I look at you all, see the love there that's sleeping... While my guitar gently weeps.
I look at the floor and I see it needs sweeping… Still my guitar gently weeps.
I don't know why nobody told you how to unfold your love. I don't know how someone controlled you, they bought and sold you. I look at the world and I notice it's turning…
While my guitar gently weeps.
With every mistake we must surely be learning… Still my guitar gently weeps.
I don't know how you were diverted, you were perverted too. I don't know how you were inverted, no one alerted you. I look at you all, see the love there that's sleeping…
While my guitar gently weeps

I look at you all…Still my guitar gently weeps



’s POV

“Qual o seu problema, ?”
Saco! Odeio quando gritam isso. Eu sempre me lembro dela gritando isso pra mim. E chorando. Nunca tinha visto-a chorando daquele jeito.
“Anda logo! Pára de viajar!”
“Já tô indo, já tô indo!” Gritei de volta. Peguei minha guitarra e sai do quartinho apertado que era o camarim do The Cavern.

Aquele tempo frio de começo de dezembro deixava tudo pior na minha cabeça. Foi quando ela foi embora. Há dois anos.
“Boa noite!” Eu sorri para as mesas a minha frente. Aqueles rostos conhecidos sorrindo de volta e me olhando empolgados porque iríamos tocar sempre varriam esses pensamentos da minha cabeça. “Pra aquecer esse começo de dezembro gelado... Um pouco de Beatles!”
Todos bateram palmas quando me virei para a bateria e comecei Day Tripper.
Quando eu estou no palco todos os problemas somem. Imediatamente. Por isso eu tinha dito aos caras que queria tocar muito durante esse período de recesso. Natal me deprime!
E enquanto eu cantava “She was a day tripper. One way ticket, yeah…It took me so long to find out. And I found out...” [Ela era uma viajante diária. Bilhete só de ida, yeah! Demorei tanto para descobrir. E eu descobri. Day Tripper] vi que alguém entrou no pub. Uma garota linda. Ela retirou as luvas e sorriu para o cara que a acompanhava, ele devia ter feito algum comentário engraçado. E, então, senti um calor que queimou todo o meu peito... Era como um monstro adormecido se espreguiçando. Não era uma garota. Era a minha garota. A minha .

’s POV

Ao sentir aquele cheiro tão peculiar do The Cavern, eu estranhamente me senti em casa. Há dois anos não me sentia assim. Ouvi Chace falando alguma coisa sobre os degraus estarem desgastados e sorri, esperando-o no fim da escada para procurarmos juntos um lugar para sentar.
De lá do palco veio uma voz tão conhecida e única quanto o cheiro daquele lugar. Uma voz que eu ouvia em minha cabeça todo santo dia. Às vezes mais macia, às vezes forçando um sotaque diferente no telefone para me enganar e, sobretudo, eu escutava aquela voz gritando.
“Quer ir embora? Some daqui então!”
Eu imaginava, de vez em quando, com um prazer quase cruel como ele se sentiu quando soube que eu realmente tinha sumido.
Mas, para minha surpresa, naquele momento, eu não pensei na nossa briga, em como cada pedaço do meu coração tinha sido deixado no estacionamento desse mesmo pub, em como eu havia passado dois anos tentando esquecê-lo... Eu me senti viva. Londres era como o lugar onde eu tinha passado dois longos anos tendo um pesadelo. Ali eu me sentia acordando desse sonho ruim. E uma lembrança se materializou, rindo da minha cara:
“E aí, quando eu for um rockstar e você uma atriz famosíssima, só vai dar a gente nos jornais e nas revistas...”
“Tá bom, ! Agora dorme!” Eu ri, colocando-o na cama e o cobrindo, numa das milhões de vezes que tinha o carregado bêbado para casa.

“Você vai se casar comigo, não vai?”
“Claro que vou!”
abriu os braços para que eu me deitasse ali também. Sorri e entrei embaixo do edredom, sendo fortemente abraçada.
“É por isso que eu amo você!” Logo depois ele caiu no sono.
Meu cérebro era sado-masoquista...só podia!
! Tem um lugar ali!” Chace puxou minha mão e eu voltei à realidade.

Acho que não tinha me reconhecido, não tinha esboçado nenhuma reação...
Lá perto do palco, eu vi uma mesa que falava e agitava mais que as outras. Eram meus velhos amigos. Por causa do tinha colocado na cabeça que odiava todos eles também. Quando fui embora só deixei uma carta à única pessoa que eu sempre tive consideração. Mas logo perdi contato com também... Não queria dizer a ninguém que tinha falhado. Miseravelmente.

’s POV

Tocar enquanto estava na “platéia” com um outro cara engomadinho me dava nos nervos.
Deus! Como ela estava diferente! Uma blusinha colada, uma saia dessas que está na moda de... Como se diz? Cintura alta... Uma meia calça escura e a maquiagem carregada... Estava bebendo e rindo. Desde quando ela bebia?
não tinha visto-a ainda. Talvez só eu tivesse... Eu desejava ver aquele rosto há muito, muito tempo.
Tocamos mais um pouco. Eu adorava terminar o show com Hey Jude. Todo mundo sempre se empolgava. Me despedi do pessoal e desci para o camarim.
“Você tá bem, dude?” Me perguntaram e eu fiz que sim com a cabeça. O vi franzindo a testa e me lembrei de algo muito importante.
“Vamos bebeeeeeeeer!” Gritei. Essa frase era como um costume da gente. Todo fim de show eu gritava a mesma coisa, normalmente ao pisarmos fora do palco. Tinha me esquecido!

A galera gritou quando chegamos à mesa. Abri uma garrafinha de cerveja e me sentei.
“Viu quem tá aí?” Perguntei baixinho para , enquanto pegava uns amendoins.
“Quem?” Ela perguntou.
“A .”
“QUE?” gritou e eu dei um empurrão nela. – “ONDE?”
“Shiiiiiiiu, ! Lá no fundo. Com um cara com pinta de viado!”
Ela ergueu o pescoço. Eu ri e bebi mais minha cerveja, olhando para minha garota de novo. Mas era estranho chamá-la assim ainda.
Porque ela não parecia mais a mesma.
Porque ela já não era mais minha.
a viu, com certeza não teria se sentado e relaxado enquanto não a achasse. Talvez ainda estivesse chateada demais para ir até lá. Por alguns meses, ela também tinha virado a cara pra mim. Acho que tinha deixado uma carta ou algo assim. Devia estar contando da minha burrada. Quer dizer, uma das minhas burradas... A que ela tinha, de fato, flagrado.
“Você vai lá?” Perguntei.
ficou pensativa.
“Devo ir?”
Eu dei de ombros e matei a cerveja.
“Valeu o apoio, !” me disse, de mal humor e continuou bebendo. Nenhum de nós tivemos coragem de ir até lá. Quer dizer, eu não iria de qualquer forma, mas se a fosse, eu teria certeza de que era a mesmo.

’s POV

Me levantei com Chace e fomos pagar a conta. Ele não tinha gostado de lá. Passou a noite reclamando de tudo... Um pé no saco! Com eu era corna, mas ele me fazia rir, pelo menos... Não... Pensar em como uma opção melhor não era nada saudável!
Eu já nem sabia mais que número Chace era na minha extensa lista de namorados em Londres. Tinha parado de contabilizar os erros. A diferença é que meu coração não se quebrava mais. Tinha me tornado fria como o tempo lá fora. Com Chace não era diferente... Alias, por que eu o tinha trazido para a casa dos meus pais? Ah é, porque eu precisava fingir que pelo menos um setor da minha vida estava indo bem!

