YOU
por Cami Gregori | betada por Deh
revisada por Lelen


Capítulo 1

- Me solta, seu bobo!
Eu ria e gargalhava. Como alguém tão bobo podia ser tão doce? Tudo bem, ele é um amor, mas não significa que eu goste dele, tá legal? Quer dizer, um pouquinho. Como amigo. Um pouco mais do que amigo, nada de mais! Só uma quedinha... Mas quem teria uma queda seria eu se ele me soltasse agora!
- ! Me coloca no chão! É TÃO difícil assim?
- Talvez um pouco!
Ele sorriu. Ah! QUE SORRISO LIIIINDO!
Tudo bem... Morri com esse sorriso! Mas o já estava chegando para terminar o trabalho e ele não me deixava em paz. Eu PRECISO da nota (e cá entre nós, ele também)!
- E é, !
Ele me colocou no chão e foi abrir a porta para . Ouvi risadas altas. BEM altas. Segurei a minha boca quando vi tirando a camisa.
- Oi, .
- Oi, . Beleza?
- Aham e com você? O tava te torturando?
Se você considerar ele tirar a camiseta, eu gostar (POUQUINHO) dele e não poder ficar com o fofo tortura, sim.
- Não. Ele só estava sendo... Ele.
- Ah... ! Põe uma camiseta senão a morre aqui fora!
- EI! Vamos fazer logo esse trabalho!
É, vida no terceiro ano não é fácil... Principalmente se você for indecisa como eu sou. Eu AMO escrever, ou seja, podia ser jornalista, mas amo fotos, então penso em fotógrafa. Mas medicina tem um grande significado para mim, e mais um monte!
entrou para pegar sorvete. pegara o violão e tocava alguma coisa. SERÁ QUE SÓ EU FAÇO ESSE TRABALHO? Tudo bem, estamos sozinhos (os pais de estão em Liverpool), mas alguém poderia me ajudar.
- , ajuda aqui?
Ele foi me ajudar, mas na tentativa (homens são tão lerdos...) ele caiu em cima de mim.
- Epa! Epa! Epa! Que abuso é esse aí?
voltou com os sorvetes. Ou melhor, O sorvete. Ele trouxe o pote.
- Gente, vamos terminar isso logo! É para semana que vem e estamos super atrasados e...
enfiou uma colher de sorvete na minha boca. Desgraçado! Esqueci o que ia falar!
Acabamos uma parte do trabalho... Amanhã iríamos à casa de de novo terminar. Ficou tudo lá. E aqui estava eu, conversando com a . Ela falou que eu PRECISO ficar com o . Eu acho que não. Não é necessidade. Ou é? Ah, sei lá.

Mais um dia na minha nada muito agitada vida. Pelo menos hoje eu tinha companhia no almoço. A ia comigo.
- Você tem que ficar com ele, ! Tá super na cara!
- ! As coisas não funcionam assim.
- Funcionam como? – me perguntou.
Ta, eu não sabia a resposta! Apenas balancei a cabeça disfarçando.
Não é assim mesmo! Só não sei como é! Quer dizer, o é meu amigo! Com uma atençãozinha a mais, claro. Mas nada de importante!
- Olha quem vem. Príncipe 1 e príncipe 2.
Olhei para ver quem era e e estavam entrando. Destino é uma coisa in-crí-vel!
- Oi, meninos! A já estava indo, né? Beijos.
A me faz passar por cada coisa...
- Ah, legal. A gente veio comprar Milkshake. Quer um?
- Claro... Mas eu não pago!
Mensagem da : “Hmm... Milkshake! Só amigos?”
Como ela ouviu e escreveu tão rápido? Essa minha amiga me surpreende!
O caminho até a casa de foi bem calmo... Os três tomando milkshake em silêncio.
- Vamos! Trabalho, trabalho, trabalho.
- Não agora!
- Há! Faz-me rir! Vamos terminar logo isso!
- Acho que não!
me pegou, e com a ajuda de me jogou na piscina.
- Ah! Não acredito! Seus INSANOS!
Legal. Estava COMPLETAMENTE encharcada, esperando a toalha que fora buscar.
- Valeu. , mal a pergunta, mas... Será que a minha roupa pode secar?
- E você vai vestir o quê?
Ele deu um sorrisinho malicioso.
- Alguma roupa que VOCÊ vai me emprestar.
O sorriso sumiu e foi atrás de roupas dentro da casa.
- Pronto... Uma calça, blusa e uma boxer. Feliz?
- Muito... Já volto!
Tomara que eles fizessem alguma coisa enquanto eu me trocava!
- Meninos... Cadê vocêaaaaaaAAAAAAAAH!
ria em cima de mim e gargalhava no fundo. Hm, que perfume booom! É essa a hora que eu morro? Acho que sim...
Ele parou de rir, mas não saiu de cima de mim. Nossos rostos se aproximaram, nossas bocas, nossos lábios. Abri a boca um pouquinho, dando permissão ao beijo. Pelo jeito, ele aceitou bem...
- ... ... ! Seus pais chegaram!
saiu de cima de mim e eu fiquei no chão com cara de idiota. trouxe o trabalho e foi falar com os pais.
- Mãe, pai, vocês conhecem o , e essa é a , uma amiga da escola.
- Olá, querida... Trabalho?
- Sim.
entrou, mas logo já estava de volta. Eu e segurávamos o riso.
- Desculpa... Eu não sabia quando eles iam voltar.
- Tudo bem... Gente, vamos pra casa! O Sr. E a Sra. devem estar querendo descansar!
- Tudo bem... Seus pais estão em casa, ?
- Não... Nem eles, nem minha irmã, Lizzie.
- Ah, então vamos... PAI, MÃE! ESTAMOS SAINDO!
e pegaram o trabalho e eu levei as bolsas.
- Vamos pro meu quarto... É melhor!
olhou suspeito para . Tá legal, o que estava acontecendo aqui?
- , onde é o banheiro?
- Segunda porta à esquerda.
saiu correndo do quarto e riu.
- Desculpa aquela hora. Mesmo.
- Tudo bem... Seja lá sobre o que você estiver dizendo.
Sorri.
- O beijo e meus pais.
- Sobre seus pais, tudo bem, eles são legais. – Não é mentira! – Sobre o beijo... Eu gostei. – AH! O que aconteceu com você, menina? Desde quando você fala isso? AH, SE MATA!
- É, eu também...
Tudo bem, não se mata não! Só entra em coma temporário. [n/a: pra você essa, Pri!]
Ele se aproximou de mim. Nossos corpos, nossos rostos, e, novamente, nossas bocas. Esse menino tem O melhor perfume do MUNDO!


Capítulo 2

Estávamos nos beijando há muuuuuuito tempo! NOSSA! O fora ao banheiro e ainda não voltara!
- Gente, sou sempre eu que atrapalho os beijos – É mesmo! –, mas é melhor pararem...
falava isso, a música tocava, eu e nos beijávamos quando...
- FILHA?
- MÃE?
Tô ferrada! Eu me desgrudei de e pulou. foi parar no chão por causa do susto.
- Quem é esse?
- . – Apontei para o menino que me beijava até pouco tempo. – E . – Apontei para o outro que estava encostado na parede.
Minha mãe SÓ me olhou.
- Ele é meu... Meu... – AH! O QUE EU RESPONDO? – Meu...
- Namorado.
Olhei para . O quê? Como assim? Ele olhou para mim, pedindo ajuda.
- É verdade, mãe...
Ela olhou surpresa. Também, quem não estaria?
- Desculpa, então... Continuem.
Ela deu um sorriso forçado e saiu. Me virei para .
- Namorado? Como assim? Vamos ter que fingir para os meus pais!
- Se você quiser fingir...
soltou um ‘ui’. Ele tava me...
- Pedindo em namoro?
- Aham. Você aceita?
CLARO, SEU IDIOTA!
- Sim...
Ele me beijou. Ah! Eu namoro o ! Nem acredito. Pelo jeito, nem !

- O quê? E você nem me contou?
- Desculpa... Não deu tempo. Foi muito... estranho, eu acho.
- Sei...
tentou me arrancar mais um monte de respostas, mas não tinha muita coisa para contar. Eu fiquei com o menino DUAS vezes e ele é meu namorado! E lá vem o fofo. E seu perfume! *-*
- Oi, gata! Oi, .
Ele me deu um selinho. e apareceram em seguida.
- Uau! O que eu perdi?
- Eu e estamos namorando.
A boca de caiu e se engasgou com a coca que estava bebendo. tossiu e apareceu.
- Ah, você contou?
- Sim...
deu uma risadinha e foi ajudar a se desengasgar.
- Gente, nem é tão estranho assim, vai.
É sim, , mas é melhor eu ficar quieta.
O sinal bateu e eu e fomos para a aula de espanhol.
- Hola, guapas!
- Hola, profe!
virou-se para mim:
- A gente precisa conversar.
- O que foi? Se for sobre eu e , esquece! - Não é nada disso! Bem, é sobre ele, mas é melhor você saber agora.
- Ai meu Deus! O que aconteceu, menina?
Vi que ela hesitou, mas era melhor me contar. Pronto, era agora. Quando ela rola os olhos é por que vai começar.
- Eu ouvi a profe contar para a diretora algumas coisas do .
- Tipo o quê?
- Que ele desmaiou na aula de álgebra, que ele tem se sentido meio mal ultimamente, que tem tido muitas dores de cabeça e que ele está se sentindo muito cansado.
Uau...
- Deve ser a escola... Todos estamos estudando muito! Ele mal dormiu semana passada por causa das provas.
- É melhor ficar atenta!
- Eu sei cuidar do meu namorado. Relaxa.
Ele vai morrer? AI! Isola, ! Bate três vezes na madeira, sua louca! Madeira... Madeira... Achei...
O que a disse é sério, mas deve ser o estresse da escola, nada de mais... Ou será que é?


Capítulo 3

Quatro meses com o . Nem acredito! Ele disse que tinha uma surpresa pra mim. Mal posso esperar para chegar à escola!
- Oi, amor!
- Oi, linda!
Ele se ajoelhou na minha frente! Pegou uma caixinha.
- , você...
AAAAH! ELE VAI ME PEDIR EM CASAMENTO!!!!!!!!
- Quer ser, oficialmente, minha namorada? De aliança e tudo?
Ufa, achei que ia casar! o.o
- Siiiiiim!
O beijei profundamente... Ah, eu AMO esse garoto! O melhor: ele já conhece a minha família e eu já conheço a dele! Legal! (Y)
Ele pegou na minha mão e entramos na escola. Antigamente nos olhavam torto, hoje em dia, já nem ligam e... Olha a ... E o ?
- Deixa os dois, vamos achar o e o para contar!
Ele me pegou no colo e saiu correndo atrás dos dois amigos.
- !
Ele me colocou no chão e pegou em minha mão. O corpo cambaleou para o lado. Ele não conseguia andar direito...
- ? Tudo bem?
- Sim... Minha perna fraquejou, nada de mais.
Me lembrei do que me dissera há quatro meses! “...Ele desmaiou na aula de álgebra, que ele tem se sentido meio mal ultimamente, que tem tido muitas dores de cabeça, e que ele está se sentindo muito cansado”.
E agora a perna fraquejando? Deve ser a escola, só pode ser a escola!
- , você tá legal? Eu vi o que aconteceu.
- Tô sim, . Não precisa se preocupar.
- Sei...
- Cadê o ?
- Com uma tal de Lizzie.
-Lizzie? Lizzie ? Do segundo?
- Essa mesma!
- Uau, você já conhece seu cunhado!
- Ela é sua irmã? Hahahahaha!
saiu rindo atrás de , e apareceu com .
- Oi, gente... Vamos para a sala? Prova.
Me levantei, seguida de , mas ele caiu no chão.
- ? ? Amor?
Ele desmaiou… ELE DESMAIOU!
- ALGUÉM AJUDA? POR FAVOR!
- , liga para os pais dele, agora!
deu o celular para ela, e se ajoelhou ao outro lado de . A cabeça do mesmo estava no meu colo. - . Acorda, ! Por favor!
Comecei a chorar.

- Ele acordou.
Três horas após ter desmaiado na escola, me encontrava ao lado da Sra. e do Sr. , de e na sala de espera do hospital.
Os pais entraram antes, e, quando saíram, eu e os outros dois entramos.
- ? Que susto que você me deu!
Abracei o garoto, que tentou retribuir o abraço, mas parecia fraco demais para isso.
- Tudo bem?
- Tô melhor agora... O que aconteceu?
Ia abrir a boca, quando apareceu com .
- ! Que susto, cara! - Ah, , estão te chamando lá fora.
Sorri de leve para eles e saí.
- Me chamaram?
- Sim, mas só você, afinal, você é a namorada.
Xiii, fiquei com medo depois desse começo de conversa.
- O que aconteceu? O que o tem é grave?
A Sra. me abraçou de leve.


Capítulo 4

O médico nos olhou apreensivo.
- Doutor?
- O tem câncer cerebral.
Minha respiração parou. Comecei a chorar. A Sra. também. O Sr. abraçava a nós duas.
- O sabe?
- Ainda não... Precisaria de vocês três, no caso.
- É melhor contar agora.
Concordei com o Sr. e fomos em direção ao quarto de .
- Gente, podem nos dar licença? É rápido...
Os quatro se despediram e saíram.
- Filho... Os médicos...
- O que eu tenho é sério, né?
Fiquei espantada com a simplicidade com que ele disse isso. É sério, mas... Ele podia se preocupar.
- Mãe... Eu tô com medo. O que eu tenho?
Ele olhou para nós quatro. Controlei as lágrimas.
- Sr. – o médico prosseguiu –, você tem câncer cerebral.
chorou. Eu nunca o tinha visto chorar assim. Ele tremia e abraçou os pais.
- Bem, isso são os sintomas que dizem, mas se tudo estiver, infelizmente, certo, o que você tem é o tipo Meningioma. Esse tipo é relacionado ao tipo de célula de revestimento das membranas que envolvem o cérebro e a espinha dorsal. Eles geralmente são benignos, mas podem ser recorrentes - que voltam freqüentemente - ou malignos.
Tudo bem... Benigno... Mas pode ser maligno! AH NÃO! Chorei mais e apertei contra o meu corpo. Nunca quis tanto que ele estivesse comigo!
- Vamos fazer uma tomografia, ressonância, punção lombar... Se o tumor for confirmado, faremos outra ressonância, mais uma tomografia e uma angiografia cerebral.
Ele começou a explicar as coisas para os pais de e eu fiquei deitada ao lado do meu namorado.
- Amor, eu quero falar com meus amigos.
- Eu vou lá chamá-los.
Saí e, quando eles me viram nesse deplorável estado (chorando muuuuito), me perguntaram por que e eu simplesmente disse:
- quer vê-los.
Eles foram e eu os segui.
contou-lhes o que era. Eu nunca vira os meninos naquele estado. me abraçou. Percebi que ela queria chorar.
- ...
- Tudo bem, . Mesmo. Eu só quero... o meu namorado!
- Ele ainda está aqui! Vai dar tudo certo! Você vai ver... Vai ser benigno.

AAAH! Esse resultado de tumor não sai! É o nosso segundo dia no hospital. Eu dormi aqui com o Sr. e Sra. .
- Sr. Sra. Srta. Os resultados.
Me levantei tão rápido que fiquei tonta. Ou é por que eu não comera nada e já estava na hora do almoço?
- É benigno?
Ele negou. Tremi.
- Maligno?
- Infelizmente.
O médico pediu que fôssemos até o quarto, assim poderíamos conversar todos juntos. Ele contou que era um caso raro naquele hospital. Ele explicou tudo (TUDO) sobre o tumor.
- Maligno?
- Maligno!!! O que eu faço, ? Ele pode morrer!
- Eu sei, amiga! Eu sei! Mas você vai ver... Vai dar tudo certo!
- É! Vai dar sim.
- , sai! Eu tô no telefone!
- ?
- Ele e os meninos vieram. Estávamos esperando noticias.
- Ah. Tá. Tenho que ir. Beijos.
- Beijos, amiga, se cuida.
desligou o celular e voltou para perto do namorado, que agora dormia.

- Posso falar com vocês?
- Claro, Doutor!
- Bem, quanto antes o tumor for tratado, melhor. Faremos uma cirurgia amanhã, se os senhores permitirem, e, depois, seguiremos para a radioterapia e quimioterapia. O tratamento pode ser rápido, ou demorado. Isso dependerá da cirurgia.
- Querido, é melhor permitirmos...
- Onde eu assino?
- Eu vou falar com .
A Sra. saiu em direção ao quarto, para falar com o filho. Vi-a acordar o menino e, depois de um tempo, em que só se via a boca da Sra. mexer, ele abraçá-la.


Capítulo 5

- Amor, vai pra casa! Vai tomar um banho, dormir. E vai pra escola, depois você vem me ver.
- Não! Eu quero ficar com você.
- Por favor?
Sorri de leve, dei-lhe um selinho e sai.
Fui andando para casa. Ainda bem que não moro longe do hospital.
- Filha? A me contou o que aconteceu.
Mamãe abriu a porta e me abraçou.
- Vai ficar tudo bem.
- Eu vou pro banho.
Entrei em casa e Lizzie chegou perto.
- O que é Lizzie? Eu quero ficar sozinha!
- Ei! Relaxa! A ligou, ela disse que era urgente!
Peguei o telefone e liguei para a .
- ? O que aconteceu?
- A Sra. ligou e pediu para eu avisar que a cirurgia vai ser amanhã de manhã. Ela perguntou se a gente vai.
- Eu vou!
- Mas...
- EU VOU, ! Eu PRECISO ficar perto dele!
Comecei a chorar. Minha mãe pegou o telefone, disse para que depois eu ligava e me guiou ao banheiro.
- Eu não quero que ele se vá mãe, eu não quero!
Lizzie apareceu e me abraçou.
- Vamos, . Vamos tomar um banho e depois você vai dormir.
- Eu não quero dormir.
Minha mãe deu aquele olhar do tipo “dorme ou você não vai amanha” e resolvi não discutir.

- ! ... !!! Sete horas. O começa a se preparar para a cirurgia daqui a trinta minutos.
- Aimeudeus! Lizzie, fala para a mamãe que eu já desço.
Fui procurar uma roupa para pôr, e, no final, acabei de jeans, camiseta e um moletom. Nada de anormal. Peguei um livro e o coloquei na minha bolsa.
- Tchau. Gente, quando tudo estiver bem, eu volto.
- Ei! Vem tomar um café.
- Eu passo na... Starbucks. Tchau.
Sorri quando pensei na Starbucks. Eu e costumávamos ir lá nos domingos. Comprei alguns croissants e uma coca e fui direto para o hospital. Cheguei exatamente na hora.
- ? Oi, querida.
- Olá, .
- Oi, .
Sorri para , os pais de e os meninos.
- Cadê ele? Eu posso falar com ele?
A Sra. percebeu o pânico na minha voz.
- Vamos lá, querida.
Ela pegou em minha mão e me levou até uma salinha.
- ?
- Gata? O que você está fazendo aqui? – perguntou-me ele sério.
- Eu queria te ver.
- Ah é. Talvez essa seja a nossa última vez.
- NÃO FALA UMA COISA DESSAS! Isola, ! Isso não acaba aqui. Não pode acabar aqui!
Quando percebi já estava chorando e ele me abraçava.
- Vai dar tudo certo, amor. Tudo certo.
Concordei de leve com a cabeça.
- Mas agora lá se vai o meu cabelo.
Ele me beijou profundamente e eu só olhei para ele.
- Nunca se sabe!
Dei um tapinha no braço dele e saí. Vi que seus olhos me percorreram com um certo medo, mas deixei isso passar despercebido.
- Ele tá muito nervoso?
- Até demais!
Sentei-me ao lado de e e ficamos todos esperando o médico aparecer. Ele chamou os pais de para verem a cirurgia e eles foram. Ficamos nós cinco esperando noticias.

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!!! Cinco horas e pouco desde que a cirurgia começou e NADA de notícias!!! percebeu meu nervosismo e me abraçou.
- Relaxa, , vai dar tudo... certo.
Ela disse essa última palavra em um sussurro. O medico apareceu com os pais de em seguida. Levantei-me rapidamente.
- E? Como ele está?
- A cirurgia foi um sucesso.
Soltei um gritinho e abracei .
- Mas...
ODEIO a palavra ‘mas’, ODEIO!
- Mas... O tratamento será difícil. Ele precisará do apoio dos amigos, da familia e da namorada. Talvez ele perca esse ano!
- Mas é o terceiro! Ele não pode perder o ano!
- Será que a gente não poderia se revezar e levar a matéria para ele? Ai ele faz trabalhos, a gente fala na escola.
falou tão rápido que acho que só eu entendi.
- Bem... Ele está dormindo. Acho que só acorda amanhã.
Despedi-me de todos em seguida e fui para casa. queria me acompanhar, mas não deixei.
Cheguei em casa e todos me olharam.
- Filha? Como foi?
- O tá bem?
- A cirurgia foi um sucesso, mas ele só deve acordar amanhã.
- Você vai para a escola amanhã, certo?
Apenas olhei para meu pai querendo dizer não, mas não tive coragem. Concordei com a cabeça e fui tomar um banho.

Acordei mais cedo no dia seguinte. Fui andando para a escola. Estava sendo insana. Nada disso ia curar o .
- Oi.
se sentou ao meu lado enquanto esperava chegar.
- Oi.
- O desgraçado me mandou uma mensagem.
- Quem?
- O .
Ah é. O amor deles é incrível.
Uma mensagem?
- O quê? O que ele disse?
- Foi de madrugada. Ele tinha acabado de acordar e queria falar com você, mas seu celular estava desligado. Ele pediu para dizer que te ama muito e que depois que tudo isso acabar a banda continua tocando. Ah, e pediu para você passar lá depois.
- Tudo isso em uma mensagem?
- Aham! Incrível esse menino! Tem uma paciência do caramba.
Ri de leve e vi se aproximar.
- Oi, amiga! Oi, amigo!
- Oi, amiga!
- Oi, fofa.
corou com o ‘fofa’ de . Esses dois estavam muito estranhos pro meu gosto! chegou com em seguida.
A manhã passou bem devagar, eu só queria ir para o hospital. Hoje começava as sessões de radioterapia do . Os meninos estavam tão ansiosos como eu. Não queria demonstrar, mas meu rendimento escolar hoje foi zero!
Mesmo com a manhã passando bem devagar, ela passou.

- Srta. ? Pode vir aqui um segundo?
Eu vou matar a minha diretora! Eu tava indo visitar o .
- Claro, diretora.
Eu a segui até a sala dela e percebi que todos os alunos me olhavam curiosos.
- Bem... Sabemos sobre o Sr. , e, bem, todos sabem que vocês namoram e... Só queremos que você tome cuidado. A doença pode atrapalhar seu rendimento escolar e...
A diretora falava quando o meu celular tocou.
- Com licença... É o – disse sorrindo de leve. – Oi, amor!
- Gata, eu tô com medo.
Percebi rapidamente o medo em sua voz.
- Vai dar tudo certo!
- Eu tenho medo de te perder! Que você me perca! Eu te quero aqui.
Comecei a chorar.
- Eu já estou indo, amor.
Desliguei o celular e saí correndo da sala. Todos os alunos AINDA me olhavam. Uma menina do segundo ano me parou.
- É verdade que o está com câncer? – ela me perguntou.
- Cerebral? – completou sua amiga.
- É. É sim, agora me deixa!
- Coitado. Ele era tão sexy com aquele cabelo, agora ele vai ficar careca! – comentou a primeira.
- Eca! – continuou a segunda.
Respirei fundo (ou pelo menos tentei) e saí correndo da escola em direção ao hospital.

- ?
Corri para perto do meu namorado e o abracei. Eu chorava desesperadamente e ele acompanhava meu choro.
- Vai ficar tudo bem. Acredita em mim.


Capítulo 6

Acordei com meu celular tocando. Era alguma música do Blink, então provavelmente era de casa.
- Alô?
- ! Filha! Que bom! Onde está? – Mamãe surtou.
- No hospital... Com .
- E NÃO AVISOU? Ai meu Deus... O que faço com você, menina? Calma, eu falei com a Sra. e agora vai começar as sessões de quimioterapia!
Desliguei o telefone e acordei . Enquanto meu namorado acordava, chamei a mãe dele.
- É verdade? Já vão começar as sessões?
- Sim!
- Então significa que tudo está indo bem?
- Perfeitamente bem! – ela respondeu sorrindo e nos abraçamos. Pude perceber que as lágrimas beiraram em meus olhos.
- O já sabe?
- O médico conversará com todos...
- Agora – o doutor completou sorrindo.
Todos entramos no quarto e sentei na beira da cama de , que logo se ajeitou.
- Pois não?
- Amanhã começaremos as sessões de quimioterapia! – o doutor disse animado e soltou um ‘outch’. – Isso será doloroso, Sr. . É bem simples, você realizará a Quimioterapia adjuvante, que é a quimioterapia que se administra geralmente depois de um tratamento principal, como, por exemplo, a cirurgia, para diminuir a incidência de disseminação a distância do câncer e a Radioquimioterapia concomitante, também chamada quimioradioterapia, costuma ser administrada em conjunto com a radioterapia, com a finalidade de potencializar os efeitos da radiação ou de atuar especificamente com ela, otimizando o efeito local da radiação. [n/a: wikipédia!]
encolheu-se na cama. Provavelmente se perdeu na quimioterapia adjuvante, mas...
- Vocês irão usar aquelas agulhonas? – perguntou com cara de criança e todos rimos.
- Sim, Sr. . Mas fique calmo. Sei que tem gente que te ama que estará ao seu lado. – O doutor olhou para mim e para a Sra. e em seguida para a porta. – Olá, amigos do meu paciente medroso!
Os meninos entraram seguidos de .
- Oi...
- Ele vai começar a quimioterapia amanhã! – eu disse – E tem medo da “agulhona”. – Zombei e todos rimos.
A Sra. saiu do quarto e ficamos todos conversando até tarde na cama. Ou melhor, até a Sra. nos expulsar do quarto.

Acordei um pouco nervosa naquele sábado. O relógio marcava oito horas, mas mesmo assim liguei para a .
- Oii. É hoje!
- Eu sei. Poxa, , eu tava dormindo... – ela reclamou.
- Desculpa... Mas eu tô com medo – sussurrei.
começou a falar que eu me preocupava demais. Nem prestei atenção, estava escolhendo a roupa.
- , você está aí? - Oi... Ah sim!
- Eu perguntei se você quer que o te pegue!
- Ah... Claro. Que horas?
- Meio-dia na porta da sua casa. Beijos, distraída.
- Oi? – E deixei meu celular cair.
O relógio já marcava nove horas. Decidi tomar café e ir pro banho.
- Já acordada?
- Sim... e vêm me buscar às doze horas.
Minha mãe me serviu, mas nem toquei na comida.
- Come, garota! Faz dias que você não come bem.
Dias... Desde que descobrimos que tinha câncer.
Terminei de comer e subi para meu quarto. Olhei meu mural e vi as fotos penduradas. Umas três minha e da , uma da sala, cinco com o , duas com os meninos, três com a minha família... Mas a do centro é a que mais me chamou atenção. Era uma foto, em uma moldura de coração escrita “I Love You” por toda parte, em que me dava um beijo na bochecha.
Comecei a chorar desesperadamente. Sentei no chão e fiquei soluçando com a foto em mãos por um bom tempo. Agarrei a foto e sussurrei “Eu te amo”.
Estava sendo boba. Fui para o banho.
Tomei um banho rápido (eu acho), pois quando saí já era onze e meia. Corri para me arrumar e ao meio-dia estava na porta de casa.
- ! ! – Eles apareceram no carro do pai de . Entrei no banco de trás e fomos buscar e .
- Eu disse! Ele vai se atrasar, ! – disse nervosa.
- Não vai! – respondeu impaciente.
Estávamos na frente da casa de fazia vinte minutos. pegou o celular e ligou para ele.
- Alô? – Uma voz sonolenta atendeu.
- Viu? Dormindo... DESCE, SEU IDIOTA! A GENTE JÁ TÁ AQUI HÁ VINTE MINUTOS!
Pudemos ouvir cair da cama e o vimos na janela do quarto. Em cinco minutos, ele apareceu pedindo desculpas. E logo seguimos para a casa de .
- Trinta minutos atrasados. Parabéns, ! – ele disse rindo.
- EI!
Todos rimos e fomos conversando, não tão animadamente, para o hospital.
teria a primeira seção às nove horas, provavelmente já teria terminado.
Chegamos e fomos para o seu quarto, antes sendo barrados pela Sra. .
- Ele está bem enjoado. São os efeitos colaterais, então... Cuidado.
Entramos no quarto e ouvimos um som nojento vir do banheiro.
- Eu pretendia te beijar... mas eu espero – comentei quando apareceu. – Tudo bem, amor?
- Pareço bem? Cara, isso dói muito! Você nem imagina. Agora eu tô com um mal estar... Uma vontade de vomitar.
- É assim que nos sentimos quando temos cólica – comentou e todos olharam para ela. – Calei?
Todos assentimos com a cabeça e ela se sentou.
correu para o banheiro.
- Amor?
- Eu tô legal... Eu acho. Pretendo não por minhas tripas para fora hoje! – ele disse e rimos.
- Idiota! Fica deitado, qualquer coisa chamamos a enfermeira!
Ficamos conversando a tarde toda, e, quando deu seis horas, a mãe de nos expulsou.
- Bem... Pizza?
- Yeah!
Corremos para o carro e quando chegamos na pizzaria, gritou:
- O ÚLTIMO A CHEGAR PAGA!
E saímos correndo. Bem, a conta ficou para .
- Saco... Cadê o nessas horas?
- No hospital, se tratando do câncer – respondi e todos me olharam. – Poxa é a verdade. Triste, mas é.
Todos se sentaram em silêncio. Mandei uma mensagem pra minha mãe, dizendo que não ia comer em casa, e pedimos.

Entrei no meu quarto e liguei o rádio. Tocava uma música qualquer e depois mudou para Bye Bye – Mariah Carey ft. Akon.

As a child there were them times
Enquanto criança, houve tempos em que
I didn't get it
Não compreendia,
But you kept me in line
mas você me mantinha na linha
I didn't know why
Eu não sabia o porquê
You didn't show up some times
Você não aparecia às vezes
On sunday mornings and I missed you
Aos domingos de manhã e eu sentia sua falta
But I'm glad we talked through
Mas estou feliz que conversamos sobre isso
All them grown folk things
Todos aqueles problemas de gente grande
Separation brings
Que as separações trazem
You never let me know it
Você nunca me avisou
You never let it show
Você nunca demonstrou
Because you loved me and obviously
Porque você me amava e obviamente
There's so much more left to say
Há muito ainda o que dizer
If you were with me today
Se você estivesse aqui comigo hoje
Face to face
Face a Face

Parei para ouvi-la.

I never knew I could hurt like this
Eu nunca soube que podia doer tanto
And everyday life rolls on I wish
E a cada dia que a vida passa eu desejo
I could talk to you for a while
Poder falar com você por um tempo
I miss you but I try not cry
Sinto saudades, mas eu tento não chorar
As time goes by
Enquanto o tempo passa
And it's true that you've
E é verdade que você
Reached a better place
Atingiu um lugar melhor
Still I'd give the world to see your face
Mas eu ainda daria o mundo para ver seu rosto
And be right here next to you
E estar bem ao seu lado
But it's like you're gone too soon
Mas é como se você tivesse ido cedo demais
And the hardest thing to do is say
E agora a coisa mais difícil de fazer é dizer
Bye bye
Adeus

Olhava para a foto minha e do ainda em minha cama. Ela ainda tinha marcas do meu choro. Coloquei meu pijama e me deitei. Peguei meu celular e liguei para um número já decorado.
- Alô? – A voz calma dele me acalentou.
- , você conhece “Bye Bye”?
- Mariah Carey? Sim...
- Canta pra mim?
- Claro... “This is for my peoples who just somebody,
Your best friend, your baby
Your man or your lady
Put your hand way up high
We will never say bye
Mamas, daddys, sisters, brothers
Friends and cousins
This is for my peoples who lost they grandmothers
Lift your head to the sky
Cause we will never say goodbye”

E foi na voz dele que transformei aquela música na nossa música. E, assim, adormeci.


