Amor em si bemol

Fanfic finalizada.

Capítulo Único

O que é o amor?
Talvez essa fosse a maior dúvida de todo o Universo: o que é o amor, o que causa o amor, como é que se ama, por que é que se ama? E as mais variadas formas de se perguntar o porquê desse sentimento, dessa coisa, dessa adrenalina. Cada um tinha sua definição e uma teoria do porquê dela. Eu preferia me manter distante de tudo isso; preferia sentir. Procurava amor nas mais diversas e menores coisas que podia, até mesmo num olhar carregado de ódio, numa frase repleta de palavrões, numa nota musical.
Eu prefiro pensar que amor é algo relativo. Cada um pode ter e criar o seu, não importa como. O amor está nas menores coisas do nosso dia a dia e nós nem ao menos conseguimos notá-lo por aí. Não por que não queremos notar, mas puramente por sentirmos medo dele, como se fosse algo ruim. Há um tempo atrás, descobri que, pelo contrário, o amor é algo maravilhoso. Guardei esta descoberta para mim, no mais profundo lugar de meu coração, porque todos me chamariam de louco se eu dissesse que o amor estava no som de uma nota musical que ecoara por uma extensa sala acompanhada de um sorriso quadrado.
Talvez eu fosse louco mesmo, normalmente era assim que chamavam os apaixonados ou quem defendia o amor e todas as suas maravilhosas sensações. Mas eu consegui encontrá-lo e senti-lo e ver que realmente é algo muito insano através de um si bemol que ecoara de um piano no canto daquela sala maior que meu apartamento inteiro.
Eu poderia ter encontrado qualquer outra coisa em qualquer outra nota musical, mas não seria a mesma coisa. Aquele si bemol veio acompanhado de uma voz grave (que inicialmente pensei ser de algum professor) e um sorriso quadrado repleto de dentinhos tortos e um maior que o outro, me derretendo por inteiro. No começo, só no começo, pensei que era somente um encanto bobo, uma certa admiração pela ótima música que ele tocava e sua voz tão bem afinada e firme, não havia tremores, falhas, medos. Era como se, até nisso, em sua voz, ele ecoasse amor. Era como se quisesse realmente que eu, um simples aspirante a músico, adentrasse aquela sala e o encontrasse no exato momento em que soltasse uma última palavra, um sorriso e seu maldito si bemol.
Após aquela tarde, passei a procurar pela mesma sensação que senti naquela sala em cada mínima coisa que fazia. Um frio na barriga, um leve acelerar no coração e uma vontade insana de sorrir com sentimentos, não aquele sorriso que damos por educação ou para parecermos simpáticos, mas aquele sorriso sincero que só quem você gosta te arranca. Consegui o frio na barriga pulando de paraquedas. O acelerar no coração só por susto em quase ser atropelado por atravessar numa avenida muito movimentada. O sorriso até hoje não consegui dar igual, apenas tive uma crise de risos ridícula por conta de um tombo de um amigo agitado demais.
Não aprendi o si bemol de primeira. Nem de segunda.
Aprendi de quinta.
Eu estava, na realidade, o tempo inteiro procurando pelo amor enquanto todos preferiam questioná-lo. “Isso não existe!”, “como é possível querer algo bom para outra pessoa mais que para si mesmo?”, “como é que pode um sorriso te fazer ter quase um ataque cardíaco?”, “por que o amor não pode ser uma farsa?”, “é possível amar algo ao invés de alguém?”, “há mais de um tipo de amor, será?”. Eu costumava rir desses questionamentos, assim como costumava me questionar, internamente, depois. Porque, de fato, algumas coisas não faziam sentido. Mas então descobri que haviam várias formas de amar e várias formas de amor, como o amar algo para querer durante sua vida inteira e o amor à primeira vista.
Eu amava música e a queria sempre comigo, até mesmo o si bemol. Mas, além de já conhecer esta forma de amar, deparei-me com a mais esquisita e inacreditável de todas: aquela que você somente olha para algo ou alguém e já ama sem nem perceber.
E sim, era possível um sorriso fazer alguém ter um piripaque, era possível amar algo e alguém. O amor existe e está aqui, aí, ali, lá, fá, si, mi, dó, ré. No si bemol. Ele pode estar num som, numa frase, num texto, num objeto, numa pessoa, num sorriso, numa nuvem.
No meu caso, encontrei à primeira vista, ao som de si bemol, um Taehyung encantador de pintinha na ponta do nariz e dentinhos tortos.
Não precisei de meses ou anos para perceber que estava perdidamente apaixonado por aquele garoto tão peculiar e surpreendente. Eu queria conseguir desvendá-lo, entendê-lo e prevê-lo. Mas era basicamente impossível, como o amor. Era fácil senti-lo, questioná-lo, desacreditá-lo algumas vezes, mas nunca de fato explicá-lo, entendê-lo por completo, compreendê-lo como deveria. Taehyung era, para mim, praticamente a mesma coisa que o amor era para a humanidade: uma incógnita que seria maravilhoso descobrir. Mas nem mesmo sendo incrivelmente bom em matemática eu conseguia. Mas era, de certa forma, bom. Tê-lo por perto e ser surpreendido sempre era maravilhoso.
Na tarde seguinte a que seu primeiro si bemol ecoou pela sala para mim, em especial, ele decidira começar a me surpreender (sendo que já o havia feito, de fato, ao me presentear pelo belo amor à primeira vista). Com o mesmo sorriso quadrado e causando-me os mesmos efeitos da primeira tarde, levantou-se de seu banquinho e aproximou-se de mim.

