Foi numa noite quente de verão, daquelas típicas das quais nunca gostei que eu o conheci.
Com suas roupas estranhas e seu modo descontrolado.
Com suas palavras rápidas e sua voz grave.
Eu só queria conseguir enxergar seu rosto direito e de repente, era tão próximo, e tão confortável que eu não queria mais me afastar.
Eu não sabia que teria que atravessar o mundo para achá- lo.
Ele não sabia que teria que esperar algum tempo por mim.
Mas acho que hoje, já não faz diferença.
Pois mesmo que tenha esperado, ele me encontrou... E mesmo que agora não possa vê- lo todos os dias, eu consigo vê- lo todas as noites, em meus sonhos.
Talvez alguns tenham considerado algo errado, mas eu não cheguei nunca a pensar nisso. Talvez tenha pensando em aceitar a possibilidade, mas...
Mas desde quando algo tão bom pode ser errado?
Só queríamos ver mais...
- Promete que vai me ligar todos os dias?
- Eu já prometi isso seis vezes!
- Ah, me desculpa! Eu fico tão preocupada, você entende, não é? Você sabe como...
- Como fica o coração de mãe e blá, blá... bláblá... blá...
- Chega.
- Desculpa.
Era a primeira vez que sairia do país. Em meus últimos 23 anos de vida, era fácil para mim conviver com a idéia de ir para fora, mas nunca seria tão fácil se eu não tivesse estudado para isso. Foram seis anos de curso pagos com meu próprio dinheiro e uma faculdade suada com bolsa para fazer comunicação e conseguir estágio numa empresa internacional. Agora era a minha vez de ir para fora e fazer o que queria. Era difícil depois de ser a filha única considerando que perderam meu irmão mais velho quando ainda era um bebê. Ele era três minutos mais velho que eu e eu não sei bem o que houve. Mas gostaria de tê-lo conhecido...
- É melhor se apressar.
- Tá, tá, mãe!
- Ah, não vem com essa.
Ela brigaria comigo até o último minuto e depois começaria a chorar. Eu como boa chorona, choraria, às vezes só por ver, mas... Eu tinha vivido até ali com ela, era difícil ficar longe agora.
Também era a minha primeira vez num avião. Não que eu não soubesse como agir, mas sabe como é. Por que ter que aprender a usar algo para salvar a minha vida quando eu realmente estou pensando que posso morrer?
Que droga...
- Sua primeira vez num avião?
Olhei pro lado desorientada enquanto alguém esbarrava de novo em mim no corredor.
- Hum?
Meu cérebro trabalhou rápido para entender aquela língua que eu vinha estudando há tantos anos.
- Primeira vez, no avião?
- Ah... Sim.
- Não se preocupe, a turbulência é proposital.
Sorri para o rosto visivelmente estrangeiro, era simpático e provavelmente da minha idade. Um rapaz de cabelos escuros e lisos que dava inveja ao pensar no quanto eu precisava me desvirar para ao meu cabelo ao menos não ficar em pé.
- Que bom...
- Se quiser posso trocar, o corredor é mesmo incômodo.
- Ah... - Eu achei ele bonitinho e simpático, mas não era para tanto. Não queria me imaginar me agarrando com ninguém no avião. Oh, droga...
- Tudo bem, eu não ligo. Eu costumo fazer isso com minha namorada, ela não consegue dormir no corredor.
Namorada? Isso era bom, não precisava mais imaginar e era ruim, que desperdício.
- Ah... Então, tudo bem... Obrigada.
- Eu gosto de Honshu, Tóquio. Me lembra minha casa quando era pequeno.
Gennai era o meu primeiro amigo por lá. A namorada dele se chamava Sakura e costumava ser bem simpática. Eu ficaria em Tóquio por sete meses á trabalho. Sorte? Para mim sim.
- Eu também gosto, mas eu ainda quero ir a Sapporo, no inverno.
- As esculturas de gelo são bonitas por lá... - Ele disse olhando para cima. Concordei com a cabeça me perdendo em algum lugar também.
