CAPÍTULOS: [Prólogo] [1] [2] [3] [4] [5] [6] [7] [8] [9] [10] [11] [12] [13] [Epílogo]









Última atualização: 05/06/2017

Prólogo


Adolescência... época da vida em que não sabemos o que esperar da vida, temos nossos medos, dúvidas, sonhos. É também a época em que as nossas responsabilidades começam a se definir. Aparecem os vestibulares, ENEMs e a pressão de escolher o que queremos ser na vida, mas é também a época em que fazemos grandes amizades, nossos sentimentos são intensos e vivemos histórias que vamos levar pro resto da vida.

Capítulo 1 - A Chegada


Meu nome é Valentina Bittencourt, mas pode me chamar de Nina. Tenho 17 anos, 1.75 de altura, cabelos castanhos cacheados na altura dos seios e olhos azuis; nasci em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, mas fui bem pequena para o Rio de Janeiro. Meu pai é engenheiro civil e foi chamado para trabalhar na Odebrecht, na construção de um estádio, sendo assim, nos mudamos pra Curicica, eu, meus pais e meu irmão gêmeo, Guilherme. Tivemos uma infância tranquila, brincamos bastante, caímos, nos machucamos, viajamos e aproveitamos do jeito que uma criança deve aproveitar.
Conforme fomos crescendo, fomos descobrindo em que éramos bons. Meu irmão sempre teve jeito pra música, desde pequeno aprendeu a tocar violão e guitarra, e no inicio da adolescência começou a fazer aulas de canto. Já eu tinha mais facilidade com os números, resolvia equações rapidamente, fazia diversas contas mentalmente e minhas maiores notas eram em Matemática, matéria que a minha mãe leciona; também aprendi a cozinhar e fazia alguns doces pra vender na escola, como forma de ganhar um dinheirinho pra comprar minhas coisas.
Até o ano passado, estudamos no Colégio Dom Pedro II, onde vinha estudando com afinco e me preparando para ingressar em uma universidade fora do país. Entretanto, esse ano fomos obrigados a nos mudar do Rio para Canela, também no Rio Grande do Sul. Minha mãe recebeu uma proposta pra lecionar no Colégio Marista Maria Imaculada e como o meu pai já aposentou, ela não hesitou em aceitar e nos mudamos. Melhor pra mim, já que nesse colégio eu vou poder dar continuidade aos meus estudos e preparação para ingressar em Harvard, nos Estados Unidos.
O lado ruim de ter que se mudar no último ano do Ensino Médio foi ter que deixar os amigos que fizemos ao longo desse tempo no Rio. Não vou dizer que essa ideia me agradou muito, ter que deixar a Maya e a Fernanda, que são minhas melhores amigas, para encarar uma nova escola, onde a única pessoa que eu conheço tem a minha cara, não é legal. O Gui também teve que abrir mão dos amigos e da banda de rock, chamada Perdidos na Noite, que ele tinha com o Nelsinho, o Jordan e o Leônidas. Com a nossa mudança, o César, mais conhecido como Piolho, assumiu os vocais no lugar dele.
Enfim, chegamos a Canela no meio de Janeiro e duas semanas depois já estávamos totalmente estabelecidos. Nossa casa ficava a uns dez minutos do colégio, andando a pé, e tinha três quartos. A decoração era bem simples: paredes brancas, pisos e móveis de madeira, uma lareira na sala, pros dias mais frios, e uma piscina no quintal, pros dias mais quentes. No colégio precisamos passar por uma entrevista pra conseguir fazer a matrícula, mas foi tranquilo.
Hoje é o primeiro dia de aula e eu tô bem nervosa; estudei a vida inteira no mesmo colégio e nunca precisei me adaptar assim, mas acho que vai dar tudo certo. Minha mãe me acordou por volta de 06h e eu fui tomar banho. Depois, vesti o uniforme, prendi o cabelo num rabo de cavalo, peguei a mochila e desci pra tomar café. Estavam todos reunidos em volta da mesa; meu pai lia o jornal, minha mãe terminava de comer uma torrada com geleia e o Gui preparava um copo de Nescau batido.
- Bom dia. – disse, me sentando ao lado do meu pai e pegando um pão com queijo e presunto.
- Bom dia, minha filha. Animada pro primeiro dia de aula? – meu pai perguntou.
- Não, você sabe que eu não sou muito boa em fazer amizades, ainda mais quando eu não conheço ninguém.
- Deixa de ser dramática, garota. Até parece que eu não vou estar com você. – Guilherme disse, sentando ao lado da minha mãe.
- Você e nada é a mesma coisa. Vai chegar lá, se enturmar e esquecer que eu existo. – reclamei.
- Crianças, parem de briga. Valentina, para com essa bobeira de achar que não vai fazer amizades. Você é uma menina inteligente, bonita, vai ter muitas amigas na escola nova. E Guilherme, nem pense em abandonar a sua irmã. Agora terminem logo esse café, se não chegaremos atrasados. – minha mãe disse, levando sua xícara até a pia da cozinha.
Terminamos o café da manhã, escovamos os dentes e saímos. Como a escola é perto de casa, fomos a pé. Chegamos lá cerca de quinze minutos depois e a minha mãe foi direto pra sala dos professores; eu e Gui fomos orientados a ir até a secretaria, pra pegar os horários e saber onde será a nossa sala de aula. O prédio é antigo, tem três andares e várias salas. Também conta com uma quadra de esportes, onde são realizadas as aulas de educação física e atividades extraclasse, além de uma sala específica para o grêmio estudantil e a pastoral jovem. Enfim, já ia procurar a secretaria quando o Gui me puxou pelo braço.
- Maninha, você bem que podia ir lá na secretaria enquanto eu vou achar nossa sala, hein?
- E qual a lógica de você ir procurar a sala de aula se vai estar indicado no horário?
- É que eu queria dar uma volta pelo colégio, analisar como são os alunos, essas coisas. – disse, dando um sorriso maroto.
- Entendi. Quer ver como são as garotas, né?
- Exatamente.
- Mas a mãe disse pra você ficar comigo.
- Ai Valentina, para de ser patética e vê se cresce. Imagina quando você tiver na faculdade, longe daqui? Eu não vou estar lá pra te ajudar não.
- Ta bem, vou pegar o horário. Só fica com o celular na mão, pra eu te mandar uma mensagem avisando o número da sala.
- Ok. – disse e se afastou.
Fui em direção à secretaria e peguei os nossos horários, mandei uma mensagem para o Guilherme e me dirigi à sala de aula indicada no papel. A sala era a última do terceiro andar e havia vários grupinhos próximos à porta. Pra minha surpresa, encontrei o Gui conversando com uns garotos. Cheguei de mansinho e cutuquei o braço do meu irmão, o que ele odeia, diga-se de passagem. Quando ele percebeu que era eu, pediu licença aos meninos e se afastou comigo.
- Que foi, Valentina? – perguntou, irritado.
- Vim te entregar o seu horário, idiota. – disse.
- Precisava interromper o meu papo com os caras? Não dava pra me entregar essa porra de papel dentro da sala?
- Por que tá todo estressadinho? Só por que eu interrompi o papo com um bando de garotos?
- Não. Acontece que eles têm uma banda e eu preciso entrar em uma.
- Ah tá, e como você sabe disso? – perguntei.
- Quando você foi para a secretaria, eu fui dar uma volta e vi quando eles chegaram, fazendo a maior algazarra, falando que esse era o último ano deles na escola e que tinham que ensaiar pra festa de aniversário de uma tal de Débora. Aí eu resolvi segui-los e eles foram parar na porta da sala. Decidi puxar papo e tava conversando com eles quando você chegou. Satisfeita?
- Aham. – não tivemos tempo de continuar a conversa, já que a inspetora apareceu no corredor e todos foram obrigados a entrar.
As primeiras aulas do dia foram de Matemática e não foi nenhuma surpresa ver que a minha mãe seria nossa professora. Ela se apresentou e fez com que todos os alunos se apresentassem também. Em seguida, cada um foi pra um lugar e a aula teve início. Meu irmão ficou perto dos novos amigos e eu acabei sentando ao lado de duas meninas, uma loira de olhos verdes e outra morena de cabelos lisos. As duas cochichavam com outras duas garotas, que estavam na fileira do canto, e eu acho que falavam sobre mim, já que de vez em quando me olhavam. “Calma, é só o primeiro dia de aula, muita coisa vai acontecer. E presta atenção à aula, suas notas têm que ser bem altas, ainda mais em Matemática.”, pensei. Respirei fundo e voltei minha atenção ao exercício que minha mãe havia passado no quadro.
Na hora do intervalo, as que me olhavam no inicio da aula resolveram puxar papo comigo.
- Oi. Seu nome é Valentina, não é? – a loira de olhos verdes perguntou.
- Sim. – disse, tímida.
- Meu nome é Sofia, e essas são Alice, Luiza e Beatriz. – disse, apontando pra cada uma delas. A morena de cabelos lisos era a Alice, a ruiva de olhos verdes era a Beatriz e a negra de olhos castanhos era a Luiza.
- Prazer. – disse, sorrindo.
- Você entendeu alguma coisa da aula de Matemática? Nós vimos você resolvendo os exercícios com uma rapidez. – Alice perguntou
. - Sim, a minha mãe é a professora. – disse, rindo, e iniciamos um papo animado. Um tempo depois os meninos se aproximaram, eu fui apresentada a eles e no fim já éramos uma grande turma.
E assim o primeiro dia de aula passou. Entre conversas, risadas e muita diversão, tivemos as primeiras aulas no novo colégio. Ah, e eu me inscrevi no Grêmio Estudantil, pra contar pontos na hora de me inscrever nas universidades americanas e britânicas.

Capítulo 2 – Quando os gatos saem, os ratos fazem a festa


Um mês se passou desde que chegamos e as coisas pareciam que estavam se encaixando aos poucos. Minha mãe tava feliz da vida com o novo emprego, meu pai montou uma empresa de consultoria e o casamento dos dois ia de vento em poupa. Guilherme se juntou a dois caras, o Victor e o Yuri, e os três montaram uma banda chamada Carpe Diem. Já os outros meninos, Henrique, Pedro, Bernardo e Alexandre, tinham uma banda chamada The Lucky Ones, que tava ficando cada vez mais conhecida pelo pessoal do colégio. Eu e as meninas estávamos cada vez mais unidas e os meninos até nos chamavam de “Quinteto fantástico”.
Enfim, como eu disse inicialmente, o casamento dos meus pais estava tão bem que eles resolveram passar um fim de semana fora, pra comemorar o aniversário de casamento. Saíram na sexta-feira à tarde, rumo ao litoral, mais especificamente pra Torres, que é o município com as melhores praias do estado. Antes de sair, deixaram várias recomendações, especialmente “Nada de quebrar a casa ou dar festinhas regadas a bebidas e coisas ilegais. Ah, e mantenham as coisas em ordem, não queremos nossa casa bagunçada.”. Até parece que uma bomba ia explodir enquanto eles estivessem fora.
Como não ia ter ninguém em casa a não ser eu e o meu irmão, decidimos chamar a galera pra passar o fim de semana com a gente. O Victor e o Yuri não puderam ir; tinham alguns compromissos durante o fim de semana e dispensaram a bagunça, mas o resto da galera foi. Chegaram lá em casa por volta de 19h, fizemos uma vaquinha e o Bernardo foi com o Alexandre comprar cerveja e vodca, já que eles eram maiores de idade. Pedimos pizza, fizemos batata frita e outros tiragostos, e colocamos MC Marcinho pra tocar no rádio.
Quando os meninos chegaram, prepararam uma garrafa de caipirinha, colocamos a cerveja pra gelar e fomos pra sala dançar. Nós meninas faziamos coreografias sensuais, ou pelo menos tentávamos, já que sensualidade não era o nosso forte. A única que realmente dançava bem era a Lulis, mas isso a gente deixa em off. Quando a cerveja gelou, pegamos os petiscos e levamos pra sala, onde aproveitamos pra colocar a conversa em dia enquanto comíamos. Lá pelas tantas, resolveram brincar de Eu Nunca usando o que ainda restava da caipirinha. Fizeram um sorteio e a ordem foi a seguinte: Guilherme, Pedro, Sofia, eu, Bernardo, Alice, Beatriz, Henrique, Luiza e Alexandre. Pra ficar mais divertido, usamos um aplicativo no celular pra sortear as perguntas.

- Eu nunca fiquei com alguém mais novo do que eu. – Guilherme disse e todos beberam.
- Eu nunca transei com ninguém no banheiro da casa dos meus pais. – Pedro disse e dessa vez apenas os meninos beberam, incluindo o meu irmão. Bom saber que ele levava garotas pra minha casa. Eca!
- Eu nunca disse que ia estudar e fui pra um motel. – Sofia disse e os meninos beberam, junto com a Bia, que morreu de vergonha.
- Eu nunca fumei. – disse e apenas o Bernardo bebeu.
- Eu nunca andei de salto alto. – Bernardo disse e apenas as meninas beberam.
- Eu nunca fui a um baile funk. – Alice disse e dessa vez eu e o Gui bebemos.
- Eu nunca fiquei bêbada e fiz besteira. – Beatriz disse e todos beberam.
- Eu nunca me depilei. – Henrique disse e dessa vez só as meninas beberam.
- Eu nunca perdoei o Bernardo. – Luiza disse e o clima pesou. Já tava quase todo mundo bêbado e o Bê olhou pra Lulis com tristeza, deu até pena. O coitado tava tão chateado que queria acabar com a garrafa de caipirinha, mas o Xande não deixou e voltou a atenção ao jogo novamente.
- Eu nunca transei com alguém do mesmo sexo que eu. – Alexandre disse e todo mundo riu. Ele acabou distribuindo o restante da bebida nos dez copos e foi buscar mais cerveja.

E assim nossa noite passou. Entre bebidas, risos e muita diversão, conhecemos uns aos outros e nos tornamos ainda mais amigos. Estávamos tão bêbados que acabamos dormindo pela sala mesmo, amontoados uns nos outros.
No dia seguinte, acordamos era mais de meio dia e todos estavam de ressaca. Pra nossa sorte, meus pais deixaram algumas cartelas de aspirina e Engov na gaveta do banheiro social. Todo mundo tomou e a dor de cabeça melhorou. Aproveitamos que o sol estava quente pra cair na piscina; os meninos foram ao mercado comprar mais cerveja e carne para fazermos um churrasco e assim o nosso dia passou.
À noite, uma das meninas da escola, Débora, resolveu dar uma festa pra comemorar os quinze anos e nós fomos convidados. A The Lucky Ones, inclusive, foi chamada pra tocar. Sendo assim, todos se arrumaram lá em casa e eu posso dizer que foi um dos momentos mais legais do fim de semana. As meninas levaram suas roupas e nos arrumamos no meu quarto. Imagina a bagunça que foi, né? Era briga por secador, chapinha e principalmente pelo espelho. Demoramos mais ou menos duas horas pra ficar prontas, mas valeu a pena. Eu escolhi um top cropped vermelho, calça preta e scarpim preto de salto alto. Sofia foi de camisa cinza, saia de couro e sandália preta de tiras finas. Alice optou por uma t-shirt larguinha creme com um short de alfaiataria preto e pump preto de salto alto. Luiza foi de blusa branca assimétrica, saia godê preta e sapato stiletto de tiras preto. Por fim, a Beatriz escolheu um conjuntinho de top cropped e saia estampados em preto e branco, além de sapatos Oxford pretos.
Quando descemos, os meninos estavam na sala nos esperando e olharam impressionados pra nós.

- Nossa, como vocês estão lindas! – Bernardo foi o primeiro a se pronunciar.
- Estão mesmo. Ainda bem que nós estaremos lá pra tomar conta de vocês. – Guilherme disse, olhando diretamente pra mim.
- Tá me olhando por que, Guilherme? Ta pensando que vai ficar no meu pé a noite inteira? – perguntei.
- Claro que não.
- Acho bom. Cadê o Pedro? – perguntei, olhando ao redor e não o encontrando.
- Ele já foi. Disse que ia passar na casa da Melissa pra pegá-la. – Alexandre respondeu. Melissa é a namorada do Pedro, mas eu não a conheço. Ela é um ano mais velha que todos nós e já está na faculdade.
- Ah ta.
- Gente, como vamos fazer pra ir a essa festa? – Sofia perguntou. – Estamos em nove pessoas e os únicos que dirigem aqui são o Pedro e o Xande.
- Vamos em duas viagens. Os meninos vão primeiro, já que vão tocar, e depois eu busco vocês. – Alexandre disse, se levantando. Os outros garotos fizeram o mesmo e saíram.

