Poderia ser uma clássica e entediante história sobre a garota da porta ao lado, mas acho que algo em minha história talvez me destaque do clichê e salve minha sanidade de algo completamente praxe.
Sim, ele era meu vizinho, já estava lá quando me mudei, e meus olhos nunca de fato desgrudaram de sua janela quando a luz estava acesa. Sua varanda era frontal a minha, e vez ou outra pulávamos a mínima distância para conversar em belas noites de insônia.
era um escritor. Falido, claro, mas ainda assim, eu acreditava que suas poesias e suas histórias o levariam a algum lugar. Digo, eram realmente incríveis. E todas às vezes que ele me trazia algo novo, sentia uma onda de ansiedade me invadir, como se por algum instante eu fosse ver o que eu queria para o meu futuro em palavras pretas, no branco.
Era um Sábado de manhã e eu não tinha nada planejado além de acordar depois de meio dia. Meus pais estavam fora da cidade para variar, então eu não estava lá preocupada com os meus afazeres, tais como lavar a louça ou muito menos arrumar meu quarto. Mas algo, ou alguém, estava disposto a não me deixar dormir, de qualquer maneira.
Rolei os olhos e catei o celular no chão, ao lado da cama.
‘Ahm.’, atendi quase com uma bufada. Nem mesmo queria saber que horas eram, não me parecia nada tarde.
‘Adoro quando você fica de ressaca.’, então, como se jorrassem um balde inteirinho de água sobre mim, eu acordei. A voz de era clara e próxima. Sentei-me na cama num pulo e levei o telefone ao ouvido de novo. ‘Calma, pequena! Eu estou na varanda.’ Então olhei pro lado, vendo sentado em sua varanda com uma caneca de café em mãos e outra em sua pequena mesa, acenando para mim. Sorri e desliguei o telefone, o mandando o dedo médio logo em seguida. Odiava quando ele me acordava assim, ele sabia disso.
Levantei e vesti um short jeans por debaixo da blusa enorme e preta de pijamas e prendi meu cabelo em um coque desgrenhado no topo da cabeça. Sabia que não estaria olhando, ele nunca olha. E acredite, eu já havia tentado chamar sua atenção antes, mas ele se provou um homem muito centrado.
Escovei os dentes e saí para minha varanda. Pelo sol que fazia, já não era tão cedo quanto imaginei ser.
‘Bom dia, .’ Cumprimentei, o fazendo olhar para mim.
‘Bom dia, . Fiz seu café...’, ele apontou para a caneca fumegante de café a mesinha próxima a ele. ‘Passa pra cá.’, ele me chamou com um gesto leve da cabeça. Bem, o que mais eu poderia fazer? Sorri começando a escalada da minha varanda para a dele.
‘Bem, tem escrito?’, perguntei batendo a poeira da blusa, após aterrissar em sua varanda.
‘Muito pouco, minha inspiração anda baixa ultimamente.’, respondeu ele sorrindo, levando a caneca à boca logo após. Essa inspiração baixa, segundo o que eu pude notar, era falta de mulher em sua vida. Acontece que é um viúvo. Pronto, não sei de mais nada.
‘, eu tenho uma festa hoje. Consegue achar inspiração por lá?’, perguntei pegando minha caneca e sentando-me na cadeira vaga.
‘, não sou desse tipo, você sabe.’, ele me olhou com aqueles lindos olhos e eu sorri. era um homem realmente perdido nesse mundo. Romântico, solteiro, gentil, educado, sentimental. Há quem diga que esse tipo há muitos anos entrou em extinção, mas acredito que seja o último da espécie.
‘Certo, mas eu não suporto te ver assim, sozinho. , você precisa de alguém a sua altura, pelo menos concorde comigo nisso.’, o olhei sugestivamente. sempre apaixonava-se pelas garotas erradas. Elas sempre acabavam indo embora sorrateiramente no meio da noite e sumiam do mapa. Eu sempre sobrava para emendar o coração dele.
‘Talvez eu só escolha as garotas erradas, então a culpa não é necessariamente delas...’
‘Você escolhe garotas vulgares. Não na aparência, mas no modo de ser. Todas rudes, com nariz empinado. Nunca gostei de nenhuma que você trouxe para casa, todas encrenqueiras e sempre com terceiras intenções. Acho que está na hora de você deixar eu escolher alguém pra você, pequeno escritor.’, disse dando um longo gole do café. ‘Uhm, o que você pôs aqui?’, perguntei olhando para a caneca em mãos.
‘Caramelo.’, respondeu ele sorrindo. ‘Você realmente cuida de mim, hã?’, ele levou a caneca o mais próximo da boca possível, mas não deu nem um gole, continuou me encarando até o momento que ele se levantou e voltou para dentro da casa.
Ao voltar, ele tinha um livro em mãos. Um livro grosso, de capa vermelha sangue com escritas em dourado.
‘Achei Romeu e Julieta. Queria que você lesse, acho que um romance nunca faz mal a ninguém.’, deixei a caneca de lado e peguei o livro de suas mãos. A verdade era que eu sempre quis ler esse livro, mas eu nunca de fato tinha saído para procurar um exemplar.
‘Ah, vou ler. Como adivinhou que eu gostaria?’, perguntei apoiando o livro no meu colo e o olhando.
‘É romance, secretamente todos gostam.’, ele me disse voltando a se sentar. O lancei um sorriso.
‘Sabe, você deveria ser professor. Te garanto que tirariam meu professor de literatura no ato para ter você no corpo docente.’, disse analisando a capa vermelha antiga, embora bem cuidada.
‘Não odeio, mas não gosto de adolescentes. Imaturos demais, sempre com brincadeirinhas desnecessárias. Não gosto, muito menos aprovo.’, disse ele. O lancei um olhar falsamente ofendido. ‘Não... , você sabe que é mais matura do que metade das mulheres adultas que conheço.’, então sorri sarcástica, quase áspera.
‘Eu não preciso que você me lembre disso, , mas obrigada mesmo assim.’, então me levantei, com o livro em mãos. ‘Havia alguma razão para você me acordar?’, perguntei me virando para as barras de ferro da sua varanda.
‘Não, só queria conversar.’, disse ele terminando seu café. Eu sorri olhando para a minha própria caneca, ímpar sobre a mesinha dele.
‘Prometo vir mais tarde.’, após as juras, joguei o livro com o máximo de cuidado que pude para minha varanda e antes de pular, virei-me e acenei amigavelmente.
Em minha mente passava-se um bom banho de banheira seguido de um reforçado almoço e depois quem sabe, passar o resto da tarde conversando com . Não me soava mal, seria bom para curar minha terrível dor de cabeça.
Preparei a banheira, deixando ela encher ao máximo para jogar meus sais, que de fato nunca funcionaram de forma relaxante como dizia que deveriam, mas ao menos deixavam meu banheiro cheiroso. Esperei até que a água transbordasse para desligar o registro e, vagarosamente, me aconchegar ali, encostando a cabeça ao suporte branco. Por incrível que pareça... Eu peguei no sono.
Ao abrir os olhos, tudo que percebi foi a inundação ao meu redor. Dormi na banheira, de novo. Já era a segunda vez somente naquela semana. Ao levantar-me, busquei pelo meu roupão, o qual joguei de qualquer forma sobre o meu corpo. Meu cabelo molhado deixava gotas gordas pelo chão do banheiro e posteriormente do meu quarto.
Ao buscar minha toalha pendurada na porta do armário, encontrei deitado em minha cama, lendo algumas folhas em mãos.
‘Você demorou uma semana inteirinha só para escrever duas páginas de novo, não foi?’, perguntei sentando-me na beirada da cama, esfregando a toalha na parte de trás da cabeça, secando o cabelo.
‘Te disse que estava sem inspiração.’, replicou ele sentando na cama, deixando as folhas voarem levemente até mim. Sentei-me de lado e descansei a toalha, o olhando.
‘, você não precisa de mulheres para inspiração, sabe disso.’, ele sorriu.
‘Obrigado, pequena, mas acho que já fazem dois meses que aquela cama está desgastando desigualmente.’, comentou ele com um sorriso murcho.
‘Já o disse o que fazer. Você precisa conhecer pessoas da sua idade, mulheres que saibam o que você sabe. Mulheres, , não ninfas.’, disse enquanto pegava as folhas da cama e procurava o ponto onde eu havia parado na última leitura.
‘Não é fácil, . As mulheres de trinta anos normalmente já estão casadas.’, então abaixei as folhas, o encarando.
‘Você gostaria que eu fosse com você a um speed dating?’, perguntei, controlando-me ao máximo para não rir. Senti-me completamente nua pelo olhar que ele me lançou, formigando cada pedacinho que suas pupilas dilatadas conseguiam. ‘Eu estava brincando.’, disse raspando a garganta.
‘Acho que tenho que aceitar que não estou mais novo a cada dia que passa.’, então ele se apoiou sobre o punho fechado, brincando com algum fiapo de costura desfeita do meu edredom. Parecia uma criança chateada, complexada demais, frustrada além do necessário.
Pus-me em meus joelhos e me aproximei, segurando suas mãos.
‘, você está na flor da idade. Sabe quantas mulheres não matariam para estar nos seus braços? Temos apenas que dar tempo ao tempo. Boas coisas vêm para as pessoas que as esperam, meu pequeno escritor.’, ele me olhou, e eu sorri tentando ser o mais reconfortante possível. Ele sorriu brevemente. Já era um começo.
‘Tempo ao tempo?’, ele repetiu, arqueando uma sobrancelha.
‘É, e você também me faça o favor de se coçar! O tempo é amigo de quem cedo madruga, sim?’, soltei suas mãos e peguei as folhas novamente. O ouvi rir anasaladamente, divertido.
‘Você não existe pequena.’, ele se levantou e coçou o topo da minha cabeça ao passar por mim. ‘Já começou a ler Romeu e Julieta?’, perguntou, e eu sabia que ele havia pego o livro de cima da minha escrivaninha cheia de folhas lotadas com anotações.
‘Ah, sim. E sendo honesta, estou gostando bastante.’, respondi tirando os olhos da folha. Não conseguiria me concentrar naquilo tão cedo, já estava prevendo.
‘Percebe-se, essas anotações todas são do livro?’, perguntou ele, pegando algumas das folhas espalhadas e tentando entender minha letra corrida.
‘Em grande parte.’, respondi balançando os ombros. ‘São os trechos que me lembram suas histórias, ou que eu gostaria de ler em um contexto diferente.’, acrescentei o observando sorrir ao ler certas partes.
‘Você tem uma bela imaginação, não pequena? Já pensou em trabalhar comigo?’, ele me encarou com aquele ar sarcástico que me fazia rir.
‘Muito obrigada pela sua ironia, senhor, mas eu estou muito bem vivendo meus dezessete anos intensamente e sem trabalho!’, retruquei. ‘Agora se você me deixar, eu gostaria de ler o que você escreveu.’, então sorrindo, voltei minha atenção para as folhas que estavam em minha frente.
Eram as últimas folhas do oitavo capítulo da história, e eu estava louca para saber o que aconteceria com a personagem. Era um romance, uma história linda de um ator desconhecido e sua mulher. Parece que ela sofria de alguma doença terminal e não conseguia achar alguma forma de contar para ele, especialmente depois que ficou grávida. Bem, tinha a manha. Ele escrevia de uma forma que mais ninguém conseguiria, o que era realmente ótimo para prender um leitor coração de manteiga como eu.
Concentrei-me em ler apenas as duas folhas, me permitindo chorar uma vez perto do final.
‘Me diz que você não está chorando.’, disse ele se aproximando com um sorriso orgulhoso estampado nos lábios.
‘Não estou, caiu um cisco no meu olho.’, respondi limpando ambos os olhos enquanto abaixava as folhas.
‘Mentirosa!’, acusou ele ajoelhando-se a minha frente, na cama. ‘Ficou bom, então.’, ele sorriu limpando algumas lágrimas dos cantos dos meus olhos.
‘Não, estou chorando porque ficou horrível! Reescreva isso, por favor.’, ironizei erguendo uma sobrancelha.
‘Obrigado, .’, ele sorriu e se levantou, beijando minha testa. ‘Bem, vou para casa. quis reunir todos nós para celebrar seu noivado e preciso me arrumar.’, avisou ele pegando as folhas. ‘A noiva dele tem a sua idade, sabia?’, observou ele antes de sair para a varanda.
Bem, era um amigo da época de escola de . Eu gostava dele, sempre fora muito simpático. Era um bom jornalista, tinha uma coluna fixa no jornal diário da cidade e eu sempre lia suas matérias. Eu havia conhecido sua noiva, na verdade. Mas na época eles eram apenas namorados. Ela me pareceu um tanto nova demais para ele, mas eles ficavam bem juntos. O típico casal que não pode ficar mais bonito, já é perfeito em toda sua simplicidade e casualidade.
Observei pular até sua varanda desajeitadamente e acenar glorioso após ter chegado ao outro lado. Ele estava sozinho demais e isso me incomodava. Não apenas pelas histórias, mas pelo fato que ele andava solitário. Já o tinha visto rondar pela casa em busca de idéias ao menos cinco vezes naquela semana, e isso não era usual dele.
Eu realmente estava levando em consideração a idéia de buscar alguma mulher boa o suficiente para ele, mas me parecia tão difícil e inapropriado. era da velha guarda, apesar de ser tão novo. Não se encontrava um tipo romântico assim em qualquer em esquina. E vem a calhar que hoje em dias as mulheres também já não se matam por homens assim.
Bufei cansada e levantei, batendo o pé na beirada da cama. Havia de ter alguém que o satisfizesse, ou ao menos tentasse. Liguei o computador e esperei alguns instantes. Foi o bastante para minha mãe berrar meu nome do andar de baixo, provavelmente querendo saber porque eu não havia pego a correspondência na caixa.
Não me importei em tirar o roupão, desci da forma como estava e recebi olhares de desaprovação de minha mãe, e ao que pareciam, visitas. Senti-me enrijecer, um ponto frio brotar desgostosamente na lombar. Eram amigas da família, como tias equivocadas que a vêem de dois em dois anos e apertam suas bochechas como se fossem plástico até que ficassem vermelhas e enojáveis por uma semana, exclamando o quanto você tinha crescido. Dois centímetros por ano. Eu contava.
‘!’, exclamou minha mãe, advertindo-me dos trajes com um simples olhar de censura. Se a idéia dela era não atrair todos os olhares em minha direção, devo dizer que não se sucedeu.
‘Onde estão suas roupas? E esse cabelo molhado? Sabe que estamos na temporada de gripe.’, rolei os olhos e encolhi-me em meu roupão. Para fazer deste pequeno desastre uma situação ainda mais confortável, os filhos das amigas da minha mãe estavam presentes. Todos tampando a boca, segurando-se para não rir.
‘Acho que você deveria gritar, creio que os vizinhos não a ouviram.’, sorri enquanto me virava e encarava o caminho a subir novamente. Tinham pequenas gotas de água demarcando todo o caminho feito na descida.
Pus uma calça jeans com rasgos nos joelhos e joguei uma blusa qualquer com meu tênis favorito. All star branco, surrado, pichado e sujo. Minha mãe simplesmente odiava quando eu não estava com saltos nos pés. Borrifei meu perfume e penteei os cabelos antes de descer novamente. Ela com certeza estaria me esperando para que saíssemos para almoçar em algum restaurante longe do centro, com uma ótima crítica na última revista de fofoca da semana. Honestamente eu nunca encontrei o traço feminino e perua da minha mãe em mim. Eu era tão oposto, tão diferente da sua forma escandalosa de ser. Talvez meu pai fosse o culpado por isso.
Ao chegar ao pé da escada, minha mãe já estava toda voltada para os filhos lindíssimos e muito bem engomados de suas amigas. Imaginei-os com calças jeans no lugar das caqui, blusas de banda no lugar do suéter, cabelo bagunçado no lugar no topete perfeitamente modelado a gel. Seriam os garotos mais bonitos do bairro, sem dúvida.
‘Ah, querida!’, Debbie Sherfield, a primeira. Aproximou-se com as bochechas rubras, quase do mesmo tom vermelho sangue de seu batom. Suas mãos já estavam erguidas em direção as minhas bochechas, e eu já começava a me contrair. ‘Como você está...’, ela me olhou de cima abaixo, prendendo a palavra ‘linda’ no fundo de sua garganta.
‘Crescida? É.’, completei por ela, abrindo um sorriso torto.
‘Mas como cresceu.’, continuou Cassie Charlton, rodeando-me como um urubu faz a sua presa. Seu perfume de rosas me intoxicou por alguns instantes.
‘Lídia, como sua filha está linda!’, Trudy McCrawford era a mais decente do recinto. Lembro-me dela quando era pequena. Cresci com ela e seu filho, Logan McCrawford. O pai e marido havia falecido quando tínhamos apenas nove anos. Fomos no enterro. Não me lembro de ter visto Logan derramar sequer uma lágrima.
‘Está adorável, .’, elogiou ela enrolando uma mecha de meu cabelo em seu indicador. Sorri para ela e a abracei brevemente.
‘, querida, estamos indo para o In Vy. Não quer colocar algo mais apresentável?, sugeriu minha mãe, largando os filhos de suas companheiras.
‘Não acredito ter nada em meu armário que seja apropriado o suficiente para os lugares que você freqüenta.’, arrepios percorreram meu corpo apenas em lembrar as roupas horrorosas das quais havia me desfeito fazia apenas um mês.
‘Deixe-a, Lídia.’, pediu Trudy em um tom amigável, segurando em meu braço. ‘Vamos apenas a um restaurante, sua filha está ótima.’, ela sorriu balançando meu braço levemente. Senti-me grata e a lancei um olhar significativo. Todas se dissiparam e buscaram o caminho até a porta. Trudy ficou.
‘Eu odiava essas roupas quando tinha sua idade.’, sussurrou ela, soltando uma risada gostosa após. Gostava disso, de rir com Trudy. ‘Vamos, querida, ou nossas cabeças irão rolar.’, ela cruzou seu braço ao meu, e vimos seu filho parado, a esperando próximo ao sofá.
‘Olá, Logan.’, cumprimentei a medida que íamos nos aproximando. Ele usava um suéter azul que quase fazia jus ao seu físico bem talhado por debaixo do pano. Logan não era nada parecido com a imagem que passava. Era divertido, alegre, até mesmo promissor.
‘Olá, . Gostei dos jeans.’, comentou ele se juntando a nós a caminho da porta da entrada. O vi examinar minhas pernas e ruborizei um tanto por isso.
‘Ainda acho que vocês me escondem alguma coisa.’, comentou Trudy sorrindo, dirigindo-se ao seu carro, nos deixando para trás. E de fato escondíamos. Logan e eu tínhamos perdido a virgindade juntos. Decidimos fazer disso um segredo nosso, ninguém além de nós mesmos precisava saber.
‘Senti sua falta.’, comentou ele, e eu sabia perfeitamente a que ele estava se referindo. Sorri fracamente e balancei a cabeça, olhando instintivamente para o chão. O vi por as mãos cerradas nos bolsos da calça caqui, que o caia tão bem.
‘Podemos conversar sobre isso depois?’, perguntei o olhando. Minhas bochechas queimaram instantaneamente. Estava calor de repente. Meu corpo inteiro ardia. Ele apenas sorriu. Seus olhos verdes faiscaram e pensei ver um vislumbre de desejo por trás do olhar bem ensaiado.
‘Claro.’, ele abriu-me a porta do carro, esperando que eu entrasse para repetir meu gesto.
Logan era o típico menino descolado da escola. O típico garoto que era tão bonito que poderia te fazer tremer na base apenas a lançando um olhar. Era o preferido dos professores e o mais odiado pelos losers. Ele era, em sumo, o desejo de consumo de muitas, mesmo que secretamente.
Eu não disse muito durante o caminho até o restaurante. Busquei manter minha boca fechada, olhando pela janela quase o tempo inteiro. Fingi não sentir o joelho de Logan pressionar o meu e sua mão pousar sobre a minha “acidentalmente” três vezes. O restaurante era longe, até demais.
‘Não parece nem um pouco como na revista.’, ouvi minha mãe reclamar do banco da frente. O carro havia parado e olhávamos todos para uma linda e florida fachada. De fato, não aparentava um restaurante, o que despertou minha curiosidade sobre seu interior.
Saímos um a um do carro, alguns satisfeitos com o que viam, outros não. Minha mãe entregou a chave ao manobrista e me olhou. Ela sorriu gentil. Seus olhos adocicaram-se.
‘Você está parecida com minha mãe, querida.’, minha avó havia morrido quando eu tinha quatro anos. Não me lembrava exatamente dela. Fui de encontro á mão estendida de minha mãe, sorrindo para ela.
‘Espero que sim.’, respondi. Andamos juntas até o interior do restaurante, em silêncio. Parecia uma trégua de paz por alguns instantes até que ela voltasse a criticar minha forma de falar, vestir, comer... Ser, no geral.
Havia uma grande mesa disposta para nós. Papéis brancos dispunham-se ao longo das cadeiras, cravas com nossos nomes em dourado. Ergui minhas sobrancelhas, deixando um curto suspiro surpreso pairar.
‘Acho que você se destaca aqui.’, Logan disse, aparecendo por trás de mim. Levei a mão ao peito e virei-me para ele. Condescendente, beligerante, indecifrável.
‘Estou começando a me arrepender de não ter aceito a chance de trocar a roupa.’, comentei, sentindo-me estranhamente deslocada. Todos no local pareciam me fuzilar, fazendo com que eu me sentisse despida por alguns instantes. Nossas mães puseram-se a sentar em seus devidos lugares, e por alguma triste – ou até mesmo contente – coincidência, Logan sentava-se ao meu lado.
Sentamos e pusemos os guardanapos em nossos colos, como sempre havíamos de fazer em todos os restaurantes, sempre chiques demais para guardanapos de papel. Nossas mães conversavam animadas sobre o ambiente, os filhos estavam quietos, como que com medo de dizer algo na presença da mãe. Logan olhava para frente, com as mãos espalmadas na mesa, completamente indiferentes a qualquer coisa.
‘Vão querer entrada, crianças?’, certas vezes me esqueço que ainda sou uma criança aos olhos de minha mãe. Todos nós assentimos, já que uma entrada nunca matou ninguém e eu tinha certeza que a melhor coisa daquele lugar seriam os pãezinhos.
Havia uma televisão ligada no "mute", presa em algum ponto alto da parede oposta à mim. Estava passando um filme clássico, Moulin Rouge. Ah, um dos meus favoritos. Já o havia visto ao menos trinta vezes. Vinte delas haviam sido com .
Estava entretida. Mesmo sem som, eu já sabia as falas de cor. Enquanto esperava a entrada, o que mal se passava pelos fundos de minha mente, via Santine e Christian cantarem. A música passava por minha mente como que cantada por eles, e eu apenas apreciava.
Foi de um susto bem disfarçado que percebi a mão de Logan apoiar-se em minha perna, próxima ao joelho. Ele não me encarava, o que me fez atuar papel de boba ao encará-lo com censura. Voltei a olhar para a tela, mas completamente dispersa da cena que se passava. Prestava atenção na mão de Logan e nos milímetros que ela subia vagarosamente.
Engoli seco e escondi um sorriso nervoso, o escoando para o canto dos lábios. A entrada chegou e logo ele precisou retirar a mão da minha perna, o que me deixou numa mescla gostosa entre alivio e carência.
Os pãezinhos estavam quentes e desliguei-me completamente da cena posterior para saboreá-los, já que seriam a única coisa que eu pretendia de fato deixar no meu estômago. Eram gostosos. Alguns com calabresa, outros apenas com alecrim. O ócio era enorme já que minhas supostas tias conversavam animadas sobre qualquer banalidade e eu tinha que saborear pãezinhos para não morrer de fome.
O joelho de Logan me tocou uma vez. Fingi não sentir e continuei olhando para Trudy, quem vez ou outra mergulhava seu pãozinho no molho picante que vinha como acompanhamento. O joelho de Logan me tocou mais uma vez. Dessa vez o olhei de esguelha. Ele me encarava, sorrindo enquanto partia um pedaço de pão.
Concentrei-me em meu próprio pão e o mergulhei no molho. Ao levar o pedaço a boca, o joelho de Logan me tocou pela terceira vez e eu engasguei com um pedaço relativamente grande, que se prendeu no fundo da minha garganta. Na aflição, abanei as mãos enquanto tossia, derramando o molho picante sobre minha blusa.
‘Ah, ótimo!’, exclamei quando finalmente me desengasguei. Uma mancha rosa estendia-se presunçosamente sob o tecido abaixo dos meus seios. Era realmente a última coisa que estava me faltando acontecer. ‘Vou ao banheiro.’, anunciei, levantando-me. Deixei o guardanapo sobre a mesa e virei-me para o labirinto de portas do único corredor do amplo restaurante.
Podia ser a cozinha, ou o banheiro masculino, ou até mesmo a área de fumantes, mas felizmente, atrás da porta número dois encontrava-se um cômodo com cores suaves.
Havia um banco de madeira encerada em uma das paredes. Provavelmente cedro. As cabines eram bem distribuídas à portas largas no lado oposto. Um espelho de corpo inteiro ocupava toda a extensão da parede lateral. Chique. Apenas.
Entrei em uma cabine, vendo uma pia com um pequeno espelho de rosto sobre ela e um vaso sanitário mais adiante. Ganchos de aço prata dispunham-se aos pares na parede, presumi que servia para apoiar as bolsas e enormes casacos.
Pus-me frente a pia e encarei os danos feitos a minha blusa através do espelho. Era uma mancha relativamente grande.
‘Droga.’, xinguei baixo, pegando uma considerável quantidade de papel e o molhando no registro automático. Aquela mancha não sairia fácil, mas quanto menos visível ela se tornasse, melhor. Esfreguei até o papel começar a se desfazer contra minha blusa. Dei-me por vencida e joguei o papel fora. A mancha rosada até poderia virar um acessório exclusivo.
Saí da cabine e virei-me para o espelho de corpo todo. Gostava da minha silhueta, no geral. Ombros magros e largos, seios fartos, quadris bonitos, pernas torneadas e brancas. Os jeans que usava as destacavam bem, despejando grande parte do tecido para os tornozelos.
Pigarreei e passei as mãos pelos cabelos, sorrindo para meu próprio reflexo antes de tomar caminho à porta. A abri, mas havia alguém parado ali, impedindo minha saída. Seus olhos verdes me encaravam, centelhas de desejo espiralavam-se por trás da doçura. Logan adiantou-se para frente. Dei um passo atrás. A porta se fechou. Estávamos sozinhos no banheiro.
‘Quantas vezes vou ter que tocar seu joelho para que você perceba que quero você?’, perguntou ele, se aproximando. Desta vez não hesitei. Permaneci onde estava deixando nossos corpos se roçarem, encostando-se vagarosamente.
‘Mais nenhuma.’, respondi, sorrindo divertida deliberadamente. Seus braços fizeram menção de abraçar minha cintura, mas apenas a ponta de seus dedos a roçou. Dei pequenos passos para trás até que finalmente estivesse com as costas contra o enorme espelho do banheiro.
Logan me sorriu, mordiscando o fim dos lábios carnudos. Suas mãos tomaram meu torso com uma velocidade inesperada, fazendo nossos corpos se chocarem com um barulho surdo. Minhas mãos seguiram rumo aos seus cachos bem penteados, pressionando involuntariamente seus lábios contra o meu pescoço. Antes que eu notasse, minhas pernas entrelaçavam-se ao redor de sua cintura e éramos tão pressionados um contra o outro que já não sabíamos onde um começava e outro terminava.
Seus lábios me tomavam o pescoço, indecisos entre mordidas e beijos, minha boca era tomada pela urgência. Desci meus lábios de encontro aos seus, iniciando um beijo carente de todo e qualquer tipo de carinho. Involuntariamente, minhas mãos pressionavam as suas, apertando com força meu quadril contra o seu.
Eu sentia cada mínima rigidez de seu tronco impressas em mim, sentindo meus seios doerem pela força do choque, meus lábios a ponto de se romperem, as temperaturas febris dos nossos corpos, as mãos exalando desejo, a intensidade que evoluía a cada segundo.
Parecíamos incapazes de controlar nossos próprios impulsos e nada apagaria a vontade, a não ser uma voz.
‘Eu sabia que vocês me escondiam alguma coisa.’, Trudy estava parada na porta, nos encarando com olhos indecifráveis.
‘Mãe, eu... Mãe!’, Logan me soltou devagar e senti meus pés tocarem o chão. Abaixei o rosto, sentindo-me tornar quase roxa. Logan me cobriu, pondo-me atrás de si. Eu já não conseguia sentir nem mesmo meio nervo, capaz de se mover em mim.
‘Antes eu do que os outros, querido.’, a ouvi entrar no banheiro, fechando a porta atrás de si. ‘Não vou contar nada à Lídia, , não se preocupe. Agora voltem para a mesa, estão pensando que vocês se perderam por aqui.’, a voz de Trudy não despontava nenhum tipo de constrangimento ou escárnio.
Logan moveu-se devagar até a porta, passando pela mãe. Atrevi-me a olhar para cima, mas os olhos verdes de Trudy me fitavam. Não transpareciam nada, fator que me preocupou por alguns instantes, mas o sorriso morno que surgiu em seus lábios me tranqüilizou o espírito.
‘Sempre quis que você e Logan namorassem.’, confessou ela, juntando-se a mim, de frente para o espelho. Ajeitou a blusa e os cabelos e me lançou um olhar carinhoso.
‘Acho que você é uma ótima menina para ele.’, eu absorvi tudo calada, ainda em choque. Mais um pouco e provavelmente Logan não poderia sair daqui e nossas blusas estariam em um lugar fora do alcance de nossas mãos, ainda assim, tudo que Trudy fez foi pedir que Logan voltasse a mesa e agora me dizia como via o quadro geral.
Balbuciei algumas sílabas de palavras aleatórias, sentindo-me uma completa imbecil naquele momento. Fechei os olhos, organizando a frase na minha cabeça.
‘Logan e eu não namoramos, Trudy.’, a avisei antes que criasse falsas esperanças quanto a isso. Ela me olhou com os grandes olhos verdes, indiferentes.
‘Eu sei disso, querida, embora a cena que eu tenha visto não me prove nada contrário.’, comentou ela com um sorriso sacana escoado nos lábios. ‘Já tive sua idade, . Já fiz coisas piores do que você. Não se preocupe, seu segredo está bem guardado.’, Trudy me piscou divertida e estendeu a mão para sairmos do banheiro.
