’’Só um masoquista poderia amar tanto uma narcisista.’’
Ele estava deitado na cama encarando a porta da sacada. Um suspiro frustrado escapou de seus lábios. Fazia cinco meses desde que ela havia ido pra Espanha a trabalho. Ela era modelo. Não tivera nenhuma notícia dela, a não ser por uma mensagem que ela havia mandando uma semana após viajar. ‘’Sinto sua falta! ): Xx, null. ’’ Era o que a mensagem dizia.
null odiava isso o que null fazia. Sumia por meses e depois reaparecia como se nada estivesse acontecido. Ele sabia que toda vez que ela desaparecia ela estava aprontando algo e dormindo com vários homens. Mas o que null mais odiava era o fato de null usá-lo várias vezes como se fosse um brinquedo e depois jogá-lo fora quando enjoava de brincar. Ele odiava o fato de simplesmente aceitar isso e não conseguir dizer não a ela, aos seus mimos.
Olhou o corpo nu deitado ao seu lado. Passou os dedos levemente pelo seu pescoço e desceu até suas costas parando no seu quadril. O corpo de Audrey era bonito e curvilíneo, mas não era tão bonito como o de null. Seu corpo, seu rosto, seu sorriso, seus olhos, seu cabelo, seu abraço, seu beijo, seu sexo. Audrey não era tão boa como ela. null queria que fosse null deitado ali ao seu lado, nua.
Tropeçava nos próprios pés, mas lutava para manter-se em pé. Apoiou-se no poste daquela rua, estava tonta demais para andar. Bêbada demais para qualquer coisa. Retornou a andar apoiando-se nos muros da casa para não cair e segurando o vômito na garganta. Não poderia fazer tudo errado agora. Estava tanto tempo sem vê-lo que não poderia estragar mais alguma coisa, só o fato de estar bêbada já arruinava seus planos.
Havia sentido tanta falta de null. Das conversas de madrugada, do seu abraça protetor, do seu beijo intenso, do seu olhar hipnotizante, do seu perfume forte, típico masculino. Não sabia se estava tão sensível devido ao álcool, mas já estava chorando. Chorou mais ainda ao parar em frente daquela casa tão conhecida por ela.
Um aperto instalou-se no seu peito. Como ele poderia fazer isso com Audrey? Ela o amava tanto e sempre que precisava estava lá para ele, Audrey realmente se importava com null. E ele estava ali deitado na cama desejando que fosse outra mulher no lugar dela. Audrey não merecia isso, null sim.
Ouviu o barulho de a campainha tocar. Estranhou, afinal quem estaria lá? Eram cinco horas da manhã, daqui a pouco o sol iria nascer. Levantou-se da cama tentando fazer o mínimo barulho possível para não acordar Audrey e desceu a escada. Abriu a porta e no momento que viu null encostada no batente da porta com os olhos entreabertos e seu cabelo bagunçado, seu coração disparou.
- null! – ela gritou histérica e jogou-se nos braços dele. Ele sentiu um forte cheiro de álcool e cigarro vir da sua roupa e do seu cabelo. null percebeu o quão bêbada estava e a segurou temendo que ela caísse.
- O que você faz aqui? – perguntou rude. Oras, ele não poderia ceder tão facilmente.
- Eu vim te visitar, você não sentiu minha falta? – beijou o pescoço de null e o viu tremer. Sua risada saiu abafada. Era bom saber que ainda causava efeitos nele.
- Senti. – admitiu. Em um momento de fraqueza abraçou null pela cintura e apertou seu corpo contra o seu. Ninguém nunca ia causar nele os efeitos que ela causava.
- Que bom. – isso a deixou feliz. Era bom saber que ela ainda era importante para ele.
- Mas parece que você não sentiu muita minha falta. – sua voz saiu tristonha. null tirou o rosto do pescoço dele e envolveu seu rosto em suas mãos. Olhou fixamente para ele, expirou todo o seu perfume viciante.
- É claro que eu senti sua falta, meu amor. – null sempre amava quando ela o chamava de amor. As palavras eram pronunciadas tão meigamente da boca dela. Mas ali, naquele momento elas não pareciam tão doces e muito menos verdadeiras.
- Onde você esteve durante esses cinco meses? – seu tom de voz era sério. A postura de null ficou rígida, suas mãos caíram ao lado de seu corpo, parecia uma estátua. Por um momento achou que já estivesse sóbria.
- Trabalhando. – sua voz falha entregou sua mentira. null sentiu seu sangue ferver e segurou fortemente o ombro da mulher. Como ela ousava mentir para ele?
- Não minta para mim. – falou entre os dentes, por um momento achou que fosse quebrá-los. Apertou ainda mais o ombro de null, ela sentiu seu ombro doer ainda mais. null ao ver os olhos da mulher enxerem-se de lágrimas tirou suas mãos do ombro dela. Por mais que null merecesse isso, ele não conseguia fazer isso com ela. Respirou fundo e falou um pouco mais calmo: - Desculpe... É que não suporto quando você mente pra mim. – sua visão foi tampada ao ver null agarrar desesperadamente seu pescoço e pendurar-se neles. Percebeu que ela chorava ao sentir seu pescoço molhado. Alisou seus cabelos desgrenhados e os beijou. Aquela não era a hora para conversar, null estava perturbada demais.
null pegou null no colo ao perceber que ela tremia. Entrou em casa e fechou a porta com o pé, sentou-se no sofá com ela e ajeitou no seu colo como se fosse um bebê. Balançou pra frente e para trás tentando acalmá-la, pois ainda chorava.
- Me desculpe, eu não queria te fazer sofrer. Nunca foi minha intenção. – sua voz saiu embargada e tudo que null pode sentir foi pena dela. Não conseguia odiá-la por muito tempo.
- Onde você esteve durante esses meses? – null sabia que a pergunta era mais dolorosa do que a resposta. Mas ele precisava ouvir, era um quê de masoquismo. Afinal o que seria mais masoquista do que amar null?
- Eu tive alguns desfiles na Espanha... Depois eu fui para New e York e depois Cancun, saí algumas vezes para me divertir. – fitou a parede sem coragem de encará-lo. null a colocou sentada no sofá e levantou-se, passou as mãos desesperadamente pelo cabelo e arrancou alguns fios. Ele sabia o que essa diversão dela queria dizer. Só de pensar nisso já se sentia enojado.
- Por que você faz isso comigo, null, por que me tortura tanto? – sua voz angustiada cortou o coração de null em cinco pedaços. Sabia que não adiantaria nada falar para ele que o amava, ele não acreditava nos sentimentos dela, ninguém acreditava. Tudo que ela queria era não perdê-lo, mas suas atitudes mostravam o contrário. Maldita impulsividade que lhe possuía.
Andou até null, ignorou completamente seus passos vacilantes, sua tontura e seu salto que insistia em virar para o outro lado. O abraçou por trás, apenas o abraçou. Na sua cabeça não passava nenhuma malícia, ela só queria abraçá-lo. null manteve sua postura rígida controlando-se para não ceder aos encantos dela. Já estava cansado dos seus joguinhos egoísta, cansado da vida que levava por culpa dela. Afinal tudo era culpa dela. null era responsável por tudo, sempre fora responsável por tudo.
- Perdoe. Pelo amor de Deus diz que me perdoe. – suplicava sem forças até pra chorar. Mas a postura de null não mudou e isso a desesperou. Geralmente ele cederia logo na primeira vez. Céus, o que ela havia perdido nesses cinco meses?
null virou-se para encará-la e encarou seus olhos, querendo várias vezes desviar deles. Mas precisava ser forte.
- null, não dá mais. Não agüento mais, cheguei ao meu limite. Você tem idéia do quanto me dediquei a você? De todas as namoradas sérias que larguei parar ficar com alguém que nem um compromisso ao certo tinha? Que ia trabalhar e ficava meses sem voltar para casa? Tem idéia do quanto sofri e ainda sofro por você? – sua voz estava embargada. Sua garganta fechou, sentiu fortes pontadas na cabeça por estar segurando o choro. Era raro as vezes que null abria-se para null, costumava deixar tudo guardado, ia acumulando tudo. Até que não agüentou e explodiu, dizendo tudo o que sente sobre a relação (que nem era uma relação de verdade) deles.
- null eu vou mudar, mudo por você, eu prometo. – tentava de todas as formas convencê-lo, mas ele estava irredutível.
- Não, null! – sua voz elevou-se – São sempre as mesmas palavras, as mesmas desculpas. Você não muda, você nunca muda. Eu cansei, cansei de você, cansei dessa nossa relação que parece nunca andar pra frente. – afastou-se do abraço dela indo para outro canto da sala.
- ! – gritou desesperada. Tinha que arranjar algum meio de tê-lo de volta, ele não poderia desistir dos dois tão rápidos. Pegou o primeiro objeto que viu pela frente e o tacou no chão, fazendo null assustar-se com o barulho. – VOCÊ NÃO PODE DESISTIR DE NÓS DOIS! NÃO AGORA. EU VOLTEI, VOLTEI PRA VOCÊ. – as lágrimas já rolavam livremente pelo seu rosto.
- EU NÃO DESISTI NADA, VOCÊ QUE DESISTIU! DESDE O MOMENTO EM QUE SIMPLESMENTE JOGOU MEUS SENTIMENTOS POR VOCÊ NO LIXO E DEU UMA DE MALUCA SUMINDO POR MESES E DEPOIS APARECIA COMO SE NADA TIVESSE ACONTECIDO. VOCÊ FODEU COM A MINHA, A SUA, A NOSSA VIDA. A CULPA DISSO TUDO É SUA. – gritou ainda mais alto. Nem se lembrava mais que Audrey dormia tranquilamente no quarto em cima. Não sabia mais quem era Audrey.
- MAS EU ESTOU AQUI, ESTOU TENTANDO. Vamos recomeçar – sua voz saiu num sussurro quase inaudível. null encontrava-se perdido, não sabia o que iria fazer. null tinha o poder de consertar e quebrar seu coração ao mesmo tempo.
Ouviram o barulho de alguém descendo a escada e logo seus olhares dirigiram-se para a mesma. null gelou, Audrey tinha que acordar logo agora? null e null viram uma Audrey sonolenta parada no último degrau da escada, sem entender ao certo o que acontecia ali.
- null, amor, o que está acontecendo? – perguntou com a voz arrastada. null rolou os olhos irritada. Claro, essa vadia tinha que estar no meio. Era de se esperar. .
- Nada meu anjo, volte a dormir. – sua voz doce deixou null enciumada e irritada.
- Claro, essa vadiazinha tinha que estar envolvida no meio. – disse enojada olhando-a com ira nos olhos. null respirou fundo temendo a reação de Audrey, mas esquecera que ela era extremamente calma e não fez absolutamente nada apenas o olhou decepcionada assim que viu null na sala. Isso irritou null ainda mais. Ela era tão adorável.
- null, o que ela está fazendo aqui? – perguntou calmamente, mas isso não o tranqüilizou, pelo contrário o desesperou. Às vezes null preferia que Audrey fosse tão pirada quanto null, seria mais fácil de lidar. Ou não.
- Audrey, podemos conversar? Sozinhos?
- null, não precisa falar nada. – sua voz saiu quase inaudível. null rolou os olhos. – Eu já entendi.
- Não Audrey, precisamos conversar. – embolou-se nas palavras.
- null, não precisa dizer nada. Eu só quero saber uma coisa: Eu ou ela? – Audrey olhou fixamente em seus olhos sem desviar um minuto sequer. null olhava a cena sem dizer nada, esperando pela resposta de null, assim como Audrey. O coração do homem pareceu parar de bater e uma dor instalara-se no seu peito. A dor de Audrey foi para o seu peito. Ele estava na corda bamba. Mas sabia o que iria dizer. Era louco por null, porém Audrey sempre causou alguns efeitos neles, mesmo não sendo os mesmos que null causava, mesmo não sendo tão fortes que o dela. Mas era Audrey que estava ali, assim como era ela que estava ali ontem, semana passada, meses passados. Sempre esteve presente. E null? Onde estava? Ninguém sabia. Todos sabiam que com null era tudo incerto, tudo muito insano. E com Audrey? Tudo com ela era certo.
Mas o que ele poderia dizer? null era a mulher que ele amava. A mulher que ele faria tudo por ela, tudo mesmo. Com null não existia limites. Ele era totalmente viciado nela, era com ela que ele queria dormir e acordar todos os dias. Era com ela que ele queria presenciar momentos bons, ruins. Era pra ela que daria sua vida. Trocaria tudo por null, amigos, trabalhos, família. Apenas por tê-la por perto. Sem ela ele não seria mais o null de sempre.
Audrey ainda o olhava esperando por uma reação, a qual ela já sabia. null a olhou angustiado. Me desculpe. Audrey leu as palavras saírem de uma forma totalmente cruel da boca dele. Sentiu seu coração ser esmagado, triturado. Queria chorar, mas tinha que ser forte, pelo menos na frente dele.
Subiu as escadas em silêncio deixando null e null parados na sala. null não conseguia falar nada, ele fez sua escolha, mesmo sabendo que não era a certa. Era o que queria, ficar com null. Mas não suportava magoar Audrey. Será que todos não poderiam sair bem nessa história toda? Será que poderia não existir corações partidos? Seria tudo mais fácil, mais prático, mais fácil de conviver. Após alguns minutos Audrey desceu com uma bolsa onde continha todas as suas coisas, seu rosto estava molhado. Já havia desistido de segurar as lágrimas, já estava tudo acabado mesmo. Então pra quê se preocupar?
- Então eu vou indo. Você fez sua escolha, trocou o certo pelo incerto. Preferiu acordar sem saber que ela vai estar na sua cama amanhã. Então, boa sorte com ela. – null nem null falaram nada. Não havia o que dizer, sabiam que era a verdade nua e crua saindo da boca de Audrey. Mas os dois preferiam conviver com a mentira, ignorando sempre a verdade. Como muitos fazem.
Audrey saiu da casa de null batendo com força a porta da sala. null soltou sua respiração, sem perceber que havia a prendido por muito tempo. Agora estava realmente tudo acabado. null estava ali.
null sentiu náuseas. Abaixou a cabeça e sentiu o vomito ser eliminado da sua garganta com facilidade. null ouviu um barulho estranho, olhou para trás e viu null vomitando no tapete de sua sala. Correu até ela e a segurou pela cintura, puxando sua cabeça para trás. Ela deveria ter bebido muito porque o cheiro do álcool era forte.
Todo o liquido saiu da sua boca, mas ela continuou agachada tentando normalizar sua respiração. null passou a mão no cabelo dela tirando-o de seu rosto. Ele a pegou no colo indo até o banheiro com ela.
- Aonde você vai me levar? – perguntou manhosa, aconchegando no colo dele.
- No banheiro, vou te dar um banho. – entrou no banheiro com null no seu colo. A colocou no box, observando a quão sonolenta ela estava. Tirou sua roupa observando cada parte exposta do corpo da mulher, aquele corpo tão conhecido e desejado por ele. Seus seios, seu quadril, sua coxa, seu abdômen, sua bunda. Tudo nela era tão lindo e excitante. Quantas e quantas vezes transaram ali mesmo, naquele box. Na verdade em qualquer canto daquela casa, cada canto tinha algo dela, uma história para contar. Desviou seus olhos do corpo dela, null estava inconsciente e precisava de um banho gelado e uma roupa nova. Não de uma transa, ou mais uma. Afinal ele não sabia o que havia acontecido naquela noite.
Ligou o chuveiro e colocou null delicadamente embaixo da água fria. O corpo da mulher tremeu e ela agarrou-se a null dificultando ainda mais a linha de raciocínio do mesmo ao sentir seu corpo nu e molhado contra o seu.
- null, ta frio. – murmurou batendo os dentes. null sentiu pena dela, mas sabia que aquilo a ajudaria. A colocou de novo embaixo da água e a segurou evitando que ela saísse. Isso fez com que se molhasse, mas ele ignorou. Afinal, o calor da pele de null já o mantinha aquecido.
- Você precisar de um banho frio, amor. – disse meigamente enquanto alisava os cabelos molhados da mulher. Ela concordou com a cabeça ainda batendo o queixo e o abraçou, ele retribuiu seu abraço sem importar-se se ficaria ainda mais molhado.
Secou o corpo da mulher delicadamente evitando que alguma parte ficasse molhada, não pode deixar de excitar-se. Por sorte null estava sonolenta demais. A enrolou na tolha e a pegou no colo, subiu as escadas cuidadosamente e entrou no seu quarto. Colocou null sentada na cama e foi até o seu armário pegando alguma blusa grande e uma calcinha dela que ficava jogada num canto da sua casa. Passava tanto tempo ali que metade de suas coisas encontravam-se na casa de null.
null vestiu a calcinha e a camiseta em null, tornou a pegá-la no colo e a colocou na cama, ajeitando-a. Deitou-se ao seu lado abraçando sua cintura. Ela aconchegou seu corpo no dele e lhe deu um selinho, em seguida virou para o lado oposto e fechou os olhos. Rapidamente caiu no sono. null demorou um pouco ao dormir, apertava null contra o seu corpo querendo acreditar que ela realmente estava ali. Querendo aproveitar qualquer momento com ela, mínimo que fosse. Um minuto com ela era tudo o que ele mais queria. Afinal, ele não podia negar que null era sua droga mais dolorosa e doce que existia. Feita especialmente para ele.
“Intimidade é uma palavra de cinco sílabas para ‘aqui – está – o – meu – coração – por – favor – esmague-o – como – carne – moída – e – se – delicie’. É uma coisa ao mesmo tempo desejada e temida. Difícil de conviver com e impossível de se viver sem”
(Grey's Anatomy)
"Só temos que tomar cuidado pra não decepcionar as pessoas erradas."
Seus olhos se abriram e ele olhou para o outro lado da cama. Vazio. Era isso o que estava diante dele: o vazio. “De novo não.” Foi tudo o que conseguira pensar e imaginou que uma noite antes ela estava lá, deitada ao seu lado. Lembrara-se da noite anterior com remorso e dor, e também se lembrou da promessa que ela havia feito. “null eu vou mudar, mudo por você, eu prometo.” Ele não podia acreditar que null tinha feito isso mais uma vez. Fechou os olhos numa tentativa estúpida e imatura de tentar acordar de um pesadelo que não existia. Era a mais pura e cruel vida real. null não estava ali e ele, mesmo não querendo admitir, sabia o que tinha acontecido. Ela fora embora – mais uma vez – e o deixou ali, com um buraco no lugar de onde antes deveria estar seu coração. Levantou-se cambaleando e sentindo o cheiro de null em todo o quarto. Aquele era seu vício e sua única cura – ou motivo do vício – era a dona daquele cheiro: null. Lavou o rosto e ainda um pouco frustrado e desnorteado, decidiu tomar um banho gelado, para que acordasse. A água caía sobre sua cabeça como um baque, o fazendo contorcer o rosto em sinal de dor. Dor pela água gelada encostando-se a sua pele relativamente quente e a de ser largado. Ele não merecia isso, sabia que não. Ele podia ter qualquer uma, até mesmo Audrey, se a convencesse disso. Mas mesmo que tentasse, sabia que não iria nem ao menos chegar perto de conseguir. Terminou o banho e colocou uma boxer preta. Passaria o dia mofando em casa e a noite tentaria arranjar algo para fazer. Era sábado e ele não precisaria trabalhar, era rico o suficiente para somente precisar trabalhar três vezes na semana. Terça, quarta e quinta. Ele achava que segunda não estaria bem por causa de ressacas e sextas e sábados eram os dias de farra. E era sábado, o que o deixou mais deprimido.
Como null poderia ter feito isso com ele? Como o deixara mais uma vez sem ao menos lhe dizer um adeus? Seria esse o fardo que null deveria carregar por amar tanto alguém? Ele se sentiu triste por causa de Audrey, com o que fizera com ela.
Desceu às escadas e parou em frente à sala de visitas, onde null tinha chegado no dia anterior, depois de cinco meses. Ficou ali, olhando e lembrando-se de cada momento, como se esperasse que a porta se abrisse e null aparecesse novamente.
- Gosta de panquecas? – ele escutou a voz de null ecoar em seu ouvido, fazendo-o se arrepiar por inteiro. Ele não podia acreditar que ela estava ali, fazendo panquecas. – Eu realmente espero que goste, pois é a única coisa que sei fazer! E também temos café. – enquanto dizia, via a cara de null formar um sorriso gigantesco, que lhe deu um alivio instantâneo percorrer seu corpo.
Ela acordara um pouco cedo e vira o sono profundo de null, então resolveu fazer-lhe uma surpresa. E parecia que estava dando certo. Ele envolveu a cintura da mulher que estava na sua frente e depositou um selinho breve em seus lábios. Ele não estava acreditando naquilo. null estava com ele e preparando um café da manhã. Era mais do que ele queria e poderia acreditar. Fez o mesmo que fizera quando acordou e tentou acordar de um sonho, não mais de um pesadelo. null sorriu com null. Não estavam namorando, mas sentiam que pertencia um ao outro.
- Tenho que terminar de fazer as panquecas, null . Se você quiser me acompanhar... – a mulher ia dizendo e se afastando e null a seguia com o olhar. Ele estava fascinado demais com o que acabara de presenciar. Será que null realmente cumpriria sua promessa? Essa perguntava martelava em sua cabeça.
null chegou à cozinha e estava terminando de fritar algumas panquecas, sentindo um olhar pesar em suas costas. Era null e ela sabia disso. Soltou um riso abafado, quase inaudível, lembrando do semblante assustado que o mesmo fizera quando a viu em casa. Abriu um sorriso sincero, sem que null pudesse ver.
- Achou que eu tinha ido embora, amor? – ela não queria dizer amor, mas saiu naturalmente, fazendo-a se desconsertar, mas logo após se recompondo.
null a olhava sem conseguir acreditar no que via. Era a sua null ali, fazendo panquecas. Não pode deixar de notar as roupas que ela vestia. Ainda era uma camisa grande e larga demais para o tamanho de null e embaixo, ele sabia que apenas havia uma calcinha. Não pode evitar um sorriso malicioso brincar em seus lábios. Viu null concentrada tirando as últimas panquecas da frigideira e as colocando em um prato. Ela estava distraída e tão incrivelmente linda.
null sentiu duas mãos repousarem sobre sua cintura, as apertando com certa delicadeza. Arrepiou-se por inteiro e null apoiou o queixo em seu ombro. Ela sorriu reconfortante e colocou uma de suas mãos em cima da de null. Ela estava ali com ele, sentindo seu toque e realmente sóbria. Ela estava feliz por ele ter escolhido-a e não a Audrey. Ela sabia que o que tinha feito estava errado, mas não conseguira controlar. Ela era assim, mesmo quando tentava não ser. Mas ela queria mudar. Tinha que mudar. Ela sentia isso dentro dela, e estava buscando com todas as forças para que acontecesse.
- Eu... Simplesmente... – null ia falando no ouvido dela, e apertando mais ainda, fazendo-a se arrepiar. Ele sorriu com o efeito que causara nela. – Adoro panquecas – sentiu null acariciar sua mão e mordeu o lóbulo de sua orelha, fazendo-a soltar um breve gemido. – E sim, achei que tivesse ido – dito isso, a pegou pelo colo, sentou-se em uma das cadeiras da cozinha, colocando null com as pernas entre seu corpo. Apertou sua cintura e mordeu o lábio inferior da garota, fazendo-a sorrir.
- E por que diabo achou isso, null? – dito isso, null se arrependeu profundamente de tê-lo feito. – E-eu... - Ela tentava se desculpar, mas ela sentia que era inútil.
- Eu não sei, null. – null sorriu, após ver o semblante de alivio que null fizera. Ele não queria brigar naquele momento, queria apenas tê-la em seus braços, depois de tanto tempo. – Mas estava enganado, de fato. Você está aqui comigo, – a mulher sorriu lisonjeada. – E fazendo panquecas! – ela lhe deu uma tapa no braço, gargalhando junto com null e sentindo uma vontade enorme de ficar ali para sempre. Sentiu culpa por ter feito null sofrer tanto, mas não poderia voltar no tempo, mesmo se quisesse.
- E por falar em panquecas, vou pegar! – null ia protestar, mas seu estômago falou mais alto. Apenas assentiu e esperou que null trouxesse as panquecas. Tomaram café silenciosamente, apenas sentindo a presença um do outro.
- Qual filme você quer ver, amor? – null perguntou para a mulher que estava descendo as escadas, com o cabelo molhado e outra blusa de seu armário. – E minhas blusas te deixam incrivelmente sexy – o homem sorriu com o comentário que deixara escapar, fazendo null sorrir junto.
Já eram umas duas horas da tarde, eles haviam acordado tarde e tomando café mais tarde ainda, então não estavam com fome por enquanto. Iriam ver algum filme e comer porcarias, como um casal apaixonado faria. null estava incrivelmente linda, null pensara.
- Não sei, null. E que não seja terror, você sabe que eu odeio! – a mulher disse sorrindo e simultaneamente lembraram-se da mesma cena.
Flashback On
Estavam na casa de null e iriam ver um filme. Já tinham dois meses que estavam juntos. null se sentia extremamente feliz e null se sentia completo. Estava tudo começando bem. Apenas começando. null sentou-se na sala, esperando que null trouxesse um filme para que pudessem ver. Tinham combinado de assistir a um filme qualquer e passar o dia assim, juntos. null colocara o DVD e tinha pipoca e barras de chocolate em mãos. Assim que o filme começou, null gritou. Era “O chamado”. null sempre teve medo de filmes de terror, era muito manhosa. null gargalhava, enquanto null não parava de gritar e se esconder atrás de null. Em uma hora dessas, null a segurou pelo pulso, e a colocou em seu colo. Sorriu com o semblante de pavor que a menina tinha. null não tinha mais cabeça para assistir ao filme, desistindo completamente de tentar ver. Agarrou forte o pescoço de null, se encaixando nele. Arranhou sua nuca e fechou os olhos. Sentiu lábios quentes e macios encostarem-se a sua boca e logo após deu passagem para eles. O beijo se aprofundara e se intensificara, aumentando o desejo de ambas as partes. null sorriu e começou a levantar a camisa da mulher em seu colo. null assentiu com um gemido breve e logo após as roupas estavam jogadas no chão da sala, e dois corpos ofegantes estavam deitados no sofá. null depositou um beijo na testa de null que sussurrou algo como “Nunca me deixe colocar o nome da minha filha de Samara.” E adormeceram ali.
Flashback Of
- Filme de terror me parece uma ótima ideia. – null disse rindo, se lembrando do que acontecera quando null viu um filme de terror. Isso lhe parecia uma ótima escolha. null já estava sentada no sofá, ao lado de SCRIPT>document.write(Dougie) . Rolou os olhos e fitou ao homem ao seu lado. – Ou não. – ele completou a frase e escolheu o filme. Escolhera Batman – O cavalheiro das trevas. null assentiu e null colocou o filme. Eles não eram um casal comum, que assistia “PS: Eu te amo” ou “Quatro amigas e um Jeans viajante”. Não, eles eram completamente diferentes.
O filme começou e os dois prestavam atenção a cada cena. null estava deitado no colo de null, enquanto a mesma fazia cafuné em seu cabelo. null sorria a cada toque que null lhe dava. Aquilo era realmente bom. Ele estava satisfazendo o seu vício, ali com null. Ouviram um toque berrante de um celular: era o de null.
- Vai atender, amor – null disse bem baixinho, para que null fosse atender. null fez cara de manhã. – Deve ser importante, vai – e por fim ele fora.
null estava se sentindo bem, se sentindo completa. null havia escolhido a ela e não a Audrey, que sempre esteve ali para ele e por ele. Isso deixou null um tanto machucada, de fato. Era ela quem deveria estar ali quando null precisasse, quando null necessitasse. Era ela quem deveria sentir o cheiro de null a cada despertar do mesmo. Era ela quem deveria fazer brotar um sorriso na face de null . Ela era quem deveria ter estado ali sempre. Esses pensamentos deixaram-na um pouco triste e com certa raiva de Audrey, por ser tão adorável e nunca desistir de null . Ela já não conseguia prestar mais atenção no filme, continuava a pensar e a se martirizar por ter dado tanto sofrimento a este relacionamento. null sempre esteve esperando por null . Todos os dias, todas as noites, todas as semanas e meses. E o que ela havia lhe dado em troca? Dor. Apenas dor. Por que todos tinham que ser tão adoráveis, enquanto null era uma desequilibrada e só trazia sofrimento? null começava a sentir raiva de tudo, até dela mesma. Por que tudo tinha que ser assim? Nem ela mesma conseguia entender a si mesmo. Tudo o que ela fizera foi por impulso, uma coisa que a dominava.
Passados alguns minutos, null chegou e se sentou de uma forma rígida ao lado de null no sofá. Tinha algo errado e null sabia disso.
- O que aconteceu? Quem era? – ela disse pausadamente, tentando entender o que acontecera com o homem ao seu lado.
- Nada, null . Era só da empresa... Alguns problemas. – após ter dito, viu que null não acreditara muito em suas palavras. Ele tentou disfarçar, mas não conseguia enganar a mulher que amava. Ela o conhecia bem demais.
- E por que parece preocupado? – ela sorriu, tentando reconfortar e passar segurança ao homem.
- Hmm... É que terei que ir a um jantar esta noite, esclarecer algumas coisas... Nada demais. – ele dizia, encarando a expressão da mulher.
- Vai jantar com a Audrey? – ela bufou e o olhou incrédula. Como ele pode fazer isso? Não tinha acabado? Idiota! Pensou.
- E-eu... Não... – ele tentava consertar, mas sabia que não tinha jeito. null sabia que ele iria se encontrar com Audrey, sabia que isso não seria bom. – Certo. É isso. Eu sei que não deveria ter tentado esconder de você, mas é que eu achei que... Bem, eu não sei o que eu achei. Eu só vou jantar com ela para conversar. Apenas para conversar, entendeu? Não gostei de ter a magoado. Não queria que ficasse com ciúmes de uma coisa que não vai dar em nada – ele analisou o semblante da menina e era indecifrável.
- Só conversar? Você diz que só vai conversar? Ela estava na sua cama! NA SUA CAMA, PORRA! E VOCÊ AINDA DIZ COM A MAIOR NATURALIDADE QUE VAI ‘JANTAR’ COM ELA? PELO AMOR! – ela se descontrolou e logo após soltou um suspiro, tentando se controlar. – Apenas conversar, null? – ela diminuiu o tom de voz e tentou se controlar. Fechou as mãos em punho e fechou os olhos com certa força. Ela sabia que não tinha esse direito, eles não pertenciam um ao outro – não oficialmente.
- É apenas conversar, null! Apenas conversar! Não precisa ficar assim e nem me culpar de porra nenhuma! Não precisa de todo esse ciúme idiota! Eu escolhi você, droga! – ele se descontrolou um pouco e se arrependeu. Era duro demais tratar null desse modo. Ele sentia um aperto gigantesco em seu peito. – Desculpe null. E-eu...
- DESCULPA O CARALHO! VÁ CONVERSAR COM SUA QUERIDINHA, VAI, ! E NÃO FODE! Ciúme idiota... – ela gargalhou, ironizando. – Eu realmente não tenho que ter ciúme nenhum! Ciúme nenhum de um merda feito você! E não se preocupe, eu não tenho direito NENHUM de ficar com ciúmes! Eu não sou nada sua. Absolutamente nada. – depois de ter dito, logo se arrependeu. A impulsividade a dominou e ela cometeu outro erro. Mas ela não iria ficar ali parada enquanto null iria jantar com Audrey. – E se me der licença, vou pra minha casa. Preciso das minhas roupas. Espero que veja o filme tranquilamente e sua noite seja maravilhosa – ela disse com ironia soltando de sua boca. Ela simplesmente não conseguira evitar mais uma vez. Viu null se contorcer por tamanho estrago que fizera nele, mas não estava se importando. Seu orgulho e egocentrismo eram bem maior que tudo. Ela sabia que fora dura demais, mas era isso que queria fazer, e fez.
Levantou-se e foi em direção ao quarto de null, buscar as roupas do dia anterior e sair daquela casa. Não suportaria mais um segundo.
null não sabia o que fazer, as palavras de null havia o machucado de uma forma indescritível. Sentiu seu corpo querer despencar, mas se segurou. Como ela pudera ser tão cruel? Como ela conseguia o machucar de uma forma simples, mas tão dolorosa? Ele sabia que tinha feito errado em aceitar o convite de Audrey, mas se sentia culpado e queria esclarecer de uma vez por todas.
null via a mulher que amava sair pela porta de sua casa e não conseguia dizer nada, estava atônito demais para qualquer coisa.
null se arrumara e ligou para Audrey, confirmando o jantar e avisando que passaria para buscá-la.
“Alô?” uma voz calma ecoou pelo telefone.
- Oi, Audrey. É o null. Liguei para avisar que estou passando aí. – ele sorriu. Mesmo não sendo a mulher que amava, ela o fazia se sentir bem. Era ela quem estava sempre junto dele.
“Ah, oi, null. Pode vir, já estou pronta.” E dito isso, desligou o telefone, caminhando lentamente para a sala, pegando as chaves do carro. Ele parecia estar em um pesadelo ou filme de terror, no qual ele não era o protagonista. Ele estava se sentindo um lixo, um nada. Como pudera magoar de uma vez só tantas pessoas? E o mais importante: a mulher de sua vida, null. Ele sabia que não encontraria null esta noite em casa. Sabia que ela estaria em qualquer lugar, tendo suas diversões. Ele sabia que o motivo pelo qual ela faria isso era por culpa e incompetência dele. Sabia que seria doloroso, mas iria a casa dela, talvez não a encontrando ou, pior, com um homem. Seu estômago embrulhou com estes pensamentos, mas agora não poderia voltar ao passado, não poderia modificar e burrada que havia feito.
null estava decidida a sair e se vingar de null. Ela estava errada, mas ele não tinha o direito de fazer o que estava fazendo. Pelo menos isso era o que ela pensara. A impulsividade sempre foi um dos maiores defeitos de null . Estava vestida para ir a um pub que é famoso em Londres – e esquecer-se de null por uma noite. Como ela sempre fizera. Este pensamento a deixou atordoada. Abanou as mãos para “espantar” os pensamentos e terminou a maquiagem.
A conversa com Audrey havia sido difícil, muita coisa havia sido mudada. Ele sabia que se null se fosse, ela não estaria ali novamente o esperando. Ela tentara de todas as formas possíveis e impossíveis fazer null voltar atrás, mas o seu vício era incontrolável. Ele não sabia o que era vida sem null, ele não sabia o que era respirar sem null. Se aquilo era masoquismo, ele não sabia, mas ele sofria e não conseguia viver sem isso. Estava seguindo o caminho que tanto conhecia. Estava seguindo o caminho da casa de null. Eram onze e vinte e sete da noite, e provavelmente null não estava em casa. Ele sabia disso, mas queria ver. Queria não ver. Era confuso de mais. Era masoquismo. Virou a direita e parou em frente à mansão da qual conhecia cada detalhe: as paredes brancas, com detalhes em pedras e mármore, enquanto um grande portão de ferro com câmeras de segurança vigiava a residência. Um grande jardim estava à frente da casa. Ele sorriu com as lembranças que vieram em sua mente. Desceu do carro e apertou o interfone. Conhecia muito bem aquela voz, para definir quem era.
- Olá, Carlisle. É o null. – sorriu, sabendo que estava sendo observado pela câmera.
“Boa noite, senhor null. A senhorita null não se encontra no momento. Gostaria de deixar um recado?” sentiu um aperto no coração, mas se manteve firme.
- Não, mas obrigado mesmo assim Carlisle. Tenha um bom fim de noite. – e foi em direção ao carro. Sabia que null estava em qualquer pub da cidade, e sabia também que não era sozinha. Tentou focalizar na estrada, para não cometer nenhuma loucura, mesmo sendo o que mais queria. Não poderia morrer agora. Precisava de null.
Chegou a casa e estacionou o carro. Ficou um tempo pensando em qualquer coisa para que não se ferisse mais. Como isso poderia ser tão doloroso?
null tinha ido a um pub, um pub famoso, e por ser famosa conseguiu um ótimo lugar. Não estava se sentindo bem, mas não voltaria para casa. Não poderia ser trocada assim, sem mais nem menos. Apenas percebeu o que estava fazendo e com quem estava, quando já estava na pista de dança, rebolando com um loiro de olhos claros. Era bonito, mas nada se comparava a beleza divina de null. Pelo menos null pensara assim. null era perfeito, ninguém nunca chegaria aos seus pés. Todos os homens com os quais havia ficado, nenhum, nem ao menos um, tinha um terço da beleza de null. Sentiu duas mãos tocarem sua cintura, mas foi indiferente. Não queria aquelas mãos, queria as de null. Começou a pensar no que estava fazendo. null nunca a trocara, nunca em anos. Mesmo depois de sumir e reaparecer, nunca havia sido trocada. O que ela estava fazendo com ele? O que ela estava fazendo com eles?
Abriu a porta de sua casa, e viu na sala de visitas, uma null coberta da cabeça aos pés, assistindo a um filme na televisão.
- O-o que você faz aqui, null? – sua voz saiu falha.
- Te esperando. – ela lançou-lhe um sorriso doce.
- Mas eu pensei que você tivesse saído. Passei na sua casa e o Carlisle...
- Carlisle sempre falando demais. – soltou uma gargalhada doce. – Eu saí sim, mas não quis continuar. Estava chato.
- Chato? – ele perguntou incrédulo.
- Sim. Chato. – ela fez um biquinho e ele sentiu uma pontada. O que aquela garota fazia com ele? – Estava muito chato sem você.
- Aposto que não. – sua voz saiu áspera, mesmo ele não querendo.
- Eu não fiz nada. Eu juro. – sua voz saiu quase inaudível, mas null escutou. – Eu só quero você. Eu preciso de você.
Dito isso o garoto não respondeu. Foi até o sofá e viu que ela vestia roupa de sair, mas não a questionou. Ela era a cura de seus vícios. Retirou o cobertor e se ajoelhou na frente de null.
- E a Audrey? – ele a escutou sussurrar, mas apenas abanou com a mão e fez um gesto para que entendesse que havia acabado. Havia realmente acabado. null entendeu o que ele quis dizer e sorriu, sorriu abertamente. – Eu saí porque estava com raiva de você, confesso. Mas quando eu estava lá, bem, acho que eu descobri que não sei viver sem você. Desculpe-me! Desculpe-me, por favor! Eu não fiz nada. – seus olhos eram implorativos e as últimas palavras saíram num sussurro. null a respondeu com um beijo feroz e quente, sendo recebido com arranhões na nuca e breves gemidos da parte dela. Deitaram-se no sofá e null começou a levantar a camisa de null, o fazendo sentir arrepios. Ali estavam os dois. Cada qual com a cura de seu vício. Cada um recebendo uma diferente cicatriz em suas feridas. Cada um perdendo culpas e sentindo um ao outro. Sendo um só. Roupas estavam jogadas pelo chão e sons baixos eram escutados.
Não podemos terminar e fazer um novo começo, mas podemos começar de novo e fazer um novo final.
Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.
Acordou com o barulho do seu celular tocando. Tateou a cama a procura daquele objeto extremamente irritante e assim que o achou atendeu ainda de olhos fechados e com a voz arrastada.
- Alô? – Coçou o olho querendo inutilmente espantar o sono.
- null Bertolli! Você volta para casa e não me liga avisando?! – Ouviu a voz de Elizabeth, sua mãe, soar indignada do outro lado da linha.
- Bom dia para a senhora também. – Disse com a voz embolada ignorando os surtos de Elizabeth.
- Boa tarde, né querida?! Já são três horas da tarde. – null abriu os olhos rapidamente e num pulo levantou-se da cama sem sequer olhar para a cama e certificar-se que null ainda estava ali. Correu para o banheiro ainda com o celular em mãos.
- Mas já? – Quase berrou. Revirou os olhos ao ouvir a risada sarcástica de sua mãe.
- Vejo que perdeu a hora novamente, não é mesmo, null? Como é irresponsável. – Elizabeth disse no seu típico tom de voz superior. – Bem, eu não liguei para conversinhas e sim para lembrá-la do jantar em minha casa com todos os nossos familiares. Esteja no mínimo apresentável. e não se atrase. – Dito isso ela desligou o telefone sem dar tempo de sua filha protestar. Irritada com a atitude autoritária da mãe, ela jogou o celular na parede vendo-o desmontar e cair no chão. Sabia que teria que comparecer aquele jantar idiota com todos os seus familiares hipócritas e sua mãe ainda mais. Isso a deixava indignada.
Retirou sua roupa de dormir do corpo e a colocou no certo de roupa suja. Entrou no Box e ligou o chuveiro sentindo a água quente cair sobre seu corpo e todos os seus pelos arrepiaram-se. Desejou estar na sua enorme banheira naquele exato momento, mas devido à sessão de fotos que teria naquela tarde, não pode.
Saiu do Box e enrolou-se na tolha macia e dourada. Calçou seu chinelo amarelo para evitar que seu corpo estremecesse com o chão gélido. Saiu do banheiro e entrou no quarto. Notou que null ainda dormia pesadamente na sua cama e sorriu. Adentrou no closet e passou suas mãos pelas inúmeras roupas até achar uma que realmente lhe agradasse. Pegou a sua roupa íntima e a que havia escolhido, passou um hidratante no corpo e colocou as roupas e a sandália. Penteou o cabelo e o prendeu num coque frouxo, colocou um óculo escuro e borrifou um pouco do seu perfume Francês. Saiu do closet evitando ao máximo fazer barulho para não acordar null. O homem ainda dormia na mesma posição. Estava de bruços e seus braços largos estavam espalhados pela cama. Aproximou-se cautelosamente e engatinhou até onde ele estava. Sua boca estava entreaberta deixando o ar escapar de seus pulmões e havia alguns fios de cabelo no seu rosto. Beijou seu nariz e logo seu rosto todo até chegar aos seus lábios e lhe dá um breve selinho. null resmungou algo inaudível aos ouvidos de null e a abraçou pela cintura.
- Acorda null. – Sussurrou no seu ouvido e viu um sorriso nos seus lábios aparecer.
- Ah não, null. – Ele fez um biquinho o qual null definiu como fofo e o mordeu.
- Tudo bem. Eu vou indo porque tenho uma sessão de fotos. – Deu um selinho nele e tentou sair dos braços fortes que a prendiam.
- Fica aqui. – Fez manha tentando convencê-la a ficar.
- Não posso, eu realmente tenho que ir. – null virou-se ficando por cima de null e prendendo sua cintura com as pernas. Ele distribuía chupões pelo seu pescoço fazendo-a gemer baixinho no seu ouvido. Inconseqüentemente as mãos da mulher foram parar na sua nuca a arranhando. Sua boca procurou desesperadamente pela dele como se fosse uma droga e assim que a achou entregou-se aquele beijo feroz. null puxou o lábio inferior dela com força e disse:
- E agora, você realmente vai trabalhar? – Perguntou de uma forma sexy olhando fixamente para null e tudo que pode ver foi luxúria. Ela sorriu maliciosamente e o jogou para o lado ficando dessa vez ela por cima.
- Acho que eu posso me atrasar. – Dito isso ela lhe beijou agressivamente e suas mãos arranharam com força o abdômen dele fazendo-o contrair. null apertou com força a coxa dela sem desgrudar seus lábios. Passado alguns segundos de tortura, as roupas espalharam-se pelo quarto e os corpos nus entraram em um movimento sincronizado.
Abriu a porta do Studio fazendo um estrondo e assustando as pessoas que estavam ali dentro. Timidamente adentrou no Studio e todos os olhares pousaram sobre elas. Alguns eram irados, outros invejosos e havia também nos outros pares de olhares felicidade e luxúria. Em cada um havia um tipo diferente de sentimento.
- Oi gente. – Disse amigavelmente aproximando-se do grupo de pessoas que usavam biquínis. Eram duas modelos e três modelos. Havia também um fotógrafo, sua chefa Lizzie e algumas pessoas.
- Está atrasada. – Disse Lizzie como sempre mal humorada. Andou até o cabide que estava no centro do Studio. O barulho do seu salto fazia todos encolherem-se e tamparem os ouvidos de tão irritante que era. Lizzie não sabia andar, marchava ao invés de andar. A mulher pegou um biquíni e voltou-se para null, jogou o biquíni para ela que o pegou imediatamente. – Vista-se. – Disse ríspida.
- Tudo bem. – Virou-se para ir até o vestiário, mas a voz autoritária de Lizzie a impediu.
- Vista-se aqui mesmo, não temos tempo. Alex maquie null! – Ordenou para a maquiadora que foi correndo até null com o seu material. null retirou sua roupa, inclusive sua roupa intima, e colocou seu biquíni. Não ficou envergonhada por estar nua na frente de seus colegas de trabalho e nem se incomodou com isso. Era o seu trabalho e às vezes ele pedia esses tipos de coisas. Aliás, ela já havia pousado nua sozinha e acompanhada, já havia dormido também com os três modelos ali, inclusive Matthew que era bissexual.
Alex maquiou null rapidamente, menos de cinco minutos. A maquiadora achava que ela não precisava de maquiagem já que sempre a achou uma das modelos mais belas que havia visto. Maquiá-la sempre era mais fácil. A pele de null era macia e esbranquiçada, seu cabelo era castanho claro e cacheado nas pontas, sua boca era vermelha, seus olhos eram grandes (assim como seus cílios) e eram de um tom mel, sua bochecha era rosada e seu corpo curvilíneo. Ela era linda e invejável.
- null, venha aqui, por favor. – Ouviu a voz de Margareth, uma das modelos, lhe chamar assim que Alex havia terminado sua maquiagem. A mulher foi até ela que se encontrava junto com Matthew, Timmy, Philip e Blake.
- Diga. – Perguntou impaciente a Margareth. Sabia o quanto ela era falsa e a odiava.
- Tome. – Pegou a mão de null e cinco comprimidos na mão dela. Anfetamina. Ela pensou. Margareth só servia para lhe dar drogas. Alguns a chamavam de ‘’traficante’’ no meio das modelos.
- Pra ficar disposta? – Perguntou entre risadinhas fazendo os outros (exceto Margareth) rir. Idiota. A mulher pensou revirando os olhos.
- Apenas tome, se quiser, é claro. – Obedecendo ao conselho de Margareth ela colocou os cinco comprimidos na boca sem beber água para ajudar a descer. Não costumava beber algum liquido quando tomava algum medicamento. Sentiu os comprimidos descerem a seco pela sua garganta.
- Vamos começar pessoal. – O fotógrafo disse e todos os modelos foram para o jardim ficando nos seus devidos lugares. Aproveitaram que o céu estava se pondo para tirarem as fotos.
null ficou ao lado de Matthew e o abraçou carinhosamente tentando transmitir a ele a saudade que sentia. O homem afagou seu cabelo e beijou o topo da cabeça dela.
Soltou-se do seu abraço e a olhou fixamente tentando encontrar qualquer vestígio de tristeza, mas tudo que pode ver foi felicidade. Deveria ser null. Pensou.
- Senti sua falta. – Ele afagou o rosto dela.
- Eu também. – Disse sincera. – E aí, decidiu se vai virar gay logo? – Brincou fazendo o amigo gargalhar.
- Ainda não. – Ele fez um bico fingindo uma falsa tristeza. – Ainda sinto atrações por mulheres como você. – Matthew deu uma piscadinha e null revirou os olhos com o comentário dele.
- Bertolli! – Ouviu a voz insuportável de Lizzie lhe chamar. Virou-se para olhá-la e estreitou os olhos devido os raios solares que bateram no seu rosto. – Fique o lado de Philip. – null bufou nem um pouco satisfeita com a ordem que havia recebido, porém não poderia protestar, era Lizzie quem mandava ali. Dirigiu-se ao lado de Philip.
- Você continua gostosa como sempre. – Philip falou no seu típico tom de voz malicioso tentando causar algum efeito em null, mas tudo o que conseguiu foi causar náuseas. Ela pensou o quão estúpida foi por ter dormido com um homem repugnante como ele.
- Bom para mim. – Disse ríspida. Philip era o tipo de pessoa que não poderia lhe dar muita confiança já que era extremamente inconveniente.
- Soube que voltou para null , você não aprende, não é mesmo? – Perguntou sarcasticamente segurando a coxa de null que estava na direção de sua cintura como pedido do fotógrafo. Ele apertou a coxa dela enquanto null agarrava seu pescoço. Ambos olhando fixamente para a câmera.
- Aprender o que? A gostar de homens de verdade? – Disse vingativa. Philip o olhou com fúria e o assunto deu-se por encerrado.
Chegou a casa exausta sem nem cumprimentar Carlisle. Jogou-se no sofá onde null estava sentado assistindo TV.
- Cansada? – null perguntou e esticou-se para beijá-la brevemente nos lábios de null.
- Uhum. – Murmurou fechando os olhos tirando a sandália com os pés. Ele pegou o pé dela e depositou ali um beijo até começar a fazer massagem no mesmo.
- Podemos fazer um jantar romântico, o que acha? – A proposta era realmente tentadora e se palavra não tivesse lembrado de que naquela noite ela teria compromisso, com certeza aceitaria. Abriu os olhos contra a sua vontade e levantou-se do sofá sentando na coxa de null de frente para ele.
- Eu adoraria, mas temos um jantar na casa de minha mãe hoje. – Fez um bico numa tentativa infantil. null suspirou, sabia o quanto Elizabeth era uma pessoa difícil.
- Elizabeth. – Disse num tom de voz que demonstrava tortura. As mãos do homem subiam e desciam ágeis no seu quadril.
- Pois é. Ela sequer perguntou se eu queria ir. – Enrolou alguns fios de cabelo do homem nos seus dedos.
- Mas podemos nos atrasar. – null a deitou no sofá e ficou por cima dela começando agressivos chupões no seu pescoço. null fechou os olhos e mordeu com força o lábio inferior dele.
- null. – Disse num suspiro tentando arranjar forças para impedi-lo. Mas os lábios de null beijando seu colo, suas mãos apertando com força sua cintura não ajudou muito. Ele apertou com força sua coxa interna fazendo-a gemer. null puxou seu cabelo e beijou-lhe os lábios desistindo totalmente da idéia de não se atrasar, mas o barulho do seu celular acabou com seus novos planos e a irritou ainda mais. null e null bufaram juntos. Ela esticou seu braço para baixo e pegou sua bolsa tirando de lá seu celular.
- Diga. – A impaciência era explícita na sua voz, porém Elizabeth ignorou.
- Espero que esteja pronta e saindo de casa.
- Estou mamãe. - Mentiu usando o termo ‘’mamãe’’ ironicamente. Dessa vez foi ela que desligou o celular impedindo que Elizabeth a irrita-se. null fez exatamente as coisas que mais irritavam sua mãe: Ser irônica, desligar o telefone antes dela e atrasar-se.
- Começar a se arrumar? – null perguntou torcendo que Elizabeth tivesse cancelado o jantar.
- Exatamente. – Levantou-se do sofá de má vontade e foi até seu quarto batendo o pé fazendo null rir da atitude infantil dela. Levantou-se também e a seguiu, a agarrou no meio do caminho beijando seu pescoço.
Ao saírem do carro entrelaçaram suas mãos e atravessaram a rua. Não puderam colocar o carro na garagem da mansão de Elizabeth já que estava ocupada com os inúmeros carros dela. Tocaram a campainha e em questão de segundos puderam ouvir a voz educada do porteiro soar do eletrônico com uma breve saudação.
- Jonathan, é null Bertolli.
- Ah sim! Querida sua mãe já está impaciente pela sua espera. – A mulher revirou os olhos. Como aquela mulher era insuportável! Não poderia esperar sequer alguns minutos.
-Eu já esperava por essa reação dela. – Virou-se para olhar null como se dissesse ‘’Eu avisei’’. – Jonathan, você poderia, por favor, abrir o portão? – Pediu educadamente.
- Oh, desculpe-me senhorita. – O imenso portão abriu-se e null e null adentraram no quintal esverdeado e florido da mansão. O portão fechou-se e eles atravessaram o quintal, abriram a porta e adentraram na esplendorosa casa onde vários empregados circulavam.
- Boa sorte. – null sussurrou no ouvido de null enquanto viu a mãe dela aproximar-se. null fez uma careta.
- Até que enfim! Estão trinta minutos atrasados, sabiam que isso é falta de educação? – Ouviram a voz estridente de Elizabeth falar com eles quando parou a sua frente. Elizabeth era o significado de uma verdadeira mulher elegante. Alta, magra, inteligente. Seu cabelo era castanho e o corte Chanel, sua pele era tão clara quanto à de null e seus olhos tão parecidos com os da filha. null era a cópia dela, mas só fisicamente, porque em questão de personalidade eram completamente diferentes. null gostava de roupas descoladas, Elizabeth preferia as mais sérias. null era simpática, divertida, desequilibrada, impulsiva e insegura. Elizabeth era antipática, séria, equilibrada, comedida e segura. Mãe e filha. Tão parecidas e ao mesmo tempo tão diferentes.
- Oi mãe. – Disse mal humorada. Elizabeth tinha o poder de despertar o mau humor na filha.
- Boa noite senhora Bertolli. – null cumprimentou educadamente a mulher beijando-lhe levemente na face.
- Vocês estão juntos novamente? Acho que você gosta de ser corno, . – Aquelas palavras que foram pronunciadas numa falsa ingenuidade da boca maléfica de Elizabeth lhe acertou em cheio como uma facada no seu verdadeiro ponto fraco: Seu coração.
Sua expressão estava indecifrável, porém por dentro ele sentia-se destruído. Aquilo lhe lembrou de todas as coisas que passou por null, o quanto sofreu e quando se pegava perguntando se valia a pena todo aquele sofrimento, aquelas incertezas. Aquilo o deixou inseguro sobre sua relação com ela, sobre ela, os sentimentos dela por ele.
- Guarde seus comentários de merda para você mesma. – null disse entre os dentes quebrando a regra de etiqueta que a mãe passara anos lhe ensinando. Não desrespeitar sua mãe.
- Educação mandou lembranças. – Disse um pouco mais alto enquanto null puxava null para a sala de jantar batendo o pé, querendo irritar a mãe com aquilo, mas só a fez rir da atitude infantil da filha. Pelo menos uma briga para mais tarde estava garantida e isso a deixava contente. Não gostava de ver os outros felizes, até mesmo se os outros significavam ser sua filha. Elizabeth era extremamente invejosa e competitiva.
Ao adentrarem na sala de jantar, avistaram a mesa preenchida com inúmeras comidas incontáveis e nas cadeiras de madeiras estavam seus familiares presentes.
- Docinho. – Ouviu aquela voz rouca pronunciar aquele apelido brega que tanto odiava e havia sido posto pelo dono daquela voz. Mas naquele momento era o que ela queria ouvir. Sentia falta dele, sentia falta de seu pai.
- Pai! – Exclamou soltando a mão de null e correndo até os braços de Lars que estavam abertos a sua espera. A mulher jogou-se em frente ao pai e o abraçou.
- Oh querida, senti tanta sua falta. – Ele dizia enquanto afagava os longos cabelos de null e os beijava.
- Eu também senti sua falta. – Soltou-se do abraço do pai e beijou carinhosamente sua testa.
- null, venha cá. – Ele o chamou assim que o viu parado atrás da filha observando a cena e a intimidade que somente pais e filhos tinham.
- Senhor Bertolli. – O cumprimentou com um tímido aperto de mão.
- Meu jovem, você já me conhece há bastante tempo para me chamar somente de Lars. – Soltou a mão dele e passou pelo cabelo grisalho. Lars era um senhor de quarenta e cinco anos. Divertido, dócil, intelectual. null perguntava-se o que fazia um homem bom como o seu pai ficar com uma mulher extremamente chata como sua mãe. Para ela seu pai iria para o céu por aturar Elizabeth e seus escândalos.
- Já começou a melação. É melhor pedirmos o jantar antes que alguém passe mal. – Elizabeth disse enquanto adentrava no cômodo. null revirou os olhos e cumprimentou alguns parentes presentes ali sendo seguida por null. Lars sentou-se na cadeira da ponta e null sentou-se ao seu lado esquerdo, null ao seu lado e Elizabeth ao lado direito de Lars. Começaram a comer silenciosamente e calmamente. E isso era estranho, completamente estranho.
- Então, null, diga-me como está Espanha? Magnífica como sempre? – Sua tia perguntou educadamente. A sobrinha remexeu-se desconfortável na cadeira e tal ato não passou despercebido por null.
- Perfeita como sempre. – Respondeu um pouco sem graça ao perceber os olhares atentos pousarem sobre ela.
- Ouvi dizer que você se divertiu bastante lá. Sabe jornais, revistas e etc. Você é uma pessoa bem famosa priminha. – Mike, seu primo, comentou maliciosamente. Segurou-se para não rir da expressão agoniada da prima e a curiosa de null e os outros presentes ali. – Penny! – Gritou chamando a empregada que em questão de segundos estava ao seu lado.
- Pois não, senhor? – Penny perguntou.
- Dê-me o jornal da semana passada. – Mike disse sem tirar os olhos de null. Todos agora os encaravam surpresos.
- O que você está fazendo? – Perguntou um pouco alto e num tom descontrolado vendo a empregada retirar-se da sala. Ele não disse nada, apensar sorriu. A empregada voltou com a bandeja onde o jornal estava. null sempre achou besteira trazer os jornais, revistas ou qualquer coisa do tipo em bandejas. Mas naquele momento aquela foi à última coisa que lhe incomodou.
- Veja você mesma querida null. – Ele disse enquanto tirava o jornal da bandeja e virava para a prima ver. Na primeira página estava estampada a foto de null beijando um homem em uma festa. As mãos delas estavam agarradas no seu cabelo e as dele na sua bunda. Havia escrito na foto uma pequena frase: A modelo null Bertolli e o empresário sabem mesmo como curtir uma noite.’’ , melhor amigo de null .
null entrou no carro e bateu com força a porta. null correu desajeitadamente até o carro. Abriu a porta e sentou-se no banco do carona, null deu partida assim que ela também bateu a porta.
Eles não disseram nada (ela não disse nada). Estava com medo de que qualquer palavra não medida pudesse machucá-lo ainda mais. Se é que isso era possível. null tinha o dom de ferir null como ninguém jamais havia feito. Era incrível a capacidade que ela tinha de encantá-lo e machucá-lo ao mesmo tempo, como fazia as coisas desandarem quando tudo estava indo bem.
- Meu amigo? Logo o meu melhor amigo, null? – Ele finalmente quebrou aquele silêncio com uma pergunta bastante dolorosa para ambos.
- Desculpe. – Disse chorosa e pouco convincente de que ele fosse mesmo aceitar seu pedido.
- Isso é tudo que você tem a dizer? Desculpe? – Parou o carro quando o sinal fechou e socou volante, tamanha era a raiva que sentia.
- O que você quer que eu diga null? Aconteceu, está bem? Eu estava em uma festa com uns amigos dançando e bebendo e quando eu vi estávamos nos beijando. – Dizia rápido demais e um pouco alterada. Suspirou e disse um pouco mais calma e baixo: - Estávamos bêbados demais para raciocinar qualquer coisa.
- Estar bêbada não quer dizer nada. – Apertou com força o volante, porém manteve sua voz calma.
- É claro que sim! null, eu mal lembrava meu nome. – Num ato de nervosismo começou a morder a ponta do seu dedo, como se isso fosse acalmá-la.
- Eu acho que isso tudo deveria acabar logo. Estamos nos machucando, estou me machucando. – Sua voz saiu num fraco sussurro. Se o carro não estivesse em silêncio ela provavelmente não ouviria.
- Não! null não podemos fazer isso, não é preciso. – Desesperou-se passando a mão pelo cabelo. O sinal abriu e o carro andou.
- Você não entende, não é mesmo? Não entende o quanto eu sofri por você. – Sua voz continuava num sussurro e aquilo desesperou ainda mais a mulher. Preferia que ele estivesse gritando.
- Eu disse que ia mudar, eu te prometi. E porra eu estou mudando. – Ela era diferente de null, descontrolava-se por qualquer coisa.
- Eu acho que fomos rápidos demais para um recomeço. Você voltou, pediu desculpas e eu as aceitei e pronto! Voltamos como se nada tivesse acontecido, como se você não tivesse sumido por meses. Dei minha confiança de bandeja para você e não era assim que eu devia ter feito. Devíamos ter ido com mais calma. – Dizia olhando fixamente para frente, envolto nos seus pensamentos. Recordava-se do dia em que ela havia voltado. Estava linda, apesar de estar bêbada. Achava engraçado como seu coração batia rapidamente ao vê-la.
- Estamos certos, estamos fazendo do jeito certo. É um recomeço, eu quero que recomecemos. Quero que tudo fique bem entre a gente, vamos dar um jeito. Sempre damos. Eu te amo. – Tentou usar todos os seus argumentos para convencê-lo, mas não estava tão confiante sobre si. null sempre cedia logo de primeira.
- Eu também quero que tudo dê certo entre a gente, eu também te amo. – Ao ouvir as palavras dele ressurgiu uma esperança.
- Podemos recomeçar do zero. – Estacionou o carro em frente à casa dela e ela aproveitou para entrelaçar suas mãos.
- Preciso de um tempo. Sozinho. – Seus olhos estavam fixos nas mãos entrelaçadas deles e seu tom de voz era quase inaudível. Observou a mão dela ficar leve e se não fosse pelos seus dedos a segurando ela provavelmente teria caído.
- null. – Murmurou sem saber ao certo o que dizer.
- Boa noite, null, eu vou para casa.
É o meu coração que você está roubando. Foi o meu coração que você pegou. É com o meu coração que você está lidando e é o meu coração que você vai quebrar.
Francamente não sei como explicar e também não adiantaria nada se o seu para sempre não for igual ao meu.
- Não, null! Não seja estúpida – null soltou uma gargalhada gostosa, fazendo null rir junto.
- Por quê? – fez um biquinho e null não pode deixar de pensar em mordê-lo.
- É impossível você zerar Homem-Aranha se nem ao menos sabe vencer a primeira fase! – A verdade era que ela não estava nem um pouco interessada em jogar vídeo game ou ver qualquer filme; ela o queria.
- Eu não sei jogar isso e nem quero, null! – ela fez birra e assim que o fez, viu null jogar seu controle para o lado e se jogar em cima dela, no chão, onde estavam. Ele começou a distribuir cócegas em toda região do abdômen de null, a fazendo gargalhar. – Pára! Por favor, null! – ela estava ficando sem ar de tanto rir.
- Eu te amo – ele disse, parando com as cócegas e ficando por cima de null. Um sorriso tomou conta da expressão da mulher e ela o agarrou pela nuca, enquanto o mesmo a segurava pela cintura.
- Eu também te amo – ela soltou um riso afogadiço pelo nariz e null lhe deu um beijo logo após.
Seu corpo estava suado e sua respiração falha. Um sonho. Apenas um sonho – ou lembrança. null sentou-se na cama e esfregou os olhos. Olhou para o relógio e eram sete e trinta e dois. O despertador ainda iria tocar, avisando-a de que estava na hora de despertar e se arrumar para ir ao estúdio. Pelo menos alguma coisa para distrair sua mente. A noite anterior não havia sido nada atraente, se destarte ela poderia chamá-la. Lembrou-se de imediato da forma na qual null havia a encarado, antes de se despedir. Lembrou-se que nem um beijo ele havia dado nela. Uma lágrima fujona escapou de seus olhos e ela realmente entendeu o que null tanto dizia: como era agonizante a dor que se instalara em seu peito.
Levantou-se e abriu a cortina para que seu quarto fosse iluminado. Adentrou em seu closet e escolheu um short cinza escuro, com sua meia calça preta e seu scarpin também preto, para completar. Escolheu por uma blusa branca de linho, com botões finos e gola. Foi em direção ao banheiro da suíte e ligou a banheira; ainda tinha tempo, só precisava estar no estúdio às nove e meia.
A água morna ia caindo e enchia a banheira, enquanto null se despia. Entrou na banheira e desligou a torneira, fechando os olhos e relaxando. Seu pensamento foi direto a null. Sentiu um aperto no coração e uma idéia lhe surgiu. Se Lizzie, sua chefe, a permitisse, ela o faria. Não iria desistir de null.
null estava tomando seu café da manhã mais cedo naquele dia; ele não conseguira dormir. Seus pensamentos sempre iam para a cena que tentava apagar. null. Espanha. Seu melhor amigo. Juntos. O que aquela garota fazia? O que ela ainda poderia fazer? Aquilo o machucava gradativamente, ia destruindo cada parte de seu coração por pedaços. Por que ela não acabava com ele de uma vez? Tinha que ser tão doloroso? Ela conseguia ser pior do que sua família – pior até que sua mãe – o fazendo sofrer tanto e tão vagarosamente. Ele não queria ir trabalhar e não iria. Iria ficar em casa pensando no que fazer. Sentiu uma gota cair no seu nariz devido o fato de ter tomado banho há pouco tempo e seu cabelo estar molhado. Terminou de tomar café e arrumou a cozinha. Uma das coisas das quais null nunca quis foi uma empregada. Não precisava de alguém para arrumar sua casa ou cozinhar para ele, ele mesmo o fazia. Seus pensamentos foram dominados por uma pergunta agonizante que ela sabia não ter resposta: O que aconteceria com eles de agora em diante?
- Bom dia, Lizzie – null disse sorridente, coisa que não acostumava acontecer. Suas esperanças eram que o seu bom humor deixasse Lizzie bem e que pudesse aceitar tais sugestões. – Podemos conversar? – Lizzie a encarou com uma sobrancelha arqueada e null olhou em volta. Muita gente para escutar o que não era da conta delas. – Em sua sala? – após dizer isso, Lizzie a guiou até sua sala e a confusão era aparente no semblante dela.
- Então? O que você quer? – rispidez era um dos atributos de Lizzie.
- Bem... É que... – null pigarreou. Decidiu falar logo, não deveria ter medo. Ela era a modelo, ela quem dava sucesso à empresa. – Eu não vou fazer as sessões de foto de hoje. – viu o semblante de sua chefa se fechar ainda mais e um calafrio percorreu sua espinha. – É que eu preciso fazer uma coisa que devia ter feito há muito tempo! Eu vou morrer se não fizer isso... – seu tom de voz foi abaixando e uma lágrima instalara-se na sua visão.
- Certo. Você está parecendo um lixo.
- Mas eu preciso! – Ela parou para pensar. “Certo”? – O quê? V-você deixou? – um sorriso apareceu brevemente no rosto de null.
- Você acha que eu deixaria você tirar fotos assim? – ela apontou para a mulher que estava sentada em sua frente. Sua aparência era abatida e fraca. Como mulheres assim conseguem ser famosas? E como eu as aturo? Lizzie tentou limpar os pensamentos e focou em null. – Agora saia daqui, saia! Preciso achar outra modelo para te substituir e depressa! – null não conseguiu acompanhar o ritmo das palavras de Lizzie. Talvez ela não quisesse que Lizzie deixasse; ela poderia estar com medo. Mas só talvez. – O que ainda faz aqui? Saia logo, null! – Lizzie parecia cuspir as palavras no rosto de null, mas mesmo assim ela estava feliz. Ou pelo menos por enquanto.
Não saia de casa hoje. Xx, sua null.
Ps.: Responda ‘sim’ ou te atormentarei até que me ouça.
Era a mensagem que continha em seu celular. Como ela conseguia ser tão má ao ponto de fazer isso com ele? Ela sabia que ele não sairia de casa, ela sabia que ele – mesmo não querendo – faria tudo o que ela quisesse.
null ergueu os olhos mais uma vez para o celular e percebeu o quão idiota estava sendo. Ele estava por horas lendo aquela mensagem e pensando se responderia ou não. Eu sou um homem ou um rato? Ah, já sei. Sou um homem apaixonado que dá no mesmo de um rato, pensou null intrigado com suas próprias conclusões.
Preciso saber a hora que estará aqui.
Foi tudo o que null respondeu. Mesmo querendo negar, não poderia. Ele queria saber o que null tinha a lhe falar. Uns minutos depois sua mensagem havia sido respondida.
Estarei na parte do por do sol. Xx, null.
E então null adormeceu no sofá com qualquer coisa que passava na tevê. Seus pensamentos o estavam deixando nervoso.
null estava arrumada e pronta para o quer que fosse fazer. Ela não sabia ao certo o que faria, apenas que tentaria.
Estacionou seu carro e apertou a campainha. Era agora ou nunca. Aguardou algum tempo até que um null com o cabelo completamente molhado, enrolado apenas em uma toalha e uma sobrancelha arqueada abrisse a porta. Sua voz pareceu sumir naquele instante. Ela queria aquele corpo perto do dela. Ela queria sentir o toque daquela pele mais uma vez e tudo isso só a provocava mais.
- Entra. – null disse sem emoção. null percebeu que não havia empregados e evitou um sorriso que queria crescer em seus lábios. Aquilo era o suficiente para ela; null seria seu naquela noite, ela pensara. Pelo menos foi o que ela pensara. – Vou trocar de roupa e já volto. Você chegou um pouco cedo. – null olhou para o relógio e viu que era verdade.
- Desculpe. – ela sussurrou e, então, pode ver null se afastar. Seus pensamentos pairaram pelo o que ela falaria. Ela precisava fazê-lo acreditar nela e em todo o seu amor, coisa que seria muito difícil.
null jogou a toalha que vestia em sua cama e a encarou. Sua cama lhe trazia muitas lembranças... Desde quando conheceu null até há poucas noites anteriores. Escolheu uma roupa qualquer em seu closet e respirou fundo, lembrando de o quão bonita null estava. Ela usava um vestido preto um pouco soltinho e uma meia calça preta acompanhada de um scarpin vermelho. Estava simplesmente linda. Ela era perfeita para ele, por que não podia tornar tudo mais fácil?
null voltou à sala e encarou null, com os olhos indecifráveis. Ele queria agarrá-la naquele momento, mas teria que ser forte.
- Então? – null pigarreou. Aquele momento estava sendo constrangedor, coisa que não costumava acontecer.
- E-eu... – null tentava dizer algo, mas sua voz saía falha. Como null consegue ficar tão perfeito a cada dia que passa?, pensou null.
- Você...?
- Eu vim aqui pra me desculpar e te explicar o que realmente aconteceu naquela noite. – ela disse baixo, o suficiente para que null escutasse. – Eu preciso te contar... Eu preciso de você. – sua voz ia baixando cada vez mais.
- Jura que você precisa de mim? Você tem certeza disso? – null riu sem humor e sentou no sofá, enquanto null se sentava em outro.
- null, por favor! Deixe-me explicar... – null estava suplicando.
- Vá em frente. – a expressão de null era fria.
E então null contou como tudo aconteceu. null contou sobre todos os sentimentos e dúvidas que tinha para null, enquanto o mesmo só escutava. Ela não tinha mais armas, estava jogando a bandeira branca de uma vez por todas. Ela nunca se abrira tanto para alguém e ficou feliz por esse alguém ter sido o null.
- E você quer que eu acredite nisso tudo? – Ele perguntou ríspido, mas com os olhos brilhando. – O que você quer de mim? – saiu entre dentes.
- E-eu só quero... – null tentou se recuperar do choque das palavras de null, enquanto algumas lágrimas caíam. – Eu só quero você.
null ficou imóvel com as palavras de null e sentiu uma pontada de arrependimento por ter sido tão rude, mas não iria voltar atrás. null precisava ver o quanto é sofrer por alguém. Mas mesmo assim... Ela havia lhe contado tudo, exatamente tudo! Contara sobre suas confusões, seus impulsos... Ela contara que o amava. O que estava acontecendo com aquela null louca e impulsiva? Ela realmente havia mudado por ele? Essas perguntas rodeavam a cabeça de null e o deixavam confuso. O que ele deveria fazer? Respirou e fundo e tomou sua decisão, deixando escapar um riso no canto dos lábios. Um riso sombrio, talvez.
- Você me quer? – um sorriso malicioso brincava em seus lábios. null se arrepiou. O que null estaria fazendo? Ela tentava entender. null se aproximou do corpo de null e segurou sua cintura a apertando com certa força, o que fez null soltar um breve gemido. – Você realmente me quer? – ele mordeu o lóbulo da orelha de null e ela sorriu, mesmo sem entender.
- Sim. – ela sussurrou.
- Que bom saber que você me quer. – null apertou uma das coxas de null e a levantou. null arranhou sua nuca e null fechou os olhos, enquanto levantava o vestido de null até poder alcançar o elástico da meia calça.
- Por quê? – ela sussurrou, tirando a blusa de null em seguida e arranhando o peitoral do mesmo. null a empurrou para o sofá, ficando por cima. Sorriu sapeca e levantou o vestido de null até sua barriga, beijando a mesma em seguida. null fechou os olhos sentindo aquela sensação novamente. Ela se sentia inteira quando estava com null. null arranhou as costas do mesmo, sentindo o tirar sua meia calça até um pouco acima do joelho. Ela o queria e o queria naquele exato momento. Ela precisava dele. Envolveu as pernas em torno do quadril de null e o puxando com força, fazendo o mesmo gemer involuntariamente. Seus rostos se encontraram e null riu sombriamente mais uma vez, fazendo null estremecer. Ele lhe deu um selinho apertou sua cintura, fazendo-a soltar as pernas. null passeava com sua mão por toda a extensão do corpo de null e a sentia encolher cada parte que ele tocava. Beijaram-se ferozmente até que null passou a distribuir beijos pelo pescoço de null.
- Porque eu... – ele mordiscou de leve o pescoço de null e a sentiu quase perfurar seu ombro com as unhas. Segurou um gemido. – Não te quero. – e saiu de cima de null, colocando a blusa novamente como se nada tivesse acontecido, deixando uma null completamente confusa.
- Como assim, null? Como assim não me quer? – ela parecia desesperada. Não era justo ter-la colocado naquele estado, a deixado com esperanças. Não houve resposta da parte de null. – null, por favor! – null implorava.
- Agora eu tenho uma reunião com alguns empresários. Se me der licença. – null apontou em direção à porta e viu que null não se movimentou. – Lembra que eu disse que precisava saber da hora? – null assentiu, levantando a meia calça. – Bom, era pra isso. Agora passe bem. – Ele disse completamente ríspido e com um olhar frio. A fúria que subiu em null não era descritível.
- Se você acha que vai me usar como uma vadia qualquer, você está muito enganado! Muito enganado! – ela cuspia as palavras no rosto de null, após ter se levantado do sofá e ido até a porta. – Eu disse tudo o que eu sentia! Eu me abri pra você, porra! E o que você faz? Você me trata como um lixo, como um ninguém! Como você é capaz disso? Eu disse que te amo! – as lágrimas em seu rosto não estavam mais escondidas. Ela se sobressaltou e levantou as mãos para bater em null, que foi em vão. No ato, ele segurou as duas mãos da menina e sorria de uma forma dolorosa.
- Te tratei como um lixo? Como um ninguém? – null gargalhou alto. – Isso te lembra alguma coisa, não? – seus olhos demonstravam dor. Ele estava falando dele mesmo e null sentiu uma pontada em seu coração. null continuava a apertar os pulsos de null. – E sabe o quê mais? Você é um lixo! Você é estúpida! Você só sabe foder com a vida dos outros! Na verdade não! Você só sabe foder com a minha vida, porque só eu fui burro o suficiente pra te amar e pra continuar te amando depois de tudo isso! Você não merece o chão que pisa, garota! – ele gritava e apertava mais ainda os pulsos de null. As lágrimas que desciam do rosto da mulher eram de fúria, não mais de sofrimento. Ela estava tentando mudar por ele e ele estava falando coisas do passado... Coisas absurdas para null!
- Você vai se arrepender! Você vai se arrepender, seu idiota! – null puxou os pulsos com força, se soltando das mãos de null e fechando a porta com toda a força em seguida.
O que null não sabia era que null já estava arrependido. E chorando, pela primeira vez na vida. Chorando de verdade.
null estava decidida a esquecer null por pelo menos aquela noite. Ela sabia que seria difícil, que mesmo ele tendo sido tão estúpido ela o amava. E o pior de tudo: que ele estava certo em todas as coisas que disse. Ainda eram sete e cinquenta e três da noite, null ainda podia fazer alguma coisa. E era o que ela iria fazer; ela iria esquecer de tudo da melhor forma possível: bebendo.
Chegou a casa, escovou os dentes, arrumou o cabelo, retocou a maquiagem e usou toda sua força de vontade para não chorar mais. Ela era null Bertolli, ninguém iria a fazer sofrer. Não por essa noite.
- Gostaria de ir aonde, senhorita Bertolli? – o motorista de sua limusine lhe perguntou.
- Vamos ao Blacktown, Johnson. Ao Blacktown. – Blacktown era o pub favorito de null. Tinha bebidas, música e homens. Ela precisava daquilo por aquela noite.
- Tem certeza, senhorita?
- Absoluta. Agora vamos. – null levantou o vidro fume para que o motorista não a visse mais e se controlou com toda a força para que as lágrimas contidas não saíssem. Era um sentimento de raiva e frustração. Nada tinha dado certo.
Chegando ao pub, null pode sentir o cheiro que a fez se arrepiar. O cheiro de diversão. Falou ao motorista que não se preocupasse em esperá-la e que se precisasse de algo ligaria.
Tocava uma música qualquer e as luzes a deixavam com a visão turva, mas ela se acostumaria. Não quis ir para a área vip e sim para a pista. Esbarrou em algumas pessoas e sentiu olhares em cima dela. Sorriu com isso. Foi em direção ao bar e pediu ao barman um Blue Lagoon e sorriu. Bebeu em apenas um gole e sua garganta nem se quer fez cócegas. Ela precisava de algo mais forte. Pensou em Sex On The Beach, mas achou fraca demais.
- Por favor, um cawboy. – o barman a encarou e arqueou uma sobrancelha. null imaginou que era por ter pedido algo tão forte como tequila quente e sem nenhum aditivo no começo. Mesmo assim atendeu ao pedido de null, colocando uma dose em sua taça. – Dose tripla. – ela pediu sem humor e o barman a obedeceu. Bebeu em apenas um gole novamente. Sua garganta chamuscou e seus olhos ficaram úmidos. – Mais uma. – ela pediu sorrindo e sentindo uma leve tontura por beber tudo tão rápido. E mais uma vez bebeu em um gole. A música que tocava não fazia sentido e ela nem se quer prestava atenção nisso. Ela estava interessada em se embebedar e esquecer tudo por uma noite. Sua expressão se fechou, lembrando de null e de suas palavras rudes. – Dose tripla de vodka, por favor. – sua cabeça já começava a rodar e ela sabia que era a bebida agindo. Bebeu em apenas um gole e sua garganta ardeu como nunca, pedindo por mais bebida. E assim seguiu, já estando na quinta dose tripla de vodka. Não tinha mais domínio sobre seus atos. Estava tonta e com uma vontade de gritar. – Mais um cawboy, por favor. – Não sentia mais o efeito do álcool descendo por sua garganta, bebia como água. Queria gritar e chorar para que o mundo a ouvisse, mas uma parte de sua consciência que parecia teimar continuava a impedindo de tal ato. Nada que mais algumas doses não resolvessem.
- Sozinha, null? – Escutou alguém atrás de seu ouvido lhe perguntar, mas não conseguia identificar a voz devido à quantidade álcool que havia ingerido. null?, pensou. Virou-se para trás e viu quem menos imaginaria estar por ali.
- Phillip? – sua voz saiu cambaleando e ele riu abafado em seu pescoço. – O que faz aqui? – ela tentava parecer séria, o que o fez rir mais ainda.
- Sabia que o Backtown é um pub onde qualquer um pode vir? Ou quase todos... – ele disse em seu ouvido e aquilo pareceu extremamente sexy. O que estava acontecendo com null? Seria o efeito da bebida? – E parece que você está sozinha. – ele observou em volta de null e viu que não havia sinal de ninguém com ela. Que null não estava com ela.
- O que acha de dançar? – Phillip disse, mordendo o lóbulo da orelha de null e apoiando-se no balcão, com as duas mãos em volta de null. Ele estava a prendendo. null encarou Phillip e ele lhe parecia extremamente bonito naquela noite. Se a culpa era da bebida não lhe importava, ela só queria esquecer... null ficou tonta por um tempo e depois se levantou. Sua consciência ainda acesa lhe dizia que não deveria fazer isso, então null apagou esse pequeno chamuscarão que ainda restava como uma vela.
- Claro. – e então se levantou, e Phillip a pegou pela cintura, a guiando para o centro da pista de dança. Viraram um de frente para o outro e null mordeu o lábio inferior. Sexy, extremamente sexy. Pensou Phillip, extasiado em pensamentos. Uma música que null conhecia bem soltou os primeiros acordes e então ela se preparou para dançar.
[n/a: soltem a música agora!]
So hot out the box
(Tão quente fora do padrão) Can you pick up the pace?
(Você consegue entrar no ritmo?) Turn it up, heat it up,
(Aumente o volume, aumente a temperatura) I need to be entertained
(Eu preciso estar entretido) Push the limit, are you with it, baby don't be afraid
(Force até o limite, você sacou? Querida, não tenha medo) Imma hurt you real good, baby
(Eu vou te machucar pra valer, amor)
Phillip a agarrou pela cintura e null virou de costas, rebolando no começo da música e indo até o chão. Se null a achava um lixo, ela seria.
Let's go, it's my show, Baby do what I say
(Vamos nessa, esse é o meu show. Querida, faça o que eu digo) Don’t trip off the glitz that I’m gonna display
(Não saia do ritmo que eu vou mostrar) I told you Imma hold you down until you're amazed
(Eu disse que eu vou te prender até que você esteja extasiada) Give it to you ‘till you’re screamin' my name
(até dar para você até você gritar meu nome)
A bebida começava a limpar toda sua mente e ela sorria com a música. O que ela estava fazendo era errado, mas não se importava com nada nesse momento, nem ao menos se era o Phillip quem estava dançando junto a ela. null virou-se de frente e pode ver um sorriso malicioso brincando nos lábios de Phillip e sorriu junto com ele. null segurou no colarinho da camisa de Phillip e o puxou para bem perto, mordendo o lábio do mesmo em seguida.
No escaping when I start
(Sem saída quando eu começar) Once I'm in I own your heart
(Uma vez que estou dentro, seu coração me pertence) There's no way to ring the alarm
(Não tem jeito de tocar o alarme) So hold on until it's over
(Então espere até acabar)
Assim que Phillip sentiu null morder seus lábios, a segurou pela cintura e a apertou. Encaixou null em uma de suas pernas, se encaixando ao mesmo tempo em uma das penas dela. Eles desceram até o chão e Phillip pode notar olhares em cima deles, mas ele não se importava e null muito menos, pelo o que parecia.
Oh, do you know what you got into?
(Oh, Você sabe no que entrou?) Can you handle what I'm about to do?
(Pode aguentar o que estou prestes a fazer?) Cause it's about to get rough for you
(Porque é hora de pegar pesado com você) I'm here for your entertainment
(Eu estou aqui para o seu entretenimento)
null se arrepiou ao sentir Phillip tão próximo e cantarolar em seu ouvido.
- Can you handle what I’m about to do? Cause it’s about to get rough for you. – E Phillip mordeu o lóbulo de sua orelha. null sorriu maliciosa e passou os braços em volta do pescoço de Phillip, sussurrando em seu ouvido.
- I’m here for your entertainment. – Phillip sorriu e então dançaram sem pudor.
Oh, I bet you thought I was soft and sweet
(Oh, Aposto que você pensou que eu seria delicado) You thought an angel swept you off your feet
(Você pensou em um anjo jogado nos seus pés) Well I'm about to turn up the heat
(Mas eu estou prestes a aumentar a temperatura) I'm here for your entertainment
(Eu estou aqui para o seu entretenimento)
A mão de Phillip vagueava pelo corpo de null, demorando na parte das coxas e acima delas. null começou a distribuir beijos por toda a extensão do pescoço de Phillip e ele a apertou mais, os juntando mais e mais.
It’s alright
(Tudo bem,) You’ll be fine
(você vai ficar bem,) Baby I’m in control
(amor, eu estou no controle) Take the pain
(Sinta a dor,) Take the pleasure
(sinta o prazer) I’m the master of both
(Eu sou o líder dos dois) Close your eyes, not your mind
(Feche os olhos, não sua mente) Let me into your soul
(Me deixe entrar na sua alma) I’m gonna work it ‘til your totally blown
(Eu vou forçar até você explodir (não consegue ouvir)) No escaping when I start
(Não há saída quando eu começar) Once I'm in I own your heart
(Uma vez que estou dentro, seu coração me pertence) There's no way to ring the alarm
(Não tem jeito de tocar o alarme) So hold on until it's over
(Então espere até acabar)
A mente de null não existia mais naquele momento, tudo o que ela conseguia pensar era em como ela queria Phillip junto dela, dentro dela. null a fez sentir uma dor que jamais sentira em toda a sua vida. null estava aturdida em seus ‘pensamentos’ até que sentiu um chupão em seu pescoço e não conseguiu evitar o gemido baixo que saiu de sua garganta. Phillip riu com isso e a virou de costas, e null rebolava sem pudor, sentindo a ereção de Phillip enquanto ia com ele até o chão. Ela sorria maliciosa a cada batida e podia sentir um prazer doloroso ao fazer isso, lembrando de null. Ele veria quem era null Bertolli. O mundo veria quem era null Bertolli.
null virou-se de frente com rapidez, assustando um pouco Phillip, e passando as unhas em sua nuca. Viu que os pêlos de Phillip haviam se eriçado e repetiu o ato.
Oh, do you know what you got into?
(Oh, Você sabe no que entrou?) Can you handle what I'm about to do?
(Pode aguentar o que estou prestes a fazer?) Cause it's about to get rough for you
(Porque é hora de pegar pesado com você) I'm here for your entertainment
(Eu estou aqui para o seu entretenimento)
null e Phillip se beijavam e se movimentavam ao ritmo da música. Suas línguas não buscavam por sentimentos e sim por prazer. O beijo era voraz e sedento. Phillip estava com uma mão na cintura e a outra nos quadris de null, e apertava a região. null, por sua vez, estava com a mão na nuca de Phillip e arranhava com força, o fazendo gemer durante o beijo – não diferente dela.
Oh, I bet you thought I was soft and sweet
(Oh, Aposto que você pensou que eu seria delicado) You thought an angel swept you off your feet
(Você pensou em um anjo jogado nos seus pés) Well I'm about to turn up the heat
(Mas eu estou prestes a aumentar a temperatura) I'm here for your entertainment
(Eu estou aqui para o seu entretenimento)
null estava com seu corpo completamente junto ao de Phillip e sentia o quanto ele gostava disso. Não paravam de se beijar por um segundo e Phillip sorria malicioso dentre o beijo.
Do you like what you see?
(Você gosta do que vê?) Let me entertain ya ‘til you scream
(Deixe-me entretê-la até você gritar)
Pararam de se beijar e se encararam. Phillip procurava por algum arrependimento no olhar de null, mas falhou; ela estava completamente extasiada. null podia observar luxúria no olhar de Phillip e sorriu com isso. Ele a desejava como muitos outros homens também a desejavam. Não precisava de null para isso. Na verdade, precisava, mas se contentaria em pensar ao contrário naquela noite.
Oh, do you know what you got into?
(Oh, Você sabe no que entrou?) Can you handle what I'm about to do?
(Pode aguentar o que estou prestes a fazer?) Cause it's about to get rough for you
(Porque é hora de pegar pesado com você) I'm here for your entertainment
(Eu estou aqui para o seu entretenimento)
Oh, I bet you thought I was soft and sweet
(Oh, Aposto que você pensou que eu seria delicado) You thought an angel swept you off your feet
(Você pensou em um anjo jogado nos seus pés) Well I'm about to turn up the heat
(Mas eu estou prestes a aumentar a temperatura) I'm here for your entertainment
(Eu estou aqui para o seu entretenimento)
A música acabou e os dois estavam ofegantes. Seus corpos grudados gritavam por ar e foi o que fizeram, quebrando todo o contato e toda a ardência que haviam mantido. O corpo de null gritou pelo o corpo que antes estava grudado ao dela e o corpo de Phillip sentia a mesma coisa. Já estava tarde e só restava uma coisa a se fazer.
- Minha casa? – Phillip sussurrou no ouvido de null e viu que os pêlos da nuca dela se eriçaram com tal ato.
null, por uma vez na noite, decidiu escutar a pequena voz que tentava gritar em sua consciência. E aquela voz dizia algo bem claro: null. null, sabendo o que aquilo significava, disse a resposta na qual pensou que seria a correta a dar.
- Por que não? – e sorriu maliciosamente.
Saíram de mãos dadas pela porta da frente da boate e null viu repórteres. Era uma balada famosa e null sabia que encontraria repórteres por ali. Então, fez a única coisa sensata naquele momento: puxou Phillip pelo cabelo, levantou uma perna e ele a segurou, e depositou um beijo voraz na boca do mesmo. Sentiu vários flashes em sua direção e sorriu maliciosa durante o beijo. Phillip entendeu tudo e então a encarou.
“Como mostra a imagem acima, null Bertolli, uma modelo bem famosa, estava aos beijos na boate Blacktown com um modelo de sua agência: Phillip Clarkson. Não tivemos informações sobre o ‘suposto’ namorado de null, null. Mais informações seguem na página 32.”
Uma lágrima escorreu dos olhos de null e a revista foi parar do outro lado do escritório. A foto de null estava esclarecedora e obscena. Pegou suas coisas e sem dar satisfação a ninguém, saiu do escritório. Suas lágrimas eram mais que visíveis quando ele entrara no carro, o fechando em seguida. Vadia.
Você pode ter todos os defeitos do mundo, mas ainda é melhor do que o resto do mundo.
"E eu já nem tenho mais band-aids. Eu não sei nem por onde começar. Porque você não pode curar o estrago. Você nunca pode realmente consertar um coração.’’
null levantou-se assustada. Seu peito subia e descia descontroladamente de acordo com a sua respiração. A mulher sentou-se na cama e colocou a mão no peito, tentando se acalmar; um ato inútil. Ela sabia que nada iria acalmá-la, nada além de null. Observou a escuridão que estava o seu quarto, olhou para o espaço vazio ao seu lado da cama. Seu peito doeu. Aquele espaço poderia estar ocupado agora pelo homem que ela amava, mas ela havia sido estúpida o suficiente para afastá-lo da sua vida. Tudo era culpa dela. Exatamente como alguém havia lhe dito um tempo atrás, quando havia voltado de viagem.
Esfregou os olhos e levantou-se da cama. Ela sabia que não iria conseguir pegar no sono. Na mesinha ao lado da sua cama estava um jornal com a sua foto onde se encontrava agarrada, literalmente, a Phillip. null suspirou pesadamente. Se antes não havia sinal algum de arrependimento nela, agora parecia que era somente isso que sentia. Arrependimento. Mas ela sabia que não adiantava se arrepender, estava feito. E algo lhe dizia que dessa vez não iria ter volta. Havia sido baixa demais para merecer algum perdão de null. Mas como era mesmo aquela frase que muitas pessoas falam? Você colhe aquilo que planta? É isso que as pessoas falam? Pois bem, null estava colhendo o que havia plantado. Não importa se o que colhia não era bom, foi ela que quis plantar aquilo.
Pegou o jornal e o jogou longe. Abriu a porta de vidro da sacada do seu quarto e entrou ali, encostou-se na parede. Sentiu os seus pelos arrepiarem-se quando um vento gelado passou por ela. null encarou a rua. Solitária e fria. Exatamente como ela. Riu ironicamente. null vivia cercada de pessoas, mas sempre se sentia solitária. Mas isso nunca acontecia quando estava com null, ah não. Com ele era diferente, ela sentia-se segura, aquecida, protegida, completa. Como poderia ser tão burra a ponto de tirar da sua vida a razão para qual queria viver? Meu Deus! Ela não era somente cruel com outros, era cruel com si mesma. Tão autodestrutiva que tirava da sua vida o motivo da sua felicidade. Parecia que ela não se permitia ser feliz. Era isso! null não se permitia ser feliz, ela não era digna de felicidade. Ela não era digna de nada. Era um ser humano desprezível, merecia ser ignorada.
Abriu a porta de casa e olhou para o céu. Estava nublado, o tempo estava horrível. null riu sarcasticamente, acreditando que algo conspirava contra ele. Era óbvio que conspirava. O dia tinha que estar horrível para lembrá-lo que ele também estava horrível e o pior: lembrá-lo do motivo por estar assim.
Bufou irritado, ignorando qualquer pensamento sobre null que pudesse lhe rondar. Entrou na garagem e assim que avistou o seu carro estacionado entrou no veículo e logo em seguida deu partida, indo em direção à empresa. Não era dia de trabalhar, ele sabia disso. Mas por algum motivo, o qual ele sabia perfeitamente, ele não queria ficar em casa. Precisa fazer algo para se distrair. Não aguentava mais ficar em casa olhando para todos os cômodos e lembrando-se de null, lembrando-se dos momentos vividos ali com ela. Aquilo iria deixá-lo louco. A sua vida parecia girar em torno dela. Isso não era justo! Ele não precisava depender de null para ser feliz, para viver. Ela não era oxigênio. O que havia acontecido com aquele null independente? Estava na hora desse novo null aprender que amor não significa depender de outra pessoa. Amor não significa ser feito de otário. null sentia que já estava começando a aprender essas lições. Ele amava null, amava como nunca havia amado alguém na vida. O que null sentia por null era algo extremamente forte e intenso, mas ele sabia que não dava para amor por dois. É desgastante. Ele não tinha mais forças para lutar por uma relação que já estava destruída há tempos. Não havia mais nada a ser feito, null havia destruído aquela relação. null havia feito do amor algo patético. E null não queria mais ser patético.
null entrou na portaria do imenso prédio azul claro decidida. Sua postura estava ereta, seus passos eram firmes. Era isso, null estava certa do que iria fazer. Soube disso desde o momento que viu novamente a patética foto no jornal. Decidiu então tomar um banho e sair de casa. Não seria outro impulso idiota que a faria perder o amor da sua vida. Ela iria lutar por null. Estava decidida a reconquistá-lo. null merecia isso, ele merecia que null lutasse por ele, merecia que null tornasse uma pessoa melhor e ficasse com ele. Eles se amavam, eram felizes juntos apesar dos apesares, o destino deles era juntos. Ela não podia deixar isso embora.
O porteiro do prédio sorriu educadamente para ela assim que a viu entrar na portaria.
- Pois não, senhorita? - Ele perguntou educadamente. null não pode deixar de perceber que por trás de toda aquela educação havia uma malícia muito bem escondida. Mas aquilo não a ofendeu, ela já estava costumada com olhares assim. Inclusive até gostava, aquilo mexia com seu ego. Sentir-se desejada pelo sexo oposto a deixava vaidosa. Não podia negar que adorava aquela sensação. Vaidade, outro grande pecado seu.
- Eu queria falar com Phillip Clarkson, por favor. - O homem assentiu e pegou o telefone branco que estava na base. Ele levantou a sobrancelha e olhou para a mulher, esperando algo mais. null sorriu sem graça e disse: - Diga que é null Bertolli. - Ele assentiu novamente.
- Senhor Clarkson? - O homem perguntou. - A senhorita Bertolli está aqui, ela gostaria de vê-lo. - O homem disse assim que ouviu uma resposta de Phillip do outro lado da linha. Quando Phillip concordou que null subisse, ele tornou a colocar o aparelho na base e olhou para a mulher parada a sua frente. - Pode subir, é no quarto andar, apartamento 405. - null sorriu agradecida para o porteiro e virou-se saindo da portaria e indo até o elevador, onde parou e apertou o botão. Esperou pacientemente o elevador chegar. Ela não queria fazer nada com pressa. Sabia como eram as coisas com Phillip, sabia qual jogo deveria jogar com ele. E sabia que pressa não estava incluída nas instruções do jogo.
A porta do elevador abriu, null entrou no elevador e sorriu educadamente para um casal que estava ali. O homem retribuiu o sorriso de uma forma mais calorosa, seus olhos verdes instantaneamente encheram-se de luxúria ao ver a mulher parada ao seu lado. null percebeu o olhar do homem, reprimiu uma risada. ''Homens...'' A mulher ao lado do homem não parecia gostar nenhum um pouco da presença de null. Sentia-se intimidada com o andar confiante dela, com seu olhar firme, sua beleza indescritível. Detestável. null era detestável para a maioria das mulheres. Ao perceber o olhar invejoso da mulher ao seu lado, ela sorriu. O casal saiu do elevador, a mulher lançou lhe um último olhar invejoso e o homem um sorriso malicioso. Quando a porta do elevador fechou-se, null riu. Ela amava ser tão desejada ao ponto de causar inveja. Amava ter todos os homens aos seus pés.
A porta do elevador tornou a abrir, dessa vez avisando que null havia chegado ao quarto andar. A mulher saiu do elevador, ainda mantinha a mesma postura e os mesmos passos de quando tinha entrado na portaria. Seguiu o corredor branco e virou à esquerda, uma porta de madeira com os números 405 encontrava-se no final do corredor. null parou em frente à porta e tocou a campainha. Não demorou muito para que Phillip abrisse a porta com um sorriso malicioso. Sem esperar algum convite vindo da parte do homem, null adentrou no cômodo, indo até a sala de visita. Phillip fechou a porta e seguiu null.
- Quer repetir a dose? - Phillip perguntou maliciosamente. Parou em frente a null, que sorria debochadamente para o homem.
- Não, eu só quero um favor. Na verdade, uma troca. - Phillip arqueou a sobrancelha e encarou curiosamente a mulher.
- Como assim? - Ele perguntou, demonstrando com clareza que não sabia onde null queria chegar. A mulher aproximou-se ainda mais dele, ficando a centímetros de distância. Dessa vez era null que tinha um sorriso malicioso, mas suas intenções eram diferentes das de Phillip.
- Eu quero que você vá até a casa de null e diga que tudo o que ele viu nos jornais, revistas e na internet é mentira. Foi tudo uma armação sua para me afastar dele. - Phillip afastou-se de null e a encarou por alguns segundos com uma expressão indecifrável. null ainda mantinha o mesmo sorriso nos lábios, não se intimidou pela reação dele. Ela tinha uma carta muito forte em mãos. Após alguns segundos em silêncio, a sala foi inundando pelo som da risada estridente de Phillip.
- Ai, null, você é uma comediante. - Phillip disse, debochadamente. null arqueou a sobrancelha, deixando claro que aquilo não era uma piada. - Foi você quem errou, querida, agora você quem vai pagar pelas consequências. - null voltou a aproximar-se ainda mais do homem e sussurrou no seu ouvido:
- Você não está entendo, querido, você vai fazer isso.
- E o que te leva a crer que eu faria isso? - Phillip imitou a ação da mulher, sussurrando no seu ouvido.
- Ou você faz isso ou eu conto para todo mundo o que eu sei de você. - Ao ouvir as palavras de null serem sussurradas no seu ouvido, Phillip manteve a postura rígida e seu sorriso debochado despareceu do seu rosto. null afastou-se de Phillip e o olhou desafiadoramente. Ela pôde ver nos olhos do homem o quão derrotado ele estava, null sorriu convencida.
null sentou-se na calçada em frente ao portão da casa de null. Havia ligado para a casa dele do orelhão, mas ninguém havia atendido. Deduziu então que ele havia ido trabalhar, conhecendo-o como ela o conhecia, sabia que ele preferiu trabalhar a ficar em casa relembrando dos acontecimentos anteriores. null suspirou pesadamente ao lembrar-se dos mesmos. Consultou a hora no relógio de pulso. Seis e quinze. Com sorte ele já deveria estar chegando a casa.
null observava a rua ansiosamente à espera de null. Precisava conversar com ele, precisa tentar. E se não conseguisse dessa vez, teria que usar Phillip; era sua última saída.
Seu coração disparou quando viu o carro de null no final da rua. Suas mãos tremeram ainda mais quando o carro estacionou na garagem. Ela não conseguiu ver suas feições, mas já imaginava que estavam surpresas.
null saiu do carro surpreso e ao mesmo tempo enfurecido ao ver null parada em frente ao portão da sua casa. Como havia sido tão cara de pau? Depois de tudo que havia feito ela ainda tinha a coragem de ir até a sua casa? O que ela queria dele, afinal? Saiu da garagem e andou até a mulher, que ainda permanecia sentada na calçada.
- O que você quer? - null perguntou grosseiramente. Aquilo machucou null, mas ela procurou ignorar, já imaginava por uma atitude assim do homem. Sabia o quão magoado ele estava e com motivos.
- Eu quero conversar com você. - Seu tom de voz era baixo, com muita dificuldade null conseguiu escutá-la.
- Não temos mais nada para conversar. Sua foto com Phillip já diz o suficiente. - Ele ainda permanecia com o mesmo tom de voz, mas null percebeu com clareza a mágoa escondida por detrás daquela grosseria. Ver null tão ferido daquele jeito a entristecia ainda mais. Odiava-se por ser a causadora de tudo aquilo.
- Senta aqui. - null bateu com a palma da mão o espaço vazio ao seu lado. Quando null abriu a boca para negar, ela foi mais rápida e disso: - Por favor... - O homem suspirou derrotado e sentou-se ao seu lado. Não sabia ao certo por que havia tomado aquela atitude, estava decidido a mudar. Talvez ele só precisasse ter null um pouco mais perto para então dormir um pouco tranquilo, um pouco satisfeito. - Me desculpe, null. Desculpe-me por ter feito você sofrer, me desculpe por ter ficado com Phillip, me desculpe por fazer você perder todo esse tempo comigo, me desculpe por não ser merecedora do seu amor. Por favor, só me desculpe. - Uma lágrima grossa escorreu dos olhos de null. Ela sequer notara que queria chorar, só percebeu quando sentiu a lágrima escorrendo dos seus olhos. Parecia que seu coração estava desmanchando-se ali, junto com suas lágrimas. Não, ela não estava sendo dramática demais. Era o que realmente estava sentindo. null sabia que null estava tão magoado como nunca estivera em toda sua vida. Era a mulher que ele amava com o seu melhor amigo. - Eu te amo, null, eu juro por Deus que eu te amo! Mas eu sou tão cretina que não sei amar, entende? - Ela olhou para null, as lágrimas já escorriam livremente pelo seu rosto. Seus adoráveis olhos que null tanto amava estavam vermelhos. Vê-la daquela forma o machucou também, ele teve que se segurar para não chorar. null estava ali, sendo tão verdadeira como nunca havia sido em toda sua vida. - Eu não sei por que faço isso. Eu sou tão cheia de defeitos. Eu queria ser como a Audrey, eu queria ser doce, amável e gentil igual a ela, mas tudo que eu consigo ser é uma cretina. - Sua voz estava embargada. Um soluço escapou dos seus lábios. Não se sentia envergonhada por estar chorando na frente de null, ela sabia que precisava fazer aquilo. - Eu vou mudar, null, eu prometo que eu vou mudar. - Seus olhos buscaram suplicante o homem ao seu lado. Pelo seu olhar, null pode ver que ela pedia perdão, mas não havia mais nada a ser dito ou feito.
- É tarde demais, null... - Era o fim. null teve a certeza que era o fim dos dois ao ouvir null dizer aquilo. Mas não pelo o que ele disse e sim pela forma como ele falava. null não usava o seu tom de voz grosseiro, ele simplesmente disse baixo, como se estivesse... Se desculpando. null desculpava-se por não ter mais força para lutar por eles dois. Aquilo era o adeus dele. null sabia.
Um pouco tonta, ela levantou-se em silêncio, como se não suportasse o peso do seu corpo; cambaleou um pouco para o lado, mas logo se manteve firme. Virou-se para trás e olhou para null, que carregava uma mágoa profunda nos seus olhos. - Eu não vou mudar por você, null, eu vou mudar por mim. Eu quero ser alguém melhor. - Ela disse firmemente, como se tentasse absorver as palavras para si mesma. null entendeu que as palavras da mulher não eram para ele e sim para ela mesma.
null desceu a escada, irritado quando ouviu o barulho da campainha tocar. Não era seu melhor dia para visitas. Abriu a porta da casa, sentindo a irritação aumentar quando viu Phillip parado na sua frente. Ele parecia tenso.
- Precisamos conversar.
’’Agora sei que você se arrepende e que éramos doces, mas você escolheu a luxúria quando me enganou. E você vai se arrepender, mas é tarde demais. Como posso confiar em você novamente?’’
"Fala como um anjo e se veste como um anjo... Mas é o diabo disfarçado."
- O que você faz aqui? - Perguntou rudemente ao homem parado na porta da sua casa. Phillip suspirou pesadamente, enfiou as mãos no bolso da calça jeans e o encarou. Ele viu toda a mágoa e raiva nos olhos do melhor amigo. Aquilo seria mais difícil do que ele imaginava. Amava null como a um irmão, sabia que o que ele e null fizeram não tinha perdão, mas null tinha esse poder nele. De deixá-lo entorpecido com um toque dela, de fazê-lo esquecer de qualquer coisa, de torná-lo insano. Quando o assunto se tratava de null, ele esquecia completamente a sua amizade com null.
- Eu preciso falar com você. - Phillip disse, firme. Não poderia intimidar-se agora, sabia que o que iria dizer a null iria fazer com que o homem o odiasse ainda mais. Mas era necessário, ele precisava mentir para null, mesmo que ele o odiasse por isso. Não tinha escolha, null tinha uma carta poderosa em mãos, uma carta que poderia acabar com a vida de Phillip. E egoísta como era, iria esquecer mais uma vez sua amizade com null. Iria enganar mais uma vez o amigo, para o bem dele. Para o bem de Phillip.
- Eu não tenho nada para falar com você! - Vociferou, sentindo seu sangue esquentar. O que ele mais queria era dar um soco na cara de pau de Phillip. Acabar com aquele rosto bonitinho de comercial de perfume francês.
- Mas eu tenho! E você vai me ouvir, querendo ou não. - Ignorando toda a grosseria do amigo, Phillip disse, encarando-o. Derrotado, null chegou para o lado dando espaço para que Phillip adentrasse na casa. null fechou a porta e seguiu Phillip, que sem esperar permissão, sentou-se no sofá da sala. null sentou-se ao seu lado, tentava controlar a raiva que tinha do amigo, não poderia fazer uma besteira agora.
- Então, o que você tem para me falar? - Perguntou, ríspido. Phillip engoliu em seco e encarou a TV a sua frente sem coragem o suficiente para encarar o amigo.
- Eu sei que você me odeia. - null riu debochadamente, mas Phillip o ignorou e continuou a falar. - Eu sei que você vai me odiar ainda mais depois de ouvir o que eu tenho pra te falar. - null ergueu a sobrancelha e olhou incrédulo para o amigo. Phillip soltou mais um dos seus suspiros e continuou. - A primeira vez que eu e null ficamos, sabe aquela foto do jornal? - null murmurou algo concordando. Não queria que Phillip entrasse em detalhes sobre como foi a noite dele com a sua garota. - Ela estava bêbada. Mas não o jeito "bêbada null de ser", mas sim de um jeito pior. Eu a embebedei a ponto de ela ficar inconsciente, eu fiz isso porque eu queria ficar com ela. - null respirou fundo, tentando, mais uma vez, controlar a raiva que crescia cada vez mais dentro de si. Seu peito subia e descia descontroladamente de acordo com a sua respiração errática. Cravou sua unha na palma da mão e fechou o punho que insistia em querer acertar o rosto bonitinho de Phillip. - E a última vez, no pub, eu a vi chorando. Eu perguntei o que tinha acontecido e ela me contou que vocês tinham brigado e disse tudo o que você tinha dito a ela. Eu disse a ela que você estava arrumando uma desculpa para terminar com ela, pois no dia anterior tinha me dito que amava a Audrey e queria ficar com ela. null começou a chorar desesperadamente e começou a beber demais e você já sabe o que aconteceu... - A última frase do homem saiu em um sussurro. Phillip sabia que não era certo fazer aquilo, não era certo mentir para null, assim como não foi certo ter ficado com null. Mas ele sabia que era um mal necessário. Precisava fazer isso. Mesmo que seu amigo o odiasse ainda mais e nunca mais olhasse na sua cara, ele não tinha escolhas.
null sentia seu coração ser esmagado. O ar lhe faltou por um momento e depois respirar tornou-se uma tarefa difícil. Suas unhas cravavam com força na sua pele, mas ele não sentia nada, sua pele estava dormente. Imagens de null inconsciente sendo agarrada por Phillip, seu melhor amigo, passaram por ele. Seus olhos encheram-se de lágrimas ao imaginar sua menina tão vulnerável, tão frágil, sendo agarrada por um monstro. E ele não estava ali para socorrê-la. Ele não acreditou nela! null deveria ter acreditado em null, mas ele não o fez. E agora a culpa parecia que iria matá-lo. Deus! Sabe-se lá o que Phillip poderia ter feito com ela. Olhou para o homem ao seu lado e sentiu-se enojado. O cara a quem ele confiava os seus segredos, o cara que dizia ser o seu melhor amigo, havia embebedado a sua menina e ficado com ela a força! Como ele teve coragem?
Levantou-se alterado e parou em frente ao homem. Phillip o encarou surpreso, engoliu em seco ao ver a expressão irada do homem. Fechou os olhos já esperando por um soco de null no seu rosto. Ele merecia aquilo, não poderia lutar contra.
- Seu desgraçado! - null gritou, puxando o homem pela gola da camisa. Fechou as mãos e acertou o rosto bonitinho do amigo. Ele até poderia sorrir de satisfação se não estivesse tão concentrado em estragar o rosto de Phillip. Acertou outro soco. O homem continuava parado, sentindo a dor causada pelos socos de null, gemia de dor, mas nada fazia. null o jogou no chão e chutou a costela de Phillip, o outro gritou de dor, mas aquilo não comoveu o homem. null sentou em cima dele e puxou com força o rosto de Phillip para frente, fazendo com que ele o encarasse. - Por que você fez isso? - Ele perguntou, mas Phillip não respondeu. Continuou gemendo de dor. Irritado por não receber alguma resposta, null acertou novamente o rosto do homem, que gemeu mais uma vez. - Responda! - Ordenou.
- Eu também a amo, null. - Phillip disse, com a voz fraca. null respirou fundo mais uma vez, tentando controlar a vontade que tinha de matar Phillip. Somente a ideia de outro homem amando a sua menina, desejando-a da mesma forma como ele a desejava, tirava o seu controle.
- Você a estuprou? - Ele perguntou com dificuldade. Tinha medo de ouvir a resposta. Se Phillip tivesse feito aquilo, null nunca iria perdoá-lo, nunca iria se perdoar. null não merecia passar por aquilo.
- Não, eu nunca fiz isso! - Phillip respondeu desesperadamente. null fechou os olhos, começando a sentir sua mão dolorida e seu sangue esfriar. Tornou a abrir os olhos e, quando encarou os do homem deitado no chão, sentiu o mesmo nojo de antes. Fez uma careta ao encará-lo e cuspiu no rosto dele. Phillip fechou os olhos ao sentir o líquido no seu rosto.
- Eu espero mesmo que você nunca tenha feito isso! - null disse, enquanto saía de cima do homem. - Torça para que null volte para mim, ou você vai se arrepender amargamente do que fez. - Andou até a porta e parou, olhando para trás. - Quando eu voltar, não quero ver rastros seus aqui. - Disse autoritário e saiu de casa, batendo com força a porta. Entrou apressadamente no carro e assim que o ligou deu partida. Seu coração batia aceleradamente contra o seu peito, a ansiedade de ver null, o medo de ela rejeitá-lo, a culpa que sentia por não ter acreditado nela, tudo isso o deixava tonto.
Mudou de canal quando viu que o filme que iria começar era Diário de Uma Paixão, mudou novamente de canal quando viu que o filme que passava era Um dia. Irritada, resolveu desligar a televisão. Ela não queria assistir nenhum filme de romance, assisti-los não era a mesma coisa sem null. null não queria lembrar-se dele, mas parecia que o universo conspirava contra ela. Sabia que toda aquela situação era culpa dela, mas ela não era masoquista para procurar a dor. Deitou-se no sofá e olhou para o teto, tentando focar seus pensamentos em qualquer assunto fútil. Bufou irritada quando se deu conta que seus pensamentos voltavam novamente para null e todos os momentos que tiveram naquele sofá. Puxou alguns fios do cabelo com força. Ela só queria deitar e dormir, esquecer quem era null. Já era ruim demais ter que lidar com a ausência dele, seria pior ainda ficar revivendo os momentos com ele. null só queria ser menos egoísta e estúpida. Queria não ter que estragar os seus momentos com null, queria não ser autodestrutiva. Aquela era a sua personalidade, não adianta.
Foi despertada dos seus devaneios ao ouvir a campainha tocar incessantemente. Gritou irritada um "Já vai" para a pessoa que a esperava apressadamente. Jogou o edredom para o lado e levantou-se a contragosto. Não se deu ao trabalho de trocar de roupa, abriu a porta sem sequer ver quem era. Já estava com algumas palavras grosseiras na ponta da língua, mas todas elas sumiram ao ver null parado, encarando-a. Ela o encarou, surpresa. Imaginou que talvez ele estivesse ali somente para xingá-la, mas não deu asas a sua imaginação, sabia que ele não se daria ao trabalho de somente ir até a sua casa para xingá-la. Havia algo a mais ali, ela sabia disso. Sentiu seu coração acelerar e suas mãos tremerem ao imaginar o que ele poderia querer com ela. null sorriu timidamente e a olhou de baixo para cima. Mordeu o lábio inferior ao ver que a mulher usava um short curto branco e uma regata justa lilás. null abaixou os olhos, envergonhada ao sentir os olhos do homem a avaliando.
- Vai me deixar aqui do lado de fora? – Perguntou, em um tom de voz brincalhão. A mulher suspirou e relaxou os seus músculos. Ele não tinha vindo para brigas. Um pouco desnorteada, ela abriu mais a porta e chegou para o lado dando passagem para que o homem adentrasse o cômodo. null adentrou a sala e, sem esperar alguma permissão de null, ele sentou-se no sofá. null fechou a porta e aproximou-se do homem.
- Você aceita água, suco, cerveja? – null perguntou, visivelmente envergonhada. null apenas negou e por um momento sentiu-se mal por estar em uma situação desconfortável com null. Logo eles, que sempre foram tão íntimos, estavam agindo como apenas conhecidos. Não fazia sentido. O homem deu dois tapas ao seu lado no sofá, pedindo silenciosamente que null sentasse ali. A mulher sentou ao seu lado e ficou encarando as suas mãos, ainda estava envergonhada por toda aquela situação, por tudo que causou ao relacionamento dos dois.
- Nós precisamos conversar. – null virou o rosto bruscamente e o encarou aflita. Seu coração acelerado a deixava nervosa. Tinha medo do que null ainda poderia dizer. Sabia o quão magoado ele estava quando ela saiu da sua casa, mas ela também estava. Não queria ouvir mais nada que pudesse feri-la ainda mais. Notando toda a confusão da mulher, null apenas sorriu de lado, tentando lhe dizer que estava tudo bem. – Eu queria te pedir desculpas. – Ela arregalou os olhos ao ouvir suas palavras. Oras, quem deveria estar pedindo desculpas era ela. null que havia errado, não null. – Eu não te escutei, preferi te acusar e acreditar em uma matéria estúpida do jornal do que acreditar em você. Phillip apareceu lá em casa hoje. Ele me disse tudo o que aconteceu com vocês. – Por um momento ela acreditou que seu coração fosse sair pela boca, tamanho era o seu desespero. – Ele me disse que você não teve culpa de nada, que te embebedou para ficar com você. – null sentiu um nó formar-se na sua garganta ao lembrar-se das palavras do homem. Novamente as imagens de null bêbada sendo abusada por Phillip invadiram sua mente, seus olhos encheram-se de lágrimas quando o sentimento de culpa o invadiu. – Me desculpe, null, me desculpa por não ter te protegido e por não ter acreditado em você. – A mulher notou a dificuldade que ele teve ao falar. Seu coração parecia diminuir e dessa vez ela não o sentia bater aceleradamente. Ver a mágoa e a culpa junto das lágrimas nos olhos de null a fazia sentir o pior ser humano do mundo. Ele estava sentindo-se mal por algo que sequer havia acontecido. Ele estava se culpando por algo que era totalmente culpa de null. Não era justo! Mas também não era justo para ela ficar longe dele. Em mais um dos seus atos egoístas, null o puxou para um abraço, enterrou a sua cabeça no ombro dele e sussurrou no ouvido de null dizendo que o desculpava. Ela estava sendo má, sabia disso. Ela poderia ter negado tudo o que null havia dito e ter sido mulher o suficiente para contar-lhe a verdade, mas a simples ideia de tê-lo novamente em seus braços a fez esquecer qualquer atitude boa que poderia ter naquele momento. Ela somente o abraçou apertado e chorou. Chorou por ser egoísta, má, fraca. Chorou por amar null e não saber como amar. Chorou porque sabia que não o merecia.
- Por favor, volta para mim. – Ele implorou com a voz abafada. null afastou-se de null e o encarou. Nos olhos dele ela pode ver que ele sentia tanta a falta dela quanto ela sentia a sua.
- E eu consigo ficar longe de você? – Ela brincou, sorrindo alegremente. Agora sim as coisas estavam se encaixando, estavam voltando a ser como eram antes. null voltaria a ser o seu null.
- Eu não quero te perder nunca mais, quero que você seja pra sempre só minha. – null sussurrou, encarando-a profundamente. null sabia que nas palavras do homem tinha um pedido implícito para que ela não ficasse com mais ninguém além dele. Ela engoliu em seco e sorriu fraco.
- Você nunca vai me perder. – Deu um selinho no homem, que sorriu bobo com o seu gesto.
- Eu te amo. – Ele disse, com a boca colada na dela.
- Eu te amo mais. – Ela respondeu da mesma forma. Logo ela sentiu a língua de null pedir passagem e assim que ela cedeu eles fecharam os olhos ao sentir o gosto da língua deles. Suas línguas brincavam entre si, causando sensações maravilhosas no corpo de cada um. As mãos de null apertavam com firmeza a cintura da mulher, como se isso a impedisse de fugir dele. E as mãos de null acariciavam a nuca do homem, vez ou outra puxava alguns fios do seu cabelo. Era aquele momento romântico e íntimo que eles tanto amavam e havia sentido falta.
null levantou-se da cama com cuidado para não acordar null, que dormia tranquilamente ao seu lado. Estremeceu quando colocou os pés no chão e sentiu o gélido do piso, rapidamente procurou pelos seus chinelos e imediatamente os calçou. Pegou o seu celular que estava em cima da mesinha e foi até a sacada do seu quarto. Discou o número de Phillip e esperou impacientemente que ele atendesse. No quinto toque ela pode ouvir a voz embolada de Phillip. Ela tinha certeza que havia o acordado.
- Só liguei para te agradecer, é sempre bom fazer negócios com você. – Ela soltou uma risada debochada, porém baixa para que não acordasse null.
- Espero que você não me procure mais. – Phillip disse, parecendo estar um pouco mais acordado agora.
- Pode ter a certeza disso. – Após dizer isso ela desligou o celular sem esperar alguma resposta do homem. Ainda com o celular em mãos, ela ficou a observar a rua vazia. Riu ironicamente ao pensar que ela sentia-se da mesma forma como a rua, vazia. Ela sabia que não deveria estar sentindo-se assim, afinal, estava com null e era feliz ao lado dele. Mas por que não estava se sentindo feliz? Por que estava sentindo que faltava algo? Ah! É claro que faltava algo. Faltava ela ser sincera com ele. Mas null era tão covarde que não tinha coragem de contar-lhe a verdade. Ela preferia viver com aquela angústia ao lado dele do que ficar sem ele. Não gostava de admitir isso para ninguém, nem para si mesma, mas ela era completamente dependente de null. Não sabia como iria viver longe dele. Patética demais. Ela sabia disso. Mas era assim que ela se sentia.
Sentiu null abraçar lhe a cintura e depositar um beijo no seu pescoço arrepiando todos os seus pelos. Fechou os olhos ao sentir aquele carinho que recebia do namorado. E então todo aquele vazio, toda aquela angústia, foi embora. Como se null fosse o responsável por acabar com toda a sua dor. Ela realmente não saberia o que fazer sem ele. Ficar longe dele fazia com que sentisse todos aqueles sentimentos ruins, mas quando estava ao seu lado ela só conseguia ter sentimentos bons. Acariciou o braço do homem e virou o rosto para dar-lhe um selinho. No fundo, null sabia que o amava da mesma forma como ele a amava, ela só não sabia amar.
- O que você está fazendo aqui? – Ele perguntou quando o selinho foi quebrado. null virou-se para ficar de frente para ele, null ainda segurava firmemente a cintura da mulher.
- Pensando. – Ela sorriu meigamente. Foi inevitável null sorrir com ela. Ele amava os seus sorrisos, amava todos os seus trejeitos.
- Posso saber em que?
- Em você. – Dessa vez o sorriso meigo foi substituído por um tímido. null encarou os olhos dela e sentiu-se tão feliz por ver que eles estavam brilhando por ele. – Eu amo você. – Disse simplesmente. null disse aquilo porque simplesmente teve a vontade de dizer, de expor os seus sentimentos, não esperava que ele dissesse a mesma coisa, ela só queria deixar claro os seus sentimentos por ele.
- Eu amo muito você. – E realmente amava. Ambos sabiam disso. null era louco por null, várias vezes julgou-se ser um viciado em relação a null. Afinal, ela era a sua droga, feita na medida certa para ele. E tudo o que ele queria era ser amado por ela. Ver a sua amada correspondendo o seu amor fazia o seu coração explodir de felicidade. Ele sabia que ela o amava, mas muitas das vezes sentia-se confuso em relação aos sentimentos dela, devido às atitudes da mulher. Mas naquele momento ele teve a certeza que ela o amava, mesmo não sabendo demonstrar muitas das vezes, mesmo não sabendo ao certo como amar ou como era o amor. Ele sabia que null era apenas uma mulher insegura, egoísta e mimada, mas que também era apaixonada por ele. E não precisava que ela dissesse isso, o brilho dos olhos dela já diziam por si só.
"Dizem que, não importa qual seja a verdade, as pessoas vêem o que querem ver. Algumas pessoas podem dar um passo para trás e descobrirem que estavam olhando a mesma cena por todo o tempo. Algumas pessoas podem ver que suas mentiras quase acabaram com elas. Algumas pessoas podem ver o que estava na sua frente o tempo todo. E ainda há aquelas pessoas que correm o máximo que podem para não terem que olhar para si mesmas."
- Eu estou com fome! - null gritou, com a voz manhosa, entrou na cozinha e fez bico para null, que colocava a lasanha no forno. Ele sorriu com a atitude infantil da mulher. Assim que colocou a lasanha no forno, aproximou-se dela, abraçou-a pela cintura e lhe deu um selinho.
- Você vai ter que ser mais paciente e esperar um pouquinho. Acabei de colocar a lasanha no forno. - null riu com a expressão emburrada no rosto da mulher. Eram momentos assim que ele amava, eram atitudes assim que a deixavam ainda mais encantadora aos seus olhos. null sabia exatamente qual atitude tomar e como ser em determinadas horas. Ela sabia ser mulher e menina.
- O que nós vamos fazer hoje?
- Pensei em irmos ao cinema hoje, o que acha? - Um sorriso infantil surgiu nos lábios da mulher, fazendo-o sorrir automaticamente. Um brilho ainda mais infantil nos olhos dela o deixava admirado. Ele nunca teria dúvidas do quanto a amava. Amava tudo nela. Não importava o que null havia feito no passado ou o que poderia fazer, ele sempre a amaria, nada poderia mudar o seu amor por ela.
- Eu acho uma ótima ideia! - Ela beijou carinhosamente a ponta do nariz dele, ficando na ponta dos pés. Afastou-se de null e sorriu ao ver que ele havia fechado aos olhos ao sentir o toque dela, adorava causar todas aquelas sensações nele. - Vou me arrumar enquanto você prepara a lasanha, ok? - Ele assentiu e a mulher saiu da cozinha, subindo a escada e indo até o quarto de null. Entrou no quarto e foi direto para o closet, tirou de lá uma calça jeans escura, uma blusa preta transparente, uma sapatilha azul clara, um top preto e uma calcinha rosa com lacinho. Riu ao pensar que a casa de null era a sua segunda casa. Todas as suas coisas praticamente estavam ali, já que ela passava mais tempo na casa dele do que na sua própria. Ela adorava o conforto que aquela casa lhe proporcionava e como se sentia íntima ali.
Colocou as coisas em cima da cama e entrou no banheiro. Retirou toda a sua roupa, prendeu o cabelo em um coque e entrou no box. Ligou o chuveiro e sentiu seus músculos relaxarem quando a água morna tocou o seu corpo.
Enquanto se ensaboava, pensava em seu relacionamento com null. Sabia que ela era uma mulher de sorte por ter encontrado um homem maravilhoso como ele. Não era qualquer homem que a respeitaria, amaria e insistiria ficar com ela depois de todas as burradas que havia feito. null era diferente, ela sempre soube disso, desde a primeira vez que o viu. Era diferente porque ele a fazia sentir diferente, porque amava, valorizava e respeitava uma pessoa como ela. E foi pensando no quão maravilhoso ele era e como amava estar com ele que se perguntou como seria acordar todos os dias ao seu lado sendo somente dele. Nunca havia tentado isso, pertencer somente a um homem. Era insegura, egoísta e orgulhosa demais pra permitir-se ter uma relação tão intensa assim. Mas sabia que sua relação com null era muito intensa, não adiantava tentar se enganar. Ela não conseguia ficar longe dele. Poderia dormir com quantos cara quisesse, beber para tentar esquecê-lo, viajar pelo mundo para se afastar dele, poderia fazer tudo isso, mas seria inútil, não adiantaria. Ela sempre voltaria para ele, sua mente sempre iria trai-la com imagens dos dois. null amava null, não tinha como voltar atrás. E por isso ela fechou os olhos e sorriu feliz. Se não tinha como voltar atrás, ela aproveitaria os momentos ao lado do homem maravilhoso que havia encontrado.
null desceu a escada correndo, entrou na cozinha e parou em frente à null, que ria da atitude infantil da mulher.
- Estou pronta! – Ela disse, colocando as mãos na cintura. null a puxou pela cintura e colou seu corpo no dela.
- Está linda! – Ele disse, em um tom de voz encantado. null sorriu timidamente e lhe deu um selinho. – Vamos comer. A lasanha já está pronta! – Ele a puxou pela mão. Sentaram-se na cadeira em frente à mesa que já estava posta. null, que estava de frente para null, a serviu com um pedaço de lasanha e depois se serviu, enquanto null colocava o refrigerante nos copos.
- Adoro dias assim com você. – null disse após terminar de mastigar um pedaço da lasanha. null sorriu bobo ao ouvir a confissão da mulher e a olhou, admirando-a.
- Eu também. Adoro acordar ao seu lado e passar o dia inteiro com você, sem fazer nada ou fazendo tudo. – A mulher sentiu seu peito explodir de felicidade ao saber que null também adorava passar o tempo com ela. Por mais que null soubesse dos sentimentos de null sobre ela, não poderia negar que amava quando ele admitia isso. Aquilo fazia com que ela o amasse cada dia mais. – Sabe, null, eu fico imaginando o nosso futuro. Nós dois juntos, em uma casa grande, sentados no nosso imenso quintal, observando nossos filhos brincarem com o nosso cachorro... – null dizia tudo aquilo com um brilho nos olhos. Ele tinha um ar sonhador que até poderia fazer null se encantar se ela não achasse aquela ideia de ter filhos tão absurda.
- Filhos? Não seja idiota, null. – Riu ironicamente e balançou a cabeça como se não acreditasse que o homem estivesse mesmo tendo aquela ideia. null deixou o garfo cair no prato e olhou incrédulo para a mulher em sua frente. Não acreditava nas palavras dela. Aquela não parecia ser a null que amava, aquela estava parecendo ser a velha null egoísta. A mulher continuou a comer tranquilamente, ignorando a reação do namorado.
- Idiota por quê, null? Por querer me casar com você e ter filhos? É idiota desejar formar uma família com você? – Ele perguntou, raivoso. null levantou os olhos e o encarou, viu o quão magoado o homem estava por suas palavras. Odiou-se internamente, não queria magoá-lo. Não imaginava que dizer aquilo iria machucá-lo tanto. Maldita essa sua mania de falar o que não deve.
- Não é isso, null. É só que eu não sei se eu estou preparada para ter filhos, sou nova demais, por isso não gosto de ficar pensando. – Sua voz era calma, tinha medo de dizer qualquer coisa que pudesse magoá-lo ainda mais. Sabia que as coisas que estava dizendo não faziam sentido, mas era a forma como pensava. Ela era modelo, tinha uma carreira toda pela frente, sabia que ter filhos agora acabaria com o seu sonho. null nunca tinha se visto como mãe, ela não era muito chegada em crianças.
- E quando você vai estar preparada, null? Diga-me, quando você está preparada para alguma coisa que não é do seu interesse? Porque eu estou até hoje esperando você estar preparada para ter um relacionamento decente! – Vociferou, batendo o punho na mesa. null assustou-se com a atitude de null. Não poderia negar que as palavras do homem a haviam machucado, sabia que aquela era uma maneira dele de colocar tudo para fora, tudo que pensava dela. Não o culpava, mas não poderia evitar a dor que sentiu ao ouvir aquilo. – Eu vou me arrumar, perdi o apetite. – Levantou-se após perceber que não iria receber nenhuma resposta de null, ela continuava calada, encarando-o surpresa. Pela primeira vez ele teve vontade de socá-la pelo seu silêncio.
Ele estava magoado e não se importava se estava fazendo uma tempestade no copo d’água. As palavras de null o magoaram. Ele queria construir uma família com ela, queria viver ao seu lado, mas também queria que ela desejasse isso. Tudo o que null queria era reciprocidade. Mas sempre tinha a sensação de que ele amava mais, ele desejava mais, sempre era ele que largava tudo para estar com ela, sempre era ele que se sacrificava, sempre era ele que planejava o futuro deles. A vida de null sempre girou em torno de null, mas a vida de null sempre girou em torno dela mesma. Era egocêntrica demais. E null detestava isso. Era uma das poucas coisas que ele detestava em null. O seu egoísmo, sua irresponsabilidade, seu orgulho e tantos outros defeitos que aos poucos destruíam o relacionamento tão complicado que eles tinham. Por que as coisas entre ele e null não poderiam ser tão simples? Ele só queria que ela o amasse e que desejasse casar com ele e ter filhos. Quando null finalmente acreditava no amor de null, ela sempre dizia ou fazia algo que o desacreditava. Estava começando a ficar cansado de tudo aquilo. Um relacionamento não deveria ser assim, uma pessoa não deveria amar mais que a outra, não deveria ser viciante. Não queria ser tão inseguro, mas era inevitável se sentir assim quando se tratava de null. Nunca sabia o que passava na cabeça dela, era tão imprevisível. Em um dia ela estava aqui, mas no outro não mais. Ao contrário de null, que sempre estava ali por ela, esperando por ela. null o prendia, mas ela nunca se prendia a ninguém. Ninguém. No fundo, null sabia que ela pertencia ao mundo.
O silêncio no carro a estava matando. Não era um silêncio reconfortante, era tenso, parecia que iria sufocá-la a cada segundo. Sabia que null estava chateado com ela, provavelmente queria socá-la. O homem segurava com tanta força o volante que null achou que ele estava imaginando o pescoço dela ali. Respirou fundo uma, duas, três, quatro, cinco vezes. Mas a coragem de falar com ele não vinha. Droga! Por que ela sempre tinha que falar algo de errado?
- null? – Ela o chamou, enchendo-se de coragem. Ele apenas murmurou algo avisando que estava escutando e continuou com os olhos fixos na estrada e as mãos segurando firmemente o volante. – Me desculpe... – Começou a falar com a voz baixa, suas mãos estavam entrelaçadas sobre seu colo e seus olhos estavam fixos nela. null ainda não a olhava, mas prestava atenção nela. – Eu não quis dizer que você era idiota por pensar em casar e ter filhos, eu só não sei me expressar. Desculpe-me por isso. – Levantou os olhos e os fixou na estrada. E então ela sentiu-se corajosa o suficiente para contar a null tudo o que sentia e pensava. – Eu quero me casar com você e ter filhos, e uma casa grande. Eu quero ter tudo isso com você. Mas não agora, entende? Acho que agora não é o nosso momento, ainda somos muito novos, minha carreira está crescendo agora, finalmente estamos nos ajeitando. Acho que esse é nosso momento para nos curtir e preparar um ótimo futuro para os nossos filhos. Você me entende? – Ele não disse nada, apenas assentiu com a cabeça. Suas mãos afrouxaram no volante. null sabia que null estava sendo sincera, ele entendeu que era aquilo que null realmente pensava, ele também pensava assim. Se não tivesse a péssima mania de julgar null, eles provavelmente não teriam aquela discussão. – Eu te amo, null, eu te amo muito. E sei que muitas das vezes você não acredita ou fica confuso, eu não te culpo por isso, sei que a culpa é minha. Eu que não sei amar. – Ela soltou uma risada debochada ao escutar suas próprias palavras. – Sou mesmo uma idiota, não é? Eu te amo, mas não sei como amar. – Balançou a cabeça, incrédula das suas próprias palavras. – Eu nunca amei alguém como amo você, null, não sei demonstrar isso direito, mas acredite em mim quando eu digo isso, porque é verdade. Nenhum homem me fez sentir como você me faz. Eu não consigo ficar longe de você. Acho que você já percebeu isso, não é? – Riu ironicamente e mordeu o lábio inferior, demonstrando que estava nervosa. Seu coração batia aceleradamente com o medo de null não acreditar nela. Culpa dela de não saber como demonstrar os seus sentimentos.
null não conseguiu conter um sorriso ao ouvir as palavras da namorada. Aquele era um momento raro, era um momento em que null estava sendo totalmente sincera e se embaralhando nas palavras. Ele amava quando ela se embaralhava nas palavras, porque isso o fazia acreditar que ela estava sendo a verdadeira null. Não estava mais sendo aquela mulher tão segura de si, estava apenas sendo ela mesma. A mulher que também sentia medo, que também se envergonhava. E ele amava quando ela ficava assim, sem máscaras. Como poderia ficar chateado com aquela criatura tão adorável? Riu dos seus próprios pensamentos e, desistindo de tentar ser durão e ficar chateado com ela, colocou uma mão na coxa de null e fez um carinho nela. null sorriu docemente ao sentir o toque do namorado. Com apenas aquele gesto ela já sabia que estava tudo bem entre eles.
- Não preciso dizer que sou louco por você, não é mesmo? – Disse meio sério, meio brincando. A mulher voltou a mordeu o lábio inferior, controlando uma risada ao ver a careta que ele havia feito. Ele era tão adorável. E ela o amava tanto que tinha vontade de apertá-lo, mordê-lo e nunca mais soltá-lo. Aproximou-se dele e lhe deu um selinho rápido, com medo de causar algum acidente. Colocou a cabeça na curvatura do pescoço dele e fungou, respirando o cheiro viciante dele. null pensou que poderia morrer naquele exato momento que tudo estaria perfeito para ela. Estava ao lado do homem que amava sentindo o cheiro dele. Tinha como ser mais perfeito que isso?
- Vou arrancar o cabelo dessas vadias se elas continuarem te comendo com os olhos. – null disse entre os dentes, demonstrando claramente o ciúme que estava sentindo de null. O homem riu baixinho e olhou discretamente para as duas mulheres que estavam na fila ao lado da deles, a fila da pipoca. null e null estavam na fila para entrar no cinema, null abraçava null pelo ombro e segurava o refrigerante, null estava segurando a pipoca que comia com ódio.
- Isso é pra você ver como eu me sinto quando os homens ficam te olhando e mexendo com você. – A mulher bufou de ódio e revirou os olhos. As outras duas mulheres olhavam discretamente para null e soltavam risadinhas irritantes aos ouvidos de null. null achava graça da cena de ciúme da namorada, adorava saber que causava isso nela. null virou-se bruscamente e chocou seus lábios no do namorado; surpreso com a atitude dela null demorou um pouco para retribuir o beijo. Colocou uma mão na nuca dela enquanto a outra segurava o refrigerante. Riu baixinho partindo o beijo quando entendeu o que null estava tentando fazer. – O que foi isso? – Perguntou, tentando segurar uma gargalhada.
- Estou apenas mostrando a elas que você tem dona. – Virou-se novamente para encarar as mulheres e olhou feio para elas. As outras duas apenas desviaram os olhos, um tanto constrangidas. Não conseguindo mais se segurar, null gargalhou alto. Ele voltou a abraçar null pelo ombro enquanto entravam na sala do cinema.
- Minha ciumentinha. – Disse num tom de voz provocador quando viu a feição emburrada da namorada. Ela virou-se para ele e lhe mostrou a língua, uma atitude infantil que só fez com que null gargalhasse ainda mais alto, atraindo alguns olhares curiosos. Eles sentaram-se nas duas últimas cadeiras do lado esquerdo da última fileira. null virou o rosto para ele e empinou o nariz. – Não fica assim, meu amor. Você sabe que é única para mim. – null sussurrou no ouvido da mulher, ela tentou esquivar-se dele, mas ele foi mais rápido e a puxou pelo ombro. Ela encostou a cabeça no peito dele sem desfazer a feição emburrada.
- Eu espero mesmo. – Incoscientemente ela fez um pequeno biquinho. Adorável aos olhos de null. Ele levantou delicadamente o rosto dela para que ela pudesse olhá-lo nos olhos.
- Você sabe que é única para mim e que eu não amo mais ninguém além de você. – Disse cada palavra olhando nos olhos dela para que null pudesse ver a sinceridade ali. A mulher não disse nada, continuou a olhar nos olhos dele, como se estivesse hipnotizada. Beijou delicadamente os lábios de null. Sentiu seu coração acelerar ao sentir os lábios macios dele e as palavras do homem se repetirem em sua cabeça. Ele abriu um pouco a boca, dando passagem para que a língua de null entrasse em contato com a dele. O filme já tinha começado, mas eles não se importaram. O mundo poderia explodir agora que eles não se importariam. Aquele poderia ser o final feliz dos dois.
"Nesse momento... Há 6 bilhões, 470 milhões, 818 mil, 671 pessoas no mundo. Algumas estão fugindo assustadas, algumas estão voltando pra casa, algumas dizem mentiras pra suportar o dia, outras estão somente agora enfrentando a verdade. Alguns são maus indo contra o bem e alguns são bons lutando contra o mal. Seis bilhões de pessoas no mundo, seis bilhões de almas... E às vezes tudo que nós precisamos é de apenas uma."
Ela se sentia completa. Pela primeira vez, depois de muito tempo, ela se sentia feliz consigo mesma. Não era mais a mesma de uns meses atrás, havia amadurecido bastante. Estava feliz com a nova null, era dessa forma que queria ser pelo resto da vida. Depois de ter voltado com null ela tinha feito de tudo para mudar, para ser uma pessoa melhor não só para ela mesma, como para null. Aquilo a estava fazendo bem, não se sentia uma idiota apaixonada. Não achava mais idiota amar alguém. null estava começando a acreditar que amar alguém era quase um dom, poucas pessoas possuíam esse dom. E ela estava disposta a possuir.
null saiu da sua casa e trancou a porta. Após passar uma semana inteira na casa do namorado, havia decido que já era hora de voltar para casa e para o trabalho. Precisava trabalhar e null também. Colocou seus óculos escuros para impedir que os raios solares machucassem seus olhos, arrumou a bolsa no ombro direito e atravessou a rua quando o sinal fechou. Sentia-se mais confiante do que nunca, null se sentia amada e desejada. Sempre fora segura de si, mas dessa vez ela estava ainda mais segura. Sabia que toda aquela sensação era por causa de null, a forma carinhosa como o homem a tratava a deixava assim. Teve a impressão de ouvir alguém a chamando, mas ignorou e continuou a andar. Sabia que null estava no trabalho há essa hora, então não precisava se dar ao trabalho para ver quem era, seja quem fosse não era importante. Sentiu alguém puxar seu braço fazendo com que ela virasse para trás. Era seu primo Mike. Ele segurava seu braço e estava parado na calçada, sorrindo para a prima. null revirou os olhos por detrás dos óculos e puxou seu braço para que Mike o soltasse.
- O que você quer, peste? – Perguntou grosseiramente. Uma coisa que ela não tinha era paciência para lidar com toda a arrogância do primo. Ele até poderia ser lindo, mas isso não quer dizer que ele deveria se achar e dar em cima dela o tempo todo.
- Isso é jeito de falar comigo, priminha? – Usou seu típico tom de voz debochado. null respirou fundo, tentando controlar a raiva que estava sentindo de Mike. Ele era nojento.
- Fala logo, Mike, não estou com tempo pra você. Tenho que trabalhar.
- Eu queria te pedir desculpas pela minha atitude no jantar da casa da sua mãe, não deveria ter feito aquilo. – Por incrível que possa parecer, Mike estava sendo sincero. Não usava mais seu típico tom de voz debochado e não tinha mais todo aquele seu ar arrogante. null nunca tinha visto aquele Mike, ele parecia estar realmente arrependido. Mas não se deixaria levar por aquilo, conhecia o primo e sabia que ele era perigoso. Não queria se deixar levar por aparências.
- Tudo bem, de qualquer forma você não conseguiu o que queria mesmo. Eu e null ainda estamos juntos. – Sorriu vitoriosa. Mike sempre fora apaixonado pela prima e sempre deixou isso claro para todos. Assim como null, ele não sabia como amar. Sua forma de demonstrar o amor para a prima era tentando destruir o relacionamento dela com null – já que era o único que lhe ameaçava, pois ele sabia o quanto null amava null – e dando em cima dela. null não achava que aquelas eram as melhores formas de mostrar para alguém o quanto amava, por isso nunca havia dado chance para o primo. Sua arrogância fazia com que null o detestasse cada vez mais.
- Fico feliz por vocês. – Dessa vez ele não estava sendo sincero e null sabia disso. Mike estava magoado e com raiva. Queria ir até a casa do otário do null e dar um soco no rosto dele, queria deixá-lo deformado. Não conseguia imaginar null novamente com aquele homem, ele não queria! Era egoísta demais para ficar feliz ao ver prima com outro homem que não ele. Mas era ainda mais orgulhoso para deixar que a prima soubesse o quão mal ele estava pela atitude. E por isso preferia fingir ser sincero.
- É claro que está. – Disse debochadamente. E sem esperar por alguma resposta ou se despedir do primo, null virou-se e saiu andando rumo ao Studio. Não queria mais na sua vida pessoas como Mike. Queria mudar e sabia que para começar deveria afastar-se de algumas pessoas.
null desligou o notebook e olhou para o porta retrato que ficava em cima da mesa do seu escritório. Sorriu ao ver a foto. Era uma foto sua com null, ele a abraçava por trás com o rosto encostado no ombro dela, a cabeça de null estava inclinada um pouco para o lado. Ambos sorriam verdadeiramente e estavam felizes. Admirou a beleza da namorada. Várias vezes se perguntava como alguém poderia ser tão belo. null era tão linda que ofuscava a beleza de qualquer pessoa, as outras mulheres eram sem graça perto dela.
Levantou-se da cadeira e checou a hora no relógio de pulso. 19h30min. Provavelmente null já teria terminado a sessão de fotos. Saiu do escritório disposto a fazer uma surpresa para a namorada.
null saiu do Studio exausta. Tinha passado praticamente o dia inteiro fotografando e já estava cansada de ouvir as pessoas a mandarem fazer a pose de um jeito, depois de outro, sorrir, ficar séria. Estava irritada com isso. Só queria ir pra casa tomar um banho e dormir, talvez ligasse para null e o convidasse para dormir na sua casa. Estava precisando mesmo de um carinho. Surpreendeu-se ao ver o carro do namorado parado na esquina do Studio. Sorriu envergonhada ao vê-lo encostado no carro segurando um buquê de rosas azuis. Todos olhavam curiosamente para ele. null o achou mais lindo do que nunca segurando aquele buquê, teve vontade de sair correndo e pular no seu colo.
- O que você faz aqui? – null perguntou envergonhada e docemente quando se aproximou do namorado. null sorriu abobodamente para ela.
- Resolvi te fazer uma surpresa. – Estendeu o buquê de rosas azuis para a mulher. – Trouxe rosas azuis porque um dia você me disse que não gostava muito de rosas vermelhas e que as suas favoritas eram amarelas e azuis. – null mordeu o lábio inferior envergonhada. Pegou o buquê de rosas e sorriu ao olhá-las, eram realmente lindas. null sorriu ao ver a mulher daquele jeito. Era difícil ver null não sendo tão segura de si, ele amava esses momentos em que ela não era tão segura.
- É lindo! – Levantou os olhos e o encarou. null viu nos olhos da mulher um brilho encantador, seu sorriso era tão sincero e singelo que ele se sentiu enfeitaçado por alguns segundos. null estava sendo tão pura.
- Aceita jantar comigo hoje à noite? – Perguntou, puxando-a pela cintura para mais perto de si.
- Só jantar? – Sorriu maliciosamente. null gargalhou, pensando que null realmente nunca mudaroa em algumas coisas. E sinceramente? Ele não queria mesmo que ela mudasse nessas coisas.
- Pode ser muito mais, meu amor! – Prendeu o lábio inferior dela entre os dentes.
- Eu aceito, mas com uma condição: - levantou o dedo e olhou séria para ele. – Só se você levar café da manhã na cama pra mim. – Sorriu marotamente.
- Você venceu! – null puxou null para um beijo. E naquele momento esqueceram-se das pessoas que os olhavam curiosas, com invejosa, admiradas. Esqueceram-se do buquê de rosas na mão de null. A única coisa importante naquele momento eram eles dois e a sensação que cada um proporcionava ao outro.
"Sou só uma garota ferrada tentando encontrar minha paz de espírito."
Entrou em casa irritada. Jogou sua jaqueta de couro preta em cima do sofá e jogou-se no mesmo. Bufou e cruzou os braços abaixo dos seios. Não queria ter que fazer outra viagem idiota por dois meses. Não era justo! Logo agora que ela e null estavam juntos e tudo estava indo tão bem. Não queria ter que ficar longe dele de novo. Tirou os sapatos vermelhos com os próprios pés e deitou no sofá. Aquele seria um dia longo e estressante, ainda teria que conversar com o namorado sobre a viagem. Ele provavelmente não aceitaria tão bem, nunca aceitava tão bem. Em relação às viagens de null, null era extremamente inseguro, em relação à própria null ele era inseguro. Afinal, ele tinha motivos para se sentir assim.
Pegou o celular que estava dentro da bolsa ao seu lado. Digitou uma mensagem rápida para o namorado. Podemos conversar hoje?
null tirou o celular do bolso detrás da calça jeans. No visor do celular estava escrito: ''Uma nova mensagem de null.'' Inconscientemente ele sorriu. Era inevitável sorrir com algo relacionado à null. Mas seu sorriso desapareceu quando leu o que estava escrito na mensagem, começou a se preocupar. Repetia mentalmente para si mesmo que não era nada demais, apenas uma das conversas bobas de null, mas mesmo assim ele não conseguia acreditar nas suas palavras. Tudo bem. Passo na sua casa 20h00min.
Leu a mensagem e depois jogou o celular em cima do sofá. Respirou fundo, prendeu o ar e depois soltou lentamente. Sua cabeça parecia que ia explodir. Teve vontade de ir até Lizzie e esbofetear o rosto dela. Mas ela precisava trabalhar e, por ironia do destino, Lizzie era sua chefa. null não poderia fazer nada a não ser ficar quieta e concordar com o que Lizzie disse. O jeito era ficar na vontade de estar com null e manter-se sã para que não fizesse algo de errado. Não agora que tudo estava indo bem e null estava aos poucos confiando nela. Aquele era o momento de mostrar a ele que era digna de confiança.
Levantou-se do sofá decidida a convencer null de que tudo iria ficar bem, era só uma questão de tempo. Foi até a cozinha e tomou um comprimido para dor de cabeça.
null apertou o interfone e esperou impacientemente até que fosse atendido por Carlisle. Suas mãos estavam trêmulas, ele não sabia por quê. Ou talvez soubesse e só estava ignorando. Sentia náuseas, queria vomitar todo o almoço no portão da casa de null mesmo. Estava suando frio, sua testa estava úmida de suor, ele estava gelado. O que estava acontecendo com ele? null realmente o deixava doente.
- Senhor null? – Ouviu a voz do porteiro lhe chamar pela terceira vez. Estivera tão concentrado nos seus sintomas que não estava prestando atenção em nada mais. Com as costas da mão limpou o suor da testa.
- Boa noite, Carlisle. A null está?
- Está sim, ela está te esperando. – Carlisle abriu o portão e então null entrou. Cada passo que dava parecia que iria cair. Ele tinha medo do que null poderia dizer. Não adiantava mentir para si mesmo, sabia que era algo sério e que não iria gostar de ouvir. null teve um Déjà vu. Alguns meses atrás null havia mandando uma mensagem para ele dizendo a mesma coisa, que precisava conversar com ele. null foi até a sua casa sentindo exatamente a mesma coisa que estava sentindo agora. null lhe disse que iria viajar a trabalho. E mais uma vez ele sentiu medo do futuro. Afinal, o que ele poderia esperar de um relacionamento com null? Certezas? Seguranças? Respeito? Sinceridade? null sabia desde o início quando se envolvera com a mulher que essas coisas ele nunca teria em um relacionamento com ela. Por que agora seria diferente? Já deveria ter aprendido na primeira vez. Mas null tinha essa terrível mania de querer salvar as pessoas. Quando ele ia aprender que só pode salvar alguém que quer ser salvo?
Abriu a porta da sala e adentrou no cômodo. Estava silencioso, exceto pelo barulho da TV que vinha do andar de cima. Fechou a porta e subiu a escada, seguiu o barulho da TV que vinha do quarto de null. A porta do quarto estava entreaberta e ele podia ver pela fresta null deitada na cama usando somente a blusa do homem. Abriu um pouco a porta silenciosamente e encostou-se ao batente da porta. Olhar para a namorada deitada desajeitadamente em cima da cama assistindo a Gossip Girl era uma das coisas que o fazia esquecer todas as coisas ruins que sentia em relação a ela. Vê-la daquela forma tão simples e sem máscaras, apenas sendo a sua null, o fazia lembrar-se do porque ele não desistir desse relacionamento confuso. Ele a amava demais para tentar ficar longe dela.
Pigarreou, atraindo a atenção de null. A mulher virou o rosto para olhar para null e, assim que o viu parado na porta a admirando, sorriu de uma forma tão encantadora que fez null sorrir de volta. Levantou-se da cama rapidamente, foi até o namorado e o beijou carinhosamente, abraçando-o pelo pescoço enquanto ele a envolvia pela cintura.
- Boa noite. – Disse com uma voz infantil assim que quebraram o beijo. O homem riu, achando graça da forma como ela agia.
- Boa noite, meu amor. – Beijou carinhosamente a testa dela.
- Nossa! Você está gelado, o que aconteceu? – Perguntou preocupada enquanto colocava a mão sobre a testa dele, checando a temperatura.
- Só um mal estar, nada de mais. – Tentou parecer firme para não preocupá-la ainda mais.
- Tem certeza? – Insistiu, ainda não muito convencida.
- Sim, meu amor. – Puxou-a para um abraço e beijou o topo da sua cabeça. Por algum motivo null sentiu seu peito diminuir e seus olhos arderem. Não estava nada bem. – O que você queria falar comigo? – Perguntou casualmente, tentando não demonstrar que já sabia o que era e que estava chateado por isso. Sentiu o corpo de null ficar rígido. null estava certo, ela iria realmente viajar. null afastou-se dos braços do homem e o puxou pela mão até a cama, sentaram-se um de frente para o outro. null não estava mais sorrindo e não estava mais preocupada, agora estava dividida entre a aflição e a tristeza. Por que uma coisa tão simples podia causar tanto tumulto? Era apenas uma viagem a trabalho, nada de mais. Seria nada de mais se essas viagens não se transformassem em sexo, drogas, se null não sumisse por meses. Seria nada de mais se null realmente fosse só a trabalho.
- A Lizzie disse que eu teria que viajar a trabalho. – Disse logo de uma voz após reunir toda a sua coragem para contar. Mas faltou coragem para encará-lo.
- Dois meses, eu acho. – Escutou null prender a respiração. Aquilo era um péssimo sinal.
- Você vai? – Ele torceu para que ela dissesse que não iria. No fundo sabia que ela não iria dizer.
- Eu preciso ir, é o meu trabalho. – Finalmente null o encarou. Mesmo já sabendo a resposta, null não pode deixar de se sentir decepcionado.
- Você sabe o que eu penso a respeito dessas suas viagens, não é? – null abaixou a cabeça, envergonhada, e ficou mexendo na sua perna. Permaneceu assim por um tempo, depois voltou a levantar a cabeça e a encará-lo. null continuava na mesma posição a encarando, esperava por uma resposta.
- Eu sei. Mas acredite em mim, null, dessa vez é diferente. – Tentou ser o mais sincera possível para mostrar a ele que agora era uma nova null e que não voltaria a cometer aqueles mesmo erros estúpidos.
- Eu queria mesmo acreditar em você, null, mas fica difícil quando você sempre usa as mesmas palavras e suas atitudes não coincidem com o que você diz.
- Me dá mais uma chance, por favor! Me deixa mostrar que eu mudei. – Pegou a mão do homem e entrelaçou seus dedos nos dele. null olhou para null e depois para suas mãos entrelaçadas. O que ele poderia dizer? Amava aquela mulher e faria qualquer coisa por ela. null realmente estava mostrando que tinha mudado e toda aquela história com Phillip não tinha sido culpa dela. Não via motivos para não dar mais uma chance a ela.
- É a última, null, eu espero que você valorize. – A mulher sorriu radiante após ouvir as palavras dele. Soltou a sua mão da dele e sentou no seu colo.
- Eu amo você. – Sussurrou no ouvido dele, fazendo com que os pelos de null se arrepiassem. Sem esperar por alguma resposta dele, beijou rapidamente seus lábios, iniciando um beijo carregado de desejo.
- Uma qualidade? – null perguntou sorridente. Estava deitada na cama com null, sua mão estava entrelaçada com a dele. Ambos estavam nus e acariciando-se.
- Carinhosa. – O homem respondeu e depois beijou carinhosamente a testa dela.
- Um defeito. – Dessa vez ela perguntou seriamente. Sabia que seus defeitos eram muitos e detestava todos eles.
- Egoísta. – null fez um careta, fazendo com que a mulher risse achando fofa a careta dele. Mordiscou o lóbulo da orelha dele e sorriu satisfeita quando ele estremeceu. – Agora é a sua vez. Uma qualidade.
- Paciente. – Entrelaçou sua perna com a dele.
- Um defeito.
- Teimoso. – Foi a vez de null fazer uma careta. null virou-se para o lado, ficando em cima dela. Encararam-se seriamente. Cada um tentando adivinhar o que o outro estava pensando. Cada um tentando entender seus sentimentos tão intensos. null acariciou um lado do rosto de null, o homem fechou os olhos e descansou a cabeça nas mãos dela ao sentir o toque da mulher. null admirou a beleza de null. Ele era tão lindo. Seu físico o tornava lindo, seu interior o tornava maravilhoso. Ele com certeza era uma das pessoas mais generosas que havia conhecido, ele era tão bom para ela.
- Eu te amo com todas as suas qualidades e defeitos. – Ela disse a primeira coisa que passou na sua cabeça. Ficou contente em saber que era uma coisa boa e verdadeira. Viu null sorrir feliz com o que ela disse e permitiu-se sorrir também. Ele abaixou o rosto para beijá-la.
- Eu te amo mais que tudo. – Disse entre o beijo.
Eu nunca pretendi lhe causar problema, eu nunca quis te fazer mal. E se eu alguma vez lhe causei problema… Oh, não! Eu nunca pretendi te machucar.
null jogou a guimba de cigarro na rua. Sabia que null brigaria com ela se a visse fumando. Mas ela estava tão nervosa que sentia que precisava fumar um cigarro na sacada do quarto ou iria enlouquecer. Iria viajar amanhã e sentia que poderia surtar a qualquer momento. Queria mais do que nunca continuar na sua cama ao lado de null e esquecer essa viagem idiota, mas era inevitável. A verdade é que null estava com medo de não conseguir manter sua promessa a null. Ela tinha medo dela mesma.
Sentiu null abraçá-la pela cintura e encostar a cabeça na curvatura do seu pescoço. Prendeu a respiração e mordeu os lábios quando ele respirou o seu perfume. Sabia que ele iria descobrir que ela tinha fumado e então saberia o porquê de estar nervosa. Não queria entrar naquele assunto novamente, já estava exaustivo.
- Você andou fumando, null? - null perguntou, afastando-se da mulher quando sentiu o odor do cigarro. Detestável.
null abaixou os olhos, sentindo-se culpada.
- Eu estava nervosa, me desculpe. - Ele teve vontade de rir ao vê-la falar daquela forma com os olhos abaixados. Parecia realmente uma criança. Mas não conseguiu rir. Sabia que null estava nervosa demais a ponto de estar fumando, ela sabia o quanto null odiava quando fumava.
- O que está acontecendo, meu bem? - Ele perguntou, voltando a abraçá-la.
Dessa vez null encostou a cabeça no seu peito e ele acariciou o cabelo desgrenhado da mulher. Ela teve vontade de chorar. Sentia-se insegura. Queria tanto não ser o tipo de pessoa imprevisível e impulsiva, queria saber se controlar.
- Estou com medo dessa viagem, estou com medo que tudo mude entre nós. - Confessou sem receio.
null a apertou ainda mais contra o seu corpo. Ele também estava com medo.
- Não precisa ficar com medo, você mesma me disse que iria voltar para mim e que seria somente trabalho. Não é mesmo? - Perguntou mais para garantir a si mesmo do que para confortá-la.
- Sim, é verdade. - O que mais ela poderia dizer? Nada. Como falar para o homem da sua vida que você não tem certeza se pode cumprir com a promessa? Como explicar a ele que é tão impulsiva a ponto de trai-lo e fugir novamente?
O vento gélido fazia os pelos do seu corpo arrepiarem-se. Tentou abraçar-se para esquentar-se, mas não conseguiu com muito sucesso devido às cinco sacolas que carregava em cada mão. null resolvera deixar o cigarro de lado e ir fazer compras para a viagem. Tinha esperanças que poderia se distrair e esquecer a ansiedade. Mas não foi exatamente o que aconteceu. Suas compras foram um fracasso já que ela estava comprando a primeira coisa que via e sua ansiedade não tinha ido embora.
Sentou-se no banco de madeira que ficava no meio do parque, colocou as bolsas ao seu lado em cima do banco e ficou observando duas crianças brincarem. Era uma menina branca e um menino negro. A luz do sol refletia no seu cabelo dourado, deixando-a encantadora. O menino tinha todo um cuidado especial com a menina. Eles pareciam felizes. Naquele momento null desejou ser mãe. Seu desejo fez com que se lembrasse da conversa que tivera dias atrás com null. Era uma tola por ter dito aquilo! Agora ela via claramente o quanto queria formar uma família com null, só não enxergava isso devido ao seu medo. Seu medo idiota não permitia que ela enxergasse coisas tão simples como essas. Teve vontade de ir até null e contar do seu desejo de formar uma família com ele, beijá-lo apaixonadamente. null riu boba, imaginando toda a cena. Achou que estava sendo patética demais ao imaginar coisas assim, ela nunca fora desse jeito, coisas assim não combinavam com null. Mas era isso que o amor fazia com as pessoas, né? Tornava-as pateticamente apaixonadas e mudavam-as para melhores. Naquele momento null teve a certeza de que não precisava ter medo de suas atitudes, ela amava null e sabia que não iria fazer absolutamente nada para machucá-lo. Dessa vez ela realmente seria só dele. E voltaria para ele.
null virou-se para o outro lado na cama, abraçou o travesseiro e sorriu ao sentir o perfume de null impregnado no seu travesseiro. Não queria estar sozinho naquela cama no momento, queria que null estivesse ao seu lado, abraçada com ele. Aquele era o último dia que teriam juntos, amanhã ela iria viajar e sabe-se lá quando voltaria. Queria ficar com ela naquele dia, mas preferiu deixá-la sozinha para preparar as coisas para sua viagem. Foi uma decisão difícil, mas não poderia negar que também precisava de um momento sozinho para pensar. Ele pensou várias vezes em ir até ela e pedi-la para não ir, porém não o fez. Sabia que aquilo seria injusto e poderia prejudicá-la, era o seu trabalho. Antes de conhecê-la sabia que ela era modelo e mesmo assim aceitou isso. Não poderia mudar de opinião agora.
Levantou-se da cama apressadamente. Tudo bem que ele não poderia mudar de opinião, mas poderia arrumar um motivo para fazê-la voltar. E era isso que ele estava disposto a fazer. Arrumar um motivo para mostrar a null que ela deveria voltar, pois o seu lugar era ao lado dele, afinal, que homem a amaria como ele a ama?
null tocou a campainha da casa de null e ficou esperando até que ele atendesse. Olhou para seu corpo, tentando ver se o vestido estava realmente bom no corpo. Não teve tempo de escolher uma roupa melhor, null tinha deixado claro na mensagem que a queria 20h00min em ponto na sua casa e bem vestida. null tinha recebido a mensagem 19h00min e nem tinha tomado banho ainda! Queria tanto que null não avisasse as coisas em cima da hora.
- Boa noite! – null disse animado, assim que abriu a porta da casa e viu null parada ali olhando para o seu vestido. A mulher levantou o rosto e fixou seus olhos nele. Aos olhos do homem, ela estava maravilhosa vestida daquela forma. Sua maquiagem que não era muito forte e nem muito fraca, realçava ainda mais a sua beleza. Seu cabelo castanho estava com cachos nas pontas que caiam perfeitamente na altura do seu busto. Estava mais linda do que nunca.
- Boa noite, meu amor! – null o abraçou pela cintura e lhe deu um selinho. Permitiu deliciar-se com o aroma do perfume do namorado. Assim como ela, null também estava lindo. Usava uma calça escura, uma blusa xadrez vermelha, e nos pés, vans preto. Ela amava quando ele usava blusa xadrez.
- Ansiosa para a surpresa? – Perguntou enquanto adentrava na casa, mas antes que null chegasse à sala de jantar null virou-se rapidamente e tampou os olhos dela. A mulher tentou tirar a mão dele do seu rosto, mas ele era mais forte e não permitiu.
- null, me deixa ver! – Choramingou, tentando tirar a mão do namorado.
- Nada disso, vai estragar a surpresa. – Disse, enquanto a guiava cuidadosamente até a sala de jantar.
- Mas eu vou morrer de ansiedade! – Ele riu com o drama exagerado da mulher e beijou carinhosamente o cabelo dela.
- Pronto. – Tirou a mão que cobria os olhos dela e as enfiou no bolso da calça. Os olhos de null brilhavam, devido às lágrimas acumuladas. Era realmente encantadora a surpresa. A mesa da sala de jantar estava com uma toalha vermelha, velas decoradas e perfumadas, lasanha (sua comida favorita) e vinho, pratos, talheres e duas taças. A sala estava toda decorada com fotos deles, corações e frases românticas. No chão tinha pétalas de rosas azuis e amarelas (as favoritas de null). Brighter Than Sunshine começou a tocar no som. Sentiu uma lágrima escorrer, mas não se preocupou em limpá-la. Ninguém nunca tinha feito algo assim para ela. Ninguém nunca tinha amado e olhado para ela da forma como null fazia. A maioria das pessoas olhava a criticando ou desejando. Mas null não. Ele sempre tinha um olhar admirador, carinhoso, paciente e malicioso. Ele sabia ser tudo ao mesmo tempo.
– E então... Gostou? – Perguntou hesitante, devido ao silêncio da mulher. null virou-se para ele e sorriu verdadeiramente. A luz da vela refletia no rosto de null, seus olhos estavam cor de mel e seu cabelo tinha fios dourados. Naquele momento null tinha certeza apenas de duas coisas: Que ela o amava e que ali era o seu lugar.
- Preciso mesmo dizer que é a coisa mais linda e romântica que fizeram por mim? – Apontou para a lágrima que estava descendo dos seus olhos. Eles riram compartilhando do mesmo sentimento. Ela mordeu o lábio inferior e olhou no fundo dos olhos de null, ele correspondeu na mesma intensidade do seu olhar.
- Eu fiz tudo isso para você ter um motivo para voltar. Pra você saber que mesmo longe de mim, eu continuo te amando da mesma forma e vou estar te esperando. – Disse um pouco envergonhado. Após ouvir as palavras do namorado, ela ficou alguns minutos em silêncio perguntando-se se realmente merecia alguém como ele.
- Não precisava fazer isso só pra eu ter um motivo pra voltar, null. Eu já tenho um motivo para voltar. O meu motivo é você. Eu te amo muito e não quero mais ficar longe de você, gosto de estar com você exatamente da forma como estamos: bem. Hoje eu estava no parque observando duas crianças brincando e sabe o que passou na minha cabeça? O quanto eu quero ser mãe, o quanto eu quero formar uma família com você. Loucura eu pensar isso do nada né? Mas na verdade não foi do nada. Eu sempre quis isso, eu sempre te amei. Mas o meu medo não me deixava enxergar isso, o meu mau jeito não permitia que eu te amasse da forma como você merece. Mas eu quero aprender a te amar do jeito certo, não desse meu mau jeito, desse jeito todo errado, entende? Estou te confundindo, né? – Mordeu o lábio inferior, estava um pouco sem graça por estar falando demais. null balançou a cabeça, negando a pergunta dela. – O que eu quero te dizer é que eu vou voltar pra você, porque eu te amo.
Eles não disseram mais nada. Apenas olhavam-se profundamente. Palavras naquele momento não eram necessárias. Seus olhares já diziam tudo, eles poderiam ver claramente o que cada um sentia e pensava. Estavam ali sendo transparentes. E no momento, nenhum deles tinham medo. Estavam certos do que sentiam e do que o outro sentia. null teve certeza que naquele momento o seu sentimento era recíproco.
Ela estava parada em pé na ponta da cama. Tinha um sorriso mínimo nos lábios e seus olhos brilhavam de admiração. null nunca havia amado alguém além do seu pai, ninguém, nem mesmo sua mãe. Mas ao ver null deitado de bruços na cama, os fios do cabelo cobrindo o rosto, a boca entreaberta, o peito subindo e descendo de acordo com a sua respiração, os braços definidos e perfeitos espalhados pela cama, ela sabia que o amava. Não pelo seu físico, pela sua beleza, mas porque se encantava com pequenas coisas, como essa; vê-lo dormir. A verdade é que null sempre o amou, talvez até mais que ele, e por isso ela fugia. Ela se assustava com a intensidade dos seus sentimentos.
Sentou-se na cama e alisou a perna de null. O sorriso ainda permanecia nos seus lábios. O homem remexeu-se e respirou profundamente. A mulher reprimiu uma risada e continuou acariciando a perna dele. Lentamente, null foi abrindo os olhos, ainda estava escuro.
- Ei. - Ele disse com a voz grogue. - Vem pra cá, ainda tá muito cedo. - Bateu no espaço vazio ao seu lado. null riu e engatinhou até o espaço vazio ao lado de null. Deitou ao lado dele e abraçou a sua cintura, colocou o rosto na curvatura do pescoço dele e respirou o perfume dele. null estava cheirando a sabonete e loção masculina. Para null, era delicioso.
- O carro vem me buscar daqui a trinta minutos. - null disse após alguns minutos em silêncio. null não disse nada, apenas suspirou. O assunto da viagem era algo que incomodava os dois.
- Você vai mesmo? - Perguntou, mesmo sabendo que era uma pergunta idiota. Era óbvio que ela iria, era o trabalho dela e ela já estava arrumada e com as malas prontas. null perguntou-se mentalmente se não estava sendo infantil e dramático. Era apenas uma viagem a trabalho, ela não iria se mudar. Mas quando o assunto era null, null sempre era infantil e dramático.
- Eu vou voltar. - Respondeu, deixando claro a sua decisão. null apenas assentiu com a cabeça. null beijou o lóbulo da orelha dele e sussurrou: - Eu te amo. - O homem sorriu e virou-se para ela.
- Eu te amo mais. - Puxou a mulher para um beijo. Aproveitaram o máximo que puderam daquele beijo, sabiam que iriam ficar bastante tempo sem ter de volta. Iriam sentir saudades da boca de cada um, do gosto do beijo, das brincadeiras com a língua, dos corpos se tocando, das mãos passando pelo corpo. Ouviram uma buzina do lado de fora. Separaram o beijo e bufaram irritados por terem sido atrapalhados. null levantou-se da cama e vestiu uma blusa e uma bermuda que estava no chão do quarto. - Eu vou te ajudar com isso. - Ele pegou as duas malas de null que estavam encostadas na parede, a mulher sorriu agradecida para ele e saiu do quarto com ele atrás.
O motorista ajudou null a colocar as malas dentro da mala do carro. null estava encostada no carro, olhando para a casa. Era madrugada, deveria ser 04h30min no máximo, o céu ainda estava escuro. O homem aproximou-se dela e parou a sua frente, ficando entre as pernas dela.
- Não me esquece, tá? – Pediu, olhando dentro dos olhos dela e segurando carinhosamente o rosto dela em suas mãos.
- Nunca! – null beijou a ponta do nariz dele.
- E não me abandona.
- Eu vou voltar para você, meu amor. – Dessa vez era ela quem olhava dentro dos olhos dele. O homem sorriu um pouco mais tranquilo e beijou os lábios dela.
- Vai com Deus. Eu te amo. – Acariciou o rosto dela, null fechou os olhos por um momento, maravilhando-se com o carinho do namorado, e logo voltou a abrir.
- Fica com Deus. Eu te amo demais. – Despediram-se com um abraço e um beijo. null entrou no carro, seus olhos estavam presos em null, assim como os dele. Tudo bem que ela iria voltar, mas ainda assim eles iriam sentir muita falta.
Lizzie estendeu a chave do quarto de null a ela. Estavam na recepção do Hotel Luxer, já em Amsterdam. A viagem tinha sido tranquila, null tinha dormindo na maior parte do tempo. O que foi estranho, já que ela raramente conseguia dormir nas viagens. Chegou ao hotel e ainda sentia-se exausta.
- É melhor você ir para o seu quarto e descansar, amanhã você tem que se preparar para o desfile. Vou pedir alguém para levar suas malas. – Lizzie disse rudemente, sem encarar a mulher. null pegou a chave sem dar importância para atitude da mulher, já estava acostumada a ser tratada assim. Virou-se em direção ao elevador e entrou. Apertou o número do andar e viu seu reflexo no espelho. Seus olhos estavam inchados e com olheiras, ela tinha um aspecto de cansada. Talvez fosse o estresse. A porta do elevador abriu e ela saiu, seguiu o corredor à esquerda e destrancou a porta da sua suíte número quinhentos e cinco. A mulher entrou na imensa suíte, trancou a porta e jogou sua bolsa em cima da cama. Tudo o que pensava era em deitar naquela cama macia e dormir. Sentiu um cheiro de perfume doce que vinha do corredor, parecia ser tão forte que ela sentiu-se nauseada. Fez uma careta e fechou os olhos tentando reprimir a ânsia, sem conseguir conter-se tampou a boca e correu até o banheiro. Abriu a porta desesperadamente quando sentiu o gosto amargo na sua boca, levantou a tampa do vaso e ajoelhou-se em frente a ele. Debruçou-se em cima do vaso e vomitou. Sua cabeça parecia que ia explodir e tudo que null pensava era no que poderia ter comido que a fizesse passar mal. Mas não conseguia lembrar-se de nada.
null remexeu-se na cama tentando pegar no sono, mas não conseguia. Estava desacostumado a dormir na sua cama tão grande e vazia, estava desacostumado a dormir sem o calor do corpo de null. Bufou irritado e levantou-se da cama, foi até a sacada do seu quarto e ficou ali olhando para a lua. O céu estava estrelado, era provável que amanhã seria um dia ensolarado. null achou a lua tão linda, ela estava tão branca e grande. Geralmente ele gostava de quando a lua ficava com a cor alaranjada, mas dessa vez ele preferiu aquela cor. Fazia-o lembrar-se da pele de null e o fez desejar tocá-la. Seus lábios tremeram e seus olhos encheram de lágrimas. A verdade era que, por mais que null tenha mudado e tenha lhe prometido que iria voltar, ele não conseguia confiar nela e agarrar-se à promessa dela. Agora que ela estava em Amsterdam, a realidade voltava à tona. Quantas vezes null tinha lhe prometido a mesma coisa? E quantas vezes ela cumpriu? Quando voltava, ela sempre estava diferente e era exatamente isso que ele temia. Ele sabia que ela iria voltar, mas tinha medo que a sua null não voltasse. As lágrimas começaram a rolar pelo seu rosto, alguns poderiam achá-lo dramático ou sentimental demais. null não se importava. Ele sabia que essa não era a verdade. A verdade era que ele estava com medo. Medo de perder null. Ele tinha medo de não conseguir mais perdoá-la pelos seus erros, tinha medo de se cansar dela.
null agradeceu mentalmente a Deus quando a sessão de fotos tinha acabado. Ela estava exausta e impaciente. Foi até o bebedouro e encheu o copo d’água, sentia sua boca seca e estava faminta.
- null, nós vamos sair, está afim? – Matthew perguntou de um jeito alegre. null sabia que ele só estava assim porque iria sair e encher a cara, era tão típico dele e de seus outros amigos. Mas a verdade é que null estava cansada de momentos como aquele, ela só queria deitar na sua cama ao lado de null.
- Acho que não, estou exausta. Vou deitar um pouco e assistir um filme. – Matthew a encarou, surpreso com o que ela disse. Aquela resposta não era típica dela.
- O mundo está acabando, é isso? Desde quando você recusa uma noitada? – A mulher sorriu um pouco envergonhada e balançou a cabeça.
- Eu estou um pouco cansada, só isso. – Jogou o copo na lixeira e saiu do estúdio sem se despedir ou esperar que Matthew dissesse alguma coisa, estava cansada e impaciente demais para isso. Talvez ela finalmente estivesse amadurecendo.
Despertou com o seu celular tocando. Resmungou um palavrão por ter sido acordado às três e meia da manhã e pegou o celular que estava ao seu lado na cama. Teve dificuldade para enxergar o que estava escrito, mas quando leu o nome de null no visor do celular ele sorriu.
- Oi. – Disse com a voz grogue de sono, mas ainda tinha um sorriso débil no rosto. Falar com null sempre lhe fazia bem.
- Acordei você? – Perguntou com a voz manhosa.
- Sim, mas não tem problemas. – Ouviu a mulher fungar do outro lado da linha. – Ei, o que aconteceu?
- Eu sinto tanta a sua falta. – Disse com a voz chorosa.
- Eu também sinto, meu amor, mas logo nos veremos. Onde você está? – Torcia mentalmente para que ela dissesse que estava no hotel.
- No meu quarto do hotel. – null sorriu aliviado.
- Por que não saiu hoje?
- Ah, me chamaram... Mas eu queria ficar conversando com você. – O mesmo sorriso débil de antes apareceu no rosto de null. Então era isso, ela realmente estava mudando. Não tinha mais por que se sentir inseguro, null estava dando o seu melhor por eles. E quando null começou a contar o quão irritada estava por causa da sua sessão de fotos demorada, null riu e pensou o quanto ele amava aquele garota. Agora ele realmente não se importava de ter sido acordado às três e meia da manhã.
"Eu protegi o teu nome por amor. Em um codinome, Beija-flor. Não responda nunca, meu amor, pra qualquer um na rua, Beija-flor"
"Não sou assim, amor. Foi só uma maré ruim. Perdoa o drama e não desiste de mim."
Assim que a sessão de fotos terminou, null correu para o banheiro do estúdio. Seu estômago estava embrulhado e sua cabeça doía. Trancou a porta do banheiro e ajoelhou-se em frente ao vaso sanitário. E pela terceira vez naquela semana, ela vomitou. Aquilo estava começando a irritá-la. null odiava vomitar, ainda mais quando isso acontecia sempre. Estava evitando comer coisas gordurosas ou que pudessem fazê-la passar mal, mas ainda assim ela sentia-se enjoada.
Deu descarrega e abaixou a tampa do vaso sanitário, abriu a torneira e molhou o rosto. Espantou-se com o seu reflexo no espelho. Sua maquiagem estava borrada e ela estava pálida e com olheiras. O que estava acontecendo com ela? Aquela não era a null. Fechou a torneira, secou o rosto e abriu a porta do banheiro. Fotógrafos e modelos estavam encostados na parede a esperando, ficaram preocupados quando a viram sair correndo para o banheiro, mais uma vez. null sorriu forçadamente para eles e timidamente aproximou-se deles, estava apenas esperando a primeira pergunta.
- Está tudo bem? - Blake perguntou, visivelmente preocupada.
- Sim, só estava um pouco enjoada. - Pegou sua bolsa que estava em cima de uma cadeira, ao lado de Blake.
- De novo? - Matthew perguntou, sem se importar se seria inconveniente.
- Sim, Matthew, de novo. Algum problema com isso? - Perguntou grosseiramente, irritando-se com a pergunta do amigo. null não suportava esse jeito inconveniente de Matthew, ela o adorava, mas ele quase sempre a irritava.
- Nenhum problema, null, me desculpe. Eu só estou preocupado. - Ele disse, chateado. null sentiu-se mal, não deveria ter sido tão grosseira com ele por motivos tão bobos.
- Tanto faz, eu estou bem. - Pegou sua bolsa que estava em cima da cadeira e retirou-se do estúdio sem pedir desculpas a Matthew ou despedir-se de alguém. Sabia que aquela foi uma atitude ruim, mas seria pior se continuasse ali. Talvez pudesse brigar com alguém, o que seria pior.
Ele saiu da empresa olhando para a pasta que estava em suas mãos. Mesmo saindo do trabalho, ele ainda teria que trabalhar em casa, só de pensar nisso null já ficava com preguiça. Mas trabalhar era bom para ele, só assim ele não pensava em null o tempo todo e na saudade que sentia dela. Sentiu um baque no seu ombro quando trombou em uma pessoa.
- Desculpa. – Pediu, sem ao menos olhar para ver em quem ele tinha batido.
- null? – Ouviu a voz de uma mulher lhe chamar. Levantou os olhos para ver quem lhe chamava, surpreendeu-se ao saber que a dona da voz era Audrey. – Quanto tempo! – Ela o abraçou e beijou o rosto dele como se nada tivesse acontecido entre eles. Como se null não a tivesse trocado, mais uma vez, por null. Como se ele não estivesse muito sem graça ao reencontrá-la. Ele sorriu forçadamente e enfiou uma das mãos no bolso da calça preta.
- Oi Audrey, como você está? – Odiou-se por ter sido tão formal. Mas não sabia como agir perto dela. A mulher riu, notando o nervosismo dele, mas não comentou nada sobre o assunto.
- Estou bem, e você?
- Também. – Um silêncio constrangedor prolongou-se entre eles. null detestava isso. Por mais que ele e Audrey não estivessem mais juntos, ele ainda sentia um carinho por ela, Audrey teve um papel muito importante na vida dele e foi muito amiga dele. Não queria que situações assim acontecessem com pessoas como Audrey.
- Ainda está com null Bertolli? – Ela não resistiu e perguntou. Mordeu o lábio inferior e xingou-se mentalmente por ter perguntado aquilo. Não queria ser inconveniente ou dar a entender que ainda sentia algo por ele.
- Sim. – Ele sorriu sem ao menos se dar conta, mas quando percebeu tentou disfarçar. – Ela... – Pigarreou, sentindo-se um pouco sem graça sobre o que iria falar. – Está viajando a trabalho, mas volta logo. – Ela viu a cara que Audrey fez quando ele terminou de falar. Ela o olhou como se dissesse: "Você ainda acredita nisso?" Ele se arrependeu de ter dito aquilo no mesmo momento.
- Bom, eu preciso ir embora. Foi um prazer te ver. – Audrey conhecia null o suficiente para saber que ele não iria gostar de escutar o que ela iria dizer. Como: Que null era uma vadia manipuladora que não se importava com ele e que era óbvio que ela não iria voltar, e ele era um idiota por tê-la trocado por uma vadia como ela. Mas ela não disse, apenas sorriu com tristeza e despediu-se dele. Ela teve muita vontade, mas não tinha coragem. Audrey sabia o quanto null amava null e o amava o suficiente para não querer magoá-la. Era óbvio que um homem como null merecia alguém melhor, mas não seria ela que iria lhe dizer aquilo.
null saiu da sorveteria recebendo olhares tortos. Fazia muito frio e ela era a única pessoa que tomava sorvete, até ela achava estranho. Mas estava com um desejo tão grande de tomar sorvete que não desistiu. Pensou que talvez a acalmasse. Sentou no banco de madeira de um parque qualquer. Ela batia o queixo de frio e esfregava uma perna na outra, tentando, em vão, esquentar-se. Teve uma súbita vontade de chorar e não sabia ao certo por quê. Talvez fosse porque estava carente. Mas nunca tinha se sentido assim antes, quando viajava ela não ficava pelos cantos se lamentando ou pensando em null o tempo todo. Sempre saia com os seus amigos e curtia as noites. Mas agora as coisas estavam diferentes, ela não tinha mais vontade de fazer nada daquilo. Andava tão sensível e estressada, talvez fosse a TPM. De acordo com as suas contas, sua menstruação viria na semana que vem. null fechou os olhos e suspirou. Ela só queria sentir-se bem, não aguentava mais sentir-se triste.
Sentiu sua bolsa vibrar e rapidamente ela a abriu a procura do seu celular. Assim que o achou, embaixo de muitas coisas, ela o pegou e sorriu aliviada quando viu o nome de null escrito no visor. Parecia que ele sabia exatamente quando ela estava mal.
- Oi! – Disse animada assim que atendeu a ligação. Só ao falar com ele null já se esquecia de que estava mal.
- Oi null, como você está? – null estranhou a aflição na voz dele, ela o conhecia tão bem que sabia exatamente como ele estava.
- Estou bem e você? – Perguntou, desconfiada. Levantou-se do banco e foi até a lixeira jogar o potinho do sorvete fora.
- Também. O que está fazendo? – Ele parecia desesperado para procurar algum assunto. O coração de null apertou e ela sentiu que tinha algo muito errado acontecendo. Perguntou-se mentalmente se era assim que null se sentia quando ela o ligava, bêbada, dizendo que o amava e sentia a sua falta após ter beijado outro homem.
- Nada, estou sentada no parque pensando em nada. – null murmurou algo. null ouviu sua respiração pesada. – Você está bem? – Ouviu-o suspirar do outro lado da linha. null cravou sua unha na palma da sua mão, estava ficando muito nervosa e de repente estava com calor.
- Não. – Admitiu receoso. Não sabia se seria bom falar sobre o seu reencontro com Audrey para null, não sabia ao certo como ela iria reagir, mas não gostava de omitir as coisas para ela.
- O que houve? – Tentou usar um tom de voz que o tranquilizasse, mas não acreditava que aquilo seria possível.
- Eu encontrei com a Audrey. – null gelou. Dessa vez o seu coração estava batendo rapidamente.
- O QUÊ? – Gritou, espantando algumas crianças que estavam perto dela. Um casal de idosos a olhou feio, mas ela ignorou.
- Eu estava saindo da empresa e encontrei com ela, conversamos um pouco... – null sentiu ainda mais raiva quando o ouviu dizer que eles conversaram.
- Você conversou com ela? Eu não quero falar com você. – Desligou o telefone sem esperar alguma explicação da parte dele, ou só estava sendo infantil demais. Estava tão cega de ciúmes que tinha vontade de pegar um avião e ir até null e Audrey e espancar os dois. Para null não era justo que null falasse com Audrey e muito menos a visse. Pela primeira vez ela sentia-se insegura. Tinha medo de que Audrey aproveitasse que ela estava longe e roubasse null dela para sempre. Somente ao pensar nessa possibilidade seus olhos encheram-se de lágrimas. Sentiu-se sem chão e perdida, e sem perceber já estava chorando. Sentou-se no chão do parque sem se importar com os olhares que recebia e chorou ainda mais. Tudo o que ela não queria era perder null, não agora e nem depois. Ela precisava dele mais do que nunca, ele lhe dava forças, ela estava bem dessa forma com ela. Não poderia permitir que uma vadia o roubasse dela. Seu celular vibrou novamente, era null, mas ela não atendeu. Não se importava se estava sendo dramática, eram os seus sentimentos.
"E eu, que fico à flor da pele, sem querer. Eu tenho um coração vulcânico e sempre acabo errada. Não, não diga que eu lhe trato mal, eu tento tanto te fazer feliz, mas acontece que eu sou desastrada. Não, eu nunca quis te machucar. Prometo pra você deixar de cena. Acho que eu só quero ser amada."
"Porque a garota que você quer, ela estava nos separando. Porque ela é tudo, tudo que eu não sou."
Jurava que seu corpo estava congelado. Sentia tanto frio que seu queixo não parava de bater e o barulho dos seus dentes batendo a irritava. Mas qualquer coisa naquele momento a irritava, inclusive ela. Já tinha anoitecido e null permanecia sentada no mesmo lugar. Desligou o celular, cansada de escutá-lo tocando, ela não queria falar com ninguém, é difícil entender isso? Não tinha mais ninguém no parque, somente ela. Assim era bom, não queria ter que ver algum olhar torto ou escutar algo sobre ela. Levantou-se e decidiu caminhar pelo parque. Estava cansada de ficar sentada na mesma posição e precisava andar um pouco.
A verdade é que ela estava confusa. Seus sentimentos estavam mais intensos que o costume e isso a confundia e assustava. Ela só queria tirar todos aqueles pensamentos da sua cabeça, só queria não ter que pensar em nada. Sabia que a forma que agiu com null não era certa, não tinha motivos para todo aquele escândalo e null nunca que lhe deu motivos para que ela desconfiasse dele. Mas tanta coisa se passava na sua cabeça que ela já não sabia mais de que forma agir, o que era certo ou errado. Estava tão cansada de ser bombardeada por sentimentos e pensamentos. Seus olhos encheram-se de lágrimas, mas não se permitiu chorar. Não iria chorar sem motivos. Ela não era assim. Um vento gélido passou por ela, fazendo-a encolher-se e abraçar-se. Mesmo que estivesse frio e deserto, ela estava gostando de caminhar pelo parque. Aquilo estava fazendo com que ela sentisse bem, estava a tranquilizando. null odiava-se por ser uma pessoa tão difícil de lidar. Seria tão mais fácil se ela fosse como Audrey. null merecia alguém como Audrey. null tinha medo de que ele percebesse isso. Essa era a verdade. Ela não queria que ele visse o quão maravilhosa Audrey seria para ele, não queria que ele percebesse a quantidade de problemas que null lhe trouxe e ainda traria. Não queria perdê-lo. Estava esforçando-se para ser melhor para ele, mas tinha medo que não conseguisse e fraquejasse. Não era justo com ele.
Notou que mais uma vez estava pensando demais. Cansada de toda aquela situação, ela saiu do parque e seguiu o seu caminho para Hotel. Estava tarde e estava com sono, talvez dormir seria sua melhor solução.
Ele jogou-se na cama e colocou o celular ao seu lado, bufou irritado esfregando o rosto. null não atendia nenhuma das suas ligações e ele não entendia o porquê de estar agindo daquela forma. Por que ele foi honesto ao lhe contar que havia falado com Audrey? Falado com ela, nada além disso. Não tinha motivos para null sentir ciúmes. Ele a amava e nunca iria trocá-la por Audrey ou qualquer outra mulher. null nunca tinha visto null agir daquela forma. Mas não poderia negar que gostou do escândalo que null fez por ele ter dito que falou com Audrey. Essa era a forma dela de dizer que o amava e sentia ciúmes. E null gostava de saber disso. Achou-se um canalha por sentir-se bem com toda aquela situação, mas não poderia mudar os seus sentimentos.
Virou-se na cama e enfiou a cabeça no travesseiro. Sussurrou o nome de null com um sorriso travesso nos lábios. Ele amava tanto aquela mulher que seu coração não suportava toda aquela intensidade e acabava o machucando. Mas ele não se importava de se machucar por ela. null só queria tê-la ao seu lado, não importava se isso lhe causasse dor, danos, confusões. Ele realmente era como um viciado. Consumia sua droga sem preocupar-se com as consequências ou com os danos que isso iria lhe causar. Gargalhou ao lembrar-se da risada de null. Era assim a relação deles. Se ele a fazia rir, ele também ria. Se ele a fazia chorar, ele também chorava. Eles tinham uma ligação muito forte, null sabia disso. Pareciam saber exatamente o que cada um estava passando ou sentindo. Não sabia explicar ao certo como era toda aquela ligação, mas ele sabia que sentia exatamente tudo o que null sentia. Era como se ele e ela fossem um só. Essa era uma das coisas que o fazia não desistir dela. null nunca iria encontrar uma garota como null, alguém que a o entendesse tão bem, sentisse as mesmas coisas que ele, que tivesse essa ligação com ele. Nem mesmo Audrey.
Parou do outro lado da rua quando se sentiu enjoada com o cheiro de comida que vinha do restaurante do lado. O cheiro lhe causava náuseas e ela tinha um gosto amargo na boca. Mais uma vez ela sentia vontade de vomitar. Dessa vez ela só tinha tomado um sorvete, não tinha motivos para se sentir enjoada apenas com o cheiro de comida do restaurante. null então percebeu que algo estava errado, ela não era de vomitar com facilidade. Começou a lembrar-se dos detalhes dessas últimas semanas que lhe passaram despercebido. Os enjoos, os hormônios a flor da pele, a menstruação que ainda não tinha chegado. Arregalou os olhos e ficou boquiaberta quando enfim percebeu que sua menstruação estava atrasada. Esfregou as mãos no rosto, tentando não se desesperar. Repetia para si mesma que tudo iria ficar bem, não iria acontecer nada de mais. Mas seus pensamentos positivos não estavam a convencendo. Sem pensar mais uma vez ela fez sinal para um táxi que na mesma hora parou. Entrou no táxi e deu o endereço do Hotel em que Lizzie estava.
Deu duas batidas na porta e esperou até que fosse atendida. O corredor estava silencioso, null só conseguia escutar as batidas aceleradas do seu coração e sua respiração pesada. Olhou suas unhas que já estavam no sabugo, no trajeto até o Hotel em que Lizzie estava null ficou tão nervosa que começou a roer a unha. A porta abriu a assustando, estava tão concentrada na sua unha que tinha perdido a noção das coisas. Lizzie estava parada na porta usando um roupão, seu cabelo estava molhado e ela tinha uma expressão cansada. null a encarou assustada. Naquele momento null teve a certeza de que toda a sua vida iria mudar a partir do momento que ela contasse a Lizzie o que tanto a afligia. Mas não poderia fazer mais nada, ela teria que pedir ajudar a Lizzie e resolver aquele problema.
- O que você quer? – Lizzie perguntou grosseiramente. null engoliu a seco e respirou fundo tentando reunir toda a sua coragem.
- Eu preciso da sua ajuda.
"Como se você fosse tão perfeito e eu não pudesse me comparar. Bem, eu não sou perfeita. Apenas toda bagunçada."
- Que merda você fez? - Lizzie perguntou em um tom de voz debochado. Arqueou a sobrancelha e olhou para null com a sua típica cara de nojo. null ignorou, estava muito mais preocupada com outras coisas. Com a sua situação. Sem esperar algum convite ela adentrou no quarto, ouviu Lizzie resmungar pela sua falta de educação. A mulher sentou-se na ponta da cama e olhou aflita para a TV ligada em um desfile de moda, suas mãos trêmulas estavam entrelaçadas em cima do seu colo. Ela mordia o lábio fortemente, mas não sentia dor.
Lizzie percebeu então que a situação era grave. null estava aflita demais e ela nunca tinha a visto daquela forma. Respirou fundo tentando se controlar e se aproximou da mulher.
- O que aconteceu null? - Dessa vez seu tom de voz não era debochado, ele era calmo e preocupado. A mulher levantou os olhos para olhá-la, Lizzie viu que estavam cheios de lágrimas e que o rosto dela estava vermelho. null ficava assim quando segurava o choro e tentava manter-se calma.
- Eu estou grávida Lizzie. - null admitiu desesperada e envergonhada. Lizzie arregalou os olhos e ficou em silêncio tentando digerir a informação. Um silêncio sufocante instalou-se na suíte, só era possível escutar o barulho da TV e a respiração pesada das duas. Pensamentos de que tinha estragado sua vida e que tudo estava uma merda, começaram a passar pela cabeça de null. Não conseguindo segurar-se mais ela escondeu o rosto com as mãos e começou a chorar. Seu peito subia e descia compulsivamente, soluços escapavam dela, null chorava copiosamente. Sentia-se um lixo, tinha ódio de si mesma por mais uma vez estragar as coisas. Lizzie não dizia nada, apenas assistia olhava o estado deplorável de null. Ela não conseguia acreditar no que tinha escutado. Como assim null estava grávida? Ela não poderia estar grávida, aquilo iria prejudicá-la. null era a sua melhor modelo e ela não poderia de jeito nenhum perdê-la, muito menos por um feto idiota. Elas iriam consertar aquele erro.
- O que você disse? - Finalmente ela perguntou. Ainda não conseguia acreditar no que null tinha dito, ou não queria. null parou de chorar, engoliu a saliva. Levantou o rosto e a encarou com os olhos vermelhos e molhados. Seu cabelo liso e sedoso estava grudado na sua testa.
- Exatamente isso, eu estou grávida. - Disse entre os dentes. Sentia raiva de si mesma, de Lizzie por querer sempre que null preserve sua imagem, de null por não ter lembrado também de usar a maldita camisinha.
- QUAL É O SEU PROBLEMA? - Gritou aproximando-se ainda mais dela. A ficha finalmente tinha caído. Quando enfim percebeu a merda que null tinha feito, seu sangue ferveu e ela começou a tremer de raiva. Sem pensar duas vezes e apenas querendo descontar a sua raiva em null, ela lhe deu um tapa no rosto. null urrou de dor e automaticamente colocou a mão sobre a parte do rosto onde foi atingida, tentando em vão parar a dor. Ela teve vontade de levantar-se e bater em Lizzie, mas sabia que estava errada e o tapa foi merecido. Sentia-se tão humilhada que não tinha coragem de fazer nada, apenas voltou a chorar, ainda com a mão sobre o rosto e o corpo encolhido.
- Me desculpe Lizzie, aconteceu. - Disse entre soluços. Lizzie andava de um lado para o outro na frente dela, as mãos bagunçavam o cabelo e ela repetia para si mesma baixinho que tudo iria ficar bem.
- null, coisas assim não podem simplesmente acontecer! Sua idiota. - A mulher foi até ela e levantou o seu rosto sem delicadeza alguma ou preocupação se poderia estar a machucando. O que ela realmente queria era machucá-la. - Olhe para mim! - Ordenou. Emburrada, null a encarou. Lizzie estava vermelha e salivas saiam da sua boca. - Nós vamos resolver isso. Teremos que tirar esse feto. - Soltou o rosto da mulher e sentou-se ao lado dela. Estava mais calma por ter encontrado uma solução, se null realmente tirasse o feto tudo iria ficar bem e ela não teria que se preocupar em perder sua melhor modelo. Mas null não pensava da mesma forma que ela. Quando ouviu a solução de Lizzie ela se desesperou ainda mais, não queria ter que tirar o seu bebê, não tinha coragem o suficiente para cometer um ato tão monstruoso para ela. Não tinha estômago para tudo aquilo. null não conseguia ser tão egoísta a esse ponto. Simplesmente tirar a vida de uma pessoa como se isso resolvesse a sua vida, para ela tirar a vida de alguém não era a solução dos problemas. Tinha consciência de que ter um filho nessa idade e no auge da sua carreira iria prejudicá-la, mas ela errou e agora ela teria que assumir o seu erro e não simplesmente livrar-se dele. Quando procurou ajuda de Lizzie, não pensou que fosse esse tipo de ajuda.
- O que? Como assim? Eu não vou tirar o meu bebê. - Colocou a mão sobre a barriga como se estivesse o protegendo. Em pouco tempo null sentia que nutria sentimentos pelo seu bebê. Era um sentimento tão inesperado e inexplicável. Sentia-se na missão de protegê-lo, de cuidar dele. Exatamente como o seu pai fazia com ela.
- Minha querida... - Lizzie começou a dizer calmamente. Acariciou o rosto de null e colocou uma mecha de cabelo dela atrás da orelha. Aquela era uma situação delicada e Lizzie sabia que deveria agir calmamente e com delicadeza com null, não poderia obrigá-la a abortar, mas aos poucos poderia convencê-la. Por isso era necessário muito cuidado com as palavras e atitude. - Você acha realmente que tem condição de criar um filho agora? Olha só pra você null, ainda é uma criança que está começando a sua carreira agora. - Segurou as mãos dela e acariciou a palma da mão. - Você acha realmente que null iria querer ter um filho agora? Vocês ainda são muito jovens, têm uma vida inteira pela frente, muitas coisas para curtirem juntos. Um casamento que futuramente poderão planejar. Esse não é o seu momento e muito menos o dele para terem um filho. Pensa nisso.
Estava confusa. Não sabia ao certo o que pensar e muito menos qual decisão tomar. Lembrou-se da discussão que teve com null sobre ter filhos, ele dizia que queria ter filhos com ela e construir uma família. Será realmente que ele queria isso? E se ela lhe contasse que ela está grávida? Ele iria realmente assumir o filho e construir uma família com ela? Ou iria fugir e dizer que estava muito novo para tal responsabilidade. null pensava que conhecia null o suficiente para saber que decisão ele iria tomar, mas depois do que Lizzie lhe disse ela já não sabia mais. Antes tinha certeza absoluta que iria ter aquele bebê, que do seu jeito iria criá-lo e cuidar dele. Mas agora não sabia mais. Não queria ter um filho e ser como sua mãe que não lhe dava atenção, que só preocupava-se em trabalhar e esquecia-se da filha. Queria sim dar uma condição de vida muito boa para bebê, mas não queria deixá-lo de lado. null queria que seu bebê tivesse orgulho dela, que a amasse e a reconhecesse como uma mãe carinhosa e dedicada. Ela não queria que o seu bebê tivesse a imagem que ela tem da mãe dela, uma pessoa egoísta que só pensa em si própria, dinheiro e imagem. Ela realmente tinha estrutural emocional para cuidar de uma criança? Até um tempo atrás ela era conhecida como a garota que vivia fugindo do namorando, transava com vários homens, vivia bêbada e drogada. Essa mulher poderia realmente cuidar de uma criança? Ou null seria como sua a mãe que apenas a colocou no mundo e lhe deu dinheiro?
Esfregou o rosto e controlou a vontade que teve de gritar. Odiava quando não sabia que decisão tomar diante de uma situação complicada. Lizzie ainda a olhava, por dentro estava um pouco contente por pelo menos ter deixado null confusa. Antes ela estava tão certa da decisão que iria tomar, agora ela sentia que null não estava mais tão certa assim. Mais algumas palavras convincentes e então null finalmente tiraria aquele feto.
- Eu preciso pensar mais um pouco. - Disse e levantou-se da cama. Colocou sua bolsa no ombro esquerdo e seguiu até a porta, Lizzie foi atrás dela.
- Pensa com calma null, veja bem as consequências, o seu futuro e o do null. - Sem vontade de dizer mais nada, null apenas assentiu e saiu da suíte. Sua cabeça parecia que iria explodir. A verdade era que null não queria estragar a vida de null e se ter aquele filho significava estragar a vida dele então ela não o teria, mesmo que ele não precisasse saber disso. Estava decidida que pela primeira vez ela não seria egoísta, que dessa vez ela iria pensar também em null.
null entrou na suíte do Hotel em que estava, tirou o celular da bolsa e deitou na calma. Seu corpo parecia estar exausto e a sua cabeça ainda doía. Discou o número do celular de null e esperou até que ele atendesse. No quinto toque ele atendeu, o coração de null acelerou.
- null? – Pelo seu tom de voz null notou que ele parecia triste. Sentiu-se culpada por ele estar triste, não deveria ter agido daquela maneira louca e infantil, não tinha motivos.
- Oi. – Ela respondeu com a voz manhosa. Encolheu o corpo e escondeu o rosto como se null estivesse presenciado aquela cena. Ela podia jurar que ele estava deitado ao seu lado a encarando amarguradamente e ao mesmo tempo adoravelmente. Sentia tanta falta dele que ela sentia a sua presença, ou a imaginava.
- Pensei que nunca mais fosse falar com você. – A mulher suspirou. Não era certo causar todo aquele sofrimento a null sem motivos. Ela nunca tinha agido daquela forma, não saberia dizer o porquê de ter feito aquilo, mas agiu sem pensar e agora se arrependia.
- Desculpe-me, eu fui uma boba. – Disse manhosa. Reprimiu uma risada por ter se achado mais uma vez infantil, mas conhecia null o suficiente para saber que ele adorava quando null agia de forma manhosa.
- Uma boba ciumenta, porém linda. – Riu fazendo null rir também. A risada dele era tão contagiante, sincera e linda que ela sentia vontade de rir só por causa dele, e arriscava-se a dizer que ela se sentia feliz também.
- Eu te amo. – Disse seriamente.
- Eu te amo demais. – null pensou que aquele era o momento certo para saber se null queria realmente ter um filho com ela agora ou não. Naquela noite ela tomaria sua decisão e ela sabia que qualquer decisão que tomasse iria mudar sua vida para sempre. Tudo dependia dele, mesmo sem ele saber.
- null, você gostaria de ter um filho comigo? – A princípio null estranhou a pergunta de null, mas depois quando se lembrou da discussão que tivera com ela sobre filhos pensou que talvez ela estivesse realmente mudando de ideia, como havia dito.
- É óbvio que sim! null, eu te amo, você é a mulher da minha vida. Você é a mulher que eu quero ter filhos, construir uma família, envelhecer ao seu lado, compartilhar momentos bons e ruins. Eu nunca amei alguém como amo você. E eu quero sim ter filhos e casar com você quando estivermos mais velhos, mais estruturados psicologicamente. Até porque no momento não temos condições de que cuidar nem de nós mesmos né? – Ele riu. – Agora que estamos criando maturidade o suficiente para saber o que queremos e estamos mudando. – Nas primeiras palavras dele null estava feliz e já tinha tomado a sua decisão. Porém quando ele disse que queria isso quando estivessem mais velhos e estruturados psicologicamente, null não estava mais feliz e tinha mudado a sua decisão. Era isso, null achava que aquele não era o momento deles. Eles não tinham condições de criar um filho. No fundo null sabia que ele estava certo. Ela estava começando a ter maturidade agora, estava começando a realmente assumir um relacionamento sério. Como uma pessoa que não conseguia assumir um relacionamento sério poderia cuidar de uma criança que era ainda mais difícil? Não dava para se iludir mais. Uma criança não era uma boneca, ela teria que saber muito bem qual decisão tomar com o seu filho para não prejudicar o futuro dele. Como fazer isso se ela mesma prejudica o seu próprio futuro? Lizzie estava certa, e ouvir aquelas palavras de null só tornou as coisas ainda mais reais. null não poderia ignorar tudo aquilo e ir brincar de casinha, não era assim. Tinha uma criança dentro dela que dependia dela, da sua maturidade e responsabilidade, uma criança que seria afetada pela decisão que ela iria tomar.
- Obrigada, eu te amo. – Sem se despedir dele ela terminou a ligação. Não tinha mais o que dizer, null já tinha dito implicitamente o que ele queria. Ela não seria egoísta dessa vez e muito menos fugiria de null. Fechou os olhos e suspirou pesadamente. Seus lábios tremeram, seu nariz começou a formigar e sua cabeça doeu ainda mais. Ela queria chorar e não aguentava mais segurar, parecia estar a sufocando. Deixou então que as lágrimas escorressem dos olhos. Permitiu-se chorar abertamente, querendo que toda aquela dor saísse junto com as suas lágrimas, querendo livrar-se daquele peso que estava carregando. Chorou como uma criança, deitada na sua cama, encolhida e abraçando seu próprio corpo. Seus soluços faziam eco pelo seu quarto, quem ouvisse de fora pensaria que ela estava desesperada, machucada, perdida. E ela realmente estava.
Seu celular tocou mais uma vez a despertando, e mais uma vez null desligou o celular sem se importar em saber quem era. Obviamente era Lizzie querendo saber o porquê dela não ter ido à sessão de fotos. null não se importava mais com tudo aquilo, com seu trabalho. Ela só queria continuar deitada na sua cama dormindo. Não tinha força o suficiente para enfrentar a realidade dos dias seguintes, ela não queria levantar da cama porque sabia que se levantasse teria que contar a sua decisão a Lizzie. E ela não queria fazer aquilo, não agora, ainda não estava preparada psicologicamente para tudo aquilo.
Virou-se para o lado oposto da cama e encarou a janela. Sentia seus olhos arderem, seu rosto estava inchado de tanto chorar na noite anterior. Não sabia exatamente o que estava pensando ou que estava sentindo, só sabia que estava cansada. Cansada de tudo. Queria continuar trancada na sua suíte sem falar ou ver ninguém. Queria fingir por um momento que tudo aquilo era um pesadelo e que logo ela iria acordar e descobrir que tudo estava bem, que estava ao lado de null e feliz. Ela sabia que não poderia esconder-se dos problemas, sabia que uma hora ou outra eles iriam aparecer, mas naquele dia ela não queria ter que lidar com eles. Ela não queria ter que lidar com nada.
null chegou em casa exausto, mas ainda assim com um sorriso doce nos lábios. Jogou-se no sofá e tirou com os próprios pés os sapatos. Sentia tão feliz que nem todos os problemas do trabalho ou o cansaço o deixava mal. Olhou para o porta retrato que estava ao lado da TV com uma foto sua com null abraçados. Aquela mulher sabia exatamente como lhe fazer bem. Ele admitia que não tinha muita fé que ela iria realmente mudar, mas ela provou completamente ao contrário a ele. Ela, assim como ele, queria construir uma família com ele. Ela estava disposta a mudar, amadurecer e assumir de verdade um relacionamento sério, ser uma nova pessoa. null podia sentir que as coisas estavam mudando e que dessa vez seria para melhor, ele estava acreditando cegamente nisso. Ele acreditava que null iria realmente mudar, por ela, por ele, por eles.
‘’Quando notares estarás à beira do abismo. Abismo que cavaste com os teus pés.’’
‘’Vivemos esperando o dia em que seremos melhores. Melhores no amor. Melhores na dor. Melhores em tudo.’’
null entrou na mansão branca onde seria feita a sessão de fotos. Seus óculos escuros estavam tampando seu rosto inchado e suas olheiras, sabia que iria escutar Lizzie e o maquiador reclamando por isso. Mas não se importava, no momento nada a importava. Nem aquela sessão de fotos que agora ela julgava como idiota. Seguiu para os fundos da mansão, o salto da sua bota fazia um barulho irritante aumentando ainda mais a sua dor de cabeça. Viu Margareth, Blake e Timmy com roupas de banho ao redor da piscina junto com outros modelos que também vestiam roupas de banho. Eles pareciam estar congelando, mas o sorriso perfeito, os olhares provocantes demonstravam o contrário. E ainda diziam que os olhos transmitem sinceridade. Ah, deve ser. null estremeceu somente ao vê-los vestido daquela forma naquele frio. Lizzie estava lá, ordenando - como sempre - que tudo fosse perfeito. O fotografo indicava a posição mais sensual e provocante para cada um. Por um momento null perguntou-se porque tinha seguido carreira como modelo. Ela era usada como um produto. Deveria sempre estar lindo e sensual, fazia exatamente o que eles mandavam, não podia cortar o cabelo, somente se eles mandassem. Ela não tinha autoridade sobre o seu próprio corpo, era tratada exatamente como um produto. O que aquela carreira tinha que a fazia amar e ver glamour naquilo tudo? Não era nada glamoroso ser tratada como um produto. A vida de modelo não era nada glamorosa, pelo contrário, era deprimente. Pessoas vazias preocupando somente com as aparências, bebidas, drogas, sexo. Sem sentido na vida, sem amor próprio. Autodestrutivas. null olhou toda aquela cena, deu de ombros e pensou que aquela carreira era a certa para ela. Ela realmente se encaixava naquele perfil de pessoas vazias.
- Olha quem resolveu aparecer. - Lizzie cantarolou debochadamente. Todos se viraram para olhar null que andava em direção a Lizzie com um sorriso falso nos lábios, a cabeça erguida, a postura ereta. Quem visse de fora a acharia linda, confiante e forte. Ela parecia ser uma mulher decidida e feliz, segura de si mesma. null sabia muito bem o quanto a aparência enganava. Assim como Lizzie.
- Estive indisposta para fazer a sessão de fotos. - null disse fazendo expressão de sofrimento. Tirou os óculos escuros e colocou em cima da mesa que estava ao lado do maquiador. Esperou que Lizzie começasse a falar sobre o quão irresponsável ela era por ter faltado um compromisso, por estar com aquela aparência deplorável. Mas Lizzie não disse nada. Apenas a olhou com pena e sorriu tentando passar-lhe conforto, como se quisesse dizer que sabia exatamente o que ela estava passando. Por um momento null realmente sentiu-se um pouco melhor, menos solitária. Mas depois se lembrou de que as aparências enganavam, e a de Lizzie principalmente.
- Tudo bem querida, o importante é que você conseguiu vir hoje. - A mulher a abraçou sem jeito pelos ombros e beijou o rosto de null. Todos, com exceção de null, olhavam incrédulos para aquela cena. Ninguém nunca tinha presenciado algo assim antes. Principalmente vindo de Lizzie, a mulher que parecia não ter sentimentos. - Já se decidiu? - Sussurrou no ouvido de null para que somente ela escutasse. null fechou os olhos por um momento e controlou sua vontade de chorar, ainda estava muito frágil para tocar naquele assunto. Sempre que se lembrava da sua decisão ela sentia vontade de chorar, gritar, voltar atrás, qualquer coisa que pudesse fazer aquela dor diminuir. Mas ela sabia que não iria diminuir.
- Sim. Eu vou tirar. - Lizzie sorriu vitoriosa sem que null visse. Soltou-se do abraço dela e afagou o rosto da mulher. - Você está fazendo a coisa certa. Agora vá se arrumar porque temos um dia longo. - null assentiu e foi até onde estava o maquiador. Lizzie a seguiu com os olhos. Suspirou aliviada por saber que as coisas iriam dar certo para ela. Sabia que null estava fragilizada e tratá-la mal não seria a opção ideal no momento, ela tinha que transmitir confiança a mulher para que ela pudesse fazer o que era certo para Lizzie. A verdade era que quando Lizzie olhava para null ela se via mais nova, uma modelo privilegiada com muitos talentos, mas que sempre tomava a decisão errada. Cercada de drogas, bebidas, sexo, traições, amigos que não lhe levariam a nada. Ela só não queria que null cometesse o mesmo erro que ela cometeu e acabasse destruindo a sua carreira. Lizzie conseguia ver um futuro brilhante para null, sabia que a mulher tinha capacidade. Ela só estava perdida e precisava de alguém para guiá-la.
null continuou a mudar de canal em buscar de algum filme interessante, mas não conseguia encontrar nada. Bufou irritado e desligou a TV. Era um domingo entediante, ele não sabia o que iria fazer. Seus dias na verdade eram sempre assim: entediantes. Sem null ele não tinha vontade de fazer nada. Não tinha vontade de sair com seus amigos ou se interessar por algum programa na TV. Ele ia para o trabalho e depois ia direto para casa comer e dormir, quando não ia para o trabalho ele ficava em casa comendo e dormindo. E assim seguiam seus dias. Quem o visse acharia que ele estava doente por estar mais magro e abatido. Mas não estava. null só não sentia vontade de se cuidar, pois a única pessoa que ele o fazia ter vontade de se cuidar estava viajando. Passava suas semanas aguardando ansiosamente a volta de null. Sentia tanta falta dela. E depois da conversa que teve com ela, depois de ter a certeza que ela realmente estava mudando, parecia que sua saudade aumentou. Ele queria vê-la logo, dizer a ela o quanto a amava e aproveitar os momentos ao lado da nova null.
Quando pensava na namorada ele sempre se sentia melhor, principalmente quando imaginava o futuro que planejava para os dois. Antes de conhecer null null nunca amou alguém tão intensamente como amava null. O que ele sentia pelas suas ex-namoradas, até mesmo por Audrey, era um carinho, apenas um gostar. Mas amar, amar de verdade como ama null, isso ele nunca chegou a sentir. Nem ao menos a metade. Sempre acreditou no amor, mas no amor em uma forma menos intensa (o amor que pensava que sentia por elas), mas nunca acreditou que realmente existisse um amor como o que sentia por null. Ele nunca tinha vivido algo do tipo. Hoje null via o quanto tinha mudado, o quanto tinha amadurecido. Se antes ele dizia que um homem que fazia tudo por uma mulher, que perdoava uma traição, que a colocava em primeiro lugar era um idiota, hoje ele se via como um idiota. Mas não se incomodava com isso, não mais. Ele se sentia um idiota infeliz quando fazia tudo por null e ele não tentava ao menos mudar. Mas hoje ele via o quanto ela estava tentando mudar, ele conseguia sentir que o seu sentimento era recíproco. Não tinha mais aquela insegurança de antes, de saber se estava perdendo ou não o seu tempo, se ela realmente o amava, se a história dos dois teria futuro. Hoje null conseguia confiar em null, ele via um futuro para os dois, um futuro que dessa vez os dois queria e não somente ele. Era cansativo demais amar sozinho.
null parou em frente à porta da clínica e respirou fundo acreditando que dessa forma se encheria de coragem. Lizzie parou ao seu lado, com os braços entrelaçados no dela, e esperou que ela entrasse na clínica. Mas null não entrou. Continuou parada em frente a clínica, de braços dados com Lizzie e respirando fundo. Suas mãos tremiam e ela suava frio. Não iria dizer que nunca tomou decisões difíceis em sua vida porque seria mentira, já tomou sim decisão muitos difíceis. Mas naquele momento null não conseguia recordar-se de nenhuma decisão difícil que teria que tomar como aquela. Nada era mais doloroso do que a decisão de tirar ou não o seu filho.
- Você está bem? – Lizzie perguntou mais preocupada se ela iria desistir de tirar o feto do que com o bem estar da mulher.
- Estou. Só preciso de um tempo sozinha, pode indo na frente. – Lizzie sorriu forçadamente e assentiu entrando na clínica e deixando null sozinha. A mulher fechou os olhos e suspirou. Imediatamente sentiu seus olhos arderem e encherem-se de lágrimas, já era um ato comum, lembrar-se do seu bebê e sentir vontade de chorar. Sentia-se um monstro, tinha nojo de si mesma. Sabia que o que estava fazendo não era certo, mas também não era certo destruir a vida de null. Seus lábios começaram a tremer, ela os prendeu tentando impedir que um soluço escapasse. Alisou sua barriga e começou a sussurrar: - Me perdoe meu filho. Sua mãe é uma idiota irresponsável que não tem capacidade de cuidar de você. Perdoe-me por ser filho desse monstro, você não me merece. Eu te amo, juro que te amo. – Seu rosto estava lavado de lágrimas. Ainda não conhecia o seu bebê, mas sentia que o amava e que na verdade o conhecia desde sempre. Ela sentiu vontade de desistir de tudo aquilo e sair correndo, fugir e cuidar do seu filho sozinho. Não poderia ser tão difícil cuidar de uma criança. Ela poderia largar sua carreira de modelo, poderia tentar mudar por ele, pelo seu bebê. Tentar ser uma mãe maravilhosa para ele. Mas ela não poderia realmente. Não quando tinha prometido a null que não iria fugir mais. Não iria desistir agora. Ela foi até aquela clínica com uma decisão e agora ela estava ali para cumprir. Não iria arruinar tudo mais uma vez, não se permitiria ser egoísta. Quem ela estava querendo enganar? Ela não iria mudar por um bebê, não iria conseguir ser uma mãe melhor para ele. null era exatamente como sua mãe, e no fundo ela sabia disso. Talvez esse seja o motivo para se odiarem tanto, elas serem tão parecidas. E com certeza seu pai merecia uma mulher melhor, assim como null também merecia. null sabia que Audrey era mulher ideal para ele. Mas pelo menos uma vez na vida ela gostaria de ser boa em algo para null, ele merecia. null devia isso a ele, depois de todos os danos que causou ao homem era justo que ela mudasse por ele.
Era perturbador, triste, sufocante. null não sabia exatamente quais palavras usaria para descrever seu pesadelo, mas ele sabia que não eram boas. Estava sentado no meio da cama, o peito subindo e descendo descontroladamente, a respiração ofegante, o corpo suado. Estava assustado, angustiado. Foi um pesadelo terrível e somente ao lembrar-se dele já se sentia arrepiado. O que tudo aquilo significava? Se ele estava tão bem com null, tão seguro da relação dos dois e do que ela queria, por que sonhar aquilo? Por que sonhar que via null assassinando o filho deles e ele tentava salvá-lo? Não fazia sentido. Ele nunca tinha pensado algo do tipo e sabia que null nunca teria que coragem de fazer aquilo. A sua null, mesmo sendo tão problemática e com tantos defeitos, ela era gentil e doce. Incapaz de machucar alguém. Era uma pessoa que estava tentando mudar, mostrando o seu melhor. Não fazia sentido nada daquilo.
Pegou o celular que estava ao seu lado e checou a hora. Ainda eram três e meia da manhã. No plano de fundo do celular tinha uma foto sua com null, ele beijava o rosto dela e ela sorria alegremente. A foto só pegava o rosto dos dois, era a favorita de null. Eles estavam tão felizes e espontâneos, que ao ver a foto ele sorriu. Como poderia dizer que null seria capaz de machucar alguém? Como poderia sonhar com aquilo? Olhando para aquela foto e vendo o brilho nos seus olhos, o sorriso feliz e ao mesmo tempo ingênuo, ele nunca seria capaz de acreditar em algo do tipo.
‘’Meu amor é teu, mas dou-te mais uma vez. Meu bem, saudade é pra quem tem.’’
Alisou sua barriga por cima da blusa. Sua garganta fechou e seus olhos encheram-se de lágrimas ao lembrar que há semanas atrás ela carregava seu filho, ou filha, ali dentro. Era estranho pensar que ele não ocupava mais aquele espaço. Tinha até se acostumado com ele. Muitas vezes pegava-se escolhendo roupas para ele em lojas infantis, outras vezes o imaginava correndo pela casa carregando seus traços e os de null. Era estranho pensar que não veria mais nada daquilo. null pensava na crueldade que tinha feito, mas também via aquilo como amor. Não por ela ou pelo seu filho, mas por null. Ela o amou o suficiente para tirar a vida do seu filho pelo amor dele. Talvez ele nunca a entendesse, e por isso seria melhor que ele nunca soubesse. Muitas a iriam criticar, a chamariam de cruel, mas null sabia dos seus reais motivos. Nada foi em vão. Repetia para si mesma diversas vezes.
- Vai ficar tudo bem, querida. – Lizzie segurou a mão da mulher que estava em cima da sua barriga e sorriu falsamente para ela. null reprimiu a vontade de tirar sua mão dali e revirar os olhos. Mesmo sabendo da falsidade da mulher, estava cansada demais para brigar. Decidiu por fim agir da mesma maneira que ela. Nem sempre podemos ter tudo o que queremos na vida.
Retribuiu o sorriso falso e virou o rosto para janela. Fechou os olhos e ajeitou-se na poltrona do avião. Tentou dormir na esperança de fazer as horas passarem mais rápido e finalmente ver null. Esperava que quando o visse pudesse esquecer-se de tudo que lhe aconteceu nessa viagem e voltar a ter a sua vida com ele como era antes. Tinha medo de ainda assim ter estragado as coisas.
Olhou ao redor a procura dela. Bufou impaciente quando não a encontrou, enfiou a mão no bolso da calça jeans e continuou a procura-la com os olhos. Não tinha levado nenhum buquê ou algum chocolate favorito dela, estava tão ansioso para finalmente vê-la que sequer tinha pensado nisso. Acabara esquecendo-se de tudo. Pensou que talvez tivesse tempo para lhe comprar algum chocolate, mas foi quando a viu. Ela andava atrapalhada, mas sorria radiante. null sentiu seu coração bater de uma forma que não sentia há meses, era como se fosse um sinal de que ele ainda estava vivo. null continuou imóvel a olhando como se ela fosse algo surreal para ele. Não teve emoção alguma e também não disse nada. Só sentia seu coração batendo forte no seu peito.
null foi se aproximando lentamente e, aos poucos, seu sorriso foi diminuindo ao ver que null não teve reação alguma ao vê-la. Perguntou se ele sabia. Mas descartou essa ideia, era impossível que ele soubesse. Mas ainda perguntava-se o que tinha acontecido para ele estar tão estranho assim.
- O que foi? Não está feliz por me ver? – Brincou quando parou ao lado dele. Sorriu forçadamente. null não disse nada, continuou a olhá-la da mesma forma de antes. Era mesmo real? null realmente tinha voltado? Ainda não fazia sentindo para ele. A mulher sentiu-se aflita por não ouvir nenhuma resposta, teve vontade de correr e voltar para o avião. Talvez não tivesse sido uma boa ideia voltar para null.
- Você realmente está aqui? – Imediatamente achou-se um completo idiota por ter feito aquela pergunta e por ter agido como um garoto de treze anos quando finalmente perde a virgindade com a garota mais gostosa da escola. null riu aliviada e ao mesmo tempo feliz por saber que seu null ainda permanecia o mesmo.
- É claro que estou seu bobo. – Abraçou a cintura dele e ficou na ponta do pé para morder o nariz dele. null soltou uma risada anasalada e passou o braço por cima do ombro dela. Quando null encostou a cabeça no peito dela e expirou o perfume familiar de null, seus olhos encheram-se de lágrimas e um sentimento de culpa lhe invadiu. Ele estava esperando por ela completamente ansioso e descrente se ela realmente voltaria. Como pode deixar as coisas chegarem naquele ponto? Como pode abortar o filho deles sem ao menos o consultar? Pensou que estaria tomando a melhor atitude, mas na verdade se enganou. Ela conhecia null o suficiente para saber o quão feliz ele ficaria por ter um filho com ela e finalmente construir uma família, como ela sabia que ele sempre desejou. Estava mentindo para si mesma. Ela não estava poupando a vida de null, mas sim a dela. Mais uma vez tomou uma atitude egoísta.
Sentiu uma lágrima escorrendo dos seus olhos e parando na sua boca, o gosto era salgado, e isso a lembrou da sua relação com null. Ele era doce e ela salgada. Talvez até azeda. Pensar nisso fez com que mais lágrimas escorressem. Soluçou baixinho, torcendo para que null não escutasse. Mas atencioso como era, ele escutou. Tentou afastá-la de si, mas null agarrou o seu corpo com força.
- O que houve, minha null? – Perguntou acariciando o cabelo dela. Reprimiu um sorriso convencido ao pensar que talvez ela estivesse chorando por saudades dele. null balançou a cabeça negativamente, null entendeu que ela não queria conversar, então a abraçou fortemente e permitiu que ela chorasse no seu peito. Acariciava seu cabelo macio e escutava o choro baixinho dela. Aos poucos foi aumentando o choro, e então passou a ser um choro desesperador. Algo que não somente null notava, mas também as outras pessoas que passavam perto deles e lhes lançavam olhares curiosos.
Ela chorava por tudo. Por ela. Por null. Pelo filho que nunca conheceu. Chorou por raiva de si mesma, por ser tão egoísta e tão difícil de lidar. Chorou pela sua mãe que nunca soube lhe dar amor e lhe mostrar o verdadeiro valor de uma pessoa. Chorou pelo seu pai por ter que lidar com mulheres como ela e sua mãe. Chorou por null, por não merecer todas coisas ruins que ela lhe causava, por ser tão bom para ela.
No caminho para casa eles ficaram em silêncio. Não tocaram no assunto, acharam melhor até mesmo não comentar sobre isso. null acariciava a coxa da mulher e dividia sua atenção entre ela e a estrada. null segurava a mão dele e olhava as casas da rua passarem rapidamente por ela.
Ele estacionou o carro na garagem. Desligou o veículo e saiu, null saiu também e foi andando na frente para a sua segunda casa. A casa de null. Trancou o carro e alcançou null, entrelaçou os dedos no dela e sorriu quando ela virou-se para olhá-lo. A mulher sorriu tristemente para ele, mas null preferiu ignorar. Entraram na casa ainda silenciosamente.
- Você vai precisar das suas coisas agora ou posso pegá-las depois?
- Tenho algumas roupas minhas aqui, não precisa pegar nada agora. – null assentiu. null virou-se para subir a escada, mas null a pegou no colo de surpresa a fazendo soltar um gritinho histérico e gargalhar. Subiu a escada correndo com ela no colo indo em direção ao quarto. null gritava e lhe dava tapinhas no ombro pedindo, sem vontade, que ele lhe soltasse. null apenas ria da atitude adolescente da mulher. Eram essas coisas que ele amava em null e amava também fazer com ela. Entrou no quarto e a jogou na cama, null soltou uma gargalhada, que para null era deliciosa de se ouvir. Ele ficou por cima dela e a olhou profundamente. Naquele momento null esqueceu-se de quem era e o que tinha feito. Não existia mais nada. Apenas null e seu sentimento por ele. Nada mais lhe importava, nada mais lhe parecia certo ou errado. null aproximou o rosto lentamente do dela. null sentia o hálito quente e com cheiro de café dele batendo no rosto dela. Ela queria prova-lo. Precisava disso. Como se tivesse escutado o seu desejo, ele a beijou. O beijo iniciou-se de forma lenta. Apenas as línguas se tocando, sentindo o sabor do outro. Mas quando null desceu sua mão para a coxa da mulher, null sentiu seu corpo todo incendiar e um desejo enlouquecedor pelo corpo dele lhe dominar. Puxou o lábio inferior dele e o olhou. Os olhos carregados de luxúria. null sorriu de uma forma cafajeste como se estivesse entendido o que ela queria. Colocou seu corpo no dela e a beijou com desejo. null passou a mão no abdômen dele por debaixo da blusa e o arranhou lentamente fazendo o contrair o abdômen. Riram contra o beijo. Ela inverteu as posições ficando por cima dele. Tirou ela mesma a sua blusa sobre o olhar atento de null. Olhou para ele e sorriu. Mas um sorriso diferente. Nada de segundas intenções. Nada de tristeza. Apenas um sorriso de felicidade. Um sorriso amável.
null acariciava a lateral do corpo de null, ela estremecia a cada toque. Estavam deitados na cama, debaixo do edredom e nus. A perna da mulher estava enrolada na dele, ela abraçava o seu quadril. Olhavam-se fixamente, sem nada dizer. Apenas escutando a respiração acelerada dos dois e o barulho dos carros na rua. Era aquele silêncio confortável, não tinha nada de constrangedor ali.
- Eu senti tanta a sua falta. – null sussurrou, como se tivesse medo de estragar aquele momento.
- Não mais que eu. – Disse no mesmo tom de voz que o dela. null sorriu fracamente, acariciou o rosto dele e suspirou.
- Me prometa que daqui em diante nada, absolutamente nada, irá nos separar? – Precisava ouvir aquela promessa. Precisava daquilo para voltar a dormir tranquila sem ter o medo de perdê-lo. Ela tinha que se agarrar a qualquer coisa.
- Por que isso agora, null? – Afastou o rosto um pouco dela como se assim ele descobriria o que estava acontecendo. null colou o corpo ainda mais no dele, tinha medo de falhar.
-E seu só preciso ouvir a sua promessa. Não sei se suporto te perder. – Sua voz saiu embargada. null estranhou, nunca tinha visto a mulher daquela forma. Já tinha presenciado sim momentos de fragilidades e inseguranças dela, mas nunca a viu tão vulnerável, tão transparente. Aquilo o assustou, ele teve vontade de correr, mas achou aquela atitude estúpida demais.
- Você não vai me perder, meu amor.
- Então promete.
- Eu prometo que nada irá nos separar. – null sorriu aliviada. O abraçou e encostou a cabeça no pescoço dele. Inspirou o perfume dele. Tinha cheiro de roupa lavada e perfume masculino. Ela desejou permanecer daquela forma para sempre. Deitada abraçada com null, sentindo o perfume dele com o coração aliviado.
null acordou com alguém lhe chamando. Era uma voz doce e falava baixinho. Ela levantou-se da cama e foi à procura da voz, encontrou a dona sentada no cantinho do quarto. Era uma menininha de cabelos curtos e lisos, a menina olhou fixamente para a mulher que a olhava curiosa. Quando null aproximou-se e viu com clareza o rosto da menina viu que era ela pequena. A única diferença eram os olhos. Pareciam muito com os de null.
- Quem é você? – null perguntou baixinho com medo de acordar null que dormia na sua cama. A criança sorriu tristemente e deixou que algumas lágrimas rolassem pelos seus olhos.
- Eu sou sua filha, mamãe. – O coração de null acelerou. Respirar tornou-se uma tarefa difícil, ela se sentia sufocada. Olhou rapidamente para null, mas o homem ainda dormia. Suspirou aliviada. A criança ainda a olhava tristemente.
- Como assim? – Perguntou, com a voz fraca.
- Por que você me matou, mamãe? – Foi então que a mulher viu que a barriga da criança estava sangrando, ela segurava a barriga com suas pequenas mãozinhas. null olhou desesperada para a criança e depois para null. A pergunta da sua filha ainda ecoava pela sua cabeça. Um sentimento de culpa tão forte lhe dominou.
Acordou assustada e sentou-se na cama. Sua respiração estava acelerada e seu corpo estava molhado de suor. Olhou para o canto do quarto, mas não viu sua filha. Ainda conseguia escutar a voz da criança lhe perguntando o por que dela ter tirado a sua vida. Agora null se fazia a mesma pergunta. null remexeu-se ao seu lado e despertou do sono.
- O que houve, null? – Perguntou sonolento. A mulher engoliu em seco e não virou para olhá-lo.
- Tive um pesadelo, mas agora está tudo bem.
- Deite-se ao meu lado, irei lhe acalmar. – Se fosse em outras circunstâncias ela iria sorrir, mas era um momento diferente. Dessa vez null não iria acalmá-la e nem fazê-la sorrir.
Deitou-se ao seu lado atendendo ao pedido do namorado. Ele abraçou a cintura da mulher e enterrou a cabeça na curvatura do pescoço dela. null não conseguiu dormir. Ainda estava elétrica com o seu pesadelo e a quantidade de coisas que passavam pela sua cabeça. Tudo estava tão confuso. Ela deveria sentir-se feliz, como o planejado. Mas agora se sentia pior. Não conseguia ficar perto de null, não conseguia sequer olhá-lo nos olhos por muito tempo. Tinha medo que ele percebesse e que as coisas entre eles voltassem a ser como era antes. null sentia que seu mundo lentamente estava desabando, e sabia que ela era a responsável por isso. E mais uma vez a culpa era do seu egoísmo. Ela não conseguia respirar direito, a culpa lhe sufocava. Quando fechava os olhos via a imagem da filha. Quando os abria escutava a voz dela. Sentia que iria enlouquecer. Queria gritar, chorar, desabafar com null. Mas não podia. Tinha que conviver com tudo aquilo de maneira normal para que ninguém desconfiasse. Ela só queria fechar os olhos e dormir para sempre.
null acordou com null distribuindo beijos pelo seu rosto. Sua barba que estava por fazer roçava na sua pele causando-lhe cócegas. Ela sorriu e virou-se para encará-lo. Com os olhos entreabertos ela o viu em cima dela e com um sorriso gigante nos lábios, seus olhos estavam mais claros e brilhantes por causa do sol.
- Bom dia, dorminhoca. – Ele brincou. null bocejou e null saiu de cima dela, a mulher sentou-se na cama e coçou os olhos, sonolenta.
- Bom dia. – Disse com a voz grogue. null sentou-se à sua frente e pegou a bandeja recheada de frutas, pães, geleias e suco, que estava ao seu lado na cama, e a colocou na frente de null.
- Trouxe café na cama! – Ele estava radiante. null sentiu seu estômago afundar. Ela não merecia isso. Tinha um homem perfeito que acordava da melhor forma enquanto ela era a pior namorada, a pior pessoa do mundo. null tinha tirado a vida do filho de null e ele sem saber ainda a amava e cuidava dela. Teve vontade de gritar para ele e dizer o quão idiota ele era, contar-lhe toda a verdade. Mas não conseguiu. Mas uma vez foi covarde. Apenas mordeu o lábio inferior e sorriu da maneira mais forçada que conseguiu.
- Eu amei meu amor, você é perfeito! – null sentou-se ao seu lado e lhe deu um selinho demorado. Para null aquele beijo tinha um gosto amargo de culpa. Ela teve que se controlar o bastante para não chorar.
- Sua fruta favorita. – Ele pegou morango grande e bem vermelho e colocou na boca da mulher. Ela o mastigou, mas não conseguiu deliciar-se com sua fruta favorita. null soube naquele momento que nada mais seria como antes.
- Você realmente pensou em tudo!
- Eu só quis te agradar, vi que seus dias estavam sendo estressantes. – null pegou uma pequena uva e engoliu rapidamente a fruta. Sequer havia mastigado.
- Você é perfeito, null, eu sou muito sortuda por ter você. – Ela falava sinceramente e olhava nos olhos dele.
- Não, eu é que sou sortudo por ter você! – null beijou os lábios do homem, ele abriu a boca lhe dando permissão para aprofundar o beijo. A língua de null tinha gosto de hortelã. Ela mordeu o lábio inferior dele e o sugou. null a puxou para mais perto e a colocou no seu colo, suas mãos acariciavam a barriga da mulher. ’’Não, null, eu é que sou sortuda por ter você. Eu não te mereço.’’ null pensou sem coragem para lhe dizer. Odiou-se ainda mais por isso. Aquele beijo não lhe excitava ou acalmava como antes. Para ela aquele beijo era como facas que lentamente a cortava. A machucava de uma forma que nunca a tinha machucado antes. Era amargo. Tinha gosto de culpa.
- O que você acha de irmos ao cinema hoje? – Perguntou null, enquanto eles almoçavam.
- Ah, eu queria mesmo era ficar em casa.
- Mas estamos praticamente a semana toda em casa. – Ele disse, rindo.
- E daí? Eu quero ficar mais. Semana que vem terei que voltar a trabalha e você também, e então voltará a nossa rotina corrida.
- Você está certa. Eu realmente quero aproveitar cada minuto com você. – Segurou a mão dela que estava em cima da mesa e a acariciou.
Terminaram de comer conversando sobre coisas aleatórias. Levantaram-se e tiraram a mesa. Os dois lavaram a louça entre beijos e brigas de espumas. Pareciam duas crianças. Mas aquilo estava fazendo bem a null, ela não se sentia mal, ela apenas estava aproveitando o momento com null.
Foram para a sala de TV e null escolheu o filme, como de costume. null sempre cedia aos charmes da namorada e sempre encontrava alguma maneira de agradá-la.
- O que você acha de assistirmos ‘’O Menino do Pijama Listrado’’? – Perguntou a mulher, com DVD em mãos.
- Ah não, null, muito triste. – Ele sentou no sofá com um balde de pipoca e duas latinhas de refrigerante.
- Por favor... – Ela fez beicinho tentando convencê-lo. Como era de imaginar, null acabou cedendo.
- Tudo bem. Mas com uma condição! – Levantou o dedo com ar sério.
- Qual?
- Só se eu ganhar muitos beijos. – null riu, colocou o DVD no chão e engatinhou até null. Ficou de joelhos e o beijou apaixonadamente. Aquele beijo era diferente do beijo mais cedo. Não tinha gosto de culpa, não era amargo. Era doce e carregado de felicidade.
- Eu aceito essa condição. – Disse, após terminar o beijo. Levantou-se e foi até o DVD, colocou o cd e sentou-se ao lado de null. Deu play no vídeo e aconchegou-se ao lado do namorado. Encostou a cabeça no ombro dele e suspirou feliz. null a abraçava pela cintura e a acariciava. Ela escutava em silêncio os batimentos cardíacos acelerados do namorado. Pediu mentalmente para Deus que aquela paz não acabasse nunca e que ela continuasse feliz ao lado de null. null acreditava fielmente que quando se estava feliz é porque algo de muito ruim iria acontecer mais pra frente. Dessa vez ela quis estar errada. Não queria que mais nada abalasse a sua situação com null. Sentada ao lado dele, assistindo filme e feliz por estar ao seu lado. Era exatamente daquele jeito que ela queria estar.
null sorria orgulhoso enquanto via a namorada sendo fotografada. Estava escondido atrás de uma árvore, um pequeno urso estava em suas mãos. Saiu do trabalho querendo fazer uma surpresa a namorada. Ela estava linda usando um maiô preto ao lado de duas meninas, que pareciam tão sem graças perto dela. null estava perto da piscina e ria enquanto a câmera registrava os melhores sorrisos dela. Ela sempre foi diferente das outras. Ela não sorria forçadamente, seus olhos sempre acompanhavam o contorno dos olhos dela. Ela tirava a graça de todo mundo, ela por si só já chamava atenção, sem sequer fazer um esforço. Era impossível não se encantar por ela.
- Acabamos por hoje, meninas. Vocês estão de parabéns, foram maravilhosas! – O fotógrafo disse orgulhos para as três mulheres. Elas sorriam e bateram palmas, sendo acompanhadas pelas outras pessoas que se encontravam ali. null cumprimentou as meninas e pegou seu roupão que estava em cima de uma cadeira. null acompanhava cada movimento dela, decidiu que aquela era a hora de colocar seu plano em prática. Lentamente ele aproximou-se da piscina, as pessoas ainda não tinha notado a presença do homem. O primeiro a notar foi o maquiador, assim que viu o belo homem ele prendeu a respiração e depois suspirou. Todos olharam para null. Todos os admiravam. Assim como null ele também sabia fazer uma excelente entrada. As duas mulheres olhavam boquiabertas para ele, soltaram risinhos e perguntavam-se mentalmente quem era aquele lindo homem. null sorriu imaginando o que elas estavam pensando e teve vontade de dizer a elas que ele era dela, somente dela.
- O que você faz aqui? – Perguntou sorrindo.
- Quis fazer uma surpresa para minha namorada linda. – Ele estendeu o pequeno urso para ela. As pessoas fizeram coro e suspiraram. null riu envergonhada. Ela já podia ver a inveja corroendo as outras duas mulheres.
null aproximou-se dele e o abraçou pelo pescoço, null abraçou sua cintura e a olhou no fundo dos olhos.
- Você é perfeito, sabia? – Disse baixinho. Todos olhavam para eles, mas eles não se importavam com isso. Só o que importava naquele momento eram eles dois.
- Eu sei. – A mulher deu um tapa no ombro dele e riu. – Hoje vou te sequestrar, você vai ser só minha.- null assentiu com a cabeça e lhe beijou. Pode ouvir as pessoas suspirando novamente e riu entre o beijo. Eles eram o tipo de casal que todos queriam ser. Naquele momento eles tinham a certeza de que nada poderia destruir aquela relação tão bonita que construíram juntas. Já tinham passado por muita coisa, tinha vivido muitas coisas e enfrentaram todas elas. Tudo isso só serviu para mostrar a eles o quanto eles se amam e são fortes juntos.
E sem saber os dois juraram mentalmente que dali pra frente nada iria destruir a relação deles. null e null nunca iriam imaginar que tinham uma ligação tão forte.
- E você viu a cara delas? Morrendo de inveja! – null gargalhou enquanto lembrava-se da reação das duas meninas que tinham fotografado com ela. Ela e null estavam deitados na cama enrolados nos lençóis da cama do homem.
- Você adora isso né? Se sente a maioral. – null dizia enquanto acariciava a cintura da mulher.
- Não me sinto a maioral, só gosto de mostrar a essas vadiazinhas que você tem dona!
- E quem seria minha dona?
- Eu né, que ideia.
- E quem te garante que é você? – null fingiu espanto e começou a estapear o braço do namorado. null tentava em vão desviar-se.
- Tudo bem então, fique aí sozinho. – Ela virou-se para o lado ficando de costas para ele. Segurou o riso quando null tentou puxá-la para mais perto. Ele colou o corpo no dela e começou a beijar o seu pescoço, null mordeu o lábio inferior e seu corpo estremeceu quando sentiu a boca dele tocando a sua pele.
- É claro que é você, meu amor, não tem ninguém além de você. – Sussurrou no ouvido dela fazendo todos os pelos do corpo dela arrepiarem-se. Quando viu que a mulher estava cedendo, null a puxou delicadamente e null virou-se para encará-lo. Ele sorriu vitorioso e a beijou.
Em toda a sua vida null nunca tinha encontrado alguém que lhe completasse tanto quanto null. A relação deles ia além da carne, era algo muito mais forte. Quando a beijava ele se viciava cada vez mais. Ele sabia que nunca tinha gostado de beijar tanto alguém como ela. O formato da boca dela encaixava na sua, o beijo dela era exatamente da forma que ele gostava. Quando null o tocava todo o seu corpo se acendia, correspondia ao toque dela. Muitos poderiam julgá-lo como otário por nunca desistir daquela mulher, por insistir nela e perdoar todos às vezes em que ela errava com ele. Mas ele só fazia isso porque sabia que nunca iria encontrar alguém que o completasse. Ele nunca iria amar alguém da forma como ele a ama, é algo tão forte que ele não entendia. null amava null mais do que a si mesmo. Talvez ele realmente fosse um otário, mas ele não se importava com isso. Se ser otário significava ser feliz ao lado da pessoa que ele mais ama, ele não se importava.
Abriu os olhos durante o beijo e a admirou. Os olhos dela estavam fechados, diferentemente dos seus. Mas ela parecia feliz, em paz. Alguns fios de cabelo caiam na pele dourada da mulher. Ela era tão linda que lhe doía. Doía amá-la tanto assim, doía admirá-la tanto assim. Teve vontade de chorar e dizer que amá-la doía, mas ainda assim ele insistia naquela tortura. Era normal sentir tanta dor ao amar alguém? Existia um ser humano tão maravilhoso com ela? Muitas das vezes null acreditava que null era uma ilusão da sua cabeça, alguma fantasia de menino que ele carregou pelo resto da vida. Ele realmente não conseguia acreditar em um ser humano como ela. Alguém tão lindo e feio ao mesmo tempo. Tão bom e mal. Dócil e amargo. Alguém que ele amava e odiava ao mesmo tempo.
Ela vestia seu vestido preto e calçava ao mesmo tempo um salto vermelho. O vestido tinha um decote nas costas e ia até a metade das suas coxas. null soltou o cabelo, retocou o batom vermelho e pegou a bolsa. Antes de sair do quarto olhou-se no espelho. Sentia-se linda, atraente. Seu cabelo formava ondas e o delineador preto realçava seus olhos. Sorriu satisfeita com o que via. Pegou o celular e leu a mensagem que o namorado havia lhe mandando pedido para se apressar. Saiu de casa ansiosa para ver o que null iria dizer.
null a esperava impacientemente no carro por null. Bufou e olhou para a janela na esperança de que ela estivesse chegando, sorriu satisfeito quando a viu atravessar a calçada. Seu coração acelerou ao vê-la, exatamente quando acontecia nos primeiros encontros deles. Ela estava linda. Sempre estava linda, mas naquela noite em especial estava ainda mais. O vestido preto havia caído tão bem no seu corpo magro e esguio. Ela sorriu radiante, era possível notar a felicidade da mulher. E por saber que ela sorria para ele o seu ego aumentou.
- Oi, meu amor. – Disse alegremente enquanto entrava no carro. Colocou o cinto e fechou a porta. Deu um selinho em null e afastou-se, mas o homem a puxou de volta e aprofundou o beijo. null sorriu entre o beijo e mordiscou o lábio inferior dele.
- Você está maravilhosa! – Ela sorriu envergonhada, mas por dentro estava satisfeita consigo mesma por null ter a achado maravilhosa.
- E você ainda mais! – null endireitou-se no banco e null ligou o carro dando partida em seguida.
- Iremos arrasar, somos o casal do ano, baby. – Ele fez uma voz afeminada causando gargalhadas na mulher. Ela ligou o som e Wake Me Up do Avicii começou a tocar. null começava a sentir-se extasiada, o coração acelerado pelo simples efeito da música. Da festa. De null. Ela sentia que aquela seria a melhor noite da sua vida.
- null, null! – Matthew chamou os dois assim que eles chegaram à festa! Jump da Lana Del Ray tocava no último volume. A música fez com que null sentisse vontade de dançar sensualmente com null. Ela mordeu o lábio inferior e sorriu maliciosamente. Um garçom ofereceu bebidas aos dois, rapidamente ela aceitou pegando a taça de champanhe. null olhou pelo canto do olho para ela e também aceitou a taça.
- Oi, meu amor! – Disse animadamente enquanto dava dois beijinhos no amigo. null apertou a mão de Matthew educadamente.
- Acabaram de chegar? – null observou o local. Era luxuoso o lugar, no meio da pista de dança tinha um imenso lustre. O DJ tocava as melhores músicas. As pessoas eram lindas e bem vestidas, todas com um copo de bebida na mão. Homens flertando mulheres e outros homens. Mulheres beijando homens e outras mulheres. Algumas pessoas se drogavam, outras só fumavam um cigarro. Pessoas subindo as escadas com outras pessoas, riam e se beijavam. O lugar despertava uma sensualidade, null não podia negar isso. Quando chegava ao local tinha vontade de fazer tudo o que eles faziam. Queria dançar da maneira mais sexy, usar todos os tipos drogas, beijar todos os tipos de bocas. A música, o lugar, as pessoas, tudo isso lhe despertava aqueles sentimentos. Se não tivesse prestando tanta atenção na festa ela nunca iria perceber tantas coisas. De fora realmente parecia uma festa normal. null conhecia aquilo o suficiente para saber que não tinha nada de normal naquilo.
- Chegamos nesse instante! – null respondeu. Era possível notar que ele estava somente sendo educado, ele nunca gostara muitos dos amigos de null. Ou melhor, do mundo de null.
null voltou sua atenção aos dois homens. Não poderia se permitir pensar naquelas coisas, agora ela estava com null e ele era o homem que ela queria. Demorou muito para ela mostrar a ele que havia mudado, não iria estragar tudo agora. null não merecia isso.
Mas um pensamento assustador lhe assombrou. Se ela realmente sentia-se influenciada pelo lugar e pelas pessoas, então ela nunca havia mudado. Na verdade ela continuava a mesma null de sempre. Vadia, egoísta, infiel, egocêntrica. Ela continuava a mesma pessoa de sempre. Levantou a cabeça e respirou fundo impedindo que começasse a chorar. Tentou convencer a si mesma que estava sendo radical, era apenas uma festa e ela apenas sentiu vontade de se divertir. Nada demais.
- O que achou da festa, null? – Matthew perguntou tentando ser mais agradável aos olhos do namorado da amiga.
- Muito legal, a decoração também é incrível. – Não parecia sincero no que dizia, estava claro que não estava gostando muito do lugar. Virou todo o seu champanhe e colocou na bandeja do garçom, pegando outro em seguida. null e Matthew fingiram não notar o desespero do homem. null sentiu-se mal por um momento. Não queria deixar o homem desconfortável, queria que aquela fosse uma excelente noite para os dois. Mas por outro lado também sentia raiva de null, ele não se esforçava para tentar se agradável. Era meio egoísta da parte dele já que fazia muito tempo que null não saia com os amigos.
- Com licença, poderia tirar uma foto de vocês três? – O fotógrafo perguntou gentilmente. null e Matthew não puderam deixar de notar a beleza do homem. Ele era alto, forte, moreno, olhos castanhos e um belo sorriso. Com certeza era diferente de qualquer homem daquela festa.
- Claro! – Respondeu Matthew. null ficou entre os dois homens. Jogou o cabelo para o lado, arqueou a sobrancelha e sorriu de forma sensual. Procurou manter uma postura que favorecesse seu corpo. Ela queria ser encantadora, sensual, irresistível.
O fotógrafo tirou várias fotos e depois as viu na câmera. Olhou para null, mordeu o lábio inferior e sorriu.
- null Bertolli, como sempre maravilhosa. – Dito isso, ele saiu. Dougie soltou uma risada incrédula e bebeu seu champanhe. Notando um desconforto entre o casal, Matthew disse:
- Posso falar com você, querida? – null assentiu com a cabeça e virou-se para null.
- Já volto, querido. – Beijou delicadamente o rosto de null deixando uma marca do seu batom vermelho e com toda elegância ela saiu. Ignorou o desconforto, o ciúme do namorado, os olhares que lhe lançavam. Saiu do local de mãos dadas com Matthew, a cabeça erguida e um sorriso nos lábios. Nada iria destruir sua noite.
null sentia-se completamente excluído. Claro que ele já havia frequentado festas como aquela por diversas vezes, mas nunca se simpatizou muito com elas. Especialmente hoje. Ele sentia algo diferente, sentia-se enojado somente por estar naquele meio. Não gostava dos amigos de null e não fazia questão de esconder isso, na maioria das vezes em que null o traia estava com eles, acreditava que eles poderiam influenciá-la. As coisas complicaram ainda mais quando via forma como null olhava para as pessoas na festa, com um brilho no olhar, como se quisesse fazer exatamente a mesma coisa que eles estavam fazendo. E ainda teve o atrevimento daquele fotógrafo, e pior é que null não pareceu se importar. Tinha tanto medo que null voltasse a frequentar esse mundo e pudesse se perder. Queria tirá-la daquele lugar, mostrar a ela um mundo melhor ao seu lado. Mas parecia que null sempre estava presa entre os dois mundos.
- null! – Ouviu alguém lhe chamar tirando-lhe dos devaneios. Virou-se para trás e viu Audrey parada atrás dele sorrindo e segurando uma taça de champanhe. Ele sorriu quando a viu, estava feliz por ver um rosto conhecido. Não pode deixar de notar que ela estava linda usando um vestido tomara que caia branco. Era um vestido simples, mas ainda assim tão encantador nela. Exatamente como ela era: simples e encantadora. Não precisa forçar para chamar atenção, por si só já conseguia.
- Audrey, que bom ver você! – Disse sinceramente. Ela sorriu timidamente por notar a sinceridade do homem.
- Está perdido aqui?
- Eu vim com null, mas ela precisou sair. Sabe como ela é né, tem que dar atenção a todos. – Seu tom de voz era brincalhão, mas Audrey o conhecendo tão bem viu que tinha algo de errado.
- Sim, eu sei como ela é.
- E você? O que faz aqui? – Ele perguntou tentando acabar com o clima tenso que começava a instalar-se entre eles. Percebeu que havia sido uma péssima ideia tocar no nome de null.
- Eu vim com o meu irmão, já imagina, né? – Eles riram e null concordou com a cabeça. – Espera, tem algo sujo aqui. – Aproximou-se dele ficando a centímetros de distância e delicadamente limpou a bochecha dele, tirando o batom vermelho que estava ali. - Pronto. – Afastou-se um pouco dele e sorriu timidamente.
- O que era?
- Uma mancha de batom vermelho.
- Ah! É o de null. – A feição de Audrey mudou aos poucos, se null não estivesse tão atento a conversa ele nunca iria perceber. Ele sempre citava a mulher, era inevitável. null fazia parte da vida dele e ele não poderia ignorar isso, Audrey teria que entender. Foi a decisão dele.
- Como vocês estão? – Perguntou seriamente. null bebeu o champanhe e olhou para ela.
- O que foi Matt? Daqui a pouco o null vai começar a reclamar que eu o deixei sozinho. – null disse assim que eles se afastaram do homem.
- Querida, o que você está fazendo com esse homem? – Perguntou Matthew num tom de voz terno. null cruzou os braços e arqueou a sobrancelha, já imaginava o que ele iria dizer.
- Como assim? – Perguntou impacientemente.
- Eu sei que ele é lindo, maravilhoso e tudo mais. Mas você realmente acha que ele é o homem certo pra você? – Ela começava a ficar estressada. Odiava quando seus amigos lhe davam opiniões sobre seu relacionamento com null, principalmente quando ela não pedia.
- Claro que sim. Eu o amo!
- Mas vocês são de mundos completamente diferentes. Olha tudo isso aqui! – Apontou para a festa. null olhou para onde ele estava apontando e rapidamente voltou a olhar para ele. – Você pertence a isso, esse é o seu mundo. null sequer gosta dos seus amigos. null, querida, quando você vai entender que você não pertence à null? Você pertence a esse mundo, a essas pessoas. – Ela estava chateada com as palavras do amigo, não queria demonstrar isso a ele, mas Matthew havia a magoado. Estava claro que ele não acreditava que ela tinha mudado. E se seu amigo não acreditava, quem mais iria acreditar? Era tão frustrante para ela, pois estava se esforçando demais para mudar. Mas ninguém acreditava.
- Eu não sou mais a mesma pessoa de antes, Matt, eu mudei, e se você não acredita em mim não há nada que eu possa fazer. – Disse tristemente. Não elevou o tom de voz, não se estressou, apenas falou de maneira calma e sorriu tristemente para o amigo. – Agora, se você me dá licença eu vou ficar com o meu namorado. – Saiu andando da mesma maneira de antes. Confiante, de cabeça erguida, chamando a atenção de todos. Mas por dentro estava destruída, insegura, não restava mais nada de bom. Seu amigo acabara de destruir sua noite, acabara com sua felicidade. Tudo o que ela queria era encontrar null e ir embora daquela festa com ele. Aquele lugar não a animava mais e muito menos a maravilhava, agora ela estava enojada de tudo aquilo, de todas aquelas pessoas.
Parou no meio da festa quando viu null e Audrey. Ela limpava o rosto dele, estava perigosamente perto. null não a interrompeu e muito menos a afastou. Conversavam baixo e próximo. Pareciam estar contando segredos. null sentia seu sangue ferver, respirou fundo tentando controlar sua raiva, mas não conseguia acalmar-se. Não conseguia pensar em nada de bom. Só queria voar no pescoço de Audrey e matá-la.
Deixou de lado toda a sua pose, toda a sua armadura. Foi batendo o pé até onde estava null e Audrey. Ela não sorria, não demonstrava confiança e não tinha mais a cabeça erguida.
- O que está acontecendo aqui? – Perguntou grosseiramente quando aproximou-se dos dois. Audrey sorriu forçadamente e afastou-se de null.
- Oi, querida, encontrei com Audrey e estávamos conversando. – null disse calmamente tentando mostrar a null que não tinha o porquê dela se preocupar. Mas a mulher não o olhava, seus olhos estavam fixos em Audrey.
- Ninguém conversa tocando no outro, e muito menos tão próximo assim.
- null, o que está acontecendo com você? – null perguntou seriamente.
- Você estava me traindo com essa vadia? – Elevou o tom de voz chamando a atenção das outras pessoas. Ela fez algo que null odiava, e ela sabia disso.
- O que você está falando? É claro que eu não estou fazendo isso e nem faria, qual o seu problema? – Ao contrário de null ele mantinha-se calmo.
- QUAL É O SEU PROBLEMA? VOCÊ ME TRAI COM ESSA PIRANHA NA FESTA DOS MEUS AMIGOS! – Gritou apontando o dedo para null. Audrey olhava atônita para ela, não dizia nada. Estava muito envergonhada pela situação. null queria que ela gritasse, que se jogasse para cima de null, que a xingasse, fizesse qualquer coisa ruim para que ela pudesse mostrar a null que Audrey realmente era uma vadia. Mas a mulher nada fez. null olhava incrédulo para null sem acreditar na cena que ela estava causando. null acalmou-se e viu as pessoas olhando para ela e cochichando. Seus olhos encheram-se de lágrimas e ela começou a chorar. Era humilhante demais passar por aquela situação. Não era típico dela. null sempre chamava atenção, mas não daquela forma. Queria gritar e mandar que todos parassem de olhar e falar dela, mas não conseguia. Sem pensar duas vezes ela saiu correndo da festa. Não queria que as coisas piorassem ainda.
null não sabia o que fazer. null havia criado um clima desconfortável no lugar.
- Eu preciso ir, Audrey, me desculpe. – Disse enquanto colocava a taça na bandeja do garçom.
- Tudo bem, null, não precisa se preocupar. Vá lá e explique-se para ela. – null assentiu com a cabeça e saiu correndo atrás de null. Viu a mulher quase no final da rua, ela corria desesperadamente.
- null! – Gritou por ela querendo que ela parasse, mas a mulher continuou a correr ainda mais. null acabou tropeçando nos seus próprios pés e caiu no chão, ralando seus joelhos. Gritou da raiva e dor. null correu mais rápido e em poucos segundos parou ao seu lado. Tentou levantá-la, mas a mulher o empurrava.
- Sai daqui! – Disse com a voz ofegante. null não a obedeceu e também não disse nada, apenas a pegou no colo. Ela gritava e batia nele tentando sair do colo do homem, mas ele era mais forte e a segurava firmemente.
Ele a carregou até o carro, abriu a porta do carona e a colocou sentada no banco. null estava em silêncio, abraçava seu corpo tentando aquecer-se. Não queria dizer mais nada, não tinha coragem. Estava dividida. Uma parte sua achava que estava certa, outra admitia seu erro.
- Vamos aonde? – Sua voz saiu em um sussurro.
- Você vai para sua casa. – A mulher não disse nada, apenas engoliu em seco e fechou os olhos. Ela realmente havia ferrado com tudo.
null pegou o celular e checou pela milésima vez se havia alguma ligação perdida ou mensagem de null. Decepcionou-se mais uma vez quando viu que não havia nada. Ele não havia ligado no dia anterior e também não havia ligado de manhã. Ela sabia que ele estava muito chateado. Queria ligar, mas tinha receio. Sabia que tinha errado fazendo aquela patética cena, mas não sabia o que dizer a null. Não se importava se aquilo poderia estragar sua carreira, no momento sua maior preocupação era null.
Jogou-se na cama e abraçou o urso que null havia lhe dado nos primeiros meses de namoro. null estava de pijama o dia inteiro. Não tinha vontade de comer, tomar banho, não queria fazer nada. Queria apenas que null ligasse para ela e dissesse que sentia a sua falta e lhe perdoava, porque a falta que ela fazia era maior que o seu orgulho e o erro de null. Mas não. O seu desejo não iria ser concedido, pela primeira vez.
Ele não tinha ido trabalhar nem ontem e nem hoje. Não queria ir, não tinha vontade. Tinha decidido passar o dia inteiro em casa tentando adivinhar o motivo daquela cena estúpida que null havia feito. Mas não chegava a nenhuma conclusão, nada fazia sentido para null. Ele nunca dera motivos para null desconfiar dele. E sua conversa com Audrey não tinha nada de suspeito e muito menos a aproximação dos dois. Pareciam apenas dois amigos que se reencontraram numa festa. Cogitou a ideia de Matt ter influenciado null a ver as coisas daquela maneira, mas conhecia null o suficiente para saber que ela não era influenciável. Como ela poderia pensar aquilo dele? Ele sempre deixou tão claro seus sentimentos por ela, nunca a traiu ou fez algo que a fizesse desconfiar dele. Então por quê? Se alguém deveria ter dúvidas sobre isso, esse alguém deveria ser ele mesmo, já que null o traiu por diversas vezes e são poucos os motivos que ela lhe dá para confiar nela.
Desligou a TV, irritado por não achar nenhum programa que prendesse a sua atenção. Ele queria que ela o ligasse e lhe pedisse desculpas, que explicasse os seus motivos. Ele iria compreendê-la é claro. Sempre a compreendia. Porém null era tão orgulhosa que preferia perde-lo. Então por que ele deveria ligar? Por que ele deveria procurá-la se ele não havia feito nada de errado. Ela é a culpada por causar toda aquela confusão. Desejou que null fosse uma pessoa mais simples. Mas ela era tão complicada que o confundia, o enlouquecia. Não sabia mais como agir, o que pensar. Ela mudava toda sua forma de pensar, agir. Audrey não era assim. Com Audrey tudo sempre foi simples. Ele sempre sabia o que ela pensava, o que iria fazer, o que iria querer. Diferentemente de null, Audrey era previsível. Talvez seja esse o motivo das coisas não terem dado certo entre eles. Porque ela não tinha nada a mais que lhe chamasse atenção, ela não o prendia como null o prendia. Parecia que null tinha um feitiço sobre ele, algum poder inexplicável que sempre o atraia para perto dele. Mas Audrey não. Ela era tão simples, tão sem graça. Uma pessoa tão boa, claro. Ele a adorava. Adorava os tempos em que passava com ela, sua companhia, tudo que ela havia feito por ele. Mas não amava. Não amava a ponto de doer seu peito, exatamente como era com null. Ninguém era como essa mulher. E por isso ele enlouquecia.
Saiu do banheiro e passou apressadamente o hidratante no seu corpo. Usou o perfume favorito de null e vestiu uma calça jeans, tênis vans azul e uma blusa branca. Prendeu o cabelo num coque e colocou os óculos escuros. Estava decidida ir até a casa de null. Não aguentava mais passar o dia sem ter notícias dele, não queria mais dormir uma noite sabendo que eles não estavam bem. Precisava ir até lá e esclarecer-se, explicar a ele os seus motivos idiotas, tentar resolver a situação deles. null poderia até não aceitar suas desculpas, mas ela teria a consciência de que tentou. De que não foi ela quem foi orgulhosa.
Entrou no carro apressadamente, ligou o carro e deu partida. Ligou também o som. Tocava no rádio The Only Exception do Paramore, a música favorita de null. Ela sorriu e abaixou o vidro deixando que o vento balançasse o seu cabelo e lentamente soltasse o seu coque. Lá fora um lindo dia brilhava, o sol iluminava seu rosto. Algo lhe dizia que as coisas iriam dar certo. Sua música favorita, um sentimento de esperança, um lindo sol, como não acreditar em algo bom com motivos tão maravilhosos? Só pelo fato dela estar deixando seu orgulho de lado e indo atrás do homem que ama por medo perde-lo, já era alguma coisa. Tinha que significar alguma coisa. Ela não era mais ninguém sem null.
null levantou preguiçosamente do sofá para atender a porta. Não preocupou-se em vestir uma calça, já que estava de samba canção, não estava com vontade de falar com ninguém. Quando abriu a porta surpreendeu-se quando viu null parada ali. Ela o olhava, tímida.
- Oi. – Disse timidamente. null balançou a cabeça como se estivesse voltando para realidade.
- O que você faz aqui? – Perguntou grosseiramente. Não se preocupou com o tom de voz, null não merecia ser tratada tão bem. A mulher suspirou pesadamente e pensou no quão difícil seria tentar resolver as coisas.
- Eu preciso conversar com você. – Ao contrário dele ela falava calmamente. null chegou para o lado e com a mão apontou para a casa, dando permissão para que ela entrasse. Como se fosse a primeira vez que entrava naquela casa, ela entrou receosa. Nunca tinha sentido aquilo antes, mas sentia-se estranha no lugar que chamava de segunda casa.
- Sente-se. – null ordenou quando trancou a porta. Timidamente ela sentou-se no canto do sofá, null sentou-se ao lado dela, ficando de frente para ela. – Então? – Cruzou as duas mãos em cima do colo.
- Eu queria lhe pedir desculpas...
- Pela aquela cena patética que você fez na festa? - Ele a interrompeu elevando seu tom de voz. null engoliu em seco e tentou controlar-se, null parecia estar irritadíssimo com ela.
- Eu estava com ciúmes, null, pensei que estava rolando algo a mais. – Sua voz saiu num sussurro fraco.
- ROLANDO O QUE ? NÓS ESTÁVAMOS CONVERSANDO, APENAS ISSO!
- ELA ESTAVA TOCANDO NO SEU ROSTO! – null gritou também perdendo todo o seu controle.
- Ela estava limpando o seu batom do meu rosto. Não aconteceu nada, apenas estávamos conversando. – Apesar de ter diminuído o tom de voz, ele ainda estava irritado.
- Eu fiquei com ciúme, null. Fiquei com medo. – Ela não olhava para ele, estava envergonhada demais.
- Medo de que, null?
- De te perder! – Olhou no olho dele.
- Por que você acha que vai me perder? Eu amo você.
- Mas Audrey é perfeita, você não entende? Ela é sempre tão boa, sempre esteve lá por você. E eu? Sou sempre a errada, imperfeita, a que te faz sofrer, a que não merece o seu amor. Ela merece porque sempre foi boa o bastante e eu não! Eu não sou boa o bastante, não sou compatível com ela. – Seus olhos estavam cheios de lágrimas e ela tremia. Estava nervosa. Ela estava ali na frente do homem que ama admitindo todas as suas inseguranças. Poderia ser rejeitada ou então ele poderia usar tudo aquilo contra ela, mas null não se importava. Estava cansada de ter que fazer cena, de tentar ser outra pessoa.
- Você é boa o bastante para mim. – null o olhou surpresa e viu um sorriso torto surgir nos lábios do homem que tanto amava. Ela também sorriu minimamente. null a puxou para um abraço e ela jogou-se nos braços dele, o homem acariciava o cabelo dela e apertava contra si. Havia sentido falta daquilo. Do abraço da mulher, do cheiro dela, da pele dela. Dela. Agora ele a entendia mais que nunca, agora sim ele tinha certeza da mudança dela. null foi até a sua casa para dizer a ele que o amava e que no fundo ela só estava com medo de ser trocada. Saber que ela também se sentia insegura em relação a eles dois, o deixava um pouco mais confortável. Era bom saber que ela também tinha medo de perdê-lo.
- Eu não quero te perder nunca mais. –A voz dela estava embargada, ele sabia que ela estava segurando o choro.
- Você não vai, meu amor, você não vai.
- Eu amo muito você, acredite em mim quando eu digo isso.
- Eu sei que ama. Eu amo você demais.
E então ele a beijou. Foi um beijo de desculpas, carregados de sentimentos bons e ruins. Amor, felicidade, incertezas e medo. Mas pela primeira vez null sentia que null sentia exatamente o mesmo que ele. Não achou que era ele que amava mais. Ele viu o sentimento dos dois na mesma intensidade. Ele a entendeu. Viu que o jeito de null era apenas sua defesa contra suas inseguranças. Ela ainda era uma menina e como uma menina precisava de alguém. E esse alguém era ele.
''null parou em frente à casa amarela com cercas brancas e sorriu docemente. Atravessou o jardim florido e esverdeado e entrou na casa. Ouviu o barulho das crianças brincando. Pendurou a bolsa e o cachecol no cabideiro que ficava ao lado da porta e a fechou. Foi até a cozinha e viu seus dois filhos brincando. O menino corria atrás da irmã mais nova, brincando de pega-pega. null estava fazendo panquecas para eles. Ela sorriu novamente.
- Oi, amor. - Disse enquanto o abraçava por trás e beijava o pescoço dele. null encostou a cabeça no topo da cabeça dela e suspirou.
- Oi, minha vida. Como foi o dia? - Virou-se e a beijou delicadamente nos lábios.
- Muito bom e o seu?
- Também. - Quando escutaram a voz da mãe, as crianças correram até ela e a abraçaram apertado.
- Mamãe, que saudades! - Disse a mais nova abraçada a mãe. null riu achando bonito a filha sentir saudades mesmo tendo ficado apenas algumas horas sem vê-la.
- Mamãe, eu te amo! - O mais velho disse. Os olhos dela encheram-se de lágrimas enquanto ouvias palavras dóceis dos filhos e sentia o carinho deles na sua perna. Os abraçou desajeitadamente.
Para qualquer um aquele seria um sonho lindo. Mas não para null. Para ela aquilo era um pesadelo. Era a realidade lhe mostrando o que ela havia destruído.
Levantou-se da cama e foi até cozinha. Pegou um copo d'água e bebeu rapidamente. Sua boca estava seca e coração acelerado. Será que nunca iria ter paz na sua vida? Será que seus fantasmas do passado iriam insistir em persegui-la para sempre? Voltou para o quarto e parou no batente da porta observando null dormia. Ele dormia tranquilamente, seu peito subindo e descendo de acordo com a sua respiração calma. A boca rosada entreaberta deixando escapar o ar dos seus pulmões. Alguns fios do cabelo na testa. Estava tão despreocupado, tão simples. null o invejou. Há tempos em que ela não dormia assim, de forma despreocupada. Queria ser assim.
Deitou-se novamente na cama despertando sem querer null. Ele abraçou por trás e sussurrou no ouvido dela:
- Está tudo bem? - Ela suspirou. Queria contar a ele tudo. Dizer que nada estava bem, que tudo estava errado, que ela era uma vadia. Mas apenas mentiu, como sempre.
- Sim, só estava com sede. - Ele beijou seu pescoço e voltou a dormir. null manteve-se de olhos abertos, sabia que não iria dormir tão cedo.
Despertou do seu sono mal dormido quando ouviu null pegar algumas coisas no armário. null havia decidido passar alguns dias na casa com null por precaução. Sabia que Phillip iria aparecer na casa dela, seria difícil ele aparecer na casa de null sabendo que o homem não iria deixá-lo entrar. E por isso ela decidiu ficar uns dias na casa do homem.
- Onde você vai? - Perguntou preguiçosamente. null engatinhou até ela na cama e beijou sua testa.
- Estou indo trabalhar meu amor, mas eu volto logo. - null resmungou e o puxou para mais perto de si.
- Não, não vá trabalho, por favor.
- Eu não posso. Bem que eu queria, mas eu não posso.
- Mas eu pensei que iríamos ficar o dia inteiro juntos, poxa... - Fez bico tentando convencê-lo. A verdade é que ela não queria mais ficar um dia sem ele, tinha medo que isso acabasse logo e ela não ter aproveitado.
- Tudo bem, você venceu! - null levantou os braços comemorando fazendo null rir. Ficou em cima dele e arrancou a camisa do homem. null riu do desespero dela. Começou a beijar o pescoço dele, o peitoral, os lábios. null fechou os olhos e sorriu maliciosamente.
- Hoje você é meu. - Sussurrou no ouvido dele.
É, realmente não iria passar daquele dia.
- Mas você sempre escolhe filmes de drama! - null resmungou enquanto null colocava no canal onde passava ''Um Dia''.
- Mas esse filme é lindo!
- Mas a mulher morre, e ai?
- Você é muito chato! - null reclamou e mostrou a língua a ele. Ele riu da atitude infantil da mulher e a puxou para si a beijando.
- Tudo bem, iremos assistir Um Dia agora. Mas depois eu escolho, está bem?
- Sim senhor! - Ela deu um selinho nele. Ajeitaram-se para assistir filme. null ficou entre as pernas de null ele acaricava o cabelo dela.
Ela sentiu vontade de chorar. Estava com medo e raiva. Raiva de si mesma. Por ter estragado tudo, pelas suas escolhas erradas, por ameaçar o maravilhoso relacionamento com null. E medo. Medo de perdê-lo para sempre. Ela precisava dele. Não iria saber mais como lidar sem ele. O amava intensamente e talvez por isso, por o amar demais e não saber como amar, que sempre acabava fazendo coisas ruins. Mas ela precisava dele! Ela o queria. Apertou os braços dele em volta do seu corpo e fechou os olhos tentando controlar as lágrimas. Meu Deus! Como ela tinha medo de perder aquele homem. Ela sabia que não o merecia, mas ainda assim o amava. Se pudesse voltar ao passado e ter consertado todas as coisas ruins que fez...
null bufou irritada quando viu que havia perdido no ímpar ou par. Eles queriam comer algo diferente, mas nenhum dos dois queria ir ao supermercado por preguiça e frio. Lá fora chovia muito e null não queria sair debaixo do edredom. Por isso fizeram ímpar ou par para saber quem iria, null acabou perdendo. null riu comemorando a vitória. Emburrada ela pegou a bolsa e abriu a porta de casa. null foi até ela e a puxou, beijando-a.
- Eu te amo, tá bom? - Disse rindo. Ela fez careta e disse:
- Eu te amo muito, seu babaca. - Saiu de casa e fechou a porta. Entrou no carro e o ligou, dando partida. Enquanto dirigia pensava no dia que tivera com null. Não haviam feito nada além de comer, beijar e fazer sexo. Mas ainda assim foi um dos melhores dias dela. Ela sentia falta disso. De ficar o dia inteiro com ele sem fazer nada. Apenas se tocando, beijando, amando.
Estacionou o carro e o desligou, saiu e trancou. Entrou no supermercado e foi até algumas sessões onde pegou gordices, como ela e null definiam as comidas que eles adoravam, para eles comerem. Foi até o caixa onde pagou. Com as compras ela foi até o carro e as colocou lá, entrou no carro e o ligou, dando partida.
Quando chegou à rua da casa de null o seu coração acelerou. O carro de Phillip estava parado em frente à casa dele. Suas mãos começaram e tremer suar frio. Estacionou o carro de qualquer maneira na rua, desligou e saiu correndo. Esqueceu-se completamente de retirar as sacolas de compra. Abriu a porta desesperada assustando null e Phillip que conversavam em pé na sala da casa. A forma como null olhou para ela disse tudo. Ela quis morrer.
Olhou para ele como se quisesse pedir desculpas. Mas os olhos vermelhos dele carregados de raiva mostravam que ele não iria perdoar. O sorriso debochado e vingativo de Phillip já dizia tudo. Ela perdera null. Para sempre.
- Eu... - Começou dizendo, entrando na casa e fechando a porta.
- Então é verdade? - Ele a cortou sem paciência para ouvir qualquer desculpa que ela pudesse dar.
- Eu não sei do que você está falando. - Mentiu. Talvez ainda houvesse esperanças para ela. Phillip riu da atitude estúpida da mulher. Ele adorava ver quando os planos dela não davam certos e ela ficava completamente perdida.
- Tem certeza que você não sabe? EU ESTOU FALANDO DO NOSSO FILHO. O NOSSO FILHO! QUE VOCÊ ABORTOU SEM AO MENOS ME CONTAR QUE EU IRIA SER PAI. O FILHO QUE VOCÊ MATOU. É ISSO QUE EU ESTOU FALANDO. - Ela estremeceu com as palavras dele. Seus olhos encheram-se de lágrimas. Aproximou-se dele tentando pensar em algo para dizer, em algo que não a fizesse parecer um monstro.
- null... - Descobriu então, pela sua voz embargada e o rosto molhado, que estava chorando.
- CHEGA ! - Ele gritou novamente. Ela fechou os olhos e tornou os abrir. Não, não era um pesadelo. Aquilo era mais real do que ela imaginava. - ESTOU CANSADO DAS SUAS DESCULPAS. ESTOU CANSADO DE VÊ-LA COMETER ERROS ATRÁS DE ERROS E NUNCA APRENDER!
- null, eu mudei! Por favor, acredite em mim. - Aproximou-se dele e o abraçou, mas rapidamente ele a empurrou e por pouco ela não caiu. Soluçou, cobrindo as bocas com as mãos.
- É isso que você chama de mudança? Tirar a vida de uma criança porque não quer prejudicar a sua preciosa carreira? E toda aquela história de termos filhos, casarmos? Hein? - Ela virou o rosto sem coragem de olhá-lo. Mas null segurou o rosto dela com força fazendo a olhá-lo, a mulher mordeu a língua sem querer e urrou de dor. - OLHA PARA MIM! - Ordenou. Amedrontada a menina o olhou.
- Eu fiz pela gente, null! Somos muito novos e irresponsáveis para assumir um filho. Você tem toda sua carreira pela frente e eu também. Não quis te prejudicar, em momento algum. Olhe para nós dois, você realmente acha que seríamos capazes de criar um filho?
- Eu seria, null, eu seria. Fale por você, não por mim. Um filho nunca iria me prejudicar. A irresponsável aqui é você. Quer saber de uma coisa, null? Você não é digna de ser mãe de ninguém. Sabe por quê? Porque você não é digna do amor de ninguém. Você merece viver e morrer sozinha, porque você é podre por dentro. Essa sua aparência por fora, a menina linda, não é mesmo? Nunca irá esconder o fato de você ser má por dentro. Você merece sofrer, você merece tudo de ruim. Eu tenho nojo de você. Eu tenho raiva! Realmente, ter um filho com você não seria a melhor opção. Você ter um filho não é a melhor opção. Espero que um dia nunca chegue a ter, a criança merece uma mãe melhor.
Encolheu-se com as palavras de null. Doíam mais do que qualquer coisa no mundo. Pareciam que rasgavam a sua pele. Ouvir o homem que ela tanto amava dizendo tudo aquilo para ela era a pior coisa do mundo. Não sabia mais o que dizer, não sabia mais o que fazer. null já havia deixado claro no seu olhar e nas suas palavras que ela o perdera. Ela não o merecia.
Viu, pelo canto do olho, Phillip sair da casa. É, ele já havia conseguido o que queria. null estava sozinha.
- null, por favor... - Sussurrou com a voz embargada.
- Saia daqui! - Ele disse entre os dentes, soltou o rosto dela.
- null...
- SAIA DAQUI! - Ele a segurou pelo braço e saiu a puxando. Empurrou para fora da sua casa e fechou a porta trancando.
Do lado da TV havia um porta retrato dos dois. Estavam abraçados e sorrindo. Um casal feliz e amado. Não mais. Ele pegou o porta retrato e tacou na parede. Queria tirar imediatamente da sua casa qualquer coisa dela, queria esquecer que ela fez parte da sua vida, que algum dia ele a amou. Queria que ela morresse.
Do outro lado da porta, null escorregou e sentou-se no chão. Chorava desesperadamente, ouvia null gritar e quebrar coisas. Batia levemente na porta e chamava por ele. Pedia que ele a perdoasse. Mas nada. Ele continuava a gritar e quebrar as coisas, sequer abrir a porta para ela abriu. O frio estava cortante e ela tremia muito, mas não queria sair dali. Queria insistir até que ele voltasse para ela e a perdoasse, como sempre fazia. Que ele chegasse e falasse: Eu te amo null e por isso estou te dando essa chance, por favor não estrague.
E ela não iria estragar, não mesmo. Iria fazer valer a pena. Mas ela precisava dele. Precisava de outra chance. Havia aprendido com os seus erros, era verdade. Mas porque ele não acreditava?
Era tarde demais, null Bertolli.
Acordou no dia seguinte sentindo as pernas dormentes, suas mãos pareciam que iam congelar. Ela estava tremendo. Não lembrou quando foi que dormiu, talvez tivesse dormido chorando. Ela ainda estava sentada no chão encostada na porta. Lembrou-se da noite passada e estremeceu. Como queria apagar aquele dia. Foi o pior dia da sua vida. As palavras de null e o olhar de decepção dele havia a machucado de uma forma que ela não conseguia explicar. Passou a noite inteira chorando e batendo na porta de null, mas ele sequer havia atendido, sequer disse algo.
Levantou-se com dificuldade, seu corpo estava gelado. Sentiu dor no corpo devido a posição que dormiu. Não ouviu barulho na casa, provavelmente null ainda estava dormindo. Tentou abrir a porta, mas foi em vão. Ela ainda estava trancada. Procurou no bolso da calça pelas suas chaves, mas não as encontrou. Provavelmente as deixou na casa de null na hora da discussão.
Com o coração na mão ela foi para a rua. Parou na calçada e olhou a casa. Seus olhos encheram-se de lágrimas e ela perguntou-se como ainda havia lágrimas. Olhou a casa com carinho e tristeza. Passara tanto tempo ali que havia considerado como a sua segunda casa. Naquela casa tinha tantos segredos dela e de null, tanto momentos íntimos entre eles, tantas juras de amor, tantos planos. Sentou-se na calçada. Não tinha forças para ir para casa, não conseguia. Sentia que não pertencia a mais nenhum lugar, somente aquele. Aquele era o seu lugar. Ela precisava daquilo, precisava estar perto de null. Ela o amava, não era justo.
Olhou para a janela do quarto de null e surpreendeu-se quando o viu olhando para ela. Procurou algum vestígio de amor, perdão, compreensão no olhar dele. Qualquer coisa que a fizesse voltar até ele, que insistisse para que ele o perdoasse. Mas não encontrou nada além de raiva e tristeza. A maneira como ele a olhava frio a faz arrepiar-se. Ela nunca tinha o visto daquela forma. Ela estava destruído, null via isso claramente. Quis ir até ele e ajudá-lo, pedir mais uma vez desculpas, abraçá-lo, tentar consertá-lo. Mas não conseguiu. No olhar dele dizia claramente que ele queria distância dela. null sabia que não seria tão fácil tê-lo de volta. Era provável que ela nunca mais o tivesse.
Levantou-se da calçada e andou até o ponto de táxi mais próximo. Estava arrasada. Sabia que sua aparência física não era bonita, assim como o seu interior, mas não se importou. Que rissem dela, falassem mal, tirassem fotos. Ela não se importava.
Entrou no táxi sem dizer nada. O taxista lhe desejou bom dia e ela apenas murmurou algo em resposta. Aquele definitivamente não era um bom dia. Viu as ruas passarem como um borrão aos seus olhos, viu como todos seguiam a sua vida sem se importar que ela estava destruída por dentro. Ela não tinha mais ninguém para se importar, estava sozinha. Novamente. E mais uma vez ela era a culpada disso.
O taxista parou em frente a sua casa, ela tirou do seu bolso o dinheiro e saiu do táxi. Suspirou quando entrou em casa. Desejou não estar ali sozinha. Não cumprimentou ninguém quando chegou na sua casa, o que os empregados acharam estranhos, pois null sempre os cumprimentava. Subiu direto para o seu quarto onde se trancou. Entro no banheiro e tirou toda a sua roupa, entrou no box e ligou o chaveiro. A água quente fez seus pelos arrepiarem quando entrou em contato com a sua pele gelada. Mas ela fechou os olhos e deixou que a água tentasse relaxar seu corpo.
Tentou não pensar em null, mas foi inevitável. Lembrou-se de todos os seus momentos com ele naquele box. As diversas vezes em que transaram ali, e as outras em que apenas tomaram banho juntos. Eles tinham uma sintonia, tinham química. null despertava tantos sentimentos em null que a confundia. Ele era o certo para ela, sempre fora o certo. Ela só não era a certa para ele. Talvez null era o tipo de garota que não era certa para ninguém. O tipo de garota que as pessoas chamam como escolhas ruins. Ela temeu o futuro. Temeu que null a visse apenas como aprendizado, como a garota que ele amou, mas que não o soube amar e por isso ele aprendeu a amar e escolher a garota certa. Não, ela não queria ser isso. Ela queria ser o primeiro e o último amor dele. A mulher que ele iria se casar, ter filhos e envelhecer juntos. null queria ser a melhor escolha dele.
Deitou na cama e cobriu-se com o edredom até o pescoço. Seu quarto estava escuro o que era estranho. null nunca ficava sozinha no escuro, sempre tivera medo. Quando dormia sozinha sempre acendia a luz do banheiro. Mas dessa vez ela não teve medo, dessa vez quis estar no escuro. Sentia que aquele era o seu lugar, na escuridão. Ficou de olhos abertos olhando para a parede. Não chorou, não disse nada e não se moveu. Não sabia exatamente no que pensava, sua mente tinha um turbilhão de pensamentos. E todos eles eram voltados para null. Acariciou a sua barriga e lembrou que até então ali estava um bebê, o seu filho ou filha dela e de null. Nunca se arrependeu tanto de algo na vida como havia se arrependido daquilo. Como desejava ter um filho com o homem da sua vida agora.
Alguém bateu na porta, mas ela não respondeu.
- null, querida? - Reconheceu a voz da sua empregada. Uma parte sua quis levantar e deixar que ela a abraçasse e a cuidasse, mas outra parte quis ficar sozinha. Ela não respondeu e não levantou. - Está tudo bem? - Silêncio. - Você quer comer algo? - Silêncio novamente. A empregada esperou alguns minutos, até que cansou e afastou-se. null encolheu-se na cama quando ouviu os passos dela. Sozinha novamente. Essa ideia era tão aterrorizante. Não sabia mais como agir, como viver sua vida sem null. Ele fazia parte da sua vida que null não conseguia mais viver sem ele. Sabia que era errado criar essa dependência, sabia que isso seria algo autodestrutivo no futuro, mas não soube como parar isso. Quando o perdeu foi que ela percebeu a gravidade da situação.
Fechou os olhos e pediu a Deus que lhe desse bons sonhos. A realidade já estava sendo muito cruel com ela.
Ele viu quando null foi embora. Não pensou em ir até ela, não pensou em perdoá-la, não se arrependeu de nada do que havia feito e dito. Ele sentiu-se aliviado quando ela foi embora. null estava cansado dos problemas que null causava, cansado dela nunca mudar, cansado de se doar muito e nunca receber a altura. Ele merecia algo melhor, merecia ser valorizado. Havia perdoado tantos erros dela, mas aquele havia sido o cúmulo. Não conseguia olhar novamente para ela da mesma maneira depois daquilo. Ela sabia o quão importante era para ele ter um filho, formar uma família. Como ousava usar aquele discurso de que tinha medo dele não estar preparado, que não queria arruinar a vida dele? Ela já havia arruinado! Na verdade null havia sido egoísta o tempo inteiro, era ela que não estava preparada, era a vida dela que ela não queria arruinar. Nunca foi sobre ele ou a criança. Sempre foi sobre ela. Para null aquela havia sido a pior traição.
Teve vontade de rasgar todas as roupas dela, mas controlou-se para não fazer. Guardou tudo dentro da bolsa dela. Tirou todas as coisas dela de dentro da casa. Tirou todas as fotos deles. Tirou tudo que lembrasse a ela. Se pudesse quebrar a casa ele quebraria para não ter que lembrar dela. Pensou seriamente naquela possibilidade. O cheiro dela pela casa estava lhe dando naúseas. O cheiro que sempre o acalmou, o cheiro preferido dele. Como as coisas mudam. Como o amor pode transformar-se em ódio tão de repente? Ontem eles estavam juntos, se amando. Ele tendo a certeza do amor dela e mais feliz do que nunca por tê-la ao seu lado. E hoje não conseguia suportar a ideia de que amou uma mulher como ela, que viveu anos ao lado dela.
Sentou-se na cama e olhou para todas as coisas dela dentro das bolsas. Esperou pelo aperto no peito, esperou pela lágrima, o desespero. Mas nada veio. Talvez no fundo ele sempre soubesse que eles iriam terminar de verdade, que null iria decepcioná-lo de uma forma que ele nunca mais iria conseguir perdoá-la. Talvez ele estivesse esperando por isso. Quase se tratava de null null sempre se pegava pensando no pior. Surpreendeu-se com o pensamento de que não queria mais tê-la. Que queria que sua vida seguisse sem ela. Ele queria um pouco de paz e se isso significava ficar sem ela, tudo bem para ele. null iria superar.
Cinco meses haviam se passado. Cinco meses sem sentir o toque de null, os beijos, os abraços. Cinco meses sem vê-lo olhar de forma carinhosa para ela. Cinco meses em que ela só o ouvia xingá-la e dizer que a queria longe dele. Cinco meses em que ela só via desprezo no olhar dele. Foram os meses mais difíceis da sua vida. Ter que encarar a vida, trabalhar, ir a eventos, conversar com as pessoas como se nada tivesse acontecido, como se seu mundo não tivesse desmoronado, foi a parte mais difícil. Doía muito quando lhe perguntavam sobre null. Queria desabafar com alguém, contar o que realmente tinha acontecido, chorar no colo de alguma pessoa. Mas quem? Quem ela poderia confiar? Não tinha verdadeiros amigos. Tinha amigos de balada, de bebida. Mas amigos de verdade, aquele tipo de amigo que ela via nos filmes, que quando precisasse estaria ao lado dela. Não, ela não tinha. Então sempre quando lhe perguntavam sobre ele ela sorria tristemente e dizia a frase mais clichê de todas: Não deu certo.
E realmente não havia dado certo. Mas não por causa do destino ou porque realmente não eram para ficar juntos. Mas sim por causa das burradas de null. Era isso que mais doía nela. Saber que perder alguém tão maravilhoso como null porque tinha sido burro o suficiente para deixá-lo ir. Se ela havia tentado reconquistá-lo? Todos os dias. Ligava para ele e pedia desculpas, mas tudo o que ouvia eram xingamentos, até que então ele parou de atender as suas ligações. Ia ao seu trabalho e implorava por perdão, mas null proibiu a sua entrada. Ia até a sua casa e lhe mandava flores, cartas, chocolates, músicas. Mas nada. null nunca a atendia. Até que ela desistiu. Conformou-se com o fato de que ele nunca mais iria perdoá-lo e que nunca mais seriam um casal. Cinco meses tentando. Ela já não sabia mais o que fazer.
Sentia-se cada vez mais solitária. Não importa onde estivesse, ela sempre tinha a sensação de que estava sozinha e que não pertencia aquele lugar. Não mais. Nas festas, nos trabalhos, no seu quarto, na sua casa. Nada parecia o mesmo. Parecia que a solidão a acompanhava em qualquer lugar que ela ia. A sensação de ser uma intrusa. O trabalho não era mais gratificante como antes, não tinha mais vontade de fazê-lo. As festas não eram as mesmas, não enchiam os seus olhos. Assim como as pessoas. E a sua casa sempre a fazia lembrar-se de null, especialmente o seu quarto. Como viver uma vida sem ele? Ela viveu uma vida com ele. Compartilhou tantos momentos ao lado dele. Como ignorar tudo isso agora? Era praticamente impossível. Aquela cidade inteira a fazia lembrar-se dele.
Vestiu o seu vestido vermelho que ia até o meio das coxas com um decote nos seios. Colocou seus brincos, relógio, um colar e anéis. Calçou seu salto preto e pegou sua pequena bolsa, onde colocou seu celular, documento, cartão, dinheiro e um brilho labial. Olhou-se no espelho. Estava pálida, mas ainda assim continuava maravilhosa. Seu cabelo longo tinha cachos na ponta. O delineador realçava ainda mais seus olhos marcantes. Se fosse em outra época ela iria se achar linda. Mas não naquele dia. Para null ela era somente mais uma garota dentre tantas outras garotas que estavam se arrumando para ir a uma festa. Nada além disso. Ela não era mais especial e nem diferente. Era uma garota comum, como qualquer outra. Ela era sim especial quando tinha alguém especial na sua vida, alguém que a tornava melhor.
Saiu de casa e entrou no carro. Ligou o carro e deu partida. Ligou também o rádio. Daylight do Maroon 5 começou a tocar. Riu amargamente. Aquela música sempre tocava na rádio e ela sempre se lembrava de null. Desligou o rádio, irritada. Não queria lembrar-se dele, não naquele dia. Havia colocado em mente que iria sair para se distrair, que iria esquecê-lo. Estava conformada que eles não iriam voltar. Era isso, tinha que aceitar.
Estacionou o carro no estacionamento da festa. Desligou o carro e saiu. Escutou a música alta que vinha da mansão. Sim, realmente era uma mansão. Seus ''amigos'' sabiam como fazer uma festa. Não poderia negar. Quando entrou na casa não precisou dizer ao seu nome ao segurança, ele sabia quem ela era. A maravilhosa e famosa modelo null Bertolli. Quem não conhecia? Quem não admirava? null. A única pessoa que ela buscava por admiração.
Bufou irritada por mais uma vez estar pensando nele. O garçom passou servindo drinks, imediatamente ela pegou uma taça e virou completamente o conteúdo e o colocou novamente na bandeja. Algumas pessoas dançavam animadas na pista de dança. Outras estavam em um canto mais afastado se beijando ou usando drogas. Como era de se esperar, null percebeu que havia todos os tipos de pessoa naquela festa. Mas todas com o mesmo objetivo: divertir-se e esquecer-se de qualquer que fosse os problemas.
Cumprimentou alguns conhecidos e rapidamente correu até Matt quando o viu. Era o único que a fazia se sentir um pouco mais a vontade. Não era considerado um melhor amigo, aquele que lhe ajuda quando você precisa. Mas dentre tantas pessoas que conviviam com ela, Matt com certeza era o mais próximo disso.
- Oi, meu amor! - null o abraçou pelo ombro enquanto ele beijava sua cabeça.
- Oi, linda! E ai o que está achando da festa? - Matt ofereceu a null uma taça que ela rapidamente aceitou. Estar sóbria estava fora de cogitação.
- Bem legal. Patrick realmente sabe como dar uma festa. - Disse null referindo-se ao dono da festa. Matt assentiu com a cabeça. Blake e Timmy juntaram-se a eles. null os cumprimentou fingindo animação. Blake segurava um baseado, ofereceu a null, que relutante aceitou. Sabia que não estava agindo de maneira certa. Mas havia colocado na cabeça que naquela noite iria esquecer null, e se bebidas e drogas seriam a solução, então era isso que iria fazer. Estava cansada de ser torturar.
null já dançava animadamente na pista de dança com os amigos. Riu escandalosamente de alguma coisa idiota que Timmy disse e abraçou Matt. Os quatros dançavam e conversavam entre si. Compartilhavam a bebida e as drogas. Não se importavam com quem estava na festa, queriam ficar apenas no mundinho deles e não queriam que mais ninguém entrasse.
- Matt? Vamos ao banheiro comigo?
- Eu sou homem, meu amor. - Ele riu achando graça da mulher estar o chamando para ir ao banheiro com ele quando na verdade deveria estar chamando Blake ou outra mulher.
- Eu sei, idiota. - null riu. - Mas eu quero que você me acompanhe. Por favor. - Ela não disse aquilo de maldade. Se fosse qualquer outro homem iria interpretar aquilo com maldade. Mas não Matt. Ele era diferente de todos. Matt sempre a tratava com respeito. Era disso que null mais gostava dele.
Matt acompanhou null até o banheiro, estavam de mãos dadas e rindo dos casais que se beijavam sem vergonha. null parou no meio do caminho quando viu uma blusa conhecida. Seu coração acelerou e ela teve vontade de vomitar. Ela conhecia aquela blusa. Foi a blusa que ela havia dado a null de presente de aniversário. Estremeceu quando o reconheceu. Ele estava encostado no bar bebendo uma cerveja e conversando com uma mulher. Sua mão estava na cintura dela enquanto a outra segurava a cerveja. Ele dizia alguma coisa no ouvido dela fazendo a rir. Provavelmente ele estava falando sobre como aquela era uma festa idiota para pessoas idiotas. null invejou a mulher. Era ela quem deveria estar ali, era ela quem deveria estar rindo do que ele estava falando enquanto ele segurava com força a sua cintura. Era ela que deveria estar ao lado dele e não... Ficou boquiaberta quando reconheceu a mulher. Era Audrey. Não acreditou no que via. Poderia ser qualquer mulher, uma vadia qualquer. Mas não, Audrey não. null sabia do carinho e respeito que null tinha por ela. null sabia que eles estavam prestes a casar. Ela sabia que Audrey não era uma qualquer. Audrey era o tipo de mulher perfeita para null.
Matt disse algo no seu ouvido, mas null não entendeu e também não procurou entender. Ela continuou segurando firmemente a mão de Matt e olhando espantada para o casal no bar. Viu null sorrir meigamente para Audrey, dar-lhe um selinho e virar o rosto na direção de null. Ele surpreendeu-se ao vê-la. null percebeu isso. Ela não saiu andando ou quebrou o contato visual. Pelo contrário, continuou o olhando. Não sabia ao certo o que seu olhar estava transmitindo, mas queria que ele entendesse que estava magoada. Ela só conseguia pensar em uma frase: ''Audrey não, por favor.''. Não havia mágoas, desprezo, raiva no olhar de null. Pelo contrário, ela não viu nada, absolutamente nada. Ele a olhava como se estivesse olhando para qualquer outra pessoa na festa. Aquilo a matou. Qualquer outra pessoa não. Ela não queria ser qualquer outra pessoa na vida dele, preferia ser vista de qualquer outra forma, menos como se não tivesse importância ou nunca tivesse tido. Ele quebrou o contato visual como se nada tivesse acontecido e voltou a conversar com Audrey. Somente isso. Não fez cena, não a puxou e a beijou tentando provocar null. Ele agiu como se não tivesse sido nada demais ter visto null e continuou a conversar com Audrey, como se ela fosse a única mulher importante para ele. null quis morrer. Ela quis que ele tivesse feito cena porque ainda assim mostraria que ele se importava e que estava tentando atingi-la causando ciúmes nela. Mas a frieza dele foi pior do que qualquer coisa.
- null, você está bem? Você está branca. - Matt pôs-se na frente dela e segurou rosto dela.
- Me tira daqui, Matt, por favor. - Disse com a voz embargada. Ele olhou para onde null estava olhando e viu null e Audrey. Rapidamente entendeu.
- Claro, vamos sair daqui. - Tirou o seu casaco e a cobriu. Saíram da festa rapidamente. null não disse nada, não precisou dizer. Mesmo sem saber do ocorrido, Matt havia entendido tudo. Matt a abraçou de forma protetora e sem dizer nada a levou para longe dali, para um lugar seguro onde ela poderia chorar. Para sua casa.
Matthew tentava acalmar a mulher que chorava desesperadamente no seu colo. Acariciava os cabelos dela e deixava que ela molhasse seu colo. Não sabia o que dizer e o que fazer, e por isso apenas a acariciava e sussurrava que tudo iria ficar bem. Quando null estava mais calma, ela levantou-se, secou o rosto e olhou. Pensou no quão sortuda era por ter Matt. Sempre fora próxima dele, mas não tão próxima a ponto de desabar na frente dele e contar os seus problemas. Não sabia que poderia encontrar nele algo além de diversão, mas também um conforto. Nunca o tinha visto daquela forma.
- Quer me contar agora o que aconteceu? – Ele acariciou o rosto dela e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha da mulher. null suspirou e assentiu com a cabeça. Contou a Matt tudo o que havia acontecido, exatamente tudo, não escondeu nada. Contou sobre o segredo de Phillip, sobre o seu aborto, seus problemas com null, a briga, o término. Ele não dizia nada. Ficou em silêncio esperando que null dissesse tudo, em momento nenhum a interrompeu. null gostou disso. Ela se sentiu melhor, mais confiante em contar as coisas a ele.
- E quando eu o vi com a Audrey eu entrei em desespero... Ela não, Matt. Poderia ser qualquer vadia daquela festa, menos a Audrey.
- Por que ela não?
- Porque eu sei que ele não a trataria como uma qualquer, porque ela não é uma qualquer. Ela é o tipo de garota para casar. Eles eram noivos. Ele não iria sair com ela apenas por sair, para tentar me esquecer. null tem um carinho especial por ela e jamais a usaria, entende? Se ele está com ela é porque quer algo sério. E isso não pode acontecer Matt! Eu o amo e não irei suportá-lo perder de vez. – Ele a abraçou e acariciou o seu cabelo. null encostou a cabeça no peito dele e fechou os olhos. – Ela não, Matt...
- Você é muito melhor do que ela, null! Você é linda, divertida, simpática. Todos te amam.
- Não, Matt! É diferente. null não admira essas qualidades, ela admira as qualidades que ela tem. Audrey é uma pessoa boa, generosa, gentil, fiel. E eu não sou nada disso! Eu sou insegura, infiel, egoísta, orgulhosa. Ele não iria cometer outro erro de trocá-la por mim. Não seria tão idiota a esse ponto.
- Meu amor, o null é completamente louco por você. Eu tenho certeza que ele irá te perdoar e logo logo vocês irão voltar.
- Não é tão fácil assim, Matt...
- Você verá! E quer saber de uma coisa? Acho essa Audrey uma sem sal, mil vezes você. – null riu, o que fez o homem ficar contente por vê-la rindo.
- Posso dormir aqui com você?
- É claro que sim! Não precisava pedir. – null sorriu meigamente.
- Obrigada por tudo, Matt. – Deitou-se na cama e Matthew deitou-se ao seu lado.
- Não precisa agradecer, meu amor. Eu amo você e estarei sempre ao seu lado. – null aproximou-se dele e o abraçou. Fechou os olhos e rapidamente adormeceu. Estava exausta, porém mais tranquila. Depois de muito tempo ela estava dormindo sozinha. Agora ela tinha alguém que a amava e se importava com ela ao seu lado e cuidando dela.
Um ano. Um ano havia se passado. Não tivera notícias dele, nunca mais o vira, mas também nunca mais o procurara. Ainda o amava e ainda pensava nele, todos os dias. Mas finalmente entendeu que aquele era o fim. O fim deles. null havia lhe dado todas as chances e ela desperdiçou todas, era justo que ela o deixasse seguir com a sua vida. Assim como ela tentava fazer. Realmente havia mudado, graças a Matthew que a ajudara como ninguém. Continuava trabalhando normalmente, ainda frequentava alguns eventos, mas a maioria a trabalho. Não via mais graça nas festas de antes e nas pessoas que a cercavam. Não via mais graça em usar drogas e ficar bêbada. Matthew a entendia, pois assim como ela também havia mudado. Finalmente null estava amadurecendo e estava colocando outras coisas como prioridade. Tais coisas como trabalho, família e Matthew, seu mais novo melhor amigo. Infelizmente não tinha null para incluí-lo na lista de prioridades, mas ainda assim, mesmo sem conversar com ele, ela torcia pela sua felicidade. O amava da mesma forma como sempre o amou, mas agora ela era mais madura para amá-lo.
Quando terminou a sessão de fotos no estúdio, null trancou-se no banheiro e vestiu sua roupa. Era um vestido longo florido, combinava com a estação do ano. Primavera. Sua estação favorita. Colocou os óculos escuros para disfarçar a maquiagem, estava exausta para tirá-la agora. Só pensava em ir para casa descansar. Quando saiu do banheiro despediu-se do fotógrafo, do maquiador e das outras pessoas que estavam no estúdio. Estava saindo do estúdio quando algo lhe chamou atenção. Um jornal em cima da mesa. Mas não foi o jornal em si que lhe chamou atenção, mas sim a foto que havia no jornal. Seu coração acelerou e suas mãos tremeram.
- Posso dar uma olhada rapidinho? – null perguntou para a mulher que estava sentada na cadeira em frente a mesa. Ela sorriu e assentiu com a cabeça. null pegou o jornal e leu a matéria: null irá casar! É isso mesmo, o grande empresário e tão cobiçado finalmente irá casar. Pasmem! A sortuda não é a nossa queridinha null Bertolli, mas sim a adorável Audrey. Isso mesmo! A ex-noiva dele, que agora é atual.
Ninguém sabe dizer ao certo o motivo que levou ao término do relacionamento entre null e null Bertolli. Só sabemos que ele superou muito bem a separação, enquanto null praticamente sumiu das colunas de fofocas. O que será que aconteceu, hein? Só é possível ver a nossa queridinha...
Com as mãos trêmulas ela colocou novamente o jornal em cima da mesinha e sorriu amarelo para a mulher. A mulher retribuiu o seu sorriso, mas havia algo mais nele... Pena talvez? Rapidamente null saiu do estúdio, seus olhos cheios de lágrima. Sequer havia conseguido terminar de ler a matéria. Não conseguia acreditar no que estava lhe acontecendo. Sabia que ela e null realmente haviam terminado, sem volta, ponto final. E sabia também que ele estava com Audrey. Mas noivar? Isso era demais. Não conseguia acreditar. Passou tanto tempo tentando acreditar que realmente havia superado a separação e que havia entendido que eles não teriam volta, mas ao ler a notícia tudo mudou. Descobriu que esteve todo esse tempo se enganando. No fundo ela ainda tinha um restinho de esperança. E agora esse restinho havia acabado. Era definitivo.
null tocou insistentemente a campainha da casa de null. Não se importou se eram duas horas da manhã e se aquele horário não era apropriado para visitar alguém, não se importou se ele estava acordado ou não, se estava com Audrey. Ela precisava conversar com ele. Iria deixar para mais tarde, mas não conseguia dormir e estava surtando com os seus pensamentos. Ela precisava vê-lo, precisava ouvir dele que ele realmente estava noivo. E por isso saiu de casa desesperada, sem ao menos trocar de roupa. Usava uma camisola fina.
Quando null abriu a porta surpreendeu-se ao ver a mulher parada em frente a sua casa.
- null, o que você faz aqui? – Perguntou surpreso. null abraçou o seu corpo e pensou no que iria dizer a ele.
- Eu preciso conversar com você, null. – Ele a olhou discretamente. Ela usava uma camisola fina lilás que tinha um decote nos seios. Os seios que ele tocou e beijou tantas vezes. Sua coxa estava descoberta, pois a camisola ia somente até a metade da coxa. Não pode deixar de notar na beleza da mulher. Ela parecia tão simples, tão pura. Sem vaidade. Apenas usando aquela camisola, chinelos. Sem maquiagem. Com o cabelo solto e natural. Ele nunca a achou tão linda como naquele momento.
- Entre. – Timidamente null entrou. Estranhou sua reação. A casa dele sempre fora a sua segunda casa e agora ela estava tímida por estar ali. null fechou a porta e sentou-se no sofá. – Sente-se null, por favor. – Obedecendo-o ela se sentou. null, assim como null, também estranhou a situação.
- Desculpe por aparecer aqui do nada, como uma louca.
- Tudo bem. – Ela percebia pela maneira como ele a olhava e conversava com ela que ele não sentia mais ódio e nem desprezo. Parecia que realmente ele havia superado toda a situação. Aquilo a incomodou um pouco. null não queria que ele se sentisse indiferente em relação a ela.
- Audrey está aqui? – Sem conseguir se conter ela acabou perguntando.
- Não, ela está em casa. – null assentiu com a cabeça. – Então null... O que você queria falar comigo?
- Eu vi no jornal. – null arqueou a sobrancelha sem saber o que ela estava falando. – Sobre o seu noivado... – null esclareceu. null soltou um ‘’ah’’ lembrando-se então da matéria que havia feito para o jornal – Então é verdade? Você realmente está noivo?
- Sim, null, é verdade. Iremos nos casar daqui há cinco meses. – A mulher balançou a cabeça em confirmação. Queria ir embora, dormir eternamente. Não queria passar por aquilo, não queria ouvir da boca dele que ele realmente iria se casar. Ainda tinha esperanças de que era mentira e que ela e null ficariam juntos.
- Então você realmente me esqueceu? – Precisava saber disso. Precisava saber se ele ainda sentia algo por ela.
- Eu nunca te esquec,i null.
- Você ainda me ama?
- Sempre te amei, null e não te esqueci. – Ela suspirou, aliviada. Talvez ainda houvesse chances de eles voltarem. Ela aproximou-se dele e colocou a mão no seu rosto, teve medo que ele recuasse, mas null continuou paralisado a olhando. null ainda tinha efeitos sobre ele.
- Volta para mim, null? Eu te amo demais, eu quero você. Por favor, me dê mais uma chance? – Aproximou-se ainda mais dele ficando com o rosto a centímetros de distância. null conseguia sentir o perfume dela. O perfume que sempre lhe viciou. Colocou a mão no rosto e lentamente foi descendo. Sentir a sua pele macia sempre o acalmou. Desejou beijá-la, tê-la só para si. Naquele momento esqueceu-se de Audrey e a beijou. Recordou-se do sabor do beijo dela. Tinha gosto de menta. Mas, além disso, ele sentia amor, prazer, saudade. Mas a imagem de Audrey veio a sua mente e rapidamente ele afastou-se dela. null a olhou assustado. No que tinha acabado de fazer? Havia traído a mulher que realmente se importou com ele. Não poderia cair no jogo de null de novo.
- Sinto muito, null...
- Não, null! Eu quis, eu gostei! – Ela acariciou o seu rosto. null tirou a mão dela e a segurou, olhou-a nos olhos e disse com carinho:
- null, eu te amo, eu sempre te amei. Você é tudo para mim. Nunca irei esquecer-me dos momentos com você, nunca irei amar alguém como te amei. Mas eu não posso mais viver dessa forma. Eu te dei diversas chances e você desperdiçou todas. Eu estive aqui todas as vezes que você precisou de mim, eu te dei o meu melhor. Mas você cometeu um erro imperdoável para mim, eu não consigo simplesmente esquecer. Eu queria sim te perdoar e voltar a viver com você, mas eu não quero mais isso. Eu quero ser feliz null e você não me faz mais feliz. Eu estou disposto a te esquecer e por isso irei sim me casar.
Ele realmente havia a superado. Não tinha mais chances. Não tinha mais esperanças. Acabou. Foi tudo o que ela pensou quando null disse tudo aquilo do seu jeito carinhoso e a olhando nos olhos. Ele realmente estava dando um fim naquilo. Ela suspirou. Não estava aliviada. Na verdade ela queria chorar, gritar. Mas não na frente dele, já havia se humilhado demais. Tirou sua mão das mãos dele e levantou-se. Estava na hora de ir embora, deixá-lo para trás. Precisava seguir em frente e deixá-lo também seguir em frente.
Sentado no sofá null a assistiu sair da sua casa. Seu coração estava partido. Pensou em ir até ela e pedir para voltar, mas ele merecia mais que isso. Ele merecia ser feliz.
Sentada na varanda da sua casa segurando uma foto de null nas mãos null, pensava em como o tempo passava rápido. Já haviam se passado um ano desde o término dela com null. E daqui a três semanas ele iria finalmente se casar. Com Audrey.
Nunca mais o viu, mas sempre tinha notícias dele. null o acompanhava sempre. No twitter, facebook, instagram, revistas e jornais. Ela sempre arrumava uma maneira de saber mais da vida dele. Se ele estava realmente feliz com Audrey. E o que a machucava ainda mais era que sim, ele estava feliz com ela.
Desde a sua última conversa com ele, null nunca mais o procurou, ele também não. Ela entendeu que aquele era o momento de deixá-lo em paz. Deixá-lo seguir com a sua vida. Por diversas vezes perguntava-se se ele ainda pensava nela, se ainda a amava como o antes e se sentia saudades dela. null parecia estar tão bem, tão feliz sem ela que null se perguntava se ele já não havia a esquecido. Mas para ela não fazia sentido tudo isso. Não conseguia ver um futuro sem ele. Sempre acreditou que eles foram feitos para ficarem juntos e por isso sempre fazia o que fazia, pois no fundo ela acreditava que no final tudo iria se resolver e que sempre estariam juntos. Aquela foi a sua maior decepção.
Agradecia tanto a Matthew por estar sempre ao lado dela a apoiando. Ele havia sido o amigo que ela nunca teve. Era Matthew quem a ajudava a seguir com a sua vida, sua carreira. E graças a ele a sua vida profissional não estava abalada. Apareciam muitos trabalhos, null sempre tinha eventos para ir, desfiles. Sempre era chamada para fazer propaganda de alguma marca. Aparecia em revistas e jornais. Mas ainda continuava sentindo-se solitária. Mesmo tendo a companhia de Matthew ela ainda tinha aquele sentimento quando ia deitar-se e não encontrava o corpo de null ao seu lado. Não era a mesma coisa contar a Matthew como foi o seu dia quando contava a null. Não conseguia mais relacionar-se com ninguém. Teve diversos casos, mas nenhum deles duraram. Sempre faltava alguma coisa. Não tinham a paciência de null, o beijo, o sexo, o jeito, a conversa. Não eram como null. Ela sempre os comparava com ele. Era inevitável, pois ela não queria outra pessoa, ela o queria.
null estava separando algumas roupas para doar. Todo ano ele fazia isso e aproveitou que Audrey iria mudar-se logo para sua casa e resolver ajeitar as coisas no seu guarda roupa. Que por enquanto, até eles acharem uma casa maior e do gosto deles, seria deles.
E foi remexendo nas suas coisas que ele acabou encontrando um sutiã preto com rosas vermelhas no seu guarda roupa. Não era da Audrey, ele sabia isso. Ele reconheceria aquele sutiã. Era da null. Pensou que havia dado a ela todas as suas coisas, mas enganou-se. Ainda havia sobrado aquele sutiã. Aquela maldita peça que o fez relembrar o passado somente ao tocá-la.
- Já posso abrir os olhos? – null gritou. Estava ansioso para ver qual surpresa null estaria preparando para ele. Também estava cansado de ficar sentado naquela cama esperando por ela.
- Não! Você acabará estragando a surpresa se abrir. – Obedeceu-a e manteve-se de olhos fechados. Ouviu passos e logo em seguida uma música começou a tocar. Your Body Is a Wonderland do John Mayer começou a tocar e um sorriso malicioso surgiu nos lábios de null. Aquela música só significava uma coisa, e null sabia muito bem o que era.
- Posso abrir agora? – null riu. Aquela risada tão gostosa que null adorava.
- Pode! – E então ele abriu os olhos. Ela estava ali parada em frente a porta do quarto dele usando um sutiã preto com rosas vermelhas, uma calcinha de renda preta, meia arrastão e salto alto. Seu cabelo estava solto e ela tinha um sorriso malicioso nos lábios. Ela era tão linda e magnífica de várias formas. null sabia como conquistá-lo.
Lentamente ela se aproximou. Parou na frente dele e começou a dançar no ritmo da música. Ele estava fascinado com o jeito que ela se movia, com a facilidade que ela tinha de entrar no ritmo da música. A maneira como ela tornava tudo aquilo tão gratificante e sensual.
Não aguentando mais segurar-se ele a puxou pela cintura e a beijou. Era caloroso, malicioso, urgente o beijo. Ele a puxava pelo cabelo e ela arranhava suas costas. null gemia baixinho enquanto o beijava. As mãos de null vagavam pelo corpo dela arrancando todas as peças íntimas. null arrancava com urgência as roupas dele, até não restar mais nenhuma roupa de nenhum dos dois.
Aquela era a melhor coisa para null. Sentir seu corpo entrar em contato com o de null.
Balançou a cabeça, nervoso e jogou o sutiã no lixo. Não poderia mais pensar nela, logo iria casar-se com Audrey. A mulher que sempre fez por merecer o seu amor. Ele tinha que amá-la e respeitá-la. Deveria entender que null era passado e deveria seguir em frente. Precisa desprender-se dela para finalmente ser feliz. Merecia isso.
Mas não poderia negar que ainda a amava. Era quase impossível deixar de amá-la. Era enlouquecedor o sentimento que nutria por null. Tentava de todas as maneiras esquecê-la, mas cada vez mais via-se preso a ela. Por diversas vezes pegava-se pensando em perdoá-la e voltar. Mas lembrava-se de tudo que ela fez e de Audrey, do quanto ela era boa para ele. Não era justo com ele e muito menos com ela. Estava realmente disposto a esquecê-la e tentar ser um homem perfeito para Audrey. O tipo de pessoa que ele sempre quis em null, o tipo de vida que ele sempre esperou que ela o desse. Era dessa maneira que ele queria ser para Audrey.
- Tá bom, e você me diz que está bem com tudo isso? Aham, tá legal, null. Você quer enganar a quem? – Matthew debochou da mulher. null revirou os olhos e suspirou. Era horrível porque Matthew a conhecia tão bem.
- Não estou tentando enganar a ninguém. – Enrolou uma mecha de cabelo nos dedos e olhou para o teto. Não conseguia encarar Matthew. Ele soltou uma risadinha irônica.
- Meu amor, você deve estar se esquecendo de que eu quem fiquei te consolando enquanto você chorava desesperadamente pelo digníssimo lá? Por que favor né null, eu sei que você não está bem com tudo isso.
Ela suspirou mais uma vez e virou-se para encará-lo, estava de frente para ele. Foi só olhar no fundo dos olhos dele para que toda aquela máscara que usava com os outros caísse e seus olhos encherem de lágrimas. Sabia que não iria aguentar por muito tempo.
- Você está certo, Matt. Eu não estou bem com tudo isso. Pensei que tinha o superado, sei que nunca deixei de amá-lo, pois ele foi o primeiro homem que amei. Mas cheguei a pensar que teria ao menos aceitado a situação, que ele estava com Audrey agora e nós dois não iremos voltar mais. Mas eu me enganei. Eu me enganei feio. Não superei porcaria nenhuma. Quando li aquele jornal eu quis morrer, desaparecer. Pensei em ir atrás dele e dizer que ainda o amava e que o lugar dele era comigo. Mas para quê? Humilhar-me de novo? Eu fiz de tudo para que ele me perdoasse e me desse uma segunda chance. Mas não adiantou. Ele não me olha mais como se tivesse raiva, ele me olha como se eu fosse uma mulher normal, uma pessoa qualquer. E eu não aceito isso, Matt! – Sua voz já estava embargada e sua cabeça doía por segurar o choro. – Eu não sou uma mulher normal. Eu sou a mulher que ele amou loucamente e perdoou todos os erros dela. Sou a mulher que ele era louco, fazia de tudo. Eu sou a mulher que engravidou dele! E por um erro estúpido não teve o filho. Mas ainda assim... Era comigo que ele dizia que queria ter filhos, construir uma família. Eu tenho certeza que ele não a ama como me ama. Eu sei que ele ainda não me esqueceu, não pode ter me esquecido. – As lágrimas já rolavam livremente pelo seu rosto. Não se preocupou mais em segurá-las, precisava colocar tudo para fora. – Eu não consigo aceitar essa situação, Matt, simplesmente não consigo.
Uma das coisas que null adorava em Matt era que ele sempre ouvia tudo que ela tinha a dizer, sem interrompê-la uma única vez. E depois ficava em silêncio avaliando tudo que ela havia dito e o que ele iria dizer. E por fim falava a coisa certa. Poucas eram as pessoas assim. E null sabia que pessoas raras e especiais deveriam ser preservadas.
Ele a puxou para que ela deitasse a cabeça no peito dele, e assim ela o fez. Alisou o cabelo dela e disse:
- Sabe o que eu acho? Homens como null só amam loucamente alguém assim uma vez. Uma única vez. E eu sei que você é o amor da vida dele e sempre será. Assim como eu sei que essa Audrey de quinta aí – null o interrompeu com uma gargalhada – é somente um fogo no rabo dele. Um capricho sabe? Para não ficar solitário e pensando em você e depois ficar tentado a voltar com você e sofrer. Porque, null, me desculpe à sinceridade, mas você fez o homem sofrer. Que é difícil ele te perdoar isso você já imaginava, mas não acho impossível. Está óbvio que ele é apaixonado por você e sempre será. Eu acho que você não deve desistir dele assim tão fácil, afinal ele não desistiu de você tão fácil assim. Ele disse que não? E dai? Ele pode mudar de ideia, null. Mulheres como você só amam loucamente alguém assim uma vez. Uma única vez. Quase ninguém tem a sorte de encontrar o amor da sua vida, quem dirá encontrar duas vezes.
A princípio null nada disse. Ficou em silêncio pensativa. Depois levantou a cabeça e olhou para Matt. Sorriu de uma maneira tão angelical que causou uma sensação de paz no homem.
- Você sempre diz a coisa certa, Matthew.
Ele assentiu com a cabeça e beijou a testa dela. Só Deus sabia o quanto ele queria a felicidade dela.
Era o grande dia, o tão esperado dia por null e Audrey. Ele estava nervoso, tremia, suava, sentia seu coração bater de forma acelerada no peito. Não sabia como se sentir. Preocupava-se com a maneira que estava lidando com isso, pois por diversas vezes pegava-se perguntando se realmente era uma boa ideia casar-se com Audrey. Se realmente estava tomando a atitude certa. Pensou que talvez aquilo seria normal, que qualquer pessoa no seu lugar se sentiria assim. Mas não se convenceu totalmente. Desconfiava do motivo de estar assim. A causa de todos os seus medos: null.
Mas não seria tolo, não dessa vez. Não iria abrir mão de Audrey, a mulher que realmente o amava por null. Uma pessoa extremamente egoísta.
Olhou-se mais uma vez no espelho para ter a certeza de que estava tudo em ordem. Não havia esquecido nada. Perdera as contas de quantas vezes já havia se checado no espelho para saber se estava tudo bem. Ouviu batidas na porta e gritou um ‘’Entre’’ para a pessoa.
Era a sua mãe. Ela estava tão linda, radiante. Tinha um sorriso orgulhoso estampado na face. Ele sorriu admirado. Era tão bom saber que estava tornando sua mãe feliz.
- Você está tão lindo, meu filho. – Disse orgulhosa enquanto ajeitava a gravata dele.
- Obrigado, mãe. – Ele acariciou a mão dela e a levou até os lábios, depositando ali um beijo.
- Estou tão feliz por saber que você está se casando com uma mulher tão adorável, que está feliz, seguindo a sua vida. Você merece isso, filho, você merece toda felicidade do mundo. - Sem saber o que dizer, ele a abraçou apertado e acariciou os cabelos dela.
- Estou realmente fazendo a coisa certa, né, mãe?
- Ah, meu filho! É claro que sim. – Afastou-se dele e o olhou nos olhos. – Audrey é a mulher da sua vida. – null assentiu e pensou no que as pessoas sempre diziam a respeito das mães. De que elas sempre estavam certas. Mas algo lhe dizia que sua mãe estava errada.
- Você já vai descer?
- Ainda não, mãe, eu ficar aqui mais um pouco.
- Está bem, mas vê se não chega depois da noiva hein. – E então ela soltou aquela sua risada contagiante. Beijou a testa dele carinhosamente e saiu, o deixando o sozinho.
null sentou-se na cadeira e olhou-se no espelho. Estou fazendo a coisa certa. Repetiu para si mesmo. Mas algo lhe dizia que não estava.
Ela sabia que era insano o que estava fazendo. Não poderia agir assim, igual a uma louca. Mas era hoje o grande dia! Ou para ela, terrível! Daqui algumas horas null iria se casar com Audrey, e não com ela. null não poderia permitir isso. Não poderia deixar o amor da sua vida ir embora. Ela tinha que lutar por ele até o último momento. E por isso agiu igual a uma louca. Saiu de casa correndo indo em direção a igreja que null iria se casar. Que por ironia do destino era próxima a sua casa. Será que havia sido proposital? Será que null havia feito isso só para que ela fosse até ele e o impedisse de casar? Na cabeça de null só poderia ser aquilo. Não teria outra explicação.
Sem querer empurrou uma mulher, ouviu alguns xingamentos, mas ignorou. Ela tinha algo mais importante para se preocupar. E por isso ignorou também os olhares feios que as pessoas lhe lançavam. E dai que ela corria igual uma louca e estava com o cabelo todo despenteado? Ela não se importava com isso. Só se importava com a chance de ter novamente null.
null conhecia aquela igreja com a palma da sua mão, havia frequentado tanto ali com os seus pais quando era pequena que ela sabia cada esconderijo. E sabia também aonde o noivo e a noiva costumavam ficar. Ela sabia onde null estava e sabia como chegar lá sem ser vista. Sorriu e agradeceu à Deus e a null por ter escolhido a igreja que ela conhecia tão bem.
Sem que ninguém visse, ela subiu a escada de serviço indo em direção ao quarto do noivo. Bateu na porta e esperou até que escutasse alguma coisa. ’’Entre!’’ escutou null gritar. Seu coração acelerou e o medo a deixou aterrorizada. E agora? E se ele disser não? E se der tudo errado. Quis correr, ir embora, foi estúpida por ter ido até lá. Não poderia fazer isso. Não poderia agir assim. Quando estava virando-se para ir embora, a porta abriu. Seu coração acelerou ainda mais. Ficou parada, em choque, sem coragem de virar-se para encará-lo. Prendeu a respiração e esperou.
- null? – Lentamente ela soltou o ar. Virou-se para encará-lo e sentiu seu coração queimar. Ele estava tão lindo! Tão radiante, maravilhoso, magnífico. Ela podia ver o brilho nos olhos dele, ela podia ver a ansiedade que ele estava. Meu Deus! Como ela queria ser Audrey. Como ela queria que null estivesse assim para ela.
- Hey. – Se sentiu estúpida, idiota, babaca por ter dito aquele ‘’hey’’. Era tudo que ela tinha para dizer?
Mas assim como ela, null também estava nervoso. Não conseguia acreditar que ela realmente estava ali. Ela, null Bertolli. O amor da sua vida. Ele simplesmente não conseguia acreditar. Ela estava linda, mais linda do que qualquer outro dia. Seu cabelo estava despenteado e ela tinha a cara inchada e o nariz vermelho, denunciado seu choro. Usava uma calça jeans, bota, uma blusa do seu pijama das princesas e um sobretudo preto. Estava claro que null havia colocado a primeira roupa que havia pegado. O que era incomum para ela.
- O que você está fazendo aqui?
- É... Eu... – Não sabia o que dizer. Na verdade sabia, mas não queria dizer ali. No meio do corredor onde todo mundo poderia ouvir. – Será que eu poderia entrar? – Ele a olhou hesitante. Pensou se seria certo permitir que entrasse ou não. Era o dia do seu casamento, o que Audrey iria pensar quando souber que ele estava no quarto com null? Sua ex namorada e o motivo de todos os seus términos com ela.
- Tudo bem. – null percebeu que não estava tudo bem. Mas ainda assim ela não quis voltar atrás, e então ela entrou. null entrou em seguida e fechou a porta.
- Está nervoso para o casamento? – Não era isso que ela queria perguntar, não era sobre isso que ela queria falar. Mas null estava nervosa demais para pensar em como começar a contar a ele tudo que estava sentindo.
- Um pouco. – Um silêncio prolongou-se entre eles. Durou quase cinco minutos. Foram os minutos mais torturantes da vida dos dois. Ambos corações estavam acelerados e ambos desejavam que o outro não escutasse. – O que você veio fazer aqui, null? Tenho certeza que não é para falar sobre o meu casamento. – Na verdade, uma parte dele queria que não fosse isso.
null suspirou e aproximou-se dele. Ficou cara a cara, centímetros de distância. O perfume dele a deixou embriagada, mas era maravilhoso. Ela o desejava ter mais perto. Sentir o corpo dele, beijá-lo...
- Eu vim te pedir desculpas. Desculpas não, perdão! Perdoe-me por tanto sofrimento que eu lhe causei, me perdoe por ter te decepcionado tantas vezes, me perdoe pelas traições, as brigas. E principalmente: perdoe-me por ter tirado o nosso filho. Eu nem mesmo te contei, simplesmente agi pelas suas costas. Eu achei null, de verdade, que eu estava fazendo o que era certo. Que nós não iríamos saber cuidar de uma criança. Eu achei que era o melhor para nós dois e para a criança. Mas eu estava errada, nós poderíamos sim e tenho certeza que seríamos perfeitos nisso. Mas... eu tive medo! A Lizzie ficou dizendo tantas coisas ruins a respeito disso que eu fiquei assustada. Eu nunca quis te magoar, null, nunca foi a minha intenção. Eu não quis ser egoísta, mas acabei sendo. Eu sou tão estúpida! – Ele podia ver a sinceridade nos olhos dela. null sabia que null estava dizendo a verdade, sabia que ela estava tentando fazer o que é certo. Ele sabia que ela realmente havia mudado. Num impulso ele a abraçou, ela apoiou a sua cabeça no peito dele e pôs-se a chorar. Estava preso por tanto tempo. Como ela precisava daquele abraço, como ela havia sentido falta! null acariciava o cabelo dela e tentava acalmá-la. Exatamente como ele sempre fazia. – Por favor, diz que me perdoa.
- Eu já te perdoei, null. – Ela sorriu aliviada. Era tão maravilhoso ouvir aquilo. Havia esperado por tanto tempo...
- Então volta para mim? – Pronto. Chegou no ponto que queria. Ficou aflita quando null não disse nada. Ele a olhou no fundo dos olhos. Era tudo o que ele mais queria, voltar para ela. Agora que sabia que ela estava sendo sincera e que havia a perdoado, tê-la de volta seria completar a sua felicidade. Mas a sua parte racional o alertava, Por mais que a amasse e por mais que soubesse que ela também o amava, null sabia que eles não foram feitos para ficar juntos. Eram muito diferentes e entre eles sempre aconteciam problemas. Sabia que Audrey seria a mulher certa para ela. A mulher para casar, ter filhos. E null não. null era a mulher por quem ele era perdidamente apaixonado, a mulher intensa, sem limites. Ele sabia que isso nunca iria dar certo.
- Sinto muito, null... – Não sabia mais o que dizer. Ela soltou-se do abraço e o olhou desesperada fazendo o coração de null diminuir. Como era ruim vê-la tão mal.
- Como assim? – Sua voz estava desesperada. Falha.
- Eu irei me casar. Com a Audrey. E é assim que as coisas têm que ser. – Lágrimas rolavam dos olhos dela. Ela não queria chorar. Droga! Não deveria estar chorando. Mas simplesmente não conseguia se controlar. Era o amor da sua vida dizendo não a ela.
- Você não me ama mais? – Teve medo da resposta. Pela primeira vez desde que conheceu null, ela teve medo que ele dissesse que não a amava mais.
- Eu amo você mais do que tudo. Eu sou louco, apaixonada por você. – Ela deveria estar feliz. Sabia disso. Mas por que não conseguia ficar? Por que tudo parecia tão triste? Melancólico?
- Então, por que...?
- Porque nós não nascemos para ficar juntos. Porque somos muito diferentes, porque você quer coisas diferentes das que eu quero, você se preocupa com coisas diferentes. Porque você é livre e eu não sei lidar com isso. Porque o amor que eu sinto por você me machuca, me fere. Eu não sei te amar, null. Eu não sei lidar com o seu jeito. Nós nunca iremos ser felizes juntos. Nunca. Não é o nosso destino ficar juntos. Eu não quero te mudar, te prender, não quero tirar sua liberdade. Isso não é amor. Sua liberdade, sua intensidade faz parte de quem você é, eu não posso mudar isso. Mas também não sei lidar com isso.
Ela chorava copiosamente a cada palavra. A cada torturante palavra. Sentia seu coração sendo esmagado, teve a impressão que o ar lhe faltou. Era muita dor. Sem forças, ela sentou-se no chão. Tinha a impressão de que iria cair a qualquer momento. Pôs se a chorar desesperadamente, seu corpo sacudindo por causa dos soluços incontroláveis. Era uma sensação desesperada. Uma sensação de estar sozinha no mundo, abandonada, trocada.
- Por favor... – Implorou novamente ignorando o resto de amor próprio que havia lhe restado. Logo ela que era tão decidida, firme, que nunca se humilhou a nenhum homem. Logo ela que sempre teve null na palma da mão, que sempre o via se rastejando por ela e pelo seu amor. Agora era ela quem estava implorando. Odiava as voltas que o mundo dava.
- Eu sinto muito, null. Mas eu preciso ser feliz, eu mereço ser feliz. E você também. – Chorou ainda mais. Machucava saber que não era ela quem o fazia feliz. Ela assentiu com a cabeça, incapaz de dizer algo mais. null era maravilhoso demais para ela, ele realmente merecia ser feliz.
Ele a olhou uma última vez, seu coração estava tão machucado quanto o dela. Era tão difícil dizer adeus. Ele não queria dizer, mas sabia que era necessário. Precisava por um fim naquilo tudo.
- Eu desejo que você seja muito feliz. – Reuniu forças para dizer aquela última frase, a frase que marcou null. null realmente estava sendo altruísta e ele sabia o quanto aquilo era doloroso para ela. Assim como era para ele. Agachou-se na frente dela e delicadamente ele levantou o rosto dela. Beijou os lábios dela despedindo-se. Era o último beijo deles. E tinha gosto de saudade, tristeza, arrependimento. Um misto de sentimentos.
Ele levantou-se e saiu, deixando a sozinha no quarto. Ela encolheu-se no canto da parede e gritou. Doía tanto, tanto que ela não conseguia respirar. Era a pior dor que podia sentir na sua vida.
Ela imaginou Audrey e null juntos no altar. Ambos lindos e sorridentes, felizes. Imaginou eles de mãos dadas, dizendo palavras de carinho um ao outro. Dizendo aceito...
Ela realmente havia perdido o amor da vida dela. O único e grande amor da vida dela.
Fim.
Nota da autora: (16/01/2015)
Acabou! Sei o quanto demorei e sei o quão ansiosas vocês ficaram para esse final. Mas vida de autora é complicada gente, eu juro. São bloqueios, problemas familiares, amigos, escola, depois faculdade, namoro... E ai temos que conciliar tudo isso e tentar escrever.
Sei que esse final não foi do agrado de muitas. Muitas meninas me pediram, imploraram para ele não casar com a Audrey. Me desculpem desapontá-las e acabar com as esperanças de vocês em verem a principal com o favorito, mas foi necessário. Vamos nos colocar no lugar dos dois. Ambos agiram errados nessa relação. Ele sempre querendo mudar o jeito livre dela de ser, não a aceitando. E ela sempre o magoando e não se colocando no lugar dele. Muitas mágoas, muitos términos, fica difícil seguir em frente com tantas rachaduras, não concordam? Uma hora nós escolhemos quem irá nos fazer bem e procuramos ser felizes com essa pessoa. Mesmo sentindo falta da outra, mesmo amando a outra mais forte.
Bom meninas, é isso. Eu espero de coração que tenham gostado, mesmo que não tenha sido um final feliz. Mas nem sempre tudo termina em final feliz, não é mesmo? Obrigada por cada comentário aqui, mensagens no facebook, mensagens no grupo e curtidas incentivando. Vocês foram demais, as que me deram força e vontade para continuar escrevendo. Melhores leitores, sem palavras para vocês <3 essa nota toda eu dedico à vocês. Obrigada de verdade e até uma próxima fanfic (em breve terá uma hahaha, fiquem atentas ao grupo). BEIJOOOOSSSS
Xx, Gio.
Criei um grupo para discutir sobre minhas fanfics. Quem estiver interessado pode entrar: (Fics da Gio) http://www.facebook.com/groups/569482759742538/?fref=ts
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Silence Scarys Me (McFLY/Finalizada)
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