Capítulo Único
O suspiro escapou de meus lábios, não fazia ideia de quanto tempo estava a observando, apesar de fazer mais de trinta anos que estávamos juntos eu não conseguia deixar de admirá-la. estava cuidando dos cavalos, como fazia todos os dias, sua idade avançada não a impedia de se movimentar como uma jovem de 20 anos. Todos os animais da chácara em que atualmente vivíamos ficavam sob sua supervisão, o riso escapou ao vê-la dar uma bronca em Otávio, nosso neto, e quem compartilhava a mesma paixão por bichos com . Era abençoado, a vida havia sido difícil, por vezes desgastante, mas não trocaria nenhuma decisão até ali…àquela mulher me deu tudo: amor, um lar, uma família. O dia estava ameno, mesmo que o sol estivesse encoberto pelas nuvens, a temperatura estava agradável, enquanto me balançava na cadeira na varanda, observando a mulher que eu amava, e o nosso neto querido, me senti em paz, um pouco nostálgico, o sono pareceu uma bela canção, envolvendo-me aos poucos…despertar cedo era um péssimo hábito que não perderá apesar da idade, ela se sentia entusiasmada com a ideia de cuidar dos nossos animais e da casa, nossos filhos nós visitavam regularmente, mas era Otávio que não parecia tentado a voltar para a cidade grande, tal avó, tal neto. Enquanto divagava sobre a semelhança dos dois, acabei pegando no sono…
Mais de 30 anos atrás…
Meus óculos estavam embaçados, as gotículas de água impediam que eu enxergasse o que estava a minha frente, corria, ou melhor, tentava já que eu não era um universitário particularmente atlético…A fina garoa, mas constante, me obrigava a procurar abrigo, um toldo, sentia a umidade crescente no material do meu moletom, especialmente naquele dia havia deixado a japona* na casa de Leonardo, meu melhor amigo. Naquela hora da manhã, não havia um estabelecimento aberto enquanto corria pela rua vazia, era uma manhã típica de domingo, a cidade de Curitiba estava fria em setembro, corria pelos quarteirões sem encontrar uma única alma viva, todos deveriam estar debaixo dos cobertores; eu também assim estaria caso não tivesse recebido um telefonema de Ben, o seminário que deveríamos apresentar não era daqui duas semanas, mas amanhã! Nosso professor de Astronomia II nos comeria vivos em seu café da manhã se não aparecermos amanhã; a grande questão era que o horário dos ônibus era realmente uma merda no domingo, especialmente pela manhã, era exatamente por isso que corria pelos quarteirões até o terminal mais próximo, já que Leonardo morava apenas dez minutos do terminal em seu bairro. O que não estava ajudando era a maldita garoa, se ela continuasse daquela maneira teria que entrar debaixo do toldo mais próximo ou qualquer lugar que estivesse aberto; meu humor estava péssimo, para contribuir com tudo eu mal podia enxergar por conta dos meus óculos embaçados e com as lentes cheias de gotículas de água.
Não fora o latido que me fez parar de correr, mas sim o tom doce e aveludado de uma voz feminina me fez quase tropeçar na calçada desnivelada. Eu mal podia identificar o que era o local em que estava em frente, mas curioso sobre a fonte daquela voz, resolvi segui-la, mesmo que mal pudesse confiar em meus pés. Retirei os óculos e empurrei as portas duplas, meus olhos viam apenas borrões, formas distorcidas, é, era uma merda ter miopia! Cansado e sem fôlego, sentei no que me pareceu ser uma cadeira, odiava qualquer atividade física, respirei fundo tossindo algumas vezes para recuperar o fôlego e foi no momento em que espirrei que eu me dei conta aonde estava: Um abrigo para animais!
— Porra!