Eu ainda estava aturdida com a repentina conversa no banheiro e passei o resto do almoço remoendo a cena. Quieta foi a descrição da minha mãe. Logan mal me olhou durante o resto do dia e sentou-se na ponta oposta do banco do carro. Quando chegamos em casa, ele limitou-se a acenar com um sorriso culpado antes de ir embora.
Já era quase noite quando deitei na cama. O crepúsculo despontava alguns feixes finos de luz dourada que invadiam o céu carente de estrelas. Olhei para a varanda e vi a luz do quarto de acesa. Sorri involuntariamente e me levantei, correndo para a minha bancada.
‘Psiu.’, o chamei, esperando que ele me olhasse. Ele tinha algumas páginas em mão e uma caneca de conteúdo fumegante em outra. Reconheci sendo seu café, na caneca marrom com listras verdes. ‘Escritor.’, o chamei novamente, recebendo então sua atenção. Ele me recebeu com um sorriso sonolento e olhos cansados. Saiu até sua varanda e pôs as páginas de lado, apoiando-se nas barras de ferro.
‘Olá pequena. Como foi o almoço?’, perguntou ele, pondo a mão vaga no bolso da calça jeans. Bufei meado um riso patético e rolei os olhos. ‘O que aconteceu?’, ele se sentou em sua cadeira e puxou a outra. Pus uma perna para o lado exterior da varanda e depois a outra. Peguei impulso e pulei até a base firme da casa de . Ele me olhava com olhos curiosos e lábios encrespados em um sorriso irônico.
‘Fui pega no ato.’, respondi, sentando-me na cadeira destinada para mim. Cruzei as pernas como de costume e olhei para . Vi a curiosidade desenhando-se em seu rosto.
‘O que você estava fazendo, ?’, perguntou ele, pondo sua caneca de lado, ao lado das folhas.
‘Logan me surpreendeu. Estávamos... Ehr...’, cocei minha nuca sem jeito, olhando para o chão, parecia interessante hoje.
‘Relaxa tampinha, eu sei como sexo começa.’, disse ele, segurando um riso esperto. Pegou sua caneca novamente, mas antes de levá-la a boca, me olhou com a sobrancelha erguida. ‘Pega por quem?’
‘A mãe de Logan.’, respondi por debaixo do fôlego, esperando que ele não entendesse. Seus olhos se alargaram e eu vi em neles, a cena se formando em sua cabeça. Entortei os lábios, sem jeito e pus o cabelo atrás da orelha. ‘Mas então... Você foi visitar , certo? Como foi?’, perguntei, desesperada pela mudança de assunto. A voz de Trudy ainda me assombrava, e a cada vez que me lembrava da cena recente, um calafrio brotava na lombar da espinha e subia até meu coração.
‘Fui, acabei não ficando muito. estava linda, fiquei impressionado como ela havia mudado.’, respondeu ele, como se falasse de uma criança. não era exatamente uma criança, tinha minha idade. ‘Ela me apresentou a uma amiga, mas a idéia de ser conjugue de uma menina de dezessete anos não parece apropriada.’, ele tomou mais de seu café e me olhou por cima da borda da caneca.
‘Bem, você tem seus trinta e tantos anos, o que você veria numa tampinha de dezessete, certo?’, ninguém podia me culpar por atiçar a cabeça de . Gostava de ver a forma como ele reagia a certos comentários.
O vi se empertigar, pondo a caneca de lado, parecia capaz de qualquer coisa naquele momento. Mas na simplicidade que só tinha, ele se ajoelhou, pondo uma das mãos no meu joelho dobrado e me lançou um sorriso bonito. Antes que eu percebesse, o retribuía com um sorriso coquete, completamente inapropriado.
‘Se você falar mais uma vez que tenho problemas com garotas de dezessete anos só porque sou mais de uma década mais velho, vou a uma boate e trago para casa a primeira ninfa que vir na frente.’, ele piscou, passou o dedo indicador sob meu queixo e se levantou. Permaneci estática por alguns segundos, até finalmente levantar o olhar e o encontrar encarando-me com a destreza de um cavalheiro.
‘Você já faz isso, .’, o alertei, pondo meus pés no chão. ‘Não o julgo por isso, não tenho absolutamente nada contra casais de idades diferentes, mas você deveria rever seus últimos atos. Talvez sair com a amiga de fosse algo apropriado, ela poderia ser uma tampinha muito melhor dos que as interesseiras que você tem posto dentro de casa. E pior, na sua cama.’, me levantei, vendo a expressão de suavemente mudar para um choque inesperado.
‘Temos dezessete anos, , usamos a cabeça.’, enraivecida, voltei-me para as barras de ferro, pronta para pular para a minha varanda.
‘Você tem que parar de me dizer a verdade assim, sabia?’, segurei as barras de ferro com força, desejando por um instante que fosse a cabeça de . Respirei fundo o ar gélido da noite recém caída e me virei de volta para a silhueta de um homem cansado. Não fisicamente, mas interiormente derrotado. Por si próprio.
‘Alguém mais vai dizer?’, perguntei, cruzando os braços na frente do corpo. Ele pareceu encolher vários centímetros à menção das minhas palavras. Seus olhos haviam perdido a vida. De alguma forma eu sabia que sua ex-mulher o havia tirado alguma coisa, só não sabia o quê. Sempre que eu chegava próxima a resposta, de alguma forma, ele me provava errada e eu voltava ao zero.
‘Está com sono?’, perguntou ele. O encarei torto, sem saber de fato o que aquilo significava. ‘Sono, você quer dormir?’
‘Mas o que isso tem...’, seus olhos me deram basta. Suspirei e descruzei os braços. ‘Não.’, respondi, olhando para , indiferente. Ele me estendeu uma das mãos, esperando que eu a pegasse para algum fim inesperado. Eu nunca sabia o que esperar, com precisão, de .
Minha mão parecia mínima dentro da sua. Miúda e frágil. Ele a segurou e vagarosamente me puxou para dentro de sua casa. Eu já conhecia o quarto. Todo decorado com tons terra, uma cama de casal com dossiês de madeira fina, um armário bem posicionado na parede oposta, um lustre bonito em sua singularidade e um estante de livros, ímpar em um canto do quarto.
soltou minha mão quando estávamos no meio do cômodo e dirigiu-se à estante, pegando um livro sem nome na lateral. Era rosado, de capa dura e tinha tranca. Era um álbum de fotografias. A foto na capa me fez entender. Era o casamento de .
‘Senta, tampinha.’, ele me apontou a cama com colchas bege e marrom. Obedeci e sentei-me na cama, abraçando um travesseiro. aproximou-se e sentou-se ao meu lado, pondo o álbum em nossa frente.
‘Está trancado.’, comentei enquanto mexia no pequeno cadeado dourado com a ponta dos dedos. inclinou-se até a mesinha de cabeceira, abrindo a primeira gaveta e pegando uma dupla de chaves unidas por um arco de metal. Eram chaves pequenas, douradas. Abriam o cadeado.
A primeira página do álbum mostrava uma foto de uma mulher bonita, com longos cabelos negros, e olhos verdes bondosos e ao lado, uma foto de um homem jovem, feliz, . O olhei e vi seus lábios tomados por um sorriso triste.
‘Qual era seu nome?’, perguntei, acariciando a foto da mulher com a ponta dos dedos. Era bonita; Algo em sua beleza me chamava a atenção.
‘Lucy.’, sua voz estava trêmula, e pela primeira vez me deparei com o coração aberto de . A qualquer instante ele poderia se debulhar em lágrimas e dizer o quanto sentia a falta de Lucy. Essa idéia me aterrorizava.
‘Era bonita.’, elogiei, voltando a olhar para o álbum. As páginas eram recheadas com os mais diversos momentos da cerimônia e da festa. Não me lembro de jamais ter visto um sorriso tão grande ou feliz nos lábios do escritor sentado ao meu lado.
Não cheguei a ver até a última página, já que quando o fim se aproximou, eu fechei o álbum e metralhei com minhas perguntas. Inúmeros pontos de interrogação se formavam em minha mente e eu já nem sabia por onde começar.
‘Por que você não tenta ser feliz de novo?’, perguntei, hesitando em alguns instantes. Ao olhar para , vi em seus olhos o quão espremido e dolorido seu coração estava. Seus lábios entortaram-se em uma tentativa fracassada de sorriso. Eu apenas pus meus dedos em seus lábios, o impedindo de sorrir. ‘Por quê?’
‘Não seria justo com ela.’, sua voz pendia a um fio do desespero. O pavor de vivenciar o buraco em seu peito novamente dominava cada semitom de suas cordas vocais.
Pus o álbum de lado, ajoelhando-me na cama, a sua frente. Segurei suas mãos, acariciando sua palma com os polegares. Era estranho ver naquele estado. Ele nunca fora um homem frágil do meu ponto de vista. Acho que o fato dele ter tido coragem de revelar esse pedacinho de mistério passado apenas o fez parecer mais homem, ao meu ver.
‘Lucy morreu há dois anos. Acho que não seria justo com você mesmo não se permitir uma vida.’, disse, o vendo abaixar o olhar até a colcha. ‘Você tem que se permitir de novo, . Lucy ia querer que você fosse feliz.’, completei. Os olhos azuis subiram de encontro aos meus, havia uma ponta de ironia e humor ácido escondido por trás do medo.
‘Talvez não ainda.’, soava como algum tipo de súplica. Então entendi. precisava de alguém. Alguém que pudesse conversar sobre tudo que o atormentava, todos os fantasmas de seus passados. Alguém que não estivesse sofrendo, para o dar permissão.
‘Dois anos passaram rápido, . Você poderá estar com cinqüenta anos e sozinho antes que perceba.’, apertei suas mãos, pedindo que olhasse diretamente em meus olhos.
‘Fica aqui até eu dormir?’, era uma forma disfarçada de pedir que não o deixasse sozinho. Apenas sorri e levantei da cama, me dirigindo até a porta. O interruptor ficava próximo ao armário. Abaixei a pequena alavanca, deixando que as únicas luzes a entrar na casa fossem a da lua e do pequeno abajur, na mesinha de cabeceira.
punha o álbum de lado quando voltei à cama. Deitei-me, pondo dois travesseiros sob minha cabeça e senti-o arrastar seu corpo até próximo ao meu. Permanecemos deitados, em silêncio, olhando para o teto. Não conseguia pensar no que dizer e ele parecia a vontade com as verdades que o silêncio o sussurrava.
Eu conseguia ouvir sua respiração pesada e arriscaria dizer, até seu coração pulsando violentamente contra suas costelas. Parecia doloroso. Seus dedos roçaram nos meus, temerosos. Segurei sua mão, pressionando com firmeza.
‘Obrigado.’, sua voz era apenas um sussurro doce. Podia me acomodar com a idéia de ser alguém importante para . Virei o rosto para ele, subindo os olhos vagarosamente.
‘Não precisa agrade... cer.’, sorri ao ver que ele havia adormecido. Depositei um beijo em sua testa e me levantei. Saí do cômodo, encontrando algumas folhas e uma caneca na mesinha da varanda.
Sentei-me na cadeira vaga, aprontando-me para ler, mas não parecia haver nada novo. Levei as folhas e a caneca para dentro dos aposentos e, calmamente, pulei para a minha própria varanda, assustando-me ao perceber que não era a única habitante do meu quarto.
‘Logan!’, exclamei, levando a mão ao peito. Logan estava olhando meus porta retratos ao lado dos meus livros da pequena prateleira na parede colorida. Seus olhos verdes pareciam estranhos, seu sorriso confuso.
‘Oi, .’, cumprimentou-me e largou sua atenção das fotos, dando pequenos passos em minha direção.
‘Logan, você perdeu a cabeça? Minha mãe pode entrar, sua mãe pode dar sua falta, meu pai ficaria furioso se o encontrasse aqui...’, fui calada pelos lábios macios e as mãos firmes de Logan, me abraçando com tanta força que me faziam perder o fôlego.
Sua boca parecia a ponto de estourar, fortemente pressionada contra a minha. Com pequenos carinhos em minhas costas, Logan me ganhou. Abri espaço para sua língua invadir, brigando com a minha.
Com urgência, e eu diria até fúria, suas mãos adentraram minha blusa, a arrancando de mim e jogando longe. Seus olhos encontraram os meus por segundos indefiníveis, e antes que notasse, eles sumiram. Reconheci sua boca se apossando do meu pescoço enquanto a ponta de seus dedos percorria um caminho cego pelas minhas costas.
Minhas mãos rumaram para seus quadris, subindo por dentro da blusa involuntariamente. Eu já conhecia cada minúcia da tez bronzeada de Logan, desde seu pescoço até o fim de suas pernas. A ponta de meus dedos tracejaram sua silhueta, subindo sua blusa vagarosamente.
A pressa era enorme, eu sentia a necessidade exalando do corpo de Logan pela boca, pela pele, pelas mãos. Minha calmaria foi vencida pela brutalidade de seus atos, quando ele retirou de si próprio a blusa, fazendo um estalo lacivo. A blusa havia se rasgado. Um sorriso gostoso pairava entre nós, invisível. Meus olhos baixaram, secando o físico talhado de Logan. Meus dedos fizeram o caminho desde a linha divisória de seu peitoral até o cós de sua calça e seus olhos os acompanhavam, intolerantes, luxuriantes e ásperos. Busquei o zíper da calça com insuportavel lentidão, sentindo que algo pulsava por baixo do tecido.
‘Tira.’, não era nenhum tipo de pedido, não havia conforto algum naquela voz. Apenas uma ordem seca. Meus olhos sorriram tortuantes para o verde imenso de Logan e lascas de desesperos dançaram em seus olhos.
Juntei meu corpo ao seu, sentindo cada formidade de pele contra pele. Com a mão vaga, segurei uma das de Logan, a levando até o fecho do meu sutiã. Ele sorriu, vitorioso, mas antes que abrisse minha peça intíma, meus dedos adentraram, um a um, em sua calça. Seus olhos se abriram em ansiedade e permiti escorregar-me para dentro da boxer. Seu membro estava apertado e desconfortável, completamente confinado. O maltrataria um pouco mais, segurando-o com firmeza, apreciando cada suspiro pesado de prazer de Logan a cada violentação de acelaração que eu fazia entre os movimentos puramente masturbatórios.
‘...’, seus lábios indefiniam-se entre meu pescoço, ombro e raras às vezes, boca. Senti seu membro implorar para sair dos confins da calça, duro em minha mão. Desci sua calça, levando com ela a boxer. Tomei seu pescoço com os dentes, o ouvindo gemer quando recomecei os movimentos da mão, livremente intercalados entre velocidade e força. Seus braços me envolveram, suplicando por velocidade, pelo ápice. Meu nome foi implorado as mais diversas vezes, e quando feito, eu o brindava com pequenas lambidas ou gemidos, sentindo seu corpo se tornar mais rijo, o prazer quase o sufocando.
Logan cedeu quando me permiti um longo gemido ao sentir ambas as suas mãos apertarem minha bunda, pressionando seu membro duro contra a breguilha da minha calça. Ele me empurrou, sem menção de força, contra minha escrivaninha, onde tudo que pude fazer foi buscar apoio enquanto ele se aproximava, trazendo consigo algo desorbital.
Enquanto ele descia minha calça, obstinado a arrancar minha calcinha no processo, eu me livrava do sutiã, peça que havia se tornado mais um empencilho do que de fato, desejável. Logan segurou-me com um braço apenas, me pondo sobre a mesa e forçou minha entrada contra seu pênis com força tamanha que gemi de dor. Meu quadril fervia e meu ventre logo passou a pedir por mais investidas, mais de Logan. Como uma forma de conduzir Logan a me obedecer, cruzei ambas as pernas em suas costas e levei minhas mãos as laterais de seu quadril, o impulsionando contra mim com uma ansia descomunal.
Meus seios chocavam-se contra o peitoral malhado, dolorindo-se de uma forma prazerosa. As mãos de Logan me induziam à ele, cada vez mais forte, mais fundo, melhor. Os gemidos eram incontroláveis, quase gritos estrangulados soltos por debaixo do fôlego pesado e falhado, escondidos por um suor pecaminoso.
Nossas bocas buscaram contato, mas a pressão das línguas e o calor que apenas um beijo trazia a atmosfera deixou claro que não seria possível levar adiante. Buscamos nos ocupar com pescoço, ombro, mas nada era tão intenso quanto o fogo do beijo. Senti meu corpo estremecer por inteiro, meus músculos pulsarem ao redor do membro de Logan, mas suas investidas apenas ficaram mais fortes enquanto sentia meu gozo derramar-se sobre ele.
Em questões de segundos, seu membro estava por inteiro dentro de mim e os ossos de nossos quadris doíam, uns contra os outros. Abrimos os olhos, com medo do que esperar ver no próximo minuto, mas vimos apenas satisfação e pouco ar. Soltamos o fôlego falhado contra a boca do outro, sentindo nossos corpos unidos, a força que recusávamos diminuir. Pequenas correntes elétricas ainda me levavam a mínimas pulsações e Logan parecia apreciá-las.
Segurando-me pelas coxas, ele me levou até a cama, deitando sobre mim, sem tirar nem um centímetro inteiro de seu pênis de mim. Entendi perfeitamente o que ele esperava e um olhar condescendente o permitiu. No primeiro instante, quis reagir e acabar com a tortura, sanando todo meu desejo ainda incubado por aquele homem, mas algo me fez permanecer estática, rendendo-me aos poucos com gemidos e expressões involuntárias de prazer indescrítivel.
Logan retirou todo seu membro de mim e voltou a me agulhar com apenas a cabeça. Meu primeiro instinto foi querer metê-lo todo de volta dentro de mim, mas segurei-me, deixando que aquele pequeno pedaço de prazer me levasse a outra esfera. A cada agulhada, eu ganhava alguns centímetros a mais, sentindo minha vulva inchar de excitação. As pequenas e provocativas investidas me vinham lentas e suaves, mas repentinas.
Antes que eu notasse, implorava por velocidade em sussurros desesperados no ouvido de Logan. Ele apenas sorriu, deixando que minhas palavras despertam-se nele algum instinto animalesco. Repentinamente, eu possuia-o todo de dentro de mim e ele me puxou, pondo-me sobre ele. Suas mãos passearam pelo meu ventre, seios e costelas enquanto esperava que eu começasse e empurrá-lo para dentro de mim. No instante em que inclinei minha cabeça para trás e dei início as novas investidas, senti dois dedos estimularem meu botão, fazendo-me gemer de forma intensa.
Inclinei minha cabeça de volta, de forma que pudesse encara-lo, mas logo constei que meus olhos não aguentariam-se abertos por muito mais tempo. Seus dedos pareciam incansaveis enquanto eu o empurrava cada vez mais fundo, mais rápido e mais forte. Senti sua mão vaga puxar-me pela cintura para deitar sobre ele, mas logo compreendi que era meus seios que o satisfaria. Uma vez com as bocas unidas, sua mão deslizou até meu quadril, forçando-o para baixo, controlando as investidas, controlando a força e a agilidade. A intensidade para a qual nos dirigiamos era rápida e logo precisei separar minha boca de Logan para anunciar o ápice com um gemido rouco e satisfeito.
As mãos de Logan permaneceram em meu quadril, me empurrando para baixo devagar, prazerosamente até que senti-o, mais uma vez, completamente duro em mim. Permanecemos estáticos por alguns instantes. Os olhos fechados, as bocas entre abertas, as mãos apertando a pele, o fim de desejo se esvaindo aos poucos. Sentimos nossos corações voltarem a um ritmo mais aceitável para nos merxermos. Rolei para o lado da cama, exausta. Meu coração havia acabado de voltar a algo decente quando o senti ser fortemente puxado até meus pés, com uma força bruta e amarga.
permanecia deitado em sua cama, com os olhos abertos, encarando meu corpo nu, lustroso de suor, exaurido e acabado na cama. A mão de Logan segurou a minha e meus olhos se arregalaram, averiguando se eu realmente via ali, ou se estava apenas delirando.
virou-se para o abajur ao lado da cama e o desligou, permanecendo deitado de costas para mim, até que Logan me puxou para si novamente.
Havia se passado uma semana desde que vira, ou talvez não, meu itinerário sexual com Logan. Eu não o via na varanda, ou saindo de casa e rara às vezes o via em seu quarto. Já desconfiava que ele nem mesmo dormisse mais ali.
Comecei a sentir meus nervos aflorarem numa sexta feira, quando me lançou um olhar significativo antes de fechar sua cortina para apreciar uma noite prazerosa com uma loira de curvas geográficas. Não era aceitável que ele estivesse se trocando comigo, especialmente por algo que não foi proposital.
Não consegui dormir durante essa noite. Busquei de todos os métodos para que o sono me encontrasse, mas esse evento foi totalmente adiado e substituído por um compromisso inadiável com a preocupação de ter perdido . Eu não havia feito nada errado, muito embora não me sentisse confortável com a idéia dele ter me visto por em pratica atos que antes eram apenas poucamente comentados.
Esperei pela manhã de sábado, quando vi, da minha varanda, o carro da menina loira ir embora. Mentalmente, a xinguei até os ossos e agilizei-me para a varanda de . Espiei vagamente pelas frestas da cortina e constatei que ele já não dormia mais. Sentei-me em uma das cadeiras de sua varanda, esperando. Alguns minutos depois escutei o barulho que tanto queria. A cortina se abriu. A princípio, feroz, mas depois sua fúria diminuiu.
‘Te assustei? Ah, perdão!’, fingi preocupar-me, escondendo porcamente as pontadas de raiva que despontavam em mim naquele momento. me olhou com os olhos mornos de quem acaba de acordar. Não conseguia acreditar no que via.
‘Bom dia, pequena. Como você está?’, perguntou ele, puxando uma cadeira para perto de mim. Sentou-se e bagunçou os cabelos de trás para frente, os deixando completamente desgrenhados e fora de lugar. Balbuciei algumas poucas palavras indecifráveis e voltei a mim.
‘Quer me explicar o que foi essa última semana?’, perguntei, o fuzilando com olhos de aço. Não queria que ele me propusesse alguma conversa fiada e acabasse por me dispersar do que eu queria de fato.
pareceu desconfortável na cadeira, se remexendo para achar alguma posição agradável, mas voltando à inicial, no final das contas. Suspirou algumas poucas vezes antes de conseguir sustentar meu olhar com sinceridade.
‘Não vou mentir, eu vi o que você fez.’, ele apontou minha varanda com o queixo, erguendo uma sobrancelha em desdém. Franzi meus sobrolhos, desenhando uma expressão perfeita de indiferença. Ele soltou muxoxos antes de finalmente se render com um olhar derrotado. ‘Estranhei ver você...’, a palavra ficou presa em sua garganta.
‘Transando.’, conclui, sentindo meu colo arder em rubor. Ele sorriu torto, apenas assentindo.
‘Você virou mulher nos meus olhos em dois minutos. Era muito pra absorver. Queria ter falado com você terça, mas eu acabei sendo chamado para trabalhar na tradução de alguns manuscritos e fiquei sem tempo.’, eu não achava que eles estivesse mentindo. Seus olhos pareciam um tanto desolados, mas ainda assim sinceros.
Sorri sem jeito, encarando minha própria varanda, imaginando como teria sido estranho ver aquelas cenas dessa forma. Voltei a olhar para , flagrando-o com os olhos esculpidos, a sensação perdida de quem acaba de se deparar com um estranho. Igualou-se a um gancho puxando ferozmente meu estômago para baixo.
‘Quem era aquela?’, perguntei, movimentando a mão levianamente em direção ao quarto. Os olhos de acordaram do devaneio, aturdidos ao encontrar os meus.
‘Briana. A achei num bar.’, respondeu ele, puxando a blusa e a soltando, sem motivo aparente. Sorri irônica, olhando para a rua, onde o carro da mulher loira esteve há minutos. De certa forma, eu me sentia propensa a desistir de achar alguém para ele, mas outra parte me dizia que ainda era causa pela qual se valia lutar.
‘Bem, acho melhor você tomar um bom banho, depois conversamos. Quero saber desse seu trabalho, como andam as coisas por lá... Senti sua falta.’, comentei, ao me levantar. também se levantou, deixando uma distancia física pequena, embora enormemente constrangedora entre nós.
‘Quando acabar, bato na sua varanda.’, avisou ele. Afastei-me alguns passos pequenos, com um sorriso pouco convincente nos lábios. ‘Também senti sua falta, tampinha...’, disse, antes de voltar para dentro de casa.
Pulei de volta para a minha varanda depois de me convencer de que ele estava indo tomar um banho e não fugir. Tomei proveito do tempo para tomar um banho quente, sentar nos ladrilhos mal colocados do chuveiro e tirar o cheiro de mofo de mim.
Eu já estava com todas as peças exceto a blusa, quando voltei ao meu quarto e encontrei sentado na cadeira em frente à escrivaninha. Ele parecia compenetrado nas minhas anotações e não me surpreendi quando ele não virou o rosto para presenciar minha entrada seminua. Pus a blusa com agilidade e fui ao seu encontro, pousando a mão calmamente em seu ombro.
ergueu-se assustado, virando os olhos para mim. Havia folhas com a minha caligrafia em sua mão, um sorriso contente em seus lábios e talvez satisfação.
‘Eu gosto das suas idéias, pequena.’, comentou ele, balançando as folhas que antes enfeitavam minha escrivaninha. Apenas sorri e retirei minha mão de seu ombro. ‘Realmente acho que você daria uma boa escritora.’ disse, pondo as folhas de volta ao seu lugar de origem. Ri debochada enquanto me afastava, indo me sentar em minha cama.
‘Não tenho absolutamente nenhuma manha para isso, . Prefiro ler, me poupa o trabalho de criar.’, respondi, passando os dedos entre os cabelos, desembaraçando alguns nós.
Ele me sorriu torto, conformado. Andou vagarosamente até meus travesseiros e sentou-se no meio deles, inclinando-se para tirar os tênis e joga-los no chão de qualquer maneira. Virei-me para ele, entrelaçando meus próprios dedos, fitando seus olhos por alguns instantes.
‘Vai me contar como conseguiu o trabalho?’, perguntei, dobrando os joelhos. Ele me sorriu orgulhoso, bonito. Não pude evitar em o acompanhar. ‘Vamos, ! Conte logo!’
‘Fui indicado. A proposta inicial era para , mas ele tem sua coluna e um casamento a arrumar. Indicou-me como uma forma de se redimir e por lembrar que eu precisava de trabalho.’, ele respondeu, abanando as mãos de forma leviana e despretensiosa.
‘Então agora você revisa manuscritos. Já ponderou que isso poderia ser um intermédio para você lançar seu próprio livro?’, questionei, entortando a cabeça, observando cada mudança da expressão de .
‘Não tinha pensando nisso, tampinha.’, respondeu ele, parecendo intrigado com a idéia. Suspirou e me encarou. ‘Andei escrevendo.’, sua cabeça estava baixa, mas seus olhos levantados, buscando os meus. Minha curiosidade provavelmente estampou-se em toda a minha face, já que ele apenas riu brevemente, voltando a encarar as mãos. ‘Mas ainda não está no ponto.’, fiz uma carranca pouco satisfeita, mas a disfarcei com um belo sorriso, mostrando meus dentes ao máximo.
‘Trate de deixá-lo no ponto, e logo. Sabe que fico curiosa!’, me levantei, buscando um pente ou escova, qualquer coisa que fosse mais útil que meus dedos. repetiu meu gesto, parando pouco atrás de mim, admirando nossa imagem refletida no espelho.
era mais alto que eu por vários centímetros. Seus ombros eram largos, seus braços fortes eram escondidos pelas mangas da blusa. Era proporcional de uma forma simétrica, era galanteador e bonito. Seus olhos sorriam para mim, para nós.
‘O que acontece entre vocês?’, então eu sabia que se referia a Logan. Meus olhos ávidos desnortearam-se, turvaram-se por breves instantes antes de eu desviar o olhar para algum canto qualquer do quarto, pelo espelho.
‘Nada.’, mordisquei o canto do meu lábio. O silêncio pairou por alguns instantes, eu apreciando a culpa da minha mentira. ‘Sexo.’, respondi, erguendo os olhos até os seus.
‘Só sexo?’, perguntou, desconfiado. Empertiguei-me, sentindo sua censura me oprimir. Dobrei os lábios e soltei o pente sobre a superfície mais próxima.
‘No começo era. Brincadeirinha, um trato idiota. Hoje é algum tipo de desejo insaciável e incesto. Continua sendo sexo, só sexo. Mas não é brincadeirinha de duas crianças que queriam descobrir o poder disso tudo.’, confessei, admitindo para mim mesma que já havíamos deixado de ser crianças há um longo tempo.
‘Você não... Gosta dele? De estar com ele? Namorados, . Você fala tanto de mim, mas eu não me lembro quando foi que te vi com alguém.’, ele segurou meus ombros, me balançando suavemente, quase num embalo. Busquei sua expressão refletida, encontrando algo ao qual eu me identificava. Solidão. Senti um ligeiro vazio domar meu peito, mas o deixei para outra hora, sorrindo de maneira torta, pouco convincente.
‘Só tive um namorado. Não espero isso de Logan, não quero que ele seja... Isso. Entende?’, catei as pontas do cabelo, fingindo estar muito interessada nelas. Estavam claras, graças ao sol a pino que andava fazendo... Eu não era a maior fã do aquecimento global.
‘Na verdade não. Mas ainda não me respondeu... Você gosta dele?’, eu sentia seus olhos em mim, o rubor tomou meu colo e minhas maçãs. Evitei olhar para cima, ainda brincando com meu cabelo molhado.
‘Gosto... Digo, não assim. O Logan é mais uma imagem de namorado do que de fato um, não me dou ao luxo de gostar de alguém que se laça comigo por interesse.’, ergui a cabeça, admirando a mim mesma no espelho. Não olhei para , não olhei para nada além de mim. Senti as mãos em meus ombros me darem pequenos tapinhas. Não era consolo, as pontas de seus dedos agarrando ao tecido da minha blusa não me davam nem mesmo um vestígio de consolação.
‘É uma pena, ele parece ser um bom menino.’, senti o calor do seu corpo afastar, então me vi sozinha no espelho. Uma menina torta, no fim de sua desenvoltura com um sorriso desengonçado nos lábios avermelhados. Parecia uma piada.