Capítulo 7

Acordei com minha mãe gritando da cozinha. Meu celular ainda estava na cama.
- ! Levanta! NOVIDAAAAAAAAAAAADES! – ela escandalizou.
Fui correndo para a cozinha e dei de cara com meus avós.
- Oi? – Escondi-me atrás da mesa; meu pijama é minúsculo.
- QUE ROUPA É ESSA, MENINA? ISSO É ROUPA PARA RECEBER SEUS AVÓS? – Meu avô começou a gritar, mas mamãe explicou que era meu pijama.
- Então... Por que chegaram tão de repente? – perguntei inocente.
- Sua mãe contou sobre seu namorado – vovó disse e olhei feio para mamãe. – E seu pai vai viajar, então viemos ajudar!
“Grande ajuda” pensei. Comecei a comer minhas panquecas em silêncio. Acabei e me levantei.
- , querida, deixe-me ver o seu quarto? – vovó perguntou e fomos.
Ela começou o escândalo quando viu a minha cama. Depois ela foi para meu armário e disse tudo sobre minhas roupas. Quando ela entrou no meu banheiro, até assustei com o berro que ela deu, mas foi nas estantes que não agüentei mais:
- Quanta falta de cultura. Crepúsculo, Lua Nova, Harry Potter, Gossip Girl... Cadê a cultura nisso aqui? E música? Quem são “Simple Plan”? “Blink 182”? Hein, garota? E... Ai meu Deus! Que fotos são essas? – Ela se dirigiu ao meu mural. – Amigos estranhos, devo admitir. Ah! Devoção a família e... Amor. – Ela fechou a cara. – QUE INDECÊNCIA É ESSA? – Ela começou a tirar minhas fotos com , foi quando segurei sua mão.
- Nem ouse, vovó – disse firme.
- Como?
- Isso é meu! SAI DAQUI! – Empurrei-a para fora do quarto, as lágrimas já beirando.
Ouvi minha vó xingar baixo e tranquei minha porta. Deixei as lágrimas rolarem soltas e ouvi minha vó gritar com minha mãe sobre minha atitude, mas uma coisa inesperada aconteceu:
- Vovó! Deixe a em paz! O namorado dela está doente pra caramba! Coitada, dá uma trégua! Não sei como o vovô te agüentou todos esses anos! – Lizzie gritou e subiu as escadas. – Ei, abre a porta – ela pediu e eu obedeci.
- Obrigada! – sussurrei em seu ouvido no meio de nosso abraço.
- Vai no hospital hoje? – ela perguntou.
- Sim. Combinei com o pessoal às quatro horas, mas eu vou antes, quero curtir o meu namorado. – Sorri.
- Posso ir com você? - Lizzie perguntou envergonhada.
- Claro! O te adora e vai adorar a sua visita!
- O vai?
Opa! Lembrei... Lizzie e saíram por três semanas, mas eles terminaram. Ou melhor, ele terminou. Lizzie realmente gostava do .
- Vai... Eu acho.
- Não vai ficar estranho?
- Imagina! Vamos! Que tal um almoço na Starbucks, comprinhas e depois vamos pro hospital?
- AAAH! Eu te amo! – ela gritou e pulou em mim.

E lá estava eu, com Lizzie, fazendo compras. Nosso almoço na Starbucks fora ótimo! Falamos sobre tudo possível. Fiquei super feliz, há um bom tempo não saiamos juntas, só nós duas... Ou melhor, acho que nunca fizemos isso!
Lizzie saiu do provador com um vestido rosa e uma jeans skinny.
- ! Essa calça e essa camiseta ficaram ótimas em você! – Eu estava com uma skinny preta e uma camiseta branca com uma guitarra desenhada.
- Lizzie. Uau! Sua roupa... Leva! Leva! Leva! – eu disse e ela riu.
Saímos com uma roupa mais incrível que a outra.
- Ai meu Deus! ! ! ! Olha isso! – Lizzie apontava para a vitrine.
- Que sandália linda... Tenho uma idéia! Entra! – Empurrei Lizzie para a loja e ela experimentou a sandália. Ficou realmente boa.
- Eu quero. – Ela fez bico.
Peguei a sandália e paguei por ela sob os olhos arregalados de Lizzie.
- Presente. – Dei para a minha irmã que surtou... Literalmente.
Vimos a hora e corremos para o hospital.
- ? – Lizzie abriu a porta.
- Lizzie! Que surpresa! – ele disse sorrindo e correu pro banheiro. – Desculpa... Quimioterapia.
Ficamos conversando por um bom tempo, até que chegou com , e, em seguida, e .
- Lizzie? – perguntou surpreso.
- Vim visitar meu cunhadinho... – ela disse sorrindo. – Algum problema? – desafiou.
- Nenhum – respondeu mal a vontade.
Ficamos horas conversando e Lizzie e pareciam estar se entendendo novamente.
Era por volta das oito horas quando mamãe ligou e nos obrigou a voltar pra casa. Ainda tínhamos escola no dia seguinte.

Acordei e fui acordar Lizzie. Hoje iríamos a pé para escola. Nada de amigas. Só nós.
- Liz! Acorda!
Ela não se mexeu e...
- ACORDA! – eu gritava de cima dela.
- SAI DE CIMA DE MIM, SUA LOUCA! – Lizzie me empurrou e corri para o meu quarto.
Em quinze minutos, estava de banho tomado e devidamente trocada e fui tomar café. Lizzie já estava lá.
- Bom dia, flor do dia!
- Ha! Ha! Ha! – ela disse e eu ri.
Saímos em seguida e fomos andando. O céu estava aberto, fazia sol, mas ventava. Usávamos nossas roupas novas.
- ... Acho que gosto do de novo.
Dei um tapa em Lizzie.
- Como assim? Você não o odiava?
- Não! Nunca. Ontem ele foi tão fofo comigo... Não sei. Tô tão confusa! – ela disse.
- Calma... Vai dar tudo certo. – Coloquei meu braço em seu ombro e joguei meu peso sobre ela.
Fomos conversando até a escola, onde cada uma foi para seu devido grupo.
- , posso falar com você a sós? – me perguntou.
- Claro! – Coloquei meu livro de lado e saí com ele. – O que foi?
- Acho que gosto da Lizzie de novo – Eu mereço? – Ontem... Não sei! Tive uma recaída!
- Ótimo! Ela também gosta de você! – Eu ri. – Vai lá, garoto! – Dei um soco no braço de e corri para a aula.
Acho que a notícia que estava melhorando fez meu ânimo subir 90%. Prestei atenção na aula, fiz todas as atividades, conversei normal com todos e... Não chorei.
comentou a mudança rindo. Os meninos disseram que eu estava mais bonita assim. Lizzie disse que eu estava mais legal. E ... disse que me amava (eu AMO mensagem!).
Na hora do intervalo, ligou.
- Oi, amor.
- Oi. Hoje... Será que você pode não vir?
- Por quê? Aconteceu alguma coisa? – Preocupei-me.
- Não quero que você me veja.
- Cabelo? – Sim, eu pesquisara sobre quimioterapia na internet.
- Sim - ele sussurrou e eu ri.
- , é psicológico... Não começa a cair tão cedo. Relaxa! E hoje não dá... Eu tenho médico, lembra? Talvez eu passe aí!
- Ah é! parecia aliviado e eu ri.
- Fica calmo, amor.
- Pode deixar. Beijos. Te amo!
- Beijos. Te amo mais. – Desliguei o telefone rindo.
Contei para sobre a preocupação e ela riu. Foi nessa hora que tudo aconteceu.
- Gente... Oi, aqui é falando na rádio eu esqueci o nome dela. – Todos riram e ele abafou o riso. – Srta. , minha peguete, você pode vira a sala do diretor? Tenho um pedido a te fazer... Bem, ele chegou, é melhor fazer agora. Você quer ser minha namorada? Mentalize seu ficante com um anel na mão, por favoooor! – A voz de ecoava por toda escola e gritava ao meu lado. Logo ela saiu correndo em direção à diretoria.
- Eu aceito! – A voz de ecoou e pude ouvir muitos ‘aaws’ e vários aplausos.
chegou correndo e me abraçou.
- AH! EU TENHO UM NAMORADO! Eu namoro o ! – Ela pulava e eu ria.
Lizzie chegou em seguida.
- Sabe quem pediu pra ficar comigo? O ! Vou chegar tarde em casa hoje, avisa a mamãe! – Ela me deu um beijo na bochecha e saiu correndo.
- Acredita? Você e , Lizzie e ... Tá bom demais pra ser verdade – disse rindo. Meu celular tocou nesse momento.
- Alô? Mãe? Mãe! Fica calma... Por favor! O quê? – E eu comecei a chorar.
- ? O que foi?
- Chama a Lizzie? – supliquei.
Lizzie, que não estava longe, veio correndo.
- , é o ?
- Não... O papai.

Eu e Lizzie estávamos na sala de casa esperando mamãe chegar com novidades. Vovó e vovô em silêncio deixavam a situação pior.
- Oi. – Mamãe abriu a porta.
Eu e Lizzie corremos para ver o que aconteceu.
- Mãe? E o papai? O que foi?
Mamãe se ajoelhou no chão e a acompanhamos.
- Deixe-me explicar. Seu pai dirigia para buscá-las e... um caminhão atingiu o carro e... ele não resistiu.
Mamãe nos abraçou e desabamos em lágrimas. Nós três nos abraçávamos sobre os olhares de vovó e vovô.
Corri para o quarto e liguei para .
- Ei amor! Por que não está aqui? me contou o que houve na escola, tudo bem? – Solucei e percebeu. – Amor, o que aconteceu?
- Meu pai... sofreu um acidente de carro. Um caminhão bateu de frente e ele não resistiu.
Chorei com ao telefone. Muito.
- O enterro é amanha?
- Sim...
- Eu vou!
- , você está mal e...
- EU VOU! Seu pai era um ótimo cara! Eu o adorava! Eu vou. Te amo. – E ele desligou o telefone.
Contei para e ela ficou de falar com os meninos. Em cinco minutos, , e já tinham me ligado e prometido estar no enterro.

O dia amanheceu ensolarado, mas, do meu ponto de vista, cinzento e triste. Saímos cedo. O enterro seria às dez horas da manhã. Estava no local do velório, sentada no canto, chorando litros, quando eles chegaram.
ficou segurando minha mão e os meninos ficaram quietos em um canto. Quando estava na hora das últimas homenagens, ele chegou. Vestia uma jeans escura e uma camiseta preta.
- ! – Corri para seu abraço. Fraco, mas poderoso.
- Meus pêsames.
- Obrigada, Sra. .
Com ao meu lado, beijei a testa de meu pai e prosseguimos para o enterro.
E nessa hora eu li a eterna frase de meu pai, que vivia viajando: “para estar junto, não precisa estar perto!”. Chorei.


Capítulo 8

Faz uma semana que não consigo ir para a escola, nem visitar . Fiz coisas melancólicas, na verdade. Levei, todos os dias, flores para meu pai, e ontem fomos ver o negócio do testamento. Tudo piorou quando vi que papai deixou a nossa casa de campo para mim. Mesmo assim, falei todos os dias com e , mas no meu sétimo dia de fossa, resolvi que não precisa ser assim. Saí de casa, usando um vestido balonê rosa claro - estava de All Star, mas isso não tirou meu charme - e fui visitar .
- !!! Você está bem? – Ele correu para me abraçar, mas o banheiro foi mais convidativo e ele foi vomitar. – Desculpa... Tudo bem?
- Melhorando. Pelo menos já saí de casa. – Sorri fraco. – Como vai a quimio? – perguntei simpática.
- Dolorosa – ele respondeu envergonhado e eu ri. – Mas acho que não tão doloroso quanto o que você está passando.
- Relaxa, . Vai ficar tudo bem – eu disse isso e comecei a chorar. Ele me abraçou e ficamos assim por um bom tempo. Eu deitada ao seu lado soluçando e ele levantando de tempos em tempos para ir ao banheiro.
Aquela segunda-feira parecia alegre aos olhos de todas as pessoas, mas aos meus olhos era uma segunda-feira deprimente. Coloquei uma jeans e minha camiseta do Blink preta. Prendi meu cabelo em um coque mal-feito, com a franja caindo no rosto, e saí de casa. No caminho encontrei com e .
- Oi, meninos. Perdi muita coisa na escola? – perguntei tentando não parecer abalada.
- Bem... Só a palestra sobre “Sexo Seguro” – debochou e rimos.
Andamos uns dois quarteirões em silencio, até que o cortou:
- Você tá bem? E a Lizzie?
- Superando. Ambas... As coisas estão difíceis em casa. Meus avós não estão ajudando muito no quesito humor, mamãe chora por qualquer coisa e Lizzie... Coitada, ela e papai iam abrir um negócio com as camisetas dela ano que vem!
Os meninos me abraçaram e soltei um soluço.
- Tá tudo dando errado! – eu disse com voz de criança e eles riram.
Fomos conversando até a escola, acho que numa tentativa deles de me distrair. Bem, honestamente... funcionou!
Realmente, nesse ponto da minha vida, não tem como a escola não ser entediante. Ainda bem que pelo meu estado minha professora de Educação Física me dispensou mais cedo e fui direto para casa.
- Oi, vó! Oi, vô! Me dispensaram mais cedo. Tô no meu quarto. – Disparei subindo as escadas.
Entrei no meu quarto, fechei a porta e liguei o computador. O bom da internet, e do orkut, é que posso voltar às minhas origens de vez em quando (afinal, sou brasileira).
Abri meu orkut e fui direto ver o perfil de um menino que estudava comigo.
- Alê, prazer. – Ri. Quanta coisa banal. Mas a parte seguinte foi uma música: “Pensa em mim”, Darvin.
Abri os vídeos para poder escutar a música. Foi quando comecei a tremer e a chorar.

Inspiração dos meus sonhos, não quero acordar.
Quero ficar só contigo, não vou poder voar.
Por que parar pra refletir se meu reflexo é você?
Aprendendo uma só vida, compartilhando prazer.

Por que parece que na hora não vou agüentar,
Se eu sempre tive força e nunca parei de lutar?

Como num filme, no final tudo vai dar certo.
Quem foi que disse que pra tá junto precisa tá perto?

(refrão):

Pensa em mim
Que eu tô pensando em você
E me diz
O que eu quero te dizer
Vem pra cá, pra eu ver que juntos estamos
E te falar
Mais uma vez que te amo

O tempo que passamos juntos vai ficar pra sempre.
Intimidades, brincadeiras, só a gente entende.

Ouvi a música em silêncio e, em seguida, liguei para . Pelo barulho, ele devia estar saindo da escola.
- ... Preciso de um favor! Você pode passar aqui em casa em uma hora com seu violão? – pedi e ele concordou.
Ele chegou e eu simplesmente pedi.
- Tem como você me ensinar uma música?
riu, mas o lembrei que já tinha feito dois anos de vilão, mas precisava de ajuda.
Ficamos treinando a música até às quatro horas, quando ligou surtada perguntando onde estava, porque ele deveria ter ido buscá-la para visitarmos . Saímos correndo e fomos buscar , e .
Chegamos ao hospital e, logo de entrada, entreguei um papel para e disse:
- Tente acompanhar. Tá traduzida.
Olhei nervosa para , mas ele sorriu confiante. Peguei o violão e me sentei na ponta da cama de .
- Inspiração dos meus sonhos, não quero acordar.
Quero ficar só contigo, não vou poder voar.
Por que parar pra refletir se meu reflexo é você?
Aprendendo uma só vida, compartilhando prazer.

Por que parece que na hora não vou agüentar,
Se eu sempre tive força e nunca parei de lutar?

Como num filme, no final tudo vai dar certo.
Quem foi que disse que pra tá junto precisa tá perto?

(refrão):

Pensa em mim
Que eu tô pensando em você
E me diz
O que eu quero te dizer
Vem pra cá, pra eu ver que juntos estamos
E te falar
Mais uma vez que te amo

O tempo que passamos juntos vai ficar pra sempre.
Intimidades, brincadeiras, só a gente entende.

Pra quem fala que namorar é perder tempo eu digo:
Há muito tempo eu não cresci o que eu cresci contigo.

Juntos no balanço da rede, sob o céu estrelado,
Sempre acontece, o tempo pará quando eu tô do seu
lado.

A noite chega, eu fecho os olhos e é você que eu vejo,
Como queria estar contigo eu paro e faço um desejo:

Pensa em mim
Que eu tô pensando em você
E me diz
O que eu quero te dizer
Vem prá cá, pra eu ver que juntos estamos
E te falar
Mais uma vez que te amo (3x)
Mais uma vez que te amo...

Terminei a música e percebi que chorava. e estavam abraçados, e olhavam orgulhosos. Olhei de relance para a porta e vi Lizzie chorando. Abracei meu namorado e corri para minha irmã.
- Papai?
Concordei com a cabeça e enxugamos as lágrimas. Voltei-me para .
- Eu te amo, .
Ele sorriu e respondeu, no maior sotaque:
- Éu te ámo.
Beijei seus lábios úmidos com o choro de leve.


Capítulo 9

Acordei aquele dia me sentindo aliviada. Fui para a escola e uma notícia nos dispensou antes: a professora de biologia faltou. Ou seja, poderíamos ir para casa mais cedo. Liguei para e disse que depois do meu dever de casa passaria lá. foi para casa comigo fazer o dever. Ficamos conversando e finalmente nos focamos na lição.
De tantas dúvidas que tivemos, desistimos de passar no , mas prometi que passaria no dia seguinte. Parece que ele tinha uma coisa importante pra me dizer. Contei pra e ela ficou achando que ele iria pedir minha mão em casamento. Idéia absurda! Mesmo assim, dormi aquela noite pensando nessa possibilidade.
No dia seguinte, eu e chegamos indignadas em casa para mais uma sessão de deveres.
- Como ele marca uma prova assim para daqui a dois dias? – eu disse me referindo a prova de biologia que teríamos em dois dias, marcada hoje pelo professor.
- Ainda mais três capítulos, mais outras coisas... Eu vou me matar de estudar. Nem sei se vou visitar o hoje – disse.
- Ah. Por favor, vá! A gente vai e fica só um pouco, depois voltamos para estudar!
percebeu que eu realmente queria isso. Preparamos nossos pratos e fomos fazer o dever de casa almoçando. Acabamos e fomos direto para o hospital.
- ! – Eu entrei correndo e beijei seus lábios.
- Curiosa? – ele perguntou com um sorriso malicioso no rosto.
- Muito!!! acha que você vai propor para mim! – eu falei debochando.
- Como ela sabe? – disse e eu parei de respirar. – Você caiu! – ele disse num tom brincalhão. Ri com ele. – , você poderia nos dar licença?
concordou e saiu do quarto em silêncio. olhou sério para mim.
- Precisamos conversar – ele disse. – Na vida de um casal de adolescentes, dúvidas e coisas novas são comuns. Como desejos.
Fiquei olhando dura para a cara serena de .
- Bem... E eu acho que... Já estamos aptos – Aptos? Segurei a risada – para dar um passo a mais na nossa relação.
- Um passo a mais? – perguntei.
- Eu quero um filho seu, ! – disse e eu caí da cama. – Tudo bem, ? – Ele olhou preocupado enquanto eu me levantava.
- Um filho... Ou seja, isso indica...
- Sexo – ele disse meio vermelho. Ri cínica.
- , isso é impossível agora! – eu disse ainda rindo com dificuldade.
- Por quê?
- Bem... Porque você ainda está em tratamento e pode ser prejudicial. É melhor você estar curado, aí discutiremos isso.
- Não tem nada a ver! EU POSSO MORRER, ! – ele disse com a voz chorosa.
- Eu sei! Mas, no momento, você só está melhorando! Você vai se curar, eu tenho certeza! – eu disse me aproximando dele, mas ele recuou.
- ! Ouça bem: eu posso morrer! Eu quero um filho seu! A não ser que você não queira um filho meu!
- Claro que quero um filho seu! Não agora! Nem terminei a escola, nem decidi faculdade, nada...
me olhou com uma cara séria.
- É tudo culpa sua – ele disse.
- O quê? – perguntei pasma.
- É tudo culpa sua eu sofrer tanto por causa da doença! Tenho tanto medo de te perder! – ele disse.
- Você não vai me perder!
- Já perdi – ele disse frio. – É melhor tudo acabar aqui, .
Meus olhos se encheram de lágrimas.
- Como?
- Assim nenhum de nós sofre – ele disse segurando o choro. – Vai embora, , por favor!
Peguei minha bolsa e saí correndo da sala. saiu atrás de mim, perguntando o que aconteceu. Eu disse que queria ficar sozinha e corri para casa. Tranquei-me no quarto, chorando. Lizzie perguntou se eu queria jantar, disse não. me ligou, mas não atendi.
No dia seguinte, fui para a escola com a cara inchada. Os meninos me disseram que contou. chegou e me abraçou, mas tentei disfarçar dizendo que tudo estava bem. Algumas pessoas me olhavam e umas meninas fofocavam, dizendo que eu tinha levando um pé na bunda. Prefiro não pensar assim.
A primeira aula era de física, na qual meu companheiro era . Olhei nosso lugar e saí correndo. As lágrimas correndo fortes pelo meu rosto. Cheguei em casa e bati a porta com toda a força que consegui reunir. Cheguei a rachar o vidro da janela do lado. Subi correndo não ligando para o que iriam pensar. Afundei minha cabeça no travesseiro e comecei a gritar de dor e a chorar. Nunca tinha me sentido assim. Nem quando caí de dois metros (show de uma banda qualquer, um monte de bêbado, eu querendo ir embora e... fui empurrada. Caí de dois metros) doeu tanto! Meu coração batia lentamente e desesperado.
Queria me matar agora. Nunca tive esse sentimento antes. Levantei-me correndo e fui para minha janela. Fiquei olhando e pensando se deveria pular... e morrer. Assim a dor finalmente passaria. Quando metade do meu corpo estava para fora, minha mãe entrou em meu quarto.
- !!!! O que você está fazendo menina? – ela disse desesperada.
- O terminou comigo. – Narrei a história completa e contei sobre meu desejo.
- Por favor – ela suplicou. – Não quero perder mais ninguém. Eu não quero perder você! – Ela começou a chorar e nos abraçamos. – Promete nunca mais fazer algo assim?
- Prometo – eu disse num sussurro.
Talvez as coisas passassem. Lentamente, mas um dia passariam.
Eu acho.

A dor de perder alguém, duplamente, é intensa. Acordei naquela noite desesperada. Na verdade... Gritando e chorando.
Tentei ligar para várias vezes, mas ele não atendeu. Parece que nem a parte do “seremos só amigos” teremos. Comecei a chorar e agarrei meu travesseiro, que ainda tinha o cheiro do perfume dele. Comecei a rir, lembrando daquele dia.

/flashback
- Para, ! – tentava me fazer dançar. O tapete do lado da minha cama estava jogado em algum canto.
parou rindo. Ele dormiria essa noite em casa. No outro quarto, claro, mas suas coisas estavam no meu.
- Crianças... Hora de dormir – minha mãe anunciou na porta.
Concordamos e abriu sua mochila e pegou seu perfume.
- Para você dormir pensando em mim. – E borrifou o perfume pelo meu travesseiro e todas minhas pelúcias. Ele me deu um beijo na testa e saiu.
/flashback

Aquele dia foi perfeito. Rimos e conversamos muito, até dançou tango com minha mãe! Foi hilário. Peguei meu mural e tirei todas as fotos com . Deixei a que tinha apenas todos os amigos juntos. Joguei tudo num canto e liguei o rádio no máximo. Alguma música agitada tocava, mas eu nem prestei atenção.
Minha vida ta um droga!


Capítulo 10

Estava enfurnada em meu quarto há três dias pensando na vida... Só se ela tivesse o nome de . Acho que estou tendo uma crise existencial. Passava horas deitada, me empanturrando de chocolate e sorvete, vendo fotos, ouvindo músicas melancólicas e, se a me ligava, me lamentava com ela. Vida triste...
- !!! Sai dessa escuridão menina! – Lizzie gritava de fora.
- Não! – choraminguei.
- Tudo bem... Eu entro! – Ela escancarou a porta usando um vestido branco, meia calça preta e um casaco preto em cima. Ela estava divina, como sempre. Como minha irmã pode ser assim e eu nem passo da jeans, camiseta e All Star? Ela abriu um sorriso, que sumiu ao ver meu estado, deplorável. – Eu tive uma idéia. – Uau... ando muito sarcástica esses dias. Deve ser o chocolate. Nem tenho dormido direito... – Eu, você e mamãe num dia... “trash”! Comendo besteiras, fazendo panquecas com mel, chocolate, etc? Esse sábado. Te acordo às oito!
Hoje ainda é quarta! Droga! Amanhã tenho prova de geografia... Tenho que ir para a escola. Droga de telefone tocando. Minha vida tá uma droga e eu tô virando emo! Tenho que levar a minha vida adiante! Já sei! Vou me empanturrar de chocolate enquanto pesquiso faculdades. Pois é. Vida no terceiro ano não é fácil!
Peguei meu telefone e liguei para .
- Tô acabada – disse de cara.
- Nossa!
- Mas... Tá pensando em que faculdade?
- Cambridge ou Oxford. Falei com meus pais esses dias. E você?
- As duas... Mas prefiro Cambridge.
- Opa... chegou, vamos no... hospital – ela disse receosa. - Beijos.
- Tchau – eu disse sem emoção nenhuma.
Já que quero ir para Cambridge, hora de começar a estudar. Peguei minha bolsa e fui para a biblioteca.
Peguei alguns livros para estudar e voltei para casa. Continuei trancada no quarto. Devo ter engordado uns quatro quilos de tanto chocolate que eu comi esses dias.

Tenho certeza que fui mal na prova! Desenhei corações partidos na borda inteira e, pelo jeito, a escola inteira já sabia que eu e tínhamos terminado.
Voltei para casa e combinei com Lizzie que no dia seguinte compraríamos as coisas para sábado.

- HEY HEY YOU YOU I DON’T LIKE YOUR GIRLFRIEND!
Eu, mamãe e Lizzie cantávamos, ou melhor, gritávamos ouvindo meu cd da Avril. Fazíamos bolo de chocolate, e a cozinha estava uma bagunça. Já era quatro horas e eu estava de short e regata.
Peguei a colher que estava usando, subi numa cadeira e comecei a cantar, mamãe e Lizzie começaram uma coreografia hilária.
- ! – Lizzie chamou e eu olhei. Ela jogou um pouco da massa do bolo, que a gente deveria estar batendo, em meu cabelo. Eu gritei e joguei nela, e assim começamos uma... guerrinha.
- Meninas... A campainha! – mamãe disse gritando por causa do som alto e gargalhando.
- Eu atendo – eu disse e corri para a porta. Abri-a e meu sorriso sumiu do rosto. – ? – minha voz falhou.
- ... – ele começou e olhou meu estado: short jeans curto, uma regata branca, Havaianas e toda suja de comida. – Desculpa.
Eu bati a porta na cara dele e comecei a chorar. Ele abriu a porta de leve, com medo de me machucar. Escancarei-a e disse:
- O que você quer? Arruinar minha vida? Impossível! Você já fez isso! – eu disse com a voz chorosa e tentei fechar a porta, mas ele segurou com o pé. – Vai embora, !
- Eu não vou mais te abandonar!
- Você já me abandonou. Sai daqui, .
Eu bati a porta na cara dele e desliguei o rádio. Minha mãe e Lizzie chegaram para ver o que aconteceu e começamos a ouvir alguma coisa.

Broken hearts and last goodbyes
Corações partidos e últimos adeus
Restless nights but lullabies
Inquietas noites mas canções de ninar
Helps make this pain go away
Ajudam a fazer essa dor ir embora
I realize I let you down
Eu percebi que eu te magoei
Told you that I'd be around
Te disse que estaria junto com você
Building up the strength just to say
Obtive força apenas para dizer

I'm sorry
Me desculpa
For breaking all the promises
Por quebrar todas as promessas
that I wasn't around to keep
que eu não estava por perto para cumprir
It's on me
Está em mim
This time is the last time
Esta vez é a última vez
that I will ever beg you to stay
que eu irei te pedir para ficar
But you are already on your way
Mas você já está em seu caminho

Abri a porta e vi com seu violão cantando. Coloquei a mão na boca segurando o choro.

Filled with sorrow, filled with pain
Preenchido com tristeza, cheio de dor
Knowing that I am to blame
Sabendo que sou o culpado
For leaving your heart out in the rain
por deixar o seu coração tão machucado
And I know your gonna walk away
E eu sei que você irá embora
And leave me with the price to pay
E me deixar na mão pagando pelo que eu fiz com você
But before you go I wanted to say
Mas antes de ir eu queria dizer

Yeah!

That I'm sorry
Me desculpa
For breaking all the promises
Por quebrar todas as promessas
that I wasn't around to keep
que eu não estava por perto para cumprir
It's on me
Está em mim
This time is the last time
Esta vez é a última vez
that I will ever beg you to stay
que eu irei te pedir para ficar
But you are already on your way
Mas você já está em seu caminho

Can't make it alive on my own
Não é possível torná-la viva em mim mesmo
But if you have to go, then please girl
Mas se você tem que ir, então por favor garota
Just leave me alone
Me deixa em paz
Cause I don't want to see you
Porque eu não quero ver você
and me going our separate ways
E eu em caminhos separados
I'm begging you to stay
Eu estou implorando para você ficar
If it isn't too late
Caso não seja tarde demais

I'm sorry
Me desculpa
For breaking all the promises
Por quebrar todas as promessas
that I wasn't around to keep
que eu não estava por perto para cumprir
It's on me
Está em mim
This time is the last time
Esta vez é a última vez
that I will ever beg you to stay
que eu irei te pedir para ficar
But you are already on your way
Mas você já está em seu caminho

terminou a canção, jogou o violão de lado e me abraçou.
- Eu te amo. Me desculpe – ele disse me abraçando forte.
- Amor... Você não pode sair assim do hospital! – eu bronqueei e rimos.
Nos beijamos e fui levar no hospital. Do jeito que estava.
- Eu te amo.


Capítulo 11

A vida é um mar de rosas, lá lá lá!
Tudo bem, viajei legal, mas... no momento, acho que eu posso. Parecia que eu tinha perdido meu pai duas vezes. Sério. Tem coisa melhor do que: ter a casa só para você e passar o dia no telefone com o namorado (já que a mãe dele vetou visita)? Lizzie saiu com e mamãe foi levar vovó e vovô no aeroporto, depois ia na casa de uma amiga.
- ! Precisamos conversar! – Lizzie entrou correndo em casa.
- Amor, a Lizzie chegou. Te ligo depois. Te amo. – Desliguei o telefone e me virei para a garota surtada ao meu lado – O que foi?
Ela ficou quieta. Hesitava.
- Você é virgem? – ela perguntou. Odeio quando me perguntam isso, mas... é a Lizzie!
- Sou – respondi envergonhada – Por quê?
Ela ficou quieta. Diz que não, meu Deus!
- Então... Eu... Eu acabei de perder a minha pro – ela soltou isso num jato.
Tudo bem... Minha irmã, um ano mais nova, acaba de perder a virgindade com um dos meus melhores amigos e, bônus, amor dela. Eu não tô podendo.
- Uau... Mas... Vocês se preveniram? – perguntei, bancando a irmã mais velha.
Ela corou.
- Não... Mas a gente queria, só que foi tão rápido que nem lembramos... E a minha menstruação acabou anteontem, ou seja, sem nenhum risco! – ela disse vendo minha cara de surpresa mudar para raiva.
- Como assim? Ai meu Deus! Elizabeth , as coisas não funcionam assim! – Ela odeia quando dizemos seu nome inteiro. – Lizzie... Você é minha irmãzinha mais nova – que acabou de perder a virgindade, fato – e eu não quero que faça besteira.
- Eu sei... Desculpa, mas não foi muito pensado.
- NÃO FOI MUITO PENSADO? – estrilei, levantando-me e ficando de pé na frente dela. – O terminou comigo porque eu disse que não queria transar com ele! E a gente namora faz um tempo já! Lizzie!
- Sabia que você não ia entender! – ela disse triste. Eu me ajoelhei em sua frente e coloquei a minha mão em seu queixo.
- Da próxima vez, toma cuidado, e converse antes! – bronqueei – Mas... E aí? Foi bom?
- Muuuuuito!
Nós duas rimos e fomos fazer um brigadeiro.
- O era...?
- Não – ela respondeu enquanto mexia o brigadeiro de panela. – Foi isso que me deu mais confiança.
- Ai, meu Deus. O que eu faço com você, menina?
- Não sei... Ah! Vamos alugar um filme?
Colocamos o brigadeiro para esfriar e fomos na locadora. Passamos na frente da sessão de filme pornô e Lizzie se demorou.
- Elizabeth! Sai daí, menina! Acabou de fazer, caramba! – Nós duas rimos.
No final escolhemos “Eu e as Mulheres”.
Estávamos sentadas, na parte que Carter e Lucy estão na floresta, quando mamãe chegou. Ela falava no celular.
- Hahaha! Tudo bem. Nos falamos depois, Carter. – Coincidência de nome? – Olá, meninas.
- Carter? – eu e Lizzie perguntamos.
- É... É o Doutor Carter Green. – Dr. Carter Green? É o médico do . – Ele é...
- O médico do . Eu sei – eu disse olhando significadamente para Lizzie.
- Ele é irmão da Lucy. – Lucy é a amiga da mamãe. – O que está acontecendo com você, Sra. ? – ela perguntou para si mesma e rimos. Jogou o celular e a bolsa na poltrona do lado e sentou ao meu lado.
- Como foi o dia? – ela perguntou e eu e Lizzie nos olhamos preocupadas.
- Normal – respondemos sorrindo.

