma, ela passou os olhos pelo local e achou os quatro garotos sentados num banco mais à frente.
null estava deitado no chão da calçada, paralelo ao banco. Os outros três estavam sentados de forma espalhafatosa – ocupando o maior espaço possível – no banco e tinham os pés apoiados na barriga do que se encontrava no chão.
Mordendo o lábio para prender a risada, a garota se aproximou aos poucos, observando que eles mantinham a voz baixa enquanto conversavam e que vez ou outra null fazia caretas, o que a levava a pensar que eles estavam pisado-o com mais força do que a necessária.
- Hey – null foi o primeiro a vê-la, cumprimentando-a com um aceno de cabeça, acompanhado por um leve sorriso maroto e uma voz num tom baixo e sóbrio – Vomitou muito?
null balançou a cabeça para os lados, indicando que mais ou menos e fez o amigo rir. null, que tinha os olhos fechados, abriu-os e a olhou assustado.
- O que você tá fazendo aqui? – null encolheu os ombros quando escutou o tom rude na voz dele, mas tentou não se deixar atingir.
- Eu preciso conversar com o null.
- Acho que você e ele já conversaram o suficiente.
- null! – Tom o olhou com repreensão e colocou uma mão no ombro de null – Por que a gente não deixa ele mesmo decidir o que quer?
null bufou alto e se levantou, ficando de frente ao banco. null levantou os olhos pela primeira vez desde que null chegara e encarou-a.
Um calafrio percorreu a espinha de ambos quando leram o que tinha escrito nos olhos de cada um.
Eles precisavam daquilo.
- Tudo bem – ele soltou uma bafada de ar e tentou sorrir pros garotos – Entrem e fiquem com as meninas. Eu e null vamos conversar um pouco, depois a gente vai lá.
- Mas-
- Tudo bem, null – null o olhou significantemente – Vocês podem entrar.
Sem mais uma palavra, Tom e null se colocaram de pé, andando na direção do terceiro e o empurrando na direção da qual null viera, sem sequer cogitar a possibilidade de relutância por parte dele.
Assim que os três sumiram porta à dentro, null disse à si mesma que aquilo não estava errado e sentou-se ao lado de null no banco.
Passaram-se cinco minutos até que um dele dissesse algo.
When I was younger I saw
(Quando eu era mais nova eu vi) My daddy cry, and curse at the wind
(Meu pai chorar, e xingar ao vento) He broke his own heart and I
(Ele partiu o próprio coração em dois e eu) Whatched as he tried to re-assemble it
(O assisti enquanto ele tentava recompô-lo)
- Eu sempre imaginei como seria quando ele aparecesse de novo – null cruzou os dedos de ambas as mãos sobre o colo e fixou seu olhar na curva de suas unhas – Não que eu realmente acreditasse que ele voltaria. Mas eu gostava de imaginar que se um dia ele o fizesse, eu cuspiria em sua cara e diria que ele nunca esteve lá pra mim, então não tinha por que de ele me querer em sua vida.
null virou a cabeça para olhá-la e viu que a garota mexia os dedos constantemente.
And my mamma swore she would
(E minha mão jurou que ela) Never let herself forget
(Nunca mais ia se deixar esquecer) And that was the day that I promised
(E aquele foi o que dia que eu prometi) I’d never sing of love if it does not exist
(Que eu nunca cantaria sobre amor se ele não existisse)
- Mas as coisas nunca são como a gente tanto planeja, não é? Eu queria poder dizer não pra ele, null, você não tem a mínima noção do quanto – null mordeu o lábio inferior e sentiu uma lágrima percorrer sua bochecha – Eu vi o sofrimento da minha mãe depois que ele foi embora. Ela se afogou daquela forma por causa dele! A conseqüência dos atos dele foi a minha mãe ter me deixado cinco anos atrás e eu jurei nunca mais perdoá-lo por isso.
But Darling...
(Mas querido...) You are the only exception
(Você é a única exceção)
- Mas ele era o cara que me colocava cereais de manhã. Era ele quem me acordava e me levava para o colégio. Quando minha mãe ficava até tarde na universidade ele me levava com ele para o escritório e me deixava mexer no tricotador de papéis e... – o calor da mão de null se misturou com a sua e null não mais via apenas o contorno de sua pele como o tom distinto da de null misturada com a sua. Ele segurava sua mão fortemente e ela sentiu que aquilo fosse fazer seu coração parar – Ele tinha aquele cheiro...
Maybe I know somewhere deep in my soul
(Talvez eu saiba, em algum lugar no funda da minha alma) That love never lasts
(Que o amor nunca dura) And we’ve got to find other ways
(E nós temos que achar outras maneiras) To make it alone or keep a straight face
(De seguir em frente sozinhos, ou manter uma expressão agradável)
- Você gosta de cheiros, não é? – a voz de null soou rouca, fazendo todos os pêlos da nuca de null se arrepiarem.
Ela sorriu e concordou, tentando controlar as lágrimas e virando-se para olhá-lo.
- Eu gosto de cheiros.
- Cheiros são bons – ele sorriu, apertando a mão dela mais forte e null mordeu o lábio inferior outra vez.
- Cheiros marcam.
And I’ve always lived like this
(E eu sempre vivi dessa forma) Keeping a comfortable distance
(Mantendo uma distância confortável) And up until now I swored to myself
(E até agora eu tinha prometido à mim mesma) That I’m content with loneliness
(Que eu estava satisfeita com a solidão)
- Me entenda, null, eu não quero ser como a minha mãe – ela balançou a cabeça e procurou pelo olha dele desesperadamente – Eu não quero me deixar guardar rancor das pessoas pra que isso acabe comigo no final! Eu já fui assim antes, mas depois que eu te conheci, depois que eu conheci vocês... Eu não posso perder as pessoas que mais me importam e fingir que está tudo bem.
‘Cause none of it was ever worth the risk
(Porque nada disso valia a pena o risco) But you are the only exception
(Mas você é a única exceção)
- Eu te entendo – null usou uma das mãos para segurar o rosto dela – Mas você tem que entender que dói em mim te deixar ir.
- E dói em mim ir embora – null sentiu seu rosto esquentar como tinha acontecido com suas mãos anteriormente quando ele as tocou – Mas se eu to fazendo isso agora, é pra poder fazer melhor no futuro.
- Eu me orgulho disso – ele sorriu e aproximou seus rostos – De ter feito você querer ser uma pessoa melhor.
- Tomara que valha à pena.
null piscou duas vezes e voltou a olhá-lo, sentir a tranqüilidade que emanava do corpo dele dominar o seu.
- Sempre vale.
I’ve got a tight grip on reality
(Eu tenho uma forte noção de realidade) But I can’t let go of what’s a part of me here
(Mas eu não consigo deixar ir o que é uma parte de mim aqui) I know you’re leaving in the morning when you wake up
(Eu sei que você está partindo pela manhã quando acordar) Leave me of some kind of proof it’s not a dream
(Me deixe algum tipo de prova que isso não é um sonho)
- Você não deveria estar dizendo isso – null sorriu fracamente – Você deveria dizer que eu estou sendo uma idiota e que eu não posso te deixar. Não agora, quando as coisas estão ficando tão boas...
- Você quer que eu fale isso pra você ou que você diga a si mesma? – ele usou o polegar para acariciar a bochecha dela e observou enquanto ela se dava conta de que o que ele dissera era verdade – Eu não sou egoísta, null.
- Mas eu sou!
- Não deveria – null respirou fundo e tocou seu nariz no dela – Ele é seu pai.
null fechou os olhos com força e sentiu a boca dele junto à sua.
- Não me deixe ir.
You are the only exception
(Você é a única exceção)
Depois de escutar essas palavras. Depois de abrir os olhos. Depois de vê-la tão frágil em suas mãos que null percebeu que nunca poderia a impedir de nada.
Essa era null. Livre, independente, e por mais egoísta que fosse às vezes, quando chegava a hora de deixar o egoísmo de lado, ela era exageradamente extrema. Mas essa era ela. E ela era sua.
Nesse momento tudo ficou claro e null percebeu que não importava se ela fosse embora. Isso não acabaria com nada que houvesse entre eles. Eles eram muito mais que isso. Eles eram muito mais.
And I’m on my way to believing
(E eu estou a caminho de acreditar) And I’m on my way to believing
(E eu estou a caminho de acreditar)
Nenhum dos dois nunca pôde dizer se seus lábios se encostaram naquele momento ou se a proximidade e a conexão era tão grande que eles pareciam um só. Eles só sabiam que no minuto seguinte null se levantou e a puxou pela mão, entrelaçando seus dedos.
- Vamos pra casa.
Capítulo 47
- Saia daí! – null gritou, rindo – null null, quando você aparecer eu vou te bater tão forte com esse travesseiro que sua cabeça vai voar longe!
A risada do garoto soou do outro lado da porta do banheiro e ela bufou. Bateu os pés duas vezes e pensou em algo que fosse fazê-lo sair dali.
- Vamos lá, null. Não seja sem graça.
- Não tem mais graça há muito tempo. Você ganhou, pronto! Eu já to sangrando.
- A moça menstruou? – null riu e bateu na porta – Vem cá e eu dou uma olhada nesse pé.
- Não.
- null!
- Ok, dê um motivo pra que eu saia.
null fechou os olhos e passou a mão sobre as pálpebras.
- Eu estou aqui – foi a única coisa qual conseguiu pensar.
- Nua?
null gargalhou e olhou pra o próprio corpo, coberto apenas por suas roupas íntimas.
- Praticamente – maneou com a cabeça, ainda se olhando – Vai sair?
Um barulho alto veio de dentro do banheiro, fazendo-a se sobressaltar, deixando o travesseiro que segurava cair e colando a orelha na madeira da porta, tentando ouvir algo.
- Fofo? Você tá bem? – null tentou girar a maçaneta, mas a porta estava trancada. Ela mordeu os lábios e tentou outra vez. Um gemido soou de lá de dentro e ela cerrou os olhos – null null, se você estiver se masturbando pensando em mim nua, eu vou garantir que você fique estéril pelo resto da sua vida.
Outro gemido soou mais perto e a garota se afastou da porta, entendendo que ele ia sair. null abriu a porta devagar e mostrou o corpo todo marcado de vermelho das travesseiradas levadas pela namorada. Seu rosto tinha uma feição de dor e null notou que o dedo do pé estava sangrando.
- Você não tava se masturbando? – ela perguntou, andando na direção dele e o abraçando.
- Não – ele riu e a abraçou de volta – Você não está nua.
- Eu não disse que estava – null se afastou um pouco e o olhou, logo em seguida beijando-o levemente nos lábios – Deixa eu ver esse pé?
null concordou com a cabeça e eles andaram até a cama, ele sentou-se e null se agachou puxando o pé esquerdo dele à altura de seu rosto.
- Isso é péssimo – disse simplesmente.
- Eu escorreguei no banheiro.
- Oh – ela topou na unha do dedão que sangrava e null recuou levemente – Acho que sua unha vai cair.
Ele bufou e jogou-se de costas na cama. null se levantou e o puxou por um dos braços.
- Vem, lá embaixo deve ter um quite de primeiros socorros. Vamos lavar isso e fazer um curativo.
- Quanto tempo eu vou ficar sem usar tênis? – ele perguntou, fazendo-a rir.
- Alguns dias.
Deixando o garoto quieto na cama, null andou até o canto onde estava sua mala e procurou um vestido simples, vestindo-o rapidamente e logo voltando para onde estava.
- Vem – chamou null.
Ele abriu os olhos e fez uma careta, null riu e o puxou, fazendo-o ficar de pé. O mandou ter cuidado com o dedo quando ele choramingou que não iria conseguir andar. Saíram do quarto sem problemas e andaram até as escadas. null apoiado nos ombros de null e ela tentando manter o equilíbrio.
Tom estava parado no final dos degraus, completamente absorto em pensamentos, mexendo no celular.
- Digaí, estranho – null cumprimentou-o quando já estavam frente a frente.
O garoto se sobressaltou e afastou-se para deixar os amigos passarem.
- Por que você tava parado que nem um idiota na frente da escada? – null perguntou, se contorcendo para conseguir olhar o amigo que vinha mais atrás.
- Como você se machucou? – Tom perguntou de volta.
- Perguntei primeiro.
- Pára de se virar, null! Anda direito – null deu um leve puxão nele.
- Eu ia subir, mas o Fletch me mandou uma mensagem – Thomas explicou, ainda os seguindo.
Eles pararam em frente à porta da cozinha que dava para o quintal de trás e null tirou o braço de null que estava sobre seus ombros, virando-se em seguida para Tom.
- Leva ele pra a mesa de fora, vou pegar a caixinha.
Tom bufou e andou até null.
- Da pra me dizer como você conseguiu quase arrancar sua unha do dedão?
null estava no meio da lista do que ela queria ganhar de aniversário quando null parou de prestar atenção.
A praia estava tão cheia que eles tinham decidido ficar na piscina de casa mesmo, passando no supermercado para reabastecer o estoque de álcool e comprar mais petiscos.
O clima estava bom.
null bufou e tentou voltar a prestar atenção no que a amiga falava, mas já tinha se desligado e agora tentando se prender a qualquer coisa que a impedisse de pensar em você-sabe-o-quê.
Mas nem o clima estava tão interessante assim.
- null!
null arregalou os olhos assim que eles recuperaram o foco. null não estava mais em sua frente e sim null e null, a olhando precupados.
- Quê?
- A gente tava te chamando tem um tempão – null falou – Tudo bem?
- Hã... Tudo – ela riu – Cadê null?
- Lá dentro. A gente tava te chamando pra ir também, a comida já tá pronta – null estendeu uma mão na direção dela e null a segurou, pondo-se de pé.
null continuava parado em seu canto, com o mesmo olhar preocupado de segundos atrás, a olhando minuciosamente.
- null?
- Você tá bem mesmo? – ele perguntou, franzindo o cenho.
A garota concordou com a cabeça e estendeu o braço em sua direção. Ele parou alguns segundos, analisando o que deveria fazer. Olhou do braço da amiga até o rosto dela e de volta para o braço.
- Tem certeza que tá?
- null, vamos lá, até eu to com fome – null resmungou e null riu, concordando com a cabeça.
null pareceu dar de ombros e enroscou o braço esquerdo no braço direito de null.
- Vamos logo antes que meu estômago ronque mais alto – ele disse com uma careta e as duas garotas riram.
