Hilary era filha de Melina e Harry Moore. O nome da menina lembra o nome do pai, o homem fez questão que sua princesa tivesse sempre algo dele, algo que ela teria sempre, sem perder. E a semelhança dos nomes parecia ideal na sua concepção. Quando Hilary tinha seis anos, Harry deixou uma carta para Melina onde dizia que estava indo embora, sem mais nem menos. Melina sempre desconfiara que o marido tinha outra mulher, porém, por amor a filha e mesmo que partisse em mil pedaços seu coração e ferisse seu orgulho, admitia que amava o marido apesar de tudo, sendo assim, lutou para manter sua família. Os anos se passaram e Hilary se tornou uma linda garota, mas sua beleza ficava só por fora, internamente ela tinha um coração magoado pelo abandono de seu pai. Vivia com a mãe e seus avós maternos, Arthur e Mercedes, os visitavam constantemente. Não matinha muito contado com seus avós paternos, William e Debbie, pois os mesmos viviam viajando. A menina só era solicita com eles, com os demais era fechada, não era de muita conversa. Ela herdou de seu pai, a admiração por estrelas, acreditava que as estrelas tinham culpa nos acontecimentos do destino, seu lema sempre era “a culpa é das estrelas”. Apesar da mágoa que carregava no peito, sabia que havia algum motivo para seu pai ter ido embora, pois se lembrava do quanto o homem a mimava e protegia. Em meio a uma de suas contemplações ao céu estrelado, da janela de seu quarto, Hilary decidiu que contrataria um detetive e descobria o paradeiro de seu pai, o confrontaria e perguntaria o porquê de seu abandono.
Jensen era o filho mais velho de Emily e James Phillips. A família se surpreendeu com a decisão de Jensen em se tornar detetive. O garoto sempre foi bom com mistérios, sua estante era repleta de livros e filmes relacionados a isso. Jen, como era chamado em casa, foi sempre focado nas suas carreiras, assim que terminou o colegial, engatou a faculdade de psicologia. Para ele, era fundamental entender o ser humano, para melhor desempenhar seu trabalho. Depois de se formar, correu atrás de tudo que precisaria estudar para ser detetive. Sua força de vontade lhe rendeu uma vaga na agência “Readily Detectives”. A maioria de seus casos era suspeitas de traição ou família desconfiada dos filhos. Quando foi convocado para ser o detetive do caso “Harry Moore”, no qual teria que se esforçar muito mais do que apenas seguir alguém e levantar informações, ele teria que encontrar alguém. O que ele não esperava, era ser atraído pela filha do tal homem. Ela era fechada, falava o essencial para as buscas. Mas ele queria desvendar o mistério daquela garota, e como um bom detetive formado em psicologia, ele conseguiria descobrir o que aqueles olhos verdes tão hipnotizantes guardavam.
- Vamos acordar, bela adormecida?
- Mãe! Não! Fecha essa cortina! – falou uma Hilary sonolenta e muito irritada.
- Não senhorita, chega de dormir. Esqueceu que dia é hoje? – Melinda olhava a filha que acabara de puxar as cobertas até a cabeça.
- Dia de piquenique em família. – aproveitou que a mãe não podia vê-la e rolou os olhos em desaprovação daquilo. Não que ela detestasse estar com os que ama, mas tem dias que você simplesmente não está com humor pra tal coisa.
- Isso mesmo! Agora levante e trate de descer, seus avós já estão aí. – a mulher se aproximou da cama da filha e puxou as cobertas que cobriam a garota. – Nem acredito que fez 22 anos semana passada. Porque os filhos têm que crescer? – o olhar de Melina, ficou nostálgico de repente, Hilary podia jurar que seu pai estava naquela lembrança da mãe.
- Mãe... Vou ser sempre sua princesinha, ok? Sem melancolia. As.. – Hilary se esticou para poder ver a hora no relógio em formato de estrela que ficava no criado mudo ao lado de sua cama. – 07:30 da manhã! Posso tomar um banho antes? – Melinda assentiu e se retirou do quarto da filha.
A primeira coisa que Hilary fazia antes de qualquer coisa, era ir até sua janela e dar uma boa olhada no céu, que naquele momento estava um pouco nublado, mas o sol dava o ar de sua graça às vezes, no meio das nuvens. Aquela manhã no Brooklyn, estava do jeito que ela gostava, o meio terno nas temperaturas. Antes de se preparar para o banho, decidiu escolher a roupa primeiro, para não enrolar ainda mais. Não era do tipo de garota que era vidrada na moda, sabia pouca coisa, vestia o que gostava e ponto. Escolheu então, uma regata preta básica, um short étnico com umas estampas legais, separou também um casaquinho de renda, para caso de sentir frio, apesar de que devia estar uns 25°c, mas não custava se prevenir, certo? E por fim, separou seu tênis botinha com tachinhas douradas na lateral. Pronto, estava com a roupa certa, se combinava ou não, não se importava. Confortável e se sentir bem era o que valia. Agora sim, hora do banho, antes que sua mãe subisse furiosa atrás dela.
- Bom dia, aqui estou, família. – Hilary disse assim que desceu do último degrau da escada, avistando seus avós sentados no sofá e sua mãe mais adiante arrumando o que ela pensou ser as coisas para o piquenique.
- Hilary, meu amor! – Mercedes, sorriu ternamente para neta. – Como está? Olha, está tão linda!
- Bem, estou bem, vovó! – falou, indo de encontro à mulher não tão velha, lhe dando um abraço. – Vovô. – soltou-se dos braços de sua avó e se dirigiu a um abraço forte de seu avô, Arthur.
- Sempre tão formal, menina. Sou seu avô, já me cansei muito brincando de pique-esconde com você. Mereço mais carinho, hum? – Hilary suspirou e então sorriu para seu avô, a única figura paterna que ela conviveu. Essa lembrança a fez sentir aquela pontada no coração, ao recordar da figura de um homem que a levantava no ar, e rir da gracinha que ela fazia em sua versão criança fofinha, tratou de empurrar rapidamente aquela lembrança pro fundo de sua mente, não queria lembrar dele. Não agora.
- Eu sou assim, já deveriam ter se acostumado.
- Bom, vamos? – Melinda chegou à sala, com uma cesta que parecia um baú, recheado de coisas gostosas.
- Quando o mestre mandar! – Hilary sorriu alegremente para o avô, que compartilhou daquele sorriso da neta, abrindo um maior, era tão raro vê-la sorrir daquela maneira.
Hilary pegou sua bolsa castor de franjas, e seguiu sua família que se encaminhava para o carro de Arthur. Iriam no Central Park, Manhattan. Quem vê essa história de fora, acha que ela tinha uma vida sensacional. Morar em um lugar conhecido por uma série famosa, ir fazer programa em família no Central Park, mas nada era sensacional na vida dela. Ela jamais reclamou de não ter tido amor, sua mãe sempre se forçou para ser mãe e pai ao mesmo tempo, e seus avôs também a mimavam, até mesmos seus avôs paternos, meio distantes, porém presentes como podiam. Mas nada tirava a mágoa do abandono daquele que devia ser seu exemplo de herói, seu pai. Com o olhar perdido pelas paisagens bonitas que corriam por sua visão, sua lembrança de sempre, onde sua versão pequena ria no ar quando braços a recebiam do alto, a livrando do perigo, a perseguia. Devia ter uns cinco anos naquela lembrança. Sua mãe havia dito em uma das últimas conversas que tiveram sobre o assunto Harry Moore, que ele costumava brincar com ela no jardim. Sentiu seus olhos marejarem ao reviver aquela lembrança, como se não bastasse seu próprio nome lembrar aquele ser sem coração. Não conseguia entender o porquê de seu pai ter abandonado elas. Teria sido uma outra mulher? Precisava descobrir e iria fazer isso. Aproveitaria a reunião em família para contar sobre sua decisão de entrar em contato com uma agência de detetives e solicitar um profissional. Seu pai estava em algum lugar, e ela rezava para que fosse em Nova Iorque, ou seria tudo mais difícil. Com tanta coisa na cabeça nem percebeu que já estavam perto de chegar. Arthur estacionou o carro, falando algo que Hilary nem deu ouvidos, ainda imersa em seus planos e lembranças. Desceram do carro, Arthur acionou o alarme, e se encaminharam para o parque e assim, encontrar um lugar no gramado verde do parque. Apesar de sua aparência fechada, seu jeito antissociável, ela amava aquele ar puro, o vento que batia nas folhas das arvores, era um cenário muito bonito, acolhedor e calmo. O Central Park estava movimentado naquele sábado, de crianças a idosos. Encontram enfim, um lugar debaixo de uma árvore, parecia que o sol viu que iriam ficar sentados ao ar livre e decidiu abrir e permanecer no céu, sem se esconder atrás dos algodões, conhecidos pelas pessoas por nuvens, que hoje, estavam mais para o acinzentado do que para o branco.
- Que minha filha trouxe dentro de nossa cesta mágica? – Mercedes perguntou, abrindo sua cadeira de praia, e sentando graciosa nela.
- Bolo de laranja, preferido de mamãe, café com leite, não precisa me olhar feio Hilary, não esqueci da sua térmica. – ela disse e sorriu para menina que se acomodava na toalha estendida no gramado. – Alguns morangos, que papai gosta, sanduiches e suco de melancia, porque minhas preferências também precisam ser atendidas.
Estavam passando uma agradável manhã em família, conversavam sobre assuntos aleatórios, como o novo cargo de Melinda no escritório, agora ela era a secretária do gerente, não assistente da secretária do gerente. Seus avós contavam como estavam testando sua paciência com a construção de um ateliê de pintura para Mercedes. Hilary viu então sua deixa para contar seus planos.
- Mãe, vovó e vovô, tenho algo para compartilhar com vocês. – a menina estava visivelmente inquieta, mas mesmo diante dos olhares desconfiados e curiosos de sua família, ela continuou. – Vou usar minha poupança para pagar um detetive e procurar meu pai. – disse do jeito mais decidida que conseguiu parecer.
- Deixe de brincadeiras sem graças, Hilary. – disse a mãe com um olhar severo, direcionado a filha, voltando para o copo de suco e dando um gole.
- Acho que nossa pequena estrela não está brincando, Melinda. – foi a vez de Arthur se manifestar, com um certo orgulho na atitude da neta. Mesmo odiando até a menção do nome Harry Moore, ele reconhecia que a neta sofria com a ausência do pai, o motivo central para a neta ser tão fechada com as pessoas. O medo de a machucarem.
