Ganhar o primeiro carro da vida é algo que muitos homens sonham e anseiam assim que entram na adolescência. Quando tal feito acontece, acaba que gera um marco na vida do homem. E era assim que null se sentia. Ele tinha acabado de comprar seu carro novo, último modelo, vindo direto da fábrica, o seu primeiro automóvel. Se ter o primeiro carro já é algo maravilhoso, melhor ainda é poder comprá-lo. null se sentia no céu!
Ele já tinha carteira, já tinha experiência no trânsito de cidades e de rodovias, mas era obrigado a dividir o carro com toda a sua família, que não é tão grande, mas dividir o carro gerava algumas dores de cabeça. Porém, agora, null estava livre de todas essas dores de cabeça; agora, ele tinha seu próprio carro. A felicidade tomava conta do seu ser.
No entanto, o carro pode ser uma arma altamente perigosa, se for usado imprudentemente. Mortes no trânsito são frequentes e até corriqueiras, todas resultado da imprudência na condução do veículo. E parece que null tinha esquecido disso, mas levando em conta o que aconteceu...
null já tinha seu carro próprio há algum tempo. Tinha namorada, aparentemente uma vida muito boa e plena, mas parece que, naquela tarde, tudo isso não importava mais, tudo isso tinha acabado; e vida de null foi arruinada por uma traição. Guiado pela sua desconfiança e pelas péssimas mudanças que haviam acontecido em seu relacionamento, null flagrou sua namorada com outro na cama, se tornando uma pessoa totalmente enfurecida, exalando raiva e ódio por todos os seus poros.
A tal moça até tentou evitar o pior, mas foi em vão. Todas as suas tentativas de evitar que null pegasse o carro e saísse dirigindo por aí louco e completamente desequilibrado foram inúteis. Ela não conseguiu evitar o pior. Ela não conseguiu evitar que null fosse marcado eternamente com o fato que estaria prestes a correr.
Aliás, não só null, mas como null também ficaria marcado profundamente com o que iria ocorrer na vida dos dois.
null, cheio de felicidade e prazer por ter seu carro novo, foi dirigir para curtir um pouco o carro, dar aquela amaciada. Foi logo para a rodovia, justamente para experimentar o novo brinquedo com mais liberdade, mas sempre com consciência... Ao contrário de null, que dirigia em altíssima velocidade. Injuriado, nervoso, chorando, com vontade de matar e de morrer. null perdeu o chão, sua vida tinha acabado para ele, nada mais importava naquele momento.
Ao dirigir em altíssima velocidade pela estrada, ele colocava em risco sua própria vida e a vida de outros, no entanto, ele ainda conseguia desviar e alguns carros; felizmente, os que ele não conseguia desviar, desviavam dele. null estava visivelmente alterado.
Contudo, às vezes, o destino arma cada tipo de armadilha, arruma cada caso de encontros e desencontros. Há momentos em que conhecemos pessoas em situações bem... Interessantes. Assim foi como aconteceu com null e null.
Eles usavam a mesma rodovia, estavam percorrendo o mesmo caminho, mas em direções contrárias. Era uma estrada simples que ligava cidades bem próximas. Se tivesse 50 km de estrada, tinha muito. Entretanto, foi justamente nesses 50 km que eles se encontraram, mas não foi nem de longe de uma forma amistosa; ao contrário, foi bem violenta.
null estava ouvindo suas músicas preferidas no rádio e sorrindo aos quatro ventos, pois estava de carro novo. null estava em altíssima velocidade, completamente injuriado e alterado, com os nervos à flor da pele. A estrada era excelente, bem pavimentada e devidamente sinalizada, mas possuía lá seus trechos que guardavam perigos eminentes. E foi numa curva fechada que null e null se encontraram.
Numa curva, o carro de null invade a pista contrária e entra em rota de colisão com null.
