Finalizada dia: 03/08/2020

Capítulo Único

A fachada da Academia de Artes Ocultas poderia ser considerada estranha, talvez abandonada ou, até mesmo, medonha, para qualquer mortal que passasse ali em frente — isso, é claro, considerando-se que essa pessoa tenha a capacidade de driblar as barreiras mágicas que ocultavam a Academia de olhares mortais.
Mas não para .
Isso porque , ou , como gostava de ser chamada, era uma bruxa, assim como seus pais, tias e primos. Na verdade, toda a sua família era formada por bruxos. Bem, quase toda a sua família.
Seu tio Edward havia se casado com uma mulher mortal anos atrás e, por conta do casamento, tiveram uma filha metade bruxa, metade mortal. Tirando sua tia mortal e sua prima meio bruxa, o restante da família de Spellman era muitíssimo normal. O sobrenome Spellman até mesmo carregava consigo um certo respeito, e aonde ia, a garota era facilmente reconhecida pelo seu sobrenome.
E talvez tenha sido exatamente por esse motivo que, ao pisar na Academia de Artes Ocultas, o único colégio para bruxas e bruxos em Greendale, tantos olhares curiosos recaíram sobre ela.
Bem, isso e o fato da garota estar sendo transferida àquela escola tão tardiamente, afinal, já estudava magia há anos, mas em outro colégio.
— Seja bem-vinda à Academia, Srta. Spellman.
estava sentada em frente ao Sumo Sacerdote da Igreja da Noite, templo satânico vinculado à Academia de Artes Ocultas, padre Blackwood, o qual também ocupava a posição de direção da Academia.
— Obrigada, padre Blackwood. Estou muito feliz por ter sido aceita.
— Por Satã, mas é claro que iríamos aceitá-la, Stra. Spellman, afinal, a senhorita vem de uma família muito… Respeitável dentro da nossa comunidade.
sabia que “respeitável” não era a palavra mais propícia para denominar sua família. Talvez “peculiar” ou, até mesmo, “famosa por se meter com mortais”, fosse mais adequado. Quer dizer, como se não bastasse ter um tio que se casou com uma mortal, tendo uma filha metade bruxa, metade mortal, sua prima, Sabrina Spellman, continuou o legado do tio Edward ao também preferir se relacionar com mortais — atitudes que, logo veio a descobrir, a Igreja da Noite abominava.
— De qualquer forma, espero me adaptar logo ao funcionamento da escola. Estou ansiosa para o início das aulas. — disse com um sorriso simpático, esforçando-se para seguir o script escrito mais cedo por tia Zelda.
“Seja simpática, sorria e aceite tudo o que o padre Blackwood falar. Seja discreta e não mencione o motivo pelo qual você acabou se mudando para Greendale”, tia Zelda lhe orientara durante o café da manhã.
— Bem, se já está tudo resolvido, gostaria de conhecer o meu dormitório, se possível, já que pretendo arrumar as minhas coisas antes da primeira aula.
já estava pronta para se levantar, assim como sua tia Zelda, que estava sentada ao seu lado com um olhar muito orgulhoso ao ver que ao menos de suas sobrinhas seguia os seus conselhos, quando foi impedida.
— Na verdade, Srta. Spellman, apenas uma questão não ficou respondida dentre os papéis da sua transferência. — Padre Blackwood respondeu.
— E o que seria? — perguntou.
— O motivo, Srta. Spellman, da sua transferência. — E então, inclinando-se sobre a mesa, ele continuou. — Por qual razão você deixou a Inglaterra e o colégio em que estudou a vida toda para se mudar para Greendale, nos Estados Unidos?
engoliu em seco, mas não precisou se preocupar em responder ao padre Blackwood, já que quem o fez foi sua tia Zelda.
— Acredito, padre Blackwood, que o motivo da transferência de não seja importante, já que, como o senhor mesmo disse, nada consta nos documentos da sua transferência. — Tia Zelda falou com leveza, como se tivesse treinado a noite inteira para aquele momento. — O que posso garantir ao senhor, por outro lado, é que a minha sobrinha era uma das melhores alunas do colégio em que estudava e, como o senhor pode ser pelo seu histórico escolar, as notas de são terrivelmente boas.