‘Sexo tem muito a ver com poder, sabe?’, ergui meu rosto até poder ver rondando pelo meu quarto, fazendo semicírculos. ‘Na verdade, sexo é poder. Gosto da sensação, gosto de saber que exerço algo sobre alguém. Já sentiu isso? Essa...’
‘Autoridade?’, seus olhos me olhavam, faiscando algo incompreensível.
‘Domínio.’, completei, sorrindo presunçosa, a ponta dos lábios orgulhosamente voltada para cima. sorria, desafiador. Virei-me para ele, deixando o espelho para trás. ‘Se sentia assim com Lucy?’, perguntei, moderando os passos, jogando o peso do corpo de lado para lado até sentar na minha cama.
‘Sentia.’, seu sorriso sumiu, dando algo parecido com impaciência. Não era esse o rumo das coisas, eu sabia. ‘Mas era uma mescla de carinho, eu nunca tive coragem de ser... Tudo.’, suas mãos se afundaram em seus bolsos, quase socando a verdade neles. Suas faces avermelharam-se, vergonhosas. Eu apenas sorri a forma de confortá-lo.
‘Vou a uma grande festa hoje, temática.’, comentei, afim de mudar o assunto. Seus olhos encararam-me, desconfiados. ‘Preciso de um par.’, insinuei, cruzando as pernas.
‘Qual o tema?’, perguntou ele, aproximando-se indiferente.
‘Máscaras. Era medieval.’, era uma festa da escola, mas eu não precisava que ele soubesse disso. A verdade era que o tema tinha tudo para com , seria um desperdício não chamá-lo. ‘Se interessa?’, perguntei.
‘Hoje à noite?’
‘Tem algo melhor para fazer ou me deixará na mão por uma Briana?’, cruzei os braços, o fitando com um sobrolho erguido.
‘Certo, eu te faço companhia.’, ele sorriu, tirando as mãos dos bolsos. Sorri satisfeita e me pus de joelhos no colchão, os braços estendidos para um abraço. riu e me abraçou, em pé sobre o chão, tínhamos quase a mesma altura, eu ainda era mais baixa.
‘Te aviso quando começar a me arrumar’, disse, o soltando. Ele assentiu e virou-se para a varanda, pronto para ir embora.
‘Você quem manda.’, e com isso, saiu. Passei algum tempo, não sei ao certo quanto, encarando o teto, repassando algumas passagens da conversa. era interessante. Havia se tornado interessante. Isso me incomodava.
A festa era às oito, às seis comecei a me arrumar. Avisei tacando pedras em sua porta, pedrinhas de uma vaso de plantas artificiais da minha varanda. Ele apareceu, suado, sem blusa, apenas com uma calça. Levei um susto e cocei os olhos.
‘Desculpa, estava ocupado.’, seu sorriso doce não tirava a expectativa do momento. Me concentrei apenas em respirar por alguns instantes e rezei pela futura mulher de . Ela não teria problemas com isso.
‘Se-sem problemas. Vou me arrumar, apresse-se.’, avisei e voltei para meu quarto. Fechei as cortinas, ainda vendo a silhueta de sobre a luz amarelada de seu quarto. Suspirei agoniada por um instante, relaxando os ombros em seguida. Raspei a garganta e fui de encontro com meu vestido. Era vermelho, com uma fina fita dourada dividindo o busto do resto do torso. Todos os assessórios eram dourados.
O pus por cima do corpo. Ainda tinha minhas duvidas se ficaria bonito. Joguei o pensamento para mais tarde e fui tomar um longo banho gelado. O telefone de casa tocou enquanto enrolava minha toalha. Esperei que desistisse, mas ele tocou ate cair na caixa postal. O atendi, ouvindo a voz de minha mãe deixar-me um recado.
‘, querida, sei que disse que voltava hoje, mas seu pai e eu resolvemos ficar mais três dias...’
‘Três dias?’, perguntei, surpresa.
‘Sim querida, três dias. Onde estava que não atendeu ao telefone?’, perguntou, curiosa com a minha respiração esbaforida. Ela podia ver meu colo se mexendo rapidamente, molhado da água. Eu sabia que ela via.
‘No banho. Enfim, divirtam-se, não esqueçam de voltar para casa, sim?’
‘Certo querida, cuide-se e nos ligue caso precisar de alguma coisa.’, a linha ficou muda depois disso. Meus pais estavam tentando cumprir uma antiga promessa de viajar por cinco países da Europa em um mês. Cumpriram a promessa, agora estavam apenas aproveitando.
Voltei ao banheiro, pegando a bolsinha de maquiagem e o telefone tocou novamente. Esperei que caísse na caixa postal de novo, para que eu soubesse quem era.
‘! Atende, eu sei que você está ai! Atende!’, era Heather, uma amiga da escola. Corri para o telefone e atendi.
‘Pronto, pronto, o que houve?’, perguntei afoita. Ela suspirou.
‘Dylan terminou comigo! Não quero ir à festa!’, exclamou ela. Esbugalhei os olhos, chocada. Eles eram o casal mais bonito que qualquer um já havia visto, namoravam há décadas! Parecia uma brincadeira.
‘Não não, calma Heather, como isso foi acontecer?’, perguntei, sentando-me na cama. Senti as gotas de meu cabelo atravessarem minha espinha, molharem meus ombros e meu colo, estava começando a ficar frio.
‘Ele gosta de outra menina, uma novata! Ele ia me levar para a festa, ele ia...’, sua voz estremeceu, então se irrompeu em lágrimas. Eles iam casar, era o que ela ia dizer. Fechei os olhos buscando palavras de consolação, mas nenhuma me vinha à mente.
‘Você quer passar a noite aqui?’, perguntei, olhando para a minha cortina fechada, mordiscando o lábio. Esperava que ela dissesse sim, mas queria que ela dissesse não.
‘Ah, sim, eu quero!’, me rendi e busquei a sensatez. Ela viria, a festa ficaria para outra hora.
‘Então venha, vamos nos entupir de doce e ver filmes, quem sabe até não saímos um pouco.’, a avisei. Pude ouvir sua meia formação de sorriso.
‘Ta.’, sua voz estava anasalada e açucarada. ‘Obrigada, amiga.’
‘Não por isso.’, e desliguei. Deixei minhas mãos repousando no colo, olhando para minhas cortinas, vendo alem delas. Vendo . Ele acharia algo para fazer, era grandinho, tinha um carro e dinheiro, o que mais ele podia querer?
X
Heather chegou com os olhos vermelhos, a ponto de saírem da órbita. Estava mal vestida, parecia que havia se vestido no escuro. Os longos cabelos morenos estavam desgrenhados e carregavam uma quantidade infindável de nós visíveis. A acolhi num abraço, sentindo imediatamente suas lágrimas mancharem minha blusa. Ela estava um trapo.
Sua bolsa enorme foi largada no chão do hall, e fechei a porta com o pé enquanto a trazia para os cômodos confortáveis da casa. Sentamos no sofá, e pus seu cabelo atrás da orelha, vendo seu rosto maltratado por horas de choro pesado.
‘Ele... Ele...’, então ela se desmanchou novamente, com as mãos no rosto, descompensada. A tomei nos braços, a balançando suavemente, embalando num ritmo gostoso.
‘Shh, shh, fica calma, amiga.’, fiz carinho em seu cabelo, ouvindo seus soluços carregados de uma culpa que não era dela. ‘Ele não te merecia, você vai encontrar alguém melhor.’, abaixei a cabeça, beijando sua testa. Estava inconsolável. ‘Deixa ele pra lá, você ainda vai conhecer tantas pessoas, tantos homens...’, seus soluços diminuíram consideravelmente, sua respiração tentou se aquietar.
‘Mas ele era...’
‘Um amigo.’, a cortei. ‘Um homem no qual você se espelhava, que você gostava. Vai conhecer tantos homens bonitos, interessantes, que vai ver que ele foi só mais um.’, seu rosto se ergueu, encontrando o meu.
‘Você acha?’, Heather gostava de acreditar que tudo acontecia fácil, não seria eu a carrasca a acabar com o seu conto de fadas.
‘Tenho certeza, você é uma menina tão bonita. Aposto que acharíamos um par pra você em minutos para a festa de hoje.’, apostei, jogando a única carta que tinha na manga.
‘Conseguiria isso? Quero que Dylan veja que estou bem.’, de repente, ela se sentou de forma direita. A coluna ereta, as pernas dobradas e o rosto inchado.
‘Já até tenho alguém em mente.’, um andar acima, eu via sua varanda.
X
Meus métodos de comunicação com eram sagazes. No segundo em que o chamei, ele percebeu o estado deplorável de Heather. O persuadi de forma que ela não notasse a jogada.
‘Heather queria tanto ir à festa, mas não tem par.’, sustentei o olhar, suplicando que ele entendesse. Como num estalo, ele já sabia o que se passava em minha mente.
‘Ah, na festa de máscaras? Mas por que não tem, Heather?’ por sorte, ela estava alguns passos atrás de mim e minha careta de cesura o fez retroceder algumas palavras. ‘Quero dizer... Você é bonita, por que não a convidariam?’, rolei os olhos, desistindo.
Virei-me para ela, vendo seu sorriso fraco ganhar centelhas de confiança. a estendeu a mão, eu vi cada movimento dela até que sua mão pousasse sobre a dele. Meu rosto estava vermelho, eu tinha plena consciência disso, mas não havia muito que eu pudesse fazer.
‘Gostaria que eu fosse com você?’, o brilho nos seus olhos o deram a resposta.
Fomos os três para a festa naquela noite. , Heather e eu. Ele a acompanhou e eu fui sozinha, encontrando Logan, também sem par nos fundos do terreno da escola. Ele estava encarando o campo de futebol, lugar onde ele passava mais tempo do que em qualquer outro.
‘A festa está toda lá dentro.’, comentei, puxando a barra do vestido ao pisar na grama molhada. Logan se virou para mim. Um sorriso maleável brotou em seus lábios, bonito.
‘Não sei por que vim. Ah! Não, espera, vim por causa da Julie.’, disse, coçando o queixo teatralmente. Eu ri brevemente, imaginando Julie desnorteada e sozinha no salão enfeitado. ‘Pensei que você não vinha.’, admitiu ele, pendendo os braços ao longo do corpo.
‘Ahn?’, me distrai por um momento, lembrando do casal recém formado por mim. ‘Ah, não, eu vim, sim. Acho que você pode notar.’, ri abaixando a cabeça, pondo uma mecha do cabelo atrás da orelha. Dispus-me alguns curtos passos à frente, passando por Logan.
‘Por que não está lá dentro?’, perguntou ele, juntando-se a mim na caminhada. Suas mãos enfiaram-se nos bolsos da calça fofa verde musgo. Andava de cabeça baixa, assim como eu, encarando seus sapatos de fivela. Eram fieis à época medieval. Nossos braços se roçavam inocentemente conforme caminhávamos despreocupados pelo gramado.
‘Porque queria um pouco de ar, queria rondar pela escola.’, dei de ombros. Nem mesmo sabia por que não estava no salão enfeitado com tapeçarias e cenários ornamentais muito bem decorados. Talvez não estivesse no melhor humor para ser uma recepcionista decente. Talvez não estivesse no humor para ser nada decente.
Logan me estendeu sua mão, parando a minha frente.
‘A donzela me concederia a honra de uma caminhada?’, nos encaramos, rindo. ‘Vem, também preciso de uma volta.’, sua cabeça balançou levemente para o grande gramado ainda a ser percorrido. Foi então que reparei na máscara de Logan, que jamais faria jus aos seus traços tão desenhados e bonitos. Era verde assim como grande parte da fantasia, com pequenos detalhes ornamentais dourados.
‘Seus pais já voltaram da viagem?’, perguntou ele, laçando meus dedos em seu braço. Andávamos pelo gramado, só então notei como era grande. Engraçado, parecia tão pequeno com os jogadores em campo.
‘Não, estenderam a viagem um pouco mais, conhece meus pais. Mamãe manda, papai faz.’, respondi, inclinando a cabeça ligeiramente contra seu braço, suspirando levemente. Logan e eu domávamos uma intimidade nítida, gerando certo conforto. ‘Já esteve em dúvida sobre o que você está sentindo?’, perguntei, encarando vagamente a grama. Paramos de andar, seus olhos se fixaram no meu rosto. Não me movi um centímetro.
‘Dúvida?’, ouvi sua saliva lutando para descer por sua garganta, seca, áspera.
‘Sim, dúvida. Acreditar que talvez esteja confundindo o carinho de uma amizade com... Não sei, algo mais?’, virei meus olhos para ele, esperando ver algum tipo de compreensão. Ele estava lívido, a cor abandonara seu rosto. Entreabri a boca, sem saber muito que fazer com Logan nesse estado. ‘Logan?’, segurei seus braços, esperando que perdesse o equilíbrio a qualquer momento.
‘Já.’, respondeu com pouca prontidão. O tom rubro de suas bochechas havia voltado e quis acreditar que o excesso dele se devia ao frio da noite. ‘Uma vez só.’, me abriu seu sorriso mais doce, o dando um ar de criança.
‘Como faço para... reverter isso?’, perguntei, sorrindo torto. Eu estava travada, de repente conversar sobre com Logan não era exatamente propício. O vi se empertigar, ainda sorrindo docemente.
‘Você? Nada, o tempo que faz passar.’, respondeu ele, pondo-se ao meu lado novamente. Assenti voltando a caminhar. Trocamos poucas palavras e muitos olhares constrangedores. Talvez ele estivesse desconcertado pelo assunto pouco propício e eu já me sentira mais a vontade em sua presença.
‘Que tal entrarmos? Precisamos mostrar que viemos.’, disse, parando de caminhar. Olhei para trás. Havíamos andado um bocado. Encarei Logan, esperando sua resposta. Seus olhos estavam fundos, escondendo algo empolgante.
‘Vamos, claro.’, viramos, percorrendo todo o caminho de volta para a quadra coberta. Em um silencio cúmplice, nos contentamos com sorrisos e carinhos. Minha mão repousava em seu braço dobrado e minha cabeça roçava em seu ombro.
Entramos nesta mesma posição no salão, observando os casais dançando à musica lenta. Viam-se apenas cabeças. Inúmeros alunos haviam chegado e pintavam o salão com suas cores épicas em roupas pouco fieis.
Meus olhos encontraram logo , mais alto que todos, dançando com Heather. Ela sorria, encantada pelo charme que exalava visivelmente de todos os centímetros do meu querido escritor. Ele parecia contente em conduzi-la em uma dança lenta, que os obrigavam a ficar juntos, perigosamente perto, mantendo um contato visual intenso.
Tratei de me dispersar e flagrei Logan me olhando. Sorri sem graça com a constância de seu olhar e o ofereci a mão.
‘Vem, quero dançar.’, o puxei para o meio da pista, mantendo em mente um único objetivo. Desprender-me da idéia de que sinto algo por . Ele é apenas um amigo, um escritor que me faz sonhar, um vizinho mais velho. Podia facilmente ser meu tio ou qualquer outro parente cuja relação se tornaria enojável.
Logan segurou minha cintura com delicadeza e passou a me conduzir a passadas curtas e suaves. Apoiei minhas mãos em seus ombros, sorrindo para ele. me viu e rodou Heather de forma que se aproximassem. Voltei a olhar para Logan, cujos olhos verdes me encaravam de forma doce, admirando algo alem de meus traços físicos. Senti-me enrubescer e sorri, o deixando que me guiasse para longe da grande multidão.
Julie Stafford nos viu juntos, dançando e sorrindo e flertando. Lembro-me de seus olhos castanhos rubros de raiva. Era sua noite de gloria, afinal ela sempre amara Logan. Senti-me quase culpada. Quase. Saímos da multidão dançante para a mesa do ponche. Servi-me de um copo, Logan de outro.
‘Meu Deus, o que tem aqui? Corante e açúcar?’, perguntei, puxando o copo para longe da minha boca automaticamente. Ríamos de alguma piadinha de Logan sobre o assunto quando vi de esguelha, se aproximar. Acompanhado.
‘Estão se divertindo?’, perguntou ele, servindo um copo de ponche que logo foi parar nas mãos de Heather.
‘Ah sim, muito.’, respondeu Logan. Sua mão suspendeu-se no ar, entre ele e . A encarei por um instante, observando a cena. ‘Logan, amigo da .’
‘, vizinho.’, apertou a mão que havia se estendido para ele. Foram curtos segundos intermináveis do mais puro desconforto, onde ambos os homens sorriam falsamente, apertando as mãos com uma força tamanha que suas juntas tornaram-se brancas.
Apoiei as mãos, uma em cada braço, de Logan e , sorrindo de forma cortês, combinando perfeitamente com todo aquele tema teatralmente medieval. Heather riu brevemente, quase como uma perfeita coquete. A olhei furtivamente, a fazendo cessar as gracinhas. As mãos se afastaram e sorri para enquanto me segurava no braço de Logan.
‘Nos vemos por aí.’, disse Heather, agarrando-se ao braço de e o puxando novamente para o meio da pista de dança. Vi em seus olhos um vislumbre de esperança e sorri torto, xingando-a de tola por acreditar que, algum dia em uma galáxia muito distante, ela se encaixaria no perfil de . Atraquei-me em Logan e fomos dançar.
Após alguns minutos de dança e conversas balelas, a música foi parada e o palco iluminou-se por um pequeno foco, onde nossa professora de Geografia segurava um papel. Eram os dançarinos da noite e ganhadores de melhor fantasia. Odiava esse ritual, era desnecessário. Mas ainda assim, havia quem gostasse. E chorasse por não ganhar.
Esperando a velhota abrir o envelope devagar e anunciar os dançarinos da noite. Era sempre o esperado, os irmãos Baley, que dançam desde que descobriram que tem pernas. Os aplaudimos e vimos sua dança, um valsa, para celebrar o prêmio. A valsa foi interrompida e logo vimos o foco apreender-se na professora sobre o palco, novamente.
‘E agora, a melhor fantasia.’, ela sorriu com gosto e olhou para mim. Senti meu corpo gelar e um desconforto nascer em meu estômago.
‘ e Logan!’, esbugalhei meus olhos por um instante, logo disfarçando com um sorriso, já que todos me olhavam e batiam palmas. Troquei olhares desentendidos com Logan e senti-o segurar minha mão. Caminhamos até o palco, sorrindo cordialmente para todos no caminho.
Recebemos um buquê de rosas e tiramos fotos com o fotógrafo da festa. Era estranho ganhar alguma coisa naquela escola. Normalmente pessoas ordinárias como eu estamos predestinadas a jamais ganhar nenhum tipo de concurso. Até o fim da festa, Logan e eu forçamos sorrisos de agradecimentos e sustentamos olhares de raiva.
Já eram quase duas da manhã quando o DJ parou a música e metade das pessoas já haviam ido embora. Sobraram poucos, dentre os poucos tinha eu, , Logan e Heather.
‘, vamos ao banheiro?’, ela me estendeu a mão, sorrindo. Levantei-me da cadeira e dispensei sua mão, indo para o banheiro. A senti em meu encalce. Não havia viva alma naquele lugar. Antes de começar a falar, Heather empurrou todas as portas das cabines, para certificar-se que não havia mesmo ninguém.
‘Nos beijamos!’, contou-me ela, agarrando-se em seus próprios braços. Abri e fechei a boca, mas nenhum som emitiu-se. Permaneci em choque. Os braços pendendo ao longo do corpo, redentos ao choque e falta de reação. Ela sorria e eu via em seus olhos um brilho perdido. ‘Sabe há quanto tempo eu não beijava alguém que não fosse Dylan? Meu Deus, quanto estou perdendo!’, ela rodopiou em sua própria órbita, soltando gritinhos de felicidade.
‘Aaaah, amiga! Mas... Como foi isso?’, perguntei, raspando a garganta e apoiando as mãos no quadril. Curiosidade era um fardo pesado, eu sabia, me forçaria a ser fria com depois, mas eu seguraria as pontas.
‘Estávamos dançando, ele comentou algo que não consegui ouvir e me olhou sorrindo. Bem... Você já reparou nos olhos dele? Tão , !’, ela juntou as mãos e suspirou.
‘Sim, eu sei, prossiga.’, pedi, impaciente. Encrespei os lábios com os inúmeros suspiros que se procederam.
‘Aí eu fiquei olhando, ele também, aí... Eu o beijei.’, seus olhos encaravam o teto, sonhadores. Meu queixo pendeu ligeiramente. Engoli em seco até que Heather estalasse os dedos na frente de meu rosto.
‘Ahn, e e... Como foi, amiga?’, perguntei, fingindo interesse. Busquei algumas razões para não surtar ali mesmo, mas encontrei uma única. estava solteiro, podia fazer o que bem queria e eu jamais poderia dizer que era da minha conta. Talvez Heather o fizesse bem e eu pudesse por de lado todos os meus planos para encontrar-lhe uma mulher decente.
‘Ah, foi tão bom. Foi rápido, mas ele disse que vai me levar pra casa assim que eu pedir, talvez peça meu telefone até lá.’, disse ela, estalando os lábios. Talvez ele pedisse, talvez não. Mas tratando-se de , possível e provável que não. Heather era nova e ele, velho. Pelo menos foi sempre a desculpa que ele deu quando eu perguntava por que nunca ficava tempo demais com a mesma menina.
Um loira, suada e acabada entrou no banheiro rindo com duas amigas e percebi que era hora de irmos. Puxei Heather pela mão e saímos do banheiro apertado, encontrando e Logan com as mãos nos bolsos, encarando o chão, no meio da pista vazia. Sorri ao alcançá-los, recebendo dois sorrisos tortos e desconfortáveis em resposta.
‘Que bom que se conheceram melhor.’, comentei, vendo a clara falta de palavras entre os dois. ‘Enfim, estou cansada, vou pra casa. Alguém me acompanha?’, perguntei, soltando a mão de Heather, quem assentiu e argumentou estar cansada.
‘Eu também estou bem cansado, preciso dormir.’, disse . Por um instante, pude quase ouvir o desapontamento de minha amiga ao ver que seu príncipe encantado havia se esquecido da promessa de levá-la em casa.
‘, leve Heather pra casa, Logan e eu voltaremos juntos.’, disse, percebendo os olhos de acordarem, como se lembrassem de algo que não queriam. Segurei o braço de Logan, pisquei para o casal restante e virei-me para ir embora. ‘talvez eu precise de café e estrelas hoje à noite.’, falei alto. Olhei ligeiramente para trás e percebi o sorriso de , de quem entendera perfeitamente minha insinuação. Voltei-me para Logan sorrindo, cansada.
‘, lembra daquela promessa que fizemos?’, me disse ele de subto. O ar frio da noite cortou meus pulmões e senti minhas bochechas rosarem. O olhei perdida. Não me lembrava de qual promessa ele falava.
‘Não, qual?’
‘Da que não nos apaixonaríamos um pelo outro pelo sexo?’, senti meus músculos retesarem-se, um sorriso talhado travou-se no meu rosto. Lembrava-me perfeitamente bem dessa promessa, da verdade que púnhamos nela até hoje. O sexo era apenas físico, não iríamos encontrar sentimentos onde não existiam.
‘Sim.’, minha voz falhou, misturando-se com a brisa gélida que nos cercou.
‘Acho que vamos ter de quebrá-la.’, ele não olhava para mim, e sim para o seu carro estacionado, sozinho em um canto do terreno.
Já eram quase três da manhã quando entrei em casa. Logan e eu voltamos em um silêncio sepulcral dentro do carro, nem um pouco habitual. O agradeci antes de sair do carro e depositei um beijo em sua bochecha. Ele não insistiu para entrar e eu dei graças, porque eu precisava de um banho e minha cama quentinha.
As luzes da casa ao lado continuavam apagadas e senti a ponta dos meus dedos coçarem de curiosidade. Mordi a língua e maldisse a mim mesma. Tirei o vestido vermelho, todos os adornos e liguei o registro da banheira, enrolada na toalha amarela. Verifiquei os recados. Mamãe, mamãe e mamãe. Sentia saudades, perguntava da festa, dizia que estava adorando Paris com todo o coração. Ri ao imaginar minha mãe e suas roupas floridas no Parc de La Villette. Era ironicamente perfeito.
A banheira ainda estava pela metade quando decidi entrar. A água quente avermelhou minha pele e depois de alguns instantes com a sensação de estar queimando, me acostumei. Fiz um coque mal feito no topo da cabeça e descansei, apreciando o calor e deixando minha linha de raciocínio me levar a algum lugar.
Mas pensei mesmo nas palavras de Logan, na forma como ele me olhara a noite inteira, na ultima vez em que veio aqui. Nada se encaixava direito. Fui quase massacrada com um sexo selvagem e inesperado, carente de qualquer tipo de carinho apenas algumas noites atrás. Hoje ele me olhava como se eu fosse a mulher de sua vida. E sua inimizade com não ajudava. Muito menos sua insinuação da quebra da promessa. A promessa era antiga, sim, mas era válida. Havíamos posto toda fé que iria funcionar, porque sempre soubemos que era algo físico. Éramos amigos demais para deixar algo maior acontecer. Preferi deixar-me na dúvida até que Logan fizesse de suas insinuações, verdades cristalinas, sem mistérios. Somos grandinhos demais para brincar de adivinha.
Tentei me lembrar do momento em que dançava com ele. Eu havia olhado para e Heather tantas vezes, como pude deixar o beijo me escapar? Era óbvio que ela havia se passado por uma menina atirada, desesperada por alguém que a fizesse esquecer o ex-namorado imbecil, mas ainda assim... Como não vi o beijo? Forcei os olhos e fechei os punhos, tentando me lembrar do mínimo vestígio, alguma pista mal vista, alguma insinuação pouco validada e quando me agarrei à mínima imagem de um macro segundo...
‘Tentando se lembrar do quê?’, a voz vinha da porta. estava encostado no batente, com os braços cruzados e o terno aberto, a blusa social desabotoada nos primeiros botões, o cabelo desgrenhado.
‘Pelo visto hoje foi bom, ein?’, comentei, fechando os olhos novamente, virando o rosto para frente. O ouvi sorrir e seus passos ecoarem pelo cômodo, aproximando-se. Sentou-se no chão, encostando no armário sob a pia.
‘Ela está desesperada.’, disse, com frangalhos de risos entre as palavras. Sorri e abri os olhos. Lá estava ele, cansado, com a cabeça encostada na porta do armarinho. ‘Quase me arrastou para fora do carro. Tive que dizer três vezes que trabalhava amanhã e estava cansado!’
‘, é uma menina, é bonita e legal e dela você tem fobia? Não te entendo.’, encarei o teto, me estapeando por dentro por estar dizendo algo como isso. O que eu tinha na cabeça? Minhocas? Mas mesmo assim, era potencialmente mais fácil fazer sentir interesse por Heather do que por mim, ou até mesmo admitir para ele o emaranhado de coisas que eu mal sabia se eram sentimentos ou apenas enjôo.
‘Ela é nova, .’
‘Todas são novas, !’, meu tom de voz por pouco não foi um grito. ‘Quando foi a ultima vez que você esteve com uma mulher? Uma mulher , de verdade, com experiências, cicatrizes e histórias pra contar? Eu era nascida nessa época?’, o silencio seguinte foi constrangedor. Suspirei, me arrependendo das palavras e da grosseria. ‘Desculpa.’
‘Não, ta tudo bem.’, ele me olhou, abrindo seu melhor sorriso. Me sentei abraçando os joelhos, apoiando a testa sobre eles.
‘Eu só não consigo entender, não dá pra entender sua cabeça. É ridículo saber que qualquer homem na sua idade, solteiro, caçaria boas ninfetas para se divertir, mas você busca nelas uma companheira pra vida toda. Elas não são válidas, você já descobriu isso sem minha ajuda. Mas quando aparece uma menina que não tem más intenções ou quer o mesmo que você... Você foge!’, algo na forma como ele me olhava mostrava que ele não estava satisfeito ao escutar isso. ‘Posso ser uma pirralha irritante, mas estou certa, pelo menos admita.’, girei os olhos levianamente. Vi suas mãos se moverem em algum gesto não identificado, gesto esse que serviria para substituir palavras que ele não conseguia falar.
‘Não gosto de escutar isso, não preciso, entende? Sou um viúvo, , já fui casado, sei como é querer alguém pra vida toda, mas as vezes eu não sei por onde começar. Lucy deixou uma bagunça enorme quando morreu e essa bagunça sou eu! Eu espero encontrar alguém que vá me querer, mas eu não espero isso agora.’
‘Espera quando então? Você não tem vinte anos, não é mocinho. Sabe, melhor do que eu, como é difícil encontrar alguém que realmente goste de você, que se preocupe e goste da sua companhia. O que você ta esperando, ? Que caia do céu alguém tão perfeito quanto Lucy?’, vi os músculos do seu maxilar se contraírem. Ele estava com raiva. Uma raiva controlada, mas ainda assim era raiva.
‘Lucy não era perfeita! Amar não tem nada a ver com as perfeições, você não pode saber disso, é nova demais, ainda vai crescer bastante pra conseguir me entender.’
‘Você acha que números são realmente relevantes quando se trata de aprendizado? Talvez eu saiba algo sobre amor, e do pouco que eu sei eu posso dizer que você está fazendo tudo errado! Talvez você devesse ter entrado na casa de Heather, talvez tudo que ela precisasse era um ombro pra chorar! Heather não é o tipo de garota que você pega no bar, ela é decente e minha amiga!’, mais um longo período de silêncio, sustentando uma troca de olhares fortes e quase insuportáveis. As bolhas da banheira começaram a desfazer e então percebemos que teríamos que levar essa discussão para o quarto. Ele se levantou e, ao passar pela porta, fechou-a com um estrondo alto. Apertei meus joelhos com os braços antes de levantar, pedindo a algum cosmo interior, paciência.
Puxei o bocal que mantinha a água concentrada na banheira e vesti o roupão. Pouco me importei com a maquiagem borrada sob os olhos, apenas sai para o meu quarto e vi encarando a porta que ele antes fechara, me esperando sair.
‘Não acho que Heather vá fazer diferença para mim. Entrei nessa festa como acompanhante e saio como namorado? Não! Não é assim a ordem dos fatos.’
‘Ninguém disse que seu posto foi promovido a namorado, . Você quem está julgando as coisas dessa forma.’, fechei a porta atrás de mim e encostei-me nela, cruzando os braços. ‘Eu apenas disse pra você dar uma chance. Uma chance de conhecê-la melhor, ela não está no seu estado mais perfeito, até você pode dizer. Ela é uma boa menina, , e se você gostar dela, vai ver que números são apenas números. Só vão te incomodar quando você deixar que isso aconteça.’, ergui as sobrancelhas, esperando sua reação que não chegou.