Meia hora depois, o Xande voltou e nós fomos pro clube, que ficava a uns quinze minutos de distância da minha casa. Ao chegar lá, o local estava todo decorado com bolas rosas e brancas. Um bolo, também rosa, estava no meio do salão. No canto esquerdo, uma pista de dança e um mini palco estavam montados, onde os meninos iam tocar. A aniversariante já se encontrava no salão cumprimentando os convidados. Fomos até ela, demos os parabéns e fomos nos juntar aos garotos. Eles estavam em uma mesa perto da pista de dança e o único que não havia chego era o Pedro.
Cerca de meia hora depois, quando já estávamos meio entediados, Pedro chegou com a namorada. Ela usava um vestido de manga comprida rosa escuro cheio de paetês e sandália nude de salto grosso. Os cabelos loiros estavam lisos e a maquiagem impecável.

- E lá vem a insuportável. – Sofia foi a primeira a falar, quando viu os dois chegando.
- Nossa, ela é bem mais bonita do que eu imaginava. – disse, realmente surpresa.
- O que ela tem de bonita, tem de nojenta. Não sei como o Pedro aguenta essa garota. – Luiza disse, revirando os olhos.
- Nem eu. Já falei umas quinhentas vezes pra ele terminar com ela, mas ele não me escuta. – Alice completou.
- Ai meninas, vocês não estão sendo implicantes demais não? Ela parece ser uma boa garota. – disse, tentando não criar confusão.
- Você diz isso porque não a conhece, Nina. Espere só até ela vir falar com a gente. – Bia disse, fazendo cara feia, e o casal se aproximou da mesa. Pedro falou com todo mundo e abraçou as meninas, já Melissa acenou com a cabeça pros meninos e fez cara de nojo quando o namorado me apresentou a ela. Bem que a Bia tinha razão.

Depois que o casal vinte chegou, Débora resolveu cantar o parabéns e logo em seguida a pista de dança foi liberada. O DJ tocava de tudo um pouco, desde funk e eletrônica até músicas dos anos 70 e 80. Eu e as meninas deixamos os meninos na mesa e fomos pra pista, onde dançamos juntas. Em vários momentos, alguns garotos chegaram pra nos xavecar, mas nenhum interessante.
Lá pelas tantas, a banda The Lucky Ones subiu ao palco e tocou vários covers, além de algumas composições próprias. O Pedro, que é o vocalista da banda, até dedicou uma música pra Melissa, mas ela o olhou com repulsa e saiu mais cedo da festa. Desnecessário, né? Se eu tivesse no lugar dela, ia adorar receber uma música do meu namorado, ainda mais ele sendo o Pedro.
Enfim, depois do show da banda, os meninos se juntaram a nós e ficamos dançando durante um tempo, até que decidimos ir embora. Como o Pedro tava de carro, não foi necessário dar duas viagens. Ao chegar em casa, o Gui quis acabar com a cerveja e a galera se reuniu na beira da piscina pra beber e jogar conversa fora. O Pedro tava meio pra baixo, mas não quis falar o que aconteceu quando eu perguntei se ele tava bem. Respeitei a decisão dele e me juntei à Sofia, na tentativa frustrada de cantar Wonderwall. Todos estavam se divertindo e curtindo aquele momento juntos. Olhando cada um ali, rindo e brincando, percebi que aquela mudança, por mais que não me agradasse no início, valeu muito a pena.

Capítulo 3 – Uma estranha no ninho


Na segunda-feira seguinte, acordei com uma batida forte na porta do meu quarto. Era o meu pai, dizendo que eu tava atrasada e precisava me arrumar correndo se não quisesse perder a primeira aula. Levantei num pulo, tomei um banho rápido, me arrumei de qualquer jeito e desci. Minha mãe e o Gui já tinham ido, então, tive que correr pra não chegar atrasada e tomar uma advertência.
Quando cheguei à escola, todos comentavam sobre uma garota nova. Ela veio da Austrália pra fazer intercâmbio e ia ficar hospedada na casa do Yuri.

- Bom dia, meninas. Estão todas inteiras? – perguntei, assim que cheguei à escola.
- Nem um pouco. Ainda to toda moída, parece que um trator passou em cima de mim. – Alice reclamou.
- Você ta atrasada, Nina. O que aconteceu? – Luiza perguntou.
- Nada, só perdi a hora. – disse, e começamos a conversar sobre o fim de semana.
- Nossa, que garota estilosa! – Bia disse, de repente.
- De quem vocês estão falando? – perguntei.
- Da australiana que chegou pra fazer intercâmbio. Ta todo mundo comentando sobre ela.
- E onde ela ta?
- Vindo ali. – Sofia disse, apontando discretamente para uma garota de cabelos pretos curtos no estilo sidecut e olhos azuis quase brancos.
- Uau! Que diferente!
- Será que ela vai estudar com a gente?
- Tomara. Achei muito estilosa e tem cara de ser muito legal. Sem falar que vai ser bom pra treinar o inglês, especialmente a gente que quer estudar fora, Nina. – Bia disse e eu concordei.

Logo o sinal tocou e nós fomos para a sala de aula. Não demorou muito e a tal garota chegou, sendo apresentada pela minha mãe, e a aula teve início. Durante todo o dia, o único assunto da escola foi a Ruby – esse é o nome dela. O Gui até marcou ensaio com a banda na casa do Yuri pra ficar perto dela. À noite, eu e meu pai vimos uma partida entre Internacional e Grêmio pelo Gauchão. É óbvio que o Internacional ganhou – de virada, 4x1 – e o meu pai ficou mega irritado por eu tê-lo zoado. Foi até dormir antes de o jogo acabar, pra não ver a derrota vergonhosa do time dele. Já deu pra perceber que eu sou colorada e o meu pai é gremista, né?

Capítulo 4 – O passado deveria ficar no passado


Três meses se passaram desde a chegada da Ruby e nós estamos cada vez mais ligados a ela. No segundo dia de aula ela chegou com o Yuri e a galera já começou a bombardeá-la de perguntas, querendo saber tudo sobre Melbourne e a vida que ela leva lá. Foi muito bom pra conhecê-la, saber dos seus sonhos, planos para o futuro e o que ela pretendia com o intercâmbio no Brasil. Enfim, ela se tornou mais uma integrante do grupo.
Quanto aos relacionamentos, as coisas andam meio complicadas pra uns e legais pra outros. O Gui e a Bia estão se apaixonando aos poucos; o Henrique continua com sua paixão platônica pela Sofia (isso já vem desde a infância, mas os dois nunca ficaram juntos); a Lulis não perdoa o Bê de jeito nenhum (até agora ela não me contou o que aconteceu, mas acredito que é questão de tempo até eu saber); o Xande vive mandando indireta pra Ali, mas ela finge que não é com ela; o Pedro continua firme e forte com a Melissa e eu continuo sozinha, apesar das investidas do Victor. Bem, na verdade, eu estava solteira até ontem. Hoje eu já não sei mais o meu estado civil. Por que eu to dizendo isso? O meu ex-namorado ta vindo de mala e cuia pra Canela. Ele me avisou ontem à tarde, pelo MSN. A gente tava conversando, depois de muito tempo sem se falar, e ele jogou a bomba. O pior é que ele disse que queria me ver assim que chegasse e eu não sei se fico feliz ou triste.
Você não deve estar entendendo nada, mas eu explico. Eu e o Maurício nos conhecemos numa sala de bate-papo da Uol, nos encontramos numa festa no dia seguinte e acabamos ficando. No mesmo dia, ele me pediu em namoro e eu aceitei. Foi o meu primeiro namorado e eu era muito ingênua. No início era tudo maravilhoso, ele era o cara perfeito, mesmo sendo três anos mais velho: Pensávamos parecido, tínhamos o mesmo gosto musical e estávamos sempre juntos. Só que aos poucos foi se tornando complicado, porque ele queria transar e eu não tava preparada. Isso sem falar no Renan, melhor amigo dele, que não ia com a minha cara de jeito nenhum. Acredito que isso interferiu bastante no meu relacionamento, que durou cerca de oito meses e teve seu fim da forma como começou, pela internet. Sim, o Maurício teve a cara de pau de terminar comigo, simplesmente porque eu não me achava preparada pra ter a minha primeira vez. É claro que eu fiquei com raiva dele na hora, mas depois passou. Se ele não podia respeitar o meu tempo, era sinal de que não era o cara certo pra mim. Quem não ficou feliz com essa história foi o Gui, que encontrou o Maurício na rua uns dias depois e deu um soco no meio da cara dele.
Só sei que ele tá vindo pra Canela cursar Nutrição na Universidade de Caxias do Sul e eu fiquei meio balançada com esse reencontro inesperado. Apesar de ele ter sido um babaca, parece que mudou e não é o mesmo moleque de dois anos atrás. Estou meio confusa, precisando conversar com alguém. Acho que vou falar com o Guilherme. Ele pode ser meio bobo de vez em quando, mas sempre teve os melhores conselhos do mundo.
Esperei o ensaio acabar e o Gui resolver aparecer na cozinha pra comer alguma coisa. Cheguei de mansinho e o abracei.
- Fala, maninho.
- Fala, pentelha. – disse, enquanto batia um copo de Nescau.
- Será que a gente pode conversar um pouquinho?
- Claro. O que você aprontou dessa vez?
- Nada, mas o bicho ta pegando pro meu lado.
- Ih, já vi que vem bomba por aí. Vamos lá pro meu quarto e a gente conversa com calma.
- Não vou te atrapalhar não?
- Claro que não. O Victor e o Yuri já foram, só voltam mais tarde pra gente sair. – disse, tomando o copo de Nescau todo de uma vez. Subimos para o andar de cima e chegamos ao quarto dele, que por sinal tava uma bagunça. – Pronto, fala que eu te escuto.
- Lembra do Maurício?
- Maurício? Que Maurício?
- O Maurício, amigo do Renan, com quem você brigou na rua há uns dois anos.
- Aquele babaca que você namorou e terminou contigo pela internet?
- Sim.
- O que tem ele?
- Chega amanhã a Canela e ta doido pra me ver. Disse que vai me esperar na saída da escola.
- COMO ASSIM, VALENTINA? O QUE ESSE IMBECIL QUER COM VOCÊ? – meu irmão disse, irritado.
- Não sei, Gui. Ele veio falar comigo ontem, disse que passou no vestibular pra Nutrição na UCS de Canela e vai morar aqui, perto da casa do Xande.
- Não acredito! Tanto lugar pra esse idiota estudar, e ele vem parar justo aqui? Só pode ser brincadeira. Eu mereço.
- Também fiquei surpresa quando ele me contou.
- Você disse que ele vai te esperar na saída da escola amanhã. Não vai me dizer que... Meu Deus, você ainda gosta dele? – perguntou, num misto de surpresa e impaciência.
- Esse é o problema, Gui. Eu não sei.
- Como não sabe?
- Ontem, quando a gente conversou, ele não parecia o mesmo moleque de antigamente. Pelo contrário, parecia bem maduro, seguro de si, não lembrava em nada o garoto bagunceiro e imaturo de antes.
- E você percebeu isso por uma conversa no MSN? Muito maduro da sua parte, Nina. – disse, com desdém. – Isso tá parecendo mais um truque furado pra te levar pra cama e te abandonar depois. Não era isso que ele queria na época em que vocês namoraram?
- Era. – disse triste.
- Então pronto. Abre o seu olho, irmã, e toma cuidado pra não se magoar depois.
- Pode deixar. – disse e o abracei. Ele me deu um beijo na testa e nós fomos jogar vídeo game.

Sabe, o Guilherme pode ser um chato de vez em quando, mas ele sempre sabe o que dizer nas horas certas. Sempre foi o meu porto seguro, o meu melhor amigo, meu companheiro de brincadeiras, meu parceiro nos porres e sempre que a gente aprontava, um acobertava o outro. Acho que é isso o que as pessoas dizem sobre os gêmeos, a gente tem uma ligação tão forte, que um sente quando o outro não ta bem.
No dia seguinte, uma quarta-feira, acordei de mau humor, fui pra escola com cara de poucos amigos e assisti às aulas como se tivesse indo pra forca. Tudo porque não dormi nada pensando no que o Gui havia me dito. Eu sabia que ele tava coberto de razão, mas uma parte minha queria acreditar que o Maurício mudou e se existisse a possibilidade da gente voltar, tudo seria diferente. Na hora da saída, tava pendurada nas costas do Rique, rindo de uma bobeira que o Bê falou, quando avistei a figura loira, alta e de jaqueta de couro parada no portão da escola. Ele parecia procurar por algo e quando me viu, abriu um sorriso enorme. Confesso que a minha vontade era fugir, mas não podia fazer isso. Eu tinha que tirar a limpo essa história com o Maurício e saber o que ele, de fato, queria comigo. Respirei fundo, me despedi dos meus amigos e fui até ele.

- Ei Maurício, tudo bem? – disse, tentando ser simpática.
- E aí, linda? – ele respondeu, me dando um abraço.
- Como você tá?
- Melhor agora que to te vendo. – ele disse, com um sorriso enorme.
- Legal. – dei um sorriso meio falso e o silêncio se estabeleceu entre nós.
- Então, vai fazer alguma coisa agora à tarde? – perguntou, depois de alguns minutos.
- Na verdade, eu ia estudar. Sabe como é, ano de Scholastic Assessment Test, preciso fazer no mínimo 2.100 pontos pra passar em alguma universidade americana.
- Ainda com aquele sonho de estudar fora?
- Sim.
- Interessante. E à noite? Algum plano?
- Nenhum.
- A gente pode se encontrar às 19h em algum lugar pra conversar?
- Conversar sobre o que?
- Ah, faz tempo que não te vejo, queria colocar o papo em dia.
- Tudo bem, Maurício.
- A gente se encontra aqui, na frente do colégio, às 19h? – perguntou e eu concordei.
- Combinado. Agora eu tenho que ir. – me despedi e voltei pra casa, sem saber o que esperar dessa conversa.

A tarde passou sem grandes problemas e quando deu 18h, decidi que era hora de me arrumar. Escolhi uma calça jeans, blusa de tricô cinza e preta, touca bege, casaco marrom bem quente e coturno também marrom, já que fazia bastante frio naquele dia. Me arrumei, peguei o celular e algum dinheiro, e fui andando até a escola. Cheguei por volta de 18h50 e tive que esperar mais de vinte minutos até o Maurício chegar. Ele usava uma calça jeans escura, camisa branca e um casaco azul marinho. Nos pés, coturno marrom.

- Oi Nina. – ele disse, me abraçando.
- Oi Maurício. – disse, retribuindo o abraço.
- Desculpa o atraso, acabei me perdendo.
- Tudo bem.
- Então, onde a gente pode ir? Não conheço nada aqui.
- Que tal Café Canela Bistrô? É perto daqui e serve uma massa no queijo que é uma delícia. – sugeri.
- Ótima ideia. – ele disse, e nós fomos até o local que eu havia indicado.

O ambiente era bem tranquilo, havia poucas pessoas ali e nós escolhemos uma mesa bem no canto, com vista pra rua. Assim que o garçom se aproximou, fizemos nossos pedidos e começamos a conversar. Eu contei sobre a rotina de estudos pro Scholastic Assessment Test, que é como se fosse uma espécie de vestibular pras universidades americanas, como foi a adaptação à escola nova e o que eu pretendia daqui pra frente. Ele falou sobre a faculdade, que estava pra começar, a mudança pra Canela e por que resolveu vir justamente pra cá. Conversa vai, conversa vem, e eis que o assunto relacionamento surgiu.