- Amém! Pensei que iam ficar por lá – null disse, sentada na mesa da cozinha, assim que os três entraram no lugar – Não que eu tenha realmente acreditado nisso, afinal, o null estava com vocês.
- Ei! – null a olhou feio e todos riram – Você anda com a lingüinha muito solta, null, o null não tem dado conta do recado?
null e null se olharam e riram alto.
- O que foi isso? – null perguntou com as sobrancelhas erguidas – Essa troca de olhares? O que você duas andam tramando?
- Nada, meu bem – null sorriu para o namorado e o beijou – Deixa isso pra lá.
- Deixa isso pra lá o caralho – null desviou o rosto do beijo dela, deixando-a com uma careta horrível – Quero saber o que é.
- Desde quando você é tão curioso? – null perguntou, puxando a cadeira do lado de null e sentando-se. O garoto sorriu pra ela e deu-lhe um beijo rápido, colocando um dos braços envolta da cadeira dela – Não foi nada ruim, não se preocupe.
- Então por que vocês não querem falar?
- null, deixa isso pra lá, por Deus! – null bufou e olhou pra null, do outro lado do balcão – Você tá matando a vaca ainda pra pegar a carne ou o quê? To com fome.
- Não desconte suas frustrações nela, null – null disse, com as sobrancelhas franzidas – Qual o problema dessas meninas hoje? Todas decidiram ficar de TPM juntas?
- null! – null se aproximou com duas travessas de carne, rindo – Pega leve com elas.
- Eu te protejo e você manda eu pegar leve – ele cruzou os braços contra o peito e null olhou para Tom, ambos mordendo os lábios para evitar rir.
- Eu agradeço, meu bem, mas não precisa me proteger das minhas amigas - ela deixou as coisas em cima da mesa e sentou-se ao lado dele – Tira essa cara de bunda, null.
- Tanto faz – ele deu de ombros e ajeitou o corpo, estendendo os braços para pegar um pouco de comida pra si.
- A carne tá com uma cara boa – null disse, puxando um pedaço para o seu prato.
- Também se não tivesse, depois que a null teve todo o trabalho de matar a vaca e tudo o mais – null comentou com uma expressão cínica e null e null lhe mostraram a língua – Ops, acho que preciso que alguém me proteja. Tom?
Ela olhou pra o namorado, que bocejou e estendeu os braços atrás do corpo.
- Quê? Das suas amigas? Você não precisa.
null, null, null e null caíram na risada, enquanto o rosto de null parecia ficar cada vez mais vermelho.
- Pára com isso null, eu não to me engasgando – null reclamou, fazendo null parar de passar as mãos pelas costas dele.
- Então quando você se engasgar eu vou-
- Ok, não precisamos começar tudo de novo, certo? A comida vai esfriar – null indicou os pratos com a cabeça e todos concordaram, voltando a se servir.
- Fofa – null chamou null, quebrando o silêncio, e a garota o olhou – Quando você quiser que eu te proteja, deixe isso claro, ok?
null e null bufaram, fazendo todos os outros voltarem a rir.
- E ai – null viu null se aproximando e ele sentou ao lado dela no tapete em frente à televisão – Cadê os outros?
- Foram procurar baralho ou dominó... Alguma coisa pra a gente jogar – ela deu de ombros e voltou à olhar para o programa que passava, sem entender realmente sobre o quê aquilo se tratava.
- Vocês não vão me contar, não é?
null voltou a olhar para o amigo e franziu o cenho. Sobre o que ele estava falando, afinal?
- Sobre o olhar de você e null... – ele balançou as mãos como se isso fosse ajudar, fazendo a menina rir – Quê? Eu sou uma pessoa curiosa!
- Ninguém nunca consegue deixar nada de fora pra você, não é? – ela riu – Você lembra sobre o que era a conversa?
- null falando merda.
- Quais merdas, null?
null ficou vermelho no mesmo instante e null gargalhou alto.
- Ele tava falando sobre seu beijo não ser suficiente. E, eu não sei se você lembra, mas das pessoas que estão aqui, eu e a null somos as únicas que podemos comprovar isso – ela piscou e riu mais quando o vermelho do rosto do garoto só pareceu aumentar – Ah, qual é! Não banque o envergonhado agora.
- Como não? Vocês ficam falando essas coisas entre vocês! Já compararam como eu sou na cama também?
null parou de rir.
- Não exagere, idiota.
null levantou as sobrancelhas e abriu a boca para falar algo, mas null e Tom apareceram rindo e conversando. Os dois se aproximaram e null viu que Tom segurava uma caixa quadrada de madeira.
- O que é isso? – ela apontou para a mão de Tom e ele sentou no espaço em sua frente – O que vocês acharam?
- Baralho! – null se jogou ao lado dela e sorriu – Não é ótimo?
- E o que a gente vai jogar? – os olhos de null adquiriram um brilho estranho e ele esquecera completamente sobre o que estava conversando com null minutos atrás.
- Como assim? – null sorriu junto – A gente vai jogar dinheiro dessa vez?
- Você acha que os olhos do null brilhariam desse jeito por dinheiro? – null riu e null e null apareceram pela porta dos fundos – Tenha certeza que não.
- Eu acho que deveríamos jogar dinheiro dessa vez – null colocou a língua de fora e null e null sentaram ao lado dela.
- Eu concordo – null disse, dando um tapa em null por causa da careta que ele fizera – Sério, eu já cansei de ver vocês pelados.
- O que você quer dizer com isso? – Tom fez uma voz fina indignada e null gargalhou.
- Quer dizer que eu já cansei de ganhar de vocês, bundões, no strip poker!
- Não me diga que vocês querem jogar strip poker – null chegou com null e andou até ficar do lado de Tom – Eu estou grávida, vocês não querem me ver nua.
- Quem disse? É sexy! – null levantou os braços.
Todo mundo grunhiu.
- Eca!
- null null!
- Vou ter pesadelos.
- ME VER NUA VAI TE FAZER TER PESADELOS, ?
- Não é bem assim...
- Cara, é a minha namorada!
- Ninguém mais pode ter senso de humor hoje em dia – null cochichou pra null, que o olhou com uma careta – Ah, qual é! Eu tenho a null pra ver nua, por que eu iria preferir a null?
Todo mundo parou de reclamar no mesmo instante. null sentiu sua garganta coçar querendo rir quando viu a expressão de medo no rosto de null. Ela virou-se para o outro lado da roda e viu null com o rosto extremamente vermelho e todos os outros também calados e com a aparência de que estavam se segurando para não rir.
- O que você quis dizer com isso, verme? – null parecia possível matá-lo apenas com aquele olhar. null sentiu null se arrepiar completamente ao seu lado – Você quer dizer que eu sou menos atraente que null?
- null-
- FOI ISSO QUE VOCÊ QUIS DIZER? – ela gritou e null e null arregalaram os olhos.
Tom passou os braços envolta da namorada, tentando acalmá-la.
- Calma, amor, você sabe que o null não quis dizer isso...
- Me solta, Fletcher.
Ela estava tão raivosa e parecia emanar um respeito tão grande naquele momento que Tom a soltou no mesmo instante e se encolheu em um canto. null voltou a fuzilar null, com os lábios crispados e o rosto ainda muito vermelho.
- Se explique.
- Eu só quis dizer que eu tenho uma namorada a quem eu posso ver nua sempre que eu quiser.
- null! – null abriu a boca indignada e dessa vez foi Tom quem fez uma expressão assustadora. A garota entendeu que deveria ficar quieta e se recolheu.
- Que você é minha melhor amiga e eu tenho uma namorada e não tenho a necessidade e muito menos vontade, que fique claro – ele olhou rapidamente pra null, que o encarava de forma duvidosa – De olhar para o corpo de outras mulheres. Grávidas ou não.
null abriu a boca pra falar outra coisa, mas null a interrompeu.
- Não que eu esteja dizendo que mulheres grávidas não são atraentes – ele tentou se explicar, mas fez outra careta – Ou que são. Ah, você me entendeu.
- Espero que tenha entendido – null pareceu rugir.
Os dois ficaram se encarando por mais um tempo e a atmosfera pareceu pesar. null olhou envolta e percebeu que ninguém parecia querer – ou ter coragem – de falar algo. Respirando fundo, ela ficou-se de pé, conseguindo que todos olhassem pra ela. Andou pelo círculo que formavam no tapete e estendeu uma mão para null.
- Vamos procurar fichas pra jogar.
null sorriu e aceitou a mão, ficando de pé.
- Ótimo! – ela virou-se para os outros – E vamos apostar dinheiro.
- Então vai ser poker mesmo? – null perguntou.
null endireitou a posição tensa na qual se encontrava e encostou-se em Tom, sentindo os braços dele a envolverem. Fechou os olhos tentando se acalmar e so continuou escutando o que os amigos falavam.
- O que mais a gente pode jogar? – null perguntou, e sua voz ainda parecia um pouco vacilante.
Aquilo fez null abrir os olhos e rir. Todos olharam para ela, que fez um movimento com a mão em direção à null.
- Relaxa, null, não precisa se mijar de medo de mim.
null franziu o cenho e olhou pra null, que deu de ombros.
- Mulheres – null disse simplesmente e voltou-se para null – Poker.
- Eu acho que a gente deveria jogar blackjack – null reclamou e se jogou de costas no tapete.
- null e null não sabem – null disse, abrindo a caixinha que Tom trouxera e tirando o baralho de lá.
- O que é praticamente irracional – null abriu os braços, ainda deitada – Como elas sabem jogar poker e não sabem jogar blackjack?
null apenas deu de ombros, deixando null inconformada. null, Tom e null riram da cara que a amiga fizera.
- Não achamos fichas, mas a gente pegou milho – null chegou pulando com uma sacola de milho na mão e null a seguindo.
- E feijão – null levantou o saco em sua mão e pegou o que estava com null, se jogando ao lado de null – Quer feijão ou milho?
- Tem arroz? – ele riu e ela lhe deu um tapa no ombro – Vem cá, quero metade de cada.
Ele colocou o braço sobre os ombros dela e a puxou para mais perto, enterrando o rosto em seu pescoço e dando alguns beijinhos. null riu e despejou cinco caroços de milho e cinco de feijão.
- Todo mundo começa com quinze libras! Feijão vale duas e milho uma – ela gritou aos demais esse virou para passar os sacos para null, saindo da posição que estava antes.
- Ah não, vem cá – null resmungou e a puxou de volta.
- null, vamos jogaar.
- Você ta cheirosa hoje.
null beliscou-o no braço, fazendo-o se afastar. O garoto fez uma cara feia e se afastou um pouco mais.
- Não quero mais.
- Tudo bem – null deu de ombros e as meninas riram – Que é que vocês tão prestando atenção em nossa vida?
- Esperando vocês acabarem a ceninha para podermos jogar – Tom piscou os olhos várias vezes e null lhe mandou um beijo – Ih, null, essa eu já ganhei.
null olhou de null para Tom e fez um movimento com as mãos.
- Por favor, pode ficar.
- null! – null o olhou indignada e depois, num movimento rápido, roubou alguns milhos do montinho dele – Isso vai lhe custar.
- Ei! Devolva meus milhos – null tentou pegá-los, mas a garota se esquivou e pegou alguns de null, que estava em sua frente, também.
- Isso é dinheiro, sua jumenta! Você já é rica, não precisa disso.
Ela negou com a cabeça e riu.
- Não misturo vida profissional com pessoal.
null abriu a boca para comentar algo, mas recebeu uma cotovelada de null, que já previa o provável comentário maldoso que seria feito. Ele a olhou torto e colocou a língua pra fora.
- Devolva as fichas, null – null falou em voz alta, fazendo null se sobressaltar.
- Milhos.
-Tanto faz. Devolva, eu quero jogar.
Resmungando alto, null jogou os dois milhos que tinha pegado de null, os de null e pôs-se de pé num pulo.
- Eu pego as cervejas – disse rapidamente e saiu à passos largos para a cozinha.
- Se ferrou – Tom riu para null – Ela vai garantir que você não tome um gole sequer.
O garoto deu de ombros e mordeu o interior da própria bochecha. Tirou as cartas da mão de null e começou a distribuí-las, tentando ignorar a animada null que chegava carregando, não se sabe como, seis garrafas de cerveja e evitando olhar para o canto no qual ele se encontrava.
Ótimo. Ele não estava tão afim de beber, de qualquer forma.
Depois de null engolir o terceiro feijão e dizer que tinha pensado ser um amendoim, null jogou suas cartas no tapete e desistiu de tentar jogar poker – valendo apenas dinheiro – com seis pessoas quase totalmente alcoolizadas.
- Por que o null jogou as cartas dele? – null franziu o cenho para null.
- Porque ele é idiota – null respondeu, sem tirar os olhos de suas próprias cartas – Eu aumento.
null fez uma careta na direção dela e se levantou, começando a andar em direção à cozinha.
- Não pense que você vai conseguir alguma gota de álcool, coisa fofa – null abaixou as cartas e virou-se para olhar o amigo, sorrindo maliciosamente – Acabou tudo.
- Eu vou comprar mais – ele disse, pegando a chave da van no balcão.
null arqueou as sobrancelhas e estranhou o comportamento do amigo. Deu um passo em sua direção, pretendendo gritar com ele e dizer o quão idiota ele era quando sentiu seu chão girar como alguns minutos atrás. Parou onde estava. Fechou os olhos por alguns segundos e voltou a abri-los.
Sentiu a gargalhada engasgar em sua garganta e mordeu os lábios.
Deus, ela estava fora de controle.
- Eu também – null se levantou num pulo e null se virou para mandá-lo se sentar.
Mas a boca dela acabou abrindo e ela começou a rir. null, que estava ao seu lado, a olhou e riu junto. Em segundos estavam todos – exceto por null e null, os sóbrios – rindo.
- Certo, acabou a graça? Vou comprar bebida. Vamos, null – null chamou a amiga com a mão e começou a andar até a porta – Se comportem, crianças.
- Acho que eu devia ficar com eles, não? E se eles quiserem fazer alguma loucura? – null olhou para as seis pessoas rindo na sala.
- Por que eles iriam fazer alguma loucura?
- null, você ensinou a eles o que deve fazer quando estão bêbados, tem certeza que eles não seriam capazes de nada?
null bufou e passou a mão nos cabelos.
- Mas eu também não quero ir sozinho.
- Ir sozinho pra onde? – null e null se aproximaram rindo, a segunda garota deu língua para ele, que revirou os olhos.
