Londres, 24 de dezembro

Querido Diário,
Me amaldiçôo completamente por ter tido a idéia de fazer a faculdade em Londres. Maldita foi a hora que eu achei que podia me virar sozinha em um país estrangeiro. Morar sozinha é muito fácil, ter que trabalhar pra me sustentar é suportável, e não posso reclamar de ficar sozinha, porque na maior parte do tempo meus amigos e companheiros de quarto, Lola e Tony, estão comigo. Mas quando todo mundo que você conhece vai passar o natal com suas famílias e você fica sozinha, bom, não é nada divertido estar na Europa.
Eu queria tanto não sentir meu nariz congelando! Estou sentindo falta de poder usar roupas de calor no natal. Ver a neve pela janela não é a mesma coisa que eu sonhei se eu não tenho minha família ao meu lado. Papai, mamãe, vovô... Pouts, que saudade. Até mesmo da tia Jô, que continua achando que eu estou em fase de crescimento.
Quando eu os tinha por perto em épocas como essa, eu não achava nada demais. Nesse natal tudo o que eu vou poder ter, será cinco minutos de uma ligação internacional. Eles não podem fazer nada para fazer com que eu me sinta mais em casa, eles não estão por perto.
Estava difícil de ficar dentro do meu apartamento. Lá não tem clima nenhum e muito menos me lembra os natais de quando eu era menor. Como Lola e Tony não ficariam em casa - eles foram passar o natal com suas famílias no interior - eles não fizeram questão alguma de montar a árvore ou enfeitar a casa com papais noeis. Acabei tendo que improvisar minha própria árvore, uma planta quase morta com fitas coloridas. Ficou horrível, tenho de admitir, muito mais porque não tinha nenhum presente em baixo, quem dirá algum presente pra mim.
Então eu lembrei do meu presente de natal que minha mãe tinha me enviado há alguns dias pelo correio. Não estava ansiosa, não ia vir um abraço junto na caixa. E graças ao atraso do correio, só chegaria amanhã. Pela primeira vez em muito tempo, eu não iria ganhar meu presente de natal antes do dia e não sabia o que era.
A preguiça, junto com a tristeza, me rondaram o dia todo. Já eram mais de cinco da tarde e eu ainda não havia comido nada. Resolvi ir até o café perto de casa para colocar algum pedaço de comida no estômago e tomar alguma bebida quente que me manteria aquecida para agüentar essa longa noite natalina.
Estou tomando meu chocolate quente enquanto eu escrevo sobre meu dia, por isso, desculpe pelas manchas, diário.
Hoje vai ser só isso mesmo, beijos e Feliz Natal.

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Eu entrei no café procurando um abrigo contra o frio. Uma moça veio logo me atender, me levando até uma mesa no fundo do café, perto de uma janela e com uma bela visão para todo o parque da frente coberto de neve. Abobado com a vista, comentei com a garçonete:
- Nossa, nunca vi um natal tão gelado assim. Esse frio está de congelar ossos.
- Deve ser esse tal de aquecimento global. - respondeu ela, dando de ombros - O que vai querer?
- Um expresso grande. Com muito açúcar. - acrescentei antes que ela virasse.
Um natal sem a família pedia muito açúcar.
Enquanto esperava meu café, reparei em um caderno roxo sobre a mesa. Alguém deveria tê-lo esquecido ali, e se a pessoa sentisse falta? Abri para ver se tinha nome ou endereço. Nada. Folheei atrás de alguma informação, a única coisa que eu descobri é que pertencia a uma mulher, por causa da caligrafia caprichada. A última folha era datada de 24 de dezembro. Fiquei curioso para ler, extremamente curioso. Pesei os dois lados da balança: a ética e a curiosidade. Ok, a curiosidade venceu e eu li cada ponto, cada virgula e cada letra daquela página como nenhum livro jamais tinha chamado minha atenção.
Depois de ler, quis ainda mais saber quem tinha escrito aquilo. Compadeci da dor da menina, estar sozinho numa cidade como Londres no natal não era legal. Só que no caso dela, era ainda pior. Meus pais estavam nas Bahamas, em um cruzeiro, e eu fui deixado para trás no natal porque minha banda ia gravar um especial natalino para a TV hoje de manhã. Ainda podia recorrer para os meus amigos, sair para beber com o resto dos meninos da banda. Mesmo não tendo meus pais, ainda tinha meus amigos. E ela?
