por Paula N | betada por Line
revisada por Lelen


PRÓLOGO

Percebi então, que cada plano é uma pequena prece para o senhor tempo fazer exatamente o contrário. Cada única linha que escrevíamos ditando nosso maravilhoso sonho, parecia agora ser apenas um estímulo para que as coisas acabassem antes mesmo de começarmos a planejá-las. O tempo entendeu errado, ele fora apressado demais, tirando você de mim.

- ! ! Pára! – eu gritava em meio a múltiplas risadas enquanto ele ainda decidia para qual ladeira pretendia se aventurar. No entanto, se limitava a rir descontrolamente, talvez meu desespero misturado com euforia fosse a peça mágica que deixava toda e qualquer situação engraçada. Mas eu sabia o que fazia todo momento parecer sempre seguro, certo demais. conseguia transformar qualquer atitude estúpida ao algo apenas "legal". Era insano, doentio, mas eu gostava de perder o equilíbrio com ele. Então, sempre que podíamos – e nós sempre demos um jeito para que pudéssemos –, nós nos permitíamos a dizer que viver a vida intensamente se tornara algo rotineiro para nós, e não apenas uma frase de efeito, muito menos uma promessa corriqueira de quem queria aproveitar a vida por saber que morreria no dia seguinte, apesar de que isso aconteceria conosco. Comigo e com ele.
- Achei que você já estivesse acostumada – assisti voltar a rir assim que nós paramos a bicicleta numa calçada plana. Ele desceu do banco principal e veio até mim, que estava no assento de trás do nosso ilustre automóvel. Virei-me de modo que ele pudesse envolver minha cintura em seus braços e olhar-me nos olhos.
- Você sempre me surpreende! Parece ser aquela surpresinha que vem no ovo de páscoa, sabe?
- É que você não vai se lembrar de um cara entediante – ele fingiu ter uma cara tristonha. – Então, eu preciso ser o mais interessante possível, assim você nunca vai me esquecer, certo?
- Até parece – sorri, meio nervosa. O fato de encarar tranquilamente aquilo que um dia mudaria nossas vidas, me deixava especialmente intrigada. Como ele conseguia ter toda essa paz, mesmo sabendo que nossos destinos estavam traçados para ter um fim? Eu tentava parecer irrelevante neste assunto, mas a minha transparência não me deixava mentir. Eu estava infinitamente mais preocupada. – Não preciso que faça coisas loucas para que eu sempre me lembre de você.
- Desde o dia em que nos conhemos, eu nunca me esqueci de você, sabia? – ele confessou.
- Hmmm, foi o que Sarah disse? – e eu comecei a nossa velha brincadeira. Sempre que tínhamos algo embaraçoso para contar um ao outro, colocávamos a desconhecida Sarah como intermédio. Era um jeito bobo de deixar as palavras mais leves e as broncas mais suaves, mas ao menos funcionava.
- Foi. E sobre aquele dia para você, o que foi que Sarah disse?
- Ela disse que também nunca se esqueceu – sorri para ele. - E sobre o skate quebrado, o que Sarah disse?
- Ela disse que isso deu um grande prejuízo – ele me fez uma careta engraçada. – E sobre a dama de preto estranha, o que Sarah disse?
- Ela disse que também sentiu medo, mas que não acredita em conselhos alheios. E sobre a torre de Calgary? – temi por um momento que ele não se lembrasse mais.
- Ela disse que foi inesquecível. E sobre o que sentiu quando eu te pedi em namoro?
- Disse que foi um sentimento único e singular. E sobre nossos dias juntos?
- Ela disse que também foram únicos, mas no plural. E sobre o nosso amor? – começara a ficar sério, mas havia algo diferente no seu sorriso. Havia ternura, e pela primeira vez, medo.
- É o meu presente, passado e futuro – encarei aquele rosto o qual eu queria eternizar. Senti meus olhos lacrimejarem e meu lápis dando resquícios de que borraria a partir dali.
- Eu te amo, – ele me abraçou e afundou sua cabeça em meu pescoço. Seu choro começara a estimular gradativamente o meu, e em questão de poucos segundos, estávamos ambos no mesmo estado depreciativo. Ao contrário de muitos casais, sozinhos nós conseguíamos ser fortes, mas a nossa junção deixava-nos fracos, impotentes.