- Lugar nenhum.
- Eu quero ir – as duas disseram em uníssono.
- Pronto! Eu fico com o resto e você vai com null e null – null sorriu para null, que negou no mesmo instante, parecendo assustado.
- Não mesmo!
- Eu quero ir – null chegou rindo – Eu to o melhor de todos eles, acredite.
null deu de ombros, sorrindo.
- Eu cuido de três e você leva três. Ótimo! – piscou para null e colocou uma mão no ombro dele – Lebre de comprar refrigerante zero pra mim e salgadinhos e doces, ou eles vão entrar em coma alcoólico.
null bufou outra vez.
- Não seria mais fácil se eles entrassem?
- Certo, agora vocês só precisam se comportar e ficar caladinhos, que eu já volto – null virou-se e falou para os três, espremidos no banco de trás da van.
null levantou o braço.
- Tio null, posso fazer uma observação? – ela perguntou, inocentemente e null escondeu o rosto no ombro de null, rindo – Eu gosto de fazer compras, ficar andando com o carrinho, jogando um monte de comidas caras e gostosas dentro, porque nós somos ricos e podemos pagar. E também é legal todo mundo parando pra falar comigo e pedindo conselho de moda e blábláblá, e eu sei que aqui na Austrália ninguém me conhece e que é você quem vai pagar a conta e você gasta seu dinheiro todo com bebida e-
- null – null a interrompeu, respirando fundo e prometendo a si mesmo que ele não era tão chato quando bêbado quanto os três em seu banco traseiro – Vocês podem vir, mas – parou quando null soltou um gritinho e começou a fazer uma dança com null – Nada de gritar, ou correr, ou aprontar alguma coisa.
- Eu prometo – falaram em uníssono.
null balançou a cabeça, com uma vontade repentina de rir, e destravou as portas do carro. Olhou para os lados, conferindo se o estacionamento estava realmente vazio (tudo o que eles menos precisavam agora era de má imprensa) e então fez sinal para que os outros o seguissem.
Desengonçados, null e null – que estavam sentados nos extremos do banco traseiro – foram os primeiros a descer, cambaleando assim que tocaram os pés no chão. null continuava dentro do carro, gritando algo desconhecido para o namorado, e com o rosto escondido nos joelhos dobrados.
- O que foi, null? – null se aproximou, tentando manter a paciência – Por que você ainda não desceu?
- Porque têm câmeras no supermercado – a voz da garota soou abafada, por conta do rosto escondido – Eles podem me filmar e usar isso contra mim!
- null, pelo amor de Deus, você nem famosa é.
- Claro que eu sou famosa, retardado, eu acabei de ficar mais rica do que vocês quatro juntos! – de repente, ela tirou o rosto de onde estava e encarou o amigo com os olhos arregalados – Você faz parte disso com eles, não faz? Você quer ajudar eles a me pegar! Pois saiba que você nunca vai ser mais famoso que eu, null null!
- Eu não mereço isso – null murmurou pra si mesmo e, com um aceno de mão, chamou null – Dê um jeito na sua namorada, por favor.
- Sua otária, DESÇA! – null olhou pra null e apontou para o espaço ao lado dele.
null arregalou os olhos e null começou a rir, em pé um pouco mais distante dos outros.
- Não me chame de otária, seu imbecil. Eu posso muito bem descer sem que você mande, obrigada.
- Então desça.
- Não!
- Puta que pariu, eu vou te abandonar.
- Eu quem já estou te abandonando, esperto.
As palavras congelaram na garganta de null e null percebeu que esse comentário havia custado todo o álcool no sangue de todos, para ser absorvido. Todos ficaram calados por alguns segundos, até que as bochechas de null ficaram rosadas ao passo que ela pareceu perceber o que tinha dito. Sem olhar para os dois garotos à sua frente, ela saiu do carro cuidadosamente e – curiosamente – mais sóbria.
- Certo, hãn... Eu vou comprar as bebidas, e acho melhor vocês três irem pegar os petiscos – null quebrou o silêncio assim que eles entraram no supermercado – E por favor, tentem não exagerar.
null cruzou o braço com o da amiga e sorriu para null, meio embriagada, meio séria, virando-se e puxando null com a outra mão. Eles andaram lado a lado e em silêncio pelo não-tão-longo local até chegarem na sessão de aperitivos.
- Se virem – null soltou os dois e deu as costas, sentando num canto do corredor.
- Salgado.
- Doce.
Os dois falaram ao mesmo tempo e depois se encararam, desviando o olhar.
null riu do canto onde observava os dois. Seria a última noite dos dois juntos mais longa e divertida que ela iria ver, talvez, pra sempre.
Um – depois de milhares naquela noite – suspiro de alívio escapou dos lábios de null quando a van foi estacionada em frente à casa. null saiu do carro com tamanha rapidez que o amigo não soube dizer se era para evitar carregar as compras ou evitar olhar para null. Eles não se encararam muito – se não forem contadas as olhadelas de canto de olho – durante todo o tempo no supermercado ou no caminho de volta. Na verdade, eles fingiam estar se evitando desde o deslize de null, minutos antes.
Se eles já pareciam infantis normalmente, imagina só bêbados.
- Eu não vou carregar isso tudo sozinho – null disse descendo do carro, sorrindo em seguida para a careta que null fizera – Ei, não me culpe por null falar demais quando bebe.
- Então não desconte em mim! Eu nem bêbada to mais.
- Vá atrás do null e faça ele voltar para me ajudar que eu te libero do trabalho pesado – null deu de ombros, vendo a amiga bufar.
- Até parece que ele vai mesmo fazer isso – ela murmurou, andando em passos largos e pesados até o porta malas do carro.
null também não deu as caras e acabou que os dois tiveram que levar as compras sozinhos para dentro de casa. O lugar não estava muito diferente de como os quatro haviam o deixado, apenas com umas almofadas pelo chão e o inegável fato de que estava muito mais calma do que quando eles saíram para o supermercado.
- Alô? Alguém em casa? – null perguntou rindo e deixou as bolsas plásticas em cima do balcão – O que será que essas crianças tão fazendo?
- Espero que nada demais – null fez um careta, imitando a ação da amiga – Não sabia que era tão chato e trabalhoso ficar sóbrio.
null riu e deu dois tapinhas no ombro dele, saindo em seguida pelo corredor.
- Você pode se embebedar, null boy, mas só depois que nós acharmos nossos filhos.
- E depois que nós acharmos nossos filhos e eu me embebedar, o que você acha de nós fazermos mais filhos? – ele a olhou, sorrindo sapeca com as sobrancelhas erguidas, fazendo-a rir.
- Eu não estou mais bêbada, null. Quem sabe numa outra noite.
- Quem sabe numa outra noite eu quebre a sua cara – a voz de null soou da sala e os dois pularam de susto – Eu estou aqui, null.
- Legal – null riu e fez um movimento com as mãos – Vou procurar meus filhos.
null e null se entreolharam e a garota correu para o sofá onde o namorado estava, jogando-se ao lado dele e beijando-o nos lábios.
- Pode pedir teste de DNA, se quiser – ela disse de uma vez só, fazendo null rir contra sua boca.
null escutou o barulho da porta se fechando e tirou as mãos do rosto. Olhou envolta do banheiro e percebeu que sua visão já estava normal e que as pontas de seus dedos não estavam mais dormentes. Tentou rir de uma coisa qualquer, mas seu senso de humor pareceu ter se extinguido.
Respirou fundo.
Estava sóbrio.
Levantou-se do vaso sanitário onde estava sentado e andou até o espelho da pia. Observou suas olheiras, marcadas de roxo embaixo dos olhos e passou as mãos pelo local. Estava acabado. Estava acabado e tinha plena e total noção disso. Estava acabado e não tinha forças para inverter tal quadro.
Fechou os olhos outra vez e a única coisa que conseguiu desejar foi que tudo isso acabasse logo, pois não sabia por quanto tempo mais agüentaria. Sua cabeça estava à mil. Mais do que nunca, as coisas pareciam acontecer numa velocidade tremenda e ele não se via capaz de acompanhar. Não queria mais acompanhar.
- Droga! - a voz de null soou de perto e o garoto abriu os olhos.
Dirigiu seu olhar à porta do banheiro trancada e imaginou se ela sabia que ele estava ali, se ela queria que ele estivesse ali, ou se ele se importava com qualquer uma dessas coisas. Lá estava sua mente, trabalhando à mil por hora outra vez e ele só queria que ela parasse! Por Deus, seria isso pedir demais?
Não, não era. Porque ele sabia exatamente o que fazer para que sua mente parasse de funcionar.
Deu dois passos em direção à porta e girou a chave, fazendo o trinco soar num barulho alto. Sem saber exatamente porque estava fazendo aquilo, null abriu a porta e viu-a sentada na cama de frente a ele.
null o olhava com aqueles olhos famintos. Aqueles olhos que faziam com que o corpo todo dele agisse por si só, apenas para atender seus desejos. Faminto e ao mesmo tempo suplicante, apenas seu olhar fazia com que o quarto ficasse cheio, como se palavras fossem jogadas ao vento e estivessem ocupando espaço.
E o pior de tudo, ele se viu naqueles olhos e soube que os seus também emitiam a mesma onda, o mesmo sentimento, a mesma vontade.
Com passos largos e rápidos, null extinguiu o espaço existente entre os dois e posicionou as duas mãos de cada lado do rosto de null, empurrando-a contra a cama e procurando a boca dela com a sua.
E o que ele achou fez sua mente parar. Fez todo o seu corpo se extasiar e toda a atmosfera envolta de si sumir. Pra ele era só null, sempre fora e temia que sempre fosse.
- Me desculpe – foi o que escapou dos lábios dela quando suas bocas se afastaram para que pudessem sugar ar. Foi o que seus olhos disseram quando procuraram desesperadamente pelos dele e, naquele exato momento como em tantos outros, ele soube que nunca poderia não perdoá-la – Me desculpe por ser uma idiota. Me desculpe por ter que ir embora.
Ele sorriu e acariciou as bochechas quentes e convidativas dela com os polegares.
- Me desculpe por te deixar ir.
- Tudo bem.
null concordou com um aceno de cabeça e viu-a fechar os olhos. Desceu as mãos das bochechas dela para a lateral de seu corpo e com a maior delicadeza possível, tirou a camisa dela num piscar de olhos. Ainda de olhos fechados, null sentiu-o explorar todo o seu corpo e mais do que nunca se sentiu dele e de mais ninguém.
Quando um suspiro escapou dentre seus lábios, null abriu os olhos e se deparou com seu garoto sentado sobre sua cintura, deparou-se com o olhar admirado dele. Observou a forma com que ele a olhava e a tocava, como se deixasse marcas para lembrar de que ela o pertencia, deixou que o efeito do toque dele sobre si preenchesse-a por completo e se perguntou se alguma outra vez se sentiria dessa forma.
Capítulo 48
- É estranho estar em casa – null comentou, fechando a porta do apartamento.
null se sobressaltou e virou-se para olhá-la, tentando, em vão, sorrir.
- Eu senti falta da Inglaterra – ela apontou para a janela, que tinha o vídeo molhado pela chuva que caía lá fora – Não posso demorar muito, tenho que passar na casa dos Fletcher pra pegar as gatas.
null fez uma careta, mordendo o lábio inferior.
- Eles já sabem?
- Acho que não – null suspirou, deixando os ombros caírem – Pelo menos, se não souberem, agora vão saber.
- Quem vai saber o quê? – null e null irromperam pela sala, com refrigerantes e salgadinhos nas mãos.
- Deus, por que essas criaturas inventaram de voltar com a gente? – null reclamou, mas null apenas deu de ombros – Só pra acabar com a minha dispensa!
- E você pretendia o quê? Deixar guardada pra sempre? Comidas estragam, null – null revirou os olhos.
- Minha comida, minhas regras.
null desistiu de ver as amigas brigando e voltou sua atenção para null.
- Por favor, vamos pra casa?
- Bem, eu tava indo pegar as gatas, então te deixo em casa no caminho – null deu de ombros.
- Posso ir com você? – null mordeu o lábio.
- Não – null negou – Preciso fazer isso sozinha. Mas eu te deixo lá em casa, vamos.
- Eu fico por aqui! – null disse com a voz esganiçada e sorriu amarelo. null levantou as sobrancelhas – Não é caminho, eu só iria atrapalhar. Faz assim, você vai, sem pressa, e na volta me pega aqui. Qualquer coisa eu convenço as meninas e null me leva.
- null a leva pra onde? – null pareceu parar de brigar com null e virou-se para as duas amigas – null vai pra onde?
- Harrow – a garota respondeu, prendendo mais a bolsa contra o ombro e abrindo a porta do apartamento.
- Fazer o que em Harrow?
- Contar à família – null disse, fixando os olhos na porta que null acabara de fechar.
Ela não tinha a mínima noção de como faria aquilo. Enquanto esperava o elevador atingir o térreo, ainda se passavam pela mente da garota cenas da despedida de horas atrás no aeroporto. Não queria relembrar de que fora uma das pouquíssimas vezes em que vira seus meninos chorar, não queria relembrar que seu coração ainda parecia pela metade, pois tinha deixado parte de si em outro continente quando entrou no vôo de volta à Inglaterra.
Contar para os meninos tinha sido difícil. Tinha sido a primeira parte. Agora teria que ir até a casa de sua segunda família e contar-lhes que talvez nunca mais a vissem. Que talvez não passassem mais os feriados juntos e que eles estavam perdendo a filha que conseguiram quatro anos atrás.
A família Fletcher havia acolhido null depois de tudo o que aconteceu de uma forma incrível, como se ela sempre tivesse pertencido à eles. Ela não brincava quando dizia junto à Tom que eles eram irmãos, pois era dessa forma que consideravam tanto um ao outro como era a forma que ela considerava a família dele. Debbie e Bob Fletcher haviam se tornado seus pais, e tinha até mesmo ganhado uma irmã!
null morava em Haringey, então não era um caminho tão longo até o distrito de Harrow. null sentia seu estômago se afundando cada vez que reconhecia o caminho que estava percorrendo e se dava conta que estava mais perto do que nunca.
Quando seu carro parou em frente àquela casa, ela achou que não restava mais qualquer vestígio de ar em seus pulmões. Após desligar o motor, ela destravou o cinto e encostou a cabeça no volante, tentando recuperar a calma.
Se iria fazer aquilo sozinha, teria que fazer da forma certa.