“Sua mãe vai mesmo me colocar para dormir naquele quartinho no térreo?”
Eu ri.
“Vai... Ela acredita em virgindade até o casamento...”
“Como se você fosse se casar!” Ele zombou. Aquilo me deixou puta!
“É... Com você, não mesmo...”
Ele ficou calado todo caminho até em casa. Talvez estivesse se fazendo a mesma pergunta que eu. O que estava fazendo ali? Ah é... Não tinha onde passar o Natal e não queria ser mais um loser bêbado pelas ruas de Londres... Mais um.
Não estávamos namorando. Estávamos nos ajudando!
“Chegou cedo!” Minha mãe vinha da cozinha sorridente. Que saudade daquele sorriso, daquele rosto. Eu ainda era uma menininha por dentro! E só queria o colo dela.
“Chace estava com muito frio. O casaco dele não era quente o suficiente. Esses americanos...”
Chace era americano e não estava há muito tempo na Inglaterra. A primeira coisa que gostei nele foi o sotaque. A gente vivia se zoando. Não, a gente se zoava no começo. Quando tudo ainda era bonito e eu ainda tinha esperança dele ser minha alma gêmea. Faça-me o favor!
“Oh!” Minha mãe fez e logo o puxou para pegar um dos casacos enormes do meu pai.
Ele foi e se virou para mim sorrindo, sem saber o que fazer. Eu o encorajei a segui-la e voltei rindo para a sala. Meu pai dormia no sofá com a televisão ligada. “Bad habits die hard” é o que dizem...


Fazia uns dias que eu estava na cidade já. E eu ainda não tinha saído de casa desde a sexta-feira no The Cavern. Um: porque estava frio. Dois: porque eu não queria dar de cara com meu vizinho. Três... Ah, não quero falar sobre isso!
Mas adivinhem quem era meu vizinho! Ou, sei lá, talvez não fosse mais... Mas eu não queria sair na varanda e dar de cara com o .
Chace tinha ido fazer compras com a minha mãe. Acho que ele estava carente de família, ficava andando atrás da minha mãe o dia todo. E lógico que a mamãe estava adorando, sempre quis ter um filho homem. Aí vim eu! Totalmente desregulada! Não... Eu dei alguns orgulhos pra minha mãe, eu já tinha sido uma boa garota. Às vezes eu me comparava à Sandy, de Grease. Tinha mudado da água pro vinho também, literalmente! Ela, porque queria conquistar o garoto. Eu, porque queria esquecê-lo.
Me sentei no sofá com uma caneca de chocolate quente nas mãos.
“Close your eyes and I’ll kiss you...”[Feche seus olhos e eu te darei um beijo. All my loving] Cantarolei baixinho, olhando da janela o quintal da casa dos . Meu pai costumava cantar aquele verso quando me colocava para dormir. Ele costumava trabalhar viajando e sempre me ninava com All my loving. Agora ele estava aposentado. Passava o dia num trabalho social voluntário. Me lembrei das palavras sábias da para mim, uma vez:
“Os únicos homens que prestam são nossos pais!”

’s POV

Eu estava de novo olhando pela janela. Merda!
“Qual é o seu problema, ?” A voz dela gritou de novo dentro da minha cabeça. Era como uma campainha: quando eu começava a fazer algo errado, disparava. “Qual é o seu problema, ?”
Eu só queria vê-la. Dentro de casa, em um suéter engraçado e sem maquiagem. De pantufa! É, eu gostava das pantufas dela.
Nós sempre tínhamos sido vizinhos. Quando começamos a namorar, nossas famílias festejaram mais do que nós mesmos.
Sorri ao lembrar de quando a gente voltava das festas e ela dormia comigo. Quer dizer, a gente não dormia, né? Ao amanhecer, voltava para casa dela, e pulava a janela da sala. Tinha a chave da porta nos bolsos e pulava a janela! Dizia que se sentia importante, que era mais divertido.
Nunca achei que esse gosto dela por perigo se transformaria em uma saída de casa do nada para tentar ser atriz em Londres. Acho que nunca a levei muito a sério. Me deprimiu pensar naquilo.
Ah não! O playboyzinho carregando as sacolas da Mrs. ! Muito puxa saco... O que tinha visto nele? Tá, ele era um tipinho desses de ator de seriado adolescente e tal, mas não fazia o gosto dela. O gosto dela era... Era eu, porra!
Subi para tomar banho. Iria sair hoje e encher a cara, como era de lei.

’s POV

Eu e Chace já estávamos saindo de casa para LucyintheSky. Minha mãe ajeitava a gola do sobretudo dele. Eu já começava a pensar na possibilidade de deixá-lo ali e ir atrás dos pais dele nos Estados Unidos. Vamos trocar, lindinho?
Ela parou na minha frente e me olhou. Eu conseguia ler em sua testa “Muita maquiagem!”, ela ajeitou meu cachecol e sorriu. Estava realmente gostando de me ter de volta. E era recíproco!
Fomos conversando sobre coisas sem importância até lá. Me dei conta de que minhas conversas ultimamente eram todas sem importância.
O LucyintheSky estava lotado, do jeito que eu me lembrava que ele era mesmo. E quente. Era realmente um inferno, independente da temperatura lá fora.
Deixei meu casaco no guarda volumes e fui para a pista. No caminho, uma menina passou secando minhas botas. Sorri para ela com uma cara de “Sim, são da Chanel!”.
Outra garota passou secando o Chace “Sim, ele é o gato do outdoor da Dolce Gabbana...”. Ih, não... Não tem outdoor da Dolce aqui. Hey! Ela tava secando meu namorado!
Às vezes eu me sentia comprada pelo glamour, pelas coisas que usava, pelas pessoas que as pagavam, pelas marcas que eu desejava... Era como uma gaiola. E chegava a ser irônico, porque enquanto eu jogava minhas roupas numa mala e gritava pra minha mãe que estava indo embora para sempre, no dia que saí de casa, eu cantava Blackbird bem alto pra não chorar mais.
“Blackbird singing in the dead of night, take these sunken eyes and learn to see. All your life, you were only waiting for this moment to be free.” [Pássaro preto cantando no silêncio da noite, tome estes olhos fundos e aprenda a enxergar. Toda sua vida você somente estava aguardando esse momento para ser livre. Blackbird].
Mas, naquela noite, eu tinha resolvido que não ia mais pensar no passado. Ia dançar e beber como se não houvesse amanhã. Minha primeira parada com Chace foi no bar. Olhei para o lado e vi a . Do mesmo jeitinho que eu a conhecia, tentava segurar umas 4 garrafinhas de cerveja sozinha. Sorri pra ela e ela sorriu de volta.


’s POV

Eu estava sentado na mesa de sempre com o pessoal. Só vendo o movimento e bebendo. Nenhuma novidade. As meninas dançavam ali por perto e sorriam para alguns rapazes no bar. Nossa turma era muito unida e a gente falava abertamente sobre tudo. Elas nos contavam sobre suas paixonites, a gente falava das garotas que queríamos, todos davam palpite quando escrevíamos uma música... Eu amava aquilo! Mas era muito melhor há dois anos quando, além de tudo, eu tinha uma namorada linda entre elas. E falando nela...
Estava olhando distraído para a pista quando a vi com os braços erguidos mexendo os cabelos e todo o resto do corpo. Fiquei meio hipnotizado. Ela mantinha os olhos fechados e cantava a letra da música que, àquela altura, eu não queria nem saber qual era. Aquele cara a abraçou por trás e colocou um copo de alguma coisa em suas mãos. Recebeu um beijinho no pescoço e se virou para dançar com ele. Para ele. Eu não era o único babando, o novo namoradinho dela a olhava fixamente e nem se mexia, mantinha a mão em sua cintura como se quisesse ter certeza de que ninguém a tiraria dali. Eu me odiava por não poder estragos os planos dele!