Estava trancada em meu quarto, lendo alguma coisa para a faculdade, quando Lizzie bateu na porta. Já era cinco horas da minha monótona segunda-feira. A Sra. vetou minha visita por uma semana depois do que fez por mim. Voltando a Lizzie... Levantei-me e abri a porta. Ela estava com o cabelo bagunçado preso em um rabo de cavalo e sorria abobada.
- ... É estranho? – ela me perguntou.
- O quê? O fato de a minha irmã estar transando com um dos meus melhores amigos...
- Todos os dias – Lizzie acrescentou.
- Sem prevenção? – continuei – É. Bem estranho sim. E preocupante! – eu disse brava.
- Poxa, , entende. Eu realmente gosto do e, pelo jeito, ele realmente gosta de mim! – ela disse ficando brava.
- Eu sei disso, Lizzie. Só não quero que você faça besteira! Você nem contou para a mamãe!
- Eu sei! Eu sei! Afe, . - Ela saiu bravinha do meu quarto (do mesmo jeito que ela ficava quando eu ganhava em algum jogo ou escolhia a Barbie mais bonita). Eu ri e voltei para meu livro. – INVEJOSA – Lizzie gritou do quarto dela e eu levantei a cabeça. – SÓ PORQUE UM CARA JÁ ME COMEU E VOCÊ É VIRGEM!
Não sei por que, mas isso me magoou profundamente. Não pelo o que disse, nem pelo modo. Mas QUEM disse foi o problema. O pior de tudo foi minha resposta.
- MAS EU NÃO DEIXO QUALQUER UM ME COMER! NÃO FICO DANDO POR AÍ! – Peguei o livro e o celular e saí de casa. Antes de fechar a porta, ouvi Lizzie gritar.
Coloquei os fones do meu iPod no ouvido e liguei uma música qualquer. Segurava o choro e andava depressa. Cheguei numa pracinha e me joguei no banco.
- As coisas não vão se resolver assim – alguém disse.
- Eu sei.
- Então por que ainda está aí? – a voz continuou.
- Poxa, pai... Eu não tenho nenhuma idéia e... PAI? – Sentei-me correndo e olhei. Meu pai estava sentado à minha frente, mas... meu pai morreu.
- Pai?
- Sim? – ele respondeu.
- AAAAAAAAAAAAH! UM ESPÍÍÍRITO! ALGUÉM ME SALVA! SOCORRO! – comecei a gritar.
- Ei, ei, ei! ! Chega! Eu só vim ajudar! – ele disse e, quando eu pisquei, ele não estava mais lá.
Meu coração batia acelerado. Algumas pessoas na rua me olhavam curiosas. Ignorei-as e decidi falar com alguém. Ou seja: , O Culpado. Ri com esse meu pensamento e fui para a casa dele.
A mãe dele abriu a porta e eu entrei. Eu adorava a sala do . Era grande. Pareço uma criança.
- ? – finalmente chegou. – O que foi?
- A gente precisa conversar.
- TCHAU, CRIANÇAS! FUI FAZER COMPRAS – a mãe dele gritou fechando a porta.
- Sozinhos – disse sorrindo.
Sorri de volta e me preparei para falar.
- É sobre a Lizzie.
Ele ficou quieto. E com vergonha.
- Ela te contou? – ele perguntou.
- Só faltaram os mínimos detalhes – eu disse rindo. Melhor descontrair, certo? Ou não? riu também, e disse:
- É por causa da camisinha, né? Eu sei que você tá preocupada, mas... Não vai acontecer nada. – pegou minha mão e me levou até o quarto dele. A cama desarrumada.
- Ela esteve aqui hoje – ele disse e eu fiz uma cara de nojo.
Ele me guiou até o banheiro e abriu uma gaveta. Tinha umas dez camisinhas para mais lá dentro.
- E você não usa por que? – eu perguntei brava.
- Na hora acabo esquecendo de por – ele disse envergonhado.
- ! Que mau exemplo! E SE ELA ENGRAVIDAR? – surtei e gargalhou.
O telefone tocou e ele atendeu. Na outra mão, ele pegou uma camisinha e começou a passar no meu rosto. Nojento...
- Pára, ! Que noooooojo! – eu estrilava no maior estilo Patricinhas de Beverly Hills.
- Sim, ela está – disse rindo e passando o telefone para mim – É o .
- Alô? – eu disse ainda rindo e tive que explicar o que aconteceu, desde o momento que Lizzie disse que perdeu até agora.
- Tenho uma novidade!
- Conta – eu disse e me joguei na cama do .
- Vou continuar o tratamento em casa! - Uau! Nossa... Uau! Tô super feliz!

Andava com o fone no ouvido e a música que tocava no meu iPod agora era Shimmy A Go Go - Short Stack. Pensava no que me disse. Tratamento em casa é ótimo!
- Já arranjou alguma solução? – a mesma voz me perguntou.
- AAH! Que susto, pai! Um espírito – estremeci com a palavra – não pode aparecer assim!
- Eu não sou um espírito! – ele disse sorrindo.
- Se você não é um espírito, o que você é? – eu perguntei tentando manter a calma. E, assim, ele sumiu de novo. Droga...
Entrei em casa e fui para meu quarto.
A Lizzie vai fazer besteira, eu sei. Isso era a única coisa que pensava.
- Não exatamente – a voz do meu pai apareceu.
- O quê?
- Sobre Lizzie fazer besteira – ele disse e sorriu. Mas eu só pensei isso, então ele deve ser alguma coisa da minha cabeça. Uma alucinação?
- Eu tô alucinando? – perguntei na maior normalidade.
- Talvez. – E ele sumiu novamente.
Fiquei quieta por um tempo e depois ouvi o rádio de Lizzie ser desligado.
- Liz? Lizzie!!!
Ela entrou de cara fechada.
- O que é?
Contei que tinha conversado com e só queria cuidado. Abraçamo-nos e rimos. Pedi desculpas e fomos jantar.
Já faziam três semanas que havia briguado com Lizzie. Estava na casa de , conversando com ele e vendo meu amor correr para o banheiro.
- Amor – gritei. – Lizzie mandou uma mensagem. Preciso ir para casa.
- Tchau – ele disse em meio a um vomito e saí do quarto.
No caminho, meu telefone tocou. Lizzie, desesperada, falava coisas sem sentido.
Comecei a correr e logo estava em casa.
- Liz? Lizzie? O que foi? – eu entrei perguntando.
- Tá atrasada! – ela disse desesperada. Meu único pensamento foi: fodeu!
Fiquei paralisada na poltrona. Lizzie correu para o banheiro e trouxe um teste de gravidez.
- Fiquei com medo de fazer sozinha – ela disse envergonhada.
Esperávamos o resultado. Enquanto isso, subi no meu quarto.
- Droga! Droga! Droga! Irresponsável! – eu dizia tirando meu All Star. – É só as coisas voltarem a melhorar e ela estraga tudo!
- Não pense assim – a mesma voz voltou.
- O que você quer? – perguntei à voz.
- Te ajudar.
- É difícil, hein? – eu disse, tirando a calça e colocando um moletom.
- O futuro é uma caixinha de surpresas – a voz disse e olhei. Meu pai – ou o que isso é dele – estava sentado na janela e sorria para mim. – Pense nisso. – E sumiu.
Fiquei parada no meu lugar.
- Vai pensar? – a voz perguntou atrás de mim.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! – Saí correndo do quarto e fui falar com Lizzie. Ela estava estática no sofá. – EU TÔ ENLOUQUECEEEEENDO! – escandalizei.
- Não.
- Como ‘não’, Elizabeth ? FALA SÉRIO! E...
- Negativo! – Lizzie começou a gritar e a pular em mim. Eu comecei a gritar e a pular com ela.
Ficamos abraçadas um bom tempo.
- Viu? – a voz inundou meus ouvidos.
- Ouviu isso, Liz?
- O quê?
- O papai!
- HAHAHAHA! Deve ser coisa da sua cabeça. – Ela saiu e deu um pedala em mim. É. É coisa da minha cabeça. Mas realmente assusta!
Estava vendo MTV quando Lizzie gritou do banheiro:
- AAAH! CHEGOU! ALELUIA!
Eu só olhei para a porta. Peguei o telefone. Liguei para e contei tudo. Ele ria. Muito!


Capítulo 12

Acordei aquela manhã e me espreguicei. Coisa básica. Nem tinha terminado de me levantar e meu celular tocou. Li no visor “” e atendi.
- Alô – eu disse meio sonolenta.
- AMOOOR! disse agitado. – Eu já tô em casa! Passa aqui com o pessoal depois da escola. Minha mãe vai fazer brownie. Que saudade do brownie dela! Então, passa aí, e ela vai em matar! Os créditos e bla bla bla, beijos te amo.
Ele desligou e eu ri. Esse jeito dele – que não nos deixa dizer nada – é hilário.
Tomei um banho rápido e desci. Lizzie e mamãe conversavam animadamente.
- O que eu perdi?
- Eu vou fazer uma festa de debutante! – Lizzie disse animada e senti meu humor despencar.
Lizzie faria dezesseis anos em um mês. Uau. Minha irmã tá grande já! E eu já tenho dezessete anos! AAAAAH!
- Legal – foi a única coisa que pude dizer.
- Mas vai ser assim, vou usar a herança do papai, sabe? Então, vai ter valsa, e eu preciso de quinze amigas e amigos para fazerem os pares. Aliás, o meu vai ser o – ela sorriu – e o seu vai ser o , claro. Ai vou chamar a , o , o e alguma cheerleader e minhas amigas – Lizzie tagarelava animada.
Os preparativos começariam em uma semana e Lizzie estava super animada. Lembro que nos meus dezesseis anos eu fui ao show do Simple Plan (com direito a camarim!!!) com a . Encontramos , , e lá. E depois fomos comer pizza. Foi simplesmente perfeito. Nunca entendi muito essas cosias de festa de debutante. Quer dizer, fui a várias ano passado, mas... não é muito minha praia.
- Os vestidos que e cia terão que usar vai ser roxo com strass rosa...
- NÃO! – eu disse. – Liso, por favor.
- Tudo bem... – Lizzie pareceu assustada e voltou ao seu discurso de festa perfeita.

Estava sentada em um banco do pátio quando chegou.
- Sua irmã acabou de falar da festa comigo e com o – ela disse, sentando-se ao meu lado.
- Se você disser mais alguma coisa disso hoje, eu te mato! NÃO aguento mais!
Ficamos conversando até o sinal bater.
No intervalo, falei rapidamente com os meninos ( ficou de falar com , que estava morrendo de cólica).

- zinho! – entrou na sala de dizendo isso e rimos.
- zinho! – Eles se abraçaram de um jeito bem gay e rimos.
- Poxa, , meu namorado não. O tudo bem, eu sempre suspeitei dele, mas o não – eu disse e apanhei de enquanto os outros riam.
Ficamos conversando horas, até que solta a maldita pérola:
- Sua irmã me ligou para falar da festa.
- AH NÃO! – Eu me deitei no sofá ao lado de . - Eu não mereço isso! – eu disse e todos riram. A nossa conversa super animada sobre shows que queríamos ir esse ano foi interrompida pelo meu assunto que eu chamo de ‘inferno particular’: a festa de Lizzie!
- Parece que vamos organizar um casamento e Lizzie é a noiva!
- E o é o noivo – disse e rimos.
- E você, ? Como está o coracebo? – perguntou sorridente.
corou e ficou em silêncio, enquanto todos olhávamos para ele.
- DÁ PARA PARAR DE ME ENCARAR! – ele gritou e rimos. – Assim. No momento, ninguém, mas parece que vem uma intercambista do Brasil e, bem... Vou ficar de olho nela – ele disse fazendo cara de safado.
- Seu bobo! Ela vai ser minha “irmã”! Eu não quero você como cunhado! – disse e rimos. Me lembrei! A menina vai passar um ano aqui com a gente, e vai ficar na casa da .
- Coitada da Flora! – disse e rimos.
- Vai ser legal ver alguém do meu país de novo – eu disse com cara de sonhadora.
- Pois é. Também acho. Vou aprender a falar português, aí a gente pode fofocar sem nenhum menino entender! – disse empolgada e os meninos fizeram cara de indignados.
- Droga! Um cara que vai ajudar na festa vai lá em casa hoje. Eu tenho que ir. – Despedi-me de com um selinho e me virei para (e o resto). – Aprendam como brasileiros se cumprimentam. Pelo menos os de São Paulo. A menina é de onde?
- Jundiaí, eu acho – disse.
- Tá legal – eu disse, e dei um beijo na bochecha de cada um, deixando-os com umas caras meio assustadas. Eu ri enquanto me dirigia a porta. – Se acostumem!
Eu andava em direção a minha casa com um sorriso bobo no rosto. Só de saber que veria uma brasileira, sem ser da minha família, em dois dias me animava.
Abri a porta e vi mamãe, Lizzie, um cara de óculos com armação preta e uma mulher de terninho e rabo-de-cavalo.
- Oi? – eu disse. – Desculpa pelo atraso.
- Querida, esses são John e Alysson. Eles vão ajudar a arrumar a festa.
- Não é muito caro contratar um desses? – eu perguntei na maior cara de pau.
- Alysson estudou comigo no High School. Éramos grandes amigas, e John foi meu namorado, até eu descobrir que ele era gay. Mas continuamos grandes amigos! – Mamãe disse sorrindo e eu fiz uma cara de assustada. – Sente-se.
Me sentei ao lado de Lizzie e ouvi as coisas mais banais, do tipo: cor da toalha, enfeites, etc. Lizzie parecia que ia casar. Sentia que ia vomitar. Dei a desculpa que estava com cólica e fui para meu quarto.

Acordei atrasada e tive que pular o banho. Coloquei uma roupa básica e saí de casa sem café. Corri o caminho todo. Cheguei na escola arfando e o sinal batia no exato momento em que entrei pelos portões. Corri direto para a aula de inglês.
- Que demora, ! – disse estranhando.
- Acordei atrasada. E aí? Animada com a Flora? Ela chega amanhã.
- Eu sei! E, aliás, vai comigo?
- Como assim? Eu não posso. Não sou da família e...
- Eu preciso de ajuda em Álgebra. A gente vai buscá-la às seis da tarde. Você fica em casa estudando comigo, e conversando, e depois vamos buscá-la e te deixamos na esquina da sua casa – ela disse animada.
- Tá. Tudo bem – eu disse pegando meu caderno na mochila.
ficou a aula toda murmurando coisas como: “é amanha”, “vamos juntas” e “que emoção!”. Parecia uma criança.

Estávamos revisando a matéria nova de Álgebra, pela quinta vez, e o pai de nos chamou.
- Vamos? Ela chega logo.
pulou da cama e colocou o All Star dela. Recolhi minhas coisas e fomos.
Esperávamos na frente do portão de desembarque 4. tremia ao meu lado e sorria radiante. Eu ria da expressão de criança dela.
- Ali está! – O Sr. apontou. Era uma menina alta. Os cabelos louros (bem louros) e cacheados na ponta. Cara, eu quero esse cabelo! Ela usava uma calça jeans skinny e uma camiseta azul com morangos.
- Oi. – Ela chegou sorrindo. Todos se apresentaram. Eu virei e disse (em português):
- Oi, Flora! É ótimo encontrar alguém do Brasil depois de tanto tempo!
- VOCÊ É DE LÁ!? – ela disse impressionada. – Precisamos conversar! – ela disse sorrindo.
No carro, fomos todos conversando. Flora contava um pouco da sua vida. Ela fazia algumas perguntas também.
- Tchau. Até amanhã – eu disse, esquecendo-me completamente que amanhã não teríamos aula. É SÁBADO!
Antes de entrar em casa, liguei para mamãe dizendo que ia na casa do . E fui, claro.
- Amor – eu disse e o cumprimentei com um selinho estalado. – A Flora é linda!
- Concorrência? – ele perguntou e eu joguei uma almofada nele.
- Não, seu bobo! Comentário – eu disse e mostrei a língua, como uma criança de cinco anos. Ele riu.
- Oh! ! Vai ficar para o jantar? – A Sra. perguntou.
- Se não tiver problemas...
- Oh não! , seja útil e ponha a mesa! – minha sogra bronqueou e eu ri.
- Tô doente. – tossiu falsamente, fazendo eu e sua mãe rir.
- Tudo bem. Fiquem aí – ela disse com voz de derrotada.
Eu liguei para casa dizendo que ia jantar na casa do meu amor, lindo maravilhoso, e isso tá ficando cafona.

Saí da casa do por volta de meia-noite. Vimos um filme com seus pais (V de Vingança) depois do jantar. Nossa casa tinha mais ou menos cinco quarteirões de distância e resolvi ir andando. Afinal, nada pode acontecer. Ou pode? Coloquei meu iPod no ouvido e liguei Gun’s N’ Roses. É uma coisa que me ajuda a pensar, não sei por que. Fui cantarolando November Rain, até que ouvi um barulho. Abaixei o volume da música. Parei de andar. Não ouvi mais. Voltei a andar, mas com o som baixo. Estava cautelosa e com medo. Continuei em silêncio.
Mais uma vez o barulho. Olhei para trás assustada e vi dois homens no escuro, parados, encarando-me. Uma voz em minha cabeça me mandou correr.
Continuei a andar, como se não fosse comigo. Uma risada estrondosa me fez olhar para trás e ver que os homens corriam para mim. Tentei correr, mas não rápido o suficiente.


Capítulo 13

Vi o desespero passar em meu rosto lentamente. Meu coração batia rapidamente.
- Ei, mocinha! – um deles gritou.
- Como vai a vida? – o outro perguntou rindo.
- Não corra! – O primeiro me jogou no chão. – Não vale a pena. – Eles riram e eu tentei me soltar das mãos do meu agressor.
- Fica aí. – O outro me empurrou contra o chão. – Ainda temos um serviço a fazer. – E ele jogou minha bolsa longe.
Eu tremia, mas tentava me controlar.
- O que vocês vão fazer? – eu perguntei, na maior inocência.
Eles se olharam e riram.
- Vamos abusar.
- Te molestar.
- E tudo o que a gente quiser.
Eu comecei a gritar, mas um deles tampou minha boca.
- Nem ouse – ele sussurrou e eu fechei os olhos.

Senti o calor do sol de leve em minha pele nua. Alguns curiosos me observavam e senti alguém jogar um cobertor em mim. Essa mesma pessoa me guiou para dentro de sua casa. Abri os olhos. Olhei para o lado e vi a professora Willis me observando. Ela era professora de francês e eu a adorava.
- O que aconteceu, querida?
Eu resumi até a parte que fechei os olhos. Contei que senti muita dor. Ela parecia chocada. Deu-me uma roupa e fui me trocar, enquanto ela ligava para minha mãe, que parecia desesperada.
Pouco tempo depois vi: , , Mamãe e Lizzie parados na sala da Sra.Willis.
- Oi?
Todos avançaram e começaram a fazer perguntas. Respondi com calma, sentindo meu corpo doer por dentro, e senti uma coisa – além de nojo – por aqueles dois homens de ontem. Uma vontade que eu nunca tive: vontade de matar.
Eles me levaram ao hospital. Os policias nos encontrariam lá.
Detalhei – mais uma vez – a noite anterior. O médico exigiu minha permanência no hospital por pelo menos vinte e quatro horas.

Estava deitada na cama. Parada. A TV ligada na MTV passava algum clipe no MTV Lab ao Cubo. A banda agora era Short Stack e meus lábios se moviam de acordo com a letra de Shimmy A Go Go. Nessa hora, o delegado entrou seguido de minha mãe. tentava me ligar, mas Lizzie atendia e dizia que eu não estava bem – o que era verdade.
- Temos novidades sobre os exames e sobre os delinquentes.
Sentei-me rapidamente na cama e desliguei a TV.
- E? – eu perguntei nervosa.
- Seu exames não deram nada de errado. Você só deverá comparecer a psicólogo por no mínimo um mês. E... – Ele fez uma pausa. – Esses infratores já passaram pela delegacia, como você nos mostrou no retrato-falado. – O delegado me mostrou duas fotos. Eram os mesmo homens da noite anterior. – São os mesmo? – Eu concordei com a cabeça. – Muito bem.
Eles se retiraram e eu liguei a TV novamente, acompanhando Princess, tentando esquecer os fatos.
Minha mãe disse que eles iriam atrás dos infratores. Eu teria alta no dia seguinte. A Sra. Willis foi me visitar. Ela disse que algumas fofocas sobre o acidente vazaram na escola, mas ninguém confirmou nada.
Meu dia foi miserável: visita da , , , e Lizzie. Mamãe comigo no quarto e falando com o delegado. No final, acabei ligando para .
Ele parecia minha mãe de tão preocupado e ficou xingando os infratores foi meia hora. Eu ria devagar – meu estômago doía.

- Muito bem, Srta. . Está dispensada – o médico disse e eu não deixei de sorrir. – Você precisará me visitar – ele deu uma risada – toda semana, e qualquer dor que seja também venha me ver!
- Obrigada, Doutor Green – mamãe disse animada.
- Pode me chamar de Carter – ele disse sorrindo e eu e Lizzie trocamos olhares significativos.
Fomos para casa e mamãe parecia que cuidava de uma criança.

Estava deitada no colo de Lizzie assistindo Scooby Doo 2 – Monstros a Solta [n/a: esse fato é verdade. Eu dormi no colo da minha irmã de 9 anos. Folgada? Qéisso.] quando o delegado entrou em casa.
- Sra. . Srtas. – ele nos cumprimentou formalmente e eu acordei em um salto.
- Novidades? – eu perguntei desesperada.
- Sim. Precisamos que você deponha.
Ele me explicou que era preciso para acusar os infratores. Essas coisas são bem complicadas na verdade.
A audiência seria em três dias – coisa rápida.

Estava deitada em minha cama, tentando ficar calma, quando minha mãe apareceu na porta.
- Filha? Está na hora – ela disse séria. Hoje eu iria depor.
Levantei-me devagar. Corri para o banheiro e terminei de me arrumar. Saí do quarto e Lizzie estava na porta.
- Boa sorte, sis! – ela me disse e eu sorri.
Saí de casa e entrei no carro de mamãe. Ela tentava falar coisas do tipo: vai ficar tudo bem, relaxe, respire, só responda o necessário, o advogado estará lá, lembra do que conversamos? etc.
- Senhoras e senhores... – Bla bla bla. O juiz começou e eu bocejei. Meus olhos se encheram de lágrimas. E finalmente minha vez chegou.
Eu relatei mais uma vez o que aconteceu naquela noite.
- Eu saí da casa do meu namorado por volta da meia-noite. Estava andando na rua, voltando para minha casa que fica a cinco quarteirões de distância. Até que eu ouvi um barulho – eu fiz uma pausa – o barulho sumiu e eu voltei a andar. Pouco depois, o barulho se repetiu e eu vi dois homens parados no escuro me encarando com malícia. Eu tentei correr, mas eles me pegaram. Eles me jogaram no chão e prenderam minha mão. – Meu corpo se estremeceu. – Eu perguntei o que eles iriam fazer e eles responderam “vamos abusar, te molestar e tudo mais o que quisermos”. Algo assim. Eu gritei e eles tamparam minha boca. O primeiro deles, eu acho, rasgou minha camiseta, aí eu fechei os olhos. Sentia dor. E só fui acordar no dia seguinte.
Eu disse, estremecendo no final do relato.
O juiz falou mais algumas coisas, os advogados fizeram mais algumas perguntas e eu parei de respirar quando os dois suspeitos entraram.
- São eles? – o juiz perguntou.
- Sim, eles! – eu disse tremendo, minha voz algumas oitavas acima.
- Eu condeno Josh Maden e James Pork a prisão perpétua cada por homicídio culposo, estupro, roubo, formação de quadrilha e tráfico de drogas.
Uau. Prisão perpétua.
Os guardas levaram Josh e James para fora e eles saíram xingando. Minha mãe se aproximou de mim.
- Tudo certo, pequena, tudo certo! – E eu vi uma lágrima correr por seu olho azul. Ela me beijou na testa e saímos do Fórum.
- Mãe, me leva na casa do ? Todo mundo ta lá esperando o fim da história.
Ela murmurou um “claro” e me levou. Mas estabeleceu algumas regras: sair enquanto estiver dia se for a pé e se for de noite, pedir na maior cara-de-pau uma carona básica. Claro, não queria ser estuprada de novo. Bem, mas como os caras me molestaram eu – teoricamente – não perdi minha virgindade. Um dom que é do e... AI MEU DEUS! Quem sou eu e o que eu estou pensando?
Chacoalhei a cabeça tentando fazer meus pensamentos pervertidos sumirem e quando percebi, estava na frente da casa de . Desci correndo do carro e bati na porta. abriu a porta e pulou em mim, arrastando-me para dentro e fechou a porta.
- Amor!!! – correu para mim. – O que foi? No que deu?
Todos perguntaram afobados e eu contei, fazendo todos soltarem exclamações de alívio.
me deu um selinho e eu abracei sem fôlego.
Ficamos conversando até tarde – meia-noite especificamente – e decidimos dormir na casa do , para evitar problemas.
Pegamos todos os colchões – 8, Flora estava lá e Lizzie estava vindo – e colocamos todos no chão da espaçosa sala da família . As meninas arrumaram as camas e os meninos foram pegar um filme. Ou melhor, os meninos menos . Ele foi ajudar a mãe na cozinha. Depois que terminamos, nos sentamos no sofá e... Como posso dizer? Fofocamos MUITO!
Os meninos chegaram logo e trouxeram: Um Amor Para Recordar (ordem explícita das namoradas), Batman – O Cavaleiro das Trevas (eles escolheram, mas a gente gostou. Heath!), Um lugar chamado Nothing Hill (coisa da ) e...
- Tentamos pegar um pornô, mas não deixaram. Então pegamos American Pie mesmo! – disse e rimos.
Todos fomos ajudar a Sra. a por a mesa. Terminamos e ligamos o rádio.
- Escolham um CD – disse apontando para mim, , Lizzie e Flora. Corremos para a estante de CDs e de cara eu peguei um.
- Que tal? – perguntei.
- Perfeito... – elas responderam.
Colocamos e esperamos começar. “Penny Lane” de cara. Rimos. Era um CD que gravamos para no aniversário dele de 14 anos. Todas as minhas músicas favoritas. começou a rir e eu fui dançando em sua direção. Dei um selinho nele e sentei-me.
- Abunde-se, amor – eu disse rindo.
Todos se sentaram e logo devoramos a macarronada a bolognesa preparada com muito amor, carinho e dedicação total a você pela titia .
Parecia que as coisas iriam ficar bem.
Por enquanto...


Capítulo 14

Estávamos assistindo Nothing Hill. segurava minha mão e a acariciava fazendo movimentos circulares com seu polegar. Passei meu braço em seu ombro e comecei a brincar com seu cabelo. Fiz um cachinho em uma mecha, mas na hora de tirar minha mão, o cabelo veio junto. Fiquei paralisada, olhando para minha mão. Pode ser exagerado, mas não consegui fazer mais nada. Tirei a mão de trás e a coloquei em frente aos meus olhos. olhou. Sua expressão foi assustada, e ele passou a mão no cabelo. Seu olhar foi de pânico e o meu de súplicia.
- Posso te pedir uma coisa? – disse ao meu ouvido e eu concordei. – Gente, podem ir vendo. A gente já volta.
Ele pegou minha mãe e me guiou até seu quarto. Entramos no banheiro e ele tirou uma caixinha.
- Por favor – ele pediu.
- Não. Eu não posso – minha voz falhou quando ele me entregou a tesoura e a maquininha.
- Só você pode fazer isso por mim – ele me disse com lágrimas nos olhos e me convenceu.
Comecei pela tesoura. Digamos que tirando o excesso. Vi cada pedaço de seu cabelo cair em meus pés. Depois de ver o pequeno estrago, peguei a máquina.
Olhei para .
- O estrago já está feito – ele me disse conseguindo arrancar um sorriso.
Liguei a máquina e comecei a passar nos restos de cabelo.
Vi uma lágrima escorrer pelo olho de . Ele a limpou.
- Tudo bem, amor. Pode chorar – eu disse o encorajando.
Terminei o serviço e limpamos o banheiro. Olhei para meu namorado – agora careca – e uma lágrima correu em meu rosto.
- Eu estou tão feio assim? – perguntou limpando a lágrima.
- Não. Você continua sendo lindo – eu disse bajulando-o. Ele me beijou. Eu retribuí o beijo com tanto amor que em pouco tempo estávamos ofegantes.
- Vamos voltar, antes que achem que estou te engravidando! – disse e eu ri. Muito.
Descemos de mãos dadas depois de trocar a camiseta. Aquela ficou cheia de cabelo.
Nos sentamos no sofá em silêncio. Era a parte em que ele vai atrás dela e todos prestavam atenção. Assistimos ao filme até o final, e, como todos prestavam atenção, ninguém percebeu a diferença. Até...
- AMERICAN PIE! AMERICAN PIE! – pulava ao nosso lado feito uma pipoca.
- Relaxa, cara. Eu ponho o filme. – se levantou rindo e foi a frente de todo mundo colocar o filme no DVD. As risadas cessaram. O silêncio estava no ar. Todos olhavam perplexos para .
- O que foi? Tô de verde? Tô cagado? – disse tentando fazer uma piadinha, sem sucesso algum.
- Não! Você tá careca! – disse.
Eu e explicamos o que ouve, e logo a Sra. apareceu na sala. E caiu em prantos. Mulher forte. Mas sensíííível! foi atrás da mãe explicar. Ele voltou logo e começamos a ver o filme. e eram os mais animados. Flora e Lizzie estavam no canto falando da festa de debutante de Lizzie que seria em duas semanas. Amanhã todos iriam em casa ensaiar a valsa. Animação: zero!
O segundo filme passou mais rápido do que imaginamos e decidimos arrumar as camas na sala.
Estendemos todos os colchões. Um ao lado do outro. Os meninos determinaram que eles só ficariam ao lado de meninas, então a seqüência de camas foi a seguinte: , eu, ( quase me espancou), , , Lizzie, Flora e . Colocamos os lençóis e, como em pleno Março o final de inverno e início de primavera reinava, pegamos edredons. Os meninos foram se trocar no quarto de hóspedes e nós, meninas, no quarto do .
- E aí, Flora? Já se interessou por algum gatinho? – Lizzie perguntou. Flora e Lizzie tinham a mesma idade e estavam em várias classes iguais.
- Bom... Tem alguns – ela disse envergonhada.
- Mas qual é o mais mais? – perguntei.
A garota corou.
- Pode contar pra gente, siiiis! – a encorajou.
- Tudo bem, tudo bem... O - ela disse enfiando a cara na calça que ela segurava.
- O NOSSO? ? QUE LEGAAAL! – Lizzie estrilou.
- Shiiiiiiiu! – Flora pediu corando ainda mais. Se isso fosse possível.
Ficamos conversando mais um pouco sobre isso e disse que faria – FARIA – o ficar com a Flora. Descemos e os meninos estavam conversando.
- Pronto! – anunciou.
Decidimos que os casais oficiais (eu, , e ) iriam para a cozinha preparar a pipoca e os outros (Lizzie, , Flora e ) iriam dar um jeitinho na sala. Voltamos logo com pipoca, refrigerante e chocolate. Nos jogamos nas camas e colocamos Um Amor Para Recordar. Olhamos no relógio do DVD: Meia-noite.
Decidimos que assistiríamos Um Amor Para Recordar, e Batman seria de manhã. Eu já sabia a história do filme décor, mas é completamente apaixonante.
A hora que Landon descobre que ela tem câncer foi a mesma hora que eu comecei a chorar. Realmente, eu posso entender o que esse personagem passa! conseguiu acabar com o clima romântico na área dizendo:
- A é o Landon do .
Pausamos o filme e ficamos rindo histericamente por um tempo. Quando demos ‘play’ minhas lágrimas já haviam cessado.
começou a falar junto de Jamie:
- O amor é paciente, o amor é bondoso, não tem inveja. O amor não é orgulhoso. Não é arrogante; Nem escandaloso. Não busca os seus próprios interesses. Não se irrita; Não se guarda rancor. Não se alegra com a injustiça... – ele fez uma pausa e eu continuei.
- Mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa. Tudo crê, tudo espera...
Nos olhamos e dissemos juntos:
- Tudo suporta!
Ele tocou meus lábios de leve e depois me beijou. Eu deitei minha cabeça em seu ombro. Ele ficou brincando com as pontas de meu cabelo.
Chegou no final do filme e todas as garotas estavam em prantos.
Mas, mesmo assim, parece que e tiveram a mesma idéia. No momento que Landon vira, eles disseram:
- O amor é como o vento. Não podemos ver, mas podemos sentir.
Eu e nos olhamos e começamos a soluçar. Foi uma cena bizarra, mas romântica.
Depois de tantas lágrimas decidimos dormir.

Meu alerta para acordar gritava em minha cabeça.
- 1, 2, 3!
Senti corpos pularem em mim e gritou ao meu lado. Todos riam em cima de mim. Caíram ao nosso lado, todos rindo histericamente. começou a xingar e, em um ato reflexo, passei a mão em seu cabelo.
Minha mão deslizou rapidamente por sua... careca? Foi bem estranho. Tirei minha mão rapidamente e me olhou curioso.
- Amor?
Eu fiquei parada, encarando seu mais novo visual. Não consigo acreditar que ele está assim. E eu fiz isso.
Uma vontade súbita de vomitar chegou e eu corri para o banheiro.
O que posso dizer? Eu vomitei!