- Já se instalou bem?
Em quatro semanas eu tinha conseguido até comer razoavelmente, eu precisava parar de gostar só de atum.
- Ah, tudo bem. Realmente bem.
- O verão começou há poucos dias... Para você nem tanto comparado com onde nasceu, mas vai ficar um tanto quente para nós...
- Eu não gosto de calor, pode ter certeza que não vou gostar.
- Ah, não seja assim! É uma época bonita...
- Acho que sim. - Concordei balançando os pés. Ele morava numa típica casa - ao menos típica para mim - no estilo japonês. Aos fundos, um jardim pequeno fazia tudo ficar bonito. Morava com a mãe, uma senhora simpática chamada Yukiko.
- Já conheceu alguém no trabalho?
- Eu não sou de fazer amizades. - Respondi displicente. E não era. Quem seria por ali? Mas o fato era que eu estava envergonhada demais...
- Não parece ser de onde é. - Ele respondeu com uma risada, sorri acompanhando.
- É melhor eu ir.
- Quer que eu te leve?
- Não. Eu acho que vou andar um pouco por aí. Amanhã não trabalho e acho que vou dormir mais tarde por isso.
- Ande com cuidado.
- Sim...
Saindo da casa de Gennai, eu conseguia chegar a um tipo de parque ou talvez eu pudesse chamar aquilo de praça. Era grande e bonito. Ao final, um rio calmo passava atrás das grades de proteção e atrás do rio, eu podia ver luzes e mais luzes. Por mais tarde que pudesse ficar, acho que elas piscariam para mim até que a luz do sol as ofuscasse.
Debruçando sobre a grade eu senti um vento morno no rosto, o verão era mesmo mais ameno, ao menos até ali. Fechei os olhos ouvindo os sons em volta. Eu sentia falta de casa, mas não o bastante para desistir daquilo tudo e...
Eu odiava cigarro.
Talvez ainda odeie aquela sensação sufocante porém... Foi essa mesma sensação que tive, na primeira noite que o vi.
Foi a terceira noite após a que estive na casa de Gennai, antes do meu próximo dia sem trabalhar. Com o mesmo vento morno do verão. Minha respiração foi interrompida pela fumaça.
Abri os olhos e segui o fio claro a minha frente. À direita, uma silhueta mais alta que eu estava debruçada como eu estava. O rosto virado para cima, talvez encarando as mesmas luzes que eu encarava nas noites. Engoli tentando dissipar a sensação, não melhorou. Me mexi incomodada para o lado, já fechava os olhos de novo...
- É bom, não é?
Abri os olhos movendo-os, procurando a fonte do som grave. Voltei a olhar para a direita e lá, sem mover a cabeça, me olhando pelo canto dos olhos, aquela pessoa me causou estranheza num primeiro olhar. Os cabelos visivelmente não tinham uma cor natural. Estavam e a raiz numa cor diferente. As roupas eram típicas de um playboy ou alguém que gostava de jeans e provavelmente couro em certas ocasiões. As botas sim, elas me chamaram a atenção. A última igual a aquela tinha visto em Matrix Revolution. Que inveja... Porém, não combinava nem um pouco com o clima. Estava um tanto... Desfalcado.
- Desculpe...?
- É bom. - Ele voltou a falar, não era uma pergunta mais, só uma conclusão.
- Hum. - Respondi em dúvida, não via mais ninguém com quem ele pudesse ter falado, mas não sabia ainda se era comigo.
- Mas é ainda melhor na primavera... - Ele voltou a falar. Continuei encarando, perplexa, aquele ser que falava sem desgrudar os olhos de mim. Pelo canto dos olhos, com a cabeça voltada para cima, como se fosse uma estátua.
- Ainda não vi a primavera. - Respondi por um impulso.
- Então não teve muito o que ver. - Ele retrucou, o cigarro balançava com o ritmo rápido das palavras e ele finalmente voltou a olhar para cima.