Um barulho de algo se batendo contra seu vidro fez com que a garota se assustasse e ofegasse alto. Pelo menos agora sei que estou respirando, pensou consigo mesma e então reconheceu os cachos louros de Carrie do lado de fora do carro. A menina mais nova abaixou-se e foi possível ver sua face, redonda e doce, excepcionalmente idêntica à do irmão.
- O que diabos você está fazendo aí sozinha? Quer congelar? – a voz dela soou abafada por conta do vidro, mas null a escutou e sorriu de sua impaciência.
Tirou a chave da ignição, puxou o freio de mão, pegou a bolsa no banco do carona e abriu a porta do carro, ainda sorrindo.
- Existe aquecedor, caso você ainda não saiba, Carrie.
- Tanto faz, nunca se sabe o que uma louca como você está prestes a fazer.
As duas se encararam por alguns segundos e então gargalharam, null pôs-se de pé e abraçou a menina num impulso só, enfiando o rosto nos cachos macios e sentindo o cheiro conhecido que identificava como o cheiro de casa.
- Eu também senti saudade, Fletcher.
Carrie se afastou e a olhou, fingindo uma careta.
- Faça-me o favor, null, e entre em casa, senão a mamãe vai ter um treco.
Depois de travar o carro, null andou lado a lado com Carrie para a casa que se encontrava depois do pequeno jardim. Ela pôde ver Kayla esperando, parada do lado de dentro da porta com partes de vidro. A cachorra balançava o rabo ansiosamente e null começou a sentir aquele calor crescer dentro de si.
Alguém estava esperando por ela dentro daquela casa.
Alguém sempre estaria a esperando ali.
Deus, aquilo quase a fez chorar no meio do caminho.
Depois de subirem os poucos degraus da entrada, Carrie abriu a porta com força, entrando e gritando o mais alto que pôde.
- Pai, mãe, a null tá em casa!
Estava tudo escuro, mas ela não se importava. Havia esquecido de passar no apartamento de null para pegar null, mas isso também não parecia lhe importar tanto. Seus olhos ainda estavam molhados e inchados. Ela estava deitada na cama auxiliar do quarto de Carrie e ainda podia escutar a ‘irmã’ tomando banho na suíte do mesmo. Escutava também o barulho de xícaras na cozinha, no andar de baixo e cochichos entre Debbie e Bob.
Não tinha a menor vontade de voltar para casa e ter que dormir lá sem Tom ou null ou qualquer um dos meninos e acabar se perdendo nos próprios pensamentos. Havia desligado o celular para que ninguém a procurasse e simplesmente pediu aquilo que já tinha pedido milhões de vezes antes. Posso passar a noite aqui? Foram as suas palavras em meio ao abraço úmido de Debbie.
Sabia que não conseguiria dormir e provavelmente iria passar a noite inteira acordada conversando com Carrie, mas também não se importava. Sentia falta daquilo. As últimas duas horas, contando a mesma história já dita quatro vezes antes, lhe pareceram extremamente cansativas e entediantes. Queria tanto que tudo acabasse o mais rápido possível que soube que havia soado meio afobada em alguns momentos e tinha obrigado a si mesma a apagar tal momento de sua mente.
- Hey, ainda tá acordada? – escutou a voz de Carrie lhe tirar dos pensamentos e virou a cabeça para ver a garota vindo em direção à cama, vestida em seus pijamas e passando a toalha nos cabelos molhados – Pensei que já estaria dormindo. Você tá com uma cara péssima.
null riu.
- Bem sei. Mas não acho que vá conseguir dormir assim tão fácil.
- Não quero ficar te fazendo perguntas sobre aquilo enquanto você não consegue dormir – Carrie fez uma carreta – Mas você sabe que se você não dormir, eu também não durmo, então vou querer fazer as perguntas.
- Talvez eu queira respondê-las.
- Não seja imbecil, null, eu vi a sua cara de ai-meu-Deus-que-essa-história-acabe-logo quando você tava contando mais cedo.
- Fica chato depois que você conta várias e várias vezes – ela fez uma careta, com o rosto virando para o teto – A coisa fica mais real e você começa a desejar que todos simplesmente já soubessem.
- Isso é uma merda.
null não precisou falar para deixar claro que também achava aquilo. Na verdade, uma merda era uma das muitas expressões que ela tinha selecionado e que poderiam descrever exatamente essa situação.
O silêncio se instalou enquanto Carrie apagava a luz do quarto e andava de volta para a cama, demorando alguns minutos para se ajeitar completamente.
- Pode perguntar, Fletcher.
- Ah, não provoca, eu tô tentando me conter!
As duas riram, mas logo voltaram ao silêncio.
- O que o null disse disso tudo?
- Eu sabia que você não ia agüentar! – null riu e jogou os braços pra cima.
- Ah, cala a boca – Carrie deu um tapa nos braços dela.
- Sei lá, ele foi o último pra quem eu contei. Acho que ele ficou meio puto no começo, depois a gente chorou bastante e conversou, e ele pareceu entender. Mas eu não sei, Carrie – ela fez uma pausa e respirou – Vai ver ele só fingiu entender por minha causa. Mas eu não quero deixar ele aqui confuso.
- null não é completamente burro, ele vai entender. Mas eu achei que você ia dizer que ele tinha ficado sem falar com você ou coisa do tipo.
- Não – null riu sarcástica – Esse foi o null.
- Sério? – a voz de Carrie soou assustada – O null?
- Ele ficou inconformado por eu ter esperado tanto pra dizer pra ele e por não dizer logo pra o null, e por causa de outras coisas que ninguém entende e só se passa pela cabeça estranha dele.
- Aquela mente é um mistério – Carrie disse com a voz distante.
- Nem me fale.
O silêncio voltou. null se perguntou o que a garota estava pensando.
- O que você acha disso tudo, Carrie?
- Eu acho que... – ela pareceu pensar, e então suspirou – Eu acho que você faria o mesmo se um de nós te procurássemos.
null concordou com um murmúrio apenas e tentou focalizar naquilo. Ao perceber que o silêncio que se seguiu foi longo demais, ela virou-se para ficar mais aconchegada na cama e falou, independente de Carrie ainda estar acordada ou não.
- Eu queria que vocês fizessem.
- Você já vai? – Bob perguntou quando null se levantou da mesa na manhã seguinte, puxando a bolsa que estava pendurada na cadeira e dizendo algo como Euestoumuitxoatrasxada.
- Uhum – ela respondeu, engolindo os waffles que tinha na boca – Esqueci a null na casa da null e tenho que terminar de arrumar minhas malas.
O homem fez um barulho de desgosto com a boca, a fazendo rir.
- Não seja carrancudo, você sabe que eu sempre vou te amar.
- Mais do que esse louco que veio te roubar de mim? – null sorriu, vendo como ele parecia uma criancinha falando daquela forma.
- Muito mais.
Ela se aproximou e beijou-o na testa, e depois o abraçando apertado, da mesma forma que tinha feito com Tom.
null o soltou, sentindo os olhos úmidos e viu que o rosto dele estava incrivelmente vermelho. Carrie entrou na cozinha correndo, com as duas gatas nas mãos e uma sacola plástica contendo o que null deduziu ser os utensílios das mesmas.
Pegou tudo, agradecida.
- Eu vou sentir sua falta – Carrie lhe disse em meio ao abraço – Não esqueça de me ligar sempre que puder. Se não quiser que o Tom e os outros saibam, eu não conto.
- Carrie! – Debbie ralhou com elas, fazendo todos rirem e o clima descontrair um pouco – Você promete que vai se cuidar?
- Prometo – null respondeu, sentindo o caroço em sua garganta começar a incomodar.
- Não se meta em problemas, não brigue com seu pai nem com seu irmão. Seja educada e, por favor, – a mulher suspirou e deixou que uma lágrima escapasse – Volte o mais rápido possível.
null pôde apenas concordar com a cabeça e então a abraçar da forma mais apertada que conseguiu.
- Ai meu Deus, parem de chorar – Bob reclamou, outra vez sentado em sua carteira – Não é como se nós não fossemos mais vê-la!
null mordeu o lábio, sem saber o que falar.
- Olha só quem fala – Carrie riu – O senhor mesmo estava chorando segundos atrás, papai.
- Não, eu não estava.
Debbie e null riram e voltaram a se olhar.
- Eu te amo – a mulher disse, com os olhos cheios de lágrimas novamente – Todos nós amamos.
- Eu também amo todos vocês.
Ela saiu o mais composta possível da casa e entrou no carro correndo. Ligou o aquecedor e deixou as gatas no banco traseiro. Acenou para os três que estavam na porta a observando e arrancou com o carro, tentando descobrir como conseguiria dirigir até em casa com os a visão embaçada pelas lágrimas.
null soube que estava com problemas quando parou o carro na frente de casa e viu o carro de null na entrada de sua garagem. O que significava que as três já se encontravam no local e que, por sorte, apenas uma estaria puta da vida com ela.
Depois de se certificar (três vezes) de que tinha deixado o carro trancado, null percebeu que não tinha mais como enrolar do lado de fora e andou em direção à casa. O barulho da televisão ligada e de panelas sendo mexidas na cozinha tornou-se audível quando a porta fora aberta. A garota adentrou no local e deixou as coisas penduradas em cabides presos na parede ao lado, andou até a sala e viu que o sofá estava vazio, o que significava que todas deveriam estar juntas na cozinha.
Respirou fundo, pensando numa boa desculpa por ter deixado null na casa de null e automaticamente forçado a amiga a trazê-la em casa.
Talvez elas nem estivessem com raiva, no final das contas.
- Olha só quem decidiu aparecer! – null disse, ao ver a amiga aparecer na porta da cozinha. null corou, sem saber exatamente por que e aquilo fez null rir – Nós não estamos com raiva, amiga, relaxa.
null deu de ombros, ainda sem entender o porquê do constrangimento e andou até o balcão, sentando ao lado de null, que lhe sorriu e apontou a cabeça para null mais à frente, no fogão.
- Fome?
- Não muito. Comi antes de vir – null disse, e espiou null de canto de olho. Notou a forma como os ombros dela ficaram tensos e quase arremessava a panqueca para fora da frigideira – E vocês, chegaram agora?
- Não – null respondeu, bocejando – Nós acabamos dormindo aqui mesmo. Na verdade, a gente acordou agora.
- Vocês não têm que trabalhar ou algo do tipo? – null franziu a sobrancelha e pegou um copo de suco que null lhe oferecia – Obrigada.
- Minhas férias só acabam sexta – null sorriu – null já está afastada há quase dois meses, caso você não tenha percebido e null não trabalha.
- Ei, é claro que eu trabalho! – null fez uma careta, sentando no balcão com elas – É só que eu não fui escalada pra nenhuma peça esse fim de ano.
- O que significa que você não trabalha – null repetiu e riu ao ver a amiga fazer cara feia – Amiga, nós estamos quase em Março e a última peça que você fez foi em Novembro. Me desculpe lhe dizer isso, mas você está sem trabalho.
null observou null dar de ombros e morder o lábio inferior.
- Eu escolhi não trabalhar em Dezembro e Janeiro – ela sorriu amarelo, tomando um pouco de seu próprio suco – Essas são as conseqüências.
- Mas você deveria pelo menos ir atrás de alguma coisa, sabia? Os testes pra novos papéis não vão cair em sua mão num passe de mágica – null se aproximou com dois pratos de panquecas e deixou um em frente a null e outro a null – Qual a última vez que você falou com sua agente?
- Ela está de férias – null voltou a dar de ombros.
- Nós estamos em Março, null!
- As pessoas precisam de folga, null.
Bufando, null deu as costas novamente e null aproveitou para encher a boca de panquecas, evitando uma possível nova conversa e null fez o mesmo. null viu a amiga voltar a vir em sua direção segurando mais dois pratos e sentiu o olhar de pena das outras duas sobre si.
Agora era a vez dela.
- Por que você não está trabalhando também? – null perguntou, deixando um prato com talheres na frente de null e sentando-se em frente à ela com o seu próprio.
- null, não enche – ela disse simplesmente e afastou o prato com o dedo – Eu disse que não queria comer.
- Bom, você vai comer.
- Me dê um motivo pra que eu coma – null a encarou com os olhos semi abertos e viu a amiga lhe retribuir da mesmo forma, só que talvez um pouco mais astuta.
- Eu sei que você não comeu na casa dos Fletcher – null disse, ainda a olhando da mesma maneira – Você provavelmente remexeu na comida e disfarçou conversando, mas não comeu. Você nunca come quando tá sob pressão, e ainda mais na frente deles.
- Então eu posso muito bem fazer a mesma coisa com vocês! – a garota sorriu pretensiosa e olhou para o prato em sua frente – O que lhe garante que eu não vá enrolar vocês?
- null – null falou, com a boca meio cheia e o olhar óbvio – São panquecas, você não pode nos enrolar com panquecas.
null bufou e o telefone tocou. Ela pôs-se de pé antes que qualquer uma das outras três pudesse fazer isso, feliz por ter uma desculpa para sair dali. Realmente não estava muito a fim de comer, muito menos forçadamente.
Ela correu até a sala e pegou o telefone sem fio do gancho, levando-o à orelha e sorrindo, pois já sabia quem provavelmente era.
- Alô – disse calmamente.
- Uow, tem alguém acordado nessa casa? – ela escutou a voz de null do outro lado da linha e sorriu mais ainda.
- Se você achava que ninguém estaria acordado, então por que ligou, null? – null rolou os olhos, mesmo sabendo que ele não a via.
- É o null no telefone? – um grito de null veio da cozinha, fazendo os dois rirem.
- Sua namorada tem um belo ouvido de tuberculosa – ela disse, começando a andar até a cozinha.
- É isso o que acontece quando você começa a namorar um cara gato como eu.
- O quê? Fica retardada?
null riu do outro lado da linha e null percebeu o que dissera.
- Bom, ai eu já não sei. Nunca me namorei – ele soltou uma risadinha – Mas você deve saber como é isso.
- Vai se ferrar – null disse e estendeu o telefone pra null – Todo seu.
null sorriu e pegou o aparelho, pulando do banco e andando em passos largos para a sala, sorrindo abertamente.
- Amooor – ela disse com a voz meiga e então sumiu porta à fora.
As três garotas que restaram na cozinha se entreolharam e começaram a rir.
Ver null falando essas coisas – com o null! – ainda tinha um efeito meio inacreditável.