Foi ali que havia me conquistado. Talvez eu tenha dado a impressão de que ela era uma freira antes, mas não era verdade. era uma menina normal, e jamais passava despercebida quando pisava naquela pista usando um salto alto. Nenhuma das nossas garotas dançava como ela. Bom, acho que nenhuma garota da cidade!
Nós éramos vizinhos há muito tempo, acho que foi por isso que eu demorei para vê-la como uma possibilidade. Os outros caras comentavam dela de vez em quando, mas eu nunca dava bola.
Até que um dia eu parei para prestar atenção. Estava em pé perto do bar com uma cerveja na mão e ela e as meninas dançando. Foi muito rápido. Alguém me deu uma cotovelada e a apontou com a cabeça. Naquele momento eu notei como ela havia crescido e ficado linda! Como ela parecia doce até provocando pensamentos pervertidos em toda a ala masculina da turma. Senti um pouco de ciúmes até! Queria bater neles por pensarem aquilo! Mas então eu soube que ela seria minha: quando abriu os olhos (ela dançava de olhos fechados desde essa época), viu que eu a encarava e sorriu. Não como sorria todo dia quando nos encontrávamos na porta de nossas casas. Era um sorriso torto, fazendo surgir uma covinha só de um lado de sua bochecha rosada. Um sinal que me dizia com todas as letras para ir até lá dançar com ela. Sorri torto também e fui. Até hoje os meninos me zoam porque eu parecia um zumbi, andando pela pista sem nem piscar. E foi assim que tudo começou...“since I saw her standing there...”[Desde que a vi parada lá. I saw her standing there]

“Ih, é briga!” Ouvi falar e se levantar.
Tirei essas lembranças da cabeça e me levantei também. Parecia uma discussão, havia duas garotas brigando na pista. E uma delas era... Ah, não!
“Você derrubou a porra da cerveja na minha bota! Sabe quanto ela custa, queridinha? Não, você não sabe. Dava pra eu comprar todas as roupas do seu guarda-roupa medíocre! E sobrava um troco ainda!” gritava, completamente bêbada, para uma garota loira que devia ter uns 17 anos. A menina tinha os olhos cheios d’água. O cara segurava , tentando impedi-la de ir bater na pobre coitada. “Me solta, Chace!”
“Foi sem querer, foi sem querer!” A coitada balbuciava.
Aquilo era o fim pra mim: ver a decadência de uma pessoa que antes era a garota mais delicada do mundo e agora humilhava alguém por causa de uma bota.
Os seguranças chegaram para ver qual era a confusão, começaram a puxá-la para fora do LucyintheSky.
“Você acha que eu não vi você olhando meu namorado, sua vaca? Foi por isso que você jogou cerveja na minha bota... Inveja! Inveja!”

’s POV
[n/a: Coloque para tocar: Yesterday - Tradução]

Os seguranças me jogaram para fora. Eu tropecei e quase cai, destruindo ainda mais a obra prima que calçava! Lasquei o salto.
“Droga!”
Me sentei no capô do carro do Chace e acendi um cigarro, esperava que ele não demorasse muito pra pegar os casacos! Eu estava congelando (isso porque bêbados sentem menos frio e o estacionamento era coberto)! Vi alguém saindo do Lucyinthesky e agradeci a Deus. Só então vi quem era, meu estômago deu uma revirada e eu senti um formigamento nas pernas... E nenhum desses sintomas tinham a ver com o álcool!
vinha em minha direção parecendo louco da vida. Não podia ser bom sinal!

“Yesterday
All my troubles seemed so far away
Now it looks as though they're here to stay
Oh, I believe
In yesterday


“Eu não estou te reconhecendo!” Ele disse, furioso pra mim. Eu dei de ombros. “Olha só pra você! Bebendo, fumando...”
Baforei a fumaça na cara dele antes que terminasse a lista das minhas últimas imperfeições adquiridas.
“E o problema todo então é eu estar como você? Quem criou o monstro, ?”
“Eu nunca fiz e nunca faria a cena que acabei de ver lá dentro!”

Suddenly
I'm not half the man I used to be
There's a shadow hanging over me

Oh, yesterday
Came suddenly


Essa me pegou... Ele não faria mesmo! podia ter todos os defeitos, mas era amável até com quem não suportava. Não por falsidade, mas porque seria incapaz de destratar alguém. Sempre admirei isso nele.
“Ela mereceu!”
fez um gesto de impaciência.
“Por que você voltou, ? Pra olhar pra todo mundo de cima? E mostrar como você é rica, feliz e bem sucedida na cidade grande, enquanto nós somos os fracassados que continuam nessa cidadezinha de merda vivendo do mesmo jeito há dois anos?
Rica, feliz e bem sucedida... Eu daria risada se não estivesse ficando muito deprimida.

Why she had to go?
I don't know
She wouldn't say
I said
Something wrong now I long
For yesterday


“Eu não olho ninguém de cima!” Eu disse. deu uma risada sarcástica. “São vocês daqui que ficam me encarando como se eu estivesse me prostituindo em Londres!” Aquilo era verdade. Era o terceiro motivo pelo qual eu evitava sair de casa. Os olhares. As amigas da minha mãe, as pessoas da minha idade, até as mais novas... Eu já estava gritando nessa hora. “Trocam de calçada se eu estou nela, como se eu tivesse uma doença contagiosa, cochicham... Quem são eles pra dizerem como eu passei os últimos dois anos?”

Yesterday
Love was such an easy game to play
Now I need a place to hide away
Oh, I believe
In yesterday


“Bom, não é como se você passasse a idéia contrária!” respondeu me examinando da cabeça aos pés. Outch! Eu sabia que ele estava certo. Ainda mais agora, bêbada e descabelada em cima do capô de um carro. Mesmo assim, tive vontade de pular no pescoço dele e esganar o filho da mãe.
“Pois é, né? Como as aparências enganam... Eu, com esse visual de puta, nunca nem fiquei com duas pessoas na mesma noite.” Levantei as sobrancelhas para que ficasse BEM CLARO do que eu estava falando. Surtiu efeito.

Why she had to go?
I don't know
She wouldn't say
I said
Something wrong now I long
For yesterday


…” Dessa vez sua voz tinha saído um pouco do tom “sermão de pai”. Haha! Quem fala o que quer, ouve o que não quer. “Você nunca mais vai ser capaz de me perdoar?”
Levantei a cabeça pra ver sua expressão. Ele mordia os lábios. Eu só via mordendo os lábios quando estava nervoso, ansioso.
“A ferida não fechou, ...” Respondi sem gritar. Nossa briga agora se parecia mais com uma discussão de pessoas civilizadas.
“Mas você tem um namorado novo... Bonitão...”

Yesterday
Love was such an easy game to play
Now I need a place to hide away
Oh, I believe
In yesterday”


Quando foi que a conversa mudou e a gente chegou no Chace? Eu fiquei sem saber o que responder. A verdade era vergonhosa e longa, e eu não tinha nenhum argumento de mentira pra jogar na cara dele.
“Uma coisa não tem nada a ver com a outra, ...” Abaixei os olhos de novo, não agüentava a tensão de falar com ele sobre o meu coração.
“É... Eu sei que não...” Será que isso significava o que eu acho que significava? estava dizendo que a “ferida” dele também não estava cicatrizada? “Enfim... Eu... Eu nem sei como a gente chegou nesse assunto...” É... Ele também não sabia! “Desculpa te perturbar. Não vou mais invadir sua vida. Tchau, !”
Ele foi andando de costas e me deu um sorriso de “a gente se vê por aí”.
“A propósito...” Ele gritou antes de se virar e seguir seu caminho. “Eu parei de fumar!”
Quando vi suas costas se distanciando, um nó se formou em minha garganta. Minha vida era uma merda!
Joguei o cigarro no chão com raiva. Aquela porcaria ia me matar! Fiquei mais um tempo olhando o nada, tremendo de frio e pensando no .
“Rica, feliz e bem sucedida...”
Se ele ao menos soubesse como aquelas três palavras eram tudo, menos como eu me sentia...
“Por que você voltou, ?”
Eu parecia estar assistindo um replay da minha conversa com .
Porque tudo tinha dado errado, há muito tempo! Mas eu era burra e orgulhosa demais pra admitir!
“Caralho, Crawford! Demorou, hein?” Eu gritei ao vê-lo se aproximando, estava com uma cara de poucos amigos.
“Tava tentando resolver a confusão que você arranjou. Que papelão, hein? E desce daí, vai estragar o carro!”
Ele disparou o alarme e jogou meu casaco...
Mais uma ida silenciosa pra casa. Talvez a última naquele carro.