— Kim Namjoon, certo? — perguntou, mas sequer me deu tempo para respondê-lo. — Você gostou da canção?

E eu simplesmente sorri, como o belo babaca apaixonado que era. Porém, por algum motivo que desconheço até hoje, meu cérebro pregou-me uma peça e jorrou em palavras o que eu, de fato, havia achado sobre a situação, ele e a canção:
— Gostei mais de você.

E então ele riu de maneira adorável, fazendo seus olhinhos sumirem em seu rosto tão bem desenhado e mostrou-me aquele típico sorriso torto e quadradinho que me parecia tão adorável, enchendo-me de vontade de mordê-lo e beijá-lo por inteiro.

— Não vai perguntar como sei seu nome? — me fitou curioso. — As pessoas não costumam ignorar o fato de eu ser um pouquinho curioso e procurar por aí sobre quem chega antes do horário e invade minhas aulas.
— Não me importo muito com isso, desde que você não o esqueça — ri. — E você estava sozinho, achei que não teria aula alguma antes da minha.
— E se eu te beijar agora, sem ao menos dizer quem eu sou? — perguntou com um sorriso ladino, que beirava a inocência, nos lábios. — Digamos que também cheguei antes da aula e acabei ficando até mesmo depois dela. Talvez você não estivesse tão adiantado assim.
— Eu não vou me importar, mas se eu gostar do beijo, vou querer saber quem você é e repetir a dose. — respondi com o típico sorriso abobalhado e o coração acelerado, como já era de se esperar. Era como se eu estivesse sentindo tudo em dobro naquele momento: o amor, a vontade de conhecê-lo, de descobri-lo, de tê-lo em meus braços, de vê-lo tocando e cantando mais vezes, entendê-lo. Não me importava, de fato, as nossas aulas ou como ele descobrira meu nome.

Surpreendentemente, como o amor e como eu já dissera mil e uma vezes, ele se aproximou de mim e deixou que seus lábios se colassem aos meus, sem fechar os olhos, sem me tocar, apenas para observar qual seria minha reação. Um simples selar que me permitiu observá-lo de perto e concluir que ele era ainda mais bonito do que eu conseguia ver. Sem contar seus lábios, quentes, macios, doces, viciantes. Eu quis tocá-lo, aprofundar o contato, tê-lo para mim da forma que eu pudesse ter.
Ele sorriu, com a boca colada à minha. Afastou-se para soltar uma risada simples. Após alguns segundos — ambos com as bochechas coradas, eu diria — ele se aproximou novamente e beijou-me com tanta vontade que me questionei se fui o único a morrer de amores à primeira vista.

— Taehyung, Kim Taehyung. — ele soprou contra meus lábios assim que nos afastamos minimamente.
— Eu não disse ainda se gostei ou não. — sussurrei de volta, fazendo-o rir daquela maneira infantil que só ele conseguia.
— E não precisa. — procurou meus olhos. — Seu coração e corpo dizem por você. Esse sorriso bobo também. Ah, sem contar o amor. Aquele que nos pegou à primeira vista e me fez procurar sua ficha na sala do diretor.

Me permiti rir. Rir de alegria por estar sendo correspondido, rir da situação em nos encontrávamos, rir de Taehyung. Rir de tudo aquilo. Rir de você, que permanece se questionando sobre o amor. Me permiti rir de como aquilo tudo era delicioso e de como aquecia meu coração, sendo que eu sequer o conhecia. Sentia-me aquecido somente por saber que era correspondido numa completa insanidade que eu denominei amor.

— Você deveria parar de voltar no tempo, hyung. — sua voz grave cantarolou, enquanto uma bela melodia carregada em si bemol ecoava por toda a sala em que nos encontrávamos agora, no presente. — O que nos aconteceu é inexplicável, puramente amor ao som de si bemol. — sorriu para mim, enquanto seus longos dedos percorriam as teclas do piano. — Não se questione o porquê disto ou daquilo, simplesmente aceite o que a canção fora capaz de lhe dar. Aceite, de uma vez, o amor à primeira, segunda, terceira ou décima vista. O si bemol, minha voz e minha melodia. Aceite o que temos, vamos fazer diferente do resto do Universo: não vamos nos questionar e sim aproveitar. Me abrace, me beije e me faça seu. Aceite minha carta em si bemol.

Por fim, saí do passado e o deixei selar seus lábios aos meus mais uma vez. Um si bemol soou pela sala uma última vez, antes de suas mãos irem em direção à minha nuca e apertar-me ali.
Deixei que o amor e Taehyung me tomassem por inteiro numa intensidade indescritível, porque, bem, no fim das contas, o amor — assim como Taehyung — ainda era indescritível, inexplicável e muitos outros “in”. Deixei que meu coração simplesmente sentisse todas aquelas coisas alucinantes, sabendo que Taehyung sentia o mesmo.
Deixei-me levar por uma melodia que ecoava somente em nossas mentes e corações, completamente carregada em si bemol.


Fanfic baseada na música Carta em Si Bemol, do Projeto Coletivo.


Fim.



Nota da autora: Espero que tenham gostado!



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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