- Já imaginou como vai ser o casamento deles? – null perguntou e então pareceu rir de seus próprios pensamentos – Ela vai querer usar um vestido daqueles bem tradicionais, longos e entediantes.
- Melhor do que querer usar um acima do joelho e cheio de aberturas – null falou e viu null concordar, ainda rindo, e null fazer uma careta – Ah, null, não ouse fazer essa careta, você sabe muito bem que você choraria pra usar um vestido assim no seu casamento.
- Não, eu não choraria.
- Sinto lhe dizer, querida – null colocou uma mão no ombro dela e fez o olhar mais cínico que pôde – Mas você choraria.
- O null não reclamaria nada.
- Nadinha – null concordou com null.
- Como se eu fosse me casar com ele – null bufou e se levantou com o prato em mãos – Imagina o que eu sofreria se me casasse com aquele traste?
- Quem disse alguma coisa sobre você se casar com ele? – null riu e cortou um pedaço de suas panquecas. Afinal, não faria mal algum comê-las, certo? – Ele estaria em pé ao lado do seu noivo malhado.
- E estaria sorrindo pra você aquele sorriso te-encontro-mais-tarde-num-armário-apertado-pra-uns-amassos – null fez um joinha com a mão e viu null fingir uma careta para reprimir o sorriso.
- E você iria – null concordou.
- Totalmente.
- Aham – null fez uma voz sarcástica e olhou para a amiga – Eu não gosto de fazer as coisas à la null.
null sentiu seu rosto esquentar e null começou a rir sem parar ao seu lado.
- Isso foi só uma vez! E a culpa é toda do null – ela tentou se defender.
- Não é como se vocês não tivessem feito pior – null rolou os olhos e null ainda ria, concordando apenas com a cabeça – Tipo debaixo das escadas rolantes do shopping, ou nos boxes dos banheiros infantis, oh, a minha favorita, o depósito de materiais do clube!
- null, por fa-
- null! – null entrou na cozinha sorridente e estendeu o telefone pra a amiga – null.
A garota sentiu um sorriso tomar conta de seu rosto e pegou o aparelho das mãos da amiga, ficando de pé num pulo.
- Pra onde você vai, null? Eu não me incomodo de escutar vocês falando sacanagem no telefone, não precisa ir pra o seu closet pra isso – null sorriu maliciosamente.
null fez um gesto obsceno em sua direção, mas continuou seu caminho para fora da cozinha.
- Oi – tentou parecer o mais casual possível.
- Então nós vamos falar sacanagem, uh? – a voz de null invadiu o sistema dela sem permissão e ela sorriu, boba – E aí, o que você está vestindo?
- null!
- Tudo bem, o que você não está vestindo?
Ela riu.
- Idiota.
- Eu também sinto sua falta – ele fez uma voz sarcástica, mas aquilo fez com que o coração de null se contorcesse e diminuísse em seu peito. null pareceu dar-se conta do que falara, e foi notável a forma qual sua respiração mudou e ele falou sério dessa vez – Eu sinto sua falta.
- Eu também – ela abaixou a voz e sentiu os olhos marejarem – Mas enfim, me conte como foi o seu dia.
- Nós terminamos de gravar outra música! – a voz dele tomou um tom animado e null sorriu com isso – Nós estamos definitivamente no caminho certo.
- Eu gosto quando vocês vão no caminho certo – ela riu.
- Escrevi uma música nova – null voltou a falar lentamente e de forma séria.
null não sabia se ria pela repentina mudança de humor dele naquele dia ou se chorava pelo aperto que voltou ao seu coração.
- Sério? – tentou parecer normal, e até sorriu amarela para si mesma, como se fosse ajudar no tom de voz – E qual o nome?
- Não posso falar – ele riu, levemente sem humor algum – Você ainda vai ouvir falar dela.
- Imagino que vou – null riu da mesma forma que eles, e então ficaram calados.
- Já falou com seu pai hoje?
- Ainda não – ela fez um barulho com a boca e olhou pra o teto, sentando-se no sofá – Eu não gosto de ligar pra ele, parece que é como se eu estivesse procurando por problemas.
- Então você espera que os problemas cheguem até você? – dessa vez null pareceu rir com humor – Cada dia eu me impressiono mais ainda com essa nova null.
- Ah, não enche – ela riu – Dormi em Harrow ontem.
- Então você foi mesmo lá?
- Eu te disse que iria, não disse? – null mordeu os lábios e revirou os olhos pela milésima vez no dia – E além do mais, que tipo de pessoa eu seria se não fosse me despedir da minha própria família?
- Não acho que você queira me ouvir dizer que tipo de pessoa você é, fofa.
- null null!
Eles riram e null sentiu o peito ficar mais leve. Sabia que não tinha mais nenhuma forma de sair dessa situação, a única coisa que poderia fazer era agir a melhor maneira possível e tentar fazer as coisas certas pelo menos uma vez na sua vida.
Mas o certo não lhe atraía.
Na verdade, nada que seguisse os padrões da normalidade parecia exercer qualquer influência sobre sua pessoa, ela era simplesmente imune ao comum. Mas, agora, comum era tudo o que precisava ser.
- Acho que eu tô com sono, null – null disse depois de um tempo, ao perceber que suas pálpebras começaram a pesar – Falando nisso, como vocês ligam pra a gente às nove da manhã no meio das férias?
- Fuso horário – ela podia jurar que ele dava de ombros enquanto falava aquilo – Tom e null saíram pra comprar comida e eu e o null não tínhamos a menor idéia de que horas seriam por ai.
- Da próxima vez tente ligar quando algum adulto estiver em casa.
Ele riu e concordou.
- Você está mesmo com sono, não é? – perguntou depois de um tempo.
- Não, não é nada demais, eu posso ficar aqui com você – ela se apressou em dizer. Não queria perder a oportunidade de falar com null só porque estava com sono.
- Se quiser, eu posso ficar no telefone até que você durma.
- A conta daí vai vir gigantesca – ela riu.
- É o Tom quem paga, de qualquer forma – null disse, fazendo um barulho com a boca – E aí, vamos contar carneirinhos?
null riu e falou o quão estúpido ele era.
E o quanto o amava por isso.
Capítulo 49
- Não fale assim comigo, null – null fingiu estar com raiva e andou até os pés da cama onde estavam suas botas. Sentou-se para calçá-las e apoiou o celular entre o ombro e o ouvido – Eu não sou nenhuma puta pra você ficar me tratando assim.
- Não estou lhe tratando de nenhuma forma que faça você pensar isso, cabeção. Foi só um comentário.
- Comentariozinho infeliz.
- Quais os planos pra hoje?
- Eu já te falei dez vezes e você ainda quer que eu repita? – ela bufou e fechou o zíper da bota esquerda – O que diabos você tem hoje, hein?
- Vai me falar ou não? Estou perdendo meu tempo caro e famoso com você, null, não amole – ele riu – Vamos, repita pra mim.
- Vou fazer compras com null – ela mordeu o lábio e terminou de calçar a outra bota – Preciso de uma mala nova, as que eu tenho aqui não deram pra minhas roupas.
- Ah – null pareceu distante por um segundo, mas logo voltando ao normal – Você já começou a fazer as malas?
- Já...
null não sabia o que dizer quando ele trazia o assunto da viagem à tona. Os dois tinham conversado bastante nos últimos dois dias desde que ela voltara da Austrália. Sempre quando acordavam e antes de dormir, e às vezes, quando acontecia algo de interessante ou engraçado, eles ligavam um para o outro pra contar, mas nunca tocaram muito no assunto. Na ida dela pra a Itália.
Ela achava que poderia ter criado um bloqueio em si mesma em relação a isso, quer dizer, nem mesmo agora, fazendo as malas e faltando apenas um dia para ir embora ela parecia agir como se isso estivesse realmente acontecendo! null sentia-se envergonhada e até mesmo hipócrita sempre que falava sobre isso com ele e tentava parecer animada.
Deus, como poderia estar animada com algo assim?
Mas a última coisa que pretendia era deixar null e os meninos mais preocupados com um possível mau comportamento da parte dela, então vinha tentando ao máximo parecer confortável com aquilo tudo.
Certo, até parece.
- O que você acha de, sem querer, esquecer uma calcinha por aí, huh?
- Ai meu Deus, quando você vai crescer? – ela riu e escutou uma batida na sua porta – Espera, acho que ela já chegou.
Pondo-se de pé, null andou até a porta do quarto e abriu, dando de cara com Frederick sorrindo em sua direção.
- É, null já chegou... Será que eu posso te ligar mais tarde? – ela disse com o olhar fixo no meio-irmão e o viu levantar uma das sobrancelhas.
- Hm, acho que eu vou tá meio ocupado – null franziu o cenho e o escutou tossir para ajeitar a voz. Deus, null estava mentindo? – Faz assim, deixa que eu que te ligo, pode ser?
- Tá – ela concordou, ainda meio atordoada – Tudo bem, então. Mas eu realmente tenho que ir agora.
- Ok, boas compras! Mande um beijo pra null. Te amo.
Ela estremeceu e desviou o olhar do irmão.
- Eu também.
Depois de vê-la desligando o telefone, Freddie a olhou meticulosamente e sorriu de forma maliciosa.
- Então agora eu sou null?
Ela rolou os olhos e pegou a bolsa, fechando a porta do quarto.
- Não amola, pirralho.
Tentando ignorar todas as tentativas de Freddie de irritá-la, null seguiu escada a baixo calmamente, tentando desligar sua mente do fato de que acabara de mentir descaradamente para null. Não que não tivesse feito isso antes, na verdade havia feito tanto que chegavam momentos em que ela mentia sem nem ao menos sentir, simplesmente pelo hábito de fazê-lo.
Mas as coisas vinham mudando, todos sabiam disso, e a garota fazia questão de dizer à sua própria consciência que mentir já não era mais tão necessário como antes parecia ser, dizia a si mesma que apenas o faria em casos de extrema necessidade.
Aquele era um caso de extrema necessidade.
null tinha plena certeza de que se null soubesse que ela estava saindo em um dia de compras com seu pai e seu meio-irmão, decidindo detalhes finais da viagem do dia seguinte em vez de estar com as amigas aproveitando as últimas horas dela na Inglaterra ele faria de tudo para impedir que ela saísse de casa.
- Bom dia – falou animada, entrando na cozinha e encontrando uma cena que nunca havia pensado que veria em sua vida.
Seu pai estava sentado na mesa ao lado do balcão que dividia a cozinha. Ele tinha os olhos fixos na madeira bem trabalhada em sua frente e voltou-os para null assim que ouvira sua voz, com o olhar claramente aliviado por ela ter chegado. A razão para tal alívio não era tão difícil assim de se descobrir.
null estava do outro lado para o balcão, de frente ao fogão e de costas para o resto da cozinha, null não pôde evitar pensar que a maioria das vezes que vira a amiga desde que voltaram da Austrália, ela estava em frente a um fogão. null estava claramente ignorando a presença de Phill naquele cômodo, não só pelo fato de que ela não fazia questão de virar-se para olhá-lo ou não se desse ao trabalho de iniciar uma conversa.
Estava além disso. Era possível sentir na atmosfera o quão ela estava odiando a presença dele ali. De verdade.
- Sente, você vai comer antes de sair – null disse, virando-se com uma panela em mãos, deixando à mostra as panquecas que cozinhava.
null tentou disfarçar a careta que quase tomou conta de seu rosto. Não que não gostasse de panquecas, adorava! Mas parecia que era a única coisa que null sabia cozinhar.
Mas não disse nada, a presença de Phill ali já estava afetando a amiga mais do que o normal e tudo o que null menos precisava era provocar uma avalanche nos hormônios descontrolados de null. Então apenas sorriu amarelo e agradeceu com um aceno de cabeça enquanto aceitava as panquecas que eram despejadas em seu prato.
null virou-se para fazer o mesmo no prato que havia sido posto à frente do lugar onde Freddie sentara, mas ele fez um protesto rápido com as mãos.
- Eu já tomei café antes de vir – disse ríspido, mas encolheu os ombros ao receber um olhar matador da garota – Mas acho que eu posso comer uma panqueca, afinal de contas.
null olhou de canto de olho para o prato na frente do pai e em como ele parecia limpo, sem nenhum vestígio de qualquer comida. Segurando um sorriso, ela viu a amiga se afastar em direção à pia e jogar a frigideira lá dentro com um pouco mais de força do que devia.
Frederick deu um pulo na cadeira ao lado, assustado.
Então o corpo de null inteiro foi preenchido por um calor inexplicável e pela gratidão pela forma qual a amiga estava agindo para protegê-la.
Mas talvez tudo isso não fosse preciso.
- Tome cuidado – foram as palavras de null quando null se levantou da mesa e fez menção de acompanhar os dois homens que já tinham saído e ido para o carro – Eu não gosto deles, muito menos do moleque aprendiz.
null riu.
- Não exagere ou eu vou acabar ficando com pena da minha afilhada – ela piscou e viu a amiga arregalar os olhos.
- Ai meu Deus, você tá aceitando? – null riu e concordou com a cabeça, null deu pulinhos e bateu palmas de forma antagônica ao seu comportamento anterior – Você e null vão ser padrinhos lindos e-
- Espera um pouco – null desfez o sorriso e a encarou, sem acreditar no que ouvira – null vai ser o padrinho?
- Quem mais seria? – null ergueu uma das sobrancelhas, ligeiramente confusa.
- Deixa pra lá – null suspirou e fez um aceno de tchau com a mão – Nos vemos mais tarde, e não se esqueça... Pra todos os efeitos, eu fui fazer compras com null.
- E se ele ligar pra ela e não pra mim?
- Deixe que disso cuido eu – null sorriu uma última vez e andou em direção à saída da cozinha e então da casa.
null revirou os olhos, odiava quando null tentava tomar conta de todas as coisas sem ajuda alguma, mas mesmo assim concordou e contra vontade, acenou para os dois que esperavam no carro.
- Você não precisa se esforçar, sabia? – null a olhou e riu.
- Ah, cala a boca.
As duas riram e se abraçaram, depois null virou-se para seguir o caminho até o carro onde seu pai e irmão a esperavam. Frederick tinha aquele mesmo olhar de sempre no rosto, demonstrando uma impaciência inexplicável, e Phillip parecia estar prestando atenção em dois passarinhos que estavam em cima do capô do carro.