- E o coração, como anda? – perguntou, de repente.
- Batendo. – disse, e sorri.
- Eu sei que ta batendo. Quero saber se ta namorando, ficando, enrolando.
- Solteira.
- Não é possível que nenhum garoto dessa cidade tenha se interessado por você.
- Na verdade, tem um cara interessado em mim. Ele é amigo do Gui, mas digamos que não faz muito o meu tipo. E você? Deixou alguém lá no Rio?
- Não. Eu namorava a irmã do Renan, mas achei melhor terminar antes de vir pra cá. Não ia dar certo relacionamento a distância.
- É, não dá muito certo mesmo. – disse.
- Sabe, você ta muito mais bonita agora que quando a gente namorava. – disse, pegando a minha mão.
- Obrigada. Você também melhorou bastante em dois anos.
- E o que você acha da gente tentar de novo? – ele disse, e o meu coração acelerou.
- Você não acha que ta um pouco cedo pra querer voltar não? Quer dizer, você chegou aqui hoje, não conheceu ninguém ainda. Sem falar que tem dois anos que a gente não convive. Eu mudei, você mudou, não é como se a gente fosse continuar de onde parou.
- Justamente por isso eu to te pedindo uma chance. Nós não somos mais os adolescentes imaturos da época em que namoramos. Dessa vez vai ser diferente, eu prometo.
- Eu não sei, Maurício. Você me decepcionou demais, me fez de boba, não soube respeitar o meu tempo. Acho que não daria certo dessa vez.
- Só uma chance. É tudo que eu preciso pra te provar que o antigo Maurício não existe mais.
- Me dá um tempo pra pensar. – pedi e ele concordou, mudando de assunto.

Depois do jantar, ele insistiu em me levar pra casa. É claro que fomos a pé, por dois motivos: Era perto do restaurante e ele ainda não teve tempo de comprar um carro. Assim que chegamos, fui me despedir e ele me beijou. Não vou mentir dizendo que não esperava por isso, mas foi um beijo diferente do que eu me lembrava, foi bom.
No dia seguinte, Maurício me esperou na saída da escola novamente e eu aceitei voltar com ele. Sabia que existia a possibilidade de me magoar novamente, mas eu precisava correr esse risco. Se ele havia mudado, só o tempo ia dizer, mas não custava pagar pra ver.

Capítulo 5 – Chifre em cabeça de cavalo


Dois meses depois e a minha vida deu uma guinada que eu não esperava. Ainda estava com o Maurício, mas as aulas da faculdade começaram e eu o via cada vez menos, já que estava ocupada organizando um evento beneficente com o pessoal do grêmio estudantil, pra arrecadar fundos pra uma instituição de caridade. A gente se falava quase sempre pelo MSN, à noite, e se encontrava nos fins de semana, geralmente pra comer alguma coisa, e depois ia pra minha casa. Isso quando a galera não se reunia na casa de alguém pra beber e jogar conversa fora. Algumas vezes o Maurício me acompanhava, mas na maioria das vezes preferia sair com os amigos da faculdade pra algum lugar em que a entrada de menores não era permitida. Isso me chateava à beça, mas eu fingia não me importar. Até o dia em que tudo aconteceu.
Era sábado e os meus amigos decidiram se reunir no Pit Stop Chopperia e Petiscaria, pra comer um lanche. Mandei uma mensagem de texto ao Maurício, perguntando se ele queria ir comigo. Como não obtive resposta, resolvi ir assim mesmo. Durante aquela semana, nós nos falamos uma única vez e ele pareceu meio distante, mas como estava atarefada, não dei importância. Só sei que cheguei ao Pit Stop e dei de cara com o ser que até então eu chamava de namorado. Quando me viu, fez uma cara de paisagem e agiu como se nada tivesse acontecido, continuando o papo com os amigos.

- Aquele ali não é o Maurício, Nina? – Ruby perguntou, num português ainda com bastante sotaque, enquanto nos dirigíamos à mesa reservada pra nós. Como estávamos em um grupo grande, a Alice ligou antes e fez a reserva.
- É sim. – disse, tentando não demonstrar que estava triste.
- Você sabia que ele vinha? – Sofia perguntou.
- Sabia. – menti.
- Não sabia não. – Guilherme disse, me olhando de cara feia. – Antes de a gente sair de casa, perguntei se o idiota do Maurício vinha e você disse que não, que ele não te respondeu. Não sei por que ta defendendo aquele imbecil.
- Guilherme, dá um tempo,tá? E cuida da sua vida. – disse, sem paciência.
- Calma, galera, não vamos brigar por causa disso. Vai ver ele resolveu vir e esqueceu de te avisar, Nina. – Xande disse, tentando acalmar os ânimos.
- Duvido. Ele tá é fazendo a Valentina de boba e a única que não percebe é ela. – Guilherme disse, irritado.
- Não é por nada não, mas o Gui ta certo. Desde que esse garoto chegou a Canela, vi que ele não era grande coisa. Que cara deixa a namorada em casa em pleno sábado pra sair com os amigos? Ou pior, que nunca convive com os amigos dela? Desculpa, Nina, mas você merece coisa muito melhor. – Rique, que quase sempre ficava na dele quando o assunto eram os relacionamentos alheios, disse. Eu apenas o olhei com uma cara triste e chamei o garçom.

Assim que o garçom chegou, fizemos nossos pedidos e o assunto Maurício foi encerrado. Por algum tempo conversamos, tomamos um chopp gelado, e as meninas falaram do evento beneficente no qual estávamos envolvidas. Aproveitamos pra acertar alguns detalhes e chamamos o Gui, o Victor e o Yuri pra tocar na festa. Eles aceitaram na mesma hora e já decidiram a playlist, com a ajuda do Rique, do Xande e do Bê. O Pedro, como sempre, não tava presente. Segundo o Bernardo comentou, era aniversário de casamento dos pais da Melissa e eles deram um jantar pra comemorar. Estava tudo bem, até que o Maurício levantou, mexendo no celular, e saiu. Sem pensar duas vezes, decidi fazer o mesmo e o segui, pra ver aonde ele ia. As meninas queriam me acompanhar, mas eu fiz que não com a cabeça e elas entenderam que deveria ir sozinha.
Já do lado de fora da churrascaria, não foi preciso andar muito até encontrar o meu namorado. E foi aí que o meu mundo caiu. Ele estava no estacionamento, encostado no Veloster branco que havia acabado de comprar, beijando a Melissa. Aquilo me assustou tanto, que eu fiquei uns dois minutos parada, olhando o casal se agarrando. Quando me toquei do que tava acontecendo, a minha reação foi sair correndo e atravessar a rua em direção a Praça João Correa. Sentei em um banco qualquer e não segurei mais as lágrimas. Estava me sentindo um lixo, me achando a pessoa mais estúpida do mundo por ter acreditado que dessa vez ia ser diferente. Todo mundo me dizia que o Maurício era um traste, que não gostava de mim, que esse namoro não tinha futuro, mas eu quis pagar pra ver e aí estava o resultado. O pior foi a falta de consideração dele. Em momento algum durante esses dois meses, o filho da puta pensou em me dizer que não queria mais nada comigo, que tinha conhecido outra pessoa e tava apaixonado por ela – se é que ele realmente gosta da Melissa, né? Do jeito que ele é, bem capaz de ela ser outra iludida.
Enfim, fiquei ali por algum tempo, com o pensamento longe, até perceber que não tava sozinha. Pra minha surpresa, Pedro estava no banco de frente, sentado de cabeça baixa, e o seu estado não era muito diferente do meu: Olhos vermelhos, inchados, e o rosto molhado pelas lágrimas. Se ele soubesse o que eu acabei de ver, ia querer matar a Melissa, mas isso não importava. Ele tava mal e eu queria saber o que aconteceu. Resolvi me aproximar.

- Pedro? – perguntei, me sentando ao seu lado.
- Nina? O que ta fazendo aqui? – perguntou, assustado, tentando secar as lágrimas.
- Você tá bem?
- To, por quê? Vim ver a lua. – disse, olhando para o céu, onde a lua cheia brilhava, iluminando tudo.
- Ninguém chora tanto a ponto de deixar os olhos vermelhos só por causa da lua, por mais bonita que ela esteja.
- Eu choro.
- Tudo bem, se não quer me contar o que aconteceu, eu respeito. – disse, e ficamos em silêncio. Se ele não queria se abrir, não ia insistir.
- E você, tava chorando por causa da lua também? – perguntou, segurando a minha mão, ao perceber que eu também havia chorado.
- Na verdade, não.
- E o que fez uma garota tão legal quanto você chorar? TPM?
- Quem me dera que fosse TPM. Eu ia estar aliviada se fosse só isso.
- Se não foi a TPM, deve ter sido algo muito grave. Você não é de chorar à toa.
- Digamos que eu vi o meu namorado beijando outra garota depois de ter fingido que não me viu no Pit Stop.
- Não acredito que aquele playboy teve a coragem de fazer isso com você!
- Ele fez, infelizmente, mas não se preocupa, vou ficar bem. O Maurício já quebrou meu coração uma vez e eu sobrevivi, não é agora que vai ser diferente.
- E quem era a garota que tava com ele? É conhecida?
- Acho melhor eu ir. – disse, me levantando. Não sabia o que tinha acontecido pra ele estar desse jeito, mas não ia piorar a situação. Se alguém tinha que contar sobre essa traição, era a Melissa.
- Por que, Nina? Eu conheço essa garota?
- Eu realmente preciso ir, Pedro. Amanhã acordo cedo pra estudar inglês, tenho que descansar.
- Por favor, Nina. Tem algo que você saiba e não quer me contar?
- Não. Por que teria? – disse, olhando pro céu, na tentativa de controlar a vontade de contar a verdade.
- Porque você só desvia o olhar quando tá mentindo, e foi o que acabou de fazer. – disse, sorrindo pela primeira vez na noite.
- É tão óbvio assim?
- Bastante.
- Olha, eu até tenho uma coisa pra te contar, mas acho que a Melissa é a pessoa mais indicada a fazer isso, não eu.
- Ela terminou comigo. Isso tem a ver com o fato de você ter sido traída pelo Maurício?
- Tudo a ver.
- Sabia! Como ela teve coragem de fazer isso comigo? Me trocar por aquele imbecil? Ah, mas isso não vai ficar assim! Vou lá tirar essa história a limpo e é agora! – ele disse, levantando.
- Ei, calma. Você não vai fazer nada,ta ouvindo? Ela terminou com você, deixou bem claro que não quer mais nada. Além de perder seu tempo,vai fazer papel de criança. – disse, segurando-o pela mão.
- Você fala isso porque não é com você!
- CLARO QUE É COMIGO,PEDRO! OU VOCÊ ACHA QUE EU FIQUEI FELIZ POR TER SIDO FEITA DE BOBA? SE VOCÊ TÁ MAGOADO PORQUE A MELISSA TERMINOU CONTIGO, IMAGINA EU, QUE FUI TRAÍDA SEM A MENOR CONSIDERAÇÃO? VOCÊ ACHA QUE FOI FÁCIL VER O GAROTO POR QUEM EU SOU APAIXONADA SE AGARRANDO COM UMA GAROTA NO ESTACIONAMENTO DE UM RESTAURANTE, SABENDO QUE EU TAVA LÁ DENTRO E PODIA SAIR A QUALQUER MOMENTO? NÃO, VOCÊ NÃO SABIA! ENTÃO NÃO DIZ QUE NÃO É COMIGO, PORQUE É SIM! – gritei, deixando as lágrimas rolarem novamente. O Pedro podia muito bem estar chateado, mas falar que eu não tinha nada a ver com aquela história, foi demais pra mim. Com essa gritaria, acabamos chamando a atenção de algumas pessoas que passavam por ali.
- Desculpa, Nina, eu fui um idiota. Tô com tanta raiva da Melissa que não pensei que a pessoa mais afetada com isso tudo foi você.
- Tudo bem. Só me abraça, por favor? É tudo o que eu preciso nesse momento. – ele me abraçou e a sensação que eu tive foi maravilhosa. Parece que ali eu tava protegida, nada de ruim ia me acontecer enquanto eu estivesse envolvida por aqueles braços.

Depois de um tempo nesse abraço, ele se afastou e perguntou se eu tava bem.

- Tá melhor, gatinha?
- To, e você?
- Bom, ainda não engoli essa história da Melissa beijando outro cara minutos depois de ter terminado comigo, mas eu supero.
- Com certeza. Você é um cara tão legal, ainda vai encontrar alguém que realmente te mereça, por mais clichê que isso seja.
- Você também vai encontrar o cara certo. E eu desconfio que ele esteja bem debaixo dos seus nariz, só a senhorita não percebe.
- De quem você ta falando? – perguntei, curiosa.
- Ah, eu não sei se devo te contar. Ele pediu segredo.
- Não senhor. Agora que começou, termina.
- Tem certeza que não sabe de quem eu to falando?
- Se eu to perguntando.
- Victor Paes te diz alguma coisa?
- O Victor? Acho que não. – disse, rindo.
- Por quê? Ele é um cara bacana, melhor amigo do seu irmão, tem uma banda de rock e gosta de você.
- Mas não faz o meu tipo, infelizmente.
- E qual seria o seu tipo?
- Hum, deixa eu ver. – disse e fiquei em silêncio durante um tempo, tentando achar a resposta pra essa pergunta. No fim das contas, não a encontrei. – Meu Deus, eu não tenho um tipo preferido de cara. Quão desastroso isso é?
- Muito desastroso. Que garota não sonha em encontrar o príncipe encantado e ser feliz pra sempre?
- Eu. – disse e rimos. Nisso o celular do Pedro tocou. Era o Henrique, perguntando como estavam as coisas no jantar dos pais da Melissa e dizendo que eu havia sumido. Pedro acabou por tranquilizá-lo, dizendo que nós estávamos juntos, e decidimos que era hora de deixar o sofrimento de lado e aproveitar a noite de sábado. Por mais quebrados que estivéssemos, não havia como mudar o que havia acontecido; só nos restava remendar os cacos e seguir em frente.

Voltamos pro Pit Stop, tomamos algumas canecas de chopp e fomos pra minha casa. Meus pais estavam fazendo um churrasco com uns amigos e nós achamos que era a oportunidade perfeita pra encher a cara de graça sem ninguém pra perturbar – meus pais eram bem tranquilos quanto à bebida. Desde que não entrássemos em coma alcoólico ou quebrássemos a casa, tudo bem beber um pouco além da conta. Lá pelas tantas, o povo resolveu dormir e eu acabei ficando na piscina, já que tava sem sono. Pedro decidiu me fazer companhia e nós perdemos a noção do tempo conversando. A partir daquele momento, ele se tornou o meu melhor amigo. Ah, e o Maurício apareceu na minha casa no dia seguinte, pedindo desculpas e dizendo que queria ser meu amigo. Fala sério, né? Fez o que fez e ainda quer ser meu amigo? Aham, senta lá, Cláudia!

div class="titlecap">Capítulo 6 – A festa


Um mês depois do fatídico dia em que o ridículo do Maurício me traiu, eis que chega o dia mais importante do ano: o meu aniversário e do Guilherme. O dia 27 de Setembro caiu num sábado e o meu irmão, muito esperto, encheu o saco dos meus pais pra fazer uma festa, já que completávamos dezoito anos. Por mim a data passaria em branco, ou então sairíamos pra jantar em algum lugar, mas os meus pais concordaram com o Gui e esse foi o presente de aniversário dele. Pra não ficar atrás, exigi um presente à altura da ocasião e os meus pais concordaram.
A festa, cujo tema era Tomorrowland, foi um sucesso. Os meninos da Carpe Diem e da The Lucky Ones tocaram, o povo da escola compareceu em peso e eu me diverti como nunca. Essa festa ficou marcada pra sempre na memória de algumas pessoas. A turma tava reunida na pista de dança, se divertindo, quando começou a tocar Because of You, da Kelly Clarkson. Nesse momento, o Bernardo chamou a Luiza pra conversar e ela só concordou depois de muita insistência dele.
- Lulis, olha... – ele começou a dizer, mas foi interrompido por ela.
- Bernardo, desculpa, mas se você vai falar do passado, ta perdendo seu tempo. A gente já conversou sobre isso e você sabe o que eu penso.
- Não, por favor, me escuta!
- Presta muita atenção na letra da música e você vai entender.
- Luiza, eu preciso falar contigo. Só me dá uma chance de explicar o porquê de tudo.
- Não. Eu to de saco cheio de ouvir você dizer que quer se explicar e blá blá blá. Nada do que você disser vai apagar o que você fez e o que eu sofri por sua causa. Você não faz idéia de quantas noites eu perdi chorando, pensando que se eu fosse diferente, as coisas não chegariam ao ponto em que chegaram. Eu passei dias tentando entender o seu lado, tentando ver que talvez você tivesse razão, mas hoje eu vejo o quanto eu fui uma burra perdendo meu tempo com você. Eu tenho nojo de você! – Luiza disse,com o rosto encharcado de lágrimas, e saiu correndo, deixando pra trás um Bernardo Linhares se sentindo culpado e um bando de pessoas sem entender nada. Ninguém teve coragem de ir atrás dela; todos sabiam que ela precisava de um tempo sozinha, pra pensar sobre tudo.