- Eu nunca cheguei a pensar que tivesse visto muito. - Olhei para cima também, tentando imaginar quantas lâmpadas formavam aquele mundo iluminado a minha frente.
- Então pode dizer que já teve um pensamento racional...
Voltei a olhar para ele, do mesmo modo que ele tinha feito, enrugando a testa.
- E você já viu muito?
- Só o que eu quis ver...
Desviei o olhar.
- E foi muito?
- O que considera muito? - Ele moveu o corpo e tirou o cigarro dos lábios, uma fumaça dançante saiu da sua boca e do seu nariz, eu a acompanhei, pensando.
- Uma coisa nova por dia.
Ele pareceu dar uma risada quando seu peito deu um impulso, mas não consegui perceber quando ele voltou a se escorar nas barras de ferro, com o cigaro na boca de novo. O fio fino de fumaça dançando em volta dele.
- Uma coisa nova por dia... - Ele repetiu. - É, talvez tivesse sido muito se tivesse feito isso.
Fiquei em silêncio olhando para as luzes.
- Quer ver algo novo para a sua cota de hoje?
Olhei para ele pelo canto dos olhos de novo, e como se estivesse imitando, ele também o fazia. Sorri descrente.
- Hum?
- Quer, ou não quer?
Hesitei ainda o encarando. Eu era uma estrangeira, com apenas um amigo e recém chegada. Não era racional sair com qualquer pessoa por ali. Ainda mais um homem que nunca tinha visto. Sabe-se lá o que poderia acontecer?! Certo, não era racional ir para a casa de alguém que tinha conhecido no avião logo no meu segundo dia no país estrangeiro.
- É movimentado... - Ele falou por mim, retirando o cigarro da boca, e voltando a soltar fumaça. - É logo ali, no início do parque.
Me movi olhando para trás, para a rua que passava no início do que para mim era uma praça.
- Quero.
Ele moveu a cabeça num chamado e eu o acompanhei, me certificando de ficar do lado onde a fumaça não me alcançaria. Ele caminhava com as mãos nos bolsos do casaco jeans que não combinava com o verão daquele dia, assim como as botas, olhando para frente e sempre para frente. Por fim paramos na calçada e ele tirou as mãos dos bolsos. Ele as moveu em minha direção e me afastei em resposta.
- Calma... - Ele respondeu erguendo as mãos, o cigarro já no final, balançou nos lábios. Abaixei a cabeça concordando desconfiada. Ele me girou pelos ombros e segurou minha cabeça. Oh Deus, que ele não quebre meu pescoço aqui e agora. - Está vendo?
Tentei girar a cabeça para perguntar, mas ele impediu.
- N-não... - Ele mexeu levemente meu rosto para a direita e apontou de modo que eu pudesse seguir seu braço até o ponto desejado. Olhei em direção a uma loja simples. Pequena e aparentemente aconchegante. A porta estava aberta e provavelmente havia clientes. Mas do lado de fora, sentada comportadamente, havia uma menininha e em seus braços o que de início pareceu um monte de cobertores claros era um bebê.
- Aquela família acabou de ter a segunda filha. A mulher todos os dias recebia o marido do trabalho a essa hora, ele já deve estar chegando. Faz cinco dias que ela voltou do hospital, e já está trabalhando. A menininha senta durante alguns minutos do lado de fora com o bebê quando está muito movimentado. - Ele falou lentamente, abaixando o braço, sua mão ainda segurando meu rosto. Ele aproximou a cabeça da minha e eu pude ouvir a diferença do tom em sua voz ainda grave. - Você vê o que aquele bebê representa?
Enruguei a testa tentando me mover de novo, ele voltou a impedir. Um bebê...? Para todo mundo provavelmente significava o futuro, não é? São o que todos dizem que são as crianças...
- Fut...
- Não. - Ele me interrompeu. Sua voz tinha uma tonalidade distraída, mas me incomodava. Voltei a olhar a menininha, balançando as pernas sentada no banco de madeira, e olhando sorridente para o bebê em seus braços. - Pense... No que ele se tornou, dentro da mulher que o gerou.