- Cheguei – a garota sorriu e abriu a porta do passageiro, entrando e fechando-a em seguida – Agora vamos pegar null.
- Eu não sei me localizar muito bem por aqui – Phill fez uma careta, mas girou a chave na ignição mesmo assim – Você precisa me orientar até lá.
- Se quiser eu posso dirigir – ela ofereceu, mas viu o pai negar.
- Eu estou no comando hoje, mocinha – então sorriu, fazendo-a sentir um calor estranho no peito – Agora me ajude a sair desse seu condomínio louco.
null riu alto e apontou a rua paralela à qual estavam dando as coordenadas para que ele saísse do condomínio onde morava.
- Ainda não sei por que eu tenho que ficar sentado aqui atrás e você sentada na frente – Frederick falou depois de alguns minutos, quando eles já estavam na rodovia.
- Porque crianças não podem sentar no banco da frente – null disse simplesmente e apontou para uma saída na lateral da pista – Pega esse atalho.
- Eu não sou criança!
- Freddie, você está brigando comigo pra sentar na frente... Quem é a criança aqui? – a garota virou-se para encará-lo e sorriu ao ver que ele tinha feito uma careta desgostosa – Sabia que você até que poderia ser bonitinho se não fizesse essas caras feias o tempo inteiro?
- Isso era pra ser um elogio?
- Eu levaria como – Phillip deu de ombros, se metendo na conversa e Frederick fez uma cara mais feia ainda – Caramba, menino, eu não te ensinei essas caras feias.
- Agora vocês dois vão se virar contra mim? – Freddie arregalou os olhos e cruzou os braços, como uma criança inconformada – Ótimo, simplesmente ótimo.
- Vê se cresce, Fred – null revirou os olhos e apontou para mais outra direção que o pai deveria seguir.
Era engraçado como certas coisas simplesmente tinham que acontecer. null sabia que se seu pai não tivesse aparecido, se ela não tivesse que ir embora, null não se sentiria confortável – e certeza de que ela não diria a ninguém – o suficiente para lhe contar o que realmente estava acontecendo.
- Você o quê? – null perguntou um pouco mais alto do que o necessário. Algumas pessoas as olharam e ela acenou para um grupo de adolescentes que não paravam de encarar, assuntando-os – Você pode repetir, porque eu não to conseguindo acreditar.
- null, por favor, eu não te contei pra você me dar sermão... – null suspirou e virou-se para uma vitrine.
- Então me contou pra quê? Pra fazer você se sentir melhor com o fato de estar escondendo dos seus melhores amigos e seu namorado que você está desempregada?
- Por Deus, fale baixo!
- Não, null, eu não vou falar baixo. Na verdade, se tiver algum repórter por aqui e quiser publicar isso na coluna social eu posso repetir cada uma das palavras que você me disse e até dou entonação – null abaixou a voz, apesar de querer gritar o mais alto possível.
Como null poderia ser tão irresponsável? Céus, e ela estava pensando que iria embora e deixaria todos eles felizes e tranqüilos.
- Por isso que você ficou tão afetada quando as meninas falaram aquilo? – null perguntou, lembrando da conversa da manhã anterior – null, você tá sem trabalho desde Novembro, meu Deus, como você tem sequer sobrevivido?
- Minha mãe vem me mandando dinheiro de Liverpool – ela deu de ombros – Não me olhe como se eu tivesse abusando dela, null. Eu nem ao menos deixaria ela saber se não estivesse tão... Sério. Eu tentei recusar, juro que tentei, mas você sabe como ela é insistente.
- Por que você não pediu pra a gente? null, nós somos uma família – null a olhou o mais carinhosa que conseguiu – Nós podemos não ser tão ricos, mas a gente poderia fazer isso por você tranqüilo. Você sabe que o null nunca se negaria.
- Sem chances! Ele não pode ficar sabendo, null, por favor – null virou-se para ela e pegou e sua mão, suplicante – Eu te contei porque sei que você não vai contar pra eles se eu pedir-
- E porque eu vou embora – null completou e tirou sua mão da da amiga.
null se encolheu e negou com a cabeça.
- Claro que não.
- Aposto quanto você quiser – null suspirou e apontou para as adolescentes que ainda as olhavam – Que nenhuma delas imagina o quão dramática nossa vida é.
- Menos mal, imagina como seria se elas tivessem pena dos meninos!
- Ah, não, os meninos não são um problema – null balançou a mão – Eles são ricos e lindos, nós é que somos as problemáticas.
- Claro, porque um cara sofrendo de dor de cotovelo porque o amor da vida dele vai se mudar pra outro país, outro com uma namorada grávida de quase quatro meses, um quase alcoólatra e com uma namorada desempregada e outro com – null parou e levantou as sobrancelhas – É, acho que o null e a null não têm problema algum.
- Bom pra eles – null riu – Mas você já percebeu que todos os efeitos que você disse dos meninos são conseqüências de nós, namoradas dramáticas com vidas saídas de novelas mexicanas?
- Nada é perfeito – null deu de ombros, mas logo a olhou, com os olhos arregalados e um sorriso no rosto – Ei, eu poderia ir com você pra a Itália! Você poderia me empregar como garota propaganda da empresa ou como secretária, eu não me importo.
- Não brinque com essas coisas, null, eu não vou fazer o null me odiar mais – null a olhou severamente e negou com a cabeça – Você fica e tenta dar um jeito na sua vida aqui. E trate de contar logo pra os outros.
- Mas-
- Ei, vocês duas, andem! A gente não veio aqui pra conversar – Frederick acenou mais à frente e as duas amigas se entreolharam – Tudo bem, fiquem ai, papai pode pagar as minhas coisas então.
- Como assim, ele vai pagar as minhas? – null levantou as sobrancelhas.
- E as minhas? – null apontou para si mesma e Fred riu, balançando a cabeça.
- O velho é caridoso.
As duas se entreolharam outra vez e tentaram não correr pra alcançar os dois mais à frente que riam do desespero delas.
- Obrigada, senhor. Tchau, Freds – null fechou a porta do carro e acenou para os demais que continuavam lá dentro. Eles acenaram de volta.
- Eu te ligo amanhã de manhã, tudo bem? – Phill perguntou para a filha que também saía do carro, atrapalhada com o grande número de bolsas em suas mãos – Precisa de ajuda aí?
- Não, tudo bem – ela sorriu – Isso, me ligue amanhã.
Ela acenou para o meio irmão e acompanhou null que já se encontrava parada em frente à porta da casa.
- Por que você ainda não entrou? – null perguntou ao se aproximar – Qual é, null, essas bolsas tão pesando aqui.
- Tá trancada – ela respondeu num tom exasperado e olhou para a amiga.
null segurou o impulso de rir, null parecia extremamente engraçada naquele momento.
- A null deve ter saído – ela deu de ombros e deixou algumas sacolas no chão para que pudesse pegar sua própria chave em sua bolsa.
- Mas ela nunca sai!
- null, relaxe – null riu e entregou a chave pra ela – Agora abre aí a porta antes que eu decida te deixar na rua.
null abriu a porta e tirou a chave, entrou tropeçando na casa e foi até a sala, deixando suas coisas em cima de uma poltrona. Jogou-se no sofá e viu null mais atrás, arrastando suas próprias compras para outra poltrona.
- Até que sua família é legal – null disse depois de um tempo.
- Eles não são minha família – null fez uma careta e sentou-se ao lado dela.
- Você entendeu o que eu quis dizer.
- É, eles são legais – ela se mexeu, procurando uma posição mais confortável e voltou a olhar a amiga – E ai, quando vai contar pra os outros sobre o desemprego?
- Da pra você parar de chamar assim? – null bufou e rolou os olhos – Não é tão sério assim.
- Claro que é tão sério assim, null! Você tá sem nenhuma fonte de renda e ainda se recusa a contar aos seus melhores amigos – null fez uma cara indignada – Você realmente achava que a gente não ia perceber?
- Não tão cedo. Achei que eu conseguiria dar um jeito antes que vocês começassem a suspeitar.
- Bom, eles ainda não começaram a suspeitar, mas você também ainda não começou a tentar resolver – null tentou se manter calma. Ela precisava ajudar null agora, o sermão podia ficar para quando o resto do pessoal descobrisse.
- Não é bem assim, eu estou tentando resolver.
- Tentando resolver o quê?
null e null viraram-se ao mesmo tempo para enxergar null, parada no portal entre a sala e o hall de entrada, as olhando com uma expressão confusa e divertida ao mesmo tempo.
- O que você tá tentando resolver, null? – ela perguntou outra vez, jogando a bolsa junto com as compras na poltrona e indo sentar no sofá com as outras – Meu Deus, vocês estão me assustando, o que tá acontecendo?
- Nada – null respondeu rapidamente, mas null balançou a cabeça e olhou para null.
- Olha só, eu não posso manter isso pra mim mesma. Eu to indo embora e sei que se eu não contar pra ninguém, não vai ser você quem vai contar, então...
- null, não! A gente combinou, eu te pedi.
null olhou de uma para outra.
- Contar o quê? O que tá acontecendo aqui?
- null tá desempregada desde Novembro – null disse de uma vez só e fechou os olhos – Pronto, falei, é isso.
- Você o quê? - null virou-se para encarar null, sem conseguir acreditar – Como você pôde não nos contar nada? O que passou por essa sua cabeça irresponsável?
- Obrigada, null, muito obrigada – null fez um joinha pra a amiga, que apenas deu de ombros, ainda de olhos fechados.
- Eu estou falando sério aqui. O que diabos passou pela sua cabeça? – null voltou a perguntar.
- Eu estava tentando lidar com tudo isso sozinha, ok? Eu simplesmente não queria dar uma de vulnerável e sair por ai pedindo ajuda a vocês... Simplesmente não me parece certo – null olhou para null e a segurou pela mão – Me entenda, eu só tava tentando lidar com isso sozinha. É meu problema.
- O caralho que é o seu problema! – null gritou e tirou a mão da de null – Nós somos uma família, entendeu? Nós estamos aqui uns pra os outros, o que raios te fez pensar que nós nos sentiríamos estranhos em te ajudar, ou até mesmo por que você não aceitaria nossa ajuda?
- Oh, então null descobre que vai abandonar todo mundo por causa do pai maluco dela que decidiu aparecer e só conta pra a gente faltando duas semanas pra ela ir embora, mas vocês não são capazes de ficar com raiva dela, mas eu estou passando por problemas - meus problemas financeiros, que fique claro - e não posso simplesmente lidar com isso sozinha? Ótimo, null, simplesmente ótimo – null se pôs de pé e colocou uma mão no rosto.
- Não tente me colocar no meio disso como se você fazer você se sentir melhor – null levantou-se também e apontou o dedo em direção à null – Eu não tenho nada a ver com você ser irresponsável. Nada. Muito menos meus problemas familiares.
- Ei, o que tá acontecendo aqui? – null apareceu na porta e olhou para as amigas em pé e em seguida para null – Por que elas tão brigando?
- null tá desempregada desde a última peça ano passado e null tá usando isso pra se sentir menos culpada por estar indo embora.
- null! – null e null falaram em uníssono e voltaram a sentar no sofá ao mesmo tempo.
- Como é que é? – null se aproximou, com os olhos arregalados – O que você tem na sua cabeça por só estar falando isso agora pra a gente?
- Na verdade, vocês só sabem porque eu contei, se dependesse dela, vocês só ficariam sabendo quando ela aparecesse aqui de mala e cuia – null levantou a mão e null a olhou feio – O quê? Você não é nenhuma santa nessa história.
- Não é que eu não queira que... – null olhou para as amigas e suspirou. Deus, a quem estava tentando enganar ali? – É só que vocês têm essas vidas tão perfeitas, sabe? Quero dizer, nenhuma de vocês têm qualquer problema que não pareça ter solução, e eu simplesmente não queria chegar com essa minha... Situação, ou sei lá o que e acabar com a estabilidade de vocês! A última coisa que vocês precisam agora é de um peso em suas vidas.
- Ei, quem disse que nós não temos problemas sem solução? – null a olhou carinhosa e pegou em sua mão – Olha só pra mim, eu vou embora amanhã e vou deixar todas as pessoas que eu amo aqui. Isso não me parece ter algum tipo de solução – ela sorriu amarelo e rolou os olhos – A não ser que você tenha pensado em alguma de última hora. Acredite, todos os tipos de soluções são bem vindas.
- Oh, amiga, eu não quis dizer isso, é só que... – null sorriu e colocou sua outra mão sobre a dela – Você tá indo pra lá pra cuidar da sua outra família, tá indo pra ser responsável e, quer saber de uma coisa? Você pode voltar, se quiser. Pode assumir a empresa, dar maior estabilidade, abrir uma filial aqui e pronto, você está de volta.
- Não é tão simples assim-
- É, null, é tão simples assim sim, é só você querer. Você tá indo pra a Itália pra lutar por sua vida e eu passei a tarde com você, seu pai e o Frederick hoje, não tem erro. Por mais que vocês tenham estado distante e tenham suas desavenças, vocês se amam – ela riu – Quer dizer, vocês meio que são obrigados a se amar, tá no sangue! E, a null tá com essa gravidez indo de vento em popa, o programa no alto. null tá pela primeira vez com a vida dela completa! Trabalho satisfatório, amigos satisfatórios, namorado satisfatório... Os meninos tão indo super bem com a Super Records – null suspirou – Eu só senti que, se eu falasse pra vocês o que estava acontecendo, eu... Eu tinha medo de me sentir de fora. De comparar minha vida com a de vocês e me sentir uma imprestável sem fonte de renda alguma e prestes a perder o apartamento.
- Por favor, você sabe que nós nunca olharíamos pra você como uma imprestável, meu bem – null sorriu e puxou-a para um abraço.
null se aproximou e ajoelhou-se em frente a elas, abraçando-as também. null limpou as lágrimas que desciam dos olhos e se juntou ao abraço.
- Abraço em grupoo, uhul – null falou com a voz abafada e todas riram – null, ou seu celular tá tocando, ou a sua calça tá vibrando, e isso não me parece nada bom.
- Oh, droga, você descobriu – todas se afastaram, rindo. null pegou o celular do bolso e olhou na bina – Oh-oh, null chamando – sentindo que o sorriso em seus lábios poderia rasgar o seu rosto, ela apontou para a porta da cozinha – Volto já.
As três concordaram e null pôs-se de pé, apertando o botão para atender a ligação e andando em passos rápidos para a cozinha, tentando ignorar as amigas que faziam comentários sobre a ligação.