‘Não estou aberto a isso. Não vou ser estepe de garota nenhuma pra que ela esqueça o namorado. Sou adulto demais pra viver problemas de adolescentes.’, mais uma rodada de olhares insustentáveis. Suspirei e larguei os ombros, me aproximando da cama.
‘A vida é sua, faça dela o que achar preferível.’, então me deitei, sentindo todos os meus músculos gritarem agradecimentos instantâneos. deitou-se ao meu lado e ficamos encarando o teto amarelado por alguns instantes.
‘Logan gosta de você.’, ele soltou, cortando o silêncio e toda a paz que havia na minha pequena sanidade. Fechei os olhos sentindo meu corpo ficar quente e vermelho. ‘Qual o problema em vocês ficarem juntos?’, sabia que seus olhos estavam em meu rosto e me virei para ele, buscando de toda a minha meia sinceridade para fazer uma resposta plausível.
‘Logan e eu jamais vamos ter algo que envolva sentimentos.’
‘Prazer, dominância, dor... São sentimentos.’
‘Amor, . Isso nunca vai nascer entre nós.’
‘Por quê?’
‘Não quero, não com ele, não assim. Nós somos dois adolescentes com hormônios explodindo, desejo quase incontrolável e lembranças de uma infância recente. Não vai ser a ele que vou entregar o melhor que eu tenho.’
‘Você tem um melhor?’, perguntou ironicamente. Rimos pouco e dei um soco fraco em seu braço.
‘Como você sabe?’, perguntei, curiosa.
‘Está escrito em letras vermelhas na testa dele.’, ele voltou a olhar pro teto, sorrindo fraco. O acompanhei, exalando todas minhas duvidas e desesperanças em suspiros pesados.
‘O que você acha disso?’, perguntei, franzindo o cenho.
‘Acho que você devia dar uma chance a ele.’, respondeu ele, me cutucando. Encarei-o rindo, segurando sua mão antes que me levasse a um acesso de risos. Encaramos nossas mãos juntas por um instante e logo soltamo-nos. Pigarreei e olhei para baixo.
‘Não acho que você possa perder muita coisa. Pode até te fazer bem.’, ele ergueu os sobrolhos rapidamente, considerando algo em sua mente cheia de labirintos.
‘Como me faria bem?’, perguntei esporadicamente, estalando os dedos das mãos. pousou sua mão sobre as minhas, fazendo-me parar. Espalmou uma contra a outra, observando o cumprimento de meus dedos longos.
‘Ter alguém para si nunca é ruim. Muito menos quando esse alguém quer estar com você sem esperar nada em troca.’, havia um sorriso saudoso em seus lábios. Acompanhei seu sorriso, tirando minha mão da sua, escutando o clique interno de uma lâmpada que havia acabado de se acender em minha cabeça. Sentei-me na cama com as pernas cruzadas, um sorriso pomposo, com a ponta dos lábios orgulhosamente voltadas para cima. ‘Acho que deveria te perguntar por que está sorrindo assim.’
‘Eu quero um acordo.’, atropelei as últimas palavras de com as minhas, segurando tão pouco minha ansiedade que era até cômico.
‘...’, sua voz parecia mais densa do que o normal, intensa e coberta de uma hesitação atípica, um alarme.
‘Eu quero um acordo, nem te disse no que consiste ele!’, agitei as mãos, sorrindo largamente.
‘Sei o que você está pensando, não vou fazer isso. , não!’, seu dedo indicador apontou-se para mim, como se eu fosse um cachorro mandado sentar. Bem... Eu já estava sentada.
‘, é um acordo, fará bem a mim e a você! Vamos tentar, não vamos entrar sozinhos e quem sabe também não sairemos. É uma chance, você pouco sabe se vai funcionar, vamos, ! Vamos vamos vamos!’, pus-me de joelhos e inclinada pra ele, com as mãos juntas, os dedos atados. Sua expressão se contorceu e vi sua boca desenhar covinhas nos cantos, como um sorriso ao contrário.br>
‘...’, ele resmungou novamente, fechando os olhos com força e coçando a testa, afastando o cabelo. O olhava ansiosa, os lábios dobrados e a expressão ávida. ‘Qual o telefone dela?’, disse ele por fim, suspirando e abrindo os olhos.
‘ISSO!’, ri gostosamente e pulei com os joelhos na cama antes de me jogar sobre , o abraçando. Ele também ria e retribuiu meu abraço. Talvez ele estivesse aceitando por mim, talvez pela diversão ou talvez apenas porque sabia que eu não descansaria enquanto não o convencesse.
‘Que fique claro, eu saio na hora que eu ver que não é isso que eu quero.’, afastei-me dele, voltando a me sentar na cama.
‘, quer ser positivo uma vez na vida?’, o repreendi, me levantando. Ele sorriu maleavelmente, seus lábios rosados tomaram um formato diferente de qualquer sorriso que eu já havia visto.
‘Preciso de um banho e de uma xícara de café. Não estou sóbrio.’, ele se levantou e tirou o terno, o apoiando sobre o ombro, os dois dedos o segurando como um gancho.
‘Mas você não bebeu.’, comentei, parada aos pés da minha cama.
‘Eu nunca estou sóbrio quando estou com você.’, sorrindo, ele virou-se para ir embora. Senti minhas extremidades formigarem e meu colo arder. A ardência se espalhou por quase todo o meu corpo, o deixando entorpecido. Forcei doses de saliva garganta abaixo e depois de alguns instantes ecoando a ultima frase de ininterruptamente no grande oco de minha mente, dei por mim, de pé, bamba. A porta do armário estava aberta, as roupas quentinhas me aguardavam.
“Nunca diga nunca”
“Nunca, nunca, nunca, nunca, nunca, nunca, nunca, nunca!”
“! Não me contrarie”, as risadas eram gostosas, o tom irônico e advergente era puramente brincalhão, especialmente naquela voz forte. Encarei seus olhos verdes sorridentes.
“Nunca.”, sussurrei sorrindo contra seus lábios desenhados. Um rápido beijo consolidou-se daquela proximidade apenas para provar para os telespectadores daquela cena que estávamos juntos, longe de esconder nossas mãos dadas e beijos carinhosos de alguém.
Nossos amigos se dissiparam, dispersando-se cada um para um lado, nos deixando a sós. Ele sorria e incrivelmente, eu gostava de sorrir com ele. Gostava de ajeitar as pequenas mechas douradas que caiam em sua testa de forma doce. Gostava de olhar em seus olhos verdes e encontrar conforto. Me acolhi em seus braços e apoiei a cabeça em seu peito, os olhos fechados, os suspiros de alivio.
“Eu amo você.”, a vibração da voz forte no peito dele fez-me sentir viva. Olhei para cima, procurando seus olhos, mas estranhei-os. Não eram seus olhos verdes. Estavam . De súbito, aqueles braços não eram de Logan. Aquele sorriso, aquela voz, aquele calor... Era . “O que foi, tampinha?”, ele sorria confuso. Balbuciei, emiti poucos sons primitivos e fechei a boca. Senti meu rosto se contorcer e lágrimas grossas escorrerem em minha face. Queria Logan.
Tirei os braços de ao meu redor, mas de alguma forma, eles continuavam ali, me cercando, me prendendo, não me deixando escapar. Eu chorava como uma criança, berrava e socava à murros fortes o peito bem estruturado coberto pela blusa cinza e gritava por socorro. Ninguém escutava.
“Me solta! Me solta, por favor, me solta!”, os olhos de estavam tristes, seu rosto era uma máscara de teatro. Eu chorava, suplicando entre soluços, pedindo que me soltasse. Seus braços viraram fumaça ao meu redor, sumindo.
“Você está solta, .”, era a voz de Logan, atrás de mim. Sua expressão estava dura, ele estava rijo. Então era ali onde eu me encontrava. Entre Logan e . “Você está sozinha.”
“Sempre esteve completamente sozinha.”, o azul dos olhos de me amedrontavam e assim como seus braços, ele por completo esfumaçou-se. Virou vento. Logan não estava mais ali. Eu estava só.
Acordei aos berros, suando e arfando. O ar me faltava, como se comprimissem meu peito e tampassem minhas vias respiratórias. Sentei na cama, no emaranhado de lençóis e olhei ao redor, apavorada. Olhei meus braços e não havia nada ao redor deles. Estava em meu quarto, nada parecia fora do lugar.
Minha mãe irrompeu no cômodo, ainda com bobes na cabeça. Estava assustada, aparentemente havia corrido até aqui. Me olhou e correu até mim.
‘Ah, querida, você está bem?’, ela me embalou em seus braços e me permiti ficar por ali até todo esse nevoeiro confuso se dissipar. Abracei sua cintura e fechei os olhos, respirando o mais fundo que conseguia. Sozinha, sozinha. Não estou sozinha. Senti meu coração desacelerar aos poucos e minha respiração se estabilizar. ‘O que aconteceu, querida?’, mamãe beijou-me a testa e olhou-me, segurando-me pelos ombros.
‘Pesadelos, acho que... Tive um pesadelo.’, respondi, simplesmente. Sorri torto e a soltei com, admito, visível dificuldade. Mamãe sorriu e pôs meu cabelo atrás da orelha gentilmente.
‘Tome um banho frio, querida. Depois desça para o café. Pesadelos não são reais.’, ela levantou da cama e saiu do quarto. Permaneci sentada por ali, entre os lençóis, por certo tempo, situando-me.
Estava no meu quarto, era a primeira semana de primavera e a segunda semana em que segurava a mão de Logan e o chamava de namorado. Era a segunda semana em que via buscando Heather diariamente na escola com aquela linda jaqueta de couro e os óculos escuros de aviador. Era a quarta semana que minha mãe não saia de casa para poder me paparicar por finalmente namorar com alguém que ela aprovasse. Era o oitavo dia em que eu acordava gritando por causa do mesmo sonho.
Suspirei cansada e levantei. estava em sua varanda, tomando sua xícara de café. Trajava suas calças de moletom azul marinho e nenhuma blusa. Era a parte boa da primavera. Era fresco, precisava-se pouco de roupas e era bonito. Muito bonito.
Bati no vidro da varanda e esperei que olhasse pra mim. Acenamos um para o outro e ele me chamou para fazê-lo companhia. Bati no pulso e apontei para baixo, esperando que ele entendesse que precisava tomar café com a família. Ele apenas assentiu e bebeu seu café. Suspirei, me indagando se ele ao menos desconfiava dos meus sonhos, se ele sabia que eu tinha um medo ligeiro de acabar sozinha. Por tanto querer Logan e , eu me arriscava acabar com nenhum.
Afastei toda a melancolia para outra hora e desci para um café nada revigorante com a família. Minha mãe me tratava como ouro, preciosa. Logan estava sempre em suas sentenças e nove, de dez palavras suas, elogiavam nosso relacionamento. Devia admitir que estava me dando nos nervos, mas ela parecia feliz e quanto mais feliz ela ficasse, menos problemas eu arrumava.
Era Sábado, dia de festa. Festa essa que eu não queria comparecer, meu ânimo nos últimos dias não colaborava nem mesmo um pouco. Mas Logan disse que me faria bem, eu estava pálida demais. iria com Heather. Seria, possivelmente, a cena mais inadequada que eu veria em toda uma vida. Meu vizinho, meu escritor e melhor amigo socializando-se com a plebe do local que eu chamava de escola. Aquilo não era uma escola, estava mais para um cabaré.
Deitada na cama, pouco antes da hora do almoço, pude ver ziguezaguear em seu quarto com o telefone na orelha. Imaginei mil contatos, desejei ser , esperei ser do trabalho, mas no fundo sabia que era ela. Ele estava sorrindo de uma forma provocativa, como se ela pudesse ver a ousadia de seus lábios, rubros de tanto mordiscá-los. Intuitivamente, joguei um casaco leve por cima da blusa desbotada dos Ramones e pulei até sua varanda. No silêncio mais cuidadoso, tentei escutar o que dizia pela fresta da porta entreaberta. Algo no fundo do meu peito me dizia para não fazê-lo. Não porque seria invasão de privacidade, mas sim porque eu não iria gostar do que estava para escutar.
‘Não, seus pais podem chegar cedo, diga a eles que vai sair tarde da festa e eu te trago para cá.’, facada um. Mantive a calma o vendo rir e balançar a cabeça. ‘Lógico que te deixo em casa, Heath. Não quero confusões com a sogra.’, facada dois. Heath? Sogra? Senti que o sangue subia, minha pressão arrebentou-se, pude sentir meu coração pulsar nas minhas extremidades. ‘Não, volta com Logan, não se preocupe.’, facada três. Meu nome em sua voz e boca, meu nome sendo rejeitado. Senti náusea e bile no fundo da garganta. Tentei me lembrar por um momento porque ainda estava parada ali quando podia simplesmente dar meia volta e entrar em casa.
Eu havia me afastado um passo silencioso quando meu celular tocou. Por um instante pensei que seu toque havia de estar realmente muito alto para que eu o pudesse ouvir do quarto, mas a vibração em meu bolso traseiro me entregou a realidade. Meu celular estava no meu bolso, tocando e eu estava furtivamente na varanda de , escutando tudo que não devia.
Senti a adrenalina ser jorrada aos montes em meu corpo enquanto me jogava ao chão e apertava o botão de “silencioso” com tanta força que achava que atravessaria o aparelho. Olhei para dentro da casa de , me arrastando para o mínimo espaço em sua varanda em que havia uma parede. Entre a porta e a barra de ferro que delimitava o fim do balcão. Encolhi minhas pernas o máximo que pude e agarrei meu celular, desejando destruí-lo. Eu via a sombra de encarando meu quarto, me procurando. Rezei para todos os santos que conhecia, pedindo que ele não me visse. Seria potencialmente difícil explicar aquela situação.
A sombra de se afastou e voltou a ziguezaguear pelo quarto. Quase chorei de alívio e permaneci onde estava por alguns instantes antes de achar seguro me levantar e voltar para casa.
Assim que me joguei na cama, sentindo meu peito doer dos batimentos recentemente alterados, notei quem me ligara. O homem a quem agora atendia por meu namorado. Disquei seu número e o esperei atender.
‘Por que não me atendeu?’
‘Estava ocupada, amor, desculpa. Está tudo bem, precisa de alguma coisa?’, perguntei, desfiando a costura mal feita da colcha.
‘Sim, está tudo bem, só queria te ver. Pode vir até aqui?’, ouvi a porta frontal da minha casa fechar com um estrondo alto por conta do vento. Trudy estava aqui, o que significava que ele estava sozinho, o que fazia desse convite, tecnicamente, uma chamada para o sexo. Ri baixo e cocei os olhos.
‘Estarei aí em alguns minutos.’, pude ouvi-lo sorrir antes de desligar. Levantei e procurei em meu armário a lingerie vermelha rendada que Logan tanto gostava. Joguei o vestido mais simples e trapinho que tinha por cima do conjunto e preparei a maquiagem.
Sexo à luz do dia tem tudo a ver com a produção.
Deixei o celular, a carteira e as chaves em casa. Não queria distrações.
‘Aonde vai querida?’, perguntou minha mãe quando eu passava pela sala para chegar à porta.
‘Dar uma volta, preciso de ar fresco.’, respondi com um sorriso inocente.
‘!’, Trudy se manifestou, sorrindo largamente. ‘Chame Logan, o deixei em casa hoje.’
‘Já chamei, Trudy, ele está me esperando no parquinho no fim da rua. Foi bom te ver.’, depositei um beijo em sua bochecha e acenei para mamãe antes de sair de casa. Parquinho ao fim da rua? Eu nem se quer punha o pé lá desde os nove anos. Mas ninguém sabia, essa era a vantagem.
Forcei-me a não pensar no recente ocorrido da varanda de no trajeto até a casa de Logan, mas sempre me flagrava pensando que hoje... Heather cederia para ele. Nojento. Parecia errado para mim. Mas infelizmente, entre o namoro dos dois, eu não tinha opinião. Eu não podia ter.
A porta da casa estava entreaberta quando cheguei. Empurrei-a e gritei por Logan do hall, mas não houve resposta. Entrei na casa, fechando a porta atrás de mim e subi os primeiros degraus da escada de mármore. Olhando para o andar de cima, todas as portas estavam fechadas. Todas menos uma. Sorri fracamente e tirei meus sapatos ali, deixando-os na escada mesmo e subi rapidamente os degraus restantes. Conseguia ver a sombra de Logan sentado em sua cama quando comecei a atravessar o corredor. Puxei meu vestido para cima, tirando-o e o jogando no chão.
Encostei-me no batente da porta. Os braços cruzados, as pernas juntas com um dos joelhos levemente dobrados e um sorriso condescendente enfeitando a figura. Logan agarrou os colchões ao analisar cada centímetro do meu corpo. Pude ver a gula faiscar em seus olhos. Finalmente ele olhava para mim, com todo o desejo encubado em seu corpo.
Caminhei devagar até ele quando me chamou com a voz baixa. Encaixei minhas pernas entre as suas, sentindo suas mãos me puxarem pela cintura. Seus lábios macios beijaram minha barriga, em uma trajetória disforme e entorpecente. Quanto mais descia os beijos, intercalando entre mordidas fracas e fortes, mais puxava meu corpo para perto, até o momento em que meus joelhos cederam e sentei em seu colo, quadril contra quadril.
Nossos olhares se cruzaram por um instante, transbordando desejo. Aproximei minha boca de encontro a sua, mas ele afastou. Um sorriso malicioso dançava em seus lábios, suas mãos deslizavam pelas minhas coxas, apertando-as com força.
Minha respiração tornou-se descompassada no momento em que suas mãos, juntas, rumaram minha virilha. Seus lábios me beijavam levemente enquanto seus dedos dançavam minha barriga acima. Sua língua espalhava um calor ardiloso pelo meu pescoço e colo enquanto suas mãos se desfaziam do sutiã vermelho. Devagar, como se quisesse apreciar cada momento do ato, ele abriu o fecho, tirou minhas alças e olhou com satisfação para meus seios fartos, agora nus. Seus olhos dançaram pela minha barriga, desritmando ao ver a única peça restante em mim, mas inebriando-se novamente ao analisarem minhas coxas. A reação de seu corpo foi instantânea, senti o volume em sua calça, seu membro confinado.
Eu sorria e antes que reparasse, encontrava-me beijando Logan de uma forma estranhamente ardilosa. Suas mãos me puxaram contra seu corpo, sentindo cada centímetro seu junto ao meu, sentindo seu corpo reagir aos meus mamilos tesos, às minhas pernas presas ao seu redor, à minha língua que travava uma batalha incessível contra a sua, às minhas mãos, que puxavam seu cabelo com a força necessária para que sua própria respiração saísse do compasso.
Em um movimento rápido, ele me deitou na cama, puxando-me pelas coxas. Sua boca invadiu meu pescoço, mordiscando, sugando, beijando. Descendo pelo meu colo enquanto suas mãos me acariciavam até finalmente chegarem ao meu órgão. Suspirei tantas vezes enquanto sua boca tracejava o caminho lento até meus seios, tortuosamente, que quando finalmente o envolveu, gemi involuntariamente.
Logan apenas me estimulava, mordendo levemente meu mamilo enquanto pressionava os dedos sobre minha calcinha. Minhas mãos rumaram seu cabelo, o puxando a cada gemido sôfrego que eu soltava, a cada espasmo entorpecente que se espalhava pelo meu corpo. Minha calcinha passou a incomodá-lo e com um movimento bruto, a puxou para baixo. Com uma última mordida, Logan soltou meu seio, refazendo seu caminho até minha boca.
O segurei pelos ombros e pus-me sobre ele, trocando de posição. Inclinei-me sobre ele, deixando meus seios roçarem levemente por seu peitoral, meu singelo pingente gelado arrepiar o ponto central de suas clavículas e meus lábios tomarem seu pescoço. Suas mãos rumaram minhas costas, puxando-me com tamanha força para baixo que me obriguei a apoiar meus joelhos na cama para manter certa distância entre os corpos. Ele murmurou uma serie de reclamações sem importância enquanto deslizava as mãos até minha bunda e a forçava para baixo. Aos poucos, cedi meu corpo sobre sua mão, descendo com tamanha lentidão que quando nossos quadris se tocaram, senti seu membro pulsar violentamente e ouvi algo próximo de um gemido saindo dos lábios desenhados de Logan.
Minha principal intenção era provocá-lo ao máximo, o que não era nenhuma grande novidade para nenhum de nós. Levantei meu quadril novamente e senti suas mãos lutarem contra, então o desci novamente, fazendo do movimento fictício uma frequência. Logan gemia baixo, quase prendendo no fundo da garganta meu nome repetida vezes. Seu movimento foi tão rápido que antes que pudesse reparar, encontrava-me abaixo dele, as pernas fortemente presas à sua cintura e sua cueca já não confinava sua ereção.
Apoiando um braço ao lado do meu corpo enquanto descia sua outra mão pela minha lateral, apertando em locais convenientes, senti a cabeça de seu membro me agulhar antes de entrar violentamente, até o final. Um espasmo tomou conta de meu corpo e fechei os olhos, gemendo tão alto que por pouco não foi um grito. Não ousei abrir os olhos, apenas senti, com um sorriso frouxo nos lábios e gemidos enfraquecidos pelos arrepios e espasmos constantes, Logan retirar completamente seu membro e enfiá-lo de volta por inteiro inúmeras vezes.
Minhas unhas fincaram-se em seus ombros, vezes deslizando para seu cabelo e o puxando com força. Gemia a cada estocada forte sua, sentindo a dor do encontro dos quadris. Uma dor estranhamente delirante, que me levava a chamar seu nome em momentos esporádicos.
Não demorou para que Logan segurasse minhas coxas e se inclinasse para trás, ficando de joelhos na cama. Mantive força para tentar elevar meu quadril, de forma que ele pudesse continuar a me penetrar em uma velocidade mais constante. Meu ventre formigava, meus olhos pouco conseguiam se abrir, minhas mãos agarravam-se ao colchão enquanto eu apenas murmurava entre os gemidos ou junto a eles.
‘Não, Logan mais, mais.’, em questão de segundos, eu sentia sua velocidade diminuir e seu líquido invadir-me, quente, mas ele não parou. Prosseguiu em sua velocidade agora devagar, me levando a gemidos longos e baixos, satisfeitos. Suas mãos apertavam minhas coxas com força tal que eu sabia que marcaria, sua boca entreaberta em expressão perfeita de prazer. O suor escorria lentamente pelo seu peitoral.
Apoiei-me nos cotovelos e Logan retirou-se de mim, abaixando meu quadril até encostar na cama. Pus-me de joelhos, assim como ele e o mandei sentar. Sentou-se, esperando avidamente até o momento em que pus-me sobre ele, encaixando seu membro de volta em mim. O ouvi suspirar ao começar a me movimentar, suas mãos seguraram meus seios, como taças perfeitas. Seus espasmos eram delatados pelos apertos. A cada espasmo, ele os apertava com força para me fazer gemer. Busquei seu pescoço, beijando levemente até sua orelha, onde mordi o lóbulo e permaneci, gemendo por ali, sentindo o efeito surtir momentos depois, quando Logan gemeu junto a mim, gozando novamente.
Seus braços envolveram minha cintura e me puxaram consigo para deitar na cama. O suor fazia seu papel, tentando inutilmente colar meu cabelo às minhas costas e meu corpo ao de Logan. Seu braço esticou-se e deitei-me nele, sentindo meu coração desritmado lutando para voltar ao compasso normal. As pernas de Logan entrelaçaram-se as minhas e apoiei a cabeça em seu peitoral, escutando seu sangue bombear em uma velocidade anormal, acompanhando sua respiração ofegante. Seus dedos faziam um carinho doce em minha cintura e nossos lábios colaram-se quando ergui a cabeça.
‘Estou com sede’, comentei quando nossas respirações e batimentos cardíacos voltaram ao normal. Ou o mais próximo de normal possível dentro daqueles parâmetros. Ele apenas sorriu e desenrolou seu braço, me deixando livre para levantar. Procurei um lençol e enrolei-me nele, um lençol branco, como a maioria dos que forravam a cama. Estava a um passo da cama quando senti sua mão segurar a minha. Olhei-o e vi seu sorriso convidativo. Esqueci porque estava com um lençol ao redor do corpo, porque não estava deitada ali e porque sentia minha garganta seca. Logan puxou-me de volta e eu apenas o deixei me conduzir, sorrindo para ele.
Já estava escuro quando voltei para casa. Não havia sinal de Trudy por lá ou de qualquer viv’alma. Havia porém, um bilhete preso à ímãs coloridamente infantis na porta da geladeira.
“Querida, fomos visitar Leny, estaremos de volta antes das dez. Divirta-se na festa e não volte tarde. Beijos, mamãe e papai.”
O arranquei e joguei no lixo. Leny ainda estava viva? Aparentemente sim. Minha mãe possuía um círculo de amigos tão grande que nem mesmo meu pai sabia o nome de todos. Era trágico saber que minha protetora possuía uma vida social mais acelerada que a minha.
Subi as escadas, preparei meu banho e fuxiquei um pouco pela varanda, mas não vi sinal de . Talvez tivesse saído, mas provei-me errada quando o vi encostado na parede do meu quarto, próximo a porta. Pulei discretamente em um susto súbito. O encarei de forma recriminadora.
‘Você deveria zelar mais pelo meu coração, .’, o avisei, sorrindo maleavelmente, torcendo inutilmente para que ele não tivesse prestado atenção em mim quando fuxiquei sua varanda.
‘Andou sumida, onde esteve?’, perguntou, puxando a cadeira da minha escrivaninha para trás e jogando-se nela. Parecia um tanto cansado. Sentei-me na cama, defronte a ele, o encarando.
‘Passei a tarde com Logan.’, respondi, dando de ombros. Não esperava o comentário seguinte.
‘Isso explica o cheiro de sexo.’, meu queixo pendeu alguns pequenos centímetros e meu olhar fincou nos dele que por um momento ficaram atônitos. Pensei em palavras e as organizei numa frase antes de balbuciar qualquer besteira e soar como uma perfeita pateta, mas era inevitável. Ri embaraçada e o olhei envergonhada.
‘Somos-’
‘Namorados, eu sei.’, ele sorriu largamente. Algo em meu subconsciente sádico impulsionava-me a perguntar por que o sorriso tão satisfeito. Por que Heather e você fariam a noite toda o mesmo que eu fiz com Logan? Por que ela seria uma perfeita biscate ao dançar com você na sua cama? Por que você está realmente gostando da ideia de ser namorado da amiga da sua vizinha? Por que, ? Estou curiosa. Resolvi cessar o questionário em minha mente deturpada quando vi sua expressão se modificar. A raiva borbulhante devia ter transpassado minuciosamente pelo meu rosto, já que ele me encarava de forma estranha e pouco satisfeita. Apenas sorri e suspirei.
‘Vai à festa hoje?’, perguntei, levantando-me para pegar minha toalha. pigarreou e remexeu-se na cadeira.
‘Sim, vou com Heather.’, o nome dela pontilhou-me bem no centro gravitacional. Respirei fundo, tranquilizei-me.
‘Então nos veremos hoje à noite. Realmente preciso de um banho.’, comentei com a toalha em mãos, voltando ao seu campo de visão. Ele sorriu.
‘Trouxe mais pra você.’, seu indicador apontava folhas manuscritas e rascunhadas sobre minha escrivaninha. Sorrir foi inevitável. Há tempos não lhe perguntava da história, há tempos nem deixava que esse tópico cruzasse minha mente.
‘Prometo que leio antes da festa.’, disse e o vi levantar-se.
‘Eu te abraçaria, mas...’
‘Não se incomode.’, sorri tortamente e o esperei sair pela varanda, rindo consigo mesmo.
Tomei um banho rápido, se é que isso é relevante e como prometido, li os dois capítulos da historia de . Era um romance completo. Martirizei-me por me deixar esquecê-lo. A personagem principal abortara o bebê naturalmente e sofria profundamente com o acontecimento, assim como seu marido, mas sua coragem ainda não era volumosa suficiente para contar-lhe da doença, mas na cabeça vasta e perceptiva do homem, havia algo errado com a mulher que amava.
O xinguei baixinho por ter parado de escrever em uma hora pouco propícia. Mas em um romance como esse, hora nenhuma seria exatamente propicia. Deixei as folhas de lado, perfeitamente empilhadas, como as havia encontrado e pus minha roupa para a festa. Simples, embora nada casual. Blusa folgada, jeans apertada e um belo par de saltos. Infalível. Maquiagem e perfume, bolsa, adereços e campainha.
Desci as escadas e encontrei Logan em sua blusa social rosa clara e jeans desbotada. Cumprimentei-o com um beijo rápido e logo fomos ao seu carro. A festa nos esperava, a cama de esperava Heather e algum sexto sentido me dizia que eu devia esperar algo imprevisto para os próximos dias.
Duas e três da manhã a luz do quarto de se acendeu e vi duas silhuetas afobadas chocarem-se em um desespero ímpar. Quando vi a blusa de voar para longe de seu corpo, fiz a mim mesma e a eles o favor de descer as escadas e procurar um ótimo filme que me entretece. Um filme de ação, corrida, tiros, diálogos sujos e tramas trash. Sorteei algum da prateleira de coleção de meu pai. Busca Implacável. Já sabia de cor todas as falas, já conhecia os erros de edição e toda a porcaralhada que se pode saber de um filme, incluindo sua trilha sonora, mas o injetei no aparelho DVD e fechei a porta da sala de TV. Espalhei-me pela poltrona confortável de couro e apreciei os dez primeiros minutos de filme. Dormi antes que pudesse contar até cem.
O telefone tocava incessantemente e me irritava de forma tal que levantei e o tirei do gancho. Estava no meu quarto, debaixo das minhas cobertas com a luz do sol fraco batendo na minha janela. Papai devia ter me trazido, como fazia quando era pequena e dormia vendo os filmes com ele. Uma das poucas coisas que gostei de dividir com meu pai era o gosto por filmes de trama e direção impecáveis.
Em um gesto automático, girei minha cabeça em direção ao quarto de , esperando ver o casal feliz dormindo de conchinha ou então tomando um belo café da manha na cama, como sempre acreditei que faria. Mas no lugar dessa cena topográfica, deparei-me com dormindo sozinho, afogado em um mar de lençóis e edredons gordos. Estranhei e peguei o telefone. A linha estava muda, nenhuma surpresa.