Padre Blackwood, claramente, não havia gostado da resposta que recebera, mas, como bom anfitrião que era, preferiu ignorar sua curiosidade — pelo menos por enquanto.
— Bem, então sem mais delongas, pedirei para que alguém a leve até o seu dormitório. E já que a Academia de Artes Ocultas será o seu lar durante a semana, espero que se sinta confortável. E o mais importante de tudo: espero que siga as regras com rigor.
Mas o olhar profundo que o padre Blackwood lançou à demonstrava que não, ele não esperava que a garota seguisse as regras da escola. Talvez a fama do seu sobrenome se desse por outros motivos, afinal de contas.
Padre Blackwood, então, dispensou , pedindo para que ela aguardasse do lado de fora enquanto chamava uma aluna para levá-la aos dormitórios. saiu carregando sua mala atrás de si e tia Zelda do seu lado.
— Eu sabia que Faustus perguntaria o motivo que a levou deixar Londres. — Zelda falou nervosa. — Mas não se preocupe, , se o Lorde das Trevas permitir, Faustus nunca saberá o que, de fato ocorreu.
Mas não se importava realmente em ter a sua história sabida por todos. Quer dizer, sim, ela tinha ambos os pais bruxos e vinha de uma família — quase — inteiramente de bruxas e bruxos. Mas isso não significava que a garota não tinha amigos mortais, pelo contrário.
No começo, seus melhores amigos não faziam ideia de que o mundo da magia não passava de algo apenas da ficção. Mas descobriram a verdade sobre quando a garota precisou usar seus poderes para ajudá-los, desafiando as regras e leis mortais, a fim de dar uma ajudinha aos seus amigos.
Sem falar sobre seus relacionamentos amorosos. Por mais curioso que fosse, nunca se envolveu com um bruxo antes. Não era como se a garota tivesse algum preconceito com o seu próprio povo, mas era apenas muito mais interessante se envolver com alguém tão diferente dela, quase como se fosse duas pessoas de culturas e crenças completamente diferentes. Era curioso, era legal.
Mas a sua escola descobriu que a jovem bruxa usava seus poderes fora dos limites do colégio — o que, para a antiga escola de , era considerada uma infração gravíssima, uma vez que alunos não graduados só podiam fazer magia dentro da escola ou, no máximo, sob a supervisão de um dos professores quando fora dos terrenos do colégio. E, por este motivo, ela foi expulsa.
Assim, de uma hora para outra.
até se sentia meio sortuda, já que o diretor da sua antiga escola de magia e bruxaria demorou um bocado para descobrir que a garota transgrediu as regras.
Seus pais, então, resolveram mandá-la para Greendale, nos Estados Unidos, onde ela poderia ter um novo começo, em uma nova escola de magia.
— Mas, afinal, qual o problema dessa família e sua fascinação com mortais? — Tia Zelda perguntou, mas ao olhar para ela, percebeu que a tia falava sozinha. — Devemos agradecer que o Sumo Sacerdote não saiba da real causa da sua troca de escola. Louvado seja Satã!
A jovem bruxa nada respondeu, estava mais ocupada espiando os corredores da Academia, vendo a decoração satânica e os alunos mal encarados.
— Talvez você devesse tentar se envolver mais com bruxos, com o seu próprio povo, e menos com mortais. — Tia Zelda continuou falando. — Sinceramente, , não entendo qual a graça que você vê neles, são tão… Sentimentais. Frágeis. — Fez cara de nojo. — Além de, é claro, seguirem uma moral puritana defendida pelo falso Deus. — Zelda sentiu um arrepio passar pelo corpo, como se a ideia fosse repugnante.
— Não se preocupe, tia Zelda, vai dar tudo certo. — garantiu.
Até porque, a garota era conhecida por se adaptar facilmente a qualquer lugar.