Quando o clima de tensão passou, os meus pais tiveram a idéia de cantar o bendito “Parabéns pra você!”. Sabe, eu acho completamente desnecessária essa história de “Parabéns pra você nessa data querida. Muitas felicidades, muitos anos de vida!” e “Com quem será, com quem será que a fulana vai casar?”. Isso sempre me irritou e me deixou vermelha na frente de todo mundo, porque eu nunca tava namorando e me sentia encalhada. No entanto, como os meus pais me amam e acham que eu ainda sou uma criança de 7 anos, insistiram.
O parabéns foi normal e a hora mais temida chegou, o “Com quem será?”. Primeiro foi o Guilherme, por ser cinco minutos mais velho que eu e é claro que a escolhida foi a Bia. No fim, ele acabou pegando a guria de surpresa com um beijo de tirar o fôlego. Depois foi a minha vez. Se eu disser que eu fiquei roxa de vergonha vocês acreditam? Não bastasse o constrangimento da situação, colocaram o Victor no meio do rolo (todo mundo sabia que ele tinha um tombo por mim, e que a gente só não ficava porque eu não queria) e quase exigiram que ele me desse um beijo. Pra não ficar chato pra nenhum dos dois, acabei deixando que ele me beijasse, mas não durou muito, já que o meu pai interrompeu o momento. Sabe, não foi um beijo ruim, mas também não foi nada maravilhoso, que me fizesse sentir borboletas no estômago.
Passado o momento constrangedor, minha mãe anunciou que o bolo seria servido e a pista de dança ia bombar com uma sessão de música eletrônica, pra quem quisesse se sentir no festival belgo. Eu, que não era boba nem nada, corri pra lá e arrastei o Pedro comigo, mesmo ele dizendo que não sabia dançar. As pessoas ficaram sem entender nada, afinal, na cabecinha oca delas, eu tinha que estar dançando com o Victor. Fala sério, né?
No fim das contas, a galera se divertiu pacas e até o Bê tava mais animadinho. O Xande jogou charme pra cima da Ali a noite inteira, mas ela fingiu que não tinha acontecido nada. Sinceramente, eu não entendi qual é a da Alice. Uma hora parecia que tava a fim, outra hora parecia que não sabia de nada. Fala sério! Se o Alexandre não fosse quase meu irmão e não fosse completamente apaixonado pela Monteiro, juro pra vocês que eu pegava. Sofia e Henrique aproveitaram que não tinha ninguém pra empatar a vida deles e não se desgrudavam. Esses dois só não se pegavam porque o pai da Sofia odiava o Rique, dizia que ele não prestava pra filhinha dele só porque o cara é baixista. Como eu sei disso? Ela me contou naquele final de semana em que todo mundo dormiu lá em casa. A gente acordou no meio da noite totalmente sem sono e ficou conversando.
Flashback
- Ué, Sof, também perdeu o sono? – perguntei, mesmo sabendo a resposta.
- É. Na verdade, eu não consegui dormir.
- Por que? O que aconteceu?
- Ah, é o meu pai.
- E o que tem ele?
- Sabe, eu e o Rique sempre fomos muito amigos, desde que eu me conheço por gente. Nós passamos a infância juntos, crescemos juntos e quando a gente entrou na adolescência, meio que se apaixonou.
- Nossa, que legal! Mas por que vocês nunca ficaram?
- Então, o meu pai nunca foi com a cara do Rique, detestava quando ele ia lá pra casa brincar comigo. Ele sempre dizia que o Rique não prestava pra mim, que se um dia eu me apaixonasse por ele, ficaria trancada dentro de casa e tal.
- Cara, to passada! Seu pai queria te manter em cárcere privado só porque não vai com a cara do Garcez? Ele não tem esse direito! – eu disse,indignada.
- Eu sei Valentina, concordo plenamente, mas você não conhece o meu pai. Quando coloca uma coisa na cabeça é dificílimo de tirar. O pior você não sabe. Uma vez a gente tentou ficar, só que o meu pai descobriu e chegou a tempo de impedir. Cara, o meu pai só detesta o Rique porque ele é um baixista. Uma vez a minha vó me contou que a minha tia namorava um baixista e ele deu um pé nela pra ficar com a ex do meu pai. Ele quase matou o tal baixista que fez a minha tia sofrer e quando descobriu que o Rique tocava baixo, começou a implicar com ele por uma coisa que o coitado nem tem culpa.
- Você ta brincando que é por causa disso que o tio Bento tem raiva do Rique?
- Não, Nina. Parece hilário mas é a mais pura verdade.
- Ah,sendo assim,não se preocupa que as coisas vão se acertar. Logo,logo,seu pai percebe a burrada que ele fez durante todo esse tempo e libera o namoro de vocês.
- Deus te ouça. – a gente se abraçou e foi dormir.

Fim do Flashback

Resumindo, a festa foi um sucesso, deu tudo certo e as pessoas saíram de lá satisfeitas. Ah, só pra constar, a Ruby não foi à minha festa. Disse que tava passando mal e por isso não ia. Fiquei chateada, mas deixei pra lá.

Capítulo 7 – Veneno de cobra


Na segunda-feira seguinte, cheguei ao colégio e todos comentavam sobre a nossa festa. Algumas meninas do primeiro ano me pararam pra elogiar, dizer que estava tudo maravilhoso e que eu era uma sortuda por ter ficado com o Victor, e eu me dirigi ao grupo de amigos sentado embaixo de uma árvore. Alexandre, Bernardo, Pedro, Henrique, Guilherme e Victor falavam de uma música que estavam compondo juntos; Alice, Beatriz, Sofia, Ruby e Luiza comentavam sobre uma matéria do RBD que saiu na Capricho. A Lulis não tava com uma cara boa e eu resolvi chamá-la num canto pra conversar.
- Lulis?
- Oi Nina. Sua festa tava ótima,viu? – disse, dando um sorriso triste.
- Obrigada. Ta acontecendo alguma coisa? – perguntei.
- Como assim?
- É que eu percebi que a senhorita não ta com uma cara muito boa. Aconteceu alguma coisa?
- Aconteceu, mas é melhor falar pra todas de uma vez. Chama as meninas, com exceção da Ali e da Ruby, e por favor, dá um jeito dela não vir aqui.
- Ok! – Cheguei perto da Alice e disse pra ela levar a Ruby pra dentro da sala, já que a Luiza queria falar algo meio sério com a gente e depois falava com ela. Bia concordou e eu chamei a Sof e a Bia.
- Diga Lulis do meu coração! – Bia falou, animada.
- Meninas, eu preciso falar uma coisa, só que vocês tem que me prometer que vai morrer aqui.
- Prometemos. – dissemos juntas.
- Então, lembra quando a Ruby ligou pra Nina pra avisar que não ia na festa porque tava passando mal? Era mentira. Ela não queria que eu fosse porque o Yuri deu um pé na bunda dela e começou a namorar uma garota da igreja dele. Se não bastasse, falou que se eu não tivesse à disposição dela pra conversar, que não adiantava nada, que não era pra eu contar pra ninguém, nem mesmo pra vocês, o que aconteceu. Aí eu fui e falei que era pra ela ir sim, que ia fazer bem pra ela conversar e se divertir. Ela disse que não, que não queria que vocês soubessem. Ah, e tá espalhando pra um monte de gente que a Nina dormiu com o Victor. – Luiza terminou de falar com uma cara super séria.
- Cara, que vaca. – Bia falou, irritada.
- Nossa, como é que a Ruby teve coragem de fazer isso com a gente? – Sofia disse, perplexa.
- Ah, mas isso não vai ficar assim. Se ela não confia em mim, eu é que não vou mais confiar nela. Parei, cara. Parei de falar qualquer coisa da minha vida pra essa garota. A partir de agora não é mais minha amiga. E onde já se viu, falar que eu dormi com o Victor? Desde quando beijar é sinônimo de transar? De onde ela tirou isso? – perguntei, incrédula.
- Calma Valentina, não é assim que as coisas funcionam.
- Eu sei, Luiza, mas é impossível ficar calada diante de uma situação dessas. Porra, eu achava que ela era minha amiga, que confiava em mim. E outra, por quê ela espalhou pra escola inteira que eu transei com o Victor? Todo mundo sabe que ele é meu amigo e nós nunca faríamos isso.
- Ai meu Deus, se eu soubesse que você ia ficar desse jeito, não tinha falado nada, tinha calado a minha boca.
- Pois é, Luiza, só que você falou. – disse, e saí dali irritada,pisando duro. Cara, tudo bem que ela era amiga da Ruby, mas aquilo já tava passando dos limites.
Cheguei a sala e vi os garotos sentados no fundão, num papo super animado sobre música. Já a Alice tava conversando com a Ruby sobre o Alexandre na porta da sala. Pedro viu que eu não tava muito bem e veio falar comigo.
- E aí magrela!
- E aí.
- Fala pro amor da sua vida aqui, o que tá te afligindo?
- Uau! Falando difícil! Aprendeu onde e com quem?
- Deixa de besteira, sua boba, e fala logo.
- Não é nada não,é bobeira.
- Lembra quando a Melissa me deu um fora e a gente, por acaso, se encontrou na praça? Eu confiei em você. Preciso que você confie em mim agora. – disse e eu contei tudo pra ele, nos mínimos detalhes, tudo que a Lulis falou, a minha opinião sobre o assunto, enfim. No fim das contas ele disse que era pra eu não ficar triste, que as coisas dariam certo, e que se eu precisasse, ele tava ali. Em seguida me abraçou forte. Nisso a minha mãe entrou e nos olhou com um olhar cúmplice, mas me mandou sentar no meu lugar e deu início à aula.
A aula passou voando e na hora do intervalo eu fui tirar satisfação com a cobra.
- Ruby? – a chamei.
- Oi Nina. – ela disse, sorrindo.
- Que história é essa de espalhar pro colégio inteiro que eu dei pro Victor na minha festa de aniversário?
- Como assim?
- Não sei, me explica você.
- Eu não sei do que você tá falando.
- É? Porque umas três garotas já me pararam pra dizer que eu tinha sorte por transar com o melhor amigo do meu irmão. Quando eu fui perguntar quem havia inventado essa história, o único nome que surgiu foi o seu.
- Estranho. Deve ser algum mal entendido, porque eu não disse nada.
- Tem certeza?
- Absoluta.
- Então ta. Se você ta dizendo que não teve nada a ver com isso, vou acreditar em você. Entretanto, fica o aviso: Se eu escutar mais alguma fofoca com o meu nome e souber que a senhorita ta envolvida, pode fazer suas malas e se preparar pra voltar pra casa, porque aqui você não fica. – disse e fui me juntar ao Pedro e ao Guilherme, que dividiam um pacote de passatempo, deixando-a sozinha na porta da sala. Se ela queria ser falsa, que fosse bem longe de mim.
Cara, a minha amizade com o Pedro tava crescendo cada vez mais, enquanto a minha amizade com a Lulis parecia estar indo pro espaço. Qualquer coisa era motivo de briga: Ou era por causa da Ruby, ou era por causa de um trabalho... Aquilo já tava começando a me irritar.

div class="titlecap">Capítulo 8 – Amor de infância

Passados quinze dias desde que eu e a Ruby tivemos aquela conversa e as coisas só pioravam. Graças a essa australiana, a vida de todo mundo virou de cabeça pra baixo: Alice e Alexandre estavam sem se falar, a Lulis mal olhava na minha cara e a Sofia tava de castigo, sem poder sair de casa e sendo vigiada por um par de seguranças mal encarados. Tudo porque a bonita resolveu contar pro tio Bento que a Sof e o Henrique estavam namorando escondido, sendo que não era verdade. Vendo essa situação e percebendo o quanto os meus amigos sofriam, resolvi dar um basta nisso. Com a ajuda do Pedro e da Bia, que tava tão irritada quanto eu com essa estrangeira e agora era minha cunhada, fui até a casa da Sofia conversar com o pai dela.
Era quinta-feira e o tempo tava fechado, mesmo que estivéssemos no início da primavera. Por volta de 16h, encontrei a Bia e o Pedro e nós fomos até a casa da Sofia. Pra nossa sorte, o tio Bento estava em casa e concordou em nos receber.

- Oi tio! – eu, Bia e Pedro dissemos, sorridentes.
- Oi crianças. Olha, se vocês vieram falar com a Sofia, perderam tempo. Ela ta proibida de falar com qualquer pessoa que tenha ligação com aquele...aquele garoto.
- Na verdade, é com o senhor mesmo que a gente veio falar. – eu disse, meio sem graça.
- Comigo? – ele se assustou.
- Aham.
- Sendo assim, vamos lá pro escritório, enquanto eu peço pra Jane trazer alguma coisa pra gente beber. O que vocês vão querer?
- Nada. – nós três dissemos.
- Então vamos. – saímos da sala e fomos direto pro escritório, onde fomos acomodados em três confortáveis poltronas. – Pronto, digam o que vocês querem tanto falar comigo.
- Bom... Er... É sobre a Sofia e o Henrique. – Bia disse,receosa.
- Mais uma vez, perderam tempo. Eu não quero saber de nada relacionado àquele moleque.
- Tio, por favor,ouça o que a gente tem a dizer. Se depois de tudo o senhor não mudar de idéia, prometo que essa história morre aqui e a gente para de te incomodar.
- Tudo bem crianças, falem; mas eu não prometo nada. – Pelo menos ele aceitou ouvir o que nós temos a dizer, já era meio caminho andado.
- Vamos lá, então. – Contamos tudo a ele, desde o começo. Falamos da história da Ruby, mostramos a ele que só porque o Rique era um baixista não significava que ele ia magoar a Sofia, que ela e o Henrique se gostavam de verdade... No fim das contas ele acabou liberando o namoro dos pombinhos, desde que o Henrique fosse lá pedir pra namorar. Concordamos e saímos do escritório, felizes pelos nossos amigos. Pedro deu a idéia de levar os dois ao parquinho onde se conheceram, para um encontro super romântico. É lógico que eu e Bia concordamos. Depois de combinar tudo com ele, corremos pro quarto da Sofia e demos de cara com ela embaixo do edredom chorando.
- SOFIA VIDAL! LEVANTA ESSA BUNDA GORDA DA CAMA E VAI JÁ PRO BANHEIRO! – dissemos, tirando o edredom dela.
- Oi pra vocês também, Valentina e Beatriz. Vão parar de gritar ou ta difícil? – perguntou, com voz de choro.
- Não enquanto a senhorita não fizer o que eu mandei. – Bia disse, autoritária.
- E eu posso saber por que tenho que ir para o banheiro? Não quero fazer xixi. – ela disse, secando as últimas lágrimas.
- Porque nós vamos sair. – disse, olhando pra Bia com um sorriso.
- Sair? Pra onde? Esqueceram que eu to de castigo?
- Quer parar de perguntar e ir fazer o que eu mandei? Temos pouco tempo.
- Ta bom, mamãe! – Enquanto ela tomava banho, Bia foi até o guarda-roupa dela, pegou uma calça jeans preta, uma camisa branca, jaqueta de couro preta e coturno preto. Assim que ela saiu do banho, sequei seus cabelos loiros, dando uma leve ondulada e fiz uma maquiagem básica. Ao final de uma hora, ela tava linda, pronta pra encontrar o amor da vida dela e ser feliz.

PONTO DE VISTA DO PEDRO
Falaê gente linda. Tudo bem com vocês? To aqui pra contar como eu consegui tirar o Henrique de casa e levá-lo pros braços da Sofia. Enquanto as meninas foram arrumar a loirinha, eu fui até a casa do Henrique buscá-lo. Antes disso, passei em casa e fiquei uns bons vinte minutos vendo tv, já que a Bia disse que talvez demorasse um pouquinho com a Sof.
Quando achei que já tava bom de esperar, fui até a casa do Rique e encontrei ele, o Xande e o Bernardo na garagem, com cara de poucos amigos.