- Hey, você – ela sorriu e entrou na cozinha, indo sentar-se num dos bancos – Não esperava que fosse me ligar até a noite. Não que eu esteja reclamando de sua ligação, de forma alguma.
- Muito engraçada – null riu do outro lado da linha – Eu fico realmente honrado por você gostar da minha ligação, mas fofa, eu tenho que admitir, por aí já devem ser lá pras oito da noite.
- Oh, meu Deus, tudo isso? – null arregalou os olhos e olhou para o relógio do microondas.
20:40.
- Você realmente não vê o tempo passar quando está fazendo compras, não é? Espero que tenha se divertido e maneirado nos preços.
- Ah, qual é, null, quando foi que eu exagerei nas compras, huh?
- Eu tenho umas contas impressas, de cartões de créditos meus, que poderiam servir de prova pra alguns dos seus excessos.
Ela riu e revirou os olhos.
- Muito engraçado, senhor palhaço – null passou o dedo por uma falha do balcão e mordeu os lábios – Então quer dizer que aí são oito da noite?
- É... Por aí - ele riu e em seguida falou algo com alguém ao seu lado - O null simplesmente não sabe pedir comida pra a gente. Espera um minuto fofa.
null concordou e o escutou gritar algo como: Estou com minha namorada no telefone, otários, peçam qualquer comida de moças que vocês quiserem.
- Então, onde eu estava? - null voltou a falar com ela, e null riu - Oh, eu estava contando uma piada? Era a do pintinho não é? Eu tenho uma nova! Escuta essa-
- null, null, não! – null riu mais alto e sentiu os olhos marejarem – Sem piadas, por favor.
- Ok, então o que você quer que eu faça? Já sei, eu posso-
- Não, desista! – ela quase gritou e sorriu maliciosa – Você ficaria quietinho se eu te contasse um segredo?
- Droga, null, você sabe que não - null fez uma voz de sofredor e null jurou que ele estava mordendo os lábios - Se ferrou, agora você vai ter que me contar.
- Eu não, você não consegue ficar calado!
- Então por que merda você foi falar isso? - ele bufou - Você sabe como eu sou curioso.
null revirou os olhos e então foi sua vez de morder o lábio inferior.
- Ok, mas tente não contar ao null.
- null, você tá me assustando, o que aconteceu?
- null tá desempregada desde o ano passado – ela prendeu a respiração – Totalmente quebrada, totalmente sem dinheiro.
- Puta que pariu! - null gritou, mas logo abaixou a voz - Merda, null, isso é forte.
- Eu sei que é, meu bem, por isso que eu disse pra você não contar pra ninguém.
- Vai ser meio difícil - ele suspirou - Mas se você me chamar de meu bem de novo talvez eu consiga ficar caladinho.
- Oh, desista – null riu.
- Então, já arrumou as malas?
O coração da garota deu um salto ao ouvir tal pergunta. Por que null tinha sempre que pegá-la de surpresa quando decidia falar sobre a mudança?
Ela fechou os olhos, ignorando a pontada em seu peito e a vontade de chorar que lhe invadiu ao lembrar que iria embora na tarde seguinte, pois simplesmente ainda não tinha a menor idéia de como iria conseguir isso.
- Só falta uma, a que eu comprei hoje.
- Eu queria que você não tivesse que ir – null suspirou e sua voz pareceu perder toda a animação de antes - Você não tem idéia de como tá sendo difícil não só pra mim, como pra os caras também, tentar nos concentrar em fazer música enquanto você tá indo embora.
- Não deixe as coisas mais difíceis agora, null... Guarde tudo isso pra amanhã, por favor.
- Eu não consigo! - a voz exasperada dele fez o coração de null querer sair pela boca e se atirar pela janela - Não é fácil ver você ir embora, deixar você ir embora!
- Não comece a agir como se fosse sua culpa, pelo amor de Deus, isso não tem nada a ver com você.
- Eu deveria largar a banda e ir pra a Itália com você,
- Não seja idiota, null – ela bufou – Nem venha com esse papinho agora.
- Eu não sou idiota! Tô falando sério.
- Você não sabe do que tá falando na maior parte do tempo. Você tá só se deixando levar pelo momento e dizendo coisas que machucam nós dois.
- Às vezes eu tenho vontade, sabe – ele falou baixo, quase sussurrando e null teve que apertar o fone contra seu ouvido com mais força para que pudesse escutar – De te machucar. Pra você ter alguma noção do quanto eu estou machucado nisso tudo.
- Eu acho que eu mereço, afinal de contas...
- Agora você quem tá sendo a idiota! – null pareceu irritado – É claro que você não merece, pelo amor de Deus – ele suspirou e ficou calado por um tempo – A gente pode se falar amanhã? Acho que já deu por hoje.
- É, acho que já deu...
- Me liga se não conseguir dormir?
- Talvez – ela tentou rir, mas não achou que deu muito certo. Estava prestes a desejar boa noite quando lembrou-se de algo – Ei, null. Pra onde você foi essa noite? Você disse que era melhor que você me ligasse...
- Num bar com os caras, nada demais – ele bocejou e a garota mordeu os lábios – Eu sei que é estranho ir pra bares de manhã, mas você não em noção do quão esses caras tão ficando alcoólatras! – null riu – Enfim, acho que vou dormir mais um pouco.
- Tudo bem... Boa noite.
- Boa noite, fofa, te amo.
Capítulo 50
Era hoje.
null não encontrou null na cozinha quando desceu para o café da manhã. O lugar estava vazio e limpo. Ela andou até o balcão e encontrou um bilhete com a letra de null. Voltamos logo!
XX
Soltou um suspiro e então andou até um dos armários, abrindo-o e tirando um caixa de cereais do local. Jogou um pouco dentro de uma tigela e colocou leite, pegou uma colher e andou até a sala, ligando a televisão e sentando no sofá.
Sinceramente não tinha sido assim que a garota imaginara seu último dia em Londres – sim, mesmo depois de vários protestos feitos por si mesma, ela se permitiu imaginar –, pelo menos não sozinha, afundada no sofá com uma tigela de cereais e assistindo Friends.
Por que diabos Friends estava sempre passando naquele maldito canal, afinal de contas?
A porta se abriu num estrondo, assustando-a. null colocou soltou um grito e quase derrubou a tigela com cereais e leite.
- Vocês são malucas? Quase me mataram do coração – ela ria e falava ao mesmo tempo.
Estava feliz por as amigas terem finalmente chegado.
- Claro, porque nós sabíamos totalmente que você ia tá ai no sofá com essa cara de morta – null sorriu amarelo e se jogou ao lado da amiga no sofá – Bom dia, aliás.
null fez uma careta e null fechou a porta, andando com null até lá.
- Tem muito tempo que você acordou?
- Nops, alguns minutos – null a olhou – E onde vocês se meteram mesmo?
null abriu a boca pra responder, mas null a cortou, passando em direção à cozinha.
- Lugar nenhum. Só esticando as pernas e esperando um milagre que caísse do céu e trouxesse um novo emprego pra null.
- Por que ela só vive nessa cozinha? – null sentou em uma poltrona e fez uma cara desagradável.
- Ela é cozinheira, null, é isso que ela faz para sobreviver – null revirou os olhos e apoiou o rosto na mão, prestando atenção na televisão – Por que sempre que a gente liga a TV, tá passando Friends?
null gargalhou, pois havia pensado nisso minutos antes e as duas a olharam de forma estranha.
- Quê? – ela deu de ombros, ainda rindo – Eu gosto de Friends, ok?
- Ok... – as outras disseram em uníssono.
Elas ficaram em silêncio por alguns minutos até escutarem null as chamar para a cozinha.
- Vai ver ela armou uma barraquinha lá pra ela e quer que a gente veja – null sussurrou para as amigas enquanto elas iam pra a cozinha – Não seria uma má idéia, pelo menos iria poupar o caminho do quarto até lá.
- Alguém já te disse que você anda muito amargurada ultimamente? – null a olhou de canto de olho.
- É a falta de emprego – null disse e recebeu um tapa no ombro – Ei, já pensou ser lutadora? Esse tapa foi bem forte e doloroso.
- E o próximo vai ser muito pior se você não parar de falar besteira!
- Ela é realmente boa nisso – null cochichou para null quando elas chegavam na cozinha, e as duas riram – E ai, null, qual foi a boa?
As três se sentaram nos mesmo bancos de sempre e esperaram até que null decidisse lhes dar atenção.
- Estou fazendo uma pesquisa sobre o que vocês querem comer – ela respondeu depois de um tempo.
- Por que a gente não sai pra almoçar fora hoje?
- Não! Eu quero cozinhar pra null – null olhou pra null, que encolheu os ombros e disse um “tanto faz” baixinho que fez null rir – Não ria, sua ingrata. Deveria deixar você morrer de fome.
- Sou uma pessoa rica agora, se toque, não morro mais de fome – null a olhou, sorrindo, e null levantou as sobrancelhas.
- Mas morre de outras coisas.
- Uow, alguém está com humor assassino hoje – null e null riram e falaram ao mesmo tempo.
null riu junto e escutou o telefone tocar. Ela virou-se para null com um sorriso angelical, e a garota revirou os olhos, saindo para pegar o aparelho.
- Os hormônios estão mesmo afetando ela – null cochichou e null lhe deu um tapa.
- Pare de ser tão vaca.
- Oh, olha só quem fala.
- Meu Deus, null, mantenha essa sua vontade de arranjar uma discussão com alguém quieta por um segundo, por Deus – null lhe deu um tapa e null gargalhou.
- Hey, null – null entrou na cozinha com uma expressão estranha e null a olhou preocupada. Ela estendeu a mão com o telefone sem fio em sua direção e desviou o olhar – Seu pai.
null mordeu os lábios e olhou para as outras duas, que tinham a mesma expressão de preocupação. Ela pegou o telefone e desceu do banco, andando até a porta que levava para os fundos. Sua respiração estava levemente descompassada e seu coração batia tão rápido que chegava a doer.
Alguma coisa parecia errada. Ela sabia disso, desde acordara que sentira que tinha uma coisa muito estranha acontecendo ali.
- Alô.
- null? – a voz de seu pai lhe atingiu e seu estômago quase despencou – Eu preciso falar uma coisa muito séria com você.
null passou correndo como um jato pela cozinha e foi em direção às escadas, ignorando as perguntas das amigas que pareceram lhe perseguir por todo o caminho. Ela tinha a visão turva, as bochechas molhadas e o coração ainda à mil. Mal podia acreditar no que acabara de ouvir, se negava a fazer tal coisa! Será que ele já não tinha exigido demais dela? Será que ela não poderia ter um tempo nem mesmo agora?
Não, parecia que não.
De repente tudo pareceu tão mais real, os meninos lhe soaram distantes, as meninas – que ainda falavam algo para ela de muito próximo – lhe pareciam longe. null tinha vontade de ficar ali afundada em seus travesseiros até não poder mais. Não queria mais ir embora, simplesmente não queria. Tentara ser forte e mostrar que não via problema nisso, que era o que tinha que fazer.
Mas aquilo fora a gota d’água.
- null? null, meu amor, por favor , me diga o que aconteceu – ela conseguiu distinguir a voz de null em meio às outras – null, você está me preocupando.
- Eu vou ligar pra o null, ela tá começando a me assustar.
- Não, null, ele vai ficar mais assustado que isso!
- Mas, null, olha pro estado dela, pelo amor de Deus.
- null... – null falou outra vez e passou a mão na cabeça da amiga – Por favor, não me diga que o aperto que eu to sentindo no peito não é só porque você ta chorando que nem uma desesperada.
- Eu vou matar aquele velho.
- null!
As vozes foram ficando cada vez mais distantes, mas null ainda sentia o carinho de null em seus cabelos, mas não conseguia a olhar, não conseguia nem ao menos pensar.
- Quer ficar sozinha? Você pode tentar dormir mais algumas horas...
- Não – ela escutou sua própria voz atravessar sua garganta, e aquilo a fez estremecer de dor.
Até mesmo falar doía.
- Eu não... Eu não tenho algumas horas, null – ela chorou mais e tirou o rosto do travesseiro.
Pôde distinguir mais atrás as silhuetas de null e null próximas à porta. Elas pareciam estar discutindo, mas começaram a se aproximar quando a viram finalmente falar.
- O que você quer dizer com isso – null franziu o cenho e passou a mão pelas bochechas úmidas da amiga.
null fechou os olhos. Você vai ser uma ótima mãe, fofa pensou olhando null e sorriu fraco.
- Meu vôo foi adiantado. Eu vou pra Itália daqui a algumas horas.
- VOCÊ O QUE?
- Ai meu Deus.
- Maldito velho! Maldito!
- Não, não, não, você não vai.
As vozes viraram uma mistura em sua cabeça e a garota desejou chorar mais, porque a cada segundo que passava, só parecia doer mais.
Seu peito doía mais, seu coração parecia já ter sido arrancado de seu corpo. Ela se sentia sem vida.
Imaginara-se rindo com as amigas o dia inteiro, fazendo compras talvez, ou vendo filmes. Algo juntas, não importando o que fosse. Imaginara que ainda teria todo o dia para poder desfrutar daquilo até que se despedisse por tempo indeterminado. Mas não teria mais.
Seu pai acabara com aquilo também.
- Ele já tá vindo me pegar... – null sentiu sua voz falhar e seus olhos arderem – Nós precisamos chegar no aeroporto com duas horas de antecedência pra vôos internacionais – ela sorriu de forma sarcástica e levantou o olhar pra as amigas – Ele quis tanto que tudo fosse mais rápido que nem ao menos pensou em irmos de trem ou qualquer coisa do tipo. Claro que não, pra quê dar mais um tempo pra a pobre filha?
- null... – null se aproximou e a abraçou – Dói tanto.
- Eu sei.
Ela sentiu mais quatro braços se juntarem aos de null e seu choro voltou mais forte, mais violento. Todo o seu corpo chacoalhava e ela queria poder não sair mais do abraço. Dos braços quentes e protetores de suas melhores amigas. De sua família de verdade.
- Por que seu celular sempre atrapalha tudo? Merda – null se afastou e null quis rir, ainda abraçada às outras duas, mas as lágrimas continuavam a sair sem ordem alguma – Puta que pariu.
- O que foi? – null perguntou.
- É o null.
null levou uma mão à boca e voltou a fechar os olhos, sentindo seu corpo chacoalhar mais uma vez.
null.