Levantei, usufrui do banheiro e voltei ao quarto escutando o telefone tocar novamente.
‘, preciso conversar com você.’, a voz de Heather parecia seria, o que disparou um alarme na minha cabeça. O sexto sentido da noite anterior veio como uma luz vermelha, me cegando a qualquer outra coisa. Empertiguei-me em sinal de alerta e pressionei o fone contra o ouvido. ‘Quero que pare de visitar .’, como é? Não estava escutando direito.
‘Desculpa... Você quer o que?’, perguntei abafando uma risada debochada.
‘Quero que pare de ver meu namorado.’, ela só podia estar brincando.
‘Heather, você está maluca.’
‘Não me chame de maluca! Quero que pare de vê-lo e ponto!’, a linha ficou muda. Encarei o telefone tentando engolir o dialogo recém estabelecido. Encarei novamente o quarto de , mas o mesmo já havia se levantado e fazia-se presente na varanda, esticando-se ao vento frio da manhã. Sua expressão era certamente dolorosa. Apagar memórias era uma tarefa difícil.
Saí para a minha varanda e o desejei bom dia, recebendo o mesmo em troca.
‘Tem um minuto?’, perguntei, o encarando com a cabeça cheia.
‘Algo me diz que precisa de mais de um minuto.’, ele juntou as mãos e olhou-me com uma faísca diferente nos olhos. Era diferente de tudo que eu já havia visto ali. estava com vergonha.
Sentamo-nos e ainda achava estranho o fato de pouco olhar para mim, e quando o fazia, aquela faísca cismava em aparecer. Ficamos em silêncio por tempo o suficiente para ficarmos desconfortáveis.
‘Posso saber por que Heather não quer que eu o veja mais?’, na lata, direta. encarou-me momentaneamente e riu sem graça, eu diria até nervoso. Olhou para baixo e depois voltou a olhar para mim, desconcertado.
‘Eu não sei se devo te contar isso, é um problema nosso, vou conversar com ela.’, ele coçou a nuca e embaralhou os curtos pelos.
‘Não sabe se deve me contar? Posso refrescar sua memória? Quem apresentou os pombinhos fui eu, Heather era minha amiga antes disso tudo acontecer e você apenas meu vizinho! Agora ela desparafusa como uma louca e quer que eu pare de ver você? Como não sabe se deve me contar, ? Bateu a cabeça?’, meus braços estavam abertos como uma maneira de expressar-me melhor através de gestos. sentia-se intimidado por gestos efusivos, eu sabia. Raspando a garganta, ele apoiou-se na beira da cadeira, aproximando-se de mim, diminuindo o tom de voz.
‘Eu espero que você use de toda a maturidade para entender que isso foi um acidente, estamos entendidos?’, seus olhos eram intensos e quando devolvi a mesma intensidade, ele cedeu. Baixou-os e respirou fundo, rangendo os dentes. Eu permaneci estática até o segundo em que ele voltou a olhar pra mim. ‘Eu chamei seu nome.’, ergui uma sobrancelha, como se essa informação não me bastasse. ‘Quando estávamos quase lá, ao invés de dizer Heather eu disse... Seu nome.’, ele voltou a encolher-se na cadeira, como se isso fizesse dele alguém invisível. Algo em meu peito rugiu triunfante e por pouco um sorriso perfeitamente orgulhoso não dançou em meus lábios. Digeri a informação em silencio e depois de pré dispor de frases feitas em minha cabeça, levantei da cadeira, observando pouco a vontade com a minha presença.
‘Foi um... Acidente de percurso.’, justifiquei enquanto me ajoelhava e apoiava as mãos em seus joelhos. ‘Que diferença faz? Sou sua vizinha, existem mil desculpas para isso, .’, mas apenas uma realmente crível. Eu sorria escandalosamente por dentro. Abri um sorriso singelo e confortável para ele, que me retribuiu rindo envergonhado e pondo as mãos sobre os olhos enquanto jogava a cabeça levemente para trás. Foi provavelmente uma das cenas mais bonitas que eu já havia visto.
‘Você... Você é um problema, garota.’, ele levantou e entrou em casa, ainda com vestígios da risada recente em seu humor. Um perfeito ponto de interrogação formou-se em minha expressão e levantei-me, vendo coçar a nuca enquanto ziguezagueava pelo quarto, como fazia quando estava nervoso ou ao telefone.
Achei melhor deixá-lo sozinho, já era vergonhoso o bastante ter que olhar-me nos olhos e admitir o que foi feito. Apoiei-me nas barras de ferro e encarei a rua em seu movimento escasso. Um carro pequeno e amarelo parou na frente da casa de . Eu conhecia o carro, a placa e a dona. Sua cabeça loira pontilhou para fora da porta e logo retrocedi alguns passos, batendo na vidraça do quarto.
‘Sua namorada.’, apontei com o polegar em direção a rua e vi em seus olhos o mesmo desânimo da noite do baile da escola. Ele não queria vê-la agora.
Em alguns instantes a campainha tocou. Acenei brevemente e virei-me, mas senti sua mão envolver meu pulso e me impedir de dar qualquer passo que não fosse de volta para onde eu estava. Encarei-o com uma expressão recheada de surpresa. Seus olhos estavam perto o suficiente para que eu contasse suas pequenas sardas de sol. Sua respiração misturava-se na minha, e seus lábios entre abertos eram tão convidativos quanto perigosos. Havia algum veneno ali, eu sabia que havia.
Sua voz baixa eriçou todos os pelos da minha nuca e seus olhos sérios me entorpeceram momentaneamente.
‘Isso fica aqui, você nunca soube disso, entendeu?’, meu pulso começou a correr, senti-me atônita e já não sabia quais palavras buscar para formar uma frase decente.
‘Não. Sim. Eu. Claro.’, forcei algumas doses de saliva garganta abaixo para que calasse a boca. Ele assentiu uma única vez e afastou-se, sem o menor remorso de me deixar com o estranho sentimento de incompletude. Ao escutá-lo descer as escadas correndo, sem olhar para trás nenhuma vez ao longo do percurso, recompus-me e voltei a minha varanda. Uma brisa ligeira bateu, esvoaçando meus cabelos por tempo o suficiente para que o cheiro de primavera se impregnasse nele.
Pude escutar a gritaria do meu quarto, sentada em minha cama enquanto fingia concentração no romance água com açúcar em minhas mãos. Heather vez ou outra gritava meu nome e senti que apontava para minha varanda também. Seguido de seus urros, vinha a voz quente de , apaziguando o efeito corrosivo das palavras vindas da fêmea descontrolada.
Escutei o baque da porta, um estrondo na verdade. Alguns instantes depois, escutei o carro amarelo ligar o motor. Heather havia ido embora e meu coração apertou-se ao ver meu escritor sentado na beirada de sua cama com os cotovelos apoiados na coxa e a cabeça baixa. Eu era tão ruim assim por querer seu bem, embora não com ela? Esbocei uma expressão lamentosa enquanto passava para sua varanda silenciosamente e adentrava em seu quarto.
‘Escutei meu nome.’, comentei, sentando ao seu lado.
‘Você não teve muito a ver com isso.’, ele não me encarava, embora houvesse erguido a cabeça.
‘Não sou surda... Nem burra, . Heather é ciumenta.’, dei de ombros. ‘Não é difícil ligar os pontos.’, entrelacei meus dedos entre si, apoiando as mãos atadas no colo. Estava me rendendo.
‘Não deu tempo de eu ter desenvolvido algo intenso por ela, não posso dizer que me vai fazer tamanha falta... Mas foi mais uma que entrou e saiu pela porta sem que eu pudesse aproveitar algo digno. Estou começando a gostar da ideia de acabar sozinho.’, ele riu ironicamente enquanto passava as mãos pelo cabelo.
‘Tem um lugar que gostaria que fosse comigo.’, aticei. Ele não gostava de ficar curioso, eu bem sabia. Encarou-me com os olhos ávidos de quem quer conhecimento, mas contive-me num sorriso sapeca. ‘Só prometa que vai ao menos sorrir se não gostar do lugar.’, comentei, balançando os ombros levianamente.
‘, não faz isso comigo, me diz onde vai me levar.’, ele abaixara o tom. Se não fosse , saberia bem que isso é uma carta galanteadora que usava para conquistar as meninas que queria.
‘Segredo.’, retruquei no mesmo tom, ainda sorrindo. Ele ergueu as sobrancelhas e esfregou as mãos. Levantou-se.
‘Então também fica segredo para onde vou te levar amanhã a noite.’, comentou, indo em direção a sua escrivaninha. Iria escrever. Abri um enorme sorriso.
‘Me diga o que usar e me contento com isso.’, fui de encontro a ele e apertei seus ombros, o forçando a sentar na cadeira.
‘Use um vestido, gosto de você neles.’, ele preparou uma folha e pegou a caneta mais próxima. ‘Até lá.’, com uma piscadela, voltou sua atenção para a folha. Passei os dedos por entre seus cabelos como uma forma de me despedir e parti para meu quarto. Seriam longas as horas até que viesse me buscar para o que quer que fosse. Indaguei-me brevemente sobre o que seria, mas a curiosidade me matava, então me contive em uma soneca no meio da tarde.
A noite estava fresca. A lua estava cheia no alto do céu, as estrelas brilhavam ininterruptamente e formavam uma bela moldura. Mas nada me deslumbrava mais do que em seu pulôver verde musgo. Senti-me automaticamente mal vestida perto dele. Um simples vestido bege solto após a linha do busto. Um salto fechado e uma maquiagem leve, pouco perceptível. Entramos no carro e não fiz uma única pergunta sobre o lugar que estava me levando durante o caminho.
Discutimos música, filmes, vida de famosos, seu livro, seu trabalho e até um pouco sobre seu recém terminado relacionamento com Heather. O carro parou em frente a uma casa enorme cujas luzes estavam todas acesas e viam-se inúmeras silhuetas se movendo de um lado para o outro de dentro da mansão.
‘ está fazendo aniversario.’, ele sorriu, se inclinando sobre mim para poder abrir o porta luvas e tirar de lá, uma pequena caixinha. Um cordão, eu poderia apostar.
‘Dezoito anos?’, lembrei-me do comentário de : “ela tem a sua idade, sabia?”
‘Sim.’, ele saiu do carro e quando eu estava pronta para abrir minha porta, ele o fez antes. Esperava-me sair com um sorriso doce e uma mão estendida. Segurei-a e deslizei para fora do carro, sentindo a brisa, repentinamente, ficar fria demais.
Quanto mais próximos da casa, mais audível ficava o burburinho vindo de dentro da mesma. O cheiro de vinho e queijo era de longe perceptível e admito, muito convidativo. Tocamos a campainha e , seu belo amigo, atendeu a porta. Encararam-se por um momento antes de cair na risada. Trajavam o mesmo pulôver verde musgo. Acompanhei-os com um sorriso divertido enquanto se abraçavam.
‘Lembra-se da , minha vizinha?’, ambos os homens me olharam, ainda com o sorriso brilhando nos olhos.
‘Claro.’, inclinou-se para me cumprimentar com um beijo na bochecha. Entramos na casa e fomos recebidos por inúmeros amigos e colegas de .
estava sentada no sofá, cercada por mulheres com suas taças de vinho tinto. Ao me ver, sorriu largamente e levantou-se, pedindo licença. Cumprimentou a mim e a , mas quando levou meu escritor a cozinha para surrupiarem algumas cervejas, cruzou seu braço ao meu e suspirou aliviada.
‘Que bom que chegou, não aguento mais aquelas mulheres me incentivando a engravidar!’, olhando para ela, era jovem e bonita. Sorriu largamente e logo ficou claro por que se encantara por ela. Era contagiante e nova, também no espírito.
‘Engravidar?’, torci o nariz o pousei as mãos na barriga instintivamente. ‘Elas sabem quantos anos você está fazendo?’, ela riu.
‘Aparentemente não.’
possuía um quarto só seu na casa. Era o local onde podia sentir na pele sua juventude. Podia sentir o cheiro de tinta fresca de seu diploma escolar, sua carta de aceitação na faculdade de artes visuais, suas fotos profissionais e suas paredes rosa chiclete. Senti-me a vontade no cômodo, me jogando no puff.
‘Suas fotos são lindas.’, elogiei. Ela encarou os pequenos retângulos presos por fita dupla face à parede.
‘São meu hobby.’, puxou a cadeira da escrivaninha e sentou-se. ‘Abri mão de muitas coisas por , ele sabe. Acho que a culpa o levou a me comprar uma câmera, como pedido para que eu não abrisse mão da fotografia também.’, ela balançou os ombros e por um momento, vislumbrei cansaço em seus olhos.
‘É difícil ser noiva aos dezoito anos.’, comentei, observando seus traços enrijecerem. Seu maxilar retesou-se, tornando-se quadrado. Parecia pronta para chorar, mas apenas suspirou.
‘Amo , desde meus quinze anos. Não vou encontrar outro homem como ele, e nem quero. Mas às vezes me sinto frustrada, entende? Perco a melhor fase da minha vida em função de ser noiva de um adulto, com responsabilidades e deveres. Eu deveria estar me embebedando e dançando em boates, não cuidando de uma casa.’, seus olhos pesaram. Senti que as lágrimas não se segurariam nas bolsas dos olhos por tempo demais. Sentei-me próxima a ela e passei os braços ao redor de seus ombros.
‘Talvez você devesse conversar sobre isso com ele. entenderia você querendo viver seus dezoito.’
‘Não tenho amigas para isso. O mais próximo que tenho delas são as loucas em roupas floridas horríveis na sala, me falando quanto engravidar é maravilhoso. Vou ficar flácida! E gorda e soltando puns como louca! Maravilhoso? Não consigo encontrar a maravilha nisso.’, até suas lágrimas pareciam jovens descendo rebeldes pela bochecha rosada. Senti certa pena pela garota que agora limpava as bochechas com as costas das mãos. Parecia ter pensado nisso há tempos, embora nunca tivesse alguém com quem pudesse dividir.
‘As amigas da escola?’, chute cego, pareceu pega-la pelo ponto fraco.
‘Não me procuram mais. Sabem que minha vida se resume a minhas fotos, cuidar da casa e de .’, ela encarava os joelhos pontudos enquanto sua voz tentava ao máximo parecer forte.
‘Tem primas?’, perguntei, encolhendo os ombros.
‘Minha família não é a de maior suporte para esse noivado. Ele é quinze anos mais velho que eu!’, estava sem mais opções.
‘Então que tal irmos ao shopping qualquer dia desses? Preciso de roupas para primavera e ouvi dizer que você faz um bom jogo de cores.’, comentei e seus olhos pareceram ganhar uma certa vitalidade. Como se sair com amigas fosse algo fora de seu mundo.
‘Eu adoraria.’, respondeu-me sorrindo. Seria bom ter uma amiga decente. Uma que não tivesse recém terminado o namoro e não precisasse de meu vizinho para ser seu estepe. Uma que parecesse tão madura quanto eu e acompanhasse meu ritmo acelerado demais. Seria bom ser amiga de .
Duas horas depois, já havia bebido algumas tantas taças de vinho e no começo de sua testa, algumas gotas de suor começavam a se formar.
‘Por que não tira o suéter, ? Vai acabar derretendo.’, sugeri quando a mulher gorda que estava entre nós na roda finalmente se afastou. Seu perfume doce estava me dando dores de cabeça.
‘!’, ele ergueu um braço para mim, passando-o por meus ombros. ‘Onde você esteve?’, perguntou enquanto me arrastava para longe da rodinha de amigos cultos e apreciadores de vinho tinto. ‘Não importa, não some mais.’, ele bebeu o resto do conteúdo de sua taça em um gole só e eu pude ver a bolhas de excesso estourarem em seus olhos. Peguei a taça de sua mão e a pus na superfície mais próxima.
‘Chega de vinho por hoje, não é, ?’, me ergui de volta, vendo todos ao meu redor sorrindo demais, amistosos demais. Incluindo .
‘Por que, tampinha?’, ele ia se estender para pegar a taça novamente, mas o puxei para trás, admito, com força demais e acabei por perder o equilíbrio e buscá-lo me apoiando na cumprida e fina mesa de madeira escura do hall. estava bêbado, ou seja, não sabia nem onde se segurar para não cair com o puxão que dei. Acabou por se apoiar na mesa também, embora de frente para mim, com as mãos singularmente postas sobre a mesa, uma a cada lado do meu corpo. Seu hálito levemente alcoolizado me fez estremecer quase invisivelmente.
‘Você está bem?’, perguntei, segurando seu rosto, tão pálido, quase verde.
‘Eu...’, antes que algo mais saísse de sua boca, ele se virou para um vaso ao lado da mesa e vomitou todo o seu jantar, suas taças de vinho e as cervejas ali mesmo, sem dó nem piedade. Passei as mãos pelos seus cabelos como uma forma de conforto e o ajudei a se erguer quando terminou.
‘Vem, eu te levo ao banheiro.’, segurei sua mão e cruzei nossos braços, de forma que eu tinha responsabilidade por, pelo menos, metade de seu peso.
Havia um pequeno lavado logo ali, ao fim do hall. Entramos e pus sentado na privada enquanto umedecia alguns quadrados dobrados de papel higiênico. Limpei a boca rosada do escritor sentado, tão cansado e alcoolizado que mal conseguia deixar sua cabeça erguida. Teríamos de ir embora, isso estava além de claro.
Após todo o enorme trabalho de tirar daquele lavabo e me despedir de todos, vasculhei seus bolsos em busca da chave do carro. Estava em frente à casa, o que me fez sentir-se além de grata, aliviada.
Deitei no banco traseiro e tentei me concentrar para lembrar o caminho de volta para casa. Não era tão longe... Vinte e cinco minutos? Quem sabe menos.
Alguma música dos anos setenta, acho que Janis Joplin, me servia como plano de fundo para toda àquela noite memorável. estava bêbado, eu ganhara uma nova amiga e estava sóbria. Três milagres. Em uma única noite... É, o mundo realmente dava voltas.
‘Eu sempre quis fazer um ménage, sabia? Heather parecia o tipo de garota que faria.’, a voz de estava carregada de vinho. Ele permaneceu deitado, embora sua voz tentasse falar de assuntos coerentes. ‘Eu queria que você estivesse participando de um... Comigo no meio, lógico. Dizem que homens decentes não pensam nisso. MENTIRA! Eu sei por que, porque eu sou homem, não sou, ? É e eu sou decente, eu uso calças caqui! Homens que usam calças caqui e suéter são confiáveis. Minha mãe dizia isso pra mim... Ela cheirava a peixxxxe.’, não pude evitar a mescla gostosa de triunfo, vergonha e risos. Apenas sorri escutando seu esforço audível para se levantar.
‘Você toparia um ménage comigo?’, encontrei seus olhos zonzos pelo retrovisor um tanto atônita.
Deixei perfeitamente aconchegado em sua cama, ainda murmurando as verdades que ele jamais diria sóbrio. Até certo ponto era engraçado ver o homem mais íntegro que eu já havia conhecido dizer tamanhas atrocidades. Pareciam piadas em sua boca. Ele definitivamente não nascera para o promíscuo.
Fechei a porta de sua varanda para que o vento não passasse e depositei um beijo em sua testa antes de apagar a luz do criado-mudo e ir embora. Do lado de fora, o carro mal estacionado me fez rir, mas logo aquietei-me ao ver Logan sentado nos degraus do deque frontal da minha casa. Suas pernas espaçadas serviam de apoio para seus cotovelos. As mãos atadas em frente à boca e o olhar vago. Aproximei-me rapidamente, mas ele não notou minha chegada. Estava perdido nos labirintos de sua cabeça, em algum pensamento longe da realidade. Sentei-me no degrau abaixo ao seu e apoiei a cabeça em seu joelho, encarando as casas do outro lado da rua. Logan se mexeu, aparentemente me notando ali.
‘Boa noite, .’, seus dedos entraram em meus cabelos e senti um carinho delicado enquanto ele alisava os fios.
‘Boa noite, Logan.’, respondi, virando o rosto para ele. Meu olhar inquiridor. ‘Não sabia que gostava de sentar no meu deque quando tinha insônia.’, dei de ombros e voltei a me apoiar em sua perna.
‘Na verdade, eu não consegui dormir por isso.’, ele sacou o celular do bolso, me mostrando as chamadas recentes. Heather, Heather, Heather e Heather. Senti meu corpo gelar desconfortavelmente e me empertiguei.
‘O que ela queria?’, perguntei, torcendo inutilmente contra o óbvio.
‘Me contar que seu vizinho chamou você durante o sexo.’, as palavras em sua boca pareciam um absurdo. Senti culpa por um momento, uma culpa que não era minha para carregar. Foi a vez de Logan se remexer e guardar o celular no bolso. Ele suspirou e encarou o mesmo nada que encarava antes. ‘Você saiu com ele hoje, não foi?’, a culpa agora parecia ser minha.
‘Sim, mas -’
‘Olha , eu não quero bancar o namorado ciumento. Eu nunca te perguntei aonde você ia ou com quem, eu não acho que isso seja uma preocupação primordial. Mas esse cara... Esse cara não quer ser seu amigo.’, ele parecia calmo. Parecia ter pensado muito no assunto, estava ciente do que fazia.
‘Ele é meu vizinho, Logan. Não acho que tenha dito meu nome por desejo, talvez tenha sido... Não sei, pode ter olhado para a minha varanda ou... Não sei, há mil explicações para isso.’, era lógico que eram desculpas. A verdade estava ali pairando entre nós dois e eu estava cega demais para enxergar.
‘, por favor. Não seja ingênua. Ou não finja que é, porque nós dois sabemos muito bem o quão sagaz você pode ser.’, Logan se levantou e desceu os degraus. Ao chegar ao pavimento, virou-se para mim.
‘Não é ser ingênua, Logan, é só que...’, minha voz morreu aos poucos antes que eu terminasse a frase. Pelo absurdo que ela seria.
‘Vamos fazer assim: enquanto você não abre seus olhos, eu te controlo. Acho que assim fica bom pra você, hun?’, ele cruzou os braços, estava irritado. Eu queria chorar. Talvez fosse simplesmente a TPM. Ou a pressão que tudo aquilo fazia sobre mim.
‘Logan, eu não-’
‘Boa noite, .’, com as mãos enfiadas nos bolsos da calça, ele se afastou, andando de volta até sua casa. Olhando bem no horizonte, viam-se os primeiros raios de sol de uma manhã nada agradável de um Domingo.
Quando o homem do correio passou, percebi o quão tarde era. Dentro dos meus parâmetros desajustados, era tarde da manhã. Levantei e inspirei até meus pulmões reclamarem. Com os sapatos e bolsa em mãos, não fiz um barulho sequer ao entrar em casa. Meus pais ainda pareciam estar dormindo, o que quase me fez ajoelhar e agradecer.
Joguei-me na cama, soltando nela o que tinha nas mãos. Olhando pela varanda, ainda dormia. Senti certa culpa por saber que no fundo ele me desejava e pior... Eu também o queria. E queria Logan. Era ganancioso demais da minha parte, eu sabia. Mas eu estava cansada de pensar nisso, bater na mesma tecla e não chegar a conclusões efetivas. Com o corpo e a mente cansados, acabei por dormir com meu vestido de festa, meus saltos e bolsa atuando a companhia que eu não tinha no momento.
-
Já era quase fim de tarde quando acordei. Minha cabeça doía como se quem estivesse de ressaca era eu e não o morador da casa ao lado da minha. Meus sapatos e bolsa estavam agora no chão, e pendurados do gancho da porta, respectivamente. Minha mãe havia entrado no meu quarto pela manhã. A certeza veio quando li seu bilhete sobre meu travesseiro intocado.
“Querida, fomos ao centro visitar sua tia. Não quis te acordar, mas tem comida na geladeira e dinheiro na bancada da cozinha.
Beijos, mamãe.”
Meu estômago rugiu bravamente e me levantei. Tirei o vestido e pus o robe por cima. Na geladeira encontrava-se presunto, queijo, salaminho e algumas pastas sem gosto algum. Optei por um banho, roupas quentes e café quentinho com pães frescos em alguma cafeteria próxima.
Antes de sair, vi em sua varanda, com uma expressão leve de dor. A ressaca cobrava seu preço.
‘Teve uma boa noite de sono?’, perguntei, encostada no batente da varanda. Ele sorriu ao me ver e se espreguiçou.
‘Eu não fiz besteira, fiz?’, perguntou, um tanto embaraçado. Era compreensível.
‘Como ligar para a Heather e implorar para reatar? Ah, não. Você vomitou no vaso de valor inestimável do , depois disso o trouxe para casa.’, respondi sorrindo, divertida. Ele apenas riu e passou as mãos pelo rosto.
‘Não disse nada absurdo, disse?’, ao perguntar, ergueu um dos sobrolhos e apoiou-se nas barras de ferro. Eu contive uma risada gostosa, a resumindo a um sorriso largo.
‘Fora que achava Heather a garota ideal para um mènage, não. Dormiu quase o caminho todo até chegar em casa, dormiu assim que deitou. Não houve tempo, eu acho.’, cruzei os braços me desencostando do batente, indo em direção ao limite de minha varanda.
‘Eu não disse isso!’, disse mais para si do que para mim. Não pude evitar e ri, atraindo sua atenção, sem desejar.
‘Desculpa, mas , estou disposta a esquecer isso. Não se preocupe. Enfim, estou indo a cafeteria, quer alguma coisa?’, ergueu o olhar até mim com um sorriso mal esboçado nos lábios.
‘Sim. Companhia.’
Fomos até a cafeteria mais próxima no carro da minha mãe. Sentamos em uma mesa perto da vidraça, de onde podíamos ver o movimento escasso da rua. A garçonete era mal humorada, mal nos olhou quando fizemos o pedido. Mas entre xícaras de café fumegantes e pães amanteigados, me contou em que pé andava sua história.
‘Vou te entregar e você lê quando chegar em casa.’, disse, entre um gole e outro de seu café preto.
‘Sim, mas custa resumir um pouco?’
‘Por que você precisa ser tão chatinha? Já disse que vou te mostrar quando chegarmos em casa.’
‘, não me mate de curiosidade! Vamos, fala logo, você sabe que vai uma hora vai falar.’, as minhas palavras, cruzou os braços e encostou-se na cadeira, me encarando. ‘Vamos , cara feia, para mim, é fome.’
‘Você é impressionante!’, cedeu ele rindo, pegando um pedaço de pão para si. ‘O homem acha os papeis de exame da esposa, descobre da doença. Dois dias depois ela sofre uma crise e vai parar no hospital. Ele volta para casa para buscar algumas roupas e sente o cheiro de perfume de limão dela. Ele fica horas sentado no centro da cama com as roupas dela ao seu redor, chorando por pensar no tempo que ela escondeu a doença dele.’, levou o pedaço de pão à boca e sorriu enquanto mastigava.
‘Ela vai morrer, não vai?’, perguntei, brincando com a borda da minha xícara.
‘Você vai descobrir.’
‘Sim! Mas eu sou curiosa, !’
‘Então guarde a sua curiosidade, você vai ler depois.’, bufei e comi um pedaço de pão de forma pouco encantadora.
‘Então ela cheirava a limão?’, perguntei levianamente.
‘Era, limões amarelos, os mais fortes.’, da forma como ele dizia, parecia até ser real, de alguém que realmente já existiu.
‘Uhm, interessante escolha para um perfume.’, comentei.
‘Por quê?’, suas sobrancelhas juntaram-se, deixando rugas de expressão se formarem em sua testa.
‘Cheiros fortes lembram personalidades fortes. Ela parecia ser doce demais para uma personalidade tão forte.’
‘Ela era forte. Era geniosa.’, retraiu-se ao notar que estava falando da personagem como uma pessoa real, o que me despertou mais curiosidade quanto ao fim do livro. Ou a origem dele.
‘A história é baseada em fatos reais?’, perguntei, mexendo meu café levianamente.
‘Não, imagina...’, me abriu seu melhor sorriso e resolvi deixar como estava.
Conversamos sobre coisas pouco interessantes até pedirmos a conta, que insistiu em pagar, e voltamos para casa. O dia estava bonito, o sol brilhava no topo do céu e a brisa gostosa da primavera era agradável.
‘Topa uma piscina agora?’, me perguntou ao tirar o cinto de segurança, quando chegamos em casa.
‘Uhm, vou pôr meu biquíni. Nos encontramos já.’, pisquei e saímos do carro. Senti meu celular vibrar em meu bolso e vi o último nome que desejava ver no visor. foi em direção a sua casa enquanto eu atendia.
‘Oi Logan.’
‘Oi, . Tudo bom?’, ele parecia um tanto irônico.
‘Sim, e com você?’, senti uma parcela de culpa pela conversa no deque frontal da minha casa, onde agora eu me encontrava sentada novamente.
‘Estou bem. Acordou agora?’
‘Faz um tempo, na verdade. Fui tomar café.’
‘Com ele?’, apoiei a mão vaga na testa e suspirei.
‘É Logan, ele estava comigo.’
‘, eu não quero isso, você sabe.’, ele estava sério, sua voz era dura como aço.
‘Logan, eu já te disse que não há nada entre mim e ele. Só fomos tomar café, pelo amor de Deus!’
‘, eu não vou dizer isso de novo. Fique longe desse cara.’
‘Ou o quê?’, era a raiva subindo e respondendo por mim.
‘Ou terminamos.’, foi um soco na boca do estômago.
‘Sabe, Logan, faça o que quiser.’, desliguei e entrei em casa, batendo os pés como toda a força até meu quarto. Peguei meu biquíni e uma canga para descer. Sem meu celular. Eu não queria conversa com ninguém.
Estava a porta do quarto quando meu celular vibrou novamente. Por questão de apenas saber quem era, fui verificar. Para a minha surpresa, e no momento felicidade, era alguém longe de ser Logan. Era .
Algumas futilidades normais da adolescência, poucas reclamações e risos depois, havíamos combinado de nos encontrar no cinema segunda à noite, ver alguma comédia que nem , tampouco , estaria interessado em ver. Fiquei feliz com o convite inesperado, o que pôs um sorriso contente no meu rosto quando cheguei aos fundos da casa de e me deparei com o escritor deitado numa espreguiçadeira, com os olhos fechados, sentindo o sol penetrar em sua pele. Suspirei à bela imagem e me aproximei, raspando a ponta dos dedos levemente pelo seu abdome bem talhado, chamando sua atenção. Seus olhos se abriram em espanto, suavizando ao reconhecer minha silhueta contra o sol. Abriu-me um sorriso largo e se sentou, batendo no espaço que havia deixado vago para que eu também sentasse. O fiz, esperando que dissesse algo, mas apenas me encarou com um sorriso bonito.