O palavrão escapou dos meus lábios antes que eu pudesse o refrear, ergui o moletom alcançando a camiseta usando-a para secar as lentes dos óculos e quando pude enxergar nitidamente outra vez perdi o fôlego por uma razão completamente diferente, sentindo minha garganta coçar, os olhos dando indícios que começariam a lacrimejar me dirigi a figura que conversava com um cachorro em cima do balcão. Havia duas outras pessoas na recepção da clínica, uma senhora com dois gatos em suas devidas caixas de transporte e um homem, por volta dos trinta anos, com um Shitzu em seu colo; a dona da voz que eu havia ouvido mais cedo conversava totalmente alheia com um Bulldog em cima do balcão enquanto o que eu supunha ser o médico responsável pelo local, dialogava com o homem com o Shitzu. A dona da voz sorria e brincava com o Bulldog como se ele fosse um bebê, seus olhos brilhavam, ela parecia como uma criança diante seu brinquedo favorito, tive que conter a vontade de sorrir com a cena. Observei ela dar tchau para os cachorros e para o dono, o responsável pelo abrigo se aproximou da senhora com os gatos e começou a conversar cordialmente enquanto a dona da voz me olhou com desconfiança. Contive a vontade de me estapear, mas me levantei seguindo até o balcão, apesar de ser um completo rato de laboratório e um viciado assumido em videogames, eu não poderia deixar de falar com ela, a responsável por me atrair até ali…Observei o abrigo atrás de uma boa desculpa ou uma razão plausível para iniciar uma conversa até que meus olhos pousaram sobre um folheto atrás dela com as palavras Adote hoje um amiguinho de quatro patas, e experimente o que é amor de verdade. Respirando o menos que conseguia, abri um sorriso cordial, vendo nas íris dela um aviso de Caia Fora!
"Minha mãe vai com toda certeza me matar por essa "fantástica" ideia!"
— Bom dia, eu gostaria de ver os animais para a doação. — Usei o meu melhor sorriso, lutando contra a minha alergia.
— Você não parece do tipo que teria um animal de estimação. — Ela não hesitou em dizer as palavras da maneira mais hostil e direto, nada como a boa e "calorosa" recepção curitibana.
— O ditado não diz que não se deve julgar um livro pela capa?! — A respondi sem me abalar, por alguma razão que eu ainda não compreendia, eu queria muito conquistar aquela garota.
— Eu sou muito boa em julgar o caráter das pessoas. — Ela não se incomodou em mostrar qualquer arrependimento, o que me fez rir em divertimento, eu gostava dela mesmo sem nunca a ter visto antes!
— ! Não seja tão rude com o pobre rapaz! — O que eu julguei ser responsável pelo abrigo se aproximou do balcão, ele era exatamente o oposto do que se esperava de quem vivia naquela cidade. — Não ligue para o mal humor, meu caro, parece gostar mais de bichos do que de gente.
— Está tudo bem, mas entendo o você quis dizer. — Sorri concordando com ele, aquela garota a minha frente mal parecia ser a mesma que sorria calorosamente para o bulddog momentos atrás.
— O que você faz por aqui num dia como esse, rapaz ? — Ele questionou cordialmente, sua postura relaxada enquanto me indagava era curiosa, mas eu não estava interessado em saber o que ele pretendia.
— Estou aqui pela doação de animais, quando criança não pude ter um melhor amigo de quatro patas. — O respondi sem vacilar, uma meia verdade soava melhor que uma desculpa esfarrapada.
— É uma razão estranha, porque parece que você tem alergia, senhor…— atropelou as próximas palavras do que eu julgava ser o responsável pelo local.
— ! Minha filha, nós já conversamos sobre isso antes. — Ele a repreendeu antes de se dirigir a mim. — Me desculpe pela atitude grosseira de minha filha, rapaz.
— , pode me chamar de . — Balancei a cabeça como se dissesse que estava tudo bem. — Eu gostaria de ver aqueles que estão para doação.
— leve-o até o canil. — Ele se voltou para , ele me ofereceu um olhar de agradecimento antes de se dirigir a sua filha.
— Mas, pai, ele espirrou assim que entrou na clínica! — Ela soava como uma garotinha insatisfeita, mesmo que ela estivesse certa, eu só queria ter uma razão para continuar ali.
— Por favor, filha, não vamos discutir, a senhora Lima está me esperando no consultório, leve o jovem rapaz até o canil…Você estava animada com a doação de animais esse fim de semana inteiro. — Ele deu uma batidinha no ombro dela antes de se afastar. — Espero que encontre o que deseja, . — Ele piscou para mim antes de seguir pelo corredor.
— Mentiroso. — Eu tinha que admitir, eu gostei de ter a atenção dela sobre mim naquele instante, mas eu realmente estava cogitando adotar um dos animais, Leonardo era apaixonado por cachorros e desde que soube da minha alergia, ele sempre deixava seus bichinhos na casa da mãe para que eu pudesse ir a casa dele; não custaria nada ajudar um animalzinho e presentear um amigo.
