Finalizada em: Maio/2024

So, let go of my hand.

O calor da xícara de chá estava se dissipando e eu já conseguia tocar a porcelana com as pontas dos meus dedos. Eles estavam ligeiramente atrasados e eu sabia que Hermione deveria estar surtando por conta disso. A sala de estar dos meus avós com móveis no estilo Luis XV parecia que ia me engolir à medida que os minutos passavam e a minha ansiedade aumentava. Havia tanto que eu gostaria de falar e de escutar. Duas semanas haviam se passado após a Batalha de Hogwarts e eu aguardava a visita dos meus amigos mais do que qualquer coisa. Eu os havia visto no velório daqueles que haviam morrido na batalha, mas conversar com eles se mostrou impossível, pois todos queriam saber o que eles fizeram no tempo que passaram afastados. O Profeta Diário importunava Harry e a família Weasley em busca de uma entrevista e, apesar da tristeza, todos os presentes queriam parabenizar o trio. Por isso, eu havia esperado algumas semanas para poder convidá-los até a casa dos meus avós e finalmente poder conversar com eles sem ninguém por perto.

O feitiço de proteção que ainda estava ao redor da nossa casa soltou um pequeno barulho quando alguém aparatou do outro lado da rua. A guerra havia acabado, mas muitos comensais haviam fugido e podiam estar aguardando por uma vingança. Levantei do meu lugar no sofá e me aproximei da janela, notando que, apesar do barulho da aparatação, a rua continuava deserta. Eu sabia que os três deviam estar com a capa da Invisibilidade. Abri a porta da mansão e automaticamente quatro pessoas apareceram na calçada. Harry, Hermione, Rony e Gina estavam parados ali, com sorrisos em seus rostos. Corri até eles e recebi um abraço em grupo.

, como é bom te ver! — Gina disse, sorrindo, e me abraçou novamente.
— Eu estou tão feliz que vocês estão aqui — respondi. — Por que atrasaram? Vamos entrar logo, vem, vem!
— Rony demorou no banho e atrasou a todos nós — Hermione reclamou e eu dei risada, notando a indignação no rosto do garoto enquanto eles entravam pela porta.
— Ah, Mione, nem vem, quem atrasou mesmo foi a Gina — ele retrucou e agora era a ruiva que olhava para ele com irritação.
— Eu estou quieta! — ela disse mais alto e eu e Harry rimos.
— Chega de confusão. Vamos logo, o chá está esfriando. — Eu os conduzi para a sala de estar. — Temos biscoitos, pão de ló, chá, suco…
— Nossa, você se preparou mesmo — Hermione disse. — Eu sinto muito pela demora. Onde estão seus pais e avós?
— Meus pais estão no ministério — respondi. — Kingsley chamou os dois para ajudar a colocar “ordem na casa” agora que ele é Ministro da Magia interino. Meus avós foram levados para a França na época da guerra e agora estão se programando para voltar. Meus tios ainda não acham que a Grã-Bretanha está segura, mas meus avós estão ansiosos.
— E o teu avô Aberforth? — Harry perguntou, enquanto escolhia uns dos biscoitos de nata que havia na mesa.
— Ele está ajudando a reconstruir Hogsmeade e Hogwarts — respondi. — Acho que ele fez as pazes com o legado do tio Alvo e, além disso, quanto mais rápido Hogwarts voltar, mais rápido o comércio de Hogsmeade volta também. Ele me contou que os professores estão correndo para arrumar a escola até setembro. Eles não querem que ninguém perca o ano letivo.
— As meninas vão voltar — Harry disse. — Eu e Rony, não. Você vai?
— Eu não sei… — respondi e dei um suspiro. — Hogwarts significa algo totalmente diferente para mim agora. Mas é claro que Hermione iria voltar, não é? E também não me surpreende nada vocês dois não voltarem.
— Quero finalizar minha formação — Hermione disse. — Vai ser legal, pois estarei na mesma sala que a Gina.
— Eu fiz praticamente o ano todo até a guerra acontecer — respondi. — Mas passei tanto tempo lutando e fugindo que acho que deixei de estudar bem antes de entrar em coma.

Os quatros se olharam e os pares de olhos me encararam com certa ansiedade. Eu sei que nenhum deles sabia direito o que havia acontecido comigo. Os únicos que sabiam eram Neville, Nate e Draco. Eu não sabia se eles haviam conversado com Neville, então perguntei:

— Vocês falaram com o Neville?
— Um pouco — Gina respondeu. — Ele está ajudando bastante em Hogwarts, está bem ocupado.
— E o Nate? — eu perguntei, sentindo o nó em minha garganta. — Ele ainda está no St. Mungus?
— Sim, continua internado — ela respondeu. — Foi você que achou ele, não foi?
— Sim, ele estava soterrado nos escombros — respondi e automaticamente a perna dilacerada de Nathan apareceu em minha mente. — Eu mandei uma carta e a mãe dele me respondeu, mas foi logo depois que saímos de Hogwarts. Desde então, não tenho notícias de ninguém.
— Acho que seria legal marcarmos uma visita — Gina sugeriu e Harry sorriu para ela, fazendo um carinho em seu joelho. Eu sorri e isso me lembrou:
— Mudando de assunto totalmente: temos dois casais aqui, não? — eu disse, sorrindo, e os quatro sorriram ao mesmo tempo.
— Ah, … — Hermione disse um pouco sem jeito e escondeu o rosto no ombro de Rony, que sorriu com o gesto.
— É incrível o que estar à beira da morte nos faz enxergar, não? — Rony disse e deu um sorriso ao segurar a mão de Hermione. — Não há tempo a perder quando queremos estar com alguém especial.
— Por Merlin, que brega! — eu disse e todos nós rimos. — Fico muito feliz por vocês! Sempre quis que vocês se ajeitassem! Todos vocês! Mas como aconteceu? — eu perguntei. — Foi antes da batalha?
— Foi no meio da batalha, na verdade — Mione respondeu. — A gente se olhou, se beijou e estamos oficialmente juntos.
— Rony, tua mãe deve estar tão feliz — eu comentei. — Ela sempre amou Hermione. E você e Harry, Gina?
— Nós nunca tínhamos terminado, de fato — Gina respondeu. — Harry até tentou, mas eu fui teimosa.
— Sempre, não é? — Harry comentou e nós rimos. — Bom, agora que tudo acabou, eu me sinto mais…
— Aberto? Pronto? — Tentei ajudar a completar e ele assentiu. — Realmente, apesar de todas as incertezas do futuro, pela primeira vez, nós temos esperança.
— Dá um alívio — Potter complementou e passou o braço pelos ombros da garota ruiva sentada ao seu lado. — E tudo acabou porque Voldemort era arrogante e esqueceu do óbvio.
— No final, eu sou grata pela arrogância dele — respondi, enquanto me servia de um pedaço de pão-de-ló. — Se isso serviu para que ele esquecesse das coisas básicas, então que bom!
— Todos eles são arrogantes — Rony respondeu. — Voldemort e sua corja. Isso não falha nunca.
— Você precisa ir lá em casa, — Gina pediu, cortando a fala do irmão ao notar meu desconforto com a menção aos comensais. — As coisas estão um pouco aceleradas, papai tem trabalhado muito também e mamãe ainda está de luto pelo Fred, mas tenho certeza de que ver você fará bem a ela.

A menção ao nome de Fred fez o sorriso de todos nós vacilar ao mesmo tempo. O silêncio pairou ao nosso redor e meus olhos ficaram úmidos. De repente, todas as memórias que eu tinha sobre o gêmeo me invadiram e eu notei que aquela casa me remetia a ele. Fred, que apareceu um dia com uma caixa de doces, um sorriso nos lábios e a vontade de se aproximar de mim. Fred, que cativou a mim e a minha família e vinha me fazer companhia mesmo quando eu não conseguia ver ninguém. Fred, que me amou intensamente mesmo quando eu não podia corresponder. Ainda conseguia me lembrar da primeira vez que ele havia falado comigo. Eu tinha chegado à Toca depois de ser atacada por Bellatrix e Fred, junto a George e Lupin, havia me resgatado. Eu me lembro do olhar de expectativa que o ruivo lançava para mim e como ele quase havia me beijado algumas vezes. As memórias daquele natal em que eu passei junto à família Weasley me invadiram e eu notei lágrimas caindo.

— Gina me chamou e eu encarei seus olhos úmidos. — Você sabia que Fred sempre foi apaixonado por você, não é?
— Eu sabia — respondi e busquei um guardanapo para secar meus olhos. — Mas eu nunca pude corresponder porque…
— Por causa de Draco — ela respondeu e eu notei certo ressentimento em sua voz, mas não queria investigar isso.
— Eu sinto muito por tudo — eu disse e suspirei. — Fred sempre me escreveu, esteve comigo por muito tempo. Ele era um ótimo amigo e um ótimo irmão também. Como está o George?
— Ah, — Gina suspirou. — Ele parece um fantasma, perdeu a metade dele. Está dando um tempo antes de voltar para a loja e tentar seguir a vida. Mas nada vai ser como antes.
— É, eu acho que vou ficar com George na loja antes de qualquer coisa — Rony comentou e Mione sorriu para ele. — Acho que é o certo a se fazer.
— George vai precisar de alguém — Gina respondeu. — E que bom que vai ser você.
— Você é um bom irmão, Rony — eu comentei, sorrindo, e Gina me cortou:
— Só quando quer!

Nós rimos juntos e por um tempo falamos sobre Fred e os momentos divertidos que vivemos com o gêmeo. Era importante celebrar a vida de alguém tão querido e que se fora tão cedo e de maneira tão covarde. Depois de uns minutos, as risadas foram cessando e antes que nós entrássemos num espiral de tristeza, eu lembrei de outro assunto.

— E o Teddy? — eu indaguei. — Acabei ficando isolada essas últimas semanas, não sei de ninguém.
— A mãe de Tonks está cuidando dele — Harry respondeu. — Mas Lupin me escolheu para ser padrinho, então vou tentar ajudar no que eu puder até, não sei, ele poder ir morar comigo, se quiser.
— Wow, Harry — eu disse e sorri. — Isso é muito legal. Você está com os Weasley?
— Sim, mas eu preciso voltar para a casa do Sirius — ele disse e também suspirou. — Monstro tem cuidado de tudo desde que partimos da última vez, mas ainda não consegui sair da Toca.
— Por quê?
— Porque a Suprema Corte dos Bruxos está se reestruturando e logo mais os julgamentos começarão — ele disse. — Kingsley pediu para que eu, Rony e Hermione sejamos testemunhas de acusação.
— E como vocês se sentem em relação a isso? — eu perguntei.
— Vai ser bom ver a justiça sendo feita — Rony respondeu confiante. — Finalmente aqueles comensais terão o que merecem.

Eu não consegui responder de imediato, porque minha mente foi diretamente até Draco, mas decidi afugentar sua imagem da minha cabeça. Eu beberiquei meu chá e respondi:

— É uma grande responsabilidade.
— Talvez ele te chame, — Hermione disse. — Você já é maior de idade, talvez ele te chame para falar sobre Hogwarts.
— Você teria coragem de acusar Draco? — Gina perguntou de repente e eu senti que poderia afundar na cadeira.
— Gina! — Hermione a repreendeu.
— Eu não sei, Gina. — Fui sincera. — Draco foi uma das pessoas que me ajudou a ficar viva naquele castelo e foi meu namorado por um período longo de tempo. Eu não sei se há um interesse de conflito nisso.
— Interesse de conflito? Ele era um comensal! — Rony disse, com sua visão maniqueísta das coisas, e eu me senti exausta para responder direito.
— Você não estava lá, Rony. Não venha me julgar por hesitar depor contra o Draco. Você não estava lá.

O silêncio desconfortável pairou entre nós e eu questionei pela primeira vez se havia sido uma boa ideia chamá-los para conversar tão recentemente. Eles, especialmente os meninos, nunca entenderam ou respeitaram meu relacionamento com Draco. Para eles, eu sempre “me relacionei com o inimigo”. Eles nunca entenderam que Malfoy era uma pessoa em constante dilema moral e que havia feito tudo o que podia para me ajudar. Eles não conheciam Draco. Hermione me olhou com seu olhar doce e disse:

— Quer nos contar, então?
— Eu acho que Gina já deve ter falado grande parte do que aconteceu em Hogwarts — eu respondi e olhei para o fundo da minha xícara de porcelana. — Mas aquilo virou um inferno.
— Ela disse que você… — Hermione hesitou e se remexeu no sofá. — Que você ficou grávida?
— Sim — eu disse e meus olhos se inundaram de novo. — Eu fiquei. Fiquei grávida por dez semanas, até ser torturada por Jugson, Aleto e Amico. Eu e Draco caímos em uma emboscada. Eles tiraram Malfoy do castelo, inventaram uma missão falsa para ele e eu fiquei sozinha.
, por favor, nos conte só o que você quiser — Harry disse e me olhou com compreensão.
— É, acho que vocês não vieram aqui somente para comer biscoitos e tomar chá, não é? — eu brinquei e dei um sorriso triste, suspirando e encarando meus quatro amigos me preparando para narrar os acontecimentos que mudaram totalmente minha vida.

Draco’s POV

O horário do chá da tarde sempre foi sagrado em minha família. Era o momento em que nós três nos sentávamos para conversar, beber uma bebida quente e aproveitar nossa coleção de porcelana cara. Naquele momento, nós três estávamos reunidos na sala de estar e cada um, absorto em seus próprios pensamentos, tomava o chá em completo silêncio. Duas semanas desde que Voldemort havia sido morto e que a desgraça da família Malfoy havia chegado em um novo patamar. Nós havíamos perdido e naquele momento — apesar da falsa situação cotidiana — estávamos em prisão domiciliar. Nossas varinhas haviam sido confiscadas, estávamos proibidos de aparatar e um feitiço estava ao redor de nossa mansão, impedindo qualquer magia de se manifestar. Além disso, vagando pelos terrenos, havia aurores prontos para nos imobilizar caso algum de nós tentasse alguma coisa.

Nós fomos alguns dos comensais que haviam se entregado e aguardavam julgamento. Meu pai com seus contatos havia conseguido para nós a prisão domiciliar ao invés de irmos para Azkaban. Nós não tínhamos mais um nome relevante, mas sabíamos segredos das outras pessoas e isso ajudou. Contudo, uma fuga era impensada. Além disso, Malfoys não fugiam. Olhei meus pais e dava para ver a derrota em seus ombros. Mamãe seguia triste pela morte da irmã e meu pai estava resignado pela derrota. Internamente, eu estava aliviado de que aquilo tudo havia acabado, mas jamais poderia me abrir com eles sobre meus sentimentos. A marca negra havia desaparecido dos nossos braços no segundo em que Voldemort havia tombado e eu havia chorado de alegria quando notei. Eu tive o gosto da liberdade por alguns segundos antes de ser transportado com algemas para o Departamento de Mistérios e ter ficado lá esperando meu pai agir e o ministério decidir o que faria conosco.

— Está gostando do chá, querido? — mamãe perguntou para mim, com um sorriso fraco.
— Sim, mamãe — respondi, sorrindo de volta — Está gostoso.
— Os elfos que fizeram — ela disse. — Temos que aproveitar enquanto eles ainda estão aqui. Aposto que vão mexer os pauzinhos para nos tirar até isso.
— Bom, considerando tudo o que podem fazer — eu respondi. — Os elfos são o menor dos nossos problemas.
— Draco, nada vai nos acontecer — meu pai me corrigiu e eu tive que me segurar para não revirar os olhos. — Vai dar tudo certo.
— Se isto te ajuda a dormir à noite — eu respondi e notei a expressão amarga em seu rosto.
— Olha como você fala! — ele me repreendeu.
— Lúcio! — mamãe disse mais alto e deu um sorriso falso. — É a hora do chá, não é hora para brigas.

Nós dois ficamos em silêncio e eu apenas voltei a olhar para o lado de fora da minha casa no momento em que um auror passeava pelo jardim e observava os pavões. Meu pai possuía uma visão até ingênua de que tudo iria dar certo, mas eu tinha certeza de que não. Nós iríamos para Azkaban e eu sairia de lá “sabe Deus” quando. À medida que os dias passavam e nenhuma notícia chegava, a ansiedade só aumentava mais e mais. Eu sabia que meu pai estava tentando se articular de alguma maneira, montando sua defesa, mas não podia pedir o apoio de ninguém. Todos os nossos haviam caído. Pelo contrário, cartas e mais cartas de famílias que também estavam na mesma situação chegavam até nós pedindo ajuda, mas não sabíamos o que fazer. No novo Ministério da Magia que estava sendo construído não havia espaço para que os Malfoys se infiltrassem.

O momento do chá acabou e meu pai se levantou, indo para seu escritório e se trancando lá. Minha mãe assistiu seus movimentos e suspirou. Ela também não estava nada bem. Havia perdido a irmã, a família que ela havia entrado estava em desgraça e provavelmente eu e papai seríamos presos, deixando-a sozinha. Eu me levantei e tomei o lugar do meu pai ao seu lado.

— Mamãe, como você está?
— Ah, filho — ela disse e olhou para o chão. — Eu estou aguentando. Depois que eles vieram e recolheram tudo de suspeito que havia aqui, só me restou tentar organizar a casa, mas eu ainda não consigo entrar no quarto da sua tia.
— Eu entendo — respondi e segurei em sua mão. — Eu acho que você não precisa se forçar a nada, vai devagar.
— Eu sei, mas seu pai está preocupado — ela disse. — Não sabemos nem se ficaremos com a casa.
— Como assim? — eu perguntei.
— Não sei, eles podem pedir uma indenização às vítimas — mamãe disse. — Podemos perder toda nossa fortuna e até a mansão. Tudo é muito incerto, querido.
— Meu Deus, mãe — eu disse assustado. — O que fizemos?
— Infelizmente, nós perdemos — ela respondeu e suspirou, limpando as lágrimas do seu rosto.

Depois daquela frase, eu me calei, tentando assimilar todas as possibilidades. Eu sabia que, da última vez, meu pai havia dito que estava sob influência da Imperius, mas agora essa desculpa não cairia. Todos nós estávamos envolvidos naquilo desde antes e meu pai já havia sido preso uma vez. Não havia possibilidade de jogarmos a carta da maldição. De repente, o medo da prisão dividiu espaço com mais um: o de termos destruído a família Malfoy para sempre.


’s POV

Eu não conseguia olhar para os quatro sentados à minha frente, então encarava minha calça e tentava arrancar um fiapo da linha de algodão que teimava em sair da costura. Eu sabia que as meninas estavam chorando, pois escutava as fungadas, mas não conseguia encarar nenhum deles depois de ter narrado tudo de ruim que havia acontecido comigo. Eu suspirei e tentei me acalmar para continuar a conversa, mas não consegui. Quando notei, eu chorava alto, tentando suprimir o barulho. Senti dois braços ao meu redor e, quando levantei um pouco o rosto, Hermione me abraçava apertado. Eu me permiti chorar em seus braços todo o pranto que havia em mim porque, por mais que eu chorasse, ele nunca passava, nunca ia embora.

— Por Merlim, … — Mione disse, em meu ouvido. — Eu sinto muito, eu…
— Eu sei, amiga — respondi e nós nos olhamos. Ela também tinha lágrimas nos olhos. — Nenhum de nós deveria ter passado por nada do que passamos.
, eu sinto muito por tudo — Harry disse e eu percebi uma expressão de dor em seu rosto. — Eu jamais poderia imaginar o que aconteceu com você.
— Cada um de nós viveu essa guerra de uma maneira — eu respondi, enquanto Hermione voltava para seu lugar e era abraçada por Rony. — Nós sabíamos que vocês estavam passando por maus bocados do lado de fora, então tentamos ajudar de alguma maneira estando dentro do castelo, mas os comensais foram perdendo o medo de represália à medida que o Ministério era cada vez mais tomado e os castigos aumentaram.
— Eles não pouparam nenhum aluno, de nenhuma idade — Gina complementou. — e Neville tiveram aulas em que eles foram obrigados a torturar alunos do primeiro ano.
— O quê? — Rony perguntou perplexo.
— Nós não fizemos isso, é claro — eu respondi. — Mas então Amico me enfeitiçou com a Imperius e quase me fez cortar meu próprio dedo fora. Eu consegui vencer a maldição, mas isso foi algo pequeno se comparado com todo o resto.
, você precisa depor nos julgamentos — Harry disse perplexo. — Você é uma das poucas pessoas que conseguiria fazer algo realmente efetivo. Sem especulações ou invenções. Você estava lá. Precisamos contar com você.
— Harry, eu não sei — disse sincera. — Reviver tudo é muito doloroso, eu quero deixar essa história para trás e viver em paz. Ainda tenho cicatrizes e feridas que continuam a sangrar.
— Eu sei disso, mas se você não depor, tudo terá sido em vão — ele retrucou. — Os comensais que foram capturados podem ter penas pequenas caso você não fale.
— Quem eu queria que estivesse preso não está, Harry — eu argumentei. — Aleto, Amico e Jugson estão foragidos.
— Por que você não vem para o Departamento de Aurores? — Rony perguntou. — Você pode trabalhar para capturá-los. Você deve ser tão boa quanto Hermione, . Com certeza eles vão te aceitar, ainda mais quando você testemunhar no tribunal e ter compartilhado a tua história.
— Hermione me chamou e eu a olhei. — Eu sei que tudo o que você viveu é doloroso, mas transforme essa dor em luta. Caçe os três e mostre para eles que ninguém conseguiu te quebrar, que você ainda está aqui.
— Oh, mas eles conseguiram, sim — eu respondi. — Eu continuo tendo pesadelos com tudo, com as torturas, o quase estupro, a luta em Hogwarts… Eu estou quebrada, Mione. Acho que nunca vou me recuperar.
— Gina me chamou. — Você vai se recuperar, sim, sabe por quê? Porque você é você. É a bruxa mais valente que eu já conheci. Você é da Grifinória. Você vai conseguir.
— Eu agradeço por toda a força, pessoal — eu disse e os encarei. — Prometo que vou pensar caso eles me chamem.