🔯🔯🔯


foi até o salão principal da Academia após arrumar suas coisas no quarto em que dividiria com outras cinco garotas. Era tradição da Academia de Artes Ocultas que os alunos passassem as primeiras noites na escola e, por este motivo, dormiria ali na próxima semana.
Tinha nas mãos o seu horário de aulas daquele dia, mas estava um pouco perdida. Olhou em volta, procurando por qualquer tipo de sinalização indicando qual seria o caminho das salas de aula, mas não encontrou nada.
— Com licença, precisa de ajuda?
A garota virou o corpo, encontrando, atrás dela, um rapaz segurando a alça da bolsa no ombro. Era pouco mais alto que ela, os cabelos perfeitamente alinhados e penteados e um tipo de sorriso capaz de conseguir qualquer coisa sem o mínimo esforço. precisou chacoalhar a cabeça para se situar na realidade e respondê-lo.
— Hum… Sim. Estou um pouco perdida para falar a verdade. — Ela deu um sorriso embaraçado.
— Estrangeira? — Ele perguntou. — Percebi pelo seu sotaque. Sou Nicholas, aliás. Nicholas Scratch, muito prazer.
A jovem bruxa aceitou a mão estendida dele.
Spellman, muito prazer, Nicholas.
— Me chame de Nick. — Ele logo a corrigiu. E então, com os olhos estreitos, perguntou: — Spellman, você disse?
— Isso. — A garota juntou as mãos na frente do corpo. — E pela sua expressão, acredito que já tenha ouvido falar da minha família.
Nicholas deu um sorriso que deveria passar a impressão de que o garoto ficara sem graça, mas na verdade só reforçou a beleza dele.
— Na verdade eu conheço. Sabrina e eu somos amigos.
— Ah… — ergueu as sobrancelhas. — E por amigos você quer dizer que já namoraram.
O bruxo riu.
— Bem, confesso que não foi por falta de tentativa da minha parte, mas não, nunca namoramos. Sabrina tem um namorado mortal, você deve saber.
balançou a cabeça em sinal de concordância.
— Aliás, onde está Sabrina? Não a vi hoje.
— Ela está viajando com o namorado mortal. Aniversário de namoro, coisa e tal. — Respondeu. — Então… As aulas, você pode me ajudar?
Nicholas deu dois passos à frente, ficando muitíssimo próximo de , mais próximo que o necessário para ler o horário das aulas dela. Mas, ei, quem era ela para reclamar, não é mesmo?
— Necromancia avançada… Adivinhação, Invocação, Feitiços Malditos… Uau, Spellman, você estudava em outra escola de magia antes de vir para cá? — Ele perguntou admirado.