Na manhã daquele domingo, aconteciam duas coisas previsíveis.
1: Chace estava indo embora;
2: Minha mãe estava mais triste que eu.
Eu estava sentada na cama do quartinho observando-o fazer as malas. A gente tinha inventado que ele tinha que voltar à Londres para um trabalho de última hora. Não podia reclamar de Chace. Ele era um gentleman!
Me senti meio cruel porque a única parte de mim que não queria que ele fosse era meu egoísmo. E minha carência talvez. Meu orgulho estava ferido por ter sido chamada de vadia pelo (tá, ele não disse com todas as letras, mas ele deu a entender!). Eu precisava de um garoto me dizendo que eu era especial e tudo. Acreditem! De vez em quando, Chace podia ser esse garoto.
Foi mais ou menos por isso que, quando ele foi se despedir de mim, eu soltei um:
“Posso te procurar quando voltar à Londres?” Pedi, segurando a mão dele e fazendo uma carinha de criança querendo doce. É, eu era uma egoísta sem coração! Eu sabia que, falando daquele jeito, eu o amoleceria. Às vezes eu era muito eu mesma com o Chace... Eu despia aquela fantasia de “bad girl” e era só a que eu costumava ser. Não durava muito, mas era suficiente para abraçá-lo apertado ou dar um beijinho espontâneo em sua bochecha. Engraçado... De todos os namorados que tive em Londres, aquilo só acontecia com o Chace. Por isso eu queria mantê-lo por perto. Egoísta! Egoísta!
“Nós dois sabemos que você não vai voltar, !” Ele acariciou minha bochecha e me deu um selinho. “Mas me liga quando quiser me ver... Eu venho te visitar... E a sua mãe!”
Chace sorriu e gritou mais um tchau pra ela, que gritou de volta. Eu ri dela.
“Tchau, filho!”
Quando o carro deu a partida, eu me sentei nos degraus da varanda para vê-lo ir embora. Mais uma cagada pra minha vida.

’s POV

Eu vi o carro indo embora pela minha janela e não a vi entrar de volta. Peguei minha guitarra e saí.
Assim que sai no quintal, a vi sentada nos degraus da entrada, olhando para baixo. Se parecia mais com a minha garota. Usava roupas claras e um gorrinho branco. Não estava de maquiagem também.
Nós trocamos um olhar breve e eu tive a impressão de que ela estava chorando. Será que era por causa do cara?
Continuei andando, ainda pensando nela. Desde que tinha a visto no The Cavern minha cabeça parecia só exibir um canal. Aquilo só podia significar uma coisa... Dessas que a gente não gosta de admitir.
Eu ainda era apaixonado por ela. Pela garota maravilhosa de dois anos atrás, na verdade. Mas ela não tinha morrido... Estava só perdida. Eu precisava ajudá-la! Comecei a me lembrar as coisas que mais gostava na . Eu gostava como ela dançava, lógico, e como sorria. E principalmente da mania de sorrir quando escutava uma de suas músicas favoritas. Fechava os olhos e entortava a boca, formando um sorriso lindo. “Somewhere in her smile she knows that I don't need no other lover…” [Em algum lugar em seu sorriso ela sabe que eu não preciso de mais ninguém para amar. Something]
Aquela sentada na varanda não devia sorrir quando tocava sua música favorita. Ela não devia sorrir nunca!
E mais um flashback se apoderou da minha mente.
Estávamos os dois ouvindo música em casa. Deitados no tapete com os pés no sofá. A gente sempre escutava música assim. Ela sorria porque estava tocando Here, there and everywhere.
“Essa música vai tocar no nosso casamento!” Anunciou, ainda de olhos fechados e balançando os pés.
Eu dei risada e me apoiei no cotovelo para ficar mais perto do rosto dela.
“Tá me pedindo em casamento?”
Ela abriu os olhos, ao perceber meu movimento.
“Oficialmente você já me pediu, lembra? Da última vez que eu dormi aqui?”
Eu não me lembrava, estava muito bêbado.
“Claro!” Sorri e me inclinei para beijá-la. Quando nos separamos, eu me deitei de novo ao seu lado.
“Você não lembra...” Ela me acusou, rindo.
“Claro que lembro... De onde você tirou isso?”
“Você me beijou! Porque sabe que é um péssimo mentiroso e não ia sustentar meu olhar por muito tempo!”
Eu ri, meio culpado e ela me acompanhou. Nós nos conhecíamos bem demais.
É... Eu sentia falta daquilo. Ela tinha sido a primeira e única garota por quem eu tinha me apaixonado. Todas as outras tinham sido... Não sei... Um sentimento abaixo... Ah, sei lá, mas não tinham sido intensos!
Quando cheguei ao lugar onde ensaiávamos, todos já me esperavam.
“Demorou, hein ?”
“Precisei fazer uns negócios pra minha mãe...” Menti.
E a voz de rindo surgiu de novo: “Porque você é um péssimo mentiroso...”
“E aí, ? Alguma novidade da sua vizinha maloqueira?” Sally perguntou e eu franzi a testa pra ela. também. “Que foi? Eu disse alguma mentira?”
“Ela tá precisando de ajuda...” Falei. Os caras da banda me olharam. Eles sabiam o quanto eu me arrependi das mancadas que dei com ela. E como sentia sua falta. Sim, mesmo dois anos depois eu às vezes ficava na minha, pensando na vida. E eles sabiam que isso significava “pensando na ”.
“Acho que vou até lá hoje...” disse pensativa. Ela precisava da gente!
“Depois do que ela fez ontem, eu quero distância daquela doida e das botas da Chanel dela!” Sally disse, antipática. E, mais uma vez, como tudo naquela história enrolada, a culpa era minha! Sally estava apaixonada por mim. Lógico que ela odiava a única garota que eu tinha amado, e talvez ainda amasse, de verdade.
Nem dei bola e sorri para , encorajando-a.
“A gente pode parar de falação e tocar agora?” Um dos caras perguntou, e eu passei a alça da guitarra pelos ombros.
“Ticket to ride?” Perguntei.


’s POV

Nem sei quanto tempo fiquei ali.
Ouvi um som abafado em minha cabeça. Era o barulho do meu próprio corpo batendo com força no fundo do poço. Sim... E dessa vez era o fundo mesmo. Eu tinha brigado com uma garota por causa de uma bota e dois pingos de cerveja, tinha discutido com e todo mundo na cidade achava mesmo que eu era uma garota de programa. Não era justo com a minha mãe ter uma filha assim, e, dessa vez, eu não queria fugir. Já tinha feito isso há dois anos... E de novo quando decidi sair de Londres e voltar pra casa. Simplesmente era hora de arrumar tudo.
É sempre mais fácil se afundar do que tentar escalar e se salvar, mas o fundo do poço não era convidativo como antes. Eu já não agüentava mais a pessoa que tinha me tornado!
Quando estava quase congelando, entrei de novo.
Minha mãe montava a árvore de Natal na sala. Me chamou com as mãos, quando eu parei na porta admirando aquele momento, que era tão simples e tão bonito, e fui até lá.
“Tá ficando bonita!” Eu falei, colocando uma bolinha prateada.
Ela sorriu pra mim. Precisei me segurar para não chorar. Nós enfeitávamos a árvore juntas desde que eu tinha 6 anos...
Quando eu passava pela árvore de Natal da Trafalgar Square sempre me lembrava da minha mãe. Me perguntava como tinham ficado os enfeites de casa.
Eu não passei dois anos sem vê-los, lógico. Quando estava com saudade, ou eles estavam, a gente se ligava. Eu sempre me recusava a ir para lá e também não queria que eles fossem onde eu morava. Então meu pai dizia algo como:
“Estou mesmo sentindo falta do velho relógio...” Ele queria dizer que nos encontraríamos no Big Ben e eu me enchia de gratidão por não ter que responder perguntas. Meu pai era meu herói.
Eu e minha mãe estávamos fazendo um belo trabalho em grupo. Quando só faltava a grande estrela prateada, ela me entregou e sorriu. Usávamos a mesma estrela desde sempre. Quando eu era criança, minha mãe me erguia e eu a colocava no topo da árvore. Naquele dia eu a coloquei sem ajuda e nós ficamos admirando nossa obra de arte.
“Somos boas nisso!” Eu falei, com as mãos na cintura.
“Você deveria investir na carreira de decoradora de ambientes!”
“Eu iria trabalhar só no natal, fazendo árvores...”
“Não é verdade. Seu quarto foi você que decorou, lembra?”
Fiquei pensando naquilo por um tempo, mas não por muito tempo quando ouvi a campainha.
sorria pra mim quando abri a porta.

[n/a: Coloque para tocar: Any Time At All - Tradução]

“Hey! Quer ir tomar chocolate quente?” Ela parecia a mesma pessoa que eu abracei uma última vez no dia que fui embora. Como se os últimos dois anos separadas não tivesse existido. Nós nos despedimos ontem e hoje ela estava me chamando pra tomar um chocolate quente, como sempre. Se fosse no verão, seria um sorvete. Eu pegaria minha bicicleta e a gente iria rindo e conversando sobre nosso ator favorito, o último filme dele ou sobre os garotos por quem éramos apaixonadas.