Os quatro foram embora tarde da noite. Depois que eu contei tudo o que havia vivido, Rony, Harry e Hermione relataram todos os apuros que passaram enquanto buscavam as Horcruxes e eu também fiquei tremendamente comovida. Quando Harry revelou que Draco havia hesitado em dizer que era ele que estava na mansão Malfoy, eu pude ligar os pontos e percebi que Draco hesitou por causa de mim. Em cada pedaço da nossa história, eu notava como Malfoy havia se esforçado (à sua maneira) para me ajudar.

Quando os três haviam partido e eu permaneci sozinha naquela mansão, meu pensamento foi até o garoto com olhos de tempestade e meu coração ficou apertado, imaginando tudo o que ele estava passando. Eu sabia que eles estavam em prisão domiciliar — alguma manobra de Lúcio, com certeza —, mas continuavam sendo vigiados bem de perto, provavelmente eram um dos poucos comensais do círculo interno que estavam vivos e capturados. Eu havia acompanhado toda a sua história e presenciei todos os dilemas internos do garoto, vi quando Draco não queria mais ser comensal, mas não podia partir. Eu vi como ele havia se agarrado à ideia de criar nosso filho longe com todas as forças. Draco havia me amado com tudo de bom que havia em si. Eu não podia omitir tudo de bom que ele havia feito e quando a carta de Kingsley chegou na manhã seguinte, me intimando ao Ministério para uma conversa preliminar, eu já sabia que não esconderia nossa história de ninguém.


Draco’s POV

Julho de 98. Os dias haviam se passado e nós continuávamos em prisão domiciliar. Não podíamos utilizar magia para absolutamente nada, mas já havíamos nos acostumado. Eu acordei naquela manhã de quarta-feira sentindo o ar quente de verão correr pelas janelas abertas. Minha mãe finalmente havia conseguido arrumar o quarto da tia Bella e encontramos as coisas mais perturbadoras possíveis. Tudo, é claro, foi confiscado pelo ministério e serviu como mais provas para a nossa condenação. Eu sabia que outros comensais também estavam tão ferrados quanto nós, mas sentia que para a gente iria ser pior. Nós éramos do círculo mais próximo de Voldemort e se antes isso era motivo de orgulho, agora era uma das nossas máculas. Meu pai estava lá quando Voldemort decidiu invadir a escola. Nós participamos de torturas, assassinatos e colaboramos com as ideias de superioridade. Durante o tempo de prisão domiciliar, eu pude pensar muito em tudo o que havia acontecido e podia dizer que estava arrependido. Meu pai, por sua vez, lamentava não pelas coisas que fizera, mas por ter sido pego.

A mesa de café estava posta e eu me sentei, servindo-me de café e ovos enquanto mamãe abria O Profeta Diário. Papai ainda não havia descido, então eu me sentia um pouco aliviado. Era muito difícil ver meu pai definhar do jeito que estava acontecendo, sendo consumido pelos seus planos mirabolantes e pela ansiedade. Ele parecia um lunático, preso por horas em seu escritório, enviando cartas e cartas, buscando desesperadamente um apoio, algo que pudesse nos ajudar. Contudo, naquela manhã, tudo parecia calmo em mais um dia preso naquela casa. Mamãe lia o jornal e soltou:

— Eles estão terminando de reconstruir Hogwarts.
— Isso é muito bom — eu respondi sem muito ânimo. — Eles querem reabrir para setembro, não é?
— Sim, o Profeta diz que está sendo um esforço em conjunto de professores, alunos e a comunidade bruxa — mamãe explicou. — Hogwarts ainda não enviou nada para você.
— E por que enviaria? — eu perguntei meio cético. — Duvido muito que eles me ofereçam uma vaga para terminar meus estudos.
— Ora, Draco, você tem que parar de ser tão pessimista — ela me repreendeu. — Precisamos ter esperança de que tudo vai ficar bem.
— Desculpe — eu respondi e voltei a ficar em silêncio. Nesse momento, meu pai entrou pela porta com os cabelos presos. — Bom dia, pai.
— Bom dia, Draco — ele respondeu e se sentou. — Quais os planos para hoje?
— Voltar a dormir assim que o café acabar — eu respondi e dei um sorriso de escárnio.
— Draco, você podia estar estudando — ele disse, começando a rodada de críticas daquela manhã. — Temos muitos livros em nossa biblioteca, você podia estar aprendendo alguma coisa nesse meio tempo. A história da família, alguma magia antiga, nós temos de tudo aqui.
— Lúcio — minha mãe cortou o assunto, levantando o olhar e nele eu vi desespero. — A Suprema Corte dos Bruxos foi escolhida.
— O quê? — Papai arregalou os olhos e se inclinou para o jornal. — Leia alto, Narcisa, por favor.

“Depois de dois meses desde a Batalha de Hogwarts, a Suprema Corte dos Bruxos finalmente foi escolhida. Os julgamentos daqueles que participaram do regime ditatorial anterior finalmente acontecerão. Sob ordens de Kingsley Shacklebolt, novo Ministro da Magia, o Ministério tem se estruturado para voltar à normalidade, mas já notamos uma direção mais humanitária e um caminho mais progressista. A primeira grande mudança que vemos nesse governo é que os dementadores foram banidos de Azkaban. Após as criaturas terem apoiado abertamente Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado, o Ministério optou por não buscar uma conciliação com os antigos guardas. Desde maio, os presos de Azkaban são guardados por aurores.
Os julgamentos estão previstos para iniciar em setembro e o Profeta Diário fará uma cobertura exclusiva. Entre os réus, destacam-se algumas famílias bruxas mais importantes da nossa comunidade. Malfoy, Lestrange, Parkinson, Crabbe, Goyle…”


— Ainda é muito cedo para isso, não temos nossa defesa totalmente estruturada — meu pai soltou, com os olhos arregalados. — Nosso plano não está pronto, não está.
— O que vamos fazer, Lúcio? — minha mãe perguntou e eu notei o puro desespero em seu rosto. — Setembro é em dois meses!
— EU SEI, NARCISA, EU SEI! — ele gritou em resposta. — Eu preciso de mais tempo, preciso…
— Talvez aceitar que estamos na merda? — eu não aguentei e soltei. Meus pais me olharam surpresos. — Nós fizemos merda, escolhemos o lado errado nessa guerra. Talvez seja o momento de aceitarmos as consequências dos nossos atos e…
— E o quê? — meu pai me perguntou e ficou em pé. Pela sua linguagem corporal, eu sei que eu o havia irritado. — Ir para a cadeia? Deixar o nome da nossa família na lama? Perder nossos bens, propriedades? Você perder toda a sua juventude na prisão? Aceitar nossa ruína? É isso que você acha correto fazer?
— Não, pai, mas…
— ENTÃO NÃO FALE SOBRE CONSEQUÊNCIAS, DRACO! — ele gritou. — EU NÃO VOU VOLTAR PARA AZKABAN, OUVIU? EU NÃO VOU!
— Lúcio, por favor! — minha mãe gritou enquanto chorava, mas meu pai não ouviu.
— VOCÊ DEVERIA ESTAR ME AJUDANDO A RESOLVER ESTE PROBLEMA, DRACO! VOCÊ DEVERIA ESTAR TÃO DESESPERADO QUANTO EU PORQUE O FUTURO DESTA FAMÍLIA DEPENDE DE VOCÊ!
— O futuro depende de mim? — eu retruquei e também me levantei. — Que futuro sendo que foi VOCÊ que arruinou tudo? VOCÊ colocou a gente para seguir Voldemort! Eu entrei nessa merda porque VOCÊ falhou!
— Ora, garoto, não seja mentiroso — ele disse. — Você sempre quis ser um comensal!
— EU ERA UM IDIOTA, UM INGÊNUO — respondi. — Um moleque que seguia o pai para todo o lugar sem realmente entender o que estava acontecendo! Eu me espelhava em você e confiei que era o melhor.
— E ERA O MELHOR!
— CLARAMENTE NÃO ERA! — eu gritei. — Me explica, por favor, onde que torturar pessoas, acreditar em supremacia dos bruxos e ser cúmplice de assassinato era o melhor para nossa família? Nessa altura, pai, você precisa reconhecer que nós éramos os errados na história! E, além disso, você realmente acreditou que o Lord me quis comensal porque via potencial em mim? Ele queria que eu falhasse em matar o Dumbledore, queria que eu morresse tentando! ERA PRA PUNIR VOCÊ!
— Vá para o teu quarto agora e só saia de lá quando eu mandar! — ele gritou comigo e eu dei uma risada de escárnio, saindo da sala sem olhar para trás. Eu só consegui escutar minha mãe chorando arrasada.

Meu pai nunca iria admitir que havia errado, que tinha um coração tão ruim quanto todos os outros comensais, ou admitir que o Lord o havia enganado. Era um golpe muito grande em seu orgulho admitir todas essas coisas. Eu fui para o meu quarto e bati a porta com raiva, sentindo lágrimas subirem para os meus olhos e minha garganta queimar. Eu queria sair dali, correr, aparatar para um lugar longe, mas não podia. Estava preso dentro daquelas paredes. O choro veio como um trem descarrilhado e eu me vi sentado no chão esperando minha crise passar. Depois de longos minutos, eu consegui me acalmar, mas ainda sentia raiva e medo dentro de mim. Meu pensamento foi direto para e eu me percebi desejando que ela estivesse comigo, segurando minha mão e me ajudando a ficar calmo. Era egoísmo, eu sabia, mas queria sua presença. A vontade de escrever uma carta para ela apareceu, mas eu travei no mesmo momento. O que eu falaria? Será que faria bem a ela ou seria mais um episódio em que ela estaria bem e eu me manifestaria somente para acabar com tudo? Eu não podia arrastá-la para os meus problemas novamente. Para não pensar mais, acabei decidindo tentar dormir para não ter que lidar mais com isso. Acordei horas depois com minha mãe me chamando para almoçar.

— Draco, teu pai quer conversar com você no escritório — ela disse e eu bufei irritado enquanto levantava e arrumava minha roupa para poder descer.
— Eu não vou falar com ele — respondi.
— Não foi um pedido.

Eu a encarei e notei que — como sempre — ela apoiava meu pai em cada passo de seus planos, então aceitei resignado que não teria apoio nenhum nessa briga contra ele. Desci as escadas e rumei para o escritório, tentando imaginar qual seria o conteúdo da conversa. Contudo, meu pai me pedir desculpas definitivamente não iria acontecer. Dei algumas batidinhas e ele me mandou entrar. Quando abri a porta, notei meu pai sentado em sua mesa, com uma série de pergaminhos abertos. A lata de lixo estava lotada com papéis amassados e havia uma pilha de cartas do outro lado da mesa. Uma xícara de café estava lá também.

— Sente-se — papai mandou e eu obedeci, tentando deduzir o que iria acontecer. Ele terminou de escrever e levantou a cabeça, olhando-me seriamente. — A partir de agora, você vai ser mais participativo com esse assunto do julgamento.
— Pai…
— Calado! — ele mandou e eu, de novo, obedeci. — Você vai me ajudar a pensar na nossa defesa, vai me ajudar a impedir nossa desgraça. Não quero mais você ocioso nessa casa, pensando besteiras enquanto eu me mato para salvar nossa pele. Eu quero que você mande uma carta para aquela sua namoradinha da escola e a mande vir aqui.
— O quê? — eu perguntei perplexo. — Você não está falando da , está?
— Isso, essa mesma — ele respondeu como se não fosse nada. — Ela pode nos ajudar. Escreva uma carta cheia de sentimentalismo e traga ela aqui. Precisamos que ela fale em nosso favor.
— Eu não vou fazer isso — eu retruquei chocado. — Não vou trazer para esse buraco, não vou fazer isso.
— Sim, você vai — ele disse autoritário. — Ela pode ser uma peça fundamental para impedir que principalmente você vá para Azkaban, então você vai mandar uma carta. Seja doce, faça juras de amor, não me interessa. Contudo, ela precisa vir aqui para conversarmos.
— Pai, por favor — eu comecei a pedir. — Não me faça fazer isso, deixe de fora. Ela não merece estar nessa confusão, por favor. Eu ajudo com outras coisas, posso ficar o dia todo com você aqui, mas não me faça fazer isso.
— Draco, não me interessa — ele disse, de uma maneira incisiva. — Eu preciso que essa garota venha aqui. Prometa algo para ela, dinheiro, joia, algo que ela queira muito. Escreva a carta e me dê para que eu leia. Quero uma coruja saindo para a casa dela ainda hoje.
— Ela não vai vir — eu respondi e ele riu.
— Ela vai — ele disse, voltando a escrever. — Saia.

Eu saí daquela sala frustrado e foi muito difícil não bater a porta. Eu queria gritar, queria lutar, mas obedeci. Obedeci porque era isso que eu fazia, era isso que eu fui ensinado a fazer. Eu fechei os olhos por um segundo e caminhei até o jardim em busca de ar. O auror que estava lá me olhou assustado e apontou a varinha para dentro. Eu havia me esquecido completamente de que eles estavam ao redor. Suspirei e voltei para o interior da mansão, indo para a biblioteca e me jogando no sofá que havia lá. O choro veio novamente, mas eu segurei, tentando pensar em algo que me tirasse daquela situação. Ouvi passos e mamãe chamou meu nome.

— O que você quer? — eu perguntei, sem olhá-la.
— Ora, Draco, não seja infantil — ela retrucou. — Só vim te chamar para almoçar.
— Eu não quero comer — disse.
— Não pularemos nenhuma refeição — mamãe disse. — Esteja na sala de jantar em cinco minutos.
— Vocês dois se merecem mesmo — eu soltei, mas me arrependi no mesmo segundo. — Droga, não deveria ter falado isso.
— Você pode ficar bravo comigo o quanto quiser, filho — ela respondeu. — Mas eu não vou me opor a nenhum plano para salvar você, nem mesmo um que envolva usar .
— Pelo amor de Deus, mãe, você está se ouvindo? — eu respondi e me levantei, encarando seus olhos que, para a minha revolta, estavam calmos. — Vocês querem usar a ? Uma pessoa que não tem nada a ver?
— Você é nosso filho, Draco, não ela — mamãe respondeu. — Faremos de tudo para te livrar da prisão. Quer você gostando ou não, família é prioridade.
— Vocês tinham que ter pensado nisso antes! — eu argumentei. — E não, família não é prioridade quando age errado, quando passa por cima dos outros, quando sacrifica os outros!
— Draco, não seja burro — minha mãe disse. — No final do dia, não importam nossas histórias individuais, mas sim o nome Malfoy. Gerações de Malfoy viveram e morreram, mas o sobrenome, esse sim permaneceu. É isso que você tem que pensar.
— Eu estou cansado dessa visão deturpada e problemática que vocês possuem sobre família — eu confessei e nem percebi quando comecei a chorar. — Estamos nessa situação por conta dessa visão e vocês não cogitam nenhum pouco mudar a estratégia de vocês.
— Você continua sendo um garoto, Draco — minha mãe respondeu. — Eu não quero mais ouvir uma reclamação sobre este assunto. Escreva logo a carta para a antes que fique tarde para a coruja sair. E venha almoçar!

Mamãe saiu da biblioteca e eu queria gritar de raiva, mas me contive. Precisei respirar fundo algumas vezes para não explodir de novo. Era aquilo. Enquanto eu vivesse ali e estivesse enterrado com merda até o pescoço, eu seguiria as ordens dos meus pais. Convoquei um elfo doméstico e pedi para que a minha refeição fosse servida na biblioteca e me preparei para escrever a carta para , torcendo internamente para que ela não viesse. Quando entreguei a carta ao meu pai, ele leu e, com um sorriso de escárnio, disse:

— Eu quase posso acreditar que você amou verdadeiramente esta garota, quase me fez chorar.


’s POV

Já era a quarta ou quinta vez que eu visitava o Ministério da Magia, mas eu nunca me acostumava. Meus pais estavam me acompanhando, pois em cada visita eu me sentia totalmente sem forças depois. Kingsley havia me convocado para ser uma testemunha de acusação no julgamento dos comensais já capturados e naquele momento eu estava sendo conduzida por várias entrevistas para que eles pudessem entender tudo o que havia acontecido dentro do castelo e durante a batalha em Hogwarts. O elevador me levou até o nível dois do ministério e eu já segui pelos corredores, pronta para encontrar uma das bruxas do Departamento da Execução das Leis da Magia, Anna Jones. Ela era uma bruxa alta, seus cabelos cacheados estavam sempre cobertos por turbantes coloridos e ela tinha um sorriso acolhedor. Era ela — e seu gravador mágico — que tomava todo o meu depoimento que já ultrapassava horas e horas. Assim que chegamos em frente ao escritório da senhorita Jones, meus pais se sentaram do lado de fora para esperar e eu entrei.

— Bom dia, senhorita Jones — eu disse, dando um sorriso. — Como você está?
— Bom dia, senhorita — ela respondeu e apertou minha mão. — Esperançosa de que hoje seja o último dia e eu possa finalmente liberar você.
— Também espero por isso — eu disse e dei um sorriso. — Você acha que com a gravação, eu posso ficar isenta de aparecer no tribunal?
— Infelizmente, não, — ela disse, com um sorriso triste. — Eles podem questionar a veracidade das fitas, podem nos acusar de ter usado a Imperius em você.
— Tudo bem — eu menti. — Não custava tentar, não é?
— Nós estamos acabando, querida — ela respondeu, me dando um pequeno sorriso acolhedor. — Hoje falaremos sobre a guerra bruxa.
— Certo, por onde eu começo? — eu perguntei.

Depois de quase duas horas e um chá depois, eu me sentia exausta. Eu estava perto de terminar meu relato, mas já me sentia completamente drenada. Falar sobre tudo o que eu havia vivido era como voltar no tempo e reviver cada segundo. Se eu me esforçasse, eu conseguia sentir o chão de Hogwarts tremer debaixo dos meus pés e conseguia escutar os feitiços rasgando o ar. Ana deu um suspiro e perguntou:

— Você se lembra dos comensais que tentaram te assaltar sexualmente?
— Eu sei onde eu os deixei — respondi. — Para me defender, eu ataquei alguns Visgos do Diabo e eles foram capturados pela planta. Eu não sei se eles sobreviveram, eu só corri.
— Nós encontramos dois comensais nas estufas, — ela disse. — Eles estão vivos e vão ser julgados pelos crimes que cometeram.
— Por favor, eu cedo uma memória minha sobre este dia, mas não me obriguem a participar do julgamento deles — eu disse e, quando percebi, o choro de pânico estava em minha garganta. — Eu permito até a Veritaserum, mas eu não quero estar lá! Por favor, senhora Jones, por favor!
— Eu vou fazer o possível para que você não precise ir — ela me tranquilizou e segurou em minha mão. — Eu entendo o teu desespero, mas você sobreviveu. Você está aqui.
— Podemos dar uma pausa? — eu pedi, com a voz embargada.
— Claro, querida.

A gravação parou e eu saí daquela sala minúscula, tentando buscar algum ar, mas sem conseguir respirar naquele subsolo. Minha visão embaçou e eu corri para o banheiro do corredor, escutando pessoas chamarem meu nome. Eu não conseguia respirar, meu estômago doía e eu sentia que iria vomitar a qualquer momento. Uma crise de pânico se instalou em meu peito e assim que eu entrei no banheiro, Aleto estava parada com um sorriso macabro em frente à pia. Eu gritei de desespero e me encolhi, caindo no chão. O ar não vinha, as lágrimas me cegaram e eu senti que iria morrer.

? Filha, por favor, respira fundo!
— Ela tá aqui, Aleto está aqui — eu disse, de olhos fechados, enquanto meu corpo inteiro tremia.
— Filha, ela não está — meu pai disse e apertou minha mão. — Confia em mim, ela não está aqui. Só temos nós dois aqui, confia em mim.

Eu não sei quanto tempo eu fiquei ali, deitada no chão gelado do banheiro em posição fetal, esperando que o pânico fosse embora. Minhas batidas do coração foram se regulando e eu consegui abrir os olhos. Meu pai estava sentado ao meu lado e tinha lágrimas molhando seu rosto. Escutei passos e a senhora Jones entrou no banheiro. Ela parecia assustada.

— Eu sei que é importante, mas não faça mais isso com ela, por favor.

Papai conseguiu me trazer de volta para a casa e, ao conversar com Kingsley, eu pude dar uma pausa no meu depoimento, pois não estava mais aguentando reviver tudo o que havia acontecido. Acabei dormindo todo o resto do dia e não notei o pergaminho em cima da minha mesa. Quando acordei no dia seguinte e fui para a sala tomar café da manhã, Prince me avisou que uma coruja havia chegado para mim no dia anterior. Decidi que daria atenção àquilo em outro momento. Minha mãe apareceu logo depois e deu um suspiro antes de dizer:

— Filha, eu e papai estávamos conversando e achamos melhor você conversar com alguém do St. Mungus.
— Achamos que talvez você precise de algum curandeiro para te ajudar — papai completou e eu assenti.
— Eu concordo com vocês — respondi. — Acho que preciso de ajuda. Eu não estou bem.
— Nós pensamos em interceder para que eles utilizem uma penseira, talvez te ajude — minha mãe disse, com uma ponta de esperança em sua voz. — Você acha que te ajudaria, querida?
— Eu não sei, mamãe — respondi e de repente eu me senti cansada novamente. — Podemos conversar sobre isso em outro momento?
— Claro, com certeza.

