Você e Yoongi continuam se encontrando vida após vida, infinitamente.
O único problema, é que vocês parecem estar determinados a serem distância, e a se perderem.
The universe is not made of atoms.
It’s made of tiny stories.
— The Tiny Book of Tiny Stories.
A primeira vez que vocês se encontram, vocês são distância.
Você não consegue explicar o porque de sua hora preferida do dia ser justamente o anoitecer, quando o céu claro se transforma em escuridão, e uma vastidão de pontos brilhantes começam a cintilar acima de você. O telescópio que você ganhou em seu último aniversário sempre aponta na mesma direção, mas você já não precisa dele para encontrar sua estrela preferida, mesmo no meio de outras tantas. Seu olho já está treinado, e a memória dela queima viva em seu coração.
Basta erguer o olhar, e em um piscar de olhos o brilho amarelado e ofuscante atinge suas retinas, tão semelhante, mas ao mesmo tempo tão diferente dos demais. É sempre assim, noite após noite. Você sente seu coração pesado quando as nuvens espessas atrapalham seu ritual, e são nessas noites que seus sonhos se tornam agitados, manchados por uma escuridão crescente que não torna a clarear jamais.
Suas noites preferidas são as de verão, quando o céu limpo se transforma em uma pintura vívida e real. Você passa sua vida dividida entre paixões passageiras, que vem e que vão sem deixar marcas, mas você jamais se esquece de seu primeiro amor.
E ele também não parece esquecer de você.
Nos seus melhores dias, o brilho de sua estrela é tão intenso quanto o seu próprio. Mas são nos seus piores dias que uma explosão de luz se destaca entre pontos esquecidos e ofuscados. Você se acostumou a pensar que os céus, o universo, as estrelas, te conhecem o bastante para perceberem quando você precisa que seus pensamentos sombrios sejam clareados. Mas você também sabe que isso é loucura e ri sozinha, admirando a beleza de uma única estrela, que te admira de volta.
Você sabe que é loucura. Mas você jamais vai saber que é verdade.
A primeira vez que vocês se encontram, você é só uma garota apaixonada pelo céu, e ele é apenas uma estrela, apaixonado por uma humana. Ele assiste você de longe, estático, fixado em um ponto esquecido no meio do universo. Solitário. Ele assiste você de longe sem entender como seu sorriso consegue incendiá-lo, fazê-lo queimar cada vez e mais e mais. E é irônico o quanto o amor pode queimar, e guiar para a própria destruição. E ele almeja se transformar em poeira, misturando-se com o cosmos para renascer de outra forma, ansiando se aproximar de você.
Porque vocês são distância, e a constatação disso se parece com uma sentença de morte.
Você não consegue se lembrar disso, porque seus olhos estão fechados, e sua respiração é roubada pelo tempo. O tempo, sempre cronometrado. Você não consegue lembrar porque a vida é sugada para fora de você, e a escuridão que te engole é vazia. Sem estrelas.
Você tem os olhos fechados, e por isso não pode ver uma supernova espalhar seu brilho pelo céu, explodindo em tons de dourado, amarelo ouro, e branco. Você não consegue ver um rastro de luz cruzar o céu e desaparecer, como um satélite quebrado despencando em direção a terra, até se reduzir a nada, prestes para renascer como uma fênix que encontra liberdade em sua própria morte.
Não é a luz de uma estrela que invade a escuridão, mas sim o timbre doce de uma voz celestial.
“Não esqueça de mim.”
“Eu não vou esquecer.”
Sua promessa é muda, mas suas palavras ficam gravadas em sua alma.
A primeira vez que vocês se encontram, vocês estão destinados a viverem separados.
E a morrerem juntos.
***
Na segunda vez, ele é o vizinho que mora na casa do outro lado da rua.
Vocês trocam olhares, sorrisos, e pequenos cumprimentos quando se encontram, mas, por algum motivo, vocês continuam distantes.
É apenas quando ele aparece em sua porta durante uma manhã, pedindo por ajuda, que você repara na estrela pequena e marcada em tinta negra em sua pele pálida, próxima de sua clavícula. Uma sensação de reconhecimento tenta, com todas as forças, rastejar para fora de sua alma e chegar até sua consciência.
Mas você não consegue se lembrar, porque existem regras.
A lei dos céus não te deixa reconhecê-lo, e a sensação é sufocada e empurrada para longe, desaparecendo.
Na segunda vez que vocês se encontram, ele é apenas seu vizinho.
E você é apenas uma promessa quebrada.