Meu expresso chegou e o bebi enquanto procurava qualquer informação sobre a garota no diário. Que pouco educado da minha parte estar lendo aquilo, não é? Sabia todos os segredos dela, menos o seu nome. Já descobrira que ela era brasileira, morava com mais dois colegas de quarto e estudava literatura. A única mísera coisa que poderia me dar um paradeiro dessa garota, era que ela morava perto dali. Como se não tivesse inúmeros prédios perto do café... Bom, e daí? Eu não tinha mais nada pra fazer e estava obcecado em descobrir sua identidade. Coloquei o diário dentro do casaco, deixei uma nota como pagamento na mesa e levantei-me para ir procurá-la.
Antes de sair da loja, ouvi uma menina conversando com a mesma garçonete que tinha me atendido. Ela me chamou atenção. Era linda: rosto de porcelana, cabelos bagunçados, face levemente corada e um sorriso meigo, quase igual ao de uma criança. Seu tom de voz era preocupado. Já tinha perdido a ética uma vez hoje, ouvir a conversa não iria fazer diferença.
- Mas você tem certeza que ninguém viu um caderno roxo por aqui? Ele era muito importante. - disse ela, passando as mãos pelo cabelo.
- Não, senhorita. Sinto muito. - na verdade, a garçonete não sentia nenhum pouco.
- Eu volto aqui amanhã para procurar de novo. - a garota suspirou e saiu do café antes que a garçonete respondesse em tom mal-educado que não abririam no dia seguinte.
Quando seu doce perfume fugiu do ar, eu percebi que tinha encontrado a garota que eu procurava. Antes de pensar em como falar com ela, eu já tinha saído correndo atrás da menina, batalhando contra os meus pés afundando na neve.
Alcancei-a e cutuquei seu ombro. Então ela virou pra mim, me fitando nos olhos.
- Não, eu não quero te assaltar! - sorri, isso não fez o medo dela diminuir - Eu só queria te devolver isso - tirei o diário de dentro do casaco e entreguei em suas mãos, elas estavam um tanto quentes pra um dia frio.
- Obrigada - ela sorriu, deu as costas e voltou a caminhar.
- Hey! Espera! Você acha que um ‘obrigada’ só resolve? - apelei para o lado grosso.
- Não resolve? - ela estava relutante em começar uma conversa. Tinha razão, eu era um estranho.
- Não. - gritei, ela já estava à passos de distância - Se você não me dizer pelo menos o seu nome, eu conto pra Lola que você beijou o irmão dela. Duas vezes!
Ela virou os olhos.
- . Agora meu segredo está a salvo, não? - finalmente consegui quebrar o gelo, e naquela Londres fria, quebrar o gelo estava complicado.
- Eu me chamo , prazer. - pensei em apertar as mãos dela, mas não seria possível tirar minhas mãos do casaco.
- Olha, desculpe, . Hoje está muito frio mesmo, não dá pra ficar conversando aqui fora. - virou-se, mais uma vez, pra ir embora.
- Não tem problema, a gente pode ficar conversando na sua casa. - ataquei, era hora de ser cara-de-pau ou ela não iria ceder - Eu sei que você está sozinha, e eu também estou.
- Sem chance! - respondeu sem pensar
- Você não tem namorado. Ou talvez eu possa usar meus conhecimentos masculinos para consertar o chuveiro - usei o que eu sabia sobre ela, contra ela. Foi realmente muito útil ter lido o diário.
- Eu não estou muito amigável hoje. - já estava perto o suficiente pra olhar dentro dos olhos de , descobri um mundo que completava o meu lá. Ninguém além dela poderia ser a melhor companhia para o meu natal.
- Tudo bem. - respondi a contra gosto - Eu só achei que poderíamos ser a companhia que esperávamos pra esse natal.
Ela engoliu em seco, sabia que ela ficou balançada com aquela frase. não queria ficar sozinha, muito menos eu. Não era porque ela tinha me dado as costas e seguido pra sua casa que eu ia desistir. Não mesmo. não era o tipo de cara que achava uma menina perfeita e a deixava ir embora por causa de uma crise natalina. Digo mais, era o cara que faria esse natal ser inesquecível na vida dela.
Tive que pensar por um tempo em um plano infalível. Mentira, eu nem pensei em um plano, estava impulsivo. Achei uma floricultura quase fechando e comprei o buquê mais lindo que o dinheiro em minha carteira me permitia comprar. Corri para a casa dela, ai eu percebi que meu plano infalível tinha falhado e ainda por cima do começo. Eu descobrira o prédio em que ela morava, porque eu a vi entrando depois que ela me deu as costas. Mas qual seria o apartamento que morava?