- Está sim, não está, Hilary? – Melinda perguntou, desta vez percebendo que a filha realmente havia decidido aquilo.
- Não, mãe. Estou falando sério. Já estive pesquisando algumas agências, e com o que eu tenho guardado, poderei pagar e achar Harry.
- VOCÊ ENLOUQUECEU, GAROTA? – Melinda se exaltou e logo tratou de se recompor ao perceber que pessoas olhavam curiosas em sua direção. – Esse dinheiro eu investi para os seus estudos, sua faculdade! Agora que está na idade. Como você vai fazer isso, Hilary? Por Deus! Trate já de tirar essa ideia absurda da cabeça, não vou permitir isso.
- Mãe, escuta. Eu já decidi e pronto. Sou maior de idade para decidir o que fazer com a minha vida e preciso fazer isso. Por favor, tente me entender e se possível me apoie.
- Vamos manter a calma! Vamos terminar está linda manhã com esse sol maravilhoso, e trataremos desse assunto quando chegarmos em casa. – Mercedes se pronunciou para acalmar a neta e a filha. Sempre fora uma mulher sábia, sendo o maior exemplo de Hilary. Queria um dia poder chegar a ser como ela, um exemplo para seus futuros filhos e netos. Conseguiram manter o clima agradável. Hilary tentou ao máximo deixar sua mãe confortável, a deixando tranquila em relação ao assunto de seu pai.
- Filha, estava tudo perfeito! Obrigado por nos proporcionar esta manhã agradável. – Arthur agradeceu a filha, abrindo um largo sorriso. O velho homem amava estar perto da filha e da neta, sempre se sentiu responsável por elas desde que Harry sumiu no mundo.
- Oh, papai! Não precisa agradecer. – Melinda se levantou de onde estava sentada para abraçar o pai. Recolheram os copos e os pratos descartáveis, depois a toalha. Hilary despejou os copos e os pratos na lixeira destinada ao plástico, e se encaminharam para o carro, e seu avô deu o ponto de partida. No caminho o silêncio tomou conta, e ela já estava se preparando para conversa que teria com sua mãe. Por sorte, seus avós pareciam estar do seu lado, e sua decisão estava tomada, e não voltaria atrás. Quando chegaram e Arthur estacionou em frente de casa, sua mãe foi a primeira a sair do carro, visivelmente nervosa. Merda! Pensou. Isso vai ser mais difícil que ela pensava. Por um lado, compreendia sua mãe, sofrera muito com a partida repentina de Harry e tendo uma criança para cuidar, educar, tudo sozinha. Sua mãe era uma guerreira. Hilary respirou fundo, deixou sua bolsa na mesinha de centro na sala e quando ia começar a falar, sua mãe a interrompeu, começando aquela conversa que seria tensa, até demais.
- Agora me explique porque você quer achar seu pai. Porque quer conhece-lo? Ele nos abandou, Hilary. Nos largou sem se importar com nada! – a mulher estava andando de um lado para o outro na sala. Com o olhar atento de Arthur e Mercedes a seguindo.
- Mãe, eu também tenho mágoa desse cretino, raiva por ele ter ido embora! Mas eu preciso confronta-lo, saber o que houve. Tente me entender.
- Melinda, ouve seu velho pai! Hilary já é uma mulher, dona de si. Mesmo que seja tratada por nós como uma menina frágil, sabemos que ela não é. E tem direito de rever o pai. – Arthur saiu do lado de sua esposa e foi de encontro a filha, que agora estava sentada no sofá e não mais andando como se fosse furar o chão a qualquer momento.
- William e Debbie estão sabendo dessa sua loucura? – Melinda encarava a menina como se ela viesse de outro planeta.
- Sim, meus avós estão cientes disso. Liguei para eles semana passada. Como a senhora sabe, eles estão no Canadá. Falamos por longas horas, vovó Debb, ficou assim, que nem você, ela não perdoa o filho por desaparecer sem dar notícias. Mas entenderam que preciso fechar esse capitulo para poder continuar um próximo. E me desejaram boa sorte. – Hilary falou com a maior calma que encontrou no seu ser, que agora estava nervoso. Oras, ela tinha medo de sua decisão magoar sua mãe e a possibilidade acabava com ela.
- Não estou de acordo com isso Hilary. – a mulher não estava cedendo e deixando Hilary irritada.
- Mas mãe...
- Não tem porém nenhum, Hilary. Vá para o seu quarto e reveja essa loucura. Largar sua vida, para ir atrás de um canalha que nunca honrou o título de pai.
Hilary viu seu avô assentir, como um sinal que obedecesse sua mãe, ele tomaria as rédeas da situação a partir dali, a tranquilizando com um olhar. Ela olhou para a avó, que também tinha a mesma expressão do marido, Hilary suspirou, pegou sua bolsa e subiu para o quarto, desejando que seus avós conseguissem um milagre e sua mãe a deixasse fazer o que queria e precisava fazer.
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Depois do almoço, Hilary se encontrava em seu quarto assistindo O Sexto Sentido, e quando o garotinho loiro soltou a frase: “Eu vejo gente morta” ouviu uma batida na porta do quarto, quase enfartou de susto.
“Ótimo Hilary, assista filme de almas penadas e depois pense que elas estão batendo na sua porta. Seja menos louca.”
Hilary se sentiu aliviada ao ver que era vovô Art quem batia a porta.
- Posso? – perguntou o homem com seus cabelos grisalhos bem penteados para trás. A menina somente assentiu, ele entrou e fechou a porta atrás de si. – Falei com sua mãe, e depois de muita conversa, a convencemos a permitir sua busca por Harry. Contra a sua vontade, mas cedeu.
- Vovô! Muito obrigada! – a menina saiu de sua cama e correu para abraçar o avô, que a apertou nos braços.
- Você pula, eu pulo! Lembra? Mas tenho muito medo que se machuque ainda mais, pequena estrela.
- É um risco que vou correr, mas acho que a vida já me calejou o suficiente para enfrentar uma próxima rasteira. A sempre uma estrela a guiar nossos caminhos, vou ficar bem. – a menina tentou tranquilizar o seu amado vovô, Art.
- Vejo que sua mania de acreditar nas estrelas ainda continua. – Arthur soltou a neta do abraço.
- Sempre, eu ainda lembro do meu pa.... É.... De Harry, falando sobre os pontinhos brilhantes no céu.
- Que tudo que acontecia, ele usava o termo “a culpa é das estrelas”, ou melhor, dos pontinhos brilhantes. Mas não acha sem sentido, tudo isso? Estrelas seriam culpadas de... bom... dele partir? – o velho homem perguntou, embora inseguro de questionar sua neta.
- Estrelas não seriam culpadas de uma maldade. Mas são culpadas de eu decidir correr atrás do paradeiro dele ou seja elas estão sempre tendo sua cota de importância no destino. – vendo o cenho de seu avô franzir, ela explicou. – Eu estava numa dessas minhas noites comtemplando o céu, e de repente, aos meus olhos, uma estrela brilhou mais que as outras, e ela me fez lembrar dele, e ascender essa vontade que há muito, eu tinha de procurá-lo. Então, usar o meu lema que a culpa é das estrelas, vale nesse contexto.
- Eu diria que você, minha neta, é bem louquinha! Mas é muito amada. – Arthur puxou a neta para mais um abraço. – Venha se despedir de sua avó, não quero anoitecer na estrada. – Hilary lhe deu um sorriso sincero, daquelas raras vezes que ela estava leve, e desceu com vovô Art para o andar de baixo. Se despediu de seus avós e sua mãe a chamou para conversarem.
- Pois bem, eu concordei com essa sua repentina decisão, mas com uma condição! Que se essas buscas não darem em nada, se Harry não ser encontrado em Nova Iorque ou onde for, você vai desistir disso e tocar sua vida! Estamos entendidas? – a mãe mais afirmava do que perguntava.
- Sim, mãe. De qualquer forma, muito obrigada por não se opor. Sei que é difícil pra você. – a mãe puxou a menina, não tão mais menina assim, para seus braços lhe dando um longo e apertado abraço que foi correspondido por Hilary. Era isso, agora iria entrar em contado com a agência. Que os jogos comecem!
A aclamada sexta-feira havia chegado. Jensen, como todos os dias da semana, havia acordado por volta das 06:00hrs.Tomava seu banho relaxante para começar o dia bem disposto, com a mente a mais tranquila possível para realizar suas tarefas na Readily Detectives. Jensen se encontrava sentado de frente para sua mesa, na sala que compartilhava com mais três colegas, Anthony, Josh e Matt. O quarteto Sherlock, como se intitulavam. Naquela manhã, Jensen estava preparando um dossiê que iria entregar a tarde para uma cliente. O marido a estava traindo com nada mais nada menos que a própria irmã dela, pelo que conversara com a mulher, sabia que a coitada levaria um choque e tanto. A mulher era realmente atraente e muito bonita, poderia ser facilmente apontada como parente distante das Kardashian, mas não era pago para flertar com as clientes e sim, para resolver os problemas delas. Mas até os dias atuais, nada tinha superado quando foi convocado para investigar os passos de uma esposa aparentemente dedicada, e acabou descobrindo que a mulher não só tinha um amante, como desviava o dinheiro do marido para uma conta no nome do cara, para fugirem juntos. Foi uma lastima, o estado que o pobre homem ficou quando ficou a par da situação. O amor e suas ciladas, queria era ficar longe disso, uma vez que o fizeram de bobo, já foi o suficiente.
- Jen, vai fazer o que hoje? Podíamos sair e se jogar na night com algumas gatas. – Anthony, que ficava na mesa a esquerda de Jensen, falava animado.
- Valeu o convite, Tony, mas prefiro ir pra casa e descansar. A semana foi puxada. – Jensen disse, enquanto digitava concentrado, não dando muita atenção ao amigo.
- Sério? Qual é cara, já faz dois anos que a Jéssica te deu o fora! Tem que superar e se abrir para novos amores. – Tony tinha uma expressão de tédio misturada com humor.
- Tony tem razão, Jensen. Ficar nessa mágoa sem fim, não te leva a nada. Até parece que ela é a única mulher que vai te fazer tremer na base. Acorda, mano! – foi a vez de Matt manifestar sua opinião no assunto Jéssica.
