Última atualização: 20.07.2017
Logo cedo saiu de casa para mais uma aula de dança para a terceira idade. A praça, não muito longe de seu apartamento, costumava ser bem mais fresca do que as ruas, mas mesmo com todas as árvores, o sol conseguia escapar entre as folhas para elevar ainda mais a temperatura.
- Vamos fazer uma pausa de dois minutinhos e nos hidratar, porque esse sol não está nos dando nenhum descanso! - A menina brincou com seus alunos e também correu para beber água.
Voltou um tempo depois e seguiu a aula até as onze da manhã. Correu até a casa, tomou um banho e enquanto, praticamente, engolia o almoço viu o comercial de que tanto esperava!
Lá estava a seleção brasileira de vôlei, em todos os seus passes e pontos de um jogo anterior. mal podia acreditar que, finalmente, os conheceria naquela noite.
- É hoje a noite, às sete da noite, aqui mesmo na TV Hoje! Os comentários serão comandados pelo Roberto Freitas e o nosso campeão Nalbert.
Não querendo se atrasar ainda mais, deixou as louças na pia, escovou os dentes e caminhou até a academia que recentemente havia a contratado. Eram tempos difíceis para uma aluna do último período de educação física, mas as recomendações dos professores foram de extrema importância para que ela conseguisse o emprego.
E, com mais sorte ainda, a academia havia sido a escolhida para levar um grupo de professores para animar a torcida naquele jogo daquela noite. não poderia estar mais entusiasmada. Não só estava empregada, como poderia participar de um evento oficial do esporte que mais amava.
Seria a primeira vez que um evento tão importante viria a cidade e ninguém queria errar um passo que fosse.
- Eu ainda não estou acreditando que vamos ser como convidados vip do evento! - A menina comentou com outra professora. Não conseguia tirar o sorriso do rosto.
- E ainda vamos poder ver aqueles franceses lindos bem de pertinho! - Ela retrucou, mas não entendeu tal euforia com os gringos, já que os próprios brasileiros estariam lá.
- Não ligue para a Joana, ela é daquelas que pensa mais no bolso do que no prazer da profissão. - Cauê confidenciou assim que a professora se afastou. sorriu, mas não expressou nada. Ainda não conhecia os outros colegas para fazer tal afirmação.
Cauê era o responsável pela academia e não deixou mais nenhum minuto passar sem que todos ensaiassem em total sincronia, além de distribuir palavras de incentivo aos que estavam nervosos assim como .
Fomos autorizados a conversar, tietar – moderadamente – os jogadores e equipe técnica, mas sem atrapalhar quem estivesse concentrado. Cauê puxou pelo braço até chegar perto do ponteiro, , e do Wallace.
- Uau! Vocês são muito mais altos do que um dia eu pude imaginar! - Foi a primeira coisa que a menina deixou escapar, fazendo os dois jogadores caírem na gargalhada e fazendo Cauê querer cavar um buraco no chão para se esconder.
- Mas somos bonitinhos, vai!? - brincou, descontraindo ainda mais o momento. se envergonhou ainda mais, e deixou que seu superior tomasse as rédeas da conversa.
- Estão nervosos? - Ele perguntou, mas a menina não conseguia deixar a expressão de surpresa de lado.
- Nervoso eu fico, mas nada que me abale demais… - Wallace confessou dando de ombros, seguido de .
Engataram uma conversa por mais alguns minutos, quando eles foram chamados, mas não sem antes posarem para selfies com a garota, já que Cauê desistira do papo sobre algumas técnicas que desenvolvera quando jogava na escola.
- Não que isso vá fazer muita diferença para vocês… eu fazia isso porque sempre fui baixinha, então tinha que me virar. - Eles sorriram mais uma vez antes de finalmente se despedirem.
Ninguém estava entendendo o porquê dele interromper a comemoração com o time e correr até a garota, mas todos estavam levando tudo na esportiva, principalmente o técnico, feliz pela atitude não mudar o desenvolvimento do jogador em quadra.
No final do primeiro set, ele a chamou para tomar um pouco de água, mas ela sorriu de longe e começou a dançar com os outros professores. Já o jogador, prestava atenção no que o técnico dizia, olhando para a menina que sorria abertamente.
Por algumas vezes, o próprio locutor do estádio brincou com a situação, já que até aquele momento, o atleta havia sido o maior pontuador da partida.
- Parece que o nosso ponteiro está pegando boa sorte coma nossa animadora! - A torcida riu e vibrou animada. - Vamos esperar que a boa sorte continue até o final da partida…
Sem que a menina desconfiasse, recebeu um papel de uma pessoa da organização do evento, mas como não podia abrir no meio da animação, guardou no bolso da legging para que pudesse matar a curiosidade mais tarde.