Uma mulher gera a vida. Foi uma vida gerando a outra... O que ele queria com aquilo? Eu não era a garota acostumada com a idéia de ter filhos, na verdade, eu ainda gostava de cachorros. Como tal...
- Vida. - Respondi cansada, eu não entendia aonde ele queria chegar. Aquele cara estranho com um jeito estranho cheirando a cigarro.
A mão dele soltou meu rosto e pude me virar de imediato para encará-lo, procurando uma resposta. Só então pude ver a cor dos seus olhos, , uma cor viva e brilhante.
- Pronto. - Ele respondeu dando uma última tragada no toco de cigarro e jogando-o para a rua. Ele sorriu, e dentes bonitos para alguém que fumava apareceram por trás dos lábios bonitos que soltavam fumaça. Ele não me olhou depois disso.
- Pronto...? O quê?
Ele moveu os olhos na minha direção e o sorriso diminuiu como se estivesse se escondendo de mim.
- Acabei de te mostrar a vida. É melhor começar a vivê- la.
Ergui as sobrancelhas tentando absorver a mensagem dele. E paralisada observei ele se virar e caminhar para longe sem se despedir. Voltando a enfiar as mãos nos bolsos da jaqueta, andando num passo calmo...
Foi um completo estranho, quem me apresentou a vida.
Só não sabia que aquilo era a primeira aula de como vivê- la.
No dia seguinte, era difícil não pensar naquilo. Eu ia ali todas as noites que podia e demorava nas vésperas dos dias sem trabalho. Eu falava com a minha mãe pelo celular dali, de vez em quando. Nunca tinha visto alguém se debruçar nas grades como eu. Talvez fosse comum demais para todos. O rio, as luzes, tudo. Mas não para mim. E não seria comum aquele cara estranho, falando coisas estranhas. Eu vivia. Sempre vivi. Como eu tinha chegado até ali sem viver? Porém... Quando se vê um bebê, e pensa no que ele já foi e no que será. Não é mecânico demais, tudo que fazemos?
Como por exemplo, voltar no mesmo lugar dali a uma semana, depois de dias sem ânimo o bastante para ir e encarar as luzes, porém... Com um objetivo a mais? Quem fez a regra de, quando encontramos algo diferente, que não nos machuca, esperarmos pela mesma coisa da próxima vez? Por que ter que acontecer de novo...?
- Quantas coisas viu de diferente, na última semana?
Não era um fantasma, pois me tocava e era quente. Mas não sabia como ele tinha chegado, sem fazer barulho. Hoje, ele não estava de casaco e botas, e hoje, ele não estava fumando. Mas ainda eram os mesmo cabelos caídos em volta do seu rosto e os mesmo olhos. O olhei assustada, apertando as grades a minha frente.
- De onde você saiu?!
- Hm... - Ele respondeu virando o rosto e olhando para as luzes. Balancei a cabeça incrédula. Pessoas estranhas existem. - Desse jeito nunca será o bastante.
Pisquei os olhos tentando dissipar a imagem dele da minha frente, não era normal!
- O que?
- Nunca verá muito. - Ele abaixou a cabeça e me olhou virando o corpo para mim. - .
Estendeu a mão para mim, observei tentando encontrar a minha para apertá-la.
- . - Eu não gostava do meu nome. Não que qualquer parte fosse feia, mas... O conjunto, o conjunto não era bonito. Balancei a cabeça confusa. - Não... . - É, um país estrangeiro não tinha melhorado isso. - . - Falei por fim. A expressão dele não mudou muito quando soltou minha mão.
- ... - Ele repetiu. Voltou a se virar e se debruçar nas grades.
Também voltei a me debruçar, e ficamos em silêncio observando o que sempre observávamos. Independentes do outro, mas cientes da presença.
- Por que disse aquilo?
Ele não me olhou e nem respondeu. Encarei o silêncio como uma dúvida sobre o que eu estava falando.