Jéssica e Jensen namoraram cerca de dois anos, mas ela deu um ponto final na relação deles, por amar outro cara, deixando pra trás um Jensen arrasado. Não era para menos, ele já tinha planos de pedir a moça em casamento, realmente a amava e isso o machucou muito, fazendo com que ele odiasse qualquer envolvimento amoroso que pudesse ter. Apesar de que, às vezes, se envolvia com alguma garota, veja bem, homens tem necessidades, afinal de contas. Mas nada passava disso, seu medo de ter o coração pisoteado novamente o impedia de querer alguém, ao menos por enquanto era assim.
- Não vai falar nada, meu caro Josh? – Anthony dizia, enquanto pegava algumas folhas para fazer uma impressão.
- Não me meto nesse assunto. E vocês não deviam também, Jensen é nosso amigo, mas isso é um assunto que ele não gosta de falar. Olha a cara dele, está quebrando a cara de vocês mentalmente. – concluiu Josh, sem nem olhar para o amigo, estava mais preocupado em anotar algo em sua agenda de couro marrom.
- Obrigado pela compreensão, Josh. É agradável perceber que ao menos você tem senso aqui. – Jensen se pronunciou um tanto irritado.
- Vocês são patéticos! Depois dizem que as mulheres que tem frescura de sonhar com o príncipe encantado. Olha só os dois, esperando a princesa dos seus sonhos. – Anthony disse e logo se ouviu seu riso debochado. – Mas são meus melhores amigos, não posso fazer nada.
- Por sermos melhores amigos, é que eu te aturo, acredite. – Jensen respondeu, menos irritado, deixando se levar pelo tom de brincadeira do amigo. O telefone da mesa tocou e Jensen atendeu no segundo toque. – Opa, chefe chamando! Diz que tem uma missão pra mim. Estou indo lá, encontro vocês no restaurante pro almoço. – disse saindo da sala após a chamada de seu chefe.
O prédio onde a Readily Detectives funcionava se localizava no centro de Manhattan, o que facilitava a vida de Jensen, pois morava no Harlem, então não ficava tão longe para ele ir para o trabalho. O prédio havia sido construído há uns cinco anos atrás, na verdade, foi reformado. Logo que se formou em psicologia, tratou de fazer o curso para se tornar profissional na área em que ele mais almejava, detetive. O curso durou 3 meses, e depois disso correu atrás de vagas que o possibilitassem exercer o que havia aprendido. A Readily Detectives tinha um programa que se chamava “Young Detectives” onde se podia estagiar e conhecer mais esse mundo. As tarefas de um estagiário eram mais leves do que de um efetivo. No começo ele só era assistente dos detetives, organizava as pastas com as informações do caso, e também quebrava um galho como fotografo, bons tempos. Era cada flagra... Depois de um ano estagiando, Mark, seu chefe, o efetivou e ainda se lembrava como se fosse ontem, o que o homem de terno bem alinhado, sentado na sua grande cadeira lhe disse: “Espero grandes feitos de você. Fico feliz em te manter em nossa empresa.”. Amava sua profissão, sua vida estava perfeitamente no lugar. Bom, ao menos a profissional, estava. Jensen estava ansioso para saber qual era o trabalho da vez, logo iria descobrir, pois o elevador fez o barulho que anunciava que havia chegado ao 5º andar onde a sala de seu chefe se localizava. Ao sair, pousou os olhos em Sarah, a secretária gostosa de Mark. Nunca havia mencionado aos amigos que já tinha tido um breve relacionamento – de uma semana – com ela, seria um inferno ter eles pegando no seu pé o tempo inteiro com piadinhas idiotas. Flashes de noites em lençóis de seda num tom de azul turquesa, que ele bem lembrava, passavam por sua mente. Hum, talvez uma hora dessas, eles podiam relembrar os velhos tempos. Sarah nunca cobrou nada dele, e muito menos deixava um clima estranho entre eles, ela apenas entendia que Jensen Phillips não estava para negociações no amor.
- Olá, Sarah, belo conjunto. – Jensen disse se referindo ao conjunto que ela trajava naquele dia. Um casaco social por cima de uma blusa de tecido que pareceu ser seda e uma saia risca giz, que estava começando a lhe despertar saudades de ver aquelas pernas descobertas. – A cor vinho lhe cai bem. – finalizou Jensen com uma piscadela, ganhando de Sarah um sorriso.
- Obrigada, Jensen. Sedutor e encantador como sempre. Você de social fica irresistível, mas prefiro quando está sem roupa. – Sarah disse com um sorriso de canto e Jensen fez uma negativa com a cabeça, achando graça do jeito atrevido da mulher.
- Sarah, você não muda, sempre direta. Mark me chamou, ele quer falar comigo agora ou vou ter que esperar? – perguntou ele, colocado uma das mãos no bolso e dando uma espiada disfarçada no decote de Sarah.
- Para minha infelicidade, ele já o espera. Nem vou poder admirar sua beleza enquanto você esperaria sentado no sofá da recepção. Uma pena. – Sarah disse e se dirigiu até a porta da sala do chefe, sendo acompanhada por Jensen. Sarah entrou na frente, e anunciou a presença de Jensen. Mark a agradeceu e ela se retirou, deixando patrão e funcionário sozinhos na grande sala. Aquele andar era só de Mark, então a sala dele era grande e com uma vista incrível de Manhattan, nada mal trabalhar com uma visão dessa todos os dias.
- Como está o meu funcionário prodígio? – Mark disse enquanto servia café para si em um copo descartável.
- Vou muito bem, obrigado! E o senhor? – Jensen falou se encaminhado para sentar-se em uma das duas cadeiras pretas que ficavam na frente da mesa de seu chefe.
- Bem, obrigado por perguntar. Te chamei aqui porque quero te confiar um caso que recebemos hoje. Foi solicitado por... – Mark deu uma olhada em suas anotações, para confirmar o nome antes de falar. – Hilary Moore. – finalizou o homem e voltando o olhar para Jensen. Então continuou a falar. – Ela quer achar o pai, não o vê a 15 anos. Harry Devan Moore, é o nome dele. Lembra de alguém com esse nome? – Jensen negou com a cabeça. – Mais informações serão passadas a você pela própria Srta. Hilary. Marquei uma hora com ela, especificamente às 10:00hrs na segunda-feira, em nossa sala de atendimentos. Confio em você para o caso.
- Não sei o que falar, Sr. Mark. Realmente estou surpreso, tenho colegas que estão acostumados a tratar de casos de desaparecimentos ou reencontros, talvez executariam melhor esse caso. – Jensen disse extremamente agradecido pela confiança de seu chefe, mas porém estava inseguro. Seria um desafio para um detetive iniciante como ele.
- Ora, Jensen, não se subestime! Sei muito bem a capacidade de meus funcionários e é exatamente por saber, que estou te escalando para solucionar este caso. Sei que está nervoso, ou você acha que eu cheguei no trem já sentando na janela? Já passei por isso, sei que o novo assusta. Mais se não sair da sua zona de conforto, nunca saberá se o que tem é o que realmente quer. Tente ao menos. Olhe, se caso você achar que não está se saindo bem, venha falar comigo e passarei o caso para outro. Mas sei que isso não será necessário. – Mark disse em um tom amigável.
- Darei o meu melhor, fique certo disso. Muito obrigado pela oportunidade. – Jensen disse e deram um aperto de mão. – Seria só isso, Sr.?
- Sim, Jensen. Espero que tudo corra bem na segunda-feira! Pode se retirar. – o Sr. Mark disse e logo voltando para seu trabalho.
Jensen se levantou da cadeira, sem acreditar que iria fazer seu primeiro trabalho mais complexo na Readily Detectives. Só esperava ir bem e não decepcionar Mark, o homem tinha uma enorme confiança na sua capacidade profissional. Quando saiu da sala, encontrou Sarah de pé ao lado de sua mesa.
- Estava aqui pensando... Hoje é sexta-feira, poderíamos fazer alguma coisa. Que tal um jantar no meu apartamento e depois uma festinha particular, só eu e você? – Sarah falava, enquanto se aproximava de Jensen que estava parado no meio da recepção, e olhando de Sarah para a porta de Mark, o homem não podia ver uma cena dessas.
- Proposta altamente tentadora, Sarah. Jantar, seu apartamento, você sem roupa inteiramente pra mim, realmente bem tentador. – Jensen adorava fazer aqueles joguinhos de sedução, era bom nisso. – Mas vou ter que recusar. Talvez uma próxima.
- Negando fogo, Phillips? – Sarah disse colocando os braços em volta do pescoço de Jensen.
- Boa tentativa, Sarah. Atingir o ego de um homem para conseguir o que quer. – ele disse. percebendo as segundas, terceiras intenções dela com ele. Não que ele não quisesse uma noite de sexo, mas no momento, preferia se preparar para sua nova missão.
- Você me pegou, droga. – Sarah fez beicinho, o que a deixou com um ar angelical que ela não tinha. – Tudo bem, me dou por vencida. – disse e tirou os braços da volta do pescoço de Jensen e se afastando dele, para que ele pudesse ir embora.
- Até qualquer hora. – Jensen deu um beijo na bochecha de Sarah e seguiu para o elevador.
Jensen estava empolgado e nervoso com esse caso. E curioso para saber mais sobre ele e também conhecer sua cliente. Deve ser algo bem sentimental, não ver o pai há 15 anos, e sabe-se lá em qual foi a situação que isso aconteceu. Ele saberia na segunda! Depois de almoçar com os amigos, voltaram para empresa e se focaram em seus trabalhos. A hora se passou rapidamente, Jensen nem sentiu, e quando viu, já era hora de voltar pra casa. Depois de meia hora e mais uns 20 minutos a pé, Jensen chegou em casa por volta das 19:00hrs. Subiu a escada da frente da porta de casa, tirou a chave do bolso, e abriu a porta, encontrando Dylan, seu irmão mais novo, olhando alguma série na TV e sendo recebido por Houston, seu cachorro. Um Beagle, que ganhou de seu avô Albert quando fez 23 anos. Sim, seu avô ainda o tratava como o garotinho que ele ensinou a andar de bicicleta e amaria ganhar um filhote de aniversário. No entanto, se apegou tanto ao cãozinho, que não vivia sem ele. A propósito, nomeou o cachorro de Houston, porque foi a cidade onde seu avô nasceu.
- Jogado no sofá como sempre, não tem nada do colégio para fazer não? – Jensen falava enquanto se dirigia para perto do mais novo.
- Boa noite pra você também, Jensen. E não, não tenho nada para fazer. Finalizei meu trabalho à tarde. O terceiro ano está tranquilo por enquanto, talvez comece a ficar louco na semana de provas, que no caso, é na próxima. Só de pensar em estudar física e química, me dá agonia. – Dylan disse já cansado antes mesmo de começar a estudar.