‘Que foi?’, perguntei, rindo sem graça.
‘Nada. Vamos mergulhar?’, ele se levantou e, sem me esperar, mergulhou no azul imenso da piscina. Deixei minha canga sobre a espreguiçadeira e esperei ele voltar à superfície para me juntar a ele com uma bomba perfeita dentro d’água.
‘Não sei o que faço agora.’, comentou ele, apoiando a cabeça na borda da piscina, ainda me olhando.
‘Em relação a quê?’, nadei até seu lado, fazendo como ele.
‘A tudo. Amanhã é Segunda, tudo volta ao normal. Vou trabalhar, escrever mais no livro, falar com o editor... Mas não tenho mais para quem telefonar no meio da noite quando não conseguir dormir.’
‘Hoje ainda é Domingo... Posso te levar a um lugar que talvez resolva seu problema.’, comentei, dando de ombros.
‘Onde?’, ele desencostou da borda e me encarou com os sobrolhos erguidos.
‘Você vai descobrir. Mas enquanto a noite não chega, quer fazer o favor de buscar a história para mim?’, ele riu e saiu da piscina, encharcando todo o caminho até sua casa.
Pouco tempo depois ele me trouxe uma toalha e a história. Sequei as mãos e logo comecei a devorar o romance. A principal realmente havia morrido, tragicamente, sentindo dores terríveis no leito do hospital. Seu marido, agora viúvo, sofria pela sua falta. Pela falta do bebê que nunca nascera. Sentia a casa vazia e fria, o cheiro de limão ainda se manifestava em todos os cantos. Passou um mês dormindo em um motel barato, enlouquecendo aos poucos. Em algum momento de lucidez, ele se deu conta de que estava morto. Por dentro, estava tudo podre. E talvez não houvesse mais reparo.
Voltou para casa, perdido. Havia perdido o emprego, a família e o respeito por si próprio. Para amenizar a dor da recente perda, afogava-se toda noite nos lençóis com mulheres desconhecidas. Mulheres que nunca gostariam de nada além de sexo. Os poucos amigos que tinha o diziam para olhar o que fazia e frear o ritmo imoral que ele cismava em acelerar. Então aos poucos, ele conheceu uma menina. Ela era mais nova, uma ótima amiga, acima de tudo. Ela o deixava sóbrio e embriagado ao mesmo tempo. Ela o trazia paz e sem que soubesse, o conforto que sua amada um dia trouxera. As belas peças vinte e quatro horas encontradas em boates e bares ainda entravam e saiam de sua casa enquanto a mais recente amiga apenas observava e o consolava, acreditando que ele as adorava e era louco por isso. Mas somente ele sabia que o consolo que ela o fazia, era pela perda ainda dolorosa de sua ex mulher.
Os meses passaram, as mulheres então eram menos frequentes. Ele começou a se reerguer. Conseguiu algum trabalho sem muita importância, escrevendo um livro. Sua amiga estava sempre lá, a única mulher que nunca ia embora, ele dizia. Lia sua história, chorava por ela e o incentivava a progredir. Ele conseguia sorrir de verdade e se sentia mais a vontade. Voltava a se sentir real, lúcido e parte do mundo. As peças voltavam a se encaixar, como num quebra cabeça onde as peças perdidas começavam a ser achadas.
Era um capítulo inteiro. estava sentado apreensivo na espreguiçadeira e eu organizei as folhas antes de o entregar. Essa história estava me levantando suspeitas, mas preferi guardar minhas perguntas para mim mesma. Com um largo sorriso, o entreguei as folhas.
‘Não tenho palavras. Esse homem já era!’, comentei enquanto ele pegava as folhas e punha na pequena mesa redonda com tampo de vidro.
‘É uma história sobre superação, , ele vai ficar bem.’, então ele sentou se na beira da piscina, a minha frente. ‘Como você está com Logan?’
Bufei à menção do nome. Senti o sangue subir e respirei fundo antes de conseguir responder.
‘Não quero mesmo falar sobre isso. Ele virou obsessivo! Acho que não temos volta.’, fiz um gesto leviano com as mãos e relaxei os ombros. Tudo que eu mais queria era estar indiferente a isso.
‘Então terminaram?’
‘Não sei ao certo. Espero resolver tudo com ele quando nos falarmos novamente.’, suspirei e sai da piscina com um impulso, jogando água em .
‘Ah não.’, ele levantou rindo, me vendo passar as mãos pelo cabelo, tirando o excesso de água. ‘Você não fez isso.’, comecei a rir discretamente, me afastando alguns passos. Ele sorriu e começou a se aproximar com as mãos a frente do corpo.
‘Não, , NÃO!’, antes que eu pudesse começar a correr, seus braços envolveram minhas pernas, me erguendo e jogando o peso do meu corpo em seu ombro. Eu parecia um belo saco de batatas apoiado em . Enquanto batia em suas costas e implorava para que pusesse no chão, ele caminhava até sua casa, me segurando pelas pernas, ignorando todos os meus gritos e pedidos.
Vi o chão mudar de mármore para madeira. Já estávamos em sua sala e eu praticamente desistia de um dia sair dali, mas ainda choramingava e gritava, entre risos de nervoso. Subitamente, me senti ser jogada para baixo e antes que pudesse me situar, vi sobre mim e seus dedos invadirem minha barriga. Enquanto me contorcia e ria de pavor pelas cócegas, percebi que estava no sofá. se divertia ao ver minhas vãs tentativas de segurar suas mãos.
Salva pelo gongo, o telefone tocou. Nunca me senti tão aliviada ao ver as mãos se sossegarem sobre minha barriga. Nos encaramos por um momento e com um sorriso escoado para os cantos dos lábios, tentei me levantar de súbito, mas sua mão se apoiou sobre meu peito e me empurrou de volta para o sofá enquanto tentava se esticar para o telefone na mesinha. Eu me contorcia e tentava tirar sua mão dali, até por mordidas, mas ele era realmente mais forte que eu. Pegou o telefone e o atendeu, me olhando.
‘Me solta.’, sibilei entre risos. Ele sorriu em resposta, embora prestasse atenção ao telefone.
‘É o .’, ele sussurrou, tirando a força da mão sobre mim. Sentei-me, escutando a conversa. Parecia não ser relevante, então fui à cozinha buscar um copo de água. entrou, sem o telefone, com um sorriso no rosto.
‘Vai sair com a ?’, perguntou, se sentando no banco da pequena ilha ao meio do cômodo.
‘Ah, vou. Vamos ao cinema amanhã.’, joguei o resto da água da pia e me juntei a ele. ‘ fofoqueiro.’, brinquei rindo.
‘Ele disse que estamos ficando de fora.’
‘Ué, querem ir com a gente?’, ele pareceu pensativo por um momento.
‘Nah.’, ele riu e se levantou, se servindo de algum suco de uma jarra transparente.
‘Ótimo. Então arrume-se, não se esqueça que hoje você sai comigo.’, me levantei e mandei um beijo para o ar, saindo de sua casa logo após.
Ao chegar em casa, meus pais estavam sentados na sala com Logan. Algo não me cheirava bem. Meu pai não esboça reação alguma, mas minha mãe, por sua vez, carregava surpresa e tristeza em seus olhos. Ao aproximar-me, vi uma peça vermelha sobre a mesinha que logo reconheci como sendo meu sutiã de dias atrás. Não era possível. Logan não teria feito isso.
‘O que é isso?’, perguntei a todos, mas meu olhar pousava em Logan, carregado de incredulidade e raiva.
‘Eu quem te pergunto, . Que porra é essa?’, arregalei os olhos. Não só pelo tom que minha mãe usara, mas por ouvir um palavrão sair de sua boca pela primeira na vida. Com a guarda baixa de surpresa, balbuciei algumas palavras sem sentindo algum até me dar por vencida.
‘Um sutiã, mãe.’, joguei-me na poltrona mais afastada, borbulhando de raiva por dentro.
‘UMA PEÇA DE LINGERIE!’, ela se levantou e pegou a peça sobre a mesa. ‘O que acha que está fazendo com isso?’, enquanto ela balançava o sutiã na frente do meu rosto, vi suas maçãs faciais se tornarem quase da mesma cor rubra.
‘O que você espera, mãe? Ele é meu namorado!’
‘Era.’, ouvi a voz de Logan me corrigir e o lancei um olhar com mil farpas, desejando que fossem reais e cravassem em sua pele.
‘Tanto faz.’, levantei e peguei a peça da mão de minha mãe, pronta para sair dali.
‘Você usa camisinha? Você pode ficar grávida!’, ela segurou meu braço, como em uma súplica. A consciência bateu pesada. Meu peito se afundou e minha voz soou como um fio ao sair de minha garganta.
‘Não.’, de relance, vi Logan sorrir. Tive vontade de voar em seu pescoço, estrangulá-lo até a morte, mas me contive e observei minha mãe sentar-se novamente, derrotada. ‘Eu conto a tabelinha, mãe.’
‘Tabelinha? Como você acha que veio ao mundo, ? Tabelinha não funciona!’, suas mãos balançavam em desespero.
‘Funciona comigo, eu nunca engravidei!’, seus olhos ergueram-se aos meus e vi mais que choque nela.
‘Há quanto tempo você...’, ela apontou com o queixo para a peça em minhas mãos. Eu estava desconfortável. Eu queria não precisar responder a essa pergunta, muito menos ter que encará-la enquanto respondia.
‘Um ano.’, apertei o sutiã, sentindo uma onda de choro querendo vir à tona. Olhei para Logan, sustentando seu olhar orgulhoso. ‘Você é um merda.’, virei de costas para eles e subi até meu quarto. Pela primeira vez, desde que posso me lembrar, deitei em minha cama com o rosto virado para o travesseiro e chorei. Até finalmente dormir.
Quando acordei, já era noite. Meu pai me fazia carinho nas costas, com um olhar vago. Virei-me e senti meu rosto inchado.
‘Bom dia... Noite.’, ele disse, tirando a mão de perto de mim. Meu pai nunca foi um bom demonstrador de carinho, então eu compreendia que não soubesse como agir quando eu estava consciente.
‘Veio me julgar? Dizer que sou maluca, que não pode acreditar que sou sua filha ou o quê?’
‘Primeiro, não fale assim comigo. Eu não aceito desaforos, não quero você sendo uma menina mimada. E segundo, eu vim aqui para conversar com você. Escutar Logan não é o que eu quero. Quero escutar da minha filha o que anda acontecendo na vida dela.’, senti calor em meu peito e me vi confortável com meu pai, uma das poucas vezes que isso aconteceu. Era estranho conversar com ele. Papai nunca foi de falar muita coisa, ou coisa alguma. Mas no momento, me pareceu ser o mais certo contar para ele tudo que vinha acontecendo.
‘Eu... Sabe pai, eu namorava Logan, não é errado! Eu não sei o que ele disse para vocês, mas...’
‘Você não sabe com quantos anos eu perdi minha virgindade, sabe?’, ele me interrompeu rindo. Fiz que não com a cabeça, esboçando um sorriso. ‘Doze.’, meus olhos se arregalaram e não consegui acreditar que aquele homem era meu pai. ‘Com a amiga da sua mãe, Trudy. Ela tinha dezesseis na época.’
‘Ela é mais velha que você?’, perguntei, cada vez mais chocada. Papai riu e continuou a contar sua história.
‘E que sua mãe também. Agora, se eu com doze já sentia os hormônios a flor da pele, imagino você e Logan com dezesseis. É normal, filha, mas eu tenho que concordar com a sua mãe. Você não devia ter escondido... Ou deixado de usar a camisinha. Você pode não ter engravidado até hoje, mas a tabelinha é falha. Foi de um erro de contagem que você nasceu. E sua mãe nunca havia ficado grávida antes.’, ele se ajeitou e pegou algo em seu bolso traseiro. Sua mão em concha estava virada para baixo. Pus a minha sob a sua e senti uma embalagem de camisinha cair sobre a minha palma. ‘Da próxima vez, use.’, ele beijou minha testa e saiu, fechando a porta atrás de si, me deixando confusa e risonha. Ao olhar para a camisinha em minha mão, analisei o que vinha escrito grande na parte frontal. “Efeito refrescante”. Ri desesperadamente e a pus na gaveta do criado mudo.
Olhei para o relógio, seguindo para a varanda de . Não estava em seu quarto, embora uma fresta de luz se desenhasse no chão. Provavelmente tomava banho. Resolvi fazer o mesmo e ficar pronta para sair.
Às oito e meia estávamos conversando dentro de seu carro. Ele aceitou apenas seguir minhas instruções para chegar ao local, embora mostrasse claramente que não conseguia conter sua curiosidade. À apenas duas quadras do local, finalmente o contei que uma conhecida minha frequentava speed datings e conseguiu um namorado assim. A princípio ele riu. Achou que era brincadeira, mas ao estacionarmos o carro, ele começou a acreditar.
‘, vamos voltar.’
‘, fique calmo.’, tirei meu cinto e me virei para ele, ajeitando a gola da sua blusa. ‘É só sentar em uma mesa, conversar com mulheres. Caso goste de alguma delas, peça o telefone.’, o olhei sorrindo e me virei para abrir a porta.
‘Você fica me devendo uma.’
‘Não se você achar alguém.’, saí e fechei a porta. Esperei-o fazer o mesmo para entrarmos pela porta de madeira. Era simples. Algumas luzes iluminavam o caminho escada abaixo, até um cômodo grande, onde mesas se dispunham em formato semicircular. As luzes eram baixas, fazendo do ambiente, propício para a ocasião. Algumas pessoas estavam em pé, com taças de vinho ou champanhe em mãos, conversando. Fiquei incrédula por alguns segundos e encarei , que não sabia qual emoção expressar primeiro.
Ele me olhou de volta, querendo me matar, é claro. Supliquei mil pedidos de desculpas com os olhos, esperando que um dia ele esquecesse isso. Nos viramos para ir embora, e tentei conter o riso quando escutei uma voz alta dizer:
‘Ora essa, temos carne nova no pedaço. Vamos, não se acanhe garanhão, desça aqui.’, me olhou e tentei pedir desculpas sibilando, mas antes que eu pudesse o fazer, nos viramos para as pessoas apenas alguns degraus abaixo de nós.
Atrás de toda a bela decoração, havia um gongo, naturalmente usado para marcar o fim do tempo em cada mesa. Acima do gongo, lia-se em vermelho um cartaz: NOITE GAY.
‘Você me paga.’, enquanto punha a mão sobre a boca para não rir, desci as escadas o acompanhando até a massa de homens que o olhava como um belo pedaço de carne fresca.
entrou no carro, vermelho. Somente ele sabia se de vergonha ou raiva. Eu apostava na vergonha. Preferia apostar. Ele proferiu poucas palavras enquanto atravessava a faixa de segurança e ligava o carro. Antes de dar a partida, o vi suspirar.
‘Eu juro que não...’, ele apenas ergueu um dedo, ainda olhando para frente. Dobrei os lábios e forcei as palavras de volta para dentro.
‘Você me deve. Deve muito.’, encostei a cabeça no banco, sentindo pontadas de culpa. Não que me balançasse tanto, mas era incômodo. ‘Um cara passou a mão na minha bunda.’, ele agora olhava para mim e foi inevitável. Ri debochadamente, me contendo logo depois. Ao olhar direito, percebi que ele também ria. ‘Eu fui molestado por outro homem, tem ideia do quanto isso é estranho? Você me deve quase sua vida.’, ele deu partida no carro, com nós dois rindo por entre os dentes.
O caminho de volta até em casa foi agradável e conseguimos nos descontrair rapidamente, levando grande parte dos acontecimentos da noite – que poderiam ter sido trágicos – para uma grande forma de piada. Se a vida ri de você, você ri de volta para ela, ele disse. Parece que deu meu número a todos os que pediram para manter contato e eu achei apenas justo. Era algo do qual nunca iríamos nos esquecer, sem dúvidas.
‘Bom, eu espero que você consiga dormir sem ter pesadelos.’, brinquei enquanto soltava o cinto, no carro já estacionado na garagem apertada da casa ao lado da minha.
‘Está realmente pensado que vai pra casa, tomar banho e dormir?’, ele saiu do carro e deu a volta, abrindo a porta para mim. A gentileza dele nunca era demais. Ao sair do carro, seus olhos brilhavam mais do que o esperado. Algo me dizia que essa noite ainda me guardava algumas risadas.
‘Eu contava com isso.’, fechei a porta atrás e mim e por uma pequena passagem, chegamos a cozinha. riu e pegou duas das suas melhores taças. Apontei para elas com uma das sobrancelhas erguidas. ‘O que acha que vai fazer com duas taças?’
me encarou, naturalmente irônico. Pegou de sua dispensa uma garrafa fechada de Pinot Noir.
‘Está pirando? Esse vinho vale mais que meu seguro!’, me aproximei, tentando em vão tirar o saca rolhas de suas mãos.
‘São sobras do meu casamento, eu não vou beber com outra pessoa.’, fazendo um esforço mínimo, ele puxou o apetrecho, trazendo a rolha junto. O vinho estava aberto. E cheirava a doce, a noites em claro no telhado, observando as estrelas.
Pus a taça vazia em cima da mesinha de centro da sala. ria, observando minha taça vazia e a dele beirando o fim.
‘Eu sei virar bebida, não me chame mais de fraca.’, apontei o dedo para ele enquanto ele ria ainda mais, bebendo o resto do vinho em sua taça. Ajeitei-me no sofá, sorrindo gostosamente. Minhas extremidades formigavam, eu queria sorrir, suspirar e beber mais. Estendi-o minha taça e ele virou a garrafa.
‘Ih.’, ele olhou para a garrafa vazia em mãos e começou a rir. ‘Acabou.’, me olhando com olhos de criança, se levantou, perdendo o equilíbrio e caindo sentado no sofá. Encaramo-nos e caímos no riso de novo. Quando finalmente nos recuperamos, levantamos e fomos à cozinha em busca de mais vinho.
Enquanto pegava outra garrafa em sua dispensa, eu procurava o saca rolhas. Ele pôs a garrafa na minha frente e o encarei.
‘O que eu faço com isso fechado?’, entre minhas sobrancelhas, formou-se um perfeito vinco para moedas. Ele riu.
‘Que tal abrir?’, sorri e o dei um tapa leve pelo deboche.
‘Eu não sei abrir isso, .’, arrastei a primeira sílaba de seu nome, o olhando.
‘Francamente! Mas eu te ensino.’, ao se por atrás de mim, pôs as mãos sobre as minhas e levou o saca rolhas até o topo da garrafa. Começamos a abrir o vinho, não que isso realmente tivesse prendido minha atenção. Sua respiração esvoaçando levemente meu cabelo e seu corpo roçando disfarçadamente no meu estavam de longe mais sensoriais.
Conforme aplicava mais força à garrafa, mais eu sentia seu peitoral em minhas costas, seu quadril chegando com suavidade de encontro a mim. Fechei os olhos, escutando sua respiração pesar devido à força, seu cheiro inebriante me dominar de terço em terço até que a rolha saiu. Abri os olhos. A garrafa continuava ali, a rolha presa à ferramenta, as mãos de sobre as minhas. Sua voz veio de repente, me fazendo arrepiar de cima abaixo.
‘Quer beber na taça?’, por pouco não estremeci, não cedi à luta interna do meu corpo e reuni, de pouco em pouco, a sobriedade nada confiável para responder.
‘Não, podemos beber do gargalo. O que acha?’, peguei a garrafa e dei um gole. riu.
‘Acho que se minha mãe visse isso, morreria do coração.’, roubando a garrafa dos meus dedos, ele deu um grande gole e pareceu tranquilo.
Encaminhamo-nos para a sala novamente, rindo de nada, tropeçando de vez em sempre nos nossos próprios pés até chegarmos no sofá. Jogamo-nos num deles, apoiando os pés na mesinha de centro. Dividimos a garrafa sem trocar palavras, apenas olhando para a porta dupla que dava para o quintal. Parecia uma noite agradável para um mergulho na piscina. Se tivéssemos condições de cair nela e não nos afogar sem querer. Olhando para , ele parecia pensar o mesmo que eu. Olhou-me de volta, sorrindo docemente. Doce como o vinho que dividíamos no gargalo. Roubei-o de suas mãos e bebi o resto. Era incrível como a bebida acabava rápido naquele lugar.
‘Que ir lá pra fora? Mergulhar um pouco?’, ele perguntou, me observando deixar a garrafa vazia em cima da mesinha. Recostei-me e suspirei, olhando para ele em seguida.
‘Eu adoraria, mas tenho que buscar o biquíni em casa antes.’, me levantei, o esperando poucos segundos até que fizesse o mesmo.
‘Nah, eu caio de roupa com você.’, ele caminhou pequenos passos em minha direção e por algum motivo eu não conseguia falar, apenas balançar minhas mãos de forma negativa afrente do meu corpo. Ele continuou sorrindo e me pegou pelos joelhos, jogando meu corpo para trás dos seus ombros. Senti meu estômago revirar, mas não disse nada em relação a isso, apenas ri e deixei que me levasse.
O ar era mais fresco lá fora, e a lua era fraca, iluminando muito pouco tudo que não fosse a piscina. Talvez fosse o álcool, mas a piscina parecia absorver toda a luz e refletir prata. Era bonito e hipnotizante.
Quando pus os pés no chão, senti minha visão embaçar levemente e o mundo dar uma enorme volta em poucos segundos. me segurou pelos braços e então pude perceber que quase caía para trás. Ao abrir os olhos, vi um sorriso largo e contagiante. Sorri com ele e tudo começou a voltar ao ritmo de antes.
‘Está bem? Precisa de alguma coisa? Uma privada, talvez?’, seus polegares acariciavam meu braço e ele respirava fundo, me incentivando a fazer o mesmo. Apenas ri, me senti perfeitamente bem, dentro do que o parâmetro de bêbada me permitia.
‘Não, estou bem.’, me desvencilhei de suas mãos e voltei minha atenção para a piscina. Era prata e me deixava em transe. ‘Vamos cair ou o quê?’, virei-me para ele e sorri, esperando ele se aproximar.
tirou sua blusa e seu físico me fez encará-lo de forma desconcertante. Mas eu honestamente liguei pouco para isso, ou não liguei de forma alguma. Sentia que meu maxilar estava ligeiramente aberto, mas não consegui fechá-lo. riu e me abraçou por trás, apoiando seu queixo em meu ombro.
‘Pronta?’, sua voz fez com que eu arrepiasse notoriamente e risse sem graça. Balancei a cabeça negativamente e me afastei um pouco, contra vontade. Tirei minha blusa, pouco importando se meu sutiã era de um patético branco com bolinhas azuis e vermelhas. Minha calça pareceu ser o maior problema, já que por ser justa, quase perdi o equilíbrio e pulei sobre um pé aproximadamente quatro vezes. Sem esperar , com as roupas jogadas no chão, pulei dentro da piscina, sentindo um leve choque térmico ao emergir na superfície.
Ele me encarava, ligeiramente surpreso. Após poucos instantes e dois sorrisos, ele me acompanhou, pulando no tanque d’água. Encontrou-me na borda oposta a que tínhamos pulado e apenas rimos. Joguei um pouco de água nele e foi o suficiente para começarmos uma pequena guerra de risos e água entrando em nossos olhos, orelhas e nariz. Paramos quando ele pediu tempo e fechou um dos olhos com força. Embora ambos ainda rissem, me aproximei pedindo desculpas e observando seu olho fechado, como se pudesse resolver o problema, que obviamente era passageiro e irrelevante.
‘Estou bem, foi só um pouco de água.’, disse ele ao dar um peteleco na água, jogando perfeitamente em minha boca semiaberta.
‘! Na boca não!’, cuspi a água e arrastei as costas das mãos sobre os lábios, como se fosse secar alguma coisa. Ele riu e passou o polegar no canto dos meus lábios, retirando algumas gotas enquanto se aproximava. Nossos corpos se roçaram levemente, nos deixando atentos da proximidade perigosa. Não conseguíamos parar de nos olhar, deixando o sorriso sumir, sendo substituído por algo maior.
Meus braços abruptamente enroscaram-se em seu pescoço e suas mãos passaram de meu lábio para minha nuca, me puxando com força surpreendente para si. O encontro das bocas foi forte, embora gostoso. O choque quente me envolveu completamente quando nossas línguas se encontraram, lutando com tamanha avidez que ambos se excitaram por isso. Era envolvente e caloroso, e antes que notássemos, nossas mãos percorriam o corpo um do outro, despejando todo o desejo guardado tão secretamente por tanto tempo. Aos poucos, me apoiei na borda, pegando impulso para sentar-me nela, desencontrando minha boca com a de desajeitadamente.
Rimos brevemente e ele apoiou os braços ao lado das minhas pernas, sustentando-se neles, voltando a ser mais alto que eu. Voltamos a nos beijar e rapidamente, se encontrava aconchegado sobre mim, na borda da piscina, à vista da varanda do meu quarto. Nem se quer nos lembramos desse detalhe e pouco segundos depois, meu sutiã afundava no azul da piscina.
Os beijos de fizeram uma trilha digna de arrepios pelo meu pescoço, colo e finalmente em meus seios, os envolvendo de forma que me fazia querer afastá-lo e pressioná-lo contra mim simultaneamente. Minhas mãos apoiaram-se em seus quadris, os impulsando para baixo enquanto eu erguia os meus próprios para cima. Um gemido baixo estrangulou-se na base da minha garganta ao sentir seu membro quase duro sob a calça ensopada.
Desesperada pela presença da peça, desengonçadamente a puxei para baixo e depois de algum esforço e ajuda de , ela encontrava-se longe. O calor de dois lábios se fechando ao redor de um dos meus seios e o sugando com força me fez gemer, um pouco mais alto que o desejado, o que fez com que um satisfeito me mordesse um pouco, fazendo com que meu prazer aumentasse ao limite.
Ergui as costas ligeiramente quando a língua que antes deslizava em meus seios desceu pela minha barriga e ventre. Um arrepio tomou conta de mim e meus quadris subiram instintivamente ao sentir as mãos de puxar minha calcinha. Não me senti exposta, pois antes que eu pudesse, sua língua me invadiu de tal forma que o prazer se espalhou em pequenos pontos elétricos pelo meu corpo. Estremeci violentamente ao começar a ser estimulada, agarrando seus cabelos enquanto gemidos involuntários saíam de minha garganta.
O calor passava de pra mim e a vontade de que sua língua não me soltasse jamais me faziam pressionar cada vez mais sua cabeça, sendo cada vez mais estimulada, sentindo o nirvana se aproximar. Uma de suas mãos acariciou levemente a lateral do meu corpo, subindo discreta e gostosamente até encontrar um dos meus seios, o apertando suavemente. Os gemidos se tornaram mais altos e frequentes, o fazendo aumentar seu ritmo. Um fio de prazer desceu minha espinha e meus joelhos se dobraram, tirando meus pés do chão.
tomou-me entre os lábios, sugando fracamente, e meu corpo reagiu com um estremeço violento e um gemido alto que se arrastava, se carregando conforme ele sugava com mais força. Puxei seus cabelos, acredito que com força demais, por sentir sua língua se afastar. Como que por instinto, voltei a pressioná-la, recebendo uma mordida leve e em seguida, a força de seus lábios me sugando novamente. Minhas unhas se cravaram em sua nuca e apertei os olhos, fazendo das minhas costas um arco perfeito. Acima da minha cabeça, minha mão vaga tentava desesperadamente agarrar algo, embora minhas unhas se arrastassem pelo chão. Meus quadris se contorciam em prazer e senti espasmos começarem a tomar meu corpo, liberando gemidos que eu já não controlava, curtos, frequentes e agudos. Passei a tentar prendê-los no fundo da garganta, mordendo meu próprio braço, mas foram tentativas vãs, uma vez que o prazer ameaçou quase me partir ao meio sob a língua de e com um arrepio forte, me senti nos segundos finais. Arqueei mais as costas, fechando os olhos com tanta força que, ao me sentir finalmente pulsar, o calor de uma lágrima singular descendo pelo canto do olho quase me passou desapercebido.
Parecendo satisfeito, se ajeitou sobre mim, encaixando seu corpo perfeito no meu. Mal tinha forças para abrir os olhos e me obriguei a controlar a respiração com calma. Já ele, tinha outros planos. Beijou meus lábios, a início, tão leve que parecia mais um carinho, mas gradativamente, fui me vendo com menos fôlego que antes, cedendo ao beijo envolvente, espalmando as mãos em suas costas, forçando seu corpo no meu.
Suas mãos me desciam, sentindo cada centímetro da tez arrepiada até minhas coxas. Espaçou-as ainda mais, liberando espaço para que seu quadril pudesse se mover mais livremente. Senti a agulhada leve de seu membro e uma de suas mãos já não se encontrava mais em minha coxa, mas sim segurando seu próprio órgão, o introduzindo certeiramente em mim. Arfei, sentindo o peito arder com a falta de ar, mas ao sentir seu membro deslizar em mim com movimentos precisos e fundos, tudo que consegui foi gemer baixo e cruzar minhas pernas em suas costas.
Gradativamente, as investidas se ritmaram agilmente e cada vez mais certeiras. Os ossos do meu quadril já estavam doloridos, latejando na melhor dor que eu já havia sentido. Quanto mais fundo estocava, mais incontroláveis e prazerosos eram os gemidos. Minhas unhas já arrastavam pelas suas costas e seus gemidos roucos e baixos ao pé do meu ouvido faziam com que meus seios ficassem cada vez mais tesos, se pressionando contra seu tórax. Senti o calor característico subir minha espinha e descer em um fio gelado. Fechando os olhos, finquei as unhas no quadril de , o implorando entre as arfadas que não parasse, e em resposta obtive mais fortes e mais rápidas investidas, transformando meus gemidos em pequenos gritos.
O olhar dele me perfurava, eu sabia, embora eu estivesse de olhos fechados. Notando que eu já mal possuía forças para sequer respirar fundo e que o orgasmo estava a milésimos de segundos de chegar, diminuiu abruptamente a velocidade, deslizando devagar seu membro. Quis socá-lo, mas sabia que tinha que ter algum motivo maior. Ao abrir os olhos, minha primeira percepção foi um sorriso classicamente sacana. Com certa suavidade, ele se sentou, me trazendo consigo. Uma vez por cima, senti que ele se encontrava dentro de mim por completo e pequenos espasmos me fizeram pulsar fraca e longamente.