- Por que disse que era pra eu começar a viver?
Ele moveu um pouco a cabeça, bem pouco na minha direção, mas ainda continuou olhando para frente.
- Para que não perdesse nada. - Ele respondeu devagar. Arqueei uma sobrancelha. - Você disse que não viu muito, então viveu pouco...
Respirei fundo, mantendo a linha de raciocínio. Ele me impediu de continuar.
- Vem. - Ele disse depois de empurrar o corpo para longe das grades e estender uma mão para mim.
- Ir? Aonde?
- Ver...
Eu o vi sorrir pela segunda vez e não consegui impedir que meu sorriso também saísse.
- Onde?
- Importa?
Não... Eu não conseguia me importar se fosse com ele. Desde aquele dia. Que ele me mostrou o que era a liberdade, apenas por andar pelas ruas, de mãos dadas comigo. A outra enfiada no bolso da calça fazendo com que a camisa larga e fina, num tom claro tivesse que subir um pouco. Ele parecia confortável com a pequena abertura no peito, parecia fresco. Parecia mais livre do que eu me senti andando com ele, aquele desconhecido chamado .
Ele era filho de alguém com uma boa vida, que gostava de música, que tinha tudo. Ele tinha um rosto bonito e um corpo forte, e ele era quase vinte anos mais velho do que eu. Ele era calado, mas falava nas horas certas... Ele me levou até em casa e então foi embora. Sem se despedir de novo. E eu fiquei paralisada... de novo.
- Vê? - Segui mais uma vez seu braço, ele me abraçava com a cabeça em meu ombro, olhei a ponta do seu dedo, que dava em uma estrela.
- Uma estrela?
- Não. - Ele respondeu. Eu não era nenhuma pessoa vazia de sentimentos, mas era difícil ouvi-lo, tão perto, tão grave... E não se arrepiar e claro, pensar ao mesmo tempo.
- O quê?
- O passado... o pó. Talvez essa estrela já não exista mais e sua luz ainda chega até nós.
Entortei a cabeça encarando a luz brilhante e bonita.
- O pó...?
- Sim... As estrelas nos mostram que mesmo que algo não exista mais, ainda pode ser bonito. Ainda pode iluminar o coração de alguém. Ainda pode nos emocionar... Ainda pode, brilhar. Pode-se ter algo bom, mesmo que não esteja mais aqui...
Me virei para olhá- lo. Estávamos no outono. Eu já não sabia quantas noites tínhamos saído. Ele sempre me mostrava algo e sempre dizia coisas em que nunca tinha pensado. Ele sempre estava como queria, ele sempre fazia o que queria. Ele tinha me beijado na décima noite, e dito que tinha me apresentado o desejo.
- Até quando acha que ela vai continuar brilhando?
- Até ter alguém para se lembrar do brilho.
- Você acha?
- Acho... - Ele alisou meu rosto e pegou minha mão. - Não é isso que vou mostrar hoje.
Ergui as sobrancelhas o seguindo aos tropeços. Era a minha primeira vez na torre de Tóquio. E ele já queria me tirar dali?
Nós pegamos o metrô e voltamos para onde era a casa dele. Eu tinha ido lá cinco vezes em todas as noites que nos encontramos. Era uma casa nem grande nem pequena. Tranquila e iluminada, com um piano de calda no canto que me fazia inveja, cds e uma tv grande. Não era comum para mim. Andamos para uma rua próxima a ela, e ele parou na esquina me puxando para outro abraço. Continuei entortando a cabeça para enxergar seu rosto. Ele olhava para frente, como sempre.
- Vê?
- O quê? - também olhei para frente. Pude ver um casal de idosos, sentado num banco branco de madeira, ao lado de um portão. - O que vê?
Dessa vez eu parei para pensar, mas era difícil pensar como ele. Fiquei em silêncio e pude sentir os lábios dele no meu rosto.
- Não consegue... Ver?