— A melhor da turma. — Ela deu de ombros com um sorrisinho convencido.
O bruxo deixou o queixo cair levemente, surpreso.
— No instante em que a vi eu soube que havia muito mais em você que apenas um sotaque atraente.
A intensidade com que Nicholas a olhava, o brilho nos olhos dele e o movimento dos lábios perfeitos foram o que fizeram corar. As palavras dele, por outro lado, fizeram-na vibrar.
Era como ela estivesse presa em uma bolha mágica, na qual somente ela e Nicholas estivessem. Por um segundo, apenas por um milésimo de segundo, se esqueceu de onde estava, ignorando completamente que o garoto ao lado dela era um bruxo que ela acabara de conhecer.
Nick era perigoso, muito perigoso.
— Se eu fosse você, eu tomaria cuidado, nova garota Spellman.
— Muito cuidado.
— Especialmente porque é nova.
De um dos corredores da Academia, três garotas caminharam até onde e Nicholas estavam. Aquelas deveriam ser as irmãs estranhas. tinha ouvido falar delas, especialmente no que se referia a manter distância delas e a não confiar em nada que saísse de suas bocas.
— Considere isso como um aviso de boas vindas. — A irmã do meio falou. Esta era mais alta que as outras duas e, obviamente, sua líder. — Nicholas é um conquistador nato e adora… Novidades. Especialmente quando essas novidades são tão, como posso dizer, peculiares. Como uma bruxa estrangeira, outra Spellman, por exemplo. Por outro lado, Nick tem o péssimo hábito de facilmente ficar entediado, o que significa que assim que ele se cansar de você, irá procurar outra pessoa para se distrair.
Nicholas suspirou, não se deixando abalar pela fala da bruxa.
— Deixe ela em paz, Prudence. Vão incomodar alguém em outro lugar ou, sei lá, lançar uma maldição em alguns mortais ou algo do tipo.
Prudence e as irmãs riram daquilo, como se Nicholas tivesse contado a piada mais engraçada de todas.
— Vejo que as suas ofensas continuam as mesmas, Nick. Talvez agora, com uma nova bruxa para você brincar, você fique mais criativo.
Nicholas rolou os olhos, entediado.
— Vamos, , vou levá-la à sua primeira aula.
o seguiu, pensando no que acabara de observar naquela conversa, tentando entender como funcionava a mente dos bruxos de Greendale e, mais especificamente, qual o papel que cada um daqueles alunos teria na sua vida na Academia de Artes Ocultas.