Eu preferia encarar meus sapatos fedendo a mijo, a ter que sentir que você estava indo cada vez mais longe de mim. As fracas batidas do seu coração mostradas naquele maldito monitor indicava o meu enfraquecendo junto do teu, mesmo que figuradamente. Quase entendi que nós acabaríamos ali, porque eu sem você era algo inexistente, ainda não inventado.
Controlava minha respiração a fim de não desabar, de fingir poder suportar mais um pouco daquela dose de dor. Porque se você pudesse estar aqui, eu teria certeza de que todo sofrimento seria trocado por sorrisos, que toda lágrima viraria brilho em seus olhos. Mas eu não podia fazer uma troca. A vida não era um capital a ser negocioado.
Enquanto eu te encarava do outro lado do vidro, a minha íris parecia estar desapontada ao buscar pela sua cor. Tua pele branca já não demonstrava sinais de pureza ou saúde. Minhas pupilas dilatavam na medida que ficava mais difícil ver o quão sua alma ainda estava ali. E nós continuávamos a parecer um imã. Ou você já não se sentia mais atraído pela minha presença? Porque honestamente, eu já sentia a falta da sua.
Me dirigi à sala de espera com a esperança de alguém me chamar e dizer-me que você estava bem, que estava reagindo aos remédios ou a qualquer coisa que tivessem injetado em você. Entretanto, procurar por palavras doces num lugar onde só dizemos adeus parecia ser um paradoxo cruel.
Peguei nossa foto, daquela última vez que andamos de bicicleta feito dois jovens inconsequentes. Queria ter eternizado aquele momento, mas materialmente, apenas consegui preservar sua imagem numa foto escura. Lamentável mesmo seria acreditar que nossas lembraças seriam gravadas por uma câmera defeituosa em nossas mentes. Afinal, tudo estava nítido na minha cabeça, mas será que ainda estava no seu coração? Eu gostaria que cada parte da nossa aliança ficasse cravada não só numa jóia preciosa, mas em cada canto no qual eu me lembraria de você. E eu sabia, que isso aconteceria.
Mas a dor deveria emitir gritos, e a saudade transbordar o choro, no entanto eu estava estagnada no vazio, no nada. A ausência de emoções que eu pudesse distinguir me matava além da parte do meu corpo que já estava amortecida. A parte que você preferiu guardar para si.
E isso incomodava, como se as nossas memórias tivessem sido transformadas em feridas abertas, como se o nosso amor estivesse sendo morto e mergulhado no sangue. E nós sabíamos que não era nada disso, eu só estava sentindo a sua falta, mais uma vez. E você continuava a ficar mais gélido, na proporção que eu ficava menos aquecida, e eu nunca achei que isso fosse me machucar além do meu físico.
De qualquer maneira, não existe conforto numa sala de espera, apenas passos nervosos esperando por más notícias.