Capítulo 15

Eu estava em casa, terminando meu dever de física, quando o telefone tocou.
- Alô? Ah, sim. Ela tá em casa. LIIIIIZ! É O JOHN! ELE QUER FALAR ALGUMA COSIA DA SUA FESTA! – eu berrei e voltei minha atenção ao dever. A festa de Lizzie seria em uma semana e meia. O ensaio da valsa seria em... Uma hora. Olhei no relógio e tremi. Droga! Dançar valsa!
Terminei meu dever no exato momento em que Lizzie entrou em meu quarto.
- VAMOS, VAMOS, VAMOS! Ensaaaaio! – Lizzie começou a surtar e eu me levantei. –VALSA, SIIIIIS!
Valsa. Meu estômago se contorceu ao ouvir essa palavra. Peguei meu celular e coloquei na minha bolsa. Peguei os sapatos – sim, dançaríamos de salto, ou seja: ensaio de salto – e saí do meu quarto.
- Não acredito!
- O que foi, Liz?
- O John – nosso primo – não pode mais dançar comigo! Ele vai jantar com a família da namorada. E a Kathy, que era par do , também não pode mais, porque ela namora o John!
Destino? Talvez. Não importa, eu ri muito! Lizzie começou a brigar comigo, mas o que eu podia fazer? Era muito destino.
- E por isso... O pode ser meu par? – ela perguntou inocente.
- NÃO! – eu gritei. Dei um berro mesmo. Não sei o que foi aquilo. Ciúmes. Provavelmente...
E foi nessa hora que minha mãe chegou:
- O que foi, filhas?
- Nada – eu disse bufando. Peguei minha bolsa e saí de casa. – Aliás – eu gritei de fora –, recebi as cartas das faculdades. Já decidi para qual eu vou.
Ou melhor, eu meio que decidi com , e .
Minha mãe praticamente voou para fora de casa, arrastando uma Lizzie atordoada com ela.
- E qual é?
Bem, na verdade eu ia tentar todas possíveis, mas se eu passasse em todas, ou em varias, não sei, eu escolheria...
- Oxford.
Ela sorriu. Uau.
Eu não a via sorrir assim desde... Antes do meu pai falecer.
- Estou tããão orgulhosa! – ela disse, puxando-me para um abraço com a voz embargada.
Lizzie soltou uma gargalhada e eu a acompanhei.

Eu estava sentada, trocando meu All Star de sempre pela sandália salto 9, quando chegou feliz da vida, ouvindo seu iPod e cantando alguma música estranha.
- Você não vai acreditar! – Ela pulou ao meu lado e eu só olhei para ela.
- O que foi? – eu perguntei toda desanimada.
- Poxa, eu toda feliz aqui, indo te contar uma cosia mega animante, e você aí, desanimada.
- Desculpa, . O que foi?
Ela sorriu. Mais uma sem o dom precioso? Ai meu Deus!
- Relaxa, eu não perdi meu dom! – Tipo, ela lê minha mente? – É o seguinte... Eu tava na casa do e a mãe dele puxou o assunto faculdade. E ele disse que iria para Oxford. Com a gente! E a mãe dele surtou. Haha! Aí ela começou a chorar! E pegou um anel do dedo dela e entregou pro .
Anel? Mas eles já usam aliança...
- E o me explicou que aquele anel passa de geração a geração na família dele. É tipo o anel de noivado, e a dona só pode tirar quando alguém for pedir a amada em noivado. Entendeu?
AI MEU DEUS!
- Não que a gente vá se casar agora e tudo, mas UAU! E já nos consideramos prontos.
Viu, eu sabia! Mais uma! Terminamos de pôr as sandálias e estava irradiando felicidade. Quando chegou, ela abriu um sorriso gigante! Eu só virei os olhos e ri.
- Bom, gente, temos um imprevisto... – Lizzie começou – John, que seria meu par, e Kathy, que seria o par de , não poderão mais participar, então há uma pequena mudança... Eu dançarei com se ele não se importar...
abriu um sorriso gigante. E foi nessa hora que chegou, escoltado por sua mãe.
- Desculpem o atraso, eu estava pegando uns remédios...
Eu sorri para ele, que se juntou a mim.
- te contou sobre a decisão?
- Dela e de ? Sim.
- Daqui a pouco só falta a gente.
- Shiiiiu! Fica quieto. Você sabe que eu pretendo perdê-la no meu casamento!
- Então não vai ser comigo.
Eu olhei para incrédula.
- Tô brincando.
- Tá. Agora para de me assustar e presta atenção.
Lizzie explicou que ela e seriam os primeiros, depois eu e , depois e , e Flora e o resto dos casais. Agradeci por ficar perto de . Daria para conversar.
O professor de valsa começou a nos explicar os passos simples.
- Isso é um tédio – disse para mim quando trocamos de par.
- Eu seeeei! – eu reclamei fazendo um bico e ele riu.
Preciso dizer que e olharam?
Terminamos o ensaio e fomos levar em casa. Ele teve que usar aquela máscara estranha, já que fomos a pé.
- Gente... Eu tenho que falar sério com vocês.
Olhamos sérios para . Quando ele falava assim, é que tinha alguma coisa a ver com o câncer.
- Acharam um nódulo no meu cérebro. Os médicos acham que é algo “restante” do tumor. Eu terei que fazer outra cirurgia. Mais complicada que as outras... E essa eu corro o risco de perder a atividade cerebral. Sabe? Balbuciar, ficar sem andar... Essas coisas.
Senti meus olhos se inundarem com lágrimas.
- E... Eu posso morrer.
As lágrimas escaparam de minha tentativa – frustrada, lógico - de prendê-las. e também tinham os olhos marejados. me abraçou e deixou algumas lágrimas escorrerem.
- ? Amor... Vai dar tudo certo.
- Pode dar certo! Mas você pode virar um vegetal!!! – Tremi com a idéia. – Eu vou para casa.
Sai correndo. Tive a impressão de ouvir eles gritarem meu nome, mas não liguei. Continuei a correr. Fui direto para casa e, quando cheguei, Lizzie falava com mamãe. A cara de mamãe era de surpresa e de Lizzie, embaraçada.
- Você sabia? – Mamãe virou para mim, meio brava, meio surpresa, mas sua expressão mudou para preocupada quando viu as lágrimas.
- Sabia o quê? – perguntei inocente.
- De Lizzie e ! – Mamãe cuspiu o nome de .
- Ah. Sabia – eu disse sem emoção e as lágrimas voltaram a correr em meu rosto. – Vou pro meu quarto.
- O que aconteceu? – Lizzie me olhou e mamãe foi para perto de mim.
Contei rapidamente o que me disse e corri para meu quarto. Mamãe e Lizzie não se preocuparam em continuar o assunto.
Me tranquei no quarto e liguei o rádio. Alguma música do estilo yo-mano-motherfucker-yoyo tocava. Desisti e coloquei o meu cd da Avril, indo direto para a última música. (Keep Holding On – Avril Lavigne)

You're not alone
Você não está sozinho
Together we stand
Juntos estamos
I'll be by your side
Estarei ao seu lado
You know I'll take your hand
Você sabe que eu pegarei sua mão
When it gets cold
Quando ficar frio
And it feels like the end
Ou quando parecer que é o fim
Theres no place to go you know I wont give in
Não há nenhum lugar para ir, você sabe que eu não desistirei
No I wont give in
Eu não desistirei

Keep holding on
Continue aguentando
'Cause you know we make it trough, we make it trough
Porque você sabe que nós consiguiremos, consiguiremos
Just stay strong
Apenas continue forte
'Cause you know I'm here for you Porque você sabe que estou aqui por você
Theres nothing you can say, nothing you can do
Não há nada que você possa dizer, nada que você possa fazer
Theres no other way when it comes to the truth
Não há outro jeito quando se trata da verdade
So keep holding on
Então continue aguentando
'Cause you know we'll make it trough, we'll make it through
Porque você sabe que nós consiguiremos, consiguiremos

So far away I wish you were here
Tão longe eu queria que você estivesse aqui
Before it's too late this could all disappear
Antes que seja tarde demais e tudo isso desapareça
Before the doors close, this comes to an end
Antes que a porta feche, isso chegue ao fim
But with you by my side I will fight and defend I'll
Mas com você ao meu lado eu lutarei e defenderei
Fight and defend yeah yeah
Lutarei e defenderei

Hear me when I say, when I say
Me ouça quando eu digo, quando eu digo
I believe nothings gonna change, nothings gonna change destiny
Eu acredito que nada vai mudar o destino, nada vai mudar o destino
What ever is ment to be
O que quer que seja
Will work out perfectly yeah yeah yeah yeah
Nós resolveremos perfeitamente

Abracei meu joelho, tentando colocar meu coração de volta para meu corpo [n/a: hã?] e deixei as lágrimas caírem sem dó.
O que eu iria fazer?


Capítulo 16

Estava sentada na sala de espera com a minha mais nova compra literária: Gossip Girl volume 7.
Mas eu nem conseguia me concentrar. Quando e seus pais saíssem do consultório, seria para me avisar das cosias da cirurgia. Na verdade eu queria mesmo ver o que Blair ia fazer a respeito de Nate e Serena, mas minha cabeça estava avoada. E meus olhos pesavam por causa da noite de choro.
Comecei a cantarolar Sempre Quis, do Strike, e quando eu estava repetindo pela décima vez o refrão, saiu.
Levantei voando e, na pressa, deixei meu livro e minha bolsa caírem no chão.
- E? –eEu perguntei com a voz embaçada.
- O que você vai fazer amanhã de manhã? – perguntou sério.
Contive minhas lágrimas e lhe dei um forte abraço.
- Eu vou estar com você onde você estiver! – eu sussurrei e ele me abraçou mais forte.
Saímos de mãos dadas fingindo que nenhuma cirurgia-ultra-mais-que-perigosa estava entre nós. Entrelacei nossos dedos, quase implorando para que eles se fundissem.
Estávamos no carro em silêncio quando vi um menino. Ele era... bonito. Tinha cabelos escuros e cacheados e seus olhos eram verdes.
Fiquei encarando o garoto na rua e deu um pigarro. Virei o rosto e sorri de leve. A Sra. tinha vetado minha visita hoje, então eu ia direto para casa. me perguntou a história do livro e confessei que não tinha prestado atenção porque estava nervosa. Ele riu de leve, mas desviou o olhar e começou a sussurrar.
- Eu vou ficar umas duas semanas na recuperação para mais. É complicado. Eu posso virar um vegetal e pá. Ou seja, fala para sua irmã? E pede desculpas, eu vou tentar ir... E eu te amo muito!
Eu olhei para e ele mantinha os olhos fixos no asfalto.
- Eu também te amo. – Dei lhe um beijo e saí do carro.
Entrei correndo em casa. Gritei para Lizzie falando um “oi” e corri para meu quarto.
Aquele garoto... Eu já o vira em algum lugar. A imagem dele não saia da minha cabeça.
Um flash veio em minha cabeça e corri para o computador de Lizzie.
Abri as fotos e fui direto para a pasta “Amigos” e procurei pelos amigos do francês.
- Achei – murmurei para mim mesma. Era ele. É Alan, um menino do francês da Lizzie. Acho que eles já ficaram.
- Ei! – Liz gritou e veio em minha direção. – O que você tá fazendo aqui?
Ela colocou a mão na cintura e ficou me olhando.
- É que eu vi o Alan hoje e queria me lembrar de onde eu o conhecia – eu fui sincera e ela riu.
- Ele é super legal! – Ela sorriu e ficou me encarando. – E aí? E o ?
Eu respirei fundo e contei. Percebi que já suportava as coisas. Assim, ainda tinha vontade de chorar, mas dava para agüentar... Quando terminei, Lizzie me abraçou.
- Aaaaai, sis... Que mal! Vai dar tudo certo.
- Liz, você é muito patricinha! – eu disse e ela riu.
- Bom, vou para a prova do meu vestido. Beijinhos. – E, ela é muito patricinha!
Voltei para meu quarto e tentei fazer a lição. Claro, como se fosse possível. Decidi andar. Como se isso fosse ajudar.
Peguei meu iPod e coloquei direto em Avenged Sevenfold. É. Tô meio punk esses dias (quem acertar por que ganha um chocolate!).
- DEAR GOOOOOOOD! THE ONLY THING I ASK IS TO HOLD HER WHEN I’M NOT AROUND! – gritei com toda a minha força. Acho que tô ficando estressada.
- Tudo bem? – Alguém me perguntou e eu arranquei os fones do ouvido.
- Claro. POR ACASO EU PAREÇO BEM GRITANDO AVENGED SEVENFOLD NO MEIO DA RUA? CANTANDO DEAR GOD FEITO UMA BÊBADA? – Finalmente abri os olhos direito e vi quem era. – Olá, Alan.
Fiquei completamente roxa e ele começou a rir.
- Você se lembra de mim? Uau. Tudo bem, ?
- Acho que eu precisava gritar – confessei e ele riu.
- Percebi. Hahaha! A gente se esbarra por ai. Tchau!
- Tchau – eu murmurei roxa de vergonha e ele foi embora.
QUE MICO!
Fui para a sorveteria mais próxima, tentando me acalmar com sorvete.
- Alô? – atendi meu celular sem o menor ânimo.
- ? E ai, amiga? Encontrei a Lizzie e ela disse que você tava arrasada!
- Além de patricinha é fofoqueira! – eu murmurei. – Eu ia te ligar, .
- Sei, sei... Tá onde?
- Sorveteria.
- Espera aí, tenho que te contar uma coisa.
Joguei meu celular na bolsa e enfiei uma colherada gigante de sorvete na boca. Minha cabeça começou a doer e eu a apertei, em um ato reflexo.
- Aiiiii – gemi.
Senti uma náusea e vontade de vomitar. Quando levantei a cabeça, olhava preocupada para mim.
- Tudo bem?
- Muito sorvete.
Ela riu.
- Diga. – Eu dei outra colherada, mas menor.
- Eu tava na casa do hoje. – , , ! AAH! Ela só fala dele. Tudo bem, eles são namorados e blá bla bla, mas poxa!!! – E... – ela continuou, sem perceber meu transe interior. – Quando ele estava no banheiro, a mãe dele me mostrou uma coisa. Ou melhor, uma caixa! É a caixa da aliança de noivado. Bem, essa aliança está há gerações na família do e a mãe dele pediu para eu tentar. Eu tentei e serviu perfeitamente. Bem, ela guardou antes do chegar e me contou uma coisa.
Senta que lá vem historia. Puxa, estou ficando má ultimamente. É a falta de chocolate.
- Diz a história da família que se o anel servir perfeitamente para o herdeiro, é essa a pessoa ideal.
Encarei seriamente.
- ENTENDEU, AMIGA? EU SOU A MULHER PERFEITA PARA ELE! EU VOU CASAR COM ELE!
- , amiga do meu coração, vocês se conhecem desde o prezinho, mas... Estão juntos há quanto tempo? Um mês? Dois?
- Dois. Foi quando seu pai... se foi.
- Verdade – eu murmurei. – Mesmo assim é pouco tempo!
virou os olhos.
- E não vire os olhos para mim, mocinha! – eu bronqueei e rimos. – Se vocês se amam, isso basta.
- AAAI! Se prepare, amor, você vai ser madrinha do casamento da sua amiga!
A é ‘overreacting’, sabe? Exagera em tudo... Terminamos de comer e eu liguei para . Ele iria passar a noite no hospital.
- Pois é. E tem essa menina, a Arles. Ela é francesa, mas mora aqui. Bem, a cirurgia dela foi semana passada, ela tá me dando a maior força!
– Que bom, amor!
falou foi uns cinco minutos sobre essa “Arles”, mas meu ciúme falou mais alto e disse que eu tinha que estudar. Desliguei o telefone na cara dele.
- Tudo bem, amiga? – me perguntou.
Contei rapidamente e ela disse que é normal. Olhei o relógio e vi que já eram seis horas. Depois do incidente da meia-noite, eu tinha que voltar para casa até no máximo sete se estivesse sozinha. Acompanhei até sua casa e segui para a minha.
- Olá – alguém disse em minha orelha e me virei para olhar quem era.
- Alan! Uau! Olá – eu respondi incrivelmente estabanada com sua beleza.
- Já está melhor? Ou ainda está gritando músicas do Avenged?
- É, eu tô melhor!

- E aí eu decidi pular na galera, mas esqueci que a banda nem é tão conhecida, e eu estava em uma formatura! – Alan tomou um gole de seu Iced Caramel Macchiato da Starbucks. – Bem, eu pulei. E caí de cara no chão, o que posso dizer? Quebrei uma costela, luxei o pulso e torci o tornozelo!
- HAHAHAHAHAHAHA! Não acredito! – Eu tomei um gole de meu Frapuccino. – Uma vez eu decidi cantar em um festival da escola. Eu tinha 10 anos... Bem... Fiquei super nervosa e quando subi no palco, eu simplesmente... Desmaiei. Na platéia tinham 20 pessoas.
Alan se engasgou com seu Iced Caramel Macchiato e eu comecei a rir.
- O que foi? Eu tinha 10 anos e eu não gosto de platéia!!! – eu disse indignada e ele continuava com seu riso-tosse.
- Ai, cara. Eu queria tanto estudar na sua escola! Estamos no mesmo ano!
- Você está no terceiro?!
- Sim! E, aliás, fui aceito em Oxford – ele disse todo se achando.
- Sério? Eu também!!!
- Uau!!! Algum amigo seu vai junto?
- Minha melhor amiga e o namorado, e os outros estão na lista de espera. E o meu namorado.
- O que tem câncer?
- É. Qual mais seria?
- Eu! – ele disse apontando para o próprio corpo!
- Idiota! – eu disse dando o último gole no meu Frapuccino e fazendo aquele barulho irritante de final de bebida. – Acho melhor eu entrar. – Eu apontei para minha casa. Estávamos sentados do outro lado da rua. – Minha mãe vai se preocupar.
- É, a minha também.
Ele me ajudou a levantar e me deu um beijo na bochecha.
- Obrigada por me distrair hoje! – eu disse sorrindo e ele sorriu de volta.
Entrei correndo em casa e fui tomar um banho. Liguei meu iPod no amplificador e fiquei ouvindo no shuffle. Quando saí do banho, peguei meu celular e vi que tinham seis mensagens.

De:
Às: 18h34
Oi amor. Tudo bem? Me liga!

De:
Às: 18h40
Amor, não me ignore!
Preciso conversar sério com você!

De:
Às: 18h45
Liga logo para o ? Ele não para de me encher o saco falando que você tá ignorando ele!

De:
Às: 18h46
LIGA LOGO PARA ELE?

De:
Às: 18h49
Tudo bem, me ignore.
O que foi aquilo antes? Você desligou o telefone na minha cara e agora me ignora?
O que aconteceu amor?

De:
Às: 18h53
Amor, é sério! Fala comigo!!!
Me liga. Daqui a pouco tenho que dormir. A cirurgia é amanhã, lembra?

Fechei a caixa de entrada e joguei o celular na cama. Cara de pau! Coloquei meu pijama e meu celular tocou.

Você tem: 2 mensagens novas.

Abri as mensagens.

De:
Às: 19h21
Tô indo dormir.
Espero te ver amanhã. Preciso de você!
Te amo. Boa noite!

De: Alan
Às: 19h22
Oii! E aí? Amanha vai sair? Outra rodada na Starbucks?
Me liga!


Peguei o celular e liguei para Alan.
- Alan! Olá!!! Então... Amanhã eu não posso.
Silêncio.
- Acho que às 16h30 eu posso! Tudo bem, a gente se vê! Tchau.
Joguei o celular na escrivaninha e me sentei no computador.
Fiquei encarando meu plano de fundo. Era uma foto minha e de . Ele me abraçava por trás e me dava um beijo na bochecha. Eu tinha um sorriso gigante estampado em meu rosto.
Uma lágrima escorreu em meu rosto e eu me senti incrivelmente culpada.
Peguei meu telefone em forma de lábio e liguei para .
0 - Alô? – uma voz sonolenta atendeu.
- Desculpa! – eu disse, a voz embargada pelo choro.
- ? O que aconteceu?
- Eu fiquei com ciúmes – admiti. – E não consegui te ligar. Por isso te ignorei o dia todo!
Minha voz se embaçou e meu colo se encharcou com minhas lágrimas incontroladas.
- Fica calma. Eu imaginei que fosse isso. Você tá se sentindo culpada?
Murmurei um ‘uhun’ e ele riu.
- Tudo bem, amor. Mas desculpa... Eu realmente tenho que dormir agora! Beijos, te amo!
Murmurei um “eu também” e desliguei o telefone.
Mandei uma mensagem para Alan:
Oi. Então, amanha não dá! Eu te conto mais tarde. Depois a gente marca! xo


Capítulo 17

E aqui estou eu novamente: na sala de espera. Mas dessa vez é porque o Sr. e a Sra. estão falando com o . Depois é , , e . Por último eu.
Comecei a batucar os dedos na cadeira e, finalmente, os pais de saíram do quarto. me olhou e eles entraram. Meu coração acelerou. Vi os vultos se aproximarem do outro deitado na cama. A Sra. fungou ao meu lado. Olhei para seu rosto e ele estava vermelho e inchado. Levantei-me e dei um abraço apertado em minha sogra. Ela soluçou e soltou um gemido baixo.
- Por quê? Por que isso tem que acontecer com o meu zinho?
- Não sei... Não sei. – Segurei o choro e entrei pela porta que , quando saiu, segurou para mim.
Em passos lentos, tentei acertar a batida do meu coração e tentei não vomitar de nervoso. Eu ficava assim toda vez. Provavelmente o medo de não vê-lo nunca mais. Respirei fundo, agradeci a . me deu um beijo na bochecha e falou boa sorte e eu entrei. Encostei a porta e me virei, temerosa.
- ? Eu preciso de um abraço – a voz de soou e meu lábio começou a tremer. Corri para abraçá-lo.
Ficamos abraçados por um tempo que pareceu eterno. Ou eu pelo menos queria que fosse.
Só queria entender por que. Por que isso aconteceu com ele? Por que isso acontecia comigo? Por que eu não podia levar uma vida de adolescente normal como a ? Ou, sei lá, só não sofrer como eu sofro.
Não sofrer como o meu coração, que se parte toda vez que eu vejo o nesse estado, como eu fico sem ar toda vez que ele corre riscos, como eu perco a fala quando ele se aproxima e diz que me ama, como eu desejo todo dia, toda noite, cada momento que isso termine. Como eu amo ele.
Queria que nada disso tivesse acontecido comigo. A partida de meu pai, a doença de , as loucuras de Lizzie, meus surtos de loucura, a festa, a formatura e tudo mais!
Encarei o rosto cansado de . Ele tremia de frio e eu fui pegar outro cobertor.
- , fica perto de mim – ele miou e eu ri.
- , eu vou só pegar um cobertor – eu disse ainda rindo um pouco.
Ele soltou uma risada nervosa e virou-se para mim:
- Eu te amo.
- Eu te amo mais! – eu brinquei e rimos. Ah! Nada como uma piadinha para descontrair!
Dei um beijo nele. Ou melhor, um selinho.
me puxou forte e me deu um beijo profundo e apaixonado.
- Se eu for morrer – ele começou – quero morrer com o gosto de seus lábios nos meus.
Não sei, mas eu achei romântico.
As lágrimas voltaram a rolar fortemente em meus olhos.
deu um doce beijo – diferente do anterior – em minha bochecha e eu me virei para sair.
- Eu não quero que você vá – eu disse com a mão na maçaneta.
- Eu não vou – ele disse entendendo a minha frase. – E se eu for, eu volto.
Sorri de leve e abri a porta.
Sempre uma cirurgia. Sempre muda alguma coisa. Será que dessa vez será uma coisa boa?


Capítulo 18

- Chegamos – Liz e Flora anunciaram. Elas foram à escola hoje, mas eu, , , e faltamos.
Apenas os parentes próximos poderiam assistir a cirurgia. Ou seja, só os pais de foram.
Lizzie me deu um beijo na testa e se sentou ao lado de . lia alguma coisa para a escola e os meninos jogavam cartas. Estavam no mesmo jogo há duas horas.
- E aí? Quais são as notícias?
- Nenhuma, Liz. Ele ainda não saiu – meio que a advertiu. Minha cara não estava boa. Eu não consegui parar de chorar.
Eu estava em um momento... Emo.
Sentada no meu canto, abraçando os joelhos e deixando as lágrimas caírem. Tudo bem, agora tinha parado, mas meus olhos estavam vermelhos e meu rosto inchado. Foi quando eu ouvi um grito. Não foi bem um grito... Foi quase.
A Sra. apareceu abraçada por seu marido. Ambos trêmulos. Todos pararam e olharam. Eu me levantei de imediato.
- O que aconteceu? – eu perguntei e ela me olhou vazio. – O QUE ACONTECEU?
- Ele... Ele... Teve uma parada cardíaca. Os médicos nos tiraram de lá. Eu não sei o que aconteceu depois.
Minha expressão deve ter mudado de medo para pavor. Eu comecei a tremer e não aguentei.
- Com licença. – Minha voz fraquejou e eu peguei minha bolsa e corri para fora.
Estava sentada na minha cama encarando minha parede.
- Toc toc – alguém disse.
- Quem bate? – eu disse mal humorada.
- É o frio. – E foi ai que eu ouvi a risada de .
- Entra – eu choraminguei e ela entrou no meu quarto cautelosa.
- Não fica assim! Vai dar tudo certo! – chegou perto de mim e me deu um abraço.
- Certo como, ? Meu namorado está fazendo uma cirurgia no cérebro e tem uma parada cardíaca! Me diz: certo como? – Explodi em lágrimas.
ficou parada me olhando perplexa até que soltou um riso. E começou a rir. O que essa praga tá fazendo? Rindo da minha desgraça? Maldita!
- Certo como daquela vez que a gente matou aula na oitava série! – ela disse rindo e eu comecei a rir junto.
Há alguns anos, nós duas tínhamos matado a aula de educação física para ver um jogo das olimpíadas, dizendo que ela estava com cólica. O problema foi que o professor de E.F. nos viu e a gente quase rodou. Fomos parar na diretoria, mas como nunca tínhamos nada, saímos com a ficha limpa.
- Aquele dia é épico – eu disse entre risos e lágrimas.
Ela concordou com a cabeça.
Ficamos em silêncio nos encarando, até que em uma atitude inesperada, eu voei no colo de e lhe dei um abraço.
Durante todos esses anos, a única pessoa que esteve ao meu lado foi ela. Ela que me ajudou todos esses anos. Ela fez a minha vida valer a pena durante todo esse tempo. Mesmo quando ela não gostava de mim! Todo esse tempo eu tive certeza sobre ela: ela é a minha melhor amiga! Nunca vai ser menos. Ela é como uma irmã!
Temos tantas historias juntas, decepções, shows, traições, brigas, risos, choros, besteiras feitas, piadas internas, viagens, muitas coisas. Mas elas só servem para resumir uma coisa: a nossa amizade. Eu a conheço desde quando eu me mudei do Brasil pra cá! Isso porque ela tinha acabado de chegar de Southend-on-sea, uma cidade litorânea aqui da Inglaterra. A gente se entendia aquela época, e se entende hoje. Ninguém nunca vai ser como ela. Temos sonhos iguais: ir para a faculdade e morar no mesmo apartamento... Mesmo que eu mude de planeta, de galáxia, ela vai sempre estar comigo, seja nas memórias, seja ao meu lado, seja distante. Eu sei disso. Porque eu amo ela!
Meus olhos começaram a transbordar de lágrimas.
- , eu já pedi para você parar de chorar! O vai ficar bem! – ela me bronqueou.
- Não é por isso que eu tô chorando! Já percebeu isso, ? Podemos ter vários outros amigos. Podemos ter namorados, ficantes, peguetes e até casinhos de verão. Podemos ter outras amigas. Outras super amigas, como a Lizzie e a Flora. Mas ninguém é como você é para mim! Você tem uma importância inexplicável! Você sempre esteve ao meu lado. Mesmo quando sabia que eu estava errada, você se juntava a mim para brigar. Você me ajudou a ser quem eu sou hoje. Ninguém mais faria isso comigo. Você é como minha irmã! – Meus olhos estavam inundados e eu já respirava irregularmente por causa dos soluços. me abraçou mais forte e disse, resumindo tudo o que eu disse antes:
- Eu te amo, !
Ficamos abraçadas por um tempo. Por mais que fosse estranho, eu acho que eu amo a o mesmo tanto que eu amo o . Não do mesmo jeito – dãr - mas igualmente.

- Ei, patona! Acorda... – Senti alguém me cutucar. – Okay, você pediu...
- AAAAAH! SAI DE CIMA DE MIM, SUA GORDA! – estrilei ao sentir o peso de sobre o meu corpo adormecido.
- Vamos andar? – ela falou com os olhinhos brilhando. Como eu poderia dizer não? Ultimamente não tenho dado tanta atenção a ela (culpa do namorado), e essa é a frase típica da .
- Tudo bem...
Pegamos os celulares e saímos. Enquanto andávamos, íamos pondo a conversa em dia: quem tinha ficado com quem na escola, quem terminou com quem, quem fez o que, por que fulano levou advertência, essas coisas fúteis, mas que todo mundo gosta.
- Ai o Luke começou a gritar com ela, isso com a escola inteira vendo, e ela começou a chorar. Só que depois ele foi ver a foto e não era a Natasha! Era outra! Ele quebrou a cara. Só por isso a namorada não voltou, porque ele não confiou nela – disse isso e suspirou. Realmente, eles eram o casal do ano. Natasha foi apaixonada por Luke desde a primeira série!
- Realmente, eu odeio faltar na escola – eu reclamei e rimos um pouco.
começou a mexer na sua bolsa e tirou sua máquina fotográfica de dentro.
- Lembra quando a gente fazia vídeo e postava no Youtube? – ela perguntou com um sorriso sapeca no rosto e eu concordei entendendo tudo.
Procuramos um lugar na pracinha e acabamos colocando no banco. Nos sentamos de frente à câmera e começamos a tagarelar. Resumimos as nossas vidas, falamos de música, série. O vídeo já tinha uns 10 minutos quando desligamos. Olhei para e seus olhos brilhavam.
- De volta às origens, .
- De volta às origens – eu repeti sorrindo.
- Lembra quando eu era loser? Você conversava com todo mundo, todos os meninos queriam ficar com você, e você era super pop e eu, a idiota de aparelho que era tímida? – eu disse rindo.
- Eu lembro. – Ela começou a gargalhar. – Eu fazia aula de tudo possível, conhecia um monte de gente, os meninos pediam pra ficar comigo, cada dia um. E você lá, na aula de música, sussa com a vida.
Começamos a lembrar dos nossos momentos. Eram tantos! Meus momentos losers, todos os campeonatos da , quando ela foi tricampeã, quando eu me apresentava, todos esses pequenos momentos que eu nunca queria que tivessem ido embora. Queria que eles durassem para sempre.
- E quando a gente conheceu o Blink? – ela disse.
- MAAAAAAAAAAAAAAANO! Melhor dia de toooooooodos! E no show depois que o DeLonge reconheceu a gente! A gente tava na grade!
- Nossa, eu lembro! E no outro show deles que você quase brigou com a mulher porque ela entrou na sua frente?
- Ela era lésbica.
Nos olhamos e soltamos um sonoro “eca”.
- Falando em lésbicas, e quando a gente foi na parada gay? – ela perguntou sorrindo e eu lembrei.
- E quando a gente fez o vídeo que você tomou o rola? – eu disse animada e apanhei. – Outch.
Ficamos conversando até o sol começar a descer.
mandou uma mensagem para falando que eles tinham saído do hospital também. Estavam na pizzaria perto do hospital e nos convidavam. A disse que não iríamos.
Eu decidi ligar para a Sra. , que me disse o seguinte:
- Ele saiu da sala de cirurgia, mas o médico não me fala nada!
Concordei de leve com a cabeça e me sentei ao lado de .
Ficamos conversando por mais algumas horas e não percebemos o sol sumir no horizonte. Peguei na mão de e saí correndo.
- Onde você vai?
Parei e fiquei encarando o chão. Eu não poderia fazer isso. Não poderia deixar assim.
- Você quer ir com o . Vai logo, eu seria uma péssima amiga se te prendesse aqui comigo – ela disse.
Segurei o choro e voltei para . Dei-lhe um abraço e murmurei um “obrigada”.
A função namorada me chamava.