- Pedro, onde você tava? Ta atrasado pro ensaio. – Henrique disse, sem paciência.
- Desculpa, Garcez, mas eu não sabia que tinha ensaio.
- Como assim? Alexandre, seu mané, você não avisou ao Pedro que tinha ensaio?
- Ih, foi mal, esqueci. Com esse lance da Alice sem falar comigo, eu não tenho prestado muita atenção nas coisas. – Xande disse, com um olhar triste.
- Não acredito que você esqueceu, mas já que o Pedro tá aqui, bora ensaiar.
- Pode esquecer ensaio, Garcez, você tem um compromisso agora.
- Ficou maluco, Albuquerque? Não tenho compromisso nenhum, a não ser o ensaio da banda hoje.
- Se eu to falando que tem, é porque tem. E vai logo tomar banho, que a gente vai se atrasar.
- Você ta bêbado? Fumou um baseado? Só pode ser.
- Porra, Henrique, para de reclamar e vai logo tomar banho? Nós vamos sair e eu preciso que você esteja arrumado. – disse, sem paciência, abrindo a porta que dava pro interior da casa.
- Não vou até saber pra onde nós vamos. – disse, com a mão na cintura, parecendo a minha irmã mais nova.
- Escuta aqui, seu cuzão, se eu contar, a Nina e a Bia vão me matar, entendeu? Só confia em mim e faz o que eu to mandando. – disse e o idiota foi tomar banho.

Enquanto ele se arrumava, contei aos outros dois sobre o plano de juntar a Sofia e o Henrique e eles adoraram a ideia. Perguntaram se podiam ir junto e eu concordei. Ia ser divertido ter mais alguém pra ver a cara de trouxa do Rique e zoá-lo depois.
Enfim, tivemos que esperar mais de meia hora até a boneca aparecer. Ele usava uma calça jeans preta, blusa preta por baixo de uma jaqueta preta de couro e tênis preto da Coca- Cola.

- Mano, tu vais pra um velório? – Bernardo perguntou, rindo.
- Por que tá perguntando isso? – Henrique quis saber.
- Ta todo de preto.
- Eu não sabia pra onde a gente ia, então resolvi me arrumar.
- Galera, vamos deixar de papo sobre a roupa do Henrique e ir embora? Estamos atrasados. – disse, olhando a hora no celular, e saímos.
FIM DO PONTO DE VISTA DO PEDRO

Por incrível que pareça, chegamos todos ao mesmo tempo no parquinho, que ficava perto da casa dos dois. Quando se viram, abriram sorrisos enormes e seus olhos brilharam. Sofia correu e abraçou Henrique apertado. Desde que os seguranças passaram a acompanhar a garota, os momentos com Henrique se tornaram cada vez mais escassos.
- É, eu não quero ser o chato e estraga prazeres, mas preciso interromper esse momento reencontro de vocês e informar o porquê de estarem aqui hoje. – Pedro disse, depois de um tempo. O casal se separou e nos olhou, felizes.
- Tem um motivo maior que o de nos encontrarmos depois de todo esse tempo sem se ver direito? – Sofia perguntou.
- Tem, e eu aposto que vocês vão adorar. – disse, com um sorriso no rosto.
- Então fala logo. – Henrique disse, nervoso.
- É o seguinte: Eu, a Nina e o Pedro fomos até a casa da Sofia, conversamos com o tio Bento e o fizemos entender que essa birra toda com o Henrique é sem fundamento nenhum. Com isso ele liberou o namoro de vocês, mas... – Bia não conseguiu terminar a frase. O casal se beijou ali mesmo, sem se importar com nada a sua volta. Quando o beijo findou, Beatriz tomou a palavra novamente. – Então, como eu ia dizendo, os pombinhos só poderão namorar com uma condição.
- Que condição? – Sofia perguntou.
- O tio Bento quer que o Rique vá até a sua casa pedir pra namorar.
- E ele já marcou uma data? – Henrique perguntou, nervoso, e todo mundo riu da cara dele.
- Aí tu já queres demais, né? Nós demos o empurrãozinho pra vocês ficarem juntos. O resto é com vocês.
- Não precisa fazer isso se não quiser, Rique. O meu pai não é a pessoa mais fácil do mundo, vai te encher de perguntas, te deixar constrangido. – Sofia disse, triste.
- O que? Ficou maluca, Sof? Claro que eu vou. Se essa é a condição pra nós ficarmos juntos, então eu encaro de cabeça erguida. – Henrique disse e os dois se beijaram novamente.
Essa foi a nossa deixa pra sair de fininho e deixar os pombinhos recuperando o tempo perdido. Não comentei, mas o Xande e o Bê estavam junto com o Pedro, então resolvemos ir pra casa do Bernardo ver um filme pra relaxar. A semana de provas se aproximava e todos estavam tensos. Seriam nossas últimas provas e depois, adeus ensino médio e olá vida adulta.
Estávamos vendo Madagascar, rindo das dancinhas do Rei Julien, quando uma ideia passou pela minha cabeça.
- Sabe, gente, eu tava pensando numa coisa.
- Você, pensando? Qual o milagre? – Bernardo perguntou, rindo, e acabou pausando o filme.
- Deixa de ser besta. To falando sério. Desde que eu e o Guilherme chegamos aqui, todo mundo era muito unido, a gente acabou virando uma “Grande Família”. Agora, olha como nós estamos. Cada um pra um lado, ninguém sai mais junto, a Lulis mal olha na nossa cara. Não aguento mais!
- Eu sei, também nunca vi essa galera desse jeito. O povo se conhece desde sempre e é a primeira vez que eu vejo a Alice e o Xande sem se falar. – ele disse, e olhou pro menino, que estava triste.
- Nem me fale, brother. Essa distância da Ali tá me matando. O pior é que eu nem sei o que fiz pra ela me tratar da forma como tá me tratando. Se dissesse que eu fiz alguma coisa, mas não. Ela simplesmente decidiu não falar mais comigo, sem dar nenhuma explicação.
- Aposto que foi alguma merda que a Ruby falou pra ela. Já perceberam como as duas andam grudadas? – Bia disse, com raiva.
- A Bia tem razão. Essa garota ta dando nos nervos, sempre arrumando um jeito de fazer intriga, colocar uns contra os outros. A troco de que eu não sei, mas a gente precisa dar um jeito nisso. – disse, e todos concordaram.
- Bom, quanto à Lulis, não tem o que fazer. Ela tem que perceber por conta própria que a Ruby é uma vaca filha da puta e tá tentando separar a gente. Já no caso do Xande e da Ali, eu tive uma ideia que pode ser que dê certo. – Pedro disse, e nós começamos a discutir a respeito.
Ao final de duas horas, definimos tudo o que seria feito e o Xande tava feliz da vida, ansioso pra chegada da nossa formatura.

Capítulo 9 – Estudamos forçado, somos pirados, porém formados


Mais dois meses se passaram e o dia mais esperado por todos chegou: a nossa formatura. Ao longo desses dois meses, muita coisa aconteceu. Vieram as provas do colégio, vestibulares, fiz a segunda prova do Scholastic Assessment Test e me inscrevi no curso de Engenharia Química. Também não deixei de fazer o vestibular pra uma universidade brasileira, e acabei optando pela PUC. As meninas também prestaram vestibular. A Sofia fez pra administração e comércio exterior na PUC, a Alice fez pra Psicologia na UFRGS e a Luiza pra Direito no IPA. Já a Beatriz, assim como eu, fez o Scholastic Assessment Test e se inscreveu no Fashion Institute of Technology, em Nova York. Bia tinha o sonho de trabalhar com moda e essa era a oportunidade perfeita, já que o FIT era um dos melhores na área, tendo como alunos Calvin Klein, Carolina Herrera e Michael Kors. Também se inscreveu em Design de Moda na UniRitter, pro caso de não dar certo no FIT. Os meninos decidiram seguir o sonho da música e não prestaram vestibular pra lugar nenhum.

Enfim, o grande dia chegou e foi uma correria só. Todos acordaram eufóricos e enquanto os meninos acertavam os últimos detalhes das apresentações, eu e as meninas aproveitamos pra dar uma volta pela cidade, a fim de comprar o que faltava. A propósito, um mês depois que a Sofia e o Henrique ficaram pela primeira vez, a Lulis finalmente caiu em si sobre a Ruby e nós voltamos a nos falar.

Lá pelas 15h, fomos ao salão de beleza e fizemos cabelo e maquiagem. Saímos de lá por volta de 18h e fomos pra casa da Alice nos arrumar. No quarto dela foi aquela bagunça, típica de quando nos reuníamos. Tiramos muitas fotos, tomamos milk shake e dançamos ao som de Get Right, da Jennifer Lopez. Depois, cada uma foi se vestir. Ao final de quarenta e cinco minutos, estávamos prontas. Eu usava um vestido longo vermelho, com decote trapézio e as costas de fora. Os cabelos estavam soltos, levemente ondulados e a maquiagem era clássica, com delineado bem marcado e batom vermelho. A Sofia foi com um vestido longo estampado em floral, tomara que caia. Os cabelos também estavam soltos e ela optou por uma maquiagem em tons de rosa. A Alice usava um vestido longo preto, com decote trapézio e top bordado imitando couro. Os cabelos estavam presos em um rabo de cavalo com topete e a maquiagem foi feita em tons de nude, bem discreta. A Luiza optou por um vestido longo prateado, de alças finas e um decote discreto. Os cabelos foram ondulados milimetricamente e a maquiagem em tons cobre davam a ela um ar de old Hollywood. Por fim, a Beatriz foi com um conjunto de top cropped e saia longa estampados, que ela mesma criou. Os cabelos ruivos foram presos em um coque alto e a maquiagem era composta por delineador gatinho e batom vermelho. Todas lindas e maravilhosas. Como a Ali estava recém habilitada e ganhou um Ford Eco Sport dos pais, decidimos que chegaríamos juntas e assim aconteceu.

Chegamos ao colégio faltando cinco minutos pras sete da noite e nem deu tempo de falar direito com os meninos. Logo a organizadora do evento nos mandou colocar as becas e nós fomos conduzidas pra onde todos os formandos se encontravam. Às 19h em ponto a formatura teve início. Eu, como sempre, fui a última a ser chamada.

Depois de entediantes duas horas de muita enrolação, a Alice foi chamada ao palco para a última parte da colação: o discurso de formatura.


- Boa noite a todos. Meu nome é Alice Monteiro e eu recebi a missão de falar a todos vocês aqui presentes o que eu e os meus colegas de classe gostaríamos de dizer neste momento. Pra ser sincera, eu tô um pouquinho nervosa, então, se eu falar algo de errado ou gaguejar, me perdoem.


‘Quando me pediram pra escrever o discurso de formatura, eu senti que essa seria uma missão quase impossível. Passei dias e dias tentando pensar em algo legal e emocionante pra dizer, mas acabei não conseguindo. Por isso, escolhi o discurso de formatura da minha série preferida, One Tree Hill. Acho que ele traduz bem o que eu tentei escrever e não consegui.

“William Shakespeare certa vez disse...

Existe uma maré nos casos dos homens a qual,
levando à inundação, nos encabeça à fortuna.
Mas omitidos, a viagem das vidas deles
está restrita em sombras e misérias.
Em um mar tão cheio estamos agora a flutuar.
E nós devemos pegar a correnteza quando nos for útil,
ou perder as aventuras á nossa frente”

Eu acho que o que essa citação significa é que a vida é curta e as oportunidades são raras e nós temos que ficar de olho e protegê-las, e não só as oportunidades de sucesso, mas as oportunidades de rir,de ver o encanto do mundo, e de viver.
Porque a vida não nos deve nada, na verdade eu acho que nós devemos algo ao mundo. E se nós apenas acreditarmos…

Agora é a hora de nós brilharmos, a hora em que nossos sonhos estão a nosso alcance e as possibilidades são vastas. Agora é a hora de nos tornarmos pessoas que sempre sonhamos ser. Esse é o seu mundo. Você está aqui. Você é importante. O mundo está esperando. Vamos nessa galera! Nós conseguimos!!!!! Obrigada.” – ao terminar de falar, Alice foi super aplaudida.


Pra finalizar essa etapa, só faltava uma coisa. Quando o cerimonialista disse que a turma 3001 estava declarada formada no ensino médio, nós nos entreolhamos e contamos até três, jogando os capelos pra cima, numa cena típica dos colégios americanos. Terminava ali uma etapa de nossas vidas, que levaríamos pra sempre em nossas memórias. A partir dali, novos desafios começariam e talvez nos separássemos, mas tínhamos dentro de nós a certeza de que tudo valeu a pena.



Capítulo 10 – Incompleto


Depois da colação, nos livramos das becas e fomos curtir a festa. Nossas mesas estavam próximas umas das outras e nossos pais conversavam animadamente entre si. Eu e as meninas resolvemos trocar o salto alto por Havaianas e fomos dar uma circulada pelo local. Vimos a Ruby num canto com o Yuri e eu, sinceramente, não sei como ele a aguentava. Os dois viviam um namoro ioiô e toda hora terminavam, seja porque ele deu em cima de outra menina, ou porque ela falou mal da irmã dele. Sem falar no péssimo gosto dela pra roupas. Onde já se viu uma formanda usar calça preta, top preto com um decote no estômago, praticamente mostrando os peitos, e um terno que parecia ter saído de Oz?

Enfim, fomos dar uma volta e eu encontrei o Victor. Ele tava com a Débora e se afastou quando me viu. Resolvi falar com ele e deixá-lo livre pra ser feliz com qualquer garota que não fosse eu. Não contei antes, mas desde o meu aniversário, quando a gente se beijou pela primeira vez, o Victor achou que eu correspondia ao sentimento dele e vivia me ligando, me chamando pra sair. É claro que eu nunca aceitei, não por maldade, mas por não querer criar expectativa a respeito de algo que não tinha como dar certo. O Victor era um cara legal, aparentemente gostava de mim, mas não era ele que eu queria naquele momento.


- Oi Victor. Oi Débora. Tudo bem? perguntei, me aproximando do casal.
- Oi Nina. Tudo bem? Parabéns pra nós. – Victor disse. Débora sequer respondeu. Apenas me olhou com cara de nojo, como se eu tivesse interrompendo algo muito importante. Mal sabia ela que mais tarde ela ia me agradecer por essa interrupção.
- Parabéns pra nós. Será que eu posso interromper a conversa de vocês só um pouquinho?
- Claro. – ele disse, e nos afastamos, de modo que a garota não pudesse ouvir a nossa conversa.
- Então Victor, eu vou ser direta e reta. Sei que você gosta de mim, que desde a minha festa de aniversário alimenta esperanças de que a gente vá se tornar um casal, mas eu preciso te dizer que não existe essa possibilidade. Eu te acho um cara bacana, por quem eu tenho um carinho enorme, mas nós nunca seremos mais do que amigos.
- Nossa, você tá me dando o fora em plena festa de formatura? Muito obrigado por estragar a minha noite, Valentina. – disse, irritado.
- Não é isso. Deixa eu te explicar. Sabe a Débora? A garota que não para de me olhar com raiva enquanto a gente tá aqui conversando? Ela sempre foi apaixonada por você, Victor. Qualquer um consegue enxergar isso, menos você.
- Mas ela é muito nova, acabou de fazer quinze anos e vai entrar no ensino médio, enquanto eu to saindo da escola e com ideia de seguir carreira com a banda.
- Olha, não to dizendo que vocês vão casar, ter dez filhos e uma casa com quintal enorme, mas não custa nada dar uma chance a ela. Aproveita essa noite e vai curtir, vai ser feliz. O que eu não quero é que você perca o seu tempo comigo, sabendo que não chegaremos a lugar nenhum.
- Tem certeza de que nunca ficaremos juntos? – perguntou, ainda esperançoso.
- Absoluta.
- Tem outra pessoa nessa história, não tem?
- Digamos que sim.
- Sabia! Acho até que sei quem é.
- Duvido muito.
- Pedro Albuquerque te diz alguma coisa?
- Você sabe de tudo mesmo, hein? Só não fala pra ninguém, fica sendo o nosso pequeno segredo. – disse, e ele me abraçou. Em seguida, retornou pra junto da Débora e ela abriu um sorriso enorme quando ele falou algo no ouvido dela.