🔯🔯🔯


Quando o final do primeiro dia chegou, a jovem bruxa tomou um banho longo e relaxante, pensando se conseguiria ter uma boa noite de sono em uma cama diferente da que estava acostumada.
Bem, ela havia se adaptado rapidamente com o seu novo quarto na casa de tia Zelda e tia Hilda, então não teria motivos para ser diferente ali na Academia.
Surpreendeu-se, contudo, ao chegar no quarto e se deparar com as demais alunas não vestidas para dormir, mas como se estivessem se preparando para…
— Uma festa? — perguntou, espantada. — Hoje? No meio da semana?
Prudence e suas irmãs, que acabou descobrindo se chamarem Agatha e Dorcas, riram da surpresa dela.
— É o primeiro dia de aula, jovem Spellman. É tradição da Academia realizar uma festa nefasta para recepcionar os alunos para mais um ano letivo. — Prudence explicou como se fosse óbvio.
A garota chegou a cogitar a possibilidade daquilo ser apenas uma piada das irmãs estranhas ou algum tipo de trote por ser nova na escola, mas as demais alunas também estavam se arrumando para a festa.
As bruxas de Greendale, tal quais as de Londres, gostavam de abusar nas maquiagens fortes e olhos bem marcados. , que não sabia o que esperar daquela festa, tampouco tinha ideia de como deveria se vestir para o evento, preferiu por escolher um vestido preto simples com alças e marcado na cintura. Quis colocar um sapato baixo, mas todas as outras garotas escolheram seus melhores saltos altos, o que acabou por fazer com que revirasse seu baú em busca de qualquer sapato com um mínimo de salto.
Estava terminando de arrumar o cabelo quando as irmãs estranhas anunciaram estar prontas e, para a surpresa de , disseram que a garota poderia acompanhá-las na festa.
E assim a jovem Spellman o fez.
Mas o que encontrou, ao chegar no salão de festas, não foi exatamente o que ela esperava. Quer dizer, a música clássica estava rolando e ali, na Academia, o consumo de álcool por menores de idade era incentivado. O Sumo Sacerdote estava sentado em uma cadeira alta, quase como se observasse seu reinado de cima de um trono, e os alunos conversavam como mortais em um encontro de negócios, segurando o copo de bebida em uma mão e o cigarro em outras.
— Decepcionada, jovem Spellman?
estava imersa na sua análise, motivo pelo qual teve um sobressalto ao ouvir Prudence falar tão perto do seu ouvido.
— Surpresa, na verdade. — Ela confessou. — Não era esse tipo de festa que eu estava esperando.
Prudence sorriu satisfeita com a declaração da jovem bruxa, enquanto suas irmãs soltaram risadinhas divertidas.
— Isso é porque a verdadeira festa está acontecendo em outro lugar. — Prudence sussurrou novamente, dessa vez como se estivesse contando um segredo à . — Quer vir conosco?
Mas nem Prudence e nem as outras irmãs estranhas esperaram pela resposta de para darem as costas à festa de recepção dos alunos da Academia de Artes Ocultas. A jovem bruxa só precisou de alguns instantes para tomar uma decisão e também deixar o recinto.
Seguiu as três irmãs até um corredor escuro e com pouca iluminação. Por um tempo, o único som que se podia ouvir era o dos saltos batendo no chão, o que fez com que , mais uma vez, se questionasse da possibilidade daquilo tudo ser uma grande brincadeira, uma piada de “boas-vindas”, afinal de contas, bruxas tinham uma noção diferente de senso de humor.
Apesar da caminhada parecer interminável e a escuridão apenas aumentar conforme as garotas avançavam, o silêncio começou a dar lugar a sons, primeiro ininteligíveis, depois, para sons de risadas.
— Parece que eles já começaram. — Dorcas comentou.
— E nem nos esperaram. — Agatha lamentou.
— Não se preocupem, meninas. — Prudence disse. Estava parada em frente ao que parecia ser uma porta, mas não podia falar com certeza, já que mal enxergava as três irmãs à sua frente. — A festa aqui embaixo não tem hora para acabar e eu acho que chegamos no momento certo.
No momento que Prudence abriu a porta, Agatha e Dorcas entraram no recinto. , por outro lado, ficou parada na entrada da sala, com o queixo caído com a cena que se dava à sua frente.