Capítulo 19

Estava sentada naquela maldita sala de espera já decorada. As paredes brancas me deixavam nauseada. Apertei os olhos. Abri-os novamente e a Sra. estava parada em minha frente.
- Podemos entrar – ela disse sorrindo de leve.
Eu levantei em um pulo.
- Entrem vocês antes – eu disse com polidez, dirigindo-me à água.
Minha cabeça vagava lentamente. Eu tentava me focar em alguma coisa, mas a idéia de me desprendia a atenção.
Meu coração batia lentamente. Olhei no relógio. Eles já estavam há cinco minutos lá dentro.
Minha respiração ficou devagar. Quando foi a última vez que comi?
Há umas dez horas? Nossa. Já não durmo há horas. Uau.
Peguei meu livro e tentei ler. Minha cabeça vagou e ficou pesada.
Minha cabeça dói. Meu estômago parece que está arrombado. Meus olhos ardem. Que porra tá acontecendo?
Tentei me levantar e cambaleei.
- Tudo bem, querida? Você desmaiou – uma enfermeira prestativa se pôs a me ajudar.
Ela me ofereceu algo e eu tomei. Fez algumas perguntas (desde quando eu não dormia, comia, essas coisas) e foi buscar algo para mim.
Fiquei sentada na salinha branca enjoativa. Peguei meu celular e mandei uma mensagem para . Comecei a batucar os dedos na cadeira. Isso estava interminável. Eu precisava ver o , mas não tinha forças – literalmente. Revirei minha bolsa e peguei meu iPod. Coloquei alguma música e me deitei. Minha cabeça doía, ainda.
Onde está essa enfermeira?
- Muito bem, querida, aqui está. Tentei pegar o melhor que puder.
COMIIIIDA! Avancei no prato em minha frente.
- Devagar, garota! Vai passar mal! – ela me repreendeu rindo de leve. – Muito legal o que você está fazendo pelo seu namorado.
- Como você sabe que ele é meu namorado? – perguntei na maior cara-de-pau.
- A senhora que está te acompanhando me falou. Ela está lá fora.
Terminei de comer. Tentei me levantar, mas a enfermeira me impediu.
- Durma. Ele ainda não acordou.
Assenti com a cabeça, me deitei e fechei os olhos.
- ? – Abri meus olhos lentamente. estava parado em minha frente. Sua pele estava branca e ele tinha cara de cansado. Pisquei os olhos devagar.
Ele não poderia se movimentar tão bem como estava fazendo. Seus olhos se fecharam lentamente e pude ver uma lágrima correr em seu rosto. Ele me beijou a testa e disse:
- Adeus.
O encarei inexpressiva.
- Como assim? Não, não vá! – Meus olhos transbordaram e eu comecei a tremer, caí no chão.
Pisquei meus olhos rapidamente e logo vi a Sra. entrar na salinha. Seu corpo de aproximou ao meu. Suas lágrimas se tornaram minhas.
- Ele se foi – ela disse por fim.
Meu ar fugiu do meu corpo. Como viver? Como continuar a respirar?
Uma dor latejante dominou meu corpo. Comecei a gritar.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!
- ? , , tá tudo bem? – Senti a mão de pousar sobre meu corpo.
Foi tudo um sonho, apenas um sonho.
Minha respiração começou a voltar ao normal.
- . Cadê o ?
Seus olhos ficaram tristes.
- Ele acordou. – Respirei aliviada. – Mas... Não sabem ainda se terá sequelas.
Eu a abracei de leve e tomei um copo de água.
Nunca tive tanto medo na vida. Nunca, nem quando eu coloquei o alargador, ou o piercing. Ou quando eu fiz a estrela no pulso, nunca, nunca como tenho medo agora.
Sentei-me e liguei para a minha mãe, que estava surtada.
- Eu tô bem, mãe, fica calma. Sim, eu já vou pra casa. Eu vou falar com ele e já vou. Sim, mãe, eu lembro que é daqui a alguns dias. Sim, mãe, quatro dias. Tudo bem. Beijos, te amo.
Fechei o celular e só me encarou.
- Festa da Liz?
- Sim – eu murmurei e me levantei. – Vamos, antes de ir para casa eu quero pelo menos vê-lo.
Corri para o banheiro e lavei meu rosto. Acabei prendendo o cabelo em um rabo de cavalo. Sai de lá em direção ao quarto tremendo. me apoiava. Respirei fundo e abri a porta.
Meu coração parou e eu finalmente voltei a falar.
- ?
Ele me olhou lentamente. Ele me reconheceria? Talvez nunca mais se lembrasse de mim. Segurei o choro.
- Você se lembra de mim?
- – ele grunhiu e as lágrimas escaparam incontrolavelmente.
me levou pra fora.
- Vamos pra casa, . Você precisa descansar.
- Ele se lembra de mim! Ele vai ficar bem! Ai meu Deus. - Continuei a chorar descontroladamente enquanto chamava um táxi para nos levar em casa.
Minha mão tremia enquanto a apertava levemente tentando me tranquilizar.
- , eu sei que esse não é o melhor tempo, mas a Lizzie vai me matar se eu não falar. O seu par mudou, já que fez a cirurgia e, bem, ele não poderá dançar valsa, certo? Pois bem, agora você vai dançar com o... Alan? Adam?
- Alan. Tudo bem. – Enxuguei o rosto com a manga da minha blusa e solucei. soltou um risinho. – O que foi? – eu perguntei brava.
- Você fica tão engraçada quando chora. Você faz aquele seu bico que ninguém mais consegue imitar – ela disse gargalhando.
- É, mas eu não fico vermelha e de olhos claros, como você.
- Detalhes – ela disse ainda rindo, me arrancando um sorriso.
- Obrigada – eu disse e ela me abraçou.
- Agora, menina, vê se toma um banho!
Eu gargalhei e ela sorriu. O táxi parou e eu e pagamos. Descemos em frente à minha casa.
- Dá pra acreditar que logo teremos a formatura? Tipo, faculdade, aí vamos nós! – fez um “paz e amor” e entrou rindo.
- Oi, Sra. , vou levar a sua filha pra tomar um banho e já venho explicar tudo. – olhou pra mim. – PARA DE CHORAR, CRIATURA!
Eu solucei e começou a me puxar para o meu banheiro.
- Toma um banho longo, lava o rosto, para de chorar e come o chocolate que tá na sua escrivaninha. Eu vou lá falar com a sua mãe.
Eu peguei meu iPod e coloquei Divina Comédia, da Scracho, pra tocar. Entrei no chuveiro com a água ainda fria. Meus músculos se contraíram e eu senti uma dor latejante na cabeça por causa da batida. Maldito desmaio.
- MEU CORPO TRRRRREME TODO SÓ DE PENSARRR EM TE PERRDERR! – cantei empolgada.
A água fria continuava caindo enquanto eu enxaguava o cabelo.
- COM VOCÊ EU FAÇO DO INFERNO O PARAÍSO – alguém cantou na porta, assustando-me.
- ! SUA PRAGA INSANA E LOUCA! – eu gritei enquanto ela ria.
- Tô indo pra casa, . Uma brasileira me espera para assistir Crepúsculo. – Ela mandou um beijo no ar.


Capítulo 20

Fazia dois dias que a cirurgia havia acontecido. Estava lendo “Breaking Dawn” quando alguém entrou no meu quarto.
- Olá, – eu disse sem levantar a cabeça – e . E . O que a ou Lizzie falaram pra vocês? – eu perguntei fechando o livro e encarando a cara surpresa dos meus três amigos.
- Oi, – eles disseram em uníssono sorrindo.
Guardei o livro e coloquei o iPod no amplificador.
- A gente veio ver se você tá bem. E o queria ver a Lizzie – disse rindo.
- Obrigada, meus amores. Mas eu tô bem. Sério.
Os três me encararam apenas e começamos a rir.
- Tá, eu to péssima, mas eu vou melhorar.
- Promete? – perguntou todo fofo.
- Prometo – eu disse sorrindo e eles me abraçaram.
- E ai, gata? Vamos andar?
Encarei a cara sedutora de .
- A Liz tá no quarto dela.
Ele saiu correndo do meu quarto deixando eu, e rindo.
- E as meninas? – perguntei sorrindo.
- Foram fazer compras – respondeu fazendo bico. Eu comecei a rir e reclamou.
Me levantei em um pulo. Bati na parede três vezes e gritei:
- LIIIIIIIZ, A GENTE VAI ANDAR! VEM. OS DOIS!
Puxei e e fui bater na porta da Lizzie.
- Agora!
Estávamos sentados nos balanços. Lizzie e estavam em um banco, conversando aos murmúrios e rindo de tempos em tempos. Eu, e ficamos falando bobagens, imitando os professores e falando da tão sonhada formatura. A gente mais riu do que fez qualquer outra coisa. Tiramos várias fotos (ó, que duvida) e acabamos postando elas no Twitter, pelo celular do . Mandamos uma mensagem pra , com uma foto dos três de ponta cabeça, falando “olha o que vocês estão perdendo HUAHUSAH”.
Uma irônica e orgulhosa respondeu o seguinte, com uma foto dela e de Flora em frente a uma loja só de Nike, “olha o que VOCÊS estão perdendo”.
Enquanto olhava as fotos dos meninos, algumas fotos antigas apareceram, com o . Muitas eram de todos nós, e tinha até um vídeo de meses atrás. tinha os cabelos escondidos por uma touca verde, ele ria descontroladamente, eu me lembro bem desse momento. Ele tinha ouvido alguns funks no celular da Liz e tentava dançar como brasileiros. Isso porque a gente estava no barzinho da esquina com alguns amigos da escola, só para comemorar o final das provas. Não fazia muito tempo que eu e estávamos namorando, e poucas pessoas botavam fé no relacionamento. Ele jogou a touca para o alto, acertou o lustre e conseguiu derrubá-lo. E mesmo com o prejuízo na conta bancária, ele riu.
É esse o efeito da Tequila nas pessoas.
Fechei o celular do e entreguei pra ele.
- Por quê? – eu perguntei baixinho e comecei a chorar.
Os meninos olharam preocupados para mim e meus soluços aumentaram. Lizzie e se desgrudaram e foram falar comigo.
- ? O que foi, querida? – me perguntava sério.
Eu simplesmente abri um berreiro no meio da praça, chamando a atenção de algumas criancinhas. logo se pôs a explicar:
- Ela perdeu a maratona “Backyardigans” de ontem – ele disse rindo e as crianças começaram a se afastar.
- Como você sabia da maratona? – perguntou segurando o riso.
- Eu... eu... Meu priminho está em casa – disse gaguejando e todos começamos a rir.
- Obrigada – eu disse a eles. – , leva a minha irmã em segurança pra casa. e ... Não os deixem sozinhos por muito tempo, tá?
Eu mandei um beijo no ar e saí correndo. Parei e pensei.
Voltei sobre o olhar estranho de todos.
- Eu esqueci a bolsa – eu disse envergonhada e todos rimos.
Entrei decidida no prédio de tijolinhos e, incrivelmente, eu não errei o caminho.
Olhei o número na porta. Definitivamente era esse. Respirei e abri a porta.
Enfermeiras apressadas andavam de um lado para o outro. Fui até o balcão de informações.
- Oi, eu vim visitar o Sr. .
A mulher digitou algumas coisas, pediu minha identidade, disse mais algumas coisas e chamou uma colega para me levar ao quarto.
- O horário de visita acaba em meia-hora. Aproveite – ela disse sorrindo e eu entrei.
Ele estava distraído, e eu me aproximei lentamente.
- Oi – eu disse baixinho.
Seu olhar virou-se rapidamente.
- Desculpa, , não te vi entrar, achei que fosse outra pessoa – ele disse, colocando o livro de lado. O lerdo ainda estava em “Crepúsculo”.
- Outra pessoa? – eu perguntei enquanto o monstro do ciúme se acordava em mim.
Tinha falado com os pais dele antes de vir para o hospital, e eles já haviam visitado . Os meninos tinham vindo de manhã. Eu teria vindo junto, mas preferi ficar em casa lendo a sair para comer pizza com eles.
E eu tive a resposta no momento seguinte.
- Oh! Pardon. Não sabia que tinha visitas, .
Minha cara se fechou a ver aquelazinha da Arles sorrindo pra mim, toda loura, cabelos incrivelmente lisos e olhos negros. Sorri falsamente para a garota que se aproximou de mim.
- O falou tanto de você.
- Ah é? – Quis acrescentar “ele não me falou tanto de você”, mas preferi ficar quieta.
- Je m’apelle Arles. Je suis française – ela disse toda feliz.
- , mas isso você já sabia, certo? – perguntei desafiando-a.
- Na verdade não. Haha. sempre fala de você como “Minha namorada”.
- Ah – eu disse desapontada.
Arles parecia um amor de pessoa. Mas não precisava ficar se gabando de como se ela o conhecesse melhor que eu. Em alguns aspectos ela conhecia, mas, poxa, não esfrega na minha cara, né?
- Querida, posso falar a sós com o um minutinho? – eu disse sorrindo e a francesa concordou.
Respirei fundo e hesitei.
- O que ela ia fazer aqui?
- Conversar. Ela tá me ajudando muito a superar isso.
-Ah, então eu não devo atrapalhar. – Sai da sala bufando e fui direto para casa.


Capítulo 21

Estava em casa, ainda de mau humor por causa do dia anterior, quando entrou no meu quarto, acompanhada de Flora e Lizzie.
Eu estava sentada mexendo no computador, o Google aberto, a música estourando de tão alta no meu quarto, enquanto eu tentava em não pensar em maneiras de amaldiçoar a Arles.
- Vudu? Como afastar indesejados? – perguntou gritando para sobrepor a música. Eu abaixei o som e as três me olharam curiosas.
- Arles – eu disse rangendo os dentes e elas começaram a rir.
Lizzie abaixou o meu laptop, desligou a música e Flora girou a minha cadeira.
- Não sei por que tanta encanação. O te ama, por isso ele está com VOCÊ! – disse convicta.
- Ele pode muito bem estar me traindo, tá? – eu disse tentando convencê-las.
As três só se olharam e me bateram.
- Ai – eu gemi.
- ACORDA, , E PARA DE ESTRILAR!
- Quem tá estrilando é você, Liz.
Ela só me encarou por causa do meu comentário e finalmente falou.
- A gente vai ensaiar a última vez e pegar os vestidos, se lembra? A festa é amanhã!
Ah é. A festa...
Levantei-me lentamente e fui trocar de roupa. Tirar o meu amado shortinho de moletom e t-shirt de Star Wars.
Coloquei uma calça jeans básica e uma regatinha. Fiquei entre um chinelo ou um tênis e me lembrei da dança. Peguei meu Nike e coloquei.
Xingando Lizzie mentalmente por sua idéia absurda, comecei a arrumar a minha bolsa. As meninas só encaravam o meu mau humor.
Elas riam baixinho enquanto eu jogava os cobertores para o alto tentando achar meu iPod e meu celular.
- Achei! – Joguei os dois na minha maxi bolsa e sai correndo do quarto com as três rindo às minhas custas.
As meninas iam tagarelando no banco de trás, mas parecia absorta em seus pensamentos.
Chegamos para pegar os vestidos e descemos correndo. Puxei em um canto.
- O que você tem hoje?
- Direta. Eu gosto disso, mostra que não é insegura...
- , o que aconteceu? – eu frisei a pergunta.
Ela hesitou e depois de um longo suspiro me respondeu.
- Eu e o tivemos um DR ontem. Foi horrível. Isso foi depois que a mãe dele falou que adorava as namoradas do . E falou “puxa, como você come” e o desgraçado falou “pelo menos eu tenho alguma coisa pra pegar”. – Ela bufou e continuou. – Ai a gente começou a discutir, fomos pro quarto dele e falamos tudo do namoro!
Encarei minha amiga e ela tinha lágrima nos olhos e uma expressão séria.
- Mas hoje é dia de curtir, vamos lá com as meninas porque eu quero ver o meu vestido-rosa-pink-chiclete-que-eu-nunca-mais-vou-usar – ela disse e entramos rindo.
Chegamos lá e todas as outras valsantes já andavam de um lado para o outro com os vestidos. Eu e fomos pegar os nossos.
- ? Eu não quero sair sozinha com isso.
- Fica calma, amor. Outras quatorze meninas estão iguais.
Saímos e nos encaramos.
O vestido era simples - aham, e era mesmo, fiquei surpresa - lilás, frente-única, um tecido mais transparente e com um leve brilho. Até que não tava mal.
- Somos divas e arrasamos – ela disse e eu comecei a rir tanto que acabei engasgando. Fui tomar água, mas mamãe me impediu.
- NADA DE POR O VESTIDO EM RISCO! – ela disse colérica, tirando o copo da minha mão.
Saímos do ensaio e fomos visitar .
Adivinha só quem estava no quarto as gargalhadas com o MEU namorado? Arles, a francesa.
- Gente! Vocês chegaram! – disse alegre e eu me encostei à porta. – O que foi, ?
- Nada – eu disse seca. – Ah, sabe o Alan? Meu par, ele me levantou hoje. A gente tava dançando, sabe? Aiiiii ele me levantou como naqueles filmes românticos. Foi mor legal – eu tagarelei feito uma idiota com todos me olhando.
Dei um sorrisinho e me sentei no sofá. E aí Arles começou a falar.
- Na MINHA festa de debutante, meu príncipe também me levantou. – E ela foi indo.
Ela falava tanto, mas TANTO, só que era como se fosse só para , e ele ria descontroladamente das piadas sem-noção dela.
- CHEGA! CHEGA, CHEGA, CHEGA! PARA DE FALAR, MENINA, OU FALA DE OUTRA COISA QUE NÃO SEJA VOCÊ! AFFE! – explodi na cara de Arles, que parecia uma idiota.
Todos me olhavam. parecia ter visto um fantasma.
- , vamos tomar uma água. – me puxou.
Estávamos na porta quando Arles falou:
- Namoradinha estressada. Você devia achar alguém mais relaxado, . Como eu, sabe?
Foi o que bastou. Fiquei parada na porta.
- O que você disse, sua maconheira?
Eu bufava, o sangue fervia em minhas veias e a vontade de acabar com a raça daquela francesa aumentou.
- Do que você me chamou? – ela perguntou com cara de inocente.
- MACONHEIRA, DROGADA, VAGABUNDA! – gritei, as veias saltando.
- Repete, sua brasileirinha de nada.
- O QUÊ? REPITO COM ORGULHO: MACONHEIRA, DROGADA E VAGABUUUUUUUUUUUUNDA!
- SUA BRASILEIRA DESGRENHADA!
- SUA PUTA, DEGENERADA!
- FILHA DE UMA ÉGUA MANCA.
- NÃO FALA ASSIM DA MINHA MÃE!
- FALO, E FALO MAIS: SEU PAI É UM COOOORNO! CHIFRUDO, E VOCÊ E A VAGABUNDA DA SUA IRMÃ SÓ PAGAM DE INOCENTES FINGINDO QUE NÃO SABEM DE NADA!
Dei um tapa em seu rosto e ela perdeu a paciência, voou em cima de mim e começou a me espancar, tentei revidar, mas fiquei com medo. Ela acabara de passar por uma cirurgia, gritava por uma enfermeira, que logo chegou e nos separou.
Eu bufava, e o sangue escorria de minha boca. Minha cabeça latejava e meu olho estava difícil de abrir. Arles olhava para mim odiosa.
- , tudo bem? – me perguntou.
- Não. Aliás, me esquece, tá? Finge que eu nunca existi pra você – eu disse, desvencilhando-me dele e saindo em direção à rua, atraindo olhares de todos.
saiu atrás de mim.
- O que foi aquilo?
- EU ODEIO ELA! ODEIO – eu disse ao meio de lágrimas. – ELE QUE FIQUE COM ELA. SERÃO MUITO FELIZES JUNTOS – eu explodi na cara da minha amiga e irrompi em grossas lágrimas.
me abraçou enquanto eu soluçava. Lizzie apareceu em seguida, com algodão e água.
- Vem, vamos limpar isso. – Elas me sentaram no banquinho da praça e começaram a limpar meu rosto ensanguentado.


Capítulo 22

Passava uma base tentando fazer os roxos desaparecerem quando Lizzie entrou no meu quarto.
- É HOOOJE!
Era a terceira vez que ela falava isso.
chegaria em menos de cinco minutos, junto das outras valsantes para se arrumarem aqui, fazer cabelo, maquiagem, por a roupa e ir de limusine.
LIMUSINE! A LOUCA DA LIZZIE PEDIU A LIMUSINE PARA O NOSSO TIO!
Eu pedi dinheiro. Hehe.
Estava me encarando no espelho, o roxo em volta no olho menos acentuado, quando entrou.
- AMIGA! E ai? Como você tá? Em relação ao ? – ela disse fazendo careta.
- Tô péssima. Eu amava ele, mas não deu. Eu vou ficar bem. Bem melhor que meu rosto, isso sim!
deu uma risada nervosa e se jogou na minha cama. Logo, ouvimos gritos histéricos crescentes.
- Elas chegaram – disse e eu concordei.
Descemos com medo de sermos atacadas, mas as meninas estavam sentadas na sala, comendo Amandita.
- ! ! Finalmente. Podemos começar! – Lizzie disse batendo palminhas.
Olhei de relance para , que segurava o riso. Uma mulher perguntava por nós e fomos sendo colocadas para fazermos cabelo, unha e maquiagem. Foi uma bagunça. Mas foi bem engraçado.
No final, Lizzie tinha o cabelo preso em um coque cacheado, , cabelo solto e liso, Flora, cabelo solto e cacheado e o meu era um rabo de cavalo liso, com as pontas onduladas.
Todas maquiadas, unhas feitas, cabelos prontos e finalmente fomos colocar os vestidos. Incrivelmente, até que eu tava bonita!
Todas estávamos, mas Lizzie, que vestia o vestido de recepção, estava deslumbrante. Seu vestido era branco com uma faixa rosa Pink.
Minha mãe chegou e nos encarou.
- Estão lindas - ela disse emocionada. Mamãe usava um vestido preto tomara-que-caia.
- Vamos? – Lizzie perguntou com um sorriso no rosto. - VAMOS! – todas gritamos indo correndo em direção à limusine.
Senti-me uma retardada quando decidiram subir no teto solar pra tirar foto.
Senti-me naqueles filmes adolescente hollywoodianos.
Finalmente, depois de muitas batidinhas sem álcool (mamãe é protetora), chegamos ao local da festa. Mal tínhamos chegado e os 300 convidados começaram a chegar.
Lizzie, toda simpática, recebeu todos com um sorriso no rosto. Os meninos chegaram e todos se juntaram para conversar.
Estava super ansiosa. Tinha ensaiado apenas duas vezes com Alan. Tinham tantas mudanças.
Estava conversando com , e animadamente quando Lizzie veio correndo pra mim.
- Vem comigo? Preciso me trocar.
Ela me puxou pela mão e subimos correndo para uma salinha apertada, onde ela se despiu rapidamente.
- Pega meu vestido da valsa? – ela pediu rapidamente.
Eu peguei e ajudei a colocar. Quando tinha acabado, ela me empurrou pra fora.
- ORGANIZA OS PARES NA ORDEM QUE EU TE FALEI. ME MANDA UMA MENSAGEM PARA EU DESCER. E MANDA O PRA ESCADA!
Saí correndo para organizar tudo. Peguei a listinha e fui organizando os pares. Alan ficou em primeiro me esperando.
Após cinco longos e corridos minutos, tinha organizado tudo. estava na escada, os casais a postos e todos olhavam a escada.
Uma valsa começou a tocar e um feixe de luz foi guiado até a escada.
Uma leve fumaça começou a cobrir o chão e ela apareceu sob aplausos de todos.
Estava linda. O vestido não era muito bufante, e a tiara estava perfeita. Ela sorria imensamente. Desceu até , que a pegou com um sorriso de retardado no rosto.
Eu tinha lágrimas nos olhos ao ver minha irmã assim.
Ela foi levada até o meio com e passada ao nosso avô.
Eles dançaram belamente, e pude ver meu avô deixar uma lágrima escorrer. A valsa acabou e tomou a função. E foi quando tudo começou.
Lizzie apagava a vela de cada um. Quando chegava ao acorde, formávamos um circulo e trocávamos os pares.
E foi assim sucessivamente.
Quando voltei com Alan, ele sussurrou em meu ouvido:
- Você está divina.
Eu corei e ele riu levemente.
A música acabou. Todos paramos de dançar e batemos palmas.
Os fotógrafos correram e tiramos fotos.
Depois, eu, Lizzie, Flora e subimos para a última troca.
Ela colocou o tão esperado vestido rosa. Todas as outras meninas que dançaram foram colocar os outros vestidos.
Acabamos e descemos.

Estava sentada num banquinho. Tinha dançado a noite toda e não aguentava mais essas músicas eletrônicas que nem se comparam com as brasileiras e esses ingleses que balançam os braços feito retardados! Ah, como eu sinto falta do psy, apesar de eu ser uma lástima!
- Olá – Alan disse sentando ao meu lado.
- Oi. Você dançou bem hoje
- Obrigado – ele disse com um sorriso. – Mas você foi perfeita!
- Que nada! – eu disse sendo modesta. Eu tinha sido perfeita!
Olhei nos olhos de Alan e ele me encarava.
Fomos nos aproximando.
- Posso? – ele perguntou com as nossas bocas praticamente coladas.
Eu lhe dei um selinho.
- Acho que isso te responde – eu disse e finalmente nos beijamos.
Não se comparou aos beijos de , mas foi bom. Me senti mais livre, como se pudesse sair voando.
Separamo-nos após um longo período e ele me olhava perplexo.
- E agora? O que vai ser? Você vai chorar oceanos, eu vou me xingar por ter feito isso, a gente nunca mais vai se falar?
- Não. A gente pode continuar com isso – eu disse dando um sorrisinho malandro. – Mas... Cuidado, eu estou muito... frágil – disse sendo sarcástica e ele riu.
Continuamos conversando por um longo tempo, até ele ir embora. Eu me levantei para entrar, mas três pessoas me puxaram para um canto.
- Me conta TUDO!
- O que foi aquilo?
- E o ?
, e estavam parados na minha frente.
- A gente ficou, ué. E o é um idiota!
Os três se olharam e eu murmurei um aff. Peguei a cerveja da mão de e virei.
Virei essa e mais algumas e os três só me encaravam preocupados.
Como já diria Capital Inicial: A vida é minha e eu faço o que quiser!


Capítulo 23

Acordei com a cabeça doendo. Maldita hora em que decidi beber um pouco... Ou 4 garrafas de cerveja e a champanhe. Olhei no relógio. 12h34min. Xinguei mentalmente e me levantei correndo. A primeira coisa que eu fiz depois que a tontura passou foi ir para o banho.
Enquanto a água quente caía no meu corpo, pensava no que tinha feito na noite anterior. A raiva que eu sentia de mim era imensa que comecei a chorar. Mal tinha terminado com o suposto amor da minha vida e já tinha ficado com o meu par na valsa no aniversário de 16 anos da minha irmã! Sentei no box do chuveiro e me encostei na parede. Fiquei chorando e deixando a água cair no corpo por um bom tempo, até o meu celular tocar. Saí correndo do chuveiro com os olhos ardendo. Enrolei-me na toalha e atendi.
Era Alan.
- Oi. Tava pensando em sair.
- Hoje? Cara, não dá. Tô com uma dor de cabeça insuportável!
- Você bebeu?
- Sim.
- Tá. A gente se fala depois. Beijos, querida.
Murmurei “beijos” e joguei o celular na minha cama.
Sequei-me e coloquei um moletom velho. Estava saindo do quarto, quando Lizzie apareceu.
- Me conta tudo de ontem? – ela chegou animada e se jogou na minha cama enquanto eu ligava o computador para passar as fotos.
Ia resumindo para Lizzie enquanto aproveitei para ver as fotos. Quando apareceu a minha foto e de Alan na valsa, eu voltei a chorar.
Será que é a ressaca?
- Eu me odeio! Não acredito que fiz isso!
Lizzie saiu da cama e me abraçou.
- Desculpa. Hoje é o seu dia. Vamos, quero ver os seus presentes! – eu disse me levantando e puxando Liz comigo até o seu quarto.
Ela entrou toda animada. Foi me mostrando cada um dos vário perfumes, as jóias, as roupas... Tudo.
Menos um.
- O que é isso na sua mão? – eu perguntei puxando sua mão direita.
- Nada... O presente do .
- É UMA ALIANÇA? AH! QUE LINDO! – eu disse pulando na minha irmã. – Bom, ainda bem que vai combinar.
- Combinar o quê? – ela perguntou curiosa.
Eu corri para meu quarto e peguei a caixinha roxa sobre o meu criado mudo. Voltei para o quarto de Lizzie e ela ainda me encarava. Mamão agora estava sentada na cama de Liz, dobrando as roupas.
- Bom dia, dorminhoca...
- Bom dia, mãe! – Eu dei a caixinha pra Lizzie. – Abre!!!
Ela abriu receosa.
- Uau. ... Uau – ela disse tirando a corrente da caixa.
Era uma corrente prata, com um pingente de estrela na ponta.
- É prata! – Mamãe exclamou. – Como você pagou?
- Herança do papai. Ela merece. Feliz aniversário, Liz!
Ela pulou em mim e me deu um abraço apertado. Ouvi um soluço e olhei para minha mãe.
- Aaaaah, que orgulho de vocês! – ela disse saindo da cama e indo nos dar um abraço!
Minha mãe chorava e Lizzie tinha lágrimas nos olhos. Meus olhos estavam inchados.
Por acaso isso é uma família de emos?

Entrei correndo na escola. Mais um dia atrasada. E incrivelmente não era por causa do . Como tinha acordado tarde no domingo, na hora de dormir foi um saco! Era uma hora e eu ainda estava rolando na cama.
- Com licença – pedi a professora e me sentei na primeira carteira, o único lugar vago.
Minha cabeça girava e meus olhos ainda doíam de tanto choro. Para piorar, era matéria essencial para a faculdade.
Quando fomos para o intervalo, veio correndo falar comigo.
- O que aconteceu com você ontem? Eu tentei te ligar o dia todo.
- Meu celular tava sem bateria – menti.
A verdade é que eu tinha ignorado todas as ligações da .
- Não mente pra mim, , por favor. A Lizzie atendeu uma hora e disse que tava tudo normal. Até me contou da corrente – ela bronqueou.
- Tá legal, desculpa. Eu só não queria ouvir você falar que eu fiz besteira e tal. – No que eu disse, recebi uma mensagem.
Era de Alan.

De: Alan
E aí? Dá pra gente se ver hoje? Vou sair da escola e ir te buscar, tudo bem?
Ai a gente pode ir comer na Starbucks... Ou sei lá. Me responde, tá?
Beijos, querida.


- Ah, que lindo! Você vai dizer que sim, né? – perguntou emocionada.
- Não sei... – eu disse mordendo o lábio.
Ela arrancou meu celular da mão.
- Claro que sim, Alan. Te vejo aqui. Beijos. Enviar... Alan... Enviado! – Ela me devolveu o celular na mão com um sorrisinho. – Fica gata, amiga, seu Príncipe Encantado vem te buscar hoje no cavalo branco.
- Cadê o ? – eu perguntei, sentindo ausência daquele que deixava minha amiga mais equilibrada.
- Ah. Ele, o e o decidiram zoar com o nerd calouro e foram parar na diretoria – ela disse com a boca torta.
- Ah. Qual nerd calouro?
- O loirinho, cabelo ceboso, que nem o do Draco, magrelo, alto, espinhoso... – ela foi citando e eu me lembrei de quem ela falava.
- O que eles fizeram?
- O de sempre... Puxaram a cueca, derrubaram o material... E pixaram a cara dele...
- Ah.
Eu respirei fundo e arrumei meu material. Tínhamos que voltar para a sala antes do meu homicídio social.
A professora de desenho geométrico tagarelava na minha frente e dizia regras e propriedades, quais eu não lembrava nem um minuto depois de copiá-las. Eu queria morrer.
- Tudo bem, srta. ? Tem uma lágrima escorrendo no seu rosto – ela me disse e eu corei.
- Não é nada, professora, mas obrigada por se preocupar. – Eu enxuguei a lágrima e senti o olhar de .
Só posso dizer que aqueles foram 50 minutos infernizantes! A professora decidiu ser legal comigo acho, porque só passou exercícios para serem entregues na próxima semana.
Arrumei meu material bem devagar, sobre o olhar constante de e . e chegaram em seguida. Lizzie ia estudar com Flora.
Menos platéia...
Respirei fundo e saí da sala, escoltada pelos meus amigos, que tinham uma expressão séria no rosto.
Dei um suspiro alto e saí da escola. O sorriso dele se destacou ao meio de tantas cabeças, risadas, xingamentos e olhares.
Andei em direção a Alan e ele mantinha o olhar em mim. Dei um sorriso de leve e finalmente cheguei perto dele. Ele me recebeu com um selinho e pareceu que todos da escola tinham parado só para nos olhar.
- Olá a todos – ele disse aos meninos e a , que mantinham sorrisos amarelos no rosto.
- A gente tá indo. O Sr. e a Sra. nos esperam. Me liga, tá? – disse a última parte de um modo que só eu pudesse ouvir.
Sorri de leve.
Alan segurou em minha mão. Ouvi os murmúrios e as fofocas.
Estávamos sentados tomando Frapuccinos e comendo alguma coisa. Alan comentava de seu dia.
- Alan... Alan querido, posso falar com você? – eu pedi, interrompendo seu monólogo sobre a professora de geografia que tinha lhe dado uma nota baixa.
- Tudo bem, ? – Percebi a expressão dele mudar de indignada para preocupada.
- É o seguinte... Eu gosto de você. Mas eu acabei com o há poucos dias...
- Você não quer continuar, é isso.
- Quero, mas vamos devagar...
Ele me olhou e eu sorri de leve.
- Tudo bem.
- Obrigada.
Continuamos a tomar os cafés em silêncio. Eu olhava para o lado, evitando o olhar de Alan. Quando olhei para ele, ele mantinha a cabeça baixa. Ele levantou a cabeça e pude ver sua cara de desapontado.
Como eu poderia fazer para ele entender?
- Quer saber. Dane-se isso. Queria ir devagar por causa do , mas por quê? Ele deve estar lá, com os amiguinhos e aquela francesa maldita e degenerada! – eu disse, dando um gole em seguida. – Ele que se contente que não foi bom o suficiente para mim!
Alan me deu um sorriso e pegou a minha mão.
- Se é o que você quer...
- No momento, mais que nada! – eu disse, me inclinando para lhe dar um selinho.
O que estava fazendo? Satisfazendo as vontades de um garoto só para fazê-lo feliz enquanto eu morria de tristeza?
Sim, isso. Pense no próximo, é o que papai sempre me dizia. Mas não se esqueça de você, ele sempre acrescentava. No momento, eu não importo.
E esse, com certeza, é o melhor jeito para eu esquecer o .
Coisa que eu quero mais que tudo.