Olhou ao redor procurando uma pista do que pudesse ser, mas não reconheceu ninguém na plateia e muito menos nas outras pessoas que trabalhavam ali.
- França ainda está na frente da nossa seleção Brasileira, mas agora são apenas dois pontos de diferença! Vamos para cima deles meninos!
O locutor do estádio dizia animado depois de mais um erro da seleção francesa. Era o final do quarto set daquela noite e o jogo estava acirrado, 2 sets para a França e 1 set para o Brasil. Se a verde e amarela ganhasse, teríamos um tie-break para animar ainda mais aquela noite calorosa.
- Ngapeth perdeu mais um saque e a situação começa a complicar para o craque francês, mas isso é bom para nós que estamos a um ponto de fechar o set! - E com essas palavras, a torcida foi ao delírio.
Logo gritos e palmas foram ouvidas para o último saque brasileiro do set. Lucão estava com a bola na mão e pedia o incentivo da torcida. estava um pouco cansada, mas gritou junto com os outros animadores. Mãos mandando boas vibrações chamaram a atenção do locutor e com um ace de Lucão, o Brasil fechou o set.
Os jogadores comemoraram mais um ponto e os dançarinos correram para a quadra para mais uma coreografia até que os atletas voltassem para o jogo. adorava o trabalho, podia juntar duas paixões num só lugar e, de quebra, tinha a oportunidade de estar na presença de grandes nomes da seleção brasileira de vôlei.
Já com eles em quadra, e os outros dois com quem fazia o trio, voltaram aos seus devidos lugares, perto da torcida que em breve eles voltariam a animar.
Como o tie-break era um set mais curto, a menina nem se deu ao trabalho de prestar muita atenção no jogo. Tinha a superstição de não olhar quando seu time precisava marcar um ponto muito decisivo, mas vez ou outra olhava de canto para os telões e vibrava como qualquer outro torcedor quando a seleção marcava mais um ponto, além de receber um toque de quando ele mesmo fazia o ponto.
- Agora é a hora! - O locutor voltava a chamar a torcida. - Estamos no que pode ser o último ponto dessa noite… com mais esse, nós fechamos o set com 15 pontos à 10.
Agora não só , mas era perceptível o nervosismo em todo o estádio, pois o burburinho era mais alto do que a própria gritaria de incentivo aos jogadores.
- E quem vai para o último saque é o nosso campeão !
O coração de todos parecia bater na mesma sintonia, o calor estava ainda mais forte e o último barulho que escutou foi o baque da bola de vôlei e tudo se apagou.
surgiu na sua visão e ele parecia mais assustado do que os outros. Pedia desculpas tão intensamente que sentiu a cabeça rodar ainda mais.
- Tudo bem pessoal, vamos dar espaço… espaço. - Um homem mais velho pedia. Era o mesmo que segurava uma espécie de caneta com lanterna. Logo leu em sua camisa que ele era médico e foi aí que a menina se assustou ainda mais.
Tentou se levantar, mas foi parada bruscamente pleo jogador.
- Você não pode se levantar! - Ele disse num sussurro, e por mais que estivesse bastante barulho ao redor, a menina pôde escutá-lo com perfeição. - Me desculpe mesmo, , eu juro que não fiz por querer.
- Fez o que? - Não entendia o porquê, mas minha voz saiu rouca.
- Alan, ela não sabe o que aconteceu! - puxou o médico pela camisa e pareceu ainda mais assustado do que antes.
- É normal, ela acabou de levar uma pancada na cabeça, o que você queria? - O médico explicou.
- Co... como é? - A garota se desesperou, e depois de muito insistir, sentou, sentindo-se mais tonta do que quando estava sentada. - Que pancada que você está falando?
O médico se abaixou e fez uma série de perguntas sobre como ela se sentia, mas uma nuvem de confusão a atrapalhada de responder as coisas com clareza.
- Desculpe mesmo, ! - ainda estava sentado ao seu lado. - Eu não sabia que ele tentaria defender a bola, foi um saque bem mais forte do que o normal…
- Eu não sei do que você está falando! Eu não estava olhando para a quadra. - Ela explicou.
- Eu fiz o último saque do jogo, acabei colocando mais força na mão do que eu queria... o líbero deles foi tentar receber mas pegou errado na bola e ela voou direto na sua nuca.
- Você está falando sério? - Agora que sabia o que tinha acontecido exatamente, ficou ainda mais alarmada e começou a passar a mão na cabeça a procura de sangue, inchaço ou calombo que fosse.
a tranquilizou, disse que o médico da equipe brasileira correu até eles e deu os cuidados necessários, mas que era obrigado a levá-la ao hospital para verificar se não havia nenhum mal maior.