O assunto foi finalizado e eu pude me alimentar em silêncio, aproveitando o resto do meu chá. Por mais que a guerra tivesse acabado e eu já estivesse longe de Hogwarts, eu ainda me sentia ansiosa como se estivesse escondida na Sala Precisa. Não parecia que tinha terminado e eu continuava em alerta, esperando pelo pior. Meu peito continuava sem ar e parecia ter diminuído, impedindo meu coração de bater direito. Voltei para o meu quarto e quando estava prestes a me deitar para dormir de novo, eu me lembrei do pergaminho. Assim que eu segurei o papel fino em minha mão, eu notei o brasão dos Malfoy no selo. Meu corpo voltou a tremer e eu me vi travada, sem saber se deveria abrir ou não. A curiosidade venceu e eu rompi o selo, já sentindo um suspiro escapar de meus lábios quando eu comecei a leitura.

,
Preciso ser sincero com você. Ser honesto como raras vezes eu fui em nossa história. Eu demorei muito para escrever esta carta, minha moral e meu coração brigaram feio porque eu sei que o que estou fazendo não é correto, eu deveria te deixar em paz de vez. Contudo, eu já prometi tanto isso e descumpri tantas vezes que não me importei de quebrar mais uma.
Como você está? Desde que a prisão domiciliar começou, eu só penso nisso. Só consegui pensar em como você está lidando com as consequências de tudo, sei que não deve estar sendo fácil para você.
Eu estou bem, se é que dá para dizer isso. Estamos presos em casa e minha mãe tem se esforçado para que esta mansão volte a ser um lar, mas os aurores estão rondando a propriedade e não podemos sair.
O julgamento está chegando e o nervosismo tem aumentado. Como eu não sei o que vai acontecer, eu gostaria de te pedir uma última coisa. Saber que talvez eu fique o resto da vida sem ver teu rosto tem me feito surtar.
Então venha aqui me ver. Uma última vez antes de Azkaban, antes do julgamento, antes de eu sofrer as consequências da minha escolha. Eu sei que eu não deveria te pedir isso, mas provavelmente eu serei preso, então não me custa tentar.
Eu não deixei de te amar por nenhum segundo e sou imensamente grato pelo tempo que tivemos. Confesso que às vezes, quando o desespero bate, eu quase desejo as coisas ruins de volta para que as boas venham junto.
Venha antes do julgamento, estarei te esperando.
Com amor (e esperança),
Draco.


Meus olhos se encheram de lágrimas e a realidade me atingiu em cheio como um trem desgovernado. Draco poderia ser preso. Eu não tinha noção de quanto tempo ele iria ficar em Azkaban caso fosse condenado (como de fato ele seria). E se eu nunca mais o visse? O que iria acontecer? Se eu fosse encontrar Draco, todo o meu depoimento seria considerado mentiroso? Eu não sabia muito o que fazer, então fiz a única coisa que eu estava fazendo naqueles tempos: chorar.

Uma semana depois da carta de Malfoy e eu estava parada pela primeira vez encarando a mansão que havia se manifestado em meus sonhos tantas e tantas vezes. Eu havia feito um feitiço de confusão desde o momento em que havia aparatado em uma das ruelas ao redor do casarão e agora encarava os portões de metal escuro e os grandiosos muros de sebe que circulavam a propriedade. A fachada escura com a tinta já manchada pelas chuvas contrastava com o céu azul daquele verão. Eu sentia o suor descer pelas minhas costas na camiseta cinza que eu usava e meus pés esquentarem dentro dos coturnos, mas eu me sentia pronta para qualquer coisa. Tirei o pergaminho de visita da minha bolsa — havia conversado com Ana e Kingsley para ver se eu podia visitar Draco e eles autorizaram, alegando que minha visita poderia contribuir para mais detalhes sobre o meu depoimento, afinal, eu fiquei quase um mês desacordada. Eu suspirei e retirei o feitiço da confusão, escutando uma sirene alta soar. No mesmo segundo, quatro aurores aparataram em minha frente e eu levantei as mãos, mostrando que não era perigosa.

— O que faz aqui? Quem é você? — um deles perguntou.
— Meu nome é , vim fazer uma visita aos acusados, permitida pelo Ministério — respondi. — Aqui, o pergaminho com a autorização.

O que parecia o líder deles leu o pergaminho e passou para os outros. Todos eles me olhavam com certa curiosidade, talvez tentando entender o que uma adolescente fazia naquele lugar ou o que ela queria com aquela família tão maldita.

— Ficaremos com a tua varinha — o líder respondeu e eu assenti, entregando minha varinha para ele. — Você não vai conseguir aparatar, ouviu?
— Sim, senhor — eu respondi e finalmente eles me deixaram passar. Eu suspirei e voltei a andar, finalmente caminhando em direção à porta da mansão.

Quando eu estava chegando perto, a porta se abriu e Draco apareceu. Fazia muito tempo que eu não o via e foi difícil frear meu coração em acelerar. Ele usava roupas simples que eu nunca tinha visto o garoto usando: uma calça jeans, camiseta e um tênis. Os cabelos louros de Draco estavam maiores, quase chegando no final do pescoço. Malfoy nem esperou eu chegar perto da escadaria, mas gritou meu nome e desceu correndo, me abraçando apertado sem se importar com os aurores que voltavam às suas posições. Seus braços envolveram minha cintura e eu senti seu cheiro depois de muito tempo e ainda continuava o mesmo. Passei meus braços pela sua nuca e suspirei, sentindo todo o seu corpo colado ao meu, seu coração batendo acelerado perto do meu peito e sua respiração que estava ofegante. Era Draco quem estava ali. Ele se separou de mim por um segundo para olhar meu rosto e eu notei felicidade genuína em seu olhar. Draco sorriu e beijou minha bochecha com carinho, voltando a me abraçar por mais alguns segundos. Eu estranhei aquele contato caloroso, afinal, estávamos em sua casa, mas Draco parecia não se importar.

— Vem, vamos entrar, está muito quente aqui — ele disse e pegou em minha mão, arrastando-me para dentro.

No segundo que eu passei pelas portas da mansão, eu me senti minúscula. O pé-direito era imenso, devia ter quase uns cinco metros ali e as paredes eram todas escuras. Diversos quadros de diferentes Malfoys estavam me olhando enquanto eu esquadrinhava aquela mansão com o olhar. Aquele lugar era enorme e parecia ter sido feito para que você se sentisse pequeno. O corredor da entrada possuía várias portas diversas e eu nem conseguia imaginar onde cada uma delas iria dar. Analisando o tamanho daquela casa, eu só conseguia pensar que devia ter sido solitário e frio crescer num lugar daquele tamanho. As janelas estavam abertas e o chão de pedra gelado dava à casa uma atmosfera fresca.

— Você quer tomar alguma coisa? Um suco? Um chá gelado? Água? — Draco perguntou, enquanto tirava minha bolsa do meu ombro e pendurava em um dos ganchos da entrada. Eu ainda me sentia meio anestesiada pela presença do garoto que parecia uma borboleta ao meu redor, indo de um lado para o outro.
— Eu estou bem, Draco — respondi e me deixei guiar em direção às escadas. Draco parecia um garotinho feliz com a primeira visita à sua casa depois das férias. Não havia sinal nenhum de seus pais no trajeto que fizemos. Quando chegamos ao primeiro andar, Malfoy abriu uma porta logo perto da escada e eu suspirei, reconhecendo o papel de parede de dragão e a cama com o dossel de madeira escura. Era o mesmo quarto que aparecia na Sala Precisa, mas daquela vez era o original. Tanto as cortinas quanto a roupa de cama e até mesmo o estofado das poltronas e cadeira eram em verde escuro, a cor da Sonserina. Draco parou no meio do quarto e me olhou com ternura, contudo suas palavras me chocaram:

— Eu estava contando com que você não viesse.
— O quê? Como assim? — eu perguntei confusa e ele se aproximou, sussurrando:
, eu fui obrigado pelo meu pai, ele quer conversar com você depois — ele explicou e eu me surpreendi.
— Não foi você que escreveu a carta? — eu perguntei um pouco atônita e comecei a me sentir enganada.
— Foi, mas meu pai mandou — ele explicou e eu notei decepção em seu rosto. — Eu sinto muito, .
— Você tem dez segundos para explicar direito antes que eu vá embora — eu declarei e o olhei com seriedade.
— Meu pai quer te convencer a depor a favor de mim no julgamento — Draco explicou. — Mas eu não quero isso, não quero você envolvida em nada.

Eu não consegui responder nada e de repente senti até fraqueza em minhas pernas. Caminhei até uma poltrona que estava perto da porta e me sentei, tentando assimilar a situação em que eu havia me metido. Decepção e raiva brotaram em meu peito e eu encarei Draco.

— Eu me arrisquei vindo aqui, tive que praticamente implorar para Kingsley e os outros — comecei a dizer. — Porque pensei que você… Que você não estava bem e era tudo um plano do teu pai para que eu fosse mais uma peça de vocês? Então tudo aquilo na carta era mentira?
— Não, por favor, claro que não! — Draco disse e veio até mim, ajoelhando em minha frente e tentando segurar em minha mão. — Desde a batalha de Hogwarts, eu só consigo pensar em você. Durmo e acordo pensando se você está bem, fico com medo de que nunca mais eu vou te ver… Eu falei a verdade, por favor, acredita em mim.
— Mas o motivo verdadeiro pelo qual você me chamou aqui — eu disse e senti meus olhos arderem. — É que teu pai quer me usar para tirar você da cadeia.
— Eu sinto muito, eu me sinto um merda por não ter conseguido falar não — Draco revelou e se sentou em minha frente.
— Você é um merda, Draco — eu afirmei. — Você nunca esteve tão certo.
— Eu… Eu sinto muito — Draco repetiu e eu notei que o garoto olhava para o chão, sem coragem para me encarar. — Eu não concordo com isso, não quero você me ajudando, então, por favor, recuse. Meu pai não pode te forçar a depor.
— Eu sei disso, Draco! — eu respondi e o conflito dentro de mim já estava instaurado. — Mas você acha que é fácil assim?
— O quê? — ele perguntou confuso e me olhou com o olhar mais dolorido.
— Você acha que eu não já me perguntei isso? Se eu deveria te ajudar? — eu revelei. — Eu só consigo pensar nisso! Você me ajudou, me fez sobreviver a toda aquela merda! Você acha que eu não pensei em ser uma testemunha de defesa para você? Só que, se eu fizer isso, todos os meus testemunhos de acusação para os outros comensais podem ser anulados!
— Então não me defenda — Draco disse e eu fui mais uma vez surpreendida. — Não faça isso. Eu não mereço nada de bom de ninguém, não mereço misericórdia. Eu sei tudo o que eu fiz de errado, o que a minha família fez de errado e estou disposto a pagar por tudo.
— Então o que eu estou fazendo aqui? — eu perguntei.
— Meu pai não concorda comigo — ele explicou. — Ele está desesperado, não quer voltar para Azkaban de jeito nenhum. Pela primeira vez, eu acho que os Malfoy não vão se safar de um crime.
— Você acha isso mesmo? — eu perguntei. — E você tem noção do que pode te acontecer?
— Sim.
— E está em paz com isso?
— Pela primeira vez desde que toda essa merda começou — Draco confessou e suspirou, deitando no chão e fechando os olhos. — , eu sou um navio afundando enquanto pega fogo, não tenho salvação, não quero ver você tentar recuperar meus escombros.

Nós ficamos em silêncio e notei Draco de olhos fechados. Observei seu quarto e me lembrei de todas as vezes que eu desejei estar ali com ele curtindo os feriados e férias, vivendo um namoro adolescente e tranquilo. Nunca conseguimos. Uma vontade de chorar absurda se apossou de mim e eu tentei segurar, mas o nó já estava formado em minha garganta. Novamente, eu me debati com o dilema do que eu deveria fazer e do que eu queria fazer. Eu conhecia Draco e seu coração, eu sabia que há muito tempo ele não queria mais ser comensal e se odiou por tudo o que fizera. Ele havia se arriscado para me salvar, havia ficado comigo até o final da guerra bruxa e quando eu fiquei em coma, ele me protegeu. Havia feito tudo aquilo por mim. Contudo, ainda assim, Draco havia feito coisas ruins e precisava quitar seu débito com a sociedade.
?
— Hum?
— Eu sei que eu disse que queria que você não tivesse vindo — ele começou e se sentou para me olhar. — Mas estou feliz de te ver possivelmente uma última vez.
— Eu também estou, Draco — respondi e dei um sorriso, estendendo a mão para que ele pudesse segurar. — Também me perguntei muito como você estava, se estava bem.
— Bom, tirando toda a situação com a magia, eu estou bem — ele respondeu. — Estou lendo mais livros agora do que durante a minha vida inteira. E você?
— Eu não estou bem. — Fui sincera e ele ficou preocupado. — Meus pais vão me levar para o St. Mungus na próxima semana. Tive uma crise de pânico no Ministério que os assustou.
— Você ainda vê os Carrow? — ele perguntou sério e eu assenti. — Eu sinto muito.
— Eu continuo tendo pesadelos, vendo os Carrow de relance em lugares — respondi. — E tenho crises de ansiedade constantes, ainda mais agora que todo o meu testemunho tem sido coletado pela Suprema Corte dos Bruxos. A bruxa que tem me entrevistado é muito gentil, mas isso tem me sugado todas as forças. Eu não aguento mais reviver esse assunto e não estou nem perto de terminar.
— Podemos não falar disso, se você quiser — ele sugeriu e sorriu. — Quer jogar xadrez de bruxo?

Eu não pude responder, já que a porta se abriu e Lúcio Malfoy entrou sem pedir permissão. Mesmo preso e em decadência, sua arrogância não ia embora e, antes de sequer me cumprimentar, o bruxo me olhou de cima a baixo, torcendo o nariz para as minhas roupas. Narcisa entrou logo depois e também me mediu, mas teve a decência de suprimir a careta de desaprovação. Draco se levantou do chão e automaticamente eu notei nervosismo em sua linguagem corporal.

— Senhorita — Lúcio disse, com uma falsa cortesia na voz, estendendo a mão para me cumprimentar. — Que bom que veio!
— Oi, senhor Malfoy — eu respondi e apertei sua mão. — Sim, Draco me chamou e eu vim.
— Ora, ele não parou de falar de você um segundo — ele disse, dando um breve sorriso. — Eu disse a ele para te chamar para uma visita com a certeza de que faria bem a vocês dois.
— Ah, sim — eu respondi e olhei Draco, que mantinha uma expressão séria. Lúcio não sabia que eu já tinha conhecimento de seu plano e, pelo olhar de Draco, eu não podia falar nada. — É bom rever os amigos nas férias.
— Você irá voltar para Hogwarts em setembro? — Narcisa perguntou e ela parecia, de fato, interessada.
— Ainda não sei — respondi, com franqueza. — Não me sinto pronta ainda e não sei muito o que o futuro me reserva.
— Ah, sim, você é nova — ela disse e deu um micro sorriso. — É bom manter as opções abertas.
— Bom, está um dia quente. Viemos chamar vocês para nos refrescarmos no nosso solarium, o que acha? — o pai de Draco me convidou e foi difícil não esconder minha expressão de surpresa.
precisa ir embora, pai — Draco disse rápido demais e veio para perto de mim. — Ela tem compromisso.
— Ora, garanto que um copo de chá gelado ela consegue tomar antes de ir — Lúcio argumentou e encerrou o assunto. — Esperamos vocês dois lá embaixo.

O casal saiu do quarto e Draco suspirou frustrado. Eu ainda estava surpresa por toda a falsa cordialidade, mas encarei Malfoy e disse:

— Bom, vamos lá.
, você não precisa — Draco tentou.
— Draco, eu não sei se eu tenho a possibilidade de recusar.

Nós descemos as escadas e Draco me guiou pelas portas e corredores até chegarmos a um poderoso solarium na lateral da casa. Havia muitas plantas diferentes — mágicas e não mágicas — e uma poderosa mesa estava montada bem no meio. Draco puxou uma cadeira para mim e eu me sentei, já sentindo a infernal ansiedade chegar e colocar as mãos em meus ombros. Narcisa serviu o chá gelado e uma torre de sobremesas estava na mesa, repleta de biscoitos coloridos. Tudo parecia impecavelmente limpo e eu entendi que eles ainda tinham os elfos domésticos.

— Draco, esse lugar é lindo — eu comentei e beberiquei meu chá, sentindo o frescor e o gosto de limão. — E o chá está muito bom.
— Obrigada, — Narcisa agradeceu, como se tivesse sido ela quem tivesse feito a bebida.
— Como você está, ? — Lúcio perguntou e o desconforto aumentou ainda mais. — Como tem passado estes dias?
— Muito bem — eu menti. — Curtindo bastante meus pais e meus amigos que eu não via há muito tempo.
— Ah, sim, é bom se cercar da família — ele respondeu, com um sorriso falso. — Tenho certeza de que, assim como eu, você valoriza a família.
— Sim, ela valoriza — Draco respondeu por mim. — Por isso ela precisa voltar para a casa dela o mais rápido possível.
— Ora, Draco, nos deixe conversar com ela — Narcisa repreendeu o filho e deu um sorriso. — Nunca tivemos a oportunidade de conhecer direito e vocês namoraram sério por quanto tempo? Seis meses?
— Mais de um ano, senhora Malfoy — eu a corrigi de maneira séria e ela engoliu em seco. De repente, toda aquela cena fajuta me incomodou e eu tomei um grande gole de chá antes de dizer. — Parem com isso. Chega desse teatrinho de sogros preocupados e atenciosos. Vocês nunca foram isso e não vão ser agora.
— Draco tentou me chamar, mas eu o cortei.
— Eu sei o que vocês querem — eu disse. — Querem que eu ajude vocês de alguma maneira, não me tratariam bem se não precisassem de mim. Eu sei quem vocês são. Eu não vou ajudar ninguém em nada. Vocês três precisam sofrer as consequências das escolhas que fizeram quando apoiaram Voldemort.
— Não fale o nome do mestre assim! — Lúcio me repreendeu e eu me levantei daquela mesa
— Eu falo como eu quiser! — eu disse. — Sabe por quê? Porque aquele crápula está morto! Harry acabou com ele e com toda a corja de vocês! Vocês não podem viver se achando OS INJUSTIÇADOS! Vocês mataram e torturaram pessoas! Foram coniventes com toda a situação! Acordem!
— Saia já da minha casa, traidora do sangue — Lúcio disse e eu dei risada antes de pegar o copo de chá, dar mais um gole e levantar como se estivesse fazendo um brinde.
— Eu espero que você apodreça em Azkaban, Lúcio — eu respondi e joguei o copo no chão antes de marchar para o lado de fora.

Eu saí andando de maneira desgovernada e escutei passos atrás de mim. Era Draco quem chamava meu nome e pedia para eu me acalmar. O garoto finalmente me alcançou e segurou meu braço, me obrigando a parar.

— O que você quer? — eu perguntei, de maneira ríspida, encarando o garoto.
— Por favor, se acalme — ele pediu e segurou minha mão. — Eu sinto muito por tudo isso, .
— EU NÃO AGUENTO MAIS VOCÊ FALANDO ISSO, POR MERLIM! — eu gritei e me soltei de sua mão. — Foi um erro eu ter vindo aqui.
— Eu sei, eu sei — ele disse um tanto desesperado. — Vou te levar até a saída, você não conhece a mansão.

n/a: Coloque essa música para tocar.


I was wrong to say I loved her (Eu estava errado em dizer que eu a amava)
I was wrong to think I'm right (Estava errado em pensar que estava certo
When I told her it was over (Quando eu disse para ela que acabou)
Well my darling I had lied (Bem minha querida, eu tinha mentido)


Nós seguimos em silêncio até a saída e finalmente eu avistei o hall de entrada, sentindo alívio por finalmente estar partindo. Eu estava completamente arrependida da minha decisão e só conseguia pensar em voltar para a casa, para os meus pais e para o espaço seguro. Meus olhos arderam e eu comecei a chorar, me dando conta de que talvez meu último contato com Draco tinha virado aquele teatro do horror. Draco me puxou para um abraço e eu pude sentir seu coração batendo acelerado. Eu o abracei de volta e me permiti chorar. Quando levantei meu rosto, meus olhos vermelhos estavam espelhados no rosto do garoto. Malfoy limpou uma lágrima minha e beijou meus olhos com gentileza. Seu carinho se estendeu para a ponta do meu nariz e bochechas até que ele depositou um beijo singelo em meus lábios. Nós nos olhamos e Draco encarou meus lábios por um segundo antes de me beijar.

Durante a batalha de Hogwarts, eu tive a sensação de que nada estava seguro e eu não sabia se nós sairíamos vivos daquela situação. Contudo, lá estávamos nós, nos beijando no hall de entrada da mansão Malfoy. Eu estava tão envolvida com as consequências da guerra que não havia prestado atenção em como meus sentimentos por Draco continuavam os mesmos, porém em seus lábios eu me dei conta e me entreguei àquele momento como nunca antes. Eu segurei em sua nuca e correspondi seu beijo, sentindo as mãos de Draco segurando meu rosto enquanto me beijava com desejo e ao mesmo tempo delicadeza. Sua língua invadiu minha boca e eu permiti, sentindo meu corpo esquentar e um nó iniciar em meu ventre. Malfoy colou seu corpo ainda mais no meu e me guiou até uma parede, encostando minhas costas no mármore frio e atacando meu pescoço com beijos e lambidas. Eu tinha os olhos fechados e minhas mãos em suas costas, absorvendo seus toques. Draco voltou a me beijar e eu pressionei meu quadril no dele, roçando levemente, fazendo o ar sair de nossas gargantas. Antes que as coisas esquentassem ainda mais, eu finalizei nosso beijo e encostei nossas testas, entrelaçando nossos dedos.