“Any time at all
Any time at all
Any time at all
all you've gotta do is call
And I'll be there


“Claro! Vou pegar meu casaco!” Eu sorri e corri na sala, onde tinha deixado minhas roupas enquanto ajudava minha mãe.
Nós fomos lado a lado, em silêncio, nos primeiros metros. Será que ela havia se arrependido de ter me chamado?
“Obrigada, !” Eu disse, de coração. Ela sorriu. “E me desculpa... Por nunca mais ter dado notícias... Eu... Eu... Eu nunca me esqueci de você!”
Era tão difícil dizer “Eu nunca dei notícias, porque não havia nada de bom pra contar...”! Falar sobre Londres parecia fazer parte do processo de sair do fundo do poço, mas eu queria evitar esse “passo” no momento.

If you need somebody to love
Just look into my eyes
I'll be there to make you feel right
If you're feeling sorry and sad
I'd really sympathize
Don't you be sad, just call me tonight


“Foi estranho quando você foi embora... Eu não falava mais com o e não tinha mais você aqui...”
Eu abaixei a cabeça, me sentindo culpada. Quando chegamos à cafeteria, o dono me olhou e deu uma grande gargalhada.
“Pequena! Que honra tê-la de volta!” Ele era um italiano todo cheio de sotaque e de gestos. Eu o adorava.
“O bom filho à casa torna!” Dei de ombros. Acho que nesse caso, o mau filho também! Além a Sandy do Grease, eu era a filha pródiga!
Nos sentamos e fizemos nosso pedido. Respirei fundo e fechei os olhos.

Any time at all
Any time at all
Any time at all
all you've gotta do is call
And I'll be there


“Depois do papel miserável de ontem, eu decidi que não posso continuar sendo a pessoa que eu me tornei...” Ela não tinha perguntado nada e não perguntaria. Aquele era o momento em que me oferecia uma mão e esperava que eu a segurasse. Mas não me dizia para fazer isso, porque não era necessário. “Eu não quero envergonhar a minha mãe com a imagem que passei ontem.”
“Eu sei que aí no fundo ainda mora a menina que era minha melhor amiga. Você só tem que achá-la.”
“Mas eu também não quero mais ser idiota, ...” Sim, eu estava falando dele. Ainda que todos os meus sentidos me traíssem dizendo que eu ainda era completamente apaixonada por ele, eu não poderia acreditar nas mesmas palavras de antes, as mesmas promessas...
“Todos nós crescemos e mudamos, ... Eu, você, o ... E aprendemos com os erros.”
“É, eu sei... Acho que eu aprendi bastante então.” Eu ri e ela abriu um sorriso também.
“Todo mundo tem uma segunda chance!”
“Eu estou fazendo o caminho de volta!”
também...” Ela disse, me encarando pra ver qual seria minha reação. Mas eu só tomei um pouco mais do chocolate quente.

If the sun has faded away
I'll try to make it shine
There is nothing I won't do
If you need a shoulder to cry on
I hope it will be mine
Call me tonight and I'll come to you


“Estava com saudade desse chocolate quente.” Mudei de assunto.
“Como se em Londres não tivessem milhões melhores que esse!”
“Nenhum tem gosto de minha casa!”
Ficamos em silêncio.
“É bom ter você de volta!” Ela disse, de repente.
“É bom estar de volta!”
Nós duas sorrimos e, de alguma maneira, o gelo de dois anos sem nos falarmos derreteu. Eu sabia que, no momento certo, contaria à ela sobre Londres e ela sabia também.

Any time at all
Any time at all
Any time at all
all you've gotta do is call
And I'll be there


Começamos a comentar os filmes, dois anos de lançamentos para colocarmos em dia. Contei à ela que havia conhecido um de nossos atores favoritos que, alias, era um chato. riu.
Quando voltamos, já estava escuro. Nos abraçamos na porta da minha casa e eu senti um grande alívio de tê-la comigo de novo.
“Obrigada, ! Você não sabe como me fez bem...”
“De nada. Pode contar sempre.”
Eu sabia disso... Eu sempre soube!

Any time at all
Any time at all
Any time at all
all you've gotta do is call
And I'll be there
Any time at all
all you've gotta do is call
And I'll be there”


’s POV

Estava voltando para casa do ensaio e vinha comigo, iria parar na casa dos . Me sentia culpado. Eu tinha pedido sua ajuda, mas até agora só ela tinha feito algo.
tinha feito muito, na verdade. Às vezes eu as ouvia rindo lá de casa! E como era bom ouvir a gargalhada da minha garota de novo.
andava muitíssimo bem vestida e tinha parado com as roupas chocantes (mas mantinha as marcas caras). Mesmo assim, continuava chamando a atenção.
Continuava linda de doer!
Pois bem, e eu? O que tinha feito até aquele momento?
, você se importa se eu for falar com a hoje?”
Ela se assustou com o meu pedido. E talvez com a minha expressão de pânico.
“Vocês... Vocês vão conversar?” levantou as sobrancelhas.
“Está na hora de eu cumprir minha parte no combinado, não?”
Paramos em frente à casa dos e ela me abraçou e me desejou boa sorte.
Respirei fundo, caminhei até sua porta e, então, bati.
[n/a: Coloque para tocar: The Long And Winding Road - Tradução]

“The Long and Winding Road
That leads to your door
Will never disappear
I've seen that road before
It always leads me here
Leads me to your door


Ela apareceu com um sorriso que, por um segundo, eu achei que fosse verdadeiramente para mim. Mas ao perceber que não era a e, pior ainda, que era eu, se desfez dele rapidamente.
? Tá fazendo o que aqui?”
Engoli em seco. não foi grossa, mas parecia realmente intrigada comigo ali. Ela saiu e nós ficamos nos olhando por um tempo.
“Queria falar com você... É... Não sei... Acho que a gente tem assuntos pendentes, não? Por uns dois anos?”
Merda, por que era tão difícil encará-la? Fiquei fitando o chão (e ele precisava ser limpo), enquanto um silêncio nos engolia.
Ela andou, se sentou nos degraus e olhou para cima, me convidando a se sentar ali também.

The wild and windy night
That the rain washed away
Has left a pool of tears
Crying for the day
Why leave me standing here
Let me know the way


“Não sei por onde começar…” Disse, sem jeito, ainda encarando meus pés. Como eu era idiota! Tinha ensaiado meu diálogo umas 30 vezes e agora não sabia o que dizer primeiro.
“Começa pelo começo...” disse, torcendo as mãos. Parecia nervosa.
Respirei fundo e comecei bem do começo mesmo, de quando me apaixonei. Ela apenas escutava como se estivesse esperando a parte inédita da história. Vi-a sorrir quando falei do nosso primeiro beijo. Eu o roubei numa festa de aniversário de , estava tocando “Till there was you” e nós dançávamos juntos. Começamos a namorar logo depois disso e eu a pedi em namoro bem ali onde estávamos. “And when I ask you to be mine, you’re gonna say you love me too...” [“E quando eu te pedir para ser minha, você vai dizer que me ama também.” I should have known better]
Eu queria poder lembrá-la de cada momento bom que passamos juntos, porque eles eram muitos e eu havia passado dois longos anos recordando cada beijo, cada suspiro, cada palavra, cada toque, cada sorriso... De qualquer forma, eu acreditava que ela não tinha esquecido nossa história e estava ali para contar o que não sabia.
E o que ela não sabia era muito cruel. Naquela época eu não fazia idéia de que poderia perdê-la. Por isso, não pensava duas vezes antes de enganá-la, “guardá-la” em casa e sair de novo com os meninos (sim, eu usava esse termo ridículo. “Hey, vou guardar a e já volto!”) e traí-la.
Vi seus olhos se encherem de lágrimas quando comecei a falar de noites e mais noites em que havia saído com outras garotas. Não havia sido só uma vez, nem duas...
“Como você pode continuar dizendo que era apaixonado por mim?” Ouvi me perguntar, ela estava chorando muito. “Qual o seu problema, ?”
O meu problema era meu passado!