O que parecia ser o porão havia sido adaptado para ser o mais confortável e erótico dos quartos, com mantas e almofadas espalhadas pelo chão e velas em cima de cada superfície. A luz do ambiente era amarela, quente. Mas a temperatura lá dentro não era alta apenas por conta da iluminação.
No chão, entre almofadas, mãos, pernas e cabeças se misturavam. Os corpos suados se esfregavam um do outro, e as risadas eram revezadas com o som do estalar de línguas e suspiros entre beijos.
conseguiu distinguir, ao menos, oito pessoas. Dentre elas, seu primo Ambrose, que mal deu importância à presença de , ainda parada à porta, diferentemente das três irmãs que não perderam tempo em se juntar aos demais alunos da Academia.
Outra pessoa, no entanto, chamou a atenção de .
— Nicholas?
O rapaz estava com a camisa completamente desabotoada, deixando o peito desnudo, o suor já começando a aparecer. A calça que usava estava aberta, pronta para ser retirada. Os cabelos, antes perfeitamente penteados para trás, agora estavam bagunçados.
Nicholas beijava a perna de uma garota que não reconheceu e tampouco se importou em tentar saber quem era. Ao ouvir o seu nome, Nicholas olhou para trás, para onde estava, sozinha.
. — Ele falou, ofegante. Mas em vez de se mostrar envergonhado por ter sido pego em meio a uma orgia infernal, Nick parecia muitíssimo satisfeito em vê-la ali, como se estivesse aguardando a sua chegada até aquele momento. — Junte-se a nós.
O convite, tinha que admitir, era tentador.
Ao contrário dos mortais, a comunidade bruxa não via o sexo, e qualquer outra relação carnal, como algo a ser julgado e, até mesmo, controlado. Pelo contrário, bruxas não tinham a visão moral e condenatória que os mortais pregavam em relação ao sexo. Para bruxas e magos, a entrega aos desejos da carne era algo a ser incentivado, afinal, o Deus do Inferno era do tipo que se alegrava ao ver seus filhos tomados pela luxúria e o prazer.
E uma orgia era a exata transcrição de pura luxúria e prazer.
Não que já tivesse participado de uma.
— Hum… Não. — A resposta dela saiu mais como uma pergunta, mas só porque estava respondendo à proposta de Nicholas com a razão de uma falsa moral em vez de dar ouvido aos desejos do seu corpo.
— Não seja tão puritana, Spellman. — Prudence falou de longe, enquanto era beijada no pescoço.
Nick, que estava sentado no chão, ainda segurando uma das pernas de alguma garota, rastejou-se até onde estava. De joelhos, os lábios entreabertos e as palmas das mãos apoiadas nas coxas, ele falou, dessa vez mais baixo, para que só eles dois pudessem ouvir:
— Podemos ir ao seu quarto, se quiser. Só nós dois.
Aquela proposta, no entanto, parecia ser irrecusável. Não apesar porque Nick podia ser bem convincente quando queria, mas também porque desejava aquilo.
— No meu quarto? Você diz… No dormitório?
Quando foi que a boca dela havia ficado tão seca?
— Ou podemos nos teletransportar para a sua casa, para o seu quarto.
A garota precisou pensar rapidamente. Sim, suas tias não estariam em casa naquela noite por conta de compromissos pessoais. Sua prima estava viajando com o namorado mortal e seu primo Ambrose, bem, ele estava bastante ocupado ali mesmo, na frente dela. Então… Por que não?
— E então, o que me diz?
Os olhos de Nick diziam mais do que suas palavras. Da sua boca saiu uma pergunta, mas dos seus olhos… Seus olhos estavam tomados de expectativas e promessas, promessas estas que tinha certeza de que ele iria cumprir, nem que para isso eles tivessem que ficar acordados a noite inteira.
— Você sabe como se teletransportar? — Foi a resposta dela.
— Saiam daqui vocês dois, estão estragando o clima. — Prudence reclamou.
Nicholas não respondeu à garota, tampouco à . Porque em um instante, Nick estava de pé, segurando as mãos dela, e no instante seguinte, ambos estavam em pé no quarto escuro de , no segundo andar da casa dos Spellman.
Sozinhos.
No quarto dela.
Livres para fazerem o que eles quisessem.
Sem julgamentos, sem freios e sem restrições.
— Enfim sós.
Isso foi a última coisa que ouviu antes de sentir todo o corpo formigar, do dedinho do pé, até o último fio de cabelo e ser, finalmente, beijada por Nicholas.