***
Dizem que a terceira vez é sempre a melhor, mas vocês são uma exceção.
Na terceira vez que vocês se encontram, ele é seu melhor amigo.
E você o assiste se apaixonar por outra garota. Ele sorri, e a beija, e tudo nele irradia luz e brilho, fazendo com que ondas de calor se propagem ao seu redor, como em uma explosão.
Você tenta ficar feliz por ele, e finge não perceber como o brilho dele se reduz a nada quando ele se aproxima de você, como se sua escuridão fosse capaz de contaminá-lo.
Na terceira vez que vocês se encontram, você o ama em silêncio. Solitária.
E vocês são proximidade, e distância.
***
Na quarta vez, seus caminhos são paralelos.
Nessa vida, vocês não se encontram.
***
Durante a quinta, vocês se cruzam em uma rua qualquer, no meio de um aglomerado de pessoas que insistem em te empurrar, caminhando a favor da maré. Mas você o vê nadar contra a correnteza, seguindo na direção oposta do fluxo, com fones em torno de seus ouvidos.
O olhar dele se encontra com o seu, e seus passos diminuem drasticamente, tentando prolongar o momento. Vocês são dois estranho se reconhecendo.
Vocês são dois conhecidos se reencontrando.
Ele passa por você, e suas pernas fraquejam, e você não consegue entender o que seu corpo tenta, desesperadamente, te fazer perceber.
Hesitante, você olha para trás e o vê refletindo seu movimento, e seus olhares se encontram uma vez mais, e a cena não dura mais do que uma fração de segundos. Porque o tempo é sempre cronometrado, e o tic-tac os afasta mais e mais.
Você tenta se lembrar de algo, mas sua memória é como uma peneira.
Eu não vou esquecer.
Na quinta vez que vocês se encontram, vocês se perdem.
***
A sexta vez é diferente.
Ele não sabe que você existe, mas você o observa de longe, com um interesse platônico que não faz sentido.
Você revira sua racionalidade em busca de alguma explicação plausível para justificar o interesse que sente pelo rapper underground, que atende pelo nome de Agust D, e que estuda no mesmo colégio que você, mas não encontra nenhuma resposta. Os fones que sempre estão presentes, o afastando da realidade ao seu redor, chamam a sua atenção.
Você não consegue se lembrar.
E você também jamais irá saber que na sexta vez em que vocês se encontram, ele também a observa de longe, em busca das mesmas respostas.
***
Na sétima vez, vocês estão destinados a se encontrarem novamente.
Nessa vida, o nome dele se parece com uma melodia escapando por seus lábios.
Yoongi. Yoongi. Yoongi.
Você repete com mais frequência do que o necessário, e ele ri de sua mania estranha, sem entender porque é tão importante chamá-lo pelo nome.
“Não esqueça de mim.”
Você quer explicar, mas não consegue traduzir em palavras tudo o que sente. Mas você sabe o porquê. Você precisa se lembrar de dele. Você não pode correr o risco de esquecê-lo novamente.
“Eu não vou esquecer.”
Na sétima vez que vocês se encontram, ele é seu professor de música, e você sua aluna mais aplicada.
***
A oitava vez é como se fosse a primeira.
Vocês estão destinados a viverem separados. Mas vocês estão cansados de ser distância, e a sensação de invencibilidade os fazem desafiar o destino, e vocês se destroem mutuamente. Duas estrelas se consumindo, e queimando de forma tão intensa até que sejam dominadas por fogo, queimando juntas.
Na oitava vez que vocês se encontram, ele é um pianista famoso, e você é sua musa. Você se senta na mesma cadeira do teatro municipal quase toda semana, e a primeira coisa que Yoongi faz sempre que pisa no palco iluminado por velas, que se parecem com estrelas na escuridão, é olhar em sua direção.
Vocês se reconhecem em silêncio.
Você assiste o garoto de cabelos dourados correr os dedos longos pelas teclas de seu piano, e a música que ganha vida invade seus poros e tenta correr por suas veias, tentando chegar até suas entranhas em uma tentativa de fazer com que você perceba.
Sua promessa muda grita, mas o som é distante, e você não consegue decifrá-lo.
Existem regras, e você foi programada para esquecer. Vida a após vida, encontro após reencontro.
Mas o seu corpo quer se lembrar, e sua alma conhece a de Yoongi com maestria, e é por isso que você está apaixonada.