— Eu precisava disso — Draco disse. — Precisava te beijar antes de qualquer coisa. Fazia tanto tempo.
— Eu também — respondi baixo.
— Eu sei — Draco disse e me encarou. Em seu olhar eu via tristeza. — Eu só queria te dizer que eu continuo amando você.
— Você está se despedindo de mim — eu disse e ele assentiu. — Mais uma despedida para o nosso número incontável.
— Sim — ele afirmou e segurou meu rosto. — Olha pra mim — eu obedeci. — Eu quero que você viva, entendeu? Eu não quero você presa no passado. Procure ajuda, viaje para longe, viva com os trouxas se precisar, mas eu quero você vivendo. Aproveite que Você-Sabe-Quem foi derrotado e vá viver. Você promete pra mim que vai fazer isso?
— Eu prometo — eu respondi.
— Eu acho que irei ser preso — ele disse. — E eu não quero te prejudicar com a minha desgraça. Você merece ter uma vida sem julgamento das pessoas.
— Eu não me importo com o que as pessoas vão falar de mim, Draco — eu argumentei, mas isso não pareceu surtir efeito na postura decidida dele.
— Não me espere, entendeu? — Draco pediu e eu notei seus olhos cheios de lágrimas. — Não venha atrás de mim.
— Para com isso!
, por favor, me escuta — ele pediu e começou a chorar. — Não me espere. Se apaixone, viva coisas diferentes, vire uma auror, uma curandeira, case, tenha filhos… não pare a vida para me esperar ou para ficar me acompanhando.
— Eu não sei o que falar — eu respondi e também chorava.
— Prometa — ele me pediu, quase como se fosse uma ordem. — Prometa.
— Está bem, está, eu prometo — eu respondi e ele parecia aliviado. — Eu…
— Eu sei, amor — Draco disse e se afastou. — Eu sei.

Quando eu cheguei em casa mais tarde naquele dia, meus pais perguntaram como havia sido e se eu estava bem. Eu não consegui responder, somente afirmei e fui para o meu quarto, tentando entender o que havia acontecido. Draco, o ser humano mais egoísta que eu havia acontecido, se mostrou altruísta e me fez prometer que eu seria livre. Naquela noite, eu chorei como nunca havia chorado. Coloquei todo o luto para fora e finalmente entendi que Draco havia sepultado de vez nossa história juntos e ele não estava errado. Os momentos bons jamais seriam roubados de nós, mas no futuro — para o meu bem — nada se repetiria. No dia seguinte, eu acordei e deixei todo o meu passado para trás. Eu iria viver e esquecer Draco. Meu futuro se abria para mim e depois de muito tempo era algo bom. E nada me tiraria isso, nem mesmo Draco.


But how am I supposed to love you (Mas como eu deveria amar você)
When I don't love who I am? (Quando eu não amo quem eu sou?)
And how can I give you all of me (Como posso te dar tudo de mim)
When I'm only half a man? (Quando eu sou apenas meio homem?)
'Cause I'm a sinking ship that's burning (Porque eu sou um navio naufragado que está queimando)
So, let go of my hand (Então, solte minha mão)
Oh, how can I give you all of me (E como posso lhe dar tudo de mim)
When I'm only half a man (Quando eu sou apenas meio homem?)


Metade da Eternidade

Dezembro de 2003, 05 anos após a Segunda Guerra Bruxa

Draco Malfoy encarava a grande lareira de sua sala enquanto finalizava seu drink. A neve caía do lado de fora sem dar uma trégua, mas ele estava aquecido, pois usava um sobretudo por cima de um terno de inverno naquela manhã de dezembro. O Natal se aproximava e a mansão Malfoy estava toda decorada para a festividade com uma árvore gigantesca na sala de estar, guirlandas e laços por todo o lugar, tendo até presentes. Uma pequena ceia seria feita naquele feriado para os três Malfoys restantes, pois, apesar de terem se passado cinco anos desde a queda de Lord Voldemort, ainda não era seguro para os antigos apoiadores serem vistos juntos. E Draco era grato por isso, durante todo o período encontrara aquelas pessoas raras vezes.
O conhaque descia por sua garganta e queimava tudo, mas Draco gostava da sensação. Talvez fosse cedo demais para uma bebida, mas ele precisava de coragem líquida. Já não tinha mais dezessete anos, mas também não era velho o suficiente para não sentir um arrepio na espinha todas as vezes em que era obrigado a ir para o Ministério da Magia. “Cinco anos desde o final da Guerra”, Draco pensou, “E eu ainda continuo tentando agradar para não ser preso.”
A família Malfoy continuava tentando se desvencilhar da prisão e possuir certa influência nas decisões do mundo bruxo. Entretanto, foi graças à ação de Narcisa Malfoy em mentir para Lord Voldemort sobre a morte de Harry Potter que os três bruxos não foram para Azkaban. Lúcio Malfoy não se contentou, é claro, e também entregou os demais comensais que habitavam sua casa enquanto Lord Voldemort estava no poder. Porém, não foi isso que chocou a comunidade bruxa e se tornou manchete da primeira página d’O Profeta Diário. Foi o depoimento emocionado de ao narrar os absurdos vividos em Hogwarts e como Draco havia sido fundamental para que ela ficasse viva. A história de amor aos moldes de Romeu e Julieta do mundo bruxo — dois amantes que não podiam ficar juntos — mudou um pouco a opinião pública em relação à família Malfoy e também ajudou com a condenação. No final do dia, Lúcio conseguiu o que queria com aquela visita no verão de 98.

Naquele dia em especial, Draco ia para o Ministério da Magia entregar novos nomes de antigos comensais, nomes esses das famílias puro sangue que viraram as costas para eles e agora vinham mendigar ajuda em sua porta. Lúcio Malfoy havia sido esperto. Enquanto o bruxo montava sua estratégia de defesa, ele se comunicava com as famílias influentes e as do Sagrado Vinte e Oito, medindo o quanto cada uma estava disposta a colaborar com os Malfoy a longo prazo. Aqueles que durante a prisão domiciliar haviam rechaçado seu contato e menosprezado seu pedido de ajuda eram justamente aqueles que, no julgamento, ele havia entregado e Draco continuava caçando.
Com as famílias restantes, os Malfoy iniciaram um movimento que tentava escapar dos olhos de lince de Kingsley Shacklebolt, então ministro da magia, para restaurar sua força e influência. Draco, contudo, ainda tinha muitas ressalvas sobre o plano de seu pai. Lúcio Malfoy encheu o peito de orgulho e seu ego foi às alturas quando as famílias Rosier, Greengrass, Parkinson, Carrow e Yaxley não hesitaram em participar de suas artimanhas. Apesar disso, os ânimos da mansão não melhoraram quando o nome dos Carrow foi mencionado em um jantar.

— Não — Draco disse, enquanto encarava seu próprio prato no jantar que Lúcio anunciou seus novos planos.
— O que disse, querido? — Narcisa perguntou confusa.
— Os Carrow, não — ele respondeu. — Eu não quero nenhum deles pisando em nossa casa.
— E qual seria o motivo? — Lúcio perguntou.
— Você sabe o porquê — o mais novo respondeu. — Além deles já estarem publicamente manchados para sempre pelo que fizeram em Hogwarts.
— Ora, Draco — Lúcio começou a dizer, mas Narcisa apertou a mão do esposo em um aviso. — Eu sei o que aconteceu entre vocês, mas os Carrow sempre foram fiéis à nossa família.
— Eu já disse que não! — Draco se exaltou. — Eles só pisam neste terreno se quiserem morrer e eu falo sério.
— Tudo bem, Draco — Narcisa disse. — Os Carrow, não.
— Mas… — Lúcio tentou argumentar, mas o olhar congelante que Draco o lançou calou o patriarca na mesma hora. — Tudo bem, Draco.

Então, naquele dia da semana de Natal, Draco Malfoy havia preparado um dossiê recheado com os nomes de comensais e provavelmente onde eles estariam escondidos pelo Reino Unido. O rapaz iria sozinho, já que seu pai tinha outro compromisso importante com alguma família rica. Logo, daquela vez, ele deveria caminhar pelos corredores frios do Departamento de Mistérios e delatar todos aqueles que foram seus companheiros comensais. E ele não tinha um pingo de pena. O conhaque acabou e Malfoy deixou o pequeno copo no topo da lareira. Quando encheu sua mão de pó de Flu e já estava pronto para pular e sumir no fogo verde, sua mãe entrou pela sala e o chamou.

— Já está indo, filho? — ela perguntou, enquanto se aproximava. Sua expressão era suave, apesar de séria.
— Sim, senhora — ele respondeu. — Vou demorar, então não se preocupe comigo.
— Eu entendo os procedimentos — ela disse. — Gostaria de falar algo com você antes de você ir.
— Tudo bem.
— Bom, inicialmente, nossa ceia de Natal seria apenas para nós três, mas com as conversas do teu pai com outras famílias — ela foi completar, mas Draco a cortou.
— A ceia intimista e restrita que teríamos se tornou uma grande ceia para outras famílias — ele completou. — Está tudo bem. Se eles querem se encontrar conosco, é algo bom, certo? Só não quero os Carrow aqui.
— Claro, não convidamos os Carrow — Narcisa respondeu. — Somente os Parkinson, os Rosier, os Greengrass e os Nott. Além dos Crabbe e dos Goyle também, pelo tempo em que foram seus amigos na escola.
— Eu não me importo, de verdade — ele respondeu. — Eu tenho que ir.
— Bom, os Greengrass possuem duas filhas e… — Narcisa começou, mas foi cortada novamente.
— Não acredito que você fez toda essa cena para falar que, na verdade, essa ceia de Natal é para que eu encontre uma esposa — ele retrucou. — Eu vou me casar quando eu quiser, entendeu? Agora eu estou ocupado.
— Traduzindo: você vai se casar quando a quiser, não é? — Narcisa disse amarga, mas Draco não se deu o trabalho de responder e pulou na lareira, deixando sua mãe para trás.

A grande entrada do Ministério da Magia apareceu em sua visão e Draco parou perfeitamente em pé depois de rodar por lareiras diversas. O volume de pessoas era o mesmo de tempos remotos, mas a energia do lugar sempre se alterava de acordo com a direção. Era mais leve e mais suportável de estar lá dentro. Seus passos se juntaram aos das outras pessoas e a recepção feita por vários bruxos em mesas logo estava em sua frente. Depois de se identificar e se encaminhar para os elevadores, Draco Malfoy sentiu seu corpo ficar tenso. Sempre era assim quando ele precisava ir até aquele lugar, conversar com um auror e dar nomes, lugares e situações. Sempre tinha medo de terem o chamado para o prenderem. Assim que o elevador chegou ao Departamento dos Mistérios, Draco, portanto, ficando por último, um bruxo já o esperava e qual foi a surpresa ao ver que este bruxo era Harry Potter. Draco se encontrou com seus colegas de Hogwarts poucas vezes desde a Guerra Bruxa e era muito feliz assim. Sua postura arrogante entrou em ação e, assim que ele desceu, fez questão de olhar Potter de cima a baixo. Harry revirou os olhos quando percebeu.

— Potter.
— Malfoy — Harry respondeu. — Eu serei o auror que irá conduzir seu depoimento nesta manhã.
— O que aconteceu? Acabaram os aurores competentes? — Malfoy perguntou maldoso e Harry novamente revirou os olhos.
— Vamos logo com isso, não vou perder minha manhã inteira com você — Potter se limitou a responder.

Os dois se calaram e caminharam até uma das salas — já conhecidas — do Departamento de Mistérios. Eles ainda não haviam chegado ao saguão com diversas portas que davam em lugares estranhos, mas Draco sabia que estavam perto, pois sentia a Magia pairar ao fim do corredor. Potter abriu uma porta e eles entraram. A luz acendeu sozinha e havia somente uma mesa e duas cadeiras. O auror indicou o assento para Malfoy e ele se sentou depois de tirar o sobretudo e pendurar em um mancebo perto da porta. Harry agitou a varinha e uma pena de repetição rápida apareceu junto a um bloquinho.

— Testemunho 0723, do bruxo Draco Malfoy. 23 de dezembro de 2003, às dez e vinte da manhã. Auror responsável: Harry James Potter.

Draco permaneceu em silêncio enquanto tirava um pequeno envelope pardo do bolso interno do terno que vestia e colocava em cima da mesa. Os dois rapazes se olharam e Harry indicou o objeto com a cabeça, em um pedido para Draco abrir. O louro obedeceu e de lá saíram fotos de Aleto e Amico Carrow, além de alguns pergaminhos fechados.

— Você pode me dizer o que significa isso? — Potter perguntou.
— Eu sei que os Carrow tomaram um chá de sumiço depois da Guerra Bruxa — Draco disse. — Então eu os cacei. A família Carrow tentou se reaproximar da minha família em uma tentativa de proteção para os gêmeos, acredito eu.
— E por que você está entregando os Carrow, Malfoy? — Potter perguntou. — Eles fazem parte do Sagrado Vinte e Oito. Por que entregá-los?
— Por quê? Bem, você sabe — Draco respondeu e deu um suspiro longo. — Todos sabem os horrores que eles cometeram em Hogwarts e merecem pagar por tudo.
— Entendo — Potter respondeu e o olhou profundamente. — É pelo que fizeram com ? Não consigo imaginar você querendo justiça por outra pessoa além dela. Não me lembro de você se importando com qualquer outra pessoa além de você mesmo e, claro, .
— Estou apenas fazendo meu papel como bruxo que se importa com a Justiça — Draco respondeu, tentando se desvencilhar da conversa sobre sua ex-namorada.
— Você sabe que pegamos Jugson, não é? — Potter perguntou e Draco assentiu. — o capturou.
— Eu sei que ela tem trabalhado na seção de aurores — Malfoy respondeu, fingindo displicência. — Ele está vivo?
— Sim. — Potter riu. — Você conhece muito bem para ter perguntado isso.
— Ele estava onde eu disse? — Draco perguntou, mesmo sabendo a resposta.
— Sim — Harry respondeu. — Exatamente lá. Ele também foi pedir proteção para os Malfoy?
— Oh, ele não seria tão idiota assim como os Carrow foram — Draco respondeu. — Tentou lidar com tudo sozinho. Foi difícil, mas eu consegui.
— Você está caçando os três e os dando para , não é? — Harry provocou. — Ainda a ama, Draco?
— Entenda como quiser, mas eu estou apenas fazendo meu papel de bruxo que anseia por justiça — Draco repetiu a resposta anterior. — Posso ir?
— Temos uma última coisa para discutir — Potter disse. — O Ministério tem percebido a tentativa da sua família de se reerguer, Draco.
— Eu não faço a mínima ideia do que você está falando, Potter — Draco blefou. — Se você não notou, o que claramente não, minha família caiu em desgraça desde que meu pai perdeu a profecia para você no nosso quinto ano. Não temos mais prestígio de nenhum lado. Só estamos tentando não ser presos. Posso ir embora? Já te dei a localização e o melhor horário, agora é só você fazer o teu trabalho e ficar com toda a glória.
— Claro, pode ir — Harry respondeu e, com mais um agito, a pena de repetição rápida foi parar em cima da mesa junto ao envelope que Draco havia trazido.

Draco Malfoy se levantou, vestiu seu sobretudo preto e quando estava com a mão na maçaneta, parou quando Harry o chamou.

— Eu não me esqueci do que Narcisa Malfoy fez por mim naquele dia — Harry disse. — Eu entendo os motivos dela, sei que não tinha nada a ver comigo, mas sim com você.
— Ela também não se esqueceu, Potter — Draco respondeu. — O que quer dizer?
— O Ministério sabe das articulações que algumas famílias estão fazendo — Potter revelou e um arrepio passou pela coluna de Draco, mas ele precisava se manter relaxado. — Não é porque você tem entregado os comensais que não deixou de ser visto como uma ameaça, Draco.
— Então se estão nos espionando, sabem que toda essa movimentação que estamos fazendo é por causa da ceia de Natal que teremos amanhã — Draco respondeu irônico. — Fico feliz em saber que um simples jantar deixa vocês de cabelo em pé.
— Eu não me esqueci do que Narcisa Malfoy fez — Harry tornou a dizer. — Mas continuo sendo um auror trabalhando para o Ministério que não acredita nos ideais de supremacia que vocês tanto cultivaram.
— O que você está sugerindo, Potter? — Draco perguntou, tentando manter o desinteresse em cada sílaba, mas sentindo uma gota de suor descer pelas suas costas.
— Você entendeu — Harry respondeu. — Sabemos que há mais comensais do que estes que você tem nos entregado. Yaxley foi pego, Rodolfo e Rabastan Lestrange também, mas ainda faltam alguns comensais de maior importância na hierarquia de Voldemort. Precisamos desses.
— Não foi um prazer encontrar com você, Potter — Draco respondeu, finalizando o assunto e saiu da sala, deixando Harry para trás, que suspirou e voltou sua atenção para o envelope.

Draco sentia seu corpo querer começar a tremer, mas ele precisava se segurar, havia muitas pessoas o observando. Cada célula de seu corpo queria acertar a cabeça de seu pai na parede até que Lúcio aprendesse a parar de querer ser mais esperto que todo mundo. Era óbvio que eles sabiam de toda aquela articulação. Draco precisava voltar para a mansão Malfoy o mais rápido possível e tentar convencer seu pai a não se envolver com nenhuma família e ficar quieto. Esperar as coisas se ajeitarem sozinhas e as influências seguirem seu caminho natural. A família Malfoy precisava ficar limpa de confusões e intrigas por pelo menos, algumas gerações. Entretanto, Draco não queria voltar para aquele lugar porque sabia que seu pai não iria escutá-lo. Lúcio e Narcisa estavam envolvidos demais na tentativa de reviverem os “dias gloriosos” que estavam cegos, desesperados para fazerem uma festa natalina tão grandiosa quanto as anteriores. Seus pedidos por razão e calma seriam levados como inexperiência e covardia. Era sempre assim desde que Draco passou a discordar de Lúcio e o jovem bruxo sabia que iria perder a discussão. Ele quase nunca ganhava, para falar a verdade.
A porta do elevador abriu e quando Draco foi entrar, travou no lugar. Fazia muito tempo que ele não a via. estava com a roupa de trabalho toda preta e com coturnos pesados para chutar e pisar em qualquer um que tentasse lhe causar mal. A mulher conversava com um rapaz que Draco não conhecia, mas ela ria feliz e só parou quando percebeu a presença do bruxo ali.

Desde a visita que havia feito à mansão Malfoy no verão de 98 e ele havia feito a garota prometer que não iria esperar por ele, Draco havia a encontrado poucas vezes. Ele estava algemado e escutou todo o depoimento da garota durante o julgamento e quase correu em direção a ela quando narrou todo o namoro dos dois, além de todos os momentos que Malfoy havia agido em prol de mantê-la viva. Ele nunca se esqueceu da expressão de choque da comissão, das lágrimas no rosto de sua amada e do sorriso presunçoso no rosto de seu pai quando as palavras escorregaram dos lábios da garota. No final, Lúcio Malfoy havia conseguido o que queria quando manipulou emocionalmente os dois adolescentes. Quando uma das bruxas da Suprema Corte perguntou para o motivo dela estar compartilhando aquelas informações, ela apenas respondeu: “Porque não seria justo esconder uma parte da verdade.” Como havia prometido, não o procurou depois disso.
A mulher havia se afundado até o pescoço em capturar comensais fugitivos e se tornar uma auror. Apesar de não ter voltado para concluir seus estudos em Hogwarts, tinha sido convidada junto a Rony Weasley para trabalhar naquela seção, chefiados por Harry Potter, a pedido de Kingsley Shacklebolt. Enquanto Malfoy trabalhava nas sombras, ela brilhava em sua carreira. Draco deu um passo para trás e liberou a passagem para os dois e não disse nada até se pronunciar.

— Draco, o que faz aqui? — ela perguntou, parando em sua frente. — Pode ir, Charles, eu já o encontro.
— Vim entregar algumas informações para o Ministério — ele respondeu. — E você?
— Estamos voltando de uma missão no norte do Reino Unido — ela explicou e deu um sorriso. — Fico feliz em te encontrar, Draco.
— Eu também fico, — ele respondeu e deu um pequeno sorriso. — Você parece bem.
— Eu tenho trabalhado muito — ela respondeu. — É puxado, mas graças a isso consegui sair da casa dos meus avós, acredita?
— Mora sozinha?
— Sim, aluguei um pequeno apartamento no Beco Diagonal — explicou. — É pequeno, mas, para mim, está bom, já que eu estou sempre viajando.
, precisamos encontrar o Harry! — Charles disse, de dentro de uma sala qualquer.
— Eu já vou! — ela gritou para ele. — Bom, eu preciso ir.
— Podemos nos encontrar? — Draco pediu e deixou escapar um pouco de sua vulnerabilidade.
— Claro, eu te mando uma coruja — ela disse e sorriu. — Eu preciso ir.
— Tudo bem.

se afastou e entrou com o outro auror em uma das salas do corredor, deixando Draco sozinho. parecia bem e ocupada. Draco ficou feliz ao vê-la brilhando daquele jeito. Depois de tudo o que ela havia passado, merecia um pouco de felicidade. O rapaz chamou outro elevador e aguardou para poder ir embora. Sozinho.