- Eu acho que... - Parei de falar de novo, sentindo o abraço dele, e observei os dois sentados mais a frente. Estavam sentados, apenas olhando o tempo, apenas observando a noite. De mãos dadas, numa paz conjunta, harmoniosa. Era... bonito. - União...
- Amor... - Ele continuou devagar. Senti o hálito dele na minha bochecha. - Hoje pode dizer que te apresentei o amor...
Me virei pra ele e de novo o sorriso apareceu. Imaginei se era normal, existir alguém como ele. Imaginei como ele seria na minha idade. Como seria mais novo. Acho que... A mesma coisa. Ele não tinha cara de alguém de trinta anos. De quase quarenta. Ele era bonito. Era sensual. Era único.
- Errado. - Eu respondi depois de tocar seu rosto. Ele não mudou de expressão como sempre, mas os olhos, eles sempre falavam por ele.
- Por quê?
- Porque você já me apresentou isso, no mesmo dia em que me apresentou a vida.
Os olhos deles se apertaram levemente no que era aquele sorriso escondido que ele sabia fazer. E me puxou em direção a casa dele. Até ali, ele nunca tinha feito nada fora da hora. Eu ainda me contentava em apenas beijá-lo. Por isso dormir aconchegada no peito dele, era suficiente. Para mim, era algo que ia além do que qualquer um desejasse.
Com a chegada do inverno, eu estava sentindo pela primeira vez frio o bastante para tremer apenas ao sair de casa. Os feriados no Natal me deram tempo de conversar com minha mãe e de ficar mais tempo com ele. Ele não falava muito sobre a família, e até ali eu conhecia dois amigos dele. Genpachi era engraçado, e um pouco mais novo. Jun, era ainda mais novo, mas muito mais sério. Eu conseguia ver a transição em . Eu sabia que ele era bom em tocar instrumentos, mas até ali ele nunca tinha mencionado nada sobre tocar algo na minha frente. E por isso eu nunca tinha perguntado. Seria estranho. Pois eu sabia que caso ele quisesse, estava esperando o momento certo.
O momento certo. Eu nunca precisava esperá-lo, porque com certeza era a hora certa de alguma coisa quando eu estava com ele.
- Você está calada hoje. - Ele falou depois de tocar os meus lábios. Eu estava deitada em seu colo, na varanda olhando para cima. Um cobertor grosso me cobria. Movi os olhos para olhar o rosto dele.
- Eu estou?
- Sim.
Sorri erguendo a mão tentando encontrar os lábios dele, ele segurou minha mão primeiro.
- O que já viu hoje?
Não respondi de início, eu via coisas diferentes a cada minuto com ele. Cores novas... Sensações novas...
- Não sei dizer...
Ele voltou a alisar meus lábios e me segurou antes de levantar e me puxar para junto dele. Me levou até o piano de calda que até ali sempre esteve em silêncio no lugar de sempre e me sentou no banco antes de sentar ao meu lado.
- Gosta?
Olhei para ele levantando a tampa e concordei com a cabeça. Ele deu outro sorriso escondido.
- Sabe do que eu mais gosto na noite?
- Do que?
Ele me olhou teclando levemente uma nota.
- A lua...
- Estrelas... - Eu respondi sem pensar. Eu gostava das estrelas e ele da lua.
Ele sorriu tocando uma seqüência de notas que para mim que não sabia diferenciá-las, pareciam doces e bonitas.
- Quando se pensa naquilo que gosta, e que ama... A mais bela das músicas surge no seu coração. - Ele falou devagar, observei seus dedos ágeis nos teclados. A música pareceu aumentar, e encher toda a casa, pareceu me esquentar, e eu podia entender o que ele estava dizendo. Fiquei em silêncio escutando, tentando preencher cada parte do meu corpo com o som. - Eu já fiz uma melodia para a lua. - Então sorriu tocando mais lentamente, e eu olhei para ele procurando a continuação.
- E agora, que melodia está fazendo?
- A sua...
- E é diferente?
- Não... - Ele respondeu. - Para mim você é como a lua.
- Por quê?