Ele se entrega ao piano como se entrega para você em segredo, embaixo do céu estrelado, quando todo o restante da cidade dorme. Cada tecla gentilmente pressionada te faz reviver a sensação do toque dele em sua pele. Quente, febril, intenso. A boca dele na sua faz com que uma explosão de estrelas surja no fundo de sua mente, pintando todos seus pensamentos com constelações. E é como reencontrar o seu primeiro amor.
Você se agarra a ele como um marujo se agarra em terra firme após anos perdido no mar. Você crava suas unhas em sua pele cor de via-láctea como se o corpo dele fosse um lar do qual você não pode se afastar. Você se perde em cada curva, em cada ângulo, em cada extremidade inexplorada de seu corpo, e é como finalmente se reencontrar. E é tudo cru, e intenso, e o amor que vocês sentem é marcado na carne viva, nas feridas e cicatrizes expostas de vidas passadas e separações.
Mas na oitava vez que vocês se encontram, vocês não estão destinados a ficarem juntos, e o destino é cruel.
Os dedos frios de seu marido se enroscam com os seus, te obrigando a voltar para realidade, e o toque dele em sua pele se parece gelo. O piano de Yoongi chora e grita e se rebate em vibrações pesadas e carregadas de sofrimento. E você é capaz de sentir as dores de uma dezena de vidas de uma só vez, sempre que o olhar quente de Yoongi busca pelo seu na multidão.
Vocês não só amantes, e o toque com o qual tanto sonham é sempre cronometrado.
O amor entre vocês é uma bomba relógio, pronta para explodir e destruir tudo.
E ela explode, tornando-os distância novamente.
***
Vocês se encontram pela nona vez, mas se você pudesse ter o livre arbítrio de escolher sobre como viver, você escolheria não encontrá-lo. Não dessa vez. Não desse jeito.
Na nona vez que vocês se encontram, você se sente sufocar quando encontra Yoongi ateando fogo em seu piano, reduzindo-o a pó e cinzas. Seus dedos brincam com o isqueiro, e nem mesmo a chama alaranjada é capaz de iluminar a escuridão ao redor dele.
Você sente o chão sumir e o mundo girar mais depressa, porque você se lembra de algo. Você se lembra das melodias, e das noites quentes. Você não consegue ouvir os sons, ou ver as imagens, mas você sabe que eles estão ali, escondidos em algum lugar dentro de você. Quando sua boca forma o nome de Yoongi, e o saboreia na ponta da língua, você sabe que a lembrança do som e de como ele se parece com uma melodia escapando de sua boca não é nova.
Mas você não o conhece, porque ele não te deixa se aproximar.
Yoongi, Yoongi, Yoongi.
Você repete incansáveis vezes, tentando derrubar as muralhas que ele construiu em torno de si.
Na nona vez que vocês se encontram, você o encontra caído no chão frio do banheiro, com uma pintura realista em tons vermelho sangue tingindo seus pulsos.
Você o visita todos os dias em um quarto ridiculamente branco e iluminado, que chega a fazer com que suas retinas queimem, de um jeito nada prazeroso. A sensação de reconhecimento que tenta encontrar vazão é dolorosa, e te corrói de dentro para fora.
Na nona vez que vocês se encontram, você o escuta dizer que te odeia enquanto grita e se engasga em seu próprio choro desesperado. Você o assiste cair de joelhos aos seus pés, e as mãos dele envolvem seus pulsos com força e brutalidade, enquanto suas unhas curtas são cravadas em sua pele frágil, deixando marcas. E com a voz arranhada e carregada de dor, ele te pergunta porque você não o deixou morrer em paz.
E você não sabe porque ele te odeia, e nem porque isso te faz morrer mesmo que o seu coração continue batendo.
Você jamais vai saber que ele também não entende, e não consegue decifrar os pedaços de memórias fragmentadas. Você jamais vai saber que não é você quem ele odeia, mas sim todas as suas versões antigas que ele amou, e amou, e perdeu.
Não, essa não é a verdade.
Você nunca vai saber que o que ele odeia, na verdade, é ele mesmo.
Porque ele te amou, te amou, e te ama.
Mas vocês são distância.
Vocês sempre são marcados pela distância.
O único brilho que você consegue encontrar nessa vida é o da bala de metal que Yoongi usa contra si mesmo, e que dá vida à escuridão dele.
***
Você se lembra da décima vez com clareza, porque ela está acontecendo agora.
Se você pudesse se lembrar de todos os encontros e desencontros que te guiaram e te afastaram de Yoongi, você certamente acabaria rindo do destino trágico que os assombra vida após vida.