***


já estava ficando de saco cheio de tanto planejamento. Ela confiava totalmente no discernimento de Harry, mas achava que o excesso de planejamento para capturar os Carrow era desnecessário. Ela os conhecia. Lutou com eles, quase foi morta por eles e finalmente teria a chance de se vingar. Oh, porque ela não iria negar ou tentar disfarçar o ódio que sentia daquela família maldita. Harry sabia, Rony sabia, a seção inteira sabia que ela estava há cinco anos se preparando para aquele momento. Potter mostrava em um mapa a região da Cornuália que os dois estavam escondidos e contava em detalhes todas as informações que Draco Malfoy havia compartilhado naquela manhã. A noite já caía e o cansaço começava a circular pelas pessoas, era quase véspera de Natal e lá estavam todos em um semicírculo, em uma sala apertada, recebendo diretrizes de uma missão que seria feita somente no dia seguinte. Apesar de ser num momento festivo, eles não podiam perder tempo, pois um dia a mais esperando era um dia a mais para os Carrow mudarem de lugar.

— Por hoje, é isso, pessoal. Os aurores escolhidos estejam aqui na seção, no horário marcado, e, para os que não irão, eu desejo um ótimo Natal. Até amanhã — Potter finalizou, liberando todo o esquadrão, e, quando estava saindo também, Harry a chamou. — ? Posso conversar com você?
— Claro, Harry — ela disse e voltou ao lugar de antes. — O que foi?
, eu sei que essa missão significa muito mais para você do que para outras pessoas — ele disse. — Eu sei que você espera há anos por esse momento, mas você não pode matá-los, ouviu?
— Eu sei, Harry — respondeu.
— Nossa missão é capturá-los vivos. Eles vão a julgamento, obviamente serão presos e é isso — Potter disse. — A tua missão pessoal será cumprida.
— Eu sei — repetiu.
— Você precisa me prometer que não vai matá-los — o auror pediu. — Caso contrário…
— Você não me tiraria dessa missão, Harry — disse, com pesar em cada palavra. — Você não pode fazer isso.
— Farei se eu sentir que você vai se comprometer ou comprometer a missão — ele disse. — Eu sei o que tudo isso significa para você, não quero você perdida depois dela.
— Harry, confia em mim — pediu. — Obrigada por se importar comigo, mas eu dou conta. Não vou decepcionar você. Eu consigo ser profissional até nisso. Não matei Jugson.
— Mas tentou — Potter disse e ficou tensa com a memória. — Eu sei que você precisa fechar esse capítulo na tua vida, por isso eu não vou te impedir de ir comigo e com Rony amanhã, tudo bem? Mas, por favor, não se esqueça do seu papel acima de tudo.
— Obrigada, Harry — ela agradeceu e sorriu. — Dispensada, senhor?
— Dispensada.

A noite já havia caído e saiu da seção dos aurores logo em seguida. O dia seguinte seria muito difícil e a ansiedade circulava por suas veias, então ao invés de ir para seu apartamento pela lareira, decidiu ir para o Caldeirão Furado tomar alguma coisa e pensar na missão de capturar os dois Carrow. os caçava desde que Harry havia a chamado para trabalhar como auror. Seus planos originais nunca foram esses, mas ela aceitou a mudança de bom grado. Os Carrow haviam desaparecido enquanto os Malfoy enfrentavam um julgamento extenso no Ministério. Draco e sua família saíram vitoriosos, mas por cinco anos os gêmeos haviam virado fumaça. e os demais aurores continuaram a caçar os comensais foragidos, e, com a nova direção de Kingsley, os dementadores foram expulsos de Azkaban.
Jugson era um daqueles que o departamento não conseguiu localizar. Então, certo dia, Draco Malfoy apareceu no departamento com a localização exata. sabia que ele tinha feito aquilo por ela, mas não conseguiu conversar com ele sobre o assunto. No fundo, talvez não tivesse coragem. O tempo passou e foi ficando mais fácil cumprir a promessa que havia feito. Sua vida de auror tomava todo o tempo disponível e ela gostava. se sentia viva e útil. A luta sempre fora o seu lugar, ela havia entendido ainda em Hogwarts. Voltar a disparar feitiços e prender “os caras maus” tinha devolvido sua vitalidade tirada quando ainda era nova. Contudo, dentro de si, uma pequena parte se perguntava o que ela faria após a prisão dos gêmeos. Aquilo havia sido motivação por anos. Qual seria sua próxima? Continuar como auror fazia sentido?

A bruxa decidiu aparatar até o lugar, por isso pegou uma das cabines telefônicas que eram usadas como disfarce e subiu em direção à rua londrina. Assim que ela pôde avistar o céu escuro, o frio invadiu a cabine e gelou seu corpo. se apertou mais ainda dentro de sua capa e saiu para a rua, sentindo o ar gelado em seu rosto. Flocos de neve caíam e ela se virou para andar em direção a um lugar mais discreto para aparatar. A varinha estava ao alcance em todo o momento e aparatou até a frente do Caldeirão Furado. Assim que passou pela porta do bar/hospedaria, sentiu o ar quente envolver seu corpo. O cheiro da lenha queimando misturado com cerveja amanteigada inundou seu nariz e a mulher caminhou até o balcão para falar com Tom, o filho daquele outro Tom que atendera Lord Voldemort anos atrás, e pedir seu próprio caneco de alguma bebida quente.

— Tom — ela chamou e tirou a capa pesada, pendurando a peça na banqueta. — Uma caneca de cidra quente, por favor.
— O que faz aqui, menina? — o barman perguntou e preparou a bebida para ela. — É quase Natal.
— Uma passadinha para uma bebida antes de ir para casa — ela respondeu. — E o barulho das pessoas me dá a sensação de que eu não estou sozinha.
— Bom, você com certeza vai ter isso aqui — ele respondeu e deu uma piscadela, se afastando para atender outro bruxo.

aproveitou a cidra quente enquanto observava o armário de bebidas do bar. Havia uma árvore de Natal pequena em um canto e neve caía do teto diretamente em cima dela. As mesas estavam cheias de bruxos que estavam partindo ou chegando para os feriados e se colocou a observá-los enquanto tentava não ficar nervosa para a missão do dia seguinte. Em Hogwarts, ela teve que se esconder, já que os Carrow tinham o poder e queriam matá-la, mas, naquele momento, o jogo havia virado. Era ela quem caçava os dois e estava louca para capturá-los. Aguardava por esse dia há anos. Entretanto, ela sabia que deveria controlar suas emoções, caso contrário, poderia prejudicar a missão. Teria que ser contida, fria e racional. Ter o foco completamente naquilo que era mais importante: estava representando o Ministério.
Entretanto, era difícil não deixar sua raiva vencer e mandar as leis para o inferno quando ela se lembrava dos momentos horríveis que viveu dentro de uma sala em Hogwarts. O sangue descendo por sua perna, o rosto ardendo pelos socos, o joelho tremendo de dor e os gritos de socorro que escapavam por sua garganta enquanto ela sofria um aborto na frente dos três comensais. Potter e Weasley tiveram que puxá-la de cima de Jugson para impedi-la de matá-lo com as próprias mãos. Aquilo havia custado quase seu emprego, pois Kingsley não ficara feliz. Daquela vez, ela precisava se conter.
Uma banqueta ao seu lado foi puxada e foi inevitável não olhar. Os cabelos louros pularam em sua visão e se surpreendeu. Olhou ao redor para ter certeza e quando percebeu a expressão de desagrado no rosto de quase todo bruxo do salão, ela sabia que estava certa, mas não esperava por aquilo.

— Draco? — ela chamou e ele a olhou com um pequeno sorriso no rosto — O que faz aqui?
— Precisava de uma bebida. — Tom se aproximou de cara feia e atendeu o pedido do bruxo, servindo uma dose de whisky de fogo.
— Mas aqui no Caldeirão Furado? — ela perguntou surpresa — Não achei que a realeza bruxa andaria com a plebe.
— Ora ora, engraçadinha — ele retrucou e deu um gole na bebida em sua frente — Eu não queria voltar para casa ainda.
— Então ficou andando pelo Beco Diagonal? — ela perguntou e bebeu sua cidra — Eu vim tomar uma bebida quente antes de voltar para casa.
— Bom, tinha outros assuntos para resolver em Londres — Malfoy explicou sem dar muitos detalhes, mas sendo um Malfoy, boa coisa não era — Ansiosa para amanhã?
— Ansiosa e torcendo para conseguir ser profissional — ela respondeu arrancando o riso do rapaz — Não preciso mentir pra você.
— Não mesmo — Draco respondeu com um pequeno sorriso e pediu outra dose de whisky — Você gosta dessa vida de auror, não é? Todas as vezes que eu te encontrei no Ministério você parecia animada.
— Você sabe que meu lugar sempre foi na luta — respondeu — Eu me sinto viva e útil. Assumi o legado dos meus pais e sou feliz com isso.
— Eu fico feliz por você, — Malfoy respondeu com um pequeno sorriu — De verdade.
— Obrigada, Draco — ela respondeu — E você? Está feliz?
— Essa é uma pergunta traiçoeira — o rapaz disse — O que é felicidade? Fazer o que gosta? Então, não. Não estar em Azkaban? Então, sim.
— E o seus pais? — perguntou — Como estão?
— Estão bem na medida do possível — ele respondeu — Meus pais se agarram com força à qualquer aproximação com os dias de glória, então, o que era para ser uma pequena ceia de natal, tornou-se um evento.
— E você não quer participar, certo?
— Na mosca — ele respondeu — Eu acho tudo uma tremenda perda de tempo.
— Bom, eu gosto — ela disse — Meus pais já estão na Grã-Bretanha e nós vamos para os Weasley.
— Parece um feriado feliz — ele comentou.
— É, será.

Os dois ficaram em silêncio e passaram a se olhar. Draco notou a pequena cicatriz embaixo do olho de e o desenho de uma tatuagem de ramos que saía da gola de sua blusa de frio. Seus cabelos cheios e longos emolduravam seu rosto e Draco notou que eles estavam úmidos, provavelmente por causa da neve. Ela continuava fazendo o coração de Malfoy pular uma batida. notou que estava sendo observada e permitiu até que encarou Draco de volta, percebendo o rapaz sustentar seu olhar. Ele jamais desviaria. suprimiu o sorriso e deu um gole em sua cidra, suspirando logo depois, sentindo o vapor quente bater em seu rosto. Seu coração acelerou do mesmo jeito que acontecia quando via Draco virar um corredor em Hogwarts. Um sentimento conhecido inundou seu peito e de repente, seus lábios soltaram a ideia que não fora pensada antes.

— Está com fome? — ela perguntou.
— Por que?
— Eu sei cozinhar — ela disse.
— Isso é um convite? — Draco perguntou.
— Acho que precisamos conversar em um lugar mais reservado que o Caldeirão Furado — ela explicou.
— Por que? — Draco provocou.
— Você sabe.

morava na travessa ao lado da loja da Madame Malkins, em cima de outra pequena loja de roupas que competia com a loja maior pela atenção dos clientes. Os dois caminharam pelo Beco Diagonal em silêncio e fez um movimento na varinha que liberou a porta de madeira preta ao lado da loja. Draco observou a escada de cimento e seguiu enquanto ela subia e chegava em um hall com apenas duas portas. A bruxa foi para a porta da direita que era pintada em um azul escuro, mas havia a pintura de uma estátua grega na porta. Assim que a mulher se aproximou, a estátua abriu os olhos, esticou a mão até a maçaneta e girou. A porta se abriu e entrou. A estátua encarou Draco e quando já estava voltando para fechar, a mulher apareceu no batente.

— ‘Tá com medo, Draco? Entra logo!

Malfoy entrou no apartamento e foi inevitável não ficar surpreso. Ele já tinha visitado a mansão em Leeds, tinha apreciado as paredes claras com boiserie, o grande lustre da entrada e o quarto de que havia uma cama de dossel igual a dele. Foi difícil para o rapaz entender como a mulher havia trocado todo aquele luxo por um apartamento com somente um banheiro, uma cozinha pequena e um quarto. As paredes eram brancas e não havia nenhum quadro pendurado, mas vários estavam encostados na parede como se a mulher ainda não tivesse tido tempo para pendurá-los. Uma pequena lareira estava na parede direita e na frente dela havia um pequeno sofá claro com um tapete. E aquilo era a sala. Uma mesa de madeira com apenas quatro cadeiras estava na outra ponta e uma janela grande dava para a rua. Havia algumas plantas espalhadas pelo apartamento, mas elas pareciam com sede. Draco olhou para e ela estava tirando os sapatos e o casaco em sua frente. A mulher murmurou um feitiço e acendeu a lareira que começou a esquentar o ambiente. O chão de madeira escuro abrigou os pés de que caminhou até a cozinha. Draco apenas a seguiu e descobriu uma cozinha pequena, um pouco maior que um corredor, com móveis brancos e uma pequena cuba. Tudo ali feito exatamente para uma pessoa.

— Eu reconheço esse olhar em teu rosto, Malfoy — ela disse enquanto abria a geladeira e tirava algumas coisas de dentro — Você está se perguntando como eu troquei a mansão dos meus avós por isso aqui, certo?
— Bom, não, eu…
— Eu te respondo — ela parou com as mãos na cintura e o olhou — Porque era a mansão dos meus avós.
— E você queria o teu próprio espaço — ele respondeu e assistiu enquanto colocava facas para cortar carnes e vegetais sozinhos — O que você está fazendo?
— Ah, pensei em fazer uma torta de carne — respondeu — Você gosta?
— Sim — Malfoy disse — Por que me chamou aqui? Não foi apenas pela torta.
— Achei que poderíamos conversar depois do jantar, mas já que quer começar agora — respondeu e se virou para olhá-lo — Você conseguiu a localização dos Carrow, não é?
— Bom, é o que eu tenho feito há um tempo — Draco disse — Entregar comensais sem um pingo de remorso.
— Nós estamos procurando os Carrow há cinco anos, Draco — ela comentou — E não conseguimos nada.
— Bom, garanto que vocês estão buscando por meios legais — ele respondeu descontraído e notou o olhar surpreso da mulher — Ora, , você sabe quem eu sou. Mas foi muito difícil, muitas pistas falsas e eles acabam se deslocando muito rápido. Consegui fazê-los mudar para a ponta do país. Eles não têm mais para onde ir, a família não tem mais dinheiro para manter os dois.
— Você fez isso pela gente, não é, Draco? — disse e seus olhos automaticamente ganharam uma pontinha de dor — Os Carrow e o Jugson. É uma vingança para você?
— Você sabe que sim, — Draco respondeu de maneira sincera — Dividiremos essa perna para sempre.

não disse nada e voltou a cozinhar, vistoriando se a massa da torta — que se fazia sozinha — estava dando certo. Draco a olhou e sentiu a tristeza que pairou nos ombros da mulher. Ele sabia que aquele momento havia sido muito pior para ela do que para ele. Não apenas o feto havia morrido, mas quase se fora também. Ela se aproximou da morte tantas vezes no último ano em Hogwarts que Draco sabia que o peso disso nunca sairia das costas dela. Sentiu vontade de abraçá-la por trás, mas se conteve. Eles já não tinham mais essa intimidade.
Olhou cozinhar e se lembrou de todas as vezes em que ele havia imaginado ter uma vida com a mulher. Claro que na cabeça dele seria algo bem parecido com o que ele via em sua própria casa, mas naquele momento, vendo a mulher fazendo tudo sozinha, ter uma vida simples com ela também parecia uma boa ideia.

— Será que viveríamos assim se nosso plano tivesse dado certo? — ele perguntou.
— Quero acreditar que sim — ela respondeu baixinho e suspirou — Nosso bebê teria quase cinco anos.
— Você continua contando? — ele perguntou e quando assentiu, Draco completou — Eu também.
— Agora é só assar — mudou de assunto e colocou a torta no forno — Quer um vinho?

Os dois se sentaram na pequena mesa de em silêncio e encheram suas taças de vinho tinto. Eles não conseguiram mais conversar. Um desconforto se alojou entre os dois e eles não se olharam por longos minutos. Draco se colocou a observar a sala e notou um poleiro vazio perto da janela.

— Um poleiro? — ele perguntou e virou a cabeça para observar o que o rapaz apontava.
— Sim, Dumbledore me deixou Fawkes — começou a explicar — Eu deixo ali para o caso dele aparecer.
— E isso já aconteceu? — Malfoy perguntou.
— Nunca. Apesar de ele ser meu, a lealdade da ave sempre será de Dumbledore — ela finalizou o assunto.

O silêncio voltou a reinar e Malfoy tomou um gole do vinho em sua frente na tentativa de ficar solto. finalmente o olhou e suspirou, percebendo a beleza do rapaz. Draco continuava com a mesma expressão de antes, porém, havia preocupação em seu semblante, era notável. Ela se lembrou de Hogwarts e de como ele tinha ficado com ela por todo o tempo em que ela precisou. Draco era uma boa pessoa. Ela deu um pequeno sorriso que não passou despercebido por ele.

— O que foi? — Malfoy perguntou.
— Você é uma boa pessoa, Draco — ela respondeu — Eu conheço teu coração, sei o que tem dentro dele e é bondade também.
— Por que está dizendo isso? — ele perguntou.
— Porque eu me lembrei de como você cuidou de mim quando eu precisei — ela disse e segurou a mão do rapaz por cima da mesa — Obrigada por me entregar os comensais e por tudo o que você fez.
— Não precisa me agradecer — Draco respondeu — Você faria o mesmo por mim.
— Eu faria — respondeu e olhou para o chão — Apesar de tudo, eu fico feliz pelo que tivemos.
— Era horrível — Malfoy disse e deu um suspiro — Mas quando era bom…
— Era perfeito — completou e deu um sorriso.

O silêncio voltou, mas daquela vez não foi desconfortável. Os dois se acostumaram com a presença um do outro e permaneceram do mesmo jeito até que o timer na cozinha apitou e os dois se levantaram. Draco observou encostado no batente fazer tudo para servir o jantar com apenas três agitos da varinha. O tabuleiro de torta flutuou até a sala e parou perfeitamente no meio da pequena mesa de jantar. deu mais um giro na varinha e dois pedaços foram servidos.

— Vamos?

Os dois comeram em silêncio até que apontou com a varinha para o rádio e uma melodia de piano desconhecida começou a embalar os dois. Eles se olharam e sorriu para Draco, sua cabeça pensando se algum dia aquilo poderia ter virado uma rotina na vida dos dois. Ambos eram assombrados por tudo que poderiam ter sido. encarou Draco em silêncio e todo o carinho que ela sentia pelo rapaz veio para a parte de frente de sua mente. Cada sentimento que ela empacotou com cuidado e guardou no fundo de seu coração se agitava dentro das caixas e foi inevitável não se lembrar de tudo. O afeto, as brigas, as conversas, o sexo. Todas as memórias vieram umas atrás das outras, tão rápido que a mulher teve que desviar o olhar e suspirar. Precisava mudar de assunto e rápido.

— Draco — ela o chamou — Você tem trabalhado?
— Bom, eu cubro meu pai em algum de seus compromissos — ele explicou — Tomei a frente de algum dos negócios da família enquanto meu pai cuida de outras coisas.
— O que? — ela perguntou curiosa
— Basicamente eu estou cobrando favores e concedendo favores em troca de informações — ele explicou — Você não tem ideia do tanto de bruxos que nos devem algo, sejam galeões ou cargos no Ministério.
— E tem funcionado?
— Na maioria do tempo, sim — Draco explicou — Mas o que eu estou fazendo atualmente é tentar diversificar nossos investimentos e aumentar o patrimônio da família. Então, eu tenho viajado por comunidades bruxas comprando imóveis e lojas. Tenho pesquisado também investimentos em poções e estudos mágicos.
— E as pessoas têm aceitado o dinheiro de vocês? — perguntou.
— Eu sempre envio um representante primeiro — ele continuou a falar — Nunca digo de imediato que é um Malfoy que está interessado. Uma vez que o montante de dinheiro é oferecido, fica difícil recusar mesmo que o galeão seja de um Malfoy.
— Parece um bom plano de aposentadoria — comentou — E uma boa maneira de tentar limpar o nome.
— Acho que umas boas gerações de Malfoys terão essa missão — Draco disse.
— Gerações? Você vai se casar? — perguntou curiosa e o rapaz segurou um riso.
— Não, — ele disse — Embora meus pais já estejam preocupados com isso.
— Mas você mal tem 23 anos — ela retrucou — Ainda é novo.
— Eu sei — ele suspirou e tomou um gole de vinho — Eu não consigo pensar em nada desse tipo agora, não sei, parece tão fútil, tão tolo… tem tanta coisa mais importante que eu preciso fazer e ainda minha mãe marca essa droga de ceia de natal…
— Mas você tem que participar? — perguntou e Draco quase riu da pergunta inocente.
— Eu não tenho escolha, amor — Draco respondeu — Preciso participar.
— Bom, você pode ficar um pouco e depois sair, não? — tentou ajudar e novamente, Malfoy quis apertar as bochechas da mulher.
— Eu posso tentar, é — ele respondeu e deu um sorriso, não queria estragar as tentativas dela de ajuda, na verdade, ele apreciava — Obrigada, .
— Ah, não foi nada — ela respondeu e deu um pequeno sorriso — Só queria te ajudar de alguma maneira, eu sei como você fica quando precisa fazer algo que não gosta.
— Você sabe? E como é? — ele perguntou divertido e também deu um gole na taça em sua frente.
— Você faz birra — ela respondeu com um sorriso e começou a rir com a expressão surpresa no rosto do bruxo — Se é que já não se jogou no chão na frente da tua mãe chorando que não quer ir.
— Olha, fazer piada com o fato de que eu sou mimado é tão 97 — ele comentou e ambos riram — Precisa se atualizar, .
— Ora, mas eu não te vejo há anos praticamente — ela soltou e isso pareceu trazer uma nuvem escura para dentro do apartamento — Não te conheço mais.
— De fato, você não conhece.