- Ou você estuda e tira uma nota descente, ou o papai te coloca de castigo até nossa próxima geração. E sua mordomia acaba. – Jensen disse se sentando ao lado do irmão.
- Quanto drama! Isso é culpa sua. – Dylan disse e em seguida baixou um pouco o volume da TV. Estava olhando The Big Theory, era a série preferida dele.
- Minha culpa?
- Sim.
- Por quê?
- Por ser sempre o estudioso. Que pessoa em seu estado normal, sai do colégio e nem respira, nem que seja por um ano, pelo menos? Você só terminou o terceiro ano e já foi fazer vestibular para se enfurnar em livros de faculdade. E agora todos esperam o mesmo de mim. – Dylan falou e se acomodo melhor no sofá.
- O tipo de pessoa que quer algo na vida. E você não precisa fazer faculdade assim que sair do colégio só porque eu fiz. Quem te falou isso?
- E algo precisa ser dito, Jensen? Papai já fala das faculdades onde posso estudar áudio visual. Você sabe que amo esse mundo da tecnologia, e edição de vídeo é minha paixão, mas quero respirar um pouco de livros e estudos. Não pretendo ser vagabundo, se é o que ele teme. – Dylan falava, mas não olhava para o irmão mais velho, continuava prestando atenção na série.
- Por que quando somos adolescentes, somos tão dramáticos? Maninho, fica frio. O pai vai entender. Ele também era assim comigo, a diferença é que eu quis continuar os estudos sem trégua. Tudo se há um jeito. Conte comigo, te ajudarei a fazer nosso velho entender seu ponto de vista. – Jensen disse e bagunçou os cabelos do irmão e começaram a fazer bagunça, como quando eram crianças e se davam socos de brincadeira.
- Ora se não são meus meninos levados! – Emily apareceu na ponta do corredor que dava para cozinha. – Parem e venham jantar!
- Estamos indo, mãe! – gritou um Jensen em meio a risadas.
Sua mãe havia feito um strogonoff de carne, um arroz bem soltinho e três tipos de saladas. Um suco bem docinho de morango estava na jarra de vidro no centro da mesa, devidamente posta com os pratos e talheres. A toalha de estampa de frutas estava bem estendida. Emily Phillips era tão ou mais caprichosa com sua casa do que com seu trabalho, que exigia inspirações diárias. Emily tinha uma loja virtual de joias, que ela mesma criava. Um bom negócio. Já James, trabalhava em uma empresa de telecomunicações. E Dylan, era estudante do terceiro ano do colegial. O garoto tinha um dom incrível com edições de vídeos, nasceu pra isso.
- Sabe, estava pensando em visitar meus pais. Poderíamos passar o próximo fim de semana lá! O que acham? – James perguntou a família, enquanto despejava o liquido vermelho do suco de morango em seu copo.
- Eu adoraria, amor. Respirar o ar puro de New Jersey. Amo a casa de seus pais, e aquele lindo jardim que o Sr. Dave tanto cuida. – Dave era o jardineiro dos Phillips há anos. Era praticamente da família. Muito querido por Jensen. Ele passara muito tempo de sua infância o perturbando quando ia passar as férias escolares na casa dos avós paternos.
- Por mim, fechou! – Dylan se pronunciou animado.
- Vai ser bom rever a vovó e o vovô! E Sr. Dave também, é como se fosse um tio pra mim! – Jensen falava com carinho.
- Dave sempre foi um bom amigo, apesar de ser empregado na nossa casa. Seria ótimo ter conhecido Dave na juventude, seria um amigo para as farras. Na sua idade, Jensen, eu tocava o terror. – James falava claramente, recordando os tempos em que ainda era solteiro, quando se ouviu a gargalhada de Dylan.
- “Tocava o terror”. – Dylan falava e ao mesmo tempo, fazia sinal de aspas no ar com os dedos. – Ai, pai, o senhor é uma piada!
- Ora, garoto, eu tinha minhas gírias. – o mais velho da família falou e arrancou risos dos demais.
- Então está combinado, próximo fim de semana, vamos passar com meus pais. Depois vamos nos organizar e visitar meus sogros, tudo bem pra você, Emily? – James perguntou e olhou ternamente para esposa.
- Claro! Até porque, não tem muito tempo desde que fomos visitá-los. E seus pais já tem um tempinho que não vamos vê-los. – Emily disse e sorriu para o marido. Jensen e Dylan sempre sentiram orgulho da família que tinham e sempre admiravam o amor que seus pais tinham um pelo outro.
- Família, vou trazer minha namorada pra vocês conhecerem. E se os pais dela deixarem e vocês concordarem, queria levá-la na viagem com a gente! – Dylan disse repentinamente e dando um gole no suco.
- Opa! Essa é nova. Pode trazê-la querido, e isso de ela nos acompanhar, veremos. Qual o nome dela? Ai meu Deus, meu bebê está crescendo! – Emily tinha um olhar curioso no filho e deixando um Dylan emburrado com a possibilidade de não poder levar a namorada com ele na viagem.
- Liliana! Ela é do segundo ano. Estamos juntos tem uns dois meses e agora, queremos oficializar. Admito que estou nervoso com isso de conhecer meus sogros. – o garoto parecia realmente nervoso com isso.
- Dylan, você vai se sair bem, mano! Fique calmo. – Jensen deu forças para o irmão.
- Assim espero! – disse Dylan e deu uma garfada no seu strogonoff.
- Estou ansiosa para conhecer minha norinha! – Emily disse empolgada.
Passaram mais algum tempo conversando sobre coisas aleatórias, um bom momento em família. Dylan se ofereceu para ajudar a mãe com a louça. James foi checar uns papéis do trabalho, levando uma bronca de Emily que não gostava que o marido levasse trabalho pra casa, segundo ela, ele já trabalhava demais e quando estava em casa tinha que descansar. Jensen deu boa noite pra sua família e foi para o seu quarto, sendo seguido por Houston. Jensen fez um carinho no cachorro, Houston balançou o rabinho agradecendo o carinho de seu dono e foi deitar no tapete ao lado da cama. Jensen se encaminhou para o lado do guarda-roupa e separou seu pijama e assim podendo tomar seu banho e descansar. Entrou no banheiro, se olhou no espelho e percebeu que já era hora de se barbear, porem deixaria isso para amanhã. Se despiu e entrou debaixo do chuveiro, ligou o registro e sentiu a sensação de relaxamento logo que água morna tocou sua pele. Ele ficou uns 30 segundos parado só sentindo a água escorrer por seu corpo. Aplicou o shampoo nos cabelos, se ensaboou, se enxaguou e desligou o chuveiro. Pegou uma das toalhas que deixou pendurada no box para secar os cabelos, a outra ele usou para secar o corpo. Enrolou a toalha na cintura e saiu do banheiro. Houston, assim que ouviu o barulho da porta, levantou a cabeça, olhou pro dono, e voltou a cabeça para a mesma posição anterior. Jensen pegou o pijama que havia deixado em cima da cama e o vestiu. Colocou as toalhas molhadas estendidas na cadeira, e amanhã colocaria para lavar. Acendeu o abajur do criado mudo e desligou a luz do quarto e foi se deitar. Enquanto não pegava no sono, sua mente trabalhava em estratégias para melhor se sair no caso do pai da Srta. Hilary, um nome interessante, diga-se de passagem.
- Às vezes, eu queria ser um animal. Veja você, Houston, está aí deitado nesse tapete fofo e peludo, sem responsabilidades, preocupação alguma. – Jensen disse enquanto olhava seu amigo de quatro patas dormir tranquilamente. Em meio aos seus pensamentos, ele adormeceu.
Hilary se levantou cedo naquela manhã, finalmente chegou segunda feira, estava tão ansiosa com a reunião que teria com o detetive, que mal comeu no fim de semana, o que custou várias broncas de sua mãe. Como todas as manhãs, ela abria a janela e contemplava o céu, mesmo preferindo a noite, quando podia ver as estrelas e conversar com elas. Após algum tempo vendo o amanhecer chegar, checou a hora. 07:00hrs, precisava se apresar. Pegou duas toalhas na gaveta, uma para o corpo e a outra para o cabelo e saiu apressada para o banheiro. Demorou cerca de 20 minutos no banho. Já no seu quarto, optou por uma blusa cropped, jaqueta de couro preta, calça jeans cintura alta. Nós pés, decidiu-se pelo seu coturno preto. Não que ela ligasse muito pra isso de combinação e todo o blá blá, mas sair toda esquisita também não.
Secou o cabelo, o escovou e fez o penteado shih tzu, aquele estilo Ariana Grande, ela amava e achava pratico pro cabelo não incomodar caindo no rosto. Não era muito de maquiagem cheia das frescuras, pois sua paciência era zero, optou pelo básico: rímel e nos lábios batom escuro, escolhido para ocasião, um marrom. Em sua opinião, essa era uma maquiagem básica. Separou as coisas na sua penteadeira, para se maquiar depois de tomar café. Sendo assim, desceu para o andar de baixo, encontrando sua mãe terminando de pôr a mesa.
- Bom dia, mãe! – Hilary disse quando avistou a mãe da ponta da escada.
- Bom dia, querida! Já trago o café, tem pão de forma, como você gosta, se quiser fazer torradas. – Melinda estava claramente inquieta por conta de hoje ser a tal reunião que a filha teria com o detetive.
- Vou comer só uma fatia com manteiga. Estou sem muita vontade de comer e ainda tenho que terminar de me arrumar. – Hilary disse enquanto pegava uma fatia de pão dentro do saquinho laranja.
- Er... Filha, não acha que essa roupa te deixa jovem demais? Digo, você já acabou de fazer 22 anos, e pra um encontro com um detetive para discutir o caso de seu pai, deveria ir mais adequadamente, não acha? – Melinda disse observando a reação da filha ao seu comentário e como previsto a garota não gostou muito.
- Eu acho que estou muito bem! A forma como me visto, não interessa a ninguém, muito menos a um detetive, no qual estou pagando para encontrar Harry, não para ditar a moda no que estou vestindo. – a garota disse despejando o leite na xícara misturando depois com café, logo adoçou com três colheres de açúcar.
- Desculpe, não quis te irritar. – a mãe revirou os olhos, achando infantil a atitude de Hilary. – Então, como me disse, vai conhecer o detetive hoje. Quer mesmo continuar com isso?
- Mãe... – Hilary disse e olhou para mãe que entendeu o recado.