- Brilha como a luz do sol, mas me conforta todas as noites.
Sorri sentindo meu rosto queimar como se fosse uma adolescente e ele gargalhou, como tinha feito durante muitas vezes ao meu lado.
- ...
- Hum?
- Você é minha estrela então...
Ele ficou em silêncio ainda tocando a melodia tranqüila. Segui suas mãos com os olhos.
- Mesmo que eu não possa ver durante o dia... Continua brilhando... Mesmo que um dia se vá, continuará brilhando...
Ele parou de sorrir e eu não encarei seu rosto sério. Não era uma seriedade que me me preocuparia. Ele parou de tocar e suas mãos descansaram sobre o teclado. Ele olhou meu rosto por um tempo.
- Por que demorou tanto?
- Me desculpe... - respondi alcançando seu rosto com os dedos.
Ele fechou os olhos deixando que eu contornasse todo o seu rosto.
- Eu te amo.
Meus dedos hesitaram e ele abriu os olhos. Nunca tínhamos dito aquilo um ao outro. Talvez porque soubéssemos, talvez porque não sabíamos... Sorri voltando a encostar em sua pele.
- Eu também te amo.
Ele sorriu segurando meu rosto com as duas mãos.
- O que vê?
Encarei seus olhos astutos, sorrindo.
- ...
Ele me beijou. Um beijou mais terno, mais quente. Eu sabia que já tinha sido casado.
sabia que ele não era meu primeiro relacionamento.
Mas sabíamos que nunca, ninguém sequer tinha chegado a ser o que éramos para o outro.
Ele me puxou para fora do banco e me abraçou deitando minha cabeça em seu peito antes de me pegar no colo, prendi a respiração observando o
caminho, e quando ele se apoiou em volta de mim, deixando o corpo sobre o meu em cima de sua cama, eu voltei a respirar, sentindo o cheiro da
pele dele que sempre parecia ter saído do banho. Ele ainda estava com algum cheiro do cigarro de mais cedo, mas até mesmo esse tinha um cheiro
bom.
- Hoje, eu quero te mostrar outra coisa.
- O quê?
- Prazer... - Ele sorriu de uma maneira um pouco infantil e eu correspondi tocando seus lábios.
Era doce, como a canção para a lua que ele cantou depois.
Depois dos sete meses de trabalho eu consegui aumentar meu tempo por lá com uma negociação. E depois de mais doze meses, descobrindo uma
coisa diferente a cada dia, me apresentou um anel bonito em prata com uns desenhos desordenados que
me lembravam flores. É um tanto democrático se casar com um estrangeiro. Mas, não era tanto viver com o ... Não era estar com ele. Eu não sei quantas coisas eu vi de diferente na minha vida, mas foram muitas. Foram muitas até o dia em que
ele dormiu ao meu lado, sorrindo ao me apresentar a lembrança. De todas as coisas que ele achava importante. Como me apresentar cores numa flor
seca, me apresentar o gosto até mesmo na água. Me apresentar a voz do vento...
Não posso dizer que reagi bem ao acordar sem ele abrir os olhos logo depois de eu me mexer e dizer bom dia. Mas eu fiquei feliz de saber que ele não
tinha sofrido. Apenas dormido... Eu o achava bonito até mesmo com um cigarro na boca. Aquele que eu odiava. E que tinha me levado ele. "Pode ser
causa do cigarro" me disseram. Era normal para eles, o ir embora... Eu chorei tanto que fui apresentada a
sensação de sentir dor sem lágrimas para expressá-la. Eu voltei para casa, depois de muitos anos longe de tudo que conhecia e descobri que
precisava ser apresentada a aquele lugar estranho. Com a visão dele...
E voltei para a casa... A nossa casa depois de mais alguns anos. Esperando...
Ele era a minha estrela afinal.
Mesmo sem estar ao meu lado, eu ainda via o seu brilho. Eu ainda me emocionava com sua presença, e ainda me alegrava com sua luz.