Uma hora depois e a Carpe Diem subiu ao palco para um show, que contou com músicas autorais e alguns covers, incluindo Accidentally in Love, do Counting Crows, que o Victor tocou olhando na direção da Débora. Preciso nem dizer que ela ficou mega feliz, né?

O show seguinte foi o da The Lucky Ones e seguiu a mesma linha da Carpe Diem, com músicas autorais e covers. Teve também o momento “Dedicatórias”, o mais esperado da noite, pelo menos pros membros da banda, pra mim e pra Bia. Sim, era chegado o momento de colocar em prática tudo o que havíamos planejado durante dois meses. Antes, Bernardo dedicou I Miss You, do Blink 182 pra Lulis; o Pedro dedicou Count On Me, do Bruno Mars, pra mim, o que me deixou feliz e triste ao mesmo tempo – era muito bom saber que podia contar sempre com ele, mas ao mesmo tempo, foi triste saber que ele me via somente como amiga; e o Henrique dedicou You And Me, do Lifehouse, pra Sofia.

- Bom, galera, depois do Bernardo, do Pedro e do Henrique terem dedicado músicas pra pessoas especiais, chegou a minha vez. A minha pessoa especial é uma garota por quem eu sou apaixonado desde que a vi pela primeira vez e que de uns tempos pra cá não fala mais comigo, por motivos alheios à minha vontade. Eu só queria dizer que apesar de toda a distância, o que eu sinto por ela não mudou. Eu continuo sentindo vontade de abraçá-la todos os dias, de saber como foi a sua rotina e vê-la sorrir por uma piada estúpida que eu contei. Sem ela por perto eu me sinto incompleto, e é por isso que a próxima música é Incomplete, dos Backstreet Boys. Só você mesmo, garota especial, pra me fazer cantar Backstreet Boys na nossa festa de formatura. – Alexandre disse, piscando pra Ali ao dizer a última frase.


Empty spaces fill me up with holes
(Espaços vazios me enchem de buracos)
Distant faces with no place left to go
(Rostos distantes sem nenhum destino)
Without you within me I can't find no rest
(Sem você em mim não posso encontrar descanso)
Where I'm going is anybody's guess
(Aonde vou ninguém pode adivinhar)

I’ve tried to go on like I never knew you
(Tentei continuar como se nunca tivesse te conhecido)
I'm awake but my world is half asleep
(Estou acordado, mas meu mundo está metade adormecido)
I pray for this heart to be unbroken
(Eu rezo para que meu coração seja inquebrável)
But without you all I'm going to be is incomplete
(Mas sem você tudo que eu serei... incompleto)

Voices tell me I should carry on
(Vozes me dizem que eu devo seguir em frente)
But I am swimming in an ocean all alone
(Mas estou nadando num oceano totalmente só)
Baby, my baby, it's written on your face
(Amor, meu amor, está escrito em seu rosto)
You still wonder if we made a big mistake
(Você ainda pergunta se cometemos um grande erro)

I’ve tried to go on like I never knew you
(Tentei continuar como se nunca tivesse te conhecido)
I'm awake but my world is half asleep
(Estou acordado, mas meu mundo está metade adormecido)
I pray for this heart to be unbroken
(Eu rezo para que meu coração seja inquebrável)
But without you all I'm going to be is incomplete
(Mas sem você tudo que eu serei... incompleto)

I don't mean to drag it on
(Eu não quero prolongar isso)
But I can't seem to let you go
(Mas eu não consigo deixá-la)
I don't wanna make you face this world alone
(Não quero te fazer encarar este mundo sozinha)

I wanna let you go
(Eu quero deixá-la ir)

I’ve tried to go on like I never knew you
(Tentei continuar como se nunca tivesse te conhecido)
I'm awake but my world is half asleep
(Estou acordado, mas meu mundo está metade adormecido)
I pray for this heart to be unbroken
(Eu rezo para que meu coração seja inquebrável)
But without you all I'm going to be is incomplete
(Mas sem você tudo que eu serei... incompleto)

Incomplete
(Incompleto)

Acho que isso mexeu de verdade com a Ali, já que ela não parava de chorar. Isso só podia significar que o objetivo foi alcançado. Depois dessa, os meninos tocaram mais duas ou três músicas e encerraram o show. Alice correu até o palco e esperou que Alexandre descesse, para que os dois pudessem conversar e se acertar em definitivo.

- Então quer dizer que só eu tenho o poder de te fazer tocar Backstreet Boys? – ela perguntou, com um sorriso enorme no rosto.
- Pra você ver como é poderosa. Nenhuma outra garota me faria pagar esse mico na frente da escola, em plena formatura do ensino médio. – ele disse, retribuindo o sorriso.
- Bom saber. – ela disse, e os dois se olharam por algum tempo, em silêncio. – Me desculpa por todo esse tempo sem falar contigo. A Ruby encheu a minha cabeça de besteiras a seu respeito e eu não sei por que acreditei nela. No fundo, acho que foi só uma desculpa pra fugir do que eu to sentindo por você. A gente se conhece desde o ensino fundamental e eu sempre te vi como um amigo. Só que, de uns tempos pra cá, eu comecei a te olhar de uma forma diferente e tive medo de estragar a nossa amizade.
- A gente sempre vai ser amigo, Ali, independente do que aconteça, mas eu não posso mais fugir desse sentimento, é mais forte que eu. – ele disse e ela o beijou.

Nossa formatura vai ficar marcada na memória de todos. Foi uma noite mágica, onde tivemos a certeza de que, apesar das mudanças que estavam por vir, nada nem ninguém nos separaria. Bebemos, tiramos foto, nos divertimos e encerramos esse ciclo com a sensação de dever cumprido. Valeu a pena todos os momentos vividos naquele colégio; são lembranças que vamos carregar conosco pelo resto de nossas vidas.



Capítulo 11 – A viagem


Uma semana depois da formatura e estávamos a três dias do Natal. Sabe, não é a minha data preferida no ano. Depois que o meu avô materno faleceu no dia seguinte ao Natal, quando eu e o Gui tínhamos dez anos, essa data nunca mais foi a mesma. Entretanto, esse ano eu tava ansiosa pra chegada do dia 25 de Dezembro. Lembram quando eu disse que não queria festa no aniversário de dezoito anos? Então, os meus pais resolveram bancar uma viagem pra Cabo Frio, no Rio de Janeiro. Fazia muito tempo que não íamos pra lá, logo, decidi que passaria o ano novo na cidade que era tão especial pra mim. Óbvio que eu não ia viajar sozinha, então convenci os meus pais a falarem com os pais dos meus amigos e eles acharam a ideia do passeio ótima, só não contaram a ninguém. Ia ser uma surpresa pra todos e eu ficaria encarregada de contá-la.

Era vinte e um de Dezembro e nós comemorávamos o aniversário de quarenta e um anos da minha mãe. Estavam todos reunidos, meus pais, os pais dos meninos e das meninas, alguns familiares e amigos do trabalho. Meu pai estava na churrasqueira e nós aproveitávamos o dia ensolarado na piscina, quando decidi que era hora de contar a novidade. Reuni todo mundo num canto e joguei a bomba.

- Galera, é o seguinte: Vocês lembram que no meu aniversário eu não queria festa, certo? – disse e todos concordaram. – Então, já que eu não queria festa, meus pais quiseram me dar um presente e eu escolhi ir pro Rio no réveillon.
- Amiga, você vai nos abandonar? – Lulis perguntou, desanimada.
- Não, e essa é a melhor parte. Vocês vão comigo!- eu disse, sorrindo.
- Como assim? – Xande perguntou.
- Dia 25, nós DEZ vamos pegar o voo das 18h pro Rio de Janeiro, se vocês concordarem.
- Pow, que legal, Nina! – Pedro disse, animado.
- Também gostei da ideia, mana. Só que tem uma coisa. A gente não vai voltar pra Curicica não, né? – Guilherme perguntou, com cara de nojo. Achei que ele tivesse com saudade dos nossos amigos de lá, mas pelo visto estava enganada.
- Claro que não, maninho, ainda não fiquei maluca. Vamos pra Cabo Frio, no litoral.
- Oba! Praia, sol e muitas morenas da cor do pecado. Tô dentro! – Bernardo disse, animado, o que fez a Lulis rolar os olhos.
- Isso significa que vocês vão, certo? Meus pais já conversaram com os pais de vocês e eles liberaram. – eu disse, receosa, e todos confirmaram. Fiquei aliviada e já fazendo vários planos sobre a viagem.

O Natal chegou e foi uma festa só. Eu e Guilherme, como de costume, abrimos os presentes à meia noite (parece coisa de criança, mas não há nada mais legal que isso, podem ter certeza), comemos o rango da mamãe e fomos encontrar a galera na praça João Correa. Essa era uma das mais conhecidas da cidade, e ficava especialmente encantadora na época do Natal, quando era toda decorada – a praça tinha, inclusive, uma casinha do Papai Noel, que era a coisa mais linda do mundo. Ficamos conversando e bebendo por um tempo, fazendo planos sobre a viagem. As meninas pensavam nas roupas que levariam e os meninos comentavam sobre as baladas. Lá pelas 04h, o cansaço bateu e decidimos que era hora de ir pra casa.

No dia vinte e cinco, todos estavam animados. Saímos de Canela depois do almoço e demoramos quase duas horas até chegar a Porto Alegre. Às 18:00 em ponto, decolamos rumo ao Rio de Janeiro. Dentro do avião foi a maior comédia. O Bernardo tinha medo de altura e quase fez o Pedro perder a mão esquerda, de tanto que a apertou. Também deu um grito de pavor no momento da decolagem, o que lhe rendeu uma bronca da aeromoça e fez os passageiros que estavam próximos rirem. Fiquei com pena, afinal, eu também tinha medo antes de me mudar pra Canela, mas acabei rindo junto com todo mundo.

A viagem foi tranquila e nós pousamos no Galeão por volta de 20:15. Demoramos quase meia hora pra pegar as bagagens, que não eram muitas, e embarcamos no ônibus linha 2018, que nos deixaria na rodoviária Novo Rio, onde embarcaríamos pra Cabo Frio. O trajeto foi curto e logo estávamos no guichê da Viação 1001 comprando as passagens. Como estávamos com fome, compramos as passagens do ônibus de 22:33 e fomos ao Spoleto da praça de alimentação.

No horário marcado, o ônibus saiu, com destino à cidade que me era tão especial. A viagem foi relativamente curta; desembarcamos na rodoviária de Cabo Frio por volta de 01:20 e fomos de táxi até o apartamento, que ficava próximo à praia do Forte. Uma semana depois do meu aniversário, quando decidimos pra onde seria a viagem, minha mãe ligou pra tia Sandra, uma amiga de longa data, e ela emprestou o apartamento pra gente, para que não precisássemos ficar em pousadas.

O apartamento do terceiro andar era composto por quatro quartos – sendo um suíte, uma ampla sala, cozinha tipo americana, uma pequena área de serviço e dois banheiros além do da suíte. Como estávamos em dez pessoas e três casais, decidimos organizar os quartos de forma que os casais tivessem privacidade. Sendo assim, o Gui e a Bia ficaram na suíte, o Rique e a Sof ficaram no quarto de frente e o Xande e a Ali foram para o quarto dos fundos, onde era mais silencioso e não dava pra ouvir o tumulto da rua – o Xande tinha dificuldade pra dormir e preferiu ficar onde tivesse menos barulho. Eu, a Lulis, o Pedro e o Bernardo ficamos no “quarto de solteiro”, onde havia uma treliche no canto esquerdo e uma beliche no canto direito. A Luiza não ficou muito feliz por dividir o quarto com o Bernardo, mas não teve jeito. Essa era a única opção e ela teve que aceitar. Enfim, como estávamos cansados da viagem, tomamos banho e dormimos.

Acordamos por volta de 10:00 morrendo de fome. Tomamos banho, colocamos nossas roupas de banho e fomos até a padaria da esquina tomar café. Em seguida, fomos até o Supermercado Só Ofertas, onde compramos cerveja e alguns itens pra abastecer a dispensa – especialmente material pra fazer os lanches do café da manhã. Deixamos as compras no apartamento, colocamos a cerveja pra gelar e seguimos para a Rua dos Biquínis, do outro lado do canal de Cabo Frio. O local é conhecido como a maior rede de moda praia da América Latina e eu e as meninas fizemos a festa. Passamos aproximadamente três horas andando de um lado pro outro, abastecendo nossos estoques de biquínis, cangas e acessórios. Os meninos detestaram o passeio, já que tiveram que esperar até decidirmos que estava bom de gastar o dinheiro suado dos nossos pais.

Retornamos ao apartamento, deixamos nossas compras e descemos, parando na garagem pra pegar as barracas, cadeiras de praia e raquetes de frescobol que ficavam num quartinho, na vaga do imóvel. Antes de chegar à praia do Forte, entretanto, paramos no Subway e fizemos um lanche. A praia, como de costume, estava cheia. Devido ao feriado prolongado, foi difícil achar um lugar na areia, mas conseguimos. Os meninos mal chegaram e já foram pra água, que apresentava uma verdadeira mistura de tons de azul, começando pelo azul cristalino e indo até um azul mais fechado, numa beleza de tirar o fôlego. Eu e as meninas preferimos ficar na areia, tomando sol e colocando o bronzeado em dia. De vez em quando um dos garotos chegava e tentava arrastar a gente para o mar, sem sucesso.

Enfim, ficamos ali até anoitecer, quando voltamos para o apartamento. Todos se arrumaram e descemos, indo jantar no restaurante Vira Verão, na orla da praia do Forte. O local era o preferido dos meus pais quando íamos pra lá e o Gui achou que seria legal nós jantarmos por ali. A comida estava uma delícia e o atendimento foi excelente.

O dia vinte e sete passou sem grandes acontecimentos. Acordamos cedo, fomos para a praia do Forte, onde levamos o pessoal pra conhecer o forte de São Mateus, e à noite decidimos ir pra Búzios, curtir a noite de lá. Como era alta temporada, as boates abriam todos os dias com as mais variadas atrações. Escolhemos a Privilège, desejo de consumo de todos, e a noite foi uma delícia. Pra ocasião, eu escolhi um vestido frente única preto, com babados na saia, e sandália de alto alto preta. A Sofia foi de short estampado vermelho e preto, top preto e sandália de tiras finas vermelha. A Alice escolheu uma camiseta azul marinho, short preto de couro e scarpim preto. A Luiza preferiu um conjunto de top cropped e saia azul, além de scarpim branco. Por fim, a Beatriz foi de vestido estampado em tons de rosa e azul, combinando com um scarpim rosa. Os meninos foram quase que com a mesma roupa: Camisa polo, calça jeans e tênis, variando a cor da blusa.

A surpresa da noite ficou por conta de um reencontro que não acontecia há anos. Estava conversando com a Lulis, enquanto o Pedro ia buscar cerveja junto com o Bernardo, quando o Guilherme apareceu com três figuras mega conhecidas: João, Fernando e Carlos Eduardo. Os três eram nossos amigos desde 1999, quando fomos passar o Carnaval em Cabo Frio pela primeira vez. Desde o Carnaval de 2004 não nos víamos, e eu fiquei bem feliz por encontrá-los ali, depois de tanto tempo. O papo e o ambiente estavam tão bons que saímos de Búzios com o dia amanhecendo.

Acordei no dia vinte e oito às 11:00 com o celular tocando. Xinguei mentalmente a pessoa que me ligava àquela hora da madrugada e atendi a ligação.

- Alô. – disse, com voz sonolenta.
- Nina? – a pessoa do outro lado da linha perguntou.
- Não, esse telefone é da mãe Joana e ela não está no momento.
- É sério, Nina. Eu to aqui na rodoviária de Cabo Frio e não sei onde fica o apartamento em que vocês estão.
- Quem ta falando? – perguntei.
- É a Júlia, irmã do Pedro.
- Como assim? O que você ta fazendo aqui em Cabo Frio? – perguntei, assustada, e levantei, indo pra sala.
- O Pedro não te avisou que eu tava vindo?
- Não.
- Pois é. Eu tava me sentindo meio sozinha aqui em Canela, já que todo mundo foi viajar, e liguei pro meu irmão perguntando se eu podia ir praí. Ele falou que podia e eu acabei vindo, só que a anta não me disse o endereço do prédio e eu to aqui na rodoviária sem saber pra que lado ir.
- Faz o seguinte, pega um táxi e pede pra ele te deixar em frente ao batalhão do Corpo de Bombeiros. Se você chegar e eu não estiver aí, me espera. Vou tomar um banho rápido e te encontro.
- Ok, vou te esperar. – ela disse e eu corri pro banho.