🔯🔯🔯


acordou com o sol entrando pela janela, mas o que a fez abrir os olhos foi o som de passos e conversas no andar de baixo. Por um segundo acreditou estar no seu dormitório na Academia de Artes Ocultas apenas para, no instante seguinte, sentir o peso de um braço sobre sua cintura e a respiração pesada de Nicholas no seu pescoço.
Empurrou o braço dele lentamente e se levantou. Na pontinha do pé, caminhou até a porta do quarto e a trancou. Entoou um feitiço para que o som do quarto não fosse escutado do lado de fora, de forma que não corressem o risco de serem pegos no flagra por suas tias, e então virou-se para voltar à cama.
O que encontrou, no entanto, paralisou . Porque sentado, na cama dela, a garota encontrou a personificação do desejo mais puro, o prazer em pessoa. Nicholas Scratch usava apenas uma cueca enquanto mexia nos cabelos bastante bagunçados na noite passada. E por mais que Nick e tivessem ido dormir após horas de beijos molhados e orgasmos intensos, Nicholas não parecia nenhum pouco cansado, pelo contrário. Se não tivessem companhia em casa, tinha certeza de que poderiam repetir as aventuras da noite passada.
— Acho que essa camisa é minha. — Ele disse com a voz rouca, apontando para .
— Fica melhor em mim. — Ela deu de ombros.
Nick balançou a cabeça, discordando.
— Você, Spellman, fica melhor usando roupa nenhuma.
A garota soltou uma risadinha e caminhou até a cama. Engatinhou até Nicholas que, se pudesse, arrancaria a camisa da garota ali mesmo, apenas para alimentar o desejo que sentia cada vez que a via.
— A noite passada foi…
— Intensa. — Ela completou a frase, sentindo as bochechas corarem.
Nick sorriu. Pela primeira vez, desde que o conhecera, Nicholas estava dando um sorriso não conquistador, tampouco convencido ou debochado, mas doce. Feliz. Satisfeito.
— Podemos ter uma manhã intensa também, se você quiser…
precisou levou o dedo aos lábios dele para impedi-lo de beijá-la — não por não querer um beijo de Nicholas, afinal, descobriu que seus beijos estavam no topo da lista das coisas que ela mais gostava no mundo — mas porque sabia que, se começassem a se beijar ali, no quarto dela, na cama dela, não parariam tão cedo. E, infelizmente, eles tinham que voltar à Academia antes que dessem falta deles.
— Você é tão má, Spellman. — Ele gemeu em protesto.
A garota riu.
— Temos aula agora cedo, Nick. Não quero faltar logo no segundo dia. Tenho uma reputação de boa aluna para manter.
O rapaz respirou fundo, concordando com a fala dela. Levantou-se e começou a procurar pela calça que, de algum modo, estava jogada do outro lado do quarto.
— Espero que tenha gostado da festa de ontem, digo, a festa feita para recepcionar os alunos para o novo ano letivo.
— Ah, pode ter certeza que eu gostei muito da festa de ontem à noite.
Nicholas sorriu, estreitando os olhos. As lembranças dos beijos molhados, as unhas da garota arranhando suas costas, as mordidas no pescoço… Nicholas encontrava prazer na dor, e soube como lhe dar este prazer, dentre tantos outros. Ele apenas esperava que os acontecimentos da noite passada se repetissem no futuro.
— Bem… Seja bem vinda à Academia de Artes Ocultas. Será um prazer ajudá-la com qualquer coisa que você precise, a qualquer hora do dia ou da noite.
sorriu de lado, satisfeita em saber que Nick também desejava repetir a dose da noite passada. E quem sabe eles não poderiam até mesmo tentar um algo a mais? Afinal, se uma coisa era certa, era que Spellman e Nick Scratch se davam muitíssimo bem, e não só na cama.
A jovem Spellman sentiu que aquele ano seria diferente de qualquer outro que ela já tenha vivido, e a garota estava ansiosa para as próximas aventuras que viveria — especialmente se tivesse Nick do seu lado.





Fim



Nota da autora: Voltei a assistir o mundo sombrio de Sabrina e fui procurar por fanfics no site e quase chorei quando não encontrei. Nicholas Scratch merece o mundo e eu vou defendê-lo. Espero que tenham gostado da história. Deixem um comentário cheio de amor e indiquem a fanfic para as amigas <3
Beijos de luz
Angel





Outras Fanfics:
Finalizada:
Ainda Lembro de Você

Em andamento:
It’s Always Been You

Shortfics:
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Ficstapes:
02. Cool 05. The Man Who Never Lied 06. Every Road 06. Love Somebody 07. Face 09. Who’d Have Known ● <10. Sol Que Faltava 10. What If I 11. Woke Up in Japan 12. Epilogue: Young Forever 15. Does Your Mother Know

MVs:
MV: Change MV: Run & Run MV: Hola Hola

Nota de Beta: Eu tenho um ponto fraco e ele se chama Nick Scratch. Angeel! Obrigada por matar minha sede de fic dele, foi maravilhosa demais!! Deêm todo amor e carinho para essa fic, porque ela merece!

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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