— Você não está errada no todo, mas eu realmente estou aqui para adotar um deles. — A respondi, mantendo firmemente seu olhar no meu, a vi engolir em seco, desconfortável pela minha sinceridade.
— Eu não gosto nem um pouco de você. — deixou sua opinião abertamente exposta, sua face expressava exatamente como ela se sentia.
— Eu me apaixonei por você assim que pus meus olhos em você. — Dei de ombros a seguindo tranquilamente.
— Você é repugnante. — Ela me respondeu com enojo.
— Você ainda não sabe, mas eu sou muito persuasivo, podemos ter começado mal, mas eu farei você mudar de ideia. — Pisquei para ela assobiando tranquilamente, me sentia estranhamente confortável em sua presença, mesmo que fosse a primeira vez que a encontrasse.
— Você é lunático, . — me respondeu completamente na defensiva.
— Eu gosto de você, pode levar o tempo que for, mas eu farei você gostar de mim da mesma maneira que ama os animais, . — A respondi tranquilamente, parei em frente a ela, uma distância segura para que ela não se sentisse ameaçada, eu não faria nada com ela, eu respeitaria sua opinião, mesmo que estivesse a provocando, eu não era um babaca que forçaria minha presença, a conquistaria aos poucos, mas naquele momento precisava expressar a seriedade para deixá-la segura sobre meus sentimentos. — Eu não farei nada com você, , eu sei que estou dizendo absurdos, não sou um homem que age baseado nós impulsos, sou da área de exatas, minhas ações são baseadas na razão, mas por algum motivo eu simplesmente não consigo explicar essa estranha atração que eu sinto por você. — Me apoiei contra a parede do corredor olhando para o teto, respirei fundo sentindo a garganta arranhar por conta da proximidade dos canis em que estávamos. — Eu não farei nada com você até que eu tenha o seu consentimento, eu não estou mentindo sobre adotar um pet, meu melhor amigo ama cachorros tanto quanto adora engenharia, ele é um bom amigo e eu não vejo o porquê de não retribuir o quanto ele vem abdicando em prol da nossa amizade. — Sorri imaginando qual expressão tomaria a face de Leonardo assim que visse o animal em meus braços. — Eu não sou o ser repugnante que está imaginando.
— Você é incomum. — Ela balançou a cabeça negativamente, seu tom havia sido neutro, mas eu gostei mesmo assim.
— Vou considerar isso como um elogio. — A respondi voltando a assobiar seguindo ao lado dela.
— Não foi o que quis dizer. — Ela abriu a porta de ferro e então os animais se agitaram, ela voltou o olhar para eles, sorrindo amavelmente.
— Eu sei, mas eu vou considerar mesmo assim. — Pisquei para ela e então comecei a observar os cachorros e gatos, observei todo o tempo enquanto escolhia um pet.
"Eu me casaria com aquela mulher!"
Atualmente…
— Vamos lá seu velho preguiçoso, acorde!
— Vovó não seja tão brusca com o vovô, é natural que ele esteja dormindo.
— Seu avô não passa de um velho folgado.
— Eu também te amo, querida.
A voz da minha ranzinza favorita me fez sorrir enquanto despertava, pisquei os olhos encontrando Otávio e no primeiro degrau da varanda, subiu o último degrau com sua expressão ranzinza que era a sua habitual.
— Com o que você estava sonhando para estar com um estúpido sorriso na face? — Ela me questionou, se sentando na cadeira mais próxima.
— É extremamente adorável como você ainda sente ciúmes de um velho como eu. — Acabei rindo da expressão de ultraje de enquanto ela se levantava e começava a me estapear.
— Engula essa maldita dentadura e pare de dizer absurdos! — Ela me respondeu enquanto me batia. — Não se torne como ele, Otávio, seu avô é um inútil.
— Você está com ciúmes. — Gargalhei me encolhendo fugindo das mãos da minha esposa. — Você é a única para mim, , desde que pus meus olhos sobre você não houve qualquer chance para as 5,9 milhões de mulheres. — Pisquei para ela para então voltar a sentir suas mãos me baterem de volta.