Capítulo 24

Há uma semana, eu tinha conversado com Alan.
Colocado tudo nos eixos e virado uma infeliz. Até que não estava tudo tão ruim... Para quem via.
Por dentro, estava morrendo. Possibilidades de continuar viva: poucas, mas aumentando com a eficácia que Alan tinha de me fazer rir.
Em um mês, teríamos as provas finais e, depois, a formatura.
E aí sim continuaria minha vida sem .
A Sra. tinha me ligado outro dia. Como amiga, ela disse. Eu amo essa mulher. Queria saber se eu estava bem, porque ela tinha ficado muito preocupada quando soube o que houve, mas queria ligar quando ou o Sr. não pudessem ouvir.
Estava saindo correndo da minha aula de literatura inglesa quando vi falando com , e .
- Pois é. Agora ele vai ter aulas particulares, com um tutor tal, para poder fazer as provas. Ele me contou ontem. Aí ele faz as provas na casa dele e tudo. Para não correr riscos, sabe?
- Falando de quem? – Eu cheguei toda cínica e inocente.
- Do . Ele volta hoje pra casa e vai ter aula particulares por causa das provas.
- Poxa, que legal! Que bom pra ele, de verdade – eu disse dando o meu melhor sorriso de superação.
Decidi que aquela rodinha não seria uma das melhores para conversar hoje. Fui achar Liz, mas ela estava terminando o dever de casa. Flora lia um livro toda empolgada.
Fiquei encarando o pátio da minha escola sem saber o que fazer. Nunca me senti tão rejeitada na vida. Sem rumo, sem saber o que fazer, peguei minhas coisas e fui comendo a minha maçã em direção à minha próxima sala, apesar de a aula só voltar em quinze minutos. Fiquei estudando. Nunca é cedo para começar.
Uma lágrima fugiu do meu olho e coloquei meu iPod no ouvido.
Escolhi Beatles, mas ao final de Here Comes The Sun, devido ao shuffle, começou uma música que eu nem sabia que tinha no meu iPod. Virei ele e vi um colante de borboleta de strass. Legal, estava com o iPod de Liz. Ignorei esse fato e continuei a ouvir a música.
Ela basicamente falava sobre terminar relações e como você pode ficar bem sem elas. Fiquei ouvindo a música sem parar e comecei a cantar o refrão:
- It’s all right, it’s okay. I’m so much better without you, I won’t be sorry.
Terminei a música com um sorriso no rosto.
Continuei a ler Álgebra enquanto a sala começava a se encher. sentou ao meu lado e ficou me olhando. entrou na sala e jogou o material na carteira atrás da minha.
- O que aconteceu? – ela perguntou com um olhar severo.
Por que essa praga tem que saber quando tem algo errado?
- Tá legal. É difícil ficar ouvindo vocês falarem do . E vocês param de falar quando eu chego. Poxa...
tinha o olhar baixo e uma cara séria.
- , eu amo você, de verdade. É uma das minhas melhores amigas... Mas, poxa, o é meu parceiro desde a primeira série, quando você só usava rosa, de verdade, . – Ele suspirou. – Ninguém queria que isso tivesse terminado, mas a gente não pode se meter no assunto de vocês. Eu não quero que você ouça do o tempo todo, fingindo que está bem, enquanto você se rói por dentro. A gente não fala de você para ele, mas quando alguém deixa escapar, ele fica com uma cara igual a sua. E aquela Arles tá deixando ele louco!
Ele terminou de falar e manteve seu olhar firme em mim.
- Desculpa – eu murmurei, levantando-me e dando um abraço nele.
Olhei para e ela tinha um sorriso solidário.
Saí da escola e lá estava ele, com seu olhar penetrante e seu sorriso impecável.
- Oi, Alan.
- Oi, querida, oi, gente. Vamos? Tenho uma surpresa – ele disse com um sorriso malandro no rosto.
- Claro, mas... Onde? E minha mãe?
- Onde é surpresa. E a sua mãe... Já falei com ela. Como amigo – ele disse rindo.
Sorri de leve e olhei pra . Eu tinha um olhar de socorro, mas ela só me olhou e pediu desculpas. Voltei minha atenção a Alan e sua surpresa.
Fomos andando até a estação de trem.
Destino: centro de Londres.
Olhei para Alan e ele tinha um olhar desconfiado.
- Tudo bem? – ele me perguntou.
- Sim, sim... São só memórias – eu disse sorrindo. Eu e íamos sempre que dava para Londres.
Alan abriu um sorriso maior e embarcamos.
Ele ia tagarelando, como sempre, e me fazendo rir das coisas mais absurdas.
Saí do trem e tinha a cara de pasma estampada em meu rosto. Fingi que estava tudo bem e sorri para Alan. Ele retribuiu e pegou em minha mão.
- Vamos... Eu tenho que te deixar em casa até as dez e eu quero fazer muitas coisas! – ele disse meio que correndo.
Almoçamos em frente ao Big Ben, depois ele me levou ao museu de cera da Madame Tusseauds e fomos ao London Eye.
- Isso é tudo muito lindo... – eu disse praticamente colada no vidro da roda-gigante.
- Só faz sentido se você estiver comigo – ele disse me olhando nos olhos.
Corei e sorri de leve. A culpa invadiu meu coração e eu me preparei para chorar. Mas, ao invés disso, eu o beijei. Ele me abraçou e ficamos assim até acabar o nosso tempo.
Eram nove e meia quando Alan parou na porta de casa, ajudando-me a levar as minhas sacolas de compras.
Desculpa, sou mulher e tenho um instinto comprador. Foram algumas coisinhas básicas, de verdade.
- Então... Obrigada – eu disse.
- De nada. Por você eu faço tudo – ele disse me dando um selinho. – Te vejo amanhã.
Ele saiu e eu entrei em casa.
- AH! COMO FOI? – Liz me interceptou rapidamente.
- Ah... Foi legal. Romântico... Nada a declarar – eu disse olhando pra mamãe. – Não na frente dela. Te conto indo pra escola – eu sussurrei essa última parte de um modo que só Lizzie pudesse ouvir.


Capítulo 25

O sol de sábado irradiava dentro do meu quarto.
- Levanta, preguiçosa. São nove horas e a gente tem muito o que fazer – Mamãe entrou ordenando.
- Aonde vamos? – eu resmunguei puxando o cobertor pra cima da minha cabeça.
- Ver galinhas!!! – ela disse toda feliz e eu me levantei em um pulo.
- FAZER O QUÊ?
- Ver galinhas... Vamos a uma hípica perto de casa ver onde eles compraram as galinhas e depois a uma loja. Galinhas d’angola!
Minha cara não podia ser outra a não ser de espanto. Eu olhava indignada para a minha mãe até que Lizzie apareceu na porta.
- GALIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIINHAS! – ela disse correndo em direção à minha cama e pulando nela. – VAMOS!
Eu me levantei praticamente arrastada por Lizzie. Coloquei uma roupa extremamente básica e saí quase dormindo de casa.
Fomos a essa tal hípica, e o dono disse que ele tinha comprado as galinhas em uma loja no centro da cidade.
Estávamos de saída quando todas as vinte galinhas d’angola decidiram atravessar a rua na nossa frente. Mamãe surtou e começou a filmas as galinhas gritando feito uma doida. Lizzie apontava para as galinhas toda sorridente. E eu morria de vergonha porque todas as crianças que brincavam na rua estavam olhando para o nosso carro.
- Mamãe, essa loja é perto do colégio! – Lizzie disse quando a gente parou em frente à loja.
Super bacana! O time de futebol treinava todo sábado de manhã, e depois o de natação! Ai que vergooooooonha!
Entramos na loja de aves e o funcionário olhou pra gente.
- Onde estão as galinhas? – Liz perguntou.
- No andar de baixo.
Fomos até o porão e nos deparamos com vários tipos de galinhas, aves, periquitos, patos e até uma ninhada de patinhos. Aliás, muito lindos.
O local estava uma bagunça. Galinhas brigavam, galos cantavam e as aves piavam loucamente. E, claro, as três tagarelavam sem parar.
Até que, em um ato inesperado, Lizzie gritou o seguinte:
- POGÓ!
Incrivelmente, o local ficou em silêncio. Todos os animais nos olhavam. Um galo estava estático em sua gaiola, os patinhos estavam grudados na grade tremendo e com cara de apavorados.
Eu olhava para mamãe, que tinha uma cara de retardada.
Aos poucos, os pássaros voltaram a piar e a zona se instalou no local novamente.
Eu e mamãe mantínhamos nossas caras de espanto. Lizzie tinha um sorriso de vitória no rosto.
- Mãe, eu quero uma galinha – ela disse com um sorriso sapeca no rosto.
Em menos de um minuto, o dono da loja entrou no porão:
- Não pode fazer barulho porque as galinhas ficam estressadas e, se elas estressarem, elas morrem de estresse – ele disse rapidamente e eu, mamãe e Lizzie praticamente voamos para fora do galpão.
Enquanto mamãe pedia informações sobre galinhas, o dono da loja começou a falar sobre como os venenos estavam atacando até os humanos...
Depois de uns bons dez minutos sobre esse assunto, as três saíram perturbadas da loja com cara de retardadas.
Pode ter certeza: é esse o sentimento que você teria se estivesse no nosso lugar.
Decidi que queria ler todos os meus Harry Potter novamente e os separei, deixando em cima da minha escrivaninha.
Peguei a Pedra Filosofal e, quando eu lia a primeira linha, meu telefone tocou.
- Alô? – eu atendi de mau humor.
Oh, quem ousas interromper o meu momento sagrado de leitura?
- ! Tudo bom?
- Tudo sim e com você, Alan?
Minha decepção aumentou logo que eu ouvi sua voz. Fechei o livro e o coloquei de lado.
- Tá tudo ótimo, principalmente agora – ele disse e eu senti meu estômago revirar.
- Ah, tá.
Alan queria o que eu não podia dar: meu amor.
Conversei um tempo com Alan e, enquanto eu girava a minha cadeira do computador, percebi uma coisa. As fotos do ainda estavam no meu mural.
Fiquei mais uma meia hora no telefone com Alan e acabei me esquecendo dos livros. Ele me fazia esquecer os problemas. Às vezes sentia que ele era mais um amigo do que... um ficante.
Depois de convencer Alan que eu tinha que terminar um dever de casa, encarei o mural.
Tinha as mais variadas fotos.
Foto minha com a , com os meninos, com a Liz, meu pai, meus avós, minha última ida ao Brasil. Mas, com certeza, a maioria era com o . Olhei para a minha escrivaninha. Uma foto minha com o .
Peguei meu mural e coloquei na escrivaninha. Liguei meu computador e coloquei alguma música para tocar.

Tente me olhar, e provar que meu mundo acabou
Tente me mostrar que nada restou
Se o tempo parar pra nós dois, Vou tentar te guardar
E eu deixo a saudade aqui, pra tentar continuar
Hoje perco você, em meus braços e morro um pouco mais
E morro um pouco mais...
Hoje perco você em mim, mesmo assim vou vivendo
Viver, sem você aqui, sem você sorrir pra mim, e só mais uma vez.
Deixa eu te falar, eu procuro você em todos os cantos
mas só em você, eu encontro minha paz
Se o tempo parar pra nós dois, vou tentar te guardar
E eu deixo a saudade aqui, pra tentar continuar

Segurava uma foto minha e do do dia em que ele tinha me dado a aliança. Respirei fundo e joguei a foto na caixa. Peguei todas do e joguei na caixa. Peguei umas com a Liz, e os meninos e coloquei no lugar da antiga.
Segurei o choro e continuei com a tarefa.
Quando terminei, coloquei o mural no lugar dele e voltei à minha leitura. E estava determinada a fazer funcionar com Alan. E ia. Ah se ia...
Mas as memórias com eram muito fortes. Encarei a caixa com as fotos. Era uma típica caixa de Converse All Star. Eu tinha escrito com branquinho “fotos”. Chamei por Lizzie e mamãe, mas estava sozinha em casa. Aproveitei esse momento e gritei.
Gritei muito. Expandi minha raiva e minhas frustrações para fora. Minha garganta começou a doer e eu respirei um pouco. As lágrimas queimaram meus olhos. Voltei a gritar e joguei minha caixa de fotos no chão junto com os meus livros.
Comecei a chorar desesperadamente e me sentei no chão, apoiada na minha cama. Minha garganta doía, minha consciência doía, minha cabeça doía. Meu coração doía.
Eu tremia de tanto chorar. Eu me odeio. Me odeio, me odeio!

(Minha paz...)
Viver, sem você aqui, sem você sorrir pra mim, e só
uma vez (2x)
Outra vez, agarro meus sonhos e deixo o vento te trazer
Todo o frio vazio que sinto e sofro, nunca te
esquecer, (Nunca mais! nunca mais!)
Viver, sem você aqui, sem você sorrir pra mim, e só mais
uma vez
(Minha paz...) (3x)
Mais uma vez, ver você sorrir (2x)
só mais uma vez pra mim,(2x)
só mais uma vez...


Capítulo 26

Estava lendo Potter e a Câmara Secreta com o fone no ouvido quando alguém bateu na porta.
- Oi. Tudo bem com você?
Era Alan. Ele parecia receoso.
- Claro, por que não estaria?
Eu amo maquiagem. Nem dá para perceber meu ataque de ontem.
- Bem... A Liz me ligou falando que os vizinhos te ouviram gritar sem parar ontem.
- Ah, não foi nada. Eu... machuquei meu dedo fazendo a unha.
Sorri de leve tentando parecer convincente. Pela cara dele, eu não tinha convencido muito, mas... Fazer o quê? Não ia falar para ele que eu estava berrando feito uma retardada por causa do meu ex e porque eu me sobrecarreguei. E porque eu não quero mais ficar com ele e sim com o verdadeiro amor da minha vida, que, aliás, pode morrer a qualquer momento.
- , você está realmente bem? – Alan me tirou do meu transe. – Você parece... Preocupada.
É claro que eu estou preocupada. Como poderia não estar? Além do estar naquela situação, Lizzie estava na casa de . Sozinhos. É isso. Liz!
- Ah, é que a Liz está na casa do e eles estão sozinhos. Bem... Você entende, né? – Dei um sorriso nervoso ao meio da minha desculpa e cara de preocupada que ele deve ter engolido essa.
Não por inteiro, pois ele ficou me olhando curioso enquanto eu desligava o computador.
Encarei Alan por um momento e percebi que ele tinha o rosto vermelho.
- O que aconteceu com o seu rosto?
- Nada, nada...
Ele se virou tentando fugir do meu olhar, mas eu segurei seu braço e virei seu rosto.
- Alguém te bateu! – eu disse espantada – O que aconteceu? Quem foi? Por quê? – eu tagarelei de medo da resposta, esperando que não fosse nada de mais.
Alan hesitou e me encarou um momento. Ele parecia estar procurando as palavras certas para me dizer.
- É que... Eu briguei na rua.
- Você está mentindo – eu disse cruzando os braços.
Quando ele mexia muito no cabelo ou no boné, significa que ele está nervoso, ou seja, mentindo.
- Tá, legal. Só, por favor, não conte para ninguém. Eu tenho medo do que pode acontecer se alguém descobrir que eu te contei – ele disse tremendo o corpo inteiro.
Ele estava traficando drogas? Virando um alcoólatra? Viciado em jogo de azar?
- Alan, o que aconteceu? – Eu comecei a tremer também.
- É o meu pai, . Ele tem chegado tarde em casa, alterado. Ele perdeu o emprego, e, desde então, o inferno começou. Ele sai para beber, e, pelo o que eu fiquei sabendo, ele até se drogou. E... Ontem ele tentou bater na minha mãe, porque ela tava chorando. Eu desci correndo para ver o que era e, no que tentei protegê-la, ele me bateu. Muito.
Alan terminou com a voz mais baixo do que quando ele começou. Seus olhos marejavam e ele tinha a postura dura.
- Alan, isso é terrível, você deveria contar à polícia.
- Não, ele vai saber!
- Alan, é só dizer confidencialmente. Espere um segundo, vou trocar de roupa e vamos à delegacia.
Antes que Alan pudesse responder, eu peguei uma outra camiseta no armário e a calça que estava na cadeira e fui me trocar no banheiro. Coloquei meu All Star surrado e prendi o cabelo em uma trança. Terminei de me arrumar e saí do banheiro, com receio de Alan ter fugido. Mas não, ele estava no telefone.
- Sim. Leve a Kathy também. É importante, você sabe disso. – Ele ficou em silencio – Sim, te vejo em quinze minutos.
Ele desligou o telefone e disse que era a mãe dele, e que ela e a irmã de nove anos também iriam à delegacia. Inevitavelmente, eu sorri.
Eu já havia conhecido o pai de Alan há um tempo, eu ainda nem estava com . Ele deu uma carona a mim e a Liz depois do shopping. Ele era um senhor simpático, sorridente e brincalhão. Não teria por que entrar nessa roubada de álcool e drogas.
Peguei minha bolsa e liguei para mamãe e Lizzie dizendo que eu estaria fora e voltaria em pouco tempo.

- Há algumas semanas, ele perdeu o emprego. Era diretor de vendas – a mãe de Alan falava com o delegado enquanto nós três esperávamos. – Acharam alguém melhor, sabe? E foi quando começou. Ele chegou um dia bêbado, mas eu achei que seria uma vez. Um modo de afogar, literalmente, as mágoas. Mas começou a virar rotina. Ele chegava todo dia, de madrugada, bêbado, alterado. Gritava com o que estivesse na sua frente. – Ela respirou e segurou o choro. – Um dia, quando ele estava sóbrio, conversei com ele. As crianças falaram como se sentiram e ele prometeu não voltar, e, no dia seguinte, iria procurar um emprego novo. Duas rejeições em um dia. Ele disse que dava para agüentar. Ele permaneceu dois dias sóbrio. Recebeu rejeições os dois dias. Na noite do terceiro, eu já tinha colocado as crianças na cama, ele chegou, gritando, bravo, eufórico. Tinha bebido. O inferno tinha recomeçado. Desde então ele tem chegado às vezes até drogado, não só bêbado.
O delegado tinha o rosto fixo na mãe de Alan. As lágrimas escorriam por seu rosto. Ele desviou o olhar e viu Alan e Kathy com os rostos vermelhos.
- Muito bem, o que aconteceu aos rostos de vocês? – ele perguntou, definitivamente, sem medo da resposta.
Os três se olharam e eu dei um sorriso encorajador à mãe.
- Ele chegou ontem muito tarde. Eram quase quatro da madrugada, e eu acabei adormecendo no sofá esperando por ele. Quando ele entrou, eu comecei a chorar e ele começou a gritar e a me bater. Kathy e Alan acordaram e desceram correndo. Quando viram a cena, Alan colocou Kathy longe e foi tentar parar o meu marido. Bem, ele se alterou e começou a bater nele. A coitadinha da Kathy chegou batendo nele, para ele parar, mas acabou sobrando para ela. Alan a pegou e a colocou no meu colo e pediu para que a gente se trancasse no quarto. Ele praticamente nos obrigou a fazer isso. E eu fui.
O delegado olhou para Alan.
- O que aconteceu a seguir?
- Eu tentei segurá-lo e o levei para tomar banho. Quando eu voltei ao banheiro com a toalha, ele estava cheirando e com uma garrafa de vodca na mão. No que eu tentei tirar da mão dele, ele me bateu. Eu simplesmente agüentei, e joguei tudo pela janela e o deixei dentro do chuveiro. Depois do banho, ele desmaiou e eu o coloquei na cama. Quando a gente saiu, ele ainda dormia.
O delegado terminou de anotar e olhou o estado de cada um. A mãe tinha hematomas nos braços e no rosto. Kathy tinha o olho roxo e uma marca vermelha ao redor do pulso direito. Já Alan era o mais atingido. Tinha marcas no rosto e braço. Muitas. Sem contar as escondidas pela roupa.
- Vamos averiguar e ele será encaminhado a uma clínica de reabilitação.
Saímos da delegacia e, enquanto andávamos em direção ao parque, onde Kathy estava indo brincar, passei em frente do hospital onde tinha sido internado. Fiquei encarando a entrada e fui tirada do meu transe por uma Kathy me agradecendo a ajudá-los a fazer isso. Sorri de leve e peguei meu iPod enquanto Alan brincava com a irmã.

Why do you always do this to me?
Por que você sempre faz isso comigo?
Why couldn’t you just see it through me?
Por que você não pode apenas ver através de mim?
How come you act like this?
Por que você age desta maneira?
Like you just don’t care at all
Como se nada tivesse importância

Do you expect me to believe I was the only one to fall?
Você espera que eu acredite que eu fui a única a cair?
I can feel, I can feel you near me, even though you’re far away
Eu posso sentir, eu posso sentir você perto de mim, mesmo que você esteja distante
I can feel, I can feel you, baby, why?
Eu posso sentir, eu posso sentir você, baby, por quê?

It’s not supposed to feel this way
Isto não era para ser sentido desta maneira
I need you, I need you
Eu preciso de você, eu preciso de você
More and more each day
Mais e mais a cada dia
It’s not supposed to hurt this way
Isso não deveria doer desta maneira
I need you, I need you, I need you
Preciso de você, preciso de você, preciso de você
Tell me, are you and me still together?
Me diga, eu e você ainda continuamos juntos?
Tell me, do you think we could last forever?
Me diga, você acha que poderíamos durar pra sempre?
Tell me why
Me diga por que

Hey, listen to what we’re not saying
Hey, escute o que nós não estamos dizendo
Let’s play a different game than what we’re playing
Vamos jogar um jogo diferente deste que estamos jogando
Try to look at me and really see my heart
Tente olhar pra mim e ver o meu coração de verdade

Do you expect me to believe I’m gonna let us fall apart?
Você espera que eu acredite que eu vou deixar nós ficarmos longe?
I could feel, I could feel you near me, even when you’re far away
Eu poderia sentir, eu poderia sentir você perto de mim, mesmo que você estivesse distante
I can feel, I can feel you, baby, why
Eu posso sentir, eu posso sentir você, baby, por quê?

It’s not supposed to feel this way
Isto não era para ser sentido desta maneira
I need you, I need you
Eu preciso de você, eu preciso de você
More and more each day
Mais e mais a cada dia
It’s not supposed to hurt this way
Isso não deveria doer desta maneira
I need you, I need you, I need you
Preciso de você, preciso de você, preciso de você
Tell me, are you and me still together?
Me diga, eu e você ainda continuamos juntos?
Tell me, do you think we could last forever?
Me diga, você acha que poderíamos durar pra sempre?
Tell me why
Me diga por que

So go and think about whatever you need to think about
Então vá e pense sobre o que quer que você precise pensar
Go ahead and dream about whatever you need to dream about
Vá e sonhe com o que quer que você precise sonhar
And come back to me when you know just how you feel, you feel
E volte para mim quando você souber como você sente, você sente

I could feel, I could feel you near me, even when you’re far away
Eu poderia sentir, eu poderia sentir você perto de mim, mesmo que você estivesse distante
I can feel, I can feel you, baby, why?
Eu posso sentir, eu posso sentir você, baby, por quê?

It’s not supposed to feel this way
Isto não era para ser sentido desta maneira
I need you, I need you
Eu preciso de você, eu preciso de você
More and more each day
Mais e mais a cada dia
It’s not supposed to hurt this way
Isso não deveria doer desta maneira
I need you, I need you, I need you
Preciso de você, preciso de você, preciso de você
Tell me, are you and me still together?
Me diga, eu e você ainda continuamos juntos?
Tell me, do you think we could last forever?
Me diga, você acha que poderíamos durar pra sempre?
Tell me
Me diga

It’s not supposed to feel this way
Isto não era para ser sentido desta maneira
I need you, I need you
Eu preciso de você, eu preciso de você
More and more each day
Mais e mais a cada dia
It’s not supposed to hurt this way
Isso não deveria doer desta maneira
I need you, I need you, I need you
Preciso de você, preciso de você, preciso de você
Tell me, are you and me still together?
Me diga, eu e você ainda continuamos juntos?
Tell me, do you think we could last forever?
Me diga, você acha que poderíamos durar pra sempre?
Tell me why
Me diga por que

- Alan, posso falar um minuto com você? – eu pedi com a cara fechada.
- Claro, o que foi?
Respirei e abri a boca.
- Não dá mais. Desculpa. Eu gosto muito de você, tenho um carinho enorme, eu te amo. Como amigo – eu disse por fim.
- Percebi isso. Obrigado por ser sincera comigo – ele disse sorrindo.
- Obrigada você por ter sido ótimo. – Eu o abracei bem forte. – Droga, por que você não é gay? Doeria bem menos.
- Amiga, vai lá e agarra seu bofe e me liga contando tudo – ele disse fazendo voz feminina e eu ri. – De verdade, vai lá com ele e me liga depois – ele disse rindo.
Eu o abracei novamente e as lágrimas que saiam agora eram de felicidade.
Dei um beijo na mãe de Alan e em Kathy e pedi para que eles me avisassem quando alguma coisa fosse decidida.
Saí correndo com as lágrimas jorrando dos meus olhos e um sorriso impagável. Corri dez quarteirões e parei em frente à casa de . Pude ouvi-lo tocando violão. Meu sorriso aumentou e eu toquei a campainha. A Sra. abriu a porta e pareceu surpresa.
- ! Que surpresa boa!
Eu a abracei e continuei a chorar.
- Senti saudades, Sra. .
- Eu também, querida. Vou chamá-lo – ela disse entendendo a minha expressão. – Com certeza, ele vai querer.
Ela saiu e ouvi o violão cessar com a melodia. Esperei um pouco e logo a porta se abriu. estava de jeans e uma camiseta branca regata. Ele me encarou com curiosidade e me abraçou. Ficamos tanto tempo abraçados e eu pude ouvi-lo chorar ao meu lado.
- Eu não sei viver sem você. Não sei viver sem o seu sorriso – eu disse o beijando.
Olhamo-nos e ele completou:
- Eu ainda estou aqui por você.
Eu ainda chorava, mas sorria como uma criança que tinha acabado de ganhar doce.
- Eu te amo.


Capítulo 27

Eu estava estudando para a prova de Biologia quando a porta do meu quarto foi aberta e seis adolescentes invadiram o meu quarto. , , , , Lizzie e Flora foram procurando lugares para se sentar e me encararam.
- Pois não? No que posso ajudar?
- Bom, eu quero pipoca e coca – disse rindo
- Eu quero chocolate – disse em meio a gargalhadas.
- De verdade, o que foi? – eu perguntei rindo e olhando para os meus amigos.
tinha vindo tomar o café em casa para eu contar à mamãe a novidade, mas Liz tinha dormido na casa de Flora e só ficou sabendo quando eu mandei a mensagem pra .
- Conta tudo de ontem – eles me pediram com sorrisos no rosto.
Eu ri de leve e fechei meu livro. Olhei para eles e contei. Só não contei a parte da delegacia.
Falei de como Alan tinha sido compreensível e como tinha sido... .
Finalmente as coisas voltariam ao normal. Quer dizer, faríamos as provas e, se passássemos: faculdade, aí vamos nós!
Hoje era domingo, e as provas começariam amanhã. Seis dias de provas. Iríamos ter provas até de sábado. Último ano acaba com a vida social.
Eles acabaram ficando em casa para estudar, e Flora e Lizzie foram estudar no outro quarto.
Estudamos biologia por horas, mas por volta das três e meia eles foram embora e, depois do meu banho, comecei a estudar Química, que seria a primeira prova. Minha mente não absorvia mais nenhuma informação às oito, e mamãe tentava me fazer ir jantar. - Eu não posso parar de estudar – eu disse sendo teimosa.
- Você precisa comer. Pelo menos um pouco. Eu fiz macarrão com molho branco – ela disse tocando no meu ponto fraco.
Eu desci para a cozinha e Lizzie já estava sentada. Comemos rapidamente e depois tomamos o sorvete que mamãe tinha feito e subimos correndo. Já era quase meia-noite quando minha mãe entrou no meu quarto.
- Vai dormir, menina!
- Mas eu não terminei essa parte.
- O que é isso? – Mamãe pegou a folha e viu. – Mas você já estudou isso hoje. Na hora do jantar! – ela disse me repreendendo e arrumando minhas coisas. – Vai por o pijama, escovar os dentes e dormir. Você precisa descansar para poder fazer a prova direito.
Coloquei meu pijama e, quando eu saí do banheiro, mamãe me deu um beijo de boa noite e saiu.

Estávamos sentados em ordem de chamada. Eu estava revendo o resumo que tinha feito da matéria quando o professor entrou. Guardei a folha na minha bolsa e peguei lápis, caneta e borracha.
O professor entregou a prova e eu comecei a fazer. Ela estava gigante. Tinha vinte e cinco questões. Quinze dissertativas e dez de múltipla escolha. Eu saí depois de uma hora e meia fazendo a prova. Eu estava exausta.
Sentei-me em uma mesa no pátio e fiquei estudando biologia. Estava revendo meu resumo pela terceira vez quando chegou. Ele estava essa semana na escola só para fazer as provas.
- Oi, meu amor. Estudando muito? – ele perguntou rindo.
- Idiota. Você deveria estar estudando. – Eu dei meu caderno a ele.

Cheguei em casa depois da prova de biologia, que estava relativamente fácil, e fui tomar banho para ir estudar História. Eu não conseguia me concentrar. Era Historia e Física no dia seguinte. E eu sou uma abominação em exatas. Minha cabeça doía depois da minha maratona de lágrimas do final de semana.
Encarei meu livro de História, respirei fundo e o peguei.
Tentava estudar, mas minha cabeça pesava. Meu cérebro não suportava mais nada. Meus olhos fechavam.
- Cheguei – ouvi uma voz conhecida gritar da sala.
Era minha mãe. Ela deveria chegar só às seis e meia. Olhei no relógio.
- AAAAAAAAAAH! CARACA, TÔ ATRASADA! – gritei jogando tudo pro ar, percebendo que tinha dormido. –CARACA! TÔ FERRADA!
- O que foi? – Lizzie apareceu na porta do meu quarto toda desarrumada. Devia ter dormido também.
- SÃO SEIS E MEIA! EU TÔ ATRASADA. EU PRECISO ESTUDAR. EU VOU ME DAR MAL. EU QUERO CHORAR. AI, MEU DEUS, O QUE EU FAÇO? ME AJUDA, LIZ?
- Primeiro, acalma...
- COMO ACALMAR?
- FICA QUIETA UM MINUTO? – ela gritou, segurando-me pelos ombros.
Meu olho arregalou e eu engoli em seco olhando para a minha irmã.
- Há mais ou menos quatro meses o papai morreu, lembra?
Engoli o choro e olhei para Lizzie.
- Sim – eu murmurei.
- Hoje eles fariam vinte anos de casados. A mamãe tá péssima. Não é um bom dia para surtar.
- Verdade, desculpa.
Abracei minha irmã, que também tinha lágrimas nos olhos, e descemos para falar com mamãe.
Eu já ia repetir em Física mesmo. Mas eu posso estudar depois do jantar. História eu estudo amanha, já fechei. Sei lá, temos um problema antes.
- Mãe? Tudo bem? – Chegamos todas fofas e sorridentes.
Quando ela se virou, pudemos ver seus olhos inchados e uma colher de Nutella cheia na mão.
- É hoje que acaba a minha dieta. – Ela tentou sorrir, mas não conseguiu. Seus olhos se encheram de lágrimas e ela começou a chorar.
- Ah mããããe. – A gente correu e a abraçou.
- Vinte anos! VINTE! – ela disse colocando uma colher de Nutella na boca. – Que droga.
- Calma mãe. A vida é injusta.
- Principalmente com aqueles que se preocupam – Lizzie me completou, dando um olhar preocupado.
- Exato – eu disse pegando o sorvete de flocos no freezer. – Mas a gente precisa deixar o passado no passado e encontrar o futuro.
- Ei! Isso é uma mÚsica – Lizzie disse rindo.
- Eu sei. – Ri já me servindo de sorvete. Comecei a mexer no sorvete para ele virar uma pasta. – Eu sinto falta do papai, mãe, muita! Mas ele se foi, e não há nada que possamos fazer.
Comecei a bater no pote tentando empapar o sorvete, mas não estava tendo muito sucesso.
- , assim, meu sexto sentido diz que você está com problemas.
- Ah, que isso. Problemas, a ? – Lizzie disse ironicamente, começando a gargalhar.
- Ei! – eu reprimi, rindo junto. – Ah! Consegui! Aeae! – eu comemorei, pegando a colher e colocando na boca.
Minha mãe riu e continuou a comer Nutella. Ela parou com a colher dentro da boca. Quando a tirou, ela olhou brava para mim e Lizzie:
- Vocês não deveriam estar estudando?
- Quê? – eu e Lizzie perguntamos com cara de meninas inocentes.
- Suas cara-de-pau! Vão logo terminar de estudar. Eu vou assistir “Como perder um homem em 10 dias”. Vão logo – ela disse segurando o choro.
- Aham. Sei. Você vai é babar pelo Matthew McConaughey, isso sim – Lizzie disse subindo as escadas.
- Ai, depois ela vai chorar feito um bebê assistindo Notting Hill. E falar que ela queria um Hugh Grant.
- Certeza – Lizzie gritou lá de cima concordando comigo.
- Vão logo, meninas!!!

Fui dormir chorando. Lembrar o papai foi difícil na véspera da prova mais difícil, em minha opinião. Fui dormir tão tarde por causa das lágrimas. Meu olho ardia e minha cabeça latejava.
Eu entrei correndo na escola. Faltavam cinco minutos para a aula começar e todos já estavam na sala. Eu comia rapidamente uma barra de cereais enquanto corria para a aula. Encontrei a professora que aplicaria a prova em minha turma e disse um oi rapidamente voltando à minha atividade de corrida.
- Bom dia – eu disse exausta, jogando-me na carteira.
- Nossa, , tudo bem? – perguntou com um olhar sério.
- Na verdade, não – eu disse com a voz falhando e me olhou com aquela cara de “foi o ”. – Não, por acaso não foi o meu namorado. Foi o meu pai.
- Mas seu pai não... – começou, mas percebeu a besteira que estava fazendo.
- Sim – eu disse suspirando. – Ontem faria 20 anos de casamento do meu pai com minha mãe. Bem, a noite foi trágica, mas nada que Nutella, sorvete de flocos e filmes com galãs não ajudem a superar.
- Lembrar seu pai é difícil, né? – ele perguntou triste.
- Muito. Eu sinto falta dele. – Meus olhos começaram a se encher de lágrima e eu continuei: – É estranho, sabe?
- Na verdade, eu não sei – ele disse rindo nervoso. – Mas posso imaginar.
Uma lágrima escorreu e me abraçou.
- Fica tranqüila. Vai dar tudo certo. A gente está aqui.
Eu concordei em silêncio. Olhei para cima (ser baixinha é uma coisa horrível) e encarei .
- Obrigada.
- Estamos aqui para o que precisar, . De verdade – ele disse sorrindo. – É nós, Queiroz – ele disse rindo e eu o acompanhei limpando as lágrimas.
- Você é demais, . Valeu. Agora eu sei por que a está com você.
- Ei! – ele disse, empurrando-me e rindo.
A professora entrou enquanto a gente ria e voltava para os nossos lugares.
Começamos a prova e eu fiz uma coisa terrível.
Sim, eu colei.
Mas foi tão bem feito e inocente. Eu coloquei as fórmulas na calculadora.
Tudo bem. Foi errado, mas eu estava desesperada.
Fiz a prova demoradamente e saí da sala para estudar historia. Achei um lugar em baixo do pé de jabuticaba e me sentei. Coloquei o iPod no ouvido e me concentrei na matéria.
Negros, escravos, essas coisas super bacanérrimas, mas que eu me saio bem.
O sol inundava o pátio da escola, e estava realmente bonito para um dia de primavera-quase-verão. O vento gelado tocava meu rosto e eu me lembrava de momentos com o meu pai. Do dia em que fomos para a praia passar uma semana e choveu todos os dias. No último dia, na hora de ir embora, abriu um céu lindo! Recordo-me de papai reclamando na volta para casa o tempo todo.
Também teve a vez que ele me levou para andar de cavalo e eu, com toda a minha coragem, fui só uma volta e quase chorei quando ele me chamou para a segunda. Tantos momentos que me recordo. Tantos dias, tantas memórias. Infelizmente, eles ficaram para trás, e eu nunca mais poderei tê-los. Nem mesmo ver aquele que esteve ao meu lado todo esse tempo. Aquele que me ensinou a andar de bicicleta, e tentou me ensinar a andar de skate, mas, depois do terceiro tombo, eu desisti.
Queria poder encontrá-lo uma última vez e dizer quanto o amo.
- Eu sinto sua falta – eu disse olhando para o céu.
Voltei a atenção à matéria de História e parece que minha mente começou a flutuar por todas as revoluções.

Cheguei em casa exausta. Finalmente a sexta-feira tinha chegado. Nunca tinha feito provas tão cansativas e exaustivas. Cheguei a ficar acordada até às duas da manhã estudando Inglês e Francês.
Joguei-me no sofá e deixei minha mente vagar enquanto assistia a reprise de “Friends”.
Apesar de tudo, de todo o sofrimento, acho que tudo finalmente vai se acertar.


Capítulo 28

Estava lendo Ubirajara, de José de Alencar, me lembrando das minhas raízes brasileiras quando Lizzie entrou no meu quarto toda feliz.
- ! Sua formatura está chegando – ela disse feliz se jogando na cama.
- Eu sei. Lembra que eu estou ajudando a organizar o baile? – perguntei não tirando a atenção do livro.
- Bem, os ingressos já começaram a vender, né? - ela perguntou feliz.
- Sim. E eu não vou, esqueça a carona.
- Por que não? Você que vai organizar! – Ela parecia espantada.
- Vou à casa do assistir uns DVDs. Nosso jeito de comemorar a formatura.
- Ah. Que pena – ela disse diminuindo o sorriso – Adivinha? – Ela voltou a sorrir.
- O que é?
- O me chamou para ir!
- O quê? – Minha voz ficou mais aguda no final e eu fechei o livro.
- Aham! Ele comprou os ingressos e me convidou hoje. A mamãe já deixou – ela acrescentou ao ver meu olhar.
- Tudo bem. Eu te ajudo a escolher a roupa, pode ser?
- Claro que sim! A gente vai amanhã à tarde. Mamãe disse que o preço do vestido depende da minha nota de matemática, mas eu só vou ver amanhã.
Ah é, as notas. Não fiquei com nenhuma vermelha, PP ou recuperação. Por sorte. Uma questão me salvou de física e eu passei direto.
Oxford, aí vou eu!
Olhei para Lizzie e ela tinha um sorriso gigante.
- Aaah! Que lindo, ela está apaixonada – eu disse pulando em cima dela. – E ela vai à minha festa de formatura e eu não! Hahaha.
Lizzie riu comigo e saiu de baixo.
- Tudo bem, Srta. Irmã-mais-velha, eu vou ligar para as minhas amigas e me gabar e já volto, tudo bem?
- Vai lá – eu disse voltando ao meu livro.

Estava na pracinha esperando os meninos com e ela falava sem parar da festa. Por sorte, o bom comportamento dela em Francês lhe rendeu uma nota média e ela passou de ano. Estava toda animada, pois ela ia a uma festa toda linda com seu namorado super gato, exatamente como nos filmes de Hollywood.
- Você deveria ir, . Está trabalhando na festa desde o começo do ano!
- Eu não vou fazer isso com o . O médico dele não deixou fazer muito esforço e sempre rola bebida. E você conhece o – eu disse olhando para a .
- Sim, ela me conhece. – Ele chegou me dando um selinho.
Sorri para ele, mas foi um sorriso triste. Eu queria realmente ir à formatura. Eu sonhava com isso desde quando eu me mudei para essa escola. Ou seja, desde quando eu me mudei do Brasil, aos 10 anos.
- Comprei hoje, amor – disse abraçando a e ela sorriu.
- Meu vestido vai ser roxo, tudo bem? – ela perguntou com os olhos brilhando.
- Você é quem sabe, eu tenho que usar terno de qualquer jeito – ele disse colocando a mão no bolso.
- Demonstre um pouco de respeito, por favor? – ela disse rindo e eles começaram a se beijar.
Eu olhei para que tinha um sorriso estampado no rosto. Era aquele sorriso que eu tanto gostava que me fazia sorrir só de vê-lo. Meu olho brilhou e eu fiquei encarando meu namorado.
- Para de olhar? – ele disse rindo e se virando para mim.
- Desculpa, mas é que você é tão lindo! – eu disse tietando meu namorado.
Ele riu e me olhou.
- Qual vai ser o tema do baile?
- Rock and Roll. Idéia do .
- Então é bom você arranjar uma jaqueta de couro perfecto para ir.
- Como é que é? – eu perguntei confusa.
Ele colocou a mão no bolso e tirou dois convites vermelhos que eu estive vendendo a semana inteira.
- , você quer ir comigo no baile de formatura? – ele perguntou olhando pra mim.
Meus olhos brilharam e eu o abracei.
- Sim, sim! Claro que sim!
Meu coração batia descontroladamente e eu sorria feito uma boba.
- , para de agarrar seu namorado e olha pra mim? – eu gritei e ela me olhou.
- O que foi? – ela perguntou com cara de tédio.
- Eu vou ao baile. Eu vou! – eu disse toda feliz e ela gritou.
Mandei uma mensagem pra Lizzie e para mamãe. Estava tão feliz que não podia me controlar. deve achar que eu sou uma retardada.
- Tchau, , até amanhã – gritou quando seu pai chegou para levá-la para casa.
Ficamos só eu e . Olhei para ele e ele sorriu.
Demorei tanto tempo para perceber isso que quase gritei quando fiz. O dia estava ensolarado, com algumas nuvens, é claro. Ventava levemente, mas era gelado. Meu corpo tremia toda vez que o vento tocava meu nariz gelado e eu fechava o olho. O sol esquentava pouco as partes descobertas de meu corpo e transmitia calor às partes cobertas. Ouvia alguns pássaros cantando e a pracinha estava sem folhas nas árvores. Algumas árvores resgatavam a cor com folhas extremamente verdes nascendo, e algumas flores no chão. As folhas estavam secas e caídas no chão. O vento que batia arrastava algumas pelo chão de areia, levando folhas, flores e grãos até nossos pés. A música que tocava em meu celular era apenas piano. Leve e doce, parecia acompanhar o dia. As crianças nos brinquedos pareciam tão serenas que transmitiam tal sensação. As mães e babás pareciam mais calmas do que deveriam. Férias chegando, tinham que se organizar, mas nem pareciam preocupadas. Só de ver as crianças sorrindo já pareciam mais leves e felizes.
E é exatamente assim que me sinto quando vejo sorrir. Meus problemas se esvaem e tudo parece bem. O mundo pode estar prestes a explodir, mas, se eu estiver ao seu lado e puder ver um último sorriso, tudo estará bem. Tudo estará completo. Me sinto realizada ao seu lado.
Ri de leve com a minha conclusão e olhei para , que me encarava em esse pequeno transe.
- O que se passa em sua mente que nunca para quieta? – ele perguntou com os olhos curiosos.
- Ah, nada de mais. – Eu ri com sua cara de criança.
E falando em criança, alguma tinha caído no chão e chorava abertamente. Sua mãe corria rapidamente e lhe repreendia por correr com os cadarços soltos, mas, ao mesmo tempo, abraçava a criança com ternura.
- Isso é lindo – eu disse por fim.
- O que é lindo? – ele perguntou me abraçando.
- A vida – eu disse abstratamente. – Tipo, o amor, a vida, essas coisas. O mundo pode estar em seu fim, mas alguém pode te fazer sorrir mesmo em tal situação. E como a gente ama certas pessoas, apesar de tudo. Acima de tudo – eu disse olhando em seus olhos.
- O que te fez pensar nisso? – Ele parecia bem interessado.
- Seu sorriso. Seus olhos. Como eu me sinto completa ao seu lado – eu disse corando.
Ele me beijou e eu senti como se fosse explodir de felicidade.
Parecia nosso primeiro beijo, depois de anos de paixão escondida.
E deveria ser exatamente isso.

Cheguei em casa no final da tarde, logo depois de mamãe.
- Ah, agora que ela vai – mamãe disse olhando para Lizzie e apontando para mim enquanto eu fechava a porta –, as roupas não poderão ser muito caras. Tudo bem?
- Claro que sim! A vai, poxa! – Lizzie chegou correndo e pulou em mim. – Agora eu posso pegar carona com alguém, hahahaha.
Sorri para Lizzie e dei um beijo em mamãe.
- O dia está particularmente bom para alguém hoje – ela disse sorrindo para mim.
- Incrivelmente não poderia estar melhor!
Subi e fui tomar um banho. Deixei a água cair pesadamente em meu corpo enquanto pensava em todas aquelas coisas que tinham passado em minha mente essa tarde. Tudo sobre a vida, amor, esperança, superação, coisas assim. Coisas que muitas pessoas de 50 anos não aprenderam. Coisas que eu, uma garota de 17 anos, sabe. E muito bem. Coisas que me fazem seguir em frente e acreditar que um dia serei inteiramente feliz e terei uma vida... Regular? Normal? Como as outras?
Não, eu gosto da minha vida assim apesar de tudo.
A música que tocava ao fundo era a mesma da minha tarde. Os dedos do pianista viajavam pelas teclas, originando um som extremamente belo e doce. Suave.
Assim como a água que caía em meu corpo e relaxava meus músculos.
Saí depois de quinze demorados minutos e fui para meu quarto. Incrivelmente as coisas estavam indo bem.
Coloquei meu pijama de ovelhas e desci para ajudar mamãe a fazer o jantar.
- Mãe, posso te perguntar uma coisa?
- Claro, filha – ela respondeu enquanto picava os legumes.
Respirei fundo e me perguntei como formular tal questão.
- Quando eu quebrei a cristaleira e junto dela quase todos os seus copos você ficou bem brava, né?
- Demais. Queria te bater na hora, gritei muito, mas fazer o quê? Você já tinha quebrado.
- Mesmo assim você não deixou de me amar, e no dia seguinte sorriu ao me dar bom-dia.
Minha mãe parou e me observou fazer o molho de tomate para o macarrão.
- Claro que não! Você é minha filha e foi um erro. Todos erram, sabemos disso. Alguns erros têm conserto, outros não. A maioria não! Mas não é por causa de uma cristaleira e muito dinheiro que eu deixaria de te amar. Você é minha filha, minha família, uma parte de mim. Eu nunca deixaria de te amar por erro tal bobo. E faz parte do ser humano perdoar e eu te perdoei. Foi sem querer, sei disso, e sei que você se arrepende – ela disse rindo de leve. – Mas eu te amo. Mesmo quando você erra. E, aliás, eu estarei aqui quando você precisar da minha ajuda. Sempre!
- Mesmo quando você se for? – Lizzie perguntou encostada na porta observando a conversa.
- Mesmo, filha. Você vai ver uma foto e imaginar o que eu diria nessa situação. Se lembrará de nossas conversas e saberá o que fazer.
Olhei para minha mãe e sorri. Continuamos com nossas tarefas.
- Por que tal duvida? – ela finalmente disse.
- Ser mãe deve ser algo maravilhoso!
- E é. Mas não queira ser tão cedo, por favor! – ela disse com cara de espanto.
- Você esta grávida? – Lizzie perguntou.
- Não! Que absurdo. Foi só um comentário – eu disse colocando o macarrão no molho e misturando. – Está pronto.

Entrei no shopping extremamente vazio para uma sexta-feira à noite. tinha convidado Flora, ou seja, toda a galera ia. O problema é que deveríamos comprar vestidos diferentes, mas temos apenas um shopping com três lojas de roupas de festa. Por acaso todos os 200 alunos e convidados comprariam as roupas aqui.
Entramos na primeira loja e Flora estava decidida a comprar um vestido verde-escuro.
- Ele é tão lindo. Tão clássico. Com um colar de caveira ficará ótimo. – Ela parecia animada.
Tínhamos a tarde inteira para as meninas. Apenas nós quatro. Olhei para Lizzie, que olhou para , que olhou para Flora, que entendeu direitinho.
Cada uma pegou três ou quatro vestidos e entramos para experimentar. Fomos trocando os vestidos e nos divertindo. No final das contas, Flora comprou outro vestido verde escuro e um bolero preto.
- Falta só o sapato e acessórios - ela disse sorrindo.
- Acessórios é na cidade, uma lojinha bem bacana. A gente pode ir de manhã – disse olhando o celular.
Lizzie olhava todas as vitrines quando falou:
- Que tal a gente manter os vestidos em segredo? Ai fica bem legal, imagina a cara deles quando nos ver.
- Guardar segredo por uma semana do meu zinho? – disse rindo.
Pois é, a formatura seria próximo sábado à noite e todos corriam para os preparativos finais. Amanhã de manhã iríamos checar o som.
- Tem aquela lojinha lá que eu adoro – disse nos arrastando para a tal loja.
Entramos e experimentamos vários vestidos, e saiu com o seu tomara-que-caia roxo.
Faltava eu e Lizzie. Entramos em outra loja e saímos de lá com nossas roupas: Lizzie com um vestido vermelho e um lenço preto de bolinhas brancas e eu com um vestido rosa-pink e uma jaqueta perfecto de couro.
- Tem um lugar perfeito para comprarmos os sapatos.
- E seria? – dava uma colherada generosa em seu sorvete.
- Loja da Melissa!!! – Lizzie gritou, e, feito quatro menininhas, corremos para a loja.
Pegamos vários modelos e os vestidos. Testamos várias, mas elas deveriam servir para depois da festa também.
Saímos armadas com os sapatos e tínhamos tempo ainda.
- Cineminha?
- Claro!

Acordei cedo no sábado e fui com as meninas na cidade comprar os acessórios. Depois passamos na casa do para ele ir com a gente para o hotel onde seria a formatura. Gente responsável é outra coisa.
Ficamos horas decidindo músicas, DJ, vendo o lugar direitinho, e a gente pensando na decoração. O salão do hotel ficaria fechado essa semana inteira só para que nós pudéssemos organizar tudo. O problema é que esse é o hotel mais badalado da região, ou seja, essa iria ser a festa do ano. Tudo bem, vivemos no subúrbio de Londres, mas já é alguma coisa.
Saímos do hotel mais cansados do que quando entramos. O combinado era que iríamos para a sorveteria depois, mas estava relativamente frio.
- Perto de casa abriu um lugar de fondue – comentou feliz.
- Mesmo? Vamos, , vamos? – eu pedi dando pulinhos.
- Eu vou sair com o – ela disse chorosa.
- Leva ele com a gente. O também vai.
- Casal de novo, ? – reclamou.
- A Liz não vai, tonto. Ela e a Flora vão terminar um trabalho. – Fiz uma pequena pausa e continuei. – E o não pode. Ele tem médico.
- Ah. Beleza – disse pegando o celular e começando a ligar para seu namorado.
- Mas com uma condição – começou e olhamos para ele. – A e o tem que fingir que não são namorados, como nos velhos tempos.
- Tudo bem, fechado – eu disse sorrindo e fez uma careta.
Fomos para o lugar que vendia fondue e nos encontrou lá usando calça e chinelos. Ficamos tanto tempo lá que não percebemos que já estava de noite e nós ainda nem tínhamos comido. ligou para , que combinou que iria nos encontrar lá.
Exatamente como nos velhos tempos.


Capítulo 29

A semana passou extremamente rápido. Eu corri feito uma idiota para terminar de organizar as coisas da formatura. Posso dizer que valeu a pena, pois estava tudo extremamente lindo. Buffet fechado, comidas escolhidas, as músicas, decoração. Tudo. A decoração, principalmente, estava deslumbrante. O tinha feito um trabalho ótimo, digamos que eu fiquei impressionada. Estava tudo tão bonito que eu até chorei quando vi o resultado.
Sexta à noite fomos novamente à casa de fondue. Dessa vez, todos nós, os quatro casais, mas com o acordo de não ficarmos nos beijando.
Ficamos na casa de fondue jantando por umas duas horas. Liguei para minha mãe avisando que chegaria só mais tarde. Nós pretendíamos dar uma passada na pracinha ainda.
A última vez que fomos todos juntos à pracinha foi exatamente na noite em que ficamos extremamente bêbados e fomos acordar só de madrugada, dormindo nos bancos. Nunca tinha visto meu pai tão bravo em toda a minha vida de adolescente. Minha mãe ficou tão decepcionada que eu não tinha coragem do olhar na cara dela por umas três semanas. O problema é que eu e estávamos apenas no começo do namoro e minha mãe simplesmente não aprovava. Ela teve que marcar um almoço com os pais dele para descobrir que aquela era a primeira vez que ele tinha ficado bêbado. Ou melhor, que nós todos tínhamos ficado bêbados.
- A gente podia passar no bar antes – disse colocando a toca por causa do vento gelado.
- De novo? – eu disse rindo e estremecendo ao mesmo tempo.
Todos começaram a rir.
- O não pode beber – disse cautelosamente.
- Na verdade – ele começou –, posso. Eu pesquisei sobre isso. – Olhamos para ele curiosos. – Ah, por favor, sou adolescente, preciso ter meus direitos e deveres, tá legal? – ele disse e rimos. – Tanto faz. Eu perguntei pro médico e ele disse que tudo bem, desde que eu não exagerasse na bebida. “No máximo uma latinha de cerveja” ele disse.
Os meninos se olharam com sorrisos sapecas no rosto e começaram a pensar no que comprariam. Tinha prometido a mim mesma que não beberia muito, por causa de e porque a formatura era no dia seguinte e eu não gostaria de estar de ressaca.
- Vodca, cerveja, Smirnoff Ice – disse pegando as coisas.
- Coitado do meu fígado – disse rindo.
Todos rimos juntos e pegamos as sacolas com bebidas. Fomos até a praça e nos sentamos no chão mesmo. Pegamos a bebida e decidimos jogar.
- Striiiiiiiiiip poker – disse gargalhando e apanhando de , que também ria.
- Perguntas ou respostas – eu disse.
- Cada acerto, um gole de bebida. Cada erro, uma roupa a menos.
- Não! Cada acerto, um gole de bebida. Cada erro, quem pergunta bebe e quem erra paga um mico – eu disse inocente.
- Pode ser.
Sentamo-nos na roda e pegamos a primeira garrafa de cerveja. Todos bebemos para que ela se esvaziasse rapidamente. Tampamos-a novamente e começamos a jogar.
- para .
- Qual é o animal mais forte do mundo?
- É um besouro – eu disse sorrindo.
- Desgraçada. – Ele me bateu e eu gargalhei enquanto bebia.
Rodamos novamente.
- Flora para .
- Onde fica a maior montanha do mundo?
- É o Himalaia, Nepal – disse com voz de vencedora e pegando a bebida.
- Não – Flora disse pegando a garrafa da mão dela. – Fica no Havaí.
Todos rimos e Flora bebeu.
- E eu quero que você dance como uma gogo girl e desça na boca da garrafa, aqui no meio.
Tentamos ensinar o que era “na boca da garrafa” para eles, mas desistimos. foi ao meio da roda e começou a dançar. Eu ria tanto que acabei me engasgando, o que gerou mais risos.
A segunda garrafa de vodca estava sendo aberta. Já tínhamos quatro de cerveja jogadas no chão. O álcool começava a fazer efeito e eu já estava um pouco tonta.
- e .
- Quanto é três elevado à quarta potência?
- Filha da mãe – ele disse rindo. – Oitenta e um!
- É! HAHAHAHAHA.
Eu passei a garrafa para e ele deu um gole generoso. Quanto ele tirou a garrafa da boca ela estava pela metade. Olhei surpresa para meu namorado e momentaneamente me esqueci de sua condição.
fez alguma pergunta sobre esportes para e ele errou. deu outro gole e pediu que tirasse a calça e desse em cima de .
- Peidaram aqui, vamos ali? Você faz coco em areia?
- Não...
- Porque você é um gatinho, hahahaha – começou a rir e cambaleou. – Droga.
Todos rimos do quase tombo dele e olhamos o que tínhamos. Mais uma garrafa e meia de vodca e oito cervejas. Cada um pegou uma cerveja e decidimos ver quem bebia mais rápido.
Lizzie virou a dela e acabou antes que nós chegássemos à metade.
- Filha da mãe – eu gritei rindo e voltei a beber a minha.
Ainda tínhamos a garrafa e meia de vodca. Fizemos um acordo, um de nós ficaria de fora e faria uma pergunta. O primeiro a acertar ficava com a metade. A outra garrafa nós usaríamos no jogo.
Flora ficou de fora e fez a pergunta.
- Qual é o maior mamífero do mundo?
Eu sabia a resposta, mas o álcool não meu deixou falar.
gritou.
- A BALEIA AZUL!
Flora deu pulinhos e levou a bebida para ele, que bebeu de uma só vez.
Continuamos jogando, até que a bebida acabou.
- Vamos pra casa? – Lizzie pediu.
- Vamos – disse se levantando.
Levantamo-nos demoradamente e fomos andando. Ficamos com tanto calor que tiramos nossos chinelos e sapatos e fomos descalços, gritando e rindo pela rua.
Eu e Lizzie fomos para casa correndo. Ficamos com tanto medo que quando entramos em casa desatamos a rir.
- Fica quieta, a mamãe está dormindo – eu disse empurrando ela escada acima.
Cada uma foi para seu quarto e entrou no banho.

- Se você quiser ir ao cabeleireiro, levanta agora. – Minha mãe batia mais uma vez na minha porta.
Abri os olhos e quase me ceguei com a luz que entrava da janela. Minha cabeça doía e meu cabelo ainda tinha umas partes molhadas.
- Levantei – eu disse com a voz rouca.
Corri para o banheiro e tomei um banho rápido, sem molhar o cabelo, e me troquei. Saí do quarto para comer alguma coisa antes de sair e encontrei com Liz na escada.
- Segredo?
- Sempre – eu respondi sorrindo.
Comemos um lanche rápido e saímos correndo. Faríamos cabelo e unha e eu tinha que dar um jeito no meu rosto depois. Incrivelmente mamãe tinha nos deixado dormir até as duas. O horário era às duas e meia.
Chegamos gargalhando no cabeleireiro e nos sentamos nas cadeiras azuis.
- Como você vai querer? – meu cabeleireiro perguntou feliz.
Eu sorri e comecei a falar. No final, eu fiz um meio rabo com as pontas repicadas e bem desconexas e passei um esmalte preto.
Lizzie tinha feito um rabo de cavalo com a franja de lado e corria em minha direção.
- Acabei de zoar com o meu cabelo, mas quem liga? Adivinha quem vem para cá amanhã?
- Não sei – eu disse sendo sincera.
- A vovó e o vovô!
- Ser criticada? Tô fora, Liz.
- Não esses! Os do Brasil!
Eu desviei os meus olhos do chão e comecei a gritar.

Cheguei em casa com a cabeça doendo um pouco e fui tomar uma aspirina. Não podia acreditar que era hoje. Finalmente tinha chegado. O grande dia. Depois disso, adeus, Ensino Médio, adeus, escola, olá, faculdade, olá, mundo adulto! Depois de ontem, escola só segunda, mas para pegar as notas e seguirmos nossas vidas.
Enquanto tomava o gole de água para engolir a aspirina, senti meus olhos se encherem de lágrimas. Corri para a geladeira e peguei um pode de sorvete. Sentei-me na mesa e me permiti derrubar algumas lágrimas, que rapidamente se tornaram em um choro intenso.
Recordei-me de cada momento naquela escola. Do dia que eu conheci a .
- Alunos, essa é . Ela é nova aqui, veio do Brasil. Por favor, acolham-na muito bem! – A diretora sorriu para mim e saiu da sala.
Apenas 10 anos e mudei minha vida. De escola, de cidade, de país.
- Bom, Srta. , você pode se sentar na carteira vazia. À esquerda da Srta. Mollins.
Olhei e vi uma garota de cabelos louros encaracolados impecavelmente perfeitos. Senti nojinho.
- Oi, eu sou a .
- Ah, tanto faz – ela disse dando um sorriso nojento.
Hoje sei que ela é insuportável, afinal, estamos na mesma classe. Os cabelos continuam louros, mas lisos. Os olhos azuis se enchem de desprezo. E seu nome é Molly.
Tentei sorrir e voltei a encarar a professora.
- Fica tranqüila, essa menina é um porre mesmo.
Olhei para trás espantada com o modo de falar de uma menina de 10 anos.
- . Tagarela, animada, espevitada. Se você for minha amiga, os professores vão te odiar - ela disse estendendo a mão.
- Fechado. – Eu sorri apertando sua pequena mão rechonchuda e sorrindo também.
- , querida, vire para frente, por favor? – a professora pediu.
- Viu? – riu atrás de mim.
Ri comigo mesma me lembrando desse dia. Coloquei a colher cheia de sorvete na boca e minha cabeça doeu. Exatamente nesse momento me lembrei de como conheci os meninos.
- E essa é a cantina da escola. – , minha nova “amiguinha”, me mostrava a escola. – E eu quero um sorvete!
Ela deu o dinheiro e a moça lhe entregou um sorvete.
- O banheiro, as mesas – ela ia dizendo enquanto eu pegava uma colherada do sorvete dela. O único problema é que a colherada foi tão grande que minha cabeça doeu.
- Ai...
- E...
- Minha...
- Esses são...
- Cabeça!
- Os meninos mais idiotas da escola!
Dissemos juntas e começamos a rir.
- Idiota é você, – um deles disse e ela só olhou pra ele.
- Olha seu tamanho, pivete!
Eu olhei para a atitude dela e fiquei pasma.
era uma menininha bem estressada. Até menstruar, aos 12 anos.
- Eu sou – um dos meninos falou.
- E eu o .
- , o guitarrista.
- Cala a boca, você nem toca ainda – o último falou rindo. – E eu sou o .
Deixei as lágrimas saírem dos meus olhos com mais força agora.
Lembrei-me da época que eu odiava eles. Eles eram insuportáveis, super infantis, irritava. Muito. Mas isso passou quando entramos no primeiro ano. Só nessa época pude ver que eles eram, em parte, legais. Foi nessa época que eu perdi o BV. E foi no pátio da escola. E com um veterano, editor do jornal da escola. Ele era bem bonitinho. Loiro, de cabelo espetado e um sorriso branco impecavelmente lindo. Com uns dentes tortos, mas isso é mal de inglês! Eu tinha ficado para ajudar a fazer uma entrevista (pontos extras na média final de Redação). Saímos para perguntar para alguns alunos do período da tarde sobre o tema da matéria e quando estávamos voltando começamos a brincar, estupidamente, de um empurrar o outro. Saímos correndo pelo pátio e ele me pegou e me beijou.
Na hora, só faltava eu explodir de felicidade. Para ficar mais perfeito não faltava nada. Talvez uma chuva, vestido esvoaçante, ele molhado com a água da chuva, uma melodia de piano, flores caindo e um pôr do sol perfeito na praia. Tudo bem... Estou brincando, isso seria cafona.
Passei por cada situação naquela escola que será extremamente difícil deixar tudo isso para trás.
Respirei fundo e encarei a escada. Hora de me tornar uma diva.

Estava terminando a maquiagem quando Lizzie bateu na porta.
- Chegaram.
Eu terminei de me arrumar, passei o perfume e peguei a bolsa. No que abri a porta, minha mãe me esperava com a máquina fotográfica e eu ouvia a voz dos meus amigos na sala.
Ah não! Ela não vai fazer isso!
- Vem tirar uma foto, vem filha! – minha mãe me chamou com lágrimas nos olhos.
Sim, ela fez isso!
Cheguei perto dos meus amigos e percebi que eles seguravam o riso.
- Vamos logo com isso – eu disse emburrada.
Juntei-me aos meus amigos e começamos a fazer poses, sorrir, gargalhar e até pular um nos outros. Terminamos a “sessão de fotos” e fomos para os carros. Ou melhor, O carro. Fiquei parada ao lado de Lizzie, ambas com cara de retardadas.
- Juntamos nosso dinheiro e alugamos uma limusine – disse rindo da nossa cara.
- Fica tranquila, a minha cara foi igual – disse rindo.
Entramos na limusine e nos sentamos ao lado dos meninos. Minha mão tremia e eu me sentia extremamente nervosa. As lágrimas começavam a aparecer em meus olhos. Provavelmente de tanto nervosismo. Minha perna tremia e teve que segurá-la com a mão para que eu parasse.
Ficamos conversando e rindo da cara de pânico dos meninos durante o curto caminho. Acho que a limusine era para fazer charme mesmo. O hotel fica no máximo vinte minutos da minha casa. De carro.
Quando chegamos e vimos o local lotado de pessoas conhecidas, meu coração deu um pulo e se apertou.
As coisas que passei ao lado deles tem tanto significado que nunca conseguiria expressar em palavras. Cada sentimento, história, piada, momento, será único e inesquecível. Agradeço a eles por me transformarem em quem sou hoje.
Entramos no salão e ele estava divino. Fizemos um ótimo trabalho, modéstia à parte. O salão estava todo decorado com cores neutras na parede, mas com detalhes em preto e cores, digamos... Bem roqueiras.
Fiquei pasma ao ver o palco. A banda tocava alguma baladinha pop, e alguns casais dançavam na pista de dança já lotada.
Fomos pegar a nossa mesa. Todos saíram para dançar e eu fiquei com .
- Esse é o melhor dia da minha vida. Obrigada – eu disse olhando profundamente em seus olhos.
- O meu não – ele disse e eu o olhei espantada. – O melhor dia foi quando eu caí em cima de você.
Eu sorri e o beijei de leve. A banda começou a falar.
- Galera, todos sabemos que temos sempre quem ajudar. Essa eu dedico a todos que tem alguém ao seu lado. Ela se chama Save You e é do Simple Plan.
Eu gritei.
- Vamos dançar, amor? Só essa musica, por favor!
- Tudo bem – ele disse se levantando e me levando para a pista de dança.

SAVE YOU – SIMPLE PLAN

Take a breath,
Tome fôlego
I'll pull myself together
Eu vou me recompor
Just another step, until I reach the door
Só mais um passo, até eu alcançar a porta
You'll never know the way,
Você nunca saberá como
It tears me up inside to see you (aah-ah, aah-ah)
Me machuca por dentro te ver
I wish that I could tell you something (aah-ah, aah-ah)
Eu queria poder te dizer algo
To take it all away

Para levar tudo isso embora

Sometimes I wish I could save you
Às vezes eu queria poder te salvar
And there's so many things that I want you to know
E há tantas coisas que eu quero que você saiba
I won't give up till it's over
Não vou desistir até que esteja acabado
If it takes you forever, I want you to know
Se isso te levar para sempre, eu quero que você saiba

When I hear your voice,
Quando eu ouço a sua voz,
It's drowning in the whispers
Ela está se afogando em sussurros
You're just skin and bones
Você é apenas pele e ossos
There's nothing left to take
Não há mais nada o que levar
And no matter what I do
E não importa o que eu faço
I can't make you feel better (aah-ah, aah-ah)
Eu não consigo fazer você se sentir melhor
If only I could find the answer
Se apenas eu pudesse encontrar a resposta
to help me understand

Para me ajudar a entender

Sometimes I wish I could save you
Às vezes eu queria poder te salvar
And there's so many things that I want you to know
E há tantas coisas que eu quero que você saiba
I won't give up till it's over
Não vou desistir até que esteja acabado
If it takes you forever, I want you to know
Se isso te levar para sempre, eu quero que você saiba

[that] If you fall, stumble down,
Se você cair, tropeçar I'll pick you up of the ground
Eu vou te levantar do chão
If you lose faith in you,
Se você perder a fé em você,
I'll give you strength to pull through
Eu vou te dar forças pra continuar
Tell me you won't give up,
Diga-me que você não vai desistir
cause I'll be waiting if you fall
Porque eu estarei esperando aqui se você cair
you know I'll be there for you
Você sabe que eu estarei lá por você

Meus olhos estavam cheios de lágrimas. Essa é uma de minhas músicas favoritas e ele é o meu menino favorito.
- Eu te amo – eu disse olhando para cima e encontrando seu olhar.
- Eu também te amo – ele disse dando aquele sorriso impecável.

(aah-ah, aah-ah) If only I could find the answer,
Se apenas eu pudesse encontrar a resposta,
(aah-ah, aah-ah To take it all away
Para levar tudo isso embora

parou ofegante.
- Tudo bem amor? Quer se sentar? – eu perguntei me preocupando.
- Tudo ótimo.
A respiração dele ficou devagar e ele se encolheu.
- ! – eu disse o segurando enquanto ele caía no meu colo e eu começava a chorar. Tive um flashback. – ALGUÉM ME AJUDE! POR FAVOR!

Sometimes I wish I could save you
Às vezes eu queria poder te salvar
And there's so many things that I want you to know
E há tantas coisas que eu quero que você saiba
I won't give up till it's over
Não vou desistir até que esteja acabado
If it takes you forever, I want you to know
Se isso te levar para sempre, eu quero que você saiba

ohh, ohh
I wish I could save you...
Eu queria poder te salvar
ohh, ohh
I want you to know...
Eu quero que saiba
Ohh, ohh
I wish I could save you...
Eu queria poder te salvar


Capítulo 30

Estava sentada ao lado de . Minha mão tremia, minha maquiagem estava borrada, mas a única coisa que me importava agora era saber se ele estava bem.
- Calma, , ele está bem. – Era tudo o que eu ouvia aquela noite.
Era tudo o que eu queria ouvir. Mas sabia que não era verdade.
O médico estava no quarto há tanto tempo que eu já estava angustiada. Nem os pais estavam junto de .
- Família... ? – Uma enfermeira apareceu na porta da sala de espera. – Podem me acompanhar até o quarto de ?
Olhei suplicante para a Sra. e ela me beijou a testa. As lágrimas encheram meus olhos e meu coração se inundou de medo. Eu comecei a soluçar e saiu para pegar um copo d’água. Eu tremia tanto que acabei tirando o sapato só com a ajuda de Lizzie.
Os minutos se demoravam a passar. Eu olhava no relógio direto. Ninguém tinha coragem de falar nada. Ninguém conseguia falar nada.
- Crianças, querem visitar o ? – o pai de chegou sorrindo triste.

Eles entraram sorrindo de leve e me abraçaram. A única que não estava aqui era quem eu mais queria ver.
- A sua namorada foi lavar o rosto – disse me olhando e me dando um abraço.
Percebi pela cara deles que aquilo na festa não tinha sido apenas um desmaio e todos estavam muito preocupados.
- Relaxem. Eu vou ficar bem – eu disse.
- Sabemos disso. Ou esperamos – disse. – Mas você bem que poderia ficar bem logo, né?
- Bem que eu queria – eu disse rindo de leve. – Aliás, eu nunca mais vou beber com vocês!
- Por quê? – perguntou indignado.
- Ah meu Deus! Foi a bebedeira que causou isso? – Lizzie perguntou surpresa. Garota inteligente.
- Exato.
- Uau. Mais cuidado na próxima – Flora disse sorrindo um pouco.
Encarei meus amigos. Eles são fodas. De verdade. Ficaram ao meu lado esse tempo todo e não ligaram de ter um careca feio e gordo com eles. Sempre estiveram ao meu lado. Agradeço a eles por tudo.
- Ela está vindo – disse e me abraçou. – Se cuida, por favor. Pela .
- Pode deixar.
Eles me abraçaram – cada um – e saíram me olhando sérios.
Fechei os olhos lentamente e respirei fundo.
Ela entrou pela porta com os olhos inchados e carregava o sapato na mão. Quando fizemos a tal “conexão pelo olhar” ela veio correndo e me abraçou tremendo.
- Eu tô com tanto medo, amor – ela disse em maio a lágrimas.
- Ei ei, respira. Você não é a única, Miss Narcisismo – eu disse arrancando um sorriso inocente do rosto dela.
Eu a beijei e ela se sentou ao meu lado.
- O que aconteceu hoje? – ela perguntou e eu senti a ironia em sua frase, o que me deu vontade de rir. Mas, como bom namorado, eu apenas a olhei e respondi. Honestamente.
- Parada respiratória, seguida por uma cardíaca aqui no hospital. Tive alergia ao remédio. Juro que não sei como ainda estou vivo.
Olhamos no relógio. Cinco da manhã. Pelo que fiquei sabendo, cheguei aqui à meia noite.
- Eu fiquei preocupada – ela disse abaixando os olhos.
- Ei, ei, ei. Fica calma, mocinha. Quantas coisas complicadas eu já não passei e sobrevivi? Fica tranquilex, vai dar tudo certo.
- Queria ser confiante como você.
- É, eu sei.
- Bobo – ela disse rindo e me deu um tapa de leve no braço.
Ficamos em silêncio apenas nos encarando.
Senti um aperto no pulmão e tossi fortemente. O médico avisou que isso pudesse acontecer.
- ? Tudo bem? – já perguntou arregalando os olhos.
- Tudo, amor, fica tranquila. O médico – pausa para tosse – me avisou que isso poderia acontecer – pigarro.
- Aliás, teve alguma cosia que desencadeou isso? – ela perguntou com cara de quem estava pensando muito.
Eu parei e respirei. Como iria dizer a ela isso?
- Ele disse que o álcool poderia causar isso.
- Aquele dia na praça?
- Exato – eu disse a olhando.
Ela me olhou com aquela cara de reprovação e eu não pude deixar de rir.
- O que foi? – ela perguntou brava.
- Você fica linda com essa cara – eu disse ainda rindo.
Ela corou e se sentou ao meu lado.
- Dorme comigo? – eu pedi sem sorrir.
- Durmo – ela disse se deitando ao meu lado.
Ficamos em silêncio quando ela se deitou e eu a abracei.
- – ela me chamou –, promete uma coisa?
- O que você quiser – eu disse a puxando para mais perto.
- Promete que nunca vai me abandonar?
- Prometo – eu disse sorrindo. – Mesmo que um dia eu me vá – engoli em seco –, eu sempre estarei ao seu lado.
Senti uma lágrima dela escorrer pelo meu braço. Ela é o meu grande amor, não o deixarei ir. Faço tudo para valer à pena.
- Eu te amo – eu disse.
- Eu também te amo – ela disse me beijando.

Abri os olhos lentamente e me lembrei que tinha dormido com . Levantei-me e fui me arrumar rapidamente no banheiro. Lavei o rosto e prendi meu cabelo em um rabo-de-cavalo.
Voltei para o quarto e ele ainda dormia. Passei a mão no cabelo que começava a crescer. Aquela maquininha chata que faz barulho estava atrás de mim e estava com a linha em forma de grama. Eu olhei para ela e vi que estava estável. O relógio marcava sete horas. Saí do quarto e fui chamar os pais do .
Todos dormiam na sala de espera. Encostei a mão no ombro de e acabei acordando-a.
- Ei, bom dia – eu disse tentando sorrir um pouco.
- Como ele está?
- Melhor. A gente deveria falar com os pais dele.
No exato momento que disse isso, um barulho se fez em direção ao quarto de . Os enfermeiros e médicos saíram correndo e eu me levantei em um pulo. Acordei os pais de e , o resto do pessoal.
Eu suava frio. Corri para o quarto e vi que a tal máquina chata fazia um único som agora. A linha não parecia mais uma grama, e sim um planalto. Entendi rapidamente.
- Desfibrilador – ouvi alguém gritar lá dentro. – Afastem-se.
me abraçou e me virou para que eu não visse a cena.
- Você não precisa ver isso.
- Preciso, eu preciso! – eu teimei e chegou para me segurar.
- , para! Respira, por favor. Estrilar vai ser pior.
Eu deixei uma lágrima escorrer e me virei para o quarto.
- Afastar – alguém gritou lá dentro. Um silêncio pairou no ar e só a máquina produzia o mínimo som. O único que ela não poderia emitir. – Hora da morte: 7h13.
Meu coração parou. Isso não poderia estar acontecendo. e me abraçaram mais forte.
Os médicos saíram da sala.
- Tentamos de tudo – eles nos disseram. – Mas teve uma parada cardíaca logo agora de manhã e não resistiu. Sentimos muito.
Comecei a tremer descontroladamente e caí no chão. As lágrimas rolavam descontroladamente de meus olhos. Eu soluçava. Mas nada disso iria adiantar. Ele se fora. Para sempre.
Por tanto tempo eu fugi desses pensamentos, tentando evitá-los para que eles não se tornassem verdade. Queria que esse dia nunca chegasse. Ou demorasse a chegar.
Todos os momentos que passei ao lado de fora preciosos para mim. Nunca irei esquecê-lo. Meu primeiro – e único – amor.
Eu cresci ao seu lado. Deixei de ser a menina bobinha que nunca tinha namorado sério na vida e finalmente encontrou o amor. Fortaleci grandes amizades por causa dele. Enfrentei muitos desafios. Mas nenhum desafio foi maior do que o que ele teve que enfrentar: o câncer.
Foi uma batalha demorada e dolorida. Sei que poderia ter dado certo, mas um erro pode mudar tudo. Um erro de todos nós. As chances sempre foram pequenas, mas ele conseguia transformar o milagre em realidade. Conseguiu transformar o difícil no fácil. Os desafios em aprendizado. Os momentos difíceis em momentos memoráveis. E, acima de tudo, a amizade em amor.
Nunca achei que pudesse me sentir assim por alguém antes dos 20 anos – quando eu estaria na faculdade, encontraria um cara bonitinho e ele seria meu marido aos 26 anos – mas as coisas mudam. A vida dá voltas. Infelizmente, isso não teria volta e eu deveria já ter me preparado para o pior. Encontrei meu amor muito cedo, mas não reclamo. Foi uma das melhores coisas que aconteceu na minha vidinha monótona.
Entrei no quarto e o vi mais branco do que ele normalmente era sendo inglês.
Meu coração apertou e eu chorei mais ainda. Senti vontade de vomitar e corri para o banheiro. Lizzie chegou depois e me abraçou. Ela também tinha os olhos molhados.
Saí do banheiro e olhei para o corpo na cama – a partir de agora eternamente parado – uma última vez. Passei pela porta e vi todos os meus amigos me encarando.
- Vou ligar para a mamãe – Lizzie murmurou e foi pegar o celular.
Eu chorava sem parar, descontroladamente, e veio me abraçar. Ele soluçava também, mas estava mais controlada que eu. Ela me encarou sem saber o que dizer. Ela tentou me sorrir de leve, para amenizar a situação, mas o que ela conseguiu foi menos que um sorriso amarelo.
Ela ficou ao meu lado quando veio me abraçar também. Sua situação era muito parecida com a minha. era seu melhor amigo desde sempre, praticamente. Ele me abraçou forte e ficamos nos abraçando por um bom tempo. Deixando nossas lágrimas molharem ao outro. Ele se afastou com o rosto inchado e foi se sentar na sala de espera.
veio tremendo também. Ele não lidava muito bem com essa história de morte muito bem. Me abraçou e disse apenas uma coisa:
- A gente te ama. Vai ficar tudo bem.
Chorei ainda mais quando chegou com o boné de nas mãos. Ele me abraçou rapidamente e colocou o boné na minha mão.
- Era o favorito dele, você sabe disso. Ele gostaria que ficasse com você – ele disse com a voz rouca e me abraçou uma última vez.
Olhei para Flora e ela falou em português mesmo enquanto me dava um abraço calmo, mas trêmulo.
- Foi melhor. Assim nem ele, nem você, sofria mais.
Ela me deu um beijo na bochecha e eu me dirigi à sala de espera, longe de todos.
Fiquei encarando o teto, as lágrimas ainda saindo quando os pais de chegaram e eu me levantei educadamente. Eu os abracei tremendo, exatamente como eles. Abracei cada um separadamente depois e me demorei na Sra. . Ela tinha se tornado minha amiga, acima de tudo.
Eu entendia a dor deles como nunca imaginei entender. A dor que eu sentia era uma dor extremamente diferente da que eu senti quando perdi meu pai.
Voltei para o meu canto e me ajoelhei no banco, encostando a cabeça nos joelhos, pouco me lixando se minha calcinha aparecia por causa do vestido.
Fiquei assim por um tempo, com a minha silhueta se mexendo de tanto que eu tremia.
- Pequena. – Senti uma mão doce tocar levemente meu ombro e ergui a cabeça. Era minha mãe. Seus olhos também estavam marejados e ela tinha olheiras. – Eu sei o que você sente – ela murmurou me abraçando e eu chorei como nunca tinha chorado antes.
Fiquei um tempo abraçada com a minha mãe e me levantei.
- Tem uma coisa que eu preciso fazer – eu disse com a voz fraca.
Peguei uma corrente na minha bolsa e entrei no quarto, onde me deparei com e alguns médicos.
- Olá, Dr. Green – eu disse e ele me olhou.
- ! Poxa, que surpresa terrível – ele disse e me abraçou. – Vou lhe dar um pouco de privacidade e já volto. Sua mãe está por ai?
- Na sala de espera – respondi e nem percebi as intenções dele.
Olhei para o vulto estático e enxuguei as lágrimas. Peguei a corrente e a olhei. Essa corrente passava pelos homens da minha família a gerações. Meu pai tinha me permitido dar a . Ele dizia que era por que o praticamente já era da família. Era como o filho que ele nunca teve.
A corrente era de ouro e o pingente tinha um circulo e dentro era de cristal. Uma coisa extremamente valiosa. Coloquei a corrente no pescoço de . Prendi o fecho e encarei o meu trabalho.
Passei a mão por suas bochechas e deixei algumas lágrimas saírem.
- Você é minha vida – eu disse me permitindo chorar mais e saí do quarto.

Eu estava vestida com uma skinny preta e uma camiseta preta com detalhes em branco. All Star, óbvio.
Estava sentada no mesmo lugar há horas, mas não queria sair dele. Velório é uma coisa bem chata.
Tinha passado esse e o último dia ouvindo uma única música.

AS CORES – CINE
O vento bate a porta e não me engana mais
A decoração branca não me satisfaz
Eu queria estar no seu lugar, mas não, estou

Acham que enlouqueci
Perguntam de você pra mim
E eu tento dizer que esta tudo bem

Estou igual, vivendo o irreal
Perguntei do final, pras flores
As flores, são parte do total
Já se tornou banal
Me sentir mal
Me sinto mal

As cores lá fora, me disseram pra continuar
Elas me disseram pra continuar
(E eu já superei)

Mas eu queria suas mãos nas minhas
Revelar as fotos que tiramos e ninguém sabia
Da sua partida (da sua partida)

E se foi, se jogou num mar aberto de ilusões
E as ondas te acertaram como eu planejei, eu exagerei

Um sentimento tão forte
Eu sei que tive sorte (aquilo não era o que eu sou)
Agora sei muito bem quem sou
E o que me tornou

Tão igual, vivendo o irreal
Perguntei do final, pras flores
As flores, são parte do total
Já se tornou banal
Me sentir mal
Me sinto mal

As cores lá fora, me disseram pra continuar
Elas me disseram pra continuar
(E eu já superei)

Mas eu queria suas mãos nas minhas
Revelar as fotos que tiramos e ninguém sabia
Dessa sua partida (da sua partida)

[ E tudo que eu penso parece ser você, eu tento,ouço,penso,mas não vou esquecer ]

Tudo o que eu falei
Eu te fazia chorar, não te ouvia falar
Só te peço perdão
Hoje canto pra que ouça
Dos céus que eu não duvidei do amor

Tão igual, vivendo o irreal

Algumas pessoas da escola – incluindo professores e alunos – vieram. Todos foram muito simpáticos. Os parentes de e alguns amigos também estavam lá e, claro, o nosso eterno grupo.
- , vão levar o corpo já – chegou me chamando.
- Quem vai levar? – eu perguntei rouca
- Nós e o pai do – ele disse apontando para ele mesmo, e .
- Tudo bem, vamos lá.
Levantei-me e me dirigi uma última vez ao corpo de . Beijei a testa e deixei as lágrimas rolarem.
- Eu te amo e pra sempre eu vou te amar – eu sussurrei.
chegou ao meu lado. Ela me deu a mão e eu fui. Ainda não tinha tirado a aliança e nem pretendo tirar.
Colocaram o caixão no local já preparado. O padre foi na frente e falou algumas coisas. Em seguida, ele pediu para que os pais de falassem alguma coisa.
- Ele foi o melhor filho do mundo. Quando achamos que tudo estava acabado, ele chegou para nos trazer alegria.
Eles continuaram a falar e pediram para que os amigos falassem alguma coisa. O único que conseguiu falar foi . Talvez o mais sentido.
- O melhor amigo que eu poderia ter encontrado – ele começou exatamente assim e disse coisas que nunca imaginei que ouviria dizer. Emocionei-me mais ainda e abracei .
- Seu namorado é um fofo. Por que você nunca me contou isso? – eu perguntei e ela riu de leve.
- Vai lá gata, sua vez – ela disse apontando para o lugar onde estava. Ele me chamava e eu andei até seu encontro.
Respirei fundo e encarei aquelas pessoas. Algumas conhecidas, outras não. A maioria parecia triste, abalada.
- O – pausei e engoli a saliva. – Ele foi o meu primeiro e verdadeiro amor. Começamos por acaso. Por um erro bobo. Porém foi o melhor erro da minha vida. Nós já éramos amigos há um tempo, e sempre que eu precisei, ele estava ao meu lado. Quando eu estava prestes a ter um colapso nervoso, ele chegava com alguma piadinha, algum comentário engraçado ou reconfortante para me ajudar. E sempre ajudava. Quando começamos a namorar por acaso – respirei fundo e me lembrei desse dia. – Eu me lembro de todos os momentos. Cada minuto que eu passei ao seu lado foi precioso. Ele foi o melhor namorado do mundo, e com certeza irá fazer muita falta. Ele foi o primeiro menino que eu amei de verdade, não só como amigo. Eu queria que ele estivesse ao meu lado. Indo junto à faculdade comigo, construindo nossa vida. Quem sabe, no futuro, termos filhos? Mas o destino nos separou. Mas eu sei que ele sempre estará aqui comigo – eu disse isso e comecei a brincar com a aliança. – A única certeza que eu tenho agora é essa. , eu te amo e sempre, eternamente, irei te amar.
Peguei as rosas e coloquei em cima do caixão e me deixei chorar um pouco. Segurei duas em minha mão. Cada uma com um laço vermelho no cabo.
Eu, e seus pais jogamos juntos os primeiros punhados de terra para que enterrassem . Os meninos e os familiares homens pegaram as pás e cobriram todo aquele buraco com a terra vermelha que preenchia todo aquele chão.
As pessoas começaram a se dissipar e eu me dirigi para um local mais isolado. Deparei-me com uma lápide escrita: “Aqui jaz Lucas . Pai, marido, filho e amigo. Sempre lembrado” e as datas. Coloquei uma rosa e murmurei.
- Queria que você estivesse aqui para me ajudar. Sinto sua falta.
- Também sinto sua falta – ouvi aquela voz e ri de leve. – Eu sempre estarei aqui.
- Eu sei – eu disse baixo e saí andando em direção à lápide de .
Permiti-me pensar sem lágrimas esse breve tempo que tive sozinha. Desde ontem de manhã não tive um minuto de paz. Queria ter um minuto de paz com ele.
Em sua lápide estava escrita: “Aqui jaz . , amado, filho, amigo, companheiro. Nunca o esqueceremos”. Peguei a outra rosa e coloquei em cima do monte de terra que tinha acabado de ser feito.
- Obrigada. Por tudo. – E ainda murmurei: – Eu te amo. Queria você ao meu lado.
Por um momento, jurei ter ouvido a voz de .
- Eu sempre estarei aqui.
Sorri um pouco e saí andando. O futuro me espera. Sem em corpo, com em alma. Em setembro vou para a faculdade. Me tornar uma jornalista. Ter uma carreira e, quem sabe um dia, achar um outro alguém. Mas nunca esquecer . Encontrei meus amigos em uma esquina qualquer do cemitério.
- Fondue? – perguntou.
- Vamos – eu disse com a voz baixa. – Obrigada vocês também.
Abracei meu amigo e saímos os – agora – sete andando abraçados.
Sem eles – e ele – eu não seria nada.


Epílogo

Há exatos 5 anos atrás eu perdi o amor da minha vida.
Entrei na faculdade e estou terminando o curso de jornalismo. Tenho um emprego na MTV UK e agora moro em Londres em um apartamento com o . e são nossos vizinhos e e Lizzie moram no final do corredor.
- Tchau, – Andy disse sorrindo.
Andy era minha colega estagiária. Um amor de menina que está na minha sala da faculdade. Eu estou fazendo Oxford, o sonho da minha mãe, que agora está morando com o Carter. Sim, Carter Green, o médico.
Saí da porta do meu trabalho e o sol leve do começo do inverno esquentou meu corpo. Coloquei o iPod no ouvido. Não, eu não perdi a mania de ouvir música a qualquer momento do dia.
Peguei o metro, não muito cheio, afinal, estava saindo mais cedo hoje. Eu disse que tinha umas coisas para resolver.
Depois de eu até tentei namorar de novo, mas só depois de três anos. Tentei duas vezes. A primeira o cara falava que eu não deveria chorar por uma coisa boba. Duraram dois meses. Ele me traiu, dizendo que eu era careta demais. A outra vez durou cinco meses, sendo que eu o via apenas de final de semana, e nem ficava muito feliz. Acho que a gente mais conversava como amigo do que realmente ficávamos. Terminamos juntos, após um mês sem se ver. E logo depois ele assumiu ser gay. Sim, esse dos cinco meses foi Alan, aquele meu affair da festa da Liz. Ele namorava sério agora, e continua sendo um fofo.
Desci uma parada antes e decidi ir andando. Eram cinco quarteirões apenas, e eu já sofri muito mais por cinco quarteirões.
Encontrei uns amigos no restaurante na frente de casa e parei para comprar uma água. Entrei no prédio, cumprimentando o porteiro sorridente – Carl é o nome dele – e fui para o elevador.
Às vezes me pergunto por que continuo vivendo sendo que não tenho mais motivos.
Na verdade, tenho um.
Abri a porta de casa e ele veio correndo.
- MAMÃE! – Sebastien disse pulando no meu colo só de cuecas.
Sorri ao vê-lo com seus olhos, idênticos aos do pai, brilharem para mim.
- VOLTA AQUI, MOLEQUE! – veio correndo. – Ah, oi . Eu estava levando ele para tomar banho, para irmos visitar o papai, mas ele me enrolou.
- Tudo bem, – eu disse rindo. O me ajudava a criar o Sebastien, e os outros, claro. Mas ele e meu colega de apartamento, então as coisas difíceis sempre sobram para ele.
O Sebastien, assim como meu namoro com , foi um acidente. Aquela noite no hospital, em que dormi com ele. A gente fez mais que só dormir. Nem pensei nas consequências, que logo apareceram algumas semanas depois. A vontade louca de comer aspargos, o enjôo matinal, e depois do teste tudo se confirmou. Eu estava grávida do . Minha mãe não conseguiu nem ficar brava por ter uma filha prestes a ir para Oxford grávida. Na verdade, o Dr. Green estudou em Oxford e por alguns anos deu aula lá. Ele me levou até o reitor que me garantiu uma vaga para o próximo ano. O bebê seria pequeno, mas eu daria um jeito. Dividi os turnos com . Ele estudava de noite e eu de manhã. Assim, de tarde todos ficaríamos com o pequeno.
Escolher o nome foi uma coisa dificílima. Juntamos os seis (Flora voltou para o Brasil no final do ano, para tristeza de ) e reviramos as coisas do . Achamos um caderno de quando ele era pequeno, falando que se ele tivesse nascido na França ele gostaria de se chamar Sebastien. E foi isso.
Desde que descobri que estava grávida do Sebastien achei um motivo para viver.
- Vai lá, filho, vai terminar de se arrumar que a mamãe já vai. Vou guardar as coisas.
- Mãe, eu tenho quatro anos – ele disse mostrando os quatro dedinhos. – Eu não sei fazer essas coisas sozinho, tá? – ele disse super sério e eu ri.
- Tudo bem, pivete. Vou guardar as coisas no quarto. Chama o titio ?
Fui para o meu quarto, o do final do corredor, e coloquei as coisas na cama. Abri o armário para pegar uma roupa e apareceu na porta.
- Pois não? Eu já tô pronto – ele disse dando uma volta para mostrar a roupa e eu sorri.
- Muito bem. Vai ganhar uma estrela dourada – eu disse brincando e ele mostrou a língua. – E a Flora?
- Chega em duas semanas.
- Ai que bom! – eu disse sorrindo e separando um sapato.
Olhei para .
- Obrigada. Por tudo.
- De nada, pequena. Olha, leva seu filho logo pro banho e se arruma você também. Vou chamar os outros quatro. Ah, a Sra. já vai chegar.
- Ok, obrigada.
Saí correndo e peguei meu filho de surpresa no colo.
- Vamos tomar um banho com o Bob Esponja?
- Vamos! – ele disse dando pulinhos no meu colo e sorrindo.
Dei um banho um tanto complicado em Seb. Ele só queria brincar e me molhar. Ele pegava sua esponja e ficava jogando em mim.
- Para, sua peste! – eu disse gargalhando.
- “Para sua peste!” – ele me imitou dando sua risada sapeca.
Enxaguei seu cabelo e o tirei do banho.
- Chega correndo no e dá um abraço bem apertado, vai lá. Leva a toalha! – eu disse empurrando meu filho encharcado pela porta e abrindo o chuveiro para eu poder tomar um banho.
- AAAAH! , SUA DOIDA! – eu ouvi a voz do e ri.
Tomei um banho rápido e me arrumei mais rápido ainda. Quando saí, todos estavam na sala brincando com meu filhote.
- Sra. , oi – eu disse abraçando a minha eterna sogra.
- Oi, querida. Ele cresceu.
- Está cada dia mais parecido com o pai - disse ao fundo e eu sorri.
- Aliás, quando vem o de vocês? – perguntou para .
e tinha se casado em janeiro em uma cerimônia super simples e meiga. falava que queria ficar grávida logo no final do ano, assim daria tempo de terminar a faculdade e já estar grávida. Ela queria ter o filho antes dos 27. “Para ficar grávida aos 28, lógico” era o que ela sempre dizia.
- Logo que o acabar com a neura – Lizzie disse baixo, mas todos rimos e olhou feio.
Olhei para os meus amigos. Nesses últimos anos, tínhamos nos aproximado ainda mais. Os padrinhos de Sebastien são e , portanto eles sempre estavam aqui. Lizzie, por ser a tia, sempre vinha, e o acabava vindo. E o mora comigo.
- Vamos? – a Sra. perguntou.
Peguei meu filho no colo e saí do apartamento.

- Aqui jaz . , amado, filho, amigo, companheiro, pai. Nunca o esqueceremos – Sebastien leu com certa dificuldade.
- Ah, meu filho já sabe ler! Tô ficando velha – eu disse fazendo draminha e todos riram.
Tinham colocado a palavra “pai” na lápide logo depois que descobriram que eu estava grávida.
Cada um colocou suas flores no túmulo e alguns ainda disseram algumas coisas. Esperei todos saírem e fiquei sozinha com meu filho.
- A gente te ama muito, você sabe, né? – eu disse.
- Sei. Mas o papai não me conhece. Queria que ele estivesse agora comigo.
- Mas ele está, filho. Ele está. – E sempre estará, eu pensei.
Seb colocou a rosa e abraçou o túmulo. Ele tinha essa mania, dizia que sentia como se estivesse abraçando o pai. Ele sorriu. Seu sorriso era idêntico ao de . Sorri com ele. Abri minha bolsa e coloquei o boné na cabeça do meu filho. O boné dele.
Peguei meu filho no colo e saí atrás de todos.
- Eu estou aqui. Te amo – eu ouvi a voz e sorri. Uma lágrima caiu e Seb me olhou.
- Não chora, mamãe. Eu te amo.
- Eu também te amo.
Olhei para trás e vi sorrindo para mim.
- Sinto sua falta. Eu te amo.


FIM



n/a: Bem, é isso. Acabou. Gostando ou não foi assim que eu imaginei – tinha tudo na minha mente desde o cap5.
Bem, antes de mais nada eu gostaria de agradecer à minha inspiração principal de YOU: Daniel Alan David Jones (vulgo Danny Jones Q). E aos meninos mais amigos de todos os tempos, que me ajudaram a escrever cada personagem de YOU: Dougie Poynter, Tom Fletcher e Harry Judd.
As pessoas ao meu lado, principalmente à Rê Serapião, que me ajudou em várias partes e principalmente quem me deu a ideia básica do final e disse se estava legal ou não. E claro, por simplesmente ser minha melhor amiga.
Também queria agradecer a Deh, por ser a melhor beta do mundo <3 Obrigada a Mari Solsi e a Bianca Cortegoso, que leram a fic e falavam – sinceramente – o que acharam.
Tá, e também ~~valeu~~ a todos os meus amigos. Cada pedacinho dedicado à amizade aqui é para vocês. Meninos e meninas, ambos, vocês fazem meus dias mais felizes *-*
À minha família que me ouviu falar muito de McFly, e YOU. Aos meus professores, por me darem tempo livre e era nessa hora que eu escrevia kkk
À minha prima Ana Carolina, por me ajudar com algumas idéias.
Ok, não sei a quem mais agradecer. A todos os meus ídolos (isso pode ser visto no meu fotolog, ou Orkut).
Acima de tudo eu queria agradecer a VOCÊ que leu YOU, que comentou, deu ideia, sugestão, e criticou (sei que algumas pessoas ficaram “depsionadas” Q).
Também queria agradecer aos meus dois divos literários, que são quem me motivaram a escrever e me ajudaram a decidir que carreira seguir (jornalismo): J.K. Rowling e Luis Fernando Veríssimo.
Bom, é isso. Eu tô quase chorando (não recomendou escrever algo assim, no final de uma fic que e quase de BB Q ouvindo Two Is Better Than One do Boys Like Girls).
É isso. Obrigada a todos.
Beijos sabor chocolate :*
‘cámi-

Duvidas? Formspring serve pra isso *-*


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