por Linah Judd e Thamih Jones | betada por Mari Morgon
revisada por Lelen

Prólogo


Conheço desde que tínhamos por volta de uns cinco anos e estudávamos juntos. Ficamos juntos durante um ano, antes que me mudasse de escola.
Cinco anos depois achei que estaríamos juntos novamente, por estarmos na mesma escola agora. Mas fomos para classes diferentes.
Por algum tipo de ironia do destino, no terceiro ano, nós estávamos na mesma classe de novo.
Não era como se nunca tivéssemos nos separado, afinal, nós éramos apenas crianças naquela época. Mas nossa reaproximação foi acontecendo aos poucos. Foi um choque quando percebi o quão próximos estávamos e ainda mais perceber o quanto doía o ver tão triste. A namorada dele havia terminado com ele e, mesmo ele não caindo no choro em meu ombro, eu podia perceber como as coisas estavam diferentes. Eu tentava me aproximar mais para tentar animá-lo. Mas, quanto mais eu tentava me aproximar, mais ele me distanciava com seu silêncio. Com isso, nossa relação foi mudando, nós nos falávamos menos. Ainda assim, quando nos falávamos, ele vinha cheio de gracinhas, com os amigos dele sempre rondando.
De início, isso não me incomodava, realmente. Não até eu perceber que meus sentimentos estavam... Fortes demais para o que aquela amizade podia sustentar.
Mas é claro que isso não ajudou em nada. Além de ter que suportar o que eu sentia calada, os amigos idiotas do notaram o que eu sentia por ele – provavelmente, pelo jeito retardado que eu agia quando estava perto dele – e começaram com as piadinhas toscas para cima de mim. E o que ele fazia? Se ele se metia no meio para me proteger? Ah, claro, meu belo príncipe no cavalo branco, apontando a espada para o dragão. Me poupe. Ele só tinha dois tipos de reações: ele fingia que não era com ele ou ajudava nas piadinhas de mau gosto.
Até o final daquele ano, estava na lista dos mais galinhas da escola. Isso era uma coisa que eu nunca esperei dele.
Tudo isso foi se acumulando para cima de mim, fazendo com que o ódio e a repulsa disputassem lugar com o desmerecido amor dentro de mim.