- Tudo bem, tudo bem! Espero que tudo saia bem, conforme você espera. – Melinda disse e se aproximou dando um beijo no topo da cabeça da filha, fazendo Hilary sorrir pequeno.
Terminaram o café da manhã entre conversas sobre a expectativa de Hilary ao encontrar seu pai. Melinda estava muito balançada com toda a situação. Há muito tempo havia deixado de pensar em Harry. Sofrera muito com o seu abandono e precisou ser forte por Hilary e por ela mesma. Mas agora, vendo a lembrança dele ser revirada, suas memórias haviam acendido tão claramente, como se tudo tivesse acontecido a pouco tempo. Nunca entendeu o motivo para Harry abandoná-las, apesar de saber que alguma mulher havia no meio disso. Eles se amavam tanto, planejaram a vinda do filho com tanta alegria e quando souberam que seria uma menina, ficaram fascinados. O quartinho de Hilary foi todo decorado em tons pastéis, Harry sempre dizia que se o quarto fosse rosa, eles estariam interferindo na cor que a pequena menina escolheria como sua preferida quando crescesse. E de fato, a cor que Hilary menos gosta, é rosa. A menina lembra tanto o pai, a maneira de ser, personalidade forte e o abandono do pai a deixou fechada para qualquer sentimento. Melinda se entristecia com isso e culpava fervorosamente Harry por isso. Mesmo que Hilary tivesse uma grande mágoa do pai, Melinda sabia que toda essa busca, era para revê-lo. Hilary sentia falta de um pai, do pai dela. A mulher não teve outro companheiro depois que Harry sumiu no mundo, mesmo que isso seja bobo da parte dela, Melinda sempre amou Harry, mesmo depois de tudo. Mas claro que jamais contou para Hilary. Os pensamentos de Melinda foram interrompidos ao ouvir os passos da filha, já pronta descendo as escadas.
- Bom, mãe, já vou indo! Com sorte chego em menos de uma hora. – Hilary disse e se aproximou da mãe, que a abraçou forte. – Vou ficar bem, mãe! Te ligo assim que chegar na agência! – Hilary se desvencilhou dos braços da mãe e saiu.
Quando Hilary chegou à estação, ainda faltavam cinco minutos para a linha que ia pegar para ir ao seu destino, Readily Detectives, sair. A garota se distraiu quando alguém lhe perguntou a hora. O metrô chegou e Hilary se apressou para entrar. Sentou-se e ficou a pensar em como seria esse detetive. Admitia que estava nervosa, achava que nunca tinha passado por uma situação tão séria quanto essa. Se Deus quiser e as estrelas irão de conspirar a favor, esse detetive encontraria seu pai e sua vida poderia voltar aos eixos. Olhou no relógio e era 9:30hrs, mais uma estação e na próxima ela desceria. Logo estava andando pelo terminal rumo a agência. Manhattan com certeza era um dos lugares mais bonitos do mundo, mas um pouco agitado para ela. Caminhou o mais rápido que pôde, pois sim, como sempre ela estava atrasada. E faltava 15 minutos para as dez! Avistou o prédio, respirou fundo e entrou. A recepcionista ruiva com um penteado de coque a atendeu, indicando que deveria pegar o elevador e ir para o 2º andar. Hilary agradeceu e seguiu as instruções da ruiva. Quando chegou ao andar indicado, outra recepcionista a atendeu, essa pareceu mais jovem que a outra. Ela pediu que Hilary esperasse que logo o Sr. Phillips, viria. “O detetive que pegou meu caso, tem o sobrenome de marca de eletrônicos. Sério?” Hilary pensou e riu da própria piada sem graça. A sala da recepção era elegante, as cadeiras pretas estofadas, uma mesinha no centro com algumas revistas e o jornal local do dia. Checou o horário, 10:05hrs, o tal Phillips estava cinco minutos atrasado, iria descontar isso no pagamento. Estava com a cabeça baixa quando identificou uma sombra perto de si. Olhou para cima, e por um momento, ela ficou sem palavras, e Hilary Moore nunca perdia as palavras. Bom, a uma primeira vez para tudo. O detetive não era tão velho quanto ela imaginava que seria. Seus cabelos eram castanhos, olhos interessantes, assim como ele todo. Ele tinha todo um ar de sério, o que deixava ele mais bonito, e mais misterioso. Percebeu que estava o olhando profundamente quando o homem a sua frente pigarreou e se apresentou.
- Bom dia, é a Srta. Hilary Moore? – perguntou o rapaz bem vestido a sua frente. E a garota somente assentiu positivamente. – Certo. Sou o detetive Jensen Phillips, serei o encarregado de solucionar o seu caso.
- Assim espero! – Hilary falou firme, recuperando a compostura diante aquele belo rapaz de social a sua frente.
- Queira me acompanhar, por favor, até a sala onde conversaremos sobre o assunto. – Jensen avançou para um corredor e abriu uma das portas. Hilary entrou logo depois dele, conhecendo o lugar. Era uma sala comum, mas com uma decoração clean e elegante, acho que tudo ali era assim. – Queira me desculpar pelo atraso. – ele sorriu gentilmente. – Então, preciso saber de todos os detalhes no caso do seu pai, para que eu possa criar uma estratégia de busca.
- Bom... Eu sei o que eu lembro e o que minha mãe me contou. – Hilary respirou fundo e recomeçou a falar, sob os olhos atentos de Jensen. Era difícil falar de Harry Moore. – Éramos felizes, pelo que lembro. Meu pai era o melhor, costumava chamar ele de meu super-homem, víamos desenhos de super-heróis todas as tardes. Minha mãe me contou que quando eu era bebê, ele me chamava de pequena heroína. Nunca percebia nada de errado, nada que hoje eu possa entender como um sinal de um casamento em crise. – a garota parecia ter perdido um pouco da postura firme e impermeável que ela aparentava desde que entrou naquela sala.
- Perdoe-me a pergunta, mas, você acha que ele tinha outra mulher ou quem sabe, uma família? – Jensen perguntou com cautela.
- Minha mãe nunca fala sobre essa hipótese, mas hoje entendendo melhor tudo que se passou, talvez tenha tido uma mulher no meio disso. O que me faz ter ainda mais raiva de meu pai. – Hilary disse fitando a vista que era possível ver pela parede de vidro do prédio.
- Será que eu poderia fazer perguntas a sua mãe? Seria importante para a procura. Ela toparia? – Jensen, agora, estava mais relaxado, e tudo naquela garota de jaqueta de couro, pouco convencional para ocasião formal, o revirava o estômago.
- Creio que será difícil, Sr. Phillips.
- Me chame de Jensen, por favor. Prossiga Srta.
- Olha, não quero ser mal educada, mas Srta. é algo formal demais e me irrita me chamarem desse jeito. Hilary já está bom. – Jensen concordou e ela continuou. – Minha mãe apoia minha decisão contra vontade, por ela, eu não estaria aqui e sim, gastando o meu dinheiro pagando o vestibular e a faculdade. Teria que ter uma conversa delicada com ela, e mesmo que aceite, não sei se viria até aqui. Ela detesta sair do Brooklyn.
- Vejo você aqui, toda no estilo, mora no Brooklyn, perto dessa cidade que está nos sonhos de muita gente, Manhattan. Qualquer um te acharia a garota perfeita, com a vida perfeita. – Jensen falou sem frear um sorriso para Hilary, não o seu sorriso, senhor vou te pegar de jeito, e sim, um sorriso sincero.
- Até hoje você não se ligou que as aparências enganam? – Hilary o olhou séria. Ora essa agora, esse detetive vai fazer graça com a minha cara, não mesmo, fofinho.
- Belo ponto de vista, Hilary. – Jensen estava encantado, precisava admitir. Hilary era diferente das mulheres com quem tinha noites quentes. Apesar de não ser muito nova, ela exalava a leveza de ser jovem. Coisa que ele havia perdido, achava melhor aderir a postura responsável, nunca permitindo um deslize que ele julgasse infantil, para os seus 25 anos de idade.
- Sempre tenho bons pontos de vista, Jensen.
- Estou vendo. E então, quando acha que posso falar com a Sra. Melinda? – Jensen perguntou, voltando a sua pose formal.
- Como eu disse, preciso conversar com ela. Talvez as estrelas dão uma força e ela aceite falar com você. – Hilary disse como se estivesse conversando com os cachorros da rua dela.
- Estrelas? O que quer dizer? – Jensen franziu o cenho sem entender a garota linda dos cabelos loiros.
- Tudo é culpa das estrelas, simples assim. É meu lema de vida. Assim como dizem por aí que tudo tem motivo para ser, até mesmo as coisas ruins. Eu digo que tudo é culpa das estrelas, temos nossos destinos escritos nas estrelas. Me entende? – Hilary se remexeu na cadeira, a presença de Jensen a deixava inquieta e ele ser bem gostoso, como ela imaginava que fosse, não estava ajudando a ficar tranquila.
- Então você é mística? – Jensen estava curioso para saber mais de Hilary.
- Não. Talvez uma filosofia de vida, eu diria. Meu pai sempre me mostrava as estrelas antes de dormir, a janela do meu quarto sempre foi estrategicamente posicionada na parede para que a melhor vista do céu tanto de dia como a noite, não fossem perdidas. Ele sempre dizia essa frase, e eu aderi. Ele também me chamava de pequena estrela, meu avô ainda me chama assim. – Hilary sorriu pequeno e seu olhar deixou transparecer que alguma lembrança lhe passava a mente.
- Interessante seu modo de pensar. Começarei as buscas pelo nome de seu pai, ver se esse tempo longe ele tenha registro em alguma empresa, algum lugar que possa ter trabalhado, e checar alguns hotéis mais antigos da cidade, quem sabe consigo algo. Sobre o pagamento, aqui está tudo o que cobro e como pode pagar. – Jensen alcançou nas mãos de Hilary uma folha de papel com todas as informações necessárias referente ao pagamento por seus serviços.
- Ah, sim! Obrigada. Isso é tudo? – perguntou Hilary.
- Por enquanto, sim. Olhe, vou deixar meu cartão, pode me ligar. Agora manteremos contado diretamente, não precisa ligar na agência. Qualquer avanço com sua mãe ou caso se lembre de algo importante para a busca, me ligue! – Jensen disse e se levantou da cadeira de couro preta.
- Está certo, muito obrigada por aceitar meu caso. Tenho fé que tudo terá um bom resultado. – Hilary disse gentilmente.
- Farei o meu melhor. Eu lhe acompanho até o elevador. – Jensen sorriu.