Tomei seus lábios num beijo intenso e senti suas mãos pesadas movimentarem meu quadril, de forma a começar os movimentos novamente. Quanto mais rápido eu movia o quadril, maior era a necessidade de afastar nossos lábios e soltar os gemidos presos na garganta. Seus braços fortes envolveram minha cintura, me trazendo com força contra ele, estalando os corpos a cada vez que eu me movimentava. Quando nossos lábios finalmente se separaram, os dele se dirigiram certeiramente para um dos meus seios, os sugando sincronizado com meu quadril. Seus braços me traziam cada vez mais fortemente contra si, e antes que desse conta, apenas apoiava a cabeça em meu colo, gemendo baixo. Suas mãos deslizaram para os meus quadris, controlando meus movimentos de forma que ficaram cada vez mais fortes, me fazendo ir mais fundo, melhor. Segurei seus braços, os apertando. Minha cabeça pendeu levemente para trás e entre as arfardas e gemidos, deixava que seu nome escapasse entre meus lábios. recebeu isso com excitação aparente, me trazendo com tanta força contra seu membro que os estalos estavam quase tão altos quando nossos gemidos. Seu membro pulsava e os nós de seus dedos apertavam meu quadril de forma dolorosa. Deixei que uma das mãos puxasse seu cabelo enquanto, novamente, sentia o frio me descer as costas. Meu corpo tremia, eu mal respirava e sentia o rosto quente, uma vontade de chorar de prazer me tomando. Estávamos juntos, atingindo o clímax da forma mais extravagante possível. O gemido final de um dos melhores orgasmos que já tive ecoou junto com o de . Por longos segundos, permanecemos assim, sentindo a pulsação vir como um furacão, tão tangível que quase podíamos tocá-la.
Depois do que me pareceu ser um longo verão, nos pegamos trocando olhares carinhosos. A ponta de seus dedos desciam devagar pelas minhas costas, num carinho gostoso enquanto eu apenas enrolava seu cabelo em meus dedos. Seus lábios pousaram nos meus, os encaixando perfeitamente. Permanecemos assim por um bom tempo até que tivemos coragem de nos levantar. Fui pega pelas pernas e levada para dentro da casa como uma recém-casada. Não sei muito bem como, mas conseguiu me levar até o fim das escadas. Ao bater meus pés no chão, nos olhamos por um pouco, com um sorriso enviesado que claramente dizia tudo que precisávamos saber. Mordisquei o lábio inferior e andei até a porta de seu quarto, mexendo meu quadril sinuosamente. Podia sentir seu olhar acompanhando as curvas que meu corpo fazia e, ao virar o rosto para ele, ainda parado ao lado da escada, vi seu membro voltando a enrijecer. Alarguei o sorriso discretamente e entrei no quarto, ouvindo seus passos iniciarem a trajetória recém-feita por mim.
Esperava-o sentada na beirada da cama, com as pernas cruzadas e o torso apoiado para frente. parou à porta, sem conseguir tirar um sorriso bobo do rosto. Aproximou-se devagar e não consegui evitar observar seu corpo. Trapézio definido e braços fortes, uma entrada suave, assim como o talhar de seu abdome. Senti em meu corpo algo incendiar. Era como se tudo clamasse por ele, cada pequeno pedaço. Rapidamente, me deitou na cama, pondo-se por cima de mim novamente. Mas isso não ficaria assim, ah não. Deixei que se animasse ao beijar meu pescoço e colo, descendo suas mãos pelas minhas pernas ao redor de seu quadril, mas antes que sua boca pudesse chegar a um dos meus mamilos, impulsionei-me de forma a trocar de posição com ele. Por cima, com um belo sorriso macio e dominador. Vi centelhas de um desejo pulsante em seus olhos pela primeira vez, sua expressão de quem não sabia o que esperar, ao certo. Decidi que brincaria com ele. Decidi que o teria como sempre quis, em minha mão.
Encaixei nossos lábios calidamente, a quem via de fora, confundia-se com carinho. Mas eu estava longe disso. Desci os beijos pela linha de seu maxilar até próximo de sua orelha, onde mordisquei o lóbulo, respirando pesado ao sentir suas mãos em meu corpo, exalando vontade com elas. Trilhei beijos e mordidas pelo seu pescoço, tórax e barriga, sem tirar os olhos de seu rosto por um instante sequer. Ao aproximar meus lábios de seu membro, pude ver sua respiração parar. Nossos olhares se encontraram e se pudessem, ateariam fogo ao quarto. Rocei os dentes levemente, quase sem encostar, na cabeça de seu pênis, e então o ouvi soltar todo o ar retido. Tomei-a nos lábios, numa pressão fraca, demorando-me a soltar. Os dedos de se entrelaçaram devagar em meu cabelo. Observando seu peito se mover com certa rapidez, passei a sugá-lo por inteiro, ainda devagar. Após o primeiro gemido rouco, suguei um tanto mais forte, mais rápido. logo aprendeu como eu funcionava. Seus gemidos se fizeram mais frequentes e sua respiração perdeu o compasso de acordo com a velocidade que eu o sugava.
Antes que notasse, seus dedos puxavam meu cabelo com força, seguindo os movimentos de minha cabeça. Sua cabeça forçava o colchão, seus olhos cerrados. O desejo nos tomava a escalas grotescas, quanto mais se entregava, mais eu fazia questão de provocá-lo, sem conseguir tirar os olhos de seu rosto. Levei uma das mãos à base de seu membro, acompanhando minha boca e as unhas da mão vaga se ocuparam em arranhar seu torso. Mais forte. Mais rápido. Seus dedos puxavam meu cabelo numa dor prazerosa, seus gemidos roucos me incentivavam a ir cada vez mais longe, até que ele sussurrou meu nome. Foi como uma corrente elétrica de duzentos e vinte volts percorressem o meu corpo em segundos. Mais forte. Mais rápido. Sentia sua pulsação em meus lábios, em minha língua, até que veio o pré-gozo. Sua mão se tornou pesada, forçava minha cabeça para baixo, seus olhos se cerraram estupidamente forte e como num tornado, seu líquido veio. Aos poucos, me voltei a atura dele. Sua respiração estava fora de ritmo, mas ainda assim, fez questão de tomar meus lábios nos seus, num beijo longo, lascivo e satisfeito.
Podia sentir seu coração forçando suas costelas, o sangue bombeando visivelmente na pele e seu olhar acusando o êxtase total. Era palpável, o prazer. Incubado por tanto tempo, finalmente ali, exposto entre nós, reduzido a sorrisos. Nosso brinde. me puxou para deitar em seu peito e me senti aquecida, como em mil cobertas, mas na verdade, éramos apenas eu e ele. Senti seus lábios em minha testa e me acolhi, atravessando o braço pelo seu torso e fechando os olhos.
X
Abri os olhos devagar, ainda estava escuro lá fora. Havia cochilado. Olhei ao redor e vi dormindo, tranquilo. Foi inevitável, sorri de forma boba, como uma adolescente idiota que acabou de ouvir um ‘eu te amo’ do menino que ela gosta. Seus braços estavam ao meu redor, fazendo o melhor lugar que eu já havia dormido. Voltei a encostar minha cabeça em seu peito, fechando os olhos para poder sentir melhor. Prolongaria a sensação até quando não pudesse mais. Acolhi-me um pouco mais e sussurrei por baixo do fôlego:
‘Meu escritor...’
‘Tampinha.’, sua voz veio num susto gostoso. Ergui os olhos e me deparei com seus belos olhos . Estavam mais bonitos que nunca, num brilho que eu nunca havia visto ali.
‘...’, a voz estava distante, como se meu subconsciente me chamasse para bater um papo. ‘!’, e uma cadernada na cabeça. Se ficasse um galo, quem quer que o havia feito pagaria o pato. Levantei minha cabeça rapidamente, enxugando a baba escassa dos cantos da boca. Bem a tempo de ver o professor chegando a minha mesa com cara de poucos amigos.
‘, posso saber por que é a quinta vez que sua amiga te acorda só na minha aula?’, olhei para Abby e ela apenas entortou a boca, ainda com o caderno de oitenta matérias na mão. Aquilo era pesado. Voltei a olhar para o professor, com o melhor sorriso amarelo que consegui esboçar.
‘É que eu passei a noite estudando, professor, acabei dormindo mal. Desculpa.’, encolhi os ombros e torci para que ele acreditasse. Ele ergueu seus sobrolhos e com o desdém estampado no rosto, voltou para o quadro negro e, logo, para sua aula. Virei para Abby e sussurrei no tom mais áspero que consegui.
‘Se bater em mim com esse treco de novo, te arranco a cabeça!’, rapidamente ela soltou o caderno e riu sarcástica.
‘Ui, tô com medo!’, eu odiava quando ela fazia essa voz e quanto mais isso ficava visível, mais ela fazia. Um dia ainda dava uns bons tapas nessa menina. ‘E olha só, anatomia não é nossa matéria, tá?’, senti um leve rubor me subir às maçãs do rosto e um sorriso culpado dançou em meus lábios. ‘Acha que eu trouxa? Sou trouxa não, meu amor, conheço esse soninho aí de longe!’, era incrível como Abby parecia um homem gay preso no corpo de uma mulher, às vezes. Ri baixinho, consentindo minha culpa. O sinal soou e antes que o professor pudesse dizer se havia ou não tarefa para casa, metade da sala já estava nos corredores.
Estava ajeitando meu material no armário. Corredor sete, armário quatro e pouca gente por perto quando senti o cheiro de alguém que não me era mais desejável.
‘Zero oito meia cinco.’, a voz fina que me lembrava seu batom rosa cintilante, os cabelos sempre bem arrumados e o perfume doce como açúcar. ‘Você é tão previsível, não é, ? Arranja sua amiga com um homem maravilhoso, o seduz e depois o toma pra você. É inveja demais, até pra você!’, me virando, encontrei mais do que o esperado. Logan abraçava Heather por trás, ambos com um sorriso satisfeito que se alargou, contente com o meu choque. ‘Fica com o meu lixo, eu tenho coisa melhor.’, selando seus lábios nos de Logan diversas vezes, o que me revirou o estômago, se foram. Eu podia vomitar ali mesmo, botar meu estômago pra fora. Ao menos eles se mereciam. Uma tonta e um estúpido. Era mesmo o casal do ano. Olhando ao longo do corredor, vi Dylan, ex-namorado de Heather, cabisbaixo e visivelmente magoado. Fechei a porta de meu armário e fui até ele.
‘Ela veio se exibir pra você também?’, pus uma mão em seu ombro, como um gesto de conforto. Ele apenas assentiu, agarrou seus livros e seguiu seu caminho até o fim do corredor. Não imaginei que Dylan ficaria devastado dessa forma, afinal, fora ele quem terminara tudo. Segui meu caminho até meu carrinho compacto e, em seguida, para casa. Iria ao cinema com hoje, como havíamos marcado no dia em que fui a sua casa.
Largando minhas coisas na cama, não segurei uma espiada na varanda vizinha. Abri um sorriso grande e satisfeito ao ver sentado na varanda, sem sua blusa e uma calça cinza de moletom. Caneta e papéis em mãos, escrevendo mais alguns capítulos – assim eu esperava, ele parecia concentrado. Resolvi que antes de pular até sua varanda e o dar um beijo de bom dia, tomaria um bom banho gelado. Eu merecia depois do dia que tivera. Despi-me e deixei o roupão em cima da cama, pronto para quando saísse.
Relaxada, ensopada, limpa e envolta no roupão, fui até a varanda, verificar se ainda estava sentado por lá, mas não estava. Deixei os ombros caírem e soltei um muxoxo antes de me virar e encontrá-lo encostado na porta do meu quarto, apoiando a caneta na têmpora direita e os papéis, por onde corria os olhos, na mão esquerda. Com um leve susto, fui devagar em sua direção.
‘Você precisa parar de fazer isso, ainda vou ter um ataque do coração!’, peguei os papéis de suas mãos e passei os olhos por eles. Senti as mãos de envolverem minha cintura e me puxarem contra ele. Mesmo com toda a proximidade, mantive meus olhos nos papéis, muito embora não lesse nada, de fato. Sua respiração ficou demasiadamente próxima da minha e ouvi um sorriso, daqueles que apenas tinha, se abrir.
‘Cadê meu beijo?’, sua voz baixa me fez tremer nos joelhos e voltar minha atenção para ele. Juntei nossos lábios em um beijo macio e longo. Ainda era difícil acreditar que havia passado a noite anterior com ele e que ele ainda estava aqui, me segurando pela cintura e... Bati em sua mão, que desfazia devagar o laço do meu roupão.
‘Não, tenho cinema com a , não quero me atrasar.’, falei por entre os lábios semicerrados, sem abrir os olhos ou afastar nossos lábios demais. Seus dedos apenas me pressionaram mais e ele continuou desatando o laço. ‘... Não.’, ele apenas riu e soltou a caneta, que fez um baque surdo no chão. Com uma agilidade surpreendente, tirou os papéis da minha mão e os jogou pelo quarto, desfazendo toda a ordem em que estavam. Parte de mim realmente queria aquilo... A quem estava tentando enganar? Tudo de mim o queria naquele momento, mas eu tinha um compromisso!
‘, larga!’, me afastando com uma risada, dei o laço novamente no meu roupão. ‘Tenho que sair com a , fica quieto!’, e conforme eu me afastava, ele se aproximava com as mãos pra frente e os dedos se movendo como se viesse me pegar. Antes que desse por mim, corria pelo quarto com ele em meu encalço, gritando e o pedindo para não fazer isso. Enfim, ele me pegou, quando estava pulando pela cama. Nos deitamos, com ele sobre mim, ambos sem fôlego e rindo de nada. Mal senti seus lábios quando beijaram a ponta do meu nariz e fez um carinho leve na lateral das minhas pernas. Apenas sorri, escondendo o arrepio, e selei nossos lábios novamente.
‘Escrevi mais, quando chegar do cinema, vê se lê, tá bom?’, com mais um selar de lábios, ele se levantou, estendendo a mão para mim. Peguei-a e me levantei também, o abraçando.
‘Pode deixar... Escritor.’
‘Tampinha.’, e com uma acariciada no meu cabelo, ele juntou os papéis, pôs em cima da minha cômoda e se foi. Peguei-me o observando, com cara de boba, achando tudo a coisa mais linda do mundo. Me xinguei de estúpida, boba apaixonada, cega de amor e todos os etc. possíveis e fui me arrumar.
Depois de dez minutos esperando , sentada numa poltrona cor de vinho e acolchoada, ela chegou com os olhos um pouco vermelhos e inchados. A princípio, não quis perguntar, muito embora a curiosidade me corroesse como ácido por dentro. Ela abriu um sorriso bonito, como devia ter treinado minutos antes no carro, e se sentou ao meu lado. Estava impecavelmente vestida. Compramos nossos ingressos para a próxima sessão da comédia romântica mais melosa que pudemos achar, pegamos nossa pipoca amanteigada e fomos para a sala de cinema, nos sentando na última fileira.
Jogamos conversa fora enquanto o filme não começava. Ela parecia poder quebrar a qualquer minuto, então mantivemos a paz e nem tocamos no nome de . Muito menos falamos sobre fotografia ou afins. Quando o filme começou, uma história de amor como todos esperavam começou. Parecia mais um romance água com açúcar do que uma comédia. E no fim das contas, era mesmo. No meio do filme, não pude evitar ao ver chorando.
‘Você está bem?’, pus minha mão sobre a sua e ela simplesmente abaixou a cabeça, chorando baixo. Na tela enorme, o casal brigava porque ele iria para o exército e a deixaria por tempo indeterminado.
‘Tá tudo bem, não se preocupe.’, com um sorriso estupidamente falso nos lábios ela enxugou os olhos, pediu licença e foi ao banheiro. Precisei admitir que já não era apenas curiosidade, estava genuinamente preocupada com ela. Levantei-me e a segui, encontrando-a sentada no canto do banheiro branco e vazio, com as pernas encolhidas e a cabeça baixa.
‘, pode conversar comigo, o que houve com você?’, me agachei, ficando da sua altura e ela se desmanchou no choro. Tomei-a nos braços, sentindo sua dor passar dela para mim.
‘ não quer, eu não sei mais o que faço para ser feliz!’, entre os soluços, ela apenas soltava palavras soltas e desconexas. ‘Eu quero isso, eu sempre quis, eu amo essa profissão e aquele filho da puta...’ e ela caiu no choro de novo, tornando difícil o trabalho de entendê-la.
‘Ok, vem cá, vamos lavar esse rosto, se acalmar e você me conta direito o que aconteceu, tá?’, a ajudei a se levantar enquanto ela assentia e a deixei lavar o rosto. Aos poucos, seu choro diminuiu e ela já estava mais calma. ‘Quer conversar agora?’, depois de um longo suspiro, ela reuniu fôlego.
‘Fui chamada para fazer um trabalho como fotógrafa para um empresa do ramo, mas não quer que eu vá, praticamente me proibiu. Às vezes eu sinto que sou filha dele, e não mulher. Ele quer que eu fique em casa, sendo miserável e infeliz. Eu amo , mas eu quero tanto ser livre...’, seus olhos marejaram novamente e ela abaixou a cabeça. Era isso, era iria se separar dele.
‘Não, , vocês não podem! Tem que ter um jeito.’
‘Não tem, não sei mais como conversar com ele, como pedir, implorar, suplicar... Nada funciona, eu sou frustrada! Não tenho mais amigos, minha família não aprova, só tenho no mundo! E eu só queria fazer a única coisa que pode me tirar desse tédio domiciliar. não entende porque ele já faz o que ama. Ele tem os amigos, ele tem o emprego, a família, tudo! Eu quem perdi tudo e eu quero de volta.’, como uma criança, ela cruzou os braços e continuou a chorar, baixinho.
‘Olha, se quiser que eu comente com para ver se ele...’
‘Não! Não, por favor. Eu já tomei minha decisão, vou para a casa da minha mãe e de lá resolvo o que fazer.’, fungou e limpou os olhos. Ergueu a cabeça e balançou levemente o corpo, como se posasse de decidida, mas no fundo tivesse suas dúvidas. Resolvi me calar, afinal, eu não tinha nada a ver com isso. ‘Não deixe que isso impeça sua relação com .’
‘Mas eu não te disse que estava com ...’, falei baixinho, pega de surpresa.
‘Você está com há mais tempo do que pensa. Vocês sempre agiram como um casal.’, sorrindo fraco, ela se virou para lavar o rosto novamente. Puxei-a pelo ombro, um tanto quanto abismada.
‘O que quer dizer com impedir?’
‘Oras, que você não ache que sua relação com possa ser igual a minha com . Talvez ele não te proíba de ser feliz.’
Acabou que não terminamos de ver o filme, achamos melhor ir cada uma para sua casa, já que ela não se encontrava em estado de dar atenção para nada nem ninguém. Sem negar para ninguém, muito menos para mim, as palavras dela ficaram ecoando em minha mente por todo o caminho da volta. Será que realmente não seria capaz de me deixar exercer a profissão que eu quisesse? Não, não era assim. E eu não era namorada dele, muito menos mulher, no que diabos eu estava pensando? Enlouqueci de vez, será?
Cheguei em casa com essa paranoia estampada no rosto, sem me concentrar nem no abraço que minha mãe havia me dado. Fui direto para o quarto e me joguei na cama, sendo consumida por pensamentos que eu nem deveria estar tendo, para começo de conversa. Antes que pudesse saber há quanto tempo estava ali, ouvi alguém bater no vidro da varanda. Olhando para ela, se encontrava do outro lado. Levantei-me num pulo e fui abrir a porta. Ele me recebeu com um beijo, o qual eu mal pude retribuir graças às palavras de . Num instante, ele notou que algo estava errado.
‘O que houve, tampinha?’, ele uniu ambas as sobrancelhas, formando entre elas um perfeito vinco para moedas. Apenas tive forças para abrir um sorriso tão falso quanto o de e me sentei na cama, com os braços cruzados.
‘Nada, eu estou bem.’, o encarei, como se pedisse para não tocar no assunto. Sinal ignorado. Ele se sentou ao meu lado e segurou minha mãos, descruzando meus braços.
‘Sei quando você vai mentir antes que o faça, o que houve com você?’, seu toque, de certa forma, me trouxe nojo. Aquele homem, que eu achava que conhecia, com quem eu havia dividido meu corpo, sentado na minha cama, anos mais velho que eu... Ele podia ser um fator para minha futura miserabilidade. E eu mal o conhecia, sua história, seu passado, quem havia sido... Nada! Eu estava enlouquecendo aos poucos e minhas expressões mostravam isso. ‘, o que aconteceu com você?’, ele se levantou, afastou e apoiou-se no batente da varanda.
‘ está saindo da casa do , fiquei chocada, só isso.’, minha voz tremia, acusando minha mentira. A verdade era que eu não sabia com quem estava dormindo e isso estava me fazendo trabalhar meus neurônios no mínimo dez vezes mais que o normal. Estava com dor de cabeça.
‘Como é? Ela está o que?’, abriu os braços, levando as mãos para as têmporas. Aos poucos e a passos pequenos, deu uma volta completa em órbita. ‘ está bem com isso?’, dei de ombros, realmente não fazia ideia. ‘Como isso foi acontecer? Eles se amam!’
‘Amor não é o único pilar de uma relação, .’, baixei a cabeça e ergui apenas os olhos, esperando sua reação. Fez uma expressão perplexa, como se eu não pudesse ter dito isso.
‘Já fui casado, , sei disso.’
‘Não precisa me tratar assim.’
‘Tente o contrário.’, e se foi. Senti-me estúpida e com vontade de chorar. Novamente, eu estava confusa, deitada sobre a minha cama, sozinha. E o pior era que não podia me ajudar dessa vez. Afundei o rosto no travesseiro de penas e, pela primeira vez em muito tempo, chorei como um bebê até dormir.
X
Ao acordar, era noite. Minha cabeça pesava como se mil toneladas de ferro tomassem o lugar do meu cérebro. Na minha cabeceira, havia apenas um singelo bilhete com aquela caligrafia redonda e grossa. ‘Fomos visitar Trudy, não temos hora para voltar.
Deixei comida no forno e dinheiro em cima da geladeira.
Te amo,
Mamãe.’
Peguei-o e amassei até virar uma pequena bolinha de papel que joguei pelo quarto. Minha cabeça fisgou em uma dor aguda. Fechei os olhos com força e me lembrei do romance de , ainda sobre a minha escrivaninha, e abri os olhos para averiguar se ainda estavam lá. Bingo.
Levantei-me, peguei a história e passei os olhos rapidamente antes de começar a ler. A mulher havia morrido, enfim, tentando abortado o bebê, e o viúvo não sabia como seguir sua vida. Se afogou na bebida e nas meninas que nunca o levariam a lugar nenhum, enquanto sua amizade com uma vizinha que ele chamava de tampinha ia crescendo. Ele sentia algo por ela, mas nunca achava que ela entenderia, muito menos o corresponderia.
Abaixei os papéis enquanto descia as escadas e parei por ali mesmo, sentando num degrau qualquer. Virei a última folha e na caligrafia inclinada de liam-se as palavras: ‘Nada fica um mistério para sempre, tampinha’
‘ERA ISSO!’, berrei sozinha. Esse puto era viúvo de Lucy, ela morrera de uma doença grave, ele não foi pai por isso. Ele foi infeliz por isso, não era idiota, simplesmente sofria! Meu Deus, como eu pude ser tão burra? Achando que podia me fazer mudar de ideia? Jamais, eu seria feliz e seria com ele. Subi os degraus de novo de dois em dois, pulando direto para sua varanda. As luzes estavam apagadas, nenhum sinal de vida vinha de dentro da casa.
‘Merda!’, xinguei baixinho e voltei para o meu quarto. Larguei as folhas em qualquer canto e pus outra blusa por cima da que já trajava e fui até a garagem. ‘Desculpa, papai, mas hoje eu uso o seu carro.’, dei a partida e saí correndo pelas ruas, em direção ao bar preferido de .
Era tão óbvio, sempre esteve tão embaixo dos meus nariz que chegava a ser ridículo. Lucy, ela era a protagonista do romance, aquilo era uma autobiografia! Como eu fui burra, burra, burra. Soltei uma das mãos do volante apenas para me dar um tapa bem merecido na têmpora direita. E depois lidei com a dor, claro.
Estacionei de qualquer jeito em frente ao bar de entrada de madeira encerada e nem tranquei o carro. Tudo que eu pensava era em pedir desculpas para e o levar para casa, dormir fazendo carinho em seu cabelo e conversar sobre sua história, o romance, tudo... E nada ao mesmo tempo. Só queria ele de volta.
Entrei no bar e passei os olhos por todos que estavam ali e não vi . Não é possível, ele havia de estar ali, era pra onde ele ia sempre, eu sabia disso. Olhei novamente e nada.
‘E aí, gatinha.’, um velho barbudo passou por mim piscando um dos olhos.
‘Vá se ferrar.’, o ignorei e me concentrei em achar .
‘?’, sua voz, era sua voz! Virei-me para onde ela vinha e o vi sentado num sofá com uma loira de peitos falsos e um enchimento mal feito em seu colo. Ele parecia surpreso. Eu estava surpresa. Mas já? Tão fácil? Tão rápido?
Senti meus olhos encherem d’água e respirei fundo, sem conseguir tirar os olhos daqueles dois sentados, um no colo do outro. Saí o bar, indo para o carro e ouvi a voz de me chamando, seguindo meus passos.
‘... . !’
‘Vai se foder, ! Melhor, vai foder aquela loira com os peitos mais falsos que minha cara!’, vômito de palavras, antes que eu pudesse me controlar. Ele se aproximou, segurando meu braço. ‘Me solta.’, ele apertou os dedos. ‘ME SOLTA!’, com algum jeito que eu não sei qual foi, soltei meu braço de sua mão e entrei no carro.
‘, não é assim, vem aqui.’
‘Se não é assim, eu não quero saber como é.’, e parti novamente, de volta para casa, correndo a toda velocidade. Mal via por onde estava indo, as lágrimas cismavam em turvar minha visão. Ouvi buzinas longas pra mim mais de uma vez e apenas ignorei todas elas. Não fazia nem cinco horas e ele já estava com outra? Não, não era possível, não era isso. Não o meu .
O recesso de fim de ano chegou uma semana depois da cena de . Havia uma semana que não o dirigia a palavra. Ele continuava a bater na minha varanda vez ou outra, mas tudo que eu fazia era o lançar meu melhor olhar acolhedor, com um sorriso de puro desdém enquanto trancava as portas e o prendia do lado de fora. Ele deixava bilhetes presos a fitas adesivas em meu vidro, pedindo desculpas, pedindo por uma chance para conversarmos, mas sinceramente, não me interessava o que tinha a dizer. Contentava-me em despregá-los dali, sem esboçar emoção sequer quando não tinha em meu campo de visão. Se eu estava sob o seu, já eram outros problemas.
Eu gostava da sensação de poder dormir até tarde em plena Segunda-Feira, sem ligar para aula, professores ou Heather se exibindo de mãos dadas com Logan pelos corredores da escola. No último dia de aula, Logan apareceu com um cordão chamativo e bem feito de hematomas no pescoço, o que trouxe para Heather uma grande fama de boa de cama. Patético. Simplesmente patético. Gostaria de saber o que a mãe dela pensaria sobre o assunto. Na verdade... Não, eu não gostaria de saber nada da vida daquela miserável.
Uma música começou a tocar, distante de mim. Como fumaça. Gradativamente, me via acordada, tateando a cama, a mesinha de cabeceira e o chão em busca do meu celular. Aquele maldito aparelho. Eu devia tê-lo desligado antes de ir dormir. Ainda de olhos fechados, achei-o sob o travesseiro que não estava usando e atendi a ligação. Uma respiração entrecortada era tudo que se ouvia do outro lado.
‘...’, a voz trêmula que acusava horas de choro copioso fez com que meu coração afundasse e um leve gosto amargo me subisse à boca. ‘Não desliga! Por favor, eu só quero conversar...’, era a primeira vez em dias que ouvia sua voz. E era a primeiríssima vez que a ouvia nesse estado. Tocou em alguma parte de mim que não tinha se petrificado em relação a . Afundei o rosto no travesseiro, respirando fundo.
‘Me espere na sua varanda. E faça valer a pena.’, controlando meu tom de voz para que não se suavizasse, desliguei. Antes que qualquer tragédia pudesse acontecer. Antes que o tom choroso e murcho de me fizesse voltar a atrás de tudo que havia consolidado em mim. Levantei e, após a higiene, necessária para lavar embora a cara de sono, pus uma samba canção qualquer. Antes de abrir minha varanda, vi um pálido, de olhos inchados e vermelhos, sentado em sua varanda, encarando um pequeno pedaço de papel. A vaidade de escritor, de poder transformar qualquer coisa em palavras ainda não o havia abandonado. Era um bom sinal. Saí de meu quarto e, me apoiando na barra de ferro da varanda, chamei sua atenção. Seus olhos apenas rolaram para cima, com um pequeno brilho nascendo ao me ver, finalmente, olhando em seus olhos... Seus perfeitos olhos . Algo em mim rugiu, fazendo meus olhos arderem, tentando conter as lágrimas sofridas. Pulei até sua varanda e ele se levantou, se aproximando devagar. Pus as mãos na frente do corpo, o mantendo onde estava. voltou a se sentar.
‘Você disse que queria conversar.’, disse eu com a garganta seca e um tom ríspido. Puxei a cadeira restante para mim e me sentei a sua frente, unindo as mãos. Subi os olhares para ele, encontrando seu par de olhos brilhantes me fitando como se eu fosse a coisa mais linda e valiosa do mundo. Meu coração começou a secretamente se derreter. Mantive o semblante impecável.
‘Eu quero.’, então se apoiou em seus joelhos, aproximando seu rosto do meu alguns centímetros. Fitei-o, esperando sua continuação. ‘Eu quero te pedir desculpas, quero consertar as coisas, quero que você pare de me ignorar, muito embora saiba que mereço. , eu sei o quanto aquela mulher era errada, mas...’