Many times I've been alone
And many times I've cried
Anyway you'll never know
The many ways I've tried


“Eu era! Eu era apaixonado por você!” Queria conseguir dizer a frase no presente. “, por favor!” Fechei os olhos e fiquei um tempo em silêncio pensando em como mudar aquela situação.
“E então, numa bela quinta-feira, eu esqueci meu cachecol no The Cavern!” Falou, por fim.
Com certeza eu não conseguiria nada a meu favor falando daquele dia. A maldita noite em que ela foi embora.
Eu a deixei em casa e voltei para o pub, como quase toda quinta-feira. Às vezes eu não voltava, porque ficávamos juntos na minha casa.
Estava bebendo e uma garota ruiva se sentou em nossa mesa, nem me lembro o rosto dela... Bom, talvez eu não me lembrasse nem no dia seguinte... Estava tão bêbado! Os garotos saíram e ficamos nós dois, conversando, bebendo... Quando vi estava com a garota no colo.
Bem longe ouvi alguém gritar e parei de beijá-la. me assassinou com o olhar e correu para a saída, joguei a ruiva na cadeira ao meu lado e saí atrás dela.

But still they lead me back
to the Long Winding Road
You left me standing here
A long long time ago
Don't leave me waiting here
Lead me to your door


Foi então que ouvi a frase que nunca mais saiu da minha cabeça, e que há pouco tinha ouvido de novo. Dito pela mesma pessoa, no mesmo tom de voz.
“Qual é o seu problema, ?”
Queria estar menos bêbado naquele dia. Assim, não teria colocado na cabeça que não a queria mais. Ouvi uns 10 minutos de seus gritos e nem me abalei com o quanto ela chorava. Se eu soubesse quanto tempo aquela cena ainda me assombraria depois...
Quando a ouvi falar pela milésima vez que eu era o que a prendia àquela cidade, gritei a frase mais estúpida de toda minha vida.
“Quer ir embora? Some daqui então!”
Sim, eu berrei isso para ela. Filho da puta! respirou fundo e engoliu o choro.
Quando a ouvi dizer, no LucyintheSky, que eu havia criado um monstro me lembrei dessa cena. De como sua feição meiga e incrivelmente triste mudou quando ouviu minhas palavras.
E então... Só voltei a vê-la dois anos depois...
“Precisei bater na sua casa no outro dia, de ressaca, me sentindo um bosta e ver sua mãe me olhar com desprezo pra perceber a burrada que tinha feito.”
“Você não era apaixonado por mim...” repetiu, chorava ainda mais que antes.
De repente me dei conta de que não havia sentido no que estava fazendo. Queria consertar seu coração, mas ao invés disso, estava destruindo-o de novo.
“Não vai adiantar explicar isso, mas eu achava que não estava traindo. Estava me divertindo. Elas jamais ocupariam o lugar que você tinha e isso fazia de você a minha única garota. A única...”
“Eu te amava tanto... Tanto!” escondeu o rosto nas mãos e continuou soluçando.
Me doeu ouvi-la falar no passado, mas eu merecia.
Merecia mais! Ela devia dizer que me traía naquela época também, e que era apaixonada pelo outro cara. Que continuava comigo por dó. Porque sem ela, eu não teria sobrevivido há milhares de porres. Sem ela, eu teria dormido na rua centenas de vezes.
era meu anjo. Cuidou de mim quando esteve por perto e, quando se foi, me fez ver o grande babaca que eu havia sido até a maldita quinta-feira.

But still they lead me back
To the long winding road
You left me standing here
A long time ago
Don't keep me waiting here
Lead me to your door


“Eu ainda amo você...” Soltei e ela levantou o rosto. “Senti na pele o poder do ditado ‘Perder para dar valor’, . Não que eu não reconhecesse o que sentia por você dois anos atrás! Todas as vezes que eu disse que te amava, era verdade... Todas...”
“Não faz isso comigo, ... Não mente mais pra mim... Eu não aguento mais!”
Segurei o rosto dela com as mãos e sequei suas bochechas.
“Eu-amo-você!” Repeti lentamente e olhando profundamente em seus olhos. “Me desculpa por todo o sofrimento que eu causei. Me deixe curar isso! Eu mudei, . Mudei de verdade. Eu não vou mais machucar você. Por favor!”
Ela cortou nosso contato visual e se desvencilhou de mim, correndo para dentro. Fiquei sozinho olhando para a porta. A mesma que Mrs. bateu na minha cara na manhã de sexta-feira.

Lead me to your door

’s POV

Bati a porta e me encostei nela, tentando respirar. Faltava ar, faltava chão e tudo parecia meio embaçado. Talvez pelas minhas lágrimas, talvez pela descarga emocional que eu tinha vivido nos últimos 40 minutos.
Eu sabia quase tudo o que ele havia me contado. O que eu não sabia, de fato, eu tinha deduzido em várias noites passadas em claro pensando em .
A não ser pela última parte da conversa. Aquela que envolvia o verbo amar no presente e promessas. Como acreditar em alguém culpado por dois anos tenebrosos da minha vida?
Mas só lembrar como seu olhar me aqueceu ao dizer que me amava deixava minhas pernas bambas. Eu sentia o mesmo, e um pedaço de mim acreditava nele.
havia me contado que mudara mesmo depois que fui embora. Por um tempão viveu como um zumbi, sem rir, sem se manifestar e só saia para tocar. Depois foi melhorando, mas nunca tinha namorado ninguém por muito tempo e com nenhuma delas parecia transbordar felicidade.
O que eu devia fazer? Não era hipócrita negar uma segunda chance a alguém quando eu estava ali, de volta, implorando pela minha?