— Seu velho idiota! — Ela me respondeu irritada apesar de conter um sorriso.
— Eu sei que você me ama, querida, agora se já terminou com os seus bichinhos, eu quero a sua atenção. — Pisquei para ela vendo Otávio esconder a face enquanto ria discretamente.
— Você só piora com a idade. — revirou os olhos, mas sorriu após passar por mim, seu mau hábito me fez colocar um espelho no ponto cego dela, assim eu sempre a veria sorrindo.
— Eu também te amo, querida. — Pisquei para Otávio antes de segui-la.
*Japona: são jaquetas com enchimento que se usa para evitar as chuvas e para te aquecer no frio de Curitiba, elas são semelhantes as jaquetas que os gringos usam durante a época de neve por lá.
Mais de 30 anos atrás…
Meus óculos estavam embaçados, as gotículas de água impediam que eu enxergasse o que estava a minha frente, corria, ou melhor, tentava já que eu não era um universitário particularmente atlético…A fina garoa, mas constante, me obrigava a procurar abrigo, um toldo, sentia a umidade crescente no material do meu moletom, especialmente naquele dia havia deixado a japona* na casa de Leonardo, meu melhor amigo. Naquela hora da manhã, não havia um estabelecimento aberto enquanto corria pela rua vazia, era uma manhã típica de domingo, a cidade de Curitiba estava fria em setembro, corria pelos quarteirões sem encontrar uma única alma viva, todos deveriam estar debaixo dos cobertores; eu também assim estaria caso não tivesse recebido um telefonema de Ben, o seminário que deveríamos apresentar não era daqui duas semanas, mas amanhã! Nosso professor de Astronomia II nos comeria vivos em seu café da manhã se não aparecermos amanhã; a grande questão era que o horário dos ônibus era realmente uma merda no domingo, especialmente pela manhã, era exatamente por isso que corria pelos quarteirões até o terminal mais próximo, já que Leonardo morava apenas dez minutos do terminal em seu bairro. O que não estava ajudando era a maldita garoa, se ela continuasse daquela maneira teria que entrar debaixo do toldo mais próximo ou qualquer lugar que estivesse aberto; meu humor estava péssimo, para contribuir com tudo eu mal podia enxergar por conta dos meus óculos embaçados e com as lentes cheias de gotículas de água.
Não fora o latido que me fez parar de correr, mas sim o tom doce e aveludado de uma voz feminina me fez quase tropeçar na calçada desnivelada. Eu mal podia identificar o que era o local em que estava em frente, mas curioso sobre a fonte daquela voz, resolvi segui-la, mesmo que mal pudesse confiar em meus pés. Retirei os óculos e empurrei as portas duplas, meus olhos viam apenas borrões, formas distorcidas, é, era uma merda ter miopia! Cansado e sem fôlego, sentei no que me pareceu ser uma cadeira, odiava qualquer atividade física, respirei fundo tossindo algumas vezes para recuperar o fôlego e foi no momento em que espirrei que eu me dei conta aonde estava: Um abrigo para animais!
— Porra!
O palavrão escapou dos meus lábios antes que eu pudesse o refrear, ergui o moletom alcançando a camiseta usando-a para secar as lentes dos óculos e quando pude enxergar nitidamente outra vez perdi o fôlego por uma razão completamente diferente, sentindo minha garganta coçar, os olhos dando indícios que começariam a lacrimejar me dirigi a figura que conversava com um cachorro em cima do balcão. Havia duas outras pessoas na recepção da clínica, uma senhora com dois gatos em suas devidas caixas de transporte e um homem, por volta dos trinta anos, com um Shitzu em seu colo; a dona da voz que eu havia ouvido mais cedo conversava totalmente alheia com um Bulldog em cima do balcão enquanto o que eu supunha ser o médico responsável pelo local, dialogava com o homem com o Shitzu. A dona da voz sorria e brincava com o Bulldog como se ele fosse um bebê, seus olhos brilhavam, ela parecia como uma criança diante seu brinquedo favorito, tive que conter a vontade de sorrir com a cena. Observei ela dar tchau para os cachorros e para o dono, o responsável pelo abrigo se aproximou da senhora com os gatos e começou a conversar cordialmente enquanto a dona da voz me olhou com desconfiança. Contive a vontade de me estapear, mas me levantei seguindo até o balcão, apesar de ser um completo rato de laboratório e um viciado assumido em videogames, eu não poderia deixar de falar com ela, a responsável por me atrair até ali…Observei o abrigo atrás de uma boa desculpa ou uma razão plausível para iniciar uma conversa até que meus olhos pousaram sobre um folheto atrás dela com as palavras Adote hoje um amiguinho de quatro patas, e experimente o que é amor de verdade. Respirando o menos que conseguia, abri um sorriso cordial, vendo nas íris dela um aviso de Caia Fora!