A torta acabou e os dois se olharam. Havia algo a mais para falar? É claro que havia, mas nenhum dos dois se atreveu a isso. A louça foi sozinha para a pia e foi lavada por magia. O barulho da água escorrendo e dos pratos sendo colocados no escorredor foi a trilha sonora para mais um momento constrangedor. Malfoy sabia que eles iam atrás dos Carrow no dia seguinte e assim, uma vontade cresceu em seu peito. Ele sabia que seria impossível, mas não custava tentar.

— Amanhã eu posso ir junto? — ele perguntou e o olhou com os olhos arregalados.
— De onde veio isso? — ela perguntou — Você sabe que não, não é auror.
— Eu posso aparecer amanhã mesmo sem vocês autorizarem, eu sei onde é — ele argumentou e revirou os olhos — Eu posso fazer isso, .
— Realmente, você mudou bastante de Hogwarts pra cá, Malfoy — ela retrucou — Não podemos levar um civil em uma missão do Ministério. Nós já temos um plano e isso não pode ser alterado.
— É tão importante para mim quanto é pra você — Draco disse e se levantou — Você sabe disso.
— Draco, você fez o pior que é encontrá-los — argumentou e olhou para Draco que levantava de seu lugar — É perigoso, não posso me responsabilizar por você.
— Eu não estou pedindo para você se responsabilizar por mim — o rapaz disse — Eu só quero ir junto, quero rir de Amico.
— Nossa, como você é maduro. — ironizou.
— Como se ninguém soubesse que você está planejando matá-los "sem querer" em algum momento da missão! — Draco retrucou e percebeu indignação no rosto da bruxa em sua frente — Ah, não faça essa cara porque é verdade. Se não fosse matá-los, uma surra você pretende dar!
— É claro que não, Malfoy! — ela disse — Dessa vez eu preciso ser profissional e eu vou ser. Não posso ter você lá e ter que te acalmar quando você quiser fazer algo estúpido porque eu já vou estar me controlando!
, por favor — Draco pediu — Eu sei me cuidar.
— Draco, este é o meu trabalho — disse de forma firme — Eu preciso dele. Eu me sustento sozinha. Eu não vou arriscar a minha vida para te levar nisso. Isto não é só uma vingança, é o que eu faço para viver!
— Agora você está jogando na minha cara que eu não sei o quão sério é isso? — Draco disse irritado — Eu respeito a tua profissão, mas os Carrow quase tiraram você da minha vida! Eles tiraram nosso bebê! Eu também preciso desse desfecho. São cinco anos caçando aqueles dois para você!
— Draco, não. — disse decidida e ali, ele percebeu que não iria vencer — Eu sinto muito, mas é um não.
— Então, eu acho que vou embora — o rapaz disse olhando para o chão.
— Eu acho melhor — respondeu — Acho que passamos dos limites.

Malfoy caminhou até a porta e vestiu o sobretudo. observou seus movimentos enquanto sentia todas as palavras não ditas se acumularem em sua garganta. Entretanto, ela não disse nada. Draco segurou na maçaneta e deu um suspiro. Ele não queria ir embora. Tinha a sensação de que havia muito mais para discutir e acertar, mas não sabia o que ou como. Ele estava incomodado. Não queria sair dali naquela atmosfera hostil, mas ele era Draco Malfoy e não iria dar o braço a torcer.

— Foi um ótimo jantar — ele disse por educação — Boa sorte amanhã.

Ele nem esperou uma resposta e saiu porta afora sem olhar para trás. se viu sozinha e suspirou, tentando fazer aquela sensação de desconforto ir embora. "Eu estou certa", repetiu para si mesma enquanto olhava a cadeira em que Malfoy ficou sentado a noite toda. "Eu estou certa, é muito perigoso." A mulher suspirou e caminhou para o banheiro em busca de um banho. Apesar de Draco, amanhã seria o dia em que ela aguardou por cinco anos e nada poderia tirar seu foco do objetivo principal.


***


Draco Malfoy aparatou e assim que firmou os pés no chão, enxergou a grandiosa mansão em sua frente. Os pavões não estavam no jardim da frente, estavam no viveiro por causa do frio e toda a vegetação estava coberta por uma camada grossa de neve. A nevasca logo o brindou com uma cascata de flocos de neve que caíram em seus cabelos e em seus cílios claros, mas o rapaz continuou parado ali. A irritação por não ter conseguido o que queria pulsava em seu corpo e foi inevitável não se voltar contra . Draco esperava outra coisa quando ela o chamou para sua casa. Esperava uma conversa mais longa e até sexo, mas nada foi como ele esperava. Do alto de sua arrogância e imaturidade, ele imaginou que o deixaria ir, imaginou que eles iriam se entender e voltar para a vida um do outro, mas qual foi a sua surpresa ao perceber que estava bem sem ele. Melhor do que antes. Ela tinha se encontrado sozinha e ele se sentia um idiota por achar ruim a postura que ele mesmo havia pedido para ela manter. Era contraditório, mas estava em seu peito.

Malfoy finalmente decidiu entrar e quando passou pelo hall de entrada, encontrou sua mãe sentada em frente a lareira daquela mesma sala que, anos antes, Harry Potter e seus amigos tinham quebrado o lustre milenar. O objeto tinha sido reconstruído com apenas um agito de varinha, mas o orgulho Malfoy nunca mais foi o mesmo. Narcisa olhou na direção dos passos e deixou a xícara de chá na mesa ao lado, olhando duramente para Draco.

— Você saiu daqui antes do almoço e só volta agora — a mãe reclamou — Onde você estava?
— Negócios, mãe — ele explicou — Negócios.
— Você não pode se ausentar assim sem me avisar, Draco — Narcisa reclamou — Eu já pensei mil besteiras, pensei até que tinha sido preso!
— Ora, mamãe — Malfoy revirou os olhos — Não seja dramática. Eu já voltei, está tudo bem.
— Algum problema? — a bruxa perguntou e voltou sua atenção para o chá que tomava — Tudo certo para a ceia de natal?
— Tudo certo — Draco respondeu e suspirou — Estarei aqui amanhã.
— Preciso que dê uma atenção a mais para as meninas Greengrass — Narcisa pediu.
— Os Greengrass são importantes para algo? — ele perguntou.
— Eles têm um contato que seu pai precisa muito — Narcisa respondeu.
— Tudo bem — Draco disse finalizando a conversa — Até amanhã.

Ele subiu as grandes escadas escuras e entrou em seu quarto. O rapaz tirou o sobretudo e o terno, começando a desabotoar a camisa e sentou em sua cama, dando um suspiro. Ele sabia que seus pais precisavam que ele fosse o mais educado e charmoso com as garotas Greengrass na ceia do dia seguinte. Possuía um trunfo por ter se envolvido com Astoria por um curto período de tempo na escola. Precisava ser um ótimo garoto para os pais delas e fazer com que a família abrisse o coração — e talvez a boca — para a família Malfoy. Lúcio aos poucos introduzia o filho nas artimanhas da família e ensinava todos os pequenos podres que eram necessários para criar uma vantagem. Agora Draco não era apenas um menino que vivia sua ignorância enquanto seu pai se articulava por trás das cortinas. Ele fazia parte de todos os esquemas e o peso de agir pela família Malfoy já se instalava em seus ombros.
Pensou em e em como ela estava livre vivendo sozinha e se deu conta de que eles nunca dariam certo no novo contexto em que viviam. Era hora de Draco deixar aquela história para trás. Era o momento de aceitar que eles só deram certo porque estavam em Hogwarts. No mundo real não havia espaço para eles.


***


O frio chegava até os ossos e os lábios de batiam com força apesar do grosso casaco que vestia. A mulher estava em um beco esperando o resto de seus companheiros de missão aparatarem. Eles estavam na pequena aldeia de Tinworth na Cornualha, local onde os Carrow estavam escondidos, uma aldeia de bruxos e trouxas. Assim que o último auror apareceu, Potter os chamou e todos conjuraram os feitiços de proteção e disfarce que impediriam que fossem vistos.
O coração de batia acelerado e a ansiedade rondava seu corpo. Eles não podiam escapar. O plano era se aproximar devagar da casa onde eles estavam e atacarem de todas as direções. A rede de Flu havia sido bloqueada e assim que eles se aproximassem do perímetro, já havia um bruxo pronto para bloquear a aparatação no quarteirão.

— O objetivo é capturá-los vivos, entendeu? — Harry disse — Precisamos prendê-los e levá-los para o Ministério em segurança.
— Sim, senhor — todos responderam.
— Vamos cercá-los, barrar a magia ao redor da casa e capturá-los — Potter disse — Depois disso, vamos curtir o feriado de natal com o gostinho de missão cumprida.

A bruxa responsável pelos feitiços de disfarce assumiu a posição de Harry e isolou totalmente o grupo. Nenhum trouxa ou ser mágico poderia vê-los. Em seguida, o bruxo que faria os feitiços de proteção tomou a frente e depois disso, o grupo de aurores estava pronto. O coração de batia acelerado em seus ouvidos e a cada segundo, ela pensava no que faria quando visse os dois irmãos em sua frente. A bruxa já tinha imaginado tantas e tantas vezes aquele momento que quando finalmente estava acontecendo, ela não sabia muito o que iria fazer. Só sabia que depois daquilo, poderia seguir em frente. Poderia se libertar de todas as amarras de seu passado e esperar a justiça ser feita.

A neve no chão abafava os passos do grupo e eles andavam em silêncio, cada um apreensivo do seu próprio modo. Um casebre de madeira quase sumia na paisagem por causa da neve, mas sabia que estava ali. Seus olhos estavam atentos e seus ouvidos captavam o menor barulho ao seu redor. Assim que eles chegaram em frente ao pequeno portão, Harry Potter fez o sinal para que eles se espalhassem ao redor da casa. seria aquela que iria invadir primeiro. Assim que todos estavam posicionados, Harry colocou a varinha na têmpora e transmitiu para todos a mensagem que esperava há cinco anos: AGORA!
correu e pulou o pequeno muro já com a varinha apontada para a porta. Pensou “bombarda!” e a porta da frente foi explodida ao mesmo tempo em que a porta de trás. ouviu um grito feminino e no segundo em que ela passou pela porta, pensou “Experliarmus!” e as varinhas de Amico e Aleto vieram parar em sua mão. Os dois estavam fazendo uma refeição na pequena mesa no centro da sala, o que facilitou ainda mais a abordagem.

— MÃOS PARA CIMA! — gritou e os dois bruxos levantaram os braços. Outro bruxo convocou algemas mágicas que foram até os braços e pernas dos dois.

Assim que a adrenalina baixou por alguns segundos, observou o ambiente e notou um lugar pequeno e gelado. Os gêmeos estavam magros de modo que era possível notar os ossos do rosto sobressalentes. As roupas pretas estavam puídas e o ambiente, apesar de limpo, não possuía toda a pompa e riquezas que a família Carrow geralmente possuía. Harry Potter entrou logo depois e se abaixou para conversar com os dois. Eles possuíam alguns machucados pelo rosto e mãos, provavelmente por conta da explosão que mandou estilhaços de vidro e madeira por todo o lugar.

— Amico e Aleto Carrow, vocês estão presos pelos crimes cometidos entre os anos de 1994 e 1998 — Potter leu o pequeno pergaminho com a ordem judicial — e agora estão sob custódia do Ministério da Magia do Reino Unido. Terão direito a um julgamento justo, mas até lá, estão em prisão preventiva e serão mandados para a prisão de Azkaban. As acusações são: Participação no grupo de comensais da morte do bruxo das Trevas, Lord Voldemort, Tortura físicas e psicológicas durante os anos de 1997 e 1998 em menores de idades na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts e a participação na 2º Grande Guerra Bruxa em 1998, além de fuga e tentativa de obstrução da Justiça. Outros crimes podem ser acrescentados ao longo do julgamento pela Acusação. Terão direito de defesa, é claro. Alguma pergunta? Vocês entendem a gravidade da situação? — Os dois não responderam nada — É, eu imaginei. Leah e Rufus vasculhem o lado de fora à procura de feitiços de proteção ou armadilhas. Tomem cuidado. Jane e Rony vasculhem os cômodos à procura de artefatos e documentos. Eu mandarei um patrono para a seção de aurores para mandarem uma Equipe de Busca. fique aqui.

Harry se afastou por alguns metros e convocou seu patrono, um veado, e assim que todas as informações foram gravadas, o animal brilhante saiu pelas paredes e seguiu por toda a Inglaterra. não conseguia tirar os olhos dos dois bruxos em sua frente, mas eles não a olhavam. A vontade de machucá-los subia e descia pelo seu corpo, mas sabia que precisava se controlar. Deveria respeitar as regras. Em quinze minutos de procura, as duas equipes acharam diversos artefatos mágicos, cartas que incriminavam outras pessoas e até uma chave de portal que havia sido barrada com as magias que os aurores fizeram. Olhar para os gêmeos Carrow era como olhar diretamente para o passado e para aquele ano tão sofrido em Hogwarts. Tudo o que havia vivido, todos os traumas e todos os medos estavam acabando ali. Eles seriam julgados e pagariam por todo o mal que causaram. O grupo de aurores voltou para perto dos criminosos e nesse momento, Aleto encarou e em seu olhar havia ódio e escárnio. A auror sentiu medo, mas tentou não transparecer, sustentando o olhar com toda a coragem que possuía.

— Aleto pronunciou o nome com ironia —
— O que tem meu nome?
— Não vejo nenhum anel no dedo… — a bruxa respondeu — Não é uma Malfoy.
— Não, eu não sou — respondeu e pelo canto do olho notou Harry se aproximando — Por que?
— Vejo que a família Malfoy finalmente tomou jeito e não incluiu teu sangue imundo na linhagem — Aleto disse e revirou os olhos — Oh, está fingindo que não se importa?
— Eu não estou fingindo nada — respondeu — Agora, cale a boca. Tem o direito de permanecer calada.
— Você não sabe disso, mas todo o plano de matar você… — Aleto começou a dizer e em sua voz pingava veneno — No final, eu sei que Lúcio Malfoy teria ficado grato se você tivesse morrido.
— ‘Tá legal, já chega, Aleto! — Harry alertou, mas a comensal da morte não se importou.
— É, você fazia parte da punição da família Malfoy, o mestre sabia quem você é… uma Dumbledore — Amico arregalou os olhos, mas não tentou barrar a irmã — Era necessário livrar de vez o mundo bruxo de pessoas como você! Lúcio Malfoy sorria toda vez que nós reportamos os teus movimentos para o mestre. Você era uma praga e precisava ser exterminada.
— Bom, mas vocês falharam — respondeu e olhou para baixo — Eu estou aqui, bem e viva, capturando vocês.

Aleto não respondeu nada, mas seu rosto se encheu de ódio e ela cuspiu nos pés de , deixando claro o que ela queria dizer. Um dos aurores que estavam acompanhando estava mexendo nos pertences dois e Amico gritou:

— NÃO TOQUE NAS MINHAS COISAS, SANGUE RUIM!

De alguma maneira, ele sabia que aquele auror era nascido trouxa e sua repulsa foi declarada abertamente. suspirou e só desejou que aquele dia acabasse logo, pois apesar de finalmente sentir que seu coração poderia finalmente relaxar, ela não se sentia feliz ou realizada. Na verdade, o sentimento que mais inundava seu peito era frustração.

Finalmente a noite de natal chegou e depois de todo o procedimento de prisão dos gêmeos Carrow, , Harry e Rony puderam ir para A Toca celebrarem o feriado com o resto da família. Além do feriado, a prisão dos Carrow havia sido divulgada em tempo real pelo Profeta Diário, então toda a comunidade bruxa estava em paz mais um pouco. O local estava cheio, além de toda a família Weasley, a família de estava lá e até os pais de Tonks haviam levado Teddy para passar o natal com o padrinho. A casa transbordava alegria e felicidade após a troca de presentes e as crianças estavam radiantes com os brinquedos novos. A neve caía do lado de fora e deixava toda a paisagem como se estivesse coberta por um grande lençol branco. Contudo, apesar da atmosfera quente e acolhedora, não se sentia vibrando na mesma sintonia que os demais. Dentro de si seu peito se agitava incomodado como se algo não estivesse correto, por isso a mulher se afastou de todos, saindo da cozinha lotada e indo para uma das janelas do andar de cima observar a neve cair enquanto bebia uma taça de vinho tinto. Sua ausência, entretanto, foi sentida por Harry que a seguiu. Potter subiu os degraus de madeira e encontrou sentada em uma pequena poltrona encarando o lado de fora. Ela usava um suéter com o W assim como ele.

? — ele chamou e a bruxa se virou para olhá-lo — O que houve? Você não parece bem.
— Eu estou bem, Harry — ela respondeu e deu um sorriso fraco — O Nathan mandou alguma coisa?
— Infelizmente não — Potter respondeu — Ele disse que tentaria vir, .
— Ele não vai vir — ela respondeu e se lembrou de seu querido amigo Nathan que em Hogwarts foi uma das pessoas mais importantes para ela — Eu não sei por que eu insisto em tentar me aproximar durante todos esses anos. Todo feriado, toda oportunidade que nós todos estamos juntos… Eu tento, mas acho que ele nunca deixará de me ver daquele jeito. Terá sempre medo de mim.
, você é uma bruxa poderosa — Harry tentou ajudar — Olha todas as coisas grandiosas que você fez, que você faz! Hoje você foi surpreendente lá e ainda manteve a calma quando Aleto tentou te provocar.
— Eu sei, Harry — respondeu e sentiu os olhos arderem — Eu me sinto mal por ele me ver dessa maneira.
— Você não pode controlar como Nathan ou qualquer outra pessoa enxerga você — Potter aconselhou — Nós sabemos a pessoa maravilhosa que você é e você deve saber também. É só isso que importa.
— Obrigada, amigo — ela respondeu e deu um sorriso — Eu vou tentar me lembrar disso. Ainda me culpo por tudo o que aconteceu com Nathan.
— Já passou, — Potter tentou ajudar mais uma vez — Deixe o passado no passado. O que me lembra de outra coisa: Você não parece feliz por ter finalmente capturado os Carrow, achei que você estaria radiante depois da manhã de hoje, soltando fogos e até brincando com as crianças.
— Ah, Harry — ela disse e suspirou, arrumando o corpo na poltrona para encarar Potter que estava sentado no chão em sua frente — Eu acho que posso ser sincera com você.
— Por favor — o amigo pediu.
— Eu estou me sentindo uma idiota — finalmente abriu o jogo — Uma tonta por ter me segurado na esperança de prender os Carrow por todo o esse tempo.
— Por que?
— Porque tudo isso não adiantou nada — ela disse — Tudo o que eles passaram nesses anos todos e agora a prisão… Eles não aprenderam nada, continuam pensando exatamente do mesmo jeito.
— Acho que estou entendendo.
— Harry, você escutou o que eles falaram para mim e para o Felix — começou a dizer — Eles devem ter sofrido horrores por todos esses anos, frio, fome, medo e não pensaram em um segundo que tudo o que eles fizeram era errado? Que acreditar em superioridade de raça é extremamente tóxico? Que nada daquilo valeu a pena?
— Eu entendo… — Potter respondeu e suspirou.
— Eu sei que eles precisam estar presos, afinal, eles são um perigo para a sociedade, mas será que eles vão refletir sobre o que fizeram? — ela perguntou e deu um gole no vinho — O quanto essa prisão vai ajudar, de fato, a eles repensarem o que entendem como correto?
— Eu também me pergunto isso — Harry confessou — Prender não é o suficiente, precisam de algo maior, caso contrário eles serão apenas comensais presos como aqueles que ficaram antes esperando o retorno de Voldemort.
— Isso até aparecer outro bruxo das Trevas que vai recrutar essas pessoas — disse — Eu não sinto que nós ganhamos aqui, Harry, eu sinto que nós conseguimos apenas um pouco mais de tempo até tudo desandar de novo.
— Nós podemos conversar com as pessoas — Harry sugeriu — Falar com Kingsley sobre isso, talvez criar uma política de reabilitação de prisioneiros…
— Bom, pode ser uma boa resolução para 2004 — disse e conseguiu sorrir um pouco.
— Não te garanto que vai dar certo, possivelmente teremos que criar um projeto, depois ele precisaria ser aprovado pela Suprema Corte dos Bruxos…
— Mas podemos tentar — disse e sorriu de novo, segurando a mão estendida de Harry — Será que Harry Potter mudará a história de novo?
— Se sim, será como da outra vez: acompanhado das melhores pessoas. — Potter respondeu e deu um sorriso — Vem, vamos voltar, ainda tem muito vinho para gente tomar.