- ? – ouvi a enfermeira chamar por mim, e automaticamente todas as cabeças levantaram para olhá-la. - Ele acordou. Quer falar um minuto com você, pode me acompanhar?
Senti uma onda de frescor invadir minhas veias. Ali, eu senti felicidade.
- Hey... – percebi que tentou sorrir para mim quando eu adentrei a pequena sala onde estava. Apesar de fraco, eu senti a máxima sinceridade naquele gesto, e ali eu senti pureza.
- Hey! – tentei parecer um pouco mais animada do que eu estava. Na verdade, eu não sabia ao certo o motivo pelo qual eu estava feliz, eu só sentia uma tremenda sessão de arrepios nervosos onde a única coisa que você sabe, é que algo irá acontecer. Talvez ali, eu tenha sentido medo.
- Você sabe por que eu te chamei aqui, não sabe?
- Eu deveria saber? – eu sabia, mas eu ainda podia arriscar, fazê-lo mudar de idéia.
- Eu sei que sabe... - ele conseguiu sorrir! – Eu tenho que me despedir.
- Você... Você não precisa fazer isso agora, nós ainda temos um tempinho – sentei-me ao lado da sua cama, e me apressei a afagar seus poucos cabelos em minhas mãos trêmulas.
- , eu parei a quimioterapia por quê?
- Porque você é um irresponsável, foi por isso – eu ainda não tinha me conformado com aquela decisão. Foi como se ele tivesse jogado fora nossa única maneira de continuarmos vivos.
- Não, foi por que eu achei que fosse mais fácil, mas... - ele me olhou um longo tempo nos olhos. – Mas não está sendo nada fácil.
- Eu costumava desistir rápido das coisas, . Você se lembra da nossa primeira semana de namoro? Eu queria terminar no segundo dia! Mas eu juro, que não posso desistir fácil de você agora – apertei sua mão e ele a levou em seu peito, ainda sorrindo para mim.
- Não é algo que você tenha que desistir ou não, você só precisa aceitar, você sabe...
- , por que você fez isso?
- Meu amor, um dia todos nós iremos morrer. E o nosso amor... - ele travou ao tentar dizer. Nosso choro entalado esperaria, pois as palavras estavam furiosas por quererem sair de nossas bocas, enquanto houvesse tempo.
- O amor é nosso passado, presente e futuro – completei, com dificuldade. – Principalmente o nosso futuro. Você ainda se lembra, não lembra?
- Foi o que Sarah disse, não foi? – concordei com a cabeça. – Bem, talvez ela estivesse errada quando disse isso, acho que ela hmm... mudou de idéia – fiquei surpresa por ainda se lembrar da nossa brincadeira particular, qual a única função era dizer para o outro através das entrelinhas, o que tinha de mais estranho e sincero em nossas mentes.
- Ela mudou? – perguntei apreensiva.
- Yeah, ela mudou... - e sua voz já não passava de um sussurro. – E agora eu estou pensando no que Sarah disse... - não poderia descrever aquela sensação, e nem seus olhos que pareciam vigiar o meu espírito. Concordei com a cabeça, sentindo que eu não deveria fazer aquilo, já que seria o último passo para deixar claro que a hora havia chegado e eu não podia adiar mais. Ao menos você era a verdade que eu preferia perder, a nunca ter tido ao meu lado. - ... que o amor é assistir alguém morrer.

FIM?
Nota da autora: “Então quem vai te assistir morrer?” OWN GENTE, é isso, minha primeira short fic no FFOBS.
A fic foi inspirada na música "What Sarah Said" – Death cab for cutie, e eu pretendo sim fazer uma continuação. Mas só pro caso da continuação sair e vocês não ficarem sabendo, já adianto que o nome também é de uma das músicas do Death Cab, então fiquem ligadas! Também avisarei pelo meu twitter (@_pahh). Enfim, queria agradecer a todo mundo que vai ler isso aqui, porque eu queria fazer meio mundo chorar (hehe) mas não sei se meu drama teve muito sucesso. By the way, eu espero que tenham gostado!
Thanks Joanna por de algum modo muito estranho me incentivar a escrever minhas fics, Thanks May porque eu sei que vc vai comentar porque eu vou te obrigar a fazer isso e thanks Carol M. por ler isso aqui antes de todo mundo HAUHUHAH. E não se esqueçam de comentar, eu quero saber de verdade o que vocês acharam!
Beijos beijos (Paula N. O4|O4|2O1O)

Minhas outras fics:
Revenge is Sweeter (McFLY – Andamento)
Delorean com a Carol M. (McFLY – Andamento)

Nota da beta: Combinação perfeita: uma fic escrita pela Paah + Death Cab. E fiquei triste :'(
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