Capítulo Único



Era um dia chuvoso de dezembro, e eu estava estocada em casa, lamentando pela vida. Eu não sabia o que era pior: ir à aula e ter o que fazer, mesmo tendo que aguentar aqueles panacas me zoando, ou ficar no tédio de casa, tendo tempo para pensar na rejeição exposta, a qual eu sofria.
Ainda bem que minhas amigas não desistiam de mim tão fácil quanto eu mesma fazia. Quando estava com elas, tudo parecia colorido e engraçado de novo.
E lá estavam elas, no meio da tarde e da chuva, buzinando em frente à minha casa, berrando para que eu saísse logo.
Pelo menos, elas tiveram o bom senso de me levar a uma Starbucks e pedimos um belo chocolate quente. É isso aí, que se danem as calorias.
Estávamos em uma acalorada discussão sobre qual filme iríamos assistir, quando saíssemos dali, quando a porta do estabelecimento abriu, roubando minha atenção. Com a beleza ainda mais estonteante do que minha lembrança fora capaz de guardar, lá estava ele, parecendo procurar por alguém.
Sentindo o ódio se manifestar dentro de mim, me levantei e comecei a dizer as meninas que queria ir embora, alegando cólica. Elas nunca se negariam a ir embora com essa desculpa, e eu sabia disso. Não que eu ainda gostasse dele, longe disso, mas também não estava disposta a assisti-lo se agarrar com a próxima vadia que pudesse aparecer.
Com o resto de dignidade que ainda me sobrava, passei por ele, na cola de minhas amigas, ignorando-o totalmente. Após alguns passos com as gotas geladas de chuva tocando minha pele e molhando meu cabelo, senti que estava sendo seguida.
A irritação gritava tão alta dentro de mim que não agüentei e virei para trás, me deparando com agora à minha frente.
- Oi – ele cumprimentou, despreocupado.
- Oi – respondi, de má vontade, mas minha mãe havia me educado o bastante para que eu respondesse.
Eu me virei de volta a meu caminho.
Ele correu e se postou a minha frente, me impedindo de seguir em frente.
- Preciso falar com você – ele disse, me encarando.
- Mas eu não quero falar com você, muito obrigada – tentei desviar dele, mas ele continuava impedindo meu caminho.
- Deixa de ser infantil e me escuta – ele reclamou, aumentando o tom de voz.
Isso me irritou ainda mais. Quem ele pensava que era para falar alto comigo?
- Criança?! – sorri, ironicamente. – Não sou eu por aqui quem sempre fica fazendo piadinhas sem graça – aumentei meu tom de voz, no mesmo volume que ele havia usado há pouco. – Não sou eu quem fica brincando com o sentimento dos outros. Agora, me deixa passar!
Ele não se moveu.
- Qual é, duvido que você não achasse engraçado – um sorrisinho brincou no canto de seus lábios.
- Se toca, ! – eu fazia movimentos bruscos com as mãos, tentando expressar minha raiva de algum jeito que não fosse batendo nele. – Era ridículo, sempre foi!
- Vai me dizer que você não sentia ciúmes ao me ver com outras garotas, que nunca desejou estar no lugar delas? – ele perguntou, presunçoso.
Eu sempre duvidei ser capaz de matar outro ser humano, mas, agora, estava certa de que seria totalmente capaz de matar . Afinal, ele nem mesmo podia ser considerado humano. Ele era um monstro, e estava acabando comigo. Meu sangue borbulhava, carregando ódio por minhas veias e eu sentia um buraco fundo dentro de mim, uma angústia inexplicável enquanto encarava seus olhos. Batendo o pé, dei a volta nele, tentando sair de perto dele. Mas ele segurou meu braço.
- Me solta – cuspi, entre meus dentes cerrados com força.
- Não, preciso te dizer uma coisa – ele se aproximou repentinamente de mim, me deixando estática, e selou nossos lábios.
No início, apenas fiquei perdida, sem saber o que fazer e sem me dar conta do que estava acontecendo. Mas ele não desistiu, até que eu finalmente cedi, abrindo meus lábios e dando passagem para sua língua em um beijo calmo. Senti suas mãos quentes me puxarem pela cintura, enquanto a chuva fria se intensificava, e me juntando fortemente a seu corpo. Tudo mais se dissipou de minha mente, enquanto eu sentia ondas de choques eletrizarem todo o meu corpo.
Até que as lembranças de que tudo o que ele me fizera de ruim me daram um choque de realidade, e eu me afastei bruscamente de seus lábios.
- ME SOLTA! – gritei, tentando inutilmente me livrar de seus braços, que me envolviam. – Te odeio, !
- Mas eu te amo, – ele disse, calmamente, e eu cometi o erro de olhar naqueles profundos olhos , me perdendo neles. – Sempre te amei e sinto muito se o meu jeito de camuflar isso te magoou tanto. Eu não queria admitir isso nem para mim mesmo, mas... simplesmente não consigo mais lutar contra isso. O que eu sinto por você é mais forte do que qualquer outra coisa que eu já tenha conhecido – continuei estarrecida, alguma coisa crescia dentro de mim. – Eu tentei de todos os jeitos me livrar disso: saí com todas as garotas que pude, ridicularizei, tentei me afastar de você. Mas não deu certo, e agora eu entendo o porquê – abaixei minha cabeça, tentando evitar que ele percebesse que as gotas de chuva agora se misturavam com minhas lágrimas em meu rosto. – Você é insubstituível. Acredite em mim, – ele colocou uma mão em meu queixo, levantando minha cabeça até que nossos olhos restabelecessem contato. – Eu te amo – ele disse claramente, se aproximando para me beijar novamente.
- Também te odeio – sussurrei antes que nossos lábios se encontrassem. Ele deu um sorrisinho contra meu lábio, que logo se abriu para permitir que aquelas ondas de choques percorressem livremente mais uma vez por meu corpo.
Não tenho como saber se ficaremos juntos para sempre, mas, com toda certeza, sei que o que sentimos um pelo outro vai durar além do tempo de nossas vidas, e isso é o que me importa.


FIM!

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