Desta vez, Hilary foi na frente, e mesmo que quisesse, Jensen não pode frear seu olhar mais detalhado pelo corpo de Hilary. Apesar dela estar de calça jeans não tão justa, e de jaqueta de couro larga, ele pôde notar que se perderia naquele corpo com gosto. Jensen, ela é uma cliente, pare agora. Ele se repreendeu com tal pensamento, mas era meio inevitável pensar isso, a garota realmente o chamou a atenção.
- Prazer em conhecê-la, Hilary. Como disse, estou à disposição, só me ligar. – Jensen apertou a mão de Hilary, demorando naquele aperto, inconscientemente. Fazendo a garota corar levemente.
- Igualmente. Pode deixar. Até breve. – Hilary disse e se afastou e caminhou até o elevador. Ao olhar para trás, viu uma mulher de porte elegante se aproximar de Jensen, secretária executiva, ou quase isso, certeza. Ela se vestia diferente das outras, sua saia lápis realçava suas curvas, e seu blazer da mesma cor da saia a deixavam elegante. Não soube dizer exatamente por que, mas aquela cena a incomodou. Não esperava, mais o olhar de Jensen encontrou o seu, e nervosa, ela desviou rapidamente e entrou no elevador.
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Jensen ainda estava hipnotizado pela garota do Brooklyn. Queria saber mais sobre ela, saber quem era Hilary Moore atrás daquela jovem esperta, inteligente e o olhar penetrante e triste, mas ainda sim com um brilho diferente. Pelo comportamento dela, Jensen pôde ver que ela nutria uma mágoa pelo pai, sua formação em psicologia o dava oportunidades, assim, conseguia entender seus clientes além da situação que lhe contavam. E quando seus olhares se encontraram, ele sentiu uma empolgação desconhecida, como se precisasse de mais tempo com a garota loira da jaqueta de couro. E quando ela desviou o olhar, parecia que a incomodava estar em sua presença. Só não sabia dizer se isso era bom ou ruim. Quando Jensen percebeu, uma Sarah sensual entrou em seu campo de visão, como sempre com aquele atrevimento.
- Está gostoso hoje, Jensen. Ficaria mais se estivesse na minha cama. – Sarah sussurrou no ouvido dele, ao abraça-lo. Aos olhos de quem via de fora, parecia um abraço inocente de comprimento entre colegas.
- Seu desejo ardente por mim, deixa meu ego nas alturas. – Jensen sussurrou de volta e desfez o abraço antes que pudesse ficar suspeito.
- Adoraria continuar a conversa, mas passei aqui para usar a impressora, a minha ficou sem tinta. Uma agradável surpresa te encontrar por aqui. – Sarah disse e abriu um sorriso, se encaminhado para onde a impressora ficava. Jensen se despediu e foi para o seu andar. Seu pensamento nunca deixava aqueles olhos verdes, aquela atitude prepotente de Hilary, o encantava.
- E aí cara, como foi com a patricinha? – Matt perguntou curioso, mais pela garota do que se o amigo havia se saído bem na reunião.
- Aquela lá o que menos ela é, é patricinha. – Jensen riu. – Hilary é autentica, dona de si, apesar de ser jovem.
- Hum, te interessou? Estaria Jensen cafajeste ressurgindo das cinzas? – Anthony até parou de digitar para entrar na conversa.
- Nem um nem outro. Não sejam babacas. – Jensen bufou e se sentou na sua cadeira, pronto para procurar informações sobre Harry Devan Moore.
- Ok, estressado, velho e arrasado. Como foi a reunião? Acha que será um caso fácil? – Anthony perguntou.
- Foi bem, eu acho. E quanto ao caso, não será dos mais fáceis, encontrar alguém é bem mais complicado que seguir alguém, espero que tudo saia bem. E Josh? – Jensen perguntou quando sentiu falta do amigo sensato.
- Foi resolver umas coisas na rua. – respondeu Matt.
Josh chegou depois de duas horas, reclamando do trânsito e pela demora no banco. Perguntou a Jensen sobre sua breve reunião com Hilary, o que deixou Josh intrigado. Jensen parecia admirado demais pela tal garota loira. Depois de uma segunda-feira agitada pra Jensen e cheia de trabalho, chegou em casa e como sempre, Houston vinha ao seu encontro todo alegre e ganhou um carinho do dono.
- Alguém em casa? – Jensen gritou!
- Eu! – Dylan gritou da cozinha.
- Cadê nossos pais? – Jensen perguntou assim que entrou na cozinha.
- Foram comprar presentes para nossos avós. Esqueceu que vamos visitá-los nesse fim de semana? – Dylan falou, enquanto esperava sua torrada ficar pronta.
- Nossa, é mesmo, tinha esquecido.
- Olha, a Megan arrumou namorado. Nossa prima desencalhou primeiro que você. Que vacilo irmãozinho. Até eu já tenho namorada. – Dylan disse e se encaminhou em direção a geladeira onde pegou uma jarra de suco.
- Dá para não ser ridículo uma única vez na sua vida? – Jensen disse, entregando um copo a Dylan que havia pegado no armário onde estava encostado.
- Obrigado. – agradeceu Dylan pelo copo. – Só falo verdades, maninho.
- Chega desse papo furado. Vou subir e tomar banho, me grita quando o pai e a mãe chegar, aí desço pro jantar. – Jensen girou os calcanhares e seguiu pro seu quarto.
Com Houston em seu encalce, abriu a porta e ambos entraram no quarto de Jensen. O cãozinho, como sempre, se acomodou do tapete peludo ao lado da cama e Jensen foi tomar um banho. Já de banho tomado e vestindo uma camisa surrada e calça de pijama, se deparou com o céu estrelado. Nunca parou para reparar na beleza daqueles pontos brilhantes, pareciam se mexer se você olhasse fixamente em direção a uma única estrela. Mas elas se mexem, não? Imediatamente, sua mente, que até então estava quieta e relaxada, foi invadida por olhos verdes, cabelos loiros e postura prepotente, fechada.
Jensen, Jensen, o que está acontecendo?
- Houston, temos um problema. – Jensen falou, chamando a atenção do cachorro para si. – Talvez Dylan morda a língua e eu “desencalhe”. – fez aspas com os dedos no ar ao dizer a palavra. – Antes que ele pense.
Já havia se passado três semanas desde a reunião entre Jensen e Hilary. Naquela segunda, depois que chegou da Readily Detectives, Hilary contou tudo que houve na sua reunião com Jensen, comentou sobre o fato dele solicitar uma conversa com a mãe, claro que Melinda se negou e custou muito a Hilary convencê-la, mas as estrelas trabalharam nisso, e ela aceitou. Ligou para Jensen, e perguntou se ele podia vir até sua casa, pois sua mãe não queria ir até a agência e por telefone, Jensen não podia obter informações precisas. Ela desconfiou que o fato dele também ser psicólogo, tinha a ver com isso, já que talvez, as reações de Melinda podiam ser de grande ajuda na busca dele por Harry. Ainda no telefonema, Jensen informou que descobriu o nome dele registrado em algumas empresas de Nova Iorque, nunca ficando mais que um ano em cada emprego. O último registro que o detetive encontrou foi em uma escola em New Jersey, trabalhou de zelador, o que intrigou Hilary. Era que seu pai, sempre havia trabalhado com coisas relacionadas à natureza. Vinha daí o amor pelas estrelas, a qual ela herdou. Nessa escola, Harry trabalhou por 3 anos, e deste então, nada mais soube-se sobre ele. Jensen até entrou em contado com a escola, e disseram que na ficha desse funcionário, havia registro de demissão pedida pelo mesmo. Até então, era tudo que eles tinham, ao menos era alguma coisa. Hilary estava sentada no sofá esperando Jensen chegar. Melinda estava passando café, quieta, o que deixava Hilary irritada e inquieta. Era 14:00hrs quando bateram na porta. Hilary deu um pulo do sofá e se apressou em atender.
- Boa tarde, Hilary!
- Olá, Jensen. – Hilary disse fazendo sinal para que ele entrasse para dentro.
- Mãe, esse é o detetive Jensen Phillips. Jensen essa é minha mãe. – Hilary fez as apresentações.
- Prazer em conhecê-la, Sra. Moore. – Jensen disse educadamente, e deram um aperto de mão. – Como Hilary já deve ter dito, preciso fazer algumas perguntas. Começaremos quando a senhora preferir.
- Hilary, traga a bandeja que preparei, está em cima da mesa. Já que vamos falar de um assunto desagradável, um café e biscoitos irão deixar tudo mais leve. – Melinda disse e sorriu pequeno.
Hilary foi até cozinha pegar a bandeja, quando trouxe para colocar na mesinha de centro da sala, sua mãe e Jensen já conversavam. Hilary não pôde deixar de perceber o quando Jensen estava bonito naquela tarde, isso não ajudaria a noite quando fosse dormir, já que ultimamente, sempre sonhava com ele. Jensen perguntou se Melinda possuía alguma foto de Harry. Hilary nunca teve nenhuma, sua mãe sumiu com todas, mas para a surpresa da garota, Melinda pediu que esperassem um instante e logo ela retornou com uma foto de Harry. O homem da foto aparentava ter uns trinta e poucos anos, ao olhar a foto, Jensen pareceu paralisar, sua expressão era de alguém chocado.
- Por que tão sério? - Hilary que estava no outro sofá se aproximou dele.
- Acho que estou começando a acreditar nessa sua filosofia de vida, Hilary. Que a culpa é das estrelas. – Jensen, percebendo a confusão no rosto de mãe e filha, apressou-se em se explicar. – O homem da foto, ele se parece muito com o jardineiro de meus avós, o Sr. Dave. Ele trabalha há muito tempo com eles. Eles moram em New Jersey, e coincidência ou não, minha família vai passar esse fim de semana lá. E muita coisa se encaixa, veja bem. – Jensen se acomodou melhor para explicar. Mal podia acreditar em como tudo estava andando. – O Sr. Dave foi contratado quando eu tinha uns 9 anos de idade, e sou dois anos mais velho que Hilary. Nesse meio tempo, conforme minhas investigações, o Sr. Harry, trabalhou em dois lugares, aqui em Nova Iorque, depois nos últimos 3 anos ele foi zelador naquela escola, e depois não consegui achá-lo mais, o que é estranho, pois tenho certeza que meus avós, seguem os direitos trabalhistas. Bom, não interessa isso. O fato é que de New Jersey, ele não saiu. Então acho que achamos seu pai. – Jensen concluiu sua teoria. Melinda estava em estado de choque e Hilary olhava fixamente pro chão.