***


A felicidade naquele lugar era extremamente falsa. A prisão dos Carrow havia abalado algumas famílias que estavam no jantar, então o casal Malfoy se esforçava para simular uma alegria e levantar a moral daquelas pessoas. Isso deixava Draco quase espumando de raiva. Em seu peito, surgia a vontade de gritar com todos, mandar toda aquela gente embora e ter paz sem precisar fazer pose para ninguém. Contudo, o bruxo não podia. Draco interpretou o papel de herdeiro promissor com maestria, conversando com os patriarcas, flertando levemente com as esposas e cansando os pés dançando com todas as jovens solteiras naquela mansão. Pansy estava lá e não parou de segui-lo com o olhar e Draco sabia que ela estava buscando uma mínima oportunidade para ficar sozinha com ele. A carência cantou em seus ouvidos, mas ele ignorou, não tinha tempo para isso. Precisava dar uma atenção extra para as garotas Greengrass, o que com certeza fez Pansy urrar de raiva, se pudesse. Astoria estava lá e em seu olhar, o bruxo conseguia enxergar certa expectativa depois de tanto tempo. Os dois estavam sentados em uma pequena namoradeira na sala de visitas e conversavam baixo sobre amenidades quando Draco notou que seu copo de whisky de fogo havia esvaziado muito rápido.

— Astoria, eu preciso buscar mais whisky — ele avisou e a jovem assentiu sem antes encará-lo profundamente.
— Claro, Draco. — ela disse educada e bebericou seu champanhe.

Era óbvio que ela tinha notado que o copo havia esvaziado rápido demais, estava na cara que Draco só estava suportando aquela situação porque estava se embebedando. O bar estava recheado de garrafas diferentes, então Draco apenas foi diretamente para o whisky e encheu seu copo. Nesse momento, alguém encostou em seu braço e ele notou os olhos espertos de Pansy.

— Ora ora, parece que alguém já está de saco cheio… — ela comentou ácida e com um sorriso perverso nos lábios vermelhos. Draco suspirou e desviou o olhar.
— O que você quer, Pansy? — ele perguntou enquanto tampava a garrafa e se virava para andar.
— Credo, Draco, eu só queria conversar um pouco com você — ela choramingou e fez uma expressão manhosa que em outros tempos teria feito Draco se render, mas naquele momento só aumentou sua angústia — Faz tanto tempo.
— Esta noite é um pouco difícil, Pansy — ele respondeu e suspirou — Eu estou ocupado.
— Eu estou vendo, teu pai mandou você conquistar a Greengrass? — Pansy perguntou com desprezo na voz.
— Você já foi mais educada. — Draco alertou.
— Ora, é apenas uma pergunta, não deveria te incomodar tanto — a mulher respondeu com deboche — Bom, eu e meus pais já estamos indo, mas eu posso ficar se você quiser.

Draco sabia que após a festa ele finalmente ficaria sozinho e ele não sabia se era ele mesmo ou o Whisky, mas a sensação de solidão o incomodou um pouco. A proposta de Pansy se mostrou tentadora e talvez se ele fosse um pouco inocente, ele não teria percebido que aquilo não era apenas pela companhia. Eles já estavam conversando há alguns minutos e se os pais de Pansy fossem embora e a mulher ficasse, seria uma demonstração pública de que havia certa relação entre eles. No final, aquilo até poderia ser Pansy querendo companhia, mas Draco sabia mais e melhor. Aquilo não era uma oferta inocente, era uma tentativa de declaração de importância e de aliança pública.

— É noite de natal, Pansy — Draco respondeu — Vá ficar com a tua família.
— Mas…

Draco se afastou da mulher e caminhou em direção a Astoria que agora estava conversando com uma senhora bruxa, talvez da família dos Yaxley. Ele não saberia dizer. De repente, a gravata borboleta em seu pescoço o sufocou, o ar ficou denso e quente, fazendo o suor descer pelas suas costas. A sala de visitas ficou pequena demais e os olhares curiosos se tornaram adagas em sua pele. Ele não aguentava mais aquele dia e o fato de que todos queriam algo de si. Fosse atenção, sexo, dinheiro, companhia ou influência. O whisky não ajudou em nada, somente deixou sua cabeça mais confusa. Ele precisava sair dali. Procurou seus pais com o olhar, mas não os encontrou. Era a oportunidade perfeita. Draco caminhou apressado para o hall de entrada e deixou seu copo em qualquer lugar, vestindo o sobretudo e finalmente abrindo a porta, sentindo o vento gélido e os flocos de neve caindo sobre seu corpo. O clima frio entrou pelos seus pulmões e ele finalmente conseguiu respirar, sentindo alívio imediato.

— DRACO! — alguém gritou e o rapaz quase chorou de frustração ao olhar para trás e ver que era sua mãe que vinha correndo colocando uma capa de frio rapidamente — O que está acontecendo? Onde você vai?
— Eu preciso sair um pouco — ele tentou explicar — O ar estava muito quente lá dentro.
— O que? Claro que não, nós cuidamos disso — Narcisa argumentou — Filho, o que está acontecendo?
— Eu não sei, mãe — Draco disse e ele notou que seus olhos ardiam — Todo mundo ali dentro quer alguma coisa de mim e isso foi demais.
— Draco, por favor, recomponha-se — Narcisa pediu — Já está acabando, já passou da meia-noite, logo as pessoas vão embora e você poderá descansar.
— Eu não quero esperar — O rapaz disse e começou a caminhar em direção ao portão — Preciso sair daqui.
— Você não vai atrás de , não é? — Narcisa disse — Draco, pelo amor de Deus, deixa essa mulher pra lá!
— Ah, mãe — Malfoy disse e revirou os olhos — Pelo menos ela eu sei que não quer nada de mim.
— Isso, vai lá se humilhar — Narcisa sentenciou — Você não aprende mesmo.
— Mãe — Draco disse e seus olhos estavam úmidos. Narcisa se assustou — Tem muita gente aí, tem muita coisa acontecendo e eu preciso de um pouco de paz. Eu não vou atrás dela, só preciso caminhar um pouco.
— Você tem quinze minutos — Narcisa ordenou — Eu quero você de volta em quinze minutos.

Antes que ela pudesse falar mais alguma coisa, Draco aparatou para longe. A sensação de enjoo inundou o estômago do bruxo e a confusão de ambientes enchia seus olhos. Tudo pareceu insuportável até que seus pés finalmente alcançaram o chão. Malfoy abriu os olhos e notou a rua de em seu campo de visão. Ele não havia pensado muito para onde ia, somente aparatou na esperança de ir para longe da mansão Malfoy. Seu pensamento não era o endereço de , ele só queria se afastar. Contudo, sua magia o levou para lá. Draco levantou o olhar e notou uma luz fraca emanando do apartamento de em cima da loja de roupas. O rapaz respirou fundo e caminhou para a porta já conhecida, notando que não estava escondida pela magia. Subiu as escadas e se deparou com a conhecida porta azul e a estátua grega que abriu os olhos no segundo que ele a encarou. A mão da estátua se descolou da madeira e deu três batidas. Antes que ele pudesse pensar direito o que estava fazendo ali, a porta se abriu e uma de pijama e varinha na mão apareceu. O olhar de suspeita dela se suavizou e uma surpresa genuína apareceu.

— Draco? O que faz aqui? — ele não respondeu de imediato somente a encarou — Então?
— Eu… Eu não sei — ele disse — Eu não pensei muito, só vim. Desculpe-me, eu vou embora, não deveria ter vindo.
— Você quer entrar? — ela perguntou — Você não parece bem, parece perdido.
— Eu não acho que deveria — Draco foi sincero e notou a expressão no rosto da mulher mudar para um sorriso divertido.
— Você já está aqui, entra logo.
— Tudo bem.

Draco passou pela porta e dessa vez o calor do ambiente não o incomodou. usava um pijama de frio além de um suéter com um W estampado. Passando o olhar pelo ambiente, ele notou uma garrafa de vinho aberta no chão perto do sofá. Ele tirou o sobretudo, os sapatos e a parte de cima do terno, afrouxando a gravata logo depois e dobrando as mangas da camisa cinza escuro. O ambiente parecia calmo e silencioso, exatamente o que ele precisava depois de toda a agitação da noite de natal. foi para a cozinha e voltou com uma segunda taça, dizendo logo em seguida:

— Eu só tenho vinho.
— Não tem problema — ele respondeu com um sorriso e seguiu a mulher, sentando no sofá. Observou servir o vinho para ele e deu um longo gole sentindo o gosto de álcool, uva e o amargo de um tinto seco. ficou em silêncio ao seu lado com as pernas encolhidas e um sorriso gentil — Obrigada.
— Não há de quê — ela respondeu — O que aconteceu? Não ia ter uma festa de natal na tua casa?
— Está tendo, na verdade — ele disse e suspirou fechando os olhos — Eu só não consegui ficar lá.
— Quer falar sobre isso? — ela perguntou e Draco notou sinceridade em sua voz.
— Ah, — ele disse e apoiou as costas, fechando os olhos e esticando as pernas. Ele parecia cansado, notou. — Eu me senti um vidro de poção de amor numa loja para adolescentes.
— Entendi — ela respondeu e riu um pouco da comparação — Todos estavam em cima de você?
— Todos, os Yaxley, os Greengrass, Pansy… — Draco estava listando, mas foi cortado.
— Pansy estava lá? — Havia incômodo da voz de .
— Sim — Draco respondeu — Isso te incomoda?
— Não — disse — Mas eu sei como ela gostava de você em Hogwarts, acho que isso não mudou desde lá.
— Ela tenta, mas no final eu só sinto pena — Malfoy confessou.
— Você não sentia pena em Hogwarts — comentou e Draco a olhou — Desculpe.
— Você está certa, não precisa se desculpar — ele disse — Eu não enxergava dessa maneira, não tinha maturidade para aquilo tudo.
— Entendi — respondeu e o rapaz não entendeu o motivo, mas quis se explicar.
— Ela não significa nada, — Draco disse — Não significava antes e não significa nada agora.
— Você não tem que se explicar, Draco, está tudo bem — sorriu e aquilo pareceu genuíno — É só que Pansy foi por muito tempo um problema para nós, acho que eu ainda carrego certa mágoa.
— Você também não tem que se explicar — Malfoy disse e deu um sorriso pequeno — Como foi hoje? Vocês conseguiram prender os Carrow, não é?
— Sim — ela disse — E foi relativamente fácil. Claro, tivemos que aplicar um número maior de magias de contenção e de quebra de feitiços, mas eles estavam esgotados. Só não deixaram de falar coisas horríveis.
— Talvez mofando na cadeia, eles parem com isso — Draco completou.
— Eu não tenho tanta certeza — disse e o silêncio pairou entre eles.
— Por que?
— Ah, Draco — ela começou a falar — Eu estava conversando com o Harry sobre isso. Será que prender é o suficiente? Porque eles não pareciam arrependidos, entende? Eles estavam furiosos por terem sido pegos, mas não demonstraram que entendiam o motivo da prisão. Eles chamaram um dos nossos aurores, o Felix, de sangue ruim.
— Por Merlin — Draco disse — Como conseguem ainda pensar desse jeito? Mas o que eu posso dizer, meu pai também não mudou nenhum pouco.

Mencionar os gêmeos Carrow trouxe a Draco a lembrança da última vez que ele havia estado ali e como tudo acabou de maneira bem desagradável. Eles haviam se desentendido e nada foi como ele imaginara. Ele havia agido de maneira imatura e disparado palavras que com certeza a machucaram. Mesmo sendo um adulto naquele momento, a frustração ao ser contrariado aparecia de vez em quando. Ele suspirou e encarou .

— Eu gostaria de me desculpar pela última vez que eu vim aqui — ele começou — Eu agi de maneira errada com você, .
— Sobre os Carrow? — ela perguntou.
— Sim, você estava certa — ele respondeu — Eu acho que eu só gostaria de estar com você de algum jeito. Eu sabia que seria difícil para você e claro, não serei hipócrita, gostaria de estar presente para ver o rosto deles.
— Está tudo bem, Draco — respondeu e sem saber se era o vinho ou simplesmente a vontade de falar a verdade, ela completou — Eles falaram sobre o teu pai.
— O que eles disseram?
— Teu pai sabia que fazer da minha vida um inferno fazia parte de todo o plano — explicou — E que ele ficava feliz quando eles reportavam as torturas.

Draco não falou uma palavra, mas notou os cantos dos olhos fechados dele se encheram de lágrimas enquanto mantinha o corpo estirado no sofá, exalando cansaço e tristeza. O coração dela se agitou ao vê-lo daquele jeito e ela queria tocá-lo, fazer um mínimo carinho, mas se segurou. Ao invés disso, esticou um pouco as pernas e assistiu Draco com os olhos ainda fechados, esticar sua mão direita que estava livre e fazer um carinho em seu tornozelo esquerdo de maneira despretensiosa, quase como se não tivesse prestado atenção no que estava fazendo, como se fosse algo comum, algo rotineiro. Ela deixou e apreciou o gesto. Draco abriu os olhos e bebeu o vinho, suspirando e encarando concentrado a lareira, perdido em seus pensamentos.

— Sabe o que é pior de tudo isso? — Draco disse de repente encarando com o olhar triste — Meu pai sabia o quanto eu amava você, ele sabia o quanto estar com você foi o que me manteve vivo naquela época e ainda assim ele endossou toda essa merda.
— Eu sinto muito, Draco — não soube o que falar, pois notou o quanto aquela informação era mais um punhal nas costas do herdeiro Malfoy.
— E no final ele ainda te usou para os planos dele — ele completou — Eu sei que Voldemort tinha muita influência, mas no final, eu acho que ele só incentivou essa maldade que existe no coração do meu pai.

não conseguiu argumentar ou dizer algo que poderia fazer Draco se sentir melhor. Draco tinha em sua mente um turbilhão de medo, planejamentos e indignação. A figura paterna de Lúcio Malfoy só se dissolvia a cada ano que passava, ficando cada vez mais difícil para o bruxo mais jovem ter qualquer sentimento positivo por aquele a quem chamava de pai e a cereja do bolo era aquela ceia idiota. Ele sabia que a notícia do jantar de natal iria se espalhar — era justamente o que Lúcio queria — e mais famílias iriam aparecer. Contudo, tudo isso poderia custar a liberdade da família. Se Kingsley fosse mais esperto, ele já iria interrogar os três. Seus dedos faziam um carinho no tornozelo da mulher ao seu lado e Draco se sentiu feliz ao perceber que havia deixado. Ele não sabia se deveria confiar naquela mulher à sua frente, mas resolveu dar um salto de fé e desabafar.

, eu estou genuinamente cansado do meu pai querer ser mais esperto do que os outros.
— Eu sinto muito, Draco — respondeu com pesar no tom de voz — Eu sei que você queria se manter o mais longe possível dos holofotes.
— Eu só queria que ele parasse… — Draco lamentou — Não se passaram nem uma década desde a última enrascada que ele nos meteu e meu pai já está fazendo de novo.
— Bom, você não pode conversar com ele? — sugeriu e quando Malfoy soltou uma leve risada, ela completou — Ou simplesmente não conversa, só age da maneira que você pensa que é apropriado e pronto.
— Eu não posso passar por cima da autoridade do meu pai, — o bruxo respondeu.
— Por que não? — a mulher devolveu — Você viveu esse tempo todo com ele passando por cima das tuas vontades e da tua moral, por que você está se preocupando com isso agora? Pelo menos você estará fazendo isso para algo bom e não para fazer alguma besteira.

Draco não admitiu, mas já tinha pensado nisso tantas e tantas vezes que a ideia estava fixa em sua mente como entalhes em madeira. Voltou sua atenção para o resto do ambiente e suspirou, tentando ignorar o pensamento de que estava certa. Se ele não assumisse as rédeas da situação o mais rápido possível, a família Malfoy poderia ir para a prisão. Ele olhou para que estava distraída encarando alguma coisa do outro lado da pequena sala e segurou um sorriso ao vê-la ali. Jamais imaginou que estaria tão perto dela depois de tanto tempo. As águas daquele rio já tinham corrido para tão longe que ele pensava que os sentimentos da adolescência estavam no mar há eras. Contudo, lá estava Draco segurando sorrisos, suspiros e a ânsia que crescia em seu coração de se aproximar, se declarar e tentar de novo. Ora, porque ele poderia ser muitas coisas e ter cometido absurdos, mas naquilo ele nunca havia mentido para si mesmo: ainda nutria sentimentos por mesmo com todos aqueles anos separando o último contato deles. Porém, tentando não ir por esse caminho, perguntou:

— E como foi o teu natal?
— Ah, o mesmo de sempre — respondeu e abriu um sorriso — Muita comida e muito barulho. As crianças já estão naquela fase que não param de falar e gritam por tudo.
— Crianças? — Draco perguntou confuso.
— É, Victoire, filha de Fleur e Gui, e o Teddy, filho do Lupin e da Tonks — explicou — Harry é padrinho do Teddy, então nos feriados os pais de Tonks passam conosco. E Fleur e Gui acabaram de ter um bebê também.
— Ah, sim — Draco exclamou — Não sabia que Potter era padrinho do filho da Tonks.
— Bom, ele é — ela respondeu — Achei que você sabia já que Narcisa é irmã da mãe da Tonks.
— Bom, você deve imaginar que não temos contato com ninguém da família de mamãe — Draco disse — Nunca tivemos, na verdade. Os únicos parentes que visitavam nossa casa eram tia Bella e o marido sinistro dela.
— Entendi.

permaneceu em silêncio, pois a menção a Bellatrix Lestrange fez toda uma série de lembranças negativas pipocarem em sua mente. Toda a família de Draco já havia sido tremendamente hostil com ela e ainda se lembrava dos constantes pesadelos que tinha na adolescência em que a trilha sonora era a risada sinistra da bruxa das trevas. Lembrando disso e olhando para o bruxo em sua frente, quase teve vontade de rir ao se lembrar de que quando era adolescente, havia cogitado, de fato, viver com Draco para o resto de sua vida. Isso jamais poderia ter dado certo, afinal, no sistema que Malfoy vivia, o casamento não era apenas a união de um casal, mas sim, a união de famílias. “Quando somos jovens, temos cada ideia”, ela pensou e deixou uma risada escapar.

— Por que está rindo? — Malfoy quis saber curioso.
— Não fique triste com o que eu vou falar, mas eu estava lembrando como cogitei viver com você para sempre. — ela respondeu.
— Essa doeu — Draco comentou.
— Eu sei, eu sei — tentou explicar — Mas eu fiquei pensando em tudo o que você falou sobre o natal ter se tornado mais um jantar de negócios do que uma celebração em família e acho que eu não aceitaria isso tão bem. No final, prefiro a ceia simples dos Weasley. Eu não acho que conseguiria ser uma boa esposa para você.
— Por que acha isso? — Draco perguntou, mas tentou esconder a pequena tristeza que nasceu com a última fala da mulher.
— Não conseguiria ficar tanto tempo fingindo estar feliz em um lugar onde eu não estou — disse — E isso seria notável. Teus pais provavelmente iriam surtar.
— Eu não te obrigaria a fazer esse tipo de coisa, você sabe disso — Draco argumentou e encarou — Eu sempre te aceitei do jeito que você é, não te pediria pra mudar um fio de cabelo por causa do que a minha família quer para você.

não respondeu, mas não conseguiu suprimir o pequeno sorriso que enfeitou seu rosto ao ouvir as palavras de Draco. Eles se olharam e ela deu um leve chute na coxa do rapaz, como se estivesse agradecendo pelas palavras. Draco revirou os olhos, mas acabou rindo por causa do gesto. Na cabeça dos dois, cenários imaginários sobre essa vida pipocaram e mesmo com a fala de Malfoy sobre aceitar do jeito que ela era, ambos sabiam que não daria certo. Contudo, o famoso “E se?” teimou em aparecer e antes que seu coração se enchesse de esperança, o rapaz perguntou:

— Por que voltou cedo da ceia de natal?
— Eu estou cansada por causa do dia — respondeu uma parte da verdade — Muitas emoções, muitas ações que precisaram ser tomadas. O Profeta Diário ficou na porta do nosso departamento o dia todo hoje, não deram um descanso.
— Parece ter sido um dia estressante — Draco comentou — Mas foi só isso que te fez voltar mais cedo?
— Não — ela respondeu e tentou não parecer surpresa com o fato de que mesmo depois de tantos anos, Malfoy ainda conseguia lê-la com maestria — Na verdade, a prisão dos Carrow foi algo que me impactou muito. Eu passei cinco anos da minha vida vivendo na esperança desse dia chegar e agora que chegou, eu não sei muito o que fazer a partir disso.
— O que você está pensando? — Draco perguntou.
— O que eu faço agora? — ela respondeu com a pergunta que pairava em sua mente — Não terminei Hogwarts, não acho que consigo fazer outra coisa além de ser auror.
— Continue sendo, oras — Draco disse o óbvio — Isso te faz feliz?
— Sim — ela respondeu e suprimiu um sorrisinho — Eu amo o que eu faço.
— Então, continue fazendo — ele respondeu com um sorriso — Eu gostaria muito de voltar para casa depois de um dia cansativo e ter esse teu sorriso no rosto, essa sensação de saber que está fazendo o certo, esse sentimento de ter achado meu caminho. Não perca isso. É algo raro.

Os dois ficaram em silêncio novamente e sentiu vontade de novo de tocar em Draco, nem que fosse um mísero abraço sem nenhuma intenção oculta. Ela encolheu as pernas e se aproximou, sentando ao lado dele. Draco quando percebeu o movimento, ajeitou a coluna e sentou direito, encarando a mulher que tinha ternura em seu olhar. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, o abraçou pelos ombros, escondendo o rosto ali. Malfoy deu um sorriso e segurou os braços dela, não quebrando o contato.