— Você não parece do tipo que teria um animal de estimação. — Ela não hesitou em dizer as palavras da maneira mais hostil e direto, nada como a boa e "calorosa" recepção curitibana.
— O ditado não diz que não se deve julgar um livro pela capa?! — A respondi sem me abalar, por alguma razão que eu ainda não compreendia, eu queria muito conquistar aquela garota.
— Eu sou muito boa em julgar o caráter das pessoas. — Ela não se incomodou em mostrar qualquer arrependimento, o que me fez rir em divertimento, eu gostava dela mesmo sem nunca a ter visto antes!
— ! Não seja tão rude com o pobre rapaz! — O que eu julguei ser responsável pelo abrigo se aproximou do balcão, ele era exatamente o oposto do que se esperava de quem vivia naquela cidade. — Não ligue para o mal humor, meu caro, parece gostar mais de bichos do que de gente.
— Está tudo bem, mas entendo o você quis dizer. — Sorri concordando com ele, aquela garota a minha frente mal parecia ser a mesma que sorria calorosamente para o bulddog momentos atrás.
— O que você faz por aqui num dia como esse, rapaz ? — Ele questionou cordialmente, sua postura relaxada enquanto me indagava era curiosa, mas eu não estava interessado em saber o que ele pretendia.
— Estou aqui pela doação de animais, quando criança não pude ter um melhor amigo de quatro patas. — O respondi sem vacilar, uma meia verdade soava melhor que uma desculpa esfarrapada.
— É uma razão estranha, porque parece que você tem alergia, senhor…— atropelou as próximas palavras do que eu julgava ser o responsável pelo local.
— ! Minha filha, nós já conversamos sobre isso antes. — Ele a repreendeu antes de se dirigir a mim. — Me desculpe pela atitude grosseira de minha filha, rapaz.
— , pode me chamar de . — Balancei a cabeça como se dissesse que estava tudo bem. — Eu gostaria de ver aqueles que estão para doação.
— leve-o até o canil. — Ele se voltou para , ele me ofereceu um olhar de agradecimento antes de se dirigir a sua filha.
— Mas, pai, ele espirrou assim que entrou na clínica! — Ela soava como uma garotinha insatisfeita, mesmo que ela estivesse certa, eu só queria ter uma razão para continuar ali.
— Por favor, filha, não vamos discutir, a senhora Lima está me esperando no consultório, leve o jovem rapaz até o canil…Você estava animada com a doação de animais esse fim de semana inteiro. — Ele deu uma batidinha no ombro dela antes de se afastar. — Espero que encontre o que deseja, . — Ele piscou para mim antes de seguir pelo corredor.
— Mentiroso. — Eu tinha que admitir, eu gostei de ter a atenção dela sobre mim naquele instante, mas eu realmente estava cogitando adotar um dos animais, Leonardo era apaixonado por cachorros e desde que soube da minha alergia, ele sempre deixava seus bichinhos na casa da mãe para que eu pudesse ir a casa dele; não custaria nada ajudar um animalzinho e presentear um amigo.
— Você não está errada no todo, mas eu realmente estou aqui para adotar um deles. — A respondi, mantendo firmemente seu olhar no meu, a vi engolir em seco, desconfortável pela minha sinceridade.
— Eu não gosto nem um pouco de você. — deixou sua opinião abertamente exposta, sua face expressava exatamente como ela se sentia.
— Eu me apaixonei por você assim que pus meus olhos em você. — Dei de ombros a seguindo tranquilamente.
— Você é repugnante. — Ela me respondeu com enojo.
— Você ainda não sabe, mas eu sou muito persuasivo, podemos ter começado mal, mas eu farei você mudar de ideia. — Pisquei para ela assobiando tranquilamente, me sentia estranhamente confortável em sua presença, mesmo que fosse a primeira vez que a encontrasse.
