Autora: Laís Rezende // Beta: Tah

Ela riu. De novo. Pela quarta vez seguida, ela riu de uma bobagem que eu tinha dito.

Não que eu não gostasse do riso dela, pelo contrário, o riso dela me fazia sorrir ainda mais, e como consequência, ela não aguentava o meu sorriso, sem retribuí-lo. E ficavamos nós dois, se pudesse a tarde inteira, sorrindo para o outro.

Não me arrependo mesmo, de no dia que a conheci, estava burlando as regras. Tinha saído escondido, eu e , para ir ao bar, mesmo quando Jost dizia, que era expressamente proibido nós sairmos. Não demos ouvidos ao Jost, e sabe? Se não fosse a minha teimosia, e a minha famosa insistência, nunca teria a conhecido, nunca saberia o que era amar de verdade. Porque era isso o que eu sentia ao lado dela, amor, sempre amor.

Ela se levantou do meu colo, aonde ela tinha passado, pelo menos, as últimas 2 horas.

- Aonde você vai? – perguntei. Se eu era carente? Sim. Se eu era ciumento? Sim. Se eu achava que ela era a mulher da minha vida? Sim.

- Trabalhar, , não são todas as pessoas que nascem com o dom de maravilhosamente bem, sabe? – ela me respondeu, vestindo as calças jeans, e os all star brancos surrados.

- Por que você insiste em trabalhar? Sabe que eu posso te sustentar muito bem, sem esse emprego medíocre. – Ela trabalhava num supermercado, como caixa, mesmo que a capacidade intelectual de fosse superior a de muitas meninas por aí, ela insistia em dizer que todas as mulheres tem quer ter o seu próprio emprego. não gostava que eu levasse ela pra restaurantes caros, não gostava que eu lhe desse jóias raras, não gostava que eu lhe presenteasse com carros de luxo. Ela apenas queria uma coisa de mim: que eu retribuisse o amor que ela sentia por mim. Somente isso. E eu fazia isso com prazer.

- , não vamos discutir de novo, certo? Eu tenho a minha opinião formada, e você a sua, respeite a minha decisão. – Ela se aproximou de mim, e me deu um selinho delicado. – Você sabe que eu te amo, não sabe?

- Sempre soube – respondi com os olhos fechados.

- Fico contente, então. – ela me deu mais um selinho, e saiu disparada pra porta.

Esperei um pouco e decidi sair, dar uma volta de carro talvez. Eu adoro dirigir pelas ruas pequenas de Magdeburg, me ajuda a refletir em quem eu era, ou o que eu posso ser.

Eu era uma pessoa muito fechada, quieta. Chegava a ser torturante, duvidava de todos a minha volta, não saía, fumava até nunca mais quando eu ficava sozinho, além de beber até cair nos quartos de hotel à noite. Foi uma época meio deprimente para mim, a fama me corroía, eu não sabia como lidar com ela, me enclausurava, me fechava, não sorria pras fotos. Estava cansado de responder as mesmas perguntas para jornalistas, além de aturar o de .

Peguei a alameda, que dava para o centro, e continuei guiando. Ainda incrustado nos meus pensamentos, eu sou uma pessoa que reflete muito, muito mesmo.

dizia que eu devia sair, curtir um pouco os bares, eu apenas negava. Não estava com paciência pra ver de novo pessoas interessadas em e na grana dele, não apenas o , um cara que curte Green Day e é romântico.

Parei o carro no semáforo, e olhei para o meu lado, um casal de crianças, lá pelos seus 10 e 11 anos, dividiam juntas um sorvete. Época feliz, aproveitem ainda enquanto podem. O sinal abriu, e voltei aos meus pensamentos.

Quando eu a conheci, tecnicamente eu não estava num bar, eu estava indo para um bar, em outro país, tentando entender outra língua, outros costumes e etc. Decidimos, eu e , pra safar um pouco da ira de Jost, ir à pé pro barzinho alemão que tinha ali perto. Não era tão longe assim, além disso, estavamos numa cidade litorânea, o que ajudava um pouco a caminhar pelo praia, segundo as idéias do , vai entender. Mas eu agradeço a ele, até hoje, por ter me empurrado nela, que vinha na direção oposta. Eu tinha 20, ela, 15. O resto é história.

Quando me dei conta, estava parado em frente ao supermercado que ela trabalhava, olhei para as horas, quase 17h. Hora da sair, bater o cartão. Tinha passado a tarde toda relembrando o passado, e nem tinha visto o tempo passar. Ela viu que eu estava parado, e abriu o seu sorriso. O meu sorriso. Ela veio correndo até o carro, entrou e me beijou rapidamente.

- Sempre pontual – ela me disse sorrindo, e me beijou mais um pouco. Dessa vez, ela intensificou mais o beijo.

- Alemães são pontuais – eu disse interrompendo. continuou, com os lábios grudados aos meus, e por fim disse:

- Convencido. – e riu, beijou-me um pouco mais. Intemrrompi mais uma vez.

- Obrigada, obrigada por ser minha. – eu a beijei um pouco mais delicado, muito sentimento em jogo. Ela apenas sorriu e me abraçou. Um gesto vale mais do que mil palavras. Acelerei o carro. Liguei o rádio, estava tocando uma música, uma música que eu escrevi.

Oh
They’re tellin' me, it’s beautiful
I believe them, but will I ever know the world behind my wall?
Oh
The sun will shine like never before
One day I will be ready to go
See the world behind my wall.

Escrevi World Behind My Wall, pensando nela. Afinal, ela era o meu mundo. E eu, de tão recluso e fechado, acabei construindo um muro em volta de mim. Ninguém penetrava, eu não saia. Ela ajudou quebrar esse muro, me tirou das trevas. E ela era o meu mundo, o meu mundo através do meu muro. E ela sabia disso como ninguém.



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