- É inacreditável. Só pode ser culpa das estrelas mesmo. – Hilary disse e Jensen sorriu. Não podia mais negar pra si, que estava apaixonado pela garota. Ela o encantava com seu jeito e sua atitude.
- Bom, mediante a esta situação, gostaria de te convidar para ir comigo para New Jersey esse fim de semana. A namorada do meu irmão não vai com a gente, então sobra um lugar no carro. E se realmente for seu pai, terá sua chance de falar com ele. – Jensen soltou o convite sem mais nem menos, parecendo acordar Melinda do choque.
- Não acho uma boa ideia. Minha filha nem te conhece, e nem sei se esse homem é o Harry. – Melinda se levantou e olhou para Hilary.
- Mãe, por favor. – Hilary pediu calma para mãe. – Jensen, eu não sou de aceitar passeio de estranhos, porque eu tenho amor a minha vida. Mas é uma possibilidade de esse cara ser meu pai e eu preciso checar isso. – Hilary passou a olhar a mãe que estava visivelmente nervosa. – Eu peço por favor, mãe, não se oponha! Sei me cuidar e acho que posso confiar no Jensen. – Hilary olhou para Jensen que sorriu, e aquele gesto a aqueceu por dentro, começando a fazer a garota repensar se seria uma boa ideia ficar tanto tempo junto dele.
- Hilary, por que tão teimosa? Igual ao seu... – Melinda não conseguiu terminar a frase, marejando os olhos. Hilary foi ao encontro da mãe e a abraçou forte. – Não quero que ele a machuque. Não quero minha Hilary sofrendo por ninguém. – Melinda disse a Hilary e por alguns segundos, olhou para Jensen quando disse a palavra.
- Confie em mim, dona Melinda! A vida me ensinou a ser dura na queda! Manterei contato, e eu prometo que tudo vai melhorar. Porque algo me diz que eu vou descobrir o motivo desse cara ter abandonado a gente. – Hilary disse com toda raiva e mágoa que sentia. Melinda apertou a filha nos braços e assentiu. Hilary se desvencilhou da mãe e olhou para Jensen.
- Tem certeza que posso ir? Seus pais, seu irmão, estará tudo bem? – Hilary pareceu envergonhada, o que era novidade para Jensen e ele amou isso.
- Fica tranquila! Arruma suas coisas, te espero aqui. – Jensen disse e por alguns segundos sustentou o olhar dela. Me deixa te beijar agora? Por favor! Foi o que passou pela mente dele, e rapidamente Hilary desapareceu subindo a escada.
Hilary colocou o que julgou que precisaria na mochila, trocou de roupa e desceu para ir para casa de Jensen, partiriam pela manhã. Se despediu da mãe, e novamente Hilary assegurou a ela que tudo ficaria bem. Jensen se despediu de Melinda, ela estava mais solicita com ele, ficou imaginando se a mulher havia percebido seus sentimentos por Hilary.
- Espero que não se importe de pegar metrô! Ainda não comprei meu carro. – Jensen disse, dando de ombros um pouco sem jeito.
- Com essa pose toda, parece que tem até carro do ano. – Hilary disse, mas vendo como Jensen pareceu ofendido e irritado, logo tratou de consertar a merda que disse. Seja mais simpática, sua ridícula! – Mas prefiro assim, acho que teremos mais chance de conversar. – Hilary procurou dar o melhor sorriso para Jensen, que pareceu gostar.
Pegaram o metro até Manhattan. Hilary pediu para que Jensen a acompanhasse até o Central Park, como estava de noite, ela queria ver as estrelas e pedir aos céus que tudo fosse esclarecido.
- Eu e minha família viemos sempre aqui. Escolhemos um fim de semana de cada mês e fazemos um piquenique. Minha mãe e meus avós maternos são bem presentes, acho que tentam suprir a falta de Harry. Assim como meus avós por parte de pai, também. Não tão presentes, vivem viajando, mas fazem o possível. – Hilary disse enquanto brincava distraidamente com a grama, não percebendo o olhar de Jensen sob si.
- Você é especial, Hilary. Não devia esconder isso dos outros. Também já fui traído e machucado, sei como é conviver com esse sentimento. Claro que no seu caso, acho que é pior. – Jensen disse e pediu licença para se sentar ao lado de Hilary.
- Foi alguém da sua família?
- Não. Uma ex-namorada. – Jensen ainda se sentia patético ao falar disso.
- A ruiva que estava com você, na agência? Vi vocês quando ia pegar o elevador. – Hilary disse desviando o olhar do rapaz e fixando em um ponto qualquer, envergonhada de revelar que estava reparando no que não era de sua conta.
- Observadora, hein?! Mas não, não é ela. Era uma colega de faculdade, Jessica. Eu planejava me casar com ela e uma semana antes de eu a pedir em noivado, ela me mandou pastar, porque estava gostando de outro. Foi difícil. Desde então, não me relaciono com compromisso, com ninguém. – Jensen tinha os braços para trás apoiando-se na grama e as pernas esticadas.
- Sinto muito. – “não me relaciono com compromisso, com ninguém”, Hilary odiou ouvir isso.
- E esse penteado aí? Eu gosto. – Jensen se referiu ao mesmo penteado que ela usava no dia que a conheceu.
- Ah... É, obrigada. Estilo Ariana Grande. Só acho que o meu é mais bonito. – Hilary disse e riu. – Um homem se ligando em um penteado?
- Quando se convive com uma mãe vaidosa e sua melhor amiga é sua prima, acho que sei um pouco desse universo complicado e chato de vocês. – Jensen disse e a olhou bem nos olhos, a observando. – Apesar que você me lembra a cantora favorita dela, uma tal de Avril, não sei o que. – Jensen deu de ombros.
- Lavigne! Hum, boa observação, até que eu gosto dela. We can stay forever young... – Hilary cantarolou um verso de uma música que ela gostava da cantora citada por Jensen.
- Chega, não aguento mais. – Jensen disse e pegando Hilary totalmente de surpresa e lhe beijou.
Hilary tentou se desvencilhar dos braços de Jensen, mas não conseguiu. Isso não podia estar acontecendo! E quem disse que ela queria parar aquele beijo? Estava querendo isso desde a vez que o viu na recepção, mesmo que quisesse afastar a ideia de amar alguém, tudo mudou com chegada do charmoso detetive Jensen Phillips. Quem era essa pessoa e o que tinha feito com Hilary Moore? Os lábios de Jensen pareciam ser feitos para beijar os de Hilary. Ela se deitou na grama para facilitar para os dois. Jensen coordenava o ritmo do beijo para poupar o quanto desse de ar, precisava aproveitar enquanto tinha Hilary ali, pra ele. Nada impedia que a garota o achasse atrevido e saísse correndo dali. Infelizmente, nenhum dos dois tinham um superpoder para ficar ali por um tempo indeterminado. Suas cabeças se mexiam de um lado para o outro, para provarem mais a boca um do outro. Jensen selou aquele beijo com um longo selinho, temendo que Hilary saísse a toda disparada do parque e ainda lhe desse um tapa. A garota loira, que havia se instalado em seus pensamentos sem pedir permissão, estava com a respiração acelerada como a dele. Se olharam por um tempo, não sabiam o que dizer.
- Bem, acho que isso foi culpa das estrelas. – Jensen percebeu, para sua alegria, que Hilary não fugiria dele. Colocou uma mecha de cabelo dela para atrás da orelha, que estava caída em seu rosto.
- Talvez tenha sido. – Hilary disse e virou a cabeça para o lado, deixando um Jensen nervoso com o que poderia vir a seguir. – Isso não está certo.
- Por quê? Beijo tão mal assim? – Jensen se fez de desentendido, sabia o que ela queria dizer. – Não diga que sou muito bom pra você. Eu sou, mas não diga.
- Não seja um idiota irritante, Jensen! – Hilary disse, voltando seu rosto para olha-lo novamente e lhe dando um tapa forte no braço. – Sou sua cliente. E além do mais, não te conheço direito, eu não sou assim com ninguém, quem dirá com um ser humano que eu conheço a três semanas! E não ria, caramba!
- Desculpe. Eu compreendo que isso é novo pra você, e pra mim é também, acredite. Até semana passada, eu estava convicto que o amor era uma tremenda perca de tempo, que só servia para nos ferir. E de repente uma garota loira, de jaqueta de couro, aparece mudando essa concepção. – Jensen olhava diretamente nos olhos de Hilary enquanto falava. Era agora ou nunca. Não seja frouxo e burro, Jensen! – Eu fiquei furioso comigo mesmo. Sabe, depois que você se desilude, é bem difícil achar que terá outra oportunidade de ser feliz com alguém. Tudo perde o sentido e você se fecha para o mundo e não deixa ninguém te puxar pra realidade. Então conforme os dias passaram, eu me dei conta que talvez...
- Que talvez.... – Hilary o incentivou a continuar.
- Que talvez eu e você podíamos dar certo. – Jensen completou sua frase e esperou a resposta de Hilary. Os dois se sentaram de frente um para outro para conversarem mais confortavelmente.
- Você mexe comigo, e eu não consigo controlar isto, é irritante. Sempre fui dona de mim, nunca permiti isso de namorar. Sim, fiquei com alguns meninos, mas quando queriam namorar, eu os dispensava. Qualquer ideia de alguém me prometer algo e não cumprir, me apavora. Porque isso dói, e muito. – ela suspirou e continuou. – Podemos ir com calma? Digo... Nos conhecer melhor e ver se isso pode evoluir para um namoro. – Hilary corou ao falar assim, tão diretamente.
- Como você quiser. Não ter me dado um tapa e ter corrido de mim, após o beijo, já foi um lucro. – ele disse e os dois riram. Jensen se aproximou de Hilary para beijá-la novamente, mas a garota baixou a cabeça antes de rolar o segundo beijo do casal. – Acho que as estrelas vão ter que me dar uma forcinha, depois que a gente prova o um doce gostoso, fica impossível não querer repetir.
Hilary apenas sorriu. Ficaram mais algum tempo no parque conversando sobre estrelas, Harry Moore e sobre eles. Na hora de irem, Jensen conseguiu roubar um selinho de Hilary, que o xingou mas logo depois sorriu. Desta vez pegaram um táxi. Ao descerem na frente da casa de Jensen, Hilary se encantou com o bairro onde ele morava. As casas eram tradicionais, antigas. Era bem um cenário de filme, aliás, quantos filmes não deviam ter sido rodados por esse lugar que nos remetia ao século XIX? Interessante, Hilary pensou. Jensen pagou o táxi. Subiram as escadas que davam acesso a porta da casa do rapaz. Ele abriu e logo foram recebidos por um lindo cãozinho.