— Ei, o que foi? — ele perguntou baixinho e viu a mulher levantar o rosto e olhá-lo.
— Obrigada pelo que disse — disse e sorriu — Confesso que esse questionamento estava rondando minha cabeça.
— Ah, não seja boba, — Draco disse e apertou o nariz dela de leve — Você é muito boa no que faz, seria um desperdício parar com isso e ir fazer outra coisa. Duvido muito que eles iam deixar também. Potter não é burro, ele sabe que você é melhor que ele.
— Ai, Draco — ela riu e ele a acompanhou — Ainda com a richa besta com o Harry?
— Sempre, amor.

O apelido carinhoso reverberou pelas paredes e voltou em cheio no coração de ambos. Eles pararam de falar e os olhares se encontraram como o rio encontra o mar, como se aquilo fosse rotina, como se os olhos tivessem sido feitos para aquilo. suspirou e deu um sorriso, finalmente fazendo um carinho no rosto do rapaz como tanto quis a noite inteira. Tocá-lo era como voltar para casa. De repente, todos os motivos para que a relação deles não acontecesse foram embora de sua mente. Não podia culpar o vinho, a vontade de beijá-lo e estar com ele sempre estivera ali. Se fosse sincera consigo mesma, o desejo nunca tinha passado, ela apenas cumpriu a promessa que havia feito, seguiu sua vida sem esperar por Draco. Porém, anos depois, ela não precisou ir até ele. Como se alguém estivesse entrelaçando as linhas de suas vidas, Draco apareceu em sua porta. Malfoy beijou a palma da mão da mulher que estava em seu rosto, depositando em seguida um beijo singelo em cada ponta dos dedos. Seu coração batia acelerado como se tivesse voltado a ser adolescente. Sentia-se inexperiente e nervoso. E talvez ainda fosse, com 22 anos o que ele podia saber tanto da vida assim?

— Draco…
— Hum?
— Eu… — começou a dizer — Eu não esperei você, fiz o que me pediu.
— Sim, você fez — ele respondeu e entrelaçou sua mão com a de .
— Eu achei que isso tinha acabado… — ela disse — Que tomamos a decisão certa quando terminamos em Hogwarts.
— Onde você quer chegar? — ele perguntou e naquele momento, Draco havia virado totalmente seu corpo para o lado, para que pudesse encarar . Colocou a mão no pescoço dela e a outra na cintura, puxando a mulher para ainda mais perto.
— Então por que eu sinto que nada mudou? — ela confessou — Porque eu ainda te sinto como meu lar?
— Porque talvez eu nunca deixei de ser — ele devolveu e beijou a bochecha dela demoradamente antes de finalmente beijá-la.

Apesar dos corações acelerados, os dois não tinham pressa. segurou o rosto de Draco e correspondeu, abrindo os lábios e deixando Draco Malfoy intensificar o beijo. Passou suas mãos para o cabelo do rapaz e se aproximou mais, tentando sentir o corpo do bruxo mais perto. Os braços de Draco a abraçaram e o rapaz envolveu sua cintura enquanto a beijava com calma, mas com firmeza. Não precisava de delicadeza ali, não era de vidro. Ela sugou seu lábio inferior e guiou seus lábios espertos para o pescoço dele, notando o suspiro longo que Draco soltou e o aperto mais firme em sua cintura. Quando lambeu o lóbulo de sua orelha, Malfoy sentiu o tesão se instalar. Contudo, ele a deixaria conduzir. , por sua vez, já estava excitada e voltou a beijá-lo nos lábios, porém com mais vontade, arfando quando Malfoy sugou sua língua e subiu suas mãos para a nuca, apertando com um pouco mais de força. O beijo continuou e sem parar de beijá-lo, agarrou a camisa do rapaz e o puxou para deitar sobre ela no sofá, abrindo as pernas para que ele conseguisse se aproximar mais. Ele não esperava por esse movimento, mas a obedeceu, porém no caminho seu pé esbarrou em uma das taças de vinho, derrubando tudo no chão.

— Oh, não — Draco disse e encarou com uma expressão culpada — Me desculpe.
— Não tem problema — respondeu olhando para o chão e dando um pequeno sorriso travesso — A gente limpa isso depois.
— Você me puxou muito rápido, não deu para eu calcular meus movimentos muito bem — Draco explicou.
— Eu não quero você calculando movimento nenhum — respondeu e Draco enxergou o puro tesão nos olhos da mulher — Quero você agindo com o coração.
— Eu estou agindo com o coração desde que eu aparatei na tua rua. — Ele finalizou o assunto e voltou a beijá-la.

O casal continuou se beijando por longos minutos, deitados no sofá da pequena sala, iluminados por uma lareira que não se apagava graças à magia. não se cansava de puxar o pescoço de Malfoy e mergulhar naqueles olhos azuis antes de beijar os lábios do homem que fazia suas pernas tremerem e o coração disparar. Draco continuou deitado no meio das pernas da mulher e se acomodou melhor, apoiando os cotovelos na lateral da cabeça dela enquanto a olhava com ternura. Torceu para que ela não notasse que ele faria qualquer coisa que pedisse, para que ela não visse que Draco estava completamente rendido e entregue. Ficaram se beijando preguiçosamente até que a atmosfera mudou, os movimentos se aceleraram e a textura das roupas começou a incomodar. Draco não falou nada, não tinha coragem de perguntar quais seriam os próximos passos, mas a sua ereção roçava de leve no fundo da calça de algodão de e isso era mensagem o suficiente.

— Draco, quer ir pra minha cama? — ela perguntou e ele quase ajoelhou em gratidão.
— Podemos ir — ele respondeu calmamente e se levantou, tentando não pisar no vinho. sem precisar de varinha fez a bebida sumir — Você está fazendo feitiços sem varinha?
— Bom, estou tentando — ela explicou — Se eu estiver em combate, não posso me dar o luxo de não me defender caso eu perca minha varinha.
— E você ainda se perguntou se deveria continuar sendo auror — ele brincou — Francamente,
— Por favor, me deixe ser um pouco insegura, que isso! — devolveu a brincadeira e entrelaçou os dedos nos de Draco enquanto o conduzia até o pequeno quarto.

De novo, Draco se surpreendeu com o espaço. O único quarto do pequeno apartamento seguia o padrão do resto, cabendo apenas uma cama de casal com cabeceira de ferro embaixo da janela, uma cômoda de madeira escura e uma mesa de cabeceira branca. Contudo, era aconchegante e apesar de não possuir uma lareira estava quente. Draco se surpreendeu com a quantidade de livros e plantas que havia espalhada por prateleiras de diferentes materiais: madeira branca, escura e até metal. Era como se tivesse juntado tudo aquilo aos poucos, sem muita ordem ou até um projeto em mente. Tão diferente do quarto dela na casa dos avós ou o dele na mansão Malfoy. retirava as almofadas de cima da cama e jogava no chão e Draco não perdeu tempo, abraçou-a por trás e depositou beijos em sua nuca. Sentiu a respiração de alongar e passeou com as mãos por todo o corpo da mulher, apalpando de leve seus seios e infiltrando a mão direita para dentro da calça dela. Sentindo que não houve resistência, continuou, sentindo os pelos pubianos e o clitóris que já estava inchado, quente e úmido. Gemeu baixinho no ouvido da mulher, sentindo as mãos de em seu braço e sua bunda rebolando diretamente na sua ereção.

(n/a: Por favor, dê play em Half of Forever — Henrik e em seguida em Talk — Hozier. Se precisar, repita essa sequência até a cena acabar!)

O dedo de Draco foi certeiro em seu clitóris e rebolou no mesmo instante, juntando mais seus corpos, segurando o braço direito de Malfoy. Draco movimentou a mão direita do clitóris para os grandes lábios e com a esquerda, massageou seu mamilo, tudo isso enquanto lambia seu pescoço. Ele sabia exatamente o que fazer, a experiência de todos aqueles anos sendo demonstrada em cada movimento decidido. caminhou sua mão esquerda para a nuca do rapaz, deixando o pescoço para o lado, permitindo ser lambida e chupada sem pudor. Com a direita, alcançou a ereção de Draco por cima da calça de alfaiataria e massageou, notando Draco vacilar por um segundo. Ele estava totalmente duro e senti-lo — ainda que por cima da calça — fez o corpo dela pegar fogo. Eles se masturbaram naquela posição até que não aguentou e se virou para beijá-lo. A quebra de movimentos durou um segundo, pois Malfoy já estava lá novamente, a penetrando com os dois dedos enquanto massageava seu clitóris com o polegar. Ele aumentou a velocidade da sua mão e soltou um suspiro longo quando invadiu sua calça e segurou seu pênis sem receio nenhum, masturbando-o logo em seguida. O movimento de subida e descida já estava o fazendo perder a cabeça, então ele parou tudo para olhar os olhos de antes de sorrir e sugar os dois dedos que estavam dentro dela. Sentindo seu gosto, sorriu satisfeito antes de se abaixar, puxando a calça e a calcinha dela para baixo.

— Deita.

A voz grave e a determinação no olhar de Draco fez ficar ainda mais molhada e ela obedeceu, deitando e tirando o suéter junto com a camiseta antiga que usava como pijama. Foi inevitável Draco não se surpreender com a quantidade de tatuagens que a mulher possuía. Havia ramos e flores que iam desde o pulso direito até quase o pescoço, além de uma série de frases e símbolos espalhados por todo o resto do corpo. Ela parecia uma tela de pintura e ele um visitante maravilhado que foi vê-la em um museu.

— Tão linda… — ele sussurrou mais para si mesmo do que para ela enquanto abria as pernas da mulher e se ajeitava em frente a ela.

não pôde agradecer o elogio, pois no segundo seguinte, a língua de Draco já estava em seu clitóris e suas mãos segurando seu quadril. Ele começou devagar enquanto a olhava seriamente, sugando com firmeza. suspirou e fechou os olhos, segurando nos lençóis enquanto sentia sua vagina pegar fogo e a língua certeira de Malfoy exatamente onde ela gostava de ser tocada. Draco acariciava suas coxas e quando começou a alternar entre sugar e lamber, agarrou os cabelos do bruxo e sentiu seu corpo começar a tremer. Malfoy parou por um momento somente para sorrir da maneira mais safada de todas e foi até ela, deixando um selinho delicado enquanto se levantava para tirar sua própria roupa já que estava suando demais dentro daquela camisa e calça social. aproveitou para assistir e quando finalmente Draco estava nu, ela sentiu seu útero se contorcer de prazer. Levantou o corpo e puxou Malfoy para se encaixar em suas pernas, sentindo o pênis dele roçar em seus grandes lábios. Os dois gemeram, mas antes de continuar, Draco perguntou:

, considerando que nós já passamos por isso antes — ele suspirou antes de continuar — Estamos seguros? Podemos transar?
— Sim, eu estou tomando poções mais fortes agora — ela respondeu — Não preciso pedir de maneira clandestina para a madame Pomfrey. Não vamos engravidar.
— Certo — ele respondeu e assistiu sorrir safada — O que foi?
— Continua o que estava fazendo.

Sem hesitar, Draco voltou para o meio das pernas dela e voltou a chupá-la, dessa vez de maneira um pouco mais rápida, sentindo apertar sua cabeça com as pernas quando ele acelerava mais os movimentos de sua língua. fechou os olhos e gemeu um pouco mais alto quando sentiu o rapaz a penetrá-la com dois dedos enquanto ainda a chupava. Draco era intenso e quando notou a respiração da mulher ficando mais acelerada, ele a imitou com a língua e com os dedos. As paredes internas da mulher apertaram seus dedos e ele sentiu que ela estava perto de gozar. Continuou seus movimentos certeiros, notando que cada vez mais, desaguava em seus lábios, ficando mais e mais molhada. O gosto dela era o mesmo da adolescência e aquela familiaridade o agradou. gemeu mais alto e sentiu seus ouvidos ficaram momentaneamente surdos quando o clímax veio. Suas pernas tremeram loucamente, a respiração ficou suspensa e seu corpo todo se contraiu ao redor da língua de Draco enquanto gozava. O relaxamento veio e uma lágrima caiu de seu olho esquerdo. Draco levantou-se e beijou o interior das coxas da mulher e quando ela o olhou, Malfoy lambeu os lábios, sentindo o gosto da mulher e gemendo com o sabor. Ele achou que a mulher precisaria de uns minutos, mas se surpreendeu quando levantou e empurrou seu corpo para o colchão, montando em cima dele com um sorriso tentador.

— Se importa? — ela perguntou sentada em cima dele enquanto rebolava lentamente. As mãos de Draco foram para seu quadril no mesmo momento.
— Claro que não, cavalgue o quanto quiser — ele respondeu e sorriu, mas o sorrisinho presunçoso foi embora quando se ajeitou e sentou em seu pênis, começando a rebolar logo em seguida.

Draco gemeu alto e fechou os olhos, sentindo o movimento de bem devagar. Enquanto a mulher estava sentada, puxou as mãos dele para seus seios e fechou os olhos. Draco entendeu e massageou os mamilos rígidos da mulher enquanto a assistia se ajeitar e mexer o quadril, rebolando um pouco mais rápido. O movimento e a visão o faziam ficar maluco. Quando ela o apertou, Draco gemeu alto novamente e sorriu, aumentando o ritmo do seu rebolado. A velocidade rápida, o barulho dos corpos em movimento e as paredes internas o apertando, estavam o levando muito rápido para o fim. Controlar sua vontade de gozar foi difícil quando aumentou mais ainda o ritmo e começou a gemer descontroladamente. Ela recuou um pouco as costas e se apoiou nas coxas dele, rebolando mais rápido. Deliciosamente, ela parecia perto de gozar de novo. Draco se segurou e tentou pensar em mil coisas para não gozar, pois ele queria mais. simplesmente se descolou de si mesma e sentiu novamente a sensação de clímax invadir seu corpo. Ela caiu exausta em cima dele. Draco trocou posições, ficando por cima e penetrando a mulher com intensidade, escutando gemer alto. Eles se olharam e ela abriu mais as pernas, dando mais espaço para ele. Ali, Malfoy não segurou mais a vontade de gozar e entrava e saía dela muito rápido, dando o que seu corpo pedia. sentia a intensidade dos movimentos do rapaz aumentarem ainda mais e quando Draco começou a gemer o nome dela, ela quase gozou uma terceira vez.

— Eu vou gozar… — ele avisou de olhos fechados.
Vem, Draco — ela respondeu arranhando as costas deles e sugando o lóbulo de sua orelha.

Draco continuou em um ritmo quase animalesco. A cama rangia, batendo na parede e um dos livros de uma das prateleiras da parede da cama caiu no chão. O suor fazia tudo ficar mais fácil e Draco se perguntava como ele havia ficado tanto tempo sem aquilo, sem transar com , sem venerá-la e adorá-la como ela merecia. Os dois entrelaçaram as mãos direitas e a conexão dos dois ultrapassava aquele quarto, aquele bairro. Podia encher o Beco Diagonal e ainda passaria para o mundo trouxa. Draco encarou que tinha uma expressão de prazer e os olhos fechados. Ela sussurrou o nome dele algumas vezes e isso o fez gemer. Sua mente se apagou e o rapaz não conseguia focar em nada além da vontade que crescia a cada segundo dentro de si. Os corpos se chocando com violência e as paredes de o apertando o conduziam para outro patamar, em que ele não conseguia mais segurar. Draco levantou o corpo ligeiramente, mudando a inclinação de seu pênis e conseguindo mais pressão, continuando com o ritmo rápido que estava. Nesse momento, ele não aguentou mais. O clímax veio e ele sentiu seu corpo retesar, gozando dentro de . Um gemido gutural saiu de sua garganta e ele soltou o peso do corpo em cima da mulher, deitando a cabeça em seu peito. As respirações aceleradas enchiam os ouvidos dos dois e o abraçou apertado, sentindo que poderia chorar de felicidade por ter vivido aquilo e estar com Draco perto de si depois de tantos anos. Malfoy saiu de dentro dela e deitou ao seu lado, virando para olhá-la. Eles sorriam um para o outro e naquele momento, Draco teve que se segurar muito para não deixar escapar que a amava. se virou e beijou a testa dele em um carinho tão singelo que contrastava com todos os atos profanos que eles tinham acabado de fazer. Draco permanecia ofegante e não conseguia parar de sorrir.

— Por que está sorrindo? — perguntou enquanto se aproximava mais, entrelaçando suas pernas com as dele. Draco passou a mão em sua cintura e suspirou.
— Porque eu estou feliz — ele respondeu simplesmente — Feliz de estar aqui.
— Eu estou feliz que você está aqui — disse e fez um carinho na testa suada de Malfoy.

Antes que ele pudesse responder, ela o beijou, passando seu braço esquerdo pelo ombro dele e aproximando mais seus corpos. Draco correspondeu, sugando sua língua e fazendo um carinho nas costas nuas da mulher. finalizou o beijo, sugando o lábio inferior de Malfoy. Eles se olharam profundamente e na mente dos dois, toda a história que compartilhavam passou sob seus olhos. O começo conturbado, a traição de Draco, os momentos em que foram testados, a reconciliação mágica, os desafios dentro de Hogwarts, a gravidez não planejada, a perda do bebê e a quebra da ligação mágica, o término triste, mas necessário… Eles nunca tiveram um momento de completa paz, no fundo não sabiam como se comportar vivendo sem problemas. Eles nunca tiveram a chance de ter um amor tranquilo. Será que naquele momento, uma chance estava se desenhando?

— Draco a chamou — Eu… Eu não quero ir embora.
— Então não vá — respondeu e suspirou — Fique o quanto quiser.

Draco sorriu e puxou para um abraço apertado, sentindo pela primeira vez desde o começo daquele dia, uma paz monumental e uma noção de pertencimento. E depois de se amarem em um lugar sem esperança nenhuma de felicidade por dois anos, naquela noite de natal, cinco anos depois de toda a miséria que viveram, adormeceu nos braços daquele que ela sempre havia amado e Draco pôde cheirar os cabelos daquela a quem ele nunca esqueceu.


FIM



Nota da autora: Esta é a minha última nota da autora depois de treze anos escrevendo esta fanfic. Eu passei literalmente metade da minha vida escrevendo esta história. Eu comecei a escrevê-la (refiro-me à primeira parte) quando eu estava no ensino fundamental, tinha acabado de beijar pela primeira vez e não tinha nenhuma responsabilidade além de estudar e me afundar nos livros de Harry Potter. Agora, eu termino já uma mulher, formada, prestes a me casar e trabalhando. De tantas coisas que eu vivi, término da escola, um relacionamento abusivo, pandemia, perda de entes queridos, me apaixonar de novo e descobrir que existe amor tranquilo, ter uma depressão profunda, ser demitida, conseguir um emprego, sair desse emprego, entrar em outro… A única constante esses anos todos foi “A Hopeless Place”. A única coisa que eu sabia era que era 100% minha, que não dependia de ninguém e que estaria me esperando pacientemente em um documento do Google Docs. E agora acabou.
Passamos por tantas coisas juntas, não é mesmo, queridas leitoras? Sumiço de betas, plágios em outras plataformas, a JK Rowling se revelando o diabo na terra… E mesmo que eu tenha tentado escrever outras coisas, AHP foi sempre a minha prioridade e escolha.
Eu só queria finalizar esta nota da autora agradecendo a você, leitoras que está comigo há treze anos. Eu sei quem vocês são e fico muito feliz de saber que vocês cresceram comigo e que me acompanharam até aqui. Obrigada por existirem, por não terem desistido de mim. Finalizo esta história por mim, mas por vocês também. Espero que sempre que vocês quiserem fugir um pouco da realidade e mergulharem em um amor adolescente repleto de magia, voltem aqui. E não se esqueçam de que este é o nosso Draco, nossa história.
E também quero agradecer a vocês, leitoras novas, que eventualmente aparecerão por aqui, doidas por uma fanfic finalizada e um Draco Malfoy mais profundo. Esta história também foi finalizada por vocês.
Quero agradecer também à minha beta-reader atual, Sté, que com muita paciência aceitou betar essa reta final. E vale um agradecimento para todas as minhas betas anteriores que ficaram comigo por anos.
E por último, quero agradecer ao Fanfic Obsession que foi minha casa por tantos anos e vai continuar guardando esta história que é um dos meus bens mais preciosos.
Obrigada, pessoal.
Com amor,
Vica.

21/09/2024: Oi, pessoal, é a Vica! Antes de vocês iniciarem a leitura, eu gostaria de deixar uma espécie de aviso. Eu comecei a escrever esta fanfic quando eu tinha 14 anos e terminei o último capítulo da segunda parte este ano com 27. De 2011 para 2024 muita coisa mudou. Eu cresci, nós crescemos. Eu era uma adolescente dos anos 2000, o que significa que tinha em mim diversos valores, princípios e pensamentos que hoje em 2024, eu não concordo nenhum pouco. O começo desta história reflete o contexto em que ela foi escrita. Eu não compactuo mais com tais ideias e por não querer tirar toda a história do ar, achei melhor avisar a todas e todes de que eu mudei (e muito) nesses 13 anos. Além disso, também descobrimos que a autora de Harry Potter é uma pessoa repleta de preconceitos e portanto, quero deixar claro que não concordo com nada que ela falou ou pensa. Ainda bem que temos as fanfics para continuarmos com esse universo <3
Com este aviso, eu desejo a vocês uma boa leitura porque esta ainda é uma história de amor de dois inimigos vivendo num lugar sem esperança, mas que ainda assim, desejam mais do que nunca estarem juntos.





Outras Fanfics:
A Hopeless Place (Harry Potter/Finalizadas)
Heart On Fire (Outros/Finalizadas)
0.3 U.N.I (Ficstape Ed Sheeran - +/Finalizada)
0.7 I Refuse (Ficstape Simple Plan - Taking One for the Team/Finalizada)


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