- Se lascou, . - me irritei com a minha burrice.
Encarei o prédio. O que eu podia fazer? Ficar ali parado esperando uma luz? Uma luz... Era isso! O apartamento dela só podia ser o único com a luz acessa, ela era a única que tinha ficado em casa na véspera de natal enquanto todos os outros comemoravam com as suas famílias. Por tanto, agora eu tinha um plano de volta.
Apertei o botão do quarto andar no interfone. Me senti eufórico quando a voz de ressoou:
- Quem é?
- É o papai Noel. - eu mesmo ri da minha piada sem graça. Depois quis chorar, não ia dar certo e meu plano falhara de novo.
Já ia interfonar de novo para me desculpar quando a porta do prédio abriu. Era a minha chance. Adentrei o prédio e subi as escadas o mais rápido do que eu achei que pude. Na parta do apartamento dela, me senti ridiculamente cansado e ofegante. abriu a porta rindo.
- Presente - disse entre uma respiração e outra, entregando-lhe o buquê de flores.
Ela sorriu, de orelha a orelha. Se fosse pra ela dar outros sorrisos como aquele, estava disposto a roubar um banco para comprar-lhe toda a Amazônia.
- Acredita que foi o primeiro presente que eu ganhei?
- Então é se é especial, você deveria as colocar na água. - não queria me encarar no espelho, deveria estar mais abobalhado do que ela - E convidar quem te deu para entrar.
deu espaço para eu passar e então eu entrei em sua casa. Era muito arrumada e aconchegante. Eu podia morar ali, me sentia confortável, tanto que me joguei no sofá. Ela foi até a sala e me ofereceu água, eu pedi uma cerveja.
- Posso ligar a TV, ? - perguntei depois que já tinha ligado
- ? - ela me encarou
- Não posso te chamar assim? - que mania eu tinha de perguntar as coisas só depois de fazer
- Que mania você tem de perguntar as coisas só depois de fazer. - ligação de pensamento? - Bom, você já até leu meu diário. Que problema tem em me chamar de ?
- Eu li seu diário, te comprei flores e estou deitado no seu sofá bebendo cerveja. - acrescentei, ela assentiu.
- Você é cara-de-pau demais pra alguém que me conheceu apenas hoje. Aliás, , você nem me conhece de verdade. Não sei porque eu deixei você vir aqui essa noite. - acusou-me.
Desliguei a TV e sentei no sofá, ficando em uma posição que podia encarar nos olhos, para dar certeza a ela de algo que eu ia falar. Eu ia falar que eu podia estar no bar com meus amigos. Bebendo, me divertindo e pegando algumas vadias, e que era isso que eu pretendia fazer antes de ler o diário dela e descobrir que eu podia passar meu natal ao lado de alguém muito mais especial e que também estava sem a família. Ia falar que eu queria estar ali, ao lado dela, porque ela foi o presente de natal mais lindo que o papai Noel já tinha me dado. Mas engoli e não falei nada disso.
- Você quer que eu vá embora? - falei invés daquilo. De certo ela estava assustada, e o meu jeito atrevido não ia ajudar.
- Talvez. - era melhor do que um "sim" logo de cara.
- Se você quiser, eu vou. Só pensei que você quisesse uma companhia pro natal, assim como eu. Era o que parecia no seu diário. - tentei não forçar a barra, mas eu não queria mesmo sair dali.
- Tenho certeza que você tinha alguém com quem comemorar. Não precisa ficar aqui por compaixão. Eu fico bem sozinha, pode se divertir. - forçou um sorriso pra me encorajar.
- Tinha sim com quem ficar hoje - ela me obrigou a admitir - E se eu preferi você aos meus amigos, você deveria estar feliz.
Ela sentou ao meu lado no sofá. Tremi ao simples toque da sua pele macia a minha. Ela sussurrou:
- Obrigada.
Passei a mão sobre a bochecha de . Interrompi o toque rápido, pensando que estava sendo atrevido demais de novo.
- Espero que você se divirta comigo também! - ela sorriu daquele jeito de novo. Pra mim, foi como se o sol tivesse surgido, e estava de noite. - Você gosta de vinho?
- Hum, claro. - se levantou e voltou com uma garrafa e duas taças.
Ao servir-nos, derramou um pouco de vinho na própria calça.