- Diga ‘oi’ para o meu pequeno amigo! Esse é o Houston, meu cachorro. – Jensen disse e se agachou para fazer carinho no animal. Hilary sorriu ao ver a cena.
- Opa, temos visita! Não nos apresenta, Jen? – Dylan se levantou do sofá e foi até o casal que ainda não era bem um casal.
- Esse é meu irmão, Dylan. Essa é Hilary Moore. – Jensen os apresentou e Hilary sorriu pequeno, sem jeito para Dylan.
- Ora, então você é a famosa Hilary! Ela é gata, mano!
- Não seja inoportuno, Dylan. Cale a boca. – Jensen repreendeu o irmão que riu.
- MÃE, PAI! JENSEN CHEGOU COM UMA GAROTA! – Dylan gritou da sala, provavelmente seus pais estavam na cozinha e não tardaram a aparecer onde todos estavam.
- Oi querido! Estou terminando o jantar! E a moça, quem é? – Emily perguntou e deu um abraço amável em Hilary.
- Esta é Hilary. A garota que eu disse estar trabalhando no caso dela, para encontrar o pai. – Jensen apresentou a garota e explicando quem ela era.
- Espero que tudo ocorra bem, minha querida! – Emily disse sinceramente.
James convidou Hilary para se juntar a eles no jantar, tímida, ela acabou aceitando. Não ia ser grossa com as pessoas, estavam a tratando bem e além disso, estava louca de fome! Emily havia preparado um macarrão à bolonhesa, estava com uma cara ótima! Jensen aproveitou para falar sobre o jardineiro que supostamente era o pai de Hilary, e por isso ela estava ali, para ir com eles na viagem e tirar a dúvida de uma vez por todas. Os Phillips ficaram boquiabertos e surpresos com a grande possibilidade do Sr. Dave, na verdade ser Harry Moore. Ouviram mais alguns resmungos de Dylan. Os pais da namorada não deixaram ela ir na viagem, julgavam muito cedo para menina viajar com o namorado. Depois do jantar, Hilary fez questão, mesmo com os protestos de Emily, de ajudar com a louça. Jensen subiu com Hilary para o seu quarto e tratou de tranquiliza-la. Ela dormiria na cama e ele faria uma cama no chão. Hilary automaticamente aliviou-se. Jensen apenas riu dela.
- Sua família é bem legal! – Hilary falou com sinceridade.
- Gostaram de você. – Jensen dizia enquanto pegava um colchão de cima do roupeiro. Hilary sorriu.
- Que perfume você usa? Está cheiroso, e eu gosto muito desse aroma. – Hilary disse se aproximando de Jensen que estava deitando o colchão para tira-lo do plástico e assim fazer sua cama.
- Meu precioso, Calvin Klein Coffret. – Jensen disse olhando com interesse a proximidade de Hilary.
- Hum, meio caro esse perfume? Mas... – Hilary se aproximou e cheirou o pescoço de Jensen, causando um arrepio no rapaz. – Vale a pena. – Hilary disse e se afastou dele, sorrindo marota.
- Pensei que iriamos com calma. – ele disse sem entender a atitude dela, mas havia gostado, e muito. Ela somente continuou sorrindo daquele jeito e foi procurar algo em sua mochila, deixando Jensen sem resposta.
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No dia seguinte, acordaram cedo e partiram para New Jersey. Hilary estava ansiosa, nervosa e com medo. Tudo poderia mudar a partir do que acontecesse. Parece que todas as pessoas de Nova Iorque resolveram sair naquele fim de semana, deixando o trânsito um pouco lento. Depois de aproximadamente uma hora na estrada, chegaram. A casa era linda, toda branca, as janelas e a porta eram azul bebê, com um belo jardim. Bem cuidado, o que chamou atenção de Hilary foi o canteiro de rosas, e a fez entrar em pânico. Eram as flores preferidas de sua mãe e seu pai sempre a presenteava com as flores. Jensen, percebendo sua reação, perguntou se ela estava bem, e ela respondeu que sim, mesmo não estando. Um senhor por volta dos sessenta anos, abriu a porta para eles, muito simpático. Jensen a apresentou a ele e logo depois a sua avó, tão amável quanto o avô. Jensen pediu licença e foi procurar o Sr. Dave, ou talvez Harry. Os mais velhos não entenderam a afobação do neto e Hilary aos poucos explicou a situação, emocionando Margareth, avó de Jensen. Hilary ficou sem graça. Ao mesmo tempo que estava com vontade de enfrentar o pai e confrontá-lo para saber a verdade, estava também com o coração batendo a mil por rever seu pai, ela tinha tanta saudade. Jensen voltou para a sala e a chamou para irem até aos fundos, pelo olhar dele, ela soube. O tal homem era mesmo seu pai. Pegou a mão de Jensen e saíram pela porta dos fundos, nos fundos da casa também havia um belo e cuidado jardim. E de repente, ela paralisou e o tal homem entrou em seu campo de visão. Realmente era parecido com o homem da foto, porém mais velho, agora. Não conteve suas lágrimas, não podia acreditar seu pai, ele estava na sua frente. Como ela almejou esse momento, só ela sabe o quanto. O homem se aproximava devagar, Hilary apertou a mão de Jensen, um pedido mudo para que ele não saísse de perto dela.
- Minha pequena estrela, como você cresceu... Está linda! – o homem de macacão jeans disse com lágrimas nos olhos. – Eu sou o seu pai. – ele disse e começou a chorar.
- Sim, é meu pai que me abandonou! ABANDONOU A MIM E A MINHA MÃE! Por que fez isso? Tem noção de quanto nos fez sofrer? Do quanto ficamos abaladas por anos? EU ERA SÓ UMA CRIANÇA! Como teve coragem? COMO? ME DIZ, POR QUÊ? – Hilary chorava e gritava, logo a família Phillips havia se juntado a eles para amparar a garota. – Foi outra mulher, não foi? ADMITE QUE TRAIU MINHA MÃE! E a mim também.
- Hilary, sei que não mereço seu perdão e nem de Melinda, de meus pais e dos pais de sua mãe. Mas eu conheci alguém, me envolvi e perdi a cabeça. E quando me dei conta da burrada que fiz, eu quis voltar, pedir perdão. Mas a vergonha foi tão grande, que não pude voltar. Achei melhor sumir da vida de vocês, o ódio seria melhor que sentir desprezo daqueles que amo. Lembra de quando eu te mostrei a estrela que mais brilhava no céu e disse que ela sempre nos manteria perto? – Harry disse e Hilary caiu de joelhos chorando e foi rapidamente acolhida por Jensen. – Eu sempre procurava por ela e pedia a Deus que estivessem bem, eu senti tanta saudade minha filha. Não mereço que esteja aqui. É melhor ir embora, e esquecer que tem um pai. Não quero mais te fazer sofrer, não a pessoa que eu mais amo no mundo. – Hilary só chorava. Estava com tanta raiva do pai, mas ao mesmo tempo queria perdoá-lo e abraçá-lo. Seu pai havia cometido um erro grave, e haveria de passar por um processo até finalmente poder serem pai e filha novamente. Mas naquele momento, sua saudade e amor falaram mais alto, Hilary se levantou com a ajuda de Jensen e caminhou até Harry, que a olhava com o mesmo amor que suas turvas lembranças de infância lhe mostravam.
- Papai! – Hilary jogou os braços em volta do pescoço do homem e o abraçou com força, o deixando surpreso. Harry a abraçou de volta. Sua pequena estrela estava ali, com ele depois de 15 anos separados.
- Filha! – Harry soluçava. Um misto de vergonha e saudade. A pior coisa que fez na vida foi deixar sua família por uma aventura. Foi um estupido. – Eu a amo tanto. Me perdoe. – Harry balançava a filha nos braços. – Nem posso acreditar que está aqui, e de um jeito inacreditável.
- Foi culpa das estrelas. – Hilary se desvencilhou do abraço do pai e o olhou. – Um dia, olhei para o céu, eu devia ter uns nove anos, e pedi a todas as estrelas que me trouxessem o senhor de volta. – Hilary fungou e lágrimas começavam a rolar em seu rosto mais uma vez. A família Phillips acompanhava toda a cena, emocionados.
- “A culpa é das estrelas.” Você, nunca esqueceu do nosso lema! Esse reencontro só podia estar escrito em alguma constelação. – Harry sorriu e abraçou a filha novamente.
Harry teve que ser paciente com sua família, o seu retorno causou uma reviravolta na vida de todos. Principalmente de Melinda. Depois de tudo, Harry soube diferenciar uma paixão avassaladora e de um amor, ao qual se rendeu e acabou perdendo tudo, sua dignidade, o amor próprio, sua família. Sentia ainda amor por Melinda, mas fazê-la perdoá-lo, estava fora de cogitação. Melinda teve que aprender a lidar com a presença de Harry, pois jamais impediria Hilary de ver o pai. As coisas ficaram melhores. Eles são amigos hoje em dia, ainda se amam, mas ainda há feridas por cicatrizar. Harry reencontrou seus pais, sua mãe quase enfartou, chegou a desmaiar. Mas a felicidade foi maior que o rancor por ter ficado tanto tempo sem seu amado filho. Hilary e Jensen, continuaram naquele vou, não vou, e finalmente decidiram namorar. Hilary trouxe a certeza do amor novamente para a vida de Jensen. Hilary torcia secretamente para que seus pais se reconciliassem. O ato mais corajoso e nobre que alguém pode ter, é perdoar. Jensen se tornou um brilhante detetive na Readily Detectives, e além disso, se tornou braço direito de Mark. Tudo ia bem, finalmente na vida de Hilary e tudo que ela mais queria era que continuasse assim.
Quando dizem por aí que o universo conspira ao nosso favor quando acreditamos e lutamos por algo, é de se pensar que seja verdade. No caso de Harry e Hilary, pai e filha dividiam o mesmo apreço pelas estrelas. Assim como eles, há quem diga que elas sempre estão de olho em nosso destino e quando você menos espera, tudo pode mudar se um pedido com amor for feito. Afinal, a culpa é das estrelas, assim acreditava Hilary, com muita certeza em sua filosofia de vida. Mas nunca esqueça, elas não trabalham sozinhas, faça sua parte também. Aprenda com a vida e faça do mundo um lugar melhor para se viver.
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