Desci dez minutos depois e fui encontrá-la no local combinado. Retornamos ao apartamento e acordamos todo mundo. O dia tava lindo e eu tinha sido acordada antes da hora, então nada mais justo que acordar os meus amigos também. Ninguém gostou, especialmente o Pedro, mas eu não podia fazer nada. O culpado por tudo era ele, que não avisou que a Julia tava vindo. Por falar em Pedro Albuquerque, durante o tempo em que estivemos na boate, ele não saiu do meu lado em nenhum momento e fazia cara feia quando algum cara tentava se aproximar. Isso só podia significar que ele tava com ciúme. Esperava, do fundo do coração, que ele percebesse que eu era muito mais do que só a melhor amiga e algo me dizia que não ia demorar muito pra isso acontecer.

Enfim, depois que todo mundo acordou, nos arrumamos e fomos pra praia do Peró, que ficava a uns sete quilômetros da praia do Forte. Passamos a tarde lá, com o João, o Fernando e o Cadu. Os meninos ficaram na areia jogando frescobol e futvôlei, enquanto eu e as meninas fomos caminhando até a praia das Conchas, que ficava ao lado do Peró. O lugar era lindo e nós aproveitamos pra tirar muitas fotos, apesar da água gelada.

Dia vinte e nove foi um dia de agitação, eu diria. Acordamos tarde, comemos uma batata recheada que a Bia fez e fomos pra rua. A ideia era fazer um luau naquela noite e tivemos que correr pra organizar tudo. Fomos ao supermercado, compramos bebidas, petiscos e levamos tudo pro apê do Fernando, que ficava em frente à praia. Depois, fomos até uma loja de decoração e compramos as tochas pra iluminar o local. Quando foi 19:00, resolvemos que era hora de nos arrumarmos. Os meninos levaram suas roupas pra casa do Nando e eu fui com as meninas pro apê, já que eram muitas pessoas pra se arrumar e levaríamos o dobro de tempo caso fosse todo mundo pro mesmo lugar. Como tava calor, escolhi um vestido esportivo, do tipo blusão, preto e branco. Sofia foi com um vestido estampado floral azul; a Alice foi de short jeans e blusa ciganinha também azul; a Lulis foi com uma bata estampada e short jeans; a Beatriz foi de top de couro marrom com franjas e short de estampa étnica; por fim, a Julia estava com um short de cintura alta branco e top cropped preto.

Chegamos à praia por volta de 20:30 e os meninos já estavam bebendo. O local estava todo iluminado pelas tochas; havia uma fogueira queimando no centro e uma mesa improvisada num canto, onde estavam os petiscos e biscoitos que compramos mais cedo. As bebidas estavam num isopor cheio de gelo ao lado da mesa e as cangas, que serviam como cadeiras, estavam próximas à fogueira. Tudo estava perfeito: O céu estrelado, o mar calmo, o vento deu uma trégua e não havia nenhum intruso, a não ser as namoradas do Fernando e do João, as quais fomos apresentadas. Os meninos começaram a tocar violão e o luau correu numa boa. Em determinado momento, Bernardo sugeriu uma música, que não era deles, mas significava muito.

- Ei, posso escolher a próxima música? – ele perguntou.
- Claro. Qual é? – Xande quis saber.
- A música mais recente do McFLY, Too Close For Comfort. Pode ser?
- Tem certeza que é essa música que você quer? – Rique perguntou, inseguro.
- Absoluta. – ele falou, decidido, e os primeiros acordes foram ouvidos.

I never meant the things I said
(Eu nunca quis dizer as coisas que eu disse)
To make you cry, can I say I'm sorry?
(Para fazer você chorar, Posso dizer que eu sinto muito?)
It's hard to forget and yes I regret
(É difícil esquecer e sim, eu me arrependo)
All these mistakes
(De todos esses erros)

I don't know why you're leaving me
(Eu não sei por que você está me deixando)
But I know you must have your reasons
(Mas eu sei que você deve ter suas razões)
There's tears in your eyes, I watch as you cry
(Há lágrimas em seus olhos, Eu assisto enquanto você chora)
But it's getting late
(Mas está ficando tarde)

Bernardo olhava pra Luiza, que não desviava o olhar um minuto.

Was I invading in on your secrets?
(Eu estava invadindo os seus segredos?)
Was I too close for comfort?
(Eu estava perigosamente perto?)
You're pushing me out
(Você está me afastando)
When I'm wanted in
(Quando eu quero entrar)
What was I just about to discover?
(O que eu estava a ponto de descobrir?)
When I got too close for comfort?
(Quando eu cheguei perigosamente perto?)
Driving you home
(Levando você para casa de carro)
Guess I'll never know
(Acho que nunca saberei)

Remember when we scratched our names
(Lembra quando nós escrevemos nossos nomes)
Into the sand and told me you loved me?
(Na areia e você me disse que me amava?)
And now that I find that you've changed you mind
(E agora que descubro que você mudou de idéia)
I'm lost for words
(Estou perdido nas palavras)

And everything I feel for you
(E tudo que eu sinto por você)
I wrote down on one piece of paper
(Eu escrevi em um pedaço de papel)
The one in your hand, you won't understand
(Esse na sua mão, você não entenderá)
How much it hurts to let you go
(O quanto dói te deixar partir)

Nessa última parte da 4ª estrofe, ela já não continha as lágrimas. Porém, não desviou o olhar de Bernardo por um minuto sequer.

Was I invading in on your secrets?
(Eu estava invadindo os seus segredos?)
Was I too close for comfort?
(Eu estava perigosamente perto?)
You're pushing me out
(Você está me afastando)
When I'm wanted in
(Quando eu quero entrar)
What was I just about to discover?
(O que eu estava a ponto de descobrir?)
When I got too close for comfort?
(Quando eu cheguei perigosamente perto?)
Driving you home
(Levando você para casa de carro)
Guess I'll never know
(Acho que nunca saberei)

All this time you've been telling me lies
(Todo esse tempo você esteve me dizendo mentiras)
Hidden in bags that are under your eyes
(Escondidas em bolsas que estão debaixo dos seu olhos)
And when I asked you I knew I was right
(E quando eu perguntei, eu sabia, eu estava certo)

But if you turn your back on me now
(Mas se você descontar em mim agora)
When I need you most
(Quando eu mais preciso de você)
But you chose to let me down, down, down
(Mas você só me desaponta, desaponta, desaponta)
Wont you think about what you're about
(Você não vai pensar no que está a ponto)
To do to me and back down?
(De fazer comigo, e voltar atrás?)

Antes mesmo de chegar ao refrão novamente, Luiza saiu correndo, chorando. Bernardo imediatamente largou o violão e foi atrás dela. Ninguém ousou dizer nada, sabíamos que era chegada a hora de uma conversa definitiva entre os dois. Pra descontrair, Pedro começou a tocar All My Loving, dos Beatles, e a galera esqueceu o que aconteceu minutos atrás.


Ponto de vista da Luiza

Assim que o Bernardo começou a tocar Too Close For Comfort, meu coração bateu mais forte. Eu sabia que ele tava sofrendo por tudo o que aconteceu e queria uma segunda chance, mas não sabia se eu estava preparada pra isso. Ele me magoou muito, fez coisas que eu jamais pensei que faria e não queria passar por tudo outra vez. Quando a música terminou, não tive outra reação a não ser sair correndo. Precisava ficar longe, pensar em tudo o que estava acontecendo naquele momento e tomar uma decisão. Eu só não contava que o Bernardo viesse atrás de mim. Sabia que ele queria uma resposta, mas eu não a tinha e enquanto eu não a tivesse, pretendia me manter afastada. Óbvio que não foi isso que aconteceu. Ele chegou correndo, esbaforido, e eu só queria fugir dali, mas ele foi mais rápido e me segurou pelo braço.

- Lulis, espera. Me escuta.
- Eu não tenho nada pra escutar, Bernardo.
- Tem sim, e vai ser agora. – ele disse, decidido, me segurando pelo braço.
- Bernardo, me larga. Tá me machucando.
- Só te solto quando você me ouvir.
- Por que, Bernardo? Por que você fez isso comigo? – perguntei, entre lágrimas.
- Lulis, me perdoa, por favor.
- Você tem noção do que tá dizendo ou já encheu a cara e fumou aquela merda de baseado que você carrega quando ta mal? – perguntei, com raiva.
- O que? Repete o que você acabou de dizer.
- Foi isso mesmo que você ouviu. Perguntei se você tá bêbado e drogado!
- É isso que você pensa que eu sou?
- Não, mas eu me decepcionei muito. Justo você foi fazer aquilo! Eu podia esperar de qualquer um, menos de você. Tudo bem fumar um baseado pra experimentar, mas fazer disso rotina e dizer que não é viciado, que para quando quer? Você acha que é fácil aceitar que o garoto que eu mais amo no mundo tá acabando com a própria vida a troco de nada?
- Eu sei, mas hoje eu tô bem, por Deus. Naquela época eu achava que tava fazendo a coisa certa fumando em todas as festas que frequentava, que não tinha nada demais em fumar um cigarro de maconha pra relaxar depois de um dia estressante. Só que hoje eu sei onde isso teria me levado se tivesse continuado.
- Como eu vou confiar em você de novo? Você quase teve uma overdose na festa da Julia no ano passado, mesmo depois de ter me dito que tava bem.
- Não sei, mas eu preciso de você ao meu lado, pra me ajudar a passar por isso, Lulis. Você é a única pessoa que sabe desse problema e sempre esteve ao meu lado, nunca me julgou. Se você se afastar, como tem feito, eu não sei o que vai ser de mim.
- Você passou todos esses meses sem mim e até onde eu sei, não fez nada de errado.
- Mas era em você que eu pensava quando alguém me oferecia um cigarro e eu recusava. Era o seu rosto de decepção que vinha na minha cabeça quando eu olhava pro baseado e eu sabia que se continuasse nessa, nunca ia te ter de volta. Se eu continuasse a me drogar, além de acabar morto ou preso, existia a possibilidade de você nunca mais falar comigo, e isso me matava. É por isso que eu to aqui, te pedindo uma última chance. Fica comigo e ajuda a ser uma pessoa melhor? – ele pediu, entre lágrimas.
- Uma última chance, Bernardo. Não a desperdice. – disse, depois de algum tempo em silêncio, e nos beijamos. Eu não sabia o que me aguardava, mas decidi dar um último voto de confiança. Eu amava o Bernardo e queria muito que fôssemos felizes, mas com ele sóbrio e longe de qualquer vício. Se essa era a única forma, então tudo bem.

Fim do ponto de vista da Luiza


Depois de um tempo, os meninos se cansaram das músicas e cada um foi pra um canto. Alice e Alexandre foram dar uma volta e ele a pediu em namoro, pelo que ficamos sabendo depois. Fernando, João e as respectivas namoradas foram embora num determinado momento, dizendo que teriam que acordar cedo no dia seguinte. Só restaram em volta da fogueira quase apagada eu, Guilherme, Bia, Cadu, Julia, Sofia, Henrique e Pedro. Aos poucos os casais foram saindo e só sobramos eu, o Pedro, o Cadu e a Ju, que estavam num papo bem animado e nem se ligavam no que acontecia ao redor deles. Chamei o Pedro pra dar uma volta e ele foi, contrariado por deixar a irmã mais nova conversando com o Cadu. Ambos sabíamos que eles estavam se curtindo e logo, logo, seriam mais um casal. A ideia de deixá-los a sós não agradou em nada o Pedro, mas eu tava disposta a fazê-lo mudar de opinião. Fomos caminhando até perto do forte, onde a única iluminação era da lua cheia, que brilhava imponente no céu. Ficamos ali por um tempo, brincando de pique-pega, até que cansamos e sentamos na areia. Peguei o celular e coloquei Find a Way, da banda Safetysuit, pra tocar bem baixinho, enquanto cantava. Pedro sabia que, apesar de não ter pretensão de seguir carreira, era uma cantora afinada.

- Fica comigo? – perguntei, de repente. Eu não era de tomar a iniciativa, mas não via outro jeito de ficar com o Pedro. Eu sabia que ele me via como amiga, que poderia ser um erro ficar com ele, mas esse era um risco que eu tava disposta a correr. Desde que nos aproximamos, quando o Maurício e a Melissa nos traíram, percebi que ele era o meu oposto, mas que de alguma forma muito estranha, a gente se completava. O que faltava em mim, ele tinha, e vice-versa. Era estranho pensar assim de um cara que eu conheci no início do ano, mas a impressão que eu tinha era de que a gente se conhecia desde sempre.
- Por que você tá me pedindo isso? - ele perguntou.
- Não sei, talvez porque eu esteja com vontade de te beijar?
- Eu também quero muito te beijar. – ele disse, aproximando nossos corpos.
- Tá esperando o que, então? – perguntei, e ele acabou com o pouco espaço entre a gente. O beijo, que começou tímido, aos poucos foi tomando forma e ficando cada vez melhor. Sabe aquele beijo que encaixa de primeira? Com a gente foi assim.
- Meu Deus, como eu esperei por isso. – ele disse, quando o beijo cessou.
- Jura que você queria me beijar? Por que não fez isso antes?
- Tava esperando o momento certo. – ele disse, rindo.
- Momento certo, Pedro? Aposto que se eu não tivesse tomado a iniciativa, esse beijo não ia acontecer nunca.
- Ia sim. Uma hora ou outra a gente ia acabar se pegando, seja por carência, falta de opção ou porque descobriu que se gosta e um não pode viver sem o outro.
- Bobo. – disse, rindo, e ele me beijou mais uma vez, agora com intensidade. O clima foi esquentando e quando dei por mim, estava sentada no colo dele, que tinha as mãos entranhadas nos meus cabelos bagunçados. Ficamos ali, entre beijos e amassos, por um bom tempo, até sermos interrompidos por um pigarro. Nos soltamos imediatamente e eu me sentei na areia ao lado dele, pra perceber que o dono do som era ninguém mais, ninguém menos que o meu irmão.
- É, desculpa interromper os pombinhos, mas a galera ta a fim de ir embora e só falta vocês dois. – ele disse, com uma cara nada boa.
- Estamos indo, Gui. Obrigada por avisar. – disse, prendendo o riso.
- Não demorem. Amanhã a gente acorda cedo pra ir passear em Arraial do Cabo e eu não quero ninguém atrasado. Ah, e dona Valentina, mais tarde nós vamos ter uma conversinha, eu e você. – disse, e saiu, com a Bia resmungando algo no ouvido dele. Nos beijamos mais uma vez e voltamos pra onde os nossos amigos estavam. Encontramos todos juntos e felizes, com exceção do meu irmão. As meninas me olharam com cara de interrogação e eu fiz sinal pra conversarmos mais tarde.

Voltamos pra casa e desmaiamos de tão cansados que estávamos. Apesar de tudo, fui dormir feliz. Tinha dado tudo certo no luau e eu finalmente fiquei com o Pedro. Tem jeito melhor de se terminar uma festa? Acho que não, né?



Capítulo 12 – Passeio em Arraial do Cabo


No dia seguinte, como previsto, foi uma droga pra acordar. Os celulares despertaram às 07:00 e ninguém queria levantar. Todos estavam cansados e foi aquele empurra-empurra pra ver quem ia tomar banho primeiro. Fizemos um sorteio e aos poucos o grupo foi ficando pronto. Decidimos tomar café na padaria e encontrar o Fernando, o Cadu e o João no ponto de ônibus. Como éramos um grupo relativamente grande, a melhor saída era ir de ônibus mesmo. Nos encontramos e não demorou dez minutos pro ônibus sair. A viagem durou cerca de vinte minutos e quando chegamos a Arraial do Cabo, descemos na praia dos Anjos, de onde os barcos saíam para os passeios. Por ser alta temporada, o João teve que agendar previamente o passeio; se deixássemos para última hora, estava arriscado não conseguirmos passear. O barco demorou cerca de uma hora até zarpar e a primeira parada foi nas prainhas do Pontal do Atalaia. O local era de um azul cristalino, ideal pra mergulho. Também havia uma duna no canto esquerdo da praia, onde aproveitamos pra descer escorregando em pranchas. Foi muito divertido, a galera levou cada tombo, que só Jesus. Tudo, claro, foi devidamente filmado e fotografado pelo nosso capitão, seu José.