Era fácil olhar para cima e encarar a lua, cantando a música que ele tinha me ensinado.
Era difícil esperar, tão ansiosa, para encontrá-lo de novo. Quando eu finalmente deixasse de ser iluminada pelo sol.
E fossemos de novo, lua e estrela.
E eu pudesse chegar a beira de um rio, me escorando nas grades olhando para luzes e amar outra vez, um estranho com jaqueta e botas no
verão.
E inconscientemente dizer eu te amo.
Será que há mesmo um fim?
Tsuki no Uta (Tradução)
Gackt
"Canção da Lua"
Camiseta brilhando um puro branco,
Um arco- íris recobrindo um borrifo,
Distraidamente eu contemplo mais uma vez,
O céu onde vários ventos brincam
Nada era felicidade para nós sozinhos
Afundando mais densamente, mesmo meu coração afogado,
Agora neste lugar eu contemplo apenas você,
Se isso é um sonho que nunca retornará, então o quebrarei,
Incapaz de esquecer, quero encontrar você mais uma vez
Colocando miragens lado a lado,
Reunindo suas sombras
Continuo a esperar enquanto as mãos do tempo permanecem congeladas
Noites sem dormir e manhãs sem vista,
Sua favorita canção da lua
Sem aviso mesmo seu corpo me deixou para trás,
E agora apenas eu estou deixado neste lugar,
Eu acredito que podemos permanecer juntos sem mudar
Como aquele tempo, uma vez de novo, eu amei...
Hoshi No Suna (tradução)
Gackt
"Pó de Estrela"
Vai se pondo profundamente...
Sol que queima o céu e o corpo que estavam cobertos...
Você vai sumindo,
O que peço enquanto estou perdido? Este eu solitário
Abraçando o ódio que se encontra no fundo destes olhos frios,
Com raiva de mim mesmo, mas mesmo assim a dor não desaparece,
Abraçando a tristeza que vive eternamente,
Apenas penso em você que sumiu,
Eu não tenho nada pra mudar e os meus pensamentos a você,
Profundo profundo agora também,
Isso... estou te amando,
O seu nome que pronunciei enquanto era iluminado pelo luar foi,
tocado pelo vento e sumiu,
Continuo cantando a música que você me ensinou
enquanto sorria no amanhecer,
Estava contando as lágrimas voltadas para o céu estrelado,
Várias e várias vezes apenas relembrava a noite,
Ah... profundo profundo agora também,
Isso... estou te amando.
Fim.
N|A: Pois então, mais um resultado de uma mente com problemas... HUAUHHAUHUA, E de um cantor estranho com uma voz linda e uma boca maravilhosa, ain. :x
Eu dedico essa fic a minha memória, que é uma merda e ao pc da Luh, que sempre guarda tudo que eu tenho (?) HUAHUAHUHUAHUAHU Mesmo sendo
fics de mil anos atrás e que só a Luh tem. E pra ela também, que sempre lê com paciência minhas coisas e me atura no msn há mais de quatro anos.
Eu amo tanto você. '-'
Eu também quero usar essa fic pra agradecer MUITO MUITO a todas as pessoas que leram I Don't Wanna Miss a Thing e comentaram. Eu fico tão
feliz, mas tão feliz que me faltam palavras, sério. D: Primeiro porque nunca gosto das minhas fics (odeio todas). Segundo porque, ela em especial me
dá nervoso porque escrevi há tantos anos e eu não conhecia os pronomes. (?) UHAHUAHUHAUHUAHUAHU Esqueçam, cisma minha. O que importa é
que me deixam mais que feliz, me deixam flutuando com seus comentários.
E não, não é nenhuma tara minha matar meus homens, mas é que meu Romeu tem que morrer. /piadainfame.
OK, relevem, nem sempre será assim, eu acho. '-'
Desculpa pelo desenho monstro lá em cima, eu não sei desenhar pô /chora
Enfim, enfim mesmo, O B R I G A D A. Beijos não me liga que não sou SAC. /traumadeexoperadoradetelemarketing.