‘Eu vi você entrar e sair com mulheres iguaizinhas àquela por anos e você, muito mais do que eu, sabe que elas nunca iam te levar a lugar nenhum! , eu me senti como uma delas.’, a esse ponto, eu já havia levantado e apontava desconexamente para a rua. Ele se levantou com velocidade sem igual e o calor dos cinco dedos de sua mão direita me ganharam ao arrepiar minha nuca e trazer meus lábios aos seus. Fiquei rija pelos primeiros segundos, que pareceram mais longos que o normal, mas me deixei levar, pondo os braços ao redor de seu pescoço, como um casal apaixonado.
‘Você não é como elas, tampinha, nunca foi.’, sua mão deslizou docemente até minha bochecha e seu polegar seguia a linha de meus lábios. Fechei os olhos, degustando aquele momento como se apreciasse uma taça de Vinho do Porto. Ao abrir os olhos, seus olhos me cobriam por inteira e o leão em meu estômago rugiu novamente, orgulhoso.
‘Nada justifica...’, fui interrompida por seus lábios novamente. Não era justo! Ele estava me fazendo perder toda a razão! Seus braços envolveram minha cintura e me elevaram à sua altura. Automaticamente, cruzei as pernas em suas costas, o dando o passe mais livre possível para me levar para dentro do seu quarto e me deitar na cama, com o seu corpo sobre o meu. Suas mãos percorreram meu corpo desde meus ombros até minhas pernas e, como mágica, todo maldito lugar em que elas tocavam, minha tez ardia de desejo como brasa.
Tirei sua blusa branca, sentindo sua pele macia na ponta dos dedos enquanto seus lábios se ocupavam em meu pescoço, com beijos leves e delirantes. Suas mãos invadiram minha camiseta, a subindo conforme acariciava meu ventre acima, arrepiando todos os pelos do meu corpo. Arqueei as costas, o deixando chegar ao fecho do meu sutiã, oferecendo-o o meu colo com a luxúria de uma amante desesperada. Seus lábios e língua encontraram meus seios em uma explosão extremamente quente, como lava se derramando em mim. Minhas mãos seguiram rumo seus cabelos, os puxando, muito embora os quisesse pressionar. Abri os olhos no momento em que descia as mãos para a samba canção que eu me encontrava e a puxava joelhos abaixo. Seus dedos voltaram como um furacão por entre minha pernas, acelerando minha respiração, e logo, um a um entrou em minha calcinha e passou a, delicadamente, me estimular. Fechei os olhos, deitando a cabeça na cama, deixando que alguns fios de voz demonstrassem minha satisfação. Senti seu peitoral se juntar a mim e seus lábios voltarem a queimar os meus enquanto o prazer me dominava lentamente. Tinha o gosto do fogo, e ardia como tal.
Envolvemo-nos em um beijo interminável e lento, carregado de todas as formas de desejo e prazer que se pode ter. Conforme sentia que cada poro de meu corpo clamava por mais, me provocava, estimulando-me mais rápido e logo em seguida, voltando ao ritmo lento de antes. Meu corpo ardia e minhas unhas se fincaram nas costas largas de , o fazendo sentir uma dor visivelmente prazerosa. Em poucos segundos senti que não aguentaria aquela provocação por muito mais tempo e usei de um grande impulso e toda da minha força para trocar de posições com , sentando certeiramente sobre seu membro confinado pelas calças. Enquanto me inclinava para beijá-lo novamente, deixei que meu quadril se movimentasse de forma provocativa e lenta, repetindo o movimento quantas vezes achei que seria bom para puni-lo. Deixei claro que dessa vez ele não teria controle de nada. Ele estava em minhas mãos. Completa e inteiramente.
soltou um gemido, mais de dor que prazer quando movimentei-me com mais força e compreendi que ele precisava se libertar de suas roupas. Vagarosamente, abri o botão de sua calça e desci seu zíper, quase como em uma tortura e vi pequenas gotas de suor começarem a se formar em sua testa. Sorri maliciosamente e desci minha mão até seu membro, massageando-o firmemente por completo, devagar. abriu os lábios, mas nenhum som saiu deles. Seus olhos se fecharam. Era como brincar com uma criança. Impus mais firmeza ao toque e ouvi um breve gemido transbordando contentamento. Parei no mesmo instante e me inclinei em sua direção, levando meus lábios ao seu ouvido, onde sussurrei no tom mais provocante e lascivo que consegui.
‘Não quero ouvir sua voz, nem ouvir você respirar, .’, e voltei a masturbá-lo, dessa vez, o mais rápido que pude, sentindo seu membro pulsar. Inclinei-me de volta enquanto via, mordendo os lábios de felicidade, todas as expressões de parar conter-se. Era a melhor sensação que eu já havia experimentado. O controle, o domínio. Sem tirar a mão de seu membro, saí de cima dele e em questão de segundos, envolvia a cabeça de seu pênis em meus lábios, sugando levemente. Entre leves mordiscadas, o pus quase inteiro para dentro e suguei levemente, ouvindo arfadas contidas de . Pequenos triunfos estouravam dentro de mim. Suas mãos envolveram meu cabelo, o puxando fortemente e forçando minha cabeça para frente. Por vez, obedeci e o suguei por inteiro, com força até sentir o pré-gozo. Desci suas calças e sua cueca até tirá-los e tirei minha blusa, por impulso. Ajeitamo-nos na cama e montei em cima de com destreza a empurrá-lo por inteiro para dentro de mim de uma vez. Soltei um pequeno gemido enquanto fechava os olhos e sentia as mãos de descerem desde minha cintura até meus quadris e me empurrarem para baixo com força conforme eu subia. Os gemidos se estrangulavam em minha garganta e pequenas correntes de prazer se espalhavam pelo meu corpo. A cada vez que me empurrava para baixo, pequenos estalos entre nossos corpos repercutiam dentro de mim como imensos furacões. O prazer dominava agora, ambos de nós, sem piedade. De repente, sentou-se e me pegou pelas costas, juntando nossos troncos, o fazendo ir mais fundo dentro de mim. Era como se eu fosse um papel começando a ser repartido. Ele me virou contra a cama e se pôs por cima, investindo mais rapidamente. Sem pensar, entrelacei as pernas em suas costas e levei as unhas aos seus ombros largos, arranhando-os a cada penetrada. Ao abrir os olhos, percebi uma malicia não usual nos olhos de . Transbordava, exalava pelos poros. Um sorriso com tanta malícia quanto seu olhar dançou em seus lábios. Ele retirou seu membro por completo de mim, me fazendo soltar um leve gemido descontente. Mas antes que eu pudesse pedi-lo qualquer coisa, senti uma agulhada prazerosa e provocante da cabeça de seu pênis que logo sumiu. E assim se repetiu por algumas vezes, enquanto meu ventre fervia e meus olhos mal conseguiam mirar os de . Meus lábios se entre abriam e fechavam, sem emitir qualquer som, tamanho prazer. Eu precisava de mais. Então pronunciei tudo que consegui num sussurro, conforme descia as unhas pelas suas costas.
‘Por favor, .’, e uma vez com as mãos em seus quadris, as empurrei contra os meus, sentindo seu membro pulsar ferozmente dentro de mim. gemia baixo em meu ouvido e eu já mal me controlava, gemendo com a mesma frequência dos meus batimentos cardíacos. Involuntariamente, minhas pernas ao seu redor se apertaram, minhas costas formaram um arco perfeito e meu ventre funcionava como um gerador de correntes quentes que me estimulavam até o último segundo. foi mais rápido, mais forte, mais fundo. Minhas unhas se fixaram em sua pele e se arrastaram. Meus olhos se fecharam com todas as forças que tinham até espremerem duas ou três lágrimas que acabaram se juntando ao suor. Minhas pernas se apertaram até trincarem. Meus gemidos mal me deixavam respirar e então pararam. Silêncio total. Nem respiração. Era como se eu e tivéssemos entrado num transe. Meu corpo se retesou num orgasmo surpreendente enquanto eu sentia o calor de se espalhar dentro de mim. Abri os olhos e tudo voltou. Um tapa na cara. A respiração ofegante, o coração acelerado, o tremor e a leve fraqueza nas pernas. se apoiou nos cotovelos, olhou em meus olhos e me disso algo capaz de fazer meu coração parar.
‘Eu te amo.’
Seus olhos me fitavam, jamais esperando que eu dissesse o mesmo em troca. Algo dentro de mim estava estático. Além de meu coração, claro. Era como se houvesse um grande bloqueio em meu cérebro, me impedindo de completar a digestão da informação que acabara de receber. Meus braços moveram-se sozinhos para além dos lençóis e se enroscaram no pescoço de , trazendo seus lábios aos meus, os unindo em um beijo casto, quente e com gosto de amor.
‘Eu te amo’, disse. E estava entregue. Perfeitamente feliz e entregue ao escritor que havia revirado tudo. Feliz em seus braços, ou melhor, sob eles e assim eu preferia ficar daqui pra frente.
Sorrimos um para o outro, mas na verdade, para nós mesmos.
xx
‘!’, gritava em plenos pulmões ao pé da escada. Todos os convidados já haviam chegado e ela não estava pronta ainda. A família de – por mais que a contra gosto –, a minha família – que jamais perderia uma boa festança – e alguns convidados da parte de . Era o aniversário de dezoito anos de e nós três estávamos apenas esperando que ela aparecesse para irmos para o quintal fazer uma grande sala com os convidados.
estava prestes a gritá-la novamente quando apareceu no topo da escada, trajando um lindo vestido de verão amarelo com pequenas flores vermelhas. perdeu a fala e ela desceu as escadas coçando a cabeça, sem graça, desfazendo um pouco do coque frouxo tinha.
‘Você está... Incrível, pequena’, elogiou ele enquanto a puxava sutilmente pela cintura para um beijo singelo. me olhou e ambos de nós tinham um sorriso doce nos lábios.
‘Tampinha.’, disse ele pouco antes de também me beijar. Entre olhamo-nos, os quatro, e rimos. Era hora de ir lá pra fora, os convidados nos aguardavam.
O quintal estava todo decorado com luzes dentro de pequenos potes e flores coloridas. Estava uma gracinha. E ficava mais lindo quando se sabia que quem havia feito tudo tinha sido . Por si só, não quis nem a ajuda de .
Eu estava sentada em uma cadeira-balanço, observando as pessoas na festa com minha taça de vinho em mãos. Já estava escuro e poucos eram os convidados que ainda permaneciam. Somente minha família, que conversava com – quem fazia uma ótima impressão, ainda bem – e a família da aniversariante. chegou de fininho e sentou-se ao meu lado. Sorrimos e eu a elogiei pela festa. Estava tudo muito bonito.
‘, vim para me desculpar.’, admitiu cabisbaixa. Um ponto de interrogação perfeito se formou em meu rosto. ‘Pelo dia do cinema, sabe? Eu estava confusa e sozinha e acabei jogando tudo em cima de você.’
‘São águas passadas, , nada com o que você precise se preocupar agora.’, o que era verdade. Eu já sequer lembrava direito daquilo, fazia tanto tempo. Muita coisa acontecera. Quando finalmente engatamos numa conversa gostosa sobre suas fotografias, e se aproximaram, cada um com sua respectiva taça de vinho na mão.
‘Ora, ora...’, disse eu, vendo os dois parecerem gêmeos com suéteres parecidos, segurando a taça da exata mesma forma. ‘Se não é a dupla dinâmica.’
‘Gracinha, você.’, riu . ‘Mas perdemos um pouco a hora, tampinha.’, completou ele, batendo o indicador levemente no relógio. Levantei olhando para como olhar de despedida. Tanto ela quanto nos acompanharam até a porta e fizeram questão de nos chamar para outro programa, um jantar. Que topamos.
A caminho do carro, me estendeu as chaves. Fulminei um olhar para ele além delas e as peguei. Ele sabia o quanto eu odiava ser sua chofer. E se divertia com isso.
A caminho de casa ouvimos música dos anos setenta na rádio. Ele sabia cantar todas e admitiu se sentir velho. Rimos, é claro. E essas músicas me deram uma ideia brilhante. Havia um píer ali por perto que eu havia ido poucas vezes, mas a vista era incrível. Mudei de percurso.
‘Pra onde está me levando?’
‘Para um lugar onde só tenha eu e você.’
O caminho era deserto e pouco iluminado, a rua começava a ficar levemente esburacada, mas nada se comparava a entrada com a grama alta, precisando de corte ante o portão verde cujas portas guardavam uma pequena floresta de piso arenoso. Adentramos iluminando por onde passávamos com a luz do celular, tendo a impressão de que podia me proteger de qualquer coisa, mas a verdade era que me sentia mais segura do que em qualquer lugar. Grandes árvores, de troncos grossos formavam uma trilha. Ao chegarmos ao fim da pequena floresta, havia nossa recompensa. Um deque grande flutuante em um rio limpo, iluminado somente pela luz da Lua. Era lindo. olhou para mim e sorriu abertamente.
‘Espero que tenha gostado da surpresa.’, disse eu, sorrindo de volta, completamente abobalhada. me puxou pela mão para mais perto e me deu um giro, fazendo com quem ambos de nós ríssemos. Ficamos em posição estrutural de dança e ele começou suavemente a nos balançar de um lado para o outro. Seguimos entre giros, passinhos engraçados de um lado para o outro, já que nenhum de nós era um exímio dançarino, e alguns pisões nos pés. Mas nos divertimos. Não havia música, mas nós inventamos nossa própria e seguimos a dançar, como dois loucos risonhos.
Lá pras tantas, o vinho começou a falar por nós.
‘Essa água é limpa, certo?’, comentei como quem não quer nada, segurando a barra do vestido com ambas as mãos. me lançou um olhar significativo. ‘Vamos, ! Não tem ninguém aqui, só nós dois, vamos!’, implorei enquanto virava de costas para ele abrir meu zíper. Por alguns segundos, achei que ele não fosse adiante com meu pedido, mas a ponta de seus dedos gelados abrindo meu zíper me provou errada. Sorri, vitoriosa. Era fácil conseguir o que eu queria com , ele gostava de ser impulsivo, assim como eu.
Quando me virei, ele tirava a blusa. Saí de meu vestido, rindo e abri meu sutiã. ria enquanto se livrava de suas calças e eu corri até que meus pés não encostarem mais no deque. Caí na água como uma grande bomba. Ao emergir novamente, vi correr e repetir meus movimentos. Caiu n’água. Ao emergir, nos olhamos e rimos. Estávamos felizes. Ele se aproximou com um olhar macio e um sorriso gostoso. Mexeu nas pontas do meu cabelo e alargou o sorriso até os olhos, ao me ver sorrir.
‘No que está pensando?’, perguntei.
‘Em Lucy.’, respondeu, desviando o olhar. ‘Ela gostaria de nós dois.’, fui em sua direção, me aproximando e segurei seu rosto.
‘Tenho certeza.’, disse e o beijei, calando todas suas inseguranças. Ele sabia que em algum lugar dentro de si, Lucy ainda estava viva. E muito. Buscava sempre agradá-la, esquecendo-se de agradar a si próprio. Resolvi então que a homenagearíamos. De uma maneira simples. Mas ainda não era hora de falarmos sobre isso.
xx
Acordamos juntos na manhã seguinte, em minha cama. me fazia carinho na ponta dos cabelos e sorria como um menino.
‘Bom dia, escritor.’, lancei meus braços ao redor de seu pescoço e o trouxe para mais perto. Beijamo-nos rapidamente e me aninhei em seu peito. Tinha um cheiro gostoso de travesseiro.
‘Bom dia, tampinha. Eu queria te fazer café da manhã, mas seus pais ainda não saíram de casa. Não queria aparecer lá embaixo só de samba canção.’, desculpou-se e eu ri baixinho. Ergui a cabeça para olhá-lo e ganhei um beijo na testa.
‘Vou pensar se te perdoo.’, e me levantei devagar. Fazia um dia bonito lá fora. O sol brilhava e quase não se viam nuvens no céu. Aproximei-me da varanda e observei o outro lado, a casa, o quarto, a varanda de . Era engraçado pensar que hoje ele estava aqui, ao meu lado, mas que um dia ele já foi apenas um escritor atrás dessa porta de vidro. Inatingível. Misterioso. Que eu já fui apenas uma garota para ele, que lia com avidez suas histórias. Talvez sua mais fiel leitora. Talvez eu o tenha ajudado. Ou talvez eu apenas eu o tenha feito se perder. Ri sozinha e olhei para , agora deitado na cama, olhando para mim com um vinco entre as sobrancelhas, sem entender absolutamente nada. Cheguei mais perto e sentei-me sobre seus quadris, uma perna de cada lado. Ele apoiou suas mãos em minhas coxas e fez um carinho delicado com os polegares.
‘Devíamos ter um pé de limão no quintal.’, comentei. Seu vinco ficou mais forte. Inclinei-me e beijei seus lábios com doçura. Completei minha frase baixinho, como quem conta um segredo. ‘Lucy cheirava a limões, não? Pois acho que devíamos ter um pé de limão no quintal.’
ficou surpreso pela proposta, mas sorriu em concordância. Encheu-me de beijos, me fazendo rir e passamos a manhã na cama, trocando beijos e carícias, conversando sobre bobeiras e rindo a toa.
De tarde, fomos comprar as sementes numa casa esotérica a duas quadras de onde morávamos. Uma velha senhora nos atendeu com um sorriso desdentado, porém sincero.
‘Boa tarde, crianças. Entrem, entrem.’, ela nos recebeu com gestos acolhedores. Fechou a porta atrás de nós, fazendo soar um sininho. Olhando ao redor, tudo era meio roxeado ou vermelho. Parecia meio escuro ali. A senhora pôs-se a nossa frente. ‘Vieram atrás de uma homenagem, não é? Pois bem.’, baixinha e com um coque frouxo no topo da cabeça, ela saiu rodando pela lojinha até encontrar um pequeno pacote marrom. Chamou-nos para o balcão.
Uma vez que nos tinha entretidos com o pacote levemente empoeirado, assoprou-o, me fazendo tossir. ‘Desculpe, querida.’
‘Está tudo bem.’
Ao abrir o pacote, pequenas sacolas ziplocs com sementes de todos os tipos se encontravam lá dentro. Ela olhou para os lados e começou a tirar, uma a uma, as sementes de lá de dentro. Olhei para , segurando uma risada. Para aquela senhora, algumas dessas sementes teriam valores bruxos, diria eu. Com certo brilho no olhar, a senhora pegou entre os dedos gorduchos uma das sacolas e estendeu no ar. Pequenas sementes de limão amarelo estavam lá dentro. Ela sorriu para nós.
‘Foi por isso que vieram, não?’
‘Sim.’, respondi sorrindo de volta.
‘São por conta da casa. Em dois dias começarão a crescer, crianças.’, disse ela e pôs o saquinho na minha mão. tentou argumentar e dar àquela senhora algum tipo de dinheiro em troca das sementes, mas ela não quis aceitar. Depois de alguns minutos, ele se deu por vencido e agradeceu. Fomos embora.
‘Acha mesmo que isso cresce em dois dias?’, questionou ele ao chegarmos em casa. Livrei-me de meus sapatos e me joguei na cama.
‘Espero que sim. Ou então ela é apenas uma pobre velha maluca.’, respondi rindo sozinha. me sorriu um sorriso aberto, como quem está genuinamente feliz. ‘Que foi?’
‘Você vai ser uma velha maluca.’, disse ele enquanto tirava a blusa. Peguei um travesseiro e joguei nele, ofendida.
‘Não vou nada! Vou ser lúcida e muita esperta! E ainda vou botar nossos netos contra você!’, pegou o travesseiro e deitou-se ao meu lado. Ainda com o sorriso no rosto ele acariciou meu cabelo e me beijou por um instante. Eu amava esses instantes.
‘Netos?’, perguntou ele e eu senti o rubor alcançar as maçãs de meus rosto. Sorri sem jeito, olhei para baixo e de volta para ele. ‘Para termos netos, temos que ter filhos.’
‘Eu sei.’, disse. me puxou para mais perto, juntando seu corpo no meu. Roçando nossos narizes de forma carinhosa, ele me beijou os lábios com algo além de amor. Era desejo. Ao olhar em seus olhos, tive certeza. Com os lábios perigosamente próximos, ele sussurrou.
‘Deveríamos tentar fazer um... Uns.’, sorri mordendo o lábio inferior, me posicionando devagar sobre ele. Inclinei-me, ajeitando minhas pernas na lateral do seu quadril. Trouxe suas mãos a minha blusa e as subi lentamente, observando com deleite o prazer no olhar de ao ver cada centímetro de pele que ia se revelando. Ele se sentou e tirou a blusa de mim. Encaramo-nos por um segundo. A tensão suspensa no ar. Quebrada como vidro com o beijo quente.
Sixteen
Estava caminhando pela livraria quando me dei de frente com um livro familiar. Ele tinha umas trezentas páginas. Eu já havia lido todas. Amava aquele livro. Sua capa era vermelha com o título e o nome do autor em letras amarelas claras. Era simplório, mas não se podia esperar muito da primeira edição de um romance de um autor que jamais havia escrito qualquer outra coisa do gênero.
Sorri e peguei o exemplar nas mãos. Passei a ponta dos dedos no nome de na capa. Seu livro finalmente havia sido publicado, depois de um ano lutando com como seu agente. Era real, estava ali, em minhas mãos. E era um best-seller. Eu estava tão orgulhosa. Abri o livro e folheei as primeiras páginas, atrás da dedicatória. “Para as duas mulheres mais inspiradoras que passaram pela minha vida: e Lucy, obrigado.”
Muito embora tivesse o livro em casa, com uma dedicatória escrita a punho por logo abaixo da dedicatória impressa, eu sempre lia a primeira página quando me deparava com o livro por aí. Fazia-me lembrar de como o tempo passa e como em um ano minha vida mudou completamente.
Hoje sou graduada, ainda bem. Nunca mais vou ter que pisar naquela escola novamente e nunca mais terei que olhar para aqueles rostos hipócritas e infelizes. Atualmente espero a resposta de duas Universidades, uma delas na Europa. já disse que vai comigo pra onde quer que eu for. Sua vida anda um pouco pacata demais nessa cidade, segundo ele, e precisa de um pouco de aventura. Eu acho incrível que ele esteja disposto a recomeçar. Recomeçar comigo ao seu lado.
Percebi que segurava o exemplar há pelo menos quinze minutos, com um sorriso estúpido no rosto, e tratei de me ajeitar. Fechei o livro, o pus no lugar e saí da livraria. Estava frio lá fora. Apertei o casaco contra mim e enfrentei a ventania de volta para casa.
‘Mãe? Pai?’, ninguém respondeu. Estendi meu casaco no gancho da parede do hall e segui caminho casa adentro. ‘MÃE? PAI? ALGUÉM?’, segui entrando pela cozinha. Ninguém respondia, o que era esquisito, já que todos deveriam estar em casa a essa hora. Ao chegar à sala, minha mãe, meu pai e estavam sentados, sérios, me encarando. Na mesinha de centro, um envelope com o emblema da Universidade de Paris. Gelei ali mesmo, sentindo a abasia.
‘Se mexe, menina!’, disse minha mãe, batendo no espaço do sofá ao lado dela. Corri, sem saber que era capaz de fazer tal movimento, e sentei-me. Peguei o envelope nas mãos e fiquei a fitá-lo. E se eles tivessem me recusado? O que eu faria? Tudo se resumia a esse simples instante, em que eu leria o que estava escrito em um pedaço de papel. Se eu não conseguisse, teria de arranjar um emprego... O que eu faria? Garçonete? Vendedora? Não. Eu tinha que ser aceita, era a única opção. Percebi que tremia e não tinha forças para abrir o envelope. Estava nervosa.
‘Abre pra mim.’, passei o envelope para . Ele tomou nas mãos e rasgou a parte de cima sem cerimônias. Estava mais curioso que eu. Enquanto ele abria, sentia meu coração palpitar. Parecia que ia atravessar meu peito, rasgar minha camisa e ser ejetado diretamente em minhas mãos. Pulsante enlouquecido. Um último rasgo e puxou o papel, o abrindo a torto e a direito. Seus olhos devoraram as primeiras palavras e nenhuma expressão se fez em seu rosto. Meu coração despencou até meus pés. Era isso. Estava fadada a uma vida medíocre naquela cidade. Abaixei a cabeça e a apoiei nas mãos sentindo meus olhos marejarem. Tudo que eu havia planejado acordava comigo entrando na universidade e não ficando nessa cidade. Eu queria ir embora. Queria ver o mundo fora dessas fronteiras finas e ao mesmo tempo tão firmes. iria comigo, seríamos tão felizes. E agora se foi tudo. Estava fadada a pular varandas. Solucei e um fino tear de voz saiu da minha garganta, descontentada.
‘Lê, tampinha.’, ouvi a voz de soar. Ergui a cabeça e peguei o papel, estendido em minha direção. Tremia feito um vara-pau. Minha mãe colou seu corpo ao meu para melhor ler as pequenas letras impressas na folha. “Cara Senhorita ,
É com prazer que informamos que a sua aplicação de bolsa escolar foi aceita na Universidade de Paris para o curso de Psicologia...”
Minha mãe gritou. Eu estava estática. Senti os braços de e de minha mãe me apertarem, mas tudo que consegui fazer foi sorrir. Um sorriso sincero, com direito a lágrimas de felicidade. Todos os pensamentos negativos que antes invadiam minha mente se foram, dando espaço para a realidade. Eu iria longe. Mais longe do que imaginava. Levantei e abracei a todos, apertado. Mamãe chorava e pela primeira vez em muito tempo e a risada de papai ecoava pela casa enquanto ele ia à cozinha buscar um champanhe. Estouramo-la e brindamos ao novo começo que vinha pela frente. Era promissor. Já podia sentir o cheiro da felicidade vindo com a brisa.
Mais tarde, na casa de , eu havia descido para colher os limões que caíram do pé. Tínhamos para nós um belo pé de limão siciliano. Como era cheiroso! E como ficara feliz depois que o pé começou a dar frutos. Cuidávamos da árvore com carinho, como ele cuidava da memória de Lucy. Nas noites em que ele acordava no meio da madrugada por causa de seus pesadelos, descia até o pé de limão e conversava com ele, como quem conversa com uma pessoa. Às vezes pedia coisas. Às vezes agradecia. Era quase como uma prece. Certa vez, acordei de madrugada e não estava em seu lado da cama. Afoita, me levantei e saí atrás dele pela casa e acabei por encontra-lo ali, sentado às raízes da árvore, falando baixinho. Estava frio e ele sequer se importara em botar uma blusa... Apenas sua calça de moletom, como sempre. Era lindo.
‘... Sabe? Ela cuida de mim, como eu sei que você gostaria que ela o fizesse. Ela me ama, tenho certeza. Se não amasse, por que merdas ia estar comigo esse tempo todo? Eu sou problema.’, e riu mais baixo do que falava. ‘Mas disso você sabe... Ela tem esse jeito engraçado de me olhar quando tá com vergonha. Quando eu a deixo com vergonha... Você não tem ciúmes, não é, Lucy? Eu espero que não. Ela não tem ciúme de você, ela entende. Ela entende tudo, até o que eu não entendo. Curioso, né? Eu deveria entender mais coisas que ela, sou mais velho, mais vivido, mas a garota dá um jeito de me ensinar uma coisa nova todo dia...’, e então eu entendi. Aquela árvore era o meio dele de se comunicar com a memória de Lucy. E o fazia bem. Então eu deixei que ele falasse. Continuei escondida no escuro, com um sorriso frouxo nos lábios, até que suspirou e se levantou. Ele observou a árvore por um instante e sorriu. Aquele sorriso largo e bonito que fazia meus joelhos tremerem todas as malditas vezes. Começou a vir em direção a casa e me escondi um pouco mais, para ter certeza de que ele não me viria ali, bisbilhotando. Ele andava, mas ao chegar onde eu me encontrava, parou e virou de frente para mim. Meus olhos se arregalaram e estendeu sua mão para mim. Meu coração estava a mil. Sem saber ao certo qual seria a melhor reação para aquela ação, segurei sua mão e saí do escuro. Ele riu ao perceber que eu tremia.
‘Da próxima vez, se senta lá comigo.’
‘Você sabia que eu estava aqui?’
‘Claro que sabia, tampinha. Eu sei quando você está perto de mim.’, respondeu ele. Eu não sabia se sorria ou beijava. Fui pelo beijo, trazendo seu corpo para perto do meu. Seus braços envolveram minha cintura firmemente enquanto os meus se enroscavam em seu pescoço. Foi quando sentimos a primeira gota de chuva cair. Sorrimos em meados o beijo e segurei o rosto de em minhas mãos.
‘Eu te amo, sabia?’, disse enquanto olhava em seus perfeitos olhos . Eram mesmo perfeitos. Ele sorriu e acariciou minhas costas. Gotas grossas agora caíam em nós e pouco nos importava.
‘Eu te amo, tampinha. Te amo aqui, te amo em Paris, te amo no segundo andar da casa. Te amo até mesmo agora, com essa chuva toda molhando nós dois.’, meu sorriso era frouxo, bobo... Apaixonado.
não era um príncipe de armadura brilhante em um cavalo branco. era um escritor, o meu escritor de perfeitos olhos e corpo de príncipe, se posso dizer. Éramos um casal real e essa era a melhor parte em sermos nós.
Ele me diz que eu deveria publicar esse diário, como ele fez com suas memórias. Mas eu não acho que vá dar em alguma coisa. Não sou escritora como ele e não curso letras na faculdade. Seria interessante, mas acho que de casos de amor o mundo já está cheio. Afinal, quem iria se interessar pela clássica e entediante história da garota da porta ao lado?
FIM
Nota da autora: Minhas meninas! Como vão? Como vai o coração? Bem? O meu tá aos pedaços ): YLT acabou de verdade, minha gente, depois de tantos anos escrevendo meu xodó, acabou. Mas vamos pensar pelo lado positivo, foi lindo ter vocês comigo esse tempo todo!! Queria agradecer cada uma de vocês, de coração, por terem me enchido o saco pra escrever e não abandonar a fic (que eu quase fiz algumas vezes, admito), pelos elogios e pelas criticas. É de coração mesmo. Espero que vocês realmente gostem do final, eu fiz com todo o carinho.
E uma novidade boa: tem fic nova vindo ae!!!! Sim sim, tô escrevendo outra, mas não garanto muita rapidez, estudar mata a gente, vocês sabem! Então peço paciência, hehehe
É isso, minhas lindas, um beijo enorme, se cuidem e até a próxima!