Why So Speechless?
Por: Emme | Beta-reader: Abby
revisada por Lelen


Afundando os pés na neve alta que cobria cada centímetro do chão; caminhando sem uma direção certa a seguir. Na verdade, eu sabia aonde deveria ir e quem estaria me esperando lá, mas eu precisava me preparar psicologicamente pra tudo aquilo. Era difícil...
O Natal sempre me empolgava e deixava tudo a minha volta com uma alegria diferente, mas não naquelas duas semanas que o antecediam. Um gosto ruim aparecia em minha boca toda vez que eu pensava que tudo podia ser diferente, mas quem sou eu para querer mudar tudo? Talvez tivesse sido obra do destino; talvez eu não merecesse; talvez nenhuma pessoa no mundo deveria sentir o que eu sentia. Mas eu sentia. Ah, sim, eu o amava. Talvez o problema de tudo, no fim, tivesse sido o amor.
E eu lembrava com agonia aquela ultima noite há um mês e meio.

Eu não acreditava que ele estava dizendo aquilo pra mim. Que ele realmente tinha dormido com aquela vaca. E que estava me dizendo como se não fosse grande coisa, mas eu sabia o que estava acontecendo desde a primeira vez. Ele jogou as mãos pro alto; eu me tranquei no banheiro. Ele havia desistido, eu havia desistido. As coisas não estavam bem, e segundo alguns: quando algo já esta ruim, só tende a piorar.
Eu não acreditava que no fim de tudo ele ainda me olhava do mesmo jeito. Aquele olhar tão James Dean. Como se implorasse que eu acreditasse que tudo aquilo iria se resolver um dia - que poderíamos ficar juntos. Eu o encarava nos seus jeans apertados com o cabelo por cortar. O cheiro de cigarro impregnado de mentiras estava pairando na sala, como uma nuvem negra. Todos sabem que um vaso depois de quebrado, mesmo que se colem os pedaços, não será mais o mesmo. Mas eu implorava naquele momento. Se ele quebrou, podíamos consertar juntos, não podíamos? Não. A minha linha de tiro não era apenas uma brincadeira.
Eu nunca mais falaria nada. Ele disse que ainda me amava. Me deixou sem palavras, tão sem palavras que eu tinha vontade de me deixar afogar em suas mentiras e morrer feliz ali mesmo.
Ele saiu da minha casa destruído e eu não pude sequer evitar a dor. Nem a dele... Nem a minha. Nos meus sonhos, ele se arrastou para mim e curou todos as feridas que insistiam em ficar no meu coração tão destruído pelas palavras. Nos meus sonhos... Com seu outro olhar tão Johnny Walker, se não fosse o dele, não haveria mais nenhum outro amor para semear.
Eu sei que toda essa história é muito complicada, mas eu sempre fui um fracasso no amor, então eu só queria que ele estivesse acordado para consertar os corações partidos de todos os nossos amigos destruídos.
Naquela noite ele saiu do meu apartamento cego pelas lágrimas e incapaz de tomar decisões com clareza. Resolveu pegar seu carro, dirigir sem rumo. Chocou-se contra um caminhão. Um mês e meio e parece que foi ontem, de tão nítida a dor. Ele está em coma e meu coração está com ele, partido e morto enquanto ele estiver desacordado.

Eu nunca mais diria uma palavra. Nunca mais amaria novamente. Eu estava sem palavras na manhã seguinte tanto quanto na noite anterior.

Por quê?

Depois de todos os bares que frequentamos; todos os drinks que tomamos; todos os bons momentos; todos os feriados escondidos embaixo de cobertas e fugas para praias desertas... Será que ele desistiria de tudo e nos deixaria? Céus, por favor, que ele não desistisse de tudo. Por ele, pela família dele, pelos amigos, por mim. Eu já não importava mais. Eu só queria que ele continuasse lutando.
E depois de todas as mulheres que ele encontrou, poderia eu desistir de tudo? Eu desistiria de tudo por ele? Sim, eu desistiria. Da minha própria vida, se fosse preciso.
E se eu prometesse a ele que eu nunca mais falaria nada? Que nunca mais amaria? Que nunca mais escreveria uma canção? Nem sequer cantaria se ele não estivesse ali... Será que por tudo isso ele poderia abrir os olhos?
Agora, por que ele está tão sem palavras? Algum dia voltaria a falar? Algum dia voltaria a me emocionar com seu violão, cantando baixinho ao meu ouvido?
Andando pelos corredores perturbados do hospital, até me encostar-se ao vidro frio de observação de seu quarto. Ele continuava ali, imóvel. Seus olhos, que me derretiam a cada vez que encontravam os meus, estavam fechados. A dor ia voltando como uma amiga conhecida.
Alguns homens me procuraram para tentar me consolar, mas apesar de ele ter escolhido a companhia da morte, eu estava ali. Por que diabos ele estava sem palavras?
Uma luz brilhante chamou minha atenção e só após alguns segundos percebi o que era. Eram os olhos de , abertos e confusos, molhados por lágrimas. Totalmente perplexa, o vi sussurrar meu nome tão vagarosamente que não acreditava que aquilo não era um sonho. Meu coração batia de forma descompassada enquanto eu adentrava o quarto inundado pelo cheiro dele. O toque da mão dele e aquele sorriso que me fez ficar totalmente apaixonada desde a primeira vez que o vi eram suficientes. Estar sem palavras nunca foi tão conveniente quanto naquele momento.

Fim.



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