Mas você não lembra, porque há regras, e há leis. E você só sabe como é esquecer, mas nunca lembrar.
Dessa vez, não há um céu, uma rua, uma terceira pessoa ou uma doença mental entre vocês. Dessa vez o que existe é um oceano, um continente, e uma linguagem diferente, e tudo parece impossível.
A chance de um encontro acontecer é a mesma chance de que uma estrela se apaixone por uma pessoa, e você não sabe que isso já aconteceu. Você não pode saber.
Mas quando vocês se encontram pela décima vez, é quase como se o encontro de vocês estivesse escrito nas estrelas. Pelas estrelas.
Você é uma estudante e ele é um ídolo, e nessa vida ele brilha de maneira tão intensa quanto há nove vidas atrás.
Você não consegue explicar porque sente o coração acelerar quando, em um dia como qualquer outro, se depara com um vídeo diferente em suas recomendações. Você não consegue explicar porque o garoto de cabelos descoloridos e uniforme militar azul marinho, que está te encarando através da tela de seu celular, consegue fazer com que um jardim de flores desabroche num pedaço escuro e desconhecido de sua mente.
Quase que por vontade própria, seus dedos estão digitando coisas em sites de busca, e você se sente sendo engolida por uma realidade diferente, paralela, e a sensação só se torna ainda mais forte quando você descobre o nome do estranho. Yoongi.
Yoongi, Yoongi, Yoongi.
O nome escorrega de seus lábios na forma de uma melodia decorada e gravada em cada fibra de seu ser.
Não esqueça de mim.
Nesta vida, quando vocês se encontram novamente, ele é um famoso rapper coreano, e você é apenas outra de suas fãs. E você não consegue entender como alguém tão distante, parece estar tão próximo. Você não consegue entender porque o sorriso dele se parece com uma estrela cortando a escuridão fria das suas noites solitárias. Você não consegue entender porque o seu mundo e sua vida parecem orbitar em torno desse garoto, e porque ele continua te atraindo e te fazendo cair em sua direção como se a gravidade não existisse.
Yoongi. Yoongi. Yoongi.
Você acorda noite após noite com pedaços desconexos de sonhos que se parecem tão reais, que chegam a machucar sua alma e a desafiar sua sanidade. Estrelas caindo e caindo e caindo, e o fogo delas tingindo de dourado, amarelo ouro e branco tudo ao redor. Você não consegue entender porque parece haver um pedaço seu faltando. Você é como uma casinha de joão-de-barro, esperando para ser preenchida com vida, com luz.
Você se sente frágil, vulnerável, e sozinha, quando vídeos dele cantando uma canção sobre um piano em chamas explodem por toda a internet. E você não consegue entender porque a imagem de um piano em chamas te faz se encolher em sua própria cama e chorar até adormecer.
A sensação que te invade quando Yoongi resolve lançar uma mixtape, sob o nome de Agust D, se parece com um soco no estômago, e você se sente andando sobre uma corda bamba, prestes a despencar sobre um mundo desconhecido.
Você consegue sentir que há algo implorando para chegar a superfície, te arranhando por dentro, com unhas afiadas e que te deixam marcas, mas você não consegue fazer com que esse algo venha à tona. E você sente que está prestes a enlouquecer, porque você não consegue lembrar, mas você sabe que há algo que foi esquecido.
Você não consegue lembrar, mas você consegue sentir.
E é por isso que a sua vida atual parece se fundir com todas as suas vidas antigas no instante em que o olhar doce e misterioso de Yoongi recaí sobre o seu, sem que haja um oceano, um continente, ou a tela de um celular entre vocês.
Você não consegue explicar porque enquanto todas as garotas ao seu redor estão rindo e compartilhando histórias sobre como estavam ansiosas para que o dia do fansign chegasse, você só consegue pensar em como o seu coração parece estar em chamas. Você não consegue entender porque suas unhas continuam arranhando seus pulsos, deixando marcas vermelhas e provocando uma sensação dolorosa que parece conhecida, mas que consegue te acalmar.
Você passa pelos seis garotos que também fazem parte do grupo, ao lado de Yoongi, e finalmente chega até ele. Suas pernas bambas são uma ameaça constante ao seu equilíbrio, mas você quase não consegue se importar por isso, porque toda sua atenção está voltada para sua respiração, que parece ser interrompida pela proximidade com Yoongi.