- Droga! - ela exclamou tentando limpar
- Não me incomodo se você tirar, mas eu não sou cego. - senti ela me dando um soco no braço
- Pra falar a verdade... - ela começou sem jeito - Eu até que gosto desse seu jeito atrevido - sorri maliciosamente - O que não significa que nós vamos transar hoje, ! Somos só amigos.
- Eu sei que somos - pisquei.
bebia tão rápido que eu me surpreendi. E não foi só com isso, ela tinha um gosto musical parecidíssimo com o meu, cozinhava extremante bem e era muito mais encantadora do que eu pensei. O tempo passou rápido ao lado dela.
Já era quase natal de verdade quando eu achei melhor ir embora. Ela me acompanhou até a porta do prédio. Paramos do lado de fora, escorriam lágrimas dos olhos de , e admito, fiquei feliz com isso. Era sinal que ela tinha gostado da minha companhia.
- Obrigada de verdade, . Eu sei que no começo eu fui muito dura e ríspida, mas obrigada por ter tentado. Eu nunca vou esquecer a sua companhia nesse natal. Foi o melhor presente que papai Noel podia ter me dado!
Senti uma vontade incontrolável de beijá-la naquela hora, me aproximei. E se ela virasse o rosto? Reparei que estávamos bem em baixo de um visgo, senti como se o destino conspirasse ao meu favor. Primeiro, o diário, agora o visgo no momento mais oportuno.
Eu a beijei. Sua boca logo abriu passagem, e nossas línguas se tocaram. Pensei que fosse um delírio do vinho, mas era bom demais pra ser um sonho. Minhas mãos desceram pelo cabelo de , e as mãos dela esquentavam minha cintura. Interrompi o beijo, um relógio avisava que era definitivamente natal. Dia 25 de dezembro, à meia noite, papai Noel estava chegando.
- ? - chamei seu nome para ver se ela prestava atenção - Será que já é tarde demais pra pedir para o papai Noel um presente de natal?
- Bom, acho que não. - respondeu ela com a sobrancelha arqueada
- Eu queria que o papai Noel me desse você, como minha namorada. - peguei na mão de , pela primeira vez suas mãos estavam geladas, todo o seu sangue estava concentrado na bochecha.
Tenho certeza que nós vimos um trenó voando no céu! Eu vi, não estou ficando louco! Um velho barbudo e suas renas voando pelo céu, e ele trouxe o meu presente.
Ela aceitou. O beijo que ela me deu depois só podia ter sido um sim.
- Agora como seu namorado, eu posso passar a noite de natal na sua casa? - ela gostava do meu jeito atrevido.
- Claro que não, ! - bom, parece que ela não estava bêbada o suficiente pra aceitar. Porém, eu estava disposto a esperar quantos natais fossem precisos.
- Pelo menos eu posso passar aqui pra te pegar amanhã? Talvez eu vá almoçar na casa da minha irmã, ver meus sobrinhos, e nada mais justo de apresentá-los a titia nova.
- Eu adoraria - ela sorriu daquele jeito que atinge a perfeição.
Selei nossos lábios e fui embora feliz, porque eu sabia que no dia seguinte estaria ali para vê-La de novo, o meu melhor presente de natal.


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Londres, 25 de dezembro

Querido novo diário,
Ontem, o papai Noel passou em casa e me deixou o melhor presente de natal que eu poderia ter ganho: o . Ele é o cara mais incrível que eu conheci, ele é definitivamente maravilhoso. Só não diria perfeito, porque do jeito que ele é, nenhum pouco metido, ficaria se exibindo pelo resto dos séculos. Apesar de só ter o conhecido ontem, eu sinto como se nós nos conhecêssemos há muitos outros natais.
Agora ele vai vir me buscar para eu conhecer a irmã dele e os sobrinhos. Estou vestindo meu melhor vestido, quero impressioná-los. O disse que eles vão gostar de mim de qualquer jeito, mas ele só quer me paparicar. É só uma pena que os pais deles estejam nas Bahamas, bom, outra hora posso conhecê-los.
Falando em pais, hoje de manhã fui buscar o presente que minha mãe me enviou. Adivinhe só? É um diário! É perfeito, agora eu posso usá-lo para escrever minha história com o . Este eu prometo não deixá-lo ler.
Beijos e Feliz Natal!

n/a: Oi gatchenhas! Como vão? Espero que muito bem, como eu :D
Não tenho muito o que dizer, quem tem são vocês para mim. Digam se gostaram, não gostaram, se acreditam em papai Noel, contem o ganharam de presente de natal... Bom, o que vocês quiserem.
Desejo à todos feliz natal!
Beijos. may espadaro;

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