As pessoas, vendo que a menina já havia acordado, começaram a dispersar e voltar aos seus lugares na arquibancada, já que a premiação aconteceria em alguns minutos.
ficou com ainda mais vergonha quando viu que estava perto demais do pódio, já colocado e arrumado para receber os atletas.
- Nossa animadora já está melhor e agora podemos seguir com a premiação. E com a sorte dela e o desempenho dos rapazes, estamos no lugar mais alto do pódio! - A voz do locutor parecia estar bem mais alta, agora que a música havia cessado.
Com a ajuda de Cauê, do médico e do próprio , seguiu até as cadeiras onde a seleção brasileira havia sentado durante a partida, ficou sentada e quieta para tentar amenizar a dor que sentia, não querendo alarmar ainda mais as pessoas.
As seleções foram chamadas ao pódio e a entrega de medalhas foi um momento emocionante. Ver o vôlei brasileiro ganhando o primeiro lugar numa competição de tamanha importância sempre seria emocionante para a menina.
Assim que o hino nacional começou a tocar, reuniu as forças e levantou-se. Colocou sua pose de saudação, endireitou os ombros como aprendera sendo filha de militar e também frequentando a escola da polícia por um tempo. Cantou o hino inteiro e bateu continência assim que terminou.
Viu a plateia vibrar a plenos pulmões e lágrimas de pura felicidade no rosto de vários jogadores, e logo a festa estava armada.
Mesmo que quisesse participar e terminar seu trabalho daquela noite, o médico voltou ao seu lado e pediu que ela sentasse.
olhava para todos os lados, como se estivesse procurando onde era a recepção, mas quando colocou os olhos na menina, deu um sorriso e respirou aliviado.
- Oi. - Ela sorriu em resposta assim que ele se aproximou.
- Oi. - Sentou ao lado dela. - Como você está?
- Eles me deram uns remédios e pediram que eu descansasse, mas está tudo bem.
- Vim aqui te convidar para jantar.
- Jantar? - franziu o cenho e olhou o relógio. - Você sabe que já passou da meia-noite, não sabe?
- Você já jantou? - Ela negou. - Então podemos jantar.
- Você não tem um voo para pegar daqui algumas horas? - Foi a vez dele mexer a cabeça em negativa. - Eu acho que vou para casa…
- Tem certeza? Eu disse que voltaria com uma companhia para o restaurante do hotel.
- Mas você deve estar cansado... o jogo foi bem intenso.
- Sempre é, mas queria me desculpar direito com você.
A menina relaxou o máximo que pode, mas admitiu para si mesma que gostaria de passar um tempo a mais com o jogador, e por isso, ele esperou com ela até que os papéis da alta fossem entregues e de lá pegaram um táxi até o hotel que ele estava hospedado.
- Ela confessou, depois de comer quase todo o prato de estrogonofe que havia pedido. - Essas coisas acontecem.
- Quando eu vi que você estava estirada no chão e não acordava de jeito nenhum, me preocupei e saí correndo até onde você estava, só depois que vi que marcamos o ponto e ganhamos o campeonato. - Ele tomou um gole do suco. - Me senti responsável pelo que aconteceu porque se eu tivesse maneirado no saque, isso não teria acontecido.
- Parabéns pela vitória! - agora que havia lembrado de dar os parabéns ao jogador. Ele assentiu e sorriu.
- E o que vamos fazer agora? - apoiou o queixo nas mãos e fez uma cara engraçada, como se estivesse pensando sobre algo muito sério. - Tem uma piscina no terraço do hotel.
- Eu não vou entrar na piscina a essa hora da madrugada! - disse decidida. - Está quente, eu sei, mas não vou entrar.
- Nós podemos subir e apenas conversar, que mal isso vai fazer para a sua cabeça? - Ela deu de ombros, como quem cogita a oferta. - Vamos logo, prometo que depois, eu mesmo vou lhe deixar em casa, sã e salva!
Ele levantou e estendeu a mão para a mulher. , ainda exitava em aceitar o convite, mas não lembrou de nada que a impedisse de subir por algumas horas para conversar. Até pensou na possibilidade de o atrapalhar, mas quando ele a chamou de novo, ela aceitou sua mão e eles seguiram na direção dos elevadores.
- Estou confiando que não estou te atrapalhando, ! - Ela admitiu e sorriu.
- Acho que agora você pode me chamar de … - Ele também sorriu e passou um braço pelos ombros da garota, fazendo com que ela se aproximasse um pouco mais dele.