O menino mantém a cabeça abaixada, terminando de assinar alguns álbuns, e alheio a sua aproximação. Você se aproveita de sua distração para admirá-lo com mais afinco, procurando gravar em sua memória todos os detalhes do rosto angelical de Yoongi. Mas eles já estão todos gravados. Por todo seu corpo, por todos seus pensamentos, por toda sua alma. Você conhece seus traços de trás para frente, e a certeza de que você seria capaz de reconhecê-lo mesmo daqui a mil anos, no fim do mundo, se parece com uma verdade absoluta.
Você reconhece o contorno de seus lábios rosados e cheios, e a suavidade em torno de seus olhos. Até mesmo o aroma amadeirado de seu perfume, que você é capaz de sentir graças a distância quase inexistente entre vocês, se parece familiar. Você sente vontade de chegar ainda mais perto e tocar sua pele cor de via-láctea, e o pensamento de que é como se o corpo dele fosse um lar do qual você não pode se afastar, te atinge com força, te fazendo soltar um suspiro baixo mas que é alto o suficiente para chegar até Yoongi, chamando sua atenção.
Quando vocês se encontram pela décima vez, o olhar de vocês se cruza por mais do que uma fração de segundos, e não há pessoas ao redor de vocês, a empurrando para longe. Você assiste os lábios dele se partirem e a respiração escapar por eles, e o silêncio que cresce parece gritar uma série de informações que você não consegue juntar em frases coerentes.
Ele estende a mão em sua direção, sem desgrudar os olhos do seu, e você percebe que está segurando seu álbum. De maneira desajeitada, você o entrega para o garoto em sua frente e assiste enquanto ele começa a folhear as páginas cobertas por fotos diferentes dele e de seus colegas de grupo.
Os dedos longos deslizam pelas folhas com a delicadeza de um pianista acariciando as teclas de seu instrumento, e a lembrança arranha sua consciência, quase conseguindo chegar até você. Quase. Ele finalmente para em uma folha, e você repara que ele estuda a própria foto com o cenho franzido, e lábios pressionados em uma linha reta e fina.
Você acompanha a direção de seu olhar e, mesmo de ponta cabeça, consegue identificar a foto de tons amarelados que preenche duas páginas. Yoongi deitado, com olhos fechados e uma expressão serena e calma estampada em seu rosto delicado. Pequenas estrelas douradas estão espalhadas ao redor de seus olhos, e é próximo delas que você vê o garoto deixando seu autógrafo, desenhado uma pequena estrela ao lado de seu nome.
Ele não entende porque faz isso.
E você não consegue se lembrar, mas consegui sentir. A sensação de se apaixonar por um céu estrelado, mas se contentar com o brilho de apenas uma estrela. A sensação de adormecer sobre um manto escuro coberto por pontos brilhantes. A sensação de ser beijada, em segredo. A sensação de ser consumida por fogo.
A sensação de reencontrar seu primeiro amor.
Yoongi arrisca dizer algo em um inglês atrapalhado, mas que aquece seu coração, e você responde com palavras simples e curtas, mas que conseguem fazê-lo curvar os lábios em um sorriso sublime, etéreo. E então há pessoas tentando te empurrar para longe novamente, e outra vez um deja-vu toma conta de seu corpo, te fazendo engolir a seco. Ele ignora a ordem dos seguranças atrás dele, e te prende à ele apenas com a força de seu olhar.
Ele estende seu álbum de volta para você, e no segundo em que você o segura, seus dedos se esbarram e congelam no lugar. E pela primeira primeira vez em uma dezena de vidas, você se sente completa.
Yoongi, Yoongi, Yoongi.
Eu não posso esquecer.
E o toque com o qual vocês tanto sonham é sempre cronometrado. E você é obrigada a se afastar, deixando-o para trás.
Você olha para trás, apenas para encontrá-lo olhando em sua direção. E o peso que desaba sobre seu coração te faz querer cair de joelhos no chão e chorar até que você consiga se livrar da sensação desconhecida que te assombra, como um fantasma passado que te persegue.
Você pensa que a dor que sente existe porque você sabe que vai perdê-lo.
Mas você não pode lembrar que já o perdeu.
Você não pode lembrar que tudo que você sabe fazer, é perdê-lo.
Porque existem regras.
Mas você consegue sentir.
***
Você ainda não sabe disso, mas vocês vão voltar a se encontrar, e a se perderem, em um ciclo infinito. Você não sabe que a cada reencontro, a sensação de reconhecimento vai se tornar ainda mais forte e presente. Você não sabe que chegará uma vida em que sua alma gritará pela dele, mesmo que você não seja capaz de perceber isso. Não de maneira consciente.