A segunda parada do passeio foi na Fenda de Nossa Senhora, após passarmos pelo mirante do Boqueirão, uma espécie de passagem pro outro lado do pontal. O local, uma fenda de cinco metros de largura por quarenta metros de altura, tem esse nome devido à história de um pescador que encontrou ali uma estátua de Nossa Senhora Aparecida. A estátua foi levada em procissão até a Igreja Nossa Senhora de Assunção em Cabo Frio, onde foi posta no altar. Atualmente, uma imagem de Nossa Senhora pode ser vista no meio da fenda, numa espécie de altar. A parada ali foi basicamente pra tirar foto e conhecer a história do lugar.

Em seguida, fomos para a gruta azul, um dos lugares mais bonitos do passeio, na minha opinião. Paramos para mergulhar e admirar a vista da caverna, cuja abertura tem três metros de largura e um salão com quinze metros de altura. A água é de um azul turquesa que te deixa maravilhado, e as paredes internas da gruta, dependendo da incidência dos raios solares, apresenta tons dourados e prateados, um verdadeiro espetáculo da natureza.

Retornamos pelo Boqueirão e paramos na Praia do Farol. Considerada a praia mais perfeita do Brasil pelo INPE, possui um quilômetro de extensão e suas águas são incrivelmente transparentes e a areia muito branca. Tem uma figueira centenária no meio da ilha, o que rendeu muitas fotos nossas, especialmente em casais. Foi na praia do Farol que ficamos o maior tempo durante o passeio: aproximadamente quarenta e cinco minutos. Foi na praia do Farol, também, que a temida conversa com o Guilherme aconteceu. Eu estava na areia, tomando sol com a Bia, quando ele chegou e me chamou pra dar uma volta, deixando a namorada sozinha.

- Então, irmão, pode falar. – disse, quando paramos numa das pontas da praia. Eu conhecia o Guilherme o suficiente pra saber que algo tava errado.
- Não gostei nada do que eu vi ontem. – ele disse, de cara feia.
- Desculpa, Gui, mas eu não tava fazendo nada demais.
- Ah, não? Então eu to vendo coisa? Porque, pelo que eu me lembre, você tava no colo do Pedro, quase dando pra ele ali mesmo.
- Claro que não, Guilherme. Você acha que eu ia perder a minha virgindade assim, de qualquer jeito, no meio da praia, correndo o risco de alguém aparecer?
- Não sei. Do jeito que vocês estavam, não duvido nada que isso teria acontecido se eu não tivesse interrompido.
- Pois você tá muito enganado. Eu posso ter milhares de defeitos, mas ainda não fiquei maluca. Minha primeira vez não vai ser de qualquer jeito, eu vou me proteger. E outra, por que isso importa tanto pra você? Que eu saiba nunca me meti na sua vida, nunca disse que você tinha que esperar a hora certa pra transar ou que tinha que transar num lugar reservado. A vida é minha, o corpo é meu e eu faço o que quiser com ele. Se eu cismar que quero dar pro Pedro aqui mesmo, na frente de todo mundo, eu vou fazer e não é você que vai me impedir. – disse, irritada. Não era porque o Guilherme era meu irmão que tinha o direito de se meter na minha vida.
- Eu só queria ajudar. Fui eu que te peguei na praia ontem, mas poderia ser qualquer um, e ia ficar feio pro seu lado. – disse, triste.
- Desculpa, Gui, mas o senhor tá fazendo tempestade em copo d’água. Sei que você só quer o meu bem, e eu prometo que vou tomar cuidado. Só não tenta me cobrar algo que você mesmo não faz.
- Como assim? Não entendi.
- Tu achas que eu não vi você e a Bia dando uns amassos no dia que a gente chegou, quando vocês disseram que iam caminhar pela praia? Vocês foram em direção ao forte e pararam naquela ponte, que liga o forte à praia.
- Nós não fizemos nada lá.
- Ah, não? A Bia chegou com o cabelo todo bagunçado e a boca toda vermelha por que então? Por favor, irmão. – disse, rindo.
- Tudo bem, vai. Admito que a gente queria um pouco de privacidade e foi pra lá. Mas isso foi ideia da Bia, não minha.
- Então pronto.
- Agora me conta. Esse lance com o Pedro é sério ou é só curtição? – perguntou, depois de um tempo olhando a paisagem.
- Não sei. Nós ficamos ontem e hoje também, mas ainda é muito cedo pra dizer.
- E você gosta dele?
- Gosto. – disse, sorrindo.
- Então eu torço pra que dê tudo certo e você seja muito feliz, assim como eu sou com a Bia.
- Obrigada, pentelho. – eu disse e a gente se abraçou. Não demorou muito e alguém apareceu, dizendo que era hora de ir embora.

A última parada do passeio foi na praia do Forno, a praia da qual eu mais gostei. Suas águas são cristalinas, característica predominante da costa de Arraial do Cabo, mas a vegetação na encosta da praia dá um charme a mais. Foi ali que as melhores fotos surgiram. Como o passeio estava no final, os meninos já estavam mais pra lá do que pra cá, então saíram na maioria das fotos fazendo careta. O Gui, inclusive, achou um chapéu de gnomo feito com estopa perdido pela praia, colocou na cabeça e ficou tentando imitar a Joelma da banda Calypso, jogando o “cabelo” pra frente e pra trás. O Xande e a Ali tiraram aquela foto clássica de Jack e Rose, do Titanic, e foram zoados o resto do passeio.

Ao final de três horas, retornamos para a praia dos Anjos. Todos estavam meio cansados e bêbados, mas o passeio tava só na metade. O pai do Cadu tinha uma empresa de turismo e essa empresa fazia passeios de jeep pela cidade. O roteiro era bem dinâmico e oferecia um tour completo pela cidade. Como era 14:00 ainda, almoçamos num restaurante de comida mineira em frente à empresa do pai do Cadu e ficamos aguardando até que os jeeps chegassem. O passeio estava marcado pra sair às 15:00, e deu tempo dos meninos curarem um pouco da bebedeira.

As primeiras paradas do passeio, na praia do Pontal e na praia Grande, foram boas pra contemplar o visual e tirar fotos. Na praia Grande, em especial, todos ficaram admirados com a extensão da praia, que sumia no horizonte devido aos seus quarenta quilômetros de faixa de areia e mar agitado, ideal para a prática do surf.

Em seguida, nos dirigimos ao Pontal do Atalaia e ali foi a melhor parte do dia. Primeiro fomos conhecer o lado esquerdo do pontal, e encaramos subidas muito íngremes, numa estrada cheia de curvas e buracos. Foi engraçado porque, enquanto uns curtiam a paisagem, outros, como o Bernardo e o Guilherme, suavam frio com medo da altura. Eu até que os entendia, de certa forma, já que se desse algum problema no jeep, ou cairíamos no mar, ou bateríamos nas rochas do penhasco, mas como o guia garantiu que o motor do veículo era de um trator, não havia com o que se preocupar. A última parada no lado esquerdo do pontal foi próximo à entrada da residência de um comerciante árabe. De onde estávamos, dava pra ver a Ilha do Farol e o Boqueirão, por onde havíamos passado mais cedo. A vista dali era panorâmica e o mar ganhava um tom de azul mais escuro, bem diferente do azul cristalino ao qual estávamos acostumados, mas nem por isso menos bonito.

A trilha do lado direito do pontal não foi muito diferente do lado esquerdo, entretanto, foi bem mais curta. Paramos no mirante, de onde tínhamos uma vista privilegiada da imensidão azul que se estendia diante dos nossos olhos. Ao longe era possível ver a praia Brava, com suas ondas agitadas batendo na areia, assim como a ilha dos Franceses. Àquela hora, o sol estava se pondo, deixando o ambiente mais romântico impossível. Aproveitamos pra registrar aquele espetáculo da natureza e curtir o momento. Pra mim foi muito especial, algo que eu nunca imaginei presenciar na minha vida.

Às 19:00 o sol se pôs, todos que estavam ali aplaudiram e nós voltamos pra casa, exaustos, mas com a sensação de que valeu a pena cada centavo gasto naquela cidade. Tudo ali foi maravilhoso e nós nos divertimos como nunca.



Capítulo 13 – Feliz ano novo


Dia trinta e um foi o dia em que acordamos mais tarde – por volta de 13:00. Como o apartamento tava muito sujo, decidimos fazer uma limpeza. Os casais que dormiam sozinhos ficaram responsáveis por limpar seus quartos, eu fiquei com a cozinha, o Bernardo ficou com o banheiro social, a Lulis e a Julia com a sala e o Pedro com o nosso quarto. Demoramos mais ou menos duas horas pra terminar a faxina e descemos. Almoçamos no Vira Verão e ficamos na praia do Forte até anoitecer. Quer dizer, todos ficaram, menos o Gui e a Bia. Eles almoçaram e, sob a desculpa de dar uma volta pela cidade, sumiram. Não sabia aonde eles iam, mas sentia que era algo importante pro meu irmão.

Fui caminhando com o Pedro pela orla até chegar ao forte, bastante movimentado àquela hora do dia. Ali, lembranças vieram à minha mente, me fazendo voltar no tempo. Fiquei em silêncio por muito tempo, observando a paisagem e sentindo o vento no rosto.

- Por que você tá tão quieta, Nina? – Pedro perguntou, de repente, me abraçando.
- Nada, só tava lembrando de umas coisas.
- O que? Será que eu posso saber?
- Claro. É que esse lugar, esse forte tem um significado muito especial pra mim. Aqui eu conheci pessoas muito especiais, chorei por quem não devia, cantei uma música que ninguém ouviu, tentei colocar a cabeça no lugar, falei coisas sem nexo, gargalhei, vi um pôr do sol que eu jamais vou esquecer, tomei um banho de chuva só porque não queria ir embora pra casa, paguei mico com alguns amigos. Se esse forte falasse, teria tanta história pra contar. Esse lugar, querendo ou não, faz parte da minha história.
- E eu vou fazer parte dela também?
- Com certeza. – disse, sorrindo.
- Então, eu te prometo, nesse lugar que marcou a sua história, estar sempre ao seu lado, te protegendo, cuidando de você, e te fazendo a garota mais feliz desse mundo. – disse, e me beijou.


PONTO DE VISTA DO GUILHERME

Fala meu povo. To aqui pra contar a vocês o que eu e a Bia fomos fazer enquanto o resto da galera tava curtindo o último dia de 2005 na praia. Nós estávamos namorando há apenas três meses, mas sabíamos que o que sentíamos era algo muito forte, diferente dos nossos relacionamentos anteriores. Sabíamos que o que a gente tinha era único, e precisávamos marcar isso de uma forma especial. Foi então que decidimos procurar um tatuador e fazer uma tatuagem. Muitos diriam que éramos malucos, inconsequentes, mas essa era a nossa maneira de registrar o nosso compromisso.

Fomos até o Ink Machine Atelier e fomos super bem recebidos pelos donos. Eles nos mostraram várias opções de tatuagens pra casais e uma em especial nos chamou a atenção. Eram duas imagens: uma árvore com tronco grosso e uma coruja. Segundo os donos do atelier nos explicaram, a árvore simbolizava a força, enquanto a coruja representava a sabedoria. Era a união perfeita: Enquanto eu era a força, a energia em constante movimento, a Bia era a sabedoria, o ponto de equilíbrio no nosso relacionamento. Não havia desenho que melhor representasse a nossa relação.

Feita a escolha, encaramos as agulhas e saímos de lá duas horas depois, felizes e com a sensação de que havíamos feito a coisa certa.

FIM DO PONTO DE VISTA DO GUILHERME


Quando eu e o Pedro voltamos da caminhada, encontramos o Gui e a Bia com sorrisos estampados nos rostos. Nossos amigos olhavam pras suas mãos e... pera aí, aquilo era uma tatuagem do dedo do Guilherme?

- Guilherme, o que foi que você fez? – perguntei, pegando a mão esquerda dele.
- Isso é uma tatuagem, irmã. – ele disse, feliz.
- Por que você fez isso? O pai e a mãe vão te matar!
- E daí? Eu já sou maior de idade, faço o que quiser com o meu corpo. E eu quis fazer uma tatuagem junto com a Bia. Que mal tem nisso? É só uma árvore no dedo, não tem nenhum significado satânico.
- Vocês são doidos, sabiam? – disse, e ele concordou, abraçando a namorada, que exibia, orgulhosa, o desenho de uma coruja no dedo anelar da mão direita. Só eles mesmos pra aprontarem uma dessas.

Enfim, ficamos na praia até anoitecer e resolvemos que era hora de voltar pra casa. Íamos passar o réveillon ali mesmo, na praia do Forte, e precisávamos nos arrumar. Pro nosso azar, a luz acabou por volta de 20:15 e só foi voltar às 22:55, o que fez com que chegássemos a praia faltando quinze minutos pra meia noite. Uma banda regional animava a galera e nós paramos num ponto um pouco afastado da praia, longe da multidão. O Cadu, muito esperto, levou garrafas de champanhe e taças, pra que pudéssemos brindar a chegada do novo ano em grande estilo. Um pouco antes da virada, Bernardo reuniu os cinco casais e propôs que, na virada do ano, fizéssemos um brinde à nossa amizade, que crescia cada vez mais, e pediu que cada um fizesse um pedido com toda a força que tivesse, e ele se realizaria. “Cara, isso vai ser mágico!” , pensei. Meia noite em ponto, cada um estava com a sua taça de champanhe na mão e Bernardo tomou a palavra.

- Galera, um brinde à nossa amizade. Que a cada dia desse ano que começa agora, ela cresça e fique mais forte, mais sólida. Que cada um de nós nunca se esqueça de que podemos contar sempre uns com os outros, esteja onde estiver, porque amizade é isso. É confiança, respeito, carinho, amor, compreensão, união, sinceridade, e isso nós temos de sobra, graças a Deus. Que cada dia que passe nós fiquemos mais unidos, mesmo que estejamos a milhares de quilômetros de distância uns dos outros, mesmo que os caminhos da vida nos levem pra rumos totalmente opostos. Por fim, que essa amizade seja eterna, que dure pra sempre. Galera, amo muito vocês, nunca se esqueçam disso! Feliz ano novo! – naquele momento, erguemos nossas taças e brindamos a chegada de 2006, com a esperança de que aquele ano seria um recomeço pra todos.

Uma nova página das nossas vidas se iniciava e nós a escreveríamos da melhor forma possível. Depois do brinde, houve um abraço coletivo e assistimos à queima de fogos, enquanto desejávamos feliz ano novo aos nossos pares. Foi um momento inesquecível, como todos os outros vividos naquela cidade, e eu entendi que não havia presente melhor do que estar ali, com pessoas que se tornaram essenciais na minha vida.



Epílogo


Dia quatro de Janeiro de 2006, após dez dias curtindo as praias de Cabo Frio, retornamos para Canela, onde uma nova etapa de nossas vidas começaria. Entretanto, antes de voltarmos, guardamos coisas que marcaram aquela viagem numa caixinha de madeira e a enterramos na areia. Também fizemos um juramento de amizade eterna e prometemos que nada nem ninguém nos separaria. Quem sabe dali a dez, vinte anos, estaríamos de volta pra desenterrar a caixinha e relembrar os momentos inesquecíveis que passamos juntos? Eu só sei que tudo valeu a pena!



FIM



Nota da autora: (05/06/2017) E finalmente, Amizade Não Se Explica chegou ao fim. Foi muito bom reescrever essa história depois de dez anos e deixá-la do jeito que eu sempre quis. Sim, ANSE surgiu há pouco mais de dez anos atrás, depois de uma viagem de fim de ano. Espero que tenham gostado, tanto quanto eu gostei de escrevê-la. Sei que muita gente não gosta de letras de música nas histórias, e eu sou uma delas, mas Incomplete e Too Close For Comfort precisavam estar lá.

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