Doía, doía tudo, doía tanto que ela chegou a pensar que iria desmaiar. Doía tanto que ela chegou a desejar que pudesse desmaiar para que a dor passasse.
- Eu vou... Vou falar com ele – null saiu do quarto, com o telefone na orelha – Hey, null.
A campanhia soou e null e null se entreolharam.
Estava tudo vindo de uma só vez, parecia uma bola de neve.
- Deve ser ele – null disse outra vez e se sentou, deixando que os braços das amigas se distanciassem – Eu preciso lavar o rosto, falar com o-
- null, não! Você não pode se forçar a fazer essas coisas.
- Eu não to me forçando, null! Eu tenho que fazer, eu não posso simplesmente ficar aqui chorando que nem uma idiota. Eu tenho um vôo pra pegar e um namoro pra terminar.
null virou o rosto, haviam lágrimas escorrendo de seus olhos. null concordou com a cabeça e pôs-se de pé.
- Quer que eu chame a null?
null a olhou, satisfeita.
- Por favor.
null concordou mais uma vez e olhou para null, que se levantou no mesmo momento e olhou para null.
- A gente se fala lá embaixo, tá?
- Tá.
Elas se abraçaram outra vez e null as assistiu saírem do quarto. Ela mordeu os lábios e limpou o rosto com as costas das mãos, prometendo a si mesma que se controlaria quando falasse com null.
null apareceu alguns segundos depois com o celular em mãos. Estendeu-o para a amiga e null percebeu que ela tinha o rosto muito vermelho e molhado.
- Boa sorte – a escutou sussurrar e então sair do quarto como as outras.
null respirou fundo e trouxe o celular para o ouvido.
- null?
Ela podia escutar a respiração descompassada do garoto do outro lado da linha. Fechou os olhos com força, tentando afastar a imagem dele chorando de sua mente. Aquilo a destroçava.
- Por que a gente gosta de se machucar tanto? - ele falou e havia desespero contido em sua voz - Por que a gente não pode facilitar as coisas de uma vez por todas?
null suspirou.
- Porque nada pra gente é fácil, null - mais lágrimas escorreram agora de seus próprios olhos, e ela não se preocupou em conter o tom choroso em sua voz. - Além do mais, nós nunca nos preocupamos em facilitar as coisas.
- Eu acho que não fazia idéia de que isso poderia acontecer um dia... Eu e você não sendo mais eu e você. Me entende?
Ela queria rir, a forma desajeitada qual ele falava a fazia lembrar dos dias em que ele decidia simplesmente lhe dizer o quanto a amava. Mas ela não queria se lembrar daquilo, iria dificultar mais ainda as coisas, e null não queria elas fáceis? null iria embora e pronto, essa era a realidade nua e crua. Fácil.
- Agora é você quem tá complicando.
- Talvez assim você fique.
Ela queria ficar, Deus, como queria! Mas não podia dar as costas ao seu pai assim. Ele era seu pai! null tinha milhares de fãs, e toda uma fama para ocupar sua cabeça. Encontraria garotas melhores, null tinha certeza disso. Ele não precisava mais dela. Ele estava na Austrália gravando seu primeiro CD independente!
- Eu não vou ficar, null.
- Mas eu quero que você fique.
- As coisas não giram em torno de você! - null alterou a voz a fim de intimidá-lo. Por que era tão difícil deixá-la ir?
- Eu pensei que a partir do momento que estivéssemos juntos, elas girariam - a voz dele tinha um toque infantil, e ela percebeu que ele realmente acreditava naquilo.
- Elas ao menos chegaram a girar em torno de mim, fofo.
- Isso era o que nós todos lhe falávamos. Mas elas giravam.
Por que ela não podia simplesmente quebrar aquele telefone e embarcar no maldito avião mais tarde? Por que não conseguia parar de apertar o aparelho contra seu rosto como se estivesse apertando null uma última vez contra si mesma? Ele estava ali, chorando por ela, lhe dizendo tudo que ela mais quis escutar ao longo dos anos e tudo isso não fazia mais diferença alguma. Nada iria mudar o rumo que as coisas tomariam.
Nem mesmo o centro null do universo.
Nem mesmo o centro null do universo.
Nada.
Escutou um barulho vindo do lado de fora. Era seu pai arrastando suas malas para o fundo do carro. Havia chegado a hora.
- Tenho que ir.
Ele não respondeu. Por alguns segundos null chegou a pensar que null havia desligado o telefone e sentiu um alívio por pensar que indo embora assim seria mais fácil. Porém um soluço tomou conta de sua audição e ela sentiu mais lágrimas escorrerem. "Vamos lá", pensou, "diga que me odeia, null. Desliga esse telefone e me manda te esquecer".
- Acabou?
Ela não respondeu. Ele sabia que tinha acabado.
- Você traz algo pra mim da Itália? - null brincou ainda com a voz chorosa.
Ela mordeu os lábios ainda sem responder. Não era hora para piadas, eles estavam chorando. Eles estavam terminando.
null perdeu a sensibilidade dos membros inferiores e olhou para baixo para confirmar que seus pés ainda tocavam o chão. Estavam intactos.
- Eu te amo - ele falou finalmente, null fechou os olhos.
- Eu também.
- null?
- Hm.
- Você volta?
null se deu conta que ele não havia perguntado sequer uma vez aquilo, que nem ela mesma havia se perguntado aquilo. Ela voltaria?
- Eu não sei - respondeu num tom que mal conseguia ouvir, mas que null havia captado.
- Eu te amo.
Ela sorriu com as palavras repetidas do garoto.
- Eu também.
Sempre
Epílogo
O vento de Londres batia em seu rosto e ela ajeitou os óculos escuros em sua face. Haviam se passado três meses desde que voltara à capital. Dois anos desde que a deixara, e tudo parecia no mesmo lugar.
Seu pai havia morrido um mês antes de retornar. Ela herdou todo o seu dinheiro e voltou na calada para Londres, sem ser notada como herdeira de tal quantia ou ex-namorada de ninguém e muito menos ex-fotógrafa de tal revista. Agora havia voltado a ser uma mera civil. Que nem seis anos atrás, quando chegara naquele mesmo local com null.
Sabia que a amiga havia se casado com Tom fazia algum tempo. Havia recebido o convite e ficara tentada a ir, mas não seria tão fraca. Mandou um presente e seus parabéns. Algo muito frio, sem expressar saudade ou nenhum tipo de sentimento. Não poderia permitir-se ter uma ligação com eles depois de os abandonar de tal forma.
Soubera também que null e null não haviam se divorciado como estavam fazendo antes dela ir embora. Ao que viu na internet, os dois deram finalmente o braço a torcer e agora viviam na casa dele.
Não sabia nada de null e null. O que a levava a pensar que deveriam estar juntos às escondidas. Era o mesmo que acontecia quando ela e null estavam juntos. Sumiam dos tablóides.
Não procurara nada sobre null. Sabia apenas que ele havia lhe escrito uma música, Point of View. Todos comentavam, todos escutavam, todos a idolatravam por ser outra inspiração ao garoto. Mas era apenas o que sabia. Uma música.
Cantarolou enquanto procurava as chaves de seu New Beatle dentro da bolsa. O tráfego estava intenso na South Carriage Drive e pessoas passeavam com seus cães no Hyde Park. Tudo muito tranquilo. Tudo muito normal.
Exceto pelos vários flashes que vieram em seguida. Ela olhou desesperada envolta e percebeu que alguém saía do Ye Grapes, um pub mais à frente, chamando mais atenção do que deveria.
Assim que destrancou o carro ouviu alguém chamar seu nome.
Seu corpo inteiro pareceu tremer.
Era ele.
- null! - null estava atrás dela, era ele de quem tiravam tantas fotos.
Ele estava lindo. Ela estava paralisada. Os paparazzis abutres desfrutavam daquele encontro.
Os olhos dele pareciam brilhar à sua imagem e ele tinha um aspecto diferente, mais velho talvez, não importava. Ela adorou aquilo nele.
- Hey.
Mais fotos eram batidas e perguntas lançadas, ambos estavam cercados, e se encaravam intensamente. Um fotógrafo puxou a garota pelo braço.
- Vocês estão namorando de novo? - o homem apertou mais o braço de null, fazendo-a gemer baixinho.
- Ei! - null aproximou-se, fazendo-o soltá-la e a empurrando para dentro da porta aberta do carro - Me dá uma carona?
null concordou com a cabeça e ele correu empurrando os fotógrafos à sua frente, entrando no banco do carona. Ela girou a cabeça, o observando meticulosamente e se perguntando por que diabos estava fazendo aquilo depois de três meses tentando desesperadamente não encontrá-lo.
Arrancou o carro e logo estavam presos no tráfego da avenida.
- Minha casa ou a sua? - ela perguntou, o olhando de canto de olho.
null gargalhou e sentiu seu coração pular.
- Você quem escolhe, fofa. As coisas giram em torno de você aqui.
Foi a vez dela gargalhar e eles se encararam em meio ao caos das buzinas e xingamentos dos motoristas uns aos outros. Um calor percorreu os dois corpos e eles se deram conta do quão insano havia sido tudo isso.
Insano, impulsivo, deles.
Sorriram cúmplices.
null estava certo quando falou que coisas estavam girando em torno deles quando se juntavam. Pois era exatamente o que estava acontecendo agora.
E o tempo parecia simplesmente nunca ter passado.
n/a: eu não sei o que falar nesse momento. Terminei de escrever o começo do último capítulo e ajeitar o que já estava pronto faltando 30 minutos para 2010. Agora já são 00:14 de um novo ano, cheio de novas expectativas, e junto com 2009 eu deixo They Don’t Give a Shit.
Há um bom tempo que eu venho pensando o que escrever aqui e – me desculpem, vai ser ENORME – me dei conta que eu não tenho palavras pra expressar o quão feliz e triste eu to. Feliz porque pela primeira vez eu consegui concluir um projeto e ele foi tão bem aceito e amado que só fez com que eu me animasse mais ainda em relação à isso, eu obtive um retorno que nunca imaginei que teria, considerando que foi minha primeira fanfic publicada. Eu provavelmente já disse várias vezes que todas vocês foram a essência dessa história, dessa vida que eu construi, desse mundo que nós aprendemos a compartilhar, elogiar e criticar, e vocês me fizeram crescer de uma maneira impressionante. Por isso eu sou grata a vocês sempre! Mesmo não podendo falar todos os nomes – porque são até que muitos hihi – eu quero dizer que vocês são lindas e eu amo vocês! UHUL! E em parte estou triste porque, poxa, ACABOU THEY DON’T GIVE A SHIT, eu nunca pensei que isso aconteceria, nunca pensei nem que eu iria digitar ou falar isso! Meu Deus, TDGAS foi meu filho, meu xodó (uhul, Cah!), meu orgulho e poxa... Escrever essa nota ta sendo mais difícil do que eu imaginei.
Espero que eu tenha passado a mensagem certa pra vocês, que vocês tenham lido essa história e absorvido alguma coisa, que eu tenha feito alguma diferença, porque é pra isso que eu escrevo. Não só pra descongestionar a mente sempre conturbada, mas também pra tentar fazer alguma diferença pra os outros! Quem sabe quando – e se – eu lançar um livro vocês falem “eu li a primeira história que ela publicou pra o resto das pessoas e ouvi ela falar sobre o porquê dela escrever”, sintam só que importante! KKKKKKKKK
Obrigada mais uma vez pelo carinho, pelas críticas e pela paciência. 2009 não foi um ano nada fácil pra mim em todos os sentidos e quem sabe até foi o pior ano da minha vida! Eu tive alguns ganhos, como passar no vestibular (hahahaha), mas as perdas superam de longe, e eu espero que 2010 seja muito melhor e que tenha realmente valido a pena esperar! FELIZ ANO NOVO pra todo mundo e que todos sejam felizes pra cacete e realizemos todos os nossos sonhos.
Os agradecimentos vão para... Carolina Mota! Uhul, Carolzinha xuxu, você foi uma peça muito importante pra essa história. Você me apoiou, estimulou e amou essa fic desde o primeiro momento e digo que eu não podia ter feito melhor quando troquei de beta. Obrigada por tudo, fofíssima, tanto em relação à fic quanto ao seu apoio em outras coisas, você sabe =)
Gracias, Mariana, minha primeira beta! Você jogou esse projetinho de merda dentro daquele mundo de histórias amadas e eu agradeço a você por isso.
Obrigada Cami, Thay e Mari, por lerem minhas histórias todo santo dia pela manhã. Eu vou sentir falta de vocês e espero que não nos distanciemos com essa merda de faculdade/colégio! Obrigada Thauana, por ser um pé no saco, mas estar sempre lá pra mim quando possível e querendo ou não ter inspirado uma das personagens daqui! Obrigada Bea por (mesmo lendo agora pro final) ter me surpreendido e se revelado uma pessoa extraordinária em minha vida!
Obrigada Davi e Ruy, meus fofoletes que liam uma coisa ou outra e imploravam pra fazer parte desse negocinho (COFCOF DAVI/FREDDIE COFCOF).
Obrigada todas vocês! Obrigada Tom, Hazz e Dan, por serem essas pessoas maravilhosas e por... Poxa, por me proporcionarem os melhores momentos da minha vida.
Obrigada Dougie. Por tudo.
BEIJO MÃE, PAI, CAYO, YURI (contra vontade, aquele pedacinho de merda ingrato que eu chamo de irmão), PAPAGAIO, CACO, TIO, TIA, FORMIGA, BARATA, PINGUIM, TUCANO, TODA A FAUNA E FLORA.
BEIJO NA BUNDA E NOS VEMOS – quem sabe, tananam – NA PROXIMA ATT.
SEM MAIS.
Xx
Bibia Barbosa.
n/b: Eu quero mandar um beijo pra minha mãe, pro meu pai e –n
Ai, caraca, não sei o que falar, a ficha ainda não caiu, vai ser difícil acreditar que não vou mais entrar no meu email e ver o nomezinho Ana Beatriz ou receber um tweet me falando pra checar os emails ): Minha fic preferida, meu amorzinho, a fic que eu tenho tanto orgulho de betar acabou. Sério, brigada por ter escrito essa história e compartilhado ela com a gente, Bia. Nunca vou conseguir descrever tudo que eu senti lendo essas linhas. Parabéns pelo sucesso de TDGAS, ele é mais do que merecido (L) Nosso xodó (;
Xx