Porque você não pode enxergar as marcas que se espalham abaixo da sua pele, contando a sua história. E você jamais vai ser capaz de saber que as marcas que ele carrega, são idênticas as suas. Você jamais vai saber que suas histórias se atravessam e se completam. Mas você vai sentir.
Porque vocês estão destinados a serem distância, mas a ficarem juntos.
***
Você não tem como saber disso, mas vocês vão voltar a se encontrarem. Depois de um dia longo de trabalho, você irá abrir os olhos cansados ao perceber que o metro está parando na sua estação. Você irá ouvir o som dos seus saltos te arrastando para fora do vagão, e vai sentir as pessoas atrás de você te empurrando, a favor da maré de corpos. Você não vai se lembrar das cenas, mas vai reconhecer a sensação.
Quando a multidão ao seu redor se dissipar, você vai se permitir parar e soltar um suspiro cansado, tombando a cabeça para trás para observar o céu escuro, tingido em tons de preto e azul marinho, e manchado de maneira magnífica por uma vastidão de estrelas. Você não vai saber explicar a sensação de estar constantemente se apaixonando toda vez que seu olhar nostálgico namora com o céu estrelado. Mas você vai reconhecer uma mudança na atmosfera ao seu redor.
Você vai ouvir o som de outro metrô se aproximado e chamando sua atenção, e vai dar passos curtos para trás, deixando a passagem livre. Você vai continuar em seu lugar, assistindo as portas do vagão se abrirem e as pessoas com rostos desconhecidos passarem por você, desviando e ignorando sua presença. Até que alguém irá seguir contra a maré de corpos, caminhando diretamente em sua direção, até parar em sua frente.
E dessa vez, não será um rosto desconhecido.
Porque você não pode se lembrar, mas você pode sentir.
O garoto de cabelos loiros e levemente bagunçados pelo vento irá tirar os fones do ouvido, deixando-os repousar em seu pescoço, próximos da pequena estrela tingida de preto que flutua acima de sua clavícula, exposta pelo decote em V de sua camisa. O olhar de vocês vai se cruzar, e dessa vez o tempo será eterno, e o tic-tac do cronômetro vai ser sufocado pelas palavras trocadas entre vocês.
Dessa vez não vai haver tempo, porque vocês serão eternos.
“Nós já nos conhecemos?” Ele irá perguntar com a voz baixa e desconfiada, que não irá se combinar em nada com a certeza que ele traz em seu olhar. Você sabe que ele conhece a resposta de sua própria pergunta, porque você consegue enxergar através de seus olhos, e você o reconhece.
Existem regras, e você foi programada para esquecer.
Você não consegue se lembrar de imagens, e de sons. Você não consegue lembrar das situações, e das palavras ditas. Você não consegue lembrar das cores, das formas, das texturas. Não há aromas, sabores, e todos os cenários já vividos por você são sugados para dentro de um vórtex temporal, que mantém suas memórias passadas distantes, inacessíveis. Porque a lei dos céus não permite que você se lembre.
Mas há uma falha.
Há sempre uma falha no matrix, e você se agarra a ela com todas suas forças.
Como um marujo que se perde no mar e se agarra a terra quando a reencontra. Como alguém que precisa se agarrar a um lar. Como uma garota se agarra a uma estrela.
Você não consegue se lembrar das cenas, e de momentos compartilhados. Mas você jamais será capaz de esquecer como se sente.
Porque a sensação de se apaixonar pela mesma pessoa, por uma infinidade de vidas, está marcada em você.
E você não pode esquecer.
Você prometeu.
“Eu tenho certeza que sim.” Você finalmente responde, e ele suspira aliviado, apertando os dedos em torno da alça de sua bolsa, coberta por bottons de rappers, e com um bordado com o nome de uma famosa escola de música.
“Meu nome é Yoongi.” Ele diz, sorrindo. E você não precisa olhar para o céu para saber que ele brilha mais do que todas as constelações reunidas.
Eu sei. O pensamento surge de forma automática e inesperada, e você se surpreende com a segurança por trás dessa constatação. Mas não é pânico que você sente. É paz. E reconhecimento.
É como estar de volta em casa, depois de um longo tempo distante.
É como deixar de ser distância, e ser proximidade.
Yoongi. O nome dele escapa como uma melodia por seus lábios, e sua língua se enrola em torno das consoantes e vogais, matando as saudades do som que se forma.
Yoongi, Yoongi, Yoongi.
Você não pode esquecer.
Você não vai esquecer.
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