— Você é lunático, . — me respondeu completamente na defensiva.
— Eu gosto de você, pode levar o tempo que for, mas eu farei você gostar de mim da mesma maneira que ama os animais, . — A respondi tranquilamente, parei em frente a ela, uma distância segura para que ela não se sentisse ameaçada, eu não faria nada com ela, eu respeitaria sua opinião, mesmo que estivesse a provocando, eu não era um babaca que forçaria minha presença, a conquistaria aos poucos, mas naquele momento precisava expressar a seriedade para deixá-la segura sobre meus sentimentos. — Eu não farei nada com você, , eu sei que estou dizendo absurdos, não sou um homem que age baseado nós impulsos, sou da área de exatas, minhas ações são baseadas na razão, mas por algum motivo eu simplesmente não consigo explicar essa estranha atração que eu sinto por você. — Me apoiei contra a parede do corredor olhando para o teto, respirei fundo sentindo a garganta arranhar por conta da proximidade dos canis em que estávamos. — Eu não farei nada com você até que eu tenha o seu consentimento, eu não estou mentindo sobre adotar um pet, meu melhor amigo ama cachorros tanto quanto adora engenharia, ele é um bom amigo e eu não vejo o porquê de não retribuir o quanto ele vem abdicando em prol da nossa amizade. — Sorri imaginando qual expressão tomaria a face de Leonardo assim que visse o animal em meus braços. — Eu não sou o ser repugnante que está imaginando.
— Você é incomum. — Ela balançou a cabeça negativamente, seu tom havia sido neutro, mas eu gostei mesmo assim.
— Vou considerar isso como um elogio. — A respondi voltando a assobiar seguindo ao lado dela.
— Não foi o que quis dizer. — Ela abriu a porta de ferro e então os animais se agitaram, ela voltou o olhar para eles, sorrindo amavelmente.
— Eu sei, mas eu vou considerar mesmo assim. — Pisquei para ela e então comecei a observar os cachorros e gatos, observei todo o tempo enquanto escolhia um pet.
— Vamos lá seu velho preguiçoso, acorde!
— Vovó não seja tão brusca com o vovô, é natural que ele esteja dormindo.
— Seu avô não passa de um velho folgado.
— Eu também te amo, querida.
A voz da minha ranzinza favorita me fez sorrir enquanto despertava, pisquei os olhos encontrando Otávio e no primeiro degrau da varanda, subiu o último degrau com sua expressão ranzinza que era a sua habitual.
— Com o que você estava sonhando para estar com um estúpido sorriso na face? — Ela me questionou, se sentando na cadeira mais próxima.
— É extremamente adorável como você ainda sente ciúmes de um velho como eu. — Acabei rindo da expressão de ultraje de enquanto ela se levantava e começava a me estapear.
— Engula essa maldita dentadura e pare de dizer absurdos! — Ela me respondeu enquanto me batia. — Não se torne como ele, Otávio, seu avô é um inútil.
— Você está com ciúmes. — Gargalhei me encolhendo fugindo das mãos da minha esposa. — Você é a única para mim, , desde que pus meus olhos sobre você não houve qualquer chance para as 5,9 milhões de mulheres. — Pisquei para ela para então voltar a sentir suas mãos me baterem de volta.
— Seu velho idiota! — Ela me respondeu irritada apesar de conter um sorriso.
— Eu sei que você me ama, querida, agora se já terminou com os seus bichinhos, eu quero a sua atenção. — Pisquei para ela vendo Otávio esconder a face enquanto ria discretamente.
— Você só piora com a idade. — revirou os olhos, mas sorriu após passar por mim, seu mau hábito me fez colocar um espelho no ponto cego dela, assim eu sempre a veria sorrindo.
— Eu também te amo, querida. — Pisquei para Otávio antes de segui-la.
*Japona: são jaquetas com enchimento que se usa para evitar as chuvas e para te aquecer no frio de Curitiba, elas são semelhantes as jaquetas que os gringos usam durante a época de neve por lá.
Fim.
Nota da autora: Eu não imaginei que iria sair isso, mas temos uma shortfic super fofa e engraçadinha, espero que gostem porque escrever em uma só noite cinco páginas do nada não é brincadeira não!
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.