Não o vi naquela semana. Mas achei que só poderia ter deixado um coraçãozinho escrito “Por favor?” no parapeito da janela da sala. A janela por onde eu entrava vindo de sua casa de madrugada, às vezes.
Faltava uma semana para o Natal, e eu estava sentada no sofá, encostada no meu pai que lia o jornal.
?”
“Hum...” Assustei-me com a voz um pouco séria dele.
“Você não vai voltar para Londres, não é mesmo?”
É, eu não ia. Fiquei com medo de encará-lo e do rumo daquela conversa.
“Hum, acho que não pai. Eu... Eu falhei. Não me tornei a atriz famosa que eu queria ser.”
“O que aconteceu em Londres por todo esse tempo, afinal?”
Mordi os lábios e não respondi.
Não, eu não tinha virado prostituta como a cidade inteira achava.
Sai de casa à noite e dormi na estação de trem da cidade. Cheguei à Londres de manhã e achei que estava diante de um sonho se realizando.
Mas aquilo era a capital, eu nunca tinha estado ali e não tinha onde dormir, onde comer, onde trabalhar... Que perdedora! Nos meus sonhos, eu não via esse começo. Era sempre eu saindo de uma grande limusine e sendo fotografada, com ao meu lado, sorrindo para nossos fãs. Coisa de criança... Mas a realidade era bem diferente... BEM diferente!
Depois de uns dias em hotéis baratos, conheci uma outra aspirante a atriz e ela me levou para conhecer onde morava. Era uma casa onde outras 13 garotas também moravam, comigo e com ela, quinze. Havia “atrizes” como eu, garotas de programa, algumas estudantes sem grana para morar em um lugar melhor, meninas de todas as partes do país...
Morávamos numa casa grande, se ela fosse dividida apenas em cinco ou seis garotas. Nem havia camas para todas. Sarah se ofereceu para compartilhar a dela comigo, uma vez que nunca dormíamos no mesmo horário. Ela era prostituta. Dessas de luxo. Nem sei porque morava lá. Ela dizia que havia começado ali e não se via morando em outro lugar. Aprendi tudo que sei sobre marcas com ela. Comecei usando algumas roupas que ela me emprestava. “Você não vai fazer o teste usando isso, né? Toma, coloca essa saia e esse casaco!”
Arranjei um emprego de recepcionista num hotel chiquérrimo. Não podia negar que estava num lugar cheio de estrelas. Só não era uma delas.
O gerente do hotel, um velho nojento, vivia me lançando olhares repulsivos e me dando presentinhos caros, para que eu desse outra coisa a ele. Nunca cedi e ele continuava me presenteando na esperança de um dia me ver em sua cama. Quando me demiti, estávamos na presença de outro gerente e ele nem pode me dizer para devolver tudo. Sorri sarcástica e saí de lá com roupas que meu salariozinho jamais poderia comprar. Mia, outra garota que morava comigo, riu quando a contei: “Preciso aprender com você, Cinderella (me chamavam de Cinderella porque me achavam ingênua e pura como uma princesinha de conto de fadas)! Eu seria mais feliz se ganhasse esses mimos sem precisar usar meu corpinho toda santa noite!”
Como se ela não adorasse o “emprego” que tinha...
Porém, sendo “atriz” e amiga de garotas como Sarah e Mia, nos fins de semana eu me via em festas que até Deus duvidava! Dessas que artistas negam até a morte que estavam! Às vezes eu acreditava que eles diziam aquilo porque realmente não lembravam onde tinham estado na noite anterior. Sexo, drogas e rock’n’roll mesmo! Não eu, lógico... As drogas lícitas já eram suficientes para me deixarem bem alta. E eu era a Cinderella, não é? No fim, eu nem era tão boazinha assim. Só era menos pior que elas.
O mais engraçado é que às vezes parecíamos garotas normais. Quando uma de nós conseguia o papel que queria, ou comprava aquela bolsa pela qual todas tinham babado e que todas usariam (porque o que era de uma, era de todas), a gente comemorava com um potão de sorvete. Se uma de nós ficava triste, todas se abraçavam e alguém gritava o nome de um filme água com açúcar para assistirmos juntas.
Aquelas 14 garotas seriam as únicas coisas das quais eu sentiria falta. Eu teria me matado sem elas, eu não teria agüentado dois anos de humilhação no trabalho com o chefe tarado, os “nãos” nos testes de teatro, propaganda, figuração... A saudades dos meus pais e meu coração não-cicatrizado, que se tornou frio em dois anos vivendo com Sarah, Mia e todas essas garotas que não podem, não devem e nunca se apaixonam.
Vivendo com elas, sempre havia alguém para dizer “No próximo teste vai dar certo!”, “Mas é claro que você vai conseguir! Nós seremos as estrelas nas próximas festas na mansão do Mr. Jagger!”. E eu continuava lá... Tentando, tentando... Cavando o fundo do poço... E mais fundo e mais fundo...
Como explicar isso ao meu pai? Me lembrar de tudo aquilo já me deu um nó na garganta. Eu não conseguiria pôr para fora. Não agora. Não para ele.
“Eu não era uma prostituta, pai. Eu jamais faria qualquer coisa que te envergonhasse!” Falei, com a voz embargada e o abracei.
“Eu sei disso, querida! E eu estou feliz de ter você de volta! Não precisa falar, se não quiser!”
Ele não pediu mais explicações. Largou seu jornal e passou seu braço por mim.
Me deitei em seu joelho e fiquei lá chorando, silenciosamente por muito tempo.
Papai começou a cantar, então, uma de minhas músicas favoritas:
“Once there was a way to get back homeward. Once there was a way to get back home…sleep pretty darling and do not cry…and I’ll sing you a lullaby…” [Certa vez havia um caminho para voltar para casa.Certa vez havia um caminho para voltar para casa. Durma, bela adorável, não chore. E eu lhe cantarei uma canção de ninar.” Golden Slumbers]
Acho que dormi mesmo. Deitada ali em seu colo, longe dos pesadelos do passado, eu sabia que poderia voltar a ter sonhos dourados.

No outro dia, eu parecia pesar uma pena. Eu nem tinha contado tudo a meu pai, mas só de saber que ele acreditava que eu não era o que todos achavam que eu era e tinha oficialmente me aceito de volta, eu já me sentia outra pessoa. Um dia eu contaria tudo... Tinha prometido a mim mesma. Quando fosse alguém melhor do que a pessoa que saiu fracassada de Londres.
Eu estava leve porque finalmente estava diante da minha segunda chance!
Falar em segundas chances me lembrava outra pessoa... Descobri naquela tarde que também estava prestes a ganhar a dele.

Estava na sala olhando para as três meias na lareira com meu nome, da minha mãe e do meu pai quando a ouvi me chamar.
“Filha, você pode ir nos levar essa forma de bolo, por favor?”
Não acreditei que minha mãe estava me pedindo aquilo.
“Sério, mãe?”
“Não posso ir agora, tem coisa no fogo! A Mrs. me pediu e eu não tenho como sair!”
Me levantei de má vontade e peguei a forma. Saí arrastando os pés, mas assim que cheguei ao lado de fora senti uma excitação estranha.
Meu inconsciente gritava para ver . Implorava por um contato com ele. Era meu maldito inconsciente que estava acordando todas as borboletas em meu estômago!
Bati na porta e não houve resposta. “Ninguém em casa...”, pensei desapontada. Que legal! Agora eu estava desapontada!
!” Mrs. abriu a porta e sorriu, me assustando.
Quando abri a boca para dizer que a forma estava ali e eu estava indo embora, ela saiu em direção à cozinha. Não! Ela não queria que eu entrasse e a seguisse, né? Ah não!
Bom, parecia que sim. Dui arrastando os pés de novo. Ao passar pela porta da sala ouvi um violão sendo dedilhado. Me arrepiei ao pensar que ele estava ali. Aquela contradição entre não querer entrar, querer estar ali, não querer vê-lo, querer vê-lo me desnorteava!
Cheguei à cozinha e coloquei a forma em cima da mesa.
“Preciso ir, Mrs. ...”
Caramba, ela falava muito! Acho que nem me ouviu dizendo que precisava ir. Continuava falando, falando... Eu não estava ouvindo, continuava concentrada no som que vinha da sala.
“Preciso ir, Mrs. !” Disse mais alto e fiz um tchau com a mão. Não é que eu não gostasse dela, sempre a adorei! Mas naquele momento só uma pessoa tinha minha atenção.
[n/a: Coloque para tocar: Baby It's You - Tradução]

“Tchau querida! Volte mais, viu? Estava com tantas saudades... Você está tão linda!”
Sorri e saí antes que ela me segurasse mais ali. Ao passar pela sala, pude ouvir sua voz cantando “Baby, it’s you”! Ele queria acabar comigo, era um fato!

“Sha la la la la la
Sha la la la la

It's not the way you smile
That touched my heart
It's not the way you kiss
That tears me apart


Continuei andando, mas bem devagar. Minha perna parecia disposta a entrar naquela sala.
Quando estava perto da porta, a música parou e eu ouvi seus passos se aproximando.
?”
Senti um arrepio na espinha e me virei. Lá estava ele... Lindo, me olhando fixa e intensamente. Sorri ao ver que ele estava andando de meia. A gente costumava brigar por causa daquela mania dele. Brigar de mentirinha, lógico. “É sua mãe que lava essa meia imunda depois!”, eu dizia e ele ria e falava que ele gostava de deslizar com elas. Às vezes eu cedia e a gente ficava patinando pela casa.
Mordi os lábios e ele deu mais um passo.
“Eu senti sua falta...” Ele falou baixinho, ainda andando. Ai-meu-Deus!
“Você ficou dois anos sem me ver, você sobrevive...” Minha voz passou bem longe da ironia que eu queria que ela tivesse. Estava nervosa com a aproximação dele. Dei um passo para trás e bati na parede. Ótimo!
“O problema é que você voltou. E desde que eu te vi no The Cavern de novo,” e não é que ele tinha me visto aquele dia no pub? “parece que o mundo parou. Eu só penso em você, eu fico na janela esperando você aparecer na sua sala, desejando que você saia e a gente se cruze na cidade... É terrível!

Wo ho, many many, many nights go by
I sit alone at home and I cry over you
What can I do?
Can't help myself
Cause baby it's you
Sha la la la la la la
Baby it's you
Sha la la la la la la
Sha la la la la


“Eu sei como é...” Deixei escapar e tapei a boca com as mãos. Claro que eu sabia! O mesmo acontecia comigo. Mas eu precisava ter vazado aquela informação?!
Ele deu um sorriso de lado que acabou com a força em minhas pernas. Me apoiei mais na parede para não cair.
não, não...” Ele estava bem perto agora, me olhando e sorrindo. Eu só via sua figura e mais nada. Todo o resto do hall, da casa dos , do mundo... Era um borrão.
“Eu não tô fazendo nada...” Ele sorriu e levantou as mãos, eu já podia sentir seu perfume.
Nosso primeiro beijo tinha sido mais ou menos assim. Estávamos dançando e ambos sabíamos que queríamos ficar juntos, mas eu não queria admitir. Acho que era “Till there was you” tocando. Ele me abraçou forte e eu fiquei com o rosto perto do seu ombro, seu perfume me entorpeceu um pouco e quando dei por mim, passava a ponta de seu nariz de leve em minha bochecha. “!”, eu o adverti e ele riu. “Eu não tô fazendo nada!”. Antes que pudesse ao menos perceber o que estava acontecendo fui beijada. Foi meu primeiro beijo. Foi perfeito...

You should hear what they say about you:
"Cheat! Cheat!
Sha la la la la
They say, they say you never, never, never ever been true:
"Cheat! Cheat!"

Wo ho, it doesn't matter what they say
I know I'm gonna love you any old way
What can I do? Then it's true
Don't want nobody, nobody
Cause baby it's you
Sha la la la la la la
Baby it's you
Sha la la la la la la


Mas nós éramos grandinhos agora e eu sabia o que estava acontecendo. espalmou as duas mãos na parede, ao meu redor. Eu não tinha mais saída. Em muitos sentidos.
Ele abaixou o rosto e, como em nosso primeiro beijo, passou o nariz pela minha bochecha, dessa vez muito mais demoradamente (mas talvez tenha sido minha culpa, que não chamei sua atenção). Suas mãos foram chegando mais perto do meu corpo, da minha cintura, para ser exata, e ele começou a distribuir selinhos bem perto do meu pescoço. Por que ele estava me torturando? A vítima não era eu?
...” Tentei pedir uma última vez, mas já era tarde demais. Involuntariamente minhas mãos foram parar em seu peito e, em vez de empurrá-lo, elas o puxaram. Passei meus braços pelo seu pescoço e ele parou com os selinhos para me olhar, eu estava meio zonza.
“Eu nunca vou sentir por ninguém o que eu sinto por você!”

Wo ho, it doesn't matter what they say
I know I'm gonna love you any old way
What can I do? And it's true
Don't want nobody, nobody
Cause baby it's you
Sha la la la la la la
Baby it's you
Sha la la la la la la
Don't leave me all alone,
Come home


Não consegui nem pensar numa resposta. colocou as mãos em minha cintura e me beijou. Me desencostei da parede para acabar com qualquer distância entre nós.
Por dois anos eu procurei alguém que beijasse como ele. Falhei, óbvio... Ninguém era delicado e intenso ao mesmo tempo como ele, ninguém me abraçava daquele jeito, eu não conseguia me entregar completamente em um beijo a mais ninguém...
E, de repente, enquanto a gente se beijava, eu percebi que havia encontrado algo que havia perdido. Por um tempo achei que era uma perda irrecuperável.
Mas ele estava ali. Martelando feito um maluco, como se precisasse compensar o tempo que estivera fora. Meu coração estava de volta. Eu podia senti-lo em minha garganta.

’s POV [n/a: Coloque para tocar: In My Life - Tradução]

Era dia 22 de dezembro e, por algum motivo que eu desconhecia, eu já havia recebido meu presente de Natal. Não sei por que Papai Noel tinha resolvido ser tão legal aquele ano, mas eu não me importava. Dei mais um beijo nela só para me certificar de que aquilo tudo era real. Há dois segundos estávamos discutindo o movimento das nuvens.
“Claro que não, ! As nuvens se movem por causa do vento, não porque a Terra está girando!”
“Você não sabe de nada. As nuvens estão paradas, é a Terra que está se mexendo.”
E então eu a vi rindo. Rindo para mim. Aquilo era mesmo surreal, eu tive que beijá-la!
Estávamos sentados no parque e ela se deitou em meu ombro.

“There are places I remember
All my life though some have changed
Some forever not for better
Some have gone and some remain


“Se nós ficássemos 24 horas aqui, sentados nesse banco, daríamos uma volta ao redor da Terra!” Eu filosofei, mas ela continuou em silêncio. Algum tempo se passou e eu a ouvi fungando. “Hey, o que houve?”
Ela estava chorando.
“É assim que eu me sinto, . Como se tivesse dado uma volta completa sem sair do lugar. Dois anos perdidos da minha vida e voltei a estaca zero!” se endireitou no banquinho e limpou os olhos.
“A gente aprende errando. Tenho certeza de que tudo valeu como lição de vida. Você vai encontrar seu caminho daqui para frente. E vai superar esses momentos difíceis.” Era horrível vê-la sofrer tanto. Porque a culpa tinha sido toda minha. Eu queria poder trocar de lugar e transferir sua dor pra mim.

All these places had their moments
With lovers and friends I still can recall
Some are dead and some are living
In my life I've loved them all


“Engraçado você ter sido a causa de eu ir embora e, agora, ser a única coisa que me parece certa!”
Eu me inclinei e a beijei. Não consigo explicar a sensação de poder beijá-la de novo. Dois anos sonhando com isso, desejando tê-la comigo e imaginando se havia encontrado um outro namorado e se ele seria digno do melhor beijo e da melhor garota.
“Algum dia você vai me perdoar por ser o culpado por tudo isso?”
“Só se você cumprir sua promessa de cuidar de mim, e não me machucar mais!”
É claro que eu faria aquilo! Era só o que eu queria, só o que eu estava pedindo. Ela fechou os olhos quando comecei a mexer em seus cabelos.
“E tocar violão pra mim todas as noites, me trazer café na manhã quando dormirmos juntos...”
Sorri com sua lista de exigências. Eu faria com todo prazer, mas sabia que ela estava só brincando.

But of all these friends and lovers
There is no one compared with you
And these memories lose their meaning
When I think of love as something new


Tínhamos voltado ao papo das nuvens quando se sentou direito de novo.
“Hey!” Chamou tímida. Uma garota passava por nosso banco, mas eu não a reconheci de primeira. Ela se virou e pareceu assustada ao perceber que a chamava. Era a menina do The Cavern. “Eu... Eu queria te pedir desculpas... E retirar todos os insultos que eu te fiz. Mil perdões! De verdade... Me arrependo mesmo de ter dito coisas tão baixas a você.”
Sorri orgulhoso da minha namorada. A garota tinha sido pega de surpresa e sorriu também.
“Ah, tudo bem. Me desculpa por ter estragado sua bota!”
“Minha bota está inteira. É preciso bem mais que um pouco de cerveja para arruinar uma Chanel!” falou, bem humorada.
“Com certeza!”
As duas trocaram um sorriso e a menina acenou antes de continuar andando.

Though I know I'll never lose affection
For people and things that went before
I know I'll often stop and think about them In my life I'll love you more


“Acho que você tem uma nova amiga...” Eu disse, puxando-a para perto e dando um beijo no topo de sua cabeça.
“É bom ter novos amigos, já que eu resolvi ficar com o namorado velho, né?”
“E eu acho que você fez uma ótima escolha!”
Continuamos rindo até o dia terminar. Propus a idéia de darmos a volta na Terra sentados ali, mas começamos a congelar assim que a noite caiu. Ainda bem que tinha uma idéia bem melhor para nossas próximas 24 horas...

In my life I'll love you more...”


N/A: Oi!! Espero que tenham gostado da minha primeira short fic. Como eu disse na descrição, é uma fic em homenagem aos Beatles e, por isso, as músicas a que eu me refiro aqui são deles. Ouçam todas porque é altamente recomendável, inclusive aquelas que eu apenas citei o nome (Ticket to ride, Hey Jude, Here there and everywhere, Till there was you...). Não deixem de conhecer a melhor banda do mundo!
Bom, eu queria agradecer às minhas leitoras VIPS fofas: Rafa, Liih (pré beta que eu amo), Carol, Kurras, as Marotas e a minha prima mais linda do Universo que descobriu os Beatles junto comigo, se apaixonou pelo Paul tocando baixo com a mão esquerda junto comigo e que super gostou de wmg! Taty, te amo flor!!
E lógico, agradecer ao George, que fez essa música perfeita, com uma letra DEMAIS e um solo FODA! E também ao Paul (eu amo o Paul!), John e Ringo, né??
Acho que é isso... Comentem, please! E não deixem de ler minha outra fic: Now you're in, you can't get out!
E aaaaaah, um vídeo FO-DA do Eric Clapton e o Paul tocando While My Guitar Gently Weeps
Qualquer coisa: @Lary_aku ;)


N/B: Achou algum erro? Mande um e-mail para mayespadaro@gmail.com. Obrigada ;D


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