Nesta fração de segundos em que um deu de cara com o outro, o susto foi rompido com as lembranças das respectivas vidas. O impacto era eminente e o bafo da morte parecia se aproximar cada vez mais, envolvendo as almas de ambos.
null tenta evitar o impacto, mas não consegue controlar o carro. null demora para reagir, mas quando reage, passa para o lado, para evitar o impacto, mas ainda assim os carros colidem, batendo de modo que ambos girem na pista. null retoma o controle do carro e o estabiliza, mas null capota diversas vezes.
A cena foi horrível. Os olhos do único espectador e testemunha ocular do caso se abriram grandiosamente. null jamais tinha presenciado, quem dirá causado qualquer tipo de acidente. Já null, com o impacto, já ficou desacordado, enquanto seu carro capotava várias vezes, rolando ribanceira abaixo. Quando finalmente parou, começou a sair fumaça do automóvel.
null poderia ignorar aquilo ou minimamente chamar uma ambulância e deixar que eles resolvessem. Ou então apenas reclamar do estrago no carro novo, mas ele, talvez por impulso, prestou socorro. Encostou o carro e tentou correr até null.
— Meu Deus! O que foi isso? — dizia null, meio desnorteado, descendo a ribanceira.
Ele foi descendo cada vez mais, se aproximando do automóvel que estava virado e cabeça para baixo. Ele notou a fumaça saindo do motor, além de um corpo cuja cabeça estava ensanguentada. Inutilmente, ele tentou chamar pela vítima.
— Moço? Moço?! Pode me ouvir?
Ao constatar que a vítima estava, de fato, desacordada, parou de gritar e continuou descendo. Quando se aproximou, tomou as medidas necessárias.
Ele tentou abrir a porta, mas esta estava travada e parecia não abrir nem com reza brava. Foi então que ele saiu em busca de alguma coisa para quebrar o vidro — era a única saída no momento. null continuava desacordado, então null quebrou o vidro. Estilhaços caíram ao redor dali como se fossem pequenos pingos de chuva, mas de chuva ácida.
Caminho livre, null tratou de retirar null de dentro do carro. Aplicou todas as suas forças nos braços, amarrou suas madeixas longas num coque quase perfeito, e carregou o corpo para um lugar plano e seguro, longe do carro que poderia explodir.
null ainda tinha pulso, ainda tinha alguns sinais vitais. null foi rápido e sacou o celular do bolso, logo ligando para a ambulância. Enquanto esperavam, null acordou algumas vezes.
— Eu morri? Estou chegando no céu? — dizia null com a voz trêmula e bem fraco.
— Não, moço. Ainda não morreu, não. — respondeu null, tentando acalentar a vítima.
— É você, mamãe? — um sorriso se abria nos lábios de null.
— Bom, acho que não sou sua mãe, não... — respondeu null, rindo minimamente — Fique calmo. O socorro já está chegando.
— Acho que morri mesmo. Parece que estou vendo anjos... Você parece um anjo...
Quando null disse isso, algo despertou em null, algo começou a arder dentro dele; mesmo que fosse uma ardência incomum, era algo bom e totalmente suportável.
— Não sou anjo, não, moço... Sou apenas um rapaz que está ajudando um semelhante.
— Acho que não morri mesmo, não, mas acho que os anjos vieram para a terra.
null riu um pouco e fez algumas carícias em null, dizendo doces palavras que acalmaram null. Não demorou muito e o socorro chegou. Junto à ambulância, a viatura da polícia chegou junto.
Os enfermeiros acudiram null, enquanto null conversava com a polícia, explicando todo o ocorrido, mas a conversa foi interrompida com gritos quase agonizantes.
— Anjo! Cadê meu anjo? Eu quero meu anjo junto de mim!
Era null chamando por null. Este, ao ouvir os gritos, foi até null, e com sua doce voz o acalmou. Mas null pediu:
— Por favor, anjo. Não me deixe só! Venha comigo, fique junto de mim.
A voz de null já estava fraca e null quase não tinha muita noção do que estava acontecendo. Um dos socorristas advertiu que null precisava de um acompanhante, então null o acompanhou. Com null já na ambulância, tendo enfermeiros e null ao seu lado, foram todos para o hospital mais próximo o mais rápido possível.
null não ficava estável. Ia e vinha várias vezes. Era preciso null dizer algo para ele acordar, na maioria das vezes.
Não demoraram mais e logo chegaram ao tal hospital. Deram entrada logo na emergência, sendo atendido às pressas. null teve poucos ferimentos e os que tivera foram tratados logo. De qualquer forma, null sempre esteve ao lado de null, não o deixou sozinho um segundo sequer. null também não queria isso.
Quando null teve sua situação estabilizada, foi para o quarto e lá descansou. null ficou com ele o tempo todo, como já disse. Se sentou em uma poltrona e ficou fitando o rapaz deitado, dormindo profundamente. Seus pensamentos viajavam longe, imaginando tantas coisas quanto se pode e não se pode imaginar. null começava a fantasiar uma vida e dois com null, começando a deturpar a realidade do momento. Todos esses pensamentos são interrompidos quando null acorda.
Alguns incômodos no corpo o fez gemer quando acordava. Assim que viu o outro acordando, null foi até seu leito. Já era noite, e null o cumprimentou sorridente.
— Boa noite! Dormiu bem?
— Quem é você? — questionou null, não se lembrando ainda quem era null.
— Bom, acho que você não se lembra bem... Mas você sofreu um grave acidente. Nossos carros a bateram e o seu capotou. Fui te socorrer e agora você está aqui.
— Só me lembro se estar na estrada e bater num carro... Acho que era o seu... Desculpa.
— Tudo bem... Você está bem?
— Apenas uma dor de cabeça infernal, mas sobrevivo. Pode deixar. Obrigado pela ajuda.
— Que isso, não precisa agradecer. Mas, me diga, por que estava correndo daquele jeito? O que houve?
— A pior coisa da minha vida... — null virou a cara com raiva — Fui traído.
— Sério? Nossa... Sinto muito.
— Flagrei a vagabunda na cama com outro. Foi horrível. Não desejo isso a ninguém.
— Imagino... Sinto muito mesmo.
— Cara, tínhamos uma história juntos! E ela jogou tudo fora, jogou tudo na lata de lixo! Sinceramente... Não entendo porquê ela fez isso.
null começou a se exaltar, mas null incrivelmente o acalmou.
— Fique calmo... Não adianta mais se exaltar. Você precisa relaxar...
— Tudo bem...
E null se aconchegou na cama.
— Qual é seu nome mesmo?
— null. E o seu?
— null... Então, null... O que você sofreu foi horrível. Mas você não merece sofrer por ela. Ela não merece que você sofra assim.
Aos poucos, null ia dizendo palavras mais românticas, meio que preparando o terreno para dar a cartada final. null se declarou.
— Não sei se estou sendo muito rápido, mas eu estou sentindo algo especial por você. É algo que não sei explicar e...
— Você está apaixonado por mim? — interrompeu null, vendo null confirmar com a cabeça — Desculpe, mas não quero isso pra mim. Não quero saber de amor.
— Mas...
— Agradeço sua ajuda, mas já pode ir. Daqui eu sigo sozinho. Muito obrigado e adeus.
— Adeus?
— Não vejo motivo aparente para você me procurar.
Com essas palavras ditas com um olhar vago e frio de null, null saiu triste dali. Cabisbaixo, seguiu caminho até sua casa. Lá, desaguou em choro.
Talvez, null não fez isso por mal. Seu coração estava gravemente ferido e, talvez as palavras e os gestos de null não foram o suficiente para curar essas feridas. No entanto, agora, ambos estão gravemente feridos; apenas o amor que um poderia dar ao outro seria capaz de evitar ou remediar essas feridas. Mas, por hora, eles são incapazes de fazer isso.
Fim.
Nota da autora (13/03/16): Essa é uma Oneshot yaoi criada originalmente por mim, tendo como personagens dois integrantes do grupo de k-pop SEVENTEEN